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Aula 06

Promotoria - Rodadas Regulares - 2022

Autor:
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Jurídicas

11 de Abril de 2022
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Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4

1.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................ 4

1.1.1 - A constitucionalidade da cota de tela nos cinemas brasileiros ............................................................................. 4

1.1.2 - O que são sentenças manipulativas? .................................................................................................................... 6

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 8

1.2.1 - Poder de Polícia ..................................................................................................................................................... 8

1.2.2 - Atos Administrativos .......................................................................................................................................... 13

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 19

1.3.1 - Entes despersonalizados ..................................................................................................................................... 19

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 21

1.4.1 - Ônus da prova no processo civil .......................................................................................................................... 21

1.4.2 - Da produção antecipada de provas ..................................................................................................................... 24

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 25

1.5.1 - Inexistência de bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa ..................................................... 25

1.5.2 - Reincidência e confissão espontânea – possibilidade de compensação ............................................................. 26

1.5.3 - Embriaguez ao Volante e Dolo Eventual ............................................................................................................. 28

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 28

1.6.1 - Soberania dos veredictos .................................................................................................................................... 28

1.6.2 - Pacote Anticrime: Cadeia de Custódia da Prova ................................................................................................. 32

1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 35

1.7.1 - Breves comentários sobre alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei n.° 13.869/2019): ...... 35

1.7.2 - Possibilidade ou não de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal aos casos de maus tratos a cães e
gatos. .............................................................................................................................................................................. 43

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 46

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1.8.1 - Sistemas Eleitorais ............................................................................................................................................... 46

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 47

1.9.1 - Doutrina da Proteção Integral ............................................................................................................................. 47

1.10 - Direito Tributário................................................................................................................................ 53

1.10.1 – Contribuição de Melhoria ................................................................................................................................. 53

1.11 - Direito Material Coletivo .................................................................................................................... 54

1.11.1 - Política Nacional do Meio Ambiente ................................................................................................................. 54

1.11.2 - A regra de competência no Código de Defesa do Consumidor ......................................................................... 63

1.12 - Direito Processual Coletivo................................................................................................................. 64

1.12.1 - Os direitos Coletivos no Código de Processo Civil ............................................................................................. 64

1.12.2 - A autocomposição no processo civil e coletivo e o Ministério Público ............................................................. 64

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 65

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 66

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 70

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 76

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 79

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 87

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 95

2.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 100

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 104

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................. 106

2.10 - Direito Tributário .............................................................................................................................. 108

2.11 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 109

2.12 - Direito Processual Coletivo............................................................................................................... 116

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3 - Questões Discursivas................................................................................................................................. 122

3.1 - Direito Constitucional ......................................................................................................................... 122

3.2 - Direito Administrativo ........................................................................................................................ 124

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 126

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 127

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 128

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 132

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 136

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 138

3.9 – Direito da Criança e do Adolescente ................................................................................................. 138

3.10 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 139

3.11 – Direito Processual Coletivo .............................................................................................................. 144

4 – Peça Prática .............................................................................................................................................. 146

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RODADA 06 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL

1.1.1 - A constitucionalidade da cota de tela nos cinemas brasileiros

Em 2001, a Medida Provisória 2.228-1, instituiu a obrigatoriedade, por um prazo de 20 anos, de os cinemas
no país exibirem filmes brasileiros, durante um número mínimo de dias por ano, conhecido como “cota de
tela”. Sendo inclusive instituída multa em razão do descumprimento.

Chegou ao STF o questionamento, por meio de Recurso Extraordinário se essa previsão violaria a Constituição
Federal, em especial os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, previstos no caput e no inciso IV
do art. 170.

O STF, em decisão com repercussão geral decidiu que a chamada cota de tela, ou seja, a obrigatoriedade
de que os cinemas brasileiros exibam filmes nacionais durante um número mínimo de dias por ano, não
viola a Constituição Federal.

O Supremo compreendeu que, como mercado audiovisual é muito concentrado, ou seja, dominado por
poucos e grandes grupos empresariais, estes determinam o que chega aos cinemas, dificultando a inserção
de obras que não fazem parte do mainstream, ou seja, da corrente dominante, sendo possível considera-los
uma espécie de oligopólio.

Ainda, a livre iniciativa deve se pautar na justiça social e com a função social da propriedade. O caput do art.
170 da CRFB assegura a livre iniciativa e por sua vez, o seu inciso IV garante a livre concorrência. Ambos,
devem ser lidos, interpretados e aplicados em conjunto com a “justiça social” e com a “função social da
propriedade”, também mencionadas no mesmo dispositivo.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

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No mesmo sentido, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é a garantia do


desenvolvimento nacional (art. 3º, II da CRFB), de forma que as liberdades econômicas devem ser
resguardadas, mas sempre em observância dos limites traçados pela própria Constituição Federal.

Cumpre ressaltar que a cota de tela possui tanto um propósito social e econômico, como um propósito
cultural.

Sob o aspecto social, ela se revela como uma das diversas medidas voltadas à
ampliação da competitividade entre as indústrias do setor. Já do ponto de vista
econômico, se mostra estratégica, uma vez que o domínio internacional na exibição
de filmes implica constante drenagem de recursos para fora do país.

Ademais, representa um importante mecanismo de fomento à cultura nacional, com relevante papel na
promoção da identidade cultural nacional, observando o disposto nos arts. 215, 216 e 261-A da
Constituição.

É importantíssimo observar que a proteção à cultura nacional é muito vasta. O constituinte além de apenas
resguardar as manifestações culturais nacionais, preocupou-se em promovê-las e difundi-las, tendo disposto
que o Estado garantiria a todos o acesso às fontes da cultura nacional e que a lei estabeleceria incentivos
para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.

Ainda, diante de sua relevância, seu quadro protetivo foi reforçado pela Emenda Constitucional 71/2012,
por meio da qual se instituiu verdadeira política de valorização e difusão das manifestações culturais, as quais
pretendeu universais, com reforço, inclusive, da atuação estatal, por meio do Sistema Nacional de Cultura,
em um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e
permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade.

A obrigatoriedade de exibição de obras cinematográficas brasileiras de longa-metragem, portanto, é encargo


que não atinge de modo desarrazoado as empresas proprietárias, locatárias ou arrendatárias de salas,
espaços ou locais de exibição pública comercial.

Dessa forma, por meio da técnica de ponderação de valores, é justificável a intervenção na esfera jurídica
dessas empresas para que outros preceitos de estatura constitucional sejam observados.

São constitucionais a cota de tela, consistente na obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais


nos cinemas brasileiros, e as sanções administrativas decorrentes de sua inobservância.

A denominada “cota de tela” promove intervenção voltada a viabilizar a efetivação do direito à


cultura, sem, por outro lado, atingir o núcleo dos direitos à livre iniciativa, à livre concorrência e
à propriedade privada, apenas adequando as liberdades econômicas à sua função social.

STF. Plenário. RE 627432/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/3/2021 (Repercussão Geral –
Tema 704) (Info 1010).

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1.1.2 - O que são sentenças manipulativas?

Outro tema aprofundado de Direito Constitucional que é importante saber para as provas de MP é a temática
das sentenças manipulativas.

As sentenças manipulativas estão inseridas no contexto dos limites da interpretação constitucional. É


necessário que se estabeleça parâmetros objetivos e critérios firmes de interpretação, para a garantia da
segurança jurídica.

Sabe-se que, na atividade jurisdicional, muitas vezes ocorre o fenômeno de criação judicial do direito, tendo
em vista que entre a declaração de nulidade absoluta total da lei ou ato normativo e o não conhecimento da
ação, preferem-se as decisões interpretativas com efeitos modificativos ou corretivos. Nesse sentido, o texto
constitucional deve servir como ponto de partida e também como limite para o exercício da interpretação
judicial.

Em tais hipóteses, o órgão jurisdicional adota uma postura legislativa, criando normas de caráter geral e
vinculante.

Nesse contexto, as decisões manipulativas, originárias da doutrina e jurisprudência italianas, são sentenças
em que a Corte Constitucional não se limita a declarar a inconstitucionalidade das normas que lhe são
submetidas, mas, atuando como legislador positivo, modifica/manipula diretamente o ordenamento
jurídico, adicionando-lhe ou substituindo-lhe normas, a pretexto ou com o propósito de adequá-lo à
Constituição.1

Há duas espécies de sentenças manipulativas: as aditivas e as substitutivas.

Aditivas

Sentenças
manipulativas

Substitutivas

Sentenças aditivas

Nas sentenças aditivas (sentenças manipulativas de efeito aditivo), a Corte Constitucional declara
inconstitucional certo dispositivo legal não pelo que ele expressa, mas pelo que ele omite, alargando o
texto da lei ou seu âmbito de incidência. A sentença aditiva é comumente justificada em razão da não

1
G. F. Mendes, I. M. Coelho, P. G. G. Branco, Curso de direito constitucional, 5. ed., p. 186.

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observância do princípio da isonomia, em casos que a lei concede certo benefício ou tratamento a
determinadas pessoas, mas exclui outras que deveriam se enquadrar na mesma situação.

Nessas hipóteses, a Corte Constitucional declara inconstitucional a norma na parte em que trata de forma
desigual os que são iguais, sem qualquer razoabilidade e/ou proporcionalidade que justifique tal escolha.
Assim, a decisão se mostra aditiva, porque cria uma norma para estender aos excluídos o benefício que a
norma originária não concedeu. Em outras palavras, a decisão alarga o âmbito normativo de um preceito,
declarando inconstitucional uma norma na parte que ela se omite injustificadamente.

Exemplos de sentenças aditivas:

• ADPF 54 (antecipação terapêutica do parto em casos de gravidez de feto anencefálico): nesta ADPF,
o STF, por maioria, conferiu interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 128 do CP,
acrescentando mais uma excludente de ilicitude ao crime de aborto, no caso de se tratar de gravidez
de feto anencefálico.
• MI 670/ES, MI 708/DF, MI 712/PA (direito de greve dos servidores públicos): o STF, ao julgar os
referidos mandados de injunção impetrados, conferiu direito de greve a todo servidor público,
aplicando-se, no que couber, a Lei n. 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de greve na
iniciativa privada.
• Pet 3.388 (demarcação Raposa Serra do Sol): o STF reconheceu o modelo contínuo de demarcação
da terra indígena e determinou diversas condições, a configurar verdadeira decisão aditiva.
• ADO 26 e MI 4.733 (criminalização da homotransfobia): nestas ações, o STF realizou o
enquadramento da homofobia e da transfobia como crimes de racismo. O Tribunal, por maioria,
reconheceu o estado de mora inconstitucional do Congresso Nacional na implementação da
prestação legislativa destinada a cumprir o mandado de incriminação a que se referem os incisos XLI
e XLII do art. 5º da Constituição, para efeito de proteção penal aos integrantes do grupo LGBT. Assim,
conferiu interpretação conforme à Constituição para enquadrar a homofobia e a transfobia, qualquer
que seja a forma de sua manifestação, nos diversos tipos penais definidos na Lei n. 7.716/89, até que
sobrevenha legislação autônoma, editada pelo Congresso Nacional, por considerar que as práticas
homotransfóbicas qualificam-se como espécies do gênero racismo, na dimensão de racismo social
consagrada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento plenário do HC 82.424/RS (caso Ellwanger),
na medida em que tais condutas importam em atos de segregação que inferiorizam membros
integrantes do grupo LGBT, em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero. Para
Pedro Lenza, trata-se de típico exemplo de sentença manipulativa aditiva.2

Sentenças substitutivas

2
LENZA, PEDRO. Direito Constitucional Esquematizado, 24. ed., p. 188.

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Por outro lado, nas sentenças substitutivas, a Corte não apenas anula a norma impugnada, como também
a substitui por outra, essencialmente diferente, criada pelo próprio tribunal, o que implica a produção
heterônoma de atos legislativos.

Citamos como exemplo a liminar concedida na ADI 2332 contra dispositivos da MP 2183-56. De acordo com
a decisão do STF, a limitação de 6% para ao ano para a taxa de juros compensatório viola o entendimento
adotado na Súmula 618 do STF, bem como o princípio constitucional do direito à justa indenização. Assim, a
taxa de juros de 6% ao ano foi declarada inconstitucional pelo STF e substituída pela de 12%. Ou seja, note
que o STF primeiramente declarou inconstitucional a taxa de juros estabelecida em lei e, em seguida, a
substituiu por outra taxa.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 - Poder de Polícia

Conceito e Comentários Iniciais

Pelo poder de polícia, a Administração Pública irá restringir o exercício de direitos individuais, com o intuito
de beneficiar toda a coletividade. “De um lado, o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos; de outro,
a Administração tem por incumbência condicionar o exercício daqueles direitos ao bem-estar coletivo, e ela
o faz usando de seu poder de polícia”

Este poder é fundamentado pelo Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.

Nos termos do art. 78 do Código de Tributário Nacional (CTN), considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos.

De acordo com o mesmo diploma legal (CTN), o poder de polícia é fato gerador das TAXAS.

Sentido Amplo e Sentido Estrito

A expressão poder de polícia pode ser entendida em dois sentidos, um amplo e outro estrito.

O primeiro refere-se à “atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade ajustando-as aos


interesses coletivos”. Portanto, abrange atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo.

O segundo refere-se às “intervenções, quer gerais e abstratas, como os regulamentos, quer concretas e
específicas do Poder Executivo, destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir e obstar ao desenvolvimento
de atividades particulares contrastantes com os interesses sociais” . Portanto, abrange atos do Poder
Executivo apenas.

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Diante disso, a edição de atos normativos pode decorrer do poder de polícia.

Polícia Administrativa e Polícia Judiciária

A polícia administrativa atua no âmbito administrativo, de maneira que se pode dizer ser o ilícito
administrativo. Diferente, a polícia judiciária atua quando o ilícito é penal. Ademais, aquela se rege pelo
direito administrativo, incidindo sobre bens, direitos ou atividades. Esta, por sua vez, rege-se pelo direito
processual penal, incidindo sobre pessoas.

Ainda, a polícia administrativa é exercida por vários órgãos da administração pública, como os vários órgãos
de fiscalização (os que atuam nas áreas da saúde, educação, trabalho e previdência). Diferente, a polícia
judiciária é privativa de corporações especializadas, isto é, típico da polícia civil e da polícia militar.

A polícia administrativa possui caráter eminentemente preventivo. Contudo, os agentes da polícia


administrativa também agem de forma repressiva, por exemplo, quando interditam um estabelecimento
comercial ou caçam a licença de um motorista.

A polícia judiciária, por sua vez, possui caráter eminentemente repressivo, uma vez que se destina à
responsabilizar penalmente o indivíduo. Contudo, eventualmente, a polícia judiciária pode atuar de forma
preventiva, no intuito de ver evitada a prática de delitos.

POLÍCIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA


Ilícito Administrativo Ilícito Penal
Exercida por vários órgãos Exercida por corporações especializadas
Objeto: Bens, direitos e atividades. Objeto: O indivíduo
Atuação, em regra, preventiva Atuação, em regra, repressiva.

Características

O Poder de Polícia possui DICA: o poder de polícia é Discricionário, como regra. É dotado de Imperatividade
ou Coercibilidade. Além de ter Autoexecutoriedade.

Perceba que, em regra, o poder de polícia possuirá uma discricionariedade, ou seja, certa margem de
liberdade de apreciação; haverá uma análise de oportunidade e conveniência nas escolhas do administrador
público. O ato da Autorização é o ato do poder de polícia discricionário.

Contudo, haverá momentos em que o poder de polícia poderá se concretizar de forma vinculada. Em outras
palavras, a lei prevê todos os requisitos necessários para a prática do ato, motivo pelo qual, caso o
administrado comprove os requisitos, a Administração é obrigada a praticar o ato.

A imperatividade ou coercibilidade é o atributo pelo qual o ato de polícia se impõe a terceiros, de forma
unilateral, independentemente de sua concordância. É o atributo que permite ao Poder Público impor
obrigações às pessoas. É chamado de “poder extroverso”. Contudo, haverá momentos em que os atos de
polícia não serão imperativos, pois dependerão da aceitação do particular. Nesse caso, configuram-se os atos
de consentimento, como as licenças, autorizações e permissões.

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A autoexecutoriedade é o atributo pelo qual o ato administrativo ocorrerá sem a autorização do Poder
Judiciário. Em outras palavras, o ato administrativo PRESCINDE (não precisa) da autorização do Poder
Judiciário. Contudo, observe que a autoexecutoriedade não está presente em todos os atos de polícia. Pode-
se dar como exemplo a cobrança de multa.

OBS:

1) A administração pública pode condicionar a liberação de veículo ao pagamento de multas de


trânsito vencidas.

2) Contudo, de outro lado, a autoexecutoriedade de certos atos de poder de polícia é limitada, não
sendo possível que a administração, por exemplo, condicione a liberação de veículo retido por
transporte irregular de passageiros ao pagamento de multa anteriormente imposta.

3) Diante do risco à saúde da população, as mercadorias com prazo de validade expirado poderão ser
imediatamente apreendidas, mesmo antes da abertura de processo administrativo e sem prévio
contraditório do proprietário do estabelecimento.

Poder de Polícia Originário e Poder de Polícia Derivado

O poder de polícia originário é aquele pertencente as pessoas políticas da federação, ou seja, pertencentes
à Administração Pública Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). “Trata-se aqui do poder de
polícia originário, que alcança, em sentido amplo, as leis e os atos administrativos provenientes de tais
pessoas”.

O poder de polícia derivado consiste no poder delegado às entidades da administração pública indireta
(Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista). Contudo, cumpre observar
que é indispensável, para a validade da delegação, que ela seja feita por meio de lei formal, isto é, expedida
pelo Poder Legislativo.

Atente-se que Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista, bem como a Fundação Pública de Direito
Privado exercem o poder de polícia simplesmente na modalidade fiscalizatória. Não cabe a estas entidades
exercer o poder de polícia na modalidade de criação das normas restritivas.

Portanto, observe que deve ser cumprido 3 requisitos:

1º) A pessoa jurídica deve integrar a Administração Pública Indireta.

2º) A competência delegada deve ter sido conferida por lei.

3º) O poder de polícia há de se restringir à pratica de atos fiscalizatórios, quando se tratar de pessoa jurídica
de direito privado.

Delegação do Poder de Polícia

O STF, em recente julgamento, no RE 633782, fixou a seguinte Tese de Repercussão Geral:

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É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.

Histórico das decisões de Poder de Polícia

1) STF - poder de polícia é indelegável a pessoas jurídicas privadas. (tese que hoje deve ser relida com o novo
julgamento. Trata-se de PJ de DP que não integram a AP)

2) STJ – Bloco de Polícia – Também trata-se de julgado que deve ser reinterpretado. Aplica-se o
entendimento fixado pelo STJ, nesse julgamento, apenas para pessoas jurídicas de direito privado não
integrantes da Administração Pública. A essas pessoas, continua sendo possível apenas a delegação das
atividades materiais do Poder de Polícia, como os atos de consentimentos e a fiscalização.

ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA APLICADA POR


SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE.

1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia, convém afastar a preliminar de conhecimento


levantada pela parte recorrida. Embora o fundamento da origem tenha sido a lei local, não há
dúvidas que a tese sustentada pelo recorrente em sede de especial (delegação de poder de
polícia) é retirada, quando o assunto é trânsito, dos dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro
arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 24), na medida em que estes artigos tratam da competência
dos órgãos de trânsito. O enfrentamento da tese pela instância ordinária também tem por
consequência o cumprimento do requisito do prequestionamento. 2. No que tange ao mérito,
convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia pode ser conceituado como o dever
estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A
controvérsia em debate é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no
caso, aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia mista). 3. As atividades que
envolvem a consecução do poder de polícia podem ser sumariamente divididas em quatro
grupo, a saber: (i) legislação, (ii) consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da
limitação do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, esses grupos ficam bem
definidos: o CTB estabelece normas genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional
de Habilitação (legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito
à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona aquele que
não guarda observância ao CTB (sanção). 5. Somente os atos relativos ao consentimento e à
fiscalização são delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de
coerção do Poder Público. 6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para
aumentar a arrecadação. 7. Recurso especial provido. (STJ, REsp 817534/MG, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, j. em 10.11..2009)

3) STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.

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Para entendermos a recente Tese de Repercussão Geral fixada pelo STF, é preciso entender as decisões do
STF acerca das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista

CR/88 – Estabelece o Regime de Direito Privado, parcialmente derrogado por normas de Direito Público –
art. 173, da CR/88

STF diferencia as EP e SEM prestadoras de serviço público e exploradoras de atividade econômica. De acordo
com o STF:

As empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, embora


sejam figuras jurídicas classificadas como pessoas de direito privado, possuem características que
identificam traços de natureza jurídica híbrida , que ora se aproximam do regime de direito
público, ora se afastam. A classificação, por conseguinte, dessas entidades como pessoas
jurídicas de direito privado, não possui o condão de dissocia-las, de modo absoluto, de
incidências do regime de direito público, em razão de sua atuação destinada à prestação de
serviços públicos.

Trata-se da “autarquização das empresas estatais prestadoras de serviço públicos” ou “ feições autárquicas”
(Gustavo Binenbojm)

Ex: as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e
de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.

Ex2: Equiparação dos Correios à Fazenda Pública

A indelegabilidade do Poder de Polícia à Pessoas Jurídicas de Direito Privado fundamenta-se em quatro


pilares argumentativos:

( i ) ausência de autorização constitucional;

( ii ) indispensabilidade da estabilidade do serviço público para o seu exercício;

(iii) impossibilidade de delegação da prerrogativa da coercibilidade, atributo intrínseco ao poder de


polícia, por ser atividade típica de Estado, e

(iv) incompatibilidade da função de polícia com finalidade lucrativa .

Conforme será visto, o STF afastou todos esses argumentos no que tange à Pessoas Jurídicas de Direito
Privado integrantes da Administração Pública, cujo capital social seja majoritariamente (ou integralmente)
público, que preste serviço público de natureza não-concorrencial. Vejamos:

( i ) ausência de autorização constitucional;

Não se sustenta a lógica da indelegabilidade por ausência de permissivo constitucional. É que o


regime jurídico híbrido das estatais prestadoras de serviço público em regime de monopólio é
plenamente compatível com a delegação, nos mesmos termos em que se admite a

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constitucionalidade do exercício delegado de atividade de polícia por entidades de regime


jurídico de direito público.

[...] tem-se como possível o exercício de uma função de Estado (poder de polícia) por uma pessoa
jurídica integrante da Administração Pública indireta prestadora de serviço público.

( ii ) indispensabilidade da estabilidade do serviço público para o seu exercício;

[...] vale lembrar que nem todos os servidores estatutários possuem estabilidade. Os ocupantes
de cargos em comissão não possuem tal garantia, sendo, inclusive, demissíveis ad nutum . Além
deles, os servidores em estágio probatório também não contam com a estabilidade até o término
do período de prova. Todavia, essas peculiaridades não deslegitimam a prática atos derivados do
poder de polícia.

(iii) impossibilidade de delegação da prerrogativa da coercibilidade, atributo intrínseco ao poder de polícia,


por ser atividade típica de Estado,

Em relação às estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e em regime


de monopólio, não há razão para o afastamento do atributo da coercibilidade inerente ao
exercício do poder de polícia, sob pena de esvaziamento da finalidade para a qual aquelas
entidades foram criadas.

(iv) incompatibilidade da função de polícia com finalidade lucrativa

as estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado não exploram atividade
econômica em regime de concorrência. A razão é óbvia: a atuação típica do Estado não se dirige
precipuamente ao lucro. É dizer, se a entidade exerce função pública típica, a obtenção de lucro
não é o seu fim principal.

A possibilidade de ocorrem abusos de poder no exercício do poder de polícia delegado. É certo


que eventuais abusos não decorrem, exclusivamente, da atuação de pessoas jurídicas de direito
privado, mas também de pessoas jurídicas de direito público. Fato é que os abusos devem ser,
constantemente, apurados e reprimidos pelo Estado, de modo a diminuir a sua incidência.

Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente
indelegável: a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de consentimento, de
fiscalização e de aplicação de sanções podem ser delegados a estatais que, à luz do entendimento
desta Corte, possam ter um regime jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.

1.2.2 - Atos Administrativos

Elementos ou Requisitos do Ato Administrativo

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São elementos ou requisitos do Ato Administrativo a competência (sujeito), objeto, motivo, finalidade e
forma. Para facilitar a memorização, pode-se dizer que os elementos ou requisitos do ato administrativo
formam o COMFiFo.

Competência

Objeto

Motivo

Finalidade

Forma

1 - Competência (sujeito)

1.1 - Conceito

É a atribuição conferida pela lei ao agente público. A competência, em direito administrativo, não se restringe
a capacidade civil. Esta é englobada pelo conceito de competência.

1.2 - Vícios

1.2.1 - Excesso de Poder

O agente público exorbita sua competência legal. O agente público tem a competência, mas ultrapassa os
limites desta.

É um vício sanável, no qual a autoridade superior pode/deve ratificar o ato.

OBS: Perceba que a autoridade competente ora pode, ora deve ratificar o ato com o vício de excesso de
poder. Perceba que, se o ato for vinculado e estando em conformidade com a lei, a autoridade competente
para a prática do ato DEVE ratificá-lo, afinal, é direito subjetivo do administrado a prática do ato vinculado,
caso cumpra os requisitos legais.

De outro lado, se o ato for discricionário, ainda que esteja em conformidade com a lei, a autoridade
competente PODE ratifica-lo, afinal, dependerá de uma análise de oportunidade e conveniência dessa
autoridade.

Por fim, observe que se a competência for exclusiva, haverá um ato com vício INSANÁVEL.

1.2.2 - Função de Fato

O ato é praticado por um agente público de fato, aquele que, por algum motivo, não pode exercer a função
pública ou houve um ingresso irregular no serviço público.

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Ex.: Servidor de férias, Aposentadoria, Servidor que está em um cargo que exigia concurso público, mas foi
provido por indicação.

O ato praticado pelo agente de fato reputa-se válido perante 3º de boa-fé. Isto se justifica pela Teoria da
Aparência. O agente público aparenta-se competente para a prática do ato.

1.2.3 - Usurpação de Função Pública

O ato é praticado por quem não é Agente Público, isto é, não está investido na função pública.

É um ato inexistente.

1.3 - Delegação e Avocação das Competências

A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, nos
termos do art. 11 da Lei nº 9784/99.

Em determinadas situações, a lei pode autorizar que um agente transfira a outro agente funções que lhe são
atribuídas. Em outras palavras, um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial. A isto se dá o nome de delegação de competência. Tudo isso previsto no art.
12 da Lei nº 9784/99.

Observe que a delegação não enseja, obrigatoriamente, a diferença hierárquica entre os agentes públicos.

O ato de delegação deve indicar a autoridade delegante, a autoridade delegada e as atribuições objeto da
delegação. Isso se extrai do art. 12, § único do Decreto-lei nº 200/67.

O ato de delegação não retira a atribuição da autoridade delegante, que continua competente
cumulativamente com a autoridade delegada para o exercício da função. Contudo, importante observar a
Súmula 510 do STF que assim afirma: “PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO EXERCÍCIO DE
COMPETÊNCIA DELEGADA, CONTRA ELA CABE O MANDADO DE SEGURANÇA OU A MEDIDA JUDICIAL.” A
Súmula do STF está de acordo com o art. 14, § 3º da Lei 9.784/99, ao dizer que o ato praticado considera-se
editado pelo delegado.

O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. O ato de delegação é revogável
a qualquer tempo pela autoridade delegante.

Por sua vez, a própria lei pode impedir que certas atribuições sejam delegadas a outros agentes. Essas são
chamadas de funções indelegáveis. A Lei nº 9784/99, que trata do processo administrativo federal, em seu
art. 13, veda a delegação quando se trata de:

a) atos de caráter normativo,


b) decisão de recurso administrativo;
c) matérias de competência exclusiva do órgão ou da autoridade.

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De outro lado, pode acontecer fenômeno inverso, ou seja, uma autoridade de hierarquia superior chamar
para si a competência. A isto se dá o nome de avocação de competência, previsto no art. 15 da Lei nº
9784/99.

Nos termos do art. 17 da Lei 9.784/99, inexistindo competência legal específica, o processo administrativo
deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir.

2 - Motivo

2.1 - Conceito: São as razões de fato e de direito que determinaram a prática do ato administrativo.

2.2 - Vícios: Há vício quando os motivos forem falsos ou inexistentes. É um vício insanável.

IMPORTANTE: Teoria dos Motivos Determinantes (surge no direito francês) – A validade do ato
se vincula aos motivos indicados como seu fundamento, de tal modo que, se inexistentes ou
falsos, implicam a sua nulidade.
Segundo José Santos Carvalho Filho , “a teoria dos motivos determinantes baseia-se no princípio
de que o motivo do ato administrativo deve sempre guardar compatibilidade com a situação de
fato que gerou a manifestação da vontade”.
Motivo e motivação são coisas distintas. Motivação é a exposição dos motivos, isto é, demonstrar
que os pressupostos de fato e de direito realmente existiram. O princípio da motivação implica
para a Administração o dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito
e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e
a providência tomada, nos casos em que este último aclaramento seja necessário para aferir-se
a consonância da conduta administrativa com a lei que lhe serviu de arrimo.
Via de regra, todos os atos administrativos devem ser motivados, sejam eles discricionários,
sejam eles vinculados, de acordo com o art. 50 da Lei nº 9784/99.
A nomeação e a exoneração de cargo em comissão não precisam ser motivadas, afinal, a
Constituição afirmou que é um cargo de livre nomeação e de livre exoneração. Contudo, caso o
administrador público motive a nomeação ou a exoneração, a motivação passa a integrar a
validade do ato administrativo, isto é, aplica-se a Teoria dos Motivos Determinantes.
A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de
concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas,
que, neste caso, serão parte integrante do ato. A doutrina administrativa chama essa situação de
MOTIVAÇÃO ALIUNDE, nos termos do art. 50, § 1º da Lei nº 9784/99. Ex.: Um parecer opina pela
possibilidade de prática de ato de demissão de servidor, ao demitir o servidor, a autoridade não
precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na fundamentação do ato
de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato opinativo.
Ainda, observe que a motivação deve ser prévia ou concomitante ao ato administrativo.
Entretanto, o STJ possibilita a motivação posterior do ato de remoção de servidor, desde que os
motivos sejam previamente existentes, idôneos e determinantes.
Motivo também é diferente de móvel. Este é a vontade interior do agente público que o levou a
praticar o ato administrativo. Observe que a teoria dos motivo determinantes não abarca o
móvel.
3 - Finalidade

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3.1 - Conceito: É o efeito jurídico MEDIATO que o ato produz. É o interesse público, a finalidade pública
que o ato administrativo deve alcançar.

3.2 - Vício: Desvio de finalidade: O agente público pratica um ato visando finalidade diversa da finalidade
descrita em lei. O agente pratica o ato visando interesse próprio ou interesse de pessoas próximas.

É ato de improbidade administrativa – art. 11 da Lei 8429/92

Não há desvio de finalidade culposa. Deve haver DOLO.

É um vício insanável.

OBS.:

• Ato Administrativo Anulável: É o ato inválido que possui um vício SANÁVEL


• Ato Administrativo Nulo: É o ato administrativo inválido que possui vício INSANÁVEL
• Ato Administrativo Inexistente: É o ato inválido que corresponde a condutas criminosas
Ante ao exposto, surgiram duas teorias sobre a invalidade dos atos administrativos, a teoria monista e a
dualista. A primeira propugna a existência de apenas atos nulos, não admitindo a convalidação de atos
administrativos. De outro lado, a teoria dualista, prevalecente no direito brasileiro, afirma a existência de
atos nulos e anuláveis, de maneira que estes admitem a convalidação.

Pode-se afirmar que o arts.2º e 3º da Lei 4717/65 e o art. 55 da Lei 9784/99 abarcaram expressamente a
teoria dualista no direito brasileiro.

Responsabilidade Estatal nas Relações de Custódia

As doutrinas que se ocupam do tema da responsabilidade civil extracontratual do Estado foram construídas
para lidar com as situações de sujeição geral dos administrados em relação ao Poder Público. Nesse prisma,
tais regras de responsabilidade servem como garantia aos administrados submetidos ao império estatal, ou
seja, é o contrapeso da supremacia geral que tem o Estado, no exercício do seu poder de polícia.

Casos há, todavia, em que o Estado mantém vínculos especiais com certas pessoas, tais como servidores
públicos, alunos de escolas públicas, presos mantidos em cadeias e penitenciárias etc. São relações de
supremacia especial, também chamadas de relações de custódia, submetidas a regime disciplinar mais
rigoroso e que, por consequência, devem seguir parâmetros distintos de responsabilidade por parte do
Estado.

Nessas vinculações diferenciadas, a responsabilidade do Estado é mais acentuada do que nas relações de
sujeição geral, à medida que o ente público tem o dever de garantir a integridade das pessoas e bens
custodiados. Por isso, a responsabilidade estatal é objetiva inclusive quanto a atos de terceiros. Os exemplos
mais comuns são: o preso morto na cadeia por outro detento; a criança vítima de briga dentro de escola
pública; bens privados danificados em galpão da Receita Federal. Em todas essas hipóteses, o Estado tem o
dever de indenizar a vítima do dano, mesmo que a conduta lesiva não tenha sido praticada por agente público.
Cabe, porém, advertir que a responsabilidade estatal é objetiva na modalidade do risco administrativo. De
acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, o preso que tenha se suicidado também ensejará a

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responsabilidade do Estado, em razão do risco ser inerente ao meio no qual o detento foi inserido pelo próprio
Estado.3

Assim, por exemplo, o preso assassinado na cadeia por outros detentos durante rebelião gera dever de o
Estado indenizar a família. Entretanto, se a morte teve causas naturais (força maior), não há dever de
indenizar. Quando ao fato de terceiro, não constitui excludente da responsabilidade nos casos de custódia,
em razão do mais acentuado dever de vigilância e de proteção atribuído ao Estado nessas relações de
sujeição especial.

Diante disso, importante é a leitura de recente julgado do STF sobre o tema:

Em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX, da CF, o
Estado é responsável pela morte de detento. Essa a conclusão do Plenário, que desproveu
recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade civil objetiva do Estado por morte de
preso em estabelecimento penitenciário. No caso, o falecimento ocorrera por asfixia mecânica,
e o Estado-Membro alegava que, havendo indícios de suicídio, não seria possível impor-lhe o
dever absoluto de guarda da integridade física de pessoa sob sua custódia. O Colegiado asseverou
que a responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas,
uma vez rejeitada a teoria do risco integral. Assim, a omissão do Estado reclama nexo de
causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nas hipóteses em que o Poder Público ostenta
o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. Além disso, é
dever do Estado e direito subjetivo do preso a execução da pena de forma humanizada,
garantindo-se-lhe os direitos fundamentais, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral. Esse dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto
inafastável para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal. Por essa razão, nas
situações em que não seja possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade. Afasta-se, assim,
a responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se a teoria do risco integral, ao arrepio
do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como homicídio,
suicídio, acidente ou morte natural, não sendo sempre possível ao Estado evitá-la, por mais que
adote as precauções exigíveis. Portanto, a responsabilidade civil estatal fica excluída nas
hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua atuação protetiva do
detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o resultado danoso. Na espécie,
entretanto, o tribunal “a quo” não assentara haver causa capaz de romper o nexo de causalidade
da omissão do Estado-Membro com o óbito. Correta, portanto, a decisão impositiva de
responsabilidade civil estatal. RE 841526/RS, rel. Min. Luiz Fux, 30.3.2016. (RE-841526)

3
STJ.AgRg no REsp 1.305.259-SC

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1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Entes despersonalizados

Conforme estudamos em rodadas anteriores, a personalidade é a aptidão de se deter o plexo de direitos


fundamentais e, ainda, no que toca à plena, a assunção de deveres e de direitos na ordem civil, com a
possibilidade de exercê-los – e de demandá-los.

Noutros termos, ser dotado de personalidade jurídica significa a concessão, pelo ordenamento jurídico, de
autorização genérica à prática de atos não vedados4.

Ulhoa Coelho, sobre o tema, disserta:

Personificados são os sujeitos de direito dotados de personalidade jurídica. Muitos autores


conceituam personalidade jurídica como a aptidão para titularizar direitos e obrigações (cf., por
todos, Pereira, 1961:198). Assim fazendo, tomam por equivalentes as categorias de pessoa e
sujeito de direito; não consideram, ademais, os entes despersonificados como espécie de sujeitos
de direito. A consequência é a desestruturação lógica do modelo de exame dos institutos
jurídicos aqui considerados. A aptidão para titularizar direitos e obrigações é atributo de todos
os sujeitos de direito e não somente dos dotados de personalidade jurídica. O conceito desta,
como ressaltado, é o de uma autorização genérica para a prática de atos e negócios jurídicos não
proibidos. Os sujeitos personificados são as pessoas, que podem ser naturais (também chamadas
“físicas”) ou jurídicas (“morais”). As pessoas naturais são sujeitos de direito humanos, e as
jurídicas, não humanos. Tanto umas quanto as outras, por serem personificadas, estão
autorizadas à prática dos atos e negócios jurídicos em geral. Podem fazer tudo o que quiserem,
desde que para elas não seja proibido5.

A lição acima colacionada, ao apontar o delineamento geral da personalidade civil, perpassa pelos chamados
entes despersonalizados, tipologia jurídica aplicável àqueles que, embora possuam existência no plano fático,
carecem de juridicização quando intentam expressar-se no plano do direito.

Assim, compreende-se que os entes despersonalizados não são dotados de autonomia e se confundem, de
resto, com aquele que intenta o exercício de atos na vida civil – seja pessoa jurídica, seja física. Atuam,
apenas, no exercício de atos inerentes à sua existência ou na hipótese de autorização expressa do
ordenamento jurídico.

4
Com exceção de determinados entes, como os públicos, cujo princípio da legalidade assume a feição administrativa, pelo que
apenas se permite a atuação nos limites da lei: a ausência de autorização expressa equivale à vedação.

5
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016.

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Embora haja doutrinadores que capitulam os nascituros como entes despersonalizados, a massiva academia
elenca, apenas, entidades não humanas como as despersonalizadas. Vejamos as suas categorias.

Por primeiro, tem-se o espólio. Com o falecimento da pessoa natural, seus bens constituirão universalidade
jurídica e se transmitirão automaticamente aos sucessores, ante a aplicação do princípio da saisine,
dependendo, entretanto, a efetiva alteração da titularidade, do procedimento de inventário (ou
adjudicação). Assim, a fim de se regerem a administração e a transmissão dos bens, o espólio terá a aptidão
de demandar e ser demandado, defendendo-se de credores e postulando a reunião de bens com pretensão
resistida. O espólio é representado pelo inventariante.

