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Rodadas para MPEs - Membro do


Ministério Público - Regular

Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque

10 de Dezembro de 2020
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 07

Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4

1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 6

1.1 - Direito Constitucional ............................................................................................................................. 6

1.1.1 - Controle Abstrato-Principal: Definição .................................................................................................................. 6

1.1.2 - Controle Abstrato-Principal: Processo Objetivo .................................................................................................... 6

1.1.3 - Controle Abstrato-Principal: Ações Diretas ........................................................................................................... 7

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 7

1.2.1 - Cláusulas Exorbitantes ........................................................................................................................................... 7

1.2.2 - Desapropriação Indireta ...................................................................................................................................... 10

1.2 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 13

1.2.1 - Condomínio em Multipropriedade ...................................................................................................................... 13

1.2.2 - Regime de Bens ................................................................................................................................................... 16

1.2.3 - Do Abuso de Direito ............................................................................................................................................ 20

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 22

1.4.1 - Do Litisconsórcio.................................................................................................................................................. 22

1.4.2 - Do Amicus Curiae ................................................................................................................................................ 25

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 28

1.5.1 - Tentativa e Iter Criminis Percorrido .................................................................................................................... 28

1.5.2 - Crimes Contra a Honra do Servidor Público – Legitimidade Ativa ...................................................................... 29

1.5.3 - Homicídio, Idade da Vítima e Bis In Idem ............................................................................................................ 30

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 31

1.6.1 - O Reconhecimento Fotográfico como meio de Prova no Processo Penal .......................................................... 31

1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 39

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1.7.1 - Finalizando os comentários sobre os crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei n.° 13.869/2019) .. 39

1.7.2 - A problemática da reincidência específica na progressão de regime, de acordo com as mudanças promovidas
pelo Pacote Anticrime .................................................................................................................................................... 47

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 51

1.8.1 - Partidos Políticos: Definição ................................................................................................................................ 51

1.8.2 - Partidos Políticos: Natureza ................................................................................................................................ 52

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 52

1.9.1 - Conselho Tutelar.................................................................................................................................................. 52

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 55

1.10.1 - Base de cálculo das taxas .................................................................................................................................. 55

1.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 58

1.11.1 - Formas de atuação e participação do Ministério Público, em sede de processo coletivo (principais diplomas)
........................................................................................................................................................................................ 58

1.11.2 - O princípio da congruência ou da correlação no processo coletivo.................................................................. 59

1.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 60

1.12.1 - Comércio Eletrônico .......................................................................................................................................... 60

1.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 61

1.13.1 - Princípios Institucionais: Definição .................................................................................................................... 61

1.13.2 - Princípios Institucionais: Classificação............................................................................................................... 62

1.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 63

1.14.1 - Transporte “in utilibus” da coisa julgada coletiva. ............................................................................................ 63

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 63

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 64

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 67

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 72

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 77

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2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 80

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 84

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 86

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 89

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 90

2.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 92

2.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 94

2.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 96

2.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 96

2.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 98

3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 99

3.1 - Direito Constitucional ......................................................................................................................... 100

3.2 - Direito Administrativo ........................................................................................................................ 101

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 105

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 106

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 107

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 111

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 113

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 115

3.9 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 116

3.10 - Direitos Difusos e Coletivos .............................................................................................................. 117

3.11 - Legislação Institucional do MP ........................................................................................................ 117

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RODADAS – MPES REGULAR


CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Caro aluno, hoje iniciamos a 1ª Rodada de MPEs. Às quintas-feiras a cada quinzena, publicaremos um
material como este que conterá:

 30 temas específicos e aprofundados, seguindo as disciplinas e a importância de cada uma delas


para a prova;

 49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e

 15 questões discursivas.

Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

É isso! Vamos ao trabalho?

Se houver dúvida de conteúdo, poste-a no fórum.

Caso haja dúvida a respeito do curso, funcionamento, estarei à disposição em:

ecj@estrategiaconcursos.com.br

Boa leitura!

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Prof. Ricardo Torques

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1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Constitucional, vamos discutir um assunto
importante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos
estaduais: o controle abstrato-principal.

1.1.1 - Controle Abstrato-Principal: Definição

O controle de constitucionalidade abstrato-principal, exercido no contexto do processo objetivo, é


deflagrado através das ações diretas sobre as quais versam os arts. 35, inc. IV, 36, inc. III, initio, 102, inc. I e
§ 1º, 103, § 2º, e 125, § 2º, da Constituição da República.

1.1.2 - Controle Abstrato-Principal: Processo Objetivo

A natureza jurídica do processo de controle abstrato-principal é a de processo objetivo.

A respeito, o processo subjetivo, imanente ao controle de constitucionalidade difuso, pela via de exceção,
não se confunde com o processo objetivo, inerente ao controle de constitucionalidade concentrado, pela via
de ação direta, de acordo com cinco critérios.

Lide: no processo subjetivo, pode haver litígio, de arte que a lide é categoria acidental do processo deflagrado
pela via de exceção, e, no processo objetivo, não há litígio, de molde que a lide é categoria inexistente no
processo desencadeado pela via de ação direta.

Partes: no processo subjetivo, há partes individualizadas, dado que a ação é proposta pelo demandante em
face do demandado, enquanto no processo objetivo há uma parte individualizada, eis que a ação é proposta
pelo requerente contra a lei ou ato normativo.

Objeto: no processo subjetivo, há a afirmação da existência, realização prática ou asseguramento da


efetividade, em concreto, do direito material deduzido em juízo ou tribunal, ao inverso do processo objetivo,
no qual há a aferição, em abstrato, da constitucionalidade da lei ou ato normativo.

Eficácia: no processo subjetivo, a decisão de inconstitucionalidade, até a suspensão da execução, por parte
do Senado Federal, da lei ou ato normativo, opera efeitos inter partes, ressalvada a possibilidade de
abstrativização do controle concreto, enquanto no processo objetivo a decisão de inconstitucionalidade,
desde a sua prolatação pelo Supremo Tribunal Federal, opera efeitos erga omnes e vinculante.

Finalidade: no processo subjetivo, o desiderato é tutelar judicialmente direitos subjetivos, posto que estão
em jogo interesses individuais ou metaindividuais, próprios ou alheios, e, no processo objetivo, o fim é tutelar
jurisdicionalmente direito objetivo, visto que está em jogo interesse público na proteção do ordenamento
jurídico.

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1.1.3 - Controle Abstrato-Principal: Ações Diretas

O controle concentrado, instrumentalizado pela via de ação direta, proporciona a declaração de


inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, sustentada como objeto principal da atividade cognitiva, por
dois órgãos judiciais, consistentes no Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça, consoante a
inconstitucionalidade possa ser declarada em face da Constituição da República, Constituição de Estado ou
Lei Orgânica do Distrito Federal, como, por exemplo,

I. ação direta de inconstitucionalidade (art. 102, inc. I, a, initio),


II. ação declaratória de constitucionalidade (art. 102, inc. I, a, in fine),
III. ação direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º),
IV. ação direta de inconstitucionalidade interventiva (art. 36, inc. III, initio),
V. arguição de descumprimento de preceito fundamental (art. 102, § 1º) e,

no âmbito estadual e distrital,

I. representação de inconstitucionalidade (art. 125, § 2º) e


II. ação direta de inconstitucionalidade interventiva (art. 35, inc. IV) .

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 - Cláusulas Exorbitantes

Conceito

São aquelas que dão poderes à Administração Pública dentro da relação contratual, colocando o contratado
sujeito às decisões administrativas. Algumas estão previstas no art. 58 da Lei. Contudo, é possível encontrar
cláusulas exorbitantes em outros lugares da Lei 8.666/93.

As cláusulas exorbitantes podem ser aplicadas nos contratos de direito privado celebrados pela
Administração. Contudo, terão aplicação desde que expressos no contrato. Diferente, nos contratos
administrativos, as cláusulas exorbitantes serão aplicáveis independente de previsão expressa no contrato.
Basta a previsão na legislação para a sua incidência.

OBS: As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos administrativos não poderão ser
alteradas sem prévia concordância do contratado.

Modificação Unilateral do Contrato

A alteração unilateral dos contratos pode ser uma alteração qualitativa e quantitativa.

A alteração qualitativa ocorrerá para melhor adequação técnica aos seus objetivos.

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A alteração quantitativa, na qual o contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os
ACRÉSCIMOS ou SUPRESSÕES que se fizerem nas obras, serviços ou compras de até 25% do valor inicial do
contrato. Caso seja reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50% para os seus ACRÉSCIMOS.
E as supressões desse contrato mantem-se em 25%.

Esses valores não poderão ser modificados, salvo se as SUPRESSÕES resultantes de acordo entre os
contratantes.

Observe que as alterações unilaterais devem recair sobre as cláusulas regulamentares ou de execução. Estas
são aquelas cláusulas que vão estabelecer a forma de execução dos contratos. Ex.: A parede deve ser pintada
de azul. A administração decide modificar unilateralmente e estabelece que vai ser colocado mármore na
parede.

Por sua vez, as cláusulas financeiras ou econômico-financeiras estão relacionadas aos aspectos financeiros
dos contratos, como, por exemplo, o preço.

Quando a alteração das cláusulas regulamentares afetarem as cláusulas financeiras, estas devem ser revistas
com o intuito de manter o equilíbrio financeiro do contrato, por meio de aditamento contratual. Isto está
previsto no art. 58, § 2º e art. 65, § 6º da Lei 8.666/93.

ATENÇÃO: De acordo com o TCU, a alteração qualitativa poderá, excepcionalmente, ultrapassar os limites do
§1º do artigo 65, desde que não altere o objeto contrato.

OBS: O artigo 65, II, da Lei 8.666/93 estabelece a possibilidade de serem realizadas alterações bilaterais.

As alterações por acordo entre as partes ocorrerão nas seguintes situações:

a) quando conveniente a substituição da garantia de execução;

b) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como do modo de
fornecimento, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;

c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias supervenientes,


mantido o valor inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro
fixado, sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço;

d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do contratado e a
retribuição da administração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos
imprevisíveis, ou previsíveis porém de conseqüências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução
do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica
extraordinária e extracontratual.

Por fim, atente-se ao Enunciado 10 do CJF: Em contratos administrativos decorrentes de licitações regidas pela
Lei n. 8.666/1993, é facultado à Administração Pública propor aditivo para alterar a cláusula de resolução de
conflitos entre as partes, incluindo métodos alternativos ao Poder Judiciário como Mediação, Arbitragem e
Dispute Board.

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Rescisão Unilateral, nos casos do art. 78, I a XII e XVII

Fiscalização do Contrato

• A execução do contrato corre por conta e risco do contratado e a fiscalização da Administração não
interfere nessa responsabilidade
• O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, fiscais, previdenciários e comerciais;
• O inadimplemento dos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não se transfere para a
Administração;
• Contudo, em relação aos encargos previdenciários, a Administração responde solidariamente.

OBS: Em relação aos encargos trabalhistas a de se ter em mente a Súmula 331 do TST – A Administração
Pública terá responsabilidade SUBSIDIÁRIA em relação aos encargos trabalhistas quando o inadimplemento
destes decorrer da falta de fiscalização do Poder Público. Perceba que haverá a responsabilidade da
Administração quando houver falha na fiscalização. Não é pelo simples inadimplemento.

Aplicação de Sanções ao Contratado

São derivadas do PODER DISCIPLINAR e devem seguir o Devido Processo Legal.

O artigo 87 traz as penalidades aplicáveis:

I. Advertência;
II. Multa;
III. Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a
ADMINISTRAÇÃO, por prazo não superior a 2 anos;
IV. Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública, no prazo mínimo de
2 anos.

Comentários:

ADMINISTRAÇÃO x ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nos termos do art. 6, XII, Administração é o órgão ou a entidade contratante. Por sua vez, Administração
Pública, nos termos do art. 6º, XI é toda a Administração Pública, Direta ou Indireta.

I. A despeito da distinção feita pela Lei, o STJ entende que a penalidade do art. 87, III impede o
contratado de participar de novas licitações e contratos com toda a Administração Pública.
II. Não há ordem ou gradação legal dessas penalidades. Dessa forma, pode o Administrador Público
aplicar diretamente a penalidade de declaração de inidoneidade.
III. A aplicação da penalidade de declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a
Administração Pública é de competência exclusiva do Ministro de Estado, do Secretário de Estado
estadual e do Secretário de Estado municipal, de acordo com o art. 87, § 3º.

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IV. A penalidade de multa pode ser aplicada isoladamente ou cumulativamente com as demais
penalidades, nos termos do art. 87, § 2º.
V. A aplicação da Declaração de Inidoneidade só abarca as relações jurídicas futuras, razão pela qual
produz efeitos ex nunc.1

Ocupação Provisória de bens móveis, imóveis, pessoas e serviços, para assegurar a continuidade dos
serviços essenciais.

Exigência de Garantia

Aplicação Diferida da Exceptio non adimpleti contractus (Exceção do contrato não cumprido)

É a aplicação da exceção do contrato não cumprido, ou seja, quem não cumprir sua obrigação do contrato,
não poderá exigir que a outra parte cumpra a sua. Em outras palavras, uma parte contratante não pode exigir
da outra o cumprimento de sua obrigação sem que ela mesma tenha cumprido a sua.

Contudo, em relação à Administração Pública isso se aplica de forma postergada, diferida:

I 120 dias, se o contrato for suspenso pela Administração;


II 90 dias, se o contrato não estiver sendo pago pela Administração.

Não se aplica essa cláusula nos casos de guerra, de calamidade pública, ordem interna.

Passados os prazos elencados, o contratado pode SUSPENDER UNILATERALMENTE a execução do contrato


ou pode RESCINDER JUDICIALMENTE.

1.2.2 - Desapropriação Indireta

Conceito

A desapropriação indireta é o fato administrativo pelo qual o Poder Público se apropria de um bem particular,
sem a observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia.2

A expressão também se refere à supressão do direito de propriedade, uma vez que esvazia o conteúdo
econômico da propriedade. Ademais, a expressão pode ser entendida como a ação a ser ajuizada pelo
proprietário do bem esbulhado, requerendo uma indenização.

1 STJ. MS 13.101/DF 2008.

2 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 871

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Importante observar que o direito do expropriado, quando acontece a desapropriação indireta, é somente
a indenização. Isto está legislado no art. 35 do DL 3.365/41. Em outras palavras, quer-se dizer que em nada
afeta o direito de propriedade que tem o Estado sobre o bem expropriado. A sua propriedade se torna
intangível.

O valor a ser pago a título de indenização pode ser considerado meramente estimativo. Dessa forma, pode
o juiz condenar o Poder Público a pagar quantia a maior ao autor, ainda que este tenha requerido uma
indenização de valor menor.3

Ademais, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas.4

De acordo com o STJ, não configura desapropriação indireta quando o Estado limita-se a realizar serviços
públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e
irreversível.5

Legitimidade para Ação

A legitimidade ativa e passiva nesse tipo de ação é inversa à da ação de desapropriação. Observe que o autor
da ação será sempre o ex-proprietário6, ao passo que a ré será a pessoa jurídica de direito público
responsável pela incorporação do bem a seu patrimônio.

Foro

Por ser considerada uma ação de natureza real, a jurisprudência do STF7 manifestou-se no sentido de a ação
dever ser ajuizada no foro do local do imóvel. Não será no domicílio do réu.

Prescrição

3
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p.875

4
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019

5
STJ. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 05/11/2019, DJe
07/11/2019

6
O STJ admite que o promissário comprador é parte legítima a ajuizar a ação, ainda que a promessa de compra e venda não tenha
sido registrada no cartório imobiliário. STJ, REsp 1.204.923 – 2012. Ademais, sendo casado o autor, o STJ também exige a presença
de ambos os cônjuges no polo ativo da ação. STJ, REsp 46.899-0.

7
STF, RE nº 111.988.

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O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é de 10 anos, nos termos do art. 1238 do CC/02.
De acordo com o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante é de que a ação de desapropriação
indireta observará o mesmo prazo da usucapião.8

Esse é o entendimento correto, a despeito da súmula 119 do STJ entender que o prazo da desapropriação
indireta é de 20 anos.

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do EREsp 1.575.846-SC, entendeu que, de fato, o prazo
prescricional para a ação indenizatória por desapropriação indireta é de 10 anos, em regra, salvo
comprovação da inexistência de obras ou serviços públicos no local, caso em que o prazo passa a ser de 15
anos.

Acréscimos Indenizatórios

Além do valor da indenização pela perda da propriedade, o ex- proprietário tem direito à percepção dos juros
moratórios e juros compensatórios.

Os juros moratórios são aqueles devidos ao ex-proprietário, em razão do Poder Público não ter pago
tempestivamente a indenização a que aquele tinha direito. O valor desses juros moratórios é de 6% ao ano,
a despeito do dispositivo legal estabelecer até 6% ao ano.9

Ademais, o termo inicial da contagem dos juros moratórios será dia 1º da janeiro do ano seguinte àquele em
que o pagamento deveria ser efetuado.

Por fim, a base de cálculo será o valor da indenização fixado na sentença condenatória.

Por sua vez, os juros compensatórios são aqueles devidos, em razão do Poder Público ter realizado a
desapropriação sem observar a exigência de prévia indenização.

O termo inicial dos juros compensatórios será a partir da efetiva ocupação do imóvel pelo Estado. Em outras
palavras, os juros compensatórios são devidos a partir do momento em houve a efetiva transferência do
bem. Este é o entendimento da Súmula 69 do STJ.

Atente-se que, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas. Segundo a Corte Cidadã, nessa ação devem ser observados os princípios da

8
REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013 (Informativo nº 0523).

9 ADIMC 2.332-DF – O STF suspendeu a eficácia da expressão “até seis por cento”.

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instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito para reconhecer o interesse-
adequação da ação para o requerimento de indenização.10

1.2 - DIREITO CIVIL

1.2.1 - Condomínio em Multipropriedade

A multipropriedade, instituto que também pode ser denominado de time-sharing, direito real de habitação
periódica ou regime de aproveitamento por turno), não possuía regulamentação no ordenamento jurídico
brasileiro, apesar de bastante aceita pela jurisprudência – e de já ter sido abrangida pelo doutrinador
Gustavo Tepedino em 1993.

A lei nº 13.777/2018 normatizou o tema, inserindo-o no Código Civil, em capítulo próprio (artigos 1.358-B a
1.358-U), com algumas alterações, ainda, na Lei de Registros Públicos. Segundo a literalidade do artigo 1.358-
C, a multipropriedade constitui um regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo
imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade,
da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alterada.

Em outras palavras, trata-se de um sistema de rodízio estabelecido entre os vários proprietários de um bem,
para que seja exercido, com exclusividade e por determinado tempo no ano, seu direito de propriedade.

Como bem delineado por Gustavo Tepedino, é uma relação jurídica que permite o aproveitamento
econômico da coisa (...), em unidades fixas de tempo, visando à utilização exclusiva de seus titulares, cada
qual a seu turno, ao longo das frações temporais que se sucedem11. O sistema do time-sharing, dessa forma,
permite a divisão de gastos entre todos os titulares do bem, e é muito adotado, por exemplo, em imóveis de
veraneio.

O artigo 1.358-D da Lei nº 13.777/2018 determina que o imóvel a ser abrangido pela multipropriedade é
indivisível, não se sujeitando a ação de divisão ou de extinção de condomínio, e inclui as instalações, os
equipamentos e o mobiliário destinados a seu uso e gozo12.

Quanto ao fracionamento do tempo, além de ser indivisível, o período correspondente a cada fração será
de, no mínimo, 7 dias, seguidos ou intercalados, e poderá ser: fixo e determinado, no mesmo período de
cada ano; flutuante, caso em que a determinação do período será realizada de forma periódica, mediante

10
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019

11
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. Saraiva: São Paulo, 1993. p. 1.

12
A Lei 13.777/2018 tratou apenas da multipropriedade imobiliária. Contudo, em seu livro, Tepedino admite a multipropriedade
em bens móveis.

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procedimento objetivo que respeite, em relação a todos os multiproprietários, o princípio da isonomia,


devendo ser previamente divulgado; ou misto, combinando os sistemas acima (artigo 1.358-E).

Outrossim, os multiproprietários terão direito a uma mesma quantidade mínima de dias seguidos durante o
ano, podendo haver a aquisição de frações maiores que a mínima, com o correspondente direito ao uso por
períodos também maiores – e o instrumento de instituição do time-sharing, ou a convenção do condomínio
em multipropriedade, poderá estabelecer o limite máximo de frações de tempo no mesmo imóvel, que
poderão ser detidas pela mesma pessoa (natural ou jurídica).

A doutrina não é uníssona quanto a natureza jurídica da multipropriedade: se direito pessoal ou real.

A primeira corrente defende que se trata de direito pessoal, tendo em vista que o time-sharing não se amolda
a nenhuma das hipóteses de direitos reais previstas no artigo 1.225 do Código Civil, cujo rol é taxativo;
ademais, neste regime de condomínio, não há liberdade quanto ao modo de uso, só podendo o bem ser
utilizado para a finalidade para a qual foi criado, além de também não poderem ser realizadas modificações
no imóvel pelo integrante do time-sharing.

Já a corrente que afirma tratar-se de direito real é majoritária e foi adotada pelo Superior Tribunal de Justiça:
a multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real,
harmonizando-se com os institutos constates do rol previsto no artigo 1.225 do Código Civil. O STJ entende
que o time-sharing se harmoniza com o instituto da propriedade, sendo perfeitamente possível a criação de
novos direitos reais pela vontade das partes – eis que o Código Civil não traz nenhuma proibição para tanto13.

A instituição desta modalidade de condomínio será feita por ato intervivos ou por meio de testamento, sendo
necessário o registro no competente Cartório de Registro de Imóveis. Neste instrumento, ficarão fixadas as
obrigações, os direitos e os deveres conferidos aos condôminos, além de outras especificidades que as partes
desejarem, bem como as sanções para descumprimento dos deveres. Também no instrumento de instituição
ou na convenção de condomínio será indicado o administrador do imóvel.

De acordo com o Código Civil, são direitos do multiproprietário, além dos previstos no instrumento de
instituição e na convenção de condomínio em propriedade:

a) usar e gozar, durante o período correspondente à sua fração de tempo, do imóvel e de suas
instalações, equipamentos e mobiliário; b) ceder a fração de tempo em locação ou comodato; c)
alienar a fração de tempo, por ato entre vivos ou por causa de morte, a título oneroso ou gratuito,
ou onerá-la, devendo a alienação e a qualificação do sucessor, ou a oneração, ser informadas ao
administrador; d) participar e votar, pessoalmente ou por intermédio de representante ou
procurador, desde que esteja quite com as obrigações condominiais, em: assembleia geral do
condomínio em multipropriedade, e o voto do multiproprietário corresponderá à quota de sua

13
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Breves comentários à Lei 13.777/2018 (condomínio em multipropriedade). Disponível em:
https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/breves-comentarios-lei-
137772018.html#:~:text=Art.,pelos%20propriet%C3%A1rios%20de%20forma%20alternada. Acesso em 07 de dezembro de 2020.

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fração de tempo no imóvel; b) assembleia geral do condomínio edilício, quando for o caso, e o
voto do multiproprietário ccorresponderá à quota parte de poder político atribuído à unidade
autônoma na respectiva convenção de condomínio edilício.

O condomínio edilício, como exposto no parágrafo acima, e pela literalidade dos artigos 1.358-O a 1.358-U,
poderá adotar o regime de multipropriedade em parte ou na totalidade de suas unidades autônomas.

Com relação às obrigações dos titulares do time-sharing, previstas no artigo 1.358-J, são elas: a) pagar a
contribuição condominial do condomínio em multipropriedade e, quando for o caso, do condomínio edilício,
ainda que renuncie ao uso e gozo, total ou parcial, do imóvel, das áreas comuns ou das respectivas
instalações, equipamentos e mobiliário; b) responder por danos causados ao imóvel, às instalações, aos
equipamentos e ao mobiliário por si, por qualquer de seus acompanhantes, convidados ou prepostos ou por
pessoas por ele autorizadas; c) comunicar imediatamente ao administrador os defeitos, avarias e vícios no
imóvel dos quais tiver ciência durante a utilização; d) não modificar, alterar ou substituir o mobiliário, os
equipamentos e as instalações do imóvel; e) manter o imóvel em estado de conservação e limpeza
condizente com os fins a que se destina e com a natureza da respectiva construção; f) usar o imóvel, bem
como suas instalações, equipamentos e mobiliário, conforme seu destino e natureza; g) usar o imóvel
exclusivamente durante o período correspondente à sua fração de tempo; h) desocupar o imóvel,
impreterivelmente, até o dia e hora fixados no instrumento de instituição ou na convenção de condomínio
em multipropriedade, sob pena de multa diária, conforme convencionado no instrumento pertinente;
permitir a realização de obras ou reparos urgentes.

Em relação ao pagamento de despesas individuais e do imposto predial e territorial urbano, Gustavo


Tepedino entende que não se justificaria a imposição de responsabilidade solidária entre os
multiproprietários. Nesse sentido:

por se tratar de unidade autônoma, o IPTU há de ser individualizado e cobrado de cada


multiproprietário, assim como as despesas de luz, gás e água próprias da respectiva unidade,
sendo repartidas por cada multiproprietário as taxas condominiais que, como obrigações propter
rem, oneram o patrimônio pessoal de cada titular. Essa questão se torna relevante na medida
em que o presidente da República vetou dispositivos (parágrafos 3º, 4º e 5º do artigo 1.358-J do
Código Civil) em cuja dicção se lia: parágrafo 3º: ‘Os multiproprietários responderão, na
proporção de sua fração de tempo, pelo pagamento dos tributos, contribuições condominiais e
outros encargos que incidam sobre o imóvel’; e parágrafo 4º: ‘Cada multiproprietário de uma
fração de tempo responde individualmente pelo custeio das obrigações, não havendo
solidariedade entre os diversos multiproprietários’. Tal veto, contudo, não altera a autonomia
das matrículas, devendo ser afastada, portanto, qualquer interpretação que pretendesse atribuir
ao conjunto dos multiproprietários de um mesmo apartamento a responsabilidade solidária das
referidas despesas individuais14.

14
TEPEDINO, Gustavo. A multipropriedade e a retomado do mercado imobiliário. https://www.conjur.com.br/2019-jan-
30/tepedino-multipropriedade-retomada-mercado-imobiliario. Disponível em: Acesso em 08 de dezembro de 2020.

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Por fim, ainda de acordo com o Professor Tepedino, entende-se que foi consagrada uma modalidade de
anticrese legal, já que, a teor do artigo 1.358-S, em caso de inadimplência das taxas condominiais, é possível
a adjudicação ao condomínio edilício da fração de tempo correspondente, em caráter temporário, até a
quitação integral da dívida15, proibindo-se ao multiproprietário utilizar o imóvel enquanto persistir a sua
mora:

Tal providência, bastante drástica, terá que ser regulada na convenção, assegurando-se o amplo
direito de defesa de cada titular, podendo o condomínio inserir a respectiva unidade no pool
hoteleiro, desde que haja previsão, nos termos da convenção, de tal destinação econômica16.

1.2.2 - Regime de Bens

É cediço que o regime de bens regulamenta a relação jurídico-patrimonial entre os cônjuges e companheiros
– conhecido, também, como o estatuto patrimonial do casamento17.

Baseia-se, referido instituto, em três princípios: o princípio da liberdade de escolha, o princípio da


variabilidade e o princípio da mutabilidade. Em linhas gerais, o primeiro princípio refere à livre escolha, pelos
nubentes, do regime de bens que lhes melhor aprouver, de modo a coibir a intervenção do Estado na relação
matrimonial – salvo, é claro, nos casos exigidos em lei; o princípio da variabilidade diz respeito à
multiplicidade de regimes previstos na ordem jurídica, não se admitindo um regime único; e o princípio da
mutabilidade relaciona-se à possibilidade de alteração do regime de bens escolhido durante a constância do
casamento, podendo ser modificado a qualquer tempo.

E os preceitos que regem o regime patrimonial vêm previstos no artigo 1.639 e parágrafo único do artigo
1640, ambos do Código Civil:

Art. 1639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens,
o que lhes aprouver.

§1º O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.

§2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado
de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de
terceiros.

Art. 1.640. (...)

15
Idem.

16
Ibidem.

17
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1890.

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Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos
regimes que este código regula. (...)

Note-se que a escolha do regime de bens é feita por meio do pacto antenupcial, negócio jurídico especial e
solene, celebrado justamente para a escolha do regime de bens e que é condicionado ao casamento. Aqui,
os nubentes podem, perfeitamente, conciliar regras de regimes patrimoniais diversos18, podendo adotar,
desta forma, um estatuto patrimonial híbrido.19

Passemos, então, à análise elementar de cada regime patrimonial admitido no Direito brasileiro.
Obviamente, a fim de não extrapolar a proposta do curso, primar-se-á pela concisão e pela alocação das
principais regências de cada qual.

I – Regime de comunhão parcial de bens

O regime de comunhão parcial de bens é comumente adotado pelos nubentes. Consiste na preservação da
individualidade dos bens que cada um dos cônjuges possuía antes do casamento (ou recebidos a título
gratuito a qualquer tempo)20, permanecendo como patrimônio pessoal e exclusivo de cada um, e na
comunicação comum dos bens adquiridos onerosamente durante a união, por um ou por ambos os cônjuges
ou companheiros.

É, também, conhecido como regime supletivo, uma vez que, segundo o artigo 1.640, caput, do Código Civil,
“não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o
regime da comunhão parcial” – pelo mesmo motivo, também é o regime supletivo nos casos de união
estável.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves, referido regime caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao
passado (bens que cada cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro (bens adquiridos
na constância do casamento), gerando três massas de bens: os do marido, os da mulher e os comuns21.

Porém, a comunicabilidade dos bens adquiridos durante o casamento ou união estável não é absoluta: o
artigo 1.658 estabelece que se comunicam os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento,
com as exceções dos artigos seguintes. Assim, excluem-se da comunhão: a) os bens que cada cônjuge possuir
ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados

18
O que, inclusive, foi aceito no Enunciado 331 da IV Jornada de Direito Civil, do Conselho da Justiça Federal: “o estatuto
patrimonial do casal pode ser definido por escolha de regime de bens distinto daqueles tipificados no Código Civil (...), e, para efeito
de fiel observância do disposto no art. 1.528 do Código Civil, cumpre certificação a respeito, nos autos do processo de habilitação
matrimonial”.

19
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1892.

20
Idem. p. 1927.

21
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 1, parte geral, editora Saraiva, 2003, p. 404.

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em seu lugar; b) os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares; c) as obrigações anteriores ao casamento; d) as obrigações provenientes de
atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; e) os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão; f) os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; g) as pensões, meio-soldos, montepios e
outras rendas semelhantes; h) são incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior
ao casamento.

Por outro lado, para sanar eventuais dúvidas, o artigo 1.660 do CC/2002 prevê os bens que serão abarcados
pela comunhão, dentre os quais: os adquiridos por título oneroso, ainda que só em nome de um dos
cônjuges, na constância do casamento; os adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho
ou despesa anterior; os adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; as
benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; e os frutos dos bens comuns ou particulares de cada um,
percebidos durante o casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Por fim, os bens serão administrados por qualquer um dos cônjuges, como manifestação do princípio da
isonomia.

II – Regime de comunhão universal de bens

O regime da comunhão universal de bens pode ser conceituado como a fusão do patrimônio dos cônjuges.
Flávio Tartuce leciona que, neste regime, “comunicam-se tanto os bens anteriores, presentes e posteriores
à celebração do casamento, ou seja, há uma comunicação plena nos aquestos, o que inclui as dívidas passivas
de ambos”22.

Contudo, a comunicabilidade dos bens dos cônjuges também não é absoluta. Isto porque o artigo 1.668 do
Código Civil estabelece um rol de bens que são excluídos da comunhão, quais sejam: os bens doados ou
herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; os bens gravados de
fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; as dívidas
anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito
comum; as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;
os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; os proventos do trabalho pessoal de cada
cônjuge; as pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

Extinta a comunhão universal, e efetuada a divisão do ativo e do passivo, cessará a responsabilidade de cada
um dos cônjuges para com os credores do outro (artigo 1671 do Código Civil).

III – Separação convencional de bens

Aqui, os cônjuges têm como objetivo resguardar a exclusividade e a administração do seu patrimônio
pessoal, anterior ou posterior ao matrimonio, o que é instrumentalizado por meio do pacto antenupcial – é

22
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro, editora Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015. p. 918.

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exigida, portanto, a manifestação de vontade expressa das partes. Há a incomunicabilidade dos bens dos
cônjuges, anteriores e posteriores ao casamento.

Pelo artigo 1.687 do CC/2002, “estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração
exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real”. Há uma
independência patrimonial, não havendo possibilidade de uma futura meação – todavia, admite-se,
excepcionalmente, na hipótese de um dos cônjuges obter o direito à indenização ou divisão proporcional,
desde que comprovada colaboração econômica direta, ou mesmo indireta, na aquisição de determinado
bem23.

Trata-se, neste caso – divisão dos aquestos – de regra de vedação ao enriquecimento sem causa: a comunhão
de esforços implica a repartição patrimonial consequente.

IV – Separação legal ou obrigatória de bens

No regime legal ou obrigatório de separação de bens, os cônjuges estão restritos ao disposto em lei, sendo
incomunicáveis os bens passados ou futuros. São três as hipóteses de obrigatoriedade na separação dos
bens: a) quando o casamento for celebrado com maior de 70 anos de idade; b) quando o casamento decorrer
de supressão judicial de autorização para casar em favor de pessoa relativamente incapaz; e c) quando o
casamento não observar as causas suspensivas.

A incomunicabilidade dos bens, entretanto, não é absoluta. E, sobre a temática, o STF editou a Súmula 377:
“No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

Oportunamente, retornaremos às minúcias do regime em apreço, em abordagem específica, a fim de se


expor, com maior precisão, as controvérsias em torno da separação legal de bens e a (in) comunicabilidade
dos aquestos.

V – Participação final nos aquestos

O artigo 1.672 do CC/2002 dispõe que, no regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui
patrimônio próprio, (...) e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugar, direito à metade dos bens
adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

Com efeito, a participação recai sobre o patrimônio adquirido pelo casal durante o casamento, “de maneira
contábil, e não sobre direito de um sobre o acervo patrimonial do outro”24.

23
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1937.

24
DOS SANTOS, Wallace Costa. O casamento civil e os regimes de bens matrimoniais. Disponível em:
https://www.ibdfam.org.br/artigos/1483/O+casamento+civil+e+os+regimes+de+bens+matrimoniais#_ftn9. Acesso em 08 de
dezembro de 2020.

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1.2.3 - Do Abuso de Direito

Ato ilícito é o desconforme ao direito. Trata-se do exercício de uma prerrogativa que não é conferida ao
exercente, porque lhe falta autorização do ordenamento jurídico à ação ou inação.

Para Sérgio Cavalieri Filho, ilícito é o ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever
jurídico25.

Entretanto, ilícito não é apenas o ato praticado sem a relação de titularidade. Permite-se, também, que o
detentor do direito atue ilicitamente, dês que exceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (art. 187 do CC).

Trata-se do abuso de direito, também denominado de ato emulativo civil. Nas palavras de STOLZE e
PAMPLONA,

essa teoria desenvolveu-se a partir do célebre caso de Clement Bayard, julgado por um tribunal
francês, no início do século passado. O proprietário de um imóvel, sem razão justificável,
construiu altas hastes pontiagudas para prejudicar o voo de aeronaves no terreno vizinho.
Cuidava-se de nítido abuso do direito de propriedade26.

Não obstante o dispositivo se refira ao exercício do direito de maneira abusiva, a omissão também poderá
caracterizá-lo.

Assim, o ato (comissivo ou omissivo) que desborde do fim econômico, social, da boa-fé ou dos bons costumes
se transmudará ao ilícito. Frise-se que o começo do ato é lícito; seu exercício, abusivo, é que traz a ilicitude.

Diferentemente do ato ilícito, no abuso de direito não há uma ofensa à legalidade estrita de uma norma,
porém à sua própria legitimidade, pois vulnerado o princípio que a fundamenta e a concede sustentação
sistêmica (i.e., na ordem jurídica). Assim, está situado no âmbito do ilícito, mas não se confunde com o ato
ilícito, sobretudo em razão da desimportância da análise do elemento subjetivo – embora haja um ponto de
contato entre ambos, já que traduzem um comportamento humano, de certa forma, contrário ao
ordenamento jurídico.

São elementos estruturais do exercício regular de um direito, de modo que, presentes, afastam a incidência
do ato emulativo civil: a titularidade de um direito subjetivo; sua utilização nos limites objetivos que lhe são

25
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 22.

26
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. P. 306/307.

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traçados em lei, com respeito à norma (princípio e regra); confrontação do elemento pessoal (subjetivo) com
a função do fim do direito em causa (elemento social ou objetivo).

Atualmente, afirma-se pela abusividade do direito, essencialmente, na confrontação entre o exercício formal
do direito e o seu fundamento valorativo (conformação teleológica de seu exercício). Trata-se do filtro de
correlação, de modo que o nexo entre a prática do ato e a finalidade permitem a conclusão pela sua
abusividade ou não.

Vale ressaltar, porém, que a caracterização do abuso de direito, da forma como tipificada na codificação civil,
prescinde da intenção de lesar. A mera finalidade desconforme à lei, independentemente do móvel de causar
prejuízo, implicará o abuso, por violar a teleologia do art. 5º da LINDB:

Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum.

Assim, o exercício de direito contratualmente contemplado, com excesso ético-ontológico, deflagrará o


abuso: trata-se da violação à função social do contrato. Viabiliza-se, neste caso, ao prejudicado, delir a
avença.

Por este motivo – abuso de direito como ato ilícito por finalidade desconforme ao direito –, editou-se o
enunciado n. 37 da 1ª Jornada de Direito Civil: a responsabilidade civil decorrente do abuso de direito
independe da culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico. Prescinde-se da análise
subjetiva: a motivação do agente.

A conformidade ao ordenamento jurídico é atributo inerente ao ato que se repute lícito. Desta forma, o
abuso de direito é matéria de ordem pública, violadora da cláusula geral de boa-fé, de modo a permitir,
inclusive, o conhecimento oficioso por parte do juiz, quando verificado na tramitação de demanda judicial.

Vale ressaltar, por fim, que o abuso de direito não é matéria circunscrita ao direito privado.

Projeta-se, pois, ao direito público e rege as relações deste campo. De atendimento inexorável, o abuso de
direito deve ser repelido, ainda que importe a relativização de prerrogativas publicistas.

A respeito, confira-se paradigmático aresto do STJ, em que se reputou abusiva a anulação de ato
administrativo, ainda que eivado de ilegalidade, como expressão da boa-fé objetiva:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO


MILITAR. CURSO DE FORMAÇÃO. MATRÍCULA POR FORÇA DE LIMINAR. MÉRITO JULGADO
IMPROCEDENTE. MANUTENÇÃO NA ACADEMIA, INGRESSO E PROMOÇÃO NA CARREIRA POR
ATOS DA ADMINISTRAÇÃO POSTERIORES À CASSAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL. TRANSCURSO DE
MAIS DE CINCO ANOS. ANULAÇÃO. SEGURANÇA JURÍDICA E BOA-FÉ OBJETIVA VULNERADOS.
VEDAÇÃO AO COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. CONSTATAÇÃO DE QUE O CANDIDATO PREENCHIA O REQUISITO CUJA
SUPOSTA AUSÊNCIA IMPEDIRA SUA ADMISSÃO NO CURSO DE FORMAÇÃO. ATENDIMENTO AOS
PRESSUPOSTOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS PARA INGRESSO E EXERCÍCIO DO CARGO DE OFICIAL
DA POLÍCIA MILITAR. 1. Os princípios da segurança jurídica e da boa-fé objetiva, bem como a

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vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium), impedem que a


Administração, após praticar atos em determinado sentido, que criaram uma aparência de
estabilidade das relações jurídicas, venha adotar atos na direção contrária, com a vulneração de
direito que, em razão da anterior conduta administrativa e do longo período de tempo
transcorrido, já se acreditava incorporado ao patrimônio dos administrados. 2. À luz dos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, verifica-se que o Recorrente, em sentido
material, preenchia os requisitos editalícios para admissão no Curso de Formação, inclusive
aquele cuja ausência formal constituíra obstáculo inicial à sua matrícula e que ensejou o
ajuizamento da ação judicial em cujo bojo obteve a liminar. (...). 6. Hipótese concreta que não
cuida da aplicação da teoria do fato consumado para convalidar ato ilegal, o que é rechaçado por
esta Corte, mas de fazê-la incidir, juntamente com os princípios da segurança jurídica e boa-fé,
para tornar sem efeito atos praticados com ofensa aos princípios constitucionais da legalidade,
razoabilidade e proporcionalidade.

(STJ - RMS: 20572 DF 2005/0143093-7, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento:
01/12/2009, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/12/2009)

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - Do Litisconsórcio

A ação pode ser objetiva ou subjetivamente complexa. No primeiro caso, ter-se-á pluralidade de pedidos,
configurando a multiplicidade de ações em um mesmo processo; no segundo, a pluralidade é de litigantes:
trata-se do litisconsórcio.

Para Daniel Amorim, o fenômeno processual do litisconsórcio se refere ao elemento subjetivo da relação
jurídica processual, mais precisamente às partes27. Assim, as partes se reúnem para litigar em conjunto.

A temática não engloba a chamada intervenção de terceiros. O litisconsorte, seja ativo (autores), seja passivo
(réus), não é pessoa estranha à relação material vertida em juízo. São, pois partes antagônicas: aquele que
pede, em face de quem se pede.

Prevê a Codificação Processual Civil que duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em
conjunto, ativa ou passivamente, quando (art. 113):

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide: reflete a complexidade da
relação jurídica material, como o litígio que envolva o interesse de condôminos;

27
ASSUMPÇÃO, Daniel Amorim. Novo Código de Processo Civil Comentado. 2018 – 3ed. Salvador. JusPodivm. Pág. 201.

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II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir: por economia processual, e mesmo
por necessidade de coerência jurisdicional, quanto às decisões, haverá a reunião de ações, neste caso, e os
litigantes compartilharão as suas posições jurídicas;

III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito: trata-se de outra medida de
eficiência e celeridade processuais, conglobando situações em que não há conexão.

Quanto ao momento, o litisconsórcio, quando facultativo, se forma, em regra, na petição inicial. A inclusão
de litisconsorte após a citação dependerá de anuência do réu, salvo se o processo já houver sido saneado,
isto é, estabilizada subjetivamente a demanda, caso em que a inclusão não será permitida.

Em relação ao necessário, deverá o autor incluir, na inicial, todos os litigantes, pena de indeferimento da
peça, caso, aberto prazo para a correção da falha, não seja esta sanada.

Há, ainda, o litisconsórcio posterior, a exemplo da sucessão processual pelos herdeiros de cujus que outrora
litigou isoladamente.

A propósito, elenca a doutrina, com amparo na Lei, diversidade de classificações ao litisconsórcio. Vejamos
as principais.

O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica
controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes (art. 114).
O segundo caso refere-se à relação jurídica material unitária, como no caso da ação declaratória de nulidade
de casamento, em que os nubentes figurarão como demandados, necessariamente, já que o provimento
deverá ser igual a ambos – sem possibilidade de se declarar a nulidade apenas em relação a um deles.

A necessariedade do litisconsórcio irradia complexidade à relação processual na hipótese de não haver a


integração de todos os litigantes.

Para a situação, prevê o art. 115 do CPC que A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do
contraditório, será:

I- Nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo. Isto é,
se o litisconsórcio for necessário e unitário, anular-se-á o provimento judicial a todos.

II- Ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. Refere-se à hipótese de litisconsórcio
necessário e simples: aos que não integraram o contraditório a decisão ou sentença será ineficaz, e válida
aos litigantes. Possibilita-se, assim, a preservação do processo.

Situação igualmente perniciosa se refere à pessoa que se recusa a litigar. Sendo necessário o litisconsórcio,
a intervenção de todas as partes, para a validade processual, é compulsória. Porém, como solucionar a
impossibilidade de se obrigar uma pessoa a litigar? Novamente, Marcus Vinicius discorre sobre o ponto:

Surgem, então, importantes divergências doutrinárias a respeito do tema, que podem ser
resumidas em duas correntes fundamentais: a) a dos que entendem que, como ninguém é
obrigado a demandar contra a vontade, não existe mecanismo para forçar o que não deseja ir a
juízo; se um dos litisconsortes necessários não quiser fazê-lo, a demanda estará inviabilizada,

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ainda que todos os demais estejam dispostos. Essa corrente prestigia o princípio da liberdade de
demandar; b) a dos que entendem que se deve prestigiar o direito de acesso à justiça, ainda que
em detrimento da liberdade de demandar. Para essa corrente, é possível compelir o autor a
participar da demanda, ainda que contra a vontade. Mas apresenta-se de imediato um problema
prático: como obrigar aquele que não quer a ingressar em juízo contra a vontade? Para os
defensores dessa corrente, só haveria uma maneira: solicitar ao juiz que determine a citação do
litisconsorte ativo renitente, para que passe a integrar o processo. Ele, comparecendo ou não,
assumiria a condição de parte, satisfazendo-se com isso a exigência do litisconsórcio necessário.
A maioria dos defensores dessa corrente entende que, citado, o litisconsorte ativo poderá optar
entre figurar no polo ativo, partilhando dos interesses dos demais litisconsortes, ou no polo
passivo, quando não estiver de acordo com o postulado por eles. Afinal, a exigência de
participação estaria satisfeita tanto se o litisconsorte estiver no polo ativo quanto no passivo 28.

Tem-se, ainda, o litisconsórcio facultativo, formado pela vontade das partes e decorrente de relação jurídica
material não unitária.

A propósito, o juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de
conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do
litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. O requerimento de limitação interrompe o prazo
para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar (§§ 1º e 2º, do art.
113). Trata-se do chamado litisconsórcio multitudinário. Naturalmente, o litisconsórcio necessário não
poderá ser limitado.

O litisconsórcio será unitário quando a sentença necessitar de uniformidade aos litigantes. É, pois,
juridicamente impossível, neste caso, provimento jurisdicional distinto.

De regra, o litisconsórcio é unitário quando necessário, já que todos os titulares da relação jurídica terão de
participar da relação processual e serão afetados pelo resultado desta.

Importante destacar que dessa pluralidade de sujeitos processuais dimanam direitos e obrigações no âmbito
da lide.

Há, entretanto, tortuosa questão: o litisconsórcio unitário e facultativo. Nas lições de Marcus Vinicius Rios
Gonçalves,

Como seria isso possível se a unitariedade de lide pressupõe relação jurídica incindível com vários
titulares? Como é possível que o litisconsórcio seja opcional, se o processo versa sobre uma
relação desse tipo? É possível que uma relação jurídica com vários titulares possa ser postulada
ou defendida por apenas um deles, ou por apenas alguns? Não no campo da legitimidade
ordinária, em que uma relação com vários titulares só poderá ser defendida por todos. Mas, sim,
no campo da legitimidade extraordinária. É possível que a lei autorize que, conquanto uma coisa

28
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. Pág. 367.

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ou direito tenha vários titulares, possa ser defendido em juízo por apenas um deles. Haverá
legitimidade extraordinária, porque aquele que for a juízo estará defendendo a sua parcela
naquela coisa ou direito e a parcela dos demais. No campo da legitimidade extraordinária, há a
opção: a coisa ou direito que tem vários titulares pode ser defendida por apenas um, por alguns,
ou por todos. Se for defendida por mais de um, haverá um litisconsórcio que é unitário, mas
facultativo29.

Como exemplo de litisconsórcio facultativo e unitário, cite-se a ação popular. Poderá ser ajuizada por um
cidadão ou por vários; o provimento jurisdicional, entretanto, se perceberá erga omnes – todos os
jurisdicionados que se submeterem aos efeitos da decisão serão afetados por igual provimento,
independentemente de terem, ou não, litigado em conjunto.

Lado outro, o litisconsórcio será simples sempre que a sentença possuir a viabilidade jurídica de tratar cada
litigante de modo distinto: em uma obrigação não solidária, por exemplo, afigura-se perfeitamente possível
que apenas um dos demandados em conjunto logre comprovar a sua quitação e, apenas em relação a ele,
ser julgada improcedente a ação.

Quanto ao regime, isto é, às consequências dos atos das partes e mesmo às suas obrigações, vigorará, no
litisconsórcio simples, o sistema da autonomia: os atos de cada litisconsorte não beneficiarão, tampouco
prejudicarão os demais. Porém, mesmo nesse caso, todos os atos que se referem a interesses comungados,
tais como as defesas comuns, gerais, poderão beneficiar os demais litigantes, ainda que não hajam invocado
a mesma defesa, por exemplo.

Situação distinta é a do unitário. Aqui, em razão de o resultado, necessariamente, ser o mesmo a todos os
litisconsortes, os atos de um têm que beneficiar a todos.

Entretanto, se o ato praticado pelo litisconsorte for prejudicial, desfavorável aos interesses dos demais, não
é possível que estes sejam prejudicados.

Assim, o ato prejudicial será reputado absolutamente ineficaz. Será, assim, desconsiderado pelo juiz na
decisão que prolatar. É o exemplo da confissão: se feita apenas por um dos litigantes, será ineficaz – isto é,
sem prejudicar os demais.

1.4.2 - Do Amicus Curiae

A figura do amigo da corte é novidade em âmbito codificado, embora já houvesse a sua previsão na legislação
especial. Trata-se de modalidade de intervenção de terceiros que contribui para o litígio, por meio da
expertise do interveniente.

29
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020.

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O amicus curiae enriquece o debate e viabiliza a abertura dialógica da sociedade com o litígio. A possibilidade
de a pessoa, natural ou jurídica, ingressar, nessa condição, no processo atribui legitimidade democrática às
decisões do Poder Judiciário.

Nos termos da legislação adjetiva, o juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade
do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de
ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação
de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo
de 15 (quinze) dias de sua intimação (art. 138).

Daniel Amorim, em apanhado histórico, aduz que a

origem da figura do amicus curiae vem do direito romano, sendo que no direito norte-americano
deu-se o seu maior desenvolvimento, com fundamento na intervenção de um terceiro
desinteressado em processo em trâmite com o objetivo de contribuir com o juízo na formação
de seu convencimento. Em tese, seus conhecimento a respeito da matéria tratada na ação
justificam a intervenção, sempre com o propósito de melhorar a qualidade da prestação da tutela
jurisdicional30.

Assim, compreende-se por amicus curiae o terceiro que, dotado de interesse institucional no direito material
em debate, intervém na forma de auxiliar do juízo.

Sobre a multiplicidade de terceiro que intentem o ingressa na condição de amicus curiae, dispõe o enunciado
82 da I Jornada de Direito Processual Civil que

quando houver pluralidade de pedidos de admissão de amicus curiae, o relator deve observar,
como critério para definição daqueles que serão admitidos, o equilíbrio na representatividade
dos diversos interesses jurídicos contrapostos no litígio, velando, assim, pelo respeito à
amplitude do contraditório, paridade de tratamento e isonomia entre todos os potencialmente
atingidos pela decisão.

Para que a intervenção seja possível, é preciso que se atente aos seguintes requisitos:

a. Relevância da matéria, que poderá ser econômica, política, social ou jurídica. Trata-se do tema de
pertinência metaindividual.
b. Especificidade do tema objeto da demanda. É necessário, assim, que a temática reclame
conhecimentos específicos, não gerais, o que legitima a intervenção do terceiro com expertise
correlata.
c. Repercussão social da matéria, que mobilize, ainda, interesse institucional detido pelo terceiro.
d. Não ser, o terceiro, parte processual.

30
ASSUMPÇÃO, Daniel Amorim. Novo Código de Processo Civil Comentado. 2018 – 3ed. Salvador. JusPodivm. Pág. 248/249.

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e. A condição de pessoa, natural ou jurídica, especializada.


f. Representatividade adequada. O terceiro possui como ônus à sua intervenção a necessidade de
demonstração que seu interesse não seja meramente corporativo, bem como que possui capacidade
técnica a contribuir qualitativamente ao litígio.

Preenchidos os requisitos, o terceiro poderá ingressar no processo. Veja-se que a modalidade pode ser
deflagrada, inclusive, de ofício pelo juiz ou tribunal. Nesse caso, a intervenção será oficiosa.

Em nenhum caso a competência será alterada pela intervenção do amicus, ainda que interveniente seja
entidade ou órgão federal perante juízo estadual.

O amicus tem por objetivo a emissão de parecer acerca do litígio, que não será submetido à dualidade
deferimento/indeferimento: tão somente contribuirá à solução da lide. Essa manifestação poderá ser escrita
ou verbal, por meio de sustentação oral.

Demais disso, a par da seara restrita de poderes do amicus, deve-se compreender que não possuirá, ele,
legitimidade recursal. Há exceção, compreendida no art. 138, § 3º, do Código: o amicus curiae pode recorrer
da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.

Vale mencionar que mesmo a delimitação dos poderes do amicus curiae, por decisão do juízo que o admita,
é irrecorrível.

Por fim, destaque-se que há acesa divergência quanto à possibilidade de intervenção do amicus curiae no
mandado de segurança.

Para ilustrar o debate, consigne-se a lição de Márcio Cavalcante, do Dizer o Direito, ao analisar as correntes
existentes no STF:

1ª corrente: NÃO. No processo de mandado de segurança não é admitida a intervenção de


terceiros nem mesmo no caso de assistência simples. Se fosse admitida a intervenção do amicus
curiae, isso poderia comprometer a celeridade do mandado de segurança (STF. 1ª Turma. MS
29192/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/8/2014. Info 755).

2ª corrente: SIM. A doutrina defende que, com o novo CPC, é possível a intervenção de amicus
curiae em processo de mandado de segurança (Enunciado nº 249 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis). No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. MS 32451, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 27/06/2017. No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. MS 32451, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 27/06/2017; STF. Decisão monocrática. MS 35785, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 09/03/2020.

Segundo decisão monocrática do Min. Luiz Fux: “Tradicionalmente não se admite a figura do
amicus curiae na via do mandado de segurança, tendo em vista o caráter personalíssimo da ação

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e a exigência de celeridade intrínsecos ao writ” (STF. Decisão monocrática. MS 34196, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 18/05/2018)31.

1.5 - DIREITO PENAL


Olá pessoal! Aqui é Flávio Milhomem, professor do Estratégia Carreira Jurídica; em Direito Penal, vamos
discutir alguns assuntos atuais que, certamente, serão explorados em provas objetivas e dissertativas do
Ministério Público.

1.5.1 - Tentativa e Iter Criminis Percorrido

Tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei, muito embora tivesse o agente
a vontade de consumar o ato criminoso. Há a prática de ato de execução, mas não chega o sujeito à
consumação por circunstâncias independentes de sua vontade.

A tentativa pode ser classificada como:

• perfeita (crime falho): a consumação não ocorre, apesar de ter o agente praticado os atos necessários à
produção do evento (vítima salva graças à intervenção médica); e

• imperfeita: o sujeito ativo não consegue praticar todos os atos necessários à consumação por interferência
externa (interferência de terceiros).

A respeito da punibilidade da tentativa, existem duas teorias a respeito:

• Subjetiva: prega a aplicação da mesma pena que a do delito consumado, fundamentando-se na vontade
do autor contrária ao direito.

• Objetiva: propõe para a tentativa pena menor que a do crime consumado, já que a lesão é menor ou não
ocorreu qualquer resultado lesivo.

O Código Penal adotou a teoria objetiva, aplicando-se à tentativa a pena do crime consumado, reduzida de
um a dois terços.

A redução da pena prevista no art. 14, Parágrafo único, do Código Penal, no entanto, não é aleatória,
encontrando vinculação ao caminho percorrido pelo agente desde o início da execução da conduta
criminosa. Adota-se uma relação inversamente proporcional no que toca ao risco levado à efetiva violação

31
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. (In) viabilidade de intervenção em processo de MS. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/735b90b4568125ed6c3f678819b6e058>.
Acesso em: 07/12/2020

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do bem jurídico tutelado. Assim, quanto mais próximo do resultado pretendido a conduta do agente chegar,
menor será a fração de redução da pena.

É neste sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

Em relação à tentativa, o Código Penal, em seu art. 14, inciso II, adotou a teoria objetiva quanto
à punibilidade da tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime consumado,
diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo com o perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado. Nessa perspectiva, a jurisprudência desta Corte adota critério de diminuição do crime
tentado de forma inversamente proporcional à aproximação do resultado representado: quanto
maior o iter criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição (HC n.
502.584/SP, Relator Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 6/6/2019, DJe
11/6/2019). (AgRg no AgRg no AREsp 1710516/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 13/10/2020)

Na terceira fase, concluiu-se que o ora paciente preencheu quase a totalidade do tipo penal,
motivo pelo qual se reduziu a pena dosada em 1/3, o que está em harmonia com a jurisprudência
desta Corte de Justiça, que adota critério de diminuição do crime tentado de forma inversamente
proporcional à aproximação do resultado representado: quanto maior o iter criminis percorrido
pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição. (HC 585.748/CE, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 03/11/2020, DJe 25/11/2020)

1.5.2 - Crimes Contra a Honra do Servidor Público – Legitimidade Ativa

Sob a ótica da legitimação ativa, ou seja, do titular do direito de ação, a ação penal classifica-se em:

I) Pública: o autor é o Ministério Público.

II) Privada: o autor é a vítima ou seu representante legal.

É o que dispõe o Código Penal:

CP, art. 100: A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido.

Os crimes contra a honra encontram previsão nos arts. 138 a 140 do Código Penal, e trazem como
objetividade jurídica tutelada tanto a honra objetiva (reputação), quanto a honra subjetiva (autoestima) do
indivíduo.

Especificamente no que toca à ação penal, os crimes contra a honra trazem previsão expressa, fixando-se,
como regra, a ação penal privada:

CP, Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

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Outras hipóteses preveem a ação penal pública condicionada à representação (crimes praticados contra a
honra de funcionário público, em razão de suas funções; e injúria racial), bem como à requisição do Ministro
da Justiça (crimes contra a honra do Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro).

Especificamente, no que toca à ação penal do crime contra a honra do funcionário público, em razão de suas
funções, durante muito tempo se discutiu se haveria algum tipo de impedimento em que este mesmo
pudesse buscar em juízo a punição do autor, por meio do ajuizamento da queixa-crime; isto em face da
previsão legal expressa da ação penal pública condicionada.

A questão fora pacificada com a edição da Súmula 714 do Supremo Tribunal Federal:

“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções”.

Neste sentido é a jurisprudência dos tribunais superiores:

1. Nos termos da Súmula 714 do STF, é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
de servidor público em razão do exercício de suas funções.

2. A representação, nos crimes de ação penal pública condicionada, prescinde de formalidade, sendo
suficiente a demonstração inequívoca do interesse da vítima ou de seu representante na persecução
criminal. (AgRg no REsp 1588248/CE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 24/10/2017,
DJe 06/11/2017)

1.5.3 - Homicídio, Idade da Vítima e Bis In Idem

O Código Penal, levando em consideração a idade da vítima, fixa como causa de aumento de pena o
homicídio praticado contra vítima menor de 14 anos, ou maior de 60 anos, quando o crime é doloso (CP, Art.
121, §4º).

Levando-se em consideração a previsão legal expressa, pergunta-se: É permitido ao magistrado, fora das
hipóteses do art. 121, §4º, do Código Penal, tomar a idade da vítima como fundamento para o aumento da
pena?

O Superior Tribunal de Justiça, em suas duas turmas criminais adota o entendimento de que a tenra idade
da vítima (menor de 18 anos) é elemento concreto e transborda aqueles ínsitos ao crime de homicídio, sendo
apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do
crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a majorante prevista no art. 121, § 4º
(parte final), do Código Penal (REsp n. 1.851.435/PA, de minha relatoria, Terceira Seção, julg. Em 12/8/2020).

Neste sentido, sendo a vítima menor de 18 e maior de 14 anos, é permitido ao magistrado tomar a idade da
vítima como fundamento para o aumento da pena!

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1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - O Reconhecimento Fotográfico como meio de Prova no Processo Penal

O reconhecimento de pessoas e coisas se trata de meio de prova de extrema relevância no âmbito processual
penal, uma vez que, por meio dele, é possível que seja revelada a identificação de um suspeito ou objeto,
por meio da palavra da vítima ou das testemunhas de um fato delituoso.

De acordo com Renato Brasileiro32, “trata-se de meio de prova por meio do qual alguém identifica uma
pessoa ou coisa que lhe é mostrada com pessoa ou coisa que já havia visto, ou que já conhecia, em ato
processual praticado perante a autoridade policial ou judiciária, segundo o procedimento previsto em lei”.

O reconhecimento fotográfico, por sua vez, embora não previsto na legislação pátria, tem sido admitido pela
doutrina e pela jurisprudência, em decorrência dos princípios da busca da verdade e da liberdade das provas,
sendo considerado uma espécie de “prova inominada”.

Isto porque, quanto aos meios de prova, vale lembrar que vigora, no processo penal brasileiro, a ampla
liberdade probatória, de modo que as partes podem se valer de meios de prova nominados e inominados,
não incidindo, neste aspecto, o princípio da taxatividade das provas (segundo o qual somente se admite a
utilização das provas previstas de maneira específica na lei)33.

No entanto, a validade do reconhecimento fotográfico necessita de confirmação por outros elementos de


prova, conforme entendimento do STF. Veja-se:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROVA. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. O reconhecimento


fotográfico tem valor probante pleno quando acompanhado e reforçado por outros elementos
de convicção. Habeas corpus indeferido.

(HC 74267, Relator(a): FRANCISCO REZEK, Segunda Turma, julgado em 26/11/1996, DJ 28-02-
1997 PP-04064 EMENT VOL-01859-01 PP-00196)

Tal entendimento também é seguido pelo STJ, conforme demonstram os julgados abaixo:

32
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm,
2019.

33
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm,
2019.

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HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESVIRTUAMENTO.


PRECEDENTES DO STF. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. EXISTÊNCIA DE OUTROS ELEMENTOS
PARA EMBASAR A DENÚNCIA. VALIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTOS. [...]

3. Este Superior Tribunal tem se posicionado no sentido da validade do reconhecimento


fotográfico, desde que não seja utilizado de forma isolada, mas esteja em consonância com os
demais elementos constantes dos autos. 4. No caso em análise, o reconhecimento fotográfico
apenas corroborou os indícios de autoria, a justificar o regular processamento da ação penal, até
porque do inquérito policial colacionado aos autos observa-se que existiram outros elementos
para embasar a denúncia oferecida pelo Ministério Público, como as declarações prestadas pelas
vítimas e testemunhas. [...]

(HC 238.577/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2012,
DJe 18/12/2012) – grifado.

[...] 1. O reconhecimento fotográfico realizado em solo policial é material probante a ser


considerado para efeitos de comprovação da autoria do delito, desde que corroborado por
outros elementos de prova colhidos em juízo sob a luz do contraditório e da ampla defesa. 2.
No caso em tela, a única vítima realizou reconhecimento fotográfico em solo policial e, em juízo,
afirmou que "por estar esquecido não reconhecia imediatamente na fotografia [...], entretanto
confirma tê-lo reconhecido perante a autoridade policial". 3. Ausente, portanto, qualquer outro
elemento probatório - somente o reconhecimento fotográfico realizado em solo policial e
insuficientemente corroborado em juízo -, de rigor a absolvição do agravado por insuficiência de
provas. 4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no HC n. 469.563/SC, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, 6ª T., DJe 21/11/2019) –
grifado.

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ROUBO. CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA


EXCLUSIVAMENTE EM RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO NÃO RATIFICADO EM JUÍZO.
INSUFICIÊNCIA. ART. 386, INCISO VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA.

1. A prova utilizada para fundamentar a condenação do Paciente - reconhecimento fotográfico


em sede policial - é de extrema fragilidade, haja vista que, ainda que a inobservância das
recomendações legais dispostas no art. 226 do Código de Processo Penal não dê causa a nulidade
do ato, a inexistência de confirmação em juízo demonstra a sua insuficiência para embasar uma
condenação quando não corroborada por outras provas.

2. As instâncias ordinárias, ao fundamentarem a condenação do Paciente, consignaram que o


reconhecimento fotográfico foi utilizado juntamente com a prova testemunhal para determinar
a autoria do delito em tese praticado. Entretanto, o depoimento prestado pelo policial civil em
juízo se limitou a, tão somente, afirmar que o reconhecimento fotográfico na fase investigativa
de fato existiu, não acrescentando nenhum elemento sobre a autoria do crime ocorrido.

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Observa-se, portanto, que a condenação imposta ao Paciente foi baseada exclusivamente no


reconhecimento fotográfico, que não foi ratificado em juízo.

3. Ordem de habeas corpus concedida para absolver o Paciente condenado pela prática do crime
previsto 157, § 2.º, inciso I, c/c o art. 61, incisos I e II, do Código Penal, com fundamento no art.

386, inciso VII, do Código de Processo Penal e, por conseguinte, determinar a expedição de alvará
de soltura, se por outro motivo não estiver preso.

(HC 488.495/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/06/2019, DJe
01/07/2019)

Como visto, o entendimento predominante relativo ao reconhecimento fotográfico é o de que deve haver
sua confirmação com outros elementos de prova.

Sugere-se, demais disso, que seja observado, por analogia, o procedimento previsto no art. 226 do CPP:

[...] I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que
deva ser reconhecida;

II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que
com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
apontá-la. Como o reconhecimento não demanda qualquer comportamento ativo por parte do
investigado ou acusado, este não está protegido pelo princípio que veda a autoincriminação.
Logo, mesmo que o acusado não compareça ao ato designado para seu reconhecimento, é
possível que a autoridade policial ou judiciária determine sua condução coercitiva;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida,
a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela


pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal
ou em plenário de julgamento. [...]

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Quanto às formalidades acima descritas, o entendimento jurisprudencial seguia no sentido de que eventuais
irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejavam nulidade, mas funcionavam
como meras recomendações legais34. Veja-se:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECONHECIMENTO PESSOAL. MERA


RECOMENDAÇÃO LEGAL. ACÓRDÃO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE DE
JUSTIÇA. CONDENAÇÃO COM BASE EXCLUSIVAMENTE NA PALAVRA DA VÍTIMA E NA
FRAGILIDADE DOS DEPOIMENTOS POLICIAS POR "OUVIR DIZER". DISCUSSÕES NÃO TRAZIDAS NO
ESPECIAL.

INCABÍVEL INOVAÇÃO RECURSAL.

1. O acórdão encontra-se em harmonia com o entendimento jurisprudencial desta Corte no


sentido de que a inobservância das formalidades legais para o reconhecimento pessoal do
acusado não enseja nulidade, por se tratar de mera recomendação legal. Precedentes.

2. É incabível o exame de tese não exposta no recurso especial e invocada apenas em recurso
posterior, pois configura indevida inovação recursal (AgRg no REsp n. 1.156.971/RS, Ministro
Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, DJe 19/2/2015).

3. Agravo regimental improvido.

(AgRg no AgRg no AREsp 728.455/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 28/06/2016, DJe 03/08/2016) – grifado.

Contudo, recentemente, a 6ª Turma do STJ proferiu decisão no sentido de que o reconhecimento de um


suspeito por meio da mera exibição de fotografias deve ser visto como etapa antecedente a eventual
reconhecimento pessoal, não podendo servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo (HC
nº 598.886 – SC).

No caso analisado pela Corte Superior, foi concedida a ordem de Habeas Corpus para absolver o réu,
anteriormente condenado pela prática do crime de roubo com base exclusivamente no reconhecimento
fotográfico realizado pelas vítimas.

De acordo com os julgadores, a prática não observou o disposto no artigo 226 do Código de Processo Penal,
especialmente quanto aos seguintes aspectos: a) descrição da pessoa que deva ser reconhecida; e b)
colocação do suspeito, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-
se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la.

34
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm,
2019.

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Desse modo, sendo tais formalidades essenciais e obrigatórias para o processo, e não se tratando de mera
recomendação (conforme já exarado em julgados anteriores), a consequência seria a nulidade da prova.

Em síntese, o julgado concluiu que:

1. O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no artigo 226 do Código


de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se encontra na
condição de suspeito da prática de um crime

2. À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do procedimento


descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não
poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo

3. Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o
devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de
reconhecimento

4. O reconhecimento do suspeito por mera exibição de fotografia(s), ao reconhecer, a par de dever


seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação
penal, ainda que confirmado em juízo.

(HC n. 598.886-SC, Rel. Ministro Rogério Schietti, 6a T. 27/10/2020).

É certo que tal decisão demonstra uma evidente mudança de entendimento por parte da corte, reforçando,
assim, a necessidade de cuidado na produção de provas.

Sobre a emendatio libelli

Equívocos acontecem.

É possível que o membro do Ministério Público se equivoque ao redigir a peça acusatória.

A propósito, você se lembra quais são os requisitos da denúncia? Eles estão previstos no artigo 41, do CPP,
assim redigido:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Ausente um desses requisitos, a consequência jurídica nem sempre será a inépcia, com a consequente
rejeição da peça incoativa. A ausência do rol de testemunhas, por exemplo, enseja a preclusão,
inviabilizando, outrossim, com que o Ministério Público ouça em juízo testemunhas que possam depor sobre
o fato probando.

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Em relação à imputação em si, a narrativa do fato atribuído ao acusado, em caso de erro, esse sim enseja
rejeição da exordial, pois inviabiliza o exercício do direito de defesa.

Nesse norte:

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. CORRUPÇÃO PASSIVA. LAVAGEM DE DINHEIRO. OPERAÇÃO


"ZELOTES". INÉPCIA DA DENÚNCIA. DESCRIÇÃO GENÉRICA DOS FATOS CRIMINOSOS. AUSÊNCIA
DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA. TRANCAMENTO PARCIAL DA AÇÃO PENAL RELATIVO AOS
FATOS DESCRITOS NO PERÍODO DE 2009 A 2012. ORDEM CONCEDIDA.

1. Não atende aos requisitos do art. 41 do CPP a peça acusatória que, ao imputar o crime de
corrupção passiva, não indica precisamente qual vantagem indevida ou promessa de tal
vantagem teria sido solicitada ou recebida pelo agente apta a caracterizar o crime, tampouco
quando, ao imputar o delito de lavagem de dinheiro, não individualiza a conduta do agente no
conjunto de acusados, ao final, mostrando-se genérica.

2. Habeas corpus concedido para trancar a Ação Penal n. 1008629-96.2019.4.01.3400, em


relação ao paciente, somente no que se refere aos fatos correspondentes ao período de 2009 a
2012.

(HC 588.159/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe
04/09/2020)

No tocante à capitulação do crime, é dizer, o dispositivo no qual incurso o réu, há regra própria que prevê o
procedimento a ser adotado pelo magistrado. É o que se extrai do artigo 383, do CPP, que consolida a
emendatio:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave.

Dispensam-se maiores solenidades, tendo em vista que que o acusado efetivamente exerceu a sua defesa,
contraditando os fatos descritos pelo Ministério Público, a despeito da incorreta tipificação lançada na
denúncia.

Perceba que o erro pode decorrer de variadas situações.

Exemplo 1: Ministério Público afirma que o no dia 1º de dezembro de 2020, às 3:45 horas, o denunciado
adentrou a residência da vítima e de lá subtraiu, para si, um televisor, avaliado em R$ 4.500,00.

Ao capitular o delito, entretanto, ele afirma que o indigitado incorreu no artigo 155, do Código Penal,
olvidando-se da majorante do §1º, que trata do repouso noturno.

Exemplo 2: Ministério Público afirma que o denunciado exercia a narcotraficância nas proximidades de um
estabelecimento de ensino, porém ao capitular e crime ele se esquece de indicar o artigo 40, III, da lei
11.343/06.

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O erro nem sempre decorre da indicação do tipo básico. Pode decorrer também da omissão de uma
qualificadora ou causa de aumento. Em todo caso, para a aplicação do procedimento de que trata o artigo
383, do CPP, é necessário que o fato esteja devidamente descrito na exordial acusatória.

Retornando aos exemplos acima: Se na primeira hipótese o furto efetivamente ocorreu no período noturno,
mas essa informação não consta da denúncia, é necessário que se proceda na forma do artigo 384 (mutatio
libelli), pois o réu não teve a oportunidade de se defender desta circunstância específica. O mesmo raciocínio
se aplica ao segundo exemplo.

Pergunta: quando o juiz deve proceder a essa correção?

Pela redação do artigo 383, o momento adequado é na sentença, “ainda que tenha que aplicar pena mais
grave”.

Aliás, atente-se para a ressalva do dispositivo. Ainda que a situação do acusado seja agravada, prescinde-se
da reabertura do contraditório!

Então, o juiz, ao prolatar a sentença, aplica a emendatio, e procede à adequação típico-normativa.

Nesse sentido:

O réu se defende dos fatos narrados na acusatória e não da capitulação penal nela inserida.
Sendo assim, comprovando-se que as condutas se subsumem a tipo criminal diverso, caberá ao
Juiz natural da causa, no momento da prolação da sentença e observando as provas colhidas,
proceder à emendatio libelli, se for o caso, nos termos dos arts. 383 do Código de Processo Penal.

(HC 546.681/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/06/2020, DJe
26/06/2020)

Atenção para a ressalva jurisprudencial: excepcionalmente é possível que a alteração seja feita em momento
diverso, quando do equívoco puder resultar:

a) alteração da competência absoluta


b) alteração do procedimento adequado
c) restrições a benefícios penais

A esse propósito:

O Superior Tribunal de Justiça não admite emendatio libelli em momento anterior ao da prolação
da sentença, exceto em situações excepcionais, quando a inadequada subsunção típica causar
prejuízos ao réu, trazendo reflexos no campo da competência absoluta, do adequado
procedimento ou, ainda, quando houver restrição a benefícios penais em razão de eventual
excesso da acusação, hipóteses não caracterizadas de plano.

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(AgRg no RHC 124.374/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 12/05/2020,
DJe 28/05/2020)

Vamos a um exemplo:

Ministério Público afirma que o denunciado trazia consigo 1g de maconha e que esse
entorpecente se destinava ao seu consumo pessoal. Ao capitular o delito, indica-se o artigo 33,
da lei 11.343/06, que se refere ao tráfico de drogas.

Veja a diferença entre as penas cominadas aos delitos de “uso” e tráfico:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar,
transportar ou trouxer consigo, para consumo produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
com determinação legal ou regulamentar será guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
submetido às seguintes penas: fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
I - advertência sobre os efeitos das drogas; autorização ou em desacordo com determinação
II - prestação de serviços à comunidade; legal ou regulamentar:
III - medida educativa de comparecimento a Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
programa ou curso educativo. pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.

O equívoco cometido pelo Parquet acarretará, de uma só vez, alteração do rito processual, da competência
do Juízo, e ainda imporá obstáculos ao oferecimento de benefícios despenalizadores.

Assim, o magistrado pode corrigir o equívoco já por ocasião do juízo de admissibilidade da exordial
acusatória!

Por fim, outro importante registro é que a emendatio, diferentemente da mutatio, pode ser aplicada em fase
recursal, desde que observada a proibição da reformatio in pejus, esculpida no artigo 617, do CPP:

Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts.
383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente
o réu houver apelado da sentença.

Dessarte, desde que não acarrete uma piora na situação do acusado, em recurso exclusivo da defesa, o
Tribunal pode corrigir eventual equívoco da peça incoativa!

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1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Finalizando os comentários sobre os crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade


(Lei n.° 13.869/2019)

Para finalizar o estudo superficial da Lei n.º 13.896/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), nesta oportunidade
outras figuras típicas. Lembre-se que o objetivo não é esmiuçar cada tipo penal, e sim fazer um breve
comentário do que chame mais atenção naquele crime. Entendido? Vamos lá! Leia o tipo penal (pois é ele
que cairá na sua prova, eis que não há muitos julgados sobre esta Lei, por enquanto).

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do


ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I – coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;

II – (VETADO);

III – cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21 h (vinte e uma horas) ou antes
das 5 h (cinco horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios
que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre.

O dispositivo trata das condutas de invadir (ou adentrar) ou permanecer em domicílio de outrem. No caso
da conduta de permanecer, tem-se que a entrada foi lícita. A inviolabilidade do domicílio é garantida pela
Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XI35.

O conceito de domicílio para fins penais está descrito no art. 150, do Código Penal:

Art. 150 – Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa


ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

35
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; [...]

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§ 1º – Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência


ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.

§ 2º - (Revogado pela Lei nº 13.869, de 2019)

§ 3º – Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:

I – durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência;

II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na
iminência de o ser.

§ 4º – A expressão “casa” compreende:

I – qualquer compartimento habitado;

II – aposento ocupado de habitação coletiva;

III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

§ 5º – Não se compreendem na expressão “casa”:

I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a


restrição do n.º II do parágrafo anterior;

II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

O §1º, do art. 22, da Lei de Abuso de Autoridade apresenta figuras equiparadas à conduta descrita no caput
do artigo.

O inciso I, do §1º, do artigo em estudo descreve a conduta daquele que coage alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências. Como se vê, a norma da Lei de
Abuso de Autoridade é especial com relação ao art. 150, §1º, do Código Penal, assim, o art. 22 prevalece
sobre o art. 150.

Ademais, verifica-se possível a cumulação de crime de abuso de autoridade e os crimes de lesão corporal ou
homicídio doloso, havendo assim concurso de crimes. No caso de ocorrência do crime de homicídio doloso

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e abuso de autoridade, a competência para o julgamento de ambas as condutas será do Tribunal do Júri,
conforme o art. 78, inciso I, do Código de Processo Penal36.

O inciso III, do §1º, do art. 22, da Lei de Abuso de Autoridade, descreve a conduta de cumprir mandado de
busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). O tipo penal
descrito nesse dispositivo somente terá lugar quando do cumprimento de mandado de busca e apreensão
domiciliar. No caso de o agente entrar em casa alheia para cumprir outra medida, praticará a conduta
descrita no caput do artigo, desde que atuando com o especial fim de agir.

Por fim, o §2º do artigo em estudo prevê hipóteses de excludentes de tipicidade.

Adiante:

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado


de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar
criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:

I – eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de


diligência;

II – omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o


curso da investigação, da diligência ou do processo.

Trata-se de modalidade especial do delito de fraude processual, previsto no art. 347, do Código Penal37.

Muita atenção quanto à figura equiparada descrita no parágrafo único, inciso II, pois, no caso de o agente
agir para embaraçar investigações de crime praticado por organizações criminosas, o delito praticado será o
previsto no art. 2º, §1º, da Lei n.º 12.850/2013, com a causa de aumento do §4º, inciso II, e, em caso de

36
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: I - no concurso
entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;
37
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se a inovação
se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

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condenação, a perda automática do cargo, emprego ou função por oito anos após o integral cumprimento
da pena, conforme o §6º, do mencionado artigo38.

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição
hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com
o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Para a configuração desse delito é imprescindível a utilização de violência ou grave ameaça. Se não houver
o emprego desses meios, a figura típica configurada será a do art. 23, da Lei de Abuso de Autoridade.

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por


meio manifestamente ilícito:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Art. 26. (VETADO).

O dispositivo advém do direito previsto no art. 5°, LVI da CF39 e art. 157, CPP40 (inadmissibilidade das provas
ilícitas).

38
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão,
de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas
penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
[...] § 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): [...] II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a
organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal; [...] § 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará
ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo
público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena.
39
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[..] LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

40
Art.157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação
a normas constitucionais ou legais. §1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado
o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das

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Tanto aquele que procede à obtenção da prova ilícita, quanto aquele que faz uso dela, praticam o crime em
estudo, desde que saibam da ilicitude da prova. Frisa-se que o desconhecimento da ilicitude da prova
caracteriza erro de tipo e, afastando o dolo, há conduta atípica. E este dispositivo aplica-se na fase de
investigação e na judicial. Bem como abarca também as provas ilícitas por derivação, desde que o agente
tenha conhecimento inequívoco da sua origem ilícita.

Salienta-se que quando a prova ilícita for utilizada em favor do réu, não configurará o crime em estudo, visto
que o entendimento doutrinário e jurisprudencial apontam essa possibilidade, na medida em que o agente
atuaria em benefício dos direitos e garantias fundamentais do cidadão (PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020,
p. 77).

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou


administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar


sumária, devidamente justificada.

Essa previsão legal visa impedir o mau uso do poder de requisição ou instauração de investigações. Havendo
o mínimo de indícios da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa, não restará
configurado o tipo penal em comento.

Neste sentido, desnecessária é a previsão do parágrafo único do dispositivo, visto que se houver justificativa
para a sindicância, é certo que não haverá crime de abuso de autoridade.

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda
produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado
ou acusado:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O núcleo do tipo é o verbo “divulgar”, ou seja, tornar público, informar um número indeterminado de
pessoas. Assim, a revelação de gravação ou trecho de gravação sem relação com prova a que se pretenda
produzir a um número determinado de pessoas, não configura o delito em comento. Somente haverá crime
se for exposta a intimidade ou a vida privada ou se ferir a honra ou imagem do investigado ou acusado.

primeiras. §2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. §3 o Preclusa a decisão de desentranhamento
da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
§4o(VETADO) §5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão.

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Ainda, a conduta deve recair sobre trecho de gravação ou gravação que não tenha relação com a prova a
que se pretenda produzir. Pressupõe-se que a gravação tenha sido realizada de forma lícita, pois na hipótese
de ser ela ilícita, a infração penal configurada será aquela prevista no art. 10, da Lei de Interceptação
Telefônica41.

O sujeito ativo do crime é o agente público que tem o dever de resguardar a informação, como as autoridades
policiais, membros do Ministério Público e juízes.

Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo
com o fim de prejudicar interesse de investigado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

Somente restará configurado o crime deste artigo quando o agente agir com o especial fim de prejudicar o
investigado. Ainda, não há incidência do delito em estudo quando o agente, por exemplo, um membro do
Ministério Público, prestar informação na qualidade de testemunha, ou seja, sem ter interesse na causa.
Nesta situação, se prestar informação falsa, incorrerá no delito de falso testemunho (art. 342, do CP42).

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa
fundamentada ou contra quem sabe inocente:

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O tipo penal estará configurado quando agente der início (instaurar) ou proceder (dar continuidade) à
persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa OU contra quem se sabe inocente. Exige-se que o
agente tenha efetivo conhecimento da inocência da vítima.

41
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta
ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei: Pena - reclusão, de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a execução de
conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em lei.

42
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1oAs penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública
direta ou indireta. §2oO fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata
ou declara a verdade.

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Especificamente com relação à conduta de dar início à persecução penal contra quem sabe inocente, parte
da doutrina entende ser inconstitucional. Veja-se, a Lei de Abuso de Autoridade surgiu para, de maneira mais
incisiva, combater o abuso de autoridade, assim, diante da previsão já existente no art. 339, do Código
Penal43, que prevê pena mais gravosa do que o artigo em estudo, “não teria sentido admitir que o novo
diploma pudesse retroceder nesse aspecto, diminuindo à metade a pena daquele que der início à persecução
penal, instaurando ação penal contra quem se sabe inocente (como é feito do Código Penal)”
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 82).

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado


ou fiscalizado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou
do fiscalizado.

O tipo penal implementa o direito da razoável duração do processo, previsto no art. 5°, LXXVIII da
Constituição Federal44. A previsão do caput se refere aos procedimentos em que há prazos a serem
observados, como, por exemplo, os prazos de inquérito policial. A previsão do parágrafo único se refere a
procedimentos em que não há prazos determinados.

A conduta típica estará configurada com a demora injustificada, ou seja, havendo justificativa, não há que se
falar neste tipo penal.

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento
investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de
cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização
de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

43
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão,
de dois a oito anos, e multa. §1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. §
2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
44
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.

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O dispositivo contempla inquéritos policiais e outros procedimentos investigatórios de infração penal, bem
como outros meios de investigação preliminar de natureza civil ou administrativa.

O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil garante ao advogado o direito de examinar, em qualquer
instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. Podendo a autoridade competente delimitar
o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da
finalidade das diligências (art. 7º, inciso XIV, §11, do Estatuto da OAB).

Neste viés, cumpre destacar a redação da Súmula Vinculante 14: "É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa".

Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de não
fazer, sem expresso amparo legal:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a
condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou
privilégio indevido.

Para a configuração do delito não se exige a ocorrência de violência ou grave ameaça. Caso isso ocorra, e
tenha causado na vítima sofrimento físico ou mental, restará configurado o crime previsto no art. 1º, inciso
I, alínea a, da Lei de Tortura45.

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que
extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a
demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O delito somente estará configurado quando duas exigências forem cumpridas: decretar, em processo
judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor
estimado para a satisfação da dívida da parte E a parte demonstrar a excessividade da medida e o juiz deixar
de corrigi-la.

45
Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

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Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha requerido
vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Trata-se de crime omissivo próprio. A elementar do tipo “demora demasiada” deverá ser esclarecida pelo
intérprete da norma diante do caso concreto, visto que não há previsão legal.

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede
social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O crime estará configurado mesmo que o responsável pelas investigações atribua culpa, aponte alguém
como autor de um delito, depois de finalizadas as apurações mas antes de o Ministério Público formalizar a
acusação com o oferecimento da denúncia.

1.7.2 - A problemática da reincidência específica na progressão de regime, de acordo com


as mudanças promovidas pelo Pacote Anticrime

A Lei n.º 13.964/2019, conhecida como Pacote Anticrime, alterou os requisitos para a progressão de regime
e incluiu uma combinação de aspectos a serem levados em consideração para fins de deferimento de
livramento condicional, indulto e comutação de penas.

Com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o art. 112, da Lei de Execuções Penais, passou a ter a seguinte
redação:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos:

I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
sem violência à pessoa ou grave ameaça;

II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência
à pessoa ou grave ameaça;

III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;

IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com
violência à pessoa ou grave ameaça;

V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário;

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VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:

a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional;

b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa


estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou

c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado;

VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

De maneira objetiva, com base na previsão dos incisos I a VIII e parágrafos do artigo 112, os novos parâmetros
que deverão ser considerados são os seguintes:

1 – Primariedade; 2 – Presença ou não de violência à pessoa ou grave ameça quando do


cometimento da infração penal; 3 – Reincidência; 4 – Crime hediondo ou equiparado, ressalvada
a hipótese do crime de tráfico de drogas privilegiado; 5 – Resultado morte em decorrência da
prática criminosa; 6 – Exercício do comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada; 7 – Crime de constituição de milícia privada; e, 8 – Boa conduta carcerária.

Importante salientar que a lei penal mais gravosa é irretroativa. Assim, é vedada a aplicação de novatio legis
in pejus quando os dispositivos agravarem as condições de cumprimento de pena do condenado, o que é, de
modo geral, o caso das alterações trazidas pelo Pacote Anticrime ao art. 112, da Lei de Execuções Penais.

Exceto: apenado primário - crime sem violência à pessoa ou grave ameaça, pois o inciso I do texto atual prevê
16%, que é menos do que ⅙ (16,6%), mencionado no texto antigo.

Pois bem. Vamos ao problema. O artigo em estudo prevê que haverá a progressão seguindo as seguintes
porcentagens:

– 30% (trinta por cento) da pena – inciso IV: se o apenado for reincidente em crime cometido com violência
à pessoa ou grave ameaça;

– 60% (sessenta por cento) da pena – inciso VII: se o apenado for reincidente específico na prática de crime
hediondo ou equiparado; e.

– 70% (setenta por cento) da pena – inciso VIII: se o apenado for reincidente específico em crime hediondo
ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

Ok. Mas e se o apenado, no caso do inciso IV, não for reincidente em crime violento? E se, no caso dos incisos
VII e VIII, o apenado não for reincidente especifico em crime hediondo ou equiparado?

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Notem que o texto seco da Lei é expresso no sentido de que referidas porcentagem são aplicáveis somente
aos casos de reincidência específica (em crimes violentos ou, nos dois últimos incisos transcritos, em crimes
hediondos).

A situação de um apenado condenado por crime hediondo e reincidente não específico não foi contemplada
na novel redação legal. Nem a do apenado reincidente em crime não violento.

O STJ tem decisões conflitantes, a depender da Turma:

De acordo com o julgaso seguinte, da 6ª Turma (informativo 681 do STJ), publicado em 20 de novembro de
2020, diante da lacuna legal, o julgador deve aplicar a analogia in bonam partem:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. CRIMES HEDIONDOS. PROGRESSÃO DE REGIME. APENADO


REINCIDENTE. REQUISITO OBJETIVO. LEI N. 13.964/2019.

LACUNA NA NOVA REDAÇÃO DO ART. 112 DA LEP. INTERPRETAÇÃO IN BONAM PARTEM.


CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. PARECER ACOLHIDO.

1. A Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para
estabelecer o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime, é o que se
depreende da leitura do § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990: A progressão de regime, no caso
dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o
disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).

2. Já a Lei n. 13.964/2019 trouxe significativas mudanças na legislação penal e processual penal,


e, nessa toada, revogou o referido dispositivo legal. Agora, os requisitos objetivos para a
progressão de regime foram sensivelmente modificados, tendo sido criada uma variedade de
lapsos temporais a serem observados antes da concessão da benesse.

3. Ocorre que a atual redação do art. 112 revela que a situação ora em exame (condenado por
crime hediondo com resultado morte, reincidente não específico) não foi contemplada na lei
nova. Nessa hipótese, diante da ausência de previsão legal, o julgador deve integrar a norma
aplicando a analogia in bonam partem. Impõe-se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a,
do referido artigo da Lei de Execução Penal, exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da
pena para a progressão de regime, caso não cometida falta grave.

4. Ordem concedida para que a transferência do paciente para regime menos rigoroso observe,
quanto ao requisito objetivo, o cumprimento de 50% da pena privativa de liberdade a que
condenado, salvo se cometida falta grave.

(HC 581.315/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2020,
DJe 19/10/2020).

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Por outro lado, a 5ª Turma vem julgando o assunto da seguinte forma:

EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS


CORPUS. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. REINCIDÊNCIA.

CRIME HEDIONDO. PACOTE ANTICRIME (LEI N. 13.964/2019). APLICAÇÃO DE 60% (SESSENTA POR
CENTO) DO CUMPRIMENTO DA PENA PARA CONCESSÃO DA BENESSE. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO VERIFICADO. RECURSO IMPROVIDO.

1. A jurisprudência desta Corte Superior consolidou-se no sentido de que a condição de


reincidente, uma vez adquirida pelo sentenciado, estende-se sobre a totalidade das penas
somadas, não se justificando a consideração isolada de cada condenação e tampouco a aplicação
de percentuais diferentes para cada uma das reprimendas. Precedentes.

2. No presente caso, o decisum agravado determinou que fosse observada a porcentagem de


60% do cumprimento da pena para a progressão de regime prisional, em razão da prática de
crime hediondo, para o reincidente (ainda que não específico), assim como já acontecia na
legislação anterior, a qual, inclusive, previa o mesmo lapso para a progressão de regime, contudo,
em forma de fração (3/5).

3 . No mesmo sentido, os julgados recentes: HC 596031, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, Dje 27/08/2020; HC 599.977/SP, Rel.

Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe 29/09/2020.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg nos EDcl no HC 588.529/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 13/10/2020)

De igual modo, parte da doutrina entende que na hipótese de um agente ter sido condenado
irrecorrivelmente por um crime qualquer e depois cometer um delito hediondo ou equiparado, não é
possível a aplicação do percentual de 60% (reincidente específico), mas sim o percentual de 40% (art. 112,
inciso V, da LEP), desde que o crime hediondo praticado não tenha resultado morte. Neste caso, de morte,
deverá ser aplicado o percentual de 50% (art. 112, inciso VI, alínea a, da LEP) (LIMA, 2020, p. 736).

Por fim, lado outro, há quem entenda que, diante da não contemplação dos apenados reincidentes não
específicos na prática de crimes hediondos, deve ser aplicada o percentual de cumprimento de 60% (art.
112, inciso VII, da LEP) da pena para a progressão de regime. Isto porque os percentuais 40% e 50% aplicam-
se a apenados primários e, assim, não podem ser aplicados aos reincidentes (PONTOCARRERO e FERREIRA,
2020, p. 418).

Essa mesma polêmica surgirá no caso do inciso IV do art. 112 (IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for
reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça). Exemplo: o sujeito é condenado por furto e
torna-se reincidente por meio de um roubo. Qual a porcentagem para a progressão de regime, pois o sujeito
não é reincidente em crime violento (o primeiro crime é furto, que não possui violência ou grave ameaça nas

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suas elementares típicas)? 30% ou há uma lacuna evidente? Em outras palavras, exige-se a reincidência
específica em crimes cometidos com violência ou grave ameaça para que apliquemos o lapso de 30%?

Aguardemos as posições dos Tribunais Superiores sobre estes temas. Até lá, lembre-se que o MINISTÉRIO
PÚBLICO há muito tempo deixou de ser [órgão de acusação. Portanto, se for exigido tal assunto numa prova
objetiva (o que é pouco provável), “sinta a banca”, “meça a febre do examinador” para saber se ele é
garantista, se ele é de vanguarda, se ele segue o texto expresso e seco da lei etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Rogério Sanches et al. Leis Penais Especiais: comentadas/Coordenadores Rogério Sanches Cunha, Ronaldo
Batista Pinto, Renne de Ó Souza – 3. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

CUNHA, Rogério Sanches. 681: Se o condenado não for reincidente específico em crime hediondo com resultado
morte, não se aplica a progressão de regime na forma do art. 112, VIII, da LEP. Disponível em:
<https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/12/04/681-se-o-condenado-nao-reincidente-especifico-em-
crime-hediondo-com-resultado-morte-nao-se-aplica-progressao-de-regime-na-forma-art-112-viii-da-lep/>.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria, jurisprudência
e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

Informativo de Jurisprudência. Informativo nº 0681. Publicação: 20 de novembro de 2020. Disponível em:


<https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/>.

LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020.

QUEIROZ, Paulo. A nova progressão de regime – Lei nº 13.964/2019. Disponível em:


<https://www.pauloqueiroz.net/a-nova-progressao-de-regime-lei-n-13-964-
2019/#:~:text=A%20lei%20d%C3%A1%20nova%20reda%C3%A7%C3%A3o,tornando%20a%20progress%C3%A3o%20
mais%20complexa.>.

ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

1.8 - DIREITO ELEITORAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Eleitoral, vamos discutir um assunto relevante, que
certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos estaduais: os
partidos políticos.

1.8.1 - Partidos Políticos: Definição

Os partidos políticos são definidos como entidades intermediárias entre a sociedade civil e a sociedade
política, na medida em que concorrem para a formação da vontade política do povo, à luz do art. 17 da
Constituição da República e art. 1° da Lei n° 9.096/95.

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1.8.2 - Partidos Políticos: Natureza

O partido político é dotado da natureza de pessoa jurídica de direito privado, a teor do art. 1º, caput, da Lei
n° 9.096/95.

Nesse diapasão, o arquivamento dos atos constitutivos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas é necessário
para a aquisição da personalidade jurídica, enquanto que o registro do estatuto no Tribunal Superior Eleitoral
é exigido para a participação no processo eleitoral, recebimento de recursos financeiros do Fundo
Partidário, acesso gratuito ao rádio e televisão e garantia da exclusividade da sua denominação, sigla e
símbolos.

“Desde que sejam apresentados os documentos comprobatórios dos atos constitutivos,


devidamente averbados na forma da lei civil e atendidos os requisitos da Lei Orgânica dos
Partidos Políticos, a Justiça Eleitoral deve deferir o pedido de registro” (TSE, AC n° 227, Rel. Min.
Américo Luz, DJU 06.05.1992).

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Conselho Tutelar

Anotações Preliminares

A previsão do Conselho Tutelar revelou-se como uma das novidades inseridas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, alinhado à Doutrina da Proteção Integral e ao princípio da desjudicialização do atendimento.

Conselho Tutelar como Órgão Municipal

O Estatuto da Criança e do Adolescente inicia a tratativa do Conselho Tutelar definindo-o como órgão
permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente (art.131).

O órgão público, como ensina a doutrina, é conceituado como “uma unidade que congrega atribuições
exercidas pelos agentes públicos que o integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado”. 46

Em particular ao Conselho Tutelar, os conselheiros são agentes públicos que têm a missão de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, sendo escolhidos pela população para o exercício de
mister próprio da sociedade e do Estado, nos termos do art. 227, caput, da Constituição Federal.

46
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanela. Direito Administrativo. 30ª. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 672.

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A Lei Federal nº 9.784/1999, que disciplina o processo administrativo no âmbito federal, define o órgão como
“a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração
indireta”.

Os Conselhos Tutelares, como órgãos que são, fazem parte da Administração Pública direta, constituídos por
um conjunto de competências47, que não se esgotam no art. 136, do Estatuto. Não são pessoas jurídicas e
não podem ser caracterizados como entidades.

Valendo-se da classificação doutrinária, os Conselhos Tutelares podem ser classificados como órgãos
públicos centrais ou locais, autônomos, simples e coletivos. Explica-se.

Quanto à esfera de ação, ou seja, a depender do âmbito de atuação, os órgãos podem ser classificados como
centrais, pois exercem as suas atribuições no respectivo território, ou como locais, pois atuantes em uma
parte do território.48 Dessa maneira, se existir apenas um Conselho Tutelar na cidade, este será classificado
como central. De outro lado, existindo mais de um Conselho, será tido como local. Nos termos da indicação
legal, em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, um
Conselho Tutelar.

Quanto à posição estatal, os Conselhos Tutelares são classificados como autônomos, conforme indica o
próprio caput do art. 131, do Estatuto. Em particular à construção legal, embora o Conselho deva observar
as diretrizes municipais sobre o local, dia e horário de funcionamento, bem como da lei orçamentária, a
decisão tomada pelo colegiado, no que for pertinente à observância dos direitos da criança e do adolescente,
não poderá ser revista pelo Executivo Municipal e muito menos por aqueles que estiverem abaixo da linha
hierárquica, mas apenas pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude.

Como visto, a autonomia está restrita ao exercício das atribuições estatutárias, mas não exime os
conselheiros do controle decorrente da prestação de contas e observância dos princípios da Administração
Pública.

Os Conselhos Tutelares são tidos como órgãos simples, pois constituído por um único centro de atribuições.

Por fim, são coletivos, pois compostos por vários agentes – conselheiros tutelares, escolhidos pela população
local, para o exercício de mandato por um período de quatro anos, admitida a recondução, desde que se
sujeitem a novo processo de escolha.

Além disso, o Estatuto também caracteriza o Estatuto como sendo um órgão permanente, de modo que, em
tese, não pode ser extinto. Embora essa seja a previsão legal, não se pode desconsiderar que fatores externos

47
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27ª. São Paulo: Malheiros, p. 140.

48
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanela. Direito Administrativo. 30ª. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 674.

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podem sugerir a necessidade de que um dos Conselhos Tutelares de uma cidade deixe de existir, como em
razão da diminuição da população local, sempre observando o princípio da prioridade absoluta.

O Conselho Tutelar também é um órgão não jurisdicional, na medida em que não soluciona litígios, embora
seja um centro importante de diálogo e de busca de consenso. Aconselha e tutela a criança e o adolescente.

Os Conselheiros Tutelares Como Agentes Públicos

Aponta-se para a existência de quatro categorias de agentes públicos (espécies distintas da categoria-gênero
agente público): agentes políticos, servidores públicos, militares e particulares em colaboração com o poder
público.

Agentes políticos: são responsáveis pelo exercício das atividades de governo e exercem mandato, sendo
alguns eleitos, enquanto outros nomeados.

Militares: indivíduos que prestam serviços às Forças Armadas – Marinha, Exército e Aeronáutica e às Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos Territórios.

Servidores públicos: “pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração
Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos”. 49 Compreendem:
I) servidores estatutários; II) empregados públicos; III) servidores temporários.

Agentes públicos particulares em colaboração com o poder público: “pessoas físicas que prestam serviços ao
Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração”.50

Pois bem. Os conselheiros tutelares enquadram-se no espectro destes últimos, ou seja, são agentes públicos
particulares em colocação com o poder público, sem vínculo empregatício, embora lhes sejam assegurados
remuneração e outros direitos (cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de
1/3 do valor da remuneração mensal, licença-maternidade, licença-paternidade e gratificação natalina).

A Escolha dos Conselheiros Tutelares

A Constituição Federal impõe o dever jurídico à família, à sociedade e ao Estado, de assegurar, com
prioridade absoluta, os direitos fundamentais da criança e do adolescente. O Estatuto, por sua vez, indica
que o Conselho Tutelar estará encarregado pela sociedade de zelar pelos direitos daquelas pessoas.

E a sociedade, encarregando este órgão de tão importante tarefa, poderá escolher os seus integrantes. O
processo de escolha será estabelecido em lei municipal, deflagrado e realizado pelo Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente, sob a fiscalização do Ministério Público, e ocorrerá em data unificada

49
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanela. Direito Administrativo. 30ª. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 681.

50
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanela. Direito Administrativo. 30ª. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 688.

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em todo o território nacional a cada quatro anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano
subsequente ao da eleição presidencial (art. 139, § 1º). A posse dos conselheiros ocorrerá no dia 10 de janeiro
do ano subsequente ao processo de escolha.

Para que o indivíduo possa candidatar-se a membro do Conselho Tutelar e sujeitar-se ao processo de escolha,
deve observar os seguintes requisitos: I) reconhecida idoneidade moral; II) idade superior a vinte e um anos;
III) residir no município.

Sem prejuízo, admite-se que a lei municipal (e não, por exemplo, mero ato do Conselho Municipal de
Direitos) preveja a necessidade de serem preenchidos outros requisitos, como, por exemplo, aprovação em
avaliação sobre conhecimentos gerais de Direito da Criança e do Adolescente.

Naturalmente, o processo de escolha se sujeita às regras de probidade, de modo que é vedado ao candidato
doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive
brindes de pequeno valor (§ 3º).

Consequentemente, incorrendo nestas ou em outras condutas ímprobas, admite-se o ajuizamento de ação


para a cassação de candidatura.

Não poderão servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou
nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado (art. 140,
caput).

O mesmo impedimento ocorrerá dos conselheiros em relação à autoridade judiciária e ao representante do


Ministério Público com atuação na Vara da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional
ou distrital.

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 - Base de cálculo das taxas

A base de cálculo tem como função não apenas medir a proporção do evento tributário, mas também a de
confirmar, infirmar ou afirmar o elemento material do antecedente normativo.

No caso das taxas, como se está diante de um tributo vinculado e, portanto, comutativo, cujo fato gerador é
a prestação de um serviço público específico e divisível ou o exercício do poder de polícia, a base de cálculo
deve ter uma equivalência razoável com o custo incorrido pelo Estado na sua atuação. Frisamos o termo
razoável porque não se exige que o valor cobrado seja precisamente aquele correspondente ao custo estatal,
mas tão somente que exista uma relação aproximativa entre esses dois termos.

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Exemplo de violação a esse critério são as taxas de licença de publicidade calculadas sobre o espaço ocupado
pelo anúncio na fachada externa do estabelecimento51. A inconstitucionalidade reside na ausência de relação
entre o tamanho do anúncio da fachada e o custo incorrido pelo estado ao exercer a fiscalização.

Outro exemplo é o da taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa, conforme entendimento
que foi materializado pela Súmula 667 do Supremo Tribunal Federal:

Súmula 667: Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem
limite sobre o valor da causa.

A ideia de comutatividade conduz à conclusão de que a taxa não pode ter base de cálculo própria de imposto,
por uma razão bastante singela: o imposto é tributo não vinculado, ou seja, não comutativo, cuja hipótese
de incidência descreve uma conduta do contribuinte, e não do Estado. Por consequência, a base de cálculo
desse tributo dimensiona o evento tributário relacionado ao sujeito passivo, não tendo como função
quantificar qualquer atividade realizada pelo Poder Público.

Essa conclusão, que pode ser extraída da natureza de cada uma dessas espécies tributárias, foi
expressamente consignada na legislação, tanto na Constituição Federal quanto no Código Tributário
Nacional:

Art. 145, § 2º, da CF

As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.

Art. 77, parágrafo único, do CTN:

A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondem a imposto,
nem ser calculada em função do capital das empresas.

Por esse motivo, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade da taxa de serviços urbanos
e da taxa de licenciamento e importação52.

Em ambos os casos, o fato gerador era idêntico a de impostos. No caso da taxa de serviços urbanos, a base
de cálculo coincidia com a do IPTU; no caso da taxa de licenciamento de importação, a base de cálculo era
idêntica à do imposto de importação – valor da mercadoria importada. Portanto, em ambos os casos, a base
de cálculo infirmou o critério material da exação. Tratavam-se, na verdade, de impostos travestidos de taxas,
porque a quantificação do valor do tributo se relacionava a elementos referentes ao contribuinte, não tendo
qualquer relação com a atividade do Poder Público.

51
Resp 78.048/SP, 2a T., rel. Min. Ari Pargendler, j. em 1997

52
RE 120.811/SP, 1a T., Rel. Min. Ilmar Galvão. 1993 e RE 167.992/PR, Pleno, rel. Min. Ilmar Galvão, j. em 1994

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Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento, posteriormente materializado pela
Súmula Vinculante nº 29, de ser “constitucional a adoção, no cálculo do valor da taxa, de um ou mais
elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja identidade entre uma
base e outra”.

Portanto, por força dessa jurisprudência, nada impede que haja algum grau de semelhança entre a base de
cálculo do imposto e a base de cálculo da taxa, sendo apenas vedada a identidade total entre uma base e a
outra. Exemplo de aplicabilidade desse entendimento diz respeito às taxas de coleta de lixo cuja base de
cálculo leva em consideração a dimensão da área construída, elemento que igualmente faz parte do IPTU.
Tem-se considerado que esse critério não fere a Constituição, porque a metragem do imóvel é apenas um
dentre os vários elementos utilizados para mensurar o valor do IPTU, o que afasta, por conseguinte, a
identidade total entre uma exação e a outra53.

Antes de encerrarmos o tópico, é importante fazermos uma advertência: embora os requisitos da base de
cálculo de uma taxa estejam bem estabelecidos – comutatividade e não coincidência integral com a base de
cálculo de um imposto – na prática não se mostra tarefa simples assentar se o critério utilizado pelo legislador
atende à exigência da razoável equivalência entre o custo da atividade estatal e o valor cobrado a título de
tributo.

Peguemos como exemplo a Taxa de Fiscalização do Mercado de Valores Mobiliários, cuja base de cálculo
varia conforme a natureza da atividade exercida pelo contribuinte e o seu patrimônio líquido 54. Dentre as
diversas alegações de inconstitucionalidade da exação, destacava-se aquela que apontava a ausência de
comutatividade. Para essa perspectiva, os critérios utilizados pelo legislador eram totalmente inidôneos para
mensurar o custo incorrido pela CVM ao exercer a atividade fiscalizatória.

Apesar da consistência dos argumentos, não foi o que entendeu o Supremo Tribunal Federal.

Conforme consta do voto do Ministro Gilmar Mendes, relator da ADI 453/SP “ [...] A flutuação dos valores
cobrados deriva da amplitude do patrimônio líquido do contribuinte, o que identifica uma maior necessidade
de fiscalização. Em outras palavras, na medida em que maior o patrimônio líquido do fiscalizado, e

53
RE 232.393/SP. Pleno, rel, Min. Carlos Velloso. 1999

54
Lei 7.940/89

Art. 4º A Taxa é devida:

I - trimestralmente, de acordo com os valores expressos em Bônus do Tesouro Nacional - BTN, nos casos especificados
nas Tabelas A, B e C;

II - por ocasião do registro, de acordo a alíquota correspondente, incidente sobre o valor da operação, nos casos da
Tabela D. (Vide Lei nº 11.908, de 2009).

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consequentemente maior a taxa cobrada, evidencia-se uma também maior necessidade do exercício do
poder de fiscalização”.

Portanto, o Supremo Tribunal Federal entendeu que existia uma razoável equivalência entre o custo da
atividade estatal e o valor cobrado a título de tributo, por entender legítima a presunção de que quanto
maior o patrimônio líquido da pessoa jurídica, maior o custo incorrido pelo Poder Público ao exercer a
fiscalização. Posteriormente, a Corte editou súmula sobre o tema:

Súmula 665: É constitucional a taxa de fiscalização dos mercados de títulos e valores mobiliários
instituída pela Lei 7.940/1989.

1.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1.11.1 - Formas de atuação e participação do Ministério Público, em sede de processo


coletivo (principais diplomas)

a- Na ação civil pública, o Ministério Público pode atuar como legitimado ativo, na forma do art. 129, III, da
Constituição, bem como o art. 5º, I, da referida lei, que confere legitimidade expressa de atuação. Ainda,
pode atuar como fiscal da lei, na forma do art. 178, I, do Código de Processo Civil e art. 5º, §1º da Lei 7.347/85,
que assim dispõe:

Art. 5º [...] § 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.

Ainda, o Ministério Público pode atuar em regime de litisconsorte facultativo juntamente com outro
Ministério Público, na forma do art. 5º do mesmo diploma:

Art. 5º [...] § 5° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União,


do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta
lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990).

Mesmo como fiscal da lei, pode o Ministério Público interpor recursos, ex vi do art. 179, II, do Código de
Processo Civil. Por fim, pode assumir a titularidade ativa nos casos previsto no art. 5º, §3º da LACP, quando
a associação autora desistir infundadamente ou abandonar a ação. Pode, por fim, atuar na parte de
investigação, na condução de inquérito civil, art. 8º, §1º da lei 7.347/85, bem como na execução, por força
do art. 15 do mesmo diploma.

b- Na ação popular, o Ministério Público atua sobretudo como fiscal da lei, na forma do art. 6º, §4º da lei
4.717/65, com algumas responsabilidades específicas: Art. 6º § 4º O Ministério Público acompanhará a ação,
cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela
incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

Pode ainda assumir a titularidade ativa nas situações do art. 9º da LAP, quando o autor popular desistir da
ação ou der motiva à absolvição da instância. Neste caso, há a necessidade de publicações de editais. Ainda,
na ação popular, o Ministério Público pode atuar na execução, na forma do art. 16: Art. 16. Caso decorridos

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60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro
promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias
seguintes, sob pena de falta grave.

Ressalta-se que é uma forma de execução subsidiária, só levada a efeito em condições especiais. Poderá,
inclusive, recorrer como fiscal da lei, na forma do art. 179, II, do CPC.

c- Na lei 12.016/2009, o Ministério Público atua de duas formas, a saber. Como parte ativa, na condição de
legitimado extraordinário, interpretando-se em conjunto o art. 32, I da Lei 8.625/93, em mandados de
segurança de natureza individual. Frisa-se não haver legitimidade do MP para ajuizamento de mandado de
segurança coletivo, por ausência de previsão legal (art. 21 da lei 12.016/2009) e constitucional. Ainda, atua
como fiscal da lei, na forma do art. 12: Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o desta
Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10
(dez) dias. Ainda, pode atuar na forma do art. 15, ao requerer a suspensão da execução da liminar, nos casos
especificados. Por fim, pode recorrer, seja impetrante ou fiscal da lei, na forma do art. 179, II, do CPC.

d- No estatuto do idoso, o Ministério Público atua e participa de diversas formas. Como autor de ações
judiciais, investigações, substituto processual do idoso, fiscal dos direitos dos idosos, das entidades públicas
e particulares de atendimento ao idoso. Todas essas situações estão previstas no art. 74 da lei 10.741/03.
Também atua em regime de litisconsórcio facultativo, com previsão no §1º do art. 81 do Estatuto do Idoso.
Atua ainda como fiscal da lei nas ações em que não é autor, na forma do art. 75 e na forma do art. 77 do
Estatuto: Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada
de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. Importante dizer que neste particular, o STJ
firmou tese sobre a atuação do Ministério Público: 3) É desnecessária a intervenção do Ministério Público na
qualidade de fiscal da lei em demandas que não envolvam direitos coletivos ou em que não haja exposição
de idoso aos riscos previstos no art. 43 da Lei n. 10.741/2003. Ainda, importante mencionar a atuação do
Ministério Público prevista no art. 45 do Estatuto do Idoso, ao requerer medidas específicas de proteção,
fiscalização de entidades, art. 52 e requisitar procedimento para imposições de penalidades administrativas
por infração às normas de proteção ao idoso. Pode, por fim, judicialmente, dar início ao procedimento de
apuração de irregularidade em entidade governamental e não-governamental de atendimento ao idoso,
como se vê no art. 65.

1.11.2 - O princípio da congruência ou da correlação no processo coletivo

O princípio da congruência ou da correlação tem previsão nos artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil
e estabelece uma relação entre o pedido e a sentença.

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer
de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

Em que pese o processo coletivo possuir característica especiais, com a ampliação dos poderes do juiz, sua
decisão deve guardar relação com o pedido da causa, sob pena de inovação e excesso de decisão. Os poderes
do juiz, estabelecidos no art. 11 da lei 7.347/85 e art. 84 do Código de Defesa do Consumidor não altera, esta

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relação, mas somente a forma com que ela é satisfeita. Este é o posicionamento de Ricardo Barros Leonel e
Hugo Nigro Mazzilli.

1.12 - DIREITO EMPRESARIAL

1.12.1 - Comércio Eletrônico

No mundo moderno, é comum que muitos empresários utilizam os meios eletrônicos para o exercício de
suas atividades, não mantendo relações pessoais diretas com seus consumidores. O que caracteriza
fundamentalmente o estabelecimento empresarial virtual (estabelecimento comercial digital) é a forma de
acesso, que se dá por meio de transmissão eletrônica de dados, conforme dispõe Fábio Ulhoa Coelho:

“O tipo de acesso ao estabelecimento empresarial define a classificação deste. Quando feito por
deslocamento no espaço, é físico; quando por transmissão e recepção eletrônica de dados,
virtual. Há aspectos comuns aos dois tipos de estabelecimento, como o (...) [aviamento], mas há
direitos referentes ao estabelecimento físico que não existem relativamente ao virtual, como o
de renovação compulsória da locação.
Por essa razão, também o estabelecimento virtual pode ter (...) [aviamento], ou seja, um valor
agregado ao conjunto de bens que o compõe.” (Fábio Ulhoa Coelho)
É possível, nessa modalidade, existir contratação de bens, corpóreos/materiais e incorpóreos/imateriais. Em
se tratando de bens corpóreos, a negociação é feita por meio eletrônico, e a entrega do bem se dá́
fisicamente, pelas vias comuns, como o serviço postal. Já em se tratando de compra de bens incorpóreos,
além da negociação, a entrega do bem é feita diretamente ao comprador por meio eletrônico, como ocorre
com o download de livros PDF.

1. Comércio Eletrônico

Essa modalidade de comércio se caracteriza sempre que a venda de produtos ou serviços, sendo
instrumentalizada por meio de transmissão eletrônica de dados, o que ocorre no ambiente virtual da rede
mundial de computadores, ou como conhecemos pela internet. O objeto do negócio não importa, desde que
a manifestação de vontade seja instrumentalizada pelo meio virtual, por meio de assinaturas digitais.

2. Decreto nº 7.962/2013

O Decreto n. 7.962/13 regulamenta a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a
contratação no comércio eletrônico, exigindo informações claras, atendimento facilitado ao consumidor e
respeito ao direito ao arrependimento. Ademais, os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados
para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de destaque e de fácil
visualização, as informações de nome empresarial e inscrição do fornecedor (quando houver), bem como o
emdereço físico e eletrônico para que seja possível o contato rápido e a obtenção de sua localização.
Deve os sítios, ainda, apresentarem as características essenciais do produto ou serviço, o preço, condições
da oferta e possíveis restrições à sua fruição.

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Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para ofertas de compras coletivas ou
modalidades análogas de contratação deverão conter quantidade mínima de consumidores para a efetivação
do contrato; prazo para utilização da oferta pelo consumidor e identificação do fornecedor responsável pelo
sítio eletrônico e do fornecedor do produto ou serviço ofertado, nos termos dos incisos I e II do art. 2º.
Por fim, o decreto determina que visando garantir o atendimento facilitado ao consumidor, o fornecedor
deverá apresentar sumário do contrato antes da contratação, com as informações necessárias ao pleno
exercício do direito de escolha do consumidor, enfatizadas as cláusulas que limitem direitos; fornecer
ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e correção imediata de erros ocorridos nas etapas
anteriores à finalização da contratação; confirmar imediatamente o recebimento da aceitação da oferta;
disponibilizar o contrato ao consumidor em meio que permita sua conservação e reprodução,
imediatamente após a contratação; manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico,
que possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes a informação, dúvida, reclamação,
suspensão ou cancelamento do contrato; confirmar imediatamente o recebimento das demandas do
consumidor referidas no inciso, pelo mesmo meio empregado pelo consumidor e utilizar mecanismos de
segurança eficazes para pagamento e para tratamento de dados do consumidor.
A manifestação do fornecedor a tais demandas deverá ser encaminhada em até cinco dias ao consumidor.
No que se refere ao direito de arrependimento fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os
meios adequados e eficazes para tanto, confirmando imediatamente o recebimento da manifestação,
cabendo-lhe comunicar imediatamente à instituição financeira ou à administradora do cartão para fins de
reembolso ou não lançamento na fatura.
CDC- Art. 5º, § 2o O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos
acessórios, sem qualquer ônus para o consumidor.

3. Tipos de estabelecimento empresarial virtual

Segundo JOSÉ OLINTO DE TOLEDO RIDOLFO, há 2 (dois) tipos de estabelecimento digital. O originário se
caracteriza pelo fato de que a criação, desenvolvimento e implementação do comércio virtual estão
desvinculados à atividade empresarial e organizada. O derivado, por sua vez, decorre de atividade
empresarial que já existe e que passa a usar os meios eletrônicos para o exercício.

1.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Legislação Institucional do Ministério Público, vamos
discutir um assunto relevante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos
Ministérios Públicos estaduais: os princípios institucionais.

1.13.1 - Princípios Institucionais: Definição

O Ministério Público é informado por princípios explícitos (unidade, indivissibilidade e independência


funcional) e implícito (promotor natural).

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1.13.2 - Princípios Institucionais: Classificação

A Instituição é submetida aos princípios explícitos da unidade, já que o Ministério Público constitui um todo
orgânico, com idênticos fundamentos, direção e finalidade; indivisibilidade, posto que há a possibilidade de
substituição de um membro do Ministério Público por outro, sem que haja vinculação de opinião, no mesmo
processo, e independência funcional, visto que não há hierarquia funcional, conquanto exista hierarquia
administrativa, entre os membros do Ministério Público, que não estão vinculados às recomendações dos
Órgãos de Administração Superior em matérias relacionadas ao desempenho de suas atribuições, como
também não podem ser responsabilizados pelos atos que praticarem no exercício de suas funções, na forma
do art. 127, § 1º, da Constituição Federal (MÉDICE, Sérgio de Oliveira. O Princípio da Independência
Funcional. Justitia, nº 60, 1999, p. 733).

A Instituição é sujeita ao princípio implícito do promotor natural, resumido como predeterminação em lei do
órgão de execução do Ministério Público para oficiar em certo processo, inafastável por ato discricionário
imputado ao Procurador-Geral, nos termos dos arts. 5o, inc. LIII, 127, § 2o, e 128, § 5o, inc. I, ”b”, todos da
Constituição da República.

De um lado, o promotor natural é antecedido pela lotação por titularidade no órgão de execução e
inamovibilidade do membro do Ministério Público, na medida em que a falta de atribuição importa nulidade
absoluta do processo.

De outro lado, o promotor natural é sucedido pela limitação do poder hierárquico do Procurador-Geral à
independência funcional dos membros do Ministério Público, de maneira que as avocações, delegações,
designações e remoções são restritas às hipóteses previstas em lei.

O promotor natural é revestido de dois aspectos, por via de consequência: um é correlato ao direito subjetivo
da pessoa, natural ou jurídica, que figura como parte no processo que reclama a intervenção ministerial, à
atuação do membro do Ministério Público lotado no órgão com atribuição predeterminada em lei, enquanto
que outro é correlativo ao direito subjetivo público do membro do Ministério Público de oficiar nos processos
incluídos no âmbito de atribuição do órgão que titulariza (PENTEADO, Jaques de Camargo. O Princípio do
Promotor Natural. Justitia, nº 60, 1999, p. 971).

Por último, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro adverte que “o princípio do promotor natural pressupõe que cada
órgão da instituição tenha, por um lado, as suas atribuições fixadas em lei e, por outro, que o agente, que
ocupa legalmente o cargo correspondente ao seu órgão de atuação, seja aquele que irá oficiar no processo
correspondente, salvo as exceções previstas em lei, vedado em qualquer hipótese, o exercício das funções
por pessoas estranhas ao quadro funcional do Parquet” (CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Ministério
Público no Processo Civil e Penal: promotor natural, atribuição e conflito. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999,
p. 51).

“O postulado do promotor natural, que se revela imanente ao sistema constitucional brasileiro,


repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela Chefia da Instituição, a
figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia destinada tanto a proteger
o membro do Ministério Público, uma vez que lhe assegura o exercício pleno e independente do
seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando,
em quaisquer causas, apenas o promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios

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abstratos e predeterminados, estabelecidos em lei. O postulado do promotor natural limita, por


isso mesmo, o poder do Procurador-Geral que, embora expressão visível da unidade
institucional, não deve exercer a Chefia do Parquet de modo hegemônico e incontrastável” (STF,
HC nº 67.759, Rel. Min. Celso de Mello, J. 06.08.1992, DJU 01º.07.1993).

1.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR

1.14.1 - Transporte “in utilibus” da coisa julgada coletiva.

Trata-se de um instituto previsto no art. 103, §3º da Lei 8.078/90, a ser utilizado quando da procedência do
pedido nas ações coletivas, sendo possível utilizar o resultado em questão em demandas individuais. Neste
caso, transporta-se a coisa julgada que se afigura como benéfica, para as demandas individuais. Art. 103 § 3°
Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de
1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente
ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores,
que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA PROFESSOR QUESTÕES


Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

Vamos lá!

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2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. O amicus curiae, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, tem a natureza
jurídica de:
a) Auxiliar.
b) Fiscal imparcial.
c) Terceiro interveniente especial.
d) Curador da presunção de constitucionalidade.
e) Legitimado ativo da ação direta de inconstitucionalidade.

Comentários

O Supremo Tribunal Federal, considerando o art. 131, § 3º, do RISTF, atualizado com a introdução da Emenda
Regimental nº 15/04, direcionou a sua jurisprudência no sentido da admissão de terceiro na relação
processual, com vistas à manifestação sobre a questão de direito subjacente à controvérsia constitucional.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C.

“A intervenção de terceiro, na condição de amicus curiae, qualifica-se como fator de legitimação


social das decisões do Supremo Tribunal Federal, em ordem a permitir que nele se realize, sob
uma perspectiva eminentemente pluralística, a possibilidade de participação de autoridades,
órgãos ou entidades que efetivamente representem os interesses gerais da coletividade ou
expressem os valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais” (STF, ADI
nº 2.130, Rel. Min. Celso de Mello, J. 20.12.2000, DJU 02.02.2001).

Questão 2. A revogação intercorrente da lei ou ato normativo objeto da ação direta de


inconstitucionalidade importa em:
a) Extinção do processo sem julgamento de mérito, desde que a modificação seja substancial.
b) Suspensão do processo.
c) Extinção do processo com julgamento de mérito em qualquer hipótese.
d) Prosseguimento do processo.
e) Extinção do processo sem julgamento de mérito, desde que a sessão de julgamento não tenha sido
iniciada.

Comentários

A revogação da norma que funciona como objeto do controle de constitucionalidade concentrado


previamente à inclusão em pauta de julgamento importa em prejuízo à ação direta, em decorrência de falta
de objeto, de maneira que eventuais efeitos residuais havidos devem ser perseguidos ulteriormente em
controle de constitucionalidade difuso.

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Na questão sob exame, deve o candidato assinalar a alternativa E.

“A revogação intercorrente da lei ou ato normativo impugnado prejudica a ação direta de


inconstitucionalidade, independentemente da existência de efeitos residuais concretos. Esse
entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal nada mais reflete senão a própria
natureza jurídica do controle normativo abstrato, em cujo âmbito não se discutem situações de
caráter concreto ou individual” (STF, ADI nº 1.203, Rel. Min. Celso de Mello, J. 19.04.1995, RTJ
160/145).

Questão 3. O efeito vinculante não é oponível:


a) Ao Supremo Tribunal Federal.
b) Ao Superior Tribunal de Justiça.
c) À Administração Pública.
d) Aos Tribunais Regionais Federais.
e) Aos Tribunais de Justiça.

Comentários

O efeito vinculante, de acordo com o art. 102, § 2º, da Constituição Federal, o efeito vinculante alcança os
demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública, direta e indireta, nas esferas federal, estadual,
distrital e municipal.

A contrario sensu, o efeito vinculante não atinge o próprio Supremo Tribunal Federal, o Poder Legislativo e
o governo, razão pela qual a alternativa A está correta.

“A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em
ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal,
só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder Executivo, não alcançando
o legislador, que pode editar nova lei com idêntico conteúdo normativo, sem ofender a
autoridade daquela decisão” (STF, Rcl nº 2.617, Rel. Min. Cezar Peluso, J. 23.02.2005, DJU
20.05.2005).

Questão 4. Na declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, o Supremo Tribunal


Federal:
a) Decide por restringir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
b) Decide por afastar o efeito repristinatório sobre a lei ou ato normativo supostamente revogado pela
norma declarada inconstitucional.
c) Decide que a lei ou ato normativo ainda é constitucional.
d) Decide por afastar os sentidos contrários à Constituição, sem, contudo, declarar inconstitucional a lei ou
ato normative.
e) Decide por não pronunciar a nulidade da norma legal na declaração de inconstitucionalidade.

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Comentários

Na declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, o órgão judicial elimina as hipóteses
de aplicação incompatíveis com a Constituição, de sorte que há a redução do programa normativo, sem
alterar a expressão literal da norma jurídica.

Em consequência, no dispositivo da decisão definitiva de mérito, o pedido formulado na ação direta de


inconstitucionalidade é julgado parcialmente procedente, uma vez que a lei ou ato normativo é declarado
inconstitucional, se aplicável a determinada hipótese.

Forte nessa premissa, o candidato deve assinalar a alternativa D.

“Direito Constitucional. Regime de execução da Fazenda Pública mediante precatório. Emenda


Constitucional nº 62/2009 (...). A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos
fazendários inscritos em precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre
débitos estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte processual
privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos juros da mora tributária
à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art. 161, § 1º, CTN). Declaração parcial de
inconstitucionalidade sem redução de texto da expressão “independentemente de sua
natureza”, contida no art. 100, § 12, da CF, incluído pela EC nº 62/2009, para determinar que,
quanto aos precatórios de natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora
incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário” (STF, ADI nº 4.357, Rel. Min. Carlos Britto, J.
14.03.2013, DJU 26.09.2014).

Questão 5. Não é correto afirmar que:


a) O efeito vinculante importa na ampliação dos limites da coisa julgada.
b) O efeito vinculante impede que o Presidente da República proceda à edição de medida provisória em
sentido contrário à decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal.
c) A decisão que concede a medida liminar em ação direta de inconstitucionalidade pode ser dotada de
eficácia vinculante.
d) O efeito vinculante impede que normas de igual teor à declarada inconstitucional deixem de ser
invalidadas pela decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal.
e) O efeito vinculante importa no cabimento da reclamação para a preservação da autoridade da decisão de
inconstitucionalidade.

Comentários

O efeito vinculante não impede que o Presidente da República proceda à edição de medida provisória em
sentido contrário à decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal, tal como ocorreu na ação direta de
inconstitucionalidade nº 3.645, de 31 de maio de 2006, sucedida pela Medida Provisória nº 327, de 31 de
outubro de 2006, acerca da produção de organismos geneticamente modificados.

Destarte, o candidato deve assinalar a alternativa B.

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2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Julgue os itens abaixo:
I - No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores legais previstos para a Concorrência,
Tomada e Preço e Convite, quando formado por até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado
por maior número.
II – Caberá Leilão para venda de bens móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior R$
1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais);
III - Para contratação de bens e serviços de informática, a Administração Pública deverá, obrigatoriamente,
adotar o tipo melhor técnica.
IV – O fato de o servidor estar licenciado afasta o entendimento segundo o qual não pode participar de
procedimento licitatório.

Estão incorretos:
a) I e II
b) II e III
c) III e IV
d) I, II e III
e) Apenas o item III

Comentários

Gabarito: C

Item I – Correto – Trata-se da disposição firmada no art. 23, §8º, da Lei 8666/93

Item II – Correto – Trata-se de disposição prevista no art. 17, §6º, da Lei 8.666/93

Item III – Errado – De acordo com o art. 45, §4º, da Lei 8666/93, Para contratação de bens e serviços de
informática, a Administração Pública deverá, obrigatoriamente, adotar o tipo técnica e preço.

Item IV – Errado - De acordo com o STJ, o fato de o servidor estar licenciado não afasta o entendimento
segundo o qual não pode participar de procedimento licitatório a empresa que possuir em seu quadro de

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pessoal servidor ou dirigente do órgão contratante ou responsável pela licitação. Isso porque o não deixa de
ser servidor, o sujeito em gozo de licença. 55

Questão 2. Considerando a fase externa do Pregão, marque a assertiva incorreta:


a) Do aviso de convocação de interessados para o pregão constarão a definição do objeto da licitação, a
indicação do local, dias e horários em que poderá ser lida ou obtida a íntegra do edital.
b) O prazo fixado para a apresentação das propostas, contado a partir da publicação do aviso, não será
inferior a oito dias úteis.
c) Aberta a sessão, os interessados entregarão os envelopes contendo o preço oferecido, sendo estes
guardados para abertura posterior ao processo de lances.
d) No curso da sessão, o autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com preços até 10% superiores
àquela poderão fazer novos lances verbais e sucessivos.
e) A equipe de apoio deverá ser integrada em sua maioria por servidores ocupantes de cargo efetivo ou
emprego da administração, preferencialmente pertencentes ao quadro permanente do órgão ou entidade
promotora do evento.

Comentários

Gabarito: C

Letra A – Certa – Trata-se do art. 4º, II da Lei 10.520/02

Letra B – Correta – De acordo com o art. 4º, V da Lei do pregão, o prazo não será inferior a 8 dias úteis.

Letra C – Errada – De acordo com o art. 4º, VII da lei do pregão, a abertura do envelope dos preços será
imediata.

Letra D - Certa – Trata-se do art. 4º, VIII da Lei do pregão.

Letra E – Certa – Trata-se de disposição prevista art. 3, §1º, da Lei do Pregão

Questão 3. De acordo com as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, marque a assertiva correta
a) Não é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em
edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que presente

55
REsp 1.607.715-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, por unanimidade, julgado em 7/3/2017, DJe 20/4/2017.

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a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarreta ônus
desproporcional à administração pública, que deverá decidir de maneira fundamentada
b) É possível à administração pública, exceto durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos
para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que
invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que, presente a razoabilidade da
alteração, não se caracterize o desvirtuamento no exercício de suas funções e não acarrete ônus
desproporcional à administração pública, que deverá decidir de maneira fundamentada
c) Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva
do Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada.
d) O Estado responde diretamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são
cancelados por indícios de fraude.
e) É possível a delegação da ordem de polícia, isto é, da edição de normas básica para particulares, conforme
recente decisão do STF

Comentários

Gabarito: C

Letra A – Errada – De acordo com o STF, no julgamento do RE 611874, Nos termos do artigo 5º, inciso VIII,
da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos
dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivos de crença religiosa,
desde que presente a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e
que não acarreta ônus desproporcional à administração pública, que deverá decidir de maneira
fundamentada.

Letra B – Errada – No mesmo julgamento acima, o STF entendeu que é possível à administração pública,
inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos
deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência
por motivos de crença religiosa, desde que, presente a razoabilidade da alteração, não se caracterize o
desvirtuamento no exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à administração pública,
que deverá decidir de maneira fundamentada.

C – Certa – Trata-se de tese de repercussão geral fixada pelo STF no julgamento do RE 608880.

D – Errada – De acordo com o STF, O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a
candidatos em concurso público organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88),
quando os exames são cancelados por indícios de fraude. Trata-se de tese fixada no RE 662405.

E – Errada – No julgamento do RE 633782, o STF fixou entendimento de que É constitucional a delegação do


poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública
indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação
própria do Estado e em regime não concorrencial

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Porém, nesse julgado, o STF entendeu que a ordem de polícia é absolutamente indelegável.

Questão 4. À luz da doutrina e da jurisprudência, assinale a opção correta acerca de atos administrativos.
a) Admite-se a convalidação de ato administrativo por meio de decisão judicial, desde que não haja dano ao
interesse público nem prejuízo a terceiros.
b) A nomeação dos ministros de tribunais superiores no Brasil é um ato administrativo complexo.
c) Por ser a competência administrativa improrrogável, atos praticados por agente incompetente não se
sujeitam a convalidação.
d) Por serem os ocupantes de cargo em comissão demissíveis ad nutum, é sempre inviável a anulação do ato
de exoneração de ocupante de cargo em comissão com fundamento na teoria dos motivos determinantes.

Comentários

Gabarito: B

Letra A – A convalidação de um ato administrativo não pode ocorrer por decisão judicial. Convalidar ou não
um ato consiste mérito administrativo, de modo que o Poder Judiciário não pode analisa-lo.

Letra B - Atos complexos: Aqueles que resultam da manifestação de dois ou mais órgãos, sejam eles
singulares ou colegiados, cuja vontade se funde para formar um ato único. Observe que as manifestações de
vontade devem ser originadas de órgãos diferentes.

Ex: atos que dependem de autorização, aprovação, proposta, parecer, laudo técnico, homologação, visto,
etc;

A jurisprudência do STF pacificou entendimento que a Concessão de Aposentadoria a um servidor é exemplo


de um ato complexo, afinal somente se aperfeiçoaria com o registro perante o Tribunal de Contas.

Ex.: Nomeação do PGR e do Ministro do STF, os quais precisam da nomeação pelo Presidente da República,
seguida da aprovação do Senado Federal.

C – Errado – A competência é a atribuição conferida pela lei ao agente público. A competência, em direito
administrativo, não se restringe a capacidade civil. Esta é englobada pelo conceito de competência.

1. Vícios

1.1. Excesso de Poder

O agente público exorbita sua competência legal. O agente público tem a competência, mas ultrapassa os
limites desta.

É um vício sanável, no qual a autoridade superior pode/deve ratificar o ato.

OBS: Perceba que a autoridade competente ora pode, ora deve ratificar o ato com o vício de excesso de
poder. Perceba que, se o ato for vinculado e estando em conformidade com a lei, a autoridade competente

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para a prática do ato DEVE ratificá-lo, afinal, é direito subjetivo do administrado a prática do ato vinculado,
caso cumpra os requisitos legais.

De outro lado, se o ato for discricionário, ainda que esteja em conformidade com a lei, a autoridade
competente PODE ratifica-lo, afinal, dependerá de uma análise de oportunidade e conveniência dessa
autoridade.

Por fim, observe que se a competência for exclusiva, haverá um ato com vício INSANÁVEL.

1.2. Função de Fato

O ato é praticado por um agente público de fato, aquele que, por algum motivo, não pode exercer a função
pública ou houve um ingresso irregular no serviço público.

Ex.: Servidor de férias, Aposentadoria, Servidor que está em um cargo que exigia concurso público, mas foi
provido por indicação.

O ato praticado pelo agente de fato reputa-se válido perante 3º de boa-fé. Isto se justifica pela Teoria da
Aparência. O agente público aparenta-se competente para a prática do ato.

1.3. Usurpação de Função Pública

O ato é praticado por quem não é Agente Público, isto é, não está investido na função pública.

É um ato inexistente.

D – Errada – Quando houver motivação da exoneração de um cargo em comissão, aplica-se a teoria dos
motivos determinantes, de modo que se o motivo indicado for falso ou inexistente, o ato será inválido.

Questão 5. Acerca do princípio da oficialidade, a Lei de Processo Administrativo Federal dispõe que
a) quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da
sanção aplicada, pode haver revisão da sanção aplicada, independentemente de requerimento do apenado.
b) a defesa dos administrados em processos acusatórios somente pode ser realizada mediante procuração,
com firma devidamente reconhecida.
c) a desistência ou renúncia do interessado têm efeito preclusivo, impedindo o prosseguimento do processo.
d) a autoridade ou servidor que incorrer em suspeição deve, independentemente de provocação, abster-se
de atuar, sob pena de responsabilização
e) para que haja a convalidação de atos maculados por defeitos sanáveis, é necessário haver provocação do
particular interessado, sob pena de se violar o princípio da supremacia do interesse público.

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Gabarito: A

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Oficialidade (impulso oficial): diz respeito à obrigação de a Administração, presente o interesse público,
instaurar e dar andamento ao processo até sua regular conclusão, mesmo diante de eventual inércia dos
particulares. Como observa a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, esse princípio é mais amplo no
processo administrativo do que no processo judicial. No processo judicial ele só é aplicado depois de
instaurada a relação processual, quando então deverá o juiz movimentar o processo até a sua decisão final.
No âmbito administrativo, segundo a professora, o princípio da oficialidade possibilita à Administração por
sua iniciativa (ex officio ou sponte propria): 1) instaurar o processo administrativo, independentemente de
provocação do interessado; 2) impulsionar o processo, adotando as medidas necessárias a sua instrução; e
3) rever suas decisões.

LETRA A. Art. 65 da Lei nº 9.784/99 - Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser
revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes
suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.

LETRA B. Art. 22, §2º, da Lei nº 9.784/99 - Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente será
exigido quando houver dúvida de autenticidade.

LETRA C. Art. 51, § 2, da Lei nº 9.784/99 - A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não
prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração considerar que o interesse público assim o
exige.

LETRA D. Art. 19 da Lei nº 9.784/99 - A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar
o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar.

LETRA E. Art. 55 da Lei nº 9.784/99 - Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse
público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
própria Administração.

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Empréstimo é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa entrega uma coisa a outra, obrigando-
se esta a devolver a coisa emprestada ou outra da mesma espécie e quantidade, e se materializa pelo
comodato ou mútuo. Sobre tais espécies contratuais, marque a alternativa incorreta:
a) Em hipótese alguma pode o comodatário recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da
coisa emprestada.
b) Considerando que a fungibilidade constitui característica fundamental a diferenciar os objetos dos
contratos de comodato e mútuo, somente a título do primeiro podem os veículos e bens imóveis ser
emprestados.
c) A preterição pelo comodatário do objeto emprestado que se encontre em situação de risco juntamente
com bens de sua própria titularidade enseja a sua responsabilização pela ocorrência de eventual dano
àquele, ainda que derivado de caso fortuito ou força maior.
d) Em regra, a realização de mútuo a pessoa que não haja alcançado a maioridade civil, sem prévia
autorização daquele sob cuja guarda estiver, provoca a constituição de uma obrigação natural, porquanto
não se lhe pode exigir a restituição da coisa.

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e) Por se tratarem de modalidades de empréstimo, não há que se falar na transferência de propriedade do


objeto do contrato de comodato ou mútuo, cabendo ao comodatário ou mutuário a conservação da coisa
até o momento de ulterior restituição, ainda que, em se tratando de mútuo, por outra de mesmo gênero,
quantidade e qualidade.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque o comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas
feitas com o uso e gozo da coisa emprestada, na forma do artigo 584 do Código Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque o comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis, ao passo
que o mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, conforme intelecção dos artigos 579 e 586 do Código Civil.
Classificando-se os veículos e os imóveis como bens infungíveis, dado que possuem identificação própria,
tem-se que somente podem ser objeto de comodato e não mútuo.

A alternativa C é verdadeira, porque, se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do
comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano
ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior, nos exatos termos do artigo 583 do
Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque o mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja
guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores, isto é, provoca a constituição
de uma obrigação, uma vez que, apesar da existência da obrigação, não há que se falar na sua exigibilidade,
com fulcro no artigo 588 do Código Civil.

A alternativa E é falsa, porque, não obstante seja modalidade de empréstimo, o mútuo transfere o domínio
da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição, nos moldes
do artigo 587 do Código Civil. Isso ocorre naturalmente porque os bens objeto de mútuo são fungíveis e
consumíveis, motivo pelo qual é, por óbvio, inviável a restituição da própria coisa emprestada. Fala-se,
portanto, na restituição de coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade, conforme o artigo 586 do
mesmo diploma legal.

Questão 2. Trata-se o fundo de investimento de uma inovação legislativa apresentada pela Declaração de
Direitos da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), consistente em uma comunhão de recursos,
constituído sob a forma de condomínio de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros,
bens e direitos de qualquer natureza. Dentre as principais peculiaridades e preocupações dessa operação
econômica, destaca-se a possibilidade de limitação da responsabilidade dos investidores à sua respectiva
cota de participação. Nesse sentido, assinale a alternativa correta:
a) A constituição de fundo de investimento sem a limitação de responsabilidade não obsta a possibilidade
de posterior adoção da responsabilidade limitada, contudo, tal modificação não se aproveita aos fatos
ocorridos antes da respectiva mudança em seu regulamento.
b) Na hipótese do fundo de investimento com responsabilidade limitada não haver patrimônio suficiente
para saldar suas dívidas, devem os prestadores de serviços ser acionados para seu adimplemento, dado que
possuem responsabilidade subsidiária pelas obrigações legais e contratuais por aquele assumidas.

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c) A garantia de publicidade e oponibilidade erga omnes do fundo de investimento em relação a terceiros


reclama, necessariamente, o registro de seu regulamento em cartório, não se revelando suficiente, para
esses fins, o registro efetuado na Comissão de Valores Imobiliários.
d) Por se revestirem de natureza especial, aos fundos de investimento aplicam-se, somente no que couber,
as regras do condomínio em geral, do condomínio edilício e do condomínio de lote.
e) Pode o regulamento do fundo de investimento estabelecer classes de cotas com direitos e obrigações
distintos, porém, é vedada a constituição de patrimônio segregado para cada classe.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque a adoção da responsabilidade limitada por fundo de investimento


constituído sem a limitação de responsabilidade somente abrangerá fatos ocorridos após a respectiva
mudança em seu regulamento, nos termos do artigo 1.368-D, §1º, do Código Civil.

A alternativa B é falsa, porque se o fundo de investimento com limitação de responsabilidade não possuir
patrimônio suficiente para responder por suas dívidas, aplicam-se as regras de insolvência previstas nos arts.
955 a 965 do Código Civil. Em verdade, os fundos de investimento respondem diretamente pelas obrigações
legais e contratuais por eles assumidas e os prestadores de serviço não respondem por essas obrigações,
conforme o artigo 1.368-E, “caput” e §1º, do mesmo diploma legal.

A alternativa C é falsa, porque o registro dos regulamentos dos fundos de investimentos na Comissão de
Valores Mobiliários é condição suficiente para garantir a sua publicidade e a oponibilidade de efeitos em
relação a terceiros, com amparo no artigo 1.368-C, §3º, do Código Civil.

A alternativa D é falsa, porque é justamente a natureza especial do fundo de investimento que afasta a
aplicação das regras do condomínio em geral, do condomínio edilício e do condomínio de lote, previstas nos
artigos 1.314 a 1.358-A do Código Civil, na linha do artigo 1.368-C, §1º, do mesmo código.

A alternativa E é falsa, porque o regulamento do fundo de investimento poderá estabelecer classes de cotas
com direitos e obrigações distintos, com possibilidade de constituir patrimônio segregado para cada classe.
É o que dispõe o artigo 1.368-D, “caput”, III, do Código Civil.

Questão 3. Em relação ao usufruto, direito real sobre coisa alheia, somente não se pode afirmar que:
a) Pode a coisa objeto do usufruto ser locada pelo usufrutuário, mas não pelo nu proprietário, visto que
apenas àquele existem as faculdades de gozar e fruir do bem.
b) Por se tratar de direito real, constituir-se-á o usufruto de imóveis mediante o respectivo registro no
Cartório de Registro de Imóveis, independentemente de sua origem.
c) Em que pese a vedação de transferência do usufruto por alienação, é possível a cessão do seu exercício, a
título gratuito ou oneroso, mesmo que de modo vitalício.
d) Não está o usufrutuário obrigado a pagar as deteriorações resultantes do exercício do usufruto, salvo se
operado irregularmente.
e) Transmite-se com a morte a qualidade de nu proprietário da coisa objeto de usufruto; o mesmo, porém,
não ocorre em relação ao usufrutuário, cujo óbito enseja a extinção do direito real.

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Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque o usufruto é o direito real de gozo e/ou fruição por excelência, havendo
divisão igualitária dos atributos da propriedade (GRUD) entre as partes envolvidas. Assim, o usufrutuário tem
os atributos de usar (utilizar) e fruir (gozar) a coisa – GU; tais atributos formam o domínio útil do bem. Já o
nu-proprietário tem os atributos de reivindicar (buscar) e dispor (alienar) a coisa – RD; possui tal
denominação por estar despido dos atributos diretos. Por via de consequência, o nu-proprietário não pode
locar a coisa; assim poderá fazer, porém, o usufrutuário, que tem os atributos de gozar e fruir.

A alternativa B é falsa, porque o usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á
mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis, nos moldes do artigo 1.391 do Código Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício
pode ceder-se por título gratuito ou oneroso, conforme intelecção do artigo 1.393 do Código Civil. Certo é
também que tal cessão pode ser vitalícia, o que não significa violação ao seu caráter temporário, visto que é
inevitável a ocorrência, em determinado tempo, do óbito do usufrutuário.

A alternativa C é verdadeira, porque o usufrutuário não é obrigado a pagar as deteriorações resultantes do


exercício regular do usufruto, com base no artigo 1.402 do Código Civil. O exercício irregular do direito, por
outro lado, impõe o dever de indenizar.

A alternativa E é verdadeira, porque a morte do nu-proprietário não extingue o usufruto, transmitindo-se tal
qualidade. Lado outro, extingue-se o usufruto, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis,
pela morte do usufrutuário, na forma do artigo 1.410, I, do Código Civil.

Questão 4. No que tange ao direito real sobre coisa alheia denominado de servidão, assinale a alternativa
incorreta:
a) O instituto real da servidão deriva da conjugação da utilidade proporcionada a um prédio, classificado
como dominante, e da correspondente imposição de gravame a outro, chamado serviente, por meio de
manifestação expressa dos respectivos proprietários, ou por testamento, excluída a possibilidade de sua
constituição em virtude de presunção.
b) Embora os institutos da servidão de passagem e da passagem forçada não devam ser confundidos, por ser
o primeiro de caráter facultativo e o segundo, compulsório, ambos se revestem de natureza de direito real,
haja vista que impactam direito de propriedade alheio.
c) É possível a imposição de maior largueza à servidão já constituída, quando as necessidades da cultura ou
da indústria do prédio dominante o reclamarem, caso em que o dono do serviente é obrigado a sofrê-la.
d) Tanto ao dono do prédio serviente como ao dono do dominante é dado remover a servidão de um local
para outro, tendo em vista a função social do direito real de fruição, respeitadas as vedações de diminuição
das vantagens do prédio dominante ou de ocorrência de prejuízo ao prédio serviente, em decorrência do
acréscimo de utilidade àquele.
e) O princípio da menor onerosidade ao prédio serviente impõe a restrição do exercício da servidão às
necessidades do dominante e a precisão de se evitar, na medida do possível, o agravamento do encargo.

Comentários

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A alternativa A é verdadeira, porque, nos termos do artigo 1.378 do Código Civil, a servidão proporciona
utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se
mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de
Registro de Imóveis. A servidão, portanto, não se presume e poderá ser adquirida, em suma, por negócio
jurídico inter vivos ou causa mortis (testamento), usucapião, destinação do proprietário, em caso de ser
destinado determinado imóvel à serventia de outro (se, futuramente, os dois imóveis vierem a pertencer a
proprietários diversos, a serventia se converterá em servidão) e sentença judicial, não havendo acordo entre
as partes.

A alternativa B é falsa, porque, embora possam ter a mesma finalidade e se originarem da


necessidade/utilidade de trânsito, de acesso, a servidão de passagem, como modalidade mais comum do
instituto da servidão, possui natureza jurídica de direito real sobre coisa alheia, ao passo que a passagem
forçada tem natureza de direito de vizinhança (art. 1.285 do CC).

A alternativa C é verdadeira, porque se as necessidades da cultura, ou da indústria, do prédio dominante


impuserem à servidão maior largueza, o dono do serviente é obrigado a sofrê-la; mas tem direito a ser
indenizado pelo excesso, conforme intelecção do artigo 1.385, §3º, do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque dispõe o artigo 1.384 do Código Civil que a servidão pode ser removida,
de um local para outro, pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do
prédio dominante, ou pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável incremento da utilidade e não
prejudicar o prédio serviente.

A alternativa E é verdadeira, porque, nos termos do artigo 1.385, “caput”, do Código Civil, restringir-se-á o
exercício da servidão às necessidades do prédio dominante, evitando-se, quanto possível, agravar o encargo
ao prédio serviente, o que representa o princípio da menor onerosidade a este.

Questão 5. Em matéria de regime de bens, pode-se afirmar que são excluídos da comunhão universal,
exceto:
a) Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar.
b) Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge e os bens de uso pessoal.
c) As dívidas anteriores ao casamento e as provenientes de despesas com seus aprestos.
d) Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição
suspensiva.
e) As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade.

Comentários

A alternativa C é a falsa, porque as dívidas que provierem de despesas com seus aprestos ou que reverterem
em proveito comum constituem exceção à exclusão do regime de comunhão universal, isto é, integram ou
dizem respeito ao patrimônio comum do casal, nos moldes do artigo 1.668, III, do Código Civil. Todos os
demais bens mencionados estão indicados no mesmo dispositivo como excluídos do regime da comunhão
universal.

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2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Considere as assertivas a seguir e assinale, ao final, a alternativa correta:
I - Compete ao Superior Tribunal de Justiça apreciar pedido de auxílio direto passivo que demande prestação
de atividade jurisdicional em território brasileiro.
II - Recebido o pedido de auxílio direto, a autoridade central o encaminhará à Advocacia Geral da União, que
requererá em juízo a medida solicitada, salvo quando aquela for o Ministério Público, caso em que ele
próprio a requererá.
III - A colheita de provas a ser realizada no Brasil, como objeto de auxílio direto, não se prejudica se originada
de processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira, cabendo
à parte interessada arguir a incompetência da jurisdição internacional no feito de origem.
IV - É cabível auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade jurisdicional
estrangeira a ser submetida a juízo de deliberação no Brasil.
V - Compete à autoridade central adotar, desde logo, as providências necessárias ao cumprimento da medida
solicitada, quando a sua prática não necessitar, segundo a lei brasileira, de prestação jurisdicional.
a) Somente a assertiva III é falsa.
b) Somente as assertivas I, II e V são verdadeiras.
c) Somente as assertivas I e IV são falsas.
d) Somente as assertivas I e III são falsas.
e) As assertivas I, II, III, IV e V estão corretas.

Comentários

A assertiva I é falsa, porque compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar
pedido de auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional, nos termos do artigo 34
do Código de Processo Civil.

A assertiva II é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 33 do Código de Processo Civil.

A assertiva III é falsa, porque o auxílio direto por ter por objeto, dentre outros, a colheita de provas, salvo se
a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade
judiciária brasileira, conforme o artigo 30, II, do Código de Processo Civil.

A assertiva IV é verdadeira, porque, segundo o artigo 28 do Código de Processo Civil, cabe auxílio direto
quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser
submetida a juízo de delibação no Brasil.

A assertiva V é verdadeira, porque no caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei
brasileira, não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências
necessárias para seu cumprimento, com amparo no artigo 32 do Código de Processo Civil.

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Desse modo, a alternativa D é a correta, pois somente as assertivas I e III são falsas.

Questão 2. A respeito da modificação da competência relativa e suas respectivas causas, assinale a


alternativa verdadeira:
a) Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sentença
transitada em julgado.
b) A existência de risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias, caso sejam os processos
decididos em separado, enseja a sua reunião para julgamento conjunto, porquanto representa,
suficientemente, hipótese de conexão.
c) Quando houver continência entre duas ações, no processo relativo à ação contida será proferida sentença
sem resolução de mérito, independentemente da época em que fora a ação continente instaurada, à luz dos
princípios da economia e celeridade processuais, haja vista possuir pedido mais amplo.
d) A eleição de foro pelas partes, apta a modificar a competência relativa, não obriga os seus herdeiros e
sucessores, tendo em vista o seu caráter personalíssimo, a se restringir àquele que por ele optou.
e) Em que pese se tratar de causa de modificação de competência relativa, pode o juiz, de ofício, conhecer a
existência de conexão entre duas ou mais ações.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o marco para se excepcionar a reunião de processos de ações conexas para
decisão conjunta é a prolação de sentença em algum deles e não necessariamente o trânsito em julgado
desta, conforme o artigo 55, §1º, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque a existência de risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias,


caso sejam os processos decididos em separado, não significa, por si só, hipótese de conexão, mas se faz
bastante a propiciar a reunião dos feitos. Tanto que assim dispõe o artigo 55, §3º, do Código de Processo
Civil: serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões
conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

A alternativa C é falsa, porque quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta
anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas, na forma do artigo 57 do Código de Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque o foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes, nos termos do
artigo 63, §2º, do Código de Processo Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque, de fato, a conexão é causa modificativa de competência relativa (art.
54 do CPC) e pode ser conhecida de ofício pelo juiz, nos termos do artigo 337, §5º, do Código de Processo
Civil, a contrariu sensu.

Questão 3. Em relação às hipóteses de impedimento e suspeição dispostas na legislação processual civil e


seus possíveis desdobramentos, assinale a alternativa correta:
a) Afirma-se a suspeição do juiz, quando figurar como parte no processo seu cônjuge ou companheira, por
se tratar de causa de ordem subjetiva.

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b) A qualidade de cônjuge do juiz do processo ostentada por advogado que não atua efetivamente no feito,
mas que meramente integra o mesmo quadro de escritório de advocacia ao qual pertence o membro a quem
fora outorgado mandato por uma das partes, não constitui hipótese de impedimento, tendo em vista a
ausência de relação direta entre aquele e o juiz.
c) Será o juiz condenado ao pagamento das custas relativas ao incidente, quando, na hipótese de
impedimento ou manifesta suspeição, for acolhida a alegação pelo tribunal.
d) É de quinze dias, a partir do início da atividade judicante do juiz, o prazo para a alegação de seu
impedimento ou suspeição pela parte interessada.
e) O processamento de incidente de suspeição ou impedimento de membro do Ministério Público enseja a
suspensão do processo, haja vista a inviabilidade lógica de prosseguimento do feito acometido por possível
parcialidade.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo,
quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim,
em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, na forma do artigo 144, IV, do Código de Processo
Civil. Trata-se, na realidade, de causa objetiva.

A alternativa B é falsa, porque há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo,
quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu
cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive. Esta hipótese de impedimento também se verifica no caso de mandato conferido a
membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a
condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo, com fulcro no artigo 144, §3º,
do Código de Processo Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta


suspeição, o tribunal condenará o juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz
recorrer da decisão, conforme o artigo 146, §5º, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte
alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o
fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de
testemunhas.

A alternativa E é falsa, porque, nos casos de alegação de suspeição ou impedimento de membro do


Ministério Público, o juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo
o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária, nos termos do
artigo 148, §2º, do Código de Processo Civil.

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2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. A teoria clássica compreendia a tipicidade sob o aspecto meramente formal; ou seja a
adequação do fato à norma. Para a doutrina moderna, no entanto, a tipicidade também agrega um juízo
de valor, consistente na relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Em relação à tipicidade penal, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I É excluída pelos chamados princípios da insignificância e adequação social, ausentes tipicidade formal e
material, respectivamente.
II O consentimento do ofendido, às vezes, pode afastar a própria tipicidade da conduta e, em outras,
constituir causa supralegal de exclusão da ilicitude, segundo entendimento doutrinário.
III O erro sobre elemento do tipo exclui o dolo e, por isso, incide sobre a ilicitude do comportamento,
refletindo na culpabilidade, de modo a excluí-la ou atenuá-la.
IV É afastada nas hipóteses de crime impossível e arrependimento posterior.
V O dolo, segundo a teoria finalista, constitui elemento normativo do tipo.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

Comentários

Gabarito: E

I A tipicidade penal é excluída pelo princípio da insignificância e da adequação social, porém a ordem é a
inversa; ausentes, portanto, a tipicidade material e a formal, respectivamente.

II O consentimento do ofendido é normalmente tratado como causa supralegal de exclusão da ilicitude. No


entanto, para que o consentimento tenha essa natureza é necessário que o dissentimento não integre o tipo
penal, pois, do contrário, a exclusão recai na tipicidade. Dessa forma, o consentimento do ofendido na
violação de domicílio torna atípico – não lícito – o fato, pois o tipo do art. 150 do CP estabelece
expressamente a entrada ou permanência em casa alheia ou suas dependências contra a vontade expressa
ou tácita de quem de direito.

III O erro sobre o elemento do tipo, quando invencível, afasta a tipicidade, não a ilicitude, conforme disposto
no art. 20 do Código Penal.

IV Muito embora seja afastada, na hipótese de crime impossível; no arrependimento posterior, previsto no
art. 16 do CP, tem-se como pressuposto a consumação do delito e, portanto, também sua tipicidade.

V O dolo, segundo o finalismo de Welzel, constitui elemento subjetivo do tipo.

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Questão 2. Crimes omissivos são aqueles nos quais o agente viola o mandamento preceptivo constante do
tipo penal; isto é, deixa de fazer aquilo que a lei determina e, portanto, assume a responsabilidade pela
sua inação.
Acerca do crime omissivo próprio, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I Os crimes omissivos próprios são os cujo tipo descreve a conduta omissiva de forma direta, e por isso não
é necessária a incidência do art. 13, § 2º, do CP.
II Os crimes omissivos próprios podem ser praticados a título doloso ou culposo.
III Crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta.
IV Os crimes omissivos próprios não admitem tentativa.
V Crimes omissivos próprios são crimes de resultado; e que, portanto, admitem tentativa.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: B

I A conduta omissiva própria está descrita no próprio tipo penal incriminador, e, para que se configure, basta
a sua desobediência, sendo, em princípio, irrelevante a ocorrência de resultado naturalístico; neles, a norma
mandamental decorre do próprio tipo penal.

II Crimes omissivos próprios admitem tanto a forma dolosa, quanto a culposa; a exemplo do art. 13 do
Estatuto do Desarmamento (Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de
18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua
posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.)

III Crimes omissivos próprios são aqueles em que a responsabilidade penal decorre do descumprimento do
mandamento preceptivo; ou seja, decorre do descumprimento de uma norma mandamental positiva, onde
o Estado determina a realização de conduta que deixa de ser realizada. Neste contexto, a simples omissão,
independentemente da verificação de resultado naturalístico, dá ensejo ao crime.

IV Nos crimes omissivos próprios a tentativa não é admitida porque tais delitos se consumam com a simples
abstenção da conduta a que a lei obriga o agente. Dessa forma, ou ocorre a omissão, e consequentemente
a consumação, ou o fato é atípico.

V Cuidam-se, na realidade, de crimes de atividade, não de resultado; e, como visto nos itens anteriores, não
admitem tentativa.

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Questão 3. O direito de punir não é absoluto. Praticado o injusto penal por um agente culpável, é possível
que incida alguma causa extintiva da punibilidade, fazendo com que o Estado não possa aplicar a sanção
cominada no tipo penal. Tendo em conta as causas extintivas da punibilidade, analise as proposições
abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede a agravação da pena, em relação aos
outros, resultante da conexão.
II A contagem da prescrição dos crimes permanentes, antes de transitar a sentença final, inicia-se a partir do
dia em que o primeiro ato de execução foi efetivado.
III A reincidência do agente interrompe o prazo da prescrição da pretensão punitiva.
IV Os crimes hediondos, a tortura, o tráfico de drogas e o racismo são imprescritíveis.
V Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não cumprido ou não
rescindido o acordo de não persecução penal.
a) Apenas uma proposição está correta;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

Comentários

Gabarito: A

I De acordo com o disposto no Art. 108 do CP, nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles
não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

II Conforme o disposto no art. 111, III, do CP, a prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final
começa a correr, nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência.

III A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva; cuida-se do entendimento
sumulado do STJ (Súmula 220).

IV São imprescritíveis, conforme o Art. 5º, XLII e XLIV, a prática do racismo e a ação de grupos armados, civis
ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

V Cuida-se da redação do art. 116, IV, do CP, incluído pelo Pacote Anticrime.

Questão 4. A respeito dos crimes contra a dignidade sexual, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O crime de importunação sexual (CP, Art. 215-A) exige que a conduta seja praticada em lugar público, ou
aberto ou exposto ao público.
II A Lei n° 13.718/2018 tipificou o crime de importunação sexual, com dolo genérico e expressa
subsidiariedade ao crime de estupro de vulnerável.

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III O crime de importunação sexual, assim como o crime de estupro, é crime de ação penal pública
condicionada à representação da pessoa contra a qual o ato foi praticado.
IV A importunação sexual é crime contra a liberdade sexual, tal qual o crime de ato obsceno.
V O crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de
pornografia, previsto no artigo 218-C do Código Penal, pode ser classificado como comum, material,
comissivo, unissubjetivo, culposo, principal.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: Letra E

I O crime de importunação sexual não prevê como elementar a prática em locais públicos. (Art. 215-A.
Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou
a de terceiro)

II Muito embora a subsidiariedade do crime reste expressa (Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o
ato não constitui crime mais grave.), não há remissão direta ao estupro de vulnerável (CP, Art. 217-A).

III Todos os crimes contra a dignidade sexual, definidos nos Capítulos I e II, são crimes de ação penal pública
incondicionada (CP, Art. 225).

IV A importunação sexual é crime contra a liberdade sexual; porém, o ato obsceno é crime de ultraje público
ao pudor.

V Cuida-se, na realidade de crime formal, de atividade, portanto, que prescinde da verificação de resultado
material.

Questão 5. A respeito dos crimes contra a incolumidade pública, analise as proposições abaixo e, em
seguida, assinale a opção correta:
I É atípica a conduta do agente que grava no invólucro de produto alimentício a existência de substância que
não se encontra em seu conteúdo ou que nele exista em quantidade menor que a mencionada, cometendo
apenas infração administrativa, passível de apreensão pela Vigilância Sanitária.
II O médico que deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória responde
pelo crime de omissão de notificação de doença.
III O crime de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal, de uso comum ou
particular, cujo objeto jurídico a ser protegido é a saúde pública, não admite a modalidade culposa.

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IV Constitui causa de aumento de pena o fato de o crime de incêndio ser praticado em estaleiro, fábrica ou
oficina.
V Todos os crimes de perigo comum admitem forma qualificada pelo resultado.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: D

I Cuida-se da hipótese prevista no Art. 275 do CP - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos


alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo
ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e
multa.

II É a hipótese prevista no Art. 269 do Código Penal - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública
doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

III A modalidade culposa do crime está prevista no Art. 270, §2º, do Código Penal - Envenenar água potável,
de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. Pena - reclusão,
de dez a quinze anos. (...) § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

IV Cuida-se da hipótese prevista no Art. 250, §1º, II, do CP - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º - As penas
aumentam-se de um terço: (...) II - se o incêndio é (...) e) em estaleiro, fábrica ou oficina; (...).

V Trata-se da hipótese prevista no Art. 258 do CP - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal
de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em
dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte,
aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.

2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) Para a legítima decretação de prisão preventiva, é indispensável demonstrar que nenhuma das medidas
alternativas indicadas no art. 319 do Código de Processo Penal (CPP) tem aptidão para, no caso concreto,
atender eficazmente aos mesmos fins.
b) A fuga do distrito da culpa é fundamentação idônea a justificar o decreto da custódia preventiva para a
conveniência da instrução criminal e como garantia da aplicação da lei penal.

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c) As condições pessoais favoráveis garantem a revogação da prisão preventiva.


d) A substituição da prisão preventiva pela domiciliar exige comprovação de doença
grave, que acarrete extrema debilidade, e a impossibilidade de se prestar a devida assistência médica no
estabelecimento penal.
e) A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar quando o agente for comprovadamente
imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 06 (seis) anos de idade ou com deficiência.

Comentários

Gabarito: alternativa C

As condições pessoais favoráveis não garantem a revogação da prisão preventiva quando há nos autos
elementos hábeis a recomendar a manutenção da custódia.

Alternativa A, entendimento do STF. Demais alternativas constituem entendimento do STJ, jurisprudência


em teses (edição 32).

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) A citação por edital do acusado constitui fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva,
induzindo presunção de fuga.
b) A prisão preventiva não é legítima nos casos em que a sanção abstratamente prevista ou imposta na
sentença condenatória recorrível não resulte em constrição pessoal, por força do princípio da
homogeneidade.
c) Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos à decisão que a decreta.
d) A alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor público ou a comoção social não constituem
fundamentação idônea a autorizar a prisão preventiva.
e) A prisão cautelar deve ser fundamentada em elementos concretos que justifiquem, efetivamente, sua
necessidade.

Comentários

Gabarito: alternativa A

A citação por edital do acusado não constitui fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva,
uma vez que a sua não localização não gera presunção de fuga.

Todas as alternativas, em sua versão correta, representam entendimento do STJ, jurisprudência em teses
(edição 32).

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) A prisão cautelar pode ser decretada para garantia da ordem pública potencialmente ofendida, no caso
de reiteração delitiva, participação em organizações criminosas, gravidade em concreto da conduta,
periculosidade social do agente, ou pelas circunstâncias em que praticado o delito (modus operandi).

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b) Em respeito ao princípio da presunção da inocência, inquéritos policiais e processos em andamento, sem


trânsito em julgado, não constituem elementos aptos a demonstrar eventual reiteração delitiva, fundamento
suficiente para a decretação da prisão preventiva.
c) A segregação cautelar é medida excepcional, mesmo no tocante aos crimes de tráfico de entorpecente e
associação para o tráfico, e o decreto de prisão processual exige a especificação de que a custódia atende a
pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal.
d) A existência de atos infracionais pretéritos constitui, aliado a outros argumentos, fundamentação idônea
a justificar a imposição de cautelares.
e) No tocante ao flagrante retardado ou à ação controlada, a ausência de autorização judicial não tem o
condão de tornar ilegal a prisão em flagrante postergado, vez que o instituto visa a proteger o trabalho
investigativo, afastando a eventual responsabilidade criminal ou administrava por parte do agente policial.

Comentários

Gabarito: alternativa B

Inquéritos policiais e processos em andamento, embora não tenham o condão de exasperar a pena-base no
momento da dosimetria da pena, são elementos aptos a demonstrar eventual reiteração delitiva,
fundamento suficiente para a decretação da prisão preventiva.

Todas as alternativas, em sua versão correta, representam entendimento do STJ, jurisprudência em teses
(edição 32 e 120).

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Uma das circunstâncias que atenuam a pena nos crimes ambientais é ter o agente cometido a
infração facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Comentários

GABARITO: ERRADO

Ter o agente cometido a infração ambiental facilitada por funcionário público no exercício de suas funções é
uma circunstância que agrava a pena, conforme o art. 15, inciso II, alínea r, da Lei n.º 9.605/98:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
[…]

II – ter o agente cometido a infração: […]

r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Questão 2. Conforme a Lei n.º 7.210/84, no caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente: não

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ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa, contra seu filho ou dependente, ter cumprido
ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior, ser primária e ter bom comportamento carcerário,
comprovado pelo diretor do estabelecimento e não ter integrado organização criminosa.

Comentários

GABARITO: CERTO

Conforme as disposições do art. 112, §3º, incisos I a V, da Lei de Execuções Penais (Lei n.º 7.210/84):

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos: […]

§ 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:

I – não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

II – não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;

III – ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

IV – ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do


estabelecimento;

V – não ter integrado organização criminosa.

Questão 3. Com base na Lei n.º 13.260/2016 (Lei do Terrorismo), assinale a alternativa INCORRETA:
a) É ato de terrorismo a conduta de usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo
explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de
causar danos ou promover destruição em massa;
b) É ato de terrorismo atentar contra a vida ou integridade física de pessoa;
c) É atípica a conduta de realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar
tal delito.
d) A Lei n.º 13.260/2016 considerou que os crimes previstos nesta lei são praticados contra o interesse da
União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o
seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.
e) O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia,
ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios suficientes de crime previsto na Lei
n.º 13.260/2016, poderá decretar, no curso da investigação ou da ação penal, medidas assecuratórias de
bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que
sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos na Lei n.º 13.260/2016.

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Comentários

GABARITO: alternativa c

a) CORRETA: Art. 2º, §1º, inciso I, da Lei do Terrorismo (Lei n.º 13.260/2016):

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste
artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião,
quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo
pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

§ 1º São atos de terrorismo:

I – usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos,
venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou
promover destruição em massa;

b) CORRETA: Art. 2º, §1º, inciso I, da Lei do Terrorismo:

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste
artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião,
quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo
pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

§ 1º São atos de terrorismo: […]

V – atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à
violência.

Com relação a este tipo penal, tem-se que muito se assemelha aos crimes de homicídio e lesão corporal.
Porém, deve o intérprete ter atenção para verificar se o caso concreto apresenta o conjunto necessário
previsto no caput do art. 2º, da Lei de Terrorismo, que é o ponto chave para a solução do conflito de normas.

c) INCORRETA: Trata-se de figura típica, prevista no art. 5º, caput, da Lei do Terrorismo:

Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal
delito:

Pena – a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade. […]

d) CORRETA: Nos termos do art. 11, da Lei n.º 13.260/2016 (Lei do Terrorismo):

Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados
contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de

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inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV
do art. 109 da Constituição Federal.

Parágrafo único. (VETADO).

e) CORRETA: Nos termos do art. 12, caput, da Lei n.º 13.260/2016 (Lei do Terrorismo):

Art. 12. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do


delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios
suficientes de crime previsto nesta Lei, poderá decretar, no curso da investigação ou da ação
penal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou
existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos
crimes previstos nesta Lei.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento, sendo que o prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos:
a) Será definido no estatuto do partido.
b) Poderá ser de até 1 (um) ano.
c) Poderá ser de até 6 (seis) meses.
d) Poderá ser de até 8 (oito) anos.
e) Será definido pela Justiça Eleitoral.

Comentários

O prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos poderá ser de até 8 (oito) anos, de acordo
com o art. 3º, § 3º, da Lei nº 9.096/95, incluído pela Lei nº 13.831/19.

Em consequência, o candidato deve assinalar a alternativa D.

Questão 2. A Emenda Constitucional nº 97/2017 alterou a Constituição Federal, dando nova roupagem às
coligações partidárias. Neste contexto, assinale a resposta correta:
a) Vedou as coligações partidárias nas eleições proporcionais e majoritárias.
b) Tornou facultativa somente para eleições majoritárias, vedada sua celebração nas eleições proporcionais.
c) Restringiu o número de partidos políticos nas eleições proporcionais.
d) Tornou facultativa somente para eleições proporcionais, vedada sua celebração nas eleições majoritárias.
e) Vedou somente nas eleições majoritárias.

Comentários

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A Emenda Constitucional nº 97/2017, ao alterar a redação do art. 17, § 1º, da Constituição da República,
vedou a celebração de coligações partidárias nas eleições proporcionais a partir das eleições de 2020,
facultando-a, tão somente, para as eleições majoritárias.

A alternativa B está correta, portanto.

Questão 3. De acordo com a legislação dos partidos políticos, o detentor de cargo eletivo que se desfiliar
sem justa causa poderá perder o seu mandato. Tal legislação prevê expressamente hipóteses de justa
causa para a desfiliação. Assinale a opção que apresenta tais hipóteses:
a) Grave discriminação política pessoal, desvio reiterado do programa partidário e mudança de partido nos
últimos seis meses do mandato.
b) Grave discriminação política pessoal, criação de nova legenda partidária e mudança de partido nos últimos
seis meses do mandato.
c) Mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário, grave discriminação política pessoal e
mudança de partido no período de trinta dias que antecede ao prazo de filiação para concorrer à eleição, ao
término do mandato vigente.
d) Mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário, grave discriminação política pessoal e
criação de nova legenda partidária.
e) Desvio reiterado do programa partidário, criação de nova legenda partidária e mudança de partido no
período de trinta dias que antecede ao prazo de filiação para concorrer à eleição, ao término do mandato
vigente.

Comentários

Dispõe o art. 22-A da Lei nº 9.096/95, incluído pela Lei nº 13.165/15, que perderá o mandato o detentor de
cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito.

Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária nas hipóteses de mudança substancial ou desvio
reiterado do programa partidário, de grave discriminação política pessoal e de mudança de partido efetuada
durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição,
majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente, razão pela qual o candidato deve assinalar a
alternativa C.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (Consulplan – Juiz de Direito – TJ – MG/2018) Considerando o disposto no Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, analise as afirmativas a seguir.
I. Criança, para os efeitos do ECA, é a pessoa que possuiu até 12 (doze) anos de idade completos. Em
situações excepcionais, expressas em lei, o Estatuto poderá ser aplicado às pessoas entre 18 (dezoito) anos
e 21 (vinte e um) anos de idade.
II. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em
família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral. A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento

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institucional não se prolongará por mais de 24 (vinte e quatro meses), salvo comprovada a necessidade que
atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
III. A convivência integral da criança com a mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional será
devidamente garantida.
IV. Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por
meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela
entidade responsável, independentemente de autorização judicial.
Estão corretas as afirmativas
a) I, II, III e IV.
b) III e IV, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.

Comentários

Assertiva I: De acordo com o ECA, criança é a pessoa que tem até doze anos de idade incompletos. Uma vez
completada tal idade, a pessoa passa à condição de adolescente. Admite-se que o ECA seja aplicado
excepcionalmente às pessoas que tiverem entre 18 e 21 anos, observando-se, ainda, o constante da Súmula
605 do STJ.

Assertiva II: A permanência de criança ou adolescente em acolhimento institucional não ocorrerá por mais
de dezoito meses, consoante redação do art. 19, § 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Assertiva III: Será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que estiver em
acolhimento institucional (§ 5º, do art. 19, do ECA).

Assertiva IV: Garante-se a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional,
pela entidade responsável, independentemente de autorização judicial (art. 19, § 4º, ECA).

Alternativa correta: letra “b”.

Questão 2. (Cespe – Juiz de Direito – PR/2017) De acordo com as disposições da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, assinale a opção correta.
a) Além do estabelecimento de idade mínima antes da qual se presume que a criança não tem capacidade
para infringir as leis penais, devem ser estabelecidos procedimentos judiciais obrigatórios para tratar a
criança que tenha infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido as leis penais.
b) Em todo processo judicial ou administrativo que a afete, deve ser assegurada à criança que tenha
capacidade de formular seus próprios juízos a oportunidade de ser ouvida, levando-se devidamente em
consideração as opiniões em função da idade e maturidade dela.
c) Em razão do princípio da separação dos poderes, o Poder Judiciário não é alcançado pelo dispositivo
segundo o qual todas as ações relativas às crianças devem considerar o interesse superior da criança, que

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deve ser observado por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades administrativas ou
órgãos legislativos.
d) O exercício do direito da criança à liberdade de expressão não pode sofrer restrição e inclui a liberdade de
procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma
oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.

Comentários

Alternativa “a”: A Convenção trata da desjudicialização, impondo-se a adoção, sempre que conveniente e
desejável, de medidas para tratar as crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam
respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais (artigo 40).

Alternativa “b”: A criança deve ser ouvida sempre que possível para a tomada de decisões que lhe digam
respeito, pois se trata de pessoa em situação de desenvolvimento, e não de objeto de proteção. Nesse
sentido, devem os Estados Partes assegurarem-lhe, desde que capacitada a formular seus próprios juízos, o
direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos que lhe sejam relacionados, levando-
se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança (Artigo 12 da
Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, de 1989).

Alternativa “c”: O interesse superior da criança constitui-se em postulado normativo de observância


obrigatória por todo o Estado, especialmente pelo Poder Judiciário.

Alternativa “d”: Admitem-se certas restrições a tal direito, consideradas necessárias para o respeito dos
direitos ou da reputação dos demais, ou para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou para
proteger a saúde e a moral públicas (Artigo 13).

Alternativa correta: letra “b”.

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Conforme dispõe o artigo 127 do Código Tributário Nacional, assinale a alternativa que
representa o domicílio tributário a ser de considerado, na hipótese de ausência de eleição pelo
contribuinte ou responsável.
a) Quanto às pessoas naturais, sendo incerto ou desconhecido seu paradeiro, o último local que tiver
constