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Rodadas para MPEs - Membro do


Ministério Público - Regular

Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque

01 de Abril de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 14

Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 5

1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 7

1.1 - Direito Constitucional ............................................................................................................................. 7

1.1.1 - Garantias Constitucionais: Definição ..................................................................................................................... 7

1.1.2 - Garantias Constitucionais: Características ............................................................................................................ 7

1.1.3 - Garantias Constitucionais: Tipologia ..................................................................................................................... 7

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 8

1.2.1 - Desapropriação: Aspectos relevantes ................................................................................................................... 8

1.2.2 - Extinção dos Atos Administrativos ...................................................................................................................... 12

1.2.3 - Sindicabilidade e Lei de introdução às normas do direito brasileiro................................................................... 16

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 19

1.3.1 - Meios originários de aquisição da propriedade imóvel ...................................................................................... 19

1.3.2 - Formas ordinárias de testamento ....................................................................................................................... 23

1.3.3 - Do desacordo moral razoável .............................................................................................................................. 26

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 27

1.4.1 - Do cumprimento de sentença que obriga a prestar alimentos........................................................................... 27

1.4.2 - Da justiça multiportas.......................................................................................................................................... 30

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 32

1.5.1 - Autorização para o cultivo de maconha para fins medicinais ............................................................................. 32

1.5.2 - Autolavagem de dinheiro .................................................................................................................................... 33

1.5.3 - crime sexual e vítima imobilizada........................................................................................................................ 33

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 34

1.6.1 - Nuances da Prova Testemunhal .......................................................................................................................... 34

1.6.2 - Recurso de Apelação no Âmbito do Tribunal do Júri e a Possibilidade de Revisão Criminal .............................. 39

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1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 44

1.7.1 - Breves comentários sobre os crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários públicos, com base
na Lei n.º 8.137/1990: .................................................................................................................................................... 44

1.7.2 - Justa causa duplicada e o entendimento do STJ sobre a desnecessidade de o autor do crime de lavagem de
dinheiro ter sido autor ou partícipe da infração penal antecedente: ............................................................................ 46

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 48

1.8.1 - Ação de Impugnação De Mandato Eletivo: Definição ......................................................................................... 49

1.8.2 - Ação de Impugnação De Mandato Eletivo: Características ................................................................................. 49

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 49

1.9.1 - Lei Menino Bernardo ........................................................................................................................................... 49

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 50

1.10.1 - Ação anulatória comum .................................................................................................................................... 51

1.10.2 - Ação anulatória do artigo 169 do Código Tributário Nacional .......................................................................... 52

1.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 53

1.11.1 - Ministério Público e a judicialização da saúde .................................................................................................. 53

1.11.2 - Urbanismo como direito difuso ......................................................................................................................... 54

1.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 54

1.12.1 - Empresa Individual de Responsabilidade Ilimitada ........................................................................................... 54

1.12.1 - A EIRELI e a Desconsideração da Personalidade Jurídica .................................................................................. 56

1.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 56

1.13.1 - Vedações Constitucionais: Definição................................................................................................................. 56

1.13.2 - Vedações Constitucionais: Enumeração............................................................................................................ 57

1.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 57

1.14.1 - Planos de saúde privados e as relações de consumo ........................................................................................ 57

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 58

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 58

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2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 62

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 68

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 72

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 75

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 81

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 83

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 85

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 87

2.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 89

2.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 91

2.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 93

2.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 93

2.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 95

3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 96

3.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 96

3.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 98

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 100

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 102

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 103

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 107

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 108

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 110

3.9 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 110

3.10 - Direitos Difusos e Coletivos .............................................................................................................. 112

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3.11 - Legislação Institucional do MP ........................................................................................................ 113

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RODADAS – MPES REGULAR


CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Às quintas-feiras a cada quinzena, publicaremos um material como este que conterá:

 30 temas específicos e aprofundados, seguindo as disciplinas e a importância de cada uma delas


para a prova;

 49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e

 15 questões discursivas.

Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

É isso! Vamos ao trabalho?

Se houver dúvida de conteúdo, poste-a no fórum.

Caso haja dúvida a respeito do curso, funcionamento, estarei à disposição em:

ecj@estrategiaconcursos.com.br

Boa leitura!

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Prof. Ricardo Torques

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1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Constitucional, vamos discutir um assunto
relevante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos
estaduais: as garantias constitucionais.

1.1.1 - Garantias Constitucionais: Definição

As garantias constitucionais em sentido estrito são definidas como formalidades que asseguram o exercício
dos direitos fundamentais, pelo mecanismo da coerção, das condutas contra eles direcionadas, a
permanecerem nos limites da ordem jurídica, com a finalidade de proteger os seus titulares contra violações
de qualquer natureza.

1.1.2 - Garantias Constitucionais: Características

As garantias constitucionais são dotadas de cinco características.

Em primeiro lugar, quanto à natureza da regra de positivação, as regras de garantias constitucionais são
reputadas como disposições assecuratórias, eis que estabelecem limitações ao poder em defesa de direitos.

Em segundo lugar, quanto à limitação espacial, as garantias constitucionais somente existem dentro do
Estado do qual provém.

Em terceiro lugar, quanto à atribuição de prerrogativas, as normas de garantias constitucionais não atribuem
nenhuma faculdade jurídica, limitando-se a um sentido organizatório objetivo.

Em quarto lugar, quanto à função, as garantias constitucionais desenvolvem uma função instrumental,
conquanto sejam instrumentos para o asseguramento dos direitos fundamentais.

Por fim, quanto ao conteúdo, as regras de garantias constitucionais têm sempre conteúdo positivo, visto que
determinam a atuação do Estado ou dos próprios indivíduos

1.1.3 - Garantias Constitucionais: Tipologia

Os direitos individuais, direitos coletivos, direitos sociais, direito à nacionalidade e direitos políticos são
amparados por cinco “instrumentos de proteção dos direitos fundamentais” (BARBOSA, Ruy. Commentarios
à Constituição Federal Brasileira. v. V. São Paulo: Saraiva & Cia., 1934, p. 176-185).

As garantias constitucionais dos direitos individuais são compendiadas pela legalidade, inafastabilidade do
controle judicial, devido processo legal, ampla defesa, contraditório, razoável duração do processo, petição

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e certidão, à luz dos arts. 5º, incs. II, XXXIII, XXXIV, XXXV, LIV, LV e LXXVIII, 37, caput, 84, incs. IV e VI e 217, §
1º.

As garantias constitucionais dos direitos coletivos são dedicadas à associação, cuja instituição não depende
de autorização governamental, desautorizada a intervenção estatal, de acordo com o art. 5º, incs. XVII a XXI.

As garantias constitucionais dos direitos sociais são evidenciadas pelo serviço público, resumido como
atividade material ou substancial executada direta ou indiretamente pelo Estado, por interposição de
entidades políticas, administrativas ou delegatárias, sob regime jurídico próprio, para o atendimento de
necessidade de interesse coletivo ou geral, a teor dos princípios da continuidade, cortesia, eficiência,
generalidade, modicidade e universalização.

As garantias constitucionais do direito à nacionalidade são delimitadas à atribuição estatal, já que a produção
de normas, constitucionais e legais, sobre aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade é reservada aos
Estados, inconstrangibilidade, posto que nenhuma pessoa, mesmo que apátrida, pode ser constrangida a
adquirir uma nacionalidade, e optabilidade, visto que todas as pessoas devem ser livres para mudar ou
conservar suas nacionalidades, em face do art. 12.

As garantias constitucionais dos direitos políticos são compostas pela anualidade, gratuidade dos atos
jurídicos necessários ao exercício da cidadania e impugnações eleitorais, à vista dos arts. 5º, inc. LXXVII, 14,
§§ 9º a 11, e 16, todos da Constituição Federal.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Fala, pessoal. Tudo bem? Nessa nossa rodada, vamos fechar o tema do Processo Administrativo Federal.

Também vamos passar em diversas jurisprudências do STF e do STJ acerca da temática Agentes Públicos e
Concurso Público.

Por fim, estudaremos os Direitos trabalhistas extensíveis aos servidores públicos, conforme dispõe a
Constituição da República.

Vamos lá?

1.2.1 - Desapropriação: Aspectos relevantes

DESAPROPRIAÇÃO DE BENS PÚBLICOS

Importante dizer que os bens públicos podem ser desapropriados, de acordo com o art. 2º, § 2º do DL
3.365/41. Para tanto, é necessário observar 2 requisitos:

1- Autorização Legislativa

2- “Hierarquia Federativa”

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Os bens dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os
dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa.

ATENÇÃO!! Pode um município ou um Estado desapropriar um bem uma Empresa Pública ou Sociedade de
Economia Mista Federal?

RESPOSTA: Como regra é vedada esta desapropriação. Contudo, se houver prévia autorização por decreto
do Presidente da República é possível que a desapropriação ocorra. Isto está de acordo com o art. 2º, § 3º
do DL 3.365/41.

OBS: SÚMULA Nº 157 - É NECESSÁRIA PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARA


DESAPROPRIAÇÃO, PELOS ESTADOS, DE EMPRESA DE ENERGIA ELÉTRICA.

BENS INSUSCETÍVEIS DE DESAPROPRIAÇÃO

Coisas Fora do Comércio

Ex.: Direitos personalíssimos.

Moeda Corrente

Caso fosse possível desapropriar a moeda corrente, isso impediria o pagamento da indenização. Ademais,
observe que é possível a desapropriação de uma nota ou moeda antigas.

Cadáver

Como regra, não é possível a desapropriação de cadáveres. Contudo, em casos excepcionais é possível essa
desapropriação, quando o cadáver tiver caráter econômico, notadamente, para fins históricos e de pesquisa.
Pode-se dar como exemplo as Múmias.

Bens da União

De acordo com o art. 2º, § 2º do DL 3.365/41, os bens da União não podem ser desapropriados.

São Insuscetíveis de Desapropriação para fins de Reforma Agrária

I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;

II - a propriedade produtiva.

DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA – ART. 4º DO DL 3.365/41

A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se destina,
e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. As referidas
áreas devem ser bem especificadas quando da declaração de utilidade pública, indicando-se quais as que
vão propiciar o desenvolvimento da obra e aquelas que vão sofrer a valorização extraordinária. É em relação

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a estas que a lei autoriza a revenda a terceiros, sendo permitido ao expropriante que a venda ocorra pelo
valor atualizado, ou seja, pelo valor que passou a ter o bem após a realização da obra.

DIREITO DE EXTENSÃO

É o direito que o proprietário possui na desapropriação parcial que o desapropriante inclua na


desapropriação a área remanescente que se tornou insuscetível de qualquer exploração econômica. De
acordo com o Carvalho Filho , o direito de extensão “é o direito de expropriado de exigir que a
desapropriação e a indenização alcancem a totalidade do bem, quando o remanescente resultar esvaziado
de seu conteúdo econômico”.

O DL 3.365/41 não traz qualquer dispositivo sobre o tema. Contudo, a melhor doutrina entende que há o
direito de extensão baseado no Decreto nº 4956/1903.

De acordo com a jurisprudência do STJ, quando a área remanescente perde qualquer valor econômico, o que
há é uma verdadeira desapropriação indireta. Portanto, haveria o direito de extensão e a indenização deve
abarcar toda a área da propriedade.

DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO

A desapropriação é um procedimento administrativo, ou seja, é um conjunto de atos administrativos


destinados a um fim específico. Dessa forma, é possível que o desapropriante possa desistir da
desapropriação, caso os motivos que provocaram a iniciativa do processo expropriatório desapareçam.

A desistência da desapropriação, contudo, pode ocorrer até o bem se incorporar ao patrimônio do


expropriante. Isto ocorre com o pagamento integral do valor do preço. Dessa forma, até antes do pagamento
integral, o expropriante pode desistir de proceder a desapropriação.

Atente-se que o proprietário não pode se opor à desistência. Contudo, esta gera a ele uma indenização por
eventuais prejuízos sofridos.

Ainda, deve-se observar que será impossível a desistência da desapropriação, caso a ocupação do bem a ser
desapropriado provocou alterações substanciais, sendo inviável a devolução nas condições anteriores. Pode-
se dar como exemplo a invasão do imóvel por membros do MST.

RETROCESSÃO

A retrocessão é um direito que o antigo proprietário possui de, no caso de tredestinação ilícita, exigir do
desapropriante a retomada do bem ou o pagamento de uma indenização.

A tredestinação é a destinação desconforme com o plano inicialmente previsto. Dessa forma, a tredestinação
pode ser lícita ou ilícita. A primeira é aquela que ocorre quando há uma destinação diversa da
originariamente prevista, porém, é mantida a finalidade/interesse público. Pode-se dar como exemplo a
desapropriação em que se destinavam à construção de um hospital público, e o Estado decide construir uma
escola pública. Contudo, observe que haverá situação em que a tredestinação, ainda que lícita, é vedada. É
o caso do art. 5º, § 3º do DL 3.365/41, que afirma: “Ao imóvel desapropriado para implantação de

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parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, não se dará outra utilização nem haverá
retrocessão”

Por sua vez, a segunda forma de tredestinação é aquela em que há um desvio de finalidade, isto é, não há
mais a perseguição ao interesse/finalidade pública. Há, na verdade, um interesse privado ou de terceiros
sendo alcançado. Dessa forma, a desapropriação torna-se ilegítima. Pode-se dar como exemplo a
desapropriação em que se destinavam à construção de um hospital público e, na verdade, houve a
construção da casa do prefeito.

É em relação à tredestinação ilícita que a retrocessão se relaciona, de acordo com o STJ.

Ainda, veja que ainda é possível a chamada adestinação, isto é, a situação em que a Administração não da
nenhuma destinação ao bem. A doutrina aplica, por analogia, o art.10 do DL 3.365/41, de forma que após 5
anos a declaração de utilidade pública caso a Administração não dê nenhum destinação pública para o bem,
fica configurada a tredestinação ilícita.

Natureza Jurídica

Sobre a natureza jurídica da retrocessão, há que ser estudada 3 correntes doutrinárias

1ª Corrente – Direito Pessoal – Essa corrente é defendida pelo professor José Santos Carvalho Filho e pelo
art. 35 do DL 3.365/41. De acordo com essa corrente, não há nenhum dispositivo no ordenamento jurídico
assegurando o direito de retomada da propriedade pelo proprietário primitivo. De acordo com o art. 35 do
referido Decreto, qualquer ação julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

2ª Corrente – Direito Real – Essa corrente é a defendida pelo professor Pontes de Miranda. De acordo com
essa vertente, a retrocessão seria um instituto que defende o direito de retomada do bem, em razão da
inconstitucionalidade da desapropriação, que não destinou um fim público ao bem. Em outras palavras, o
que haveria, para essa corrente, é que o expropriante devolveria o bem, e o expropriado devolve o valor da
indenização devidamente atualizado. A situação voltaria ao status quo ante.

3ª Corrente – A terceira vertente é a defendida pelos professores Celso Antônio Bandeira de Mello e Maria
Sylvia Zanella Di Pietro. De acordo com esta corrente, a retrocessão, em regra, é um instituto de direito real,
mas que, excepcionalmente, poderia ser exercido como um direito pessoal. Se não fosse possível ou for de
interesse do expropriado, pode este optar em pleitear perdas e danos.

Quanto ao posicionamento jurisprudencial, os Tribunais brasileiros já proferiram decisões de que a


retrocessão seria um instituto de direito real e pessoal. É certo que não há um posicionamento pacífico.

Prazo Prescricional

O prazo prescricional da retrocessão vai variar, a depender da natureza jurídica do instituto. Para aqueles
que defendem ser a retrocessão um instituto de direito pessoal, o prazo prescricional será de 5 anos, nos
termos do DL 20.910/32. Por sua vez, para aqueles que defendem ser a retrocessão um instituto de direito
real, o prazo prescricional será de 10 anos, de acordo com o art. 205 do CC/02.

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O termo a quo (inicial) da ação de retrocessão irá iniciar quando o prazo para o expropriante dar a destinação
ao bem se esgotar.

1.2.2 - Extinção dos Atos Administrativos

Um ato Administrativo pode-se extinguir pelas seguintes formas:

I – Cumprimento de seus efeitos; (extinção natural)

II – Desaparecimento do sujeito (extinção subjetiva) ou do seu objeto (extinção objetiva);

III – Renúncia;

IV – Retirada.

1. Cumprimento de seus Efeitos

Em relação à primeira forma de extinção dos atos administrativos, tem-se que um ato se extinguirá em
decorrência de ter cumprido o seus efeitos. Em outras palavras, quer dizer que o ato administrativo cumpriu
o seu papel, alcançou seus objetivos. Dessa forma, não há razão de ser do ato continuar a existir.

Cumprido seus efeitos, o ato administrativo se extingue.

2. A Desaparecimento do Sujeito ou do seu Objeto

Em relação à segunda forma de extinção dos atos administrativo, tem-se que um ato se extinguirá em
decorrência de ter perdido o seu sujeito, isto é, o destinatário do ato administrativo, ou ter perdido o seu
objeto, isto é, o seu conteúdo.

Havendo algumas dessas situações, não há motivos para que o ato administrativo permaneça, vendo ser
extinto.

3. Renúncia

A Renúncia é a forma de extinção do ato administrativo pela qual se extinguem os efeitos do ato porque o
próprio beneficiário abriu mão de uma vantagem de que desfrutava.

4. Retirada

4.1. Revogação – Art. 53 da Lei 9784/99

• A revogação é a retirada do ato LEGAL, por motivos de conveniência ou oportunidade;


• Possui efeitos ex nunc;
• Administração Pública (autotutela) e o Poder Legislativo são os legitimados para revogar um ato
administrativo;

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OBS: O Poder Judiciário poderá revogar atos administrativos, desde que sejam atos expedidos por ele e na
sua função administrativa. Portanto, um ato judicial não pode ser revogado.

• Somente o ato DISCRICIONÁRIO pode ser revogado, afinal, envolve análise de mérito administrativo
(conveniência e oportunidade);
• Não podem ser revogados:
➢ Atos Vinculados;
➢ Atos Ilegais;
➢ Atos que já cumpriram seus efeitos;
➢ Atos que trouxeram direito adquirido;
➢ Atos que integram procedimento;
➢ Atos meramente administrativos, como o parecer, o atestado e a certidão

Perceba que o ato revogador, assim como o ato revogado serão discricionários, uma vez que exige uma
análise de oportunidade e conveniência.

A revogação, em regra, não enseja o direito a uma indenização, em razão dos atos serem a praticados a título
precário. Contudo, quando a revogação ocasionar prejuízos comprovados ao destinatário poderá requerer o
pagamento de uma indenização.

Atenção ao Enunciado 20 do CJF. Por ele, o exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do
ato administrativo que produza efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à
prévia intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

4.2. Anulação – art. 53 da Lei 9784/99

• É a retirada do ato ILEGAL, seja por ter violado lei, seja por ter violado princípio;
• Possui efeitos ex tunc;

O ato da anulação pode possuir efeitos ex nunc1 ou até mesmo pode ocorrer a modulação dos seus efeitos.

• Administração Pública (autotutela), o Poder Legislativo e o Poder Judiciário são os legitimados para
anular um ato administrativo;
• Tanto os atos DISCRICIONÁRIOS, quanto os atos VINCULADOS podem ser anulados.

OBS: Súmula 473 STF - A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO
EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM DIREITOS; OU

1
Na hipótese de um servidor público receber vantagens pecuniárias em razão de um ato ilegal, estando ele de boa-fé, a anulação
somente produzirá efeitos ex nunc. O que se quer dizer é que o servidor vai deixar de receber a vantagem, mas não terá que
devolver o período recebido.

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REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS DIREITOS


ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

Art. 54 da Lei 9784/99 - Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
salvo comprovada má-fé.

Atenção ao Enunciado 20 do CJF. Por ele, o exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do
ato administrativo que produza efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à
prévia intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

Observe que, de acordo com a súmula 633 do STJ, a Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz respeito
ao prazo decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal,
pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e específica
que regule a matéria.

Perceba que há, no texto da lei, a exteriorização do princípio da segurança jurídica. Estando o destinatário
do ato favorável de boa-fé e decaído os 5 anos, a Administração Pública não poderá anular esse ato ilegal.
Em outras palavras, prevalecerá o princípio da segurança jurídica, de modo que os efeitos produzidos
permanecerão consolidados.

Contudo, observe que não cumprido um dos requisitos exigidos (boa-fé e o decurso do tempo), a
Administração Pública poderá anular o ato, prevalecendo o princípio da autotutela.

No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro


pagamento. Dessa forma, se todo mês o servidor recebe uma parcela salarial ilegal, o prazo decadencial
inicia-se a partir da percepção da 1ª parcela.

Se o ato aconteceu antes da Lei nº 9784/99, o STJ entende que o fato será alcançado por esta lei. Contudo,
o prazo de início (termo a quo) será em fevereiro de 1999.

Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe
impugnação à validade do ato. Em outras palavras, quer-se dizer que se dentro do prazo decadencial a
Administração Pública instaurou o processo de anulação do ato administrativo, mas a anulação só ocorreu
fora do prazo, esta será considerada válida.

Atente-se para o fato de que é necessária a realização de um procedimento administrativo prévio. Contudo,
excepcionalmente, não se exige a realização do processo, quando a declaração de nulidade decorre de
decisão judicial.2

2
Rcl 5.819/TO, STF. Rel.ª Minª Cármem Lúcia.

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De acordo com o STJ, no âmbito de recurso ordinário, a decadência administrativa prevista no art. 54 da Lei
n. 9.784/1999 pode ser reconhecida a qualquer tempo e ex officio, por se tratar de matéria de ordem
pública, sendo indispensável seu prequestionamento nas instâncias especiais. 3
Ademais, diante da ausência de previsão legal, o prazo decadencial de cinco anos do art. 54, caput, da Lei
n. 9.784/1999 é insuscetível de suspensão ou de interrupção, devendo ser observada a regra do art. 207 do
Código Civil.4
Atente-se que o prazo decadencial é aplicado tanto a atos nulos, quanto aos anuláveis5.
Por fim, as situações flagrantemente inconstitucionais não se submetem ao prazo decadencial de 5 anos
previsto no art. 54 da Lei n. 9.784/1999, não havendo que se falar em convalidação pelo mero decurso do
tempo.6

OBS: Aprofundamento:

Anulação de aposentadoria: De acordo com o STF, o ato de aposentadoria é um ato complexo.

Ainda, nos termos da SÚMULA VINCULANTE Nº 3, NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO ASSEGURAM-SE O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR
ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A
APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.

ATENÇÃO!!! O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 636553/RS, rel. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 19.2.2020. (RE-636553), estabeleceu, em tese de Repercussão Geral, que “Em atenção aos
princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de
cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão,
a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas”.

Nesses termos, por constituir exercício da competência constitucional (CF, art. 71, III), tal ato ocorre sem a
participação dos interessados e, portanto, sem a observância do contraditório e da ampla defesa.

Entretanto, por motivos de segurança jurídica e necessidade da estabilização das relações, é necessário fixar-
se um prazo para que a Corte de Contas exerça seu dever constitucional.

Diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a hipótese, aplica-se ao caso o disposto no
art. 4º do Decreto-lei 4.657/1942, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB).

3
STJ. AgInt no AREsp 629004/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/06/2019, DJe
13/06/2019
4
STJ. AgInt no AgRg no REsp 1580246/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe
18/04/2017
5
STJ. AgInt no REsp 1749059/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/03/2019, DJe 28/05/2019
6
STJ. REsp 1799759/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2019,
DJe 29/05/2019.

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Assim, tendo em vista o princípio da isonomia, seria correta a aplicação, por analogia, do Decreto
20.910/1932.

Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer direito contra a Fazenda Pública,
também deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo prazo para
rever eventual ato administrativo favorável ao administrado.

Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que o TCU proceda ao registro dos
atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente
registrados.

Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da ampla defesa após o transcurso
do prazo de cinco anos da chegada do processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o
referido prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não havendo mais a
possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

4.3. Cassação

A cassação é uma espécie de retirada pela qual o destinatário do ato administrativo deixou de cumprir algum
requisito estabelecido em lei necessário para que haja a prática do ato administrativo; Ex.: Cassação de
Licença para funcionamento de hotel por haver convertido em casa de tolerância.

4.4. Caducidade

A caducidade é a retirada do ato administrativo em razão de norma jurídica (lei) que tornou inadmissível a
situação antes permitida pelo direito e pelo ato precedente. Ex.: Caducidade de autorização de uso de música
em bares que, em razão de nova lei de ruídos, tornou-se incompatível.

4.5. Contraposição ou Derrubada

A contraposição ou derrubada é a retirada do ato administrativo em razão da edição de um outro ato


administrativo com efeitos contrários ao editado anteriormente. Ex.: Nomeação e Exoneração de servidor.

1.2.3 - Sindicabilidade e Lei de introdução às normas do direito brasileiro

A Lei 13.655/18 alterou o Decreto-Lei 4.657/42, também conhecido como Lei de introdução às normas do
direito brasileiro. O grande objetivo da lei alteradora foi assegurar maior segurança jurídica, previsibilidade
e eficiência nas relações travadas pela Administração Pública.

Abaixo seguem os artigos acrescidos pela Lei 13.655/18 que são importantes o conhecimento.

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

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Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou


da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das
possíveis alternativas.

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo
expresso suas consequências jurídicas e administrativas.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses
gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do
caso, sejam anormais ou excessivos.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e
as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo


ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,


os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou
atenuantes e os antecedentes do agente.

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções
de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou


orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que
o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado
levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança
posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas


em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e
ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e

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presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados,


observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses


gerais;

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito


reconhecidos por orientação geral;

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as
sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo
ou da conduta dos envolvidos.

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual


entre os envolvidos.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.

ATENÇÃO!!! Para fins de responsabilização perante o TCU, pode ser tipificada como erro grosseiro (art. 28
do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) a decisão do gestor que
desconsidera, sem a devida motivação, parecer da consultoria jurídica do órgão ou da entidade que dirige.
Tal conduta revela desempenho aquém do esperado do administrador médio, o que configura culpa grave,
passível de multa.7

ATENÇÃO 2!!! Para fins do exercício do poder sancionatório do TCU, pode ser tipificado como erro grosseiro
(art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) o direcionamento de
licitação para marca específica sem a devida justificativa técnica.8

Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para

7
TCU - Acórdão 1264/2019 Plenário
8
TCU - Acórdão 1264/2019 Plenári

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manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada


na decisão.

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da


consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.

art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação
das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas.

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Meios originários de aquisição da propriedade imóvel

Em linhas gerais, a propriedade é o direito real mais completo do ordenamento. Isso porque confere ao seu
titular os poderes de usar, gozar e dispor da coisa, bem como reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha9. É definida como o direito que alguém possui em relação a um bem
determinado, que deve sempre atender a uma função social, em prol da coletividade.

Com efeito, a aquisição da propriedade imóvel será originária ou derivada.

A primeira hipótese, objeto desta rodada, decorre de um fato jurídico que permite a aquisição da
propriedade sem qualquer ônus ou gravame10; analisam-se os requisitos legais para a obtenção de uma
propriedade sem a necessidade da autonomia privada – trata-se de fato jurídico e não há intermediação
pessoal. Pela aquisição derivada, a autonomia das partes faz com que a propriedade seja transferida de uma
pessoa para outra, exigindo, a legislação, certas formalidades e solenidades11.

Em síntese, são formas originárias de aquisição da propriedade: a usucapião e as acessões (naturais e


artificiais). Passemos, então, ao estudo delas.