A família é, também, ente despersonalizado. É constituída por meio do casamento, da união estável, de
entidade monoparental ou de qualquer outra origem (atipicidade da tipologia de família). É considerada a
base da sociedade (art. 226 da CF) e não é dotada de legitimidade para demandar ou ser demandada.

A massa falida consiste no acervo patrimonial deixado pela entidade com falência decretada e é considerada
ente despersonalizado. Assim como o espólio, possibilita-se à massa a aptidão de demandar e ser
demandada no plano processual, sendo representada pelo administrador judicial. Ainda, há a prerrogativa
de efetuar contratações necessárias à salvaguarda do acervo, a exemplo do seguro.

Também é despersonalizada a sociedade de fato, consistentes em agrupamentos comerciais que não


possuem contrato social ou mesmo a união de pessoas impedidas de casar ou de constituir união estável,
configurando o concubinato.

Distinta da sociedade de fato é a irregular, a qual possui ato constitutivo, porém não registrado. É
considerada, pelo Código Civil, sociedade em comum (art. 986).

Por fim, o condomínio edilício, consistente no espaço de utilização coletiva com comunhão dominial,
geralmente nas dependências internas de fruição comum em unidades habitacionais ou comerciais
aglutinadas.

Pelo interesse mútuo na administração do espaço comum, por parte de proprietários e de locatários, o
ordenamento jurídico prevê a possibilidade de o condomínio demandar e ser demandado, inclusive quanto
à responsabilização civil.

Para Ulhoa,

A administração desses interesses comuns é feita por um sujeito de direito despersonificado não
humano, chamado condomínio edilício ou de edificação. Ele está autorizado a praticar os atos de
contratação de empregados, aquisição de material de limpeza, proceder ao rateio das despesas
condominiais etc. Além disso, o condomínio pode ser responsabilizado por atos culposos ou
dolosos dos empregados, titularizar crédito perante o condômino inadimplente e ser devedor
dos tributos incidentes sobre as áreas comuns e das taxas não discriminadas por unidade

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(normalmente, o fornecimento de água, recolhimento do lixo e outras). O representante do


condomínio chama-se síndico.6

Há, entretanto, divergência quanto à (des)personalização do condomínio. Isso porque, ante a amplitude da
atuação do condomínio do campo social, bem como em decorrência de sua inscrição em cadastro nacional
de pessoas jurídicas, parcela doutrinária arrola o edilício como ente com personalidade jurídica.

Por este motivo, o enunciado 90, com a modificação do 246, ambos de Jornada de Direito Civil, prevê que
deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício.

Ainda, a reforçar a personalização do condomínio edilício, a Lei nº 13.777/2018, ao regulamentar a chamada


multipropriedade, previu que o ente poderá, inclusive, adjudicar unidades em caso de inadimplemento
social. Veja-se, no art. 1.358-S do Código Civil:

Art. 1.358-S. Na hipótese de inadimplemento, por parte do multiproprietário, da obrigação de


custeio das despesas ordinárias ou extraordinárias, é cabível, na forma da lei processual civil, a
adjudicação ao condomínio edilício da fração de tempo correspondente.

Em arremate, pontue-se que, a par da dicotomia personificação-despersonificação, há doutrinadores que


compreendem o condomínio edilício como pessoa jurídica especial: não reúne todas as prerrogativas das
tipificadas expressamente no rol do art. 44 do Código Civil, mas recebem, do ordenamento jurídico,
atribuições que o assentam na condição de quase pessoa jurídica.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - Ônus da prova no processo civil

O desenvolvimento válido e regular do processo permite que o bem da vida litigado receba a definição
jurisdicional. A determinação da parte vencedora, entretanto, exige mais do que a regularidade
procedimental: as alegações deduzidas deverão se embasar em elementos probatórios que amparem a
pretensão.

A busca da verdade processualmente possível perpassa pela atribuição de cargas probatórias às partes, para
que embasem as alegações veiculadas – sejam petitórias, sejam defensivas. Essa determinação (a quem será
incumbida a carga) é o objeto da distribuição do ônus da prova.

Interessante distinção doutrinária acerca do tema refere-se ao ônus da prova como regra de julgamento
(objetivo) e como regra de instrução (subjetivo).

6
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016. p. 103/104.

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O ônus da prova atuará como regra de julgamento (objetivo) quando o juiz, no deslinde do processo, verificar
que a carência da prova produzida é insuficiente à determinação da parte vencedora. Neste caso, deverá ser
identificado o litigante a quem se atribuiu o ônus da prova como regra de instrução (subjetivo) e, assim, a
carência probatória militará contra ele. Trata-se de decorrência lógica da impossibilidade de o juiz se furtar
ao julgamento da lide (vedação do non liquet).

No ponto, precisas as lições de Marcus Vinicius Rios Gonçalves:

Do ponto de vista objetivo, elas são regras de julgamento, dirigidas ao juiz da causa, que devem
orientá-lo ao proferir sentença, na hipótese de os fatos não terem ficado suficientemente
esclarecidos. Não devem ser utilizadas em qualquer circunstância, mas apenas na de terem sido
esgotadas as possibilidades de elucidação dos fatos controvertidos. Ao aplicá-las, o juiz imporá
àquele que tinha o ônus de provar as consequências negativas da insuficiência ou falta de provas.
Como decorrência do aspecto objetivo, deflui o subjetivo. A lei, ao estabelecer quem sofrerá as
consequências negativas decorrentes da falta de provas, norteará os litigantes a respeito daquilo
que compete a cada um deles demonstrar. Quando o art. 373 estabelece que cumpre ao autor a
prova dos fatos constitutivos de seu direito, diz, ao mesmo tempo, ao juiz e ao autor, quem
sofrerá as consequências negativas da falta de prova desses fatos. O juiz as aplicará ao proferir o
julgamento; e o autor se orientará, no curso do processo, sobretudo na fase instrutória, com a
consciência de que cabe a ele essa prova. Os aspectos objetivo e subjetivo do ônus da prova são
indissociáveis: ao indicar como o juiz deverá se orientar no julgamento, em caso de falta de
provas, a lei também indica como cada uma das partes deve comportar-se a respeito da
instrução. Os ônus da prova, conquanto regras de julgamento, interessam diretamente às partes,
que sofrerão as consequências negativas ou positivas da sua distribuição7.

No STJ, nota-se a vedação à distribuição do ônus da prova como regra de julgamento, em decorrência da
potencial violação à ampla defesa e ao contraditório. Assim, deve haver a explicitação do ônus da prova por
ocasião do despacho saneador (art. 357, III). Veja-se:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INVERSÃO DO ÔNUS


DA PROVA. REGRA DE INSTRUÇÃO. ACÓRDÃO QUE SE ALINHA COM O POSICIONAMENTO DO STJ.
PRECEDENTE. 1. Ao contrário do que alega o recorrente, a redação do despacho saneador foi
suficientemente clara ao apontar a distribuição do ônus probatório, de modo que a inversão foi
feita como regra de instrução e não de julgamento, nos termos do que admite a jurisprudência
desta Corte Superior. Precedente. 2. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ - AgInt nos
EDcl no AgInt no AREsp: 1169963 ES 2017/0223121-8, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
Data de Julgamento: 21/03/2019, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/03/2019)

7
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 756/757.

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Dispõe o Código de Processo Civil, em seu art. 373 que: o ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao
fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.

É esta, pois, a regra básica de distribuição da carga probatória: a prova da alegação cabe a quem a faz. Assim,
ao autor incumbe o fato constitutivo da sua pretensão, ao passo que o demandado arcará com o fato que
evidencia a resistência à pretensão, por impedir, modificar ou extinguir o direito do autor.

Trata-se, a referida regra, da distribuição estática do ônus da prova. Isso porque o Código tipifica a
distribuição e fixa, assim, esta sistemática como a regra geral.

Entretanto, a Codificação de 2015 estabeleceu as chamadas cargas processuais dinâmicas; isto é, alterou a
sistemática estanque, para que, em casos específicos, haja variedade distributiva no âmbito da prova.

Essa a ratio do art. 373, em seu § 1º: nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Por isso, nos casos em que a lei determinar, ou quando houver
dificuldade ou impossibilidade à parte que originariamente estaria incumbida de produzir a prova (regra
estática), pelas peculiaridades da ação, ou mesmo acaso haja maior facilidade probatória à parte adversa,
competirá ao juízo a inversão do ônus da prova, com a abertura de oportunidade àquele que recebe a carga
de se desincumbir do ônus.

A inversão legal do ônus da prova é verificada, no geral, nas hipóteses em que há presunção de assimetria
na relação jurídica, como no caso do consumidor. No Código de Defesa do consumidor, citem-se, como
exemplos de inversão legal, os seguintes casos: é ônus do fornecedor provar que não colocou o produto no
mercado, que ele não é defeituoso ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros pelos danos
gerados; é ônus do fornecedor provar que o serviço não é defeituoso ou que há culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro nos danos gerados; e é ônus do fornecedor provar a veracidade e correção da
informação ou comunicação publicitária que patrocina.

A linha protetiva também ilumina as demandas ambientais, conforme a súmula 618 do STJ: a inversão do
ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

Na redistribuição judicial, consagra-se a regra de equidade pela qual a parte que reúne a melhor condição
para produzir a prova é a que deverá arcar com o encargo. O sistema, na incidência do referido parágrafo,
passa a ser flexível.

Ainda sobre a distribuição dinâmica, vale ressaltar que a decisão que a estipula pode gerar situação em que
a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil (§ 2º). Exemplo de prova
impossível – ou excessivamente difícil – é a convenção de prova negativa genérica.

A par da regra estática e da distribuição dinâmica judicial, há, ainda, a possibilidade de distribuição diversa
do ônus da prova, que pode ocorrer por convenção das partes. Neste caso, a convenção processual típica,
que pode ocorrer antes ou depois de aforada a demanda, é vedada quando recair sobre direito indisponível
da parte; ou tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito (§ 3º).

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1.4.2 - Da produção antecipada de provas

Trata-se de instrumento processual que se destina à antecipação da produção de determinada prova. Sua
natureza jurídica é de ação autônoma, com essência preparatória ou mesmo incidental, desenvolvida em
procedimento de jurisdição voluntária – a litigiosidade meritória é vedada por disposição legal (art. 382, §
4º, do CPC).

A produção antecipada de provas constitui expressão da efetividade e do acesso à jurisdição. Determinados


fatos, por peculiaridades da causa ou da fonte probatória, reclamam a produção imediata da prova, sob pena
de perecimento do meio probatório ou mesmo do próprio direito.

Vale ressaltar que o modelo adotado pelo Código Adjetivo atual é amplo no que toca ao fundamento da
produção prematura. Isto é, não se fundamenta, apenas, na cautela, como, também, na viabilização de
autocomposição ou mesmo no interesse no ajuizamento de demanda de cognição exauriente.

Confira-se, no ponto, as hipóteses de cabimento da ação de produção antecipada de prova:

Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:

I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos
fatos na pendência da ação;

II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado
de solução de conflito;

III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.

Há, ainda, a quarta hipótese de cabimento, prevista no § 1º do dispositivo: o arrolamento de bens observará
o disposto nesta Seção quando tiver por finalidade apenas a realização de documentação e não a prática de
atos de apreensão.

Com isso, nota-se que o inciso I idealiza a ideia de urgência, ao passo que os demais incisos podem, ou não,
conviver com a urgência, mas a transcendem para elementos outros de interesse do jurisdicionado –
inclusive na pacificação social, expressado pela possibilidade de se evitar o ajuizamento de ação.

Desta forma, perde a ação de produção de provas a necessariedade da demonstração do periculum in mora.

Quanto à competência, a ação será ajuizada no foro em que a prova deva ser produzida ou no domicílio do
réu. Em qualquer caso, a produção antecipada da prova não previne a competência do juízo para a ação que
venha a ser proposta (§ 3º).

Ainda, em interessante (e muito cobrada em provas) exceção à cognição federal para temas afetos à União
e suas entidades, dispõe o Código que o juízo estadual tem competência para produção antecipada de prova
requerida em face da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal se, na localidade, não
houver vara federal (§ 4º).

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O objeto da demanda não encontra restrições legais, respeitadas as hipóteses de cabimento. Assim, poderão
ser antecipados, a título de exemplo, o depoimento pessoal da parte, a prova testemunhal, a prova pericial,
a inspeção judicial, dentre outras.

A ação de produção de provas se iniciará por petição em que o autor (que poderá ser o réu da demanda de
conhecimento, quando incidental) indicará a justificativa (interesse) no meio utilizado. Também haverá a
indicação precisa dos fatos sobre os quais a prova recairá.

Aforada a demanda, o juiz deverá proceder ao início da produção de provas, se for o caso, e citar os
interessados, para que se cientifiquem e acompanhem a produção. Se não houver litigiosidade (isto é, sem
caráter contencioso), o Código dispensa a comunicação.

Havendo, porém, a citação, os interessados poderão requerer a produção de qualquer prova no mesmo
procedimento, desde que relacionada ao mesmo fato, salvo se a sua produção conjunta acarretar excessiva
demora (art. 382, § 3º). A cumulação de meios de prova constitui interessante solução legal que preza pela
efetividade da jurisdição, já que, em processo iniciado por uma parte, poderá haver a produção de provas
correlatas pelos demais interessados, em um único procedimento.

Como já destacado, não há liberdade dialética no procedimento. Dispõe o Código que neste procedimento,
não se admitirá defesa ou recurso, salvo contra decisão que indeferir totalmente a produção da prova
pleiteada pelo requerente originário (§ 4º). Deve-se assimilar a exceção ao meio recursivo, já que sua
incidência em provas é reiterada.

No que toca à teoria da cognição, tem-se que o juiz se absterá de pronunciar a ocorrência ou a inocorrência
do fato cuja prova se refere, tampouco acerca das consequências jurídicas do fato em si. É, pois, repercussão
direta da inexistência de litigiosidade da demanda – embora a prova possa se destinar a processo
contencioso, futuro ou em curso.

Ao final do processo, produzida e homologada a prova, os autos permanecerão em cartório por um mês.
Neste período, os interessados poderão tomar cópias e certidões sobre o seu conteúdo. Findo o prazo, serão
os autos encaminhados ao autor e aos interessados que hajam postulado a produção de provas distintas da
que inicialmente justificou o ajuizamento da demanda.

Por fim, saliente-se que não há prazo para o ajuizamento da ação principal, na qual a prova produzida
antecipadamente poderá ser ajuizada.

1.5 - DIREITO PENAL

1.5.1 - Inexistência de bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa

Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
penais distintos e autônomos, são independentes e a comprovação de um deles não pressupõe a do outro.
(STJ)

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O crime de corrupção passiva é previsto no art. 317 do Código Penal, e consiste em solicitar ou receber, para
si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.

Surge a dúvida, no entanto, quanto à necessidade da existência de um corruptor para que se configure o
crime do art. 317.

A corrupção ativa é crime, previsto no art. 333 do Código Penal (Oferecer ou prometer vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício). Pode-se, no entanto,
afirmar que é condição indispensável para a existência da prática do crime de corrupção passiva pelo
funcionário público?

Prevalece na jurisprudência do STF e do STJ a inexistência de bilateralidade entre os crimes de corrupção


passiva e ativa, pois, de regra, tais comportamentos delitivos, "por estarem previstos em tipos penais
distintos e autônomos, são independentes, de modo que a comprovação de um deles não pressupõe a do
outro" (RHC 52.465/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2014, Dje
31/10/2014).

No mesmo sentido:

O Tribunal a quo absolveu os acusados, em razão da atipicidade da conduta, por entender que o
crime de corrupção passiva, na modalidade receber vantagem indevida, é delito bilateral, que
exige corruptor (particular) e corrompido (funcionário público) e, no presente caso, não há o
corruptor. Ocorre que a jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que eventual
bilateralidade das condutas de corrupção passiva e ativa é apenas fático-jurídica, não se
estendendo ao plano processual, visto que a investigação de cada fato terá o seu curso, com os
percalços inerentes a cada procedimento, sendo que para a condenação do autor de corrupção
passiva é desnecessária a identificação ou mesmo a condenação do corruptor ativo (AgRg no
REsp 1613927/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em
20/09/2016, DJe 30/09/2016).

1.5.2 - Reincidência e confissão espontânea – possibilidade de compensação

Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior – CP, art. 63.

Podem-se apontar os seguintes efeitos penais decorrentes da reincidência:

a) Agrava a pena privativa de liberdade (art. 61, I, CP).

b) Constitui circunstância preponderante no concurso de agravantes (art. 67 do CP).

c) Impede a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos quando houver reincidência
em crime doloso (art. 44, II, CP).

d) Impede a substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa (art. 60, §2o, CP).

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e) Impede a concessão de sursis quando por crime doloso (art. 77, I, CP).

f) Aumenta o prazo de cumprimento de pena para obtenção do livramento condicional (art. 83, II, CP).

g) Impede o livramento condicional nos crimes previstos na Lei de Crimes Hediondos, quando se tratar de
reincidência específica (art. 83, V, CP).

h) Interrompe a prescrição da pretensão executória (art. 117, VI, CP).

i) Aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória (art. 110 CP).

j) Revoga o sursis, obrigatoriamente, em caso de condenação em crime doloso (art. 81, I, CP), e
facultativamente, no caso de condenação, por crime culposo ou contravenção, a pena privativa de liberdade
ou restritiva de direitos (art. 81, §1o, CP). k) Revoga o livramento condicional, obrigatoriamente, em caso de
condenação a pena privativa de liberdade (art. 86 CP), e facultativamente, no caso de condenação por crime
ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade (art. 87 CP). l) Revoga a reabilitação quando o
agente for condenado a pena que não seja de multa (art. 95 CP).

m) Impede a incidência de algumas causas de diminuição de pena (arts. 155, §1o; e171, §1o, CP).

n) obriga o agente a iniciar o cumprimento da pena de reclusão em regime fechado (art. 33, §2o, “b” CP).

o) obriga o agente a iniciar o cumprimento da pena de detenção em regime semiaberto (art. 33, 2a parte,
§2o, “c”, CP).

No que toca à fração de aumento pela reincidência, o Código Penal não estabelece limites mínimo e máximo
de aumento ou diminuição da pena em razão de circunstâncias agravantes ou atenuantes, cabendo ao
magistrado fixar o patamar necessário dentro de parâmetros razoáveis e proporcionais. Nesse contexto,
predomina no STJ o entendimento de que o aumento da pena em patamar superior a 1/6, em virtude da
incidência de circunstância agravante, demanda fundamentação concreta e específica para justificar o
incremento em maior extensão.

Resulta imperativo considerar o entendimento firmado no julgamento do HC n. 365.963/SP, oportunidade


em que a Terceira Seção do STJ pacificou entendimento no sentido de que a reincidência, seja ela específica
ou não, deve ser compensada integralmente com a atenuante da confissão, demonstrando, assim, que não
foi ofertado maior desvalor à conduta do réu que ostente outra condenação pelo mesmo delito.

Referido julgamento assentou-se na premissa de que o réu, mesmo ostentando condenação anterior por
delito idêntico, não merece maior reprovabilidade na sua conduta, haja vista que, após a reforma da Parte
Geral do Código Penal, operada em 11/7/1984, não há mais distinção entre os efeitos da reincidência
genérica e específica, sendo inadmissível que o aplicador da lei assim o proceda, sob pena de ofensa aos
princípios da legalidade e da proporcionalidade.

No julgamento do HC 617.049/SP (Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2020),
alinhado à jurisprudência que se firmou no STJ, concluiu-se que a reincidência específica, justamente por não
possuir maior desvalor no confronto com a atenuante da confissão espontânea, também não pode ensejar
maior incremento da pena quando incidir, de forma isolada, na segunda fase da dosimetria.

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1.5.3 - Embriaguez ao Volante e Dolo Eventual

De início, pontua-se que considerar que a embriaguez ao volante, de per si, já configuraria a existência de
dolo eventual equivale admitir que todo e qualquer indivíduo que venha a conduzir veículo automotor em
via pública com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool responderá por
homicídio doloso, ao causar, por violação a regra de trânsito, a morte de alguém.

Não se descura que a embriaguez ao volante é circunstância negativa que deve contribuir para a análise do
elemento anímico que move o agente. Todavia, não é a melhor solução estabelecer-se, como premissa
aplicável a qualquer caso relativo a delito viário, no qual o condutor esteja sob efeito de bebida alcóolica,
que a presença do dolo eventual é o elemento subjetivo ínsito ao comportamento, a ponto de determinar
que o agente seja submetido a Júri Popular mesmo que não se indiquem quaisquer outras circunstâncias que
confiram lastro à ilação de que o acusado anuiu ao resultado lesivo.

Diferente seria a conclusão se, por exemplo, estivesse o condutor do automóvel dirigindo em velocidade
muito acima do permitido, ou fazendo, propopitalmente, zigue-zague na pista, ou fazendo sucessivas
ultrapassagens perigosas, ou desrespeitando semáforos com sinal vermelho, postando seu veículo em rota
de colisão com os demais apenas para assustá-los, ou passando por outros automóveis "tirando fino" e
freando logo em seguida etc. Enfim, situações que permitissem ao menos suscitar a possível presença de um
estado anímico compatível com o de quem anui com o resultado morte. Assim, não se afigura razoável
atribuir a mesma reprovação a quem ingere uma dose de bebida alcoólica e em seguida dirige em veículo
automotor, comparativamente àquele que, após embriagar-se completamente, conduz automóvel na via.

Neste sentido, o STJ firmou a interpretação de que a embriaguez do agente condutor do automóvel, por si
só, não pode servir de premissa bastante para a afirmação do dolo eventual em acidente de trânsito com
resultado morte. (REsp 1.689.173-SC)

1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - Soberania dos veredictos

O Tribunal do Júri tem assento constitucional, conforme artigo 5º, XXXVIII. Dado o seu posicionamento
topográfico, possível perceber que se trata de direito e garantia fundamental, e, inclusive, gravado como
cláusula pétrea.

Dessa ilação é possível extrair importantes conclusões, sendo a principal delas, o fato de que o Tribunal, com
a conformação que lhe deu o constituinte de 1988, é direito fundamental e não pode ser suprimido, ou ter
a sua estrutura alterada, com a finalidade de modificar aquela matriz.

Assim, a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida constituem alicerce estrutural do júri, sobre o qual é edificado
o procedimento previsto no Digesto Processual Penal.

O tema júri contem tantas particularidades, que seria suficiente à redação de várias rodadas, porém nesta
falaremos em especial da soberania dos veredictos.

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O procedimento do júri compreende duas fases. A primeira, sumário da culpa, funciona como um filtro, a
fim de avaliar a pertinência da acusação formulada pelo Ministério Público, para, em sendo o caso, submeter
o acusado a julgamento em plenário, sendo esta a segunda fase, juízo da causa.

Ultrapassada a primeira fase, juiz e serventia trabalham juntos para a preparação do processo para
julgamento: despacha processo, intima testemunhas, sorteia jurados, pauta julgamento etc.

Assim o faz, mediante impulso (as partes apresentam o rol de testemunha e requerem diligências, na forma
do artigo 422, do CPP) e acompanhamento das partes (as partes acompanham, por exemplo, a elaboração
da lista e o sorteio de jurados), incluindo o Ministério Público, que assume, no júri, um protagonismo ímpar
dentro do processo penal.

Uma vez em plenário, o feito é instruído, as partes debatem, e, ao final, o feito é submetido ao escrutínio
dos jurados, que respondem individualmente (os jurados são mantidos incomunicáveis) aos questionamento
formulados pelo magistrado de modo objetivo (os quesitos), com a colocação de cédulas opacas contendo
as palavras SIM ou NÃO em urnas. Com o veredicto em mãos, o juiz profere decisão, guiando-se pelo que foi
deliberado pelos jurados.

A quesitação é feita de acordo com a ordem proposta pelo artigo 483, do CPP, assim sintetizado:

a) materialidade:

No dia X fora efetuados disparos de arma de fogo, que alvejaram a vítima Mévio?

Esses disparos foram a causa da morte da vítima Mévio?

b) autoria:

O réu Tício foi o autor dos disparos que vitimaram Y?

c) o acusado deve ser absolvido?

O jurado absolve o réu Tício?

d) causas de diminuição e aumento de pena (e qualificadoras)

O réu Tício agiu impelido por relevante valor social, consistente em matar a vítima Mévio, por ser ela a
traidora da pátria?

O réu tício empregou veneno para a execução do homicídio?

A partir das diretrizes propostas pelos jurados, o juiz profere a sua decisão e fixa a pena, levando em
consideração, por exemplo, as qualificadoras, causas de diminuição etc reconhecidas pelos jurados, e aos
quais fica adstrito o magistrado.

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Nota-se que os jurados são chamados a decidir questões de fato (se o crime aconteceu, se o réu é o autor
do crime, se houve emprego de veneno etc), enquanto que o juiz delibera sobre questões técnicas
(reconhecida a qualificadora, a pena sai do patamar de 6 a 20 anos, para 12 a 30 anos etc).

Frise-se que, mesmo que os jurados reconheçam em seu veredicto algo absurdo, não pode o juiz
simplesmente ignorar essa decisão, por entendê-la manifestamente contrária à prova dos autos.

Vamos citar alguns exemplos:

a) marido mata a esposa, com que ele coabita. Essa circunstância atrai indubitavelmente a incidência do
inciso VI, do §2º, do artigo 121, do CP (feminicídio), mas há de ser quesitada. Se os jurados, a despeito da
objetividade do quesito, afastarem-no, não há como o juiz valorá-lo ao fazer a dosagem da pena.

b) inimputabilidade. Embora se trate de uma avaliação técnica e mesmo existindo um laudo psiquiátrico,
elaborado por médico oficial em incidente de sanidade mental, a circunstância há que ser quesitada. Se os
jurados a desconsiderarem, não podendo o juiz ignorar essa decisão.

Tudo isso é reflexo da soberania dos veredictos. O que é decidido pelos jurados não pode ser alterado, pelo
magistrado.

Significa que isso ficará insindicável? Óbvio que não. A decisão poderá ser questionada, por meio de recurso
de apelação, que caso provido submeterá o réu a novo julgamento, por outro conselho de sentença.

É o que diz o CPP:

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

III- das decisões do Tribunal do Júri, quando:

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

§ 3oSe a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que
a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para
sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.

Sublinhe-se que o Tribunal não pode simplesmente incluir ou decotar uma qualificadora, pois nesse caso
estaria atacando essa soberania.

O STJ tem farta jurisprudência nesse sentido, conforme se vê abaixo:

Uma vez reconhecido pelo Tribunal, em recurso de apelação, que a qualificadora do meio cruel
foi indevidamente reconhecida pelo Tribunal do Júri, competia-lhe determinar a realização de
novo julgamento, pois não lhe é franqueado decotar da condenação a referida qualificadora, em
respeito à soberania dos veredictos (Precedentes).

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(AgRg no REsp 1657757/MT, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 14/05/2019, DJe 24/05/2019)

Se o Tribunal entende que há dúvida sobre a existência da qualificadora reconhecida pelo


Conselho de Sentença, outra alternativa não tem senão submeter o acusado a novo julgamento,
com fundamento no art. 593, III, d, e § 3º, do CPP, sendo inadmissível apenas o decote da
qualificadora, com o ajuste da pena. Precedentes.

(REsp 1577374/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
28/06/2016, DJe 01/08/2016)

STJ, jurisprudência em teses:

Viola o princípio da soberania dos veredictos a anulação parcial de decisão proferida pelo
Conselho de Sentença acerca da qualificadora sem submissão do réu a novo júri.

Importante frisar, ainda, que os limites do julgamento são postos na decisão de pronúncia ou no acórdão
que a substitui, não podendo ser discutido em plenário nenhuma circunstância que não tenha sido albergada
nessa deliberação judicial. É o que se extrai da locução “reconhecidas na pronúncia ou em decisões
posteriores que julgam admissível a acusação”, condida no inciso V, do artigo 483, do CPP.

Outro registro importante é no que diz respeito à revisão criminal. Trata-se, a revisão, de ação autônoma de
impugnação, prevista nos artigos 621 e seguintes, do CPP. Ela é admitida, dentre outras, quando a sentença
condenatória foi contrária à evidência dos autos.

Em casos que tais, o Tribunal, ao apreciar a ação proposta, pode tocar a soberania dos veredictos, a fim de
corrigir eventual injustiça.

Mire no fato de que a revisão somente é admitida pro reo, não podendo, pois, piorar a situação do acusado,
sendo lícito que o Tribunal altere o julgado, pois não pode um equívoco se perpetuar no tempo.

Eis como se posicionam os Tribunais superiores:

STJ, jurisprudência em teses:

A soberania do veredicto do Tribunal do Júri não impede a desconstituição da decisão por meio
de revisão criminal.

O Tribunal de segunda instância, ao julgar a ação de revisão criminal, dispõe de competência


plena para formular tanto o juízo rescindente (judicium rescindens), que viabiliza a
desconstituição da autoridade da coisa julgada penal mediante invalidação da condenação
criminal, quanto o juízo rescisório (judicium rescissorium), que legitima o reexame do mérito da
causa e autoriza, ate mesmo, quando for o caso, a prolação de provimento absolutório, ainda
que se trate de decisão emanada do juri, pois a soberania do veredicto do conselho de sentença,
que representa garantia fundamental do acusado, não pode, ela própria, constituir paradoxal
obstáculo a restauração da liberdade jurídica do condenado.

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[ARE 674.151, rel. min. Celso de Mello, dec. monocrática, j. 15-10-2013, DJE de 18- 10-2013.]

1.6.2 - Pacote Anticrime: Cadeia de Custódia da Prova

A cadeia de custódia da prova (evidence chain of custody) se trata de mecanismo que visa garantir a
autenticidade das evidências coletadas e examinadas, assegurando que elas correspondam ao caso
investigado, a fim de evitar qualquer tipo de adulteração8. O que se busca, por meio da cadeia de custódia,
é manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.

Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima9, “funciona, pois, como a documentação formal de um
procedimento destinado a manter e documentar a história cronológica de uma evidência, evitando-se, assim,
eventuais interferências internas e externas capazes de colocar em dúvida o resultado da atividade
probatória. (...) A cadeia de custódia tem início no exato momento em que a evidência é apreendida e se
encerra tão somente com o fim do processo penal. Visa assegurar a idoneidade dos objetos e bens
apreendidos, de modo a evitar qualquer tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho percorrido durante
a investigação criminal e subsequente processo criminal”.

Em decorrência das diversas mudanças trazidas pelo Pacote Anticrime, o tema foi incluído expressamente
no Código de Processo Penal por meio de alguns dispositivos legais (artigos 158-A a 158-F), que tratam
especialmente das regras técnicas relacionadas ao tratamento dos vestígios, suprindo, assim, a lacuna legal
que havia sobre a matéria.

Em síntese, verifica-se que foram detalhadas as etapas de rastreamento do vestígio (reconhecimento,


isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte, recebimento, processamento, armazenamento
e descarte), bem como o sujeito preferencial para coletá-lo (perito oficial).

Também foram inseridas disposições acerca do lugar para onde deve ser encaminhado o vestígio (central de
custódia), ressaltando-se a proibição legal de interferência na cena do crime antes que haja a sua liberação
por parte do perito, tipificando tal conduta como fraude processual.

Por fim, os novos artigos também disciplinaram que os vestígios devem ser acondicionados com lacres e
numeração individualizada, para garantir sua inviolabilidade e idoneidade.

Princípios que Fundamentam a Cadeia de Custódia da Prova

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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.

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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.

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Geraldo Prado10 menciona 2 princípios que fundamentam a cadeia de custódia da prova: o da “mesmidade”
e o da “desconfiança.

Em relação ao princípio da “mesmidade”, o doutrinador aduz, citando Urazán Bautista, que a “cadeia de
custódia fundamenta-se no princípio universal de “autenticidade da prova”, definido como “lei da
mesmidade”, isto é, o princípio pelo qual se determina que o “mesmo” que se encontrou na cena do crime
é o “mesmo” que se está utilizando para tomar a decisão judicial”. Ou seja, entende-se por “mesmidade” a
garantia de que a prova valorada é exatamente e integralmente aquela que foi colhida, correspondendo,
portanto, “à mesma”.

Por outro lado, de acordo com o princípio da “desconfiança”, o elemento de prova (documento, DNA, áudio,
etc.) deve ser submetido a um procedimento de “acreditação”, a fim de demonstrar que tal objeto
corresponde àquilo que a parte alega ser, sem estar revestido de um valor probatório a priori, uma vez que
não há uma confiança preestabelecida, de modo que o mero objeto ou documento, em si mesmo, não seria
uma informação relevante o suficiente.

E quais as consequências da quebra da cadeia de custódia?

Quanto às consequências da quebra da cadeia de custódia (break on the chain of custody), importante
destacar que, em que pese tenham sido inseridos os dispositivos anteriormente mencionados ao Código de
Processo Penal, a lei ainda foi silente quanto aos efeitos da não preservação da cadeia de custódia, ou seja,
não há indicação do momento processual apropriado para o exame da regularidade ou irregularidade da
cadeia de custódia, nem mesmo há explicitação quanto às consequências de sua quebra11.

O que se pode afirmar, é que existem divergências no âmbito doutrinário.

De acordo com uma primeira corrente (constituída por autores como Renato Brasileiro de Lima, Geraldo
Prado e Aury Lopes Júnior), tal violação resultaria na ilicitude da prova e, consequentemente, na sua
inadmissibilidade e exclusão dos autos, assim como das demais provas dela decorrentes (provas ilícitas por
derivação), conforme artigo 157, caput e § 1º do CPP.

Por outro lado, de acordo com uma segunda corrente (adotada por Deltan M. Dallagnol, Juliana de Azevedo
Santa Rosa Câmara e Gustavo Badaró), a violação da cadeia de custódia ensejaria apenas uma atribuição de
menor peso (ou valor) à prova, não havendo que se falar em ilicitude da prova e sua exclusão dos autos. Em
síntese, de acordo com esse posicionamento, a quebra da cadeia de custódia deve ser resolvida no âmbito
da valoração da prova.

10
A cadeia de custódia da prova no processo penal. São Paulo: Marcial Pons, 2019.

11
MATIDA, Jainaina. A cadeia de custódia é condição necessária para a redução dos riscos de condenações de inocentes. Disponível
em: https://ibccrim.org.br/publicacoes/edicoes/51/441. Acesso em: 11.11.2020

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Sobre o assunto, importante destacar que a 6ª Turma do STJ, no julgamento do caso envolvendo a “Operação
Negócio da China” (HC nº 160.662/RJ), decidiu pela ilicitude das provas produzidas nas interceptações
telefônica e telemática, tendo em vista a ausência de salvaguarda da integralidade no material colhido na
investigação (quebra da cadeia de custódia), determinando seu desentranhamento dos autos, bem como de
eventual prova ilícita por derivação.

Mais recentemente, após o tema ter sido inserido no Código de Processo Penal, o STJ já se pronunciou,
tecendo considerações relevantes sobre a matéria. Veja-se:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, I, CP). NULIDADES. [...] ILEGALIDADE
DO LAUDO PERICIAL. EXAME REALIZADO EM CORPO QUE NÃO SERIA DA VÍTIMA. QUEBRA DA
CADEIA DE CUSTÓDIA. DIVERGÊNCIAS NA COR DA PELE E TEMPO DE MORTE. NECESSIDADE DE
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. ORDEM DENEGADA. (...) 2. Com relação à ilegalidade
referente à cadeia de custódia do material genético enviado para exame de DNA, tem-se que,
apesar de o ofício ter sido elaborado de maneira concisa, sem indicação de número do pacote,
não restou comprovada a quebra da cadeia de custódia, uma vez que a simples concisão do
ofício e a ausência de indicação do número do pacote não são suficientes para reconhecer a
ilegalidade. [...].

(Habeas Corpus nº 574.103-MG, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T, j. 04/08/2020)

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO COM


DIMINUIÇÃO DE PENA. ART. 121, § 1º, DO CÓDIGO PENAL [...]. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA.
PRECLUSÃO. ART. 571, I E V, DO CPP. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Esta Corte já se
pronunciou no sentido de que, nos processos de competência do Tribunal do Júri, eventuais
nulidades ocorridas durante a instrução, devem ser arguidas por ocasião das alegações finais,
nos termos da previsão contida no art. 571, I, do Código de Processo Penal. Do que consta dos
autos, verifica-se que a questão está prejudicada em razão da preclusão, tendo em vista que a
defesa não se insurgiu, no momento oportuno, acerca da pretensa nulidade durante o curso do
processo (AgRg no RHC 112.655/PE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe
14/5/2020). 2. Mesmo que a defesa somente tenha tomado conhecimento da quebra da cadeia
de custódia após a sentença de pronúncia, incide a preclusão, pois a nulidade não foi arguida
logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art. 571, V, do CPP). 3. Agravo
regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1837921/RS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 30/09/2020)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA. NÃO


OCORRÊNCIA. LAUDO PERICIAL REALIZADO. MATERIALIDADE DO DELITO DEMONSTRADA.
AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS. DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
PREMATURO TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 4. O
instituto da quebra da cadeia de custódia diz respeito à idoneidade do caminho que deve ser
percorrido pela prova até sua análise pelo magistrado, sendo certo que qualquer interferência
durante o trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade. Tem como objetivo
garantir a todos os acusados o devido processo legal e os recursos a ele inerentes, como a

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ampla defesa, o contraditório e principalmente o direito à prova lícita. 5. In casu, embora tenha
inicialmente sido dispensada a realização de laudo pericial das drogas apreendidas e
determinada a sua incineração, antes da destruição das drogas, foi constatada a necessidade da
retirada de amostragem para posterior confecção de laudo pericial definitivo, o que,
efetivamente, foi realizado e o laudo foi devidamente juntado aos autos. Tal situação não induz
à imprestabilidade da prova, não passando de mera conjectura a afirmação de que há dúvidas
sobre se a droga pertence mesmo ao processo no qual o paciente figura como réu. [...]

(AgRg no HC 615.321/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em


03/11/2020, DJe 12/11/2020)

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Breves comentários sobre alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade
(Lei n.° 13.869/2019):

Nesta oportunidade faremos uma breve análise de alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade.
Fica a dica: a Lei é nova, poucos casos chegaram aos Tribunais (muito menos STJ ou STF) para que fosse
formada jurisprudência sobre algum tema polêmico. Assim, para o concurso público, leia a Lei Seca. Leia o
tipo penal e suas classificações (sujeito ativo, passivo, objetividade jurídica etc.). Não é o objetivo deste
escrito se aprofundar em cada um dos tipos. A ideia é simplesmente fazer com que você, concurseiro(a)
estrategista, leia o artigo que prevê a conduta criminosa e se atente para algum aspecto interessante sobre,
num breve comentário.

As condutas típicas estão previstas do art. 9º ao art. 38 da Lei.

Lembramos que na Rodada n.º 05 traçamos considerações gerais sobre a Lei, tornando possível o estudo
sequenciado da matéria. Agora, avancemos às figuras típicas:

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as


hipóteses legais:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável,
deixar de:

I – relaxar a prisão manifestamente ilegal;

II – substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade


provisória, quando manifestamente cabível;

III – deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.

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O caput do artigo contém como núcleo do tipo o verbo “decretar” em sentido amplo devendo também ser
compreendido como “determinar”, “ordenar”, “decidir”. Nesse sentido, o sujeito ativo desse crime não é
apenas a autoridade judiciária, mas também pode ser cometido por todo funcionário público que possa
determinar medida privativa de liberdade individual, como um Delegado de Polícia, Policiais Militares ou
Civis e até mesmo um Oficial de Justiça. Ainda, por “medida de privação de liberdade” entende-se tanto
prisões cautelares, prisão definitiva e até mesmo a prisão civil. O momento consumativo desse delito ocorre
no momento da determinação, independentemente da efetiva privação da liberdade da vítima
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 50/51).

Já o parágrafo único do dispositivo traz a figura equiparada, que somente pode ser praticada pela autoridade
judiciária. Nesse caso “em se tratando de crime omissivo próprio, não admitirá a figura do conatus”
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 51).

Salienta-se que no caso do ordenamento de apreensão ou não relaxamento da apreensão ilegal de menor
==10be0c==

de idade, os crimes pelos quais o agente responderá seriam aqueles previstos no art. 230 e 234, do Estatuto
da Criança e do Adolescente12, respectivamente.

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente


descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 11. (VETADO).

Esse tipo penal surgiu por força do episódio ocorrido na Operação Lava Jato, quando da condução coercitiva
do ex-presidente da República que, mesmo não tendo sido notificado anteriormente para o ato processual,
teve a medida extrema de condução coercitiva decretada contra si.

O Código de Processo Penal prevê variadas possibilidades de condução coercitiva, em seus artigos 201, §1º
(vítima)13, 260 (acusado)14, 218 (testemunha)15 e 278 (perito)16. Contudo, o tipo penal em estudo pune a

12 Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou
inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma
pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais. [...] Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: Pena - detenção de seis
meses a dois anos.
13 Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu

autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. § 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo
justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.
14 Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser
realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos
mencionados no art.352, no que Ihe for aplicável.
15
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial
a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
16
Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.

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atitude do agente público legitimado a decretar a condução coercitiva apenas de testemunha ou investigado
e em duas situações específicas: quando a medida for manifestamente descabida e quando não tenha havido
prévia intimação de comparecimento ao juízo.

Com relação ao sujeito ativo do crime, tem-se que no caso de ausência de intimação prévia para o
comparecimento em juízo, esse somente pode ser praticado pela autoridade judicial. Já na possibilidade de
a condução coercitiva ocorrer mesmo sendo manifestamente descabida, o crime poderá ser praticado não
apenas por juízes, mas também por qualquer outra autoridade que possa determinar a condução. A título
de exemplo cita-se: autoridade policial, membros da comissão parlamentar de inquéritos e os membros do
Ministério Público (nesse último caso deverão ser observadas as previsões da Lei n.º 8.625/93, notadamente
em seu art. 26, inc. I, alínea “a”17).

Frisa-se que a consumação do delito ocorre com a decretação da condução coercitiva, não sendo necessária
a sua efetivação.

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no


prazo legal:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I – deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à


autoridade judiciária que a decretou;

II – deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra


à sua família ou à pessoa por ela indicada;

III – deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada
pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;

IV – prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão


preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e
excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover
a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal.

O tipo penal agora analisado divide-se na conduta típica e figuras equiparadas. A conduta típica prevista no
caput só pode ser praticada pela autoridade policial, sendo que o prazo legal mencionado na norma está
previsto no art. 306 do Código de Processo Penal:

17
Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos
pertinentes e, para instruí-los: a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado,
requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;

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Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por
ele indicada.

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

Ou seja, a norma do art. 10 da Lei de Abuso de Autoridade é norma penal em branco de caráter homogêneo
e heterovitelina, que encontra seu complemento no artigo acima transcrito.

Importante asseverar que, no caso de autoridade policial comunicar uma prisão em flagrante a um juiz
sabidamente incompetente, restará configurado o delito em estudo (PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p.
55).

O parágrafo único do dispositivo apresenta um rol de condutas equiparadas a do caput. No caso dos incisos
I, II e III, o sujeito passivo será a autoridade responsável pela prisão; e na hipótese do inciso IV, “poderá ser
praticado por qualquer autoridade que seja responsável pela custódia do preso ou internado, considerando
que o inciso também se refere à hipótese em que há medida de segurança detentiva” (PONTOCARRERO e
FERREIRA, 2020, p. 55).

Frisa-se que as condutas previstas nos incisos I e II se consumarão quando da omissão dos agentes mesmo
já tendo oportunidade de realizar as condutas. O crime do inciso III trata-se de crime a prazo, que somente
se consumará depois de transcorridas as 24 horas de prisão. Por fim, o delito do inciso IV se consumará
quando esgotar o prazo da prisão temporária, medida de segurança ou internação e mesmo com o prazo
exaurido, as medidas perdurarem. Nesse caso, o crime continuará se consumando por todo o tempo que
durar a ilegalidade com a manutenção das medidas.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua
capacidade de resistência, a:

I – exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II – submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III – produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência.

Art. 14. (VETADO).

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Trata-se de regra especial e deve prevalecer sobre a regra geral prevista no art. 14618 do Código Penal, que
prevê o delito de constrangimento ilegal.

O delito em comento pode ser praticado por qualquer autoridade (definidas no art. 2º da Lei de Abuso de
Autoridade19) que tenha ascendência sobre o preso, sendo que a consumação do delito ocorre no momento
em que um dos resultados dispostos nos incisos do artigo tenha se efetivado.

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório:

I – de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou

II – de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono.

Para a configuração do delito o mal prometido deve ser a prisão, tendo sua consumação efetivada quando a
vítima realiza a conduta a que foi constrangida. Assim, na hipótese de a vítima não realizar a ação a que foi
constrangida, por circunstâncias alheias à vontade do agente, restará configurada a tentativa delitiva.

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua captura
ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si
mesmo falsa identidade, cargo ou função.

Art. 17. (VETADO).

18
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
19
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território,
compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder
Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros
dos tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.

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A obrigatoriedade da identificação está prevista no art. 5º, inciso LXIV, da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […]

LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;

Os crimes previstos no caput e no parágrafo único podem ser praticados na forma omissiva (“deixar de
identificar-se”) ou na forma comissiva (“identificar-se falsamente”). Nessa última forma (comissiva) temos
norma especial paralela ao delito de falsa identidade (art. 307, do CP20), tendo a norma especial lugar no
caso concreto.

O sujeito ativo das condutas descritas no caput será o agente público que atuar diretamente na prisão,
captura ou detenção da vítima do abuso. Já com relação ao parágrafo único, o sujeito ativo será aquele
que realizar o interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, e deixar de
identificar-se ao preso ou atribuir a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.

A consumação da infração na forma omissiva dar-se-á quando, na primeira oportunidade, o agente deixar
de se identificar. E na forma comissiva, a consumação ocorre quando o agente identifica-se falsamente
para a vítima.

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo
se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O sujeito ativo desse crime é a autoridade policial, visto que é ela o agente público competente para realizar
o interrogatório policial. O núcleo do tipo é o verbo “submeter” o preso a interrogatório policial durante o
repouso noturno, salvo no caso de prisão em flagrante. Aqui, importante esclarecer que “período de repouso
noturno”21 é elemento normativo do tipo, estabelecendo o marco temporal em que não pode ser realizado
interrogatório policial (SOUZA, 2020, p. 2248).

20
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar
dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
21
"Repouso noturno. Entendemos dever ser aplicado o critério objetivo trazido pelo artigo 22, inciso III, da própria nova Lei de
Abuso, que pune o cumprimento de mandado de busca e apreeensão domiciliar após as 21 horas e antes das 5 horas. Trazendo
a Lei n.º 13.869/19, critérios próprios para definição do que é noite, não se faz necessário lançar mão do artigo 212 do Código
de Processo Civil, que dispõe que os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 às 20 horas, tampouco do critério que
a doutrina e jurisprudência vêm adotando para fixação do período de "repouso noturno" a que alude o artigo 155, §1º, do Código
Penal" (PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 63, negritamos).

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Como se vê pela leitura do texto legal, no caso de haver o consentimento do preso acerca do interrogatório
durante o período noturno, tem-se uma excludente da tipicidade, desde que o preso esteja devidamente
assistido. Nesse caso, parte da doutrina entende que a assistência devida “diz respeito à presença do
causídico para aquele que manifestou vontade de ter o profissional a seu lado para instruí-lo”
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 63).

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade


judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua
custódia:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da


demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para
decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

O crime previsto no caput do artigo poderá ser cometido por qualquer agente público que seja responsável
pela custódia do preso. Já a figura equiparada disposta no parágrafo único somente poderá ser praticada por
Magistrado (Magistrado competente na primeira parte do texto e Magistrado incompetente na segunda
parte da previsão legal).

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável,
antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.

O sujeito ativo da conduta do caput é o agente público que tem o dever de garantir a realização da entrevista
reservada, o sujeito ativo do parágrafo único é o Magistrado que impede o ato.

Enquanto a previsão do caput dispõe sobre o impedimento da entrevista sem justa causa, o parágrafo único
apresenta outro elemento normativo do tipo, de maneira que estará configurado o delito quando o
magistrado impedir a entrevista “por prazo razoável”. Aqui, “devem ser levadas em conta para tanto as
circunstâncias ligadas ao caso concreto, como sua complexidade, número de infrações, atividade processual
necessária para o caso, conduta das partes interessadas e a própria estrutura administrativa colocada à
disposição da autoridade judiciária” (SOUZA, 2020, p. 2254).

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

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Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente
na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Essa disposição legal encampa a garantia constitucional prevista no art. 5º, inciso XLVIII, da Constituição
Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […]

XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
a idade e o sexo do apenado;

Bem como as disposições legais que determinam a separação dos presos previstas no art. 82, §1º da Lei de
Execuções Penais22 e no art. 123 do Estatuto da Criança e do Adolescente23.

O sujeito ativo do crime pode ser qualquer agente responsável pela separação dos presos, tais como o juiz
da execução, juiz da infância e juventude, diretor de estabelecimento prisional ou unidade de internação,
carcereiros e agentes prisionais.

No caso de a manutenção de presos de sexos diferentes na mesma cela ou espaço causar intenso sofrimento
físico ou mental, poderá configurar o crime de tortura previsto no art. 1º, §1º da Lei de Tortura 24.

Por fim, salienta-se que a prisão de pessoas LGBT’s deverá ocorrer dentro dos parâmetros da Resolução
Conjunta 1, de 15 de abril de 2014, editada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e pelo
Conselho Nacional de Combate a Discriminação, que prevê que “a prisão do travesti deverá ser feita
mediante seu recolhimento em cela feminina. Se o caso for de preso ou presa transexual deverá ser recolhido
ou recolhida na cela que diga respeito ao seu gênero, a não ser que opte em permanecer na cela
correspondente ao seu sexo anatômico” (SOUZA, 2020, p. 2256).

22
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao
egresso. § 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua
condição pessoal. [...]
23
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao
abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Parágrafo único. Durante o
período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
24
Art. 1º Constitui crime de tortura: [...] § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança
a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

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1.7.2 - Possibilidade ou não de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal aos casos
de maus tratos a cães e gatos.

A Lei n.º 14.064/2020, batizada como “Lei Sansão”25, alterou o art. 32 da Lei n.º 9.605/98, que agora possui
a seguinte redação:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda
que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo
será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei nº
14.064, de 2020)

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

A norma instituiu a figura qualificada de maus tratos em atenção à espécie biológica do animal maltratado
(cães e gatos), prevendo pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda, ou seja,
deixou de constituir crime de menor potencial ofensivo.

Tem-se que o legislador elevou o patamar da reprimenda a fim de obstar o cabimento dos benefícios
despenalizadores da Lei n.º 9.099/95, como a Suspensão Condicional do Processo, e facilitar o cabimento da
prisão preventiva. Ainda, retirou da autoridade policial a possibilidade de arbitrar fiança em caso de prisão
em flagrante delito.

Diante desse cenário, cumpre-nos questionar, é cabível o oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal?

Veja-se que o artigo 28-A, do Código de Processo Penal, prevê a benesse com a seguinte redação (alteração
promovida pelo Pacote Anticrime):

25
"Como é tradição do legislador penal brasileiro, o recrudescimento das penas do crime de maustratos a animais é fruto de
movimento social reativo a fatos recentes que ganharam repercussão nacional, revelando forte anseio social por uma reprimenda
mais rigorosa para atos de violência contra animais. Na própria justificativa do PL nº 1.095/19, apresentado em fevereiro de 2019,
encontra-se a expressa referência a um fato específico que gerou grande comoção social (“caso Manchinha”). A aprovação do PL
seguiu a mesma linha e foi especialmente impulsionada por um novo crime ocorrido em Minas Gerais, em que o cão Sansão teve
suas duas patas traseiras decepadas, mediante o emprego de uma foice. Não coincidentemente, a nova lei foi batizada de Lei
Sansão". Disponível em:
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf>.

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Com base na pena cominada para o delito de maus-tratos de cães e gatos (art. 32§1º-A), seria cabível o
oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal. Porém, discussão parece haver com relação à violência
empregada para o cometimento do delito. Neste ponto, importante se faz a transcrição dos robustos
argumentos elencados pela Promotora de Justiça Monique Gonçalves26 no sentido do não cabimento de
ANPP no caso em análise:

Por fim, não há como se admitir, em relação à nova figura qualificada, o cabimento do acordo de
não persecução penal – ANPP, em razão da natureza do delito e da sua manifesta contrariedade
ao espírito da Lei nº 14.064/2020, que buscou justamente impedir a aplicação de medidas
despenalizadoras, tornando mais severa a persecução penal e a reprimenda.

Com efeito, nos termos do art. 28-A do CPP, o ANPP direciona-se para infrações penais cometidas
sem violência e exige, dentre outros requisitos, que, no caso específico, a medida se revele
necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. O instrumento alinha-se ao
escopo de valorização dos instrumentos de autocomposição, nos termos estabelecidos na
Resolução CNMP nº 118/2014, entendendo-se que o modelo de justiça penal negociada pode
contribuir para a projeção social da cultura de pacificação, da redução da litigiosidade e do
estímulo às soluções consensuais, liberando a estrutura da persecução penal para os casos de
maior gravidade e relevância social.

Neste sentido, a finalidade do novo instituto despenalizador é incompatível com a figura


qualificada de maus-tratos, esbarrando, ainda, no requisito referente à natureza do crime (sem
violência). Note-se que, diferentemente de outras previsões, o dispositivo não exige que se trate
de crime sem violência à pessoa, de forma que não há razão para se excluir da vedação legal a
prática de violência contra seres sencientes, até porque não se está diante de violência contra a
coisa. Significa dizer que, assim como sustentado em relação ao bem jurídico-penal, o
reconhecimento do estatuto constitucional de sujeito de direitos ao animal impõe a releitura do
conceito de crime praticado com violência. […]

De mais a mais, verifica-se que as razões que nortearam o legislador a proibir, de forma absoluta,
o benefício do ANPP para crimes com violência ou grave ameaça, encontram-se presentes na
prática de violência contra seres sencientes.

Lado outro, há quem justifique a possibilidade do oferecimento de ANPP diante da lacuna legal, visto que o
legislador não especificou o impedimento da benesse no caso de violência contra animais, de maneira que
somente a violência contra a pessoa é que desautorizaria o oferecimento do Acordo. Neste sentido entende-

26
Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf.

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se que a Lei Penal deveria trazer previsão expressa com relação à eventual impossibilidade. A exemplo disso
cita-se o caso do descabimento da fiança nas hipóteses dos artigos 323 e 324, do Código de Processo Penal27.

Pelo cabimento da proposta de acordo de não persecução penal o Promotor de Justiça Rafael Schewz
argumenta que28:

Além dessa interpretação sistemática, a interpretação literal evidencia que a violência referida
pelo artigo 28-A do CPP envolve somente a pessoa. Esse último artigo legal admite o ANPP
quando o agente confessa a prática de infração penal “sem violência ou grave ameaça”. O
posicionamento que aumenta o âmbito de incidência da “violência” para abranger outros seres
além do homem, notadamente os sencientes, deve ampliar também o âmbito da grave ameaça.
Chegará assim à inóspita conclusão de que a grave ameaça contra um cão também impede o
ANPP. Todavia, como se identifica uma grave ameaça irrogada por um homem contra um animal?
Sustenta-se, em leitura própria, que, como os vocábulos “violência” e “grave ameaça” vêm
elencados em sequência, intercalados por uma conjunção alternativa (“ou”), o âmbito de
incidência deles deve ser exatamente o mesmo. E porque não há que se cogitar em grave ameaça
contra o animal, mas apenas contra o homem, conclui-se que a violência referida no artigo 28-A
do CPP é apenas aquela praticada contra o homem.

Ambos os posicionamentos apresentam argumentos justificáveis e plausíveis. O tema ainda não foi objeto
de apreciação judicial, pois a alteração é recente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Rogério Sanches et al. Leis Penais Especiais: comentadas/Coordenadores Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto, Renne de Ó Souza – 3. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

GONÇALVES, Monique Mosca. 2-Tema: A TUTELA PENAL DOS ANIMAIS NO CONTEXTO DA NOVA LEI N.º
14.064/2020. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf
.

27
Art. 323. Não será concedida fiança: I - nos crimes de racismo; II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado Democrático; Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: I - aos que, no mesmo processo,
tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os
arts. 327 e 328 deste Código; II - em caso de prisão civil ou militar; III – (revogado); IV - quando presentes os motivos que autorizam
a decretação da prisão preventiva (art. 312).
28
Disponível em: <https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/11/23/crime-de-maus-tratos-contra-caes-e-gatos-
anpp-e-proibicao-da-guarda/>.

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KURKOWSKI, Rafael Schewz. Crime de maus tratos contra cães e gatos: ANPP e proibição da guarda.
Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/11/23/crime-de-maus-tratos-
contra-caes-e-gatos-anpp-e-proibicao-da-guarda/.

1.8 - DIREITO ELEITORAL

1.8.1 - Sistemas Eleitorais

Definição

Os sistemas eleitorais são definidos como “técnicas e procedimentos pelos quais os eleitores expressam em
votos sua preferência por um candidato ou partido político, a qual será traduzida em mandatos” (SILVA,
Virgílio Afonso da. Sistemas Eleitorais: tipos, efeitos jurídico-políticos e aplicação ao caso brasileiro. São
Paulo: Malheiros, 1999, p. 36).

Classificação

No Direito Positivo brasileiro, os sistemas eleitorais são divididos em majoritário e proporcional.

O sistema eleitoral majoritário é direcionado para cargos de Prefeito de Município, Governador de Estado
ou do Distrito Federal, Presidente e Senador da República, nos quais a representação popular é conferida
ao(s) candidato(s) mais votado(s), uma vez obtida a maioria relativa ou simples dos votos válidos, nas eleições
de que tratam os arts. 29, inc. II, initio, e 46, caput, ou maioria absoluta ou qualificada dos votos válidos, em
primeiro ou segundo turno, se houver, nas eleições sobre os quais versam os arts. 28, caput, 29, inc. II, in
fine, 32, § 2º, e 77, § 2º, da Constituição Federal.

“Consulta. Eleições. Partidos políticos. Coligação. Apoio a candidato. É vedada coligação apenas
para as eleições proporcionais. Admite-se a participação de partido somente no pleito
proporcional, na hipótese de não ter registrado candidato as eleições majoritárias. O partido que
registro apenas candidatos as eleições proporcionais não pode apoiar candidato as eleições
majoritárias, lançado por outro partido” (TSE, AC nº 19.576, Rel. Min. Nilson Vital Naves, J.
30.05.1996, DJU 01º.07.1996).z

O sistema eleitoral proporcional é dirigido para cargos de Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado
Distrital e Vereador, nos quais a representação popular é distribuída em razão da força eleitoral dos partidos
políticos ou coligações partidárias, quantificada pela divisão do número de votos válidos pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral (quociente eleitoral), prosseguida pela divisão número de votos
válidos dados sob a mesma legenda partidária ou coligação de legendas pelo quociente eleitoral (quociente
partidário), de modo que eleitos são tantos candidatos registrados por um partido político ou coligação
quanto o quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido nas
eleições reguladas nos arts. 27, § 1º, 29, inc. I, 32, § 3º, e 45, caput, da Constituição da República.

“Representação. Art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Candidato a vereador não eleito. Sentença.
Procedência. Recurso eleitoral. Pedido. Desistência. Tribunal Regional Eleitoral. Impossibilidade.
Matéria de ordem pública. Peculiaridades. Processo eleitoral. Interesse público. Quociente

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eleitoral. Alteração (...). A decisão regional que indefere o pedido de desistência formulado
naquela instância e que modifica a sentença para julgar improcedente representação,
provocando a alteração do quociente eleitoral e da composição de Câmara Municipal, resulta em
evidente prejuízo jurídico direto a candidato que perde a vaga a que fazia jus, constituindo-se
terceiro prejudicado, nos termos do art. 499 do Código de Processo Civil. Manifestado o
inconformismo do candidato representado no que se refere à decisão de primeira instância, que
o condenou por captação ilícita de sufrágio, não se pode aceitar que, no Tribunal Regional
Eleitoral, venha ele pretender a desistência desse recurso, em face do interesse público existente
na demanda e do nítido interesse de sua agremiação quanto ao julgamento do apelo, em que
eventual provimento poderia resultar na alteração do quociente eleitoral e favorecer candidato
da mesma legenda. O bem maior a ser tutelado pela Justiça Eleitoral é a vontade popular, e não
a de um único cidadão. Não pode a eleição para vereador ser decidida em função de uma questão
processual, não sendo tal circunstância condizente com o autêntico regime democrático (...). A
hipótese versa sobre pleito regido pelo sistema de representação proporcional, em que o voto
em determinado concorrente implica sempre o voto em determinada legenda partidária,
estando evidenciado, na espécie, o interesse jurídico na decisão oriundo do referido feito” (TSE,
AC nº 25.094, Rel. Min. Carlos Eduardo Bastos, J. 16.6.2005, DJU 7.10.2005).

Por último, o sistema eleitoral misto é dirimido pelo art. 38, nº 3, da Constituição alemã, bem como art. 52
da Constituição mexicana, nos quais há a combinação entre a representação majoritária e a representação
proporcional, sem olvidar que o art. 148, parágrafo único, da Constituição da República Federativa do Brasil,
com a redação que lhe foi atribuída pela Emenda Constitucional nº 22/82, prescrevia que “os Deputados
Federais, Deputados Estaduais, Deputados Distritais seriam eleitos pelo sistema distrital misto, majoritário e
proporcional, nos termos que a lei estabelecesse”.

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Doutrina da Proteção Integral

Introdução: O ECA (Lei 8.069/90) rege-se pela doutrina da proteção integral, segundo a qual crianças e
adolescentes têm os mesmos direitos que os adultos e outros mais, especiais, em razão do fato de serem
pessoas em estágio peculiar de desenvolvimento. Trata-se da incorporação em definitivo a Doutrina das
Nações Unidas de Proteção Integral à Criança, que foi adotado no Brasil pela primeira vez em 1988, de forma
implícita, na Constituição Cidadã. O Estatuto da Criança e do Adolescente estrutura-se em dois livros, ou em
duas partes: uma Parte Geral (art.1° a 85) e uma Parte Especial (art. 86 a 258).

Disposições preliminares do ECA: na esteira da nova ordem constitucional e em consonância com os textos
internacionais que tratam da matéria, houve o rompimento em definitivo com a doutrina da situação
irregular (que regia o Código de Menores – Lei 697, de 10.10.79), e foi estabelecida como diretriz básica a
doutrina da proteção integral. Essa proteção se fundamenta no princípio do melhor interesse da criança.
Trata-se da chamada regra de ouro do Direito da Criança e Adolescente, que considera superiores os seus
interesses porque a família, a sociedade e o Estado, todos são compelidos a proteger os infantes.

O ECA foi o responsável por conceituar a criança e o adolescente. É verdade que a Convenção sobre os
Direitos da Criança, não faz tal separação (reconhecendo apenas o sujeito “criança”, como sendo todo ser

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humano menor de 18 anos). Porém, a solução adotada pela legislação especial tutelar brasileira foi diversa,
estabelecendo que criança é aquela pessoa que tem até 12 anos incompletos, e adolescente, aquele que
tem entre 12 anos (completos) e 18 anos incompletos. Ademais, A Lei n. 13.257/2016 – Marco Legal da
Primeira Infância – definiu como integrantes da primeira infância aqueles que possuírem até seis anos
completos ou estiverem em seus primeiros 72 meses de vida.

Conceito de criança, adolescente, jovem e idoso. Utilização do critério biopsicológico. Aplicação do Estatuto
da Criança e do Adolescente.

CONCEITO IDADE/TITULARIDADE APLICABILIDADE

Confere-se a condição de pessoa, titular ECA e outras fontes.


de direitos (art. 8º do ECA, entre outros). Art. 8º: direito à vida e à saúde do
Direitos patrimoniais e não patrimoniais nascituro.
(REsp 1415727/SC). Tutela coletiva. Alimentos gravídicos: enquanto não
Nascituro
Competência da Vara da Infância e da ocorrer o nascimento, são de titularidade
Juventude: se existir situação de risco. da gestante; com o nascimento,
Gestante manifesta o desejo de entregar convertem-se automaticamente em
criança para adoção. pensão alimentícia.

0 a 12 anos incompletos. ECA.


Criança
Convenção: menos de 18 anos.

Primeira infância: primeiros seis anos ECA e Lei nº 13.257/2016. Marco Legal
completos ou 72 meses de vida da criança. da Primeira Infância.

Adolescente 12 a 18 anos incompletos. ECA.

Jovem-adolescente: 15 a 18 anos; jovem- ECA e Lei nº 12.852/2013 para os jovens-


adulto: 18 a 29 anos. adolescentes, salvo em relação ao direito
à profissionalização (somente pelo ECA).

Idoso Pessoa com idade igual ou superior a Estatuto do Idoso.


sessenta anos.

Prioridade especial: maiores de oitenta Estatuto do Idoso com preferências


anos até mesmo em relação aos demais específicas.
idosos. Art. 3º, § 2º, Estatuto do Idoso.

Direitos específicos aos idosos maiores de


65 anos. Art. 33 e 39.

Considera-se pessoa com deficiência Estatuto das Pessoas com Deficiência.


aquela que tem impedimento de longo Crianças e adolescentes nessas
Pessoa com
prazo de natureza física, mental, condições serão considerados em
Deficiência
intelectual ou sensorial, o qual, em situação especial de vulnerabilidade.
interação com uma ou mais barreiras,

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CONCEITO IDADE/TITULARIDADE APLICABILIDADE

pode obstruir sua participação plena e


efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (art. 2º,
do Estatuto das Pessoas com Deficiência).

Aplicação excepcional do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 2º, parágrafo único, do Estatuto) àqueles
que têm entre 18 e 21 anos de idade:

a) aplicação e execução de medidas socioeducativas para agentes que, ao tempo da ação ou da omissão,
eram adolescentes. Súmula 605 do STJ: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração
de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida,
enquanto não atingida a idade de 21 anos”.

b) Competência da Vara da Infância e da Juventude para a ação de adoção se o adotando, quando


adolescente, estivesse sob a guarda legal ou tutela do adotante.

c) Criança e adolescente vítima ou testemunha de violência – Lei nº 13.431/2017 – art. 3º.

Art. 3º. Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento, às quais o Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos
direitos fundamentais com absoluta prioridade. Parágrafo único. A aplicação desta Lei é
facultativa para as vítimas e testemunhas de violência entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos,
conforme disposto no parágrafo único do art. 2º da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente).

É válido lembrar que se considera completada a maioridade no primeiro instante do dia em que o
adolescente completar dezoito anos. Da mesma forma, a adolescência se inicia a zero hora do dia em que a
criança completa doze anos, não importando, em qualquer dos casos, a hora em que se deu o nascimento
do indivíduo.

No artigo 3° do ECA há o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos indicados no art. 2° (crianças e
adolescentes), extraindo-se três princípios: a) crianças e adolescentes gozam de todos os direitos
fundamentais assegurados a toda pessoa humana; b) eles têm direito, além disso, à proteção integral que é
a eles é atribuída pelo Estatuto; c) a eles são garantidos também todos os instrumentos necessários para
assegurar seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade.

O artigo 6º faz referência à interpretação do ECA, e repete praticamente o contido no art. 5º da Lei de
Introdução ao Direito Brasileiro, com um alerta para o intérprete e aplicador do Direito, no sentido de se
levar em consideração os “direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento”, sobretudo no atinente à convivência familiar, à proteção
da criança e adolescente e das medidas socioeducativas.

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A Constituição Federal adotou um sistema especial de proteção dos direitos fundamentais de crianças e
adolescentes, explicitados nos artigos 226/228, sendo dever da família, da sociedade, da comunidade e do
Poder Público zelar, com absoluta prioridade, pela sua efetivação.

Doutrina da Proteção Integral:

A Constituição Federal representou um verdadeiro divisor de águas, pois substituiu a ultrapassada Doutrina
da Situação Irregular pela Doutrina da Proteção Integral. Houve, portanto, uma mudança de paradigma
amparada no texto constitucional e, este, por sua vez, em textos internacionais de proteção aos direitos da
criança, representados pela Doutrina das Nações Unidas de Direitos da Criança. Estabeleceu-se um
rompimento com os procedimentos anteriores, com a introdução no sistema dos conceitos jurídicos de
criança e adolescente em substituição à expressão menor, superando-se o paradigma de incapacidade para
o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento
(art. 6º do ECA).

PRINCIPAIS PARADIGMAS (MODELOS) LEGISLATIVOS EM MATÉRIA DE INFÂNCIA


DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL
Criança e adolescente são considerados sujeitos de
Menor era considerado objeto de proteção.
direitos.

De acordo com a Doutrina da Situação Irregular havia duas infâncias no Brasil: uma relativa aos menores,
pessoas em situação irregular, e outra relativa a crianças e adolescentes, a quem os direitos eram
assegurados.

Com a Doutrina da Proteção Integral, foi concebida uma única infância, no sentido de que todas as crianças
e adolescentes são tidos como sujeitos de direitos, pessoas em peculiar condição de desenvolvimento, em
uma perspectiva de proteção voltada à garantia dos direitos humanos.

A proteção à infância, no seu sentido lato, é direito social amparado pelo art. 6º da Constituição Federal.
A Constituição atribuiu à infância e a juventude um momento especial na vida do ser humano e, por isso,
conferiu-lhe no seu artigo 227 uma proteção jurídica específica, assegurando: o status de pessoas em
situação peculiar de desenvolvimento, a titularidade de direitos fundamentais e determinou ao Estado que
estes direitos sociais fossem promovidos por meio de políticas públicas.

Tratamento constitucional:

Competência legislativa da União e dos Estados

a) A Constituição estabelece ser de competência exclusiva da União legislar sobre normas de direito civil
(art. 22, I, ECA), e de competência concorrente entre esta e os Estados para legislar sobre a proteção à
infância e juventude (art. 24, XV). Pois bem. Em dispositivos de natureza penal (atos infracionais) e de
natureza civil (tutela, guarda, adoção, poder familiar etc), a competência da União é privativa.

b) Não obstante, em razão do permissivo contido no parágrafo único do art. 22, poderá a União, por
meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre essas questões.

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c) De outro lado, tem-se a competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre proteção
à infância e à juventude.

d) Muito embora se curve à legislação federal e a estadual a respeito, ao Município compete papel de
suplementar a proteção à infância e juventude, como, por exemplo, tratar do funcionamento dos Conselhos
Tutelares, sem, é claro, colidir com as regras dos artigos 134 e seguintes do ECA.

Prioridade Absoluta

O artigo 227 da CF afirma o princípio da prioridade absoluta dos direitos da criança, do adolescente e do
jovem, tendo como destinatários da norma a família, a sociedade e o Estado. Pretende, pois, que a família
se responsabilize pela manutenção da integridade física e psíquica; a sociedade pela convivência coletiva
harmônica; e o Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas. Trata-se de uma
responsabilidade que, para ser realizada, necessita de uma integração, de um conjunto devidamente
articulado de políticas públicas.

Essa competência difusa, que responsabiliza uma diversidade de agentes pela promoção da política de
atendimento à criança e ao adolescente, tem por objetivo ampliar o próprio alcance da proteção dos direitos
infanto-juvenis.

Dentro da estrutura chamada ordem social, está englobada a chamada Seguridade Social, esta compreendida
como um conjunto integrado de ações de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. E a assistência social, que será
prestada independentemente de contribuição à seguridade social, tem, dentre os seus objetivos, a proteção
e amparo à criança e ao adolescente, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal. E o ECA é uma dessas
normas gerais, pelo qual estabelece uma política de atendimento.

Essa política de atendimento deve ser, segundo o art. 204 da CF, descentralizada política e
administrativamente (sendo dever dos Estados, Municípios e das entidades não governamentais de
assistência social a coordenação e execução destes programas).

Também impõe a participação popular, por meio de organizações representativas, para formulação de
políticas públicas em todos os níveis. Já o § 1º do artigo 227 determina que o Estado promova, admitida a
participação da sociedade civil, programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente.

Assistência integral à saúde

A Constituição também faz menção à assistência integral à saúde da criança e do adolescente, estabelecendo
que parte dos recursos públicos destinados à saúde será dirigida à assistência materno-juvenil, cabendo-lhe,
ainda, a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência
física, sensorial ou mental.

Inimputabilidade penal – art. 228, CF

O artigo 228 da CF estabelece a garantia da inimputabilidade aos menores de dezoito anos, assegurando ao
adolescente o direito de ser submetido a uma lei especial, que prevê um juízo diferenciado e a aplicação de

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medidas socioeducativas. Há quem sustente que não se trata de cláusula pétrea (e, por isso, seria
modificável).

- Ação socioeducativa: a prática do ilícito praticado por adolescente será apurada por meio da ação
socioeducativa, que somente poderá ser iniciada pelo Ministério Público.

- A ação socioeducativa será de competência da Vara da Infância e da Juventude, independentemente do


ato infracional praticado.

- As medidas socioeducativas somente poderão ser aplicadas na ação socioeducativa, havendo competência
exclusiva da autoridade judiciária.

De acordo com o Estatuto da Criança e do adolescente, o ato infracional é a conduta praticada por criança
ou por adolescente, prevista na lei como crime ou contravenção penal.

Criança=> pode praticar ato infracional, mas não estará sujeita à medida socioeducativa. Não haverá
processo para a apuração de ato infracional e, estando em situação de risco, poderá ser submetida às
medidas protetivas.

Adolescente=> estará sujeito às medidas socioeducativas.

Isonomia entre os filhos

A CF estabelece a isonomia entre os filhos, independentemente da sua condição de havidos ou não da


relação de casamento.

Programas de Assistência Integral

O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem,


admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos
seguintes preceitos:

I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-


infantil;

II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras


de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do
jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos
e de todas as formas de discriminação.

Direito à Proteção Especial

A criança e o adolescente fazem jus à proteção especial decorrente de sua situação de pessoa em
desenvolvimento. Esta proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

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I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º,
XXXIII: a idade mínima para o trabalho é de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
dos catorze anos. O trabalho realizado por pessoa que tenha idade inferior a esta é denominado
de trabalho infantil, que é combatido por todo o Sistema de Justiça.

II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas: as crianças e os adolescentes possuem os


mesmos direitos que os adultos, além de outros que lhe são específicos. Por esse motivo,
possuem também direitos previdenciários e trabalhistas.

III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;

IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na


relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação
tutelar específica: desse item se ocupará com mais vagar quando do estudo do art. 228 da
Constituição Federal.

V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de


pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade: da
mesma forma, serão feitos comentários quando da análise do art. 228 da CF.

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos
termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
abandonado;

VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem


dependente de entorpecentes e drogas afins.

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 – Contribuição de Melhoria

O artigo 81 do CTN traz os limites que servem de baliza na exigência da contribuição de melhoria:

Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo
de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.

Assim, o valor a ser cobrado possui dois limites: a) a despesa total gasta pelo Poder Público ao realizar a obra;
b) a valorização que beneficiou cada um dos imóveis isoladamente considerados.

O fundamento da primeira condicionante reside na circunstância de que a contribuição de melhoria é um


tributo vinculado, ou seja, que tem como pressuposto uma atividade estatal. Como a base de cálculo tem
como uma das funções justamente dimensionar economicamente o fato jurídico, o valor da contribuição de

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melhoria deve corresponder ao custo incorrido pelo Estado na sua atuação, isto é, deve corresponder ao
valor total gasto pela realização da obra pública.

A segunda condicionante repousa na circunstância de que a contribuição de melhoria pode ser instituída
para neutralizar os efeitos positivos da obra pública sobre o patrimônio do contribuinte – mantendo, assim,
o capital que existia antes da obra ser realizada – mas não pode ser usada para produzir um decréscimo no
seu valor.

Portanto, a base econômica da contribuição de melhoria deve observar esses dois limites: a) não pode ser
superior ao custo global da obra; b) não pode superar a valorização individual de cada imóvel.

Na prática, a existência dessas balizas dificulta a recuperação integral do valor gasto pelo Estado.
Imaginemos, por exemplo, que a obra tenha custado R$ 1.000.000,00, e que foram beneficiados por ela 25
imóveis, que tiveram valorização individual de R$ 20.000,00. Nesse caso, em razão da segunda
condicionante, o poder público poderia arrecadar apenas a quantia de R$ 500.000,00 (R$ 20.000,00 x 25).

