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Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas
26 de Fevereiro de 2022
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 03
Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4
1.6.2 - Reformatio In Pejus Indireta e Reconhecimento da Hediondez do Delito no Tribunal do Júri ........................... 34
1.7.1 - O crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum passou a
ser crime hediondo. Mas esqueceram do roubo nestas mesmas circunstâncias. Violação à proporcionalidade? ....... 40
1097228
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 03
1.12.1 - Litígios transindividuais globais, locais e irradiados (classificação de direitos coletivos por Edilson Vitorelli) . 65
RODADA 03 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS
A escolha desse tema para aprofundamento se justifica em razão do crescente aumento do discurso de ódio
e intolerância presenciado ao redor do mundo, bastante potencializado pela internet e pelas redes sociais.
Esse é um assunto que já foi debatido pelo STF e se trata de um dos assuntos mais relevantes do Direito
Constitucional contemporâneo, pois diz respeito a dois importantes temas dos direitos fundamentais:
dignidade da pessoa humana e liberdade de expressão.
Além disso, em razão de suas funções constitucionais, o Ministério Público é um dos principais – senão o
principal – órgão com atribuição normativa para combater discursos de ódio. Por essa razão, a temática vem
ganhado cada vez mais relevância em provas da carreira.
Conforme conceitua André de Carvalho Ramos, o discurso de ódio (hate speech) consiste na manifestação
de valores discriminatórios, que ferem a igualdade, ou de incitamento à discriminação, violência ou a outros
atos de violação de direitos de outrem.1
O discurso de ódio veicula manifestações de desprezo, intolerância ou ódio contra determinados grupos,
cujas razões estampam um discurso preconceituoso em suas mais variadas formas, como aqueles ligados à
orientação sexual, etnia, gênero, religião, deficiência mental ou física, etc.
No Brasil, nos termos do inciso IV do art. 5ºda CRFB/88, é livre a manifestação do pensamento. A liberdade
de expressão, como o veículo ou o fundamento do exercício de outras liberdades, justifica a sua posição de
preferência em nosso ordenamento. Todavia, o direito à liberdade de expressão não é ilimitado ou
absoluto. Ou seja, no ordenamento constitucional brasileiro, não há uma “carta branca” para se proferir
todo e qualquer tipo de discurso, ainda que a limitação a tal direito seja excepcional. Nesse sentido, os limites
à liberdade de expressão são impostos pela existência de outros direitos fundamentais.
Por isso, a utilização da liberdade de expressão para violar o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana
de uma pessoa ou grupo de pessoas, hierarquizando indivíduos com base em nacionalidade, religião ou etnia,
1
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 524.
não é protegido pela norma que consagra a liberdade de expressão, porque viola seu pressuposto, que é a
dignidade da pessoa humana.
A proteção da liberdade de expressão guarda profunda relação com a garantia da dignidade da pessoa
humana e com a democracia. As relações sociais, o ambiente democrático e o contexto multicultural impõem
contornos ao direito de expressão. Justamente por isso, é possível uma certa limitação à liberdade de
expressão em razão da exteriorização de conteúdos discriminatórios ou discursos do ódio. Nenhum direito
fundamental deve ser interpretado no sentido de autorizar a práticas que visem a destruir outros direitos
fundamentais.
“Em diversas declarações de direito pelo mundo afora, há a expressa menção ao princípio da
proibição de abuso de direito fundamental. Em linhas gerais, esse princípio estabelece que
nenhum direito fundamental deve ser interpretado no sentido de autorizar a prática de
atividades que visem à destruição de outros direitos ou liberdades. Em outras palavras: o
exercício de direitos fundamentais não pode ser abusivo a ponto de acobertar práticas
ilícitas/criminosas cometidas em detrimento de outros direitos fundamentais ou de valores
constitucionais relevantes. (…) Aqui no Brasil, não há uma norma constitucional expressa
acolhendo o princípio de proibição de abuso de direito fundamental. Mas ele está latente no
sistema constitucional brasileiro. Basta ver inúmeras normas da própria Constituição que
possibilitam a limitação ou até mesmo a perda total de direitos fundamentais quando existe
abuso no seu exercício. O domicílio é inviolável, mas pode ser invadido em caso de flagrante
delito. É resguardado o sigilo das comunicações, mas é possível a interceptação telefônica
resguardando para fins de investigação criminal. O direito de reunião é assegurado, desde que
para fins pacíficos. É vedada a associação de caráter paramilitar. A propriedade pode ser
confiscada se estiver sendo usada para plantação ilegal de psicotrópicos, bem como será
permitida a apreensão de todo bem adquirido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes.
A liberdade é protegida, mas é possível a prisão em caso de flagrante delito ou por ordem de
autoridade competente. Analisando sistematicamente todas essas normas, o que se conclui é
que os direitos fundamentais não podem ser utilizados para fins ilícitos, até porque eles
existem para promover o bem estar e a dignidade do ser humano e não para a prática de
maldades que possam ameaçar esses valores. Indo mais além, pode-se dizer que o exercício de
direitos fundamentais não pode gerar uma situação de injustiça, nem pode servir de desculpa
para a prática de atos moralmente injustificáveis ou para violar direitos de terceiros.
(MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p.
412/413).
Assim, ainda que haja uma posição de preferência em prol da liberdade de expressão, ela não é absoluta,
razão pela qual o exercício da ponderação, diante do caso concreto, pode recomendar a imposição de
restrições, especialmente quando envolvem o combate da intolerância e do preconceito contra grupos
estigmatizados.
No Brasil, o grande leading case sobre o tema se deu no âmbito do STF e se trata do caso Ellwanger. Nele, o
Supremo entendeu que entendeu que o preceito fundamental da liberdade de expressão não consagra o
direito à incitação ao racismo.
Em arremate, apesar de o ordenamento jurídico brasileiro não possuir norma de direito interno que proíba
expressamente (embora o faça implicitamente) o discurso de ódio, o artigo 13.5 da Convenção Americana
de Direitos Humanos afirma que a lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime
ou à violência. Desse dispositivo extrai-se a vedação do discurso de ódio na CADH. E, é importante lembrar
que a CADH possui status de norma supralegal no sistema jurídico pátrio.
perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção
do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados
em em 13/6/2019 (Info 944).
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está
protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. Assim, é possível,
a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo (art.
20, §2º, da Lei nº 7.716/89) por ter proferido discursos de ódio público contra outras
denominações religiosas e seus seguidores. STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018 (Info 893).
(...) o fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em que proferiu as declarações
não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, nos casos em que as
ofensas são divulgadas pelo próprio parlamentar na Internet. (...) a inviolabilidade material
somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das
funções parlamentares. (...) O Parlamento é o local por excelência para o livre mercado de ideias
– não para o livre mercado de ofensas. A liberdade de expressão política dos parlamentares,
ainda que vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. Ninguém pode se escudar na
inviolabilidade parlamentar para, sem vinculação com a função, agredir a dignidade alheia ou
difundir discursos de ódio, violência e discriminação. STF. 1ª Turma. PET 7.174, Rel. p/ o ac. Min.
Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020.
Diante da constatação de que tais métodos interpretativos clássicos seriam insuficientes para a resolução
dos casos mais difíceis, estes foram complementados por uma nova hermenêutica constitucional, com
novos métodos de interpretação, tais como o tópico-problemático, o hermenêutico-concretizador, o
científico-espiritual, o normativo-estruturante e o da comparação constitucional.
Assim, em conjunto com esses novos métodos, foram desenvolvidos os princípios instrumentais da
interpretação constitucional.
Ainda, cumpre ressaltar que os princípios instrumentais também são conhecidos como postulados
normativos, metanormas ou princípios interpretativos, sendo extraídos especialmente das obras de Konrad
Hesse e Friedrich Müller e se distinguindo dos princípios materiais.
Robert Alexy entende que o sistema jurídico é formado por três níveis: (i) argumentação
jurídica; (ii) princípios; (iii) regras. Nesse sentido, Os princípios instrumentais,
diferentemente das regras, não estabelecem diretamente o dever de adotar
determinadas condutas, ou sequer promovem o estado ideal de coisas, como fazem os princípios materiais
(ou apenas princípios para Alexy). Portanto, promovem o modo como o estado de coisas deve ser realizado,
de forma que são compreendidos dentro do nível de argumentação jurídica para Alexy.
Princípio da unidade da constituição: a Constituição deve ser interpretada de modo a evitar conflitos,
contradições e antagonismos entre suas normas, ou seja, a interpretação deve ser realizada em conjunto
com as demais normas, de forma a afastar a tese da hierarquia das normas constitucionais.
No último certame do MPMG, na prova oral foi realizada pergunta relacionada a tal princípio, e
acabou pegando muitos candidatos. A pergunta era EXISTEM NORMAS CONSTITUCIONAIS
INCONSTITUCIONAIS? A resposta é sim! Não existem são normas constitucionais ORIGINÁRIAS
inconstitucionais, mas uma norma constitucional advinda de uma Emenda Constitucional pode,
sim, ser declarada inconstitucional, por estar em desconformidade com o princípio da unidade.
Princípio do efeito integrador: Ao solucionar problemas jurídico-constitucionais deve ser dada prioridade às
soluções que favoreçam a integração política e social, de forma a produzir efeito que cria e conserva a
unidade constitucional.
Princípio da concordância prática ou harmonização: de acordo com tal princípio, cabe ao intérprete
coordenar e combinar os bens jurídicos que estão em conflito, buscando realizar uma redução proporcional
de cada um deles, de forma a evitar o sacrifício total de uns em relação aos outros.
Princípio da relatividade: a relatividade indica que não existem direito absolutos, uma vez que todos
encontram limites em outros direitos ou em interesses coletivos também previstos na Constituição.
Princípio da força normativa da Constituição: Ao aplicar a Constituição, deve ser dada preferência às
soluções concretizadoras ou densificadoras de suas normas, que tornem as normas constitucionais mais
eficazes e permanentes. De tal princípio se extrai que sua principal utilização prática é o afastamento de
interpretações divergentes, que podem enfraquecer a força normativa da Constituição2.
Princípio da máxima efetividade: com base em tal princípio, a interpretação escolhida deve ser a que dá a
maior efetividade possível ao direito, buscando cumprir sua função social. Assim, este está vinculado
especificamente aos direitos fundamentais.
Ainda, ressalta-se que toda norma constitucional possui eficácia, mas nem todas possuem efetividade.
Ainda, a eficácia pode ser positiva ou negativa. A positiva diz respeito à aptidão da norma em ser aplicada
ao caso concreto, independentemente de outra vontade intermediadora, de forma que algumas normas
constitucionais não possuem eficácia positiva, pois, para serem aplicadas no caso concreto, dependem de
lei regulamentadora. Por sua vez, a eficácia negativa, é a aptidão da norma para invalidar outras normas que
lhe sejam contrárias, sendo que todas as normas constitucionais possuem eficácia negativa.
Princípio da justeza ou conformidade funcional: Este procura impedir que intérpretes constitucionais
cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional, ou seja as
2
Súmula 343 do STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado
em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
competências e atribuições, estabelecido pela Constituição. Nesse sentido, cada Poder deve observar a
função e os limites de atuação que lhe foram atribuídas pela CRFB.
Princípio da presunção de constitucionalidade das leis: Consoante assevera esse princípio, as leis e os atos
normativos existentes no ordenamento jurídico devem ser presumidos constitucionais, salvo se houver
declaração judicial de inconstitucionalidade.
É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público
que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não
concorrencial.
1) STF - poder de polícia é indelegável a pessoas jurídicas privadas. (tese que hoje deve ser relida com o novo
julgamento. Trata-se de PJ de DP que não integram a AP)
2) STJ – Bloco de Polícia – Também se trata de julgado que deve ser reinterpretado. Aplica-se o
entendimento fixado pelo STJ, nesse julgamento, apenas para pessoas jurídicas de direito privado não
integrantes da Administração Pública. A essas pessoas, continua sendo possível apenas a delegação das
atividades materiais do Poder de Polícia, como os atos de consentimentos e a fiscalização.
arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 24), na medida em que estes artigos tratam da competência
dos órgãos de trânsito. O enfrentamento da tese pela instância ordinária também tem por
consequência o cumprimento do requisito do prequestionamento. 2. No que tange ao mérito,
convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia pode ser conceituado como o dever
estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A
controvérsia em debate é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no
caso, aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia mista). 3. As atividades que
envolvem a consecução do poder de polícia podem ser sumariamente divididas em quatro
grupo, a saber: (i) legislação, (ii) consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da
limitação do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, esses grupos ficam bem
definidos: o CTB estabelece normas genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional
de Habilitação (legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito
à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona aquele que
não guarda observância ao CTB (sanção). 5. Somente os atos relativos ao consentimento e à
fiscalização são delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de
coerção do Poder Público. 6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para
aumentar a arrecadação. 7. Recurso especial provido. (STJ, REsp 817534/MG, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, j. em 10.11..2009)
3) STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
Para entendermos a recente Tese de Repercussão Geral fixada pelo STF, é preciso entender as decisões do
STF acerca das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.
Trata-se da “autarquização das empresas estatais prestadoras de serviço públicos” ou “ feições autárquicas”
(Gustavo Binenbojm)
Ex: as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de
natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.
Conforme será visto, o STF afastou todos esses argumentos no que tange à Pessoas Jurídicas de Direito
Privado integrantes da Administração Pública, cujo capital social seja majoritariamente (ou integralmente)
público, que preste serviço público de natureza não-concorrencial. Vejamos:
[...] tem-se como possível o exercício de uma função de Estado (poder de polícia) por uma pessoa
jurídica integrante da Administração Pública indireta prestadora de serviço público.
[...] vale lembrar que nem todos os servidores estatutários possuem estabilidade. Os ocupantes
de cargos em comissão não possuem tal garantia, sendo, inclusive, demissíveis ad nutum . Além
deles, os servidores em estágio probatório também não contam com a estabilidade até o término
do período de prova. Todavia, essas peculiaridades não deslegitimam a prática atos derivados do
poder de polícia.
as estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado não exploram atividade
econômica em regime de concorrência. A razão é óbvia: a atuação típica do Estado não se dirige
precipuamente ao lucro. É dizer, se a entidade exerce função pública típica, a obtenção de lucro
não é o seu fim principal.
Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente indelegável: a
ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de consentimento, de fiscalização e de aplicação de
sanções podem ser delegados a estatais que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um regime
jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.
A Lei 13.655/18 alterou o Decreto-Lei 4.657/42, também conhecido como Lei de introdução às normas do
direito brasileiro. O grande objetivo da lei alteradora foi assegurar maior segurança jurídica, previsibilidade
e eficiência nas relações travadas pela Administração Pública.
Abaixo seguem os artigos acrescidos pela Lei 13.655/18 que são importantes o conhecimento.
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados.
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em
conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito
público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do
órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de
relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável,
o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais;
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções
aplicáveis em caso de descumprimento.
Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou
da conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os
envolvidos.
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo ou erro grosseiro.
ATENÇÃO!!! Para fins de responsabilização perante o TCU, pode ser tipificada como erro grosseiro (art. 28
do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) a decisão do gestor que
desconsidera, sem a devida motivação, parecer da consultoria jurídica do órgão ou da entidade que dirige.
Tal conduta revela desempenho aquém do esperado do administrador médio, o que configura culpa grave,
passível de multa.3
ATENÇÃO 2!!! Para fins do exercício do poder sancionatório do TCU, pode ser tipificado como erro grosseiro
(art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) o direcionamento de
licitação para marca específica sem a devida justificativa técnica.4
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo
os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de
interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta
pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.
art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação
ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
3
TCU - Acórdão 1264/2019 Plenário
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TCU - Acórdão 1264/2019 Plenári
O modelo familiar clássico possuiu caráter essencialmente obrigacional e contratual, e só podia ser
constituído com o casamento, não sendo admitida outra forma legítima para tanto – devido à forte influência
exercida pela Igreja no Estado, que acreditava que as relações de afetividade poderiam ocorrer entre homem
e mulher exclusivamente na vigência do matrimônio, com o objetivo único de procriação5.
Ainda no mesmo molde, a família estava centralizada na figura paterna e patrimonial. E tal pensamento
permaneceu intacto durante grande parte da história da sociedade brasileira, a qual, também fortemente
influenciada pelos ditames da Igreja, discriminava qualquer agrupamento familiar diverso daquele outrora
imposto.
Este posicionamento foi reforçado ainda no Código Civil de 1916, cujo conteúdo, de acordo com Maria
Berenice Dias, “trazia uma estreita e discriminatória visão da família, limitando-a ao grupo originário do
casamento”6. Apenas com a promulgação da Constituição Federal de 1988 é que a noção ampla da estrutura
familiar, ou seja, de sua diversidade, passou a ser difundida no ordenamento jurídico brasileiro.
A Carta Magna vigente definiu, em seu artigo 226, caput, que a família constitui a base da sociedade e que
está amparada por especial proteção do Estado - e a Declaração Universal dos Direitos do Homem (XVI 3) já
assim o dispunha: “A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da
sociedade e do Estado”.
Ademais, a Constituição Federal, ainda no mesmo dispositivo, estabeleceu que não apenas a família oriunda
do matrimônio, do casamento civil, seria amparada pela proteção estatal e considerada legítima, mas aquela
constituída por qualquer dos pais e seus descendentes (originada também da união estável). Da mesma
forma, consagrou a igualdade dos filhos, que tenham sido ou não havidos do casamento ou por adoção.
Vejamos:
(...)
5 DIAS, Maria Berenice. As famílias e seus direitos. Disponível em: http://www.mbdias.com.br. Acesso em 28 de
fevereiro de 2019.
6DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
p. 26.
§3º - Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e
seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal serão exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher.
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los à salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(...)
§6º Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
E o texto constitucional, mesmo prevendo três modelos familiares distintos, não visa a restringir a proteção
do Estado a apenas estas entidades. Seu principal objetivo é dar abrigo ao sistema democrático e garantir a
felicidade por intermédio da plena realização dos integrantes de qualquer arquétipo de ente familiar, com
base na consecução do afeto7.
E é cediço que, atualmente, o vínculo familiar tem sido relacionado muito mais a vínculos afetivos, que
propriamente biológicos. O afeto e o dever de cuidado são os principais fundamentos que regem o Direito
de Família – especialmente nas relações parentais – e busca-se, desta forma, a valorização da dignidade da
pessoa humana.
7
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2013. p. 6.
8
CARDIN, Valéria Silva Galdino. Dano moral no direito de família. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 69.
(...) que a percepção do cuidado como tendo valor jurídico já foi (...) incorporada em nosso
ordenamento jurídico, não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas
diversas desinências, como se observa do artigo 227 da CF/88.
Descumprir o dever de respeito aos princípios norteadores da família, ditados pela Carta Magna, além de
constituir ato ilícito, o comportamento lesivo daquele que os desrespeitou provoca desequilíbrio na relação
familiar e acarreta inúmeros prejuízos aos membros ofendidos, sejam aqueles de cunho material ou moral,
merecendo, desta forma, proporcional reprimenda.
Nesse sentido, o Enunciado 08 do IBDFAM reconheceu o direito ao afeto ao prever que o abandono afetivo
pode gerar direito à reparação do dano causado.
O abandono afetivo, portanto, “consiste no descaso intencional pela criação, educação e convívio com os
filhos, podendo ser nefasto para o desenvolvimento destas crianças”10, e tem origem, portanto, no
descumprimento voluntário e injustificado dos deveres inerentes aos pais.
Maria Helena Diniz entende que “a falta do genitor, para muitas crianças, implica perder a proteção, a
companhia, o afeto e os recursos econômicos, podendo levá-las à delinquência juvenil, ao fracasso na
9
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de
indenizar/compensar no Direto de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico
brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam sua diversa desinências, com se observa do art.
227 da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de
ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário
dever de criação, educação e companhia –de cuidado –importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, possibilidade
de se pleitear a compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam
possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que,
para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma adequada
formação psicológica e
inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes –por
demandarem revolvimento de matéria fática –não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A
alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a
quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido.
10 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2013. p. 385.
O princípio da paternidade responsável, descrito no artigo 226 da Constituição Federal, não corresponde
unicamente ao auxílio material dos genitores aos filhos, mas ao imaterial, o dever de educar, proporcionar
lazer, de convívio13; em suma, a “assistência moral, que é dever jurídico cujo descumprimento pode levar à
pretensão indenizatória”14.
Assim, “as pessoas têm a liberdade de escolher se querem ou não conceber e, a partir do momento em que
ocorrer, deverão assumir sua responsabilidade enquanto genitores para que os direitos fundamentais sejam
respeitados” 15.
Para a corrente defensora do dano moral, o abandono afetivo decorre da omissão do genitor no dever de
cuidar da prole – o que constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável16. Considera
que o dever de cuidado é protegido como valor jurídico (artigo 227 da Constituição Federal), razão pela qual
omitir-se nesse dever, os genitores violariam uma imposição legal – gerando a possibilidade de o lesado (o
filho) pleitear a compensação pelos danos morais17.
11DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 7º volume: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 315.
12 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 313.
13
Direitos previstos no artigo 227, caput, da Lei Maior, a saber: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
14
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 313.
15
CARDIN, Valéria Silva Galdino. Dano Moral no Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2012. pp. 71 e 72.
16
3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.
17
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Abandono afetivo e dano moral. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b571ecea16a9824023ee1af16897a582>. Acesso em:
17/09/2020
Nesta ambiência, a Ministra Nancy Andrighi, ainda no julgamento do Recurso Especial nº 1159242 – SP,
ponderou: “amar é faculdade, cuidar é dever”18.
E a 3ª Turma do STJ, em ambos os julgados que admitem o dano moral, entendeu que “os sentimentos de
mágoa e tristeza experimentados por filho e causados pela negligência paterna e pelo fato deste(a)
descendente ser tratado(a) como filho(a) de segunda classe caracterizam dano moral in re ipsa (dano moral
presumido) e permitem a compensação por danos morais”19.
O tema chegou ao STF e, na oportunidade, a 2ª Turma entendeu que não havia violação direta ao texto
constitucional, razão pela qual a análise do tema não seria de competência do Supremo:
(...) 2. A análise da indenização por danos morais por responsabilidade prevista no Código Civil, no
caso, reside no âmbito da legislação infraconstitucional. Alegada ofensa à Constituição Federal, se
existente, seria de forma indireta, reflexa. Precedentes.
3. A ponderação do dever familiar firmado no art. 229 da Constituição Federal com a garantia
constitucional da reparação por danos morais pressupõe o reexame do conjunto fático-probatório, já
debatido pelas instâncias ordinárias e exaurido pelo Superior Tribunal de Justiça. (...)
(STF. 2ª Turma, RE 567164 ED, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 18/08/2009)
A 4ª Turma do STJ entende que não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha sido o
sofrimento do filho. Entende que o Direito de Família “é regido por princípios próprios, que afastam a
responsabilidade civil extracontratual decorrente de ato ilícito”. Defende, tão-somente, a reparação de dano
18
ANDRIGUI, Nancy. Superior Tribunal de Justiça. Relatório e Voto do Recurso Especial nº 1.59.24-SP. In:
<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=14828610&sReg=200901937019&sData=2012
0510&sTipo=51&formato=PDF>. Acesso em 10 de agosto de 2014.
19
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Abandono afetivo e dano moral. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b571ecea16a9824023ee1af16897a582>. Acesso em:
17/09/2020
20
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Abandono afetivo e dano moral. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b571ecea16a9824023ee1af16897a582>. Acesso em:
17/09/2020.
material. E, em caso de violação dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê
como punição a perda do poder familiar2122.
Assim, conclui-se que a corrente contrária à reparação do dano moral em virtude de abandono afetivo
argumenta que o dever de cuidado estabelecido na Constituição Federal diz respeito ao sustento, guarda e
educação dos filhos, sendo que a afetividade não se trata de dever jurídico – “a convivência e o afeto devem
corresponder a sentimentos naturais, espontâneos, genuínos, com todas as características positivas e
negativas de cada indivíduo e de cada família. Não é – nem deve ser – o cumprimento do dever jurídico,
imposto pelo Estado, sob pena de punição (ou indenização punitiva)”23.
A preocupação com o tratamento das causas repetitivas no ordenamento jurídico não é exclusividade do
CPC de 2015, haja vista que o Codex de 1973 dedicava capítulo específico versando sobre a uniformização
de jurisprudência enquanto instrumento para manter a integridade dos entendimentos jurisprudenciais.
É bem verdade que, nas últimas décadas, aumentou sensivelmente a importância da jurisprudência,
especialmente em razão da expansão das demandas de massa, proporcionada pelo fértil desenvolvimento
da internet. Por isso, as reformas processuais têm valorizado a jurisprudência como importante fonte do
direito, circunstância que impede a afirmação de que nosso ordenamento se filia a um sistema puro de Civil
Law, de tradição romano-germânica, que outrora lhe era característico.
A efetividade deste novo modelo processual, que se aproxima muito da Commom Law, de tradição anglo-
saxão, pressupõe que a jurisprudência se mantenha estável, íntegra e coerente, incumbindo aos tribunais
proceder à sua uniformização, nos termos do art. 926 do NCPC.
No regime do CPC de 1939, a uniformização da jurisprudência operava-se por meio de recurso de revista,
que era cabível nas hipóteses em que houvesse divergência entre duas ou mais câmaras, turmas ou grupo
de câmaras quanto ao modo de interpretar o Direito em tese (art. 853).
21
Idem.
22
STJ. 4ª Turma. REsp 492.243-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 12/06/2018. STJ. 4ª Turma. REsp 1.579.021-RS, Relª Minª
Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017. STJ. 4ª Turma. REsp. 757.411-MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 20/04/2006
23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Abandono afetivo e dano moral. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b571ecea16a9824023ee1af16897a582>. Acesso em:
17/09/2020.
O CPC de 1973, por sua vez, substituiu a revista pelo incidente de uniformização de jurisprudência (arts. 476-
479), conferindo-lhe a configuração de “incidente verificável nos julgamentos dos tribunais, por provocação
interna dos juízes ou por iniciativa da parte”24.
Assim, temos indiscutivelmente um sistema misto, que valoriza a Lei e os precedentes jurisprudenciais. A Lei,
como é cediço, decorre da ampla discussão e participação dos representantes da sociedade, diretamente
eleitos para tanto, enquanto os precedentes decorrem de manifestação do Poder Judiciário.
Como os membros do Poder Judiciário não são eleitos pelo povo, é assegurado às partes e aos demais
interessados o direito de se manifestar no prazo comum de quinze dias sobre a tese a ser firmada. Nesse
sentido, prescreve o art. 983, caput do CPC que “o relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive
pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze) dias, poderão
requerer a juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação da questão de
direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo.
A exigência legal decorre da necessidade de participação das partes na construção da norma jurídica geral
(ratio decidendi, que nada mais é do que a tese jurídica formada com o julgamento do incidente). Não por
outra razão predomina o entendimento no sentido de que “para a formação do procedente, somente podem
ser usados argumentos submetidos ao contraditório” (Enunciado 02 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis).
Além disso, outros interessados podem contribuir para a definição da tese jurídica. Trata-se da figura do
amicus curiae, terceiro que intervém para colaborar com o Poder Judiciário, desde que evidenciado o seu
interesse jurídico na causa em julgamento, sendo designada, se necessário, audiência pública para a oitiva
de pessoas com conhecimento e experiência na matéria (art. 983, § 1º, NCPC).
Sendo assim, a participação do Ministério Público na formação dos precedentes obrigatórios (oriundos do
julgamento de Incidente de Assunção de Competência e de Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas) revela-se necessária e adequada para que se amplie e qualifique o debate, razão pela qual o art.
976, § 2º do CPC excepciona o poder de agenda do MP e, pois, determina sua intervenção obrigatória,
independentemente do conteúdo da lide deduzida no incidente (art. 976, § 2º).
24
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I: Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de
Conhecimento. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 2057.
O processo civil contemporâneo exige o ponto ótimo de efetividade e não compactua com a morosidade.
Almeja-se a solução agilizada do litígio, pelo que incumbe ao legislador a previsão de instrumentos aptos ao
alcance da celeridade processual.
As tutelas provisórias, antecipadas e cautelares, atendem ao ideal de efetividade processual ágil. Servem,
pois, à antecipação do provimento final ou ao acautelamento do objeto litigado, sempre em momento
anterior ao trânsito em julgado do provimento jurisdicional.
Previamente ao processo de conhecimento de cognição exauriente (as ações ordinárias), pode o autor
intentar uma tutela antecipada antecedente, com a postulação de provimento, em caráter precário (essência
das tutelas provisórias), que apenas seria obtido ao final do processo regular.
É o que prevê o art. 303 do CPC: nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final,
com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo.
Pois bem.
O art. 304 prevê que a tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão
que a conceder não for interposto o respectivo recurso.
Nota-se, portanto, que, seguido o rito da provisória em apreço, se da decisão concessiva o réu não apresentar
o devido recurso, o provimento se estabilizará.
No ponto, deve-se ter conhecimento de que há divergência no STJ acerca da abrangência do termo recurso.
É dizer, enquanto a 1ª Turma do sodalício compreende que apenas o agravo de instrumento é apto a afastar
a estabilidade (STJ. 1ª Turma. REsp 1797365-RS, Red. acórdão Min(a). Regina Helena Costa, julgado em
03/10/2019), a 3ª Turma compreende que, por recurso, deve-se entender qualquer meio de irresignação do
réu. Não se trata de exigência de recurso, na essência do termo; a mera apresentação de contestação já é
suficiente para ilidir os efeitos da estabilização (STJ. 3ª Turma. REsp 1760966-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 04/12/2018).
A estabilização consiste em característica até então estranha aos provimentos provisórios, que é,
justamente, a atenuação da precariedade – compreendida como a possibilidade de reversão a qualquer
tempo. Trata-se da consolidação de uma técnica monitória de contraditório eventual.
Isso porque, estável a decisão concedente da tutela antecipada antecedente, apenas será possível a sua
revisão por meio de ação própria que questione o teor da tutela concedida, nos termos do art. 304, § 2º.
Enquanto não intentada a ação e revertido o provimento, a medida conservará seus efeitos (§ 3º).
O prazo de ajuizamento da ação é de dois anos e tem como termo inicial a extinção do processo em que a
tutela antecipada antecedente fora deduzida – art. 304, § 1º.
Não bastasse, a legislação ainda estipulou prazo fatal para que a tutela seja revista: dois anos, findo o qual a
tutela aparenta não mais poder ser revista – isto é, será definitiva.
Entretanto, a doutrina não é maturada quanto à perpetuação do provimento. Neste sentido, a corrente que
defende a imutabilidade da decisão estabilizada após o prazo de dois anos pode ser ilustrada pelo enunciado
27 do ENFAM: não é cabível ação rescisória contra decisão estabilizada na forma do art. 304 do CPC/2015.
Porém, há segmento doutrinário que defende a possibilidade de ampliação sistêmica das hipóteses de
cabimento da ação rescisória, que passaria a não mais exigir, de maneira estanque, a coisa julgada como
pressuposto (abarcaria, também, a decisão estabilizada).
Em posicionamento que caminha para uma terceira corrente, Cassio Scarpinella diferencia a discussão dos
efeitos (limitada a dois anos após a estabilização) com a das razões da concessão da tutela, que se fulmina
apenas com a prescrição do direito material.
Assim, o prazo de dois anos referido no § 5º do art. 304 extingue o direito de os interessados
voltarem-se aos efeitos da tutela antecipada antecedente, revendo-os, reformando-os ou
invalidando-os. Por isso, trata-se de prazo decadencial, a fulminar aquele (e só aquele) direito. O
regime jurídico daquela demanda observará sua especificidade (procedimentos especiais) ou a
falta dela (procedimento comum), considerando que não há nenhuma regra específica a seu
respeito no art. 304.
25
SCARPINELLA, Cassio Bueno. Direito Processual Civil. Vol. Único. Págs. 493/494. Ed. Saraiva. 2019.
Por fim, cabe anotar que há divergência acerca do cabimento da estabilização de decisões contrárias à
Fazenda Pública, já que, de regra, haveria a necessidade de remessa necessária à segunda instância – o que
impediria a estabilização. Predomina, até o momento, que a remessa, no caso, não é necessária, já que se
trata de fenômeno apenas necessário aos casos aptos a gerar coisa julgada em detrimento da Fazenda
Pública. Ilustre-se este entendimento com a súmula 21 do TJMG: a Fazenda Pública se submete ao regime
de estabilização da tutela antecipada, por não se tratar de cognição exauriente sujeita a remessa necessária.
A teoria da imputação objetiva, desenvolvida por Roxin, trata, na verdade, de uma limitação à teoria da
conditio sine qua non (também conhecida como teoria dos equivalentes causais).
Apesar do nome, a aludida teoria não se confunde com a responsabilidade penal objetiva, pois a sua função
é, ao contrário, limitar a responsabilidade penal, evitando atribuição indevida e objetiva de um resultado
típico a alguém. Sua finalidade é, portanto, não imputar a conduta ao agente, sempre que se verificar que
houve a criação ou o incremento de um risco permitido ou tolerado pelo ordenamento jurídico.
Sob a ótica da teoria da imputação objetiva, o nexo causal não pode ser concebido, exclusivamente, de
acordo com a relação de causa e efeito, pois o Direito Penal não pode ser regido por uma lei da física. Assim,
além do elo naturalístico de causa e efeito, são necessários os seguintes requisitos: a criação de um risco
proibido e o resultado estar na mesma linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, no seu âmbito
de risco.
Com a imputação objetiva, toda vez que o agente realizar um comportamento socialmente padronizado,
normal, socialmente adequado e esperado, desempenhando normalmente seu papel social, estará gerando
um risco permitido, não podendo ser considerado causador de nenhum resultado proibido.
1. Afirmar na denúncia que "a vítima foi jogada dentro da piscina por seus colegas, assim como tantos
outros que estavam presentes, ocasionando seu óbito" não atende satisfatoriamente aos requisitos
do art. 41 do Código de Processo Penal, uma vez que, segundo o referido dispositivo legal, "A denúncia
ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas".
2. Mesmo que se admita certo abrandamento no tocante ao rigor da individualização das condutas,
quando se trata de delito de autoria coletiva, não existe respaldo jurisprudencial para uma acusação
genérica, que impeça o exercício da ampla defesa, por não demonstrar qual a conduta tida por
delituosa, considerando que nenhum dos membros da referida comissão foi apontado na peça
acusatória como sendo pessoa que jogou a vítima na piscina.
3. Por outro lado, narrando a denúncia que a vítima afogou-se em virtude da ingestão de substâncias
psicotrópicas, o que caracteriza uma autocolocação em risco, excludente da responsabilidade criminal,
ausente o nexo causal.
4. Ainda que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta dos acusados e a morte
da vítima, à luz da teoria da imputação objetiva, necessária é a demonstração da criação pelos agentes
de uma situação de risco não permitido, não-ocorrente, na hipótese, porquanto é inviável exigir de
uma Comissão de Formatura um rigor na fiscalização das substâncias ingeridas por todos os
participantes de uma festa.
5. Associada à teoria da imputação objetiva, sustenta a doutrina que vigora o princípio da confiança,
as pessoas se comportarão em conformidade com o direito, o que não ocorreu in casu, pois a vítima
veio a afogar-se, segundo a denúncia, em virtude de ter ingerido substâncias psicotrópicas,
comportando-se, portanto, de forma contrária aos padrões esperados, afastando, assim, a
responsabilidade dos pacientes, diante da inexistência de previsibilidade do resultado, acarretando a
atipicidade da conduta.
6. Ordem concedida para trancar a ação penal, por atipicidade da conduta, em razão da ausência de
previsibilidade, de nexo de causalidade e de criação de um risco não permitido, em relação a todos os
denunciados, por força do disposto no art. 580 do Código de Processo Penal.
(HC 46.525/MT, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 21/03/2006, DJ
10/04/2006, p. 245)
Veja como o tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás, em
2019:
(2019/MPE-GO/Promotor de Justiça)
A A teoria da imputação objetiva, em sua forma mais simplificada, aduz que um resultado causado pelo
agente só deve ser imputado como sua obra e preenche o tipo objetivo unicamente quando o
comportamento do autor cria um risco não permitido para o objeto da ação , quando o risco se realiza
no resultado concreto e este resultado se encontra dentro do alcance do tipo.
B Considere o seguinte exemplo : " A " deseja provocar a morte de " B " e , para isso , " A " o aconselha
a fazer uma viagem á Flórida , pois leu que lá , ultimamente , vários turistas têm sido assassinados . "
A " planeja que também " B " tenha esse destino . " B " , que nada ouviu sobre os casos de assassinato
na Flórida , faz a viagem de férias e de fato é vítima de um delito e homicídio . " A " deve responder
pelo homicídio , pois sua conduta acabou incentivando " B " a fazer a viagem , criando , assim , um risco
não permitido ( no caso , criou um perigo de morte juridicamente relevante ) .
C Ações que diminuam risco não são imputáveis ao tipo objetivo, apesar de serem causa do resultado
em sua forma concreta e de estarem abrangidas pela consciência do sujeito. Assim, quem convence o
ladrão a furtar não mil reais, mas somente cem reais, não é punível por participação no furto, pois sua
conduta não elevou, mas diminuiu o risco da lesão.
D Imagine a seguinte a hipótese: dois ciclistas passeiam um atrás do outro, no escuro, sem estarem
com as bicicletas iluminadas, por mera falta de atenção e descuido. Em virtude da inexistência de
iluminação, o ciclista que vai à frente colide com outro ciclista, que vinha na direção oposta, sofrendo
este lesões corporais. O resultado teria sido evitado, se o ciclista que vinha atrás tivesse ligado a
iluminação de sua bicicleta. Diante dessa situação, pode-se afirmar que o ciclista que vinha à frente
deve responder por lesões corporais culposas, pois criou um risco não o permitido ao dirigir sem
iluminação, que acabou resultando na colisão. O ciclista que vinha atrás, todavia, não responder· pelas
lesões corporais culposas, já que este resultado não está· abrangido pelo fim de proteção de norma de
cuidado, afinal, a finalidade do dever de iluminação é evitar colisões próprias, não de terceiros (colisões
alheias).
Gabarito: Letra B
Qualifica o crime de homicídio utilizar o agente algum recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da
vítima, exemplificando o Código alguns modos particularmente insidiosos de praticá-lo; cabendo, neste caso,
a interpretação analógica.
Todavia, tal qualificadora somente tem incidência nas hipóteses em que se verifica o dolo direto; no
homicídio onde o agente prevê o resultado e atua conscientemente para sua produção; tendo, neste caso,
o domínio de todas as elementares e circunstâncias que caracterizam a conduta como crime. No dolo
eventual, que se consubstancia naquele em que há representação do resultado pelo agente, e assentimento
ou indiferença em relação à sua produção, não se pode falar em aplicação de qualificadora pela surpresa.
Justifica-se a equiparação do dolo direto ao dolo eventual na legislação penal porque, arriscar-se
conscientemente a produzir um resultado, vale tanto quanto o querer; contudo, não para efeitos de
reconhecimento da aplicação da qualificadora prevista no §2º, IV, do Art. 121 do Código Penal.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo de revisão criminal e de recurso legalmente previsto para a hipótese,
impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado a justificar a concessão da ordem, de ofício.
2. Afirmar se o agente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada
pelo Tribunal do Júri, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da
denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo
legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício.
Precedentes.
3. "A pretensão de desclassificar o crime de homicídio doloso para a modalidade culposa esbarra
na necessidade de se aprofundar no exame do conjunto fático-probatório que deu ensejo à
condenação, o que é vedado na via estreita do habeas corpus." (AgRg no HC 356.380/MS, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 8/8/2017, DJe de 16/8/2017).
4. Tem prevalecido, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto neste Superior Tribunal de
Justiça, a tese de incompatibilidade entre o dolo eventual com o recurso que impossibilita a
defesa da vítima (surpresa), pois, tratando-se de crime no trânsito, com dolo eventual, não se
poderia concluir que tivesse o agente deliberadamente agido de surpresa, de maneira a dificultar
ou impossibilitar a defesa da vítima.
5. Também, "a qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do
Código Penal não se compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora
sugere a ideia de premeditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da
utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da execução, tem-se que o agente
que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao bem
jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la." (HC n. 429.154/SC,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em 27/11/2018, DJe de 6/12/2018)
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para excluir da decisão de
pronúncia as qualificadoras previstas nos incisos III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal,
bem como revogar a prisão preventiva do paciente, a fim de que seja colocado em liberdade,
salvo se por outro motivo estiver preso, mediante imposição de medidas cautelares diversas da
prisão à critério do Juízo de 1º Grau.
(HC 472.380/TO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
07/05/2019, DJe 20/05/2019)
O tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público do Mato Grosso do Sul da
seguinte maneira:
(2013/MPE-MS/Promotor de Justiça)
É correto afirmar que, em se tratando de crime de trânsito, com resultado morte, cujo elemento
subjetivo tenha sido classificado como dolo eventual, em princípio não é possível incluir a qualificadora
prevista no artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal.
No crime de corrupção passiva, é indispensável haver nexo de causalidade entre a conduta do servidor e a
realização de ato funcional de sua competência?
O crime de corrupção passiva encontra previsão legal no art. 317 do Código Penal:
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem:
Em conformidade com a jurisprudência dos tribunais superiores, nem a literalidade do art. 317 do CP, nem
sua interpretação sistemática, nem a política criminal adotada pelo legislador parecem legitimar a ideia de
que a expressão "em razão dela", presente no tipo de corrupção passiva, deve ser lida no restrito sentido de
"ato que está dentro das competências formais do agente".
O âmbito de aplicação da expressão "em razão dela", contida no art. 317 do CP, não se esgota em atos ou
omissões que detenham relação direta e imediata com a competência funcional do agente. O crime de
corrupção passiva não exige nexo causal entre a oferta ou promessa de vantagem indevida e eventual ato
de ofício praticável pelo funcionário público. O nexo causal a ser reconhecido é entre a mencionada oferta
ou promessa e eventual facilidade ou suscetibilidade usufruível em razão da função pública exercida pelo
agente.
Em resumo apertado, o inquérito policial cuida de expediente de natureza administrativa, presidido pelo
Delegado de Polícia, destinado a apurar a autoria e a materialidade de infração de médio e maior potencial
ofensivo.
Essa investigação preliminar busca reunir elementos destinados a subsidiar a persecução penal em juízo.
Aliás, o processo penal trabalha quase que em toda a sua integralidade com dois importantes elementos:
materialidade e autoria.
Eles são necessários ao oferecimento de denúncia, o que se extrai da leitura do artigo 395, do CPP, que
reclama a rejeição da peça incoativa para o caso de faltar justa causa.
No transcorrer da ação penal também as partes e o(a) magistrado(a), trabalham com autoria e materialidade,
conforme se vê dos artigos 386 e 387, do CPP, que tratam respectivamente da absolvição e da condenação.
Basicamente, a orientação que se tem, gira em torno desse eixo, acrescido ainda dos demais elementos
estruturais componentes do conceito analítico de crime
Essa lógica orienta, de igual modo, as cautelares, que somente podem ser decretadas quando presentes
indicativos de autoria e materialidade, além dos requisitos inerentes ao periculum libertatis.
Pois bem. Ocorrido um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de investigar, processar e
eventualmente punir o seu responsável. A essa atividade, que equivale a perseguir, ir ao encalço, seguir, dá-
se o nome de persecução penal.
A polícia, embora não seja a única instituição legitimada a perscrutar, é a responsável pela condução da
maioria esmagadora das investigações em solo brasileiro, sendo a responsável por subsidiar a atuação do
Ministério Público, na formação da opinio delicti.
Como se sabe, os autos do inquérito policial não podem ser arquivados pela Autoridade Policial, conforme
anela o artigo 17, do CPP, pois cabe ao Ministério Público a titularidade privativa da ação penal, na forma do
artigo 129, I, da CF, e o artigo 257, do CPP.
Assim, a avaliação, em última instância, dos elementos de convicção, colhidos pela Autoridade Policial e
documentados no inquérito, incumbe ao Parquet, até por conta da adoção do sistema acusatório pela
Constituição Federal.
Aliás, a sistemática proposta na Constituição, tem importantes implicações práticas, a saber: segrega
organicamente as funções de acusar e julgar; a gestão das provas é de incumbência da partes, que buscam
apresentar ao(à) magistrado(a) a verdade possível; a presunção de inocência; a exigência de um processo
que oral e público; a adoção do sistema da livre convicção motivada, dentre outros.
No âmbito do STF há importantes julgados que tratam dessas implicações, conforme se vê abaixo:
a) a rigor, requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe a
separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz
adote qualquer postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. (HC 115015,
Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013)
No julgamento da ADI 4693, de relatoria do Min. Alexandre de Moraes, ficou assentado no âmbito do STF a
“flagrante inconstitucionalidade do artigo 379, parágrafo único do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
da Bahia, que exclui a participação do Ministério Público na investigação e decisão sobre o arquivamento
de investigação contra magistrados, dando ciência posterior da decisão”.
O que se tinha até edição da lei 13.964, o Pacote Anticrime, é que ao Ministério Público incumbia a gestão
do expediente investigatório, sendo submetido a um controle anômalo promovido pelo Poder Judiciário.
Assim, o arquivamento da investigação era requerido pelo Parquet ao Judiciário, que, em caso de
discordância, remetia o expediente a uma reapreciação pela chefia da instituição, no caso dos Ministérios
Públicos Estaduais, o Procurador-Geral de Justiça.
Trata-se do princípio da devolução, que entrega (ou devolve) a solução da controvérsia à chefia do Ministério
Público.
Este, o PGJ, caso concordasse com as razões do promovente (membro do Ministério Público), ratificava a
manifestação, encerrando assim a discussão, ou, em discordando, oferecia denúncia ou designaria outro
membro para fazê-lo, respeitando, assim, a independência funcional.
A última palavra era dada pelo Ministério Público, porém havia uma fiscalização exercida pelo Judiciário.
Com a novel redação dada ao artigo 28, do CPP, esse arquivamento passou a ser feito diretamente pelo
Ministério Público (que não mais requer e sim promove ou ordena o arquivamento), sujeitando-se a uma
espécie de reexame necessário, feito pela instância de revisão ministerial (aparentemente o PGJ, conforme
artigo 10, IX, d, da LOMP) para fins de homologação.
A propósito, foi editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal, o enunciado
7, que sela a discussão em torno na natureza do ato de arquivamento, bem assim a instância revisora,
conforme se vê:
Não obstante, o membro do Parquet deve comunicar o arquivamento à vítima, ao investigado e à Autoridade
Policial, permitindo-se a insurgência do ofendido.
Reafirmou-se, outrossim, a função de dominus litis do Ministério Público, excluindo-se o controle feito pelo
Poder Judiciário, providência salutar até para mantê-lo equidistante às partes.
Sobre o tema, dispõe o enunciado 8, do Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal:
Uma advertência necessária é que o dispositivo encontra-se com a eficácia suspensa sine die por força de
uma liminar concedida pelo Min. Fux, no bojo da ADI 6305, aplicando-se, enquanto não resolvida a querela,
as disposições do artigo 28, em sua redação originária.
Quadro comparativo:
O Tribunal do Júri é um Órgão Especial do Poder Judiciário, com competência para processar e julgar os
crimes dolosos contra a vida. Tem previsão constitucional e possui sua sistemática própria, cujas decisões
são dotadas de soberania, e tomadas de maneira sigilosa, com base na íntima convicção dos jurados
(BRASILEIRO, 2019, p. 1372).
Tal instituição é formada por princípios constitucionais básicos, assegurados no artigo 5º, inciso XXXVIII, da
Constituição Federal, sendo eles: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a
competência mínima para julgamentos dos crimes dolosos contra a vida.
Quanto à soberania dos veredictos, importante destacar que esse princípio que impede que um tribunal
composto por juízes togados reveja o posicionamento adotado pelo conselho de sentença, até mesmo para
que não haja supressão da competência de julgamento constitucionalmente prevista.
A primeira delas é a Revisão Criminal, ação autônoma de impugnação, que autoriza que um Tribunal reveja
a decisão dos jurados (desde que a nova decisão seja favorável ao réu), considerando que uma injustiça
decorrente de grave erro judiciário não pode se perpetuar.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. TRIBUNAL DO JÚRI.
CONDENAÇÃO. REVISÃO CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO DE LIBERDADE.
PREVALÊNCIA SOBRE AS SOBERANIA DOS VEREDICTOS E COISA JULGADA. RECURSO MINISTERIAL
A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. É possível, em sede de revisão criminal, a absolvição, por parte
do Tribunal de Justiça, de réu condenado pelo Tribunal do Júri. 2. Em homenagem ao princípio
Além da hipótese acima mencionada, a soberania dos veredictos não impõe a irrecorribilidade da decisão,
sendo plenamente possível que um recurso de apelação seja provido, submetendo o acusado a um novo
julgamento perante o Tribunal do Júri, nos termos do art. 593, III, “d”, e §3º do CPP.
Nesse caso, o Tribunal não substituirá diretamente a decisão dos jurados (como ocorre na Revisão Criminal),
mas determinará que se proceda um novo julgamento perante o Tribunal do Júri, com a consequente
prolação de uma nova decisão, ante a anulação do primeiro julgamento.
Nesse sentido, tratando-se de recurso exclusivo da defesa, é sabido que, em atenção ao artigo 617, do Código
de Processo Penal, a situação do réu não pode piorar, ante a vedação da reformatio in pejus (neste caso,
indireta).
Mas em caso de manutenção da pena, poderia ser reconhecida, por exemplo, a hediondez de um crime
que anteriormente não o era?
É certo que a hediondez reconhecida pelo novo conselho deixa o réu em uma situação desfavorável e lhe
causa diversos prejuízos, sobretudo no que tange às questões atinentes à progressão de regime (trazidas
pela lei 8.072/90).
Em 2012, a 5ª Turma do STJ proferiu decisão no sentido de que prevalece o princípio da soberania dos
veredictos quando analisado em concorrência com a Garantia da Vedação à reformatio in pejus:
Entretanto, a jurisprudência do STJ evoluiu em outro sentido com o passar do tempo, reconhecendo que,
embora o Conselho de Sentença não esteja limitado ao julgamento anterior, podendo reconhecer
circunstâncias desfavoráveis ao réu, o Juiz, ao dosar a pena, estaria restrito ao “quantum” fixado
anteriormente. Nesse sentido, colacionam-se os julgados abaixo:
fixada no primeiro julgamento, em recurso exclusivo da defesa - protesto por novo júri - sem que
se observassem os limites impostos no primeiro julgamento, importando, assim, em inegável
reformatio in pejus indireta. 3. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior e do Supremo
Tribunal Federal o entendimento segundo o qual o direito ao duplo grau de jurisdição prevalece
sobre o princípio da soberania dos vereditos, prevista no art. 5º, XXXVIII, "c", da Constituição
Federal, pelo que importa em inegável reformatio in pejus indireta o agravamento da pena
resultante de novo julgamento realizado em face de recurso exclusivo da defesa. Precedentes do
STJ e do STF. 4. Habeas corpus não conhecido, mas concedida de ofício a ordem para restabelecer
a pena fixada no primeiro julgamento da paciente. (HC 149.025/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2015, DJe 07/08/2015)
Todavia, no ano de 2016, ao apreciar o Habeas Corpus de nº 136.768, o Ministro Edson Fachin concedeu
ordem de ofício para o fim de assegurar que a condenação observasse, quantitativa e qualitativamente, os
limites do primeiro julgamento (primeiro conselho de sentença), determinando-se que, para todos os fins de
execução de pena, fosse reconhecida a ausência da hediondez do delito. Veja-se:
(...) A vedação da reformatio in pejus também atinge a modalidade indireta. Vale dizer, eventual
sentença condenatória, ainda que objeto de anulação, limita, quantitativa e qualitativamente,
eventual e futura resposta penal. (...) No caso em mesa, é irrelevante o fato de que, nas palavras
da autoridade apontada como coatora, “a sentença condenatória e o acórdão proferido no
julgamento da apelação nada dispuseram sobre o montante de pena a ser cumprido para
progressão de regime”, visto que os requisitos exigidos para fins de concessão de benefícios
executórios decorrem expressamente da lei. Assim sendo, a condenação por delito hediondo
ou equiparado, por si, produz gravame. Pondero que, na linha da jurisprudência da própria
autoridade coatora, o delito de homicídio qualificado-privilegiado não é considerado hediondo,
sendo que tal aspecto do primeiro julgamento não foi impugnado, a tempo e modo, pela
acusação. Assim, o segundo julgamento, implementado exclusivamente em decorrência de
recurso da defesa, não pode alcançar o robustecimento da resposta penal, análise que, como
dito, não se limita ao prisma quantitativo. Nessa medida, ao chancelar a condenação de crime
hediondo, contrariando julgamento anterior precluso sob a ótica da acusação, verificou-se, desde
logo, constrangimento ilegal. Não é necessário, nessa medida, a explicitação de critérios de
progressão de regime, cuja distinção, no que toca aos crimes hediondos e equiparados, é
expresso no art. 2°, §2°, da Lei 8.072/90. Evidente, portanto, a ocorrência de reformatio in pejus,
hipótese a legitimar a intervenção deste Tribunal. (...) (HC 136.768/SP, Ministro EDSON FACHIN,
julgado em 08/09/2016, DJe 15/09/2016)
De início, cumpre seja fixada a premissa no sentido de que o Ministério Público é o titular da opinio delicti,
incumbindo-lhe, pois, a análise dos autos do inquérito policial, para dar-lhe uma destinação, seja
promovendo o arquivamento, seja oferecendo denúncia.
Isso fica ainda mais claro após a edição do Pacote Anticrime, que promoveu profundas alterações no Código
de Processo Penal, reafirmando a adoção do sistema acusatório, conforme artigo 3º-A, com a sua novel
redação.
Pois bem.
Como de conhecimento geral, antes da reforma do CPP, o arquivamento era requerido pelo Ministério
Público ao Poder Judiciário, que exercia a função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade (da ação
penal).
O caminho adotado pelo Parquet no exercício dessa importante função na seara criminal era escrutinado
pelo judiciário, que poderia tanto homologar o arquivamento, quanto dele discordar e remeter os autos ao
Procurador-Geral de Justiça. Pelo novo modelo, tudo ocorre interna corporis.
Passando pelo crivo do Judiciário, obviamente a providência adotada, nalgumas situações, ganhava os
contornos da coisa julgada, elemento salutar ao bom convívio social, para garantia da segurança jurídica.
O próprio artigo 18, do CPP, entretanto, contemplava situações em que se admitia a reabertura das
investigações, após o arquivamento do inquérito, conforme se vê abaixo:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de
base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras
provas tiver notícia.
Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
Destarte, em caso de surgimento de novas provas, a investigação poderia ser retomada, desde de que não
sobreviesse qualquer causa extintiva da punibilidade, a exemplo da prescrição.
Foi o que ocorreu no célebre caso do menino Bernardo, no estado do Rio Grande do Sul, conforme se lê em:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/caso-bernardo-boldrini/noticia/2015/07/antes-de-morrer-mae-
de-bernardo-registrou-ocorrencia-por-ameaca.html.
Entretanto, segundo posicionamento que se consolidou no âmbito da jurisprudência pátria, não é todo
arquivamento que se sujeita a essa sistemática, havendo situações em que ele produz os efeitos da coisa
julgada material, tornando indiscutível a questão.
Dito de outro modo, o arquivamento produz coisa julgada material se promovido com base na atipicidade
da conduta ou em causa extintiva da punibilidade, sendo certo que a mudança de opinião dos atores da
persecução não pode ensejar a reabertura das investigações.
Ocorre que, com o advento do Pacote Anticrime, a manifestação do representante do Ministério Público não
se submete mais ao crivo do Judiciário.
Não faz sentido, assim, a menos aparentemente, outorgar à decisão do Parquet, e exclusivamente dele, os
contornos da coisa julgada, que diz respeito aos pronunciamentos judiciais.
A propósito, foi editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal, o enunciado
9, com a seguinte redação:
A reflexão que se propõe diante dessa orientação é se a insindicabilidade judicial da decisão de arquivamento
deve, de fato, autorizar com que a deliberação tomada pelo membro do Ministério Público seja revisitada
sem qualquer parâmetro razoável.
Deixo vocês com esse questionamento, pois apenas o tempo dirá como a matéria será decidida pelos
Tribunais brasileiros, porém certo de que o caminho despendido com o raciocínio, recomenda, certamente,
a necessidade de que se estabeleçam contornos objetivos (como havia proposta a jurisprudência) para essa
revisão, sob pena de instabilidade das relações sociais.
Uma advertência necessária é que o dispositivo encontra-se com a eficácia suspensa sine die por força de
uma liminar concedida pelo Min. Fux, no bojo da ADI 6305, aplicando-se, enquanto não resolvida a querela,
as disposições do artigo 28, em sua redação originária.
1.7.1 - O crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que
cause perigo comum passou a ser crime hediondo. Mas esqueceram do roubo nestas
mesmas circunstâncias. Violação à proporcionalidade?
O delito em estudo está previsto no §4º-A, do art. 155, do Código Penal, com a seguinte redação:
Furto
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
Antes de mais nada, importante se faz esclarecer os conceitos de 'explosivo' e 'artefato análogo'. Conforme
disposições do Anexo III, do Regulamento de Produtos Controlados (aprovado pelo Decreto n.º 10.030/19),
explosivo é o “tipo de matéria que, quando iniciada, sofre decomposição muito rápida, com grande liberação
de calor e desenvolvimento súbito de pressão”. Já o artefato análogo, “é o produto concebido com finalidade
diversa, porém idôneo a produzir efeitos semelhantes aos do explosivo, como, por exemplo, um botijão de
gás" (LIMA, p. 426).
Bem fixadas tais balizas, passamos a estudar pormenorizadamente o crime em comento. Inicialmente,
Renato Brasileiro nos explica que "a introdução dessa nova qualificadora ao crime de furto visa coibir prática
recorrente Brasil afora, consubstanciada na explosão de caixas eletrônicos para subtração do numerário
alocado no seu interior" (p. 426).
Insta salientar que a qualificadora em estudo é de natureza objetiva, visto que se refere ao meio de execução
utilizado na prática do crime de furto. Assim, admite-se a sua comunicabilidade no concurso de agentes,
conforme art. 30, do Código Penal. Ainda, com a leitura do texto legal, percebe-se que a tipificação do delito
depende da potencialidade do explosivo ou artefato análogo, de causar perigo comum, já que se trata
também de crime de perigo concreto (LIMA, p. 426).
Ademais, devemos nos atentar que, com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, este delito foi inserido no
rol dos crimes hediondos, no art. 1º, inciso IX, da Lei n.º 8.072/90:
[…]
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pela primeira vez uma modalidade de furto é rotulada como crime hediondo. Antes não havia previsão,
justamente por não envolver violência ou grave ameaça à pessoa e também por tutelar, unicamente, o bem
jurídico do patrimônio da vítima (LIMA, p. 425).
O legislador entendeu por bem tornar hediondo o crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou
artefato análogo que cause perigo comum, com base no critério de maior reprovabilidade da conduta do
agente que se utiliza desses instrumentos para o cometimento do crime, visto que podem resultar perigo
comum e causar danos a um número indeterminado de pessoas (LIMA, p. 426) e, principalmente, porque o
número de casos envolvendo explosão de caixas eletrônicos continua extremamente alto em todas as
regiões do país.
Porém, não há semelhante dispositivo legal tornando o crime de roubo majorado por estas mesmas
circunstâncias fáticas como crime hediondo, ainda que, obviamente, seja esta conduta (a do roubo
majorado) mais grave que a do furto qualificado, acima descrito (LIMA, p. 426).
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
[…]
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
[…]
De se ver que foi a mesma lei que incluiu referidas circunstâncias, qual seja, a Lei nº 13.654, de 2018 e que,
atenção, no roubo, tal circunstância é uma qualificadora, enquanto que no roubo, é uma causa de aumento
de pena.
(S)e o agente, por exemplo, realizar a subtração mediante utilização de explosivo, sem agredir
ou ameaçar quem quer que seja, somente poderá progredir de regime depois de cumpridos 40%
da pena, mas se praticar lesão corporal crime de roubo], ferindo o sujeito passivo, durante a
realização do crime, a progressão poderá ser concedida depois de passados 25% da pena. Sem
falar dos demais efeitos da hediondez, que desapareceriam se houvesse os meios executivos
mais graves. É quase um “convite” ao furtador para que agrida ou ameace a vítima.
Diante disso, não há como negar que se está diante de um caso de violação ao princípio da
proporcionalidade, pois a Lei tornou a punição ao crime mais leve deveras severa, cravando-a de hedionda,
enquanto a conduta mais grave, não ostenta referida pecha. Sobre este “princípio síntese”, leciona ANDRÉ
RAMOS TAVARES (2020):
(O)s direitos fundamentais encontram-se em potencial conflito e, assim, a ideia pura e simples
de que os direitos fundamentais também vinculam o legislador será vazia de sentidos em que
haja alguma sorte de complementação. Daí a proporcionalidade ser compreendida como a exata
medida dessa vinculação. A partir dessa concepção, passou-se a entender que a legalidade
clássica, no sentido de exigência da lei, foi superada pela exigência de lei proporcional, como
expressão daquela vinculação do legislador aos direitos fundamentais.
Por qualquer ponto de vista que se analise a situação (constitucional ou político-criminal), não há como
entender razoável que a subtração realizada com o emprego de explosivo, ou artefato análogo, mas sem
violência ou grave ameaça contra pessoa, seja rotulada como crime hediondo e, quando efetivada com
emprego de violência ou grave ameaça a pessoa, não o seja.
O que se tem, ao menos de acordo com o texto expresso da lei, é uma conduta menos grave (diminuto
desvalor da ação) possuindo uma resposta penal qualitativamente mais drástica e gravosa do que a conduta
obviamente mais violenta (alto desvalor da ação).
Neste sentido, vale a pena conferir as palavras de Victor Eduardo Rios Gonçalves, ditas em uma palestra
divulgada pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo[1] (12'35'' aos 15’23’’):
[…] uma crítica ao legislador, por uma desatenção, o projeto originário, ele criava uma
qualificadora no furto […] e transformou-se em qualificado o furto com emprego de explosivos.
Só que quando mexeram no projeto, acrescentaram essa conduta também no roubo. Mas a
proposta lá do Ministro Alexandre de Morais […] quando se transformava o furto com explosivo
em qualificadora, já no projeto havia a transformação em crime hediondo. Só que depois
inseriram como majorante no roubo o emprego de explosivos e se esqueceram de mexer aqui na
lei dos crimes hediondos. Então ficou uma coisa sem nenhum sentido: o furto quando qualificado
com o emprego de explosivos ser hediondo e quando o crime for o de roubo com o emprego de
explosivos não ser. A defensoria pública, os advogados, com toda certeza vão alegar que nós
estamos aqui diante de uma ofensa ao princípio da proporcionalidade. Se o mais não é hediondo,
não há como o menos sê-lo.
Então, naquela oportunidade, o ilustre membro do MPSP e professor acima mencionado sugere três
possíveis soluções para a flagrante problemática: 1 – concordar que há uma ofensa à proporcionalidade, e,
assim, não considerar o furto qualificado em estudo como crime hediondo; 2 – Reconhecer a ofensa à
proporcionalidade e, por isso, por meio de uma interpretação extensiva da norma, tratar o roubo majorado
ora em estudo como hediondo, já que o crime menos grave assim o é tratado; e, por último, 3 – defender
que o legislador é quem tem a opção de rotular como hediondo ou não um determinado delito e, assim,
aceitar o disparate. Neste sentido, é importante lembrar que existem muitos outros crimes mais graves que
o furto qualificado e que não integram o rol dos crimes hediondos (GONÇALVES, 2020).
A colaboração premiada é um instituto que está previsto há algum tempo na nossa legislação esparsa, mas
que, por conta de recentes investigações e processos, tornou-se um meio de obtenção de prova muito falado
e, principalmente, com nova regulamentação legal. Antes de mais nada, portanto, conheça algumas destas
previsões legais já existentes:
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a
conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva
e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha
resultado:
Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização
da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando
se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
ou terrorismo.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate:
[…]
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na
recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de
um terço a dois terços.
Na lei de Lavagem de Dinheiro (Lei n.º 9.613/98), desde 2012, há a seguinte previsão:
Art. 1º, § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto
ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as
autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime
Referido instituto também está previsto e regulamentado na Lei n.º 12.850/13 (Lei de Organização
Criminosa), em seu artigo 3º, desde 2013. Com o advento do ‘pacote anticrime’ (Lei n.º 13.964/19),
normatizou-se de forma exaustiva todo o procedimento atinente, por meio da inclusão dos artigos 3-A e
seguintes.
Não é este o momento para estudarmos à fundo todo este procedimento da colaboração premiada. A
proposta, então, é chamar sua atenção, caro concurseiro, para alguns pontos novos da Lei, talvez os mais
interessantes ou que possam gerar alguma dúvida.
Parte da doutrina utiliza os termos delação e colaboração premiada como sinônimos. Outros, como Renato
Brasileiro, diferenciam tais termos, ao afirmarem que na colaboração premiada, o imputado assume a culpa
do delito sem incriminar terceiros, fornecendo, por exemplo, informações sobre a localização do produto do
crime. Neste caso ele é mero colaborador. Já na delação premiada, o imputado assume a culpa e delata
outras pessoas. Assim, a colaboração premiada é um gênero e a delação premiada seria uma espécie (LIMA,
p. 793).
Neste viés, pode-se dividir a colaboração premiada em quatro subespécies: a) delação premiada, também
conhecida como chamamento do corréu, onde o colaborador, além de assumir a autoria delitiva, expõe
outras pessoas envolvidas na infração penal. Este colaborador é chamado de agente revelador; b)
colaboração para libertação: o colaborador “indica o lugar onde está mantida a vítima sequestrada,
facilitando sua libertação”; c) colaboração para localização e recuperação de ativos: o agente fornece
informações para a localização do proveito ou produto do crime e de bens que possam ter sido submetidos
a esquemas de lavagens de captais; d) por fim, tem-se a colaboração preventiva, onde o colaborador “presta
informações relevantes aos órgãos estatais responsáveis pela persecução penal de modo a evitar um crime,
ou impedir a continuidade ou permanência de uma conduta ilícita” (LIMA, p. 794).
agente que, arrependido, torna possível o resgate da vítima com integridade física preservada ou
a apreensão total do produto do crime, porém não praticou o crime em coautoria);
(2) a delação premiada exige, além da colaboração para a elucidação de uma infração penal, que
o agente, confessando a imputação que lhe é feita, aponte outros comparsas que, em concurso
de pessoas, participam da empreitada criminosa, como uma forma de chamamento do corréu.
Outras expressões são verificadas na prática de designá-la, tais como imputação de corréu,
chamamento de cúmplice, pentinismo (alusivo a pentito ou, no italiano, relativo a quem se
arrependeu), crown witness (testemunho da coroa) ou, ainda, colaboração processual.
O legislador preferiu a expressão genérica: “colaboração premiada”. Por isso, neste estudo trataremos o
assunto desta forma.
O artigo 3-A da lei da Organização Criminosa prevê que “O acordo de colaboração premiada é negócio
jurídico processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos.
Inovação belíssima, já de início, é a conceituação de tal instituto, na seara penal, como sendo um negócio
jurídico processual.
O que antes era cabível somente no processo civil, agora também o é no processo penal, sendo este mais
um passo rumo à justiça negociada, ‘plea bargain’ etc.
Para DIDIER JR., “negócio processual é o ato voluntário, em cujo suporte fático confere-se ao sujeito o poder
de escolher a categoria jurídica ou estabelecer, dentro dos limites fixados no próprio ordenamento jurídico,
certas situações jurídicas processuais”. ((DIDIER JR, 2015, P. 376). Ou seja, a autonomia da vontade dos
sujeitos processuais (autor e réu) prevalecerá, em determinadas situações dentro do processo, o que, há
pouquíssimo tempo, era inadmissível na esfera processual penal, em que a lei seca haveria de determinar o
rito a ser tomado, e ponto final.
Basta conferir toda a novel normatização sobre o tema para se perceber que a colaboração premiada é um
complexo probatório, visto que envolve consenso do colaborador (autonomia da vontade), todo um
procedimento para se propor validamente o acordo e se descortinar novas provas, além de, tal como o
‘nomen juris’ do capítulo atinente já indica, também um meio de obtenção de prova. Ou seja, é um espaço
probatório constituído por negócio jurídico, um meio de obtenção de elementos de informação ou de provas
e, ao menos parcialmente, a colaboração premiada constitui uma confissão (TÁVORA, p. 1024).
Um primeiro ponto interessante sobre o tema é o “marco de confidencialidade” logo das tratativas (art. 3-
B). Assim o será (sigilo com relação ao colaborador e suas informações) inclusive quando o celebrante
(normalmente a Polícia ou MP) não firmar o acordo, situação em que todas as informações até então
fornecidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas para qualquer fim (Art. 3-B, §6º). Aliás, nenhum ato
deste procedimento específico haverá de ser realizado sem a presença de defensor técnico (Art. 3-C, §1º,
especificamente quanto à tratativa, e Art. 4º, §15º).
É de se ressaltar que não existe direito subjetivo à celebração da colaboração. Como negócio jurídico que é,
está a mercê da discricionariedade regrada do celebrante (Polícia ou MP) que, por qualquer razão justificada,
pode não celebrar o acordo. Neste sentido, didática a lição do ministro EDSON FACHIN, no julgado do MS
35693 Agr/DF, em 28/05/2019 (Informativo STF n.º 942).
Neste ponto, ainda, frise-se que o “prêmio” só será devido se, ao final, a colaboração concretamente houver
trazido novos elementos de informação/prova aos autos, ou seja, tenha sido ela eficaz (vide Art. 4º, abaixo
colacionado).
A assinatura do termo não implica, isoladamente, a suspensão das investigações. Inclusive, o acordo da
colaboração premiada pode ser precedido de instrução, se houver necessidade. Ainda, o rito previsto para a
celebração do acordo de colaboração premiada tem o objetivo de impedir arbítrios, preservando o
colaborador de eventuais abusos (TÁVORA, p. 1026).
No acordo de colaboração premiada deve constar a narrativa do colaborador sobre os fatos ilícitos para os
quais concorreu e que tenham uma relação direta [2] com os fatos investigados. O “desenvolvimento da
prova se submete ao contorno do objeto a se provar e este, a sua vez, é aquele descrito na denúncia futura
ou já ajuizada” (TÁVORA, p. 1027).
Ainda, o §4º do Art. 3-C prevê que deverá a “defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os
fatos adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os elementos de
corroboração”, isto porque todas as cautelas devem ser tomadas, a fim de evitar “aventuras jurídicas”
(TÁVORA, p. 1027).
O art. 4º da Lei n.º 12.850/13 talvez seja o epicentro do instituto, eis que estipula quais são os benefícios
(prêmios) plausíveis e o que se entende por eficácia da medida colaborativa, a ponto de efetivamente o
colaborador ter direito ao prêmio. Vale a pena a transcrição destes tópicos:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde
que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
Questão interessante que já se discute é se referidos prêmios podem ser aplicados a quaisquer crimes, desde
que praticados por uma organização, ou somente ao crime de organização criminosa (artigo 2º da Lei n.º
12.850/13). Ora, se a intenção da Lei (conhecida como ‘pacote anticrime’) é fazer com que membros de
organização criminosa passem a delatar seus comparsas e toda a estrutura da empresa delitiva, nada mais
razoável do que aplicar referidas consequências premiais a todo e qualquer crime praticado pela referida
organização.
Por certo, no entanto, tais prêmios são incomunicáveis (ou seja, não se estendem) aos demais
investigados/corréus. Como dito, trata-se de um negócio jurídico ‘personalíssimo’, a respeitar a autonomia
da vontade do colaborador e do celebrante (Polícia ou MP), neste caso, de forma fundamentada de acordo
com a discricionariedade regrada, evidentemente.
Inclusive, não se admite que os delatados ou pessoas meramente mencionadas questionem a validade do
acordo, por falta de interesse (HC n.º 127.483, julgado em 2015 pelo STF e RHC n.º 69.988, julgado em 2016
pelo STJ). É que a colaboração é um negócio personalíssimo e, como tal, preenchidos os requisitos legais,
notadamente a autonomia da vontade, terceiros não podem contestá-lo. Evidentemente, o que consta do
acordo e diga respeito a terceiros será levado ao conhecimento destes e, a depender da fase processual (IP
ou ação penal) ou do que efetivamente constou (se houve a imputação de algum crime a este, ou apenas a
menção como testemunha, por exemplo) haverá ampla possibilidade de se manifestar à respeito, por meios
próprios.
Atenção para o fato de ser cabível a colaboração premiada inclusive após a sentença (ou acórdão) penal
condenatório, na forma preconizada pelo Art. 4º, §5º, que estipula que “A pena poderá ser reduzida até a
metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos”.
Encerrou-se, é interessante relembrarmos, certa discussão que existia com relação à possibilidade do
Delegado de Polícia firmar o acordo ora em estudo (previsão do artigo 4º §§2º e 6º). O tema chegou à
Suprema Corte, por meio da ADI 5508/DF, julgada em 2018, em que prevaleceu a constitucionalidade do
dispositivo mencionado, conforme voto do Ministro MARCO AURELIO. Portanto, pode sim o Delegado de
Polícia firmar o acordo, desde que ainda na fase policial e com a posterior manifestação do MP, antes da
homologação judicial.
Por certo, diversas outras questões controversas e delicadas ainda surgirão, além daquelas que já existem
sobre o tema, eis que, sendo um instituto processual novo, alguns dogmas estão sendo ‘postos em xeque’,
tal como o seguinte:
Art. 4º, §14: Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu
defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
Num primeiro passar de olhos desavisado ou conservador, poderia se entender que tal preceito violaria
regras constitucionais (não fazer prova contra si mesmo, direito ao silêncio etc). Porém, para rechaçar tal
argumentação ‘chavão’, basta afirmar que estamos a tratar de um acordo, de uma negociação processual,
em que o colaborador assina se quiser, de acordo com sua autonomia de vontade e, mais ainda, sempre na
presença de um defensor técnico (advogado ou defensor público).
Não existe dever ao silêncio ou dever de não fazer provas contra si mesmo. Portanto, se o sujeito quiser não
exercitar tais direitos, pode (convenhamos que o termo técnico adequado seria ‘não exercitar’ o direito, e
não ‘renunciar’, tal como previsto no texto legal acima transcrito).
Nestor Távora (p. 1032) disserta sobre alguns requisitos desta confissão:
Ou seja, não deve ser admitida a delação premiada se restar constatada pressão psicológica pela decretação
abusiva de prisão, contrariedade ao direito, tais como prisões preventivas com excesso de prazo, prisões
temporárias com o fito de obter colaboração dos investigados ou, ainda, prisões impostas por meio de
fundamentação vaga (TÁVORA, p. 1032).
É por isso que há quem sustente que não cabe a celebração do acordo se o colaborador estiver preso,
justamente por entender que o sujeito não estaria exercendo sua autonomia da vontade de forma plena.
Porém, para rechaçar tal tese, basta se verificar que, se o sujeito estiver preso de forma justificada
(devidamente fundamentada por um magistrado) e estiver cumprido o requisito básico da presença
obrigatória de defensor técnico desde as negociações prévias até a celebração formal do termo de acordo,
presumir-se-á que não houve coação ou abuso algum e, com isso, que o acordado é válido.
Alguns dos pontos interessantes da colaboração premiada são estes. Leia por diversas vezes os artigos 3º-A
ao 7º da Lei de Organização Criminosa, pois o rito a ser seguido na elaboração do acordo (além de todas as
demais informações ali constantes) são um “prato cheio” para as bancas de concurso do MP.
REFERÊNCIAS
CABETTE, Eduardo Luiz Santos e CARUSO, Gianfranco Silva. Lei anticrime e crimes hediondos. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/79849/lei-anticrime-e-crimes-
hediondos#:~:text=O%20furto%20com%20emprego%20de,aviltadas%20por%20esse%20tratamento%20ab
surdo.
LIMA, Renato Brasileiro de. Pacote Anticrime: Comentários à Lei Nº 13.964/19 – Artigo por Artigo. Salvador:
Editora JusPodivm, 2020.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Simpósio Pacote Anticrime: Alterações no âmbito do Direito Penal.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NcLk3-kuOPo.
TAVARES, André Ramos Curso de direito constitucional / André Ramos Tavares. – 18. ed. – SãoPaulo : Saraiva
Educação, 2020.
SANCHES, Rogério. Lei Penais Especiais comentadas. 3ª edição. Salvador. Juspodivm. 2020
DIDIER JR. Fredie. Princípio do respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo Civil. Extraído do Cap
01 da coleção Grandes temas do Novo CPC, vol. 01 - Negócios processuais. Salvador: Juspodivm. 2015.
• Obrigatório;
• Facultativo;
• Proibido.
De acordo com Paulo de Barros Carvalho, a norma jurídica possui em regra três modais deônticos: o modal
da obrigação (obrigam algumas condutas), o modal da permissão (permitem algumas condutas) e o modal
da proibição (proíbem condutas).
É isso o que se verifica com o alistamento: ora o alistamento é uma obrigação (um dever); ora, em outras
situações, é uma faculdade (pode ou não ser desempenhada); ora é uma proibição (vedado).
Quanto ao alistamento obrigatório (art. 14, § 1º, inc. I, da CRFB c/c arts. 4º e 8º, caput, do CE), a Constituição
se reporta a duas fases do processo eleitoral – alistamento e votação –, e prevê que a obrigação se opõe aos
maiores de 18 anos e menores de 70 anos de idade.
O alistamento facultativo está previsto no art. 14, § 1º, inc. II, da CRFB c/c art. 6º, inc. I, “b”, do CE. A
Constituição contempla 3 casos:
• Analfabetos;
• Maiores de 16 anos e menores de 18,
• Maiores de 70 anos.
Qualquer pessoa que não se possa fazer entender ou expressar de modo escrito em língua portuguesa é tida
como analfabeta pela legislação brasileira, inclusive eleitoral. O analfabetismo gera dois efeitos diferentes,
ora ligado a alistabilidade ora ligado a elegibilidade.
O teste será aplicado em qualquer situação na qual haja dúvida fundada ou substancial sobre o atendimento
da condição consistente na alfabetização, mesmo que haja documento que prove que a pessoa é alfabetizada
(documentação comprobatória da alfabetização), devendo a correção desse teste se basear em critérios
objetivos de aferição.
No caso do maior de 16 anos e menor de 18, o alistamento é facultativo (abaixo de 16 anos o alistamento é
proibido). Caso faça o alistamento, o indivíduo será considerado eleitor. Questiona-se então sobre o possível
ajuizamento de ação popular nesse caso e a necessidade ou não de assistência.
Para Mario Bento Martins Soares, embora se trate de menor de 18 anos (relativamente incapaz, à luz do
critério etário) a assistência seria desnecessária. Em regra, a assistência é imposta quando houver
incapacidade relativa, salvo nesse caso. Trata-se de uma exceção. Vista a questão sob o ângulo público há
um cidadão, e não se pode aceitar que cidadão venha a ser assistido para praticar atos da vida política, como,
por exemplo, postular ação popular.
Rodolfo de Camargo Mancuso, por outro lado, sustenta que a assistência é necessária. Nessa faixa etária a
assistência é obrigatória, e não há exceção prevista por lei. Vista a questão sob o ângulo privatista trata-se
de um incapaz, e como incapaz merece assistência (meio que supre sua vontade, assistindo-o para a prática
de um ato jurídico, qual seja, a postulação de ação popular).
Por fim, o alistamento proibido (arts. 12, § 1º, e 14, § 2º, da CRFB c/c arts. 5º, inc. III, e 6º, inc. I, “a”, do CE)
engloba quatro casos:
• Menores de 16 anos;
• Estrangeiros;
• Conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório,
• Privados, temporária ou definitivamente, dos direitos políticos.
Quanto aos menores de 16 anos, para a produção de efeitos políticos, leva-se em consideração um critério
objetivo: faixa etária. Portanto, no caso dos menores de 16 anos, o alistamento é proibido.
Em relação aos estrangeiros, o alistamento também é proibido. Contudo, quanto ao português equiparado
(português com residência permanente no País) há uma situação excepcional, sendo caso de estrangeiro que
é cidadão brasileiro e, portanto, pode se alistar.
No entanto, ainda que se trate de português equiparado e tenha a possibilidade de ser eleito, ressalte-se
que a Constituição (art. 12, § 3º) veda a possibilidade de ocupar cargos privativos de brasileiro nato, entre
os quais há um cargo eletivo: o de Presidente da República.
Aspectos Gerais
Consoante o art. 112, do Estatuto, bem como art. 1º, § 2º, da Lei nº 12.594/2012, são as medidas
socioeducativas:
I - advertência;
IV - liberdade assistida;
Trata-se de rol taxativo e, por isso, não pode ser ampliado pela autoridade judiciária.26
Conceito
Para se chegar ao conceito da medida socioeducativa, é importante levar em conta alguns aspectos
importantes, como o fundamento normativo para a sua aplicabilidade, aqueles que estão sujeitos à medida,
a sua finalidade e a autoridade competente para a sua imposição.
A medida socioeducativa tem por fundamentos normativos as Diretrizes de Riad, as Regras de Pequim, a
Constituição Federal (art. 228), o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com as Diretrizes de Riad, devem ser adotadas providências necessárias para impedir a ocorrência
da delinquência juvenil, enfatizando-se que somente em último caso os jovens deverão ser internados em
instituições e pelo mínimo espaço de tempo necessário, dando-se a máxima importância aos seus superiores
interesses (item 45). Nas Regras de Pequim enfatizou-se que em cada jurisdição nacional deve-se promulgar
um conjunto de leis, normas e disposições aplicáveis especificamente aos jovens infratores, assim como os
órgãos e instituições encarregados (item 2.3).
A Constituição Federal, em seu art. 228, determina serem penalmente inimputáveis os menores de dezoito
anos, sujeitos às normas da legislação especial. Na mesma linha, o art. 27, do Código Penal, indica que os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial. Por fim, o art. 112, do Estatuto, determina que, uma vez verificada a prática de ato
infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as medidas que identifica.
As medidas socioeducativas poderão ser impostas aos adolescentes autores de ato infracional (art. 112,
caput), devendo ser levada em conta o momento da ação ou da omissão tipificada na lei como crime ou
contravenção penal.
Nesse passo, se quando da ação ou da omissão, o agente ainda era criança, não será possível a imposição de
medida socioeducativa, podendo ser inserido em medida protetiva, conforme já foi anteriormente indicado.
Há de ser lembrado que o Estatuto da Criança e do Adolescente poderá ser aplicado excepcionalmente
àqueles que tiverem entre dezoito e vinte e um anos, sendo autorizada a imposição da medida
socioeducativa a estas pessoas, desde que o ato infracional tenha sido praticado quando o agente ainda era
adolescente.
Para a imposição da medida socioeducativa, contudo, não basta que o agente tenha praticado o ato
infracional. Há necessidade de que o adolescente tenha condições mentais de assimilar o conteúdo
pedagógico da medida.
26
As Regras de Beijing determinam que uma ampla variedade de medidas deve estar à disposição da autoridade competente,
permitindo a flexibilidade e evitando ao máximo a institucionalização (item 18).
Com efeito, as medidas socioeducativas têm como objetivos (art. 1º, § 2º, da Lei nº 12.594/2012):
II – a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio
do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e,
Todos esses objetivos resumem o fato de que as medidas socioeducativas devem propiciar a ressocialização
do adolescente, inibindo-se a reiteração.
Por fim, somente o Juízo da Vara da Infância e da Juventude será competente para a apuração da autoria e
da materialidade do ato infracional (independentemente de qual seja), bem como da imposição da medida
socioeducativa necessária à ressocialização do adolescente. Dessa maneira, ainda que o ato ilícito tenha sido
praticado contra a União, a competência para a sua apuração será do Juízo da Vara da Infância e da
Juventude.
O Juízo da Vara da Infância será provocado pelo Ministério Público, que poderá, ou propor a concessão de
remissão, cumulada ou não com medida socioeducativa, ou então oferecer a representação (petição inicial),
com pedido de apuração de autoria e da materialidade do ato infracional.
Partindo-se dessas considerações, tem-se que a medida socioeducativa constitui-se em medida jurídica que
pode ser aplicada pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude ao adolescente autor de ato infracional.
Como foi analisado nas Disposições Preliminares, o Estatuto da Criança e do Adolescente aplica-se,
excepcionalmente, às pessoas que tenham entre dezoito e vinte e um anos de idade.
A questão não foi sempre compreendida dessa forma. A propósito, alguns Tribunais de Justiça admitiam que
somente seria possível a aplicação, nessas situações, de medidas restritivas de liberdade – semiliberdade e
internação – com exclusão das demais. Enquanto outros, sempre defenderam a viabilidade de inserção
desses jovens em quaisquer medidas socioeducativas.
O tema foi analisado pelo Superior Tribunal de Justiça que, concomitantemente, fixou tese no Tema
Repetitivo nº 992, bem como editou a Súmula 694, decidindo-se que a superveniência da maioridade penal
não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso,
inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
Bem definida a tese, resta, neste momento, exemplificar a sua aplicação para melhor compreensão.
Situação 1: imagine-se que o adolescente Mévio tenha praticado ato infracional com dezessete anos e onze
meses de idade. Foi apreendido, tendo sido decretada a sua internação provisória, aguardando-se o
julgamento em entidade de atendimento. Completa a maioridade penal e, posteriormente, advém o
julgamento da ação socioeducativa, com inserção do jovem em medida socioeducativa de liberdade assistida
cumulada com prestação de serviços à comunidade.
Note-se que, neste caso, o ato infracional foi praticado enquanto o jovem ainda era adolescente e o
magistrado, após apurar o déficit socioeducativo, impôs-lhe medida socioeducativa em meio aberto. O
advento da maioridade penal não obstou tal procedimento.
Situação 2: diferentemente do primeiro caso, ao adolescente Tício foi aplicada medida socioeducativa de
semiliberdade enquanto este ainda tinha 17 anos. Estando em cumprimento da medida, sobrevém-lhe a
maioridade penal. Neste caso, continuará cumprindo a medida socioeducativa de semiliberdade.
Situação 3: jovem, com 17 anos, pratica latrocínio e lhe é aplicada medida socioeducativa de internação.
Posteriormente, foge para os Estados Unidos. Quando tinha 20 anos e 11 meses de vida, foi deportado ao
Brasil. Aqui chegando, passa a cumprir a medida socioeducativa pelo tempo que é possível, ou seja, até
completar a idade de vinte e um anos.
Com todos esses exemplos, é possível compreender a aplicabilidade da tese fixada pelo Superior Tribunal de
Justiça em sede de recurso repetitivo.
Por fim, vale o registro: o jovem terá vinte e um anos de idade no primeiro instante do dia em que completa
essa idade, independentemente do horário em que tenha nascido. A partir de então, não será mais possível
cumprir as medidas socioeducativas, as quais deverão peremptoriamente ser extintas.
Não é incomum buscar compreender a situação do infrator Champinha que, muito embora já tenha
completado vinte e um anos de idade, ainda permanece internado.
Rememore-se que no ano de 2003, quando tinha dezesseis anos de idade, Roberto Aparecido Alves Cardoso,
conhecido como Champinha, em concurso com outros agentes, veio a praticar terrível ato infracional e que,
até hoje, não se encontra em liberdade.27
Ocorre que, depois de cumprir o período máximo da medida, Roberto Aparecido Alves Cardoso, no ano de
2007, passou de “uma forma de intervenção estatal justificada pela perspectiva pedagógica ressocializadora
(objetivo da medida socioeducativa) para uma subordinação a um tratamento de saúde, medida
fundamentada pelos diagnósticos médicos formulados a partir de seus laudos psiquiátricos”.28
A propósito, Juliana de Oliveira Carlos, em dissertação sobre o tema, bem registrou: “(...) findos todos os
prazos que justificariam a manutenção da internação de Champinha, o jovem foi diagnosticado – depois de
uma sequência de laudos de resultados divergentes – como portador de transtorno de personalidade e,
então, internado compulsoriamente para receber tratamento psiquiátrico em uma instituição criada para
recebê-lo, a Unidade Experimental de Saúde (UES), que está subordinada à Secretaria da Saúde, mas opera
em convênio com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP)”.29
Portanto, diferentemente do que se possa imaginar, o caso Champinha não se configura como exceção, pois
não mais se encontra internado em cumprimento de medida socioeducativa.
Para que o Juiz da Vara da Infância e da Juventude possa escolher a medida socioeducativa a ser aplicada no
caso concreto, o que o fará na ação socioeducativa promovida pelo Ministério Público e à luz de todos os
elementos colhidos sob o contraditório e a ampla defesa, deverá observar aos seguintes quesitos: 30
27
“O apelido Champinha se tornou conhecido no final de 2003. Em novembro daquele ano, em Embu-Guaçu, região da grande
São Paulo, o adolescente Champinha (então com 16 anos), juntamente com Paulo Cesar Silva Marques, rendeu e sequestrou Felipe
Caffé e Liana Friedenbach, um jovem casal de namorados que acampava na região rural da cidade. Outros três homens ainda se
envolveriam no crime, que acabou vitimando fatalmente o casal. Os veículos de comunicação noticiaram intensamente as
investigações sobre o crime e o processo de punição dos envolvidos, dando especial destaque ao papel do adolescente no crime
e a sua trajetória pelas instituições de privação de liberdade do Estado”. CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção:
Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 13.
28
CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção: Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 14.
29
CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção: Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 14.
30
Regras de Beijing: 17. Princípios norteadores da decisão judicial das medidas. a) a resposta à infração será sempre proporcional
não só às circunstâncias e à gravidade da infração, mas também às circunstâncias e às necessidades do jovem, assim como às
necessidades da sociedade; b) as restrições à liberdade pessoal do jovem serão impostas somente após estudo cuidadoso e se
e) se as medidas em meio aberto não forem suficientes à ressocialização, verificar se está diante de uma das
hipóteses do art. 122, do Estado, quando então será possível a aplicação da medida de internação.
Como é possível verificar, a gravidade do ato infracional não é elemento que, por si só, justificará a escolha
de uma medida socioeducativa. Trata-se de mais um elemento que deverá ser ponderado para a escolha
(item 5.1, das Regras de Beijing).31
Além disso, há de se enfatizar que as medidas privativas de liberdade (semiliberdade e internação) somente
poderão ser aplicadas excepcionalmente, se as demais medidas não forem suficientes à ressocialização.32
Diante de uma situação concreta e após analisar os elementos fáticos existentes, o juiz poderá chegar à
conclusão de que o déficit socioeducativo somente poderá ser suprido com a intervenção por meio de mais
de uma medida socioeducativa. Nesse sentido, por exemplo, poderá cumular as medidas de liberdade
assistida e de prestação de serviços à comunidade.
Para que a cumulação possa ocorrer, no entanto, há necessidade de que haja compatibilidade, pois não é
possível determinar o cumprimento conjunto, a título de exemplo, da internação e da liberdade assistida.
São incompatíveis entre si.
reduzirão ao mínimo possível; c) não será imposta a privação de liberdade pessoal a não ser que o jovem tenha praticado ato
grave, envolvendo violência contra outra pessoa ou por reincidência no cometimento de outras infrações sérias, e a menos que
não haja outra medida apropriada; d) o bem-estar do jovem será o fator preponderante no exame dos casos.
17.2 A pena capital não será imposta por qualquer crime cometido por jovens. 17.3 Os jovens não serão submetidos a penas
corporais. 17.4 A autoridade competente poderá suspender o processo em qualquer tempo.
31
Regras de Beijing. 5.Objetivos da Justiça da Infância e da Juventude. 5.1 O sistema de Justiça da Infância e da juventude enfatizará
o bem-estar do jovem e garantirá que qualquer decisão em relação aos jovens infratores será sempre proporcional às
circunstâncias do infrator e da infração.
32
Regras de Beijing. 19.Caráter excepcional da institucionalização. 19.1 A internação de um jovem em uma instituição será sempre
uma medida de último recurso e pelo mais breve período possível.
Assim, com fundamento nos artigos 99, 100 e 113, do Estatuto, admite-se a cumulação das medidas
socioeducativas, quando houver compatibilidade entre elas.
Consoante o § 3º, do art. 42, da Lei nº 12.594/2012, considera-se mais grave a internação, em relação a
todas as demais medidas, e mais grave a semiliberdade, em relação às medidas de meio aberto.
Diante da lógica das medidas socioeducativas, tem-se que para que o juiz possa aplicar a medida
socioeducativa de internação, considerada a mais grave entre todas as demais, deverá descartar a viabilidade
de que outra medida fosse suficiente à ressocialização, bem como anotar a presença de uma das hipóteses
do art. 122, do Estatuto.
Contudo, para a medida de semiliberdade, diferentemente, basta que verifique que não existe outra medida
socioeducativa seja suficiente à ressocialização, não havendo a necessidade de que esteja presente uma das
causas autorizativas da internação (art. 122, Estatuto).
À exceção da internação, as demais serão aplicadas em conformidade com o juízo de ponderação realizado
pelo magistrado, não havendo correspondência entre uma causa e a escolha da medida.
Considerando-se o caráter precário das medidas socioeducativas, é possível que o Juízo da Vara da Infância
e da Juventude competente determine a substituição de uma por outra, desde que haja necessidade
devidamente comprovada.
Nesse sentido, é possível substituir-se a medida de internação pela de liberdade assistida, em uma
progressão de medida. De outro, também é viável a substituição da medida de semiliberdade pela de
internação sem prazo determinado, em razão de ter sido apurado posteriormente a existência de déficit
socioeducativo que autorize intervenção mais severa.
A análise jurídica do tributo não pode prescindir do estudo da regra-matriz de incidência tributária.
Por regra-matriz de incidência tributária se entende o modelo teórico mediante o qual se organiza os textos
legais para fins de identificação da norma tributária que institui o tributo 33. Esse modelo facilita o estudo
33
A expressão regra-matriz de incidência tributária tem mais de uma acepção. Pode ser compreendida como modelo
teórico e também como a própria norma de tributação.
dos enunciados prescritivos e ajuda na avaliação da compatibilidade da norma com a Constituição Federal.
Foi desenvolvido pelo jurista Paulo de Barros Carvalho e é bastante difundido na doutrina brasileira e
estrangeira.
Pois bem, essa teoria parte do pressuposto de que há uma distinção entre texto normativo e norma jurídica.
Texto normativo é o conjunto de dispositivos de leis espalhados pela legislação. É a soma dos enunciados
que encontramos na Constituição, em um Código ou na legislação esparsa.
Norma jurídica, por outro lado, é uma construção mental; é a significação que se atribui ao texto durante o
processo interpretativo. As normas jurídicas são construídas como uma proposição hipotética-condicional,
conforme gráfico a seguir:
Hipótese (Ex. Se não pagar tributo) Consequência (ex. Deve pagar multa)
Como toda norma jurídica, as normas tributárias imponíveis possuem uma hipótese (se) e um consequente
(dever ser).
Na hipótese, necessariamente vamos encontrar o critério material, o critério espacial e o critério temporal.
No consequente, o critério quantitativo e o critério pessoal.
Passemos a analisá-los.
Critérios do Antecedente
O Legislador recorta a realidade social e seleciona os fatos que considera relevantes na composição de uma
hipótese normativa.
A descrição desses fatos se encontra no antecedente da norma jurídica, local em que está enunciado um
determinado comportamento ou estado, condicionados por coordenadas de tempo e de espaço.
Ao se isolar essas circunstâncias (comportamento, tempo e espaço), conclui-se que há três critérios no
antecedente da norma: o critério material, o critério temporal e o critério espacial.
Critério Material
O critério material é formado por um verbo e um complemento, que indica um comportamento humano (p.
ex.: auferir renda, importar produtos) ou um determinado estado (p. ex.: ser proprietário de bem imóvel).
Trata-se, assim, do núcleo essencial do enunciado normativo, em que se descreve uma conduta humana
condicionada no tempo e no espaço. Por abstração, desconsidera-se nesse momento os condicionantes de
tempo e de espaço34.
Pensemos em um exemplo do direito tributário, o ITR – Imposto Territorial Rural, cuja instituição foi operada
pela Lei 9.393/9635.
O critério material pode ser enunciado da seguinte forma: Ser proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem
imóvel.
Critério Espacial
O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer.
Um caso de definição explícita é o do IPTU, em que a legislação diz que o critério material (ser proprietário
de bem imóvel) deve ocorrer na zona urbana (critério temporal). Já um exemplo de definição implícita é o
do IPI, cujo critério espacial é todo território nacional.
O critério espacial pode ser: i) pontual, quando o local do fato deve ocorrer em um ponto bastante específico
(ex. estacionar veículo em local proibido, apresentar-se à Delegacia de Polícia localizada em determinada
cidade); ii) regional, quando o local eleito pela lei, embora específico, é um pouco mais amplo (ex. ser
34
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
35
Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a
propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de
janeiro de cada ano.
proprietário de bem imóvel urbano, ou seja, dentro de uma determinada zona geográfica); iii) territorial,
bastante genérico, em que o critério espacial se confunde com o âmbito de vigência da lei (industrializar
produtos em qualquer lugar do território nacional); iv) universal, quando o critério espacial é mais amplo do
que o âmbito territorial da própria norma. (É o caso do IRPF, em que se tributa, nos casos de residentes no
Brasil, a renda auferida no exterior) 36.
No caso do ITR, o critério espacial é a zona rural, porque é nessa região geográfica que alguém deve ser
proprietário de um imóvel para que haja a incidência da norma jurídica.37
Critério Temporal
O critério temporal é o momento, contido no suposto da regra, que indica o instante em que ocorre o fato
jurídico38.
Em alguns casos, como do IPTU, a sua veiculação explícita é imprescindível, porque se está diante de uma
conduta que exprime uma situação duradoura (ser proprietário de bem imóvel urbano). Assim, é preciso
responder de maneira expressa em que momento que essa situação (ser proprietário) se afigura relevante
para fins de incidência.
Já em outras circunstâncias, o critério temporal se encontra inserido de maneira implícita, porque pode ser
construído a partir do critério material.
Um exemplo de definição explícita ocorre com o ITR, cujo critério temporal é o dia 1º de janeiro, por definição
do artigo 1º da Lei 9.393/96.
Critérios do Consequente
No consequente se identifica a relação jurídica que nasce quando da ocorrência daquela situação prevista
pela hipótese da norma tributária.
É no consequente que se encontra quem é o sujeito portador do direito subjetivo; a quem foi cometido o
dever de pagar uma prestação; e qual o objeto desta prestação.39
36
TOMAZINI DE CARVALHO, Aurora. Teoria Geral do Direito – O construtivismo Lógico-semântico. 623 f. Tese
(Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009, p.295-296
37
Quando estudarmos impostos em espécie, vamos ver que há exceção a essa regra.
38
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 327
39
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 22ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.348
Dois critérios permitem identificar esse plexo de informações: o critério pessoal e o critério quantitativo.
Critério Pessoal
O critério pessoal é formado pelo conjunto de informações constantes do consequente da norma, que
permite identificar quem são o sujeito ativo e o sujeito passivo da relação obrigacional.
No caso do ITR, via de regra o sujeito ativo é a União Federal. Os sujeitos passivos são os proprietários,
enfiteutas e possuidores dos imóveis rurais.
Critério Quantitativo
A base de cálculo possui três funções: i) mensuradora, porque mede as proporções reais do fato; ii) objetiva,
porque compõe a determinação da dívida; iii) comparativa, porque em comparação com o critério material,
pode confirma-lo, infirmá-lo ou afirmá-lo40.
As funções mensuradora e objetiva são de fácil compreensão. Imaginemos a seguinte situação: No ano de
2016, o contribuinte João auferiu renda no valor de R$ 200.000,00. Esta quantia é a base de cálculo do IRPF,
porque mensura a proporção do fato – o quantum de renda auferido – e permite a determinação do valor
devido a título de tributo quando multiplicada pela alíquota (função objetiva).
Quando a base de cálculo eleita pela legislação consegue medir as proporções reais do fato, ela confirma o
critério material, como aconteceu no exemplo acima. Se isso inocorre, ela infirma o critério material.
É o que ocorreria com uma lei municipal que criasse uma taxa de licença de publicidade e estabelecesse
como base de cálculo o lucro do sujeito passivo. O lucro do estabelecimento não mediria a proporção do
fato, por não ter relação com o custo incorrido pelo município ao exercer a fiscalização. Logo, a base de
cálculo infirmaria o critério material. Embora o município tivesse dado o nome de taxa ao tributo, na verdade
teria criado um imposto. E um imposto inconstitucional.
Portanto, a base de cálculo pode indicar que o Estado criou uma espécie tributária, mas deu a ela o nome de
outra para lhe dar uma aparência de legalidade.
As alíquotas podem ser especificas, quando assumem um valor fixo que é multiplicado pela unidade prevista
em lei (p. ex.: R$ 1,50 por metro linear); ou ad valorem, quando é um percentual fixado em lei (p. ex.: 18%
sobre o valor do produto).
40
Ibid, p. 400
No caso do ITR a base de cálculo é o valor da Terra Nua Tributável – VTN e as alíquotas variam entre 0,03%
a 20%, a depender do tamanho do imóvel e do grau da sua utilização.
Síntese
1.11.1 - Recomendação
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas Constituições
Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito:
Parágrafo único. No exercício das atribuições a que se refere este artigo, cabe ao Ministério
Público, entre outras providências:
Além da lei 8.625/93, é regulamentada pela Resolução 164/2017 do CNMP, bem como os atos
administrativos internos de cada Ministério Público estadual. Nos termos do art. 1º da citada resolução, a
recomendação é assim definida:
A recomendação não possui caráter coercitivo, vale dizer, não é impositiva e nem aplica penalidade, mas
serve de sugestão fundamentada e alerta para a possível tomada de medidas, a fim de que seu destinatário
corrija determinadas posturas ou atos.
A recomendação deve ser devidamente fundamentada e pode ser dirigida de maneira preventiva ou
corretiva para quem possui poderes, atribuição ou competência para resolver a situação enfrentada.
Competência é a medida da jurisdição. No caso das ações coletivas genéricas, a regra de competência geral
é a colocada no art. 2º da lei 7.347/85: “Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa”. Deve-se reforçar
que a competência é tratada da mesma forma, tanto para as ações de natureza preventiva, quanto
repressiva. Não obstante a regra geral do art. 2º da LACP, há situações específicas e pontuais decorrentes de
estatutos específicos, como o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, na forma
do art. 209 do ECA:
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou
deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
E o Estatuto do Idoso:
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça
Federal.
148, inciso IV, 208, § 1º, e 209, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 5. Por fim, porquanto o
Estatuto da Criança e Adolescente é lex specialis, ele prevalece sobre a regra geral de
competência das Varas Cíveis, quando o feito envolver a defesa dos interesses individuais, difusos
ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e pela Lei. (REsp
1749422/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe
17/12/2018)
Caro (a) aluno (a), neste tema aprofundado trataremos da contemporânea e importantíssima classificação
de Direitos Coletivos do professor Edilson Vitorelli, respeitadíssimo processualista brasileiro e membro do
Ministério Público Federal.
O tema já foi objeto de cobrança em uma prova objetiva do MP/MG e em provas discursivas e orais de outros
concursos de Ministério Público. Como o assunto ganha cada vez mais importância e os examinadores do
Parquet mineiro gostam muito do prof. Vitorelli, essa é uma de nossas apostas para a sua prova. Trata-se de
um tópico que com certeza será cobrado em pelo menos uma das fases do certame.
Para Edilson Vitorelli, o conceito legal de direitos transindividuais, tal como positivado no CDC, é insuficiente
para refletir com precisão todos os litígios relacionados a esses direitos. De início, vamos revisar a
classificação legal, de enorme incidência em provas:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais,
de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;
Todavia, o prof. Vitorelli percebeu que os litígios coletivos têm graus variados de complexidade e
conflituosidade, que impedem que todos eles sejam tratados da mesma forma, sob pena e se dedicar
recursos desnecessários simples e se simplificar indevidamente casos complexos, ou de se suprimir
indevidamente divergências sociais legítimas.
Ademais, a depender da situação concreta, não raramente o mesmo caso pode ser classificado
simultaneamente como um direito difuso, coletivo e/ou individual homogêneo. Assim, a classificação legal
não é a mais adequada, tendo em vista a realidade concreta.
A partir disso, o proceussualista mineiro propõe uma conceituação dos direitos coletivos, em três categorias,
a partir das premissas teóricas sociológicas de Elliott e Turner, atribuindo sua titularidade a uma sociedade
que é constituída sob o prisma do litígio transindividual, com o objetivo de proporcionar parâmetros para
sua tutela jurídica. Nesse sentido, Vitorelli tem como ponto de partida o litígio concretamente verificado,
ao invés de classificação abstrata de direito ou de pretensões.
Vamos às classificações, que se pautam em dois critérios primordiais (grau de conflituosidade e grau de
complexidade):
➢ Litígios transindividuais globais: envolvem situações que não atingem, de modo particular, nenhum
indivíduo. O grau de conflituosidade do grupo titular do direito é baixo, pois os indivíduos que o
compõem são atingidos de modo uniforme pela lesão e praticamente não há interesse pessoal no
conflito. A tendência é, também, de serem litígios menos complexos. Ou seja, a complexidade é
variável, mas tende a ser baixa. Exemplo: lesão ao meio ambiente, consistente o vazamento de óleo
em pequena quantidade no meio do oceano. Nessas hipóteses, há baixo conflito interno com maior
possibilidade de autocomposição.
➢ Litígios transindividuais locais: situações em que a violação de direitos coletivos atinge de modo
específico pessoas que integram uma sociedade/comunidade altamente coesa, unidas por laços
identitários de solidariedade social, emocional e territorial. A lesão ou ameaça de lesão atinge
diretamente um grupo de indivíduos que compartilham de uma identidade própria comum ou de
uma mesma perspectiva social. Nesse caso, a conflituosidade é média, pois a comunidade tende a
ser mais coesa, mas ainda é possível que haja divergências internas dentro do próprio grupo. A
complexidade é variável. Exemplo: violações de direitos coletivos que envolvem comunidades
tradicionais (índios ou quilombolas).
➢ Litígios transindividuais irradiados (ou de difusão irradiada): são litígios que envolvem a lesão ou
ameaça de lesão, a direitos transindividuais que interessam, de um modo desigual e variável, a
distintos seguimentos sociais. Portanto, há alto grau de conflituosidade e alta complexidade. O
direito material é titularizado pela sociedade elástica composta pelas pessoas que são atingidas pela
lesão. As pessoas afetadas não compõem uma comunidade, não tem a mesma perspectiva social e
não serão atingidas, na mesma medida, pelo resultado do litígio, o que faz com que suas visões acerca
de seu resultado desejável sejam divergentes e, não raramente, antagônicas. Exemplos: construção
de uma hidrelétrica e proibição da queima de palha de cana de açúcar em regiões canavieiras.
Por fim, nos litígios de alta conflituosidade e alta complexidade, é muito mais difícil identificar o legitimado
adequado à condução do processo coletivo, razão pela qual o caso deve ser conduzido por um legitimado
que seja um ente público, como é o caso do Ministério Público. Ainda, o Poder Judiciário deve garantir a
participação no processo, como colegitimado ou amicus curiae, de entes que possam defender as variadas
perspectivas do conflito.
Sobretudo nos litígios de alta complexidade, muito provavelmente o processo e as decisões serão
estruturais, sendo tomada decisões mais flexíveis e provisórias, com inclusão dos envolvidos na supervisão
das medidas adotadas, com possibilidade de contínuas revisões para adequação das medidas aos problemas
surgidos ao longo de sua implementação, iniciando-se por decisões estruturantes (organizativas) que
estabeleçam metas, objetivos e parâmetros de controle do cumprimento e da efetividade das medidas
judiciais adotadas.
Complexidade
Critérios de classificação
Conflituosidade
CLASSIFICAÇÃO DOS LITÍGIOS
COLETIVOS POR VITORELLI Difusão global
Difusão irradiada
Os direitos básicos do consumidor vêm elencados no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, de maneira
exemplificativa. De acordo com o professor Rodrigo Vaslin (PDF Estratégia):
A enumeração de direitos básicos do consumidor realizada pelo art. 6º supra não é exaustiva.
Além disso, são direitos garantidos pelo legislador para serem utilizados a favor da parte
vulnerável na relação de consumo, qual seja o consumidor. Dessa forma, o fornecedor não pode
se valer dos direitos básicos do consumidor acima enumerados para, de alguma forma,
beneficiar-se em detrimento do consumidor
Trata-se de direitos que traduzem a essência da defesa do Consumidor, sendo enumerados, como dito, de
forma exemplificativa, uma vez que o art. 7º do mesmo diploma menciona a possibilidade da existência de
outros direitos decorrentes de tratados ou convenções internacionais, o que caracteriza a teoria do diálogo
das fontes. Assim:
Com efeito, a expressão, direitos básicos, corresponde ao mínimo que o Código de Defesa do Consumidor
estipula abrindo campo para outras formas de proteção ao consumidor. Estas outras formas devem guardar
o mesmo espírito protetivo do CDC e serem compatíveis com os preceitos constitucionais que impõe a defesa
do Consumidor. Assim, os direitos básicos, tanto os previstos no CDC quanto em outros diplomas também
devem guardar relação com a Constituição e sua implicação consumerista, como previsto no art. 1º da lei
8.078/90:
A título de exemplo, pode-se citar o Decreto 6.523/2008, que regulamenta o Serviço de Atendimento ao
Consumidor – SAC-, que prevê direitos específicos ao consumidor decorrente de uma pontualidade da
relação de consumo.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6
Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3
Vamos lá!
e) Aplicabilidade imediata.
Comentários
As normas constitucionais de eficácia contida não são dotadas de aplicabilidade integral, já que há a
possibilidade do alcance do preceito ser reduzido pela legislação ordinária, de forma que a norma
infraconstitucional logra restringir os efeitos da norma constitucional regulamentada, como, por exemplo,
as inscritas nos arts. 5o, inc. XIII, e 93, inc. IX, da CRFB. Vale dizer: “as normas de eficácia contida também são
de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, porque sujeitas a restrições previstas ou dependentes
de regulamentação que limite sua eficácia e aplicabilidade”, congregando “as normas que incidem
imediatamente e produzem (ou podem produzir) todos os efeitos queridos, mas preveem meios ou conceitos
que permitem manter a sua eficácia contida em certos limites, dadas certas circunstâncias” (SILVA, José
Afonso. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, ip. 82-84).
“A norma inscrita no art. 5º, LXVII, da Carta Política não impede que delitos contra a ordem
tributária sejam punidos com a imposição de pena criminal. Esse preceito da Carta Federal
brasileira qualifica-se como típica norma revestida de eficácia contida ou restringível, eis que,
em função de seu próprio conteúdo material, contempla a possibilidade de o legislador comum
limitar o alcance da vedação constitucional pertinente à prisão civil (noção irredutível ao conceito
de prisão penal), autorizando-o a excepcionar a cláusula proibitória em duas únicas hipóteses:
(a) inadimplemento de obrigação alimentar e (b) infidelidade depositária. Note-se, portanto,
considerada a especial qualificação desse preceito constitucional, definido como norma de
eficácia contida – consoante proclama o magistério da doutrina – que a possibilidade jurídica de
o Congresso Nacional instituir a prisão civil por dívida, sempre nos casos excepcionais previstos
na Carta Política, encontra fundamento na própria Constituição, cuja autoridade normativa não
pode e nem deve expor-se a mecanismos de limitação fixados em sede de tratados
internacionais” (STF, HC-MC nº 77.631, Rel. Min. Celso de Mello, J. 03.08.1998, DJU 19.08.1998).
Questão 2. A regra veiculada pelo art. 1° da Constituição Federal, de acordo com a qual “A República
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito”, é considerada como uma norma de eficácia:
a) Plena.
b) Contida.
c) Limitada de princípio institutivo.
d) Limitada de princípio programático.
e) Restringível.
Comentários
A regra veiculada pelo art. 1° da Constituição Federal, dotada de eficácia direta, integral e imediata, é
entabulada como norma constitucional de eficácia plena sobre a qual versa a alternativa A.
Questão 3. É imediatamente aplicável, podendo ter sua eficácia contida pela legislação, a norma
constitucional segundo a qual:
a) Não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos da Constituição.
b) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
c) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer.
d) No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.
e) A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente.
Comentários
Exemplo de norma constitucional de eficácia contida pode ser tomado do art. 5º, inc. XIII, segundo o qual “é
livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer”.
Questão 4. Decidiu o Supremo Tribunal Federal que o exercício do direito de greve por servidor público só
pode se dar legitimamente após editada a lei que defina os termos e os limites daquele direito, previsto
no art. 37, inc. VII, da Constituição da República. Considerando a posição do Tribunal, é correto a citada
norma constitucional como eficácia:
a) Absoluta.
b) Plena.
c) Restringível.
d) Limitada.
e) Contida.
Comentários
O Supremo Tribunal Federal, nos autos do agravo regimental em agravo de instrumento nº 618.986,
entendeu que a norma do art. 37, inc. VII, da Constituição da República é dotada de eficácia contida, de
forma que o candidato deve assinalar a alternativa E.
“Servidor público. Direito de greve. Alegada violação ao art. 37, VII. Preceito constitucional
de eficácia contida. Necessidade de norma infraconstitucional. Ofensa reflexa. Agravo
improvido. O preceito constitucional que garante o exercício de greve aos servidores públicos é
de eficácia contida, de acordo com jurisprudência consolidada desta Corte. A eficácia plena do
preceito constitucional demanda a existência de norma infraconstitucional que regulamente os
efeitos e a forma de exercício deste direito. A ausência de lei não conduz a conclusão de que a
Administração Pública deveria considerar justificadas as faltas, a ofensa ao texto constitucional,
se ocorrente, seria meramente reflexa. Agravo regimental improvido” (STF, AI-AgR nº 618.986,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, J. 13.05.2008, DJU 06.06.2008).
Comentários
As normas constitucionais podem ser analisadas em três planos: vigência, validade e eficácia.
A validade é conceituada como qualidade da norma jurídica produzida em consonância com o ordenamento
constitucional.
A eficácia corresponde à aptidão formal para a produção dos efeitos próprios das normas jurídicas, motivo
pelo qual se revela correta a alternativa C.
Comentários
A alternativa A é a assertiva incorreta. Trata-se da literalidade do artigo 105, I, “i”, da CF/88: “Compete ao
Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, a homologação de sentenças estrangeiras
e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.”
A alternativa B está incorreta, uma vez que a ADC apenas é cabível para impugnar lei ou ato normativo
federal, e não estadual, conforme previsão do artigo 102, I, “a”, da CF/88: “Compete ao Supremo Tribunal
Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente, a ação
direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.”
A alternativa C está correta, conforme o disposto no artigo 105, I, “b”, da CF/88: “Compete ao Superior
Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, os mandados de segurança e os habeas data contra
ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio
Tribunal.”
A alternativa D está incorreta, nos termos do artigo 102, I, “e”, da CF/88: “Compete ao Supremo Tribunal
Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente, o litígio
entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território.”
A alternativa E também está incorreta. Trata-se de competência do STJ, nos termos do artigo 105, I, “a”, da
CF/88: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns, os
Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores
dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados
e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais.”
Gabarito: letra C.
Comentários
Letra E – Para responder a questão é necessário ter em mente os artigos 20 e 26 da CR/88. De acordo com o
primeiro dispositivo constitucional, são bens da União:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art.
26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
VI - o mar territorial;
Por outro lado, de acordo com o artigo 26, incluem-se entre os bens dos Estados:
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
Assim, diante da leitura dos dispositivos constitucionais, a resposta é a letra E, pois as águas superficiais ou
subterrâneas são bens dos Estados.
Comentários
Letra D – De acordo com o art. 55 da Lei 9.784/99 - Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser
convalidados pela própria Administração.
Letra A – Errada – A revogação pressupõe um ato válido, o que não ocorre diante de um ato que
possuam defeitos sanáveis.
Letra B – O Poder Judiciário não pode determinar a convalidação de um ato administrativo, isto porque, há
um juízo de mérito na convalidação de um ato com defeito sanável e, como se sabe, o Poder Judiciário não
faz análise de mérito administrativo.
Letra C – Errada – O erro da assertiva está na parte que exige que os requisitos sejam cumulativos para a
anulação.
Comentários
Letra E – De acordo com o art. 4º, §2º da Lei, As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no
âmbito do respectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos
previstos nesta Lei, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação
integral do dano causado
Questão 4. Ainda de acordo com a Lei 12.846/2013, e o acordo de leniência, julgue os itens abaixo:
I - A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica de eventual multa aplicável.
II - O acordo de leniência exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado.
III - Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo
econômico, de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições nele
estabelecidas.
IV - A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após a efetivação do respectivo acordo,
salvo no interesse das investigações e do processo administrativo.
V - Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica ficará impedida de celebrar novo
acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos contados do conhecimento pela administração pública do referido
descumprimento.
São incorretas:
a) III e IV
b) I e II
c) II e III
d) I, II e III
e) I, II e V
Comentários
Letra E - Trata-se de tema importante e atual, que vem ganhando espaço nas provas mais recentes. Atenção
a leitura dos artigos 16 e 17 da Lei Anticorrupção.
I – Errado – O acordo de leniência isentará das seguintes sanções: A) publicação extraordinária da decisão
condenatória e b) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de
órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo
prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
II – Errado – De acordo com o art. 16, §3º, o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de
reparar integralmente o dano causado.
V – Errado – De acordo com o art. 16, §8º, o prazo é de 3 anos e não de 5 anos.
Questão 5. De acordo com as Licitações para Microempresas e empresas de pequeno porte, marque a
assertiva correta:
a) Considera-se empate de propostas aquelas situações em que as propostas apresentadas pelas
microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 5% superiores às propostas mais bem
classificada, na modalidade pregão.
b) No caso de pregão, a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada será convocada para
apresentar nova proposta no prazo máximo de 5 (cinco) dias após o encerramento dos lances, sob pena de
preclusão.
c) Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das
empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de adjudicação do objeto licitado.
Comentários
Letra B – Errada – De acordo com o art. 45, §3º. No caso de pregão, a microempresa ou empresa de pequeno
porte mais bem classificada será convocada para apresentar nova proposta no prazo máximo de 5 (cinco)
minutos após o encerramento dos lances, sob pena de preclusão.
Letra C – Errada – De acordo com o art. 42 da LC 123/16, Nas licitações públicas, a comprovação de
regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte soment e será
exigida para efeito de assinatura do contrato.
Letra D – Errada – De acordo com o art. 43, As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião
da participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito de
comprovação de regularidade fiscal e trabalhista, mesmo que esta apresente alguma restrição.
Letra E – Errada – De acordo com o art. 46, A microempresa e a empresa de pequeno porte titular de direitos
creditórios decorrentes de empenhos liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e
Município não pagos em até 30 (trinta) dias contados da data de liquidação poderão emitir cédula de crédito
microempresarial.
Comentários
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a morte, em princípio – e tal como disposto na assertiva – não é considerada
condição, mas sim termo, por se tratar de evento futuro (projetado para além do presente) e certo (de
ocorrência inevitável). Esta é uma das diferenças substanciais entre condição e termo: a certeza do
acontecimento, a qual se refere tão somente à ocorrência do fato e não à data ou período em que se
realizará. Nesse sentido, não há que se falar que o caso abordado tenha por base uma condição suspensiva,
pois inexiste incerteza ou dúvida de que o terceiro mencionado um dia falecerá.
A alternativa B é verdadeira, porque o termo pode ser classificado como certo – sabe-se que o evento
ocorrerá e quando ocorrerá – ou incerto – sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando, distinção
esta que se fundamenta simplesmente na ciência da data de realização do fato e não desnatura as
características da futuridade e certeza, visto que, em ambas as hipóteses, é infalível a sua ocorrência.
A alternativa C é falsa, porque quando o encargo ilícito ou impossível constituir o motivo determinante da
liberalidade, ou seja, causa do ato negocial, o caso é de invalidade do negócio jurídico em sua totalidade,
conforme o artigo 137 do Código Civil. Apenas nas demais hipóteses, isto é, quando o encargo ilícito ou
impossível não representar a causa do negócio, é que se fala na possibilidade de seu aproveitamento na
forma pura, abstraindo-se dele o referido ônus, por ser considerado não escrito ou inexistente.
A alternativa D é falsa, porque a venda a contento não denota a subordinação do efeito do negócio jurídico
ao puro arbítrio de uma das partes, mas se pauta na satisfação do adquirente, como cláusula especial da
compra e venda, com expressa previsão legal. Dispõe o artigo 509 do Código Civil que a venda feita a
contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido
entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.
A alternativa E é falsa, porque o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito, na forma
do artigo 131 do Código Civil.
Questão 2. No que diz respeito à responsabilidade civil e às suas implicações práticas, assinale a assertiva
verdadeira:
a) Pauta-se na culpa in vigilando a responsabilidade dos pais pelos danos causados por seus filhos menores
que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia, porquanto a eles incumbem o dever legal de
vigilância, que, uma vez inobservado, gera a presunção de culpa pelo ilícito praticado.
b) É o poluidor obrigado a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados
por sua atividade, independentemente da existência de culpa, tendo em vista se tratar de hipótese de
responsabilidade civil objetiva consubstanciada na teoria do risco da atividade.
c) O fato de o condutor do veículo estar embriagado não gera presunção de que ele é o culpado pelo acidente
de trânsito, cabendo à vítima (autor da ação) a prova do fato constitutivo de seu direito.
d) Ainda que objetiva, a responsabilidade civil dos curadores pelos curatelados que estiverem sob sua
autoridade e em sua companhia depende da comprovação de que estes (terceiros) agiram com culpa.
e) Prescinde da demonstração de culpa a responsabilidade do transportador pelos danos causados às
pessoas transportadas e suas bagagens, em se tratando de transporte desinteressado, realizado por mera
cortesia.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque não mais há que se falar em culpa presumida (culpa in vigilando, in elegendo
ou in custodiendo) nos casos de responsabilidade civil por ato de terceiros, mas em responsabilidade sem
culpa, de natureza objetiva, embora indireta. Nesse sentido, dispõe o artigo 933 do Código Civil: As pessoas
indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente (os responsáveis pela reparação civil decorrente de ato de
terceiro), ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali
referidos. A matéria já foi abordada na rodada anterior, em questão dissertativa.
A alternativa B é falsa, porque a responsabilidade civil objetiva nos casos de dano ao meio ambiente funda-
se na teoria do risco integral, não se admitindo excludentes do nexo de causalidade. A esse respeito, o
Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que a responsabilidade por dano ambiental é
objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que
permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar (Recurso Repetitivo - Tema 681 e 707, letra a).
A alternativa C é falsa, porque o Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento de que “em ação
destinada a apurar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito, presume-se culpado o
condutor de veículo automotor que se encontra em estado de embriaguez, cabendo-lhe o ônus de
comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo de causalidade”. (STJ. 3ª Turma. REsp 1749954-RO,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/02/2019. Info 644).Há, portanto, em tais casos, a inversão
do ônus da prova.
A alternativa D é verdadeira, porque retrata a responsabilidade civil objetiva indireta ou impura, segundo a
qual para que os responsáveis respondam civilmente, é necessária a prova da culpa por parte daqueles pelos
quais se responsabilizarão – os terceiros. Neste sentido, o Enunciado 590 da VII Jornada de Direito Civil: a
responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores, não obstante objetiva, pressupõe a
demonstração de que a conduta imputada ao menor, caso o fosse ao agente imputável, seria hábil para a
sua responsabilização. A matéria já foi abordada na rodada anterior, em questão dissertativa. Sua abordagem
retornou como forma de consolidação do entendimento, em razão de sua reiterada incidência em concursos
para o MP.
A alternativa E é falsa, porque aos casos de transporte realizado a título gratuito, por amizade ou cortesia,
não se aplica as normas do contrato de transporte, sendo, portanto, a responsabilidade subjetiva (necessita-
se da demonstração da culpa) e extracontratual, até mesmo em razão de seu caráter benévolo. Mais além,
a súmula 145 do Superior Tribunal de Justiça registra que “no transporte desinteressado, de simples cortesia,
o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em
dolo ou culpa grave”.
Comentários
A alternativa B é falsa, porque inverteu a ordem de preferência, nos casos de alienação de unidade
sobreposta, quando houver mais de uma laje apta a disputá-la. Em verdade, havendo mais de uma laje, terá
preferência, sucessivamente, o titular das lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes, assegurada a
prioridade para a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada, na esteira do artigo 1.510-D, §2º,
do Código Civil.
A alternativa C é falsa, porque dispõe expressamente o artigo 1.510-A do Código Civil que a instituição do
direito real de laje não implica a atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a participação
proporcional em áreas já edificadas. Sendo assim, não há que se falar que o titular do direito de laje assume,
nessa condição, a qualidade de coproprietário com relação ao proprietário da construção base que cedeu
superfície dela para instituição de unidade distinta.
A alternativa D é falsa, porque, justamente por não possuir o titular do direito de laje a propriedade do
terreno, como tratado anteriormente, a ele não cabe reivindicá-lo, tendo em vista ser esta faculdade
derivada unicamente do direito de propriedade. Com efeito, preceitua o artigo 1.510-A, §3º, do Código Civil
que os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula própria, poderão dela usar,
gozar e dispor, não fazendo, pois, menção à possibilidade de reivindica-la. A ele compete, conforme o caso,
valer-se das ações possessórias.
A alternativa E é verdadeira, porque o direito real de laje somente não se extingue com a ruína da construção
base se aquele tiver sido instituído sobre o subsolo ou se a construção-base for reconstruída no prazo de
cinco anos, conforme o artigo 1.510-E do Código Civil. Sendo assim, a reconstrução realizada no prazo de 10
(dez) anos não possui o condão de conservar o direito real de laje, porquanto foge ao prazo designado pelo
legislador para viabilizar a sua subsistência.
d) A Advocacia Pública, enquanto na defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, visa à
proteção da garantia do acesso à Justiça, propiciando àqueles, em perspectiva isonômica, a submissão de
sua pretensão à tutela jurisdicional.
e) Dá-se o início da contagem do prazo para as manifestações da Defensoria Pública ou Advocacia Pública a
partir de sua intimação pessoal, a qual pode ser afirmada pela simples retirada dos autos do cartório, ainda
que pendente de publicação a decisão objeto da ciência.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os
interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação
judicial, em todos os âmbitos federativos, e das pessoas jurídicas de direito público que integram a
administração direta e indireta, na forma do artigo 182 do Código de Processo Civil. Vê-se, pois, que não
estão compreendidas as pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública.
A alternativa B é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto nos artigos 184 e 187 do Código de
Processo Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque prevê o artigo 183, “caput”, do CPC que a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
Igualmente, prescreve o artigo 186, “caput”, do mesmo diploma legal, que a Defensoria Pública goza de
prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. Em ambos os casos, não se aplica tal
benefício, quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio.
A alternativa D é falsa, porque é a Defensoria Pública quem exerce a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de
forma integral e gratuita. Não se confunde com a Advocacia Pública, relativa aos interesses dos entes
públicos e pessoas jurídicas de direito público da Administração Pública, como visto acima.
A alternativa E é verdadeira, porque dispõe o artigo 183, §1º, do CPC, que a intimação pessoal (da Advocacia
Pública e da Defensoria Pública) far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico. Ademais, a retirada dos
autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado
ou da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público
implicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação,
nos termos do artigo 272, §6º, do Código de Processo Civil.
Questão 2. São peças ou documentos essenciais à instrução da petição de agravo de instrumento e/ou à
admissibilidade do recurso, exceto:
a) Cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada e da própria decisão
agravada.
b) Cópia da certidão de intimação da decisão agravada ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade do recurso.
c) Comprovante de pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos.
d) Declaração de inexistência de qualquer dos documentos obrigatórios, feita pelo advogado do agravante,
sendo eletrônicos os autos do processo.
e) Cópia das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.
Comentários
Prevê o artigo 1.017, I, do CPC, que a petição de agravo de instrumento será instruída, obrigatoriamente,
com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão
agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade
e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado. Disto, constata-se a veracidade
das alternativas A, B e E.
Continua o §1º do mesmo dispositivo legal que acompanhará a petição o comprovante do pagamento das
respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. É
também verdadeira, portanto, a alternativa C.
Lado outro, sendo eletrônicos os autos do processo, são dispensadas as peças referidas, facultando-se ao
agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia, na forma do
§5º do mesmo artigo. A exigência de declaração de inexistência de quaisquer dos documentos obrigatórios
aplica-se tão somente aos autos físicos (art. 1.017, §1º, II, CPC). Destarte, a alternativa D é a incorreta.
Questão 3. Considerando que a liquidez da obrigação constitui requisito imprescindível à exigência de sua
satisfação, quando, embora reconhecido judicialmente o débito, ainda não haja definição exata de seu
quantum, faz-se necessária à tutela executiva a prévia inauguração de uma etapa processual conhecida
como liquidação de sentença. Sobre o assunto, assinale a alternativa incorreta:
a) A pendência de recurso não obsta a liquidação de sentença, que, nesta hipótese, dar-se-á em autos
apartados no juízo de origem.
b) Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover
simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
c) Pode a liquidação da sentença depender de alegação e prova de fato novo, caso em que obedecerá ao
procedimento comum, intimando-se o requerido para, querendo, apresentar contestação.
d) A proibição de alteração da sentença, enquanto limite objetivo da liquidação, implica a impossibilidade
absoluta de modificação da modalidade nela fixada para sua realização, se já ultrapassada a fase cognitiva,
sob pena de ofensa à coisa julgada.
e) Proceder-se-á à liquidação por arbitramento ou pelo procedimento comum, mas a sujeição da liquidez da
sentença a mero cálculo aritmético não enseja a inauguração de etapa processual prévia à fase executiva.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-
se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças
processuais pertinentes, com respaldo no artigo 512 do Código de Processo Civil.
A alternativa D é falsa, porque, não obstante a vedação, no âmbito da liquidação, de rediscutir a lide ou
modificar a sentença que a julgou (art. 509, §4º, CPC) não alcança a forma de liquidação, a qual deve se
sujeitar à modalidade mais adequada à espécie. Nesse sentido, havendo impropriedade na forma de
liquidação consignada na sentença, não há óbice, em caráter excepcional, à sua alteração. Com efeito,
registra a súmula 344 do Superior Tribunal de Justiça: “A liquidação por forma diversa da estabelecida na
sentença não ofende a coisa julgada”.
Comentários
A. Correto.
Para Savigny, ação seria o direito de pedir em juízo o que nos é devido, razão pela qual não existiria ação
sem direito, nem direito sem ação. Nessa ótica, o direito de ação era visto como um direito a um julgamento
favorável.
B. Errado.
A primeira parte da afirmativa está correta. De fato, no desenvolvimento da teoria da ação como direito
autônomo e concreto, defendia-se a ideia de que a ação era considerada um direito autônomo, de natureza
pública e subjetiva. Contudo, esse direito estava vinculado ao julgamento favorável da demanda. Assim, o
direito de ação era visto como um direito ao julgamento de procedência.
C. Errado.
Para a teoria da ação como direito autônomo e abstrato, desenvolvida por Degenkolb e Plósz, tinha-se que
a ação poderia existir mesmo que o direito material não existisse (direito autônomo) e, para sua
configuração, era indiferente o resultado da demanda (direito abstrato). Contudo, além de autônomo e
abstrato, o direito de ação seria incondicionado. Aqui, não existem condições para o exercício da ação, de
modo que se fala apenas em problemas de mérito ou de pressupostos processuais.
D. Errado.
Liebman não afirmou que as condições da ação deveriam ser aferidas conforme a teoria da asserção.
Segundo a teoria eclética, a qualquer momento, se fosse constatada a ausência dessas condições, o juiz
poderia julgar extinto o processo sem resolução do mérito.
Questão 5. Sobre a atuação do Ministério Público no processo civil, marque a alternativa incorreta:
a) O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.
b) O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar
nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.
c) No CPC/15, não há mais a previsão genérica de atuação do MP “nas causas concernentes ao estado da
pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de última
vontade”, mas essa atuação deverá ocorrer nos casos em que haja previsão específica em lei.
d) A atuação do MP nas causas que envolvam interesse de incapaz fica subordinada ao interesse deste, ainda
que não coincida com o interesse público.
Comentários
A. Correta.
Súmula 601, STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da
prestação de serviço público. Corte Especial, aprovada em 7/2/2018, DJe 14/2/2018.
A súmula foi uma concretização do pensamento já assente nos Tribunais no sentido de que o Ministério
Público tem legitimidade ativa para intentar ação civil pública para defesa de:
ii- sejam direitos disponíveis de interesse social (aqui incluída a parte final da súmula “DIH dos consumidores,
ainda que decorrentes da prestação de serviço público”, como é o caso de ação que discute a legalidade da
tarifa de transporte público – STJ, 1ª Turma, REsp nº 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, d.j.
18/02/2016)
B. Correta.
Súmula 594, STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em
proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais,
ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou
eficiência da Defensoria Pública na comarca.
41
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Legitimidade do MP para ação de alimentoso. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d1c38a09acc34845c6be3a127a5aacaf>. Acesso em:
27/04/2018
O Ministério Público pode ajuizar ação de alimentos em favor de criança ou adolescente mesmo que na
localidade exista Defensoria Pública instalada e funcionando?
SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente de existir ou não Defensoria Pública no local. Isso porque as atuações dos
órgãos não se confundem, não sendo idênticas.
C. Correto. Uma das alterações promovidas pelo CPC/15 é que Não há mais a previsão genérica de atuação
do MP “nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento,
declaração de ausência e disposições de última vontade” (art. 82, II, CPC), mas essa atuação deverá ocorrer
nos casos em que haja previsão específica em lei.
Art. 664. Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos,
o inventário processar-se-á na forma de arrolamento, cabendo ao inventariante nomeado,
independentemente de assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações,
a atribuição de valor aos bens do espólio e o plano da partilha.
§ 1o Se qualquer das partes ou o Ministério Público impugnar a estimativa, o juiz nomeará
avaliador, que oferecerá laudo em 10 (dez) dias.
Art. 665. O inventário processar-se-á também na forma do art. 664, ainda que haja interessado
incapaz, desde que concordem todas as partes e o Ministério Público.
Ex3: Ações de família, quando houver interesse de incapaz (arts. 698);
Art. 698. Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando houver interesse
de incapaz e deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo.
Parágrafo único. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas ações de família em
que figure como parte vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340,
de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). (Incluído pela Lei nº 13.894, de 201942)
Ex4: Alteração de regime de bens do matrimônio (art. 734, §1º);
Art. 734. A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais, poderá
ser requerida, motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão
expostas as razões que justificam a alteração, ressalvados os direitos de terceiros.
§ 1o Ao receber a petição inicial, o juiz determinará a intimação do Ministério Público e a
publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir
depois de decorrido o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital.
D. Errada.
CPC, Art. 178 O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como
fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos
que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de
intervenção do Ministério Público.
Aqui, trata-se de interesse de incapaz, absoluta ou relativamente. Porém, a atuação do Parquet não fica
subordinada ao interesse do incapaz, que pode não coincidir com o interesse público.
42
Atenção para essa novidade legislativa.
Cabe ao MP verificar a regularidade da representação do incapaz. Se não tiver correta, que requeria a
nomeação do curador especial.
Comentários
A. Correto
B. Correto
A inexistência de convecção de arbitragem é requisito objetivo extrínseco, já que caso presente, impede a
validade do processo.
C. Correto
D. Errado
Nas demandas petitórias, é requisito processual objetivo extrínseco e negativo a inexistência de processo
possessório em que se discuta o domínio (art. 557, CPC);
E. Correto
Ocorre perempção quando o autor deixa o processo se extinguir por três vezes sem resolução do mérito por
abandono de causa
Pressupostos
Processuais
Pressupostos de Requisitos de
Existência Validade
Juiz:
Juiz: revestido existência de
competência e Intrínsecos Extrínsecos
de jurisdição demanda
imparcialidade
Positivo:
interesse de
agir?
Comentários
Gabarito: E
O princípio da humanidade das penas, enquanto limite do poder punitivo do Estado, representa a evolução
do sistema penal contemporâneo.
O Direito Penal deve garantir o bem-estar da coletividade, incluindo-se o dos condenados. Estes não devem
passar por processo de “coisificação”, após receberem uma sentença penal condenatória, devendo-se,
sempre, atentar para o princípio da dignidade humana como fundamento do Estado brasileiro.
Este postulado do sistema penal é incompatível com sanções que atinjam a própria dignidade da pessoa,
como a pena de morte, as penas corporais e infamantes, as penas privativas de liberdade de duração
excessiva ou com caráter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida.
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
a idade e o sexo do apenado;
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L – às presidiárias serão
asseguradas condições para que possam per- manecer com seus filhos durante o período de
amamentação;
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam per- manecer com seus filhos
durante o período de amamentação.
O item I, ao afirmar que, em qualquer hipótese, não haverá morte, contraria a alínea a do inc. XLVII do art.
5º da CR, que admite tal modalidade de pena na hipótese de guerra declarada e autorizada pelo Congresso
Nacional.
Questão 2. A culpabilidade pode ser conceituada como um juízo de reprovação social que recai sobre a
conduta típica e ilícita do agente; e que conta como pressupostos com a exigibilidade da conduta diversa,
a real ou potencial consciência da ilicitude e a imputabilidade. A propósito da culpabilidade, analise as
proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I O acometimento de doença mental acarreta a inimputabilidade do agente. A constatação do conteúdo e
dimensão de seus efeitos é necessária, porém, para sua classificação como uma causa de exclusão ou
diminuição da imputabilidade (e correspondente pena).
II Na legislação brasileira as consequências do erro evitável sobre os pressupostos fáticos de uma excludente
de ilicitude são as mesmas do erro de tipo, e não as do erro de proibição.
III Para a teoria limitada da culpabilidade, o erro de agente que recaia sobre pressupostos fáticos de uma
causa de justificação configura erro de tipo permissivo.
IV Quando um agente julga que tem autoridade para agir de acordo com uma causa de justificação não
reconhecida ou quando acredita que pode ultrapassar os limites de uma causa de justificação reconhecida,
caracteriza-se o erro de permissão ou erro de proibição indireto.
V Mãe que, a fim de cuidar do machucado de seu filho, aplica sobre o ferimento ácido, pensando tratar-se
de pomada cicatrizante, age em erro de proibição.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: B
I O critério adotado pelo legislador para o reconhecimento da inimputabilidade por doença mental é o
biopsicológico; assim a afirmação de que a doença mental acarreta a inimputabilidade está errada. É
necessária a verificação do afastamento absoluto da capacidade de atendimento e autodeterminação em
decorrência da doença mental para que se reconheça a inimputabilidade do agente.
II Muito embora se trate o erro de modalidade de erro de tipo permissivo, o tratamento conferido pelo
legislador é o do erro de proibição, em face da adoção pelo finalismo da teoria limitada da culpabilidade.
Para a teoria limitada da culpabilidade, se o erro do agente incidir sobre uma situação fática que, se existisse,
tornaria a conduta legítima, fala-se em erro de tipo (erro de tipo permissivo); mas, se o erro recair sobre a
existência ou, os limites de uma causa de justificação, o erro é de proibição (erro de proibição indireto/ erro
de permissão). Todavia, caso o erro seja evitável, tanto no erro de tipo, quanto no erro de tipo permissivo, a
consequência é a punição a título culposo, em caso de previsão legal (CP, Art. 20, caput, e §1º).
III Para a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo Código Penal, o erro sobre os pressupostos fáticos
de causa de justificação constitui erro de tipo permissivo. Em contrapartida, a teoria extremada da
culpabilidade não faz qualquer distinção, entendendo que, tanto o erro sobre a situação fática, como aquele
em relação à existência ou limites da causa de justificação devem ser considerados erros de proibição, já que
o indivíduo supõe lícito o que não é.
IV No erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição) o agente sabe que a conduta
é típica, mas imagina presente uma norma permissiva, ora supondo existir uma causa excludente da ilicitude,
ora supondo estar agindo nos limites da descriminante (ex.: “A”, traído por sua mulher, acredita estar
autorizado a matá-la para defender sua honra ferida).
V A hipótese é do reconhecimento do erro sobre elemento fático, não sobre a valoração do fato como justo
ou injusto, o que o caracteriza como erro de tipo, e não como erro de proibição.
Questão 3. A propósito dos crimes contra a pessoa, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale
a opção correta:
I O crime de omissão de socorro, tipificado na parte especial do Código Penal, somente se consuma com a
ocorrência de um resultado naturalístico, o qual, dependendo de sua gravidade, poderá constituir, ainda,
causa qualificadora da conduta.
II Dada sua natureza, o crime de ameaça só se configura se o agente tiver ameaçado explicitamente a vítima.
III Comprovado o animus laedendi na conduta do agente e a sua culpa no resultado mais grave, qual seja, a
morte da vítima, ainda que esse resultado seja previsível, restará configurado o delito preterdoloso de lesão
corporal seguida de morte.
IV Lesão corporal de natureza grave é aquela da qual resulta deformidade permanente.
V A lesão corporal que tem como resultado aborto é classificada como lesão corporal seguida de morte.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
Comentários
Gabarito: E
I O crime de omissão de socorro é crime de perigo abstrato, não necessitando de resultado naturalístico; a
mera conduta já configura o crime.
II De acordo com a doutrina, o crime de ameaça pode se dar na forma explícita, implícita ou condicional.
III Comprovado o dolo de lesionar (animus laedendi), e previsível o resultado, condição para a
responsabilidade por crime culposo, o agente deve responder pela lesão corporal seguida de morte (CP, Art.
129, §3º).
IV A deformidade permanente caracteriza a lesão corporal como gravíssima, nos termos do art. 129, §2º, IV.
V A lesão corporal da qual decorre o aborto é classificada como lesão gravíssima (CP, Art. 129, §2º, V).
Questão 4. A respeito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de estelionato.
II A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude; e o
pagamento do débito apurado em perícia criminal, antes do recebimento da denúncia, é causa de extinção
da punibilidade.
III A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude; e o
pagamento do débito apurado em perícia criminal, antes do recebimento da denúncia, não é causa de
extinção da punibilidade.
IV Pratica o crime de apropriação indébita previsto no artigo 168 do Código Penal, o Advogado que se
apropria de quantia em dinheiro recebida a título de indenização pelo seu cliente - pessoa maior de 60 anos
aplicando-se a causa de aumento de pena por ter recebido o valor em razão da profissão.
V Aquele que acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de 15 dias, comete
o crime de apropriação de coisa achada.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições III e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.
Comentários
Gabarito: B
I A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude,
conforme jurisprudência dos tribunais superiores.
III 3. O crime de furto de energia elétrica mediante fraude praticado contra concessionária de serviço público
situa-se no campo dos delitos patrimoniais. Neste âmbito, o Estado ainda detém tratamento mais rigoroso.
O desejo de aplicar as benesses dos crimes tributários ao caso em apreço esbarra na tutela de proteção aos
diversos bens jurídicos analisados, pois o delito em comento, além de atingir o patrimônio, ofende a outros
bens jurídicos, tais como a saúde pública, considerados, principalmente, o desvalor do resultado e os danos
futuros. (...) 6. Nos crimes patrimoniais existe previsão legal específica de causa de diminuição da pena para
os casos de pagamento da "dívida" antes do recebimento da denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal -
CP, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva,
apenas constitui causa de diminuição da pena. (RHC 101.299/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/
Acórdão Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2019, DJe 04/04/2019) (grifei).
IV Em face do princípio da especialidade, aplica-se o art. 102 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03).
V Cuida-se do crime previsto no art. 169, Parágrafo único, II, do Código Penal.
Questão 5. A propósito dos crimes contra a administração, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O particular que paga vantagem indevida a um policial que o abordou numa blitz, atendendo solicitação do
próprio policial, comete o crime de corrupção ativa, enquanto que o policial o de corrupção passiva.
II Segundo o STF, a previsão legal do crime de desacato a funcionário público no exercício da função não viola
o direito à liberdade de expressão e de pensamento previstos no Pacto de São José da Costa Rica.
III A esposa de um preso, contando com a conivência do Diretor do Presídio, ingressa na unidade prisional,
no dia de visitas, com um aparelho celular e o entrega a seu marido, que está preso, cumprindo pena em
razão de condenação definitiva. O Diretor do Presídio praticou o crime de prevaricação imprópria (CP, art.
319-A).
IV Servidor público licenciado do seu cargo público que exige determinada vantagem econômica indevida
para si, em função do seu cargo público, a fim de evitar a ação da fiscalização no estabelecimento comercial
da vítima, comete o crime de concussão.
V As fraudes em certames de interesse público é crime próprio, praticado apenas por funcionário público.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
Comentários
Gabarito: B
I O crime de corrupção ativa traz como condutas núcleo do tipo oferecer e prometer. Assim, quem atende
solicitação, não comete tal crime. CP, Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12
(doze) anos, e multa.
II Ao atuar no exercício de sua função, o agente público representa a administração pública, situação que lhe
sujeita a um regime jurídico diferenciado de deveres e prerrogativas. Se de um lado está sujeito a sanções
próprias e mais rigorosas por eventuais desvios, por outro é razoável que se prevejam tipos penais protetivos
de sua atuação. Com este entendimento, no julgamento da ADPF 496, em 22 de junho de 2020, o STF
considerou constitucional o crime de desacato, previsto no art. 331 do Código Penal.
III Cuida-se do crime previsto no Art. 319-A CP - Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano.
IV Cuida-se do crime previsto no art. 316 do Código Penal - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena
- reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
V O crime previsto no art. 311-A do Código Penal é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa
- Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de I - concurso público; II - avaliação ou exame
públicos; III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou IV - exame ou processo seletivo previstos
em lei: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Questão 6. De acordo com a teoria da coculpabilidade, na forma como foi proposta por Eugenio Raúl
Zaffaroni,
a) A sociedade é corresponsável pela prática do delito por ter deixado de oferecer ao agente as condições
sociais necessárias para uma vida digna, o que fez com que ele fosse compelido à prática do delito, havendo
um determinismo social.
b) O agente que não teve acesso às mesmas oportunidades e direitos conferidos a outros indivíduos da
sociedade possui limitado âmbito de autodeterminação, o que enseja a redução do seu grau de
culpabilidade.
c) Na medida em que a miserabilidade do agente constitui um fator que reduz sua liberdade de escolha e
contribui para a adoção do comportamento ilícito, é possível concluir que a pobreza é uma das causas da
criminalidade.
d) O Estado é corresponsável pela criminalidade por ter deixado de oferecer a todos os indivíduos direitos e
oportunidades iguais, devendo descriminalizar os delitos patrimoniais que são típicos das classes menos
favorecidas.
e) A situação de miserabilidade em que vive o agente o condicionam à realização do comportamento ilícito,
devendo ser excluída a sua culpabilidade uma vez que ele não dispõe de qualquer liberdade de vontade.
Comentários
A culpabilidade, de uma forma geral, é mais ou menos compreendido por grande parte da doutrina como
[...] a reprovação pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita em determinadas
circunstâncias em que se podia atuar conforme as exigências do ordenamento jurídico. (PRADO, 2014).
A alternativa “A” está incorreta, pois a teoria da coculpabilidade em nada se assemelha com a teoria do
determinismo. Ademais, Zaffaroni é um ávido crítico do determinismo social:
A alternativa correta é a letra “B”. A teoria da coculpabilidade está interconectada com a autodeterminação
do indivíduo. Partindo da teoria tripartida do crime, Zaffaroni afirma que na seara da culpabilidade, também
deveríamos analisar a culpa do Estado no crime (corresponsabilidade social), mais especificamente, na
capacidade de autodeterminação que o Estado ofereceu ao indivíduo. Vejamos:
(...) a sociedade – por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos
os homens com as mesmas oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor
âmbito de autodeterminação, condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível
atribuir estas causas sociais ao sujeito e sobrecarregá-lo com elas no momento de reprovação de
culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma “co-culpabilidade”, com a qual a própria
sociedade deve arcar". (ZAFFARONI, Eugenio Raul. Manual de Direito Penal Brasileiro: Parte
Geral. 5a edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 489.).
A alternativa C está errada porque não relaciona diretamente a pobreza como determinante do
comportamento ilícito (tal situação se assemelha mais ao determinismo), mas sim com o abandono do
Estado para com o indivíduo.
A alternativa D e E estão erradas. A teoria da coculpabilidade não é aplicável a toda e qualquer situação onde
o agente é miserável, nem mesmo tem como pressuposto a miserabilidade como fator decisivo para o
cometimento do crime. A coculpabilidade defende um segundo olhar para as circunstâncias do caso concreto
a fim de perquirir se houve falha do Estado em fornecer a determinados indivíduos o mínimo para que
pudessem se desenvolver social e criticamente.
Questão 7. Manoel foi condenado ao crime de latrocínio com resultado morte a 30 anos de prisão, por
possuir maus antecedentes e ter incidido diversas agravantes ao caso. Após o cumprimento de 2/3 da
pena, foi concedido ao condenado o benefício da liberdade condicional. Passado alguns meses, Manoel foi
preso em flagrante por roubo com arma de fogo de uso restrito, sendo posteriormente condenado a 18
anos de prisão. Nesse cenário, observando o limite das penas, Manoel deverá cumprir:
a) 10 anos da pena de prisão por roubo, pois o limite de tempo para cumprimento da pena é de 30 anos
b) 18 anos da pena de prisão por roubo, pois mesmo o limite sendo 30 anos, deve-se desconsiderar o tempo
já cumprido.
c) 10 anos da pena de prisão por roubo, pois a pena cumprida de latrocínio não deve ser desconsiderada e a
unificação não poderá a pena ser superior a 40 anos.
d) 18 anos da pena de prisão por roubo, pois sobrevindo condenação por fato posterior ao início do
cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já
cumprido, estando, portanto, dentro do limite de 40 anos.
e) 18 anos da pena de prisão por roubo, pois sobrevindo condenação por fato posterior ao início do
cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já
cumprido, estando, portanto, dentro do limite de 30 anos.
Comentários
Com a justificação do aumento da expectativa de vida da população brasileira desde 1940 (data de aprovação
do Código Penal), O Pacote Anticrime também modificou o limite das penas que podem ser impostas aos
condenados. Desde Janeiro de 2020, as condenações devem observar não mais o limite de 30 anos, mas sim
40 anos. Essa é a redação do art. 75 do CP:
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova
unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.
Questão 8. Sobre os crimes omissivos e a teoria adota pelo Código Penal, assinale a questão correta:
a) O Código Penal adota a Teoria naturalística para os crimes omissivos
b) O Código Penal adota a Teoria normativa para os crimes omissivos
c) Nos crimes omissivos impróprios, a conduta negativa (não fazer) está descrita no preceito primário.
d) Nos crimes omissivos próprios, não há tipificação da omissão, mas há responsabilidade e ela advém do
dever legal de agir.
e) Todas as questões estão incorretas.
Comentários
A alternativa “A” está errada. A teoria naturalística não separa a vontade da finalidade, entendendo como
nexo causal toda ação que gera um resultado no mundo exterior, independente de dolo ou culpa. Para essa
teoria, a omissão é um nada (que não gera um resultado direto) e do nada, nada surge. Dessa forma, os
crimes omissivos são penalmente irrelevantes. Não é a teoria adotada pelo Código Penal.
A alternativa “B” está certa, pois é a teoria adotada pelo Código Penal para os crimes omissivos. A omissão
não é naturalística, e sim, jurídica. O ordenamento exige que a pessoa haja, e ela não o faz. A omissão
penalmente relevante decorre da inércia quando a lei impunha um dever de ação e, caso não observado esse
dever, recairá uma sanção penal ao indivíduo. O exemplo clássico que temos no CP é o crime de omissão de
socorro (art. 135).
A alternativa “C” está incorreta. Crimes omissivos impróprios (ou omissivos por comissão) são aqueles que,
devidos os pressupostos fáticos do caso, recai ao agente um dever jurídico de agir e tornando o agente um
“garante” do seu cumprimento do dever legal. É quando o agente devia e podia agir, sendo dele esperada a
ação (art. 13, §2º, do CP). Exemplo clássico é a atuação do salva-vidas em caso de afogamento ou da
intervenção da mãe em caso de maus tratos contra seu descendente.
São tidos como crimes de evento, isto porque o sujeito que deveria evitar o injusto é punido com o tipo penal
correspondente ao resultado. Ademais, trata-se de um crime material, pois é necessário que ocorra um
resultado lesivo ao bem da vida, sendo o resultado imputado diretamente ao omitente porquanto a omissão
desse resultou em um crime.
No crime omissivo impróprio o resultado pode ser atribuído ao omitente tanto por uma inércia dolosa quanto
culposa (desde que também punível a título de culpa). Serão necessários, contudo, a presença de alguns
pressupostos, conforme elenca Cezar Bitencourt: a) poder agir; b) evitabilidade do resultado e c) dever de
impedir o resultado.
Tal dever incube a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma,
assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
ocorrência do resultado.
A Alternativa “D” está errada, pois os crimes omissivos puros ou próprios aqueles que imputam a omissão
do dever de agir diretamente de um preceito primário de um crime. Crime omissivo próprio são crimes de
mera conduta, vez que independe de resultado. Como exemplo, podemos citar o delito de omissão de
socorro (artigo 135 do CP), abandono material (artigo 244 do CP) e omissivo de notificação de doença (art.
269). Os crimes omissivos próprios são considerados crimes de mera conduta, pois independe de resultado,
bastando a simples atividade omissiva e podendo ser imputado a qualquer pessoa
Questão 9. A respeito da figura da confissão no nosso ordenamento jurídico, julgue os itens a seguir.
I Realizada a confissão parcial, quando essa for utilizada para a formação de convencimento do julgador, será
aplicável a atenuante da confissão.
II Realizada a confissão qualificada, quando essa for utilizada para a formação de convencimento do julgador,
será aplicável a atenuante da confissão.
III Realizada a confissão integral, quando essa não for utilizada para a formação de convencimento do
julgador, será aplicável a atenuante da confissão.
Estão certos apenas os itens
a) I e II.
b) I e III.
c) III e II.
d) I, II e III.
e) Somente a I.
Comentários
(I) Está correta. A confissão parcial ocorre quando o réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na
denúncia. Aplica-se aqui a Súmula 545, do STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do
convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.
(II) Está correta. A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega em
sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena (excludente de ilicitude ou culpabilidade).
Aplica-se aqui a Súmula 545, do STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do
julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.
(III) Está incorreta. Para que a atenuante seja aplica deve a confissão ser utilizada como parte da convicção
do juiz. Assim, segundo Fernando Capez, o agente que confessa a autoria, quando já desenvolvidas todas as
diligências e existindo fortes indícios, ao final confirmados, não faz jus à atenuante. Para a incidência desta,
é necessária a admissão da autoria, quando esta ainda não era conhecida.
Comentários
Gabarito: E
Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.
Incorreta a alternativa C, pelo fato de que quando se tratar de crime de ação privada (e não ação pública), é
que os autos aguardarão em cartório até que o interessado promova o andamento do feito (CPP, art. 19: Nos
crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde
aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
pedir, mediante traslado.), pois nessas situações, excepcionalmente, a legitimação foi entregue ao particular.
d) A reabertura de investigação criminal não pode decorrer de simples mudança de opinião ou reavaliação
da situação.
e) A suspeição de autoridade policial verificada em inquérito é motivo para a anulação do processo penal.
Comentários
Gabarito: E
A suspeição de autoridade policial verificada em inquérito não é motivo para a anulação do processo penal.
Aliás, vale registro que, segundo entendimento dominante dos Tribunais brasileiros, as nulidades havidas na
fase de investigação não tem o condão de afetar a ação penal que lhe é subsequente.
Comentários
Gabarito: A
A, B, C e D (versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria. A alternativa E é redação do artigo
14, do CPP.
Ao Ministério Público não é vedado proceder a diligências investigatórias, consoante interpretação sistêmica
da Constituição Federal (art. 129), do Código de Processo Penal (art. 5º) e da Lei Complementar 75/1993 (art.
8º). Trata-se de entendimento já consolidado nos Tribunais brasileiros, baseado na teoria dos poderes
implícitos.
b) De acordo com o princípio do impulso oficial, desde de antes de iniciada a ação penal, o juiz e auxiliares
da justiça deverão zelar pela tramitação do processo.
c) Em razão do princípio da legalidade, não se admite no processo penal provas não previstas no CPP.
d) A confissão do acusado não dispensa a realização de prova pericial, caso a infração deixe vestígios.
e) O princípio da paridade de armas (par condicio) não é aplicado ao processo penal brasileiro.
Comentários
a) Falsa. O ordenamento jurídico brasileiro não aceita a teoria da boa-fé de produção de provas no processo
penal como exceção a teoria dos frutos da árvore envenenada (teoria das provas ilícitas por derivação).
b) Falsa. O princípio do impulso oficial tem aplicação a partir de iniciada a ação penal.
c) Falsa. O CPP admite a produção das provas inominadas em razão do princípio da liberdade probatória
(desde que não se trate de prova ilícita).
d) VERDADEIRA. A prova pericial deverá ser produzida sempre que a infração deixar vestígios, não podendo
ser dispensada mesmo em caso de confissão do acusado.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
e) Falsa. O princípio da paridade de armas (par condicio) é aplicado ao processo penal brasileiro em razão da
adoção do sistema acusatório pela CF/88.
Questão 5. Com base nos seus conhecimentos de provas no processo penal, assinale a alternativa
verdadeira:
a) Em decorrência do princípio do livre convencimento motivado, pode o juiz valorar uma prova ilícita desde
que fundamente a utilização dessa prova.
b) A confissão do acusado, conhecida como rainha das provas, afasta a necessidade de exame pericial quando
a infração deixar vestígios.
c) A teoria dos frutos da árvore envenenada não é absoluta.
d) Em cumprimento ao princípio do devido processo legal, os meios de prova precisam estar especificados
em lei para serem utilizados.
e) Quando se tratar de fatos relacionados a crimes hediondos pode o delegado de polícia determinar de
imediato a interceptação das comunicações telefônicas, devendo o juiz ser imediatamente comunicado e os
autos remetidos ao juízo no prazo de 12 horas.
Comentários
a) Falso. A prova ilícita deve ser desentranhada dos autos, não podendo ser valorada pelo juiz. O princípio
do livre convencimento motivado não é suficiente para valorar prova ilícita.
b) Falso. Quando a infração deixar vestígios é necessário a realização de exame pericial. A confissão do
acusado (antigamente chamada de rainha das provas) não é suficiente para afastar a necessidade de exame
pericial. Vejamos o que diz o Art. 158 do CPP:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podemdo supri-lo a confissão do acusado.
c) Verdadeira. A teoria dos frutos da árvore envenenada é mitigada diante de determinados casos
excepcionais, o próprio código de processo penal excepciona a casos em que provas derivadas podem vir a
ser utilizadas e não serão consideradas ilícitas. Vejamos o Art. 157 do CPP § 1º:
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma
fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
d) Falso. Outros meios de prova que não estejam especificados em lei (provas inominadas) podem vir a ser
utilizados, desde que não sejam ilícitas ou ilegítimas.
e) Falso. Não existe tal previsão. Há uma previsão semelhante quando se tratar de crimes relacionados a
tráfico de pessoas, ainda assim, não se admite interceptação das comunicações telefônicas, apenas
informações de sinais (localização) das pessoas envolvidas.
Questão 6. Com base na aplicação da lei processual penal no tempo e no espaço, assinale a alternativa
FALSA:
a) O Código de Processo Penal adota o princípio da aplicação imediata dos atos processuais.
b) O Código de Processo Penal, quanto a aplicação da lei processual penal no espaço, adota o princípio do
lex fori.
c) Os agentes diplomáticos possuem imunidade diplomática processual penal.
d) Os crimes de responsabilidade praticados pelo Presidente da República serão processados e julgados
perante o STF.
e) Em caso de norma processual penal mista ou híbrida, aplica-se a mesma regra para as normas de direito
penal material quanto a sua aplicação no tempo, logo, pode retroagir para beneficiar o réu.
Comentários
a) Verdadeira. O Código de Processo Penal adota o princípio da aplicação imediata dos atos processuais.
Dessa forma, em caso de lei nova processual penal, deverá ser aplicada imediatamente aos processos em
andamento, sendo considerados válidos os atos praticados na vigência da lei anterior.
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior.
b) Verdadeira. O Código de Processo Penal adota o princípio da lex fori (lei do foro), também conhecido como
princípio da territorialidade.
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V,
quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.
d) FALSA. Os crimes de responsabilidade praticados pelo Presidente da República são julgados pelo Senado
Federal. O STF julga os crimes comuns praticados pelo Presidente da República.
e) Verdadeira. Em caso de normas processuais penais mistas ou híbridas, será aplicada a mesma regra em
relação ao direito penal. Tratam-se de normas que possuem conteúdo essencialmente material (de direito
penal) capaz de influir significativamente na situação do réu (normas sobre prisão, por exemplo).
e) X oferece droga ao seu amigo Y, eventualmente e sem objetivo de lucro, sendo Y pessoa de seu
relacionamento, para juntos consumirem. Agindo assim, pode-se concluir que o “amigo X” praticou um crime
de menor potencial ofensivo.
Comentários
A) Incorreta. A assertiva apresenta-se incorreta, pois afronta diretamente a inteligência da súmula 630-STJ
que prevê:
Ou seja, não basta apenas admitir da posse ou propriedade para uso próprio, é necessário o efetivo
reconhecimento da traficância pelo acusado, logo alternativa falsa.
B) Incorreta. Conforme o artigo 28 da Lei nº 11.343/06, a pena de prestação pecuniária não está inserida
no rol de seus três incisos, que estipulam apenas:
C) Incorreta. A questão se mostra incorreta, pois está em desconformidade com a Súmula 607 do STJ:
Súmula 607 do STJ: “A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da lei 11.343/06)
se configura com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras”.
D) Incorreta. Devido ao fato de o tráfico de entorpecentes privilegiado não ser considerado hediondo,
conforme afirma o entendimento jurisprudencial do STF e, atualmente, pelo contido no artigo 112 §5º da
LEP;
Realmente, no uso compartilhado, que ocorre quando alguém oferece droga, eventualmente e sem objetivo
de lucro, a pessoa de seu relacionamento para juntos a consumirem, como foi o caso proposto, incide numa
infração de menor potencial ofensivo, conforme descreve o preceito secundário do Artigo 33, §3º, da lei
11343/2006:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil
e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
Valendo lembrar da Lei n.º 9.099/95: Art. 61. “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,
para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior
a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)”.
Questão 2. Sobre o instituto do RDD - regime disciplinar diferenciado - previsto na Lei de Execuções Penais,
diante das inovações trazidas pelo chamado pacote anticrime, houveram significativas mudanças em suas
características, que constam do Art. 52. Analise as assertivas:
I) As entrevistas do preso com seu defensor serão sempre monitoradas, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário; Havendo
também a fiscalização do conteúdo da correspondência.
II) Conforme referida lei, será permitida visitas quinzenais de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas
em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou,
no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;
III) Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber visita,
poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2
(duas) vezes quinzenalmente e por 10 (dez) minutos.
IV) Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa ou
milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em mais de 1 (um) Estado da Federação, o regime disciplinar
diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
Dentre as alternativas abaixo assinale a correta:
a) I, II
b) II
c) II, III
d) III, IV
e) II, III, IV
Comentários
Esta questão buscava o conhecimento do candidato a respeito do diploma legal e das mudanças recentes.
Importante notar que concurso público cobram detalhes, assim, fundamental conhecê-los. Vamos às
alternativas.
I) Incorreta. A parte inicial da assertiva está falsa, quando dispõe serem sempre monitoradas as entrevistas
do preso com seu defensor, sendo que, apesar do monitoramento das entrevistas serem regra, esta não se
aplica ao defensor, constituindo uma exceção, conforme Art. 52, V, da LEP.
A parte final por sua vez está correta quando indica ser possível a fiscalização do conteúdo da
correspondência. Art. 52, VI, do da LEP.
II) CORRETA. Esta assertiva está em perfeita consonância com o que está disposto no texto legislativo,
estando correta conforme Artigo 52, III, da LEP.
III) Incorreta. Embora aparente estar de acordo em sua totalidade, isto não é verdade, pois falha no quesito
temporal, quando afirma serem quinzenais os contatos telefônicos, o que está equivocado, pois, o correto
seria mensalmente:
Art. 52, § 7º, “...ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas)
vezes MENSALMENTE e por 10 (dez) minutos”.
IV) Incorreta. Esta assertiva se mostra inverídica, pois, o erro aqui reside no fato de que a referida atuação
do preso é em 2 (dois) ou mais estado da federação, e não em 1 (um) ou mais, como trouxe o item.
Questão 3. Em relação à Lei nº 11.340/2006, que objetiva coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, assinale a alternativa incorreta:
a) O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica, entre outras medidas, o encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento
ou de dissolução de união estável perante o juízo competente.
b) Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, a
autoridade policial deverá, de imediato, entre outros procedimentos, verificar se o agressor possui registro
de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como
notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
c) Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida pela autoridade judicial, pelo delegado de polícia ou pelo
policial, sendo neste último caso quando não houver delegado disponível no momento da denúncia.
d) Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº 11.340/2006 não se
exige a coabitação entre autor e vítima.
e) A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Comentários
A questão abordou modificações recentes na Lei Maria da Penha, as quais possuem grande probabilidade de
serem cobradas nos próximos concursos.
A) Correta. Nos termos do artigo 9º, §2º, III da Lei 11.340/2006. O referido inciso foi incluído pela Lei
13.894/2019.
B) Correta. Nos termos do artigo 12, VI – A, da Lei 11.340/2006. Tal inciso foi incluído pela Lei 13.880/2019.
C) INCORRETA. O Delegado de Polícia SOMENTE poderá afastar o agressor do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida QUANDO o Município não for sede de Comarca. Assim como o policial quando
o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
Nos termos do artigo 12-C, incisos II e III, da Lei 11.340/2006. Alteração feita pela lei 13.827/2019.
Comentários
A alternativa “A” está incorreta pois o crime está previsto no art. 1º, Parágrafo Único, inciso IV da Lei
8.072/90;
A alternativa “B” está incorreta, pois o crime está previsto no art. 1º, Parágrafo Único, inciso V da Lei
8.072/90;
A alternativa “C” está incorreta, pois o crime está previsto no art. 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90;
A alternativa “D” é incorreta, pois o crime está previsto no art. 1º, inciso II, “a” da Lei 8.072/90;
A alternativa “E” está correta e é o gabarito da questão. Em realidade, o crime de furto de explosivo e
semelhantes é tipificado como furto qualificado, com pena de 4 a 10 anos, mas não adentrou o rol de crimes
hediondos. Entretanto, deve ser ressalto que, se o furto ocorrer mediante a utilização de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum, será então enquadrado como crime hediondo (art. 1º, inciso IX,
da Lei nº 8.072/90), atraindo todo o rigoroso trâmite do âmbito processual e material desses crimes.
flagrante. Já na delegacia, em consulta com seu advogado, Jesuíno foi aconselhado a pleitear pela
Colaboração premiada. Sobre a situação, assinale a questão INCORRETA:
a) Caso haja o recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração, aí será demarcado o
início das negociações, constituindo também marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e
quebra da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize,
até o levantamento de sigilo por decisão judicial.
b) Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar Termo de Confidencialidade para
prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá o
indeferimento posterior sem justa causa.
c) Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confidencialidade serão elaborados pelo
celebrante e assinados por ele, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público com poderes
específicos.
d) Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até dois terços ou será admitida a
progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
e) Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença de advogado
constituído ou defensor público.
Comentários
A alternativa A está correta. Inclusive, na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante,
esse não poderá se valer de nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador (acusado),
de boa-fé, para qualquer outra finalidade. Ainda, devido as tratativas do acordo, o prazo para oferecimento
de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 meses, prorrogáveis por
igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo
prescricional.
Durante a fase de tratativas, inaugurada com o recebimento pelos celebrantes (delegado de polícia e MP) da
proposta de acordo de colaboração premiada, reinará o sigilo absoluto, somente tendo acesso aos autos o
Ministério Público e/ou o delegado de polícia e o juiz – sendo que esse atuará apenas para analisar os
aspectos legais a fim de conceder ou não a homologação. O juiz não participa das tratativas.
A alternativa C está correta, é a redação do Art. 3-C da Lei 12.850/13. Deste modo, a proposta de colaboração
premiada deve estar instruída com procuração do interessado com poderes específicos para iniciar o
procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada pessoalmente pela parte que pretende a
colaboração e seu advogado ou defensor público. Caso haja eventual conflito de interesses, ou de
colaborador hipossuficiente, o celebrante deverá solicitar a presença de outro advogado ou a participação
de defensor público, sendo seu dever zelar pela legalidade do acordo.
A alternativa “D” está incorreta e é o gabarito da questão. Em realidade, o quantum de redução máximo que
poderá ser aplicado a colaboração realizada após a sentença é ATÉ A METADE, sendo possível a progressão
de regime mesmo sem os requisitos previstos em lei. A redução de até 2/3 se dá quando a colaboração
ocorre durante a persecução criminal. Veja o art. 4º da Lei 12.850:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde
que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
A alternativa E está correta. Nenhuma tratativa pode ser feita sem a presença do defensor ou advogado. Em
todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido
por defensor. Não obstante, os depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, também com a presença
obrigatória de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois está de acordo com o art. 39 da Lei de Drogas.
A alternativa B está incorreta, pois está de acordo com o art. 38 da Lei de Drogas.
A alternativa C está incorreta, pois está de acordo com o art. 33, §3 da Lei de Drogas.
A alternativa D está correta. De acordo com o art. 33, §1, inc. III da Lei de Drogas, nas mesmas penas do
caput incorre quem utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Portanto, o consentimento também pode ser gratuito.
A alternativa E está incorreta, pois está de acordo com o art. 33, §1, inc. II da Lei de Drogas.
Comentários
Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo
prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo, de acordo com o art. 9º,
caput, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi conferida pela Lei nº 13.488/17.
Questão 2. O Presidente da Câmara dos Deputados deve ostentar a idade minima de:
a) Dezesseis anos.
b) Dezoito anos.
c) Vinte e um anos.
d) Trinta anos.
e) Trinta e cinco anos.
Comentários
Considerando que o Presidente da Câmara dos Deputados pode substituir o Presidente da República, em
caso de impedimento, como prescreve o art. 80; que o Presidente da República deve ter a idade mínima de
trinta e cinco anos, como preceitua o art. 14, § 3º, inc. VI, “a”, ambos da Constituição da República, e, por
fim, que, na hipótese de substituição, o substituto deve ter os mesmos atributos do substituído, o Presidente
da Câmara dos Deputados deve ostentar a idade minima de trinta e cinco anos.
Questão 3. João da Silva pretende concorrer para o cargo de Vice-Governador de seu Estado, porém, ainda
não completou 30 anos de idade. Considerando que a data limite para os partidos e coligações de
solicitação à Justiça Eleitoral do registro de seus candidatos foi 26 de setembro de 2020, que o 1° turno
das eleições será no dia 15 de novembro de 2020, que o 2° turno será no dia 29 de novembro de 2020 e
que a data da posse é 1° de janeiro de 2021, assinale a alternativa correta quanto à idade mínima de 30
anos constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade:
a) Não será exigida para o cargo de Vice-Governador de Estado.
b) É verificada tendo por referência a data do 1° turno da eleição.
c) Será aferida tendo por referência a data do 2° turno da eleição.
d) É verificada tendo por referência a data limite para o pedido de registro da candidatura.
e) Será aferida tendo por referência a data da posse.
Comentários
A resposta à questão gira em torno das normas veiculadas pelo art. 14, § 3º, inc. VI, “b”, da Constituição da
República, e art. 11, § 2º, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 13.165/15.
De outro lado, a idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada
tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida na
data-limite para o pedido de registro.
Comentários
Medidas socioeducativas constituem-se em medidas jurídicas que podem ser aplicadas aos adolescentes
autores de ato infracional. Encontram-se tipificadas no art. 112, do Estatuto, que contém rol taxativo. A
medida de internação, por sua vez, somente poderá ser aplicada se não existir outra medida socioeducativa
suficiente à ressocialização, bem como se a situação estiver prevista em uma das hipóteses do art. 122, do
Estatuto. Nesse sentido, poderá ser aplicada a internação quando: I – tratar-se de ato infracional cometido
mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
e, III – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. A gravidade em
abstrato do ato infracional não justifica, por si só, a aplicação da medida de internação, tal como já decidiu
reiteradamente o Superior Tribunal de Justiça. A prática do ato equiparado ao tráfico de entorpecentes, por
si só, não justifica a aplicação da medida da internação, pois não se enquadra no inciso I, do art. 122 (não é
ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa). Será possível, por se tratar de ato
infracional grave, que seja aplicada a internação quando houver a reiteração na prática de infrações dessa
natureza (grave). A reincidência não acarreta a viabilidade da aplicação da medida de internação. Se o
adolescente tiver cometido reiteradamente infrações graves, será possível aplicar-lhe a medida
socioeducativa de internação, com fundamento no art. 122, II, do Estatuto.
Ainda que o adolescente já tiver cumprido a medida de semiliberdade, se não houver necessidade
pedagógica ou se a situação não se encaixar no art. 122, do Estatuto, não será viável a aplicação da
internação.
Questão 2. (CESPE – Defensor Público – DPE - DF/2019) André, com dezessete anos de idade, foi
apreendido pela prática de ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas. Depois de ter sido
conduzido à delegacia de polícia especializada, o adolescente foi apresentado ao Ministério Público. O
promotor de justiça que o entrevistou ofereceu-lhe remissão cumulada com medida socioeducativa de
semiliberdade. O magistrado indeferiu a remissão ministerial, sob o fundamento de que a aplicação de
medida socioeducativa ao adolescente por ato infracional é de competência exclusiva do juiz, e abriu vista
ao Ministério Público para que apresentasse representação contra André no prazo de 24 horas. Diante da
negativa de homologação judicial e do retorno dos autos, o promotor ofereceu representação contra
André e o magistrado manteve a internação provisória, designou audiência de apresentação e determinou
a citação do adolescente. Na sentença, o magistrado determinou a internação, fundamentando que a
conduta do adolescente era grave, embora não houvesse qualquer outra anotação em sua folha de
passagem.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o seguinte item, de acordo com a legislação pertinente e a
jurisprudência dos tribunais superiores.
Eventual recurso contra a sentença proferida pelo magistrado deverá adotar o sistema recursal do Código
de Processo Civil, com as adaptações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Comentários
Assertiva: nos termos do art. 198, do Estatuto, nos procedimentos afetos à Vara da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, será adotado o sistema recursal do Código de
Processo Civil, com algumas adaptações. A regra se aplica ainda que se trate de procedimento de apuração
de ato infracional.
Gabarito: “certo”.
Comentários
a) ERRADA. O art. 208, inciso IV da CF estabelece, de fato, a obrigatoriedade e gratuidade do ensino infantil,
com o atendimento em creche e pré-escola às crianças de ATÉ 5 anos de idade. Havia previsão originária de
“0 (zero) a 6 (seis anos)”, mas a EC n° 53 de 2006 estabeleceu o limite de até 5 anos.
c) e d) ERRADAS. As assertivas tratam da efetivação da política pública de educação pelo poder judiciário,
bem como da tese fazendária da chamada RESERVA DO POSSÍVEL. Apesar de excepcional, considerando que
a implementação de políticas públicas é competência do Poder Executivo, no tocante a creches e pré-escolas,
o STF entende possível o deferimento do pleito, considerando que esse é o patamar mínimo do direito à
educação. Além disso, não se pode opor a reserva do possível ao mínimo existencial. Vejamos o elucidativo
julgado do Supremo a esse respeito:
e) ERRADA. O art. 227, caput, da CF foi modificado pela EC n°65/10 e passou a incluir o jovem na redação do
dispositivo. É assim considerada a pessoa entre 15 e 29 anos de idade. Então, o fato de proteção integral ser
tão difundida relativamente à criança e ao adolescente, na hora da prova pode fazer implicar com a
alternativa (sabem aquelas cismas do meio da prova?! Pois é...), principalmente nas questões com essa
estrutura de repetição da redação uma da outra com a mudança de apenas uma palavra ou ideia. A FCC
adora esse tipo de questão! As vezes até repetindo a mesma redação NAS 5 ALTERNATIVAS, mudando um
detalhe de uma para outra.
Comentários
a) Alternativa incorreta. Art. 174 do CTN - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco
anos, contados da data da sua constituição definitiva.
c) Alternativa incorreta. Art. 174, § único, inciso III, do CTN. Qualquer ato judicial que constitua em mora
o devedor tem o condão de interromper o prazo prescricional.
d) Alternativa incorreta. - Art. 40 da LEF: O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado
o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo
de prescrição.
Comentários
a) Alternativa correta. Trata-se da modalidade de lançamento misto ou por declaração, prevista no art. 147
do CTN. O lançamento é realizado com base na declaração do sujeito passivo, que presta à autoridade
lançadora as informações exclusivamente sobre matéria de fato, necessárias à constituição do crédito
tributário. Ex.: ITBI e ITCMD.
b) Alternativa incorreta. Há várias situações que motivam o lançamento de ofício, conforme artigo 149 da
CF.
c) Alternativa incorreta. O imposto de renda é constituição por meio do lançamento por homologação.
Questão 3. A União aprova, por meio de lei complementar, uma nova contribuição especial. No ano
seguinte, essa contribuição é modificada por lei ordinária em relação a dois de seus comandos: alíquota e
base de cálculo. Com base no exposto, e em atenção à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no que
concerne ao conflito entre lei ordinária e complementar, assinale a afirmativa correta.
a) A lei ordinária é válida em relação à base de cálculo, mas não em relação à alíquota
b) A lei ordinária é inválida, pois não pode alterar a lei complementar.
c) A lei ordinária é válida em relação à alíquota, mas não em relação à base de cálculo
d) A lei ordinária é inválida e sequer poderá ser convalidada por lei complementar superveniente.
e) A lei ordinária é válida, pois a matéria por ela regulada (contribuição especial) não é reservada a lei
complementar
Comentários
A questão traz à lume o entendimento firmado quando do julgamento da ADC - 1/DF. Nesse julgamento, foi
decidido que a Cofins é contribuição social, com amparo no inciso I, do art. 195, da Constituição da República.
Para a sua disciplina não é necessária lei complementar, reservada para os casos de criação de novas fontes
de custeio para a seguridade social (art. 195, § 4º c/c art. 154, I, CF). A tese fixada foi a seguinte: “a Lei
Complementar nº 70/91 possui status de lei ordinária, posto não se enquadrar na previsão do art. 154, I da
Constituição Federal”.
Portanto, a lei ordinária referida pela questão é válida, visto que a matéria por ela regulada não é reservada
à lei complementar. Diante disso, por ostentar status de lei ordinária, é possível alterações supervenientes
por meio de lei ordinária.
Comentários
A incorreta é a letra ‘c’, que não é prevista como princípio do processo coletivo. Os demais são específicos
do processo coletivo. Assim: ‘a’ busca-se o conhecimento e pronunciamento da questão de mérito.
‘b’ diz que o autor da ação coletiva não pode abdicar de seu objeto. Este princípio é flexibilizado pela
possibilidade de desistência “fundada”, prevista na Lei da Ação Civil Pública.
‘d’ a decisão em processo coletivo não pode prejudicar, mas somente beneficiar as pessoas. Isto se dá em
razão do fato que a legitimação para o ingresso das ações é extraordinária e independe de qualquer
autorização.
‘e’ a execução coletiva deve ser movida obrigatoriamente pelos legitimados extraordinários, quando o caso
assim demandar. (art. 98 do CDC)
Questão 2. Assinale a alternativa correta em relação ao processo coletivo previsto no Código de Defesa
do Consumidor
a) O Ministério Público, se não ajuizar a ação, poderá atuar como fiscal da lei, sendo obrigatória sua
intervenção quando a causa versar sobre direitos difusos.
b) Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local no foro do lugar
onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local.
c) A legitimação para ação coletiva no Código de Defesa do Consumidor é solidária, podendo ser subsidiária
em casos específicos.
d) Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria, classe ou parte destes, de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica estrita.
e) Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza divisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias jurídicas
indivisíveis.
Comentários
a- A atuação como fiscal da lei é obrigatória. Art. 92 do CDC, assim com o art. 127 da Constituição.
b- De acordo com o Art. 93, I do CDC. Ressalva-se a competência da Justiça Federal, a hipótese de haver
interesse da União, na forma do art. 109 da Constituição.
c- A legitimação é concorrente e autônoma, de acordo com o Art. 82 do CDC e art. 5º, da lei 7.347/85. Não
há que se falar em legitimação subsidiária.
d- O conceito não está de acordo com o Art. 81, II do CDC: II - interesses ou direitos coletivos, assim
entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
e- O conceito não está de acordo com o Art. 81, I do CDC: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos,
para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
Comentários
Esta questão se baseia no artigo 6°, §5° da LAP, sendo a alternativa c) sua transcrição literal.
Comentários
Para responder esta questão deve-se fazer uma análise do artigo 6°, §4° da LAP, que define os papéis do MP
em sede de ação popular:
Restando a alternativa d) como incorreta, o que se justifica pelo julgamento do REsp 700.206/MG, onde há
o reconhecimento de que o MP pode propor ação popular.
Questão 5. Acerca da tutela em sede de ação civil pública trazida em lei, assinale qual destes bens jurídicos
não é passível de proteção por este meio processual:
a) meio ambiente.
b) honra e dignidade de pessoas LGBTQIA+.
c) ordem urbanística.
d) consumidor.
Comentários
Para responder esta questão, deve-se fazer uma leitura dos incisos do artigo primeiro da Lei da Ação Civil
Pública:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011).
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966,
de 2014)
Ainda que possam ser absorvidos pelo inciso IV, honra e dignidade de pessoas LGBTQIA+ não encontram
proteção direta no texto legal, sendo, portanto, a resposta aquela constante à alternativa b.
Comentários
A partir da leitura dos incisos do artigo 1° da LACP, entende-se que a proteção processual por este meio se
dá a todos os meio-ambientes, ou seja: natural, artificial, cultural, do trabalho e patrimônio genético.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011).
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966,
de 2014)
Destas divisões, as três primeiras constam explicitamente na Lei, nos artigos I, III e VI do artigo 1°, sendo os
demais englobados pelo conceito de “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”, do inciso IV.
Comentários
Todas as questões decorrem do texto legal da lei 7.3.47/85. A ‘a’ está correta, pois de acordo com o art. 3º
da LACP. A ‘b’ está incorreta, pois em desacordo com o art. 5º, §1º da LACP. A atuação do MP como fiscal da
lei é obrigatória. A ‘c’ está correta, pois de acordo com a regra gral do art. 2º da LACP. A ‘d’ está correta, pois
de acordo com o art. 5º, §5º da LACP. Por fim, a ’e’ está correta, pois de acordo com o art. 1º, IV, da LACP.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011). IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
Comentários
Alternativa A: INCORRETA
Embora admitidas como fundamento para a intervenção em área de preservação permanente, as atividades
de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente, são
consideradas atividades de interesse social para fins de realização em APP.
Neste sentido, é o art. 8º, caput, c.c. art. 3º, IX, “f”, do Código Florestal Federal:
(...)
IX - interesse social:
(...)
Alternativa B: CORRETA
(...)
Alternativa C: CORRETA
Trata-se de alteração realizada pela disciplina florestal federal vigente, que teve sua constitucionalidade
contestada na ADIN 4.903, mas foi declarada constitucional pelo STF:
(...)
(...)
Alternativa D: CORRETA
Trata-se da solução de eventual conflito entre a LPSU e o Código Florestal, no tocante à dimensão da área
de preservação permanente em área urbana.
Art. 4º. Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os
efeitos desta Lei:
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros
de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos)
metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos)
metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de
superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
Art. 4º. Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos: [...]
III - ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias e
ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15 (quinze) metros de cada
lado, salvo maiores exigências da legislação específica;
Com base em análise teleológica, o STJ entende que a LPSU estabelece proteção mínima, de forma a delegar
à legislação específica a possibilidade de ampliar os limites da proteção. E, ainda, com base no princípio da
especialidade, deve prevalecer a disposição do Código Florestal, por ser norma mais específica em matéria
de proteção das APPs.
Neste sentido:
3. A proteção marginal dos cursos de água, em toda a sua extensão, possui importante papel de
proteção contra o assoreamento. O Código Florestal tutela em maior extensão e profundidade o
bem jurídico do meio ambiente, logo, é a norma específica a ser observada na espécie.
Alternativa E: CORRETA
(…)
(…)
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;
Dica! Atentar para dispositivos legais que contêm expressões e termos que podem induzir à resposta
negativa (ex: “qualquer que seja”, “em todo caso”, “ainda que”, etc).
Gabarito: A
Comentários
A assertiva ‘a’ está correta, pois o MP não possui, pelo art. 107 do CDC legitimidade para firmar convenção
coletiva de consumo, em que pese possa parecer intuitivo pensar nessa possibilidade, em razão da atuação
coletiva do Ministério Público. As demais assertivas, à exceção da ‘e’, estão previstas nos parágrafos do art.
107 do CDC. A ‘e’ é incorreta, pois a convenção não obriga os aos órgãos de defesa do consumidor.
Questão 4. Assinale a alternativa correta de acordo com a lei da ação civil pública (7.347/85)
Comentários
A assertiva ‘a’ está de acordo com o art. 9º da lei 7.347/85. A ‘b’ está em desacordo com o art. 3º. No caso
da ‘c’, a intervenção do Ministério Público é obrigatória, caso não seja o autor da ação. Nem OAB nem
condomínio fechado têm legitimidade para propor ACP, na forma do art. 5º da Lei 7.347/85.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei
nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei
nº 11.448, de 2007).
b) De acordo com o princípio do limite (ou da tolerabilidade), o desenvolvimento econômico deve ser
conciliado com a proteção do meio ambiente, mediante a utilização racional dos recursos naturais não
renováveis, e visando à melhoria da qualidade de vida.
c) A Cota de Reserva Ambiental – CRA é um instrumento de aplicação do princípio do usuário-pagador.
d) Em atenção ao princípio da informação, a Constituição da República impõe, de forma expressa, a
publicidade do Estudo de Impacto Ambiental – EIA.
e) É obrigatória a realização de audiências públicas em todo procedimento de licenciamento ambiental, em
atenção ao princípio da participação pública.
Comentários
Alternativa A: INCORRETA
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
Por expressa dicção legal, o cumprimento da função social da propriedade rural exige o atendimento
simultâneo de todos os requisitos elencados.
Alternativa B: INCORRETA
O princípio do limite (ou da tolerabilidade ou do controle ou da capacidade de suporte), por sua vez, impõe
ao Poder Público o dever de controlar a poluição mediante a instituição de padrões máximos de tolerância,
a fim de assegurar níveis aceitáveis, visando preservar o equilíbrio ambiental e a saúde humana. Está previsto
como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9º, I, da Lei nº 6.938/81) e constitui princípio
auxiliar da prevenção e do desenvolvimento sustentável.
Alternativa C: INCORRETA
A da Lei nº. 12.651/12 – Código Florestal prevê instrumentos econômicos e financeiros para auxiliar no
escopo de proteção da vegetação e alcance dos demais objetivos eleitos e adota como um de seus princípios
a criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação
nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis (art. 1-A, VI).
Alternativa D: CORRETA
Conforme prescreve o.art. 225, §1º, IV, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente, incumbe
ao Poder Público:
Alternativa E: INCORRETA
Art. 2º Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério
Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a
realização de audiência pública.
Gabarito: D
Questão 6. De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, assinale a alternativa correta:
a) Acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de
espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive
seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, desde que
públicos, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
b) O desenho universal diz respeito às adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não
acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a
pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais;
c) As adaptações razoáveis tratam da concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem
usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos
de tecnologia assistiva.
d) A tecnologia assistiva ou ajuda técnica diz respeito a produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social.
Comentários
A assertiva A está incorreta, porque a acessibilidade abrange também serviços privados de uso coletivo, nos
termos do art. 3º, inciso I, do EPCD.
As assertivas B e C estão incorretas, pois os conceitos de desenho universal e adaptação razoável estão
invertidos. Muito cuidado, pois essa é uma pegadinha comum em provas objetivas.
A alternativa D é a correta. A tecnologia assistiva ou ajuda técnica diz respeito a produtos, equipamentos,
dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
Muita atenção aos conceitos do art. 3º da Lei 13.146/2015, pois possuem grande incidência em provas de
primeira fase:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao
público ou de uso coletivo;
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas,
inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de
sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim
como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e
os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as
tecnologias da informação e das comunicações;
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos,
superpostos ou adicionados aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua
modificação ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como
semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo às
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de
movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da
flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante,
pessoa com criança de colo e obeso;
XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas
adequadas capazes de proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem
e ampliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência;
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração,
assiste ou presta cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas
atividades diárias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas;
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e
locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se
fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente
estabelecidas;
XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não
desempenhar as funções de atendente pessoal.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Vamos lá!
Comentários
Os princípios constitucionais podem ser classificados como fundamentais, gerais e setoriais ou especiais.
Os princípios fundamentais são sínteses das normas constitucionais, que a eles podem ser direta ou
indiretamente reconduzidas, com o objetivo de organizar o Estado, de forma que “os princípios
fundamentais formam o trinômio de atributos essenciais do Estado brasileiro: a democracia, a república e a
federação” (FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Curso de Direito Constitucional Brasileiro. v. I. Rio de Janeiro:
Forense, 1958, p. 87)
Os princípios gerais são desdobramentos dos princípios fundamentais, que são irradiados pelo ordenamento
constitucional, com o objeto de limitar o poder imanente ao Estado, de modo que “os princípios gerais
figuram dentre os princípios gerais os que se seguem: a legalidade, a igualdade, a inafastabilidade do controle
judicial e o devido processo legal” (BARROSO, Luís Roberto. Princípios Constitucionais Brasileiros. Revista
Trimestral de Direito Público, nº 1, 1993, p. 175).
Distrito Federal, sempre após deliberação conjunta, poderão, por ato próprio, conceder e/ou
revogar isenções, incentivos e benefícios fiscais (STF, ADI-MC nº 1.247, Rel. Min. Celso de Mello,
J. 17.08.1995, DJU 08.09.1995).
Questão 2. O que são “normas constitucionais com eficácia absoluta”? Resposta objetivamente justificada.
Comentários
As normas constitucionais com eficácia absoluta consistem em normas intangíveis, contra as quais não há
expressão do poder constituinte derivado reformador, como, por exemplo, as normas que prescrevem a
federação (art. 1º), o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 14), a separação de poderes (art. 2º) e
os direitos fundamentais (art. 5º, dentre outros), todos da Constituição da República.
“Os dois cargos acumulados (...) não se enquadram no permissivo constitucional. Também
reconheço que não há direito adquirido contra a Constituição, salvo quando esta expressamente
ressalva. O disposto no art. 5º, XXXVI, só tem eficácia absoluta em face da legislação
infraconstitucional” (STF, RE nº 209.651, Rel. Min. Joaquim Barbosa, J. 18.08.2008, DJU
10.09.2008).
Comentários
A licitação carona consiste no fato de um órgão ou entidade que não participou da licitação que deu ensejo
à ata pretende contratar com o vencedor, aderindo à ata feita por outro órgão.
Trata-se de situação regida pelo Decreto Federal nº 7.892/2013, em seu artigo 22.
Desde que devidamente justificada a vantagem, a ata de registro de preços, durante sua vigência, poderá
ser utilizada por qualquer órgão ou entidade da administração pública federal que não tenha participado do
certame licitatório, mediante anuência do órgão gerenciador.
Os órgãos e entidades que não participaram do registro de preços, quando desejarem fazer uso da ata de
registro de preços, deverão consultar o órgão gerenciador da ata para manifestação sobre a possibilidade de
adesão.
A manifestação do órgão gerenciador fica condicionada à realização de estudo, pelos órgãos e pelas
entidades que não participaram do registro de preços, que demonstre o ganho de eficiência, a viabilidade e
a economicidade para a administração pública federal da utilização da ata de registro de preços, conforme
estabelecido em ato do Secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Por sua vez, caberá ao fornecedor beneficiário da ata de registro de preços, observadas as condições nela
estabelecidas, optar pela aceitação ou não do fornecimento decorrente de adesão, desde que não
prejudique as obrigações presentes e futuras decorrentes da ata, assumidas com o órgão gerenciador e
órgãos participantes.
As aquisições ou contratações adicionais não poderão exceder, por órgão ou entidade, a cem por cento dos
quantitativos dos itens do instrumento convocatório e registrados na ata de registro de preços para o órgão
gerenciador e órgãos participantes, no caso de compra nacional. Trata-se de limite individual, por órgão ou
entidade.
O instrumento convocatório deverá prever que o quantitativo decorrente das adesões à ata de registro de
preços não poderá exceder, na totalidade, ao quíntuplo do quantitativo de cada item registrado na ata de
registro de preços para o órgão gerenciador e órgãos participantes, independente do número de órgãos não
participantes que aderirem, no caso de compra nacional. Trata-se de limite global.
Por sua vez, para compras não nacionais, as aquisições ou as contratações adicionais não poderão exceder,
por órgão ou entidade, a cinquenta por cento dos quantitativos dos itens do instrumento convocatório e
registrados na ata de registro de preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes. Trata-se de
limite individual, por órgão ou entidade.
O instrumento convocatório preverá que o quantitativo decorrente das adesões à ata de registro de preços
não poderá exceder, na totalidade, ao dobro do quantitativo de cada item registrado na ata de registro de
preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes, independentemente do número de órgãos
não participantes que aderirem, para compras não nacionais. Trata-se de limite global
O órgão gerenciador somente poderá autorizar adesão à ata após a primeira aquisição ou contratação por
órgão integrante da ata, exceto quando, justificadamente, não houver previsão no edital para aquisição ou
contratação pelo órgão gerenciador.
Após a autorização do órgão gerenciador, o órgão não participante deverá efetivar a aquisição ou
contratação solicitada em até noventa dias, observado o prazo de vigência da ata.
É vedada aos órgãos e entidades da administração pública federal a adesão a ata de registro de preços
gerenciada por órgão ou entidade municipal, distrital ou estadual.
É facultada aos órgãos ou entidades municipais, distritais ou estaduais a adesão a ata de registro de preços
da Administração Pública Federal.
Questão 2. O chefe do Poder Executivo de uma unidade da Federação, em razão do acúmulo de serviço
ocorrido nas diversas repartições, praticou dois atos administrativos para solucionar o problema.
O primeiro ato foi a remoção de servidores para outras localidades de trabalho, de modo a atender melhor
a necessidade do serviço público.
O segundo ato, por sua vez, foi a contratação de servidores temporários e estagiários para realização de
diversas atividades em órgãos da Administração Pública municipal.
Um grupo de aprovados fora do número de vagas no concurso público da carreira de analista administrativo,
indignado com a medida feita pelo Prefeito, impetrou mandado de segurança pleiteando a nomeação dos
aprovados, tendo em vista a ocorrência de preterição à ordem de classificação. Assim, de acordo com o
fundamentado pelo grupo, haveria direito líquido e certo à nomeação dos aprovados, haja vista decisão do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que a preterição à ordem de classificação geraria direito subjetivo
à nomeação.
Diante do cenário narrado, justifique a legalidade ou não dos atos praticados pelo Prefeito, abarcando os
aspectos jurisprudenciais e constitucionais sobre o tema, passando pelas hipóteses de direito subjetivo à
nomeação dos candidatos aprovados em concursos públicos.
Comentários
De acordo com o STJ, não ocorre preterição na ordem de classificação de aprovados em concurso público na
hipótese de remoção de servidores lotados em outras localidades. No momento da remoção, o que se há
são servidores devidamente investidos no cargo, não se podendo falar, pois, em preterição.
Ademais, também de acordo com o STJ, a paralela contratação de servidores temporários, ou ainda, como
no caso, o emprego de servidores comissionados, terceirizados ou estagiários, só por si, não caracterizam
preterição na convocação e nomeação dos impetrantes ou autorizam a conclusão de que tenham
automaticamente surgido vagas correlatas no quadro efetivo, a ensejar o chamamento de candidatos
aprovados em cadastro de reserva ou fora do número de vagas previstas no edital condutor do certame.
Comentários
De ordinário, a prova da filiação se realiza por perícia técnica: exame de Ácido Desoxirribonucleico (DNA).
Para tanto, as partes, ou parentes das partes, se for o caso, fornecem o material genético que servirá de base
para o exame.
Entretanto, a pessoa apontada como genitor poderá obstar a produção do exame. A negativa do exame é
fato impeditivo da prova pericial e, assim, dificultar o conhecimento da filiação.
Neste contexto é que a jurisprudência, amparada no Código Civil (arts. 231 e 232), solidificou-se no sentido
de que a recusa não beneficiará a parte; ao contrário, será a ela prejudicial.
É o teor do entendimento sumular nº. 301 do STJ: em ação investigatória, a recusa do suposto pai a
submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Vale ressaltar que não se está a afirmar ser a recusa prova plena de paternidade. Deverá o contexto dos
autos ser analisado. Se houver indícios suficientes de paternidade, a presunção iuris tantum decorrente da
recusa servirá como instrumento processual determinante ao reconhecimento da filiação.
E se a mera presunção não for suficiente ao sentenciamento da lide? Em compasso com a jurisprudência do
STJ, deverá haver o emprego de métodos indutivas, coercitivas ou mandamentais, previstas no art. 139, IV,
do CPC (pela importância e completude do aresto, recomenda-se a leitura atenta integral da ementa):
2- Tendo o acórdão desta Corte concluído que o documento apresentado pela parte configurava
prova indiciária da alegada fraude ocorrida em anterior exame de DNA e, em razão disso,
determinado a reabertura da fase instrutória, não pode a sentença, valendo-se apenas daquele
documento, extrair conclusão diversa, no sentido de não ser ele suficiente para a comprovação
da fraude, sob pena de afronta à autoridade da decisão proferida pelo Superior Tribunal de
Justiça.
3- Determinado, pelo acórdão desta Corte, que fosse realizado novo exame de DNA para
apuração da existência de vínculo biológico entre as partes, não pode a sentença, somente com
base na ausência das pessoas que deveriam fornecer o material biológico, concluir pelo
restabelecimento da coisa julgada que se formou na primeira ação investigatória (e que foi
afastada por esta Corte), nem tampouco concluir pela inaplicabilidade da presunção contida na
Súmula 301/STJ, sem que sejam empreendidos todas as providências necessárias para a
adequada e exauriente elucidação da matéria fática. Aliás, é preciso enfatizar que maior do que
o direito de ter um pai é o direito de saber quem é o pai.
5- Aplicam-se aos terceiros que possam fornecer material genético para a realização do novo
exame de DNA as mesmas diretrizes anteriormente formuladas, pois, a despeito de não serem
legitimados passivos para responder à ação investigatória (legitimação ad processum), são eles
legitimados para a prática de determinados e específicos atos processuais (legitimação ad
actum), observando-se, por analogia, o procedimento em contraditório delineado nos art. 401 a
404, do novo CPC, que, inclusive, preveem a possibilidade de adoção de medidas indutivas,
coercitivas, sub-rogatórias ou mandamentais ao terceiro que se encontra na posse de documento
ou coisa que deva ser exibida.
(STJ - Rcl: 37521 SP 2019/0061080-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
13/05/2020, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 05/06/2020)
Comentários
Em recente julgado, consignou o Superior Tribunal de Justiça, ao conceder habeas corpus para revogação de
prisão civil, a impossibilidade de sua decretação em desfavor do devedor de alimentos pautados em ato
ilícito, isto é, de caráter indenizatório, sob o fundamento de que a única hipótese de prisão civil admitida
pelo ordenamento jurídico é a derivada de pensão alimentícia fundada nas relações familiares.
Muito embora não haja previsão normativa expressa que estabeleça distinção entre a natureza da obrigação
alimentar, a qual pode se embasar em vínculo familiar (alimentos legítimos), em relações negociais
(alimentos voluntários/negociais) ou em ato ilícito (alimentos indenizatórios), para fins de viabilidade de
prisão civil, entendeu-se, por interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico e por critérios
de razoabilidade e proporcionalidade, pela sua exclusiva possibilidade em virtude de vínculo familiar.
Isso porque a restrição do âmbito de aplicabilidade da prisão civil fora ensejada pela Convenção Americana
de Direitos Humanos – Pacto São José da Costa Rica – e consagrada pela Constituição Federal (art. 5º, LXVII),
como forma de autorizar a imposição desta medida, em caráter de excepcionalidade, aos casos em que se
contraponha a própria dignidade da pessoa humana, não se mostrando, pois, acertada a sua extensão a
todas as espécies de obrigação alimentar, dada a gravidade do cerceamento da liberdade e a desproporção
de sua aplicabilidade como forma de compelir a satisfação de débitos de ordem geral.
Assim sendo, deve a análise da viabilidade da prisão civil obedecer ao viés restritivo e excepcional
característico desta própria medida, motivo pelo qual não é possível a decretação da prisão civil do devedor
de alimentos de caráter indenizatório decorrentes de ato ilícito.
Por isso, é franqueado ao devedor de alimentos que possua título executivo o rito da excussão patrimonial,
nos termos do art. 523 e ss. do Código de Processo Civil.
Questão 2. No que se refere ao agravo de instrumento, o que se entende por “cláusula de cabimento de
amplo espectro”, relacionada ao art. 1015, I, CPC?
Comentários
Desde o advento do CPC, a interpretação a respeito do rol do art. 1015, que trata do agravo de instrumento,
despertou intensos debates doutrinários e jurisprudenciais. Em razão dessa celeuma, surgiram as seguintes
correntes acerca da taxatividade ou não do mencionado artigo:
1ª corrente: o rol do art. 1.015 do CPC é absolutamente taxativo e deve ser interpretado restritivamente;
2ª corrente: o rol do art. 1.015 do CPC é taxativo, mas admite interpretações extensivas ou analógicas; e
3ª corrente: o rol do art. 1.015 é exemplificativo, admitindo-se o recurso fora das hipóteses de cabimento
previstas no dispositivo.
Diante desse impasse, o STJ foi instado a se manifestar sobre o tema, pelo que entendeu que o art. 1015,
CPC, contempla uma taxatividade mitigada. É dizer: em regra, as hipóteses de cabimento são taxativas.
Contudo, em situações excepcionais e desde que presente o requisito da urgência, admite-se a
recorribilidade imediata das decisões interlocutórias fora da lista do art. 1015.
A partir dessa conjectura, a Corte também entendeu que a possibilidade de interposição do agravo de
instrumento relacionada à tutela provisória abrange não só a decisão que concede ou não a tutela, mas
também todas as decisões judiciais que circundam esse tema. Nesse passo, o STJ passou a admitir a
recorribilidade imediata das decisões interlocutórias que digam respeito não apenas ao núcleo essencial da
tutela provisória, mas também que se refiram aos aspectos acessórios que estão umbilicalmente vinculados
a ela.
O conceito de "decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória" previsto no art. 1.015, I,
do CPC/2015, abrange as decisões que examinam a presença ou não dos pressupostos que
justificam o deferimento, indeferimento, revogação ou alteração da tutela provisória e, também,
as decisões que dizem respeito ao prazo e ao modo de cumprimento da tutela, a adequação,
Comentários
CP, art. 4º: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário determinar o momento da prática do fato, o
momento da ação ou omissão.
Com o início da execução já há crime, na forma da tentativa. Por isso, se já há crime com o início da execução,
o fato determinante para fixar o tempus delicti tem de ser necessariamente o primeiro ato de execução,
porque nesse momento o agente deve já saber se o seu comportamento é ou não penalmente ilícito.
Toda lei, quando discutida no plenário do Congresso Nacional, aprovada, promulgada e sancionada, tem a
pretensão de ser eterna. Todavia, por conta de novas aspirações sociais ou da necessidade de regulação de
fatos até então desconhecidos, novas leis são editadas, revogando as anteriores ou tratando de novos
assuntos.
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
==10be0c==
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Regido pelo princípio da anterioridade e, consequentemente, pela aplicação da lei penal mais favorável ao
acusado, tem-se que o Direito Penal adota as regras de irretroatividade da lei penal mais prejudicial (ou in
pejus) e retroatividade da lei penal mais benéfica (in melius).
• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada ultrativamente ao fato cometido à sua época.
• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei revogadora, é esta que deverá ser aplicada
retroativamente.
Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após sua
revogação, em razão de sua natureza mais benéfica. Neste caso, deve-se compreender a lei revogada como
mais benéfica quando a lei nova, que revoga aquela até então vigente, aumenta a pena prevista para o crime,
acrescenta-lhe novas penas ou retira benefícios até então aplicáveis para o cumprimento da pena. Lei
retroativa, por seu turno, é aquela que se aplica ao crime praticado antes de sua entrada em vigor, porque,
nesta hipótese, era a lei revogada, aquela em vigor na data do fato, mais gravosa, por alguma das razões
acima expostas.
Desta feita, verifica-se que a nova redação dada ao art. 157, §2o, do Código Penal, quando comparada com
o texto anterior, constitui novatio legis in pejus, haja vista a criação de causa especial de aumento de pena
até então desconhecida do ordenamento jurídico brasileiro.
Em face de tal natureza, conclui-se, com fulcro no art. 2o, parágrafo único, do Código Penal, que a Lei no
13.964/19, no que toca à criação de nova majorante para o crime de roubo, não retroage para alcançar as
condutas praticadas antes da data de sua efetiva aplicação, ou seja, após a verificação do prazo de vacatio
legis.
Portanto, os crimes de roubo praticados mediante grave ameaça, com o emprego de arma branca, antes do
dia 24 de janeiro de 2020, serão tratados, na data do julgamento, como crimes de roubo simples, tipificados
no art. 157, caput, do Código Penal.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos microestruturais
A apresentação clara e escorreita do conhecimento,
(coerência, clareza,
por meio da linguagem adequada e da coerência das
ortografia, propriedade 10%
ideias, é elemento importante que será considerado
vocabular e raciocínio
para a composição da nota.
jurídico)
O Código Penal adotou a teoria da ação para
determinar o tempo do crime.
CP, art. 4º: Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
Análise da Teoria da Ação 10%
o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é
necessário determinar o momento da prática do
fato, o momento da ação ou omissão.
Regido pelo princípio da anterioridade e,
consequentemente, pela aplicação da lei penal mais
Irretroatividade da norma favorável ao acusado, tem-se que o Direito Penal
20%
penal incriminadora adota as regras de irretroatividade da lei penal mais
prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da lei penal
mais benéfica (in melius).
O conflito intertemporal de leis penais resolve-se da
seguinte maneira:
• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada
Conflito intertemporal de leis
ultrativamente ao fato cometido à sua época. 20%
penais - solução
• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei
revogadora, é esta que deverá ser aplicada
retroativamente.
Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data
Lei ultrativa e retroativa do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após 20%
sua revogação, em razão de sua natureza mais
Comentários
Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
penais distintos e autônomos, são independentes e a comprovação de um deles não pressupõe a do outro,
de acordo com a jurisprudência dos tribunais superiores.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que eventual bilateralidade das condutas de
corrupção passiva e ativa é apenas fático-jurídica, não se estendendo ao plano processual, visto que a
investigação de cada fato terá o seu curso, com os percalços inerentes a cada procedimento, sendo que para
a condenação do autor de corrupção passiva é desnecessária a identificação ou mesmo a condenação do
corruptor ativo (AgRg no REsp 1613927/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma,
julgado em 20/09/2016, DJe 30/09/2016).
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos microestruturais
A apresentação clara e escorreita do conhecimento,
(coerência, clareza,
por meio da linguagem adequada e da coerência das
ortografia, propriedade 10%
ideias, é elemento importante que será considerado
vocabular e raciocínio
para a composição da nota.
jurídico)
Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção
passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
Bilateralidade da corrupção penais distintos e autônomos, são independentes e
45%
ativa e passiva a comprovação de um deles não pressupõe a do
outro, de acordo com a jurisprudência dos tribunais
superiores.
Prevalece na jurisprudência do STF e do STJ a
inexistência de bilateralidade entre os crimes de
corrupção passiva e ativa, pois, de regra, tais
comportamentos delitivos, "por estarem previstos
Responsabilidade penal
em tipos penais distintos e autônomos, são 45%
independente
independentes, de modo que a comprovação de um
deles não pressupõe a do outro" (RHC 52.465/PE,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 23/10/2014, Dje 31/10/2014).
Questão 3. Michel Foucault, na obra Vigiar e punir, discute três formas punitivas históricas e relaciona,
cada uma dessas formas punitivas, a uma determinada “economia de poder”. Quais são as formas
punitivas estudadas pelo filósofo na história do direito penal ocidental? Discorra sobre.
Comentários
“Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão” é um livro do filósofo francês Michel Foucault, publicado
originalmente em 1975 e tido como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo
ocidental.
Segundo a obra, as formas punitivas do século XVII até o século XX são: 1. As penas físicas; 2. As penas
proporcionais aos crimes; 3. Prisão.
Na sua obra, Foucault frisa que a pena sempre veio acompanhada do suplício, pois a punição por atos
contrários a lei vigente se davam, em sua grande maioria, de maneira desproporcional. Segundo o autor, até
o século XVIII, vigorou tal sistema de punição, sendo atribuído penas físicas e públicas:
“É uma pena corporal, marcado por esquartejamento, amputação de membros, marcas simbólicas no rosto
e uma exposição do condenado vivo ou morto a um dado espetáculo em praça”. Era definida como fenômeno
inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade”. (FOUCAULT, Michel- Vigiar
e Punir, Editora Vozes, 25a. edição, 2002, página 12).
No decorrer do Século XVIII, com pensamentos iluministas já aos arredores, surgia a idéia de se punir ao
invés de se vingar. Vê-se formar uma nova estratégia para o exercício do poder de castigar, ao fazer da
punição e da repressão das ilegalidades uma função regular, co-extensiva à sociedade, não punir menos, mas
punir melhor. Oferecendo justiça tanto para a vítima como para o autor do crime, sendo a ideia de igualdade
ressaltada. Para Foucault encontrar a proporcionalidade entre o crime e o castigo importava em construir
pares de representação de valores opostos, estabelecer um jogo de sinais-obstáculos que possam submeter
o movimento das forças a uma relação de poder.
Partindo desse “jogo de sinais-obstáculos”, esses devem constituem o novo arsenal das penas. Porém, para
que sejam eficazes algumas condições devem ser obedecidas. Tais condições são apresentadas por Foucault,
sendo elas em resumo: 1) ser tão pouco arbitrários quanto possível; 2) correspondência com à mecânica das
forças; 3) utilidade de uma modalidade temporal; 4) pena como mecânica dos sinais, dos interesses e da
duração; 5) economia da publicidade da pena; e 6) inversão do tradicional discurso do crime.
Em um outro momento não era mais o corpo que pedia súplicas, mas a alma. À expiação que tripudia sobre
o corpo devia suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade, as
disposições. Não havia cicatrizes visíveis. Não tocar mais no corpo, ou o mínimo possível, e para atingir nele
algo que não é o corpo propriamente. Dir-se-á:
Quando da aplicação da prisão, a crítica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão
não é bastante punitiva: em suma, os detentos têm menos fome, menos frio e privações que muitos pobres
ou operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: é justo que o condenado sofra
mais que os outros homens? A pena, até os dias atuais, mesmo com a prisão, ainda não se dissocia
totalmente de um complemento de dor física.
Comentários
A prisão constitui restrição à liberdade de locomoção do indivíduo. Sua decretação é medida excepcional,
dependendo de decisão escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Esse controle exercido
pelo Poder Judiciário, a jurisdicionalidade da medida, pode ser anterior ou posterior.
Ao receber o APF, o magistrado dispõe de três alternativas, conforme apregoa o artigo 310, do CPP, verbis:
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Veja-se que a lei autoriza expressamente que o magistrado faça a conversão, parecendo prescindir de
requerimento de quem quer que seja (Ministério Público ou Autoridade Policial).
Fazendo uma leitura rasa do dispositivo, a jurisprudência do STJ tem se consolidado no sentido de que o
magistrado pode, sim, convertê-la de ofício, conforme se vê abaixo:
"o Juiz, mesmo sem provocação da autoridade policial ou da acusação, ao receber o auto de
prisão em flagrante, poderá, quando presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo
Penal, converter a prisão em flagrante em preventiva, em cumprimento ao disposto no art. 310,
II, do mesmo Código, não havendo falar em nulidade (RHC n. 120.281/RO, Rel. Ministro Ribeiro
Dantas, 5ª T., DJe 15/05/2020).
A 2ª Turma do STF, no entanto, acolhendo a deliberação monocrática do Ministro Celso de Mello, destacou
a impossibilidade de prisão preventiva sem requerimento do MP ou da Polícia Judiciária, "tendo em vista as
inovações introduzidas nessa matéria pela recentíssima Lei nº 13.964/2019 (“Lei Anticrime”), que deu
particular destaque ao sistema acusatório adotado pela Constituição, negando ao Juiz competência para a
imposição, ex officio, dessa modalidade de privação cautelar da liberdade individual do cidadão (CPP, art.
282, §§ 2º e 4º, c/c art. 311)."
(...) ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, §§ 2º e 4º, e do art. 311, todos
do Código de Processo Penal, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem
o prévio “requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público” (grifei),
não mais sendo lícita, portanto, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação “ex officio”
do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, §§ 2º e 4º, e 311, do
mesmo estatuto processual penal, a significar que se tornou inviável, mesmo no contexto da
audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em
prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou
do assistente do MP. Magistério doutrinário. Jurisprudência.
A divergência foi instaurada, não se sabendo qual posicionamento irá se consolidar com o tempo.
Sim.
A análise do mérito recursal depende do preenchimento dos pressupostos recursais objetivos e subjetivos.
Dentre os primeiros (pressupostos objetivos), há o interesse recursal, que se verifica quando há
sucumbência, que por sua vez, consistente em obter com o processo o melhor resultado possível.
Pois bem. O fundamento da absolvição (artigo 386, CPP) pode ensejar diversas consequências na esfera cível,
impedindo, nalgumas situações, a pretensão reparatória.
Nesta ordem de ideias, é possível vislumbrar situação em que a alteração da fundamentação repercuta
positivamente na esfera individual do acusado, justificando, outrossim, a interposição de recurso, já que
caracterizada, indiscutivelmente, a sucumbência.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
Questão 1. Fulano, proprietário de uma editora local, dias antes da 1ª Parada Gay que ocorreria na cidade,
publicou um manifesto em face da Comunidade LGBTI+, afirmando que “os homossexuais e transgêneros
eram pessoas anormais e não poderiam conviver em sociedade’, além de incitar toda a população a
evitar qualquer contato com os referidos indivíduos, alertando que eram perigosos e portadores de
doenças contagiosas.
Em razão da publicação do referido manifesto, o Ministério Público apresentou denúncia em desfavor de
fulano, proprietário de uma editora pela prática do delito previsto no artigo 20, §2º da Lei 7.716/1989.
À luz da Lei 7.716/1989 e da jurisprudência do STF, redija um texto dissertativo sobre a situação hipotética
apresentada.
Comentários
A República Federativa Brasileira tem entre outros objetivos, o de promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, a teor do artigo
3º, IV, da CF/88.
Para garantir o direito individual fundamental à igualdade, previsto no artigo 5º, caput, da CF/88, e vedar o
tratamento discriminatório em razão da raça, o constituinte originário estabeleceu mandamentos
constitucionais de criminalização, previstos nos incisos XLI e XLII do artigo 5º da CF/88. Dessa forma, nasceu
a Lei 7.716/89 que define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.
A referida legislação tem finalidade proteger a dignidade da pessoa humana, garantindo o direito à igualdade
e tem como especial fim de agir o ato consistente de discriminar, segregar, dispensando tratamento desigual
e injusto a um grupo de pessoas em razão de sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Em razão da gravidade do delito, o constituinte originário, estipulou no art. 5º, XLII, da CF, que a prática do
racismo constitui crime e imprescritível e inafiançável, sujeito à pena de reclusão.
Nesse ponto, importante diferenciar o crime de racismo, previsto no artigo 20 da Lei 7.716/1989 e a injúria
racial tipificada no artigo 140, §3º do Código Penal.
Por outro lado, a injúria racial tutela a honra subjetiva da pessoa, é uma forma qualificada do crime de injúria,
previsto no §3º do artigo 140 do Código Penal. A conduta criminosa é dirigida à determinada pessoa e tem
por finalidade ofender a dignidade o decorro utilizando elementos referentes à raça, cor, etnia, origem ou
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Há discussão, é bom que se diga, sobre a prescritibilidade e fiançabilidade do crime de injúria racial, porém,
tanto o STJ (AREsp 686.965/DF) quanto o STF (Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 983.531, e
AG.REG. NO HABEAS CORPUS 142.583, ambos da 1ª Turma) já decidiram que o referido delito seria uma
espécie do crime de racismo e, portanto, também seria um crime imprescritível e inafiançável.
Assim, no caso hipotético citado no enunciado, observa-se que a conduta praticada por Fulano,
efetivamente, configura a forma qualificada do crime de racismo, prevista no §2º do artigo 20 da Lei
7.716/1989, uma vez que a conduta discriminatória dirigida aos homossexuais e transgêneros, integrantes
da Comunidade LGBTI+, foi praticada por meio de uma publicação.
Questão 2. José e João viajavam de carro de Itaobim/MG para São Paulo/SP. Ao transitarem pela BR-381,
município de Pouso Alegre/MG, o veículo deles foi parado por Policiais Rodoviários Federais. Os ocupantes
apresentaram nervosismo e como os policiais sentiram odor característico de droga vindo do interior,
resolveram revistar, no que encontraram 20 quilos de maconha nos pertences de João e 4 quilos de cocaína
nos pertences de José, motivo pelo qual ambos foram presos em flagrante.
Apenas com os dados apresentados, responda:
a) Caso sejam condenados por tráfico de drogas, incide a majorante do tráfico interestadual de drogas?
b) É cabível apresentação de denúncia face ao cometimento de associação para o tráfico em relação a José
e João?
c) Qual a justiça competente para processamento e julgamento do caso proposto?
O tráfico interestadual de drogas está previsto no art. 40, V, da Lei 11.343/06, que estabelece o seguinte:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
STJ, súmula n° 587: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente
a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
Assim, uma vez condenados por tráfico de drogas, incide, em relação a João e José, a majorante do tráfico
interestadual de drogas, devendo as reprimendas impostas a ambos serem exasperadas de 1/6 a 2/3, na
terceira fase da dosimetria da pena.
Outrossim, os elementos trazidos, até então, não permitem imputar a prática de crime de associação para o
tráfico a José e João.
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)
anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática
reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
Conquanto esteja demonstrada a prática de tráfico de drogas por duas pessoas, a questão não traz
elementos a demonstrar o estabelecimento de uma associação criminosa voltada ao tráfico, considerando
que esta demanda a demonstração de estabilidade e permanência do vínculo associativo (Informativo n°
429/STJ – HC 149330).
Drogas (tráfico ilícito). Associação para o tráfico (condenação). Mera eventualidade (caso).
1. O delito previsto no art. 35 da Lei nº 11.343/06 não se configura diante de associação eventual,
mas apenas quando estável e duradoura, não se confundindo com a simples coautoria.
Precedentes.
2. No caso dos autos, em nenhum momento foi feita referência ao vínculo associativo
permanente porventura existente entre os agentes, mas apenas àquele que gerou a acusação
pelo tráfico em si.
(HC 149.330/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe
28/06/2010)
Registro que, conforme jurisprudência do STJ, o delito de associação para o tráfico de drogas não tem índole
hedionda.
(AgRg no HC 485.529/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 12/03/2019,
DJe 18/03/2019)
Por fim, o caso deve ser julgado pela Justiça Estadual. Isso porque, conquanto o tráfico internacional de
drogas (art. 40, I, da Lei 11.343/06) seja de competência da Justiça Federal, o chamado tráfico interestadual
de drogas (art. 40, V, da Lei 11.343/06) é de competência da Justiça Estadual, eis que esta tem competência
residual e a competência da Justiça Federal é taxativamente elencada na Constituição.
Comentários
Não é imprescindível o estabelecimento de residência com ânimo definitivo para a configuração do domicílio
da circunscrição eleitoral.
Nessa ordem de ideias, em consonância com as decisões proferidas pelo Tribunal Superior Eleitoral no REspe
nº 8.551, de 08.04.2014, e no RO nº 060238825, de 04.10.2018, o conceito de domicílio eleitoral pode ser
demonstrado não só pela residência com ânimo definitivo, mas também pela constituição de vínculos
políticos, econômicos, sociais ou familiares, por força do art. 42, parágrafo único, do Código Eleitoral.
Comentários
É de atribuição da União exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões e espetáculos públicos
e de programas de rádio e televisão (art. 21, XVI, e art. 220, § 3º, da Constituição Federal).
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 2404/DF, enfatizou que a atuação da União possui caráter
indicativo, e não autorizativo ou compulsório. De outro lado, reconheceu que o “sistema de classificação
indicativa representa um ponto de equilíbrio que deve velar pela integridade das crianças e dos adolescentes,
sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão”.43
Considerando-se as particularidades inerentes ao grupo cujos direitos é tutelado, o art. 74, do Estatuto,
determina que o poder público, por meio do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada (art. 74, caput).
Observando-se o quadro normativo desenhado pelo Supremo Tribunal Federal, o Poder Público, em
específico, o Ministério da Justiça, editou a Portaria nº 1.189, de 03/08/2018, que “regulamenta o processo
de classificação indicativa de que tratam o art.74 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o art. 3º da Lei nº
10.359, de 27 de dezembro de 2001 e o art. 11 da Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011”.
Aludida Portaria implementa a política pública de classificação indicativa46, que leva em consideração o
avanço tecnológico na manifestação do pensamento vivenciado na atualidade47, bem como a determinação
43
Um dos Considerando da Portaria nº 1.189, de 2 de agosto de 2018, emitida pelo Ministério da Justiça.
44
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 580.
45
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 581.
46
Vide Guia Prático de Classificação Indicativa em https://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/guia-pratico/classind-
guia-pratico-de-audiovisual-3o-ed.pdf. Acesso em 1º/08/2020.
47
Por decisão da 6ª. Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª. Região, na Ação civil Pública nº 2001.38.00.039726-7, com trânsito
em julgado em 13.12.2012, fixou-se o entendimento de que a Administração Pública Federal tem o dever de regulamentar e
fiscalizar eficazmente a comercialização dos jogos de interpretação, estabelecendo-se critérios de classificação de acordo com a
faixa etária a que se destinam e o conteúdo das mensagens que veiculam.
de que toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como
adequados à sua faixa etária (art. 75, caput, do Estatuto).
O ECA tipifica como infração administrativa a conduta de transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo
sem aviso de sua classificação. Note-se que a expressão em horário diverso do autorizado, contida no tipo
infracional, foi declarada inconstitucional pelo STF na ADI 2.404.
Comentários
A questão já está pacificada, porém, durante muito tempo, houve uma discussão no Brasil acerca da
possibilidade de a ação civil pública, a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de determinado ato
normativo.
A doutrina e parte da jurisprudência, entendiam que permitir que se discutisse em sede de ação civil pública
a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo, por conta da previsão do art. 16
da ACP, importaria em eficácia erga omnes da sentença.
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova.
Nesse sentido, na visão de alguns, se o juiz da ação civil pública declarasse a inconstitucionalidade de uma
lei, a decisão seria oponível a todas as pessoas, dada a natureza erga omnes.
Isso implicaria, por via oblíqua, em usurpação da competência do STF, tendo em vista que no modelo
constitucional brasileiro, somente o STF tem, com base no art. 102 da CF, competência para declarar a
inconstitucionalidade de lei com eficácia erga omnes.
Este entendimento está superado, uma vez que qualquer ação judicial pode realizar o controle
constitucional de ato normativo.
A ACP, por sua vez, tem como causa de pedir a inconstitucionalidade, mas seu pedido é uma providência
concreta, de modo que não há pedido de controle abstrato de constitucionalidade, não usurpando, portanto,
competência do STF.
Questão 2. Discorra sobre a existência do meio ambiente e seu reflexo na prescrição da ação civil pública
que tutela direitos ambientais.
Comentários
Para a resposta desta questão, deve-se afirmar que a pretensão de reparação civil decorrente dos danos
ambientais é imprescritível.
O meio ambiente tem sua existência pré-social, isto significa que é um direito pré-humano, e, desta maneira,
a reparação por danos a ele causados deverá ser imprescritível, podendo o dano ambiental ser reparado a
qualquer tempo.
Nesse mesmo sentido, a jurisprudência do STF, em sede se repercussão geral, entende pela
imprescritibilidade.
(RE 654833, Relator: Min ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 20/04/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-157 DIVULG 23-06-2020 PUBLIC 24-
06-2020)
Comentários
Questão de conhecimento de legislação seca. Deve-se citar a lei e o artigo. Não deve ir além dos conceitos
previstos, pois a questão pede apenas a legislação federal.
Conceitos legais presentes no art. 3º da Lei n. 6.938/81 (PNMA). Poluição: degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente
a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Poluidor: pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Meio
ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora.
Questão 2. É possível, à luz da Constituição Federal de 1988, o ensino domiciliar no Brasil (homeschooling)?
Responda justificadamente em até 15 linhas.
Comentários
O ensino domiciliar é a prática por meio da qual os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente
assumem a obrigação pela sua escolarização formal e deixam de matriculá-las em instituições oficiais de
ensino. Assim, em vez de a criança ou do adolescente estudar em uma escola, estudará em sua própria casa,
tendo aulas e ensinamentos ministrados pelos pais ou por pessoas por eles escolhidas.
O homeschooling gera intensos debates. Para os defensores dessa modalidade de ensino, o Estado não deve
se imiscuir na decisão de como os pais optam por educar seus filhos, sendo que tal decisão deveria ser livre
de ingerências estatais. Por outro lado, sustenta-se que a convivência escolar é salutar ao crescimento e
desenvolvimento social de crianças e adolescentes, bem como que somente o ensino em instituições oficiais
poderia ser suficientemente regulamentado e fiscalizado, a fim de que garantir que os infantes tenham
acesso a uma educação de qualidade.
É importante ressaltar que o ensino domiciliar é gênero, que abrange quatro espécies: a) a desescolarização
radical; b) a desescolarização moderada; c) o ensino domiciliar puro; d) o homeschooling (ensino domiciliar
utilitarista ou por conveniência circunstancial).
O Ministro Alexandre de Moraes, no julgamento da controvérsia pelo STF, explicou que a CRFB/88 veda três
das quatro espécies mais conhecidas do ensino domiciliar: a desescolarização radical, a moderada e o ensino
domiciliar puro, pois elas afastam completamente o Estado do seu dever de participar da educação,
contrariando a Constituição de 1988.
De outra banda, conforme definiu o STF em sede de repercussão geral,48 a CRFB/88 não proíbe o
homeschooling em seu sentido de ensino domiciliar utilitarista ou por conveniência circunstancial. Essa
modalidade pode ser utilizada, desde que regulamentada por lei.
Nesse sentido, entendeu a Corte que a Constituição brasileira não proíbe, de forma absoluta, o ensino
domiciliar, apesar de não o permitir expressamente. Ao se analisar os dispositivos da Constituição Federal
que tratam sobre a família, criança, adolescente e jovem (arts. 226, 227 e 229) em conjunto com os que
tratam da educação (arts. 205, 206 e 208) não se encontra uma proibição dessa forma de educação.
Todavia, para que seja possível sua adoção, é necessária lei que o regulamente. Ou seja, o STF decidiu que o
ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma regulamentação por meio de lei na
qual sejam previstos mecanismos de avaliação e fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos
constitucionais, especialmente o art. 208, § 3º, da CRFB.
Art. 208, § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Nesse sentido, é necessário que a lei que venha a regulamentar o ensino domiciliar prescreva, dentre outros
pontos, o que será essa “frequência”.
Portanto, para o STF, o homeschooling (em sua acepção enquanto ensino domiciliar utilitarista ou por
conveniência circunstancial), não é vedado pela Constituição. Contudo, atualmente não é permitido por falta
48
STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/9/2018
(repercussão geral) (Info 915).
de regulamentação legal, fazendo-se necessário que o Congresso Nacional edite uma lei disciplinando o
tema, em conformidade com os dispositivos constitucionais relacionados com a educação.
Finalmente, se mesmo sem regulamentação legal, os pais adotarem o “homeschooling”, poderão ser
responsabilizados civil e até mesmo criminalmente, pois o ordenamento jurídico atualmente obriga que os
pais matriculem seus filhos menores nas escolas de educação formal.
Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício
do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
ECA
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-
lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações
judiciais.
(...)
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino.
(...)
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho
Tutelar os casos de:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;
(...)
Como o homeschooling atualmente não é permitido, os pais que o praticam podem até mesmo responder
pelo crime de abandono intelectual, tipificado no art. 246 do Código Penal:
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
PONTUAÇÃO
ABORDAGEM ESPERADA (ESTRATÉGIA)
MÁXIMA
Conceito de ensino domiciliar e suas espécies. 0,25
Exposição da divergência sobre o tema. 0,25
Exposição da diferença entre educação domiciliar e desescolarização. 0,25
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o
prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar. No entanto, o ensino domiciliar
1,0
não pode ser atualmente exercido porque não há legislação que regulamente os
preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino. RE 888815/RS
Consequências jurídicas da adoção do homeschooling sem previsão legal para tanto. 0,25
4 – PEÇA PRÁTICA
Como é do conhecimento geral o Município de Vespasiano e vários outros municípios da região
experimentaram uma grave infestação do mosquito transmissor da dengue - Aedes aegyptii.
Consta das informações carreadas pelos órgãos responsáveis pela Saúde Pública, Estadual e Municipal (GRS
– Gerência Regional de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde), através do Ofício Circular VE/VA/GRS-URA
nº. XXX/XX, que aproximadamente 20% (vinte por cento) dos imóveis da Cidade não foram regularmente
fiscalizados pelos Agentes de Saúde por estarem “fechados e sem moradores”.
A pendência relatada eqüivale a 22.310 (vinte e dois mil e trezentos e dez) unidades imobiliárias, número
muito elevado e preocupante, especialmente porque o Ministério da Saúde recomenda que as
“pendências”, em situações normais, fiquem abaixo de 10% (dez por cento), o que não é o nosso caso .
Dentre os domicílios fechados e sem morador, 2.940 (dois mil, novecentos e quarenta) imóveis são
“reincidentes”, ou seja, já foram visitados por mais de uma vez sem sucesso.
Como acentuado no documento em referência, o número de imóveis pendentes (fechados) é muito alto e a
falta de fiscalização correspondente – extremamente preocupante, notadamente pela chegada do período
chuvoso; ainda, pelo fato de que foram encontrados ovos do mosquito transmissor em 54% (cinqüenta e
quatro por cento) das armadilhas instaladas (Ovitrampas), totalizando 3.759 (três mil, setecentos e cinqüenta
e nove) ovos de Aedes aegyptii, dispersos em 57 (cinqüenta e sete) bairros do Município de Vespasiano
Embora o Município tenha se mobilizado, esteja tentando visitar 100% (cem por cento) dos logradouros
urbanos, como ajustado no TAC e preconizado no PNCD – Programa Nacional de Controle da Dengue, quase
20% (vinte por cento) dos imóveis estão ficando sem a INDISPENSÁVEL fiscalização sanitária, o que pode
inviabilizar a importante tarefa de prevenção.
Como se sabe, o mosquito transmissor da dengue -Aedes aegypti se reproduz com muita velocidade e,
mantidas as condições acima mencionadas, podemos sofrer novo quadro epidêmico com a agravante de
que, devidas as altas taxas de contaminação anterior, a doença possa desenvolver a sua forma
“hemorrágica”, muito mais grave e letal.
O trabalho de “resgate” vem sendo implementado basicamente aos sábados, no período da tarde e em
regime de hora extra, o que, salvo melhor juízo, é insuficiente. Diante disso, impõe-se o ajuizamento de
medidas de urgência em face do Município de Vespasiano, para que este promova, de imediato, a completa
fiscalização dos imóveis “pendentes”.
Para a consecução do intento acima, torna-se indispensável a prévia autorização judicial para respaldar o
ingresso dos Agentes Sanitários nos imóveis residenciais e não residenciais do Município de Vespasiano.
Por razões óbvias, o Ministério Público Estadual não busca autorização para acesso ao interior das residências
e estabelecimentos, mas, tão-somente, ao interior de quintais, pátios de empresas, clubes, áreas de uso
comum em condomínios etc.
A autorização judicial acima referida só poderá ser utilizada nas situações em que o Município já tenha
efetuado, no mínimo, duas visitas ao imóvel, devidamente registradas, com posterior remessa do documento
comprobatório aos autos.
O “ingresso forçado” deverá ser documentado, devendo, ainda, o Agente Sanitário ser acompanhado por
duas testemunhas maiores e capazes, preferencialmente da vizinhança, devidamente qualificadas.49
Na condição de Promotor de Justiça Substituto, considerando o cenário fático retratado, elabore a peça
judicial cabível, apresentando todos os aspectos de direito material e processual pertinentes ao caso.
Dispense o resumo dos fatos, não crie fatos novos e fundamente sua resposta, sempre que necessário, na
legislação e na jurisprudência do STJ e do STF.
EXMO. SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CÍVEL COMARCA DE VESPASIANO – ESTADO DE
MINAS GERAIS.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por intermédio da Promotoria de Defesa do Cidadão,
Especializadas nas áreas de Saúde e Meio Ambiente, com endereço na – Estado de Minas Gerais, com base
na documentação anexa, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA c/ PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face
do MUNICÍPIO DE VESPASIANO, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ sob nº. xxxxxx,
com endereço xxxxxxxx, Estado de Minas Gerais, representado pelo Prefeito Municipal, XXXX, que pode ser
encontrado no mesmo endereço, em razão dos fatos e fundamentos jurídicos adiante alinhados.
I - DOS FATOS
II - DO DIREITO
O direito à saúde vem preconizado na Constituição Federal, em seu artigo 196, que assim estabelece:
“A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
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Modelo de peça disponibilizado pelo MPMG e adaptado pela equipe para os moldes cobrados no concurso
https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/saude/material-de-apoio/area-juridica/banco-de-
peticoes/banco-de-peticoes.htm
“Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
[...]
A Lei Orgânica da Saúde nº. 8.080, de 19/09/90 (LOS), disciplina a política de saúde pública:
“Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício”.
“Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
[...]
O interesse individual da inviolabilidade do domicílio, também tutelado constitucionalmente no art. 5º, inciso
XI da CRFB/88, deve sucumbir diante do interesse coletivo, de prevenção e preservação saúde e da vida de
toda a comunidade, mesmo porque, como se sabe, não há hierarquia entre os vários princípios e garantias
insculpidos na Carta Magna, devendo prevalecer aquele que no caso concreto se apresente como
preponderante, senão vejamos:
“Os direitos fundamentais se interrelacionam mutuamente, sem que uns prevaleçam sobre os
outros. Sucede que, em determinadas circunstâncias, uns devem limitar-se de modo a
salvaguardar-se outros. É o que ocorre com a liberdade, quando confrontada com a necessidade
de proteção e defesa da saúde pública. Só assim é possível dar eficácia aos preceitos
constitucionais dos artigos 196, 197 e 200, II, da CRFB/88. Sendo a saúde direito de todos e dever
Como ficou assentado, em 4/10/1991, em documento assinado por algumas das mais expressivas
figuras do meio jurídico nacional, “a correta interpretação do artigo 197 do texto constitucional
implica o entendimento de ações e serviços de saúde como o conjunto de medidas dirigidas ao
enfrentamento das doenças e suas seqüelas pela atenção médica e curativa, bem como de seus
determinantes e condicionantes de ordem econômica e social”. (Plauto Faraco de Azevedo .
Controle Sanitário e Liberdade Individual In Programa Nacional de Controle da Dengue . Amparo
Legal à execução das Ações de Campo – publ. Ministério da Saúde/Funasa, 12/2002, pg. 33)
O fundamento da presente ação está relacionado com a preservação da saúde coletiva, portanto a
autorização pretendida não diz respeito a uma ou outra recusa específica, devendo ser, desse modo,
genérica, e englobar a totalidade dos imóveis pendentes de fiscalização, como acentuam Alexandre Borjes
Dornelles e outros:
“No caso do ingresso forçado em imóveis, havendo a opção de recorrer ao judiciário para a
obtenção de autorização o requerimento poderá ser genérico, englobando a totalidade dos
imóveis a vistoriar, já que a causa da medida é o combate generalizado a um risco à saúde pública,
e não qualquer circunstância ligada a um imóvel em particular. Embora a solicitação do mandado
judicial só se faça necessária nos casos de resistência física do indivíduo à ação estatal, não será
preciso que a autoridade comprove previamente a resistência do morador, pois a causa do
pedido não é a recusa, mas sim a necessidade de agir em favor da saúde pública”. Op. Cit. Pg. 15.
Nada obstante a existência de doutrina que entenda pela possibilidade do ingresso forçado em imóveis, em
caso de ameaça à saúde pública, independentemente de autorização judicial, entendemos prudente e mais
consentâneo com o Estado Democrático de Direito, submeter a questão em tela ao crivo do Poder Judiciário,
como sugere Maria Sylvia Zanella Di Pietro:
“É preciso ter sempre presente que, no exercício do poder de polícia, colocam-se em confronto
diversos interesses e direitos; de um lado, os direitos individuais do cidadão, cujo respeito pelo
Estado constitui interesse público dos mais relevantes; de outro lado, o direito à proteção da
saúde pública, que convive com outros interesses públicos, como a segurança pública. Para o
cidadão que não sente a presença de qualquer risco iminente à sua saúde, a segurança de seu
domicílio (mesmo sendo relativa) pode ser de valor maior diante da situação de perigo constante
que enfrenta hoje o povo brasileiro, especialmente em grandes cidades. Por isso, ressalvadas as
hipóteses absolutamente excepcionais de risco iminente, o caminho mais seguro para todas as
partes envolvidas e para a tutela de todos os interesses em jogo é o recurso à via judicial para
ingresso em residências sem a concordância do morador”. Op. Cit. 64.
Ademais, necessário registar que é de conhecimento público e notório os danos ocasionados pelo mosquito
e a competência estatal para o controle de epidemias, sendo essa uma das atuações estabelecidas para o
Sistema Único de Saúde - SUS. Além disso, o legislador criou uma lei específica que cuida das medidas de
vigilância em saúde a serem adotadas quando verificada situação de iminente perigo à saúde pública em
razão de epidemias causadas pelo mencionado mosquito, a Lei nº. 13.301/16, a qual permite expressamente
a entrada forçada.
Consoante preceituado no artigo 300 do CPC, “ a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.”
A prova inequívoca e a verossimilhança da alegação decorrem do documento subscrito pela GRS – Gerência
Regional de Saúde, Órgão Público Estadual responsável pelas questões ligadas diretamente à saúde pública
regional, afirmando a existência de cerca de 20% (vinte por cento de imóveis) pendentes de fiscalização
sanitária; o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, deflui óbvio do interesse jurídico
tratado na presente causa, qual seja, a preservação da vida e da saúde de toda a população local.
O Juiz pode (e deve), dependendo da situação reclamada, conceder tutela antecipatória mesmo contra o
Estado, inaudita altera parte, desde que preenchidos os requisitos legais. Tal entendimento é amplamente
aceito no TJMG, “Presentes os requisitos essenciais à concessão da antecipação dos efeitos da tutela, na
inteligência do artigo 300, do CPC/15, a manutenção da decisão é medida que se impõe. Em casos
excepcionais, aceita-se a concessão da antecipação de tutela sem a oitiva do poder público quando presentes
os requisitos legais para conceder medida liminar em Ação Civil Pública. Entendimento da c. Corte
Superior.”(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.20.559145-6/001, Relator(a): Des.(a) Armando Freire ,
1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/06/2021, publicação da súmula em 24/06/2021).
De outra banda, para a situação posta, é necessária a concessão de tutela inibitória, uma vez que, a vetusta
prática da tutela ressarcitória não encontra mais guarida no moderno processo para a defesa de interesses
tão importantes. Nessa esteira, os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni:
• Para o cabal cumprimento da medida acima requerida, seja o Município, desde logo, autorizado,
pelos meios que se fizerem necessários, a ingressar nos imóveis (residenciais ou não) para vistoriar
exclusivamente quintais, pátios, áreas de uso comum em condomínios, caixas d’ água, piscinas etc; ficando
claro, entretanto, que o agente sanitário não poderá, em hipótese alguma, adentrar à moradia propriamente
dita ou nas dependências da empresa que estiverem fechadas, sem prévia autorização do proprietário ou de
ordem judicial especifica, de tudo sendo informado nos autos, com relatório circunstanciado de cada
ocorrência;
• Seja oficiado o comando da Polícia Militar local para que forneça apoio, em caso de necessidade.
IV - DO PEDIDO FINAL.
O autor pretende provar o alegado por meio da documentação acostada aos autos de Procedimento
Administrativo nº XX/2021, das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde e do Ambiente, anexado,
contendo depoimento pessoal do requerido, prova testemunhal, pericial, documental, e todos os demais
meios em direito admitidos.
Requer, por fim, a citação do Município de Vespasiano, na pessoa de seu Prefeito Municipal, XXXX, para,
querendo, apresentar defesa que tiver, no prazo legal, sob pena de revelia e confissão.
P. deferimento
Vespasiano, data.