9
Disponível em: https://academicooziel.jusbrasil.com.br/artigos/140562640/fundamentos-juridicos-da-
propriedade#:~:text=O%20art.,injustamente%20a%20possua%20ou%20detenha%E2%80%9D.&text=A%20propriedade%20%C3
%A9%20o%20direito%20real%20mais%20completo. Acesso em 24 de março de 2021.
10
GAZZI, Fábio Pinheiro. Aquisição derivada e aquisição originária de propriedade. Disponível em:
https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/aquisicao-derivada-e-aquisicao-originaria-de-propriedade-entenda-a-
diferenca#:~:text=A%20aquisi%C3%A7%C3%A3o%20origin%C3%A1ria%20decorre%20de,sem%20qualquer%20%C3%B4nus%20o
u%20gravame.&text=Note%2Dse%20que%2C%20na%20aquisi%C3%A7%C3%A3o,conferem%20a%20transmiss%C3%A3o%20da
%20propriedade. Acesso em 24 de março de 2021.
11
Idem.

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A primeira hipótese de aquisição originária da propriedade prevista no Código Civil é a usucapião (artigo
1.243 e seguintes). Surge do exercício da posse mansa, pacífica e contínua, durante um determinado prazo
fixado em lei, e fundamenta-se na necessidade de segurança jurídica e de atendimento da função social. É,
pois, forma de prescrição aquisitiva, razão por que ‘estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor
acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição’ 12.

Para sua caracterização, imperioso o atendimento de três pressupostos, portanto: posse, tempo e animus
domini.

A depender dos requisitos e prazos específicos, a usucapião poderá apresentar as seguintes classificações:
usucapião extraordinária (prevista no artigo 1.238 do CC); ordinária (art. 1.242 do CC); constitucional rural
(arts. 190 e 191 da CF, e art. 1.239 do CC); constitucional urbana (art. 183 da CF, art. 9º da Lei 10.257/01 e
art. 1.240 do CC); especial urbana por abandono do lar ou usucapião conjugal (art. 1.240-A); especial urbana
coletiva (art. 10 da Lei nº 10.257/01); e outras modalidades ainda previstas em leis especiais.

Em resumo:

a) adquirirá a propriedade pela usucapião extraordinária, aquele que ininterruptamente, sem oposição,
possuir como seu imóvel por quinze anos, independentemente de justo título e boa-fé – o prazo cairá para
dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual ou tiver realizado obras ou
serviços de caráter produtivo;

b) pela usucapião ordinária, aquele que ininterruptamente, sem oposição, possuir como seu imóvel por dez
anos, com justo título e boa-fé. O prazo será de cinco anos se o possuidor adquiriu o imóvel onerosamente,
com base no registro constante no cartório de imóveis, cancelado posteriormente, desde que nele tiverem
estabelecido moradia ou realizado investimentos de interesse social e econômico;

c) pela usucapião constitucional rural (ou pro labore), aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possuir como sua, ininterruptamente e sem oposição, por cinco anos, área de terra em zona rural
não superior a 50 hectares, e torná-la produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia;

d) pela usucapião constitucional urbana, aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 metros
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, desde que não seja proprietário de outro imóvel rural ou urbano;

e) pela usucapião conjugal, aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia
ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural; e

12
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 1582.

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f) pela usucapião especial urbana coletiva, as áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros
quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis
de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.

O próximo meio originário de aquisição da propriedade previsto pelo Código civilista (artigo 1.248) é a
acessão que, em síntese, implica aumento de volume da coisa principal, mediante união física13. Em outras
palavras, passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado ao seu patrimônio imobiliário de
forma natural ou artificial.

Pela literalidade do dispositivo, poderá ocorrer por formação de ilhas; por aluvião; por avulsão; por
abandono de álveo; e por plantações ou construções – única espécie de acessão artificial.

A acessão por formação de ilhas vem prevista no artigo 1.249:

Art. 1249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos
proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:

I – as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos


ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir
o álveo em duas partes iguais;

II – as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos
terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;

III – as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer
aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

Disciplinada no artigo 1.250 do CC/02, a aluvião consiste no aumento lento e paulatino da margem do
terreno, mediante acúmulo natural de detritos e sedimentos.

Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros


naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos
donos dos terrenos marginais, sem indenização.

Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários


diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.

13
Idem, p. 1605.

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A aluvião poderá, ainda, ser imprópria, que se dá mediante a retração das águas, a exemplo da lagoa que
perde volume de água, resultando em aumento da margem da fazenda que a tangencia14.

A avulsão, ao contrário da aluvião, processa-se repentinamente. É observada quando, por força natural
violenta, uma porção de terra se destaca de um imóvel e se junta a outro. O dono deste, portanto, adquirirá
a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém
houver reclamado15 (artigo 1.251).

Para exemplificar a avulsão, Pablo Stolze e Pamplona Filho citam o caso de uma enchente que “destaca”
bruscamente parte de um imóvel rural, agregando-a, com força das águas, em outra propriedade.

Pelo artigo 1.252 da lei privada, o álveo abandonado de corrente – isto é, o leito seco do rio – pertence aos
proprietários ribeirinhos de duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as
águas abrirem novo curso, entendendo-se que os imóveis marginais se estendem até o meio do álveo.

Como já visto anteriormente, a acessão pode, ainda, ser artificial; são os casos de construções e plantações.
Consoante o artigo 1.253, toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo
proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário – é, pois, presunção relativa.

Outrossim, prevê o artigo 1.254: aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de
responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. No caso de a plantação ou construção for em terreno alheio,
perde-se, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; no entanto, se aquele que
semeou, plantou ou edificou agiu de boa-fé, terá direito a indenização.

As hipóteses de construção e plantação acima descritas referem-se à clássica regra da vis atractiva do solo,
ou seja, o dono do solo se torna dono da acessão16. É possível, ainda, a chamada acessão inversa ou invertida,
que se trata da possibilidade de o dono da construção ou plantação tornar-se dono do solo.

Nesse sentido, estabelece o parágrafo único do artigo 1.255:

Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de


boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Todavia, se ambas as partes estiverem de má-fé, o proprietário do solo adquirirá as sementes, plantas e
construções, devendo ressarcir o valor das acessões. A má-fé do proprietário será presumida, de acordo com
o legislador, quando o trabalho de construção, ou lavoura, ocorreu em sua presença e sem sua impugnação.

14
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 1608.
15
Idem.
16 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 1608.

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Quanto à possibilidade de a construção invadir parcialmente o solo alheio, o artigo 1.258 esclarece que:

Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não
superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo
invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que
represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.

Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de
má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte
deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir
a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.

Por fim, se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire
a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão
acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé,
deve demolir o que nele construiu, pagando em dobro pelas perdas e danos apurados.

1.3.2 - Formas ordinárias de testamento

O testamento é um negócio jurídico unilateral, por meio do qual alguém dispõe, no todo ou em parte, dos
seus bens, ou determina diligências de cunho não patrimonial, para depois de sua morte. É personalíssimo –
razão pela qual não se admite que seja elaborado por mais de um sujeito –, gratuito, revogável e solene.

O legislador estabeleceu duas formas de classificação ao testamento, que se fundamentam nas


circunstâncias de sua elaboração. Com efeito, a forma será ordinária quando o testamento é elaborado
dentro da normalidade, de acordo com a preferência do testador; e será extraordinária ou especial, quando
elaborado em virtude de circunstâncias peculiares ou de dificuldades fáticas da vida do testador 17.

Pela forma ordinária, tem-se os testamentos público, cerrado e particular. Já pela forma extraordinária ou
especial, o testamento será dividido em marítimo, aeronáutico e militar.

Nesta rodada, aprofundaremos sobre a forma ordinária dos testamentos. Assim, vejamos.

O testamento público é aquele elaborado por tabelião (ou seu substituto legal), devidamente registrado em
cartório – observando-se, assim, o princípio da publicidade.

É, pois, negócio jurídico solene, sendo seus requisitos essenciais: I – ser escrito por tabelião ou por seu
substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de
minuta, notas ou apontamentos; II – lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e
a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial; III – ser o
instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.

17
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2320.

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Pode, ainda, conforme o parágrafo único do artigo 1.864, ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem
como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livros de notas, desde que
rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.

Por se tratar de negócio jurídico, submete-se aos planos de existência, validade e eficácia. Assim, diante de
seu caráter solene, o descumprimento dos requisitos conferidos ao testamento público importa nulidade da
cláusula correspondente ou, inclusive, do ato como um todo.

Acaso o testador não saiba, ou não possa assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o declarará e, nessa
situação, será assinado pelo testador e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias.

Se o testador for surdo ou cego, preveem os artigos 1866 e 1867:

Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o
souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada
pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.

Previsto no artigo 1.868 do Código Civil, o testamento cerrado é aquele escrito pelo próprio autor (ou por
alguém a seu pedido), e por ele assinado, com conteúdo inteiramente sigiloso. É também chamado de
testamento secreto, testamento místico ou nuncupação implícita.

Aqui, o registro cartorário não abrange o conteúdo desta modalidade testamentária, mas apenas atesta sua
existência:

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele
assinado, será valido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades:

I – que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas;

II – que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado;

III – que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e
o leia, em seguida, ao testador e testemunhas;

IV – que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador.

Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu
subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as páginas.

Repise-se que não há leitura do conteúdo do testamento cerrado, que

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deve ser apresentado sem que o oficial de registro o leia inteiramente, determinando a norma
legal apenas que o tabelião comece “o auto de aprovação imediatamente depois da última
palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na
presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado”1819.

Mencione-se que qualquer um que esteja envolvido na confecção do testamento não poderá ser herdeiro
ou legatário. Se o tabelião houver escrito o testamento a rogo do testador, poderá aprová-lo sem nenhum
prejuízo.

À luz do artigo 1.871, como não há ciência do conteúdo do testamento, pode ser escrito em língua nacional
ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a seu rogo.

Outrossim, não poderá dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou não possa ler, pois
assim não haveria como firmar pessoalmente o instrumento testamentário. Quanto ao surdo-mudo, é
==10be0c==

possível que se escolha essa modalidade testamentária, desde que escreva o documento inteiro e o assine a
próprio punho – ao entregar ao oficial público, na presença de duas testemunhas, escreverá, na face externa
do papel ou do envoltório, que aquele é seu testamento, cuja aprovação lhe pede.

Ao final, estabelece a legislação que, depois de aprovado e cerrado, o testamento será entregue ao testador,
e o tabelião lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue
(artigo 1.874).

Há, ainda, como última hipótese de testamento pela forma ordinária, o testamento particular (ou hológrafo).
É aquele escrito pelo próprio testador, sem a participação de tabelião, e com a dispensa de registro.

Consoante o artigo 1.876 do CC, poderá ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico. Na
primeira situação, serão requisitos essenciais à sua validade: I – ser lido e assinado por quem o escreveu; e
II – a leitura e assinatura devem ser testemunhadas por pelo menos três pessoas, que também devem
subscrever o testamento. Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em
branco; deverá ser assinado pelo testador, depois de tê-lo lido na presença de pelo menos três testemunhas,
que igualmente subscreverão o documento.

Por fim, é possível que sua elaboração seja feita em língua estrangeira, contanto que as testemunhas o
compreendam, conforme literalidade do artigo 1.880.

18
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2351.
19
Se não houver espaço livre na última folha do testamento, para início da aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público,
mencionando a circunstância no auto.

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1.3.3 - Do desacordo moral razoável

Com a evolução e maior complexidade e pluralidade da sociedade, variadas questões e conflitos morais que
antes inexistiam passaram a ser tema de debates jurídicos de alta indagação. E tais

situações jurídicas de direito privado persistentes e emergentes se misturam em um verdadeiro


turbilhão de problemas a exigir uma solução do Poder Judiciário, por meio de interpretação das
normas do Direito Civil – com primazia, por evidente, da norma constitucional.

Está-se diante, portanto, dos chamados hard cases que, para Ronald Dworkin, são aqueles não cobertos por
uma regra clara e específica a determinar a sua solução20. Em outras palavras, para esses casos, não há
solução prevista pela norma, devendo ser utilizada a atividade interpretativa21.

Por vezes, valores constitucionais igualmente relevantes são postos em atrito, razão pela qual passa a se
admitir a coexistência de decisões antagônicas no ordenamento. Constituem os chamados desacordos
morais razoáveis que, conforme ensina Cristiano Chaves, são aquelas matérias polêmicas, complexas, sobre
questões emergentes ou persistentes, para as quais existe a possibilidade de admitir soluções antagônicas,
diametralmente opostas, a partir de uma interpretação racional do próprio sistema jurídico22. Aqui, há
posicionamentos inteiramente divergentes, mas constitucionalmente legítimos, que coexistem na
sociedade.

Grandes exemplos de situações em que esses valores constitucionais entram em conflito são os casos de
eutanásia e suicídio assistido (a existência ou não de um direito à morte digna); de recusa de transfusão de
sangue por questões religiosas, como Testemunhas de Jeová; do casamento e da união homoafetiva; do
debate sobre a descriminalização de entorpecentes leves23; e até mesmo da discussão sobre a legalização
do aborto.

Como se verifica, em sua grande maioria, esses temas permeiam a seara das relações privadas – devendo
ser observado, por isso, também o Direito Civil. Com efeito, para a solução de conflitos jurídicos, inclusive no
campo do Direito Privado, somente é possível invocar os desacordos morais razoáveis quando existem valores
constitucionais igualmente relevantes em conflito, aptos a legitimar teses favoráveis ou desfavoráveis.
Contudo, não se deve nunca invocar a existência de um desacordo moral razoável para negar direitos a
alguém.

20
DWORKIN, Ronald apud FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 14ª ed.
Salvador: JusPodivm, 2016, vol.1. In: https://noticias.cers.com.br/noticia/a-aplicacao-do-direito-civil-e-os-desacordos-morais-
razoaveis/. Acesso em 28 de março de 2021.
21
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2016,
vol.1. In: https://noticias.cers.com.br/noticia/a-aplicacao-do-direito-civil-e-os-desacordos-morais-razoaveis/. Acesso em 28 de
março de 2021.
22
Idem.
23
STF, Tribunal Pleno, RE 845.779/SC, rel. Min. Luís Roberto Barroso

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Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no RE 845.779/SC, rel. Min. Luís Roberto Barroso), tratou sobre
o tratamento social (inclusive, uso de banheiros) dispensado aos transexuais. No caso do aresto,

uma pessoa transexual foi expulsa do banheiro feminino de um shopping center, em Santa
Catarina, de forma vexatória e humilhante. Por conta da situação, a pessoa terminou por dar
cabo às suas necessidades fisiológicas em sua própria roupa, sem acesso ao banheiro, e ainda
tendo de voltar para casa de transporte público. Por tudo isso, requereu indenização por danos
morais, que foi indeferida pelo Tribunal local, ao argumento de que houve “mero dissabor”. Culto
e sensível, o Ministro Luís Roberto Barroso, exercendo a relatoria do julgamento, expôs que a
verdadeira igualdade se expressa em dimensões material, formal e como forma de
reconhecimento próprio24.

Outrossim, como bem delineado por André Ramos Tavares, a denominação em estudo tem sido utilizada
para definir situações para as quais a dogmática não oferece solução unívoca imediata, dependendo de uma
construção posterior, alicerçada em proposições que sejam juridicamente adequadas e admissíveis 25.

Portanto, deve-se conceber o desacordo moral razoável como o conflito entre valores de igual estirpe, para
os quais há divergência ponderável. Toca, diretamente, em aspectos sociais e a solução, de regra, seguirá o
que está vigente em termos de tradicionalismo na sociedade em que o conflito se instaura. Isso significa,
também, que poderá haver a revisitação da temática, de acordo com a evolução dos valores sociais, no
contexto de uma lógica de ampliação à proteção da dignidade da pessoa humana.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - Do cumprimento de sentença que obriga a prestar alimentos

O Código de Processo Civil estabelece regramento específico para a fase de cumprimento de sentenças que
reconhecem a exigibilidade da obrigação de prestar alimentos. Com efeito, dispensa-se a instauração de um
processo autônomo de execução das sentenças que reconhecem essa obrigação 26, alinhando-se à ideia de
sincretismo.

Prevista no artigo 528 e seguintes do CPC, para ser promovido o cumprimento de sentença que obriga a
prestação alimentícia, três são as possibilidades admitidas no ordenamento jurídico: a forma convencional;
a forma especial; e por desconto em folha.

24
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2016,
vol.1. In: https://noticias.cers.com.br/noticia/a-aplicacao-do-direito-civil-e-os-desacordos-morais-razoaveis/. Acesso em 28 de
março de 2021.
25
TAVARES, André Ramos apud FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 14ª
ed. Salvador: JusPodivm, 2016, vol.1. In: https://noticias.cers.com.br/noticia/a-aplicacao-do-direito-civil-e-os-desacordos-morais-
razoaveis/. Acesso em 28 de março de 2021.
26
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2020, p. 454.

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Pela forma convencional, que se processa como cumprimento de sentença condenatória em quantia certa,
observa-se o procedimento do artigo 523 e seguintes do Código de Processo Civil. O credor de alimentos
pode sempre preferir a execução pelo método tradicional, com a penhora e a expropriação de bens27.

Dar-se-á pelo procedimento convencional o cumprimento de sentença dos alimentos de caráter


indenizatório, que decorrem de ato ilícito. Não se defere a opção pelo rito especial. Aqui, não haverá a
possibilidade de prisão do devedor – aliás, como veremos a seguir, é cediço que apenas na forma especial
admitir-se-á a prisão civil do devedor de alimentos, pois se referem às relações familiares e de parentesco.

Ademais, aduzem a súmula 309 do Superior Tribunal de Justiça e o artigo 528, parágrafo 7º, do CPC, que
apenas permitem a execução especial do artigo 528, caput, para os débitos que compreendam as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo 28:

Súmula 309. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende
as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo.

Art. 528, §7º: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende
até as 3 prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo.

Assim, acaso pretenda prestações anteriores a estas, o exequente apenas poderá valer-se do procedimento
convencional – sempre considerando que a prestação de alimentos prescreve em dois anos, segundo o artigo
206, §2º, do Código Civil.

Pois bem.

Regulada pelo artigo 528, caput, do CPC, na execução especial de alimentos, como já adiantado acima, o juiz,
a requerimento do exequente, mandará intimar pessoalmente o devedor para, em três dias, pagar o débito,
provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Nessa hipótese, o credor não poderá exigir o
pagamento de toda a obrigação alimentícia, mas tão-somente os três últimos créditos, vencidos antes do
ajuizamento da execução, e os que se vencerem no seu curso.

A execução especial poderá ser utilizada para alimentos fixados em cognição sumária – provisórios ou
provisionais – ou definitiva – fixados por sentença. Devem, contudo, estar na seara do direito de família.

Marcus Vinicius Rios Gonçalves preleciona que as ações em que se pede a condenação do réu ao pagamento
de prestação alimentícia podem ter procedimento especial ou comum 29. Seguirá o procedimento especial
quando houver prova pré-constituída da obrigação alimentar; igualmente, se houver prova de parentes,

27
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 2021, p. 1342.
28
Idem.
29
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 2021, p. 1343.

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união estável ou casamento. Doutra banda, se não houver prova pré-constituída, o procedimento será
comum, sem alimentos provisórios30.

Iniciado o cumprimento de sentença pela forma especial, o exequente requererá ao juiz que intime o
executado pessoalmente para que, no prazo de três dias úteis, pague o débito; prove que já o fez; ou
justifique a impossibilidade de efetuá-lo.

Nas duas primeiras situações apontadas, o cumprimento de sentença será extinto. Na terceira, o executado
terá oportunidade de fazer prova do alegado – será possível, inclusive, a designação de audiência de
instrução e julgamento. Apenas a impossibilidade absoluta será hábil a justificar o inadimplemento, segundo
a própria literalidade do §2º do artigo 528 do CPC; entretanto,

o devedor não ficará isento do pagamento das prestações, que poderão ser executadas na forma
convencional, com penhora de bens. Ainda que comprovada a impossibilidade, o juiz da execução
não poderá reduzir o valor das prestações futuras, o que só poderá ser determinado em ação
revisional de alimentos.

Ultrapassado o prazo sem que o devedor se manifeste, o juiz ordenará o protesto do pronunciamento
judicial. Nesse sentido, o STJ já decidiu que em execução de alimentos devidos a filho menor de idade é
possível o protesto e a inscrição do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito 31.

Outrossim,

além do protesto e da negativação, e diante da falta de pagamento ou da apresentação de


justificativa não aceita, será decretada a prisão civil do devedor pelo prazo de 1 a 3 meses, que
será cumprida em regime fechado e em separado dos presos comuns 32.

Note-se que prisão do devedor de alimentos não constitui pena, mas meio de coerção33; feito o
pagamento, o devedor é colocado em liberdade imediatamente. Não poderá, ainda, ser decretada de
ofício; depende do requerimento do credor34.

Importa ressaltar que é possível a prisão civil quando a execução dos alimentos se basear em título executivo
extrajudicial, como no caso de este instrumento se prestar à fixação de alimentos pelo genitor em benefício
de seu filho.

30
É o exemplo da ação de alimentos proposta contra aquele que não reconheceu a paternidade do autor. In: idem.
31
REsp 1469102/SP; REsp 1533206/MG. In: DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil
Contemporâneo. 2020, p. 454.
32
Idem.
33
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1346.
34
Marcus Vinícios Rios Gonçalves alerta que há controvérsias sobre a possibilidade de o Ministério Público requerer a prisão do
devedor de alimentos; mas defende o entendimento da impossibilidade, cabendo este requerimento apenas ao exequente. In:
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1345.

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O §5º do artigo 528 enfatiza que o cumprimento da prisão não eximirá o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas, que poderão ser cobradas na forma convencional, com a penhora de bens;
não será possível, porém, a prisão do devedor, por mais de uma vez, pelas mesmas prestações, sem prejuízo
da continuidade da execução para a cobrança dos débitos vincendos ou vencidos após a liberação do
devedor, por meio de nova constrição pessoal.

Por fim, o cumprimento de sentença que segue o procedimento previsto no art. 529 (desconto em folha)
será aplicado quando o funcionário for funcionário público militar, diretor ou gerente de empresa, ou
empregado sujeito à legislação do trabalho. Nestes casos, a comunicação será feita por ofício a empresa ou
empregador, do qual constarão os nomes do credor, do devedor, a importância e o tempo de duração da
prestação.

Refere-se, assim, a medida de excussão amena ao devedor e de alta efetividade ao credor, porque permite
a satisfação do débito alimentar em prestações periódicas e contínuas, sem implicar a prisão ou mesmo a
redução do patrimônio já constituído do inadimplente.

1.4.2 - Da justiça multiportas

O Código de Processo Civil de 2015 buscou adequar e harmonizar o sistema processual brasileiro aos
princípios e garantias da Constituição Federal de 1988 - mormente quanto aos princípios do amplo acesso à
justiça, da razoável duração do processo, da eficiência e do contraditório.

Com efeito, o legislador optou por valorizar as conciliações e as mediações judiciais, bem como a
arbitragem35 – solução ideal para combater aos problemas de lentidão e falta de efetividade da justiça. Como
consequência, o novo ordenamento processual pátrio passou a se alinhar ao conceito de Justiça Multiportas.

Essa terminologia

foi cunhada pelo professor Frank Sander, da Faculdade de Direito de Harvard. Opondo-se ao
sistema clássico, que antevê a atividade jurisdicional estatal como a única capaz de solver
conflitos, o Sistema de Justiça Multiportas remete a uma estruturação que conta com diferentes
mecanismos de tutela de direitos, sendo cada método adequado para determinado tipo de
disputa36.

O modelo multiportas de justiça consiste na ideia de que a atividade jurisdicional estatal não deve ser a única
e nem a principal opção para as partes solucionarem um litígio. Valoriza-se as soluções extrajudiciais,

35
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São Paulo,
2020. p. 50.
36
Disponível em: migalhas.com.br/coluna/cpc-marcado/330271/o-sistema-de-justica-multiportas-no-novo-cpc. Acesso em 28 de
março de 2021.

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sejam elas: autocompositivas, por meio da mediação, conciliação, ou outros métodos de solução
consensual de litígios, a exemplo da negociação direta; ou heterocompositivas, como é o caso da
arbitragem, apresentada pelo CPC/2015 como uma jurisdição extraestatal37.

Em suma, não basta que o caso seja julgado; é preciso que seja conferida uma solução adequada que faça
com que as partes saiam satisfeitas com o resultado38. E, assim, para cada tipo de litígio haveria uma forma
mais adequada de solução.

O tema, contudo, não é recente. O CNJ implementou o sistema multiportas em nosso ordenamento em 2010,
quando editou a Resolução n. 125. O art. 1º da Resolução instituiu a Política Judiciária Nacional de
tratamento dos conflitos de interesses,

a fim de garantir o direito à solução dos conflitos por meios adequados, explicitando, ainda, que
é dever do Poder Judiciário, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outras
formas para resolver controvérsias, especialmente os chamados meios consensuais, como a
mediação e a conciliação, bem como prestar atendimento e orientação ao cidadão39.

Na mesma senda, o CNMP editou a Resolução n. 118/2014, que dispõe sobre a Polícia Nacional de incentivo
à autocomposição no âmbito do Ministério Público.

O artigo 3º, caput, do CPC/15 reforça, pois, a garantia constitucional de acesso ao Poder Judiciário: não se
excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. Bem assim, indica a adoção do sistema
multiportas nos respectivos parágrafos do mesmo dispositivo, ao reiterar a permissão legal de arbitragem,
além da previsão acerca da solução consensual dos conflitos:

§1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

§3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.

Igualmente, o artigo 334, caput, do CPC reitera a adoção do sistema multiportas, e incentiva ainda mais essa
postura pacificadora e cooperativa, ao prever a designação obrigatória de audiência de conciliação e
mediação:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência
liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência

37
Idem.
38
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 13ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 637. In: Ibidem.
39
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São Paulo,
2020. p. 51.

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mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de
antecedência.

O Código de Processo Civil também inovou ao criar as câmaras privadas de mediação e conciliação (art. 167).
Trata-se de empresas privadas adequadamente capacitadas que, junto a mediadores e conciliadores,
poderão operar, em caráter preventivo, judicial e extrajudicial, para a pacificação de conflitos e litígios 40.

Assim, para além da jurisdição estatal, o sistema judiciário brasileiro adota, ainda, as ADR (alternative dispute
resolution) e ODR (online dispute resolution) – a primeira, também chamada de meios alternativos de
resolução de controvérsias (MASCs) ou meios extrajudiciais de resolução de controvérsias (MESCs):

Ambos os termos remetem aos métodos de negociação, mediação, conciliação e arbitragem. (...)

Por seu turno, ODR significa Online Dispute Resolution e se refere aos mesmos métodos de
resolução de conflitos citados em relação à ADR, a diferença é que a modalidade ODR se dá por
meio das plataformas digitais41.

A adoção desse sistema permite que o cidadão assuma o protagonismo da solução de seu problema, com
maior comprometimento e responsabilização acerca dos resultados; estimula a autocomposição; garante
maior eficiência do Poder Judiciário, eis que a ele caberia a solução jurisdicional apenas dos casos mais
complexos – quando inviável a solução por outros meios ou quando as partes assim o desejassem; e assegura
uma maior transparência, diante do conhecimento prévio pelas partes sobre os procedimentos disponíveis
para a solução do conflito42.

1.5 - DIREITO PENAL

1.5.1 - Autorização para o cultivo de maconha para fins medicinais

Os Tribunais Superiores já possuem jurisprudência firmada no sentido de considerar que a conduta de


importar pequenas quantidades de sementes de maconha não se adequa à forma prevista no art. 33 da Lei
de Drogas, subsumindo-se, formalmente, ao tipo penal descrito no art. 334-A do Código Penal, mas cuja
tipicidade material é afastada pela aplicação do princípio da insignificância.

O controle do cultivo e da manipulação da maconha deve ser limitado aos conhecidos efeitos deletérios
atribuídos a algumas substâncias contidas na planta, sendo certo que a própria Lei n. 11.343/2006 permite

40
Disponível: https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-marcado/330271/o-sistema-de-justica-multiportas-no-novo-cpc. Acesso
em 29 de março de 2021.
41
Idem.
42
PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura; PEIXOTO, Renata Cortez Vieira. Fazenda Pública e Execução. Salvador: Juspodivm, 2018, p.
118.

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o manejo de vegetais dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas para fins medicinais ou científicos,
desde que autorizado pela União.

No atual estágio do debate acerca da regulamentação dos produtos baseados na Cannabis e de


desenvolvimento das pesquisas a respeito da eficácia dos medicamentos obtidos a partir da planta, não
parece razoável desautorizar a produção artesanal do óleo à base de maconha apenas sob o pretexto da falta
de regulamentação. De mais a mais, a própria agência de vigilância sanitária federal já permite a importação
de medicamentos à base de maconha, produzidos industrial ou artesanalmente no exterior.

Entretanto, tal autorização depende de análise de critérios técnicos que não cabem ao juízo criminal,
especialmente em sede de habeas corpus. Essa incumbência está a cargo da própria Agência Nacional de
Vigilância Sanitária que, diante das peculiaridades do caso concreto, poderá autorizar ou não o cultivo e
colheita de plantas das quais se possam extrair as substâncias necessárias para a produção artesanal dos
medicamentos.

Assim, a melhor solução é, inicialmente, submeter a questão ao exame da autarquia responsável pela
vigilância sanitária para que analise o caso concreto e decida se é viável a autorização para cultivar e ter a
posse de plantas de Cannabis sativa L. para fins medicinais, suprindo a exigência contida no art. 33 da Lei n.
11.343/2006, e, em caso de demora ou de negativa, apresentar o tema ao Poder Judiciário, devendo o pleito
ser direcionado à jurisdição cível competente. (RHC 123.402-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 23/03/2021)

1.5.2 - Autolavagem de dinheiro

O Supremo Tribunal Tribunal Federal, em julgado da Relatoria do Ministro Moreira Alves, já decidiu que, em
face da legislação penal brasileira, só as coisas móveis ou mobilizadas podem ser objeto de receptação.
Interpretação do art. 180 do Código Penal. Assim, não é crime, no direito pátrio, o adquirir imóvel que esteja
registrado em nome de terceiro, que não é o verdadeiro proprietário (RHC-57.710/SP, Segunda Turma, DJ
de 16/5/1980).

O fato de um acusado não haver sido denunciado pelo crime antecedente é irrelevante para a
responsabilização por lavagem de dinheiro. Conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça, a
participação no crime antecedente não é indispensável à adequação da conduta de quem oculta ou dissimula
a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes direta ou indiretamente, de crime, ao tipo do art. 1º, da Lei 9.613/98. Precedentes. (APn n.
458/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, Corte Especial, julgado
em 16/9/2009, DJe 18/12/2009)

1.5.3 - crime sexual e vítima imobilizada

A prática de conjunção carnal ou de atos libidinosos diversos contra vítima imobilizada configura o crime de
estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP, ante a impossibilidade de oferecer resistência ao emprego
de violência sexual.

Se completamente inerte e incapaz de usar seu potencial motor (oferecer resistência) contra a violência
sexual, haverá crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). Se ainda lhe restar capacidade de

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discernir sobre a ilicitude da conduta, possibilidade de ofertar alguma resistência e não houver elementos
biológicos incapacitantes, haverá o crime de estupro do art. 213 do CP.

"Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos moldes do
parágrafo único do art. 225 do Código Penal. Constata-se que o referido artigo não fez qualquer
distinção entre a vulnerabilidade temporária ou permanente, haja vista que a condição de
vulnerável é aferível no momento do cometimento do crime, ocasião em que há a prática dos
atos executórios com vistas à consumação do delito." (HC 389.610/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 8/8/2017, DJe 16/8/2017).

Agressão sexual contra vítima completamente impossibilitada de esboçar reação (vítima amarrada com as
mãos para trás) configura estupro de vulnerável (art. 217-A, § 1º, do CP).

1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - Nuances da Prova Testemunhal

A prova testemunhal se trata de meio de prova que objetiva trazer ao processo informações decorrentes da
percepção do indivíduo que é arrolado para depor. De acordo com Brasileiro43, “testemunha é a pessoa
desinteressada e capaz de depor que, perante a autoridade judiciária, declara o que sabe acerca de fatos
percebidos por seus sentidos que interessam à decisão da causa”. Bonfim44 afirma, ainda, que “a prova
testemunhal é aquela feita por afirmação pessoal”.

De acordo com o artigo 202 do Código de Processo Penal, toda pessoa poderá ser testemunha. Todavia, o
Código de Processo Civil excepciona as pessoas incapazes, impedidas ou suspeitas. Veja-se:

Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou
suspeitas.

§ 1º São incapazes:

I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;

II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em que ocorreram os


fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a transmitir
as percepções;

III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;

43
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
44
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012.

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IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.

§ 2º São impedidos:

I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral, até


o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o
interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de
outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito;

II - o que é parte na causa;

III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da pessoa
jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes.

§ 3º São suspeitos:

I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;

II - o que tiver interesse no litígio.

Por outro lado, sendo necessário, o juiz poderá admitir o depoimento de testemunhas menores, impedidas
ou suspeitas, o qual será prestado independentemente de compromisso. Assim, lhe será atribuído o valor
que possa merecer (artigo 447, §§ 4º e 5º, do Código de Processo Civil).

Porém, Brasileiro pontua a irrelevância da incapacidade jurídica, considerando que podem depor, no
processo penal, menores de 18 (dezoito) anos, doentes e deficientes mentais. Ademais, o autor assevera que
somente pessoas físicas podem figurar como testemunhas, uma vez que o depoimento pressupõe
memória45.

Quanto à ordem de inquirição, verifica-se que, no rito comum ordinário, a prova testemunhal se inicia com
a oitiva do ofendido, passando-se à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação, seguida da
inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, e aos esclarecimentos dos peritos, às acareações,
reconhecimentos, e, por fim, o interrogatório do acusado, nos termos do artigo 400 do Código de Processo
Penal.

Contudo, há ressalva quando houver a necessidade de oitiva de testemunha por meio de carta precatória.
Isto porque, nesta hipótese, é possível que uma testemunha arrolada pela defesa seja ouvida antes das
testemunhas indicadas pela acusação, por exemplo, sem que essa inversão seja configurada nulidade (nesse
sentido: HC 159.885/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 21/06/2016, DJe 01/07/2016; HC
574.885/PE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2020, DJe 05/08/2020).

45
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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Todavia, não sendo este o caso, a inversão da ordem de oitiva das testemunhas não é passível de
modificação, sob pena de nulidade, em observância ao princípio da ampla defesa. Trata-se, pois, de nulidade
relativa, sendo indispensável a comprovação do prejuízo46.

É de se salientar, ademais, que em conformidade com os moldes do sistema acusatório, as perguntas serão
formuladas pelas partes diretamente às testemunhas, cabendo ao juiz inadmitir aquelas que puderem
induzir a resposta, que não tiverem relação com a causa ou que importarem na repetição de outra questão
já respondida, nos exatos termos do artigo 212 do CPP. Poderá também o julgador complementar a
inquirição sobre pontos não esclarecidos.

No mais, cada testemunha será inquirida primeiramente por quem a arrolou (exame direto ou “direct-
examination”), sendo submetida, na sequência, aos questionamentos da parte contrária (exame cruzado –
ou cross-examination).

Assim, tratando-se de testemunha da acusação, cabe ao órgão acusador fazer suas perguntas primeiramente
e, em seguida, à defesa. Por outro lado, tendo a testemunha sido arrolada pela defesa, incumbe a ela
elaborar suas perguntas, e após, ao acusador47.

Do mesmo modo, a inobservância da ordem de questionamentos (primeiramente das partes, e após, do


magistrado) caracteriza mera nulidade relativa, devendo ser demonstrado o efetivo prejuízo, conforme
precedente do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. [...] ORDEM DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS.


NULIDADE RELATIVA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

[...] 3. Este Superior Tribunal possui o entendimento de que, ainda que a nova redação do art.
212 do Código de Processo Penal tenha estabelecido uma ordem de inquirição das testemunhas,
a não observância dessa regra acarreta, no máximo, nulidade relativa, sendo necessária, ainda,
a demonstração de efetivo prejuízo (pas de nullité sans grief), por se tratar de mera inversão,
visto que não foi suprimida do juiz a possibilidade de efetuar perguntas, ainda que
subsidiariamente, para a busca da verdade. [...]

(AgRg no HC 345.871/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
01/12/2020, DJe 10/12/2020)

Brasileiro traz como características da prova testemunhal a judicialidade (vez que o depoimento deve ser
prestado em juízo, observando-se os princípios do contraditório e da ampla defesa), a oralidade
(considerando que a colheita da prova testemunhal não pode se dar de forma escrita – embora a testemunha
possa fazer breve consulta a apontamentos, nos termos do artigo 204, do CPP) e objetividade (a testemunha

46
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

47
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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não deve emitir opiniões e apreciações pessoais). Acrescenta, ainda, as características da retrospectividade
(pois a testemunha somente depõe sobre fatos já ocorridos) e individualidade (de modo a evitar que as
testemunhas que ainda não foram ouvidas possam ter contato com o depoimento das demais, nos termos
do artigo 210 do CPP).

Para que os depoimentos das testemunhas obtenham o status de prova, não é admissível que elas se limitem
à ratificação das declarações já prestadas na fase policial. A esse propósito, calha à fiveleta aresto emanado
do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO. AUDIÊNCIA DE TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO. [...]


COLHEITA DE DEPOIMENTO. LEITURA DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PERANTE A AUTORIDADE
POLICIAL. RATIFICAÇÃO. NULIDADE.

RECONHECIMENTO.

2. A produção da prova testemunhal é complexa, envolvendo não só o fornecimento do relato,


oral, mas, também, o filtro de credibilidade das informações apresentadas. Assim, não se mostra
lícita a mera leitura pelo magistrado das declarações prestadas na fase inquisitória, para que a
testemunha, em seguida, ratifique-a.

3. Ordem concedida para para anular a ação penal a partir da audiência de testemunhas de
acusação, a fim de que seja refeita a colheita da prova testemunhal, mediante a regular
realização das oitivas, com a efetiva tomada de depoimento, sem a mera reiteração das
declarações prestadas perante a autoridade policial.

(HC 183.696/ES, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
14/02/2012, DJe 27/02/2012)

No mais, as testemunhas possuem os deveres de comparecer em juízo (sob pena de serem conduzidas
coercitivamente, sofrerem a aplicação de multa, dentre outras penalidades), de depor, de prestar o
compromisso de dizer a verdade e, além disso, de comunicar ao juízo eventual mudança de residência,
dentro do prazo de 01 (um) ano.

No que tange ao dever de depor, o próprio Diploma Processual Penal excepciona tal obrigação, ao indicar
determinadas pessoas que são proibidas ou podem se recusar a prestar depoimento, conforme orientam os
artigos 206 e 207 do CPP:

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível,
por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

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Por outro lado, em relação ao dever de prestar o compromisso de dizer a verdade, salienta-se que a
testemunha deve informar aquilo que sabe sem se calar, não podendo negar a verdade, nem declarar fatos
inverídicos, sob pena de incidir no crime de falso testemunho (artigo 342 do Código Penal).

Todavia, nem todas as pessoas prestam o compromisso de dizer a verdade, como é o caso dos doentes e
deficientes mentais, menores de 14 anos e dos indivíduos mencionados no artigo 206 do CPP, os quais são
ouvidos, neste caso, na qualidade de informantes.

Brasileiro48 esclarece que “depoentes são as testemunhas que prestam compromisso legal, enquanto que
declarantes ou informantes são as pessoas que não prestam o compromisso legal de dizer a verdade”, não
havendo consenso na doutrina quanto à possibilidade de a testemunha não compromissada responder pelo
crime de falso testemunho.

Sobre o tema, o STJ já proferiu decisão no sentido de ser desnecessário o compromisso para a caracterização
do crime de falso testemunho, verbis:

PENAL E PROCESSUAL. FALSO TESTEMUNHO. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. RELAÇÃO DE


AFETIVIDADE. RÉU MARIDO DA DEPOENTE. PRECEDENTE DO STJ.

1 - Para a caracterização do crime de falso testemunho não é necessário o compromisso.


Precedentes.

2 - Tratando-se de testemunha com fortes laços de afetividade (esposa) com o réu, não se pode
exigir-lhe diga a verdade, justamente em detrimento da pessoa pela qual nutre afeição, pondo
em risco até a mesmo a própria unidade familiar. Ausência de ilicitude na conduta.

3 - Conclusão condizente com o art. 206 do Código de Processo Penal que autoriza os familiares,
inclusive o cônjuge, a recusarem o depoimento.

4 - Habeas corpus deferido para trancar a ação penal.

(HC 92.836/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
27/04/2010, DJe 17/05/2010)

Ainda, o artigo 214 do Código de Processo Penal traz a previsão da contradita e da arguição de parcialidade
da testemunha, mencionando que “antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a
testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé”.

A contradita consiste na impugnação do depoimento da testemunha, a fim de impedir que alguém proibido
de depor (conforme artigo 207 do CPP) seja ouvido. Por outro lado, na arguição de parcialidade, não se busca
a exclusão da testemunha, mas são alegadas circunstâncias que possam descredibilizar sua palavra (seja pela

48
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suspeição de sua parcialidade ou por ser indigna de fé), o que sopesará diretamente na valoração da prova,
posteriormente, pelo magistrado49.

Todavia, embora o magistrado deva fazer consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha,
somente a excluirá ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208, já mencionados.

Com relação às testemunhas vulneráveis, é de se destacar as hipóteses de escuta especializada e depoimento


especial, instituídas pela Lei 13.431/2017, que visam resguardar crianças ou adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência de qualquer contato com o acusado ou outra pessoa que lhe represente ameaça,
coação ou constrangimento, bem como o chamado “depoimento sem dano ou especial”, introduzido na Lei
Maria da Penha, para a inquirição de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, com restrição
à publicidade do ato.

Ademais, em que pese o direito ao confronto do acusado, de presenciar e participar da prova oral, se o juiz
verificar que a presença do réu causará humilhação, temor ou sério constrangimento à testemunha ou ao
ofendido (com risco de prejudicar a veracidade do depoimento), poderá realizar a inquirição por meio de
videoconferência. Em último caso, não sendo possível a oitiva desta forma, poderá determinar a retirada do
réu, subsistindo, porém, a presença do seu defensor.

1.6.2 - Recurso de Apelação no Âmbito do Tribunal do Júri e a Possibilidade de Revisão


Criminal

O Tribunal do Júri trata de órgão Especial do Poder Judiciário de primeira instância, e a ele se atribui a
competência para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida. Possui previsão constitucional, e é
dotado de uma sistemática própria, por meio da qual as decisões são soberanas e tomadas de maneira
sigilosa, baseando-se na íntima convicção dos jurados, sem a necessidade de fundamentação50.

Seus princípios constitucionais básicos, assegurados no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal, são:
a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Em relação ao princípio da soberania dos veredictos, impende destacar que, por decorrência de tal princípio,
cabe aos jurados a decisão de procedência ou não da imputação de crime doloso contra a vida que é feita ao
acusado. Assim, é inviável que um tribunal composto por juízes togados substitua o posicionamento adotado
pelo conselho de sentença, para que não haja supressão da competência de julgamento prevista
constitucionalmente.

Todavia, tais decisões não podem ser consideradas irrecorríveis e definitivas. Isto porque, em determinadas
situações, admite-se a interposição de recurso, como é o caso do Recurso de Apelação, por exemplo,
conforme previsão do artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal.

49
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
50
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É certo que, em grande parte dos casos, o Tribunal está limitado a anular a decisão proferida pelos jurados,
e não a reformá-la, em respeito ao princípio da soberania dos veredictos. A título de exemplo, se a matéria
recursal tratar do mérito da decisão proferida pelos jurados (com fundamento no artigo 593, inciso III, alínea
“d” do CPP, por exemplo), apenas é admitido que o Tribunal ad quem realize o juízo rescindente,
determinando que o acusado seja submetido a um novo julgamento.

Por outro lado, se o recurso não tratar do mérito do feito, e guardar relação apenas com as decisões
proferidas pelo juiz-Presidente (como por exemplo a fixação da pena), consigna-se ser cabível a modificação
e substituição da decisão pelo Tribunal, o qual realizará, neste caso, não apenas o juízo rescindente, mas
também o juízo rescisório51.

Todavia, a viabilidade de recurso de apelação contra as decisões tomadas pelo Tribunal do Júri se dá apenas
em casos pontuais. Assim, apenas é cabível a sua interposição quando houver nulidade posterior à
pronúncia, quando a sentença do juiz presidente for contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados, se
houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança e quando a decisão dos
jurados for manifestamente contrária à prova dos autos, nos moldes do artigo 593, inciso III, do Código de
Processo Penal.

É de se salientar, ainda, que conforme a súmula 713 do STF, “o efeito devolutivo da apelação contra decisões
do Júri é adstrito aos fundamentos de sua interposição”. Desse modo, se a defesa interpuser recurso de
apelação sob o fundamento do artigo 593, inciso III, alínea “a” do CPP (nulidade após a pronúncia), por
exemplo, não é permitido que o Tribunal dê provimento ao recurso sob a fundamentação de que a decisão
dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos (artigo 593, III, “d”, do CPP), mesmo que assim o
entenda.

Tratando-se da hipótese de nulidade posterior à pronúncia, é cabível a interposição de recurso de apelação


por mais de uma vez, e neste caso, é imposta a realização de um novo júri, ou a renovação dos atos viciados.

Por outro lado, se o recurso de apelação estiver fundado na hipótese de contrariedade da sentença do juiz-
presidente com a lei expressa ou com a decisão dos jurados, é possível que o juízo ad quem corrija
diretamente o equívoco, sem a necessidade de um novo julgamento, conforme prevê o próprio artigo 593,
§1º, do CPP.

Igualmente, caso o recurso de apelação esteja fundado em erro ou injustiça quanto à aplicação da pena ou
medida de segurança, o Tribunal também está autorizado a retificar diretamente o equívoco do magistrado,
aplicando a pena ou medida de segurança adequadas ao feito (artigo 593, §2º, do CPP), logicamente, sem
entrar no âmbito das qualificadoras, privilégios, causas de aumento e diminuição de pena, para que não haja
desrespeito à soberania dos veredictos.

51
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Por fim, quanto à hipótese de apelação por decorrência de decisão dos jurados manifestamente contrária à
prova dos autos, Lima52 afirma que “é necessário que a decisão dos jurados seja absurda, escandalosa,
arbitrária e totalmente divorciada do conjunto probatório constante dos autos”.

Neste caso, deverá ser determinada a realização de um novo júri.

No mais, a decisão tida como contrária à prova dos autos pode guardar relação com a autoria, causas
excludentes da ilicitude/culpabilidade, qualificadoras, causas de aumento e diminuição da pena, dentre
outras.

Neste ponto, impende destacar, porém, que a anulação parcial de decisão proferida pelo Conselho de
Sentença acerca da qualificadora sem submissão do réu a novo júri viola o princípio da soberania dos
veredictos. Nesse sentido é a orientação do STJ:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO


QUALIFICADO. DECOTE DE QUALIFICADORA (MOTIVO TORPE) RECONHECIDA PELO TRIBUNAL DO
JÚRI. INADMISSIBILIDADE. OFENSA À SOBERANIA DOS VEREDICTOS. ART. 121, § 2º, DO CPC E
ART. 593, § 3º, DO CPP. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. [...] 3. Se o
Tribunal entende que há dúvida sobre a existência da qualificadora reconhecida pelo Conselho
de Sentença, outra alternativa não tem senão submeter o acusado a novo julgamento, com
fundamento no art. 593, III, d, e § 3º, do CPP, sendo inadmissível apenas o decote da
qualificadora, com o ajuste da pena. Precedentes. 4. Afastada a improcedência afirmada pelo
órgão julgador a quo, é de se reconhecer a higidez da deliberação do Conselho de Sentença,
porquanto lastreada na decisão de pronúncia, que não foi anulada pelo acórdão recorrido, não
tendo havido recurso sobre a inclusão da qualificadora, nem à época da prolação do decisum que
limitou à acusação, nem após a sentença condenatória [...] c) se é atribuição do Conselho de
Sentença votar pela existência (ou não) de uma qualificadora constante da pronúncia, não pode
o Tribunal de Justiça, em grau de apelação, decotar a qualificadora reconhecida pelo Conselho
de Sentença, sob pena de ofender o princípio da soberania dos veredictos e §1º do artigo 413 do
CPP; d) Os fundamentos para a anulação de julgamento de júri estão consubstanciados no artigo
593 do Código de Processo Penal e não comporta interpretação extensiva de forma a confrontar
a soberana decisão do Conselho de Sentença.

(REsp 1577374/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
28/06/2016, DJe 01/08/2016)

52
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Outrossim, uma vez determinada a realização de novo julgamento, pelo Tribunal, não é possível que as partes
inovem no conjunto probatório, uma vez que o novo conselho de sentença deverá reanalisar o mesmo
acervo de provas anteriormente apresentado.

Ademais, nos termos do artigo 593, §3º, do Código de Processo Penal, não é admitida uma segunda apelação
com base no mesmo fundamento (decisão manifestamente contrária à prova dos autos), pouco importando
se foi a defesa ou a acusação quem interpôs primeiramente o recurso.

Além disso, é de se destacar a divergência relacionada à possibilidade (ou não) de interposição de recurso
de apelação, pela Acusação, com fundamento no artigo 593, inciso III, “d”, do CPP, calcado no quesito
absolutório genérico de absolvição, previsto no artigo 483, inciso III do Diploma Processual Penal.

Lima53 indica que uma primeira posição aduz que o quesito genérico de absolvição permite que os jurados
absolvam o acusado por questões subjetivas, como por exemplo por clemência ou juízo de caráter
humanitário, não estando submetidos ao acervo probatório produzido. Neste caso, eventual recurso de
apelação do Ministério Público com fundamento no artigo 593, inciso III, “d”, do CPP violaria os princípios da
soberania dos veredictos, da plenitude de defesa, e da íntima convicção dos jurados. Neste norte é o
entendimento de Aury Lopes Jr e algumas decisões monocráticas proferidas no âmbito do STF, citando-se
como exemplos as seguintes: STF, RHC 117.076/PR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 1º/08/2019; STF, HC 143.595
MC/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/05/2017.

Já para uma segunda corrente, inclusive partilhada por Lima, o quesito absolutório genérico não autoriza a
absolvição sob qualquer fundamento, devendo, pois, estar condizente com o conjunto probatório, não
podendo ser manifestamente contrária à prova dos autos. Assim, em caso de absolvição com base no quesito
genérico, seria plenamente possível a interposição do recurso de apelação, pela acusação.

Por fim, uma terceira posição possui o entendimento de que os jurados podem absolver o réu por qualquer
motivo, mesmo que isso signifique se desvincular das provas constantes nos autos, sendo igualmente cabível
a interposição de recurso de apelação, pela acusação, com fundamento na hipótese de “decisão
manifestamente contrária à prova dos autos”.

Em julgado de setembro de 2020, a 5ª Turma do STJ proferiu decisão no sentido de que é cabível, na hipótese,
a interposição de recurso de apelação, pela acusação, com o fim de evitar arbitrariedades e em observância
ao duplo grau de jurisdição. Veja-se:

HOMICÍDIO SIMPLES. TRIBUNAL DO JÚRI. ABSOLVIÇÃO PELO QUESITO GENÉRICO (POR


CLEMÊNCIA). RÉU CONFESSO. DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA ÀS
PROVAS DOS AUTOS. ÚNICA TESE DEFENSIVA DE HOMICÍDIO PRIVILEGIADO NÃO QUESITADA.
ANULAÇÃO DA DECISÃO DO JÚRI. NOVO JULGAMENTO. DECISÃO MANTIDA. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

53
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único - 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

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[...] 2. A absolvição do réu pelos jurados, com base no art. 483, III, do CPP, ainda que por
clemência, não constitui decisão absoluta e irrevogável, assim, resta plenamente possível o
controle excepcional da decisão absolutória do Júri, com o fim de evitar arbitrariedades e em
observância ao duplo grau de jurisdição. Entender em sentido contrário exigiria a aceitação de
que o conselho de sentença disporia de poder absoluto e peremptório quanto à absolvição do
acusado, o que, ao meu ver não foi o objetivo do legislador ao introduzir a obrigatoriedade do
quesito absolutório genérico previsto no art. 483, III, do CPP.

3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que " não
ofende a soberania dos veredictos a anulação de decisão do Tribunal do Júri que se mostre
manifestamente contrária a prova dos autos, ainda que os jurados tenham respondido
positivamente ao terceiro quesito formulado nos termos do art. 483, § 2º, do CPP [...]"(AgRg no
AREsp n. 1.116.885/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 15/5/20). Precedentes.[...]

(AgRg no AREsp 1567450/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 28/09/2020)

Todavia, é de se salientar que, em maio de 2020, o STF reconheceu a existência de repercussão geral do tema
(no ARE n. 1.225.185), estando a questão ainda pendente de definição.

Para além do recurso de apelação, também se demonstra cabível a desconstituição e substituição da decisão
dos jurados, posteriormente, por meio de Revisão Criminal. Neste caso, se a condenação criminal houver
sido fundada em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos, por exemplo, o acusado
poderá ser absolvido desde logo pelo Tribunal, não havendo a necessidade de submissão a um novo júri.

Sobre o tema, inclusive, o STJ já fixou tese no sentido de que “a soberania do veredicto do Tribunal do Júri
não impede a desconstituição da decisão por meio de revisão criminal”. Nesse sentido:

[...]. IV. O Tribunal competente para julgar a Revisão Criminal pode, analisando o feito, confirmar
a condenação, ou, no juízo revisional, alterar a classificação do crime, reduzir a pena, anular o
processo ou mesmo absolver o condenado, nos termos do art. 626 do CPP.

V. Uma vez que o Tribunal de origem admitiu o erro judiciário, não por nulidade no processo,
mas em face de contrariedade à prova dos autos e de existência de provas da inocência do réu,
não há ofensa à soberania do veredicto do Tribunal do Júri se, em juízo revisional, absolve-se,
desde logo, o réu, desconstituindo-se a injusta condenação. Precedente da 6ª Turma do STJ.

VI. "A obrigação do Poder Judiciário, em caso de erro grave, como uma condenação que contrarie
manifestamente as provas dos autos, é reparar de imediato esse erro. Por essa razão é que a
absolvição do ora paciente (e peticionário, na revisão criminal) é perfeitamente aceitável,
segundo considerável corrente jurisprudencial e doutrinária" (STJ, HC 63.290/RJ, Rel. p/ acórdão
Ministro CELSO LIMONGI (Desembargador Convocado do TJ/SP), SEXTA TURMA, DJe de
19/04/2010).

VII. Recurso Especial conhecido e improvido.

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(REsp 1304155/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEXTA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 01/07/2014)

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Breves comentários sobre os crimes contra a ordem tributária praticados por
funcionários públicos, com base na Lei n.º 8.137/1990:

Há três artigos na Lei n.º 8.137/1990 que descrevem os crimes contra a ordem tributária, os quais não
possuem modalidade culposa e são de ação penal pública incondicionada.

Os dois primeiros artigos consistem em crimes praticados por particulares e o estudo deles foi realizado na
rodada anterior. Já o terceiro artigo prevê os crimes funcionais contra a ordem tributária, ou seja, praticados
por funcionários públicos.

Ser funcionário público é elementar do tipo penal do art. 3º, da Lei n.º 8.137/1990. Para efeitos penais,
considera-se funcionário público “quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública”, e “equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública”, conforme o art. 327, do Código Penal.

Esse mesmo artigo do CP, em seu §2º, prevê uma causa de aumento de pena aos crimes funcionais: “A pena
será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de
cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade
de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público”.

Ocorre que essa causa de aumento não é aplicada aos crimes funcionais contra a ordem tributária previstos
na Lei n.º 8.137/90, visto que a redação do §2º diz “dos crimes previstos neste Capítulo”, ou seja, do Capítulo
I, do Título XI, do Código Penal (dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em
geral).

O caput do art. 3º da Lei n.º 8.137/90 é claro ao dispor que os crimes funcionais ali previstos não excluem
aqueles do Capítulo I, do Título XI, do Código Penal. Porém, em um conflito aparente de normas, deve ser
aplicada a regra da Lei n.º 8.137/90, tendo em vista o princípio da especialidade.

O inciso I, do art. 3º da Lei n.º 8.137/90, tipifica a conduta de “extraviar livro oficial, processo fiscal ou
qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou
parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social”. O tipo penal
não se confunde com aquele do art. 314, do CP54, visto que esta Lei Especial pressupõe que, para a

54
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total
ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

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caracterização do crime, as condutas devem acarretar o pagamento indevido ou inexato de tributo ou


contribuição social.

Em seu inciso II, há a tipificação da conduta daquele que “exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou
contribuição social, ou cobrá-los parcialmente”.

Tal qual no crime anteriormente analisado, este também se assemelha com outros previstos no Código Penal,
tais como a concussão e a corrupção passiva (artigos 316 e 317, do CP55). O que diferencia o crime em estudo
é a finalidade do agente, de maneira que o funcionário público exige, solicita, recebe ou aceita vantagem ou
promessa de vantagem indevida “para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-
los parcialmente”.

Por fim, o crime previsto no inciso III, do art. 3º da Lei n.º 8.137/90, tipifica a conduta do funcionário público
que “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se
da qualidade de funcionário público”. Aqui a similitude é com a figura típica prevista no Código Penal, agora
com o art. 32156 (advocacia administrativa), que prevê “Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse
privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.

Como se vê, a diferença entre os dois dispositivos está na expressa disposição de “administração fazendária”,
no art. 3º, da Lei n.º 8.137/90. Ora, sabe-se que a administração fazendária é órgão integrante da
administração pública.

Assim, diante do aparente conflito de normas, deve-se aplicar o princípio da especialidade, ou seja, quando
o patrocínio aos interesses privados for levado por funcionário público perante a administração fazendária
(Receitas Federal, Estadual ou Municipal), tratar-se-á do crime previsto no art. 3º, inciso III, da Lei n.º
8.137/90.

55
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
56
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

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Lado outro, se for perante a outros órgãos da administração pública, o crime tipificado será o de advocacia
administrativa, previsto no art. 321, do CP.

Ademais, ainda aplicando-se o princípio da especialidade, se o interesse patrocinado tiver relação com
Licitação Pública, não será aplicada a Lei n.º 8.137/90 e nem o Código Penal, mas sim o art. 91, da Lei de
Licitações (Lei n.º 8.666/93)57.

1.7.2 - Justa causa duplicada e o entendimento do STJ sobre a desnecessidade de o autor


do crime de lavagem de dinheiro ter sido autor ou partícipe da infração penal antecedente:

De acordo com o art. 2º, §1º, da Lei de Lavagem de Capitais, a “denúncia será instruída com indícios
suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda
que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente”.

Ante a exigência de indícios suficientes da existência de infração penal antecedente é que surge a expressão
“justa causa duplicada”.

Justa causa constitui condição da ação penal e é compreendida como o lastro probatório mínimo indicativo
da autoria e materialidade da infração penal (art. 395, inciso III, do CPP58). À medida que o Ministério
Público, enquanto autor da ação penal, deverá angariar elementos de autoria e materialidade não só quanto
ao crime de lavagem de capitais propriamente dito, mas também quanto à existência da infração penal
antecedente, tem-se a “justa causa duplicada”.

Sobre a ‘profundidade’ desses elementos probatórios, quanto ao crime anterior, já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça:

TEMA: Lavagem de dinheiro. Denúncia. Condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012. Crime
antecedente. Descrição exaustiva e pormenorizada. Desnecessidade. Lastro probatório mínimo.
Aptidão. DESTAQUE: A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige
uma descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com relação às
condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012, a presença de indícios suficientes de que o
objeto material da lavagem seja proveniente, direta ou indiretamente, de uma daquelas
infrações penais mencionadas nos incisos do art. 1º da Lei n. 9.613/1998. INFORMAÇÕES DO
INTEIRO TEOR: […]O STF adota o posicionamento de que “o processo e julgamento do crime de
lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da Autonomia, não se exigindo, para que a denúncia
que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta, prova concreta da
ocorrência de uma das infrações penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art. 1º do
referido diploma legal, bastando a existência de elementos indiciários de que o capital lavado

57
Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação
ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
58
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição
para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

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tenha origem em algumas das condutas ali previstas” (STF, HC 93.368/PR, Primeira Turma, DJe
de 25/8/2011). Desse modo, a inicial deve ser considerada apta se contiver narrativa que
demonstre, de modo indiciário, a probabilidade da prática do crime antecedente e as condutas
relacionadas ao suposto branqueamento de bens, direitos e valores que provavelmente seriam
proveitos desse anterior crime previsto no rol do art. 1º da Lei n. 9.613/1998, permitindo a
efetiva defesa do acusado. (Informativo n.º 657 do STJ – APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Corte Especial, por unanimidade, julgado em 23/09/2019, DJe 26/09/2019 – negritamos).

HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LAVAGEM


DE DINHEIRO. TRANCAMENTO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. DESCRIÇÃO DO CRIME ANTECEDENTE.
JUSTA CAUSA DUPLICADA. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE OCORRÊNCIA DE FATO DELITUOSO
ANTECEDENTE. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA.
NÃO OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. [...] 3. No caso do delito previsto no art.
1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a partir da verificação da presença de
elementos informativos suficientes que sirvam de lastro probatório mínimo que apontem a
materialidade e ofereçam indícios da autoria da prática de atos de ocultação ou de dissimulação
da origem dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve trazer elementos que
sinalizem a existência de infração penal antecedente, demonstrando a chamada justa causa
duplicada. 4. Neste caso, apesar dos esforços argumentativos dos impetrantes, não se pode falar
em inépcia da peça acusatória, já que esta, embora não tenha descortinado o delito antecedente
em profundidade, indicou a existência de infração penal prévia, conhecida pelos ora pacientes,
cujos desdobramentos podem ser melhor esclarecidos no curso da instrução criminal. [...] 6.
Habeas corpus não conhecido (STJ - HC 525.790/MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,
Quinta Turma, julgado em 15/10/2019, DJe 22/10/2019 – negritamos).

Pode ocorrer também – e é bom que se conheça – a denominada “justa causa triplicada”, isto quando a
infração antecedente à lavagem de capitais também depender da prova de existência de infração penal
anterior, como seria o caso de se pensar no crime de receptação como antecedente à lavagem de capitais.

Ainda, o Superior Tribunal de Justiça entende que “é desnecessário que o autor do crime de lavagem de
dinheiro tenha sido autor ou partícipe da infração penal antecedente, basta que tenha ciência da origem
ilícita dos bens, direitos e valores e concorra para sua ocultação ou dissimulação” (Jurisprudência em Teses
– Edição n.º 166).

Nesse sentido:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.


LAVAGEM DE DINHEIRO E RECEPTAÇÃO. ATIPICIDADE DO DELITO DE RECEPTAÇÃO DE BEM
IMÓVEL. PRECEDENTES. FALTA DE JUSTA CAUSA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO
MATERIAL FÁTICO/PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA DECLARAR A ATIPICIDADE DO DELITO DE RECEPTAÇÃO. […] 2. O
Supremo Tribunal Tribunal Federal, em julgado da Relatoria do Ministro Moreira Alves, já decidiu
que, em face da legislação penal brasileira, só as coisas móveis ou mobilizadas podem ser objeto
de receptação. Interpretação do art. 180 do Código Penal. Assim, não é crime, no direito pátrio,

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o adquirir imóvel que esteja registrado em nome de terceiro, que não é o verdadeiro proprietário
(RHC-57.710/SP, Segunda Turma, DJ de 16/5/1980). No mesmo sentido o RHC n.58.329/MG,
Relator Ministro CUNHA PEIXOTO, Primeira Turma, DJ de 28/11/1980 e doutrina de Nelson
Hungria e Guilherme de Souza Nucci. 3. O fato de um dos ora denunciados não haver sido
denunciado pelo crime antecedente é irrelevante para a responsabilização por lavagem de
dinheiro. Conforme orientação deste Superior Tribunal de Justiça, a participação no crime
antecedente não é indispensável à adequação da conduta de quem oculta ou dissimula a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes direta ou indiretamente, de crime, ao tipo do art. 1º, da Lei 9.613/98.
Precedentes. (APn n. 458/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão Ministro
GILSON DIPP, Corte Especial, julgado em 16/9/2009, DJe 18/12/2009) 4. A análise da ausência de
justa causa para a ação penal em relação ao delito de lavagem de dinheiro (falta de prova de que
o paciente tinha conhecimento acerca da corrupção passiva e contribuiu com a ocultação de seus
valores – crime antecedente) exigiria, inevitavelmente, o revolvimento de todo o material fático
probatório dos autos, tarefa vedada no remédio constitucional do habeas corpus. 5. Habeas
corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para declarar atípica a conduta do crime de
receptação, devendo a ação penal prosseguir tão-somente em relação ao delito de lavagem de
dinheiro. (HC 545.395/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 05/03/2020, DJe 13/03/2020 – negritamos).

Sabe-se que o crime de lavagem de capitais é delito autônomo, assim, a absolvição do agente pela infração
penal antecedente não impede o processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro (desde que a
absolvição não tenha sido pela inexistência do fato ou atipicidade da conduta). Da mesma forma, a prescrição
do crime anterior não descaracteriza o crime de lavagem de capitais.

Por fim, a pendência de julgamento da infração penal antecedente pode ser questão prejudicial, podendo o
juiz suspender o processo pelo crime de lavagem de capitais, aguardando-se a solução do processo da
infração penal antecedente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 166: DO CRIME DE LAVAGEM – I. Disponível em:


<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.

ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm,
2020.

1.8 - DIREITO ELEITORAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Eleitoral, vamos discutir um assunto importante,

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que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos estaduais: a ação
de impugnação de mandato eletivo.

1.8.1 - Ação de Impugnação De Mandato Eletivo: Definição

A ação de impugnação de mandato eletivo é destinado, prioritariamente, para impugnação de fatos


ocorridos em qualquer momento, no prazo de 15 dias, a contar da sessão de diplomação.

1.8.2 - Ação de Impugnação De Mandato Eletivo: Características

A ação de impugnação de mandato eletivo, ut o disposto no art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal pode
ser investigada sob seis aspectos.

Hipótese de cabimento: abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

Prazo da demanda: quinze dias, a partir do último dia limite fixado para a diplomação.

Objeto: declaração de nulidade da diplomação, com a consequente perda do mandato.

Competência: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral ou Juízo Eleitoral, consoante o
demandado tenha sido diplomado como Presidente da República; Governador de Estado, Senador,
Deputado Federal ou Estadual; Prefeito ou Vereador, respectivamente.

Legitimidade ativa: qualquer candidato, partido político ou coligação e Ministério Público Eleitoral.

Decisão de mérito: meramente declaratória.

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Lei Menino Bernardo

Inicialmente conhecida como “Lei da Palmada”, e hoje chamada “Lei Menino Bernardo”, a lei 13.010/2014
teve por objeto alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil, a fim de estabelecer a
proibição da submissão de crianças e adolescentes a quaisquer formas de castigos corporais. Foi, por meio
dessa lei incluído o art. 13 no Estatuto, que dispõe que: “Os casos de suspeita ou confirmação de castigo
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão
obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras
providências legais”.

Logo, se observa que não teve por objetivo criminalizar condutas, mas apenas proibir duas condutas em
relação a crianças e adolescentes: a prática de castigos físicos e o tratamento cruel ou degradante e de maus-
tratos. A distinção terminológica foi incluída no art. 18-A, que define castigo físico como a ação de natureza
disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em
sofrimento físico ou lesão; enquanto tratamento cruel ou degradante se caracteriza pela conduta ou forma

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cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que humilhe, ameace gravemente ou


ridicularize.

Importante destacar que a legislação fez a escolha pelo termo “sofrimento físico”, o que trouxe avanços com
relação a expressão “lesão corporal”, já adotada pelo Código Penal no tipo prescrito em seu art. 129. Foi
além também do tipo penal do art. 136 do Código Penal, que criminaliza a prática de maus-tratos, ao proibir
uma gama maior de condutas que o tipo penal. Ressalte-se, novamente, que não teve por objetivo, a lei
13.010/2014 criminalizar tais condutas, mas apenas proibir sua prática.

Antes da edição da lei em debate, já se proibia no art. 1.638 do Código Civil, sob a pena de perda do poder
familiar por ato judicial, o castigo “imoderado” dos filhos. Contudo, partindo da ideia da legalidade estrita,
tudo o que a lei não proíbe encontra-se no campo da permissão para os cidadãos, que tinham, a partir dessa
previsão, a possibilidade de castigar seu filho de forma “moderada”. Assim, dentro desse campo de castigo
moderado encontra-se a nova previsão da lei n. 13.010/2014, com a finalidade de garantir uma maior e mais
abrangente proteção às crianças e adolescentes, até mesmo em casos em que não há qualquer contato físico
(no caso da proibição ao tratamento cruel ou degradante).

Além da proibição, determina o art. 18-B, incluído pela lei, que diante da prática dessas condutas, sem
prejuízo das sanções cabíveis, serão aplicadas as seguintes medidas conforme a gravidade do caso: “I -
encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; II - encaminhamento a
tratamento psicológico ou psiquiátrico; III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; IV -
obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; V - advertência.”. Estabelece ainda, o
parágrafo único, que as medidas em questão são aplicáveis pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras
providências legais.

Outro ponto da legislação que merece destaque é o art. 70-A, incluído no Estatuto, que distribui entre União,
Estados, Distrito Federal e Municípios a competência para atuar, de forma articulada, elaborando políticas
públicas e executando ações com a finalidade de coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante, bem como para difundir formas não violentas de educar crianças e adolescentes, destacando
ações como a promoção de campanhas educativas, integração entre órgãos Estatais, além da formação
continuada e capacitação de profissionais.

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Há duas modalidades de ação anulatória. A primeira delas se caracteriza pelo fato de a parte autora ingressar
com uma ação judicial com o objetivo de anular uma dívida já constituída. Aqui, a parte autora não pagou a
quantia constituída e não tem a pretensão de fazê-lo.

A segunda modalidade de ação anulatória é aquela prevista no artigo 169 do Código Tributário Nacional, que
tem como objetivo anular uma decisão administrativa que denegou a restituição de um tributo pago
indevidamente. Nesse caso, a parte autora pagou um tributo que reputa indevido e solicitou a sua restituição
ao fisco, que negou o pedido. Inconformada, a parte autora ingressa com uma ação com o objetivo de anular
essa decisão.

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1.10.1 - Ação anulatória comum

A ação anulatória comum é uma ação ordinária de cunho desconstitutivo ou constitutivo negativo, que visa
a anular pela via judicial a existência de débito fiscal já constituído. Essa é, inclusive, a circunstância que a
diferencia da ação declaratória, que tem seu âmbito de cabimento restrito às hipóteses em que não houve
ainda a constituição do crédito tributário.

Embora os pedidos sejam diversos, nada impede que uma ação cumule uma pretensão anulatória com uma
pretensão declaratória, nos casos em que os fatos geradores ocorrem com certa frequência.

Exemplo
A pessoa jurídica X foi notificada de lançamento tributário concernente à taxa de limpeza pública
dos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017. Nesse caso, a empresa pode ingressar com uma ação
anulatória, para desconstituir os lançamentos dos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017, cumulada
com uma ação declaratória de inexistência de relação jurídica, com o objetivo de evitar que seja
constituído o crédito do pretenso fato gerador ocorrido em 2018.

Por se tratar de uma ação ordinária, a petição inicial deve observar todos os requisitos do artigo 319 do
Código de Processo Civil e o valor da causa deve corresponder à quantia que se pretende anular.

Embora o artigo 38 da LEF59 pudesse induzir à interpretação distinta, não é necessária a realização de
depósito para ingressar com uma ação anulatória, conforme entendimento vinculante do Supremo Tribunal
Federal:

Súmula Vinculante nº 28: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de


admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

Por outro lado, o ingresso da ação anulatória não tem o condão, por si só, de suspender a exigibilidade do
crédito tributário. Assim, regra geral, o ajuizamento dessa ação não impede o fisco de ingressar com a ação
de execução fiscal ou de prosseguir nos atos expropriatórios iniciados em demanda que lhe for anterior. O
fundamento reside na circunstância de que as causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário são
aquelas enunciadas no artigo 151 do Código Tributário Nacional, que não prevê o ajuizamento de uma ação
anulatória no seu rol.

Entretanto, é possível que o contribuinte obtenha a suspensão da exigibilidade do crédito tributário no bojo
de uma ação anulatória. Isso pode ocorrer de duas formas: o autor pode realizar o depósito do montante
integral da dívida, o que acarreta, independentemente de qualquer outra circunstância, a suspensão da
exigibilidade do crédito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN; ou ele pode conseguir um provimento

59
Art. 38 - A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as
hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida
do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos.

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antecipatório, seja em tutela de urgência ou em tutela de evidência, conforme determina o artigo 151, inciso
V, do CTN.

Por fim, antes de encerrarmos o estudo dessa modalidade de ação anulatória, gostaríamos de frisar três
aspectos importantes:

O primeiro diz respeito à distinção entre a consignação e o depósito na ação anulatória. No primeiro caso,
tem-se um depósito-pagamento, porque na ação de consignação não se discute a legalidade da cobrança;
no segundo, um depósito-caução, utilizado para suspender a exigibilidade do crédito tributário durante a
tramitação da demanda que pretende a anulação do crédito60.

O segundo concerne à relação entre a ação anulatória e ação de execução fiscal ajuizada previamente.
Quanto ao tema, existem duas correntes doutrinárias: a primeira entende que depois da execução fiscal não
seria mais cabível o ajuizamento da ação anulatória, porque a matéria de defesa deveria ser suscitada por
meio de embargos, após a garantia do juízo; a segunda corrente entende que seria cabível o ajuizamento da
ação anulatória, porque além de não existir vedação legal nesse sentido, esse seria o entendimento mais
compatível com o princípio da ampla defesa e com o princípio do acesso à justiça. Do ponto de vista da
jurisprudência, prevalece essa última interpretação.

Assim, na prática, o executado pode se defender independentemente de prévia garantia do juízo, desde que
o faça por meio da ação anulatória.

O terceiro aspecto diz respeito ao prazo prescricional da ação anulatória. Na ausência de norma específica,
a jurisprudência entende que se aplica o prazo quinquenal previsto no artigo 1º do Decreto nº 20.910/3261:

1.10.2 - Ação anulatória do artigo 169 do Código Tributário Nacional

Dispõe o artigo 169 do Código Tributário Nacional:

Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a
restituição.

Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando
o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao representante judicial
da Fazenda Pública interessada.

O dispositivo se aplica nos casos em que o sujeito passivo tentou a restituição administrativamente, mas o
fisco denegou o pedido. Nessas hipóteses, o interessado tem o prazo de 2 anos, contados da decisão
denegatória, para ingressar com a ação anulatória.

60
CARNEIRO, Cláudio. Processo Tributário: administrativo e judicial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 425
61
REsp 1688518/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/11/2017, DJe 19/12/2017

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O parágrafo único, por sua vez, estabelece uma hipótese de prescrição intercorrente. De fato, segundo o
texto da lei, a prescrição é interrompida pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso pela metade,
a partir da intimação da Fazenda Pública.

Esse dispositivo tem sido considerado inconstitucional pela maior parte da doutrina, por ser bastante
improvável que a ação seja julgada no prazo de um ano. Assim, estar-se-ia imputando ao autor o ônus pela
morosidade do Poder Judiciário.

Uma forma de compatibilizá-lo com a Constituição Federal seria aplicá-lo tão somente nos casos em que o
processo ficou parado por culpa do próprio autor, como aconteceria na hipótese em que seu advogado
retirasse os autos em carga e só devolvesse um ano depois, mesmo após reiteradas intimações para fazê-lo.

1.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1.11.1 - Ministério Público e a judicialização da saúde

O direito à saúde possui previsão constitucional no art. 196 da Carta Magna:

Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Direito à saúde é um direito difuso por excelência, enquadrando-se no conceito do art. 81, p. único, I, do
CDC, sendo tutelado pelo art. 1º, IV, da Lei 7.347/85. Do conceito extraído da Constituição, verifica-se que a
saúde se dirige a um número indeterminável de pessoas, de modo que seu objeto é absolutamente
indivisível. Assim, o processo coletivo é uma das vias processuais para a defesa da saúde. Nesse espectro, o
Ministério Público é parte legítima para a defesa da saúde em juízo, a título individual e coletivo, como já
decidido pelos tribunais superiores. Não obstante essa legitimidade, vários temas sobre saúde vinham
desafiando o Poder Judiciário, oportunidade em que o Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral,
assim pontuou as seguintes teses:

1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.

2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial.

3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de


mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando
preenchidos três requisitos:

I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso de medicamentos órfãos


para doenças raras e ultrarraras;

II – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior;

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III – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser
necessariamente propostas em face da União.

Várias das demandas judiciais sobre temas diversos na área da saúde motivaram as teses fixadas, mormente
por questões orçamentárias e para impedir o chamado ativismo judicial.

1.11.2 - Urbanismo como direito difuso

A questão urbanística vem expressamente prevista na lei 7.347/85 como um interesse difuso, passível de
tutela judicial. Afinal de contas, o urbanismo das cidades se amolda ao conceito de interesses difusos, do art.
81, I, do Código de Defesa do Consumidor. Dentre as várias questões que envolvem o urbanismo, podemos
citar a lei 10.257/01, que em seu art. 1º: Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os arts.
182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei. Parágrafo único. Para todos os efeitos,
esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam
o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como
do equilíbrio ambiental.

O parágrafo único deixa evidente a natureza difusa do tema, tornando a necessária intervenção do Ministério
Público. Ordem pública, interesse social, coletividade e equilíbrio ambiental. A ação civil pública possui como
um de seus objetos jurídicos, a ordem urbanística:

“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011). VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”

Como conceito de ordem urbanística pode-se compreender o conjunto de regras e situações


jurídicas que integram e dão azo à política urbana.

1.12 - DIREITO EMPRESARIAL

1.12.1 - Empresa Individual de Responsabilidade Ilimitada

A sua criação tem sua gênese em 2011 e tem a finalidade de autorizar um sujeito individual, com gana de
empreender e que não conte com sócios, titularizar um patrimônio individual e outro empresarial, conforme
previsão do art. 980-A do Código Civil. Sendo assim, a pessoa natural que figure como titular da empresa
será distinta da pessoa jurídica desta que contará com seu patrimônio autônomo, de modo que a separação
oferecerá a possibilidade de melhor organização dos bens.

Art. 980-A, CC. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única
pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a
100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (GRIFOS NOSSOS).

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Os parágrafos do artigo reproduzido acima apresentam três requisitos para que a EIRELI seja caracterizada.
São eles:

(a) constituição por única pessoa titular de todo o capital, ressaltando que a pessoa natural poderá figurar
em uma única empresa desse tipo;

(b) integralização do capital;

(c) capital superior a 100 vezes o valor do salário mínimo vigente. Cabe destacar que, uma vez subscrito e
efetivamente integralizado, o capital não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações
no salário mínimo. Logo, será desnecessária qualquer futura adaptação.

Sobre a possibilidade da EIRELI ser constituída por pessoa jurídica, é importante destacar que ainda que o
art. 980-A, Código Civil, faz menção a uma empresa constituída por uma única pessoa, sem esclarecer a
sua natureza. Nesse sentido, O DREI – Departamento de Registro Empresarial e Integração, órgão vinculado
ao Registro Público de Empresas Mercantis, editou a Instrução Normativa de n.º 38/17 para a compreensão
de que a EIRELI pode ser constituída por pessoa natural ou pessoa jurídica.

Quanto à constituição da EIRELI, é possível que seja feita de maneira originária ou derivada, por meio da
concentração de quotas de sociedade em único sócio e sua sequente transformação em EIRELI.

Ademais, vale considerar que a mesma instrução recentemente alterada pela Instrução
Normativa 47/18, entende que a restrição para a pessoa natural que somente poderá constituir
uma única empresa nessa modalidade não se apresenta para a Pessoa Jurídica. A Pessoa Jurídica
pode figurar em mais de uma EIRELI.

O posicionamento das Juntas Comerciais a respeito da possibilidade de pessoas jurídicas constituírem


EIRELI é no sentido de autorizar sua criação! Aliás, recentemente, passou a, expressamente, autorizar que
uma pessoa jurídica figure como titular em mais de uma EIRELI (IN nº 47/2018). Ainda, acrescentou o §5.º,
art. 980-A relata que a EIRELI pode ser constituída para remuneração que decorra de direitos autorais,
imagem, nome marca ou voz de que o seu titular seja detentor.

1 - Nome Empresarial da EIRELI

O Nome Empresarial da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) será formado pela inclusão
da expressão “EIRELI” após a firma (nome civil do empresário), nos termos do art. 980-A, §1º, ou da
denominação, sendo possível dizer que tal espécie poderá se valer de “elemento fantasia” na formação de
seu nome empresarial, sempre inerente aos tipos empresariais prestigiados com a separação patrimonial.
Aliás, por aplicação subsidiária das normas das sociedades limitadas, vale lembrar que a ausência de
utilização da expressão EIRELI ao final de seu nome atrairá responsabilidade para o patrimônio particular de
seu titular.

A espécie firma é representada pelo nome pessoal do titular da EIRELI e a denominação por uma
abstração, a título de exemplo Alessandro Sanchez Comércio de Eletrônicos - EIRELI.

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No caso da utilização de denominação o nome de uma empresa titularizada por Alessandro


Sanchez poderia levar um nome abstrato como CHZ Comércio de eletrônicos - EIRELI.

A omissão da sigla EIRELI na firma ou denominação implica perda da limitação da responsabilidade da pessoa
que a constituiu.

2 - EIRELI como concentração de quotas de outra modalidade societária

A EIRELI poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração, tudo por força da inclusão do §3.º do art.
980-A no Código Civil.

§3.º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração


das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que
motivaram tal concentração.

O Código Civil em seu inciso IV, art. 1.033, oferece o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para a regularização
da sociedade, para que não haja dissolução.

1.12.1 - A EIRELI e a Desconsideração da Personalidade Jurídica

Aplicam-se à EIRELI no que couber e for compatível, a desconsideração da personalidade jurídica que
permite avançar nos bens do titular por dívidas da empresa em caso de fraude. O §7.º no art. 980-A, Código
Civil, a respeito da Desconsideração da Personalidade Jurídica, busca restringir o instituto para avançar nos
bens da empresa apenas em caso de fraude e nunca em caso de confusão patrimonial.

§7.º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual
de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o
patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude.

1.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Legislação Institucional do Ministério Público, vamos
discutir um assunto importante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos
Ministérios Públicos estaduais: as vedações constitucionais.

1.13.1 - Vedações Constitucionais: Definição

As vedações impostas aos membros do Ministério Público são enumeradas no art. 128, § 5º, inc. II, da
Constituição Federal, regulado pelo art. 237 da Lei Complementar nº 75/93 e art. 44 da Lei nº 8.625/93.

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1.13.2 - Vedações Constitucionais: Enumeração

Destarte, é vedado aos membro do Ministério Público:

(i) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto; honorários, percentagens ou custas processuais
e, bem assim, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei;

(ii) exercer a advocacia;

(iii) exercer atividade empresarial ou participar de sociedade empresária, exceto como cotista ou
acionista;

(iv) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério,

(v) exercer atividade político-partidária.

1.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR

1.14.1 - Planos de saúde privados e as relações de consumo

Os planos de saúde privados e sua comercialização fazem parte da chamada relação de consumo. De fato,
há o perfeito enquadramento de um lado, da categoria jurídica consumidor, art. 2º do CDC, e, do outro, a
categoria jurídica fornecedor de produtos e serviços, na forma do art. 3º do CDC. No caso em questão, a
interação entre fornecedor e consumidor, tendo o plano de saúde como objeto caracteriza relação de
consumo. O consumidor, no caso, afigura-se como destinatário final. No caso da lei 9.656/98, esta menciona
a figura do consumidor em 44 oportunidades, destacando-se:

Art. 1o Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam
planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a
sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes
definições: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) I - Plano Privado de
Assistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a
preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite
financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou
serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou
referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou
parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto
ao prestador, por conta e ordem do consumidor; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44,
de 2001). A reforçar essa ideia, o Superior Tribunal de Justiça já editou a seguinte tese (ed. 143):
1) Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão. (Súmula n. 608/STJ). Com efeito, mesmo na
questão específica dos planos de saúde, o consumidor é protegido pelo CDC, de modo que a esta
relação privada incidem todas as normas e interpretações protetivas consumeristas.

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2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. O sistema de proteção dos direitos fundamentais compreende:
a) As proteções normativa, institucional e processual.
b) As proteções judicial e extrajudicial.
c) As proteções pública, metaindividual e individual.
d) As proteções pública e privada.
e) As proteções civil, penal e processual.

Comentários

O sistema de proteção dos direitos fundamentais é integralizado por um complexo de mecanismos, dotados
de natureza normativa, institucional ou processual, tendentes a assegurar sua plena realização.

O mecanismo normativo de proteção dos direitos fundamentais é singularizado pela cláusula pétrea ou
limitação material explícita ao poder constituinte derivado reformador, traduzida pela impossibilidade de
reforma sobre o cerne imodificável da Constituição.

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Os mecanismos institucionais de proteção dos direitos fundamentais são sintetizados pela organização e
funcionamento do Poder Judiciário, Funções Essenciais à Justiça e Tribunais de Contas.

Os mecanismos processuais de proteção dos direitos fundamentais são sistematizados pelos remédios
constitucionais disponibilizados na ordem jurídica, que englobam o habeas corpus, mandado de segurança,
mandado de injunção, habeas data, ação popular e ação civil pública.

Destarte, revela-se correta a alternativa A.

Questão 2. Como medida de proteção aos direitos fundamentais, a Constituição da República veda à lei:
a) Estabelecer a possibilidade de se efetuar prisão senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente.
b) Cominar pena de morte ou de caráter perpétuo, exceto no caso de guerra declarada.
c) Estabelecer casos em que a pena passe da pessoa do condenado.
d) Prever hipóteses em que o civilmente identificado seja submetido a identificação criminal.
e) Restringir a publicidade de atos processuais, exceto quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem.

Comentários

A norma veiculada pelo art. 5º, inc. LX, da Constituição da República veda à lei restringir a publicidade de
atos processuais, exceto quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

Ao contrário, o art. 5º, incs. XLVII, “a”, XLV, LVIII e LXI, da Constituição Federal permitem à lei estabelecer a
hipótese de prisão por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, cominar pena
de morte ou em caso de guerra declarada, estender a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens aos sucessores e prever hipóteses em que o civilmente identificado seja submetido a
identificação criminal.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa E.

JURISPRUDÊNCIA

“Petição. Agravo regimental. Levantamento do sigilos dos áudios e termos de declaração de


acordo de colaboração premiada. Possibilidade. Art. 7º, § 2 º, da Lei 12.850/13. A Constituição
proíbe restringir a publicidade dos atos processuais, salvo quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem (art. 5º, LX), e estabelece, com as mesmas ressalvas, que a publicidade
dos julgamentos do Poder Judiciário é pressuposto inafastável de sua validade (art. 93, IX). A Lei
12.850/2013, quando trata da colaboração premiada em investigações criminais, impõe regime
de sigilo ao acordo e aos procedimentos correspondentes (art. 7º), sigilo que, em princípio,
perdura até a decisão de recebimento da denúncia, se for o caso (art. 7º, § 3º). Essa restrição,
todavia, tem como finalidades precípuas (a) proteger a pessoa do colaborador e de seus próximos
(art. 5º, II) e (b) garantir o êxito das investigações (art. 7°, § 2º). No caso, todavia, a manifestação
do órgão acusador revela não mais subsistirem razões a impor o regime restritivo de publicidade.

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A manutenção da revogação do sigilo dos termos de depoimento e da íntegra dos áudios não
gera, no caso, prejuízos aos agravantes. Agravo regimental a que se nega provimento” (STF, Pet-
AgR nº 6.138/DF, Rel. Min. Edson Fachin, J. 21.02.2017, DJU 05.09.2017).

Questão 3. Dentre os “instrumentos de proteção dos direitos fundamentais” de que trata José Joaquim
Gomes Canotilho, na obra “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, não se inclui:
a) Poder Judiciário.
b) Defensoria Pública.
c) Tribunal de Contas.
d) Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
e) Poder Executivo.

Comentários

De acordo com José Joaquim Gomes Canotilho (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e
Teoria da Constituição. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 1999, p. 1.175), a proteção institucional dos direitos
fundamentais pode ser oferecida pelo Poder Judiciário (alternativa A), Tribunal de Contas (alternativa C) e
Funções Essenciais à Justiça, que, por sua vez, compreende a Defensoria Pública (alternativa B) e
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (alternativa D).

Dentro dessa perspectiva, a alternativa E há de ser assinalada.

Questão 4. O Direito Constitucional no Brasil, pós-Constituição de 1988, passou a preocupar-se com o


aperfeiçoamento dos direitos e das garantias fundamentais. Com base na Constituição Federal vigente,
assinale a alternativa correta:

a) É vedada qualquer legitimação de provas obtidas por meios ilícitos em processos administrativos ou
judiciais.

b) Os direitos e as garantias fundamentais chegaram a tal nível de abrangência na previsão constitucional


que, de sua interpretação, é possível afirmar que não mais somente frente ao Estado, mas, agora também,
nas relações privadas, podem os cidadãos fazer valer suas garantias a fim de concretizar seus direitos
fundamentais.

c) Como importante mecanismo de garantia dos direitos sociais, os sindicatos brasileiros gozam de plena
autonomia quanto à sua organização, sendo vedado o exercício de atividade estatal em seu funcionamento
que vise a normatizar restrições à sua atuação, dentre outras, limites para o valor de suas contribuições
exigíveis de seus associados, necessidade de registro próprio que não os exigidos para qualquer associação
e a delimitação de sua base territorial.

d) São cassados os direitos políticos em decorrência do cancelamento da naturalização brasileira concedida


a estrangeiro, desde que decorrente de sentença transitada em julgado.

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e) O cidadão brasileiro perderá sua nacionalidade se adquirir uma outra, salvo a hipótese
constitucionalmente prevista da segunda nacionalidade, voluntariamente requerida, quando for
reconhecida pela lei estrangeira. São os casos em que um indivíduo nasce no Brasil, de pais estrangeiros que
não estejam a serviço de seu País, e, no caso, este país estrangeiro adote o sistema de ius sanguinis.

Comentários

A questão gira em torno da horizontalidade, aplicação entre particulares ou eficácia nas relações privadas
dos direitos fundamentais.

Em razão disso, é possível afirmar que não mais somente frente ao Estado, mas também, nas relações
privadas, podem as pessoas fazer valer suas garantias a fim de concretizar seus direitos fundamentais,
motivo pelo qual deve o candidato assinalar a alternativa B.

JURISPRUDÊNCIA

“Segurança e saúde do trabalho decorrem de pacto internacional subscrito pelo Brasil, o qual
não faz distinção, para esse fim, entre setor público e privado. De outra parte, o princípio da
horizontalidade dos direitos fundamentais põe no costado, emparelhada, a proteção do obreiro
exercente de trabalho de qualquer natureza. Assim, o braço da regulamentação apropriada,
emitida pelo Ministério do Trabalho (...), com status de lei, em virtude do fenômeno da
deslegalização, em que o Poder Legislativo outorga a órgão técnico a atribuição
regulamentadora, alcança o setor público” (STF, Rcl-MC nº 44.008/PI, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, J. 22.10.2020, DJU 26.10.2020).

Questão 5. O jurista espanhol Antonio Enrique Perez Luño define os direitos fundamentais como um
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da
dignidade, igualdade e liberdade humanas, devendo obrigatoriamente ser reconhecidos no ordenamento
jurídico positivo e por este garantidos, em âmbito internacional e nacional, gozando no ordenamento
nacional de tutela reforçada em face dos poderes constituídos do Estado. No ordenamento brasileiro, a
tutela reforçada a que se refere o autor:
a) Não encontra previsão em nível constitucional.
b) Decorre do princípio internacional do pacta sunt servanda.
c) Decorre da impossibilidade de o Congresso Nacional deliberar sobre proposta de emenda à Constituição
tendente a abolir os direitos fundamentais.
d) É considerada um desdobramento da aplicabilidade imediata e eficácia limitada das normas definidoras
de direitos fundamentais previstas na Constituição.
e) Não pode ser imposta ao poder constituinte derivado.

Comentários

A tutela reforçada dos direitos fundamentais de que trata Antonio Enrique Perez Luño (LUÑO, Antonio
Enrique Perez. Los Derechos Fundamentales. 5a ed. Madrid: Tecnos, 1993, p. 46-47) deriva da

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impossibilidade de o Congresso Nacional deliberar sobre proposta de emenda à Constituição tendente a


abolir os direitos fundamentais.

Logo, revela-se correta a alternativa C.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. No terceiro setor da economia estão presentes as entidades privadas que atuam sem finalidade
lucrativa, visando garantir o interesse da sociedade, executando atividades de interesse social. Assim, esse
setor é composto por pessoas privadas que são incentivadas pelo Estado para exercerem atividades de
interesse público, podendo ser estimuladas por meio do fomento. Sobre as entidades do terceiro setor,
também chamadas de entidades paraestatais, é correto afirmar:
a) O foro competente para as causas que envolvem as entidades do serviço social autônomo é a justiça
estadual.
b) As organizações sociais interagem com a Administração Pública por meio do chamado “convênio de
fomento”, o qual deve prever os direitos e obrigações da entidade em vista dos objetivos públicos da
parceria.
c) O serviço social autônomo compreende as entidades particulares criadas por autorização legal para
execução de atividades de interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas sob a forma de
associação ou fundação, ou, ainda, por meio de estruturas não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei
específica da entidade. Essas entidades prestam serviço público delegado pelo Estado e a atuação estatal,
no caso, é de prestação de serviço público.
d) As entidades do terceiro setor integram a estrutura administrativa como entes da Administração Direta
ou Indireta.
e) As entidades paraestatais são definidas como pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por
particulares, com autorização legislativa, para o desempenho de atividades de interesse público, mediante
fomento e controle pelo Estado.

Comentários

Gabarito: A.

A-CORRETA.

A súmula 516 do Supremo Tribunal Federal estabelece que "O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito
a jurisdição da justiça estadual".

B-INCORRETA.

Art. 5º, Lei nº 9637/1998. Para os efeitos desta Lei, entende-se por CONTRATO DE GESTÃO o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de
parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1º.

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C-INCORRETA.

O serviço social autônomo compreende as entidades particulares criadas por autorização legal para execução
de atividades de interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas sob a forma de associação ou
fundação, ou, ainda, por meio de estruturas não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei específica da
entidade. É muito comum a atuação dessas entidades nas atividades de assistência social, médica, de auxílio
a categorias profissionais e de ensino. Forma o chamado Sistema "S" e inclui entidades como: o SESI (Serviço
Social da Indústria), SESC (Serviço Social do Comércio), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial),
SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), entre outras criadas por meio de autorização
legislativa.

ESSAS ENTIDADES NÃO PRESTAM SERVIÇO PÚBLICO DELEGADO PELO ESTADO, MAS ATIVIDADE DE
INTERESSE PÚBLICO (SERVIÇOS NÃO EXCLUSIVOS DO ESTADO). É por esse motivo que são incentivadas pelo
Poder Público. A ATUAÇÃO ESTATAL, NO CASO, É DE FOMENTO e não de prestação de serviço público.

D-INCORRETA.

As entidades do terceiro setor NÃO INTEGRAM a estrutura administrativa como entes da Administração
Direta ou Indireta.

E-INCORRETA.

Acerca da expressão “entidades paraestatais”, Di Pietro leciona que estas “são definidas como pessoas
jurídicas de direito privado, instituídas por particulares, COM OU SEM AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA, para o
desempenho de atividades de interesse público, mediante fomento e controle pelo Estado” (DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32. Ed. Rev. Atual e Ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2019).

Questão 2. Com relação aos atos administrativos é correto afirmar:


a) A avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para si o exercício das funções
que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.
b) Todo ato administrativo possui 4 elementos essenciais: competência, finalidade, motivo e forma.
c) A doutrina desdobra a autoexecutoriedade em dois atributos, são eles: a exigibilidade e a executoriedade.
A executoriedade está presente quando a Administração pode usar meios indiretos de coação, como
aplicação de multas ou de outras penalidades.
d) O atributo da imperatividade existe em todos os atos administrativos.
e) A presunção de legitimidade e de veracidade do ato administrativo, quanto aos fatos, aplica-se quando o
particular invocar perante o Judiciário a invalidade do procedimento administrativo anterior ao ato
questionado, apontando vícios na atuação administrativa.

Comentários

Gabarito: A.

A-CORRETA.

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A avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para si o exercício das funções
que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.

É medida de caráter excepcional, devendo ser feita apenas temporariamente e por motivos relevantes
devidamente justificados. Também não é possível quando se tratar de competência exclusiva do
subordinado.

B-INCORRETA.

Todo ato administrativo possui 5 elementos essenciais: competência, finalidade, motivo, OBJETO e forma.

C-INCORRETA.

A doutrina desdobra a autoexecutoriedade em dois atributos, são eles:

Exigibilidade: a Administração pode usar meios indiretos de coação, como aplicação de multas ou de outras
penalidades; e

Executoriedade: é a possibilidade de a própria Administração praticar o ato ou compelir, direta e


materialmente, o administrado a praticá-lo. Emprega meios diretos, como: demolição de obra irregular e
dissipação de passeata.

D-INCORRETA.

O atributo da imperatividade não existe em todos os atos administrativos, mas apenas nos que impõem
obrigações e restrições, atos que consubstanciam um provimento ou uma ordem administrativa, tais como
regulamentos, portarias e interdição de estabelecimentos ou atividades. Não estando, assim, presente nos
atos enunciativos e nem no que conferem direitos.

E-INCORRETA.

Um dos efeitos dessas presunções é o de permitir que o ato opere efeitos imediatos (operatividade), ainda
que eivados de vícios ou defeitos. Outro efeito é a inversão do ônus da prova, assim, quem deve demonstrar
a existência de vício no ato é o administrado e não a Administração. Entretanto, essa inversão do ônus da
prova não exime a Administração de, caso requisitada pelo Judiciário, apresentar informações e documentos
que comprovem a correspondência do ato à realidade e à veracidade dos fatos.

Questão 3. Sobre a intervenção e restrição do Estado na propriedade privada, assinale a alternativa que
está em conformidade com a legislação vigente:
a) Compete aos Municípios desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que
não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano
de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
b) Quanto a desapropriação por utilidade pública, a desapropriação irá abranger somente a área necessária
para a realização da obra a que se destina o ato, não sendo incorporadas a isso áreas que valorizem por
consequência do serviço.

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c) Sobre a desapropriação por interesse social, expropriante tem o prazo de 2 (dois) anos, a partir da
decretação da desapropriação por interesse social, para efetivar a aludida desapropriação e iniciar as
providências de aproveitamento do bem expropriado.
d) Os bens desapropriados não serão objeto de venda ou locação, mesmo que seja a alguém com condições
de dar-lhes a destinação social prevista.
e) A declaração de utilidade pública só poderá ser feita pelo Presidente da República, ainda que se trate de
ato emergencial.

Comentários

Gabarito: C.

A-INCORRETA.

A competência é da União e não do Município, nos termos do art. 184, CF: Art. 184. Compete à União
desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua
função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação
do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei.

B-INCORRETA.

art. 4º do Decreto-lei 3.365/41: “A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao


desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em
consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá
compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam à
revenda."

C- CORRETA.

A Lei 4.132/1962 trata do tema desapropriação por interesse social.

Art. 3º, Lei 4.132/1962. O expropriante tem o prazo de 2 (dois) anos, a partir da decretação da
desapropriação por interesse social, para efetivar a aludida desapropriação e iniciar as providências de
aproveitamento do bem expropriado.

D-INCORRETA.

Art. 4º, Lei 4.132/1962. Os bens desapropriados serão objeto de venda ou locação, a quem estiver em
condições de dar-lhes a destinação social prevista.

E-INCORRETA.

A declaração de utilidade pública pode ser efetivada por todos os Chefes do Executivo, na forma do art. 6º
do Decreto-lei 3.365/41, inclusive pela figura do interventor.

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Art. 6º, Decreto-lei 3.365/41. A declaração de utilidade pública far-se-á por decreto do Presidente da
República, Governador, Interventor ou Prefeito.

OBS: Não confundir com a competência privativa da União de legislar sobre o tema "desapropriação". (Art.
22, II, CF/88). 019).

Questão 4. Quanto aos serviços públicos, julgue os itens a seguir:


I- O serviço público é uma espécie de atividade econômica em sentido amplo, pois destina-se à circulação de
bens e/ou serviços do produtor ao consumidor final, mas não se confunde com as atividades econômicas em
sentido estrito, tendo em vista o objetivo do serviço público (interesse público) e a titularidade do Estado.
II- A Constituição Federal prevê que incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o regime
de concessão, permissão ou autorização, a prestação de serviços públicos, sempre mediante licitação.
III- A Lei 13.460/2017, que estabelece as regras de proteção, participação e defesa dos usuários de serviços
públicos, não afasta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor quando caracterizada relação de
consumo.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II
b) I
c) II e III
d) I e III
e) Apenas o item I

Comentários

I- CORRETO. Transcrição literal de trecho do livro do ex-Ministro Eros Roberto Grau .

II- INCORRETO. Não obstante o tema ser altamente controvertido em doutrina, a assertiva está em
desacordo com o previsto no art. 175 da Constituição Federal, que não traz o instrumento da “autorização”
como apto a prestação de serviços públicos. Sendo assim, nessas ocasiões, em provas objetivas, é
recomendável se ater ao texto literal da lei/Constituição. “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da
lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de
serviços públicos”.

III- CORRETO. A Lei 13.460/2017 é novidade legislativa que tem grande potencial para ser cobrada em provas
objetivas. Conforme previsto no artigo 1º, §2º, II, da Lei 13.460/17, “§2º, A aplicação desta Lei não afasta a
necessidade de cumprimento do disposto: II - na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quando
caracterizada relação de consumo”.

Questão 5. Acerca da disciplina jurídica dos poderes administrativos, assinale a alternativa correta:
a) O poder hierárquico e o poder disciplinar não se confundem. O primeiro é fundamentado na relação de
subordinação administrativa entre agentes públicos, que pressupõe a distribuição e o escalonamento vertical
de funções no interior da organização administrativa. Por outro lado, o poder disciplinar é a prerrogativa

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reconhecida à Administração para investigar e punir, após o contraditório e a ampla defesa, os agentes
públicos, na hipótese de infração pessoal, e os demais administrados sujeitos à disciplina especial
administrativa.
b) O processo administrativo disciplinar, por envolver a aplicação do jus puniendi estatal, não admite a
viabilidade da reformatio in pejus quando do julgamento de recursos.
c) Previsão estatutária que estabeleça o registro das ocorrências alcançadas pela prescrição no assentamento
funcional de servidor público não ofende a Constituição, desde que, antes do assentamento, seja assegurado
o direito à ampla defesa e ao contraditório.
d) No âmbito de ação disciplinar de servidor público federal, o prazo de prescrição da pretensão punitiva
estatal começa a fluir apenas na data em que a irregularidade praticada pelo servidor se tornou conhecida
pela autoridade competente para a instauração do processo administrativo disciplinar.
e) O poder de disciplinar não se aplica à particulares com vínculo específico junto à Administração Pública.

Comentários

a) CORRETA. São os conceitos trazidos na obra do professor Rafael Oliveira

b) INCORRETA. A doutrina entende que é cabível a reformatio in pejus nos processos administrativos
disciplinares por aplicação supletiva do art. 64, parágrafo único da Lei 9.784/1999, que prevê o seguinte:
“Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular ou revogar, total
ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência. Parágrafo único. Se da aplicação
do disposto neste artigo puder decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para
que formule suas alegações antes da decisão.” Ressalte-se, todavia, na hipótese de revisão da sanção
disciplinar, a reformatio in pejus não é admitida, por força de disposição expressa do art. 182, caput e
parágrafo único da Lei 8.112/1990, que prevê: “Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada sem
efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos do servidor, exceto em relação à
destituição do cargo em comissão, que será convertida em exoneração.

Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento de penalidade”.

c) INCORRETA. O artigo 170 da Lei nº 8.112/90 possui previsão análoga a do enunciado. Entretanto, conforme
decidido pelo STF “(...) 2. O princípio da presunção de inocência consiste em pressuposto negativo, o qual
refuta a incidência dos efeitos próprios de ato sancionador, administrativo ou judicial, antes do perfazimento
ou da conclusão do processo respectivo, com vistas à apuração profunda dos fatos levantados e à realização
de juízo certo sobre a ocorrência e a autoria do ilícito imputado ao acusado. 3. É inconstitucional, por afronta
ao art. 5º, LVII, da CF/88, o art. 170 da Lei nº 8.112/90 (...) 4. Reconhecida a prescrição da pretensão punitiva,
há impedimento absoluto de ato decisório condenatório ou de formação de culpa definitiva por atos
imputados ao investigado no período abrangido pelo PAD. 5. O status de inocência deixa de ser presumido
somente após decisão definitiva na seara administrativa, ou seja, não é possível que qualquer consequência
desabonadora da conduta do servidor decorra tão só da instauração de procedimento apuratório ou de
decisão que reconheça a incidência da prescrição antes de deliberação definitiva de culpabilidade. (...)” (STF.
Plenário. MS 23262, Rel. Min. Dias Toffoli, 23/04/2014).

a) INCORRETA. O enunciado contradiz o entendimento do STJ de que “(...) no âmbito de ação disciplinar
de servidor público federal, o prazo de prescrição da pretensão punitiva estatal começa a fluir na data em

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que a irregularidade praticada pelo servidor se tornou conhecida por alguma autoridade do serviço público,
e não, necessariamente, pela autoridade competente para a instauração do processo administrativo
disciplinar.” (MS 20.162-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/2/2014).

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. No âmbito da sucessão provisória dos bens do ausente, é sabido que, decorrido um ano de sua
arrecadação ou, se aquele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, podem os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Para tais efeitos,
consideram-se interessados, exceto:
a) O cônjuge não separado judicialmente.
b) O curador nomeado pelo juiz para administração dos bens do ausente.
c) Os credores de obrigações vencidas e não pagas.
d) Os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários.
e) Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte.

Comentários

A alternativa B é a falsa, porque o curador nomeado pelo juiz para administração dos bens do ausente, na
primeira fase do procedimento, não se encontra no rol dos interessados a requerer a abertura da sucessão
provisória, nos termos do artigo 27 do Código Civil.

Questão 2. No que tange ao direito das sucessões, assinale a alternativa correta:


a) O direito à sucessão aberta e o quinhão de que disponha o co-herdeiro não podem ser objeto de cessão
enquanto pendente a indivisibilidade.
b) Enquanto não prestado compromisso pelo inventariante, a administração da herança caberá ao cônjuge
ou companheiro do de cujus, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão, salvo se a posse e
a administração dos bens já se encontrarem em poder de outro herdeiro.
c) O co-herdeiro a quem não se der conhecimento da cessão de quota por outro para pessoa estranha à
sucessão poderá, a qualquer tempo, haver para si a quota cedida, depositando o respectivo preço, tanto por
tanto, desde que ainda não homologada a partilha.
d) Os herdeiros possuem legitimidade ativa para atuarem diretamente em juízo em ações de direito real,
enquanto não aberto o inventário, por aplicação do princípio de saisine.
e) Até a abertura do inventário, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, não
pode ser objeto de divisão.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública, com fulcro no artigo 1.793, “caput”, do Código

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Civil. Em verdade, o que se considera ineficaz é a cessão pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente ou mesmo a disposição, sem prévia autorização do juiz
da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade
(art. 1.793, §2º e §3º, CC).

A alternativa B é falsa, porque até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,


sucessivamente, ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão; ao
herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao mais
velho, de acordo com o artigo 1.797, I e II, do Código Civil.

A alternativa C é falsa, porque o co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a
transmissão, com base no artigo 1.795, “caput”, do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, pois reproduz fielmente teor do Enunciado nº 03 da Edição 133 das
Jurisprudências em Tese do Superior Tribunal de Justiça. No mesmo sentido, apresentam-se os seguintes
acórdãos:

REsp 1773822/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2019,
DJe 13/08/2019
REsp 1373569/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2018, DJe
04/02/2019
REsp 1117018/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe
14/06/2017
AgRg no REsp 1404889/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/06/2015, DJe 05/08/2015
REsp 623511/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/05/2005, DJ
06/06/2005 p. 186

A alternativa E é falsa, porque até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. É o que prevê o artigo 1.791,
parágrafo único, do Código Civil.

Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética: Fernando é proprietário de um imóvel situado no


bairro Alfa de determinado município. No ano 2015, visando à segurança da população, em virtude do
aumento da ocorrência de crimes no local, parcela dos moradores do bairro constituiu uma associação e
transmudou o perímetro da respectiva área populacional em um loteamento imobiliário urbano,
cumprindo-se todas as exigências legais e cartorárias para tanto. Ocorre que Fernando, que há muito
residia no local, não aderiu à ideia e se negou a pagar as taxas de manutenção e conservação exigidas pela
associação, o que ensejou o ajuizamento de ação de cobrança em seu desfavor. Já no ano 2020, Roberta
adquiriu imóvel no mesmo bairro, porém, sabedora de que Fernando não pagava qualquer despesa
relativa ao condomínio, negou-se também a adimplir qualquer taxa de mesma espécie. No âmbito
municipal, jamais houve lei que disciplinasse o referido tipo de loteamento. Com base nessa situação e
considerando o advento da lei federal 13.465/17, que, dentre outros temas alusivos à regularização
fundiária, regulamentou a modalidade de loteamento nominada “de acesso controlado”, marque a
alternativa correta:

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a) Ainda que não formalmente vinculado, não pode Fernando, enquanto proprietário de imóvel a quem se
aproveitam os serviços condominiais, tais como vigilância e instalação de portaria, esquivar-se do pagamento
das respectivas taxas, sob pena de enriquecimento sem causa.
b) Tendo em vista a liberdade contratual nas relações civis e a garantia constitucional de que ninguém pode
ser compelido a se associar, encontram-se tanto Fernando quanto Roberta desobrigados do pagamento das
despesas relativas ao condomínio.
c) Apesar da existência fática de um condomínio, não podem Fernando e Roberta serem compelidos ao
pagamento das taxas condominiais, visto que não há, no caso em espécie, edição de lei pelo ente municipal
a disciplinar a matéria, a quem compete legislar sobre uso, parcelamento e ocupação do solo urbano.
d) Embora não associado, encontra-se Fernando obrigado ao pagamento das taxas condominiais a partir do
advento da Lei federal 13.465/17, a qual, a fim de conferir tratamento igualitário entre os condôminos de
fato e evitar o enriquecimento sem causa, impôs, em caráter ex nunc, a cotização de todos os proprietários
de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado. Em relação a Roberta,
faz-se certa a sua obrigação de pagar, haja vista a data da aquisição do imóvel e a vigência da mencionada
lei.
e) É inconstitucional a cobrança das taxas de conservação e manutenção do condomínio em face de
Fernando, mesmo com o advento da lei federal 13.465/17, uma vez que ele não aderiu ao ato constitutivo
da associação. Lado outro, é plenamente cabível a cobrança das despesas condominiais em relação a
Roberta, dado que, quando da aquisição do lote, já se encontrava constituído o loteamento de acesso
controlado, com o registro do ato constitutivo no competente Cartório de Registro Imobiliário.

Comentários

A alternativa E é a verdadeira, porque “é inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de


manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento
da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível
a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso
controlado, que:

i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou

ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente
Registro de Imóveis”.

STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492) (Info
1003).

Questão 4. De acordo com as disposições da Lei 6.766/79, pode-se afirmar que constitui requisito
urbanístico para o loteamento:
a) As áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem
como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano
diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem.
b) Ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva
de uma faixa não edificável de, no mínimo, 10 (dez) metros de cada lado.

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c) Os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5
(cinco) metros, independentemente da destinação do loteamento.
d) Ao longo das faixas de domínio público das rodovias, será obrigatória a reserva de faixa não edificável de,
no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado, a qual não pode ser reduzida por lei municipal ou distrital.
e) Ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva
de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado, que poderá ser reduzida por lei
municipal ou distrital que aprovar o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5 (cinco)
metros de cada lado.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 4º, “caput”, I, da Lei 6.766/79.

A alternativa B é falsa, porque ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias,
será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado, nos
termos do artigo 4º, “caput”, III-A, da Lei 6.766/79.

A alternativa C é falsa, porque os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados)
e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a urbanização específica ou
edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos públicos
competentes, com amparo no artigo 4º, “caput”, II, da Lei 6.766/79.

A alternativa D é falsa, porque ao longo das faixas de domínio público das rodovias, a reserva de faixa não
edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado poderá ser reduzida por lei municipal ou distrital
que aprovar o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5 (cinco) metros de cada lado.

A alternativa E é falsa, porque ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias,
será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado (art.
4º, “caput”, III-A, da Lei 6.766/79). A lei não aborda a possibilidade de redução da área mínima não edificável
nesta hipótese, tal como faz em relação à reserva mínima de faixa não edificável ao longo das faixas de
domínio público das rodovias.

Questão 5. Acerca do processo de tomada de decisão apoiada, assinale a alternativa correta:


a) Trata-se de instituto destinado à representação da pessoa com deficiência, com vistas a suprir a sua
incapacidade relativa e lhe fornecer elementos e informações necessários para a prática dos atos da vida
civil.
b) O apoiador pode, a qualquer tempo, desligar-se do processo de tomada de decisão apoiada,
independentemente de pronunciamento judicial, contanto que indique, desde logo, pessoa idônea a prestar
o apoio em seu lugar, sem embargo da subsistência de seu compromisso para a prática de atos urgentes que
possam ser prejudicados pelo desligamento.
c) É o processo pelo qual são nomeadas duas pessoas idôneas da confiança do juízo para prestar apoio à
pessoa com deficiência na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

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d) Considerando que a pessoa com deficiência a ser apoiada não se trata de pessoa incapaz, à luz da
modificação provocada pela Lei Brasileira de Inclusão nº 13.146/2015 na teoria das incapacidades, faz-se
desnecessária a intervenção ou oitiva do Ministério Público nas demandas dessa natureza.
e) A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem quaisquer restrições,
desde que inserida nos limites do apoio acordado.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque a tomada de decisão apoiada não se trata de instituto de representação,
mesmo porque não se fala, neste caso, na incapacidade da pessoa com deficiência, mas de instrumento de
prestação de apoio a esta na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade, conforme o artigo 1.783-A, “caput”, do
Código Civil. Aliás, o artigo 6º, “caput”, do Estatuto da Pessoa com Deficiência dispõe que a deficiência não
afeta a plena capacidade civil da pessoa. Ademais, à pessoa com deficiência é facultada a adoção de processo
de tomada de decisão apoiada, nos moldes do artigo 84, §2º, do mesmo diploma legal.

A alternativa B é falsa, porque o apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo
de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a
matéria, na forma do artigo 1.783-A, §10º, do Código Civil.

A alternativa C é falsa, porque os apoiadores são pessoas que mantêm vínculos e gozem da confiança da
pessoa com deficiência, por ela eleitas, e não necessariamente da confiança pessoal do juízo. É o que mostra
o artigo 1.783-A, “caput”, do Código Civil: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com
deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua
confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os
elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

A alternativa D é falsa, porque, ainda que não se trate o apoiado de pessoa incapaz, justamente em razão da
nova roupagem adotada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, a participação, intervenção e oitiva do
Ministério Público possui previsão legal específica no capítulo concernente ao tema da tomada de decisão
apoiada na codificação, em consonância com o artigo 1.783-A, §3º, §6º e §7º, do Código Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque em exata reprodução do artigo 1.783-A, §4º, do Código Civil.

2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Como reafirmação da necessidade de rigorosa observância do princípio do contraditório, o
legislador processual civil vedou a prolação de decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida, evitando-se, assim, as designadas “decisões-surpresas”. Entretanto, existem
determinadas situações que, por sua urgência ou evidência, autorizam ou até mesmo reclamam a
excepcionalidade dessa exigência, de modo não a anular, mas a postergar o contraditório. Entre tais
hipóteses excepcionais somente não se insere:
a) O deferimento da expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de
obrigação de fazer ou de não fazer, no âmbito da ação monitória, em sendo evidente o direito do autor.

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b) Quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada
em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
c) Quando a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito
do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
d) Quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo e for, portanto, cabível a concessão da tutela provisória de urgência, cautelar ou
antecipada.
e) Quando se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa.

Comentários

A alternativa A está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à decisão prevista no artigo 701. Bem assim, o artigo 701, “caput”, do CPC consigna
que, inserido no capítulo alusivo à ação monitória, dispõe que, sendo evidente o direito do autor, o juiz
deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de
fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.

A alternativa B está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, I, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à tutela provisória de urgência.

A alternativa C é incorreta, porque a referida hipótese não se insere nos casos de tutela de evidência
previstos no artigo 9º, parágrafo único, II, do Código de Processo Civil, a autorizar a excepcionalidade de
dispensa da oitiva prévia, mesmo porque, estando prevista no artigo 311, IV, do mesmo diploma legal,
pressupõe, naturalmente, ao deferimento da tutela de evidência, a atuação prévia do requerido, ao
consignar em sua parte final: “a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável”.

A alternativa D está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à hipótese de tutela de evidência prevista no artigo 311, II, do mesmo diploma legal.

A alternativa E está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à hipótese de tutela de evidência prevista no artigo 311, III, do mesmo diploma legal.

Questão 2. Segundo a codificação processual civil, não podem depor como testemunhas:
a) As pessoas que, por estado ou profissão, devam guardar sigilo sobre os fatos.
b) Os que possuem interesse no litígio.
c) Os mudos e os surdos, salvo quando a deficiência não comprometer a possibilidade de comunicação por
outro recurso ou linguagem não verbal.

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d) As pessoas cujos cônjuges ou companheiros e parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral,
até o terceiro grau, possam sofrer grave dano em razão da exposição dos fatos.
e) O tutor e o advogado da parte, ressalvada a hipótese em que, quando da prestação do depoimento, não
mais a assistam.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque, neste caso, inexiste a obrigação de depor, mas não há óbice, no plano da
sistemática processual civil, a que o faça. Preceitua o artigo 448 do Código de Processo Civil que a testemunha
não é obrigada a depor sobre fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.

A alternativa B é verdadeira, porque, nos moldes do artigo 447, “caput”, do Código de Processo Civil, podem
depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. Nesse sentido,
consigna o §3º, II, do mesmo dispositivo, que é suspeito o que tiver interesse no litígio.

A alternativa C é falsa, porque o codex processual civil não prevê óbice a que o mudo preste depoimento.
Quanto aos surdos, somente figuram como incapazes de depor – de acordo com a terminologia literal
empregada pelo diploma processual – quando a ciência do fato depender do sentido que lhe falta e não de
forma generalizada, na forma do artigo 447, §1º, IV, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque, neste caso, inexiste a obrigação de depor, mas não há óbice, no plano da
sistemática processual civil, a que o faça. Bem assim, prevê o artigo 448, I, do Código de Processo Civil, que
a testemunha não é obrigada a depor sobre fatos que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge
ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau.

A alternativa E é falsa, porque, nos moldes do artigo 447, “caput”, do Código de Processo Civil, podem depor
como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. Nesse sentido, é impedido
aquele que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz,
o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes, com fulcro no §2º, III, do mesmo artigo.

Questão 3. Considerando o entendimento atual dos Tribunais Superiores sobre a admissibilidade de


intervenção de terceiros no procedimento alusivo ao mandado de segurança, marque a alternativa
correta:
a) É cabível a intervenção de assistente, simples ou litisconsorcial, em qualquer procedimento judicial,
inclusive em mandado de segurança.
b) Admite-se a intervenção de terceiros no mandado de segurança sob qualquer modalidade prevista na
codificação processual, tendo em vista a ausência de vedação legal, desde que dela não resulte embaraço ao
processamento da pretensão do impetrante.
c) O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros, ainda que
na modalidade de assistência litisconsorcial.
d) No âmbito do mandado de segurança, não se confere a possibilidade de formação de litisconsórcio.
e) A possibilidade de intervenção de terceiros no mandado de segurança restringe-se à modalidade do
amicus curie, dado que esta se presta, na essência, a fornecer subsídio às decisões do órgão julgador, por
meio de amparo especializado, e não enseja, propriamente, a dilatação dos elementos subjetivos da ação.

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Comentários

A alternativa C é a verdadeira. Confira-se:

“O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros,


conforme se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de assistência
litisconsorcial”.
STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em
28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE
06/11/2020.

Tal entendimento já descarta, de única vez, o disposto nas alternativas A, B e E, tornando-as falsas. A
alternativa D, a seu turno, é falsa, porque consigna o artigo 24 da Lei 12.016/09 que se aplicam ao mandado
de segurança os arts. 46 a 49 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, dispositivos
relacionados ao instituto do litisconsórcio, atualmente regulado pelos artigos 113 a 117 do Código de
Processo Civil de 2015. Vale lembrar que o litisconsórcio não se confunde com as hipóteses de intervenção
de terceiros, porquanto se trata de pluralidade de partes em um dos polos da ação.

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. “W.D.W.” foi sentenciado pela primeira vez a uma pena de 45 anos de reclusão por quatro
homicídios qualificados (hediondos), praticados em concurso material no dia 01/01/2018, tendo
respondido ao processo em liberdade e preso tão-somente após o trânsito em julgado. Expedida a guia de
execução definitiva relativa a essa sentença de 45 anos, após 10 dias de cumprimento da pena, o
magistrado proferiu decisão de unificadas das penas, nos termos do art. 75, §1º do Código Penal, limitando
o cumprimento dessas penas em 30 anos. Entretanto, cumpridos 20 dias da pena, “W.D.W.” encontrou no
cárcere um desafeto do mundo do crime, e aproveitando-se de um momento de distração, durante o
banho de sol, matou seu inimigo. Preso em flagrante pelo fato, foi levado a julgamento perante o Tribunal
do Júri, tendo sido sentenciado a uma pena de 18 anos de reclusão por esse novo homicídio qualificado
(hediondo). Em relação a esse fato, “W.D.W.” permaneceu preso desde o flagrante. A sentença penal da
segunda condenação transitou em julgado 9 meses e 5 dias após a primeira prisão.
Com a juntada à execução penal da guia de execução definitiva relativa à segunda sentença, o juiz deve
proferir
a) primeiramente decisão de unificação de penas e, em seguida, de soma de penas.
b) primeiramente decisão de soma de penas e, em seguida, de unificação de penas.
c) apenas decisão de unificação de penas.
d) apenas decisão de soma de penas.

Comentários

Gabarito: B

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Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.

§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova
unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

STF, Súmula 715 A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo
art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.

Questão 2. Assinale a alternativa correta:


a) Segundo o STJ, a previsão legal do crime de desacato a funcionário público no exercício da função não
viola o direito à liberdade de expressão e de pensamento previstos no Pacto de São José da Costa Rica.
b) Situação hipotética: Pedro, réu primário, valendo-se da confiança que lhe depositava o seu empregador,
subtraiu para si mercadoria de pequeno valor do estabelecimento comercial em que trabalhava. Assertiva:
Nessa situação, apesar de configurar a prática de furto qualificado pelo abuso de confiança, o juiz poderá
reconhecer o privilégio.
c) A circunstância do descumprimento de medida protetiva de urgência imposta ao agressor, consistente na
proibição de aproximação da vítima, não constitui causa de aumento de pena no delito de feminicídio.
d) Nos casos de concurso formal ou de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela prescrição
regula-se pela pena imposta com o acréscimo decorrente da previsão legal.
e) A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, não
subsistindo qualquer efeito condenatório, salvo para fins de reincidência.

Comentários

Gabarito: A

A - O desacato é especial forma de injúria, caracterizado como uma ofensa à honra e ao prestígio dos órgãos
que integram a Administração Pública.

(...)

Preenchimento das condições antevistas no art. 13.2. do Pacto de São José da Costa Rica, de
modo a acolher, de forma patente e em sua plenitude, a incolumidade do crime de desacato pelo
ordenamento jurídico pátrio, nos termos em que entalhado no art. 331 do Código Penal. (HC
379269 / MS)

B–

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Súmula 511 - É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos


casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno
valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. (Súmula 511, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/06/2014, DJe 16/06/2014)

C - CP, Art. 121

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:

(...)

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do


caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

D–

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente.

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer
caso, de um sexto a dois terços.

Súmula 497 STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta
na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.

E - Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de
reincidência.

Súmula 18, STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da


punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Questão 3. Assinale a alternativa correta:


“M.K.T.” encontrava-se em regime semiaberto quando foi deferido o livramento condicional. Encerrado o
período de prova do livramento, os autos foram ao Ministério Público que requereu a juntada da Folha e

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da Certidão de Antecedentes Criminais. Deferido o pedido ministerial e juntados os documentos


requeridos, com vista dos autos, o parquet verificou que “M.K.T.” havia sido preso – e logo solto em
audiência de custódia – pela prática de crime ocorrido durante o período de prova do livramento
condicional. O Ministério Público observou ainda que ele havia sido denunciado e condenado pelo fato,
tendo a sentença penal permitido que “M.K.T.” recorresse em liberdade. Interposto recurso pela defesa,
a sentença penal condenatória não havia transitado em julgado. Diante da informação acerca da
condenação penal, o Ministério Público requereu a revogação do livramento condicional, a regressão
cautelar de regime prisional e a designação de audiência de justificação.
Após a manifestação da defesa, deve o magistrado
a) declarar extinta a pena privativa de liberdade.
b) revogar o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de justificação e
expedir mandado de prisão.
c) suspender o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de justificação
e expedir mandado de prisão.
d) expedir mandado de prisão e decidir sobre suspensão ou revogação do livramento condicional após
audiência de justificação a ser designada.a) Estão corretas todas as assertivas.
e) Revogar o livramento condicional e determinar a regressão de regime.

Comentários

Gabarito: A

Súmula 617-STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do


término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da
pena.

Questão 4. Sobre a parte geral do Código Penal, analise as afirmativas a seguir.


I. O excesso culposo nas causas de justificação deriva de erro do agente quanto aos seus limites ou quanto
às circunstâncias objetivas do fato concreto.
II. A desistência voluntária pode se materializar tanto em hipóteses de tentativa perfeita quanto em casos
de tentativa imperfeita.
III. Descriminantes putativas ocorrem quando o agente supõe que está agindo licitamente, imaginando que
se encontra presente uma das causas excludentes de ilicitude previstas em lei.
IV. A regra da incomunicabilidade das circunstâncias (art. 30 do Código Penal), promove a extensão da
culpabilidade com base em ficção legal de qualidades pessoais.
V. Na hipótese de aberratio ictus com unidade complexa, deve ser utilizado, na aplicação da sanção penal, o
mesmo tratamento do concurso formal impróprio.
Está correto o que se afirma em
A I, II e IV, apenas.
B I e III, apenas.

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C II, III e V, apenas.


D III e IV, apenas.

Comentários

Gabarito: B

I - CORRETA Excesso é a desnecessária intensificação de um fato típico inicialmente amparado por uma causa
de justificação. O excesso punível pode ocorrer nas modalidades culposa e dolosa. Na modalidade culposa,
o agredido, após cessar a injusta agressão, age de forma negligente, imprudente ou imperita e, dessa forma,
dá continuidade à sua “defesa”.

II – ERRADA - A desistência voluntária só é possível na tentativa imperfeita ou inacabada, enquanto na


tentativa perfeita ou acabada, só é possível o arrependimento eficaz.

III – CORRETA – Art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

IV – ERRADA - Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

V - Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa
que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Questão 5. Marque a alternativa incorreta:


a) A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao crime acessório.
b) São efeitos automáticos da condenação tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime,
e a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à
pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha
ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado.
c) Nos termos da Lei n° 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor,
constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão
do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a 3 (três) meses; no entanto, tais
efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
d) É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior
a 4 (quatro) anos, se favoráveis as circunstâncias judiciais.

Comentários

Gabarito: B

A–

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CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da
conexão.

B–

CP, Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos.

II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder
familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado;

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.

Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

C-

1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, à exceção dos casos do crime de
tortura - que não é a hipótese dos autos - , a perda de cargo ou função pública prevista no inciso
I do art. 92 do Código Penal não é consequência automática da condenação, sendo necessário
existir fundamentação concreta e específica para esse desiderato, o que não foi delineado, na
espécie, pelas instâncias ordinárias.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 1638764/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/11/2020,
DJe 19/11/2020)

D–

SÚMULA 269 – STJ É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes
condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias.

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2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado.
b) Não haverá prioridade para realização do exame de corpo de delito.
c) O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de
curso superior.
d) Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.
e) Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao
acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

Comentários

Resposta: alternativa B.

As situações de prioridade para a realização do exame pericial estão dispostas no parágrafo único, do artigo
158:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Atenção para o fato de que as infrações não transeuntes, é dizer, as infrações que deixam vestígios, a
realização do exame de corpo de delito revela-se providência obrigatória.

A perícia somente ser substituída pela prova testemunhal, nas hipóteses do artigo 167, do CPP:

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) O exame de corpo de delito poderá somente poderá ser feito durante o período de expediente da Polícia
Científica, notificando-se o suspeito com antecedência mínima, se houver.

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b) A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
c) Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração
penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver
necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.
d) Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora
previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
e) Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida
do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.

Comentários

Resposta: alternativa A.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

A limitação de expediente da Polícia Científica não impede a realização dos exames periciais.

Intuitivo até, afinal há situações em que uma delonga poderá comprometer a prova. Imagine-se um
homicídio culposo na direção de veículo automotor ocorrido em uma rua de grande movimentação. Não há
como aguardar o expediente para a liberação da via pública.

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de
escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em
que época presumem ter sido o fato praticado.
b) Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou que constituam
produto do crime.
c) No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele
tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
d) Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar
a natureza e a eficiência.
e) No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a
autoridade declarará nulo o laudo.

Comentários

Resposta: alternativa E.

Nas hipóteses versadas no enunciado da questão: inobservância de formalidades, omissões, obscuridades


ou contradições, deverá o magistrado ordenar seja suprida a formalidade, complementado ou esclarecido o
laudo, conforme anela o artigo 181:

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Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições,


a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz das disposições da Lei n.º 7.960/89, assinale a alternativa incorreta:
a) Caberá prisão temporária, para os crimes previstos em lei, quando for imprescindível para as investigações
do inquérito policial.
b) Em regra, terá o prazo de cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.
c) Caberá prisão temporária, para os crimes previstos em lei, quando o indiciado não tiver residência fixa.
d) A prisão temporária será decretada de ofício pelo juiz, quando houver fundadas razões, de acordo com
qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado em crime de roubo.
e) Após o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela custódia deverá,
independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade.

Comentários

Gabarito: D

a) Art. 1º, inciso I, da Lei n.º 7.960/89.

b) Nos delitos comuns, o prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorrogável por igual período em caso
de extrema e comprovada necessidade, conforme o art. 2º, caput, da Lei n.º 7.960/89. Em se tratando de
crimes hediondos ou equiparados, o prazo da prisão temporária é de trinta dias, igualmente prorrogável pelo
mesmo período em caso de extrema e comprovada necessidade, conforme o §4º, do art. 2º, da Lei dos
Crimes Hediondos (Lei n.º 8.072/90).

c) Art. 1º, inciso II, da Lei n.º 7.960/89.

d) Está incorreta, pois a prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz. Somente em face de
representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público. Conforme redação expressa
do art. 2º, caput, da Lei n.º 7.960/89 e em consonância com o sistema acusatório que rege todo o processo
penal brasileiro, de acordo com o CPP: “Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.”

e) O preso será colocado em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada a autoridade responsável pela
custódia sobre a prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. Art. 2º, §7º, da
Lei n.º 7.960/89.

Questão 2. Sobre a Lei n.º 12.850/2013 (Organizações Criminosas), assinale a alternativa correta:
a) Considera-se organização criminosa a associação de três ou mais pessoas, estruturadamente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter vantagem de qualquer natureza.

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b) A pena do crime de promover, constitui, financiar ou integrar organização criminosa será aumentada de
um sexto a dois terços se houver participação de criança ou adolescente.
c) A pena do crime de promover, constitui, financiar ou integrar organização criminosa será aumentada de
um sexto a dois terços se houver emprego de arma de fogo na atuação da organização.
d) Se houver indícios de participação de policial nos crimes previstos na Lei n.º 12.850/2013, o Ministério
Público instaurará inquérito policial e designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.
e) Embora existam elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo, o condenado
por integrar organização criminosa poderá progredir de regime de cumprimento de pena.

Comentários

Gabarito: B

a) Art. 1º, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional”.

Já o crime de associação criminosa é previsto no art. 288 do CP: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.”

b) Correta. Art. 2º, §4º, inciso I, da Lei n.º 12.850/2013.

c) A pena aumenta-se até a metade no caso de emprego de arma de fogo. Art. 2º, §2º, da Lei n.º 12.850/2013.

d) A Corregedoria de Polícia que fará a instauração de inquérito policial e comunicará ao Ministério Público,
que designará membro para acompanhar o feito até a conclusão, conforme o art. 2º, §7º, da Lei n.º
12.850/2013.

e) Art. 2º, §9º, da Lei n.º 12.850/2013: “O condenado expressamente em sentença por integrar organização
criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de
cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos
probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo”.

Questão 3. Acerca dos meios de obtenção de prova previstos na Lei das Organizações Criminosas (Lei n.º
12.850/2013), assinale a alternativa incorreta:
a) Considerando a relevância da colaboração premiada prestada, o delegado de polícia, nos autos do
inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderá manifestar-se ao juiz pela concessão de
perdão judicial ao colaborador.
b) A ação controlada consiste em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada
por organização criminosa, para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz para a formação
de provas e obtenção de informações.

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c) A infiltração de agentes de polícia poderá ser admitida mediante representação do delegado de polícia,
que deverá demonstrar a necessidade da medida e, necessariamente, os nomes e apelidos das pessoas
investigadas.
d) Independentemente de autorização judicial, o delegado de polícia terá acesso aos dados cadastrais do
investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço, dados mantidos,
dentre outros, pela Justiça Eleitoral, empresas de telefonia e administradores de cartão de crédito.
e) Aquele que se recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitados pelo
delegado de polícia comete crime, com pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa.

Comentários

Gabarito: C

a) Correta. Art. 4º, §4º, da Lei n.º 12.850/2013: “Considerando a relevância da colaboração prestada, o
Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão
judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se,
no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.

b) Art. 8ª, §2º, da Lei n.º 12.850/2013: “Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
formação de provas e obtenção de informações”.

c) Incorreta. Além de demonstrar a necessidade da medida, deverá também demonstrar o alcance das
tarefas dos agentes, o local da infiltração e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas.
Art. 11, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O requerimento do Ministério Público ou a representação do
delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o
alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local
da infiltração”.

d) Art. 15, da Lei n.º 12.850/2013: “O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito”.

e) Art. 21, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e
informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do
processo: Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa”.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Sobre a ação de impugnação de mandato eletivo é correto afirmar:

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a) Deverá ser proposta no prazo de 15 (quinze) dias a contar do esgotamento do prazo para a interposição
de recurso contra a diplomação.
b) Pode ter como causa de pedir, inclusive, causas de inelegibilidade ou falta de condição de elegibilidade de
índole constitucional, supervenientes ao registro de candidatura.
c) Deve tramitar em segredo de justiça.
d) Segundo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, é cabível tutela provisória de urgência na ação de
impugnação de mandato eletivo, com o fim de sustar o ato de diplomação do candidato eleito.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

Comentários

A ação de impugnação de mandato deve tramitar em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
lei, se temerária ou de manifesta má-fé, em conformidade com o art. 14, § 11, da Constituição da República.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C.

Questão 2. Sobre a ação de impugnação ao mandato eletivo (AIME), que tem como objetivo impedir o
abuso de poder político, econômico, a corrupção ou a fraude, é correto afirmar que:
a) Não gera litisconsórcio passivo unitário e necessário entre o titular e o vice do cargo, pois são situações
subjetivas distintas.
b) Tem o mesmo rito processual da ação de impugnação eleitoral (AIJE), sem qualquer outra peculiaridade,
tendo em vista a identidade de finalidade entre ambas as ações.
c) Não pode gerar litispendência entre ela, a AIME, e a AIJE.
d) Traz como consequência a anulação dos votos dados ao candidato e, se a nulidade atingir menos da
metade dos votos, será dada posse ao segundo colocado, ou, caso contrário, realiza-se nova eleição.
e) Não há coincidência entre os legitimados ativos para as duas ações.

Comentários

Constitui efeito da decisão pela procedência da ação de impugnação de mandato eletivo a anulação dos
votos dados ao candidato cassado. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, aplica-se o art. 224 do
Código Eleitoral.

Em razão disso, a alternativa D está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Mandado de segurança e medida cautelar. Julgamento conjunto. Dupla vacância dos cargos de
prefeito e de vice. Questão prejudicial ao exame de mérito. Efeito da decisão pela procedência
da AIME. Anulação dos votos. Concessão da segurança. Indeferimento da medida cautelar.
Agravos regimentais prejudicados. Devido ao liame indissolúvel entre o mandato eletivo e o voto,
constitui efeito da decisão pela procedência da AIME a anulação dos votos dados ao candidato

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cassado. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, aplica-se o art. 224 do Código Eleitoral”
(TSE, MS nº 3.649, Rel. Min. Cezar Peluso, DJU 10.03.2008).

Questão 3. São legitimados ativos para propor recurso contra a Diplomação, exceto:
a) O Ministério Público.
b) Os partidos políticos.
c) O eleitor.
d) As coligações partidárias.
e) Os demais candidatos.

Comentários

O recurso contra a diplomação pode ser interposto por qualquer candidato, partido político ou coligação e
Ministério Público Eleitoral, e não também pelos eleitores em geral.

O candidato deve assinalar a alternativa C, pois.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (Cespe – Juiz de Direito – PR/2017) De acordo com as disposições da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, assinale a opção correta.
a) Além do estabelecimento de idade mínima antes da qual se presume que a criança não tem capacidade
para infringir as leis penais, devem ser estabelecidos procedimentos judiciais obrigatórios para tratar a
criança que tenha infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido as leis penais.
b) Em todo processo judicial ou administrativo que a afete, deve ser assegurada à criança que tenha
capacidade de formular seus próprios juízos a oportunidade de ser ouvida, levando-se devidamente em
consideração as opiniões em função da idade e maturidade dela.
c) Em razão do princípio da separação dos poderes, o Poder Judiciário não é alcançado pelo dispositivo
segundo o qual todas as ações relativas às crianças devem considerar o interesse superior da criança, que
deve ser observado por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades administrativas ou
órgãos legislativos.
d) O exercício do direito da criança à liberdade de expressão não pode sofrer restrição e inclui a liberdade de
procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma
oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.

Comentários

Alternativa “a”: A Convenção trata da desjudicialização, impondo-se a adoção, sempre que conveniente e
desejável, de medidas para tratar as crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam
respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais (artigo 40).

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Alternativa “b”: A criança deve ser ouvida sempre que possível para a tomada de decisões que lhe digam
respeito, pois se trata de pessoa em situação de desenvolvimento, e não de objeto de proteção. Nesse
sentido, devem os Estados Partes assegurarem-lhe, desde que capacitada a formular seus próprios juízos, o
direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos que lhe sejam relacionados, levando-
se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança (Artigo 12 da
Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, de 1989).

Alternativa “c”: O interesse superior da criança constitui-se em postulado normativo de observância


obrigatória por todo o Estado, especialmente pelo Poder Judiciário.

Alternativa “d”: Admitem-se certas restrições a tal direito, consideradas necessárias para o respeito dos
direitos ou da reputação dos demais, ou para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou para
proteger a saúde e a moral públicas (Artigo 13).

Alternativa correta: letra “b”.

Questão 2. (Vunesp – Juiz de Direito Substituto - RJ/2016) Com relação à Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, tratado internacional de proteção de direitos humanos, com início de vigência em 1990,
é correto afirmar que
a) se afastando da técnica de diferenciação utilizada pela legislação específica brasileira, define criança como
todo ser humano que não atingir a maioridade civil e penal ou for declarado totalmente incapaz, desde que
menor de 18 anos, nos termos da legisla-ção aplicável.
b) em respeito aos princípios da anterioridade e da legalidade, bem como ao garantismo processual, foram
criados os Protocolos Facultativos adesivos, versando sobre a) Venda de Crianças, Prostituição Infantil e
Pornografia Infantil e b) Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, para tipificação de delitos contra
a dignidade sexual e de guerra envol-vendo crianças.
c) ao estabelecer a obrigação dos Estados de respeitar responsabilidades, direitos e obrigações dos pais,
apropriados para o exercício, pela criança, dos direitos que contempla, adotou o princípio do best interest
of the child-, encampada pelo artigo 227, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.
d) estabelece, em seu rol de direitos contemplados, a proteção de crianças estrangeiras, inclusive contra a
migração interna forçada e utilização em experiên-cias médicas e científicas, prevendo a entrega como
instituto de cooperação internacional.
e) visando a observação dos direitos das crianças, estabeleceu forma de monitoramento peculiar (special
force machinery-), via relatórios apresentados pelo Comitê sobre os Direitos da Criança aos Estados- -Partes,
para análise e acompanhamento.

Comentários

Alternativa “a”: Em conformidade com a Convenção, será criança a pessoa que tiver menos de dezoito anos
de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes
(Artigo 1). Conforme se vê, admitiu-se que cada Estado Parte faça previsão de outra idade (“em
conformidade com a lei aplicável à criança”).

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Alternativa “b”: Os Protocolos Facultativos à Convenção foram criados em razão do reconhecimento de que
determinadas necessidades da coletividade infância precisariam ser trabalhadas com mais detalhamento,
buscando-se a sua efetiva proteção. Nesse sentido, foram aprovados os Protocolos sobre a) Venda de
Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil e b) Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados,
além de outro mais recente, c) que trata do controle da efetivação das disposições da Convenção e que
admite as petições individuais. Todos se encontram em vigência no âmbito internacional.

Alternativa “c”: O princípio do best interest of the child se refere ao superior interesse da criança, que deve
ser observado pela administração, pelo legislador e pelo julgador. O art. 227 da Constituição Federal, ao
prever a prioridade absoluta, encampa o superior interesse da criança e do adolescente.

Alternativa “d”: Não há essa previsão na Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU.

Alternativa “e”: Foi estabelecida como forma de monitoramento a partir de relatórios enviados pelos
Estados Partes ao Comitê sobre os Direitos da Criança da ONU, por intermédio do Secretário-Geral das
Nações Unidas. Tais relatórios devem relatar as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos
os direitos reconhecidos na convenção e sobre os progressos alcançados no desempenho desses direitos,
com periodicidade quinquenal (art. 44, item 1, b, da Convenção). De outro lado, admite-se que o Comitê
solicite aos Estados Partes maiores informações sobre a implementação da convenção. A cada dois anos, o
Comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembleia Geral das Nações Unidades, por intermédio
do Conselho Econômico e Social.

Alternativa Correta: letra “c”.

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
a) Normas relativas à prescrição e decadência em matéria tributária são reservadas à lei complementar.
b) O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
c) A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou
destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.
d) É constitucional a taxa de renovação de funcionamento e localização municipal.
e) As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI foram revogadas pela EC 33/2001.

Comentários

a) Tema 2 de Repercussão Geral


b) Súmula Vinculante 41
c) Sumula Vinculante 19
d) Tema 217: É constitucional taxa de renovação de funcionamento e localização municipal, desde que
efetivo o exercício do poder de polícia, demonstrado pela existência de órgão e estrutura competentes para
o respectivo exercício.

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e) Tese 325 da Repercussão Geral: As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI, com fundamento na
Lei 8.029/1990, foram recepcionadas pela EC 33/2001
Questão 2. De acordo com a jurisprudência do STJ, é incorreto afirmar que:
a) O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.
b) A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar
cautelar ou antecipatória.
c) A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário,
dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.
d) O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o indébito tributário
certificado por sentença declaratória transitada em julgado.
e) A discussão judicial da dívida, embora não suspensa, por si só, a exigibilidade do crédito, nos termos do
art. 151 do CTN, impede a inclusão do nome do devedor no CADIN.

Comentários

a) Súmula nº 112: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em
dinheiro.

b) Súmula nº 212: A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por
medida liminar cautelar ou antecipatória.

c) Súmula nº 436: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito
tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

d) Súmula nº 461: O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o
indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado.

e) Tema 264: A mera discussão judicial da dívida, sem garantia idônea ou suspensão da exigibilidade do
crédito, nos termos do art. 151 do CTN, não obsta a inclusão do nome do devedor no CADIN.

Questão 3. Julgue os itens a seguir, de acordo com a disciplina constitucional dos empréstimos
compulsórios:
I) O empréstimo compulsório pode ser instituído por medida provisória, desde que haja a sua conversão em
lei antes do término do exercício financeiro.
II) É possível a instituição de empréstimo compulsório para o atendimento de despesas extraordinárias,
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência.
III) É possível a instituição de empréstimo compulsório para custeio de investimento público de caráter
urgente ou de relevante interesse nacional
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Nenhuma das afirmativas está correta.
c) Apenas a afirmativa do item I está correta.

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d) Apenas a afirmativa do item II está correta.


e) As afirmativas II e III estão corretas.

Comentários

I) Afirmativa incorreta. Há a necessidade da edição de lei complementar.

II) Afirmativa correta.

III) Afirmativa incorreta. O artigo 148, inciso II, da CF, exige que o investimento seja de caráter urgente e de
relevante interesse nacional.

2.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. Assinale a alternativa INCORRETA:
a) Segundo a Resolução n. 23 do CNMP, o fornecimento da qualificação mínima do autor do fato é exigido
como condição para que se tome providências no caso de denúncia anônima.
b) Segundo a Resolução n. 23 do CNMP, o procedimento preparatório do inquérito civil deverá ser concluído
no prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual prazo, sempre que necessário, em caso de motivo
justificável.
c) Conforme a Lei n. 7.913/89, diploma que trata da ação civil pública de responsabilidade por danos
causados aos investidores no mercado de valores mobiliários, as importâncias decorrentes da condenação
em Ação Civil Pública sempre reverterão aos investidores lesados, na proporção de seu prejuízo.
d) Segundo a Lei n. 4.717/65, que trata da Ação Popular, são nulos os atos lesivos ao patrimônio das
entidades previstas em seu texto, nos casos de incompetência, restando esta caracterizada quando o ato
não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou.
e) Segundo a Lei n. 7.347/85, somente os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais.

Comentários

Gabarito: B.

a) Correto, art. 2º, § 3º.

b) Errado, “por uma única vez”, art. 2º, § 6º.

c) Correto, art. 2º.

d) Correto, art. 2º, caput, e parágrafo único, letra a.

e) Correto, art. 5º, § 6º.

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Questão 2. Assinale a alternativa CORRETA:


a) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
b) As Ações Civis Públicas com base no Estatuto do Idoso serão ajuizadas no foro do local do dano, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a causa.
c) Conforme a Lei n. 7.853/89, somente a Ação Civil Pública que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal.
d) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se barreiras urbanísticas somente as existentes nas vias e nos
espaços públicos ou de uso coletivo;
e) Segundo a Lei n. 13. 146/15, a pessoa com deficiência, em certos casos, estará obrigada à fruição de
benefícios decorrentes de ação afirmativa.

Comentários

Gabarito: C.

a) Errado, suprimiu a condição de que o impedimento tem de ser de longo prazo, art. 2º.

b) Errado, será no domicílio do idoso, art. 80.

c) Correta, art. 4º, § 1º.

d) Errado, art. 3º, IV, a.

e) Errado, art. 4º, § 2º.

Questão 3. É CORRETO dizer que:


a) Segundo a Lei n. 7.661/88, considera-se Zona Costeira o espaço geográfico de interação do ar, do mar e
da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que
serão definidas pelo Plano.
b) Conforme a Lei n. 12.651/12, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde
que sejam manifestações culturais, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais
envolvidos.
c) Conforme a Constituição da República, são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pela União e
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
d) Conforme a Constituição da República, a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Mateira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.

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e) Segundo a Lei n. 7.661/88, normas e diretrizes sobre o uso do solo, do subsolo e das águas, bem como
limitações à utilização de imóveis, poderão ser estabelecidas nos Planos de Gerenciamento Costeiro,
Nacional, Estadual e Municipal, prevalecendo sempre as disposições de natureza mais ampla.

Comentários

Gabarito: A

a) Correto, art. 2º, parágrafo único.

b) Errado, está prevista no art. 225, § 7º da Constituição.

c) Errado, art. 225, § 5.

d) Errado, art. 225, § 4º.

e) Errado, art. 5º, § 2º.

2.12 - DIREITO EMPRESARIAL


Questão 1. É possível que a EIRELI resulte da concentração de quotas empresariais em um único sócio?

Comentários

Gabarito: Incorreta.

De fato, a EIRELI poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária. Todavia, o §3º
do art. 980-A do Código Civil determina que tal possibilidade independerá das razões que motivaram a
concentração.

2.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. Aos membros do Ministério Público aplicam-se as seguintes vedações, exceto:
a) Receber honorários e custas processuais.
b) Exercer a advocacia.
c) Exercer atividade político-partidária.
d) Exercer o magistério.
e) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

Comentários

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Aos membros do Ministério Público é permitido o exercício do magistério, de acordo com o art. 128, § 5º,
inc. II, “d”, da Constituição Federal, regulado pelo art. 237, inc. IV, da Lei Complementar nº 75/93 e art. 44,
inc. IV, da Lei nº 8.625/93.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa D.

Questão 2. Com relação aos deveres e vedações dos membros do Ministério Público, conforme previsto
na Lei n° 8.625/93, que institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispõe sobre normas gerais
para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências, assinale a opção incorreta:
a) Manter ilibada conduta pública e particular.
b) Exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive como cotista ou acionista.
c) Acatar, no plano administrativo, as decisões dos órgãos da Administração Superior do Ministério Público.
d) Indicar os fundamentos jurídicos de seus pronunciamentos processuais, elaborando relatório em sua
manifestação final ou recursal.
e) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério.

Comentários

À norma veiculada pelo art. 44, inc. III, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público dispõe sobre a vedação
aos membros do Parquet de exercício de atividade empresarial ou participação em sociedade empresária,
exceto como cotista ou acionista.

Em razão disso, a alternativa B está incorreta.

Questão 3. Com relação a deveres, vedações, impedimentos e suspeições dos membros do Ministério
Público, assinale a opção correta:
a) Havendo motivo de ordem íntima que iniba seu ofício, o membro do MP dar-se-á por suspeito.
b) É vedado ao membro do MP deter cotas de sociedade limitada que atue no ramo de prestação de serviços.
c) No MP, constitui dever do promotor de justiça titular residir na região metropolitana da Capital do Estado.
d) É vedado ao membro do MP emitir juízo depreciativo sobre promoções, pareceres e decisões judiciais ou
realizar crítica nos autos e em obras técnicas.
e) O membro do MP estará impedido de participar de comissão de concurso quando concorrer seu cônjuge
ou companheiro; tal impedimento alcança a situação em que parente consanguíneo ou afim em linha reta
ou colateral participe do certame, limitando-se nessa situação ao segundo grau.

Comentários

Os membros do Ministério Público podem declarar-se suspeitos por motivo de foro íntimo, sem necessidade
de declarar suas razões, em atenção aos arts. 145, § 1º, e 148, inc. I, do Código de Processo Civil e arts. 254,
inc. I, e 258, in fine, do Código de Processo Penal.

O candidato deve assinalar a alternativa A, pois.

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JURISPRUDÊNCIA

“Habeas corpus substitutivo de recurso próprio. Não cabimento. Arguição de suspeição de


membro do Ministério Público. Inimigo íntimo do réu. Não demonstração. Necessidade de
incursão na seara probatória. Impropriedade da via eleita. Writ não conhecido (...). O incidente
de arguição de impedimento ou suspeição é a forma estabelecida em lei para afastar o
promotor da causa, por lhe faltar imparcialidade. As hipóteses de impedimento são presunções
legais absolutas de parcialidade, pois apontam relações entre o suspeito/ impedido e o objeto
do processo (causa objetiva), imperativamente repelidas pela lei (...), de forma clara e objetiva.
Ocorrida, pois, a subsunção às hipóteses legais, restará prejudicada, ope legis, a condição
de atuação imparcial pelo promotor” (STJ, HC nº 216.239, Rel. Min. Ribeiro Dantas, J.
16.03.2017, DJU 23.03.2017).

2.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR


Questão 1 - Assinale a alternativa incorreta, de acordo com a lei 12.529/2011, que estrutura o Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência.
a) O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) entidade judicante com jurisdição em todo o
território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro
no Distrito Federal.
b) O Tribunal Administrativo de Defesa Econômica é órgão do CADE.
c) A Superintendência-Geral é órgão do Cade.
d) O Departamento de Estudos Econômicos é órgão do Cade.
e) O Conselho Administrativo de Defesa Econômica é órgão do Cade.

Comentários

A alternativa ‘a’ corresponde ao conceito do art. 4º da Lei 12.529/2011. As alternativas ‘b’, ‘c’ e ‘d’ são os
órgãos do Cade mencionados no art. 5º. A ‘e’, incorreta, não consta como órgão do Cade.

Questão 2. É clausula abusiva prevista no Código de Defesa do Consumidor, as cláusulas que:


a) Possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
b) Estipulem prazos para a solução dos problemas decorrentes da relação de consumo.
c) Autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, mesmo quando igual direito seja conferido
ao consumidor.
d) Determinem a utilização consensual da arbitragem.
e) Utilizem o Código de Defesa do Consumidor como parâmetro.

Comentários

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Cláusulas abusivas são aquelas que exorbitam os parâmetros estabelecidos pelo Código de Defesa do
Consumidor. São nulas de pleno direito como se nunca tivessem produzido qualquer efeito. A alternativa
‘a’ é a única que se encontra prevista no art. 51, XVI do CDC. As demais não encontram previsão em nenhum
diploma legal.

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA PROFESSOR QUESTÕES


Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes 2
Direito Administrativo Bruno Betti 2
Direito Civil Edon Rodarte 2
Direito Processual Civil Edon Rodarte 1
Direito Penal Flávio Milhomem 2
Direito Processual Penal Guilherme Rezende 1
Legislação Penal Especial Alex Fadel 1
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes 1
Direito Tributário Mateus Pontalti 1
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa 1
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Defina as garantias constitucionais, esclarecendo a relação entre direitos fundamentais,
garantias e remédios constitucionais. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

A expressão “garantias constitucionais” é recoberta de duplo significado.

Numa significação, as garantias constitucionais funcionam como instrumentos, próprios do Estado de


Direito, de limitação do poder político, em proveito das pessoas. Far-se-á melhor designá-las como
“garantismo constitucional” (FARIAS, Cristiano Chaves. Garantismo Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2006, p. 54.)

Noutra significação, as garantias constitucionais figuram como formalidades que asseguram o exercício dos
direitos fundamentais, pelo mecanismo da coerção, das condutas contra eles direcionadas, a permanecerem
nos limites da ordem jurídica, com a finalidade de proteger os seus titulares contra violações de qualquer
natureza. Far-se-á melhor denominá-las “garantias constitucionais em sentido estrito” (GRINOVER, Ada
Pellegrini. Garantias Constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 36).

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Debruçando-se sobre o tema, os três institutos – direitos fundamentais, garantias e remédios constitucionais
– encontram-se correlacionados, tendo como ponto de confluência o princípio da inafastabilidade do
controle judicial, sendo exato que a todo direito corresponde uma garantia constitucional que o assegura,
bem como a toda garantia constitucional corresponde um remédio que a torna eficaz, em atenção ao art.
5º, inc. XXXV, da Constituição da República.

Questão 2. Discorra sobre as ações afirmativas no Direito brasileiro. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

As affirmative actions, por cujas origem, meios e fins perpassaremos sinteticamente, são definidas como
políticas ou programas, públicos ou privados, que objetivam conceder algum tipo de benefício a minorias ou
grupos sociais que se encontrem em condições desvantajosas em determinado contexto social, em razão de
discriminações, existentes ou passadas.

As ações afirmativas remontam à Lei do Serviço de Libertos (Freedman’s Bureau Act), que instituiu um serviço
no Departamento de Guerra dos Estados Unidos para dispensar cuidados e proteção aos escravos libertos e
realizar a supervisão de terras abandonadas em 1865.

As ações afirmativas são efetivadas pelo sistema de cotas ou sistema de pontuação, assim como pela oferta
de treinamentos profissionais e reformulação de políticas de contratação e promoção de empregados.

As ações afirmativas são efetuadas para o estabelecimento de relações de emprego, bem como para a
delegação de serviços de comunicação social, contratação e dispêndio de recursos públicos e admissão em
instituições de ensino superior, com diferentes fundamentações filosófica e jurídica.

JURISPRUDÊNCIA

“Concurso público. Pessoa portadora de deficiência. Reserva percentual de cargos e empregos


públicos (CF, art. 37, VIII). Ocorrência, na espécie, dos requisitos necessários ao reconhecimento
do direito vindicado pela recorrente. Atendimento, no caso, da exigência de compatibilidade
entre o estado de deficiência e o conteúdo ocupacional ou funcional do cargo público disputado,
independentemente de a deficiência produzir dificuldade para o exercício da atividade funcional.
Pessoa portadora de necessidades especiais cuja situação de deficiência não a incapacita nem a
desqualifica, de modo absoluto, para o exercício das atividades funcionais. Inadmissibilidade da
exigência adicional de a situação de deficiência também produzir “dificuldades para o
desempenho das funções do cargo”. Reconhecimento, em favor de pessoa comprovadamente
portadora de necessidades especiais, do direito de investidura em cargos públicos, desde que –
obtida prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos dentro da reserva
percentual a que alude o art. 37, VIII, da Constituição – a deficiência não se revele absolutamente
incompatível com as atribuições funcionais inerentes ao cargo ou ao emprego público.
Incidência, na espécie, das cláusulas de proteção fundadas na Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Incorporação desse ato de direito internacional
público, com eficácia e hierarquia de norma constitucional (CF, art. 5º, § 3º), ao ordenamento
doméstico brasileiro (Decreto nº 6.949/2009). Primazia da norma mais favorável: critério que
deve reger a interpretação judicial, em ordem a tornar mais efetiva a proteção das pessoas e dos

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grupos vulneráveis. Precedentes. Vetores que informam o processo hermenêutico concernente


à interpretação/aplicação da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas portadoras
de deficiência (Artigo 3). Mecanismos compensatórios que concretizam, no plano da atividade
estatal, a implementação de ações afirmativas. Necessidade de recompor, pelo respeito à
diversidade humana e à igualdade de oportunidades, sempre vedada qualquer ideia de
discriminação, o próprio sentido de igualdade inerente às instituições republicanas. Parecer
favorável da Procuradoria-Geral da República. Recurso ordinário provido” (STF, RMS nº
32.732/DF, Rel. Min. Celso de Mello, J. 13.05.2014, DJU 19.05.2014).

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Explique, de maneira sucinta, como ocorre a responsabilidade civil do Estado por atos notariais

Comentários

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o Estado possui responsabilidade civil direta e primária pelos
danos que tabeliães e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
Ademais, o Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no
exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos
casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.

Por outro lado, a legislação acerca de notários e registradores trata a matéria de forma diferente, de modo
que a responsabilidade do notário seria subjetiva. Assim, conforme dispõe o art 22 da Lei nº 8.935 de 1994,
os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na
pratica de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa
dos prepostos.

De acordo com Marcio André Cavalcante, a responsabilidade civil dos notários e registradores não precisa
ser, necessariamente, objetiva, tal qual prevê o art. 37, § 6º da CF/88 considerando que o constituinte
facultou ao legislador a opção de estipular regra diversa. Em outras palavras, a própria Constituição Federal
retirou o assento constitucional da regulação da responsabilidade civil e criminal dos notários, relegando-a
à autoridade legislativa.

A disciplina conferida à matéria pelo legislador consagra a responsabilidade civil subjetiva dos notários e
oficiais de registro. Portanto, não compete ao STF fazer interpretação analógica e extensiva, a fim de
equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de notários ao das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, da CF/88)

Questão 2. Disserte de maneira detalhada os efeitos da fase declaratória da desapropriação

Comentários

A declaração de desapropriação não tem o condão de suprimir a propriedade do particular.

São efeitos da declaração:

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A Declaração Fixa o Estado do Bem

É com a declaração que se saberá o valor da indenização a ser paga pelo poder público.

De acordo com o art. 26, § 1º do DL 3.365/41, as benfeitorias necessárias serão indenizadas, ainda que feitas
após a declaração de desapropriação. Por sua vez, as benfeitorias úteis serão indenizadas somente se
autorizadas pelo poder público. Por fim, as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas.

Ainda, o art. 2º, § 4º da Lei nº 8629/93 afirma que, no caso de reforma agrária, não será considerada qualquer
modificação introduzida ou ocorrida até 6 meses após a data da comunicação da desapropriação. As
modificações poderão ocorrer após esses 6 meses.

SÚMULA Nº 23 - VERIFICADOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O LICENCIAMENTO DA OBRA,


NÃO O IMPEDE A DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA PARA DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL,
MAS O VALOR DA OBRA NÃO SE INCLUIRÁ NA INDENIZAÇÃO, QUANDO A DESAPROPRIAÇÃO FOR
EFETIVADA.

2. Direito de Penetração – art. 7º do DL 3.365/41

Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a penetrar nos prédios
compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial.

O direito de penetração não transfere a posse. O poder público entra, mas sai do bem, exatamente por não
haver a posse. A penetração ocorre para que o expropriante adentre no bem para realizar determinadas
atividades.

3. Início do prazo decadencial para que a fase executória tenha Início

A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de 5 anos,


contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. Neste caso, somente
decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração. Em outras palavras, tem-se o prazo
de 5 anos da data da expedição do decreto para iniciar a fase executória. Passado o prazo, somente depois
de 1 ano é que o bem poderá ser objeto de nova declaração. Isto de acordo com o art. Art. 10 do DL 3.365/41.

O prazo de 5 anos refere-se para a declaração de utilidade pública. No caso de interesse social, o prazo de
caducidade será de 2 anos, de acordo com o art. 2º da Lei nº 4.132/62.

4. Preferência daquele ente que declara um bem para desapropriação em 1º lugar, quando 2 entes de mesma
hierarquia desejam desapropriar um bem móvel

Observe que a preferência ocorre somente do bem móvel, afinal, em relação ao bem imóvel somente o ente
em que este se situa poderá proceder com a declaração de desapropriação.

5. Imissão Provisória na Posse

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Para que haja a imissão provisória na posse é necessário a presença de 2 requisitos, quais sejam, 1) a
declaração de urgência e 2) que seja depositado o valor de acordo com o que a lei estabelecer, independente
da citação do réu.

Observe que presente ambos os requisitos, o expropriante tem direito subjetivo à imissão provisória na
posse, não podendo o juiz indeferi-la.

A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão
provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. Excedido o prazo não será concedida
a imissão provisória.

A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente.

Se houver concordância, reduzida a termo, do expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na


posse implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o consequente registro da propriedade
na matrícula do imóvel.

A concordância escrita do expropriado não implica renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado
em juízo.

Na hipótese deste artigo, o expropriado poderá levantar 100% (cem por cento) do depósito.

Do valor a ser levantado pelo expropriado devem ser deduzidos os valores dispostos nos §§ 1o e 2o do art.
32 deste Decreto-Lei, bem como, a critério do juiz, aqueles tidos como necessários para o custeio das
despesas processuais.

Observe que a imissão é uma situação facultada ao expropriante. Não é obrigatório requerer a imissão
provisória. Contudo, na desapropriação por reforma agrária, a imissão provisória é fase obrigatória, nos
termos do art. 6º, I da LC nº 76/93.

Por fim, observe que o art. 1º do DL 1.075/70, que versa sobre a desapropriação de prédio urbano residencial
possibilita também a imissão provisória na posse, mediante o depósito do preço oferecido. Este depósito
pode ser impugnado. Havendo a impugnação, o juiz fixará, em 48 horas, o valor provisório do imóvel. Quando
o valor arbitrado for superior à oferta, o juiz só autorizará a imissão provisória na posse do imóvel, se o
expropriante complementar o depósito para que este atinja a metade do valor arbitrado.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Conceitue codicilo e aponte suas principais características.

Comentários

O codicilo é um negócio jurídico unilateral de última vontade, pelo qual o autor da herança dispõe sobre
bens de pequena monta ou sobre seu funeral. Por meio dele, seu autor poderá expressa certas

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manifestações de vontade, a respeito de providências menores que quer ver atendidas62 após seu
falecimento.

Dispõe o artigo 1.881 do Código Civil:

Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer
disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

É cediço, ainda, que é possível, por meio do codicilo, a nomeação ou substituição de testamenteiro; a
manifestação de perdão ao indigno; e, ainda, o reconhecimento voluntário de filhos.

Ao contrário do testamento, o codicilo apresenta forma simplificada: não exige a presença de testemunhas
e nem registro; basta a capacidade testamentária, podendo ser feito de próprio punho, por meios mecânicos
ou eletrônicos, sempre com data e assinatura – elementos estes essenciais para o reconhecimento da
validade dessa manifestação de vontade.

É possível sua revogação, assim como qualquer outra manifestação de vontade. Nesse sentido, um codicilo
pode revogar outro anteriormente elaborado; no caso de testamento posterior, de qualquer natureza, este
poderá revogar o codicilo, desde que não o confirme ou modifique – o contrário, no entanto, não é possível;
ou seja, um codicilo não tem o condão de revogar um testamento, diante das formalidades exigidas a este.

Questão 2. É possível legado de coisa incerta? Explique e indique o fundamento legal.

Comentários

O legado de coisa incerta é possível em situações excepcionais, de acordo com o que estabelece o artigo
1.915 do Código Civil: se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo cumprido, ainda
que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.

Com efeito, caso haja testamenteiro, a este caberá cumprir tal determinação. Contudo, se não houver pessoa
especificamente designada para o cumprimento do legado, caberá aos herdeiros e, não os havendo, aos
legatários, na proporção do que herdaram – segundo o artigo 1.934.

Bem assim, o artigo 1.929 estabelece que: se o legado consiste em coisa determinada pelo gênero, ao
herdeiro tocará escolhê-la, guardando o meio-termo entre as congêneres da melhor e pior qualidade. E essa
mesma regra será aplicada no caso de o testador deixar ao arbítrio de um terceiro, ou de um juiz, se aquele
não quiser ou não puder escolher. Ainda, se a escolha couber ao legatário, poderá este escolher, dentre as
coisas do mesmo gênero, o melhor que existir na herança.

62
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2368.

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E esse é o teor dos artigos 1.930 e 1.931 do Código civilista:

Art. 1.930. O estabelecido no artigo antecedente será observado, quando a escolha for deixada
a arbítrio de terceiro; e, se este não a quiser ou não a puder exercer, ao juiz competirá fazê-la,
guardado o disposto na última parte do artigo antecedente.

Art. 1.931. Se a opção foi deixada ao legatário, este poderá escolher, do gênero determinado, a
melhor coisa que houver na herança; e, se nesta não existir coisa de tal gênero, dar-lhe-á de outra
congênere o herdeiro, observada a disposição na última parte do art. 1.929.

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a competência do juízo estadual para o processamento e julgamento de
demandas de âmbito, a priori, federal.

Comentários

A competência da Justiça Federal, na sistemática processual civil brasileira, é definida pelo artigo 109 da
Constituição Federal, ora pelo critério da causa de pedir, a exemplo das demandas sobre direitos indígenas
(art. 109, XI, CF/88), ora pelas partes da relação jurídica, a exemplo das causas marcadas pela presença da
União, entidade autárquica ou empresa pública federal (art. 109, I, CF/88), ressalvada, neste último caso, a
competência das Justiças Especiais, ao passo que a competência da Justiça Estadual se dispõe de forma
residual, isto é, concentra-se nos feitos não abarcados pelas demais Justiças.

Não obstante, a própria Constituição Federal elenca que lei poderá autorizar que as causas de competência
da Justiça Federal em que forem parte instituição de previdência social e segurado possam ser processadas
e julgadas na justiça estadual quando a comarca do domicílio do segurado não for sede de vara federal, na
forma do artigo 109, §3º, da Magna Carta.

Trata-se de verdadeira delegação da competência da Justiça Federal para a Justiça Estadual, relativamente
às ações em que se discutem benefícios previdenciários. Bem assim, o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 860508/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 820)
(Info 1008), consignou que a competência prevista no § 3º do art. 109 da Constituição Federal, da Justiça
comum, pressupõe inexistência de Vara Federal na Comarca do domicílio do segurado.

Vale ressaltar que essa hipótese não se confunde com as ações acidentárias típicas, relativas a benefícios por
acidente de trabalho, ajuizadas em face do Instituto Nacional de Seguridade Social, as quais são de
competência própria da Justiça Estadual e não por delegação, por força do artigo 109, I, da Constituição
Federal, que prevê: Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a União, entidade
autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho.

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3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, MANOEL PIMPÃO enviou mensagens diárias,
muitas das vezes mais de uma vez ao dia, para o telefone de sua professora de Direito Penal, afirmando
tratar-se ela da mulher da sua vida, com quem pretendia ter uma dezena de filhos e ser feliz para sempre;
e mesmo depois de solicitado que interrompesse tal comportamento, Manoel manteve a perseguição.
Constrangida com o assédio, e temerosa pelo seu bem estar, a vítima registrou ocorrência policial no dia
31 de março. No dia seguinte, o Delegado de Polícia, analisando a notícia de fato, classificou-a como crime
de perseguição, previsto no art. 147-A do Código Penal, por força da entrada em vigor, naquele mesmo dia
da Lei nº 14.132/21, que tipificou o “Stalking”.
Considerou ainda a autoridade policial que se encontravam presentes as circunstâncias de violência de
gênero, que justificavam a majoração da pena e permitiam a instauração de inquérito policial, no lugar do
termo circunstanciado.
Na qualidade de Promotor de Justiça, ao receber o inquérito policial, você oferecerá a denúncia com a
classificação jurídica adotada pelo Delegado de Polícia? Fundamente.

Comentários

O Código Penal adotou a teoria da ação para determinar o tempo do crime. CP, art. 4º: Considera-se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário determinar o momento da prática do fato, o
momento da ação ou omissão. Regido pelo princípio da anterioridade e, consequentemente, pela aplicação
da lei penal mais favorável ao acusado, tem-se que o Direito Penal adota as regras de irretroatividade da lei
penal mais prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da lei penal mais benéfica (in melius).

O conflito intertemporal de leis penais resolve-se, assim, da seguinte maneira:

• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada ultrativamente ao fato cometido à sua época.

• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei revogadora, é esta que deverá ser aplicada retroativamente.

Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após sua
revogação, em razão de sua natureza mais benéfica.

A Lei nº 14.132/21 foi publicada no dia 1º de abril de 2021, tipificando o crime de perseguição, nos seguintes
termos:

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade
física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.

Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

I – contra criança, adolescente ou idoso;

II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código;

III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.

O referido diploma legal revogou expressamente o art. 65 da Lei de Contravenções Penais, que previa:

Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável:
(Revogado pela Lei nº 14.132, de 2021)

Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos
de réis.

Em face da continuidade normativo-típica da conduta prevista na Lei de Contravenções Penais, constata-se


que a Lei nº 14.132/21, que entrou em vigor após o encerramento da conduta praticada por PIMPÃO,
representa um agravamento do tratamento jurídico-penal reservado ao fato abstratamente considerado, já
que passa a prever a pena de reclusão de até 3 (três) anos para infração penal até então punida com prisão
simples de, no máximo, 02 (dois) meses.

Diante de tal situação, por interpretação do art. 2º, Parágrafo único, do Código Penal, o Promotor de Justiça
deve adotar a classificação jurídica constante do art. 65 da Lei de Contravenções Penais; oferecendo, por
conseguinte, proposta de transação penal ao suspeito, caso verificadas as circunstâncias subjetivas.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
O Código Penal adotou a teoria da ação para determinar
o tempo do crime. CP, art. 4º: Considera-se praticado o
Tempo do crime 30%
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário
determinar o momento da prática do fato, o momento
Princípio da
da ação ou omissão. Regido pelo princípio da 30%
anterioridade
anterioridade e, consequentemente, pela aplicação da
lei penal mais favorável ao acusado, tem-se que o Direito

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Penal adota as regras de irretroatividade da lei penal


mais prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da lei penal
mais benéfica (in melius).
Em face da continuidade normativo-típica da conduta
prevista na Lei de Contravenções Penais, constata-se que
a Lei nº 14.132/21, que entrou em vigor após o
encerramento da conduta praticada por PIMPÃO,
representa um agravamento do tratamento jurídico-
penal reservado ao fato abstratamente considerado, já
que passa a prever a pena de reclusão de até 3 (três)
Maior gravosidade da Lei anos para infração penal até então punida com prisão
30%
nº 14.132/21. simples de, no máximo, 02 (dois) meses.

Diante de tal situação, por interpretação do art. 2º,


Parágrafo único, do Código Penal, o Promotor de Justiça
deve adotar a classificação jurídica constante do art. 65
da Lei de Contravenções Penais; oferecendo, por
conseguinte, proposta de transação penal ao suspeito,
caso verificadas as circunstâncias subjetivas.
Questão 2. No dia 5 de fevereiro de 2021, João das Dores, motorista de caminhão, durante parada em
posto de gasolina para pernoite, abordou a adolescente X.Y.Z, propondo-lhe conjunção carnal, em troca
de remuneração, o que foi aceito pela menor.
Ao descer do caminhão, a adolescente foi abordada por conselheiros tutelares que faziam fiscalização no
local, confirmando a relação sexual em troca de dinheiro com o caminhoneiro.
João das Dores foi preso em flagrante delito por policiais militares que acompanhavam a fiscalização, e
autuado na Delegacia de Polícia por violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. 218-B do
Código Penal.
Em audiência de custódia, o autuado obteve a liberdade provisória; tendo o auto de prisão em flagrante
sido encaminhado ao Ministério Público para análise.
Antes do oferecimento da denúncia, no entanto, o advogado do acusado ajuizou Habeas Corpus,
pleiteando o trancamento da investigação policial, em face da atipicidade da conduta do autuado.
A tese sustentada foi a de que o crime previsto no art. 218-B do Código Penal (Favorecimento da
prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável) exigiria
a intermediação de um terceiro entre a adolescente e o suspeito da prática delituosa.
Na manifestação ministerial, você opinaria pelo acolhimento da tese sustentada no remédio heroico?
Fundamente.

Comentários

Apesar de o nomen juris do tipo em questão ter deixado de ser "favorecimento da prostituição ou outra
forma de exploração sexual de vulnerável" para evitar confusão terminológica com a figura do vulnerável do
art. 217-A do CP, é inegável que o legislador, em relação à pessoa menor de 18 e maior de 14 anos, trouxe
uma espécie de presunção relativa de vulnerabilidade.

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Nesse ensejo, a exploração sexual é verificada sempre que a sexualidade da pessoa menor de 18 e maior de
14 anos é tratada como mercancia.

A norma penal não exige a figura do intermediador, além disso, o ordenamento jurídico reconhece à criança
e ao adolescente o princípio constitucional da proteção integral, bem como o respeito à condição peculiar
de pessoa em desenvolvimento.

Assim, é lícito concluir que a norma traz uma espécie de presunção relativa de maior vulnerabilidade das
pessoas menores de 18 e maiores de 14 anos. Logo, quem, se aproveitando da idade da vítima, oferece-lhe
dinheiro em troca de favores sexuais está a explorá-la sexualmente, pois se utiliza da sexualidade de pessoa
ainda em formação como mercancia, independentemente da existência ou não de terceiro explorador. (Info
690/STJ)

O delito previsto no art. 218-b, § 2°, inciso I, do Código Penal, na situação de exploração sexual, não exige a
figura do terceiro intermediador, comforme entendimento uniformizado pela Terceira Seção do STJ (EREsp
1.530.637/SP, rel. Min. Ribeiro dantas, terceira seção, por maioria, julgado em 24/03/2021.)

Diante de tal entendimento, a manifestação ministerial, em sede de Habeas Corpus, deve ser pelo não
acolhimento do writ; possibilitando-se, assim, o ajuizamento da respectiva ação penal.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Apesar de o nomen juris do tipo em questão ter deixado
de ser "favorecimento da prostituição ou outra forma de
Presunção de exploração sexual de vulnerável" para evitar confusão
vulnerabilidade do terminológica com a figura do vulnerável do art. 217-A 30%
adolescente do CP, é inegável que o legislador, em relação à pessoa
menor de 18 e maior de 14 anos, trouxe uma espécie de
presunção relativa de vulnerabilidade.
Assim, é lícito concluir que a norma traz uma espécie de
presunção relativa de maior vulnerabilidade das pessoas
Desnecessidade de menores de 18 e maiores de 14 anos. Logo, quem, se
intermediados para aproveitando da idade da vítima, oferece-lhe dinheiro 30%
configuração do crime em troca de favores sexuais está a explorá-la
sexualmente, pois se utiliza da sexualidade de pessoa
ainda em formação como mercancia,

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independentemente da existência ou não de terceiro


explorador. (Info 690/STJ)

O delito previsto no art. 218-b, § 2°, inciso I, do Código


Penal, na situação de exploração sexual, não exige a
figura do terceiro intermediador, comforme
entendimento uniformizado pela Terceira Seção do STJ
(EREsp 1.530.637/SP, rel. Min. Ribeiro dantas, terceira
seção, por maioria, julgado em 24/03/2021.)
Diante de tal entendimento, a manifestação ministerial,
em sede de Habeas Corpus, deve ser pelo não
Manifestação ministerial 30%
acolhimento do writ; possibilitando-se, assim, o
ajuizamento da respectiva ação penal.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Explique no que consiste a sentença vazia.

Comentários

Segundo classificação doutrinária, a sentença vazia consiste na sentença sem fundamentação, que difere,
portanto, da sentença suicida e da sentença autofágica. A primeira é aquela em que há contradição entre a
fundamentação e o dispositivo, e a segunda é aquela que se “consome”, reconhecendo a pretensão punitiva
estatal, deixando, porém, de aplicar a pena, como é o caso da decisão concessiva do perdão judicial.

Importante frisar que o Pacote Anticrime alterou a redação do artigo 315, §2º, do CPP, dizendo não se
considerar fundamentada qualquer decisão judicial que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua


incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) (Vigência)

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos


determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

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VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,


sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

São hipóteses de sentença vazia!

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Discorra sobre o dolo no crime de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses legais ou
deixar de observar as formalidades da dispensa ou inexigibilidade (art. 89, da Lei n.º 8.666/93), à luz do
entendimento do Superior Tribunal de Justiça (máximo 15 linhas).

Comentários

O crime do art. 89, da Lei n.º 8.666/93 é tipo misto alternativo e próprio, vez que somente poderá ser sujeito
ativo do crime os agentes públicos ou equiparados, que são aqueles que se encaixam no conceito do art. 84,
da Lei de Licitações:

Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que exerce, mesmo que
transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público.

§1o Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações, empresas públicas e
sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle, direto ou indireto, do Poder
Público.

§2o A pena imposta será acrescida da terça parte, quando os autores dos crimes previstos nesta
Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de função de confiança em órgão da
Administração direta, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, fundação
pública, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo Poder Público.

Esse tipo penal é doloso e, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça63, para a sua
configuração é indispensável a comprovação do dolo específico do agente em causar dano ao erário e a
demonstração do prejuízo à administração pública. Confira:

DIREITO SANCIONADOR. AGRAVO INTERNO EM ARESP. ACP DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS CARREADOS NO

63 Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 134: DOS CRIMES DA LEI DE LICITAÇÃO – LEI N. 8.666/1993. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.

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MUNICÍPIO DE VIÇOSA/MG. PRETENSÃO DO ENTÃO ALCAIDE DE AFASTAMENTO DA


CONDENAÇÃO POR CONDUTA ÍMPROBA. LESÃO AOS COFRES PÚBLICOS EXTENSIFICADA PELAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 10 DA LEI 8.429/1992. AGRAVO
INTERNO DO IMPLICADO DESPROVIDO.

1. Cinge-se a controvérsia em analisar se a conduta imputada ao demandado, então Prefeito do


Município de Viçosa/MG, cifrada a supostas irregularidades em procedimento licitatório, pode
ser qualificada como ímproba.

2. Acerca do tema, as Turmas desta Corte Superior especializadas em Direito Penal firmaram a
diretriz de que, para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993 [dispensa
ou inexigibilidade de licitação fora das hipóteses legais] exige-se a presença do dolo específico
de causar dano ao erário e a caracterização do efetivo prejuízo (REsp. 1.485.384/SP, Rel. Min.
REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 2.10.2017; REsp. 1.367.663/DF, Rel. Min. NEFI CORDEIRO,
DJe 11.9.2017). 3. […] (AgInt no AREsp 1370933/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2020, DJe 17/11/2020 – negritamos).

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 89 DA LEI N. 8.666/1993. DISPENSA DE LICITAÇÃO MEDIANTE


FRACIONAMENTO DA CONTRATAÇÃO. DOLO ESPECÍFICO. INTENÇÃO DE LESAR A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PREJUÍZO EFETIVO AO ERÁRIO. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO.
CONDUTA. ATIPICIDADE. EXTENSÃO DA ORDEM AOS CORRÉUS (ART. 580 C/C ART. 654, § 2º,
AMBOS DO CPP).

1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmada a partir do julgamento


da APn n. 480/MG, a consumação do crime do art. 89 da Lei n. 8.666/1993 exige a demonstração
do dolo específico, ou seja, a intenção de causar dano ao Erário e a efetiva ocorrência de
prejuízo aos cofres públicos.

2. Hipótese em que o paciente, prefeito do município, foi condenado como incurso no art. 89 da
Lei n. 8.666/1993, por ter, juntamente com os membros da comissão de licitação, fracionado o
serviço de transporte escolar em vários roteiros para, considerando o valor isolado de cada uma
das linhas, dispensar o processo licitatório, em desacordo com o que determina o art. 23, §§ 2º
e 5º e art. 24, II, da Lei n. 8.666/1993.

3. Observa-se, contudo, a existência de condenação baseada no dolo genérico (dispensa ou


inexigibilidade de licitação, fora das hipóteses legais, com o objetivo de direcionamento da
contratação), o que, segundo a jurisprudência desta Corte, não é suficiente para sustentar o
decreto condenatório.

4. A sentença não fez qualquer referência à existência de deliberada intenção de causar prejuízos
à Administração Pública ou à efetiva ocorrência do dano. Ao contrário, o magistrado de primeiro
grau reconhece que os serviços foram prestados e, ao afastar a conduta prevista no art. 1°, inciso
I, do Decreto-Lei n. 201/67, afirma, categoricamente, inexistir nos autos provas suficientes para
comprovar o dolo do denunciado de efetuar pagamentos aos contratados superiores aos
ajustados, sem qualquer justificativa para tanto.

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5. Ordem concedida para absolver o paciente Cesar Augusto de Freitas, com fundamento no
art. 386, III, do Código de Processo Penal, da imputação da prática do crime previsto no art. 89
da Lei n. 8.666/1993, com extensão dos efeitos aos corréus Ronildo Vieira Maciel, Tereza Maria
Lopes de Brito e Amarildo Bezerra Leite (art. 580 do CPP). Pedido de reconsideração da decisão
que apreciou o pleito liminar prejudicado. Comunique-se, com urgência, ao Juízo da 37ª Vara
Federal da Subseção Judiciária de Caruaru/PE e à Primeira Turma do Tribunal de Justiça de
Pernambuco. (HC 588.359/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 14/09/2020 – negritamos).

Assim, não estando configurado o dolo específico, não constituirá o fato infração penal.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. O candidato com registro deferido pela Justiça Eleitoral, com menos de 6 (seis) meses de
domicílio, poderá ter a sua elegibilidade questionada pelo Ministério Público, em grau de recurso, perante
a Justiça Eleitoral? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

O prazo de 6 (seis) meses de fixação do domicílio eleitoral do candidato na circunscrição territorial é fixado
por norma legal, veiculada pelo art. 9º, caput, initio, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi conferida
pela Lei nº 13.488/17.

Nesse diapasão, como as condições de elegibilidades legais estão subordinadas à preclusão temporal, de
forma que devem ser alegadas em ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura, ressalvadas,
tão somente, as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade supervenientes, em consonância
com os arts. 223, § 3º, e 259 do Código Eleitoral, art. 3º da Lei Complementar nº 64/90 e art. 11, § 10, da Lei
nº 9.504/97, incluído pela Lei nº 12.034/09, o candidato com registro deferido pela Justiça Eleitoral, com
menos de 6 (seis) meses de domicílio, não poderá ter a sua elegibilidade questionada pelo Ministério Público,
em grau de recurso, perante a Justiça Eleitoral.

JURISPRUDÊNCIA

“Eleições 2012. Agravos regimentais (...). Incide, na espécie, o disposto no art. 11, § 10, da Lei nº
9.504/97, porque constatada alteração jurídica superveniente ao registro de candidatura (...). De
acordo com a jurisprudência desta Corte, cumpre à Justiça Eleitoral, enquanto não cessada a
jurisdição relativamente ao registro de candidato, levar em conta fato superveniente” (STF, AI
nº 35.425, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU 26.08.2014).

3.9 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Disserte sobre o artigo 166 do Código Tributário Nacional (máximo 45 linhas)

Comentários

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Trata-se de dispositivo que tem provocado controvérsias tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

Por força desse dispositivo, tratando-se de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do
respectivo encargo financeiro, a restituição somente será feita a quem prove haver assumido o referido
encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la.

A interpretação desse dispositivo passa pela construção de sentido dessas duas expressões que grifamos
acima. O que significa transferência do respectivo encargo financeiro? Quem é aquele que, assumindo o
encargo, tem direito à restituição?

Duas são as possibilidades de interpretação da expressão transferência do respectivo encargo financeiro.


Pela primeira, o dispositivo estaria se referindo à transferência econômica do encargo financeiro. Assim,
sempre que o contribuinte de direito repasse o custo da tributação a um terceiro – o contribuinte de fato –
incidiria o disposto no artigo 166. Pela segunda interpretação, a transferência a que o dispositivo faria
referência não seria a econômica, mas a jurídica. Desse modo, só haveria a incidência do artigo 166 nos casos
em que a própria legislação estabelecesse a transferência do ônus tributário.

O problema da interpretação econômica é que não é fácil saber quando um tributo foi ou não transferido a
terceiro. Luís Eduardo Schoeuri64, levando apenas em consideração as variáveis apontadas por Cesare
Cosciani, realizou cálculo matemático combinatório e chegou à conclusão de que existe a possibilidade da
ocorrência de 566.231.040 (quinhentos e sessenta e seis milhões, duzentos e trinta e um mil e quarenta)
diferentes situações que podem impactar na eventual translação.

Portanto, esse estudo demonstra a inviabilidade da interpretação segundo a qual o artigo 166 se aplicaria
sempre que houvesse a transferência econômica da tributação, pela impossibilidade de aferição de quando
isso ocorreu.

Assim, a expressão transferência do respectivo encargo financeiro deve ser compreendia como transferência
jurídica do respectivo encargo financeiro, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça em alguns
julgados.65

A rigor, há apenas dois tributos em que há a transferência jurídica do respectivo encargo financeiro:
Referimo-nos ao ICMS e ao IPI, em razão de em ambos os impostos incidir a sistemática da não
cumulatividade, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas
operações anteriores.

Apesar disso, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que também o ISSQN comporta, como regra, a
transferência do respectivo encargo financeiro, enquadrando-se na regra do artigo 16666.

64
SCHOEURI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 69
65
STJ, 1ª T., AgREsp 436.894/PR, Min. José Delgado, dez. 2002
66
EREsp 873.616/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe 1º/02/2011

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Portanto, à luz dessas premissas e da jurisprudência dominante, podemos afirmar que o artigo 166 pode
incidir apenas com relação aos seguintes tributos: ICMS, IPI e ISSQN. Nos demais, não há repasse jurídico do
respectivo encargo financeiro, aplicando-se a regra geral do artigo 165.

Agora, cabe enfrentarmos a segunda indagação, para responder quem é aquele que tem legitimidade para
pleitear a restituição.

Quanto ao tema, o Superior Tribunal de Justiça parece ter resolvido a celeuma nos julgamentos do REsp
903394 e do REsp 1299303, ambos apreciados sob a sistemática dos recursos repetitivos.

No primeiro julgado67, a Corte entendeu que somente o contribuinte de direito tem legitimidade para pedir
a restituição, desde que comprove que não repassou o custo da tributação ou, no caso ter repassado, tenha
a autorização do terceiro.

No segundo julgado, o Superior Tribunal de Justiça considerou que aquele entendimento não se aplicava aos
casos de repetição de indébito envolvendo a incidência do ICMS sobre a demanda de energia elétrica
contratada e não utilizada68. O argumento foi o de que, nesses casos, a lei expressamente autoriza a
concessionária a repassar o custo da tributação ao consumidor final (art. 9º, § 3º, da Lei 8.987/1995), razão
pela qual a empresa não teria nenhum incentivo para questionar as exigências indevidas.

Embora o julgado tenha sido bastante específico, abarcando apenas o ICMS incidente sobre a energia
elétrica, seus fundamentos podem ser aplicados a qualquer serviço público que seja prestado sob o regime
de concessão ou permissão.

Portanto, acerca do artigo 166 do Código Tributário Nacional, é possível fazer a seguinte síntese:

1º: De um modo geral, a regra se aplica ao ICMS, IPI e ISSQN;


2º: Como regra geral, apenas o contribuinte de direito é quem tem a legitimidade para pleitear
a repetição do indébito, desde que não tenha repassado o custo da tributação ou tenha obtido a
autorização do terceiro;
3º: Quanto aos serviços concedidos, o contribuinte de fato – consumidor final – tem legitimidade
para pleitear a repetição do indébito nos tributos indiretos incidentes sobre serviços concedidos.

3.10 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. No que consiste o princípio da residualidade, em sede de processo coletivo?

Comentários

67
REsp 903.394/AL, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/03/2010, DJe 26/04/2010
68
REsp 1299303/SC, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012, DJe 14/08/2012

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O princípio da residualidade consiste na possibilidade de ampliação do rol de objetos jurídicos tutelados na


lei 7.347/85, desde que seja possível o enquadramento no macro tema. Assim, no inciso IV do art. 1º da
LACP, verifica-se que esta lei abrange “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”, sendo estes, qualquer
um não mencionado no demais sete incisos do art. 1º, mas que carregam consigo as mesmas características
dos direitos coletivos em sentido amplo, mencionados no art. 81 do CDC.

3.11 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. O art. 128, § 5º, inc. II, “d”, da Constituição Federal dispõe que é vedado ao membro do
Ministério Público exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
magistério. Pergunta-se: os membros do Ministério Público do Estado, interessados em também exercer
o magistério, dependem de prévia autorização? Em caso positivo, quais os critérios adotados para se
autorizar o exercício do magistério?

Comentários

Consoante o art. 128, § 5º, inc. II, “d”, da Constituição da República, o exercício do magistério não é
incompatível com o desempenho das funções institucionais do Ministério Público (PINHO, Humberto Dalla
Bernardina de. Princípios Institucionais do Ministério Público. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.
121).

O art. 2º, caput, da Resolução GPGJ nº 73, de 15 de junho de 2011, que “dispõe sobre o acúmulo do exercício
das funções ministeriais com o exercício do magistério por membros do Ministério Público da União e dos
Estados”, estabelece que o desempenho da docência é permitido, em qualquer hipótese, se houver
compatibilidade de horário com o do exercício das funções ministeriais, e desde que o membro do Parquet
o faça em sua comarca ou circunscrição de lotação, ou na mesma região metropolitana.

Os membros do Ministério Público do Estado, interessados em também exercer o magistério, não dependem
de prévia autorização, ressalvada, tão somente, o desempenho da docência em comarca ou circunscrição
próxima, nos termos de ato normativo e em hipóteses excepcionais, devidamente fundamentadas, hipótese
em que a Corregedoria-Geral do Ministério Público deverá informar anualmente à Corregedoria Nacional os
casos em que foi autorizado pela unidade o exercício da docência fora do município de lotação, tendo em
vista os arts. 2º, § 1º, e 4º, parágrafo único, do ato normativo em epígrafe.

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