1.11 - DIREITO MATERIAL COLETIVO

1.11.1 - Política Nacional do Meio Ambiente

1. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS (art. 2º)

A PNMA tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
buscando a concretização dos fins estabelecidos no art. 23, VI (proteção do meio ambiente e combate à
corrupção) e VII (preservação das florestas, da fauna e da flora), da CR, no exercício da competência material
comum entre os entes federativos.

Trata-se de diploma-base do Direito Ambiental, fixando conceitos, objetivos e os principais instrumentos de


proteção ambiental. Constitui, desta forma, o microssistema legal de proteção do meio ambiente.

São princípios que regem a PNMA (art. 2º):

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente


como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o
uso coletivo:

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

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VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção


dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas; (Regulamento)

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,


objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Embora de forma não coincidente, o dispositivo traduz alguns dos importantes princípios do Direito
Ambiental, como o princípio do controle, o princípio do desenvolvimento sustentável, o princípio do
poluidor-pagador, o princípio da prevenção e o princípio da educação ambiental, disciplinados na forma de
objetivos (fins abstratos). Em complemento, o art. 4º apresenta os objetivos específicos da PNMA (fins
concretos):

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade


do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio


ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
dos Municípios; (Vide decreto nº 5.975, de 2006)

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao


uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional


de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações


ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da
qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à
vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS (art. 3º)

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a) Meio ambiente: é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Trata-se de conceito restrito à
concepção de meio ambiente natural e que apresenta fundamentação biocêntrica ao reconhecer o valor
da “vida em todas as suas formas”29. De forma mais ampla, a Resolução CONAMA 306/2002 ampliou o
conceito para abranger os aspectos social, cultural e urbanístico, que também integram a noção de meio
ambiente. Assim, apesar da restrição do conceito legal, a doutrina classifica o meio ambiente como: (1)
natural, compreendendo os elementos naturais, como a fauna e a flora (art. 225 da CR); (2) artificial,
abrangendo o espaço urbano e os equipamentos públicos (art. 182/183 da CR); (3) cultural, referindo-se ao
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico (art. 215 e 216 da CR), e (4) do trabalho,
nos termos do art. 7º, XXII e 200, VIII, da CR.

Em julgado recente referente ao questionamento da possibilidade de aprovação tácita de agrotóxicos, o STF


ainda abordou o conceito de saúde ambiental, como um espaço de interseção entre a saúde pública e o
meio ambiente: cuida-se de ‘um campo da Saúde Pública afeita ao conhecimento científico e à formulação
de políticas públicas relacionadas à interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural
e antrópico que a determinam, condicionam e influenciam, visando à melhoria da qualidade de vida do ser
humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade (ADPF 656 MC, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 22-6-
2020, P, DJE de 31-8-2020)

b) degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente.

c) poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente,


prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem condições adversas às atividades
sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente, ou lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Atenção! Trata-se de dispositivo muito cobrado em fases objetivas de concursos do Ministério Público.

d) poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental. Veja que o conceito de poluidor aproxima os conceitos
de poluição ambiental e degradação da qualidade ambiental. A condição de poluidor aplica-se à pessoa física
ou jurídica, de direito público ou privado e pode decorrer de degradação ambiental provocada de forma
direta ou indireta. O poluidor indireto constitui um conceito jurídico indeterminado, que apresenta
divergência doutrinária e jurisprudencial na sua delimitação. Compreende-se, neste caso, que a atividade do
poluidor indireto não é a causa do dano ambiental, mas para ele contribui (já que cria condições para o
evento poluidor e, portanto, para o dano). E é nessa contribuição que se verifica o nexo de causalidade entre
o poluidor indireto e o dano ambiental – elemento indispensável para a responsabilização civil do poluidor
direto e também do indireto. A grande discussão sobre a extensão da figura do poluidor indireto refere-se
ao tipo de contribuição que enseja a responsabilidade civil ambiental nesta modalidade. Para parte da

29
Em sentido contrário, entendendo que o dispositivo apresenta caráter estritamente antropocêntrico, THOMÉ, Romeu. Manual
de Direito Ambiental. 9º ed. Salvador: Editora Juspodivum, 2019, p. 198

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doutrina, só se configura o poluidor indireto (contribuição de alguém para o dano causado diretamente por
outrem), quando presente o dever de segurança (garante de terceiro) atribuído legalmente para evitar o
dano (Talden Farias). O STJ já decidiu neste sentido: não se revela razoável afirmar também que a
responsabilização das recorrentes seria resultado lógico de eventual comportamento omissivo de sua parte,
pois este, como consabido, só se verifica nas hipóteses em que o agente (suposto poluidor), tendo o dever de
impedir a degradação, deixa mesmo assim de fazê-lo, beneficiando-se, ainda que de forma indireta, do
comportamento de terceiro diretamente responsável pelo dano causado ao meio ambiente (STJ - REsp:
1596081 PR 2016/0108822-1, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento:
25/10/2017, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 22/11/2017). O exemplo mais comum de
poluidor indireto refere-se à responsabilidade do Estado por omissão no dever de controle e fiscalização,
contribuindo, de forma indireta, para a ocorrência do dano ambiental. De acordo com o STJ, contudo, o
Estado responde, objetiva e solidariamente por omissão no cumprimento do dever de fiscalizar as atividades
lesivas, mas essa responsabilidade é de execução subsidiária. Ou seja, o Poder Público, apesar de condenado
solidariamente pelos danos causados pelo particular que desempenhou a atividade degradadora, somente
será chamado a responder, como poluidor indireto, na fase de execução do julgado, quando o degradador
original – devedor principal, poluidor direto – não tiver condições de cumprir as obrigações impostas30.

Em relação ao nexo de causalidade e o poluidor indireto, o STJ adota compreensão ampla: para o fim de
apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria
fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia
quando outros fazem (STJ, 2ª Turma, REsp 650.728/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 23/10/2007, DJe
02/12/2009).

Como se infere do entendimento transcrito, no conceito de poluidor indireto incluem-se, também, as


instituições financeiras pelo dano ambiental decorrente das atividades por elas financiadas (“quem financia
para que façam”), o que resulta da conjugação do conceito de poluidor com o disposto no art. 12 da LPNMA.
Trata-se, portanto, de hipótese de responsabilidade objetiva solidária do agente financeiro, já que, sem o
financiamento, a atividade que se revelou degradadora não teria se realizado e, consequentemente, o dano
ambiental não teria ocorrido. Pouco importa que a instituição financeira tenha exigido do financiado, para a
concessão do financiamento, a obtenção de todas as licenças e autorizações necessárias para o exercício da
atividade e a comprovação do cumprimento regular das condições impostas. Desnecessário averiguar, ainda,
se o financiador acompanhou o desenvolvimento da atividade empreendida com o financiamento e exerceu
adequado controle sobre esta, à vista da legislação ambiental aplicável31.

A doutrina diverge, também, sobre a aplicabilidade da inversão do ônus da prova para o poluidor indireto,
já que a Súmula 618 do STJ fala em “ações de degradação ambiental”. Prevalece o entendimento no sentido
de que a inversão do ônus da prova aplica-se tanto ao poluidor direto como ao indireto.

30
STJ – 2ª T. – REsp n. 1.071.741/SP – j. 24.03.2009 – rel. Min. Herman Benjamin.

31
MIRRA, Álvaro Luiz. Responsabilidade civil ambiental e a jurisprudência do STJ. In: Cadernos Jurídicos, São Paulo, ano 20, nº
48, Março-Abril/2019, p. 56/57.

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e) recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar


territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

3. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA

A estrutura do SISNAMA abrange os órgãos e entidades de todos os entes federativos responsáveis pela
proteção e melhoria da qualidade ambiental, disciplinada da seguinte forma:

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na


formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade
de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio
ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. Os
limites da competência normativa do CONAMA são objeto de controvérsia na doutrina e na jurisprudência.
Discute-se sobre a legalidade das disposições normativas do CONAMA para regulamentar situações não
abrangidas pela lei formal. O STJ já decidiu que a competência normativa do CONAMA deve observância ao
princípio da legalidade. Neste sentido:

(...) 5. O Código Florestal, no art. 3º, dá ao Poder Público (por meio de Decreto ou Resolução do
Conama ou dos colegiados estaduais e municipais) a possibilidade de ampliar a proteção aos
ecossistemas frágeis. 6. Possui o CONAMA autorização legal para editar resoluções que visem à
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, inclusive mediante a fixação de parâmetros,
definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. 7. A Resolução n. 303/02 do CONAMA
não está substancialmente apartada da Resolução n. 04/85 do CONAMA, que lhe antecedeu e
que é vigente à época dos fatos. Ambas consideram a restinga como espécie de acidente
geográfico, encoberto por vegetação característica. Destarte, não há extrapolação de
competência regulamentar do CONAMA em sua Resolução n. 303/02 no que se refere à definição
de restinga, porquanto está de acordo com o definido na Lei n. 4.771/65 e nos estritos limites ali
delineados. (...) (STJ - RE nos EDcl no REsp: 1462208 SC 2014/0149502-0, Relator: Ministra
LAURITA VAZ, Data de Publicação: DJ 13/10/2015)

Recentemente, o STF entendeu pela possibilidade de controle concentrado de constitucionalidade de ato


normativo do CONAMA:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 458/2013. CABIMENTO.


OFENSA DIRETA. ATO NORMATIVO PRIMÁRIO, GERAL E ABSTRATO. PROTEÇÃO DO MEIO
AMBIENTA. DIREITO FUNDAMENTAL. PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO E DA PRECAUÇÃO. FUNÇÃO
SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE. PROIBIÇÃO DO RETROCESSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO
E DA PRECAUÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA. 1. A Resolução impugnada é ato normativo
primário, dotada de generalidade e abstração suficientes a permitir o controle concentrado de
constitucionalidade. 2. Disciplina que conduz justamente à conformação do amálgama que

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busca adequar a proteção ambiental à justiça social, que, enquanto valor e fundamento da
ordem econômica (CRFB, art. 170, caput) e da ordem social (CRFB, art. 193), protege, ao lado da
defesa do meio ambiente, o valor social do trabalho, fundamento do Estado de Direito
efetivamente democrático (art. 1º, IV, da CRFB), e os objetivos republicanos de “construir uma
sociedade livre, justa e solidária” e “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais” (Art. 3º, I e III). 3. Deve-se compreender o projeto de
assentamento não como empreendimento em si potencialmente poluidor. Reserva-se às
atividades a serem desenvolvidas pelos assentados a consideração acerca do potencial risco
ambiental. Caberá aos órgãos de fiscalização e ao Ministério Público concretamente fiscalizar
eventual vulneração do meio ambiente, que não estará na norma abstrata, mas na sua aplicação,
cabendo o recurso a outras vias de impugnação. Precedentes. 4. É assim que a resolução
questionada não denota retrocesso inconstitucional, nem vulnera os princípios da prevenção e
da precaução ou o princípio da proteção deficiente. 5. Ação direta julgada improcedente. (STF -
ADI: 5547 DF 4001523-31.2016.1.00.0000, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento:
22/09/2020, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 06/10/2020)

Os §§1º e 2º, dispõem sobre a competência normativa supletiva dos Estados e Municípios.

As competências do CONAMA estão estabelecidas no art. 8º da seguinte forma:

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de


atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado
pelo IBAMA;

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis
conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para
apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.

IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de


executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO);

V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais


concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de
participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por


veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios
competentes;

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade


do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os
hídricos.

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Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente
do Conama.

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais
fixadas para o meio ambiente. Trata-se, hoje, do Ministério do Meio Ambiente - MMA.

IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a
finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente, de acordo com as respectivas competências.

Atenção! Não confundir as atribuições do CONAMA e do IBAMA. O CONAMA tem essencialmente a função
normativa, enquanto o IBAMA e o ICMBio têm funções executivas.

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos
e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas suas respectivas jurisdições;

4. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Segundo classificação doutrinária, os instrumentos previstos na LPNMA dividem-se em:

1) Administrativos: podem ser preventivos (art. 9º) e repressivos (art. 14)


2) Jurisdicionais: podem ser cíveis (art. 14, §1º) ou penais (art. 15).

Neste sentido, o art. 9º elenca os seguintes instrumentos administrativos preventivos da Política Nacional
do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental: significa estabelecer limites à poluição


e à degradação ambiental. Ex: Resolução CONAMA 357/2005, que fixa os padrões de qualidade
das águas dispondo sobre classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes;

II - o zoneamento ambiental: trata-se de instrumento de delimitação do espaço geográfico de


acordo com sua importância ecológica, buscando o uso racional do solo e dos demais recursos
naturais. Também é chamado de Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE. O zoneamento
ambiental é de competência comum dos entes federados, de acordo com o critério da
predominância do interesse (art. 7º, IX, 8º, IX e 9º, IX, da LC 140/11).

III - a avaliação de impactos ambientais: refere-se a todos os estudos relativos aos aspectos
ambientais analisados no âmbito de procedimentos ambientais (gênero), comumente referidos
também como Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, prevista no Princípio 17 da Declaração do
Rio/1992, que assim dispõe: o emprego de avaliação de impacto ambiental, em qualidade de

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instrumento nacional, a atividades propostas que potencialmente produzam um impacto


negativo sobre o meio ambiente, e que estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional
competente. Encontra-se conceituado, também, na Resolução CONAMA 237/97, como estudos
ambientais, entendidos como todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou
empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como:
relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,
diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise
preliminar de risco (art. 1º, II). Dentre as espécies de estudos, a mais importante é o Estudo Prévio
de Impacto Ambiental - EIA, previsto constitucionalmente para as obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente (art. 225, §1º, IV).

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras: vide


rodada 1.

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,


voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,


estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas: trata-se de dispositivo que repete a dicção do art. 225, §1º, III, da CR, em
relação aos espaços territoriais especialmente protegidos, a exemplo das Unidades de
Conservação, das áreas de preservação permanente, da Reserva Legal. Para maiores
desenvolvimentos, vide Rodadas 4 e 5.

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente: é expressão dos princípios do
acesso à informação ambiental. No âmbito da repartição de competências, encontra-se
disciplinado na LC 140/11 (art. 7º, VIII, 8º, VII e VIII e 9º, VII e VIII).

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental: são dois
tipos de cadastros técnicos federais previstos nesta lei – o cadastro referente ás atividades e
instrumentos de defesa ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que
se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e
comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras (cadastro positivo) e o cadastro de atividades
potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos naturais, ara registro obrigatório de
pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à
extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao
meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora (cadastro negativo).
Ambos foram instituídos pela LPNMA sob a administração do IBAMA (art. 17). O objetivo é de
controle e de publicidade das informações constantes nos referidos cadastros, dada a sua
relevância ambiental.

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas


necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental: trata-se de instrumento de
concretização do princípio da responsabilização, nos termos do art. 225, §3º, da CR,

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especialmente voltado para a responsabilidade administrativa e o exercício do poder de polícia


ambiental. O diploma-base das infrações administrativas ambientais é a Lei 9605/98, que define
infração administrativa ambiental como toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de
uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente (art. 70)

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo


Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder


Público a produzi-las, quando inexistentes: concretiza o princípio da informação;

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais;

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental
e outros: trata-se de instrumento de concretização do modelo de Economia Verde que decorre
dos princípios do desenvolvimento sustentável e do poluidor-pagador, especialmente na sua
vertente do protetor-recebedor.

5. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA

A servidão ambiental é um importante instrumento econômico disciplinado na LPNMA que consiste na


limitação voluntária do uso total ou parcial de imóvel, por parte do proprietário ou possuidor, pessoa
natural ou jurídica, com o fim de conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes. A sua
formalização se dá por instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão
integrante do Sisnama (art. 9º-A).

Os itens necessários do instrumento de formalização da servidão ambiental são: 1. memorial descritivo da


área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado; 2. objeto da
servidão ambiental; 3. direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor; 4. prazo durante o qual a
área permanecerá como servidão ambiental.

Atenção para os dispositivos mais cobrados em concursos do Ministério Público:

• A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima
exigida (§2º)
• A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo,
a mesma estabelecida para a Reserva Legal (§3º)
• O instrumento de instituição da servidão ambiental deve ser averbado na matrícula do imóvel (§4º)
• É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos
casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites
do imóvel (§6º). É pe
• A servidão ambiental pode ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua (art. 9º-B, caput). Se for
temporária, o prazo mínimo é de 15 (quinze) anos (§1º)

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• A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos recursos de
fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, definida no art. 21 da Lei
no 9.985, de 18 de julho de 2000.
• O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente,
por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário ou de entidade
pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social (§3º). Neste caso, o contrato
deve ser averbado na matrícula do imóvel (art. 9º-C, caput). O proprietário do imóvel serviente terá
como deveres mínimos (§2º): 1. manter a área sob servidão ambiental; 2. prestar contas ao detentor
da servidão ambiental sobre as condições dos recursos naturais ou artificiais; 3. permitir a inspeção
e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental; 4. defender a posse da área serviente,
por todos os meios em direito admitidos. Já o detentor da servidão ambiental tem como obrigação
(§3º): 1. documentar as características ambientais da propriedade; 2. monitorar periodicamente a
propriedade para verificar se a servidão ambiental está sendo mantida; 3. prestar informações
necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos sucessores da propriedade; 4. manter
relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da servidão; 5. defender
judicialmente a servidão ambiental.

6. OUTROS INTRUMENTOS ECONÔMICOS

Além da servidão ambiental, a LPNMA disciplina outros incentivos governamentais para a proteção
ambiental. São eles:

1. Condicionamento da concessão de financiamento e incentivos governamentais à demonstração da


regularidade ambiental da atividade, referente ao licenciamento e ao cumprimento das normas
expedidas pelo CONAMA (art. 12). Trata-se da inclusão da variante ambiental no sistema financeiro
e no mercado de crédito, como reforço do fundamento para a responsabilização civil ambiental dos
financiadores.
2. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA (art. 17-B a G): tem como fato gerador o exercício
regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras
e utilizadoras de recursos naturais e tem por sujeito passivo quem exerce as atividades listadas no
Anexo VIII. O cálculo do valor da taxa é efetuado a partir de critério variado, em função da
potencialidade poluidora da atividade exercida pelo contribuinte e não de sua receita bruta. São
isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, as
entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações tradicionais
(art. 17-F). Os recursos arrecadados com a TCFA terão utilização restrita em atividades de controle e
fiscalização ambiental (art. 17-G, §2º).

1.11.2 - A regra de competência no Código de Defesa do Consumidor

O CDC se insere no microssistema processual coletivo, possuindo regra de competência específica em seu
art. 93. Prevê o CDC que:

“Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

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II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou


regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência
concorrente”.

Existe crítica da doutrina em relação a este artigo, em virtude da ausência de critérios objetivos de
delimitação, local, nacional ou regional.

A competência é territorial, portanto, relativa, visando a facilitar o acesso à justiça do consumidor. Isto ocorre
porque o Código de Defesa do Consumidor é um estatuto protetivo e objetiva facilitar a defesa de seus
direitos. A regra de competência do CDC é mais abrangente do que a regra geral da lei da ação civil pública,
prevendo mais situações. Não obstante tais regras estejam no CDC, podem ser aplicadas a outras situações
referentes a direitos difusos e coletivos.

1.12 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO

1.12.1 - Os direitos Coletivos no Código de Processo Civil

Não há no Brasil um Código de Processo Coletivo. A tarefa de defesa dos direitos coletivos fica a cargo do
microssistema processual coletivo. No caso do CPC, este foi tímido em relação ao processo coletivo,
deixando-o a cargo ainda do microssistema processual coletivo, a teor do art. 318 do CPC. O artigo que
tratava da conversão de ações individuais em coletivas foi vetado pela Presidente da República.

[...] não se pode passar ao largo da crítica de que o atual Código de Processo Civil perdeu uma
grande oportunidade de avançar no tema. Abordou-o de forma muito tímida, possivelmente em
razão de um outro projeto de lei que pretendia, à época, disciplinar especificamente os processos
coletivos. Houve apenas algumas referências pontuais sobre o processo coletivo. Hugo Nigro
Mazzilli critica esta omissão deliberada, ao ponderar que décadas de utilização das ações
coletivas se passaram, não havendo razão para que o legislador, ao elaborar um novo CPC, não
adentrasse no tema. Assim, como anota Mazzilli “Dizer que o processo coletivo merece tutela à
parte porque tem peculiaridades seria o mesmo que dizer que os procedimentos especiais
também o deveriam, e assim a ação monitória, ou a suspensão dos processos coletivos ou
individuais, ou o incidente de resolução de demandas repetitivas, ou a conversão de ação
individual em coletiva, ou a prática eletrônica de atos processuais – tudo isso igualmente deveria
ter sido deixado para a legislação extravagante...” (Interesses e Direitos Difusos e Coletivos.
Henrique da Rosa Ziesemer;. Juspodivm. 2020. p. 70/71)

Com efeito, em que pesem as críticas apresentadas, o CPC inovou com o tema ao prever o incidente de
resoluções de demandas repetitivas, além do fato de se integrar ao microssistema processual coletivo,
complementando as demais leis sobre o tema.

1.12.2 - A autocomposição no processo civil e coletivo e o Ministério Público

A autocomposição vem ganhando destaque no direito brasileiro, nos últimos anos, principalmente em razão
do exponencial aumento da judicialização de questões cotidianas. Como o direito busca, em última instância,

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a pacificação social, a autocomposição passou a figurar como meio legítimo de alcançar essa pacificação de
forma célere.

No campo constitucional, a Emenda Constitucional 45 (de 2004), que tratou da reforma do Poder Judiciário,
acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º e, como consequência, consagrou a razoável duração dos processos
como garantia individual (a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação).

A doutrina costuma tratar a autocomposição como gênero, do qual são espécies a mediação (intervenção de
terceira pessoa, imparcial, que estimulará a solução do conflito sem sobre ele emitir juízo de valor), a
negociação (diálogo mantido pelas partes sem intervenção de terceiros) e a conciliação (intervenção do
órgão julgador buscando a solução do litígio, inclusive com apresentação de prós e contras sobre os direitos
discutidos).

O dever do Estado em promover a solução consensual dos conflitos, inclusive mediante estímulo por parte
do Ministério Público, ficou expressamente previsto no art. 3, § 3º, do Código de Processo Civil de 2015.
Aliás, o atual código de Processo Civil tratou da solução consensual de conflitos e da autocomposição em
pelo menos 20 dispositivos: art. 3º, §§ 2º e 3º; art. 139, V; art. 154, VI e parágrafo único; art. 165; art. 166, §
3º; art. 174; art. 190; art. 221, parágrafo único; art. 303, III; art. 308, § 4º; art. 334, §§ 4º, 5º e 11; art. 335, I;
art. 359; art. 381, II; art. 471, II; art. 515, II, III e § 2º; art. 694; art. 696; art. 725, VIII; e art. 932, I.

Quanto à participação do Ministério Público como agente estimulador da autocomposição, uma das
legislações pioneiras a tratar do tema foi a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/95), que, com a redação dada
ao § 6º do art. 5º no ano de 1990, expressamente previu que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações,
que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. Vale dizer, o MP exerce importante papel no processo
coletivo, podendo-se valer dos meios autocompositivos, inclusive no processo coletivo. Não há vedação para
que atue desta forma. Ainda, há que se ressaltar a Resolução 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério
Público, que trada das ferramentas de autocomposição, como a negociação, conciliação e mediação. É de se
mencionar a crescente onda legislativa que trata de justiça negociada, onde se pode citar o acordo de não
persecução cível, com previsão no §1º do art. 17 da lei 8.429/92, em recente reforma legislativa, elevando a
autocomposição para a o campo da improbidade administrativa, sendo o Ministério Público legitimado para
celebração do referido acordo.

2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6

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Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. O controle de constitucionalidade pela via de exceção, concreto ou incidental pode ser
suscitado:
a) Somente em processo de conhecimento.
b) Também por pessoa estranha à relação jurídica processual.
c) Somente pelo demandante, demandado, terceiro interveniente e Ministério Público, como também por
juízo ou tribunal, que dispõe da possibilidade de declaração de inconstitucionalidade ex officio.
d) Também por órgão do Poder Legislativo ou Poder Executivo.
e) Somente em processo de execução.

Comentários

O controle de constitucionalidade pela via de exceção, concreto ou incidental pode ser suscitado também
em processo executivo e processo cautelar (alternativas A e E), por pessoa que não seja estranha à relação
jurídica processual (alternativa B), perante órgão do Poder Judiciário (alternativa D).

A inconstitucionalidade pode ser arguida pelo demandante, demandado, terceiro interveniente e Ministério
Público, não devendo ser olvidada a possibilidade de juízo ou tribunal proceder à declaração de
inconstitucionalidade ex officio, razão pela qual deve ser assinalada a alternativa C.

“Concurso público. Ressalva. Nomeação para cargo em comissão. Décimos da diferença entre
remuneração do cargo de que seja titular o servidor e do cargo em função ocupado.
Inconstitucionalidade. A Constituição Federal prevê, em seu art. 37, II, in fine, a ressalva à
possibilidade de ‘nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação’, como
exceção à exigência de concurso público. Inconstitucional o permissivo constitucional estadual
apenas na parte em que permite a incorporação ‘a qualquer título’ de décimos da diferença entre
a remuneração do cargo de que seja titular e a do cargo ou função que venha a exercer. A
generalização ofende o princípio democrático que rege o acesso aos cargos públicos. Ao Supremo
Tribunal Federal, como guardião maior da Constituição, incumbe declarar a inconstitucionalidade
de lei, sempre que esta se verificar, ainda que ex officio, em razão do controle difuso,
independente de pedido expresso da parte. O Ministério Público atuou, no caso concreto. Não

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há vício de procedimento sustentado. Embargos da Assembleia Legislativa do Estado de São


Paulo e do Estado de São Paulo acolhidos em parte, para limitar
a declaração de inconstitucionalidade dos art. 133 da Constituição e 19 do se ADCT, tão só, à
expressão, ‘a qualquer título’, constante do primeiro dispositivo. Rejeitados, os do servidor, por
não demonstrada a existência da alegada omissão e por seu manifesto propósito infringente”
(STF, RE nº 219.934, Rel. Min. Ellen Gracie, J. 13.10.2004, DJU 26.11.2004).

Questão 2. O princípio da reserva de plenário sobre o qual versa o art. 97 da Carta Magna tem exceção no:
a) Art. 102, inc. I, “a”, da Constituição da República.
b) Art. 949, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
c) Art. 52, inc. X, da Constituição da República.
d) Art. 28, parágrafo único, da Lei no 9.868/99.
e) Art. 102, § 2o, da Constituição da República.

Comentários

O princípio da reserva de plenário sobre o qual versa o art. 97 da Carta Magna tem exceção no art. 949,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, segundo o qual os órgãos fracionários dos tribunais não devem
submeter ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver
pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

O candidato deve assinalar a alternativa B, portanto.

“Direito Constitucional. Agravo interno em reclamação. Afastamento da incidência dos arts. 7º e


9º da Lei nº 9.717/1987 e do Decreto nº 3.788/2001. Súmula vinculante 10. Não ofende a cláusula
de reserva de plenário decisão de órgão fracionário que declara a inconstitucionalidade de norma
com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Inteligência do art. 949, parágrafo
único, do CPC/2015. Precedentes. Agravo interno desprovido, com aplicação de multa prevista
no art. 1.021, §4 º, do CPC/2015” (STF, Rcl nº 32.209, Rel. Min. Roberto Barroso, J. 16.06.2020,
DJU 14.07.2020).

Questão 3. Em conformidade com os votos proferidos pelos Ministros Gilmar Ferreira Mendes e Eros
Roberto Grau, nos autos da Reclamação no 4.335/AC, em que se discute a releitura, ou não, do papel do
Senado Federal, a decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal:
a) Quando o Supremo Tribunal Federal conhecesse em abstrato do caso concreto, produziria efeito erga
omnes.
b) Produziria efeito inter partes, a partir da suspensão de execução.
c) Quando o Senado Federal procedesse à suspensão de execução, produziria efeito erga omnes.
d) Produziria efeito inter partes, até a suspensão de execução.
e) Quando o Supremo Tribunal Federal conhecesse de recurso extraordinário interposto contra acórdão que
tivesse negado vigência a lei ou ato normativo federal ou estadual, produziria efeito erga omnes.

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Comentários

De acordo com os votos prolatados pelos Ministros Gilmar Ferreira Mendes e Eros Roberto Grau, no
julgamento da Reclamação no 4.335/AC, a norma veiculada pelo art. 52, inc. X, da Constituição da República
é objeto de mutação constitucional, de forma a possibilitar que as declarações de inconstitucionalidade do
Plenário do Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concreto, quando a validade de lei ou ato
normativo houver sido discutida em tese, sejam recobertas de efeito erga omnes e vinculante, limitando-se
o Senado Federal a publicar a decisão no Diário do Congresso Nacional.

Na questão sob exame, deve o candidato assinalar a alternativa A.

Questão 4. Sobre a modulação da eficácia temporal da decisão de inconstitucionalidade a que se refere o


art. 27 da Lei no 9.868/99, a teor da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa
correta:
a) O instituto somente é aplicável ao controle de constitucionalidade principal.
b) Impede a atribuição de eficácia ex nunc à decisão de inconstitucionalidade.
c) O instituto não é aplicável ao controle de constitucionalidade abstrato.
d) Impõe o reconhecimento da anulabilidade do ato inconstitucional.
e) O instituto também é aplicável ao controle de constitucionalidade incidental.

Comentários

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é fixada no sentido de que a modulação da eficácia temporal
da decisão de inconstitucionalidade também é aplicável ao controle de constitucionalidade incidental, razão
pela qual a alternativa E está correta.

“O Tribunal fixou orientação no sentido de permitir, em controle de constitucionalidade concreto


ou difuso, a restrição dos efeitos temporais da decisão de inconstitucionalidade incidenter
tantum (...). Essas colocações têm a virtude de demonstrar que a decisão de
inconstitucionalidade in concreto também se mostra passível de limitação de efeitos. A base
constitucional dessa limitação parece sugerir que a declaração de inconstitucionalidade
temporalmente restrita revela-se abrangente do modelo de controle de constitucionalidade como
um todo” (STF, AC-QO nº 189, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 9.6.2004, Inf. STF 351).

Questão 5. O controle de constitucionalidade incidental brasileiro:


a) Não pode ser realizado em habeas corpus, mas cabe em mandado de segurança.
b) Não se sujeita ao efeito vinculante de ação direta de inconstitucionalidade.
c) Pode ser realizado por todo e qualquer juiz, mas não de ofício.
d) Pode ser realizado em recurso especial.
e) Não cabe contra lei municipal em face da Constituição da República.

Comentários

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O controle concreto-incidental, no Direito Positivo brasileiro, pode ser realizado em habeas corpus e
mandado de segurança (alternativa A), sujeitando-se ao efeito vinculante de ação direta de
inconstitucionalidade (alternativa B), de ofício por todo e qualquer juiz (alternativa C), contra lei municipal,
estadual, distrital ou federal em face da Constituição da República (alternativa E).

De outro giro, controle de constitucionalidade incidental brasileiro pode ser realizado em recurso especial
de que trata a alternativa D.

“Recurso extraordinário. Matéria legal. O recurso extraordinário é meio impróprio a guindar-se


ao Supremo Tribunal Federal o exame de desfecho de lide ocorrido à luz de normas estritamente
legais. Recurso especial. Controle difuso de constitucionalidade. Ultrapassada a barreira de
conhecimento do especial, o Superior Tribunal de Justiça exerce, como qualquer outro órgão
investido do ofício judicante, o controle difuso, incumbindo à parte, sequiosa de ver a
controvérsia guindada ao Supremo Tribunal Federal, instá-lo a pronunciar-se sobre a implicação
constitucional. Descabe confundir a impossibilidade de conhecer-se do recurso especial por
infringência à Carta da República com a atuação inerente aos órgãos julgadores, voltada
ao controle de constitucionalidade, considerado o caso concreto” (STF, AI-AgR nº 223.494, Rel.
Min. Marco Aurélio, J. 15.12.1998, DJU 07.05.1999).

Questão 6. Sobre as Finanças Públicas, nos termos estabelecidos na Constituição Federal, assinale a
alternativa correta.
a) O Presidente da República poderá enviar mensagem ao Congresso Nacional para propor modificação nos
projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual, ainda que já
iniciada a votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é proposta.
b) Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual,
ficarem sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais
ou suplementares, independente de prévia e específica autorização legislativa.
c) As emendas individuais impositivas apresentadas ao projeto de lei orçamentária anual poderão alocar
recursos a Estados, ao Distrito Federal e a Municípios por meio de transferência especial ou transferência
com finalidade definida, os quais integrarão a receita do Estado, do Distrito Federal e dos Municípios para
fins de repartição e para o cálculo dos limites da despesa com pessoal ativo e inativo.
d) Na transferência especial os recursos serão repassados diretamente ao ente federado beneficiado,
independentemente de celebração de convênio ou de instrumento congênere.
e) As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas no limite de 1% (um inteiro por
cento) da receita corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a
metade deste percentual será destinada a ações e serviços públicos de saúde.

Comentários

A alternativa A está incorreta, nos termos do artigo 166, §5º, da CF/88: “O Presidente da República poderá
enviar mensagem ao Congresso Nacional para propor modificação nos projetos a que se refere este artigo
enquanto não iniciada a votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é proposta.”

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A alternativa B está incorreta, conforme previsão do artigo 166, §8º, da CF/88: “Os recursos que, em
decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas
correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares,
com prévia e específica autorização legislativa.”

A alternativa C está incorreta, de acordo com o art. 166-A, §1º, da CF/88: “Os recursos transferidos na forma
do caput deste artigo não integrarão a receita do Estado, do Distrito Federal e dos Municípios para fins de
repartição e para o cálculo dos limites da despesa com pessoal ativo e inativo, nos termos do §16 do art.
166, e de endividamento do ente federado, vedada, em qualquer caso, a aplicação dos recursos a que se
refere o caput deste artigo no pagamento de: (...)”.

A alternativa D é a correta, conforme estabelece o art. 166-A, §2º, I, da CF/88: “Na transferência especial a
que se refere o inciso I do caput deste artigo, os recursos: serão repassados diretamente ao ente federado
beneficiado, independentemente de celebração de convênio ou de instrumento congênere.”

A alternativa E está incorreta, nos termos do art. 166, §9º, da CF/88: “As emendas individuais ao projeto de
lei orçamentária serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente
líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a metade deste percentual será
destinada a ações e serviços públicos de saúde.”

Gabarito: letra D.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Órgãos de cúpula da Administração, subordinados diretamente à chefia dos órgãos
independentes; possuem autonomia administrativa, financeira e técnica. O conceito refere-se aos órgãos:
a) Autônomos
b) Independentes
c) Superiores
d) Subalternos

Comentários

Gabarito: A

Classificação dos Órgãos Quanto à Posição Estatal

• Órgãos Independentes

São aqueles originários da Constituição e representativos dos três Poderes do Estado, sem qualquer
subordinação hierárquica ou funcional, e sujeitos apenas aos controles constitucionais de um sobre o outro.

Estão nessa classificação as Casas Legislativas, a Chefia do Executivo e os Tribunais. Hoje, a doutrina mais
moderna classifica o Ministério Público e o Tribunal de Contas como órgãos independentes.

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• Órgãos Autônomos

São os órgãos de cúpula da Administração, subordinados diretamente à chefia dos órgãos independentes;
possuem autonomia administrativa, financeira e técnica. Observe, contudo, que não exercem suas
atribuições de forma independente, de maneira que estão subordinados aos órgãos independentes.

Estão nessa classificação os Ministérios e as Secretarias de Estado.

• Órgãos Superiores

São órgãos de direção, controle e comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma
chefia; não possuem autonomia financeira e administrativa, possuindo apenas autonomia técnica.

Estão nessa classificação os departamentos, coordenadorias, gabinetes, procuradorias.

• Órgãos Subalternos

São aqueles órgãos de mera execução, como, por exemplo, as seções de material, de portaria, zeladoria.

Questão 2. Acerca das agências reguladoras, marque a assertiva incorreta:


a) O mandato dos membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada das agências reguladoras será de
5 (cinco) anos, vedada a recondução, ressalvada a hipótese de vacância antes do período final.
b) É proibida a exoneração ad nutum dos membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada das
agências reguladoras.
c) É constitucional lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada agência reguladora somente
poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia Legislativa..
d) O ex-dirigente da agência reguladora ficará impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer
serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de quatro meses, contados da exoneração
ou do término do seu mandato..

Comentários

Gabarito: D

Letra A – Correta - O Art. 6º da Lei nº 9986/00 estabelecem que o mandato dos membros do Conselho Diretor
ou da Diretoria Colegiada das agências reguladoras será de 5 (cinco) anos, vedada a recondução, ressalvada
a hipótese de vacância antes do período final.

Letra B – Correta - o art. 9º da mesma Lei estabeleceu os casos em que o dirigente perderá o mandato, quais
seja: 1) Renúncia; 2) Condenação Judicial Transitada em julgado, ou 3) Processo Administrativo disciplinar e
4) por infringência de quaisquer das vedações impostas aos dirigentes. .

A legislação, dessa forma, proíbe a exoneração ad nutum, ou seja, por livre vontade do administrador
público.

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Letra C – Correta – Informativo 759: É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de
determinada agência reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela
Assembleia Legislativa. Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes
de agência reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da Assembleia
Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão viola o princípio da separação
dos poderes (at. 2º da CF/88). STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info
759 – Fonte: Dizer o Direito).

Letra D – INCORRETA - Este período se refere ao lapso temporal em que o dirigente da agência reguladora
ficará afastado de atuar no mercado regulado por ele.

De acordo com o art. 8º da Lei nº 9986/00, o ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de
prestar qualquer serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de seis meses, contados
da exoneração ou do término do seu mandato.

Inclui-se no período de 6 (seis) meses eventuais períodos de férias não gozadas.

Durante o impedimento, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, fazendo jus a remuneração compensatória
equivalente à do cargo de direção que exerceu e aos benefícios a ele inerentes.

Aplica-se o período de quarentena ao ex-dirigente exonerado a pedido, se este já tiver cumprido pelo menos
seis meses do seu mandato.

Incorre na prática de crime de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-dirigente que
violar o impedimento, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, administrativas e civis.

Na hipótese de o ex-dirigente ser servidor público, poderá ele optar pelo recebimento da remuneração
compensatória, ou pelo retorno ao desempenho das funções de seu cargo efetivo ou emprego público, desde
que não haja conflito de interesse.

Questão 3. O consórcio público (Lei n° 11.107/2005) pode ser considerado como uma das formas que pode
tomar a Administração Indireta, servindo à conjugação de interesses e à organização da ação entre
diferentes entes da federação. A esse respeito, é correto afirmar que:
a) a União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte todos os Estados em
cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados.
b) o consórcio público adquirirá personalidade jurídica de direito público, no caso de constituir associação
pública, após registro no cartório de pessoas jurídicas do território de todos os entes que o componham.
c) os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de
investimento, o qual deverá prever prazo de vigência mínima de 5 (cinco) anos.
d) os agentes públicos incumbidos da gestão de consórcio responderão pessoalmente pelas obrigações
contraídas pelo consórcio público.

Comentários

Gabarito: A

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A resposta é letra A, afinal trata-se da literalidade do art.1º §2º da Lei 11.107/04. A letra B está errada, pois
o consórcio pessoa jurídica de direito público não necessita de registro no cartório de pessoas jurídicas. Basta
a edição de lei.

A letra C está errada, uma vez que os entes consorciados entregarão recursos ao consórcio público mediante
contrato de rateio.

A letra D está equivocada, haja vista o art. 10, parágrafo único da Lei 11.107/04, que afirma que os agentes
públicos incumbidos da gestão de consórcio não responderão pessoalmente pelas obrigações contraídas
pelo consórcio público, mas responderão pelos atos praticados em desconformidade com a lei ou com as
disposições dos respectivos estatutos.

Questão 4. Julgue os itens abaixo:


I - Quando se tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o benefício de pensão por
morte será concedido nos termos de lei do respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada
a hipótese de morte dos servidores agente penitenciário, agente socioeducativo ou policial decorrente de
agressão sofrida no exercício ou em razão da função.
II - O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições
e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
mental, enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade
exigidos para o cargo de destino, e a remuneração será a do novo cargo.
III - Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime próprio
de previdência social que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
a) Apenas os itens I e III estão corretos
b) Todos os itens estão corretos
c) O Item II está correto
d) O item I está incorreto.

Comentários

Gabarito: A

Item I – Correto – Trata-se da redação do art. 40, §7º, da CR/88.

Item II – Errado – Trata-se da redação do art. 37, §13, incluído pela EC nº 103/2019. O servidor público titular
de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades sejam
compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto permanecer
nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino,
mantida a remuneração do cargo de origem.

Item III – Correto – Trata-se da redação do art. 40, §18, incluído pela EC nº 103/2019.

Questão 5. Segundo a doutrina majoritária, a respeito da permissão de serviço público, é correto afirmar:

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a) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa jurídica, formalizada por
contrato de adesão, a título precário, sendo dispensada a licitação.
b) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa de direito privado,
mediante licitação, e ao pagamento de tarifa diretamente pelo usuário ao prestador.
c) é a delegação de ato administrativo precário, unilateral, discricionário e que tem como função consentir
com o uso de um bem público ou viabilizar a prática de uma atividade por um particular.
d) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, por contrato de adesão, a título precário e mediante licitação.
e) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, formalizada por contrato de gestão, a título precário e
mediante licitação.

Comentários

Gabarito: D

PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

1. Conceito

De acordo com o art. 2º, IV da Lei de concessões, considera-se permissão de serviço público a delegação, a
título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa
física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

2. Natureza Jurídica

Com o advento da CR/88 e da Lei nº 8.987/95, as permissões de serviço público passaram a ter natureza
jurídica contratual, de contrato de adesão.

3. Diferenças entre a Concessão e a Permissão

Antes a CR/88 e a Lei nº 8.987/95 terem firmado posição de que a permissão também possuiria natureza de
contrato administrativo, pouco há de se diferenciar entre a concessão e a permissão de serviço público.
Analisando o texto legal, pode-se dizer que há apenas duas diferenças entre os institutos.

A primeira diferença reside no sujeito que pode ser um concessionário ou permissionário. De acordo com o
Art. 2º, II e III da Lei nº 8.987/95, a concessão poderá ser celebrada com um consórcio de empresas ou com
uma pessoa jurídica. Por sua vez, o art. 2º IV da mesma lei, estabelece que a permissão poderá ser celebrada
com uma pessoa jurídica ou uma pessoa física.

A segunda diferença está na precariedade que a permissão possui e a concessão não. Contudo, observe que
essa precariedade é discutida doutrinariamente. Segundo vários doutrinadores , não há que se falar em
precariedade da permissão, exatamente por ser considerada contrato administrativo.

4. Aplicação das Regras de Concessão

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Ademais, há de se falar que todas as regras aplicáveis à concessão serão aplicáveis à permissão, nos termos
do art. 40, parágrafo único da Lei de concessões.

Questão 6. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e
indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público,
que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade.
b) Contrato de desempenho é o acordo celebrado entre o órgão ou entidade supervisora e o órgão ou
entidade supervisionada, por meio de seus administradores, para o estabelecimento de metas de
desempenho do supervisionado, com os respectivos prazos de execução e indicadores de qualidade, tendo
como contrapartida a concessão de flexibilidades ou autonomias especiais
c) É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações
de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,
destinadas à prestação de serviços de saúde.
d) Para o STJ, as fundações públicas de direito privado fazem jus à isenção das custas processuais, em razão
do regime híbrido incidente sobre elas.

Comentários

Letra A. Correta. Nos termos do art. 37, § 8º, da CF, a autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado
entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para
o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: I - o prazo de duração do contrato; II - os controles e critérios
de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; III - a remuneração do
pessoal.

Letra B. Correta. Em 11 de dezembro de 2019, foi publicada a Lei 13.934, que veio a regulamentar o contrato
referido no § 8º do art. 37 da CF, agora denominado “contrato de desempenho” (antes chamado de contrato
de gestão), no âmbito da administração pública federal direta de qualquer dos Poderes da União e das
autarquias e fundações públicas federais (art. 1º).

Pelo art. 2º, contrato de desempenho é o acordo celebrado entre o órgão ou entidade supervisora e o órgão
ou entidade supervisionada, por meio de seus administradores, para o estabelecimento de metas de
desempenho do supervisionado, com os respectivos prazos de execução e indicadores de qualidade, tendo
como contrapartida a concessão de flexibilidades ou autonomias especiais.

Letra C. Correta. Quando ostentarem personalidade jurídica de direito privado, as fundações


governamentais serão regidas por um regime híbrido. Seus contratos serão civis, sem a existência de
cláusulas exorbitantes; não gozarão essas fundações de privilégios processuais e seu pessoal será regido pela
CLT. Justamente por isso, o STF assentou que “é constitucional a legislação estadual que determina que o
regime jurídico celetista incide sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas,
com personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde” (ADI 4.247/RJ, j.
3.11.2020 – Info 997).

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Letra D. INCORRETA. Para o STJ, as fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas
processuais; a isenção é devida tão somente às entidades com personalidade de direito público, que recebem
tratamento semelhante ao conferido aos entes da Administração Direta (REsp 1.409.199-SC, j. 10.3.20 – Info
676).

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. No que toca às associações, assinale a alternativa verdadeira:
a) Em regra, a transferência de cota ou fração ideal do patrimônio da associação implica a atribuição da
qualidade de associado ao adquirente ou herdeiro, salvo disposição em contrário.
b) É lícita a instituição de categorias com vantagens especiais no estatuto da associação, o que não
representa violação à igualdade de direitos entre os associados.
c) Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos,
especificando-se no estatuto o fim a que se destina e se declarando, em caso de interesse dos associados, a
maneira de administrá-la.
d) É ilegal a prática de restituição aos associados, quando da dissolução da associação, por cláusula disposta
no estatuto, das contribuições que tiverem prestado ao patrimônio daquela, em detrimento da possibilidade
de prévia destinação do valor remanescente a outra entidade de fins idênticos ou semelhantes, dada a
vedação de persecução de lucro.
e) Para que se admita a exclusão de qualquer associado, faz-se necessária a prévia instauração de
procedimento judicial a assegurar direito de resposta e de recurso pela parte a ser prejudicada, sob pena de
ofensa às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação,
a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou
ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto, dada a regra da intransmissibilidade da qualidade de
associado, na forma do artigo 56 do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque dispõe o artigo 55 do Código Civil que os associados devem ter direitos
iguais, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.

A alternativa C é falsa porque a forma de gestão administrativa deve estar contida no estatuto da associação,
sob pena de nulidade, não se tratando sua declaração de mera faculdade, tal como ocorre no âmbito da
instituição das fundações, conforme intelecção do artigo 54, VII, do Código Civil.

A alternativa D é falsa, porque, dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois
de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais, será destinado à entidade de fins não econômicos
designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou
federal, de fins idênticos ou semelhantes. Não obstante, por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por
deliberação dos associados, podem estes, antes da referida destinação, receber em restituição, atualizado o

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respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação, com fulcro no artigo
61, “caput” e §1º, do Código Civil.

A alternativa E é falsa, porque a exclusão do associado só é admissível havendo justa casa, assim reconhecida
em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto, conforme
o artigo 57 do Código Civil. Não há qualquer exigência de que tal procedimento seja judicial.

Questão 2. Quanto ao contrato de promessa de compra e venda, no âmbito da lei que dispõe sobre o
parcelamento do solo urbano (Lei 6.766/79), marque a alternativa errada:
a) O compromisso de compra e venda de lote urbano, ainda que realizado por instrumento particular,
constitui título para o registro de sua propriedade, desde que acompanhado da prova de quitação.
b) Dado o caráter preliminar da celebração de compromisso de compra e venda, é admissível a sua
retratação, independentemente de registro e de direito real oponível a terceiros dele decorrente.
c) Somente por decisão judicial, prova de rescisão do contrato ou requerimento conjunto das partes
contratantes pode o registro do compromisso de compra e venda ser cancelado.
d) A transmissão da propriedade loteada não prejudica o compromisso de compra e venda firmado entre o
antigo proprietário e terceiros, em todas as suas cláusulas, sendo nula qualquer disposição em contrário.
e) O descumprimento da conclusão do contrato de promessa de venda por aquele que se obrigou enseja ao
credor a possibilidade de notificar o devedor para outorga do contrato ou oferecimento de impugnação no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de proceder-se ao registro de pré-contrato.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque os compromissos de compra e venda, os quais podem ser feitos por
escritura pública ou instrumento particular, valerão como título para o registro da propriedade do lote
adquirido, quando acompanhados da respectiva prova de quitação, na forma dos artigos 26, “caput” e §6º,
da Lei 6.766/79.

A alternativa B é falsa, porque são irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas
de cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados, confiram direito real
oponível a terceiros, consoante o artigo 25 da Lei 6.766/79.

A alternativa C é verdadeira, porque, nos exatos termos do artigo 36 da Lei 6.766/79, o registro do
compromisso, cessão ou promessa de cessão só poderá ser cancelado por decisão judicial, a requerimento
conjunto das partes contratantes ou quando houver rescisão comprovada do contrato.

A alternativa D é verdadeira, porque aquele que adquirir a propriedade loteada mediante ato inter vivos, ou
por sucessão causa mortis, sucederá o transmitente em todos os seus direitos e obrigações, ficando obrigado
a respeitar os compromissos de compra e venda ou as promessas de cessão, em todas as suas cláusulas,
sendo nula qualquer disposição em contrário, ressalvado o direito do herdeiro ou legatário de renunciar à
herança ou ao legado. É o que prevê o artigo 29 da Lei 6.766/79.

A alternativa E é verdadeira, porque se aquele que se obrigou a concluir contrato de promessa de venda ou
de cessão não cumprir a obrigação, o credor poderá notificar o devedor para outorga do contrato ou

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oferecimento de impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de proceder-se ao registro de pré-
contrato, passando as relações entre as partes a serem regidas pelo contrato-padrão, com fulcro no artigo
27, “caput”, da Lei 6.766/79.

Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética: Pedro, acamado em razão de uma enfermidade
incurável e sabedor da mínima possibilidade de sobrevivência, resolveu dispor em testamento todo o seu
patrimônio em favor de sua curadora Joana. Passados alguns meses, em razão do agravamento de sua
doença, Pedro faleceu, deixando para trás, como únicos familiares, seu irmão Alberto e seus sobrinhos
Cíntia e José, cada qual filho de outros irmãos de Pedro que há muito tinham falecido. Com base nesta
situação, assinale a alternativa correta:
a) É ilícita a disposição testamentária que conferiu a Joana a integralidade do patrimônio de Pedro, uma vez
que não respeitada a legítima, em evidente prejuízo aos familiares sobreviventes a quem ela pertence.
b) Caso inexistente o testamento, caberia a Alberto a totalidade do patrimônio deixado pelo de cujus, não se
atribuindo qualquer fração a Cíntia e José, uma vez que, na classe dos colaterais, os mais próximos excluem
os mais remotos.
c) Na falta do testamento e da presença de Alberto, ficaria a sucessão restrita aos sobrinhos do falecido,
podendo José herdar apenas a metade do que herdar Cíntia, se constatado que seus pais eram,
respectivamente, irmãos unilaterais e bilaterais do de cujus.
d) Ainda que não houvesse o testamento, não poderiam Cíntia e José concorrer à herança, por não haver
direito de representação na linha descendente ou transversal.
e) Não possuirão direito à herança os familiares sobreviventes de Pedro, mesmo que desconsiderada a
disposição testamentária, dado que, por não se qualificarem como herdeiros necessários, a eles não se
defere a sucessão legítima.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque não há, no presente caso, herdeiros necessários, e, por conseguinte, a
intangibilidade a metade da herança designada legítima, podendo Pedro, tal como fez, dispor livremente em
testamento o seu patrimônio. Aliás, preceitua o artigo 1.850 do Código Civil que para excluir da sucessão os
herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

A alternativa B é falsa, porque, caso não existisse o testamento, ficaria a sucessão voltada aos familiares
sobreviventes de Pedro, os quais se qualificam como herdeiros colaterais. E, na classe dos colaterais, os mais
próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos,
conforme intelecção do artigo 1.840 do Código Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque, na falta de irmãos, herdarão os filhos destes, e, se concorrem filhos de
irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um
daqueles, nos moldes do artigo 1.843, §2º, do Código Civil.

A alternativa D é falsa, porque, na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos
filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem, tal como no caso concreto, com base
no artigo 1.853 do Código Civil.

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A alternativa E é falsa, porque a despeito de não se qualificarem como herdeiros necessários (art. 1.845 do
CC), inserem-se os colaterais no rol da ordem de vocação hereditária, consoante dispõe o artigo 1.829 do
Código Civil.

2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Tendo por base as disposições legais alusivas ao depoimento pessoal, somente se pode afirmar
que:
a) Não pode o juiz, de ofício, ordenar o depoimento pessoal de uma das partes, cabendo à parte contrária a
formulação do respectivo requerimento, caso seja de seu interesse.
b) A parte que se recusa a depor não recebe igual tratamento jurídico conferido àquela que, intimada para
prestar depoimento pessoal, não comparece, restringindo-se a esta hipótese a possibilidade de aplicação de
multa pelo juiz.
c) Não pode a parte se negar a depor sobre determinado fato, ao argumento de que a resposta
inevitavelmente lhe trará desonra, dada a prevalência da busca pela verdade real, sem prejuízo da
decretação do segredo de justiça nos autos, a fim de respeitar as garantias da intimidade e a vida privada.
d) Em ações de família, é a parte obrigada a depor sobre os fatos que lhe são questionados, ainda que alusivos
a crimes a ela imputados.
e) Não é permitida a complementação de esclarecimentos pela parte que presta depoimento pessoal, por
meio de consulta a notas breves, ante a proibição de utilização de escritos anteriormente preparados.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim de que esta
seja interrogada na audiência de instrução e julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de
ofício, com base no artigo 385, “caput”, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento pessoal e
advertida da pena de confesso, não comparecer, ou, mesmo comparecendo, se recusar a depor, o juiz
aplicar-lhe-á a pena, conforme o artigo 385, §1º, do Código de Processo Civil.

A alternativa C é falsa, porque a parte não é obrigada a depor sobre fatos acerca dos quais não possa
responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível, nos
termos do artigo 388, III, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque as hipóteses que desobrigam a parte de depor sobre determinados
fatos, contidas no artigo 388 do Código de Processo Civil, não se aplicam às ações de estado e de família, na
forma do parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

A alternativa E é falsa, porque a parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo
servir-se de escritos anteriormente preparados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas breves,
desde que objetivem completar esclarecimentos, nos moldes do artigo 387 do Código de Processo Civil.

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Questão 2. No que se refere ao processamento do inventário e seus possíveis desdobramentos, é correto


afirmar que:
a) A realização de despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio prescinde
de autorização do juiz, por se tratar de incumbência inerente ao compromisso do inventariante.
b) Constitui a nomeação do inventariante marco temporal limite para a manutenção do espólio na posse do
administrador provisório.
c) Não é dado a qualquer dos herdeiros, em decisão antecipatória, usar ou fruir de determinado bem,
enquanto não resolvida, em definitivo, a patilha dos bens inventariados, salvo se se tratar da mesma pessoa
do inventariante.
d) Pode o credor do espólio requerer ao juízo do inventário a sua habilitação com vistas a assegurar o
pagamento das dívidas atribuídas ao ente, desde que vencidas e exigíveis.
e) É possível a emenda da partilha nos mesmos autos do inventário, ainda que transitada em julgado a
sentença, contanto que haja concordância das partes e se refira a erro de fato na descrição dos bens.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque incumbe ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz,
fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio, consoante o artigo
619, IV, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque continuará o espólio na posse do administrador provisório até que o
inventariante preste o compromisso, e não até a data de sua nomeação, de acordo com o artigo 613 do
Código de Processo Civil.

A alternativa C é falsa, porque o juiz poderá, em decisão fundamentada, deferir antecipadamente a qualquer
dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de fruir de determinado bem, com a condição de que, ao
término do inventário, tal bem integre a cota desse herdeiro, cabendo a este, desde o deferimento, todos os
ônus e bônus decorrentes do exercício daqueles direitos, nos exatos termos do artigo 647, parágrafo único,
do Código de Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque o credor de dívida líquida e certa, ainda não vencida, pode requerer
habilitação no inventário. Concordando as partes, o juiz, ao julgar habilitado o crédito, mandará que se faça
separação de bens para o futuro do pagamento. É o que dispõe o artigo 644 do Código de Processo Civil.

A alternativa E é verdadeira, a partilha, mesmo depois de transitada em julgado a sentença, pode ser
emendada nos mesmos autos do inventário, convindo todas as partes, quando tenha havido erro de fato na
descrição dos bens, podendo o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, a qualquer tempo, corrigir as
inexatidões materiais, conforme o artigo 656 do Código de Processo Civil.

Questão 3. Considerando as disposições legais e o entendimento jurisprudencial sobre as ações


possessórias, marque a alternativa verdadeira:
a) Constitui documento essencial à propositura da ação possessória a notificação prévia dos (pretensos)
ocupantes do imóvel, porque necessária à indicação da data da turbação ou esbulho, sob pena de extinção
do feito, sem resolução do mérito.

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b) Ao juiz é dado deferir tutela reivindicatória de propriedade em lugar da proteção possessória requerida,
caso verifique que os pressupostos em relação àquela estejam provados, ante o caráter fungível dessas
espécies de ação.
c) Sucumbe à alegação de propriedade o pedido de manutenção ou reintegração formulado em sede de ação
possessória, haja vista a supremacia daquele direito real sobre o direito titularizado por mero possuidor.
d) É possível o ajuizamento de ação possessória por particulares com vistas a resguardar a utilização de bem
público de uso comum do povo instituído como servidão de passagem.
e) Em ações possessórias fundadas em composse ou em ato praticado por ambos os cônjuges, não se fala
em litisconsórcio necessário, mas sim na exigência de outorga daquele que não integra a relação jurídica
processual.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque “a notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura
da ação possessória”. STJ. 4ª Turma. REsp 1263164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info
594).

A alternativa B é falsa, porque a característica da fungibilidade cinge-se às ações possessórias e não se aplica,
entre elas, a ação petitória. Consigna o artigo 554, “caput”, do Código de Processo Civil, que a propositura
de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção
legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.

A alternativa C é falsa, porque não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade
ou de outro direito sobre a coisa, conforme o artigo 557, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque “particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de
passagem.
Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a
avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar
ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa
uma servidão de passagem”. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
20/9/2016 (Info 590).

A alternativa E é falsa, porque, segundo o artigo 73, §2º, do Código de Processo Civil, nas ações possessórias,
a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato
por ambos praticado, em caso, pois, de litisconsórcio necessário, e não de mera outorga do outro cônjuge.

Questão 4. Assinale a alternativa correta a respeito da sentença:


a) Com o novo Código de Processo Civil, não é necessária a manifestação das partes a respeito de
fundamento utilizado pelo juiz em sentença, quando se tratar de matéria cognoscível de ofício.
b) O NCPC consagrou um conceito de sentença que leva em conta o conteúdo do pronunciamento judicial e
os efeitos que esse pronunciamento gera.
c) Em ação de usucapião de bem imóvel, a sentença tem natureza declaratória e efeitos ex nunc.

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d) A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será ineficaz se a decisão
deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo
e) Não se pode aplicar a teoria da causa madura no julgamento de recurso de sentença sem fundamentação,
devendo o processo retornar para o juízo de primeiro grau para prolação de nova decisão.

Comentários

A. Errada

CPC, Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate
de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

B. Correta

O CPC de 2015 consagrou um conceito de sentença que leva em conta o conteúdo do pronunciamento e os
efeitos que ele gera. Assim, para ser sentença, a decisão judicial deve se fundamentar nos artigos 485 ou 487
do CPC (conteúdo), bem como colocar fim à fase cognitiva do procedimento comum/extinguir a execução
(efeito).

C. Errada

A sentença em ação de usucapião tem natureza declaratória e efeitos ex tunc.

D. Errada

Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:

I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o
processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.

E. Errada

Com o NCPC, o Tribunal está expressamente autorizado a aplicar a teoria da causa madura e passar
imediatamente à prolação de decisão (art. 1013).

Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas
e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao
capítulo impugnado.

§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles,
a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

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§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde


logo o mérito quando:

I - reformar sentença fundada no art. 485 ;

II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da
causa de pedir;

III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;

IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se


possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do
processo ao juízo de primeiro grau.

§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável


na apelação.

Questão 5. Julgue os itens a seguir:


I. O protocolo da petição inicial é pressuposto de existência do processo, independentemente da citação
válida do réu.
II. Considera-se proposta a ação na data do protocolo da petição inicial, o que gera a litispendência, que
somente produzirá efeitos para o réu a partir de sua primeira manifestação nos autos do processo.
III. Antes da citação, pode o autor substituir livremente os elementos da demanda (objetivos e subjetivos),
sendo que, após a citação, somente poderá fazê-lo com a anuência do réu. Após o saneamento, esta
alteração é vedada.
IV. Durante a suspensão do processo é vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz, mesmo no
caso de arguição de impedimento e de suspeição, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar
dano irreparável.
Estão corretos:
a) I, II e III
b) I e III
c) III
d) III e IV
e) I, II, III e IV

Comentários

I. Correto

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CPC, Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a
propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for
validamente citado.

Daniel Assumpção diz que o processo já existe mesmo antes da citação do réu, inclusive sendo possível ao
juiz proferir sentença nesse momento, tanto terminativa (art. 330 do Novo CPC) como definitiva (art. 332 do
Novo CPC), extinguindo processo sem ou com a resolução do mérito.

Só é possível extinguir algo que já exista. Assim, a citação do réu não faz surgir a relação processual.

Fala-se, pois, em formação gradual do processo.

II. Errado

A citação válida é o marco temporal do início dos efeitos para o réu. Ademais, é esse o momento também
da geração da litispendência.

Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a
propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for
validamente citado.

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência,
torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Temos, em resumo, o seguinte:

i- Protocolo (art. 312): considera-se proposta a ação;

ii- Determinação da competência (art. 43) e prevenção (art. 59): momento do registro ou da distribuição;

iii- Interrupção da prescrição (art. 240, §1º): despacho que ordena a citação;

iv- Citação válida (art. 240, caput): induz litispendência, torna litigiosa a coisa, constitui em mora o devedor;

III. Correto

A citação gera a estabilização da demanda.

Antes da citação, por exemplo, pode o autor substituir livremente os elementos da demanda (objetivos e
subjetivos), sendo que, após a citação, somente poderá fazê-lo com a anuência do réu. Após o saneador,
esta alteração é vedada.

Art. 329. O autor poderá:

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I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de


consentimento do réu;

II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com


consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação
deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir.

Obs.: há alguma exceção? Há hipóteses nas quais o réu pode sentir os efeitos da decisão antes de sua
citação?

Renato Montans32 diz que sim, como na concessão de liminares. Um dos casos mais notáveis é a
improcedência liminar do pedido (art. 332, CPC).

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do
réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção


de competência;

IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo,
a ocorrência de decadência ou de prescrição.

§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos
termos do art. 241.

§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.

§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do


réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no
prazo de 15 (quinze) dias.

IV. Errado

32
Manual de Direito Processual Civil, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 317.

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Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz,
todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso
de arguição de impedimento e de suspeição.

Questão 6. Quanto aos recursos, é correto afirmar:


a) Ocorrerá a preclusão consumativa do recurso para a parte que aceitar, ainda que tacitamente, sentença
que lhe foi desfavorável.
b) A renúncia ao direito de recorrer depende da aceitação da outra parte.
c) A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida
e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.
d) O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente e será admissível na apelação, no agravo, no
recurso extraordinário e especial.
e) A decisão deve ser impugnada no todo, sob pena de não conhecimento do recurso interposto.

Comentários

A. Errada

A preclusão lógica é que decorre da perda de um poder processual em razão de a parte ter praticado ato
anterior incompatível. No caso narrado, se a parte aceitou, ainda que tacitamente, sentença que lhe foi
desfavorável, não poderá, posteriormente, manejar recurso, tendo em vista que este ato é incompatível com
o ato anterior.

CPC, Art. 1.000, A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer.

Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato
incompatível com a vontade de recorrer

B. Errada

Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer INDEPENDE da aceitação da outra parte.

C. Correta

CPC, Art. 998, Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja
repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos
extraordinários ou especiais repetitivos.

D. Errada

Art. 997, § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis
as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo
disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte:

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II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial.

E. Errada

Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Interpretar a norma significa extrair-lhe o real alcance de seu significado, tratando-se de
operação intelectual que deve ser exercida por todo operador do Direito. Com respeito à interpretação e
à integração da norma penal, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I Na atividade de interpretação da norma penal, admite-se a criação de elementos ou o preenchimento de
lacunas, o que não se dá com a integração da regra penal.
II No processo de interpretação, pode-se ampliar o conteúdo de determinado termo ou expressão para
extrair o seu real significado.
III Na atualidade, os tribunais superiores têm admitido o uso e o costume, ainda que contra legem, para
ajustar as condutas previstas no tipo penal às concepções sociais dominantes, de modo a afastar a norma
incriminadora que, em razão da natureza do sistema jurídico, seja desfavorável ao réu.
IV A interpretação teleológica busca a vontade do legislador, a chamada voluntas legislatoris, e não a vontade
da lei, denominada voluntas legis.
V A analogia legis é caracterizada pela utilização de outra disposição normativa para integrar a lacuna
existente no ordenamento jurídico, enquanto que a analogia juris se caracteriza pelo emprego de um
princípio geral do direito para regular um caso semelhante, diante da inexistência de norma aplicável.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d)Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

Comentários

Gabarito: C

I Na assertiva, atribui-se o conceito de analogia à interpretação da lei penal.

II A interpretação da norma penal, conforme o seu alcance, pode classificada como extensiva ou restritiva. A
assertiva faz menção à primeira.

III Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista e, enquanto determinada lei estiver
em vigor, terá plena eficácia. Esta corrente prevalece, sobretudo, por disposição expressa da Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro, que dispõe, no seu art. 2º: “Não se destinando à vigência

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temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Nessa linha intelectiva, a título de
exemplo, não se pode alegar que a venda de CDs e DVDs piratas permite a sobreposição do costume à norma,
revogando o artigo 184, §2º, do CP, que incrimina a violação de direitos autorais. Nesse sentido, inclusive,
têm decidido o STF e o STJ.

IV A interpretação teleológica concentra suas preocupações no fim a que a norma se dirige; e não à vontade
do legislador.

V A analogia é forma de integração da norma penal que se vale da lei, ou de princípio, para alcançar-lhe o
real significado.

Questão 2. Sujeito do crime é o agente da conduta descrita no preceito primário da norma penal
incriminadora; e, como tal, aquele sobre o qual recairá a pena em caso de condenação. A vítima, por sua
vez, é qualquer pessoa física ou jurídica, que sofre com o resultado de um crime. A propósito dos sujeitos
do crime, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I Qualquer pessoa física capaz e com 18 anos completos pode ser sujeito ativo de crime.
II A pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de qualquer crime descrito no Código Penal ou em
legislação extravagante.
III Para os tribunais superiores, a Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física.
IV Somente se admite a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais definidos na Lei
nº 9.605/98.
V Pode figurar como sujeito passivo de um crime qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente
indeterminado, destituído de personalidade jurídica.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: B

I O legislador adotou o critério biológico para a definição da imputabilidade penal (CP, Art. 27).

II De acordo com a orientação dominante – na qual se incluem o STF e o STJ – a Constituição Federal admite
a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como sujeito ativo do crime ambiental. A Lei nº 9.605/98, ao
dispor sobre a punição da pessoa jurídica, estabelece que a responsabilização civil, administrativa e penal
tem lugar em decorrência de atos ordenados pelo representante legal ou contratual no interesse ou
benefício da entidade.

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III Com base numa das correntes sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica, tanto a pessoa física
quanto a pessoa jurídica praticam crimes (ambientais), podendo ambas ser responsabilizadas administrativa,
tributária, civil e penalmente. A pessoa jurídica, no entanto, só poderia ser responsabilizada quando
houvesse intervenção de uma pessoa física que atuasse em nome e em benefício do ente moral, conforme
dispõe o art. 3º da Lei 9.605/98, o que implicava, segundo se sustentou no início, a necessidade de dupla
imputação. Esta particularidade chegou a ser adotada pelo STJ (RMS 37.293/SP, DJe 09/05/2013), mas o STF
decidiu em sentido diverso, concluindo que a responsabilização penal da pessoa jurídica independe da
pessoa física. Argumentou-se que a obrigatoriedade de dupla imputação caracterizaria afronta ao art. 225,
§ 3º, da Constituição Federal, pois condicionaria a punição da pessoa jurídica à condenação simultânea da
pessoa física (RE 548.181/PR, DJe 19/06/2013). E, seguindo a mesma tendência, o STJ tem decidido que a
imputação criminal pode recair exclusivamente na pessoa jurídica (RMS 39.173/BA, DJe 13/08/2015).

IV Tema examinado no item II.

V A exemplo dos crimes contra a incolumidade pública e a saúde pública, pode figurar como sujeito passivo
do crime ente indeterminado, destituído de personalidade jurídica.

Questão 3. Para Welzel, a culpabilidade é a reprovabilidade de decisão da vontade, sendo uma qualidade
valorativa negativa da vontade de ação, e não a vontade em si mesma. O autor aponta a incorreção de
doutrinas segundo as quais a culpabilidade tem caráter subjetivo, porquanto um estado anímico pode ser
portador de uma culpabilidade maior ou menor, mas não pode ser uma culpabilidade maior ou menor. A
respeito da culpabilidade, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I- De acordo com a teoria da culpabilidade adotada pelo Código Penal, todo erro que recai sobre uma causa
de justificação configura erro de proibição.
II- Para a teoria da coculpabilidade, a sociedade é corresponsável pela prática do delito por ter deixado de
oferecer ao agente as condições sociais necessárias para uma vida digna, o que fez com que ele fosse
compelido à prática do delito, havendo um determinismo social.
III – A definição trazida no preceito da questão diz respeito à teoria normativa pura, ou finalista.
IV - Em relação à estrutura analítica do crime, o juízo da culpabilidade avalia a reprovabilidade da conduta.
V - São elementos da culpabilidade, tanto para a teoria normativa quanto a limitada, a imputabilidade, a
consciência potencial da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I, IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições III, IV e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas duas das proposições estão corretas.

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Gabarito: C

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I O Código Penal adotou a teoria limitada da culpabilidade; e, neste contexto, somente o erro que recai sobre
a existência de causa de justificação inexistente, ou sobre a extensão de causa existente, importa no
reconhecimento de erro de proibição indireto. Quando o erro recai sobre os pressupostos fáticos de causa
de justificação, se está diante do erro de tipo permissivo.

II Todo sujeito age numa circunstância dada e com um âmbito de autodeterminação também dado. Em sua
própria personalidade há uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a sociedade
– por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens com as mesmas
oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação,
condicionado desta maneira por causas sociais.

III A Teoria normativa pura da culpabilidade (ou extremada da culpabilidade) - inspirada no finalismo de
HANS WELZEL, é responsável pela migração do dolo e da culpa para o fato típico.

IV A culpabilidade, no finalismo, é o juízo de reprovação social que incide sobre conduta típica e ilícita.

V Tanto para a teoria normativa pura (extremada) quanto para a teoria limitada da culpabilidade,
imputabilidade, potencial ou real consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa, constituem
elementos da culpabilidade.

Questão 4. A respeito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O agente que, com a intenção de obter vantagem pecuniária, explodir um caixa eletrônico situado em um
posto de combustível, responderá criminalmente por furto qualificado em concurso formal impróprio com o
crime de explosão majorada.
II Agente que impõe à vítima, como garantia de dívida, a exigência ou o recebimento de documento que
pode dar causa a procedimento criminal contra esta ou terceiro, responde pelo delito de extorsão indireta.
III O crime de receptação dolosa imprópria independe da boa-fé do terceiro no recebimento da coisa ilícita
para efeito de responsabilização penal deste.
IV O agente que, com o objetivo de ter a posse de um carro, abordou a vítima, que dirigia devagar na saída
de um estacionamento, e a colocou, com violência, dentro do porta-malas, horas depois liberando-a em local
ermo, comete o crime de roubo majorado, pelo agente ter mantido a vítima em seu poder, restringindo-lhe
a liberdade. (CP, Art. 157, §2º, V)
V Constatada a utilização de arma de fogo desmuniciada na perpetração de delito de roubo, não se aplica a
circunstância majorante relacionada ao emprego de arma de fogo.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

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Gabarito: D

I A situação descrita encontra adequação típica no art. 155, § 4º-A, do Código Penal. Cuida-se de furto
qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

II Extorsão indireta: CP, Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de
alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena -
reclusão, de um a três anos, e multa.

III Na receptação imprópria, o agente não é propriamente o receptador, mas aquele que incute no terceiro
a ideia de adquirir, receber ou ocultar o bem. O terceiro deve agir de boa-fé, pois, do contrário, estará agindo
como receptador próprio (primeira parte do caput), e aquele que o influenciou responderá como partícipe.
(Rogério Sanches)

IV CP, Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (...) V - se o agente mantém a vítima
em seu poder, restringindo sua liberdade.

V Para o STJ, não incide a majorante se a arma estiver desmuniciada, por falta de potencialidade lesiva. 5ª
Turma (HC 376.263/DF, 21/11/2016); e 6ª Turma (HC 338338 / SP – 18/02/2016).

Questão 5. No que toca ao regramento do livramento condicional, analise as proposições abaixo e, em


seguida, assinale a opção correta:
I O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior
a 2 (dois) anos, desde que tenha cumprido mais de um terço da pena somente;
II O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
superior a 2 (dois) anos, desde que reste comprovado bom comportamento durante a execução da pena; o
não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; bom desempenho no trabalho que lhe foi
atribuído e aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto.
III A não reparação do dano é, em qualquer hipótese, fato impeditivo da concessão do livramento
condicional.
IV Não há obrigatoriedade de o apenado passar por regime intermediário, a exemplo do regime fechado
para o semiaberto, para que obtenha o benefício do livramento condicional.
V As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento.
a) Apenas uma proposição está correta;
b) Estão corretas apenas as proposições II, IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

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Gabarito: B

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I CP, Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for
reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes (Inciso I);

II CP, Art. 83, III, com a redação que lhe fora dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19)

III CP, Art. 83, IV - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração.

IV “A jurisprudência deste Tribunal consolidou entendimento no sentido de que não há obrigatoriedade


de o apenado passar por regime intermediário para que obtenha o benefício do livramento condicional,
ante a inexistência de previsão no art. 83 do Código Penal.”(STJ/RHC RHC 116324 / SP)

V CP, Art. 84: “As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento”.

Questão 6. Lucivaldo, de 75 anos de idade, foi definitivamente condenado pela prática de furto simples.
Sendo réu primário e cumprindo todos os requisitos do art. 59 do Código Penal, o juiz aplicou uma pena
de 4 anos a Lucivaldo. Neste caso,
I. em razão de sua idade, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá
ser suspensa, por quatro a seis anos.
II. no primeiro ano do prazo de suspensão, Lucivaldo deverá prestar serviços à comunidade ou submeter-
se à limitação de fim de semana.
III. a suspensão será revogada se, no curso do prazo, Lucivaldo, não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano.
IV. A sentença poderá suspender a pena restritiva de direitos e a multa.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II
b) II e III
c) I, II e III
d) I, II e IV
e) II, III e IV

Comentários

A alternativa C está correta. A asserção I está correta, pois, de acordo com o art. 77, §2 do CP, a execução
da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos,
desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

A asserção II está correta, pois, de acordo com o art. 78, §1 do CP, no primeiro ano do prazo, deverá o
condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

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A asserção III está correta, pois, de acordo com o 81, inc. II do CP: “Art. 81 - A suspensão será revogada se,
no curso do prazo, o beneficiário: II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua,
sem motivo justificado, a reparação do dano”.

A asserção IV está incorreta. Segundo o art. 80 do CP, A suspensão não se estende às penas restritivas de
direitos nem à multa.

Questão 7. No que se refere aos crimes contra a Administração Pública, é INCORRETO afirmar que:
a) Comete o crime de concussão quem exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.
b) Comete o crime de peculato-estelionato o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos.
c) Na corrupção passiva, a pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
d) No crime de peculato culposo, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade.
e) O Diretor de Penitenciária que deixa de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo,
comete crime de prevaricação.

Comentários

A alternativa B está correta. Comete o crime de peculato mediante erro de outrem, também chamado de
peculato-estelionato, quem se apropria de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo,
recebeu por erro de outrem (art. 313, CP).

Questão 8. Quanto à disciplina das penas privativas de liberdade, julgue as assertivas a seguir:
I. Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória,
no Brasil ou no estrangeiro.
II. O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas.
III. No regime aberto, o condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
Estão corretas as afirmativas:
a) I, apenas
b) II, apenas
c) III, apenas
d) I e II, apenas
e) II e III, apenas

Comentários

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A alternativa D está correta. A asserção I está correta, pois está de acordo com o art. 42 do CP: “Art. 42 -
Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no
Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos
referidos no artigo anterior”.

A asserção II está correta, pois está de acordo com o art. 34, §3 do CP.

A asserção III está incorreta, pois é no regime semi-aberto que o condenado fica sujeito a trabalho em comum
durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar (art. 35, §1, CP).

Questão 9. Lucélia, de 19 anos, engravidou de seu namorado, Jaílson, que não quis assumir a paternidade
e abandonou a jovem. Os pais de Lucélia, extremamente religiosos, expulsaram a filha de casa.
Abandonada pela família, pelo pai da criança e desempregada, Lucélia se viu sozinha na maternidade para
dar à luz. Após o parto, sob a influência de forte estado puerperal, Lucélia resolve matar a criança e, para
tanto, conta com a ajuda da enfermeira Paulina que, comovida com o estado da jovem, aceita ajudá-la.
Lucélia e Paulina, então, afogam a criança em uma banheira, sendo detidas em flagrante.
Nesta situação hipotética, Lucélia e Paulina deverão responder por quais crimes?
a) Lucélia não responderá por qualquer crime, em razão do estado puerperal, e Paulina responderá pelo
crime de homicídio.
b) Lucélia e Paulina responderão pelo crime de infanticídio. A primeira, na qualidade de autora; a segunda,
na qualidade de coautora, pois o estado puerperal consiste em circunstância pessoal, que se comunica aos
demais agentes.
c) Lucélia e Paulina responderão pelo crime de homicídio. A primeira, na qualidade de autora; a segunda, na
qualidade de coautora, como determina a teoria monista da ação.
d) Lucélia responderá pelo crime de infanticídio e Paulina responderá pelo crime de homicídio, pois o estado
puerperal consiste em circunstância personalíssima e não se comunica aos demais agentes.
e) Lucélia e Paulina responderão pelo crime de homicídio privilegiado.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a mãe que matar o próprio filho em razão do estado puerperal incorrerá
na prática do crime de infanticídio. Paulina também responderá pelo crime de infanticídio, pois o estado
puerperal e a condição de mãe da vítima são elementares de caráter pessoal do crime de infanticídio e, nos
termos do art. 30 do Código Penal, obrigatoriamente estendem-se àqueles que tomaram parte no crime.

A alternativa B está correta, pois o estado puerperal e a condição de mãe da vítima são elementares de
caráter pessoal do crime de infanticídio e, nos termos do art. 30 do Código Penal, obrigatoriamente
estendem-se àqueles que tomaram parte no crime.

A alternativa C está incorreta, pois, pela teoria monista, todos que colaborarem para o cometimento do
crime deverão responder igualmente por ele. Assim, Lucélia e Paulina deverão responder pelo crime de
infanticídio, nos termos do art. 123 do Código Penal.

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A alternativa D está incorreta, pois o estado puerperal consiste em elementar de caráter pessoal do crime
de infanticídio e, nos termos do art. 30 do Código Penal, obrigatoriamente estende-se àqueles que tomaram
parte no crime. Logo, Lucélia e Paulina deverão responder pelo crime de infanticídio.

A alternativa E está incorreta, pois a lei brasileira não classifica o infanticídio como modalidade privilegiada
de homicídio. O estado puerperal consiste em elementar de caráter pessoal do crime de infanticídio e, nos
termos do art. 30 do Código Penal, obrigatoriamente estende-se àqueles que tomaram parte no crime. Logo,
Lucélia e Paulina deverão responder pelo crime de infanticídio.

2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) A garantia contra a autoincriminação estende-se às testemunhas, no tocante às indagações cujas respostas
possam, de alguma forma, causar-lhes prejuízo.
b) Notícias anônimas de crime, desde que verificada a sua credibilidade por apurações preliminares, podem
servir de base válida à investigação e à persecução criminal.
c) As interceptações telefônicas podem ser prorrogadas além do prazo legal de autorização, desde que
devidamente fundamentadas pelo juízo competente quanto à necessidade para o prosseguimento das
investigações.
d) É plenamente legal fundamentar per relationem a decisão que prorroga interceptação telefônica – na qual
o magistrado se utiliza de trechos de decisão anterior ou de parecer ministerial como razão de decidir –
quando presente situação fática que justifique a prolongação da quebra do sigilo, quer pela natureza da
investigação, quer pela complexidade da conduta criminosa a ser monitorada.
e) Os dados alusivos a interceptação telefônica para elucidar certa prática delituosas ocorridas em outra
unidade da Federação, não podem ser aproveitados em persecução criminal diversa.

Comentários

Gabarito: alternativa E

A, B, C, D e E (versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria.

Os dados alusivos a interceptação telefônica para elucidar certa prática delituosa podem ser aproveitados
em persecução criminal diversa, ainda que realizada em outra unidade da Federação. Trata-se de aplicação
do princípio da serendipidade ou do encontro fortuito de provas.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) Em sendo os corréus serem advogados – atuando em causa própria – afasta-se a regra do art. 191 do
Código de Processo Penal (Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente.).
b) A inobservância do prazo para o oferecimento da denúncia não contamina o direito de apresentação do
rol de testemunhas.

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c) O julgador do processo penal – mesmo que tenha tido contato com provas ou analisado a circunstância
sob a perspectiva do processo administrativo ou civil – não está contaminado para efetuar análise
jurisdicional posterior, na qual será aplicado outro arcabouço jurídico com ampla defesa e contraditório.
d) É incabível a produção antecipada de prova testemunhal [Código de Processo Penal (CPP), art. 366]
fundamentada na simples possibilidade de esquecimento dos fatos.
e) Não caracteriza ofensa ao art. 93, IX, da Constituição Federal (CF) ato em que os fundamentos lançados
na manifestação do Ministério Público são adotados como razões de decidir.

Comentários

Gabarito: alternativa E

A, B, C, D e E (versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria.

Nem mesmo a circunstância de os corréus serem advogados – atuando em causa própria – afasta a regra do
art. 191 do Código de Processo Penal.

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) A antecipação da prova testemunhal configura medida necessária quando, considerando-se a gravidade
do crime praticado, houver a possibilidade concreta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em
decorrência do decurso do tempo.
b) A prisão preventiva configura medida necessária quando, considerando-se a gravidade do crime praticado,
houver a possibilidade concreta de perecimento de detalhes importantes dos fatos em decorrência do
decurso do tempo.
c) A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o
postulado da dignidade da pessoa humana.
d) A incoercibilidade pessoal dos congressistas [Constituição Federal (CF), art. 53, § 2º] é garantia de natureza
relativa.
e) Preenchidos os requisitos fáticos e jurídicos, a prisão de parlamentar federal possui natureza de prisão
cautelar para fins de deliberação da casa legislativa respectiva.

Comentários

Gabarito: alternativa B

A, B, C, D e E(versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria.

Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas supostamente perpetradas, isso não justifica, por si só,
a decretação da prisão cautelar. É necessário que se demonstrem dados concretos que justifiquem a prisão,
que constitui medida excepcional.

Questão 4. A respeito da ação penal, assinale a alternativa verdadeira:

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a) Em respeito ao princípio da taxatividade, por ausência de previsão legal, o (a) companheiro (a) não possui
legitimidade para ajuizar ação penal privada.
b) No recebimento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate.
c) Na ação penal privada vigora o princípio da divisibilidade da ação penal.
d) O vício na representação processual do querelante é sanável, ainda que expirado o prazo decadencial.
e) Para que o advogado do ofendido proponha a queixa-crime basta que a procuração outorgue poderes da
cláusula ad judicia et extra.

Comentários

a. Falsa. O (a) companheiro (a) possui legitimidade para propor ação penal privada (Informativo 654 do
STJ).
b. VERDADEIRA. É regra no processo penal é o princípio do in dubio pro reo, entretanto, especificamente
no recebimento da denúncia, prevalecerá o princípio do in dubio pro societate.
c. Falsa. Pelo contrário, na ação penal privada é aplicada o princípio da indivisibilidade.
d. Falsa. A primeira parte da assertiva está correta, o vício na representação processual do querelante
é sanável. Entretanto, a alternativa é falsa por informar que o vício será sanável ainda que esgotado
o prazo decadencial.
e. Falsa. É necessária procuração com poderes especiais para a propositura de queixa-crime.

RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL PRIVADA.

VÍCIO DE REPRESENTAÇÃO. PROCURAÇÃO ORIGINARIAMENTE OUTORGADA COM PODERES DA


CLÁUSULA AD JUDICIA ET EXTRA. SUBSTABELECIMENTO COM RESERVA DE DIREITOS. INCLUSÃO
DE PODERES ESPECIAIS QUE NÃO CONSTAVAM NO INSTRUMENTO DE MANDATO ORIGINÁRIO.
IMPOSSIBILIDADE. LIMITES OBJETIVOS. REQUISITOS DO ART. 44 DO CPP NÃO PREENCHIDOS.
NULIDADE.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

(RHC 33.790/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 27/06/2014, DJe 05/08/2014)

Questão 5. A respeito das provas ilícitas no processo penal, assinale a alternativa FALSA:
a) O STF reconhece no processo penal brasileiro a aplicação da teoria da descoberta inevitável nos casos em
que o curso normal das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os autores aos
fatos investigados.
b) O STF já reconheceu lícita a gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem o
conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou reserva da conversação.
c) As provas obtidas em interceptação das comunicações telefônicas não podem ser utilizadas em
procedimento administrativo disciplinar.

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d) O reconhecimento fotográfico, em inquérito policial, em desconformidade com o procedimento previsto


no Código de Processo Penal, não tem o condão de contaminar a ação penal futura.
e) A filmagem realizada pela vítima, em sua própria garagem, com objetivo de identificar o autor de danos
contra o patrimônio, é considerada prova lícita.

Comentários

a. Verdadeira. O STF reconhece a possibilidade de aplicação da teoria da descoberta inevitável de provas


após a alteração promovida no Código de Processo Penal pela Lei nº 11.690/2008 no art. 157.

Art. 6º do CPP: dever da autoridade policial de proceder à coleta do material comprobatório da


prática da infração penal. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos
devidamente apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o
seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a esclarecer a autoria e
a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar ligações entre o executor do homicídio
e o ora paciente). Verificação que permitiu a orientação inicial da linha investigatória a ser
adotada, bem como possibilitou concluir que os aparelhos seriam relevantes para a investigação.
À guisa de mera argumentação, mesmo que se pudesse reputar a prova produzida como ilícita e
as demais, ilícitas por derivação, nos termos da teoria dos frutos da árvore venenosa (fruit of the
poisonous tree), é certo que, ainda assim, melhor sorte não assistiria à defesa. É que, na hipótese,
não há que se falar em prova ilícita por derivação. Nos termos da teoria da descoberta inevitável,
construída pela Suprema Corte norte-americana no caso Nix x Williams (1984), o curso normal
das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os pacientes ao fato
investigado. Bases desse entendimento que parecem ter encontrado guarida no ordenamento
jurídico pátrio com o advento da Lei 11.690/2008, que deu nova redação ao art. 157 do CPP, em
especial o seu § 2º.

[HC 91.867, rel. min. Gilmar Mendes, j. 24-4-2012, 2ª T, DJE de 20-9-2012.]

Vide HC 93.050, rel. min. Celso de Mello, j. 10-6-2008, 2ª T, DJE de 1º-8-2008

b. Verdadeira. Nas hipóteses descritas na alternativa, o STF já reconheceu a licitude de gravação


telefônica sem o conhecimento de outro interlocutor.

A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro,
quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação não é considerada prova
ilícita.

[AI 578.858 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 4-8-2009, 2ª T, DJE de 28-8-2009.]

= RE 630.944 AgR, rel. min. Ayres Britto, j. 25-10-2011, 2ª T, DJE de 19-12-2011

Vide RE 453.562 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 23-9-2008, 2ª T, DJE de 28-11-2008

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c. FALSA. A provas colhidas em processo penal podem ser emprestadas a procedimento administrativo
disciplinar:

Prova emprestada. (...) Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em


escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal
ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra
outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.

[Inq 2.424 QO-QO, rel. min. Cezar Peluso, j. 20-6-2007, P, DJ de 24-8-2007.]

= RMS 28.774, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 9-8-2016, 1ª T, DJE de 25-8-2016

d. Verdadeira. Os vícios do inquérito policial, via de regra, não contaminam a ação penal. O desrespeito
ao procedimento previsto no art. 226 do CPP não geram nulidade absoluta do feito nem contaminam
a ação penal decorrente.

Eventuais vícios do inquérito policial não contaminam a ação penal. O reconhecimento


fotográfico, procedido na fase inquisitorial, em desconformidade com o art. 226, I, do CPP, não
tem a virtude de contaminar o acervo probatório coligido na fase judicial, sob o crivo do
contraditório. Inaplicabilidade da teoria da árvore dos frutos envenenados (fruits of the
poisonous tree). Sentença condenatória embasada em provas autônomas produzidas em juízo.

[HC 83.921, rel. min. Eros Grau, j. 3-8-2004, 1ª T, DJ de 27-8-2004.]

= RE 626.600 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 9-11-2010, 1ª T, DJE de 25-11-2010

e. Verdadeira.

O enunciado descreve situação que permite a realização e utilização de filmagem sem o


consentimento da outra parte em processo penal.

[HC 84.203, rel. min. Celso de Mello, j. 19-10-2004, 2ª T, DJE de 25-9-2009.]

Questão 6. Em relação as nulidades do processo penal, assinale a alternativa verdadeira:


a) A obrigação dirigida ao preso em flagrante para colocar o celular em viva voz é causa de nulidade relativa.
b) Em regra, a busca realizada em veículo é equiparada a busca domiciliar, portanto, faz-se necessário a
apresentação de mandado judicial de busca e apreensão ao condutor.
c) O encontro fortuito de provas, em cumprimento de mandado de busca e apreensão domiciliar, não é
considerado prova válida para fins processuais penais.
d) Se for advogado, o acusado poderá assistir o interrogatório do corréu no mesmo processo.
e) Durante o interrogatório, o advogado de defesa do corréu pode realizar perguntas.

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a. Falsa. Nessas hipóteses, a prova deverá ser considerada ilícita.


b. Falsa. A busca em veículo automotor é equiparada a busca pessoal.
c. Falsa. Os tribunais superiores têm admitido o encontro fortuito de provas (crime achado) no direito
processual penal.
d. Falsa. Ainda que seja advogado, o corréu não poderá assistir o interrogatório do corréu.
e. VERDADEIRA.
(HC 198.668/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe
18/09/2012)

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), assinale a alternativa
CORRETA:
a) São penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sendo considerada a idade do adolescente
à data do fato. No mesmo sentido, nenhuma criança ou adolescente menor de 18 (dezoito) anos poderá
viajar para fora da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa
autorização judicial.
b) É atípica a conduta de simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou
pornografia por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra
forma de representação visual.
c) De acordo com a Súmula nº 500 do STJ, para a configuração do crime de corrupção de menores (art. 244-
B) não é necessária prova da efetiva corrupção do menor, tratando-se de delito formal.
d) O crime de privar criança ou adolescente de sua liberdade sem estar em flagrante ou inexistindo ordem
escrita da autoridade judiciária competente (art. 230 do ECA) é um crime próprio, tendo em vista que
somente a autoridade policial poderá prender em flagrante a criança ou adolescente.
e) O sujeito passivo do crime de impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho
Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 236) é a criança ou o adolescente.

Comentários

GABARITO: alternativa C

a) INCORRETA: O início da alternativa está correto, tendo em vista as previsões dos artigos 103 e 104 do ECA.
Porém, com relação a idade mencionada na segunda parte da alternativa, a informação está errada,
conforme prevê o art. 83, caput, do ECA:

Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora
da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa
autorização judicial. […]

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

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Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas
nesta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data
do fato.

b) INCORRETA: Trata-se de conduta típica prevista no art. 241-C, do ECA:

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou


pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
qualquer outra forma de representação visual:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui,
publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na
forma do caput deste artigo.

c) CORRETA: Súmula 500, STJ: “A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva
corrupção do menor, por se tratar de delito formal”.

d) INCORRETA: Existem três erros na assertiva:

- Não se trata de crime próprio, tendo em vista que qualquer pessoa do povo pode realizar
prisão/apreensão em flagrante;

- O menor de idade, por ser inimputável, não comete crime, mas sim ato infracional (“Art.
103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”, do
ECA); e

- O adolescente não será preso, mas sim apreendido em flagrante de ato infracional (“Art. 106.
Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente”, do ECA).

e) INCORRETA: O sujeito passivo do crime do art. 236 é o Poder Público:

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou
representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei.

Questão 2. Com base nas Súmulas dos Tribunais Superiores, considere as afirmações a seguir:
I. É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo
vedada a combinação de leis.
II. O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

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III. A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006) configura-se com a prova
da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras.
IV. A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova
enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.
É correto o que se afirma em:
a) I, II, III, e IV.
b) I, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I e II, apenas.

Comentários

GABARITO: alternativa A

I. CORRETA: Súmula 201, STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado
da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da
Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis”. (Súmula 501, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
23/10/2013, DJe 28/10/2013)

II. CORRETA: Súmula 599, STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública”. (Súmula 599, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017)

III. CORRETA: Súmula 607, STJ: “A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n.
11.343/2006) configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras”. (Súmula 607, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2018, DJe 17/04/2018)

IV. CORRETA: Súmula 617, STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do
término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena”. (Súmula
617, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2018, DJe 01/10/2018)

Questão 3. Nos crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, previstos na Lei de Lavagem
de Dinheiro (Lei n.º 9.613/98) incorre nas mesmas penas (reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa)
quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal,
importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

Comentários

GABARITO: CERTO

Conforme prevê o art. 1º, §1º, inciso III, da Lei n.º 9.613/98:

Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores

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Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou


propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração
penal. […]

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou
valores provenientes de infração penal: […]

III – importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

Questão 4. Segundo a Lei de Tortura (Lei n 9.455/97), configura crime de tortura, EXCETO:
a) constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental, com o fim de obter informação.
b) submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio
da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
c) constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental, em razão de discriminação racial ou religiosa.
d) o agente público que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las.
e) constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois está de acordo com o art. 1, inc. I, alínea “a” da Lei.

A alternativa B está incorreta, pois está de acordo com o art. 1, §1 da Lei.

A alternativa C está correta, pois, segundo o art. 1, §1 da Lei, incorre na mesma pena do caput do art. 1
“aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
pena de detenção de um a quatro anos”. Portanto, não apenas o agente público, mas qualquer pessoa
incorre na mesma pena quando tinha o dever de evitar ou apurar as condutas típicas previstas na Lei de
Tortura.

A alternativa D está incorreta, pois está de acordo com o art. 1, inc. I, alínea “c” da Lei.

A alternativa E está incorreta, pois está de acordo com o art. 1, inc. I, alínea “b” da Lei.

Questão 5. Considerando a Lei das Contravenções Penais, assinale a alternativa INCORRETA:


a) O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de
detenção.
b) Não é punível a tentativa de contravenção.

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c) A pena poderá deixar de ser aplicada no caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando
escusáveis.
d) O prazo mínimo de duração da internação em manicômio judiciário ou em casa de custódia e tratamento
é de um ano.
e) A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

Comentários

A alternativa D está correta. O prazo mínimo de duração da internação em manicômio judiciário ou em casa
de custódia e tratamento é de seis meses (art. 16).

Questão 6. Segundo o art. 146-B da Lei de Execução Penal, o juiz poderá definir a fiscalização por meio da
monitoração eletrônica quando:
a) conceder livramento condicional.
b) conceder indulto.
c) autorizar a saída temporária no regime aberto.
d) substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
e) determinar a prisão domiciliar.

Comentários

A alternativa E está correta. Segundo o art. 146-B da LEP, Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por
meio da monitoração eletrônica quando autorizar a saída temporária no regime semiaberto; ou determinar
a prisão domiciliar.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Indique um cargo cujo titular não é eleito pelo sistema proporcional:
a) Senador.
b) Deputado Federal.
c) Deputado Estadual.
d) Deputado Distrital.
e) Vereador.

Comentários

Os titulares dos cargos de Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador são eleitos
pelo sistema proporcional, de acordo com os arts. 27, § 1º, 29, inc. I, 32, § 3º, e 45, caput, da Constituição
Federal.

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Considerando a norma veiculada pelo art. 46, caput, da Constituição da República, o titular do cargo de
Senador não é eleito pelo sistema proporcional, motivo pelo qual a alternativa A está correta.

Questão 2. É possível a eleição do Presidente da República pelo Congresso Nacional?


a) Não.
b) Sim, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, nos dois primeiros anos de mandato,
para completar o período de seus antecessores.
c) Sim, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, nos dois primeiros anos de mandato,
para exercício de mandato de quatro anos.
d) Sim, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, nos dois últimos anos de mandato,
para completar o período de seus antecessores.
e) Sim, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, nos dois últimos anos de mandato,
para exercício de mandato de quatro anos.

Comentários

O art. 81, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal prescreve que o Presidente da República pode ser eleito pelo
Congresso Nacional, de forma indireta, na hipótese de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, nos dois últimos anos de mandato, para completar o período de seus antecessores.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa D.

Questão 3. As eleições para Presidente da República, para Governadores e para Prefeitos de Municípios
com mais de 200 mil eleitores obedecerão:
a) Ao sistema da representação proporcional.
b) Aos sistemas da representação proporcional, da representação proporcional e majoritário,
respectivamente.
c) Aos sistemas majoritário, da representação proporcional e da representação proporcional,
respectivamente.
d) Aos sistemas majoritário, majoritário e da representação proporcional, respectivamente.
e) Ao sistema majoritário absoluto.

Comentários

As eleições para Presidente da República, para Governadores e para Prefeitos de Municípios com mais de
200 mil eleitores obedecerão ao sistema majoritário absoluto a que se referem os arts. 28, caput, 29, inc. II,
in fine, 32, § 2º, e 77, § 2º, da Constituição da República.

Na questão sob exame, revela-se correta a alternativa E.

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2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (FCC – Juiz de Direito – TJ – MS/2020) Nos termos expressos da Convenção Internacional sobre
os Direitos da Criança, os Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de uma idade
a) mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais.
b) acima da qual não se imporá qualquer medida de cuidados familiares alternativos sem o expresso
consentimento da criança.
c) abaixo da qual não se exigirá consentimento da criança para que receba tratamento médico, psicológico
ou funcional visando a promoção de sua saúde física e mental.
d) mínima para que o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da criança não sejam considerados
infração à lei penal vigente no Estado.
e) antes da qual os pais e outras pessoas responsáveis pela criança não poderão, por ato de disposição de
vontade, antecipar a maioridade civil da criança.

Comentários

Alternativa correta: letra “A”. Vide o Art. 3, “a”, da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU: “3.Os
Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis, procedimentos, autoridades e instituições
específicas para as crianças de quem se alegue ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas ou
declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular: a) o estabelecimento de uma idade mínima antes
da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais”.

Questão 2. (FCC – Juiz de Direito – TJ – MS/2020) A impugnação do Plano Individual de Atendimento, no


âmbito da execução das medidas socioeducativas, conforme previsão expressa da Lei n o 12.594/2012 (Lei
do Sinase),
a) no que ultrapassa os aspectos meramente formais, deve ser fundamentada em laudo técnico.
b) uma vez admitida, obriga a designação de audiência para oitiva do adolescente, seus pais e técnicos do
programa.
c) suspende o prazo de reavaliação obrigatória da medida socioeducativa até que seja decidido o mérito da
impugnação.
d) não suspenderá a execução do plano individual, salvo determinação judicial em contrário.
e) precede a homologação da guia de execução nas medidas socioeducativas privativas de liberdade.

Comentários

A Lei nº 12.594/2012 trata da execução de medida socioeducativa e prevê a necessidade de elaboração do


plano individual de atendimento (PIA). Uma vez apresentada a proposta do PIA, poderá o Ministério Público
ou a Defesa impugná-lo, o que, porém, não suspenderá a sua execução, salvo determinação judicial em
contrário. Art. 41, § 4º, da Lei nº 12.594/2012.

Questão 3. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa incorreta:

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a) Eventuais irregularidades na adoção podem ser superadas em virtude da situação de fato consolidada no
tempo, desde que favoráveis ao adotando.
b) O reconhecimento do estado de filiação constitui direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,
podendo ser exercitado sem qualquer restrição, fundamentado no direito essencial à busca pela identidade
biológica.
c) Nas disputas de custódia de crianças e adolescentes devem ser evitadas sucessivas e abruptas alterações
de guarda e residência, ressalvados os casos de evidente risco.
d) Compete à Justiça Estadual o julgamento dos pedidos de busca e apreensão ou de guarda de menores
quando fundamentados na Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de
Crianças.
e) Nos casos em que o Ministério Público promove a ação de destituição do poder familiar ou de acolhimento
institucional não é obrigatória a nomeação da Defensoria Pública como curadora especial.

Comentários

Gabarito: alternativa D

Alternativa A: correta.

REsp 1423640/CE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe
13/11/2014

Alternativa B: correta.

REsp 1274240/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/10/2013, DJe
15/10/2013

Alternativa C: correta.

HC 298009/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe 04/09/2014

Alternativa D: incorreta.

Compete à Justiça Federal o julgamento dos pedidos de busca e apreensão ou de guarda de menores quando
fundamentados na Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.

CC 123094/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/12/2013, DJe
14/02/2014

Alternativa E: correta.

AgRg no AREsp 557793/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/11/2014,
DJe 21/11/2014

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2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. A respeito das causas de suspensão de crédito tributário, assinale a alternativa correta:
a) A transação suspende o crédito tributário.
b) A interposição de uma exceção de pré-executividade, por si só, suspende a exigibilidade do crédito
tributário.
c) A reclamação e o recurso administrativo corporificam a possibilidade de suspensão do crédito tributário.
E, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é constitucional a exigência de depósito
prévio de bens para admissibilidade de recurso administrativo.
d) A adesão ao parcelamento interrompe o prazo prescricional, que volta a fluir a partir da sua rescisão.
e) Em todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o contribuinte faz jus à certidão
negativa de débitos.

Comentários

a) Assertiva errada. A transação é uma causa extintiva do crédito, conforme determina o artigo 156, inciso
III.

b) Assertiva errada. A peça conhecida como exceção de pré-executividade é fruto de uma criação doutrinária
e jurisprudencial. E a sua oposição, por si só, não suspende a exigibilidade do crédito tributário.

c) Assertiva errada. Ainda que a reclamação e o recurso administrativo sejam instrumentos hábeis a
suspender o crédito tributário, é inconstitucional a exigência de depósito prévio para sua admissibilidade,
em conformidade com a súmula vinculante n. 21.

d) Assertiva correta, conforme dicção do artigo 174, inciso IV, do CTN.

e) Assertiva errada. Em todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o contribuinte


faz jus à certidão positiva de tributos com efeitos de negativa.

Questão 2. Julgue as assertivas abaixo:


I) Diz-se responsável, quando o sujeito passivo tem relação pessoal e direta com a situação que constitua o
respectivo fato gerador
II) Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo
pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito
passivo das obrigações tributárias correspondentes.
III) Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
a) Apenas a “”III” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “II” e “III” estão incorretas

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e) As assertivas “I” e “III” estão incorretas

Comentários

Assertiva correta é a letra "c".

I) Assertiva incorreta. Art. 121, parágrafo único, inciso II do CTN. O sujeito passivo da obrigação principal diz-
se responsável, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador

II) Assertiva correta. Art. 123 do CTN

III) Assertiva correta. Art. 122 do CTN.

Questão 3. A respeito das garantias e privilégios do Crédito Tributário, julgue os itens abaixo.
I) O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição,
ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.
II) A cobrança judicial do crédito tributário sujeita-se a concurso de credores ou habilitação em falência,
recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.
III) São pagos preferencialmente a quaisquer créditos habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros
encargos do monte, os créditos tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de cujus ou de seu espólio,
exigíveis no decurso do processo de inventário ou arrolamento.
a) Apenas a “”III” está correta
b) Apenas a “II” está correta
c) Apenas a “I” está correta
d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) As assertivas “I” e “III” estão corretas

Comentários

I) Assertiva correta. Art. 186 do CTN.

II) Assertiva incorreta. Art. 187 do CTN. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de
credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.

III) Assertiva correta. Art. 189 do CTN.

2.11 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. De acordo com as competências estabelecidas na Lei nº 6.938/81 – Política Nacional do Meio
Ambiente, assinale a alternativa incorreta:

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a) O Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos


Ambientais foi instituído pela Lei nº 6938/81, que atribuiu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA a sua administração.
b) O IBAMA é o órgão consultivo e deliberativo, com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho
de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar,
no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida
c) Compete ao CONAMA determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e
das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos
estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa
degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional.
d) Compete ao IBAMA propor ao CONAMA normas e padrões para implantação, acompanhamento e
fiscalização do licenciamento previsto no artigo anterior, além das que forem oriundas do próprio CONAMA.
e) Compete ao CONAMA estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição
por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes.

Comentários

Fique atento! Não confundir as competências do CONAMA com as do IBAMA.

Alternativa A: CORRETA

O art. 9º, XII, da Lei prevê como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente o Cadastro Técnico
Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.

O art. 17, por sua vez, determina a instituição, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, do Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de
Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria
técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e
instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (inciso I).

Alternativa B: INCORRETA

A assertiva é falsa, uma vez que a competência descrita é do CONAMA, nos termos do art. 6º, II, da Lei
6.938/81.

O IBAMA, por sua vez, é órgão executor da Política Nacional do Meio Ambiente, ao lado do Instituto Chico
Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para
o meio ambiente, de acordo com as respectivas competências (art. 6º, IV, da Lei 6.938/81)

Alternativa C: CORRETA

A assertiva transcreve o art. 8º, inciso II.

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Alternativa D: CORRETA

A assertiva transcreve o art. 11, caput.

Alternativa E: CORRETA

Trata-se da literal disposição do art. 8º, VI.

Gabarito: B

Questão 2. Assinale a alternativa correta em relação à servidão ambiental:


a) O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 10 (dez) anos;
b) Durante o prazo de vigência da servidão ambiental, somente se admite a alteração da destinação da área,
nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites do
imóvel, mediante a anuência do órgão integrante do Sisnama;
c) A servidão ambiental é o único instrumento econômico expressamente previsto na Lei 6.938/81 dentre os
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente;
d) A instituição da servidão ambiental pode ser feita por instrumento público ou particular ou por termo
administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, e pode corresponder à limitação do uso de
toda a propriedade ou de parte dela, para o fim de preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais
existentes;
e) A servidão ambiental não pode ser alienada, cedida ou transferida, total ou parcialmente.

Comentários

Atenção sobre os dispositivos da servidão ambiental – matéria muito cobrada em fases objetivas de
concursos do Ministério Público (p. ex: MPSP/2019, MPPB/2018, MPRR/2017, MPSC/2016, dentre outros).

Alternativa A: INCORRETA

A resposta encontra-se no art. 9º-B, §1º.

A servidão ambiental pode ser temporária ou perpétua. Quando for perpétua, ela equivalerá, para fins
creditícios, tributários e de acesso aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio
Natural – RPPN (art. 21 da Lei nº 9985/00 – LSNUC).

A servidão ambiental temporária, por sua vez, terá o prazo mínimo de 15 (quinze) anos.

Alternativa B: INCORRETA

A assertiva é falsa, uma vez que o art. 9º-A, §6º proíbe, durante o prazo de vigência da servidão ambiental,
a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.

Alternativa C: INCORRETA

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Nos termos do art. 9º:

Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental; (Regulamento)

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,


voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante


interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,


estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas


necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo


Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder


Público a produzí-las, quando inexistentes; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro


ambiental e outros. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

Como se nota, a servidão ambiental não é o único instrumento econômico previsto expressamente na Lei
6938/81, já que o inciso XIII elenca também a concessão florestal e o seguro ambiental. O dispositivo foi
incluído pela Lei 11.284/06, que dispõe sobre a gestão das florestas públicas para a produção sustentável.

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Recorde-se, ainda, que existem outros instrumentos econômicos previstos na legislação ambiental, a
exemplo da Cota de Reserva Ambiental – CRA prevista na Lei 12.651/12 – Código Florestal (art. 44).

Alternativa D: CORRETA

A assertiva corresponde ao conteúdo do art. 9º-A, caput, que dispõe que o proprietário ou possuidor de
imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo
firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para
preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.

Alternativa E: INCORRETA

A assertiva é falsa, uma vez que o art. 9º-B, §3º, dispõe que o detentor da servidão ambiental poderá aliená-
la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor
de outro proprietário ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social.

Gabarito: D

Questão 3. Não é prática abusiva prevista no Código de Defesa do Consumidor:


a) recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de
estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes.
b) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço.
c) recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los
mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais.
d) deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a
seu exclusivo critério.
e) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem
como, mesmo com justa causa, a limites quantitativos.

Comentários

A incorreta é a letra “E”, pois não encontra respaldo no Código de Defesa do Consumidor. As práticas
abusivas estão previstas no art. 39 do CDC, de modo que letra E está errado pois, segundo a lei, seria, sem
justa causa. Se a causa é justa é de acordo com o direito e, portanto, não é abusivas. As demais estão
previstas nos incisos II, III, IX e XII.

Questão 4. Acerca da legislação e jurisprudência relacionadas à anticorrupção empresarial e improbidade


administrativa, assinale a alternativa correta:
a) É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo
de leniência, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes.
b) Nos termos do texto expresso da CRFB/88, os atos de improbidade importam suspensão dos direitos
políticos, perda da função pública e multa, bem como de outras penalidades previstas em lei.

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c) Na ação por ato de improbidade administrativa, a nulidade decorrente de ausência de notificação do réu
para a defesa prévia dispensa prova do prejuízo.
d) Às sentenças de improcedência relativas a atos de improbidade não se aplica o reexame necessário.

Comentários

A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do entendimento do STF, é possível o
compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de leniência,
desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes. Assim, por
exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando fornecer provas contra si, estas
provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo. No entanto, nada
impede que tais provas sejam fornecidas (compartilhadas) para os órgãos de apuração para que sejam
propostas medidas contra as outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que fizeram parte do acordo. STF. 2ª
Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2018 (Info 913).

A alternativa B está incorreta. O art. 37, §4º da CRFB não elenca a pena de multa. Essa é uma pegadinha
muito recorrente em provas objetivas. Todavia, a pena de multa é plenamente constitucional, pois para a
doutrina e jurisprudência majoritárias, é possível a previsão de sanções infraconstitucionais para os atos de
improbidade administrativa, desde que proporcionais e razoáveis.

A alternativa C está incorreta. Nos termos do entendimento do STJ, a ausência da notificação do réu para a
defesa prévia, prevista no artigo 17, parágrafo 7º, da Lei de Improbidade Administrativa, só acarreta nulidade
processual se houver comprovado prejuízo (pas de nullité sans grief). (EREsp 1008632/RS)

A alternativa D é incorreta. Conforme entendimento do STJ, a sentença que concluir pela carência ou pela
improcedência de ação de improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ.
1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

Questão 5. Nos termos do Estatuto da Cidade, são instrumentos da política urbana, exceto:
a) Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e
social.
b) Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de
urbanização, em atendimento ao interesse social.
c) Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões.
d) Plano diretor.

Comentários

Esse é um dos temas mais cobrados acerca do Estatuto da Cidade.

A alternativa B é a incorreta. A cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da


sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social, é uma diretriz – e não um
instrumento da política urbana.

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Todos os outros itens elencam acertadamente instrumentos da política urbana.

#DICA: Leia com muita atenção os arts. 2º e 4º da Lei 10.257/2001, com muita atenção para o que é diretriz
e o que é instrumento da política urbana.

Questão 6. Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações:


( ) Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar na
reparação integral do meio ambiente.
( ) É permitido ao IBAMA impor penalidade decorrente de ato tipificado como crime ou contravenção.
( ) Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento
adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do dano
causado.
( ) O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente
promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente
não lhe é potencialmente lesiva.
( ) Prescreve em dez anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração
Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.
a) V-V-V-V-V
b) V-V-F-F-F
c) F-V-F-V-F
d) V-F-V-V-F

Comentários

O edital do concurso do MPMG de 2021 prevê a possibilidade de cobrança de questões de verdadeiro ou


falso, no entanto, essa cobrança não será na forma de itens como é cobrado em provas da CEBRASPE, mas
sim no formato da questão acima. Então, muito importante treinar pra não se confundir na hora da prova!

A alternativa D é a correta, dispondo corretamente quais alternativas são verdadeiras e quais são falsas.

Tese 1) Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer
e de indenizar na reparação integral do meio ambiente.

Em se tratando de dano ambiental, é possível a cumulação da indenização com obrigação de


fazer, porém tal cumulação não é obrigatória e está relacionada com a impossibilidade de
recuperação total da área degradada.

(STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.633.715/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 11/5/2017).

Tese 5) É defeso ao IBAMA impor penalidade decorrente de ato tipificado como crime ou
contravenção, cabendo ao Poder Judiciário referida medida.

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O IBAMA não tem competência para aplicar penalidade com base no art. 26 da Lei nº 4.771/65,
que tipifica criminalmente certas condutas, ainda estas condutas configurem também infração
administrativa

(STJ. 2ª Turma. REsp. 1.274.801/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 12/9/2013).

Tese 8) Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão


de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou
o agravamento do dano causado.

A responsabilidade do Estado por dano ao meio ambiente decorrente de sua omissão no dever
de fiscalização é de caráter solidário, mas de execução subsidiária, na condição de devedor-
reserva

(STJ. 2a Turma. AgInt no REsp 1362234/MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 05/11/2019).

Tese 11) Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão
da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

(Súmula nº 467/STJ)

Tese 4) O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem


supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância
lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.

2.12 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Assinale a alternativa correta em relação ao processo coletivo e sua dinâmica processual.
a) É regido totalmente pelo Código de Processo Civil, aplicando-se subsidiariamente as leis especiais.
b) É regido por leis especiais, aplicando-se subsidiariamente o Código de Processo Civil, o que se denomina
microssistema processual coletivo.
c) É regido completamente pelo Código de Processo Civil.
d) É regido completamente por leis especiais, o que se denomina microssistema processual coletivo.
e) É regido apenas pela Constituição Federal e a lei da ação civil pública.

Comentários

A resposta para a questão está no art. 318 do CPC: “Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento
comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum
aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.” Assim, o artigo
em apreço consagra o princípio da especialidade, abrindo espaço para as leis especiais, que interagem e
dialogam entre si dentro do microssistema processual coletivo. A Constituição Federal nada menciona sobre
o processo coletivo, mas apenas faz aportes genéricos.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta em relação a ação popular.

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a) Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz
que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao
Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
b) Qualquer pessoa será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios.
c) Para instruir a inicial da ação popular, o cidadão poderá requerer às entidades, a que se refere este artigo,
as certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a finalidade das mesmas.
d) A sentença que, apreciando o fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente temerária,
condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.
e) Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo, poderá ser negada
certidão ou informação necessárias ao ajuizamento da ação popular.

Comentários

A assertiva ‘b’ está errada porque troca a expressão cidadão por pessoa, sendo cidadão um conceito político
jurídico. Assim, se encontra em desacordo com o art. 1º, caput, da Lei 4.717/65: “Art. 1º Qualquer cidadão
será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da
União...”

As demais estão de acordo com os dispositivos seguintes, todos da lei da ação popular:

A- Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-
la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à
União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.

C- Art. 1º § 4º Para instruir a inicial, o cidadão poderá requerer às entidades, a que se refere este artigo, as
certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a finalidade das mesmas.

D- Art. 13. A sentença que, apreciando o fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente
temerária, condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.

E- Art. 1º § 6º Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo, poderá
ser negada certidão ou informação.

Questão 3. Em relação a ação popular, são anuláveis os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo primeiro, nos casos de:
a) Incompetência.
b) vício de forma.
c) Desvio de finalidade.
d) Ineficiência administrativa.
e) inexistência dos motivos.

Comentários

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Os atos mencionados nos nas assertivas ‘a, ‘b’ e ‘c’ e ‘e’ constituem nulidade e não anulabilidade, na forma
do art. 2º da LAP. A assertiva ‘d’ é enquadrada no art. 3º e possui caráter residual. A ineficiência, a depender
do caso concreto, pode levar à anulação do ato administrativo.

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de
finalidade.

Questão 4. Assinale a alternativa que esteja em desacordo com o entendimento do STJ sobre direito do
Consumidor:
a) Na ação consumerista, o Ministério Público faz jus à inversão do ônus da prova, independentemente
daqueles que figurem como autores ou réus da demanda.
b) A ausência de comunicação acerca da disponibilização/comercialização de informações pessoais do
consumidor em bancos de dados configura dano moral presumido.
c) O clube de turismo e a rede conveniada de hotéis são responsáveis solidariamente pelo padrão de
atendimento e pela qualidade dos serviços prestados, em razão da indissociabilidade entre as obrigações de
fazer assumidas pela empresa e pelo hotel credenciado.
d) Não se admite responsabilidade subjetiva do fornecedor de produtos e serviços quando se tratar de
direitos difusos, em razão da indivisibilidade do objeto.
e) A pretensão indenizatória do consumidor de receber ressarcimento por prejuízos decorrentes de vício no
imóvel se submente ao prazo prescricional previsto no Código Civil.

Comentários

A única que está em desacordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é a letra D, pois a regra
é a responsabilidade objetiva, mesmo em se tratando de direitos difusos, não havendo relação de causa e
efeito com a indivisibilidade do objeto tutelado. Todas as demais alternativas foram extraídas da
recentíssima edição 160 do Jurisprudência em Teses do STJ. No caso da letra E, trata-se do art. 205 do Código
Civil. No caso da letra B, trata-se de dano moral in re ipsa.

Questão 5. Sobre a coisa julgada, pode-se afirmar que:


a) No âmbito do processo coletivo, a verificação da coisa julgada prescinde da identidade de partes; logo, o
que importa para a configuração da identidade de demandas é a precisa correspondência entre o pedido e
a causa de pedir.
b) os motivos da sentença fazem coisa julgada.
c) a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença, faz coisa julgada.
d) se denomina coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito
sujeita a recurso.
e) a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito não tem força de lei nos limites da questão principal
expressamente decidida.

Comentários

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A. Correta

No processo coletivo, a verificação da coisa julgada dispensa a identidade de partes, bastando serem os
mesmos pedidos e causa de pedir. A titularidade do direito é da coletividade, mas há inúmeros colegitimados
a atuar em nome próprio na defesa dessa mesma coletividade (legitimidade extraordinária). A parte material
(coletividade) até não se modifica, mas a parte processual sim (legitimados do art. 5º, Lei n. 7.347 – MP,
Defensoria etc.).

B. Errada

Art. 504. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença.

C. Errada

Art. 504. Não fazem coisa julgada:

II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

D. Errada

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a
decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

E. Errada

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da
questão principal expressamente decidida.

Questão 6. Julgue os itens a seguir:


I. Conforme raciocínio possível a partir da teoria eclética da ação, adotada pelo CPC, no caso de ação de
conhecimento ajuizada com o fim de obter a condenação de alguém ao pagamento de quantia já expressa
em título executivo extrajudicial válido e vencido, existe carência de ação por ausência do interesse de agir,
e não improcedência do pedido por falta de direito à tutela requerida.
II. O único resultado normal da execução é a tutela em favor de apenas um dos sujeitos processuais
(exequente) por meio da satisfação do direito.
III. São exemplos de atos expropriatórios: penhora, arresto, exibição de documentos, busca e apreensão,
imissão de posse.
IV. Pelo princípio da menor onerosidade, havendo vários meios de promover a execução, o juiz deverá
determinar aquele meio menos oneroso, mesmo que o credor tenha feito o pleito pela forma mais onerosa.
Estão corretos:
a) I, II e III

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b) I e III
c) III
d) II e IV
e) I, II, III e IV

Comentários

I. Errado
Na vigência do CPC/73, parcela doutrinária defendia que, quando a parte tem um título executivo
extrajudicial e ajuíza uma ação ordinária para obter um título executivo judicial ( condenação do réu na
mesma obrigação estipulada no título extrajudicial), haveria falta de interesse de agir (utilidade).

No entanto, a jurisprudência do STJ, após um tempo, consolidou o entendimento quanto à possibilidade de


propositura de ação de conhecimento pelo detentor de título executivo – não havendo prejuízo ao réu em
procedimento que lhe faculta diversos meios de defesa –, por iguais fundamentos o detentor de título
executivo extrajudicial poderá ajuizar ação monitória para perseguir seus créditos, ainda que também o
pudesse fazer pela via do processo de execução (Precedentes: REsp 532.377-RJ, DJ 13/10/2003; REsp
207.173-SP, DJ 5/8/2002; REsp 435.319-PR,DJ24/3/2003,eREsp210.030-RJ,DJ4/9/2000; REsp 981.440-SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/4/2012).

O CPC/2015 encampou tal entendimento jurisprudencial no art. 785:

Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo
de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial.

II. Certo

Trata-se do princípio do desfecho único da execução.

No processo ou fase de conhecimento, podemos ter um fim anormal ou um fim normal.

O fim anormal se daria com uma sentença sem resolução do mérito ou terminativa, enquanto que o fim
normal seria a prolação de sentença de mérito, definitiva, podendo beneficiar tanto o autor quanto o réu.

Na execução, também há o fim anormal ou fim normal.

O fim anormal também seria a prolação de sentença terminativa (art. 485, CPC).

Já o fim normal da execução é a satisfação do direito, ou seja, uma tutela jurisdicional em favor do autor
(exequente). É clássica a afirmativa de que, na execução, não se discute o mérito. Busca-se apenas a
satisfação do direito do exequente, sendo impossível uma sentença de improcedência do pedido do
exequente.

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Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal,
realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.

Portanto, o único resultado normal da execução é a tutela em favor de apenas um dos sujeitos processuais
(exequente) por meio da satisfação do direito.

Há, enfim, apenas um resultado/desfecho único na execução.

Assim, se o executado pretende obter em seu favor tutela jurisdicional, ele será obrigado a ingressar com
uma nova ação (embargos).

III. Errado

Art. 825. A expropriação consiste em:

I - adjudicação;

II - alienação;

III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.

IV. Certo

Como se sabe, a execução existe para satisfazer o interesse do credor, devendo ser pautada pelo princípio
da máxima efetividade.

Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal,
realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.

Consoante Marcelo Lima Guerra, o princípio da efetividade garante o direito fundamental à tutela executiva,
que consiste “na exigência de um sistema completo de tutela executiva, no qual existam meios executivos
capazes de proporcionar pronta e integral satisfação a qualquer direito merecedor de tutela executiva”.

Entretanto, há de se ter um equilíbrio.

Ao mesmo tempo em que se busca a satisfação do credor, a execução não pode servir para punir o
executado, fazendo-o sofrer mais do que o estritamente necessário para o cumprimento da obrigação.

Nesse ponto que surge o princípio da menor onerosidade, advogando a ideia de que, havendo vários meios
de promover a execução, o juiz deverá determinar aquele meio menos oneroso, mesmo que o credor tenha
feito o pleito pela forma mais onerosa.

Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que
se faça pelo modo menos gravoso para o executado.

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Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar
outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já
determinados.

Segundo Montans , vários dispositivos do NCPC simbolizam esse equilíbrio.

Ex1: impedimento de se arrematar bem por preço vil (art. 891);

Ex2: impenhorabilidade de alguns bens (arts. 833, 834, Lei n. 8.009/90);

Ex3: possibilidade de parcelamento do débito (art. 916);

Ex4: possibilidade de substituição do bem penhorado desde que não prejudique o exequente (art. 847);

Ex5: alienação de parte do imóvel se o valor for suficiente para satisfação da execução (art. 894).

Ex6: o STJ admite a substituição do dinheiro por fiança bancária. Esta é pior para o exequente, mas é quase
tão bom quanto. E, para o executado, é muito melhor, porque libera o dinheiro

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1
Direito eleitoral 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. É admissível a declaração incidenter tantum de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
em processo coletivo deflagrado pelo exercício de ação civil pública? Resposta objetivamente justificada.

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Comentários

A utilização da ação civil pública como instrumento de controle de constitucionalidade concreto não é
uníssona na doutrina.

Gilmar Ferreira Mendes salienta a impossibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade difuso, ao argumento de que o processo instaurado em decorrência do
exercício da ação civil pública, sob o aspecto prático, seria assemelhado ao processo deflagrado pela ação
direta de inconstitucionalidade, porquanto o objeto imediato da arguição de inconstitucionalidade não seria
a tutela do direito difuso, coletivo ou individual homogêneo que, no caso concreto, teria sido lesado ou
ameaçado de lesão, mas seria a aferição, em tese, da constitucionalidade da lei ou do ato normativo versado
na ação civil pública.

Luís Roberto Barroso sustenta a possibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade incidental, tendo em vista que o exercício da ação civil pública dá ensejo à
instauração de processo subjetivo, dado que há partes individualizadas, tendo o demandante proposto a
ação em face do demandado, com o objetivo de proteger direito difuso, coletivo ou individual homogêneo,
e não de processo objetivo, eis que não há partes individualizadas, não tendo o requerente proposto a ação
em face da norma, sem o objetivo de proteger a ordem jurídica.

“A Excelsa Corte tem reconhecido a legitimidade da utilização da ação civil pública como
instrumento idôneo de fiscalização incidental de constitucionalidade, pela via difusa, de
quaisquer leis ou atos do Poder Público, mesmo quando contestados em face da Constituição da
República, desde que, nesse processo coletivo, a controvérsia constitucional, longe de identificar-
se como objeto único da demanda, qualifica-se como simples questão prejudicial, indispensável
à resolução do litígio” (STF, Rcl nº 212, Rel. Min. Celso de Mello, J. 24.11.2000, DJU 01º.12.2000).

Questão 2. O que é “controle concentrado concreto”? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, de acordo com a qual a ação direta de
inconstitucionalidade interventiva ensejaria a instauração de processo subjetivo, posto que haveria litígio
entre a União e o Estado ou Distrito Federal, o “controle concentrado concreto” seria embasado nos arts.
34, inc. VII, e 36, inc. III, initio, da Constituição da República, forte na argumentação de que a ação direta de
inconstitucionalidade interventiva “faz instaurar, entre o poder central e as coletividades autônomas
periféricas, um litígio constitucional, cuja finalidade precípua consiste em dar solução jurisdicional ao conflito
federativo. Impõe-se ao Supremo Tribunal Federal, no âmbito desse procedimento especial, o dever de
compor tal situação de conflito e de litigiosidade constitucional entre a União e o Estado-membro”.

Nesse diapasão, “a existência de litígio constitucional entre a União e o Estado-membro acha-se subjacente
ao instituto da ação direta interventiva, cuja configuração jurídico-processual qualifica-o como notável
instrumento de composição de conflitos federativos, destinado a restaurar a ordem constitucional vulnerada
e a fazer cessar situações de lesão ou de ofensa a um dos princípios constitucionais sensíveis. O ajuizamento
da ação interventiva supõe formal provocação do Procurador-Geral da República, a quem se deferiu a

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titularidade exclusiva do seu exercício, para efeito de instauração deste processo subjetivo” (MELLO FILHO,
José Celso de. Voto. Revista Trimestral de Jurisprudência, no 160, 1996, p. 3).

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Sobre a Lei nº 8.987/95, explique e diferencie os institutos da subcontratação, subconcessão e
da transferência da concessão

Comentários

De acordo com o art. 25, § 1º da Lei nº 8.8987/95, a concessionária poderá contratar com terceiros o
desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como
a implementação de projetos associados.

Ademais, os contratos celebrados entre a concessionária e os terceiros reger-se-ão pelo direito privado, não
se estabelecendo qualquer relação jurídica entre os terceiros e o poder concedente, nos termos do art. 25,
§ 2º da mesma lei.

A execução das atividades contratadas com terceiros pressupõe o cumprimento das normas regulamentares
da modalidade do serviço concedido, como previsto no art. 25, § 3º da lei de concessões.

De acordo com o art. 26, é possível que a concessionária realize uma subconcessão. Para isso, haverá
necessidade de previsão no contrato de concessão e expressa autorização do poder concedente.

A outorga de subconcessão será sempre precedida de concorrência, como afirma o art. 26, § 1º.

O subconcessionário se sub-rogará todos os direitos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da


subconcessão, nos termos do art. 26, § 2º.

A transferência da concessão, bem como do controle societário da concessionária necessitará, para


acontecer, de prévia anuência do poder concedente. Caso não haja essa anuência, o art. 27 da Lei nº
8.987/95 estabelece que ocorrerá a caducidade do contrato de concessão.

Para que haja a anuência do poder concedente, o pretendente deverá 1) atender às exigências de capacidade
técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e 2)
comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.

Questão 2. Explique e diferencie a autorização, permissão e a concessão de uso de bem público

Comentários

A autorização de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, que visa atender interesse predominantemente privado.

É um ato unilateral afinal há exteriorização da vontade apenas do Poder Público. É discricionário porque
haverá a valoração sobre a conveniência e a oportunidade na concessão do ato. Trata-se de ato precário

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porque a administração pode revogar a autorização se sobrevierem razões para tanto e não haverá direito
de indenização.

A autorização, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
autorização seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

A autorização de uso de bem público prescinde de Licitação.

Ex.: Fechamento de ruas para comemorações; utilização de uma área para estacionamento.

Por sua vez, a permissão de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado
a título precário, atendendo ao mesmo tempo interesses público e privado.

A permissão e a autorização de uso são institutos semelhantes. O que diferencia um e outro é o interesse
em jogo. Na permissão de uso há uma igualdade dos interesses público e privado.

A permissão, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
permissão seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.

O ato de permissão é um ato personalíssimo ou intuito personae, razão pela qual sua transferência a
terceiros só se legitima quando houver consentimento da entidade que conferiu a permissão. Dessa forma,
o que há, na verdade, é a prática de um novo ato administrativo.

Com relação à Licitação, a permissão de uso pode ensejar que esta aconteça, quando houver mais de um
interessado na utilização do bem, evitando-se, assim, favorecimentos ou preterições ilegítimas. Todavia, em
alguns casos a licitação será inexigível, como, por exemplo, a permissão de uso de calçada em frente a um
bar.

Ex.: Feiras de artesanatos em praças públicas; vestiários públicos, mesas e cadeiras em calçadas; bancas de
jornal.

Por fim, a concessão de uso de bem público não é ato administrativo. Na verdade, está-se diante de um
contrato administrativo. Portanto, a concessão possui o caráter da bilateralidade.

A concessão de uso deve ser realizada para atividades de maior vulto, no qual o concessionário “assume
obrigações perante terceiros e encargos financeiros elevados, que somente se justificam se ele for
beneficiado com a fixação de prazos mais prolongados, que assegurem um mínimo de estabilidade no
exercício da atividade”

Em relação à Licitação, por ser contrato administrativo, a concessão necessita da realização de um


procedimento licitatório.

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3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Diferencie domicílio de residência.

Comentários

A base da pessoa natural ou jurídica é o centro de suas relações jurídicas. Para a sua definição, importa que
se realize a distinção entre domicílio e residência, em compasso com a tipologia definida pelo Código Civil.

A codificação prevê, em seu art. 70, que o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo.

Fácil divisar que, para o Direito Civil, o domicílio é o plus da residência. Isso porque se define a residência
como sendo o local em que a pessoa habita permanentemente, excluídas habitações eventuais, como hotéis
e congêneres, considerados mera morada.

A seu turno, por domicílio entende-se a residência em que o indivíduo estabelece a sua moradia habitual e,
além disso, estabelece a o centro de suas atividades cívicas. Exige, portanto, o preenchimento de duplo
requisito: o objetivo, consistente na ocupação de determinado, e o subjetivo, pelo qual se tem o ânimo
definitivo.

Na hipótese de a pessoa reunir diversas residências, domicílio será a localidade em que houver a centralidade
das respectivas relações jurídicas.

E, se a pessoa detiver pluralidade de residências sem que se permita definir a centralidade negocial, aplicar-
se-á o art. 71: ainda, determina que se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas, em casos de pluralidade de domicílios.

Não há, pois, na legislação civil, regra precisa de definição de domicílio unitário, afora as hipóteses em que
circunstâncias objetivas ou subjetivas determinem localidade fixa do domicílio.

Nas lições de Fabio Ulhoa33,

As pessoas são, em princípio, inteiramente livres para decidir o lugar em que fixarão o domicílio,
e, por isso, o elemento mais relevante para identificá-lo é a intenção por elas manifestada. Exceto
nas hipóteses de domicílio necessário, o lugar declarado como tal pela pessoa serve de domicílio.
Ademais, querendo, a pessoa pode mudar seu domicílio, a qualquer tempo, bastando para isso
que transfira a residência com a intenção manifesta de mudá-la (CC, art. 74).

33
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016.

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3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a teoria da encampação no mandado de segurança.

Comentários

A teoria da encampação aplicada ao mandado de segurança representa técnica jurisdicional destinada a


reparar equívoco sobre a indicação da autoridade coatora do ato impugnado, erro este que se apresenta,
muitas vezes, como resultado das burocracias existentes no âmbito da Administração Pública e das correlatas
dificuldades encontradas quando da precisa identificação de seus agentes responsáveis.

Tal técnica, contudo, não deve ser empregada de maneira indiscriminada, sob pena de se deturpar o fim a
que se destina e de servir como artifício de desvio das normas legais-processuais, mas se submete à
verificação da presença cumulativa dos seguintes requisitos: existência de vínculo hierárquico entre a
autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; manifestação a respeito
do mérito nas informações prestadas; e ausência de modificação de competência estabelecida na
Constituição Federal, na forma da súmula 628 do Superior Tribunal de Justiça.

Dessa forma, para que se fale na possibilidade de aplicação da teoria da encampação, é mister que haja uma
relação de hierarquia entre a autoridade equivocadamente apontada e a verdadeira coatora, bem como que
aquela haja se manifestado sobre o mérito do ato impugnado e que esta alteração não enseje a necessidade
de mudança da competência do juízo ou órgão estabelecido pela Constituição Federal para a apreciação do
remédio constitucional, isto é, que o juízo perante o qual fora impetrado o mandado de segurança seja
igualmente competente para analisa-lo, em relação a quaisquer das autoridades em jogo (STJ. 1ª Seção.
Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018).

Questão 2. Discorra sobre as correntes doutrinárias relacionadas à natureza jurídica da impugnação ao


cumprimento de sentença.

Comentários

A questão relacionada à natureza jurídica da impugnação ao cumprimento de sentença ainda é objeto de


celeuma doutrinária.

Uma primeira corrente, capitaneada por Araken de Assis e Arruda Alvim entente que se trata de ação
incidental do executado contra o exequente, assim como é o entendimento em relação aos embargos à
execução.

Doutro lado, Leonardo Greco e Nelson Nery entendem que se trata, na verdade, de um instrumento de
defesa ou de ação, conforme a matéria veiculada. Pode ter natureza de ação de nulidade (art. 525, §1o, I);
ação declaratória de inexistência (art. 525, §1o, VII) ou de defesa (art. 525, §1o, demais incisos).

Nesse passo, Teresa Arruda diz que a impugnação é um misto de ação e defesa.

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Versando sobre vícios procedimentais (ex: excesso de penhora ou avaliação incorreta), a natureza será de
incidente processual. Sendo alegação voltada à obtenção de um bem jurídico, tais como causa impeditiva,
modificativa ou extintiva da obrigação, a natureza será de ação incidental.

Por fim, uma terceira corrente (Alexandre Câmara, Scarpinella Bueno, Didier, Assumpção, HTJ) classifica a
impugnação como um incidente processual de defesa. Consoante Didier, não é porque a impugnação pode
ter por conteúdo a alegação de um defeito no título (art. 525, §1o, I) ou a alegação de uma exceção
substancial (art. 525, §1o, VII) que ela terá natureza de ação.

Ademais, não haveria sentido o legislador acabar com o processo autônomo de execução e manter a defesa
do executado como uma ação incidental.

Prossegue Didier dizendo que o procedimento de execução de sentença é estruturado com cognição limitada
e exauriente secundum eventum defensionis.

É cognição limitada, pois se restringe às questões que podem ser alegadas. Ex: juiz pode controlar questões
relativas à admissibilidade da execução (pressupostos), além de poder instruir as alegações de existência ou
exigibilidade da obrigação (pagamento, prescrição, compensação) e sobre o desenvolvimento do
procedimento (penhorabilidade, fraude à execução, avaliação, desconsideração da personalidade jurídica
etc.).

É cognição exauriente, porquanto, dentro das questões que podem ser alegadas, pode-se realizar ampla
instrução probatória, proferindo, ao final, um juízo de certeza e não de probabilidade.

Secundum eventum defensionis, pois é o oferecimento da impugnação que instaura essa atividade cognitiva.

3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. A sentença penal condenatória produz efeitos penais, com a aplicação das sanções penais
previstas na norma penal incriminadora; mas também efeitos extrapenais, dentre eles o de reparar o dano
causado à vítima com a prática criminosa; todavia, a Lei nº 8009/90 institui a impenhorabilidade do bem
de família. No caso do patrimônio do condenado por sentença transitada em julgado ser formado
exclusivamente por um único imóvel, poderá ser este levado à execução para indenizar a vítima?

Comentários

A Lei 8.009/90 institui a impenhorabilidade do bem de família como instrumento de tutela do direito
fundamental à moradia da família e, portanto, indispensável à composição de um mínimo existencial para
uma vida digna. Nesse sentido, veja-se o que dispõe o art. 1o da referida lei dispõe:

Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

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A impenhorabilidade do bem de família, de fato, reflete o princípio da dignidade da pessoa humana o qual
constitui um dos principais fundamentos da Constituição Federal de 1988 e que também possui diversas
outras emanações e desdobramentos.

No entanto, mesmo esse importantíssimo instituto possui limites de aplicações. A depender das
circunstâncias, a própria Lei 8.009/90 prevê exceções à regra da impenhorabilidade. Assim, o art. 3o, VI, da
mencionada lei dispõe que não é possível opor a impenhorabilidade quando o bem em questão for adquirido
como produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VI - por ter sido adquirido
com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens.

Nessas hipóteses, no cotejo entre os bens jurídicos envolvidos, o legislador preferiu defender o ofendido por
conduta criminosa ao autor da ofensa, conforme nota a doutrina: “essas exceções significam que a Lei do
Bem de Família teve a intenção de balancear valores, privilegiando o valor moradia, mas ressalvando que o
bem de família será penhorável em benefício dos credores por alimentos, ou por verbas devidas aos
trabalhadores da própria residência, ou por garantia real constituída pelo devedor residente no imóvel etc"
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. 4. 2. ed. São Paulo: Malheiros, p.
358).

Sobre efeitos da condenação penal sobre o âmbito cível, é fato que a sentença penal condenatória produz
também efeitos extrapenais, tanto genéricos quanto específicos. Os efeitos genéricos são decorrem
automaticamente da sentença, sem necessidade de abordagem direta pelo juiz. Entre esses efeitos genérica,
encontra-se a obrigação de reparar o dano causado, tal como previsto no art. 91, I, do Código Penal.

Dessa maneira, é inegável que, para a incidência da exceção prevista no art. 3o, VI, da Lei 8.009/90, faz-se
necessária a presença de sentença penal condenatória transitada em julgado, por não ser possível a
interpretação extensiva nessas hipóteses. Portanto, ainda que o patrimônio do condenado por sentença
transitada em julgado seja formado exclusivamente por um único imóvel, o imóvel de família, poderá ser
este levado à execução para indenizar a vítima.

Vamos à régua de correção:

Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Impenhorabilidade do A Lei 8.009/90 institui a impenhorabilidade do bem de
bem de família família como instrumento de tutela do direito 20%
fundamental à moradia da família e, portanto,

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indispensável à composição de um mínimo existencial


para uma vida digna.
Exceções à No entanto, mesmo esse importantíssimo instituto
impenhorabilidade do possui limites de aplicações. A depender das
bem de família circunstâncias, a própria Lei 8.009/90 prevê exceções à
regra da impenhorabilidade. Assim, o art. 3o, VI, da
20%
mencionada lei dispõe que não é possível opor a
impenhorabilidade quando o bem em questão for
adquirido como produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória.
Efeitos extrapenais da Sobre efeitos da condenação penal sobre o âmbito cível,
condenação penal é fato que a sentença penal condenatória produz
também efeitos extrapenais, tanto genéricos quanto
específicos. Os efeitos genéricos são decorrem
automaticamente da sentença, sem necessidade de 20%
abordagem direta pelo juiz. Entre esses efeitos genérica,
encontra-se a obrigação de reparar o dano causado, tal
como previsto no art. 91, I, do Código Penal.

Necessidade de trânsito Dessa maneira, é inegável que, para a incidência da


em julgado da sentença exceção prevista no art. 3o, VI, da Lei 8.009/90, faz-se
condenatória necessária a presença de sentença penal condenatória
transitada em julgado, por não ser possível a
interpretação extensiva nessas hipóteses. Portanto,
30%
ainda que o patrimônio do condenado por sentença
transitada em julgado seja formado exclusivamente por
um único imóvel, o imóvel de família, poderá ser este
levado à execução para indenizar a vítima.

Questão 2. A pena privativa de liberdade é a pena fundamental e regra geral para os crimes, consistindo
na perda e restrição transitória da liberdade do indivíduo através da prisão, e com base no sistema
progressivo adotado pelo Código Penal e pela Lei de Execuções Penais.
Disserte sobre a regressão de regime, notadamente sobre suas hipóteses autorizativas, bem como sobre
a admissibilidade das chamadas regressão per saltum e regressão cautelar.

Comentários

A regressão (judicial) de regime dar-se-á, segundo prevê a LEP art. 118, nas hipóteses em que o condenado:

a) Pratica fato definido como crime doloso ou falta grave (regressão punitiva);

b) No regime aberto, não paga, podendo, a multa cumulativamente imposta ou frustra os fins da execução
penal (regressão punitiva), o que, segundo a doutrina, ocorre quando há violação aos deveres do condenado
previstos na LEP art. 115;

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c) Sofre condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne
incabível o regime (regressão adequação).

O Plenário do STF decidiu que o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao
sentenciado impede a progressão no regime prisional. Além disso, mesmo sem ter pago, pode ser permitida
a progressão de regime se ficar comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a
multa, ainda que parceladamente (STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 8/4/2015 - Info 780).

Avançando, ao contrário do que ocorre com a progressão de regime, é admitida a regressão de regime per
saltum.

A decretação, pelo juiz, da regressão punitiva exige prévia oitiva, em juízo, do condenado (LEP art. 118,
§2º). Entretanto, enquanto o condenado não for ouvido, é possível a regressão de regime cautelar, provisória
ou sustação provisória do regime, quando houver indícios da prática de fato que ensejará a regressão
punitiva. Na hipótese, o juiz decretará a regressão cautelar para o regime devido (semiaberto ou fechado) e
expedirá mandado de prisão.

Questão 3. Disserte sobre a graça e o indulto, considerando:


a) conceito e previsão legal;
b) espécies;
c) efeitos.

Comentários

a) A graça e o indulto são causas extintivas da punibilidade e são concedidos a pessoas, e não a fatos. Estão
previstos no art. 84, inc. XII da Constituição Federal, que estabelece que “compete privativamente ao
Presidente da República: XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei”. Por força do art. 84, parágrafo único da CF, tal atribuição poderá ser delegada aos
Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os
limites traçados nas respectivas delegações. A diferença entre a graça e o indulto é que a primeira é
individual e deve ser requerida pela parte interessada, enquanto o segundo é coletivo e concedido
espontaneamente pelo Presidente da República ou pelas autoridades que receberam a delegação para
tanto.

b) O indulto e a graça podem ser totais ou parciais. São totais quando extinguem a pena, e são parciais
quando reduzem a pena ou implicam sua comutação (substituição da pena aplicada por medida menos
gravosa). Também podem ser condicionados, quando a lei impõe algum requisito para a sua concessão, ou
incondicionados, quando não há imposição de qualquer requisito para sua concessão. Além das restrições
legais e constitucionais quanto à concessão da graça e do indulto a crimes hediondos, tráfico de drogas,
terrorismo e tortura, o decreto presidencial poderá conter certas restrições, de acordo com o poder
discricionário do Presidente da República.

c) Em regra, a graça e o indulto têm como pressuposto a existência de uma sentença penal condenatória
transitada em julgado. No entanto, o STF vem admitindo a aplicação da graça e do indulto quando há

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sentença penal condenatória transitada em julgado apenas para o Ministério Público. Nos termos da Súmula
631 do STJ, “O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge
os efeitos secundários, penais ou extrapenais”.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Pedro é apanhado em via pública trazendo consigo uma porção de drogas para consumo
pessoal.
a) é possível a prisão em flagrante de Pedro?
b) qual procedimento processará a infração praticada por Pedro?
c) é possível o oferecimento de suspensão condicional do processo em caso de infrações que seguem rito
diverso do sumaríssimo?

Comentários

a) Na situação vertente, o crime em tese cometido por Pedro, foi o previsto no artigo 28, da Lei 11.343/06.

Assim, há que se aplicar o artigo 48, da Lei de Drogas, que verbera o seguinte:

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo
disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo
Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso
com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts.
60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais.

§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,
devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão


tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção
do agente. (Vide ADIN 3807)

§ 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o agente será submetido a


exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender
conveniente, e em seguida liberado.

§ 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados
Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no
art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.

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Assim, com fundamento no artigo 48, §2º, supra, não há que se impor prisão em flagrante.

Uma observação importante é que, na forma do artigo 69, da Lei 9.099/95, essa vedação ao flagrante
estende-se a todas as infrações de menor potencial ofensivo.

b) Apesar de previsto na Lei 11.343/06, que traz rito próprio para processo e julgamento das infrações ali
previstas, o artigo 28 trata de infração de menor potencial ofensivo, o que se infere pelo fato de que não se
comina pena privativa de liberdade, atraindo, pois, a incidência do procedimento sumaríssimo, conforme
anela o §1º, do artigo 48, da Lei 11.343/06.

c) Sim. O benefício da suspensão condicional do processo, conquanto previsto na Lei 9.099/95, não se aplica
exclusivamente às infrações de menor potencial ofensivo, afinal o critério para a sua incidência é exatamente
o patamar mínimo de pena (igual ou inferior a 1 ano, na forma do artigo 89, da Lei 9.099/95). Possível, por
exemplo, que se ofereça o benefício da suspensão condicional do processo ao crime de furto, que tem pena
máxima de 4 anos e segue procedimento diverso do sumaríssimo.

Questão 2. Disserte sobre a fundamentação per relationem das decisões judiciais no processo penal,
indicando a posição do STJ sobre o tema.

Comentários

O dever do magistrado fundamentar as suas decisões vem expressamente prevista no artigo 93, IX da
Constituição da República que impõe o seguinte:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto
da Magistratura, observados os seguintes princípios:

(...)

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

A fundamentação das decisões judiciais, como se vê, constitui dever dos membros do Poder Judiciário e
representa uma garantia fundamental ao Estado de Direito e à democracia, de forma que permite o efetivo
controle da atuação dos juízes. A motivação serve para o controle da racionalidade da decisão judicial.

Além disso, a motivação das decisões está relacionada com o princípio do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa, visto que uma decisão sem a devida fundamentação dificulta o manejo de
eventuais recursos e o seu chamado controle social. É direito do jurisdicionado conhecer as razões que
levaram o magistrado a julgar determinada causa procedente ou improcedente e, a partir deste
conhecimento, decidir a providência cabível em face da decisão.

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O Código de Processo Penal, em inovação trazida pela Lei 13.964/2019, no artigo 315, §2º previu que não se
considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão nas
seguintes situações:

Art. 315.

§2º.

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua


incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos


determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,


sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Por sua vez, o Código de Processo Civil, em seu artigo 489, §1º, II e III, aplicável analogicamente ao processo
penal por conta da norma de extensão do artigo 3º do CPP, prevê como elementos essenciais da sentença
os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito e o dispositivo, em que o juiz
resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.

Uma das formas de fundamentação das decisões judiciais é a per relationem ou aliunde. Este tipo de
fundamentação, que objetiva dar mais dinamismo à tarefa de julgar, ocorre quando o juiz repete os
argumentos utilizados para a decisão de outro processo, fazendo remissão ou referência aos argumentos
alheios, ao invés de dar a sua motivação para o caso.

Ou seja, ao utilizar a técnica da fundamentação per relationem o magistrado faz referência às alegações de
uma das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo.

O Superior Tribunal de Justiça admite a utilização desta forma de fundamentação das decisões, desde que
observadas alguns requisitos, como se colhe do acórdão do HC 117.462/SP (18/05/2021):

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RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. QUEBRAS DOS SIGILOS


TELEFÔNICO, FISCAL E BANCÁRIO. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.

1. Consoante imposição do art. 93, IX, primeira parte, da Constituição da República de 1988,
"todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade", exigência que funciona como garantia da atuação imparcial e
secundum legis (sentido lato) do órgão julgador. Presta-se a motivação das decisões jurisdicionais
a servir de controle, da sociedade e das partes, sobre a atividade intelectual do julgador, para
que verifiquem se este, ao decidir, considerou todos os argumentos e as provas produzidas pelas
partes e se bem aplicou o direito ao caso concreto.

2. Nas decisões atacadas, o Juízo da 3ª Vara Criminal da Comarca de Ribeirão Preto-SP não
explicitou as razões de seu convencimento quanto à necessidade das medidas cautelares em
comento. Aliás, os documentos cingem-se a citar a existência de relatório policial e parecer
favorável do Ministério Público, sem qualquer indicação do contexto fático, nem mesmo os
nomes dos investigados, incorrendo, assim, no vício previsto no art. 489, § 1º, II e III, do CPC,
aplicável, analogicamente, por força do art. 3º do CPP.

3. Em que pese tais decisões terem sido chanceladas pela Corte local, sob o argumento de que
se trata "de motivação per relationem", segundo o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, para que não haja ilegalidade na adoção da técnica da fundamentação per relationem,
a autoridade judiciária, quando usa trechos de decisão anterior ou de parecer ministerial como
razão de decidir, deve acrescentar motivação que justifique a sua conclusão, com menção a
argumentos próprios, o que não é o caso desses autos.

4. Considerando que as decisões que prorrogaram as quebras de sigilo não tem o condão de
convalidar os defeitos de origem ora demonstrados nas decisões proferidas dos Autos n.
0011048-68.2015.8.26.0506 – mesmo porque repetem o mesmo padrão de ausência de falta de
fundamentação idônea –, forçoso concluir pela falta de utilidade em se analisar as dezenas de
decisões que prorrogaram tais quebras.

5. Recurso parcialmente provido, para tornar sem efeito as decisões proferidas às fls. 47, 64, 145
e 227 dos Autos n. 0011048-68.2015.8.26.0506, em trâmite na 3ª Vara Criminal da Comarca de
Ribeirão Preto–SP, que autorizaram a quebra dos sigilos telefônicos, fiscais e bancários dos
recorrentes, devendo o Juiz de Direito desentranhar as provas que tenham sido contaminadas
pela nulidade reconhecida neste writ.

Assim, o STJ admite a utilização da fundamentação per relationem desde que não se limite a reproduzir os
fundamentos das alegações de uma das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo
processo. É preciso que a autoridade judiciária, quando se valer de trechos de decisão anterior ou de parecer
ministerial como fundamento para sua decisão, acrescente motivação que justifique a sua conclusão e a sua
aderência com o caso concreto que está em julgamento, demonstrando a aplicabilidade do raciocínio
utilizado anteriormente para o processo que está sendo julgado.

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3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) e do entendimento dos tribunais
superiores, discorra sobre (máximo 15):
a) A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância aos crimes previstos no Estatuto do
Desarmamento; e
b) O conceito de residência ou domicílio aos residentes em área rural para fins de posse de arma de fogo.

Comentários

a) A tese 11 (edição n.º 102) do STJ possuía o seguinte texto:

“A simples conduta de possuir ou de portar arma, acessório ou munição é suficiente para a


configuração dos delitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n.º 10.826/2003, sendo inaplicável
o princípio da insignificância”.

Mas foi superada pelo STF e STJ, que agora admitem a aplicação do princípio da insignificância:

(…) 2. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça apontava que os crimes previstos nos
arts.12, 14 e 16 da Lei n.º 10.826/2003 são de perigo abstrato, sendo desnecessário perquirir
sobre a lesividade concreta da conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a
incolumidade física e sim a segurança pública e a paz social, colocadas em risco com o porte de
munição, ainda que desacompanhada da arma de fogo ou munição. 3. Esta Corte passou a
acompanhar a nova diretriz jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal que admite a incidência
do princípio da insignificância na hipótese da posse de pequena quantidade de munição,
desacompanhada de armamento hábil a deflagrá-la. 4. para que exista, de fato, a possibilidade
de incidência do princípio da insignificância, deve-se aferir se a situação concreta trazida nos
autos autoriza sua incidência. (STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 119.662/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 20/02/2020).

(…) A Sexta Turma desta Casa, alinhando-se ao Supremo Tribunal Federal, passou a admitir a
aplicação do princípio da insignificância aos crimes previstos na Lei n.º 10.826/2003,
esclarecendo que a ínfima quantidade de munição apreendida, aliada a ausência de artefato
bélico apto ao disparo, evidencia a inexistência de riscos à incolumidade pública. (…) (STJ. 6ª
Turma. AgRg do REsp 1869961/SC, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 19/05/2020).

b) A Lei n.º 13.870/2019 promoveu uma pequena alteração no Estatuto do Desarmamento, incluindo o §5º,
no art. 5º, do Estatuto, esclarecendo o conceito de residência ou domicílio aos residentes em área rural para
fins da previsão daquele artigo, confira-se:

Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional,
autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência
ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o
titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

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[…]

§5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se
residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel rural. (Incluído pela Lei nº 13.870,
de 2019)

Questão 2. Sobre o crime de tráfico de drogas, na forma prevista no art. 33, §4º, da Lei n. 11.343/06,
conhecido como “tráfico privilegiado”, responda as seguintes indagações:
a) Quais os requisitos para reconhecimento dessa forma de tráfico de drogas?
b) Trata-se de crime hediondo ou equiparado?
c) A natureza e a quantidade das drogas apreendidas devem ser consideradas para fins de reconhecimento
do crime referido art. 33, §4º?

Sugestão de resposta

O “tráfico privilegiado” diz respeito à causa de diminuição de pena (minorante), no patamar de um sexto até
dois terços, prevista no art. 33, §4º, do Código Penal, aplicável nas hipóteses em que o acusado for primário,
tiver bons antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas nem integrar organização criminosa 34.

Os tribunais superiores, tanto o STF quanto o STJ, possuem entendimento de que o crime de tráfico de
drogas, quando praticado na forma privilegiada (art. 33, §4º, do CP), não é crime hediondo ou equiparado35.
Frise-se que, com base nesse posicionamento, o legislador, com a edição da Lei n. 13.964/19 (Pacote
Anticrime), incluiu o §5º no art. 112 da Lei 7.210 (Lei de Execução Penal), prevendo expressamente que o
tráfico privilegiado não é considerado crime hediondo ou equiparado36.

Quanto à análise da quantidade e natureza da droga apreendida para fins de aplicação da minorante do art.
33, §4º, o STF possui entendimento, em sede de repercussão geral, no sentido de que a natureza e a
quantidade da droga não podem ser utilizadas, ao mesmo tempo, na primeira e na terceira fase de aplicação
da sanção penal, sob pena de caracterização de bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato)37.

Por sua vez, o STJ, ao interpretar o entendimento da Suprema Corte, diverge sobre a consideração da
natureza e quantidade das drogas para fins de reconhecimento da minorante do art. 33, §4º. A 5ª Turma do
STJ adota o entendimento de que a natureza e quantidade da droga podem ser avaliadas na primeira fase

34
Art. 33 (...). § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa.
35
STF. Plenário. HC 118533, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 23/6/2016 – Informativo 831; STJ.3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria
Thereza Assis Moura, j. 23/11/2016, sob o rito dos recursos repetitivos- Informativo 595.
36
Art. 112 (...). § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no
§ 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.
37
“As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das
fases do cálculo da pena”. (STF. Plenário. ARE 666334 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/4/2014 – Tema712 de Repercussão Geral).

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de aplicação da pena, para fixação da pena-base, e na terceira fase para afastar a minorante do art. 33, §4º,
sem que isso configure bis in idem38.

Já a 6ª Turma possui o entendimento de que a quantidade e natureza da droga, quando utilizadas na primeira
fase para elevar a pena básica e na terceira fase para afastar a minorante do art. 33, §4º (1/6 a 2/3), configura
violação ao princípio da vedação à dupla punição (bis in idem)39.

Assim, sem embargo da divergência sobre a consideração da natureza e quantidade da droga na primeira e
na terceira fase de aplicação da pena, em princípio, é possível utilizar essas circunstâncias (natureza e
quantidade) para afastar a minorante do tráfico privilegiado. Todavia, se a quantidade e natureza já foram
avaliadas para aumentar a pena-base, pode caracteriza bis in idem o reconhecimento dessas circunstâncias
para afastar o tráfico privilegiado.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. O que é “quociente eleitoral”? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um,
se superior, em conformidade com o art. 106, caput, do Código Eleitoral. Não deve ser olvidado que, de
acordo com o art. 5º da Lei nº 9.504/97, nas eleições proporcionais, contam-se como votos válidos apenas
os votos dados aos candidatos regularmente inscritos e às legendas partidárias.

Por sua vez, determina-se para cada partido ou coligação o quociente partidário, dividindo-se pelo quociente
eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação de legendas, desprezada a
fração, em consonância com o art. 107 do Código Eleitoral, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº
7.454/85.

3.9 – DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. A aplicação da circunstância atenuante de confissão, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal,
poderá ser aplicada no procedimento de apuração de ato infracional?

Comentários

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO.

38
STJ. 5ª Turma. HC 453.224/SP, Rel, Min. Feliz Fischer, j. 21/8/2018; AgRg no HC549.034, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 9/6/2020.
39
STJ. 6ª Turma. HC 373.523, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 14/8/2018.

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ABRANDAMENTO DA MEDIDA PELA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE DE


MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. O entendimento adotado pela Corte de origem está em consonância com a jurisprudência


deste Tribunal Superior, no sentido de que "[a] aplicação da circunstância atenuante de
confissão, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal, é impossível em sede de procedimento
relativo a ato infracional submetido ao Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que a
medida socioeducativa não tem natureza de pena." (AgRg no HC 602.179/PR, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA Turma, Julgado em 06/10/2020, DJe em 16/10/2020).

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 1654739/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
02/02/2021, DJe 17/02/2021).

3.10 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foi informado, na data de 27 de maio de 2021,
pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo, sobre o acolhimento da Recomendação expedida pela
instituição para o tombamento estadual da Serra do Curral.
Discorra em até 20 linhas obre o patrimônio histórico e cultural, os direitos culturais e o instituto do
tombamento.

Comentários

A preservação do patrimônio histórico e cultural é uma questão de cidadania, envolvendo o exercício de


direitos e deveres. Diante disso, todos os brasileiros têm o direito à memória, mas têm também o dever de
zelar pela salvaguarda de nossos bens históricos para as atuais e futuras gerações.

A Constituição Federal de 1988 é considerada pela doutrina, pelo menos no plano formal, um avanço ao
elevar os direitos culturais à categoria de direitos fundamentais da pessoa humana, conforme o art. 5º, LXXIII
da Constituição.

Art. 5º LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Ademais, o art. 215 consagra dois princípios basilares que norteiam a política de preservação do patrimônio
histórico-cultural brasileiro, sendo eles o princípio da cidadania cultural e o princípio da diversidade cultural.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da
cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

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§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e


das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

De forma a reconhecer formação histórica brasileira com sua pluralidade de culturas étnicas, o art. 215, em
seu § 2º afirma que a lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os
diferentes segmentos étnicos nacionais.

O art. 216 ao corrigir a visão minimalista que se tinha no conceito de patrimônio cultural, na qual
considerava-se apenas o “patrimônio edificado” com ênfase estava nos bens imóveis, apresenta o atual
conceito de patrimônio cultural, este que alcança também os bens imateriais ou intangíveis, muitas vezes
expressos nas formas de expressão, nos modos de criar, fazer e viver de nosso povo.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações


artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,


paleontológico, ecológico e científico.

§1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio


cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
e de outras formas de acautelamento e preservação.

§2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental


e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.

§4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

§5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos
antigos quilombos.

§6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura
até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas
e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:

I - despesas com pessoal e encargos sociais;

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II - serviço da dívida;

III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiadas.

Ainda, existem aqueles que são denominados como Patrimônios Culturais da Humanidade, considerados
como tal pela UNESCO com base no Valor Universal Excepcional, este que tem seu conceito previsto na
Convenção do Patrimônio Mundial. Entre os Patrimônios Culturais Brasileiros da Humanidade, podemos
destacar por exemplo o Centro Histórico de Ouro Preto, localizado no estado de Minas Gerais.

Como forma de preservar os bens com relevante valor histórico, científico, tecnológico, artístico, cultural,
arquitetônico e ambiental para a população, o tombamento está previsto §1º do art. 216 da CRFB.

Em relação a este instituto de preservação, o proprietário do bem tombado deverá preservar e manter as
características deste, não sendo vedada sua alienação, desde que o Poder Público seja devidamente
notificado e exerça seu direito de preferência na compra do bem. Ademais, as obras realizadas para a
conservação do bem deverão ser previamente aprovadas pelo órgão que efetuou o tombamento, de forma
que a aprovação está vinculada ao nível de conservação do bem.

Ainda, a destruição, inutilização ou deterioração de bens tombados pela autoridade pública competente
implica em crime tipificado no artigo 165 do Código Penal, punido com pena de seis meses a dois anos e
multa.

Importante observar que existem seis modalidades de tombamento, o voluntário, o compulsório, o


provisório, o definitivo, o geral e o individual.

• Tombamento voluntário: proprietário do bem solicita o tombamento, ou ainda quando


este concorda com tal procedimento sem oposição, quando notificado.
• Tombamento compulsório: Administração Pública promove o tombamento contra a
vontade de seu proprietário que se opõe judicialmente ao tombamento.
• Tombamento provisório: incidirão sobre o bem os efeitos do processo de tombamento
antes mesmo do trânsito em julgado.
• Tombamento definitivo: todos os efeitos já foram produzidos, chegando-se assim ao fim
do processo de tombamento.
• Tombamento individual: incide sobre apenas um bem.
• Tombamento geral: incide sobre uma universalidade de bens.
A competência para legislar sobre tombamento é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal,
nos termos do artigo 24 da constituição Federal. Por sua vez, a competência para a execução do
tombamento, autoriza a União, Estados e Municípios para tanto.

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Destaca-se por fim, que o tombamento não gera para o proprietário direito à indenização, pois o bem
continua no domínio e na posse do proprietário, salvo se houver dano no bem.

PONTUAÇÃO
ABORDAGEM ESPERADA (ESTRATÉGIA)
MÁXIMA
Exposição da previsão constitucional acerca do patrimônio histórico e cultural brasileiro 1,00
Menção aos Patrimônios Culturais da Humanidade e citação de exemplo de Patrimônio
0,20
Cultural Brasileiro da Humanidade
Exposição da previsão constitucional do tombamento. 0,30
Apontar seis modalidades de tombamento, assim como a competência para legislar e
1,00
para executa-lo.
Questão 2. Quanto ao Direito da Infância e Juventude, responda às perguntas abaixo de maneira
fundamentada:
a) O princípio da identidade física do juiz é aplicável ao rito estabelecido pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente para apuração de ato infracional?
b) O que se entende por “reiteração” no cometimento de atos infracionais graves, nos termos do artigo 122,
II, do ECA?

Comentários

Essa questão aborda dois entendimentos jurisprudenciais importantíssimos para a atuação do Promotor de
Justiça que atua no âmbito da Infância e Juventude, razão pela qual é muito importante que você saiba
responder as perguntas acima.

a) O princípio da identidade física do juiz é a regra no processo penal, nos termos do art. 399, §2º, do CPP, e
tem por objetivo a vinculação do magistrado que conduziu a instrução do feito à prolação da sentença, em
razão de seu maior contato com as provas produzidas ao longo do processo.

Especificamente quanto ao procedimento de apuração de ato infracional, todavia, segundo precedente do


STF e o entendimento do STJ40 sobre o tema, o princípio da identidade física do juiz não se aplica ao rito se
apuração do ato infracional, tendo em vista que o ECA prevê procedimento fracionado de apuração de ato
infracional em várias audiências, sem fazer qualquer menção a tal princípio.

40
RHC 26.050/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), SEXTA TURMA, julgado em
14/06/2011, DJe 03/08/2011

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Por fim, não se pode olvidar, todavia, que parte da doutrina possui críticas ao entendimento acima
mencionado, considerando que o princípio da identidade física do juiz é uma garantia constitucional (artigo
5º, incisos LIII e XXXVII da CRFB) e que não caberia ao intérprete diferenciar onde o legislador não o fez.
Nesse sentido, e em apreço ao princípio da proteção integral (art. 227 da CRFB), não se poderia conferir ao
adolescente tratamento mais gravoso que aquele conferido aos adultos no processo penal. Portanto, para
tal corrente o referido princípio deve ser aplicado na apuração de atos infracionais.

b) Nos temos do art. 122, II, do ECA, a medida de internação pode ser aplicada no caso de reiteração no
cometimento de outras infrações graves.

Inicialmente, prevalecia na jurisprudência dos Tribunais Superiores a tese de que eram necessárias pelo
menos três infrações graves para que fosse caracterizada a reiteração exigida pelo ECA. Todavia, atualmente,
a jurisprudência pátria entende que, tendo em vista o ECA não ter estipulado um número mínimo de atos
infracionais graves para caracterizar a “reiteração” exigida como justificativa apta à internação do
adolescente infrator, cabe ao magistrado sopesar as peculiaridades do caso concreto e as características do
adolescente a fim de aplicar ou não a medida extrema.41

Portanto, à luz do princípio da legalidade, deve-se afastar da quantificação de infrações, devendo a imposição
da medida socioeducativa pautar-se em estrita atenção às nuances que envolvem o quadro fático da situação
em concreto.

PONTUAÇÃO
ABORDAGEM ESPERADA (ESTRATÉGIA)
MÁXIMA
O princípio da identidade física do juiz é inaplicável ao procedimento de apuração de ato
infracional, regulado pelo ECA, e que possui rito próprio. Entendimento dos Tribunais 1,00
Superiores.
O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a
internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no
cometimento de outras infrações graves). Cabe ao magistrado analisar as peculiaridades 1,00
de cada caso e as condições específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a
internação. Entendimento dos Tribunais Superiores.

41
STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011.
STJ. 5ª Turma. HC 457.094/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/10/2018.
STJ. 6ª Turma. AgInt no AREsp 1283377/MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018.

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3.11 – DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Quais os principais diplomas que regem o processo coletivo no Brasil?

Comentários

“A década de 1990 foi muito profícua em termos de legislação. Apesar de ter iniciado com forte turbulência
política, por conta de uma renúncia presidencial, após um período também turbulento em um regime de
governo não democrático, muitas das principais leis que hoje utilizamos foram produzidas neste período.
Destas, podem ser destacadas a Lei 8.069/90, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei
8.137/90, a Lei de crimes contra a ordem tributária e relações de consumo, Lei 8.072/90, ou Lei de crimes
hediondos, além do presente diploma, conhecido amplamente como Código de Defesa do Consumidor.”
(Ziesemer. Interesses e Direitos Difusos e Coletivos. Juspodivm, 2018, p. 295)

Código de Defesa do Consumidor

Estatuto da Criança e do Adolescente

Lei 8.625/93 – LONMP

LC 75/93 - MPU

Lei 7.347/85 - ACP

Lei 4.717/65 - AP

Lei 6.938/81 - LPNMA

LC 80/94 - LODP

Lei 12.016/09 – LMS

Lei 10.741/02 – Estatuto do Idoso

Questão 2. Em que consiste a denominada prova prima facie?

Comentários

Também designada prova de primeira aparência ou por verossimilhança, trata-se de prova que resulta de
uma presunção judicial que se constrói a partir da experiência da vida, à luz do que normalmente acontece
(id quod plerumque accidit).

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Lembra Fredie Didier Jr.42 que a prova prima facie decorre da existência de eventos típicos que se
reproduzem com certeza regularidade e, destarte, permitem extrair conclusões acerca do fato que se queira
provar. Assim, haveria uma “aparência” do fato, capaz de inverter o ônus da prova com a atribuição à outra
parte do encargo de demonstrar o contrário. Isso porque a normalidade de alguns acontecimentos faz com
que a experiência considere irrelevantes as circunstâncias do caso concreto, cabendo à parte unicamente
provar a existência desse evento típico, dispensando a prova das particularidades da situação específica.

Com base nesta espécie de prova construiu-se o entendimento no sentido de que a inscrição indevida no
cadastro de proteção ao crédito enseja presunção de ocorrência de danos morais (intitulado de in re ipsa),
na medida em que a negativação tem como consequência o abalo psíquico.

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR INCLUSÃO INDEVIDA


EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO DE DANO IN RE IPSA
EM RELAÇÃO À PESSOA JURÍDICA. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. VIOLAÇÃO À COLEGIALIDADE.
NÃO OCORRÊNCIA. REVISÃO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO
INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Cuidando-se de protesto indevido de título ou
inscrição irregular em cadastro de inadimplentes, conforme expressamente reconhecido pelo
Tribunal a quo, o dano moral, ainda que a prejudicada seja pessoa jurídica, configura-se in re ipsa,
prescindindo, portanto, de prova. Precedentes. 2. O relator está autorizado a decidir
monocraticamente recurso que for contrário a jurisprudência dominante (Súmula 568/STJ). Além
disso, eventual nulidade da decisão singular fica superada com a apreciação da matéria pelo
órgão colegiado por ocasião do agravo interno. 3. A obtenção das circunstâncias necessárias ao
conhecimento do recurso a partir do delineamento fático do acórdão recorrido não implica
reexame fático-probatório vedado pela Súmula 7/STJ. 4. Agravo interno a que se nega
provimento43.

Outro exemplo de aplicação prática refere-se à recusa indevida ou injustificada de operadora de plano de
saúde em autorizar a cobertura financeira de tratamento médico a que esteja legal ou contratualmente
obrigada.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE


COBERTURA DE PROCEDIMENTO PARA TRATAMENTO. PREVISÃO CONTRATUAL PARA
COBERTURA DA DOENÇA. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE CONCLUIU CONFORME A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. NEGATIVA DE COBERTURA. DANO MORAL
CONFIGURADO. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. Delineado pelas instâncias
de origem que o contrato celebrado entre as partes previa a cobertura para a doença que
acometia o autor, é abusiva a negativa da operadora do plano de saúde de utilização da técnica
mais moderna disponível no hospital credenciado pelo convênio e indicada pelo médico que
assiste o paciente. 2. A orientação desta Corte Superior é de que a recusa indevida ou
injustificada pela operadora de plano de saúde em autorizar a cobertura financeira de

42
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandrina de. Curso de Direito Processual Civil. Volume 02: Teoria
da Prova, Direito Probatório, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Tutela Provisória. 10ª ed. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 73.
43
STJ, AgInt no REsp 1.828.271/RS, 4ª T., rel. Min. Raul Araújo, j. 18.02.2020, DJe 12.03.2020.

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tratamento médico a que esteja legal ou contratualmente obrigada gera direito de ressarcimento
a título de dano moral, em razão de tal medida, agravar a situação tanto física quanto
psicologicamente do beneficiário. Caracterização de dano moral in re ipsa. 3. Agravo interno
desprovido44.

4 – PEÇA PRÁTICA
(Inédita - Estratégia) Como é de amplo conhecimento, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial
da Saúde declarou situação de pandemia em relação ao novo Coronavírus. Para enfrentá-la, consignou-se
que a medida mais notável seria a determinação legal para a paralisação de todas as atividades
consideradas não essenciais, a fim de cumprir com o objetivo declarado de realizar o distanciamento
social, figurando o isolamento em domicílio medida oficialmente recomendada (cf. Lei federal nº
13.979/2020 e Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020).
Nesse sentido, com fulcro nas determinações do Poder Público, em meados de março do ano de 2020,
todas as instituições de ensino do Estado de Minas Gerais suspenderam as aulas presenciais, e,
majoritariamente, adotaram o sistema de educação à distância, situação que perdura há 8 meses.
Em pararelo, o MPMG, por meio da Coordenadoria do Programa Estadual de Proteção e Defesa do
Consumidor – PROCON-MG, agiu de formar célere e expediu a Nota Técnica nº. 01/2020, de 06 de abril de
2020, que orientou os fornecedores, dentre outros aspectos, sobre a necessidade de revisão contratual
para a incidência durante o período de suspensão das aulas presenciais, em razão da modificação na forma
de prestação do serviço inicialmente contratada e consequente afetação do equilíbrio econômico-
financeiro do contrato.
Diante desses fatos, a Promotoria de Justiça de Uberlândia instaurou a Investigação Preliminar nº
0101.20.001111-1 para apurar se estavam ocorrendo práticas abusivas por parte das redes privadas da
cidade de Uberlândia, o que gerou a Recomendação nº 01 de 29 de abril de 2020, que objetivou orientar
as Instituições de Ensino a conferir maior clareza nas medidas adotadas e uma aproximação com os
pais/responsáveis em busca de um diálogo franco e proveitoso para ambas as partes.
Umas das principais orientações da Recomendação nº 001/2020, foi para que as escolas renegociassem as
situações de inadimplência e enviassem à Promotoria de Uberlândia a relação sucinta dos acordos
entabulados entre elas e os responsáveis pelos alunos.
Cumpre dizer que, recentemente, também foi instaurada a Investigação Preliminar nº 0202.20.002222-2
em face do Colégio Paulo Freire, uma vez que a Ouvidoria do MPMG vem recebendo várias reclamações
acerca da prestação parcial dos serviços contratados e da não concessão de descontos nas mensalidades,
fato que, inclusive, contraria a Nota Técnica e a Recomendação supracitada.
Independente do grau de esforço envidado pela instituição e pelo corpo docente para a adaptação à nova
metodologia de ensino, o que pode ser avaliado através de fatores como o investimento em tecnologia e
capacitação dos professores, é evidente que houve prejuízo substancial na qualidade da instrução durante

44
STJ, AgInt no AREsp 1.534.265/ES, 3ª T., rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16.12.2019, DJe 19.12.2019.

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as primeiras semanas de implementação do novo modelo, o que, por si só, é causa suficiente para uma
redução da mensalidade no período correspondente.
Isso sem falar na considerável distinção na forma de execução dos serviços entre as modalidades de ensino
presencial e remoto, o que, para além do retratado desequilíbrio causado no “período de adaptação”,
exige a repactuação do contrato para a sua adequação à nova forma de prestação, enquanto ela durar.
Registre-se que uma das reclamações advindas do Sistema de Ouvidoria relatou que, no colégio Paulo
Freire, situado na cidade de Uberlândia, desde 18 de março de 2020, os estudantes estão tendo três aulas
online por dia, enquanto presencialmente eles contariam com seis. Quer dizer, há mais de oito meses, os
alunos, e consequentemente seus responsáveis financeiros, têm sido prejudicados com a prestação de
uma obrigação diferente da contratada originalmente, pois a carga horária foi reduzida pela metade.
É importante lembrar, ainda, o grave cenário de retração econômica, posto que a suspensão do regular
funcionamento das atividades econômicas tem ocasionado enorme impacto financeiro na vida de milhares
de famílias. E é público e notório, que, quando o assunto é a educação, inúmeras famílias submetem-se a
sacrifícios para custear ensino de qualidade, comumente oferecido por estabelecimentos particulares dos
mais variados portes.
Assim, faz-se necessário impedir a cobrança das mensalidades, na sua integralidade, já a partir do mês de
novembro de 2020, e com efeitos retroativos à data de início da suspensão das atividades presenciais, que,
como já explicitado, implicou em substancial mudança no fornecimento do serviço contratado, sob pena
de impor ao consumidor, parte mais vulnerável da relação, todo o ônus decorrente do impacto causado
pela pandemia.
Na condição de Promotor de Justiça Substituto da Comarca de Uberlândia (MG), considerando o cenário
fático retratado, elabore a peça judicial cabível, apresentando todos os aspectos de direito material e
processual pertinentes ao caso.
Dispense o resumo dos fatos, não crie fatos novos e fundamente sua resposta, sempre que necessário, na
legislação e na jurisprudência do STJ e do STF.

Modelo de Peça

AO JUÍZO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE UBERLÂNDIA (MG)45

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por intermédio do Promotor de Justiça abaixo
assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 127 e 129 da
Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e na Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor), assim como tendo em vista o apurado nas inclusas Reclamações de pais de alunos que não
estão conseguindo obter descontos na rede privada de ensino, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face do
COLÉGIO PAULO FREIRE, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. , com sede na cidade de
Uberlândia, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

45
Modelo de Ação Civil Pública disponibilizado no sítio eletrônico do MPMG https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-
do-cidadao/consumidorr/material-de-apoio/modelos-de-pecas/modelos-de-pecas.htm . Acesso em 11 de junho de 2021.

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I – DAS PREMISSAS FÁTICAS

Dispensado.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.I - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 9.394/66, definidora e regulamentadora da
organização da educação brasileira, estabelece que:

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreendem:

(...)

III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada;

Estabelece, ainda, em seu 17º artigo, que as instituições privadas de ensino são as mantidas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado, o que é o caso da Requerida.

Desse modo, resta patente a competência da Justiça Estadual para julgar o feito.

II.II - DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade do Ministério Público Estadual para ajuizar ação civil pública em defesa de interesses coletivos
lato sensu, nos exatos termos dos dispositivos localizados nos artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal,
é indeclinável. Veja-se46:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

II – promover o inquérito civil e ação civil pública, para proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

46
Quando da ocasião da prova prática, não transcreva os artigos. A simples menção já é o suficiente para obter a pontuação.
Ademais, a transcrição dos artigos tomará espaço necessário para que a peça seja formulada em sua completude.

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Para dar implementação ao disposto acima, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) 47, em seu artigo 81,
parágrafo único, I, inclui no rol de interesses difusos e coletivos os direitos relativos ao consumidor e, em seu
artigo 82, I, legitima o Ministério Público a defendê-los.

Nessa toada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), espancando qualquer dúvida acerca da legitimidade do
Ministério Público para a tutela dos direitos coletivos, editou o enunciado da Súmula nº 601:

“O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço
público”.

Logo, provada e fundamentada está a legitimidade do Ministério Público Estadual para a propositura da ação.

II.III - DA CONFIGURAÇÃO DA RELAÇÃO DE CONSUMO

No presente caso, a configuração da relação de consumo entre o Réu e a generalidade dos alunos é indene
de dúvidas. Como se sabe, a relação de consumo é aquela existente entre um consumidor e um fornecedor,
que tem por objeto a aquisição de um produto ou a prestação de um serviço. Neste sentido, para a correta

47
CDC
TÍTULO III
Da Defesa do Consumidor em Juízo
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos
interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

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identificação de uma relação de consumo, mister que se estabeleça o conceito de seus três principais
elementos, quais sejam: Consumidor, Fornecedor e Produto ou Serviço.

O CDC define consumidor como toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final (art. 2º). Já o fornecedor é, em síntese, qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, ou até mesmo um ente despersonalizado, que coloca com habitualidade um produto ou serviço no
mercado de consumo. Trata-se, portanto, de conceito amplo, de forma que a intenção do legislador foi a de
não excluir nenhum tipo de pessoa jurídica.

Nos termos do art. 3º, §2º, do CDC, “serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Mais uma vez se percebe que a intenção da lei é a de não excluir nenhum tipo de serviço, sendo que o rol
trazido é meramente exemplificativo.

Destarte, é patente a relação jurídica de consumo existente entre os estabelecimentos de ensino privados e
os usuários dos serviços de natureza educacional, que se enquadram perfeitamente no conceito de
consumidor previsto no art. 2° do CDC, uma vez que são pessoas físicas que adquirem, em proveito próprio,
um serviço de natureza educacional colocado à sua disposição no mercado de consumo.

O estabelecimento de ensino privado demandado também se enquadra no conceito de fornecedor, por ser
pessoa jurídica de direito privado, que habitualmente presta os serviços de natureza educacional. E, quanto
a este, indubitavelmente configura serviço nos termos do conceito trazido pelo CDC.

II.IV - A ALTERAÇÃO DA FORMA DE EXECUÇÃO DO SERVIÇO EDUCACIONAL E A ONEROSIDADE EXCESSIVA


NAS MENSALIDADES

O cerne da presente Ação Civil Pública é a discussão da onerosidade excessiva, decorrente da pandemia de
COVID-19, que vem sendo suportada pelos pais e/ou responsáveis pelo pagamento das mensalidades
escolares, notadamente face à suspensão das aulas presenciais no colégio Requerido.

Assim, a presente demanda não tem por escopo regulamentar a forma de prestação do serviço, mas discutir
a relação de consumo travada à luz do CDC, verificando se o serviço está observando as normas e os
princípios encampados na legislação consumerista. O art. 6º do CDC preconiza que são direitos básicos do
consumidor:

V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua


revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

Nesse sentido, cumpre destacar que não se faz necessária a configuração da imprevisibilidade, bastando,
para tanto, a ocorrência da onerosidade excessiva em virtude de fato superveniente, como assim dispõe a
Teoria da Base Objetiva do Contrato. Esse é o entendimento do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA.DÓLAR


AMERICANO. MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL. AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTO PARA ATIVIDADE

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PROFISSIONAL. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. TEORIAS DA IMPREVISÃO. TEORIA DA


ONEROSIDADE EXCESSIVA. TEORIA DA BASE OBJETIVA. INAPLICABILIDADE. [...] 3. A intervenção
do Poder Judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade
excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes das circunstâncias iniciais vigentes
à época da realização do negócio, oriundas de evento imprevisível (teoria da imprevisão) e de
evento imprevisível e extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometa o valor
da prestação, demandando tutela jurisdicional específica. [...] 5. A teoria da base objetiva, que
teria sido introduzida em nosso ordenamento pelo art. 6º, inciso V, do Código de Defesa do
Consumidor - CDC, difere da teoria da imprevisão por prescindir da previsibilidade de fato que
determine oneração excessiva de um dos contratantes. Tem por pressuposto a premissa de que
a celebração de um contrato ocorre mediante consideração de determinadas circunstâncias, as
quais, se modificadas no curso da relação contratual, determinam, por sua vez, consequências
diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussão direta no equilíbrio das
obrigações pactuadas. Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o
contrato fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à
formulação do vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva. 6. Em que pese sua relevante
inovação, tal teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida em
nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam especial proteção.
Não se admite a aplicação da teoria do diálogo das fontes para estender a todo direito das
obrigações regra incidente apenas no microssistema do direito do consumidor, mormente com
a finalidade de conferir amparo à revisão de contrato livremente pactuado com observância da
cotação de moeda estrangeira. 7. Recurso especial não provido. (REsp 1321614/SP, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 03/03/2015).

No caso em análise, os consumidores celebraram contrato com o Réu para que este prestasse o serviço
educacional na modalidade presencial. Contudo, em razão da pandemia, o serviço vem sendo executado de
modo remoto, diverso ao previamente contratado, sem que se tenha realizado qualquer ajuste nas avenças,
em especial nos preços das mensalidades.

Nesse contexto, impossível negligenciar que as repercussões de uma situação de emergência em saúde de
importância internacional operam-se para além da seara médica, reverberando, financeira e
economicamente, em toda a sociedade.

À evidência, com a suspensão das atividades presenciais, há uma redução significativa nos gastos para a
entidade de ensino privado tais como energia, material de expediente, material e serviços de limpeza, água,
vale-transporte dos funcionários, etc., em virtude da não utilização dos espaços físicos e seus respectivos
serviços-meio. Isso sem falar na suspensão de contratos de trabalho.

Noutra banda, sob a ótica dos consumidores, além da redução das rendas, há um aumento, igualmente
significativo, dos gastos, fruto da permanência física em casa, nas 24 horas do dia, que, por sua vez, é
consequência da adesão ao isolamento social, nos moldes recomendados pelas autoridades médicas e
sanitárias; e, em muitos casos, ainda, do regime de trabalho home office, avultando os custos de energia
elétrica, água, alimentação, dentre outros. Acrescente-se, ainda, os eventuais custos com tecnologia para
acessar as aulas remotas, como aquisição de computador de qualidade e internet de alta velocidade.

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Destarte, a redução linear das mensalidades constitui pressuposto inderrogável de atenção ao princípio
isonômico, já que as implicações financeiras e da forma de execução do serviço atingem a todos os
consumidores, invariavelmente.

Nas atuais circunstâncias, os efeitos e as repercussões econômicas e financeiras da pandemia devem ser
repartidos entre todos os sujeitos da relação, de sorte a garantir o equilíbrio contratual, a conservação da
avença e o compromisso no cumprimento das respectivas obrigações.

III- DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil (CPC), “a tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo”.

No presente caso, a probabilidade do direito exsurge da própria natureza dos fatos alegados, que, escorados
ao que dispõe a legislação de proteção ao consumidor, admitem a revisão das cláusulas contratuais que
geram uma onerosidade excessiva em virtude da ocorrência de fatos supervenientes, consoante prevê o art.
6º, V, do CDC.

O perigo de dano também é evidente, visto que os alunos se encontram sofrendo sérios prejuízos
econômicos e educacionais decorrentes das deficiências apontadas acima e do não abrandamento das
mensalidades escolares. Há, em acréscimo, o risco ao resultado útil do processo, uma vez que, ultrapassada
a pandemia gerada pelo novo coronavírus, os discentes enfrentarão ainda mais obstáculos para o
reconhecimento dos seus direitos.

Em outras palavras, considerando o decurso de mais 08 (oito) meses do início da suspensão das aulas
presenciais, período este em que os estudantes e seus pais vêm arcando de forma integral com todo o
impacto negativo provocado pela pandemia, a postergação da decisão sobre a redução das mensalidades
provocará dano irreversível a uma gama de estudantes que, somada à grave crise financeira, não terão outra
alternativa senão tornar-se inadimplente ou trancar a matrícula do curso. A não intervenção imediata nas
relações contratuais gerará inadimplência em cascata, potencializando ainda mais os prejuízos ocasionados
pela pandemia.

Além disso, o periculum in mora também pode ser caracterizado ante a iminência de novas cobranças,
especialmente diante da rematrícula prevista para o próximo mês de dezembro.

Outrossim, há o risco iminente de os alunos não conseguirem quitar as mensalidades e, com isso, ter os seus
nomes incluídos nos órgãos de proteção ao crédito e, além disso, não conseguindo saldar o preço integral
do ano de 2020, de não poder se matricular no próximo ano em razão do débito do anterior.

Pelo exposto, com fundamento nos artigos mencionados e no art. 84, §3º do CDC, requer-se a concessão da
tutela de urgência, inaudita altera pars, para determinar que o Requerido:

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a) assegure a todos os responsáveis financeiros/alunos a revisão contratual por onerosidade excessiva com
a redução de 30% (trinta por cento) nas mensalidades, a partir do mês de novembro de 2020, enquanto
durar o isolamento social e a impossibilidade de prestação do serviço contratado, na forma presencial;

b) realize a compensação das mensalidades que já foram quitadas de forma integral, referentes aos meses
de abril a setembro, mediante desconto adicional nas próximas mensalidades;

c) em caso de descumprimento das obrigações constantes do item “a” a “b”, seja fixada multa, em valor a
ser arbitrado por este juízo, por cobrança de cada contrato em desacordo ou suspensão indevida;

d) abstenha-se de compensar o desconto referido na alínea “a” com eventuais descontos já ofertados
(pagamento pontual, convênios, etc.);

e) abstenha-se de condicionar o percentual de redução das mensalidades com a ocupação laborativa dos
responsáveis financeiros pelo contrato, bem como de exigir comprovação de redução de rendimentos;

f) apresente a esse Juízo, até o dia 30 de cada mês, relatório com a documentação comprobatória dos custos
reduzidos durante a pandemia de COVID-19 enquanto não houver aulas presenciais;

g) que seja a requerida condenada ao pagamento de multa diária em valor a ser arbitrado por este juízo, por
descumprimento das demais obrigações, cujo montante deverá ser recolhido ao Fundo Estadual de Defesa
do Consumidor.

IV - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA RELAÇÃO CONSUMERISTA

Não obstante o fato de o Código de Processo Civil (CPC) não ter adotado a Teoria Dinâmica, seus preceitos
são encontrados, pontualmente, na legislação brasileira, em homenagem aos princípios da efetividade
processual e do acesso à Justiça.

No Código de Defesa do Consumidor (CDC), é possível observar a referida mitigação da Teoria Estática
quando da análise do artigo 6º:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Levando em consideração a vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, essa dinamização do ônus


da prova no CDC mostra-se salutar, pois facilita a defesa dos interesses do consumidor, propiciando uma
igualdade substancial também no âmbito processual.

Faz-se mister observar que o reconhecimento da inversão do ônus da prova na seara consumerista não se
dá de maneira automática, estando, na verdade, condicionado à verificação, pelo juiz da causa, da presença,

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alternativamente, dos requisitos autorizadores: verossimilhança das alegações ou hipossuficiência do


consumidor.

No caso em tela, a inversão tem como principal efeito a atribuição do ônus ao Réu de demonstrar a qualidade
do ensino remoto prestado e os gastos com a implantação dos recursos tecnológicos, bem como a suposta
insustentabilidade financeira para a concessão do desconto devido, que deve ser comprovada por perícia
contábil independente, se for o caso.

V – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Em face de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS requer:

a) Sejam confirmados em caso de deferimento, ou em caso de indeferimento, julgados procedentes todos


os pedidos requeridos em sede de antecipação de tutela.

Requer, finalmente:

1 – a citação do Réu, a fim de que apresente resposta, sob pena de revelia e confissão;

2 – a publicação de edital no órgão oficial, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação
social por parte deste Órgão de Defesa do Consumidor, consoante o que alude o artigo 94 do CDC 48;

3 – desde já, que seja reconhecida e declarada a inversão do ônus da prova, com base no artigo 6º, inciso
VIII, do CDC;

4 – a dispensa do autor quanto ao pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, à vista do disposto
nos artigos 18, da Lei nº 7.347/8549;

5 - a condenação da requerida aos ônus da sucumbência.

Requer, ainda, a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes
do CPC50, inclusive prova documental e testemunhal, conforme rol a ser apresentado oportunamente.

48
CDC
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
49
Lei nº. 7.347/85 - Lei da Ação Civil Pública (LACP)
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas
processuais.
50
CPC

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Dá-se à causa o valor de .

Termos em que,

Pede deferimento.

Uberlândia (MG), data.

PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO

Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz.
Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.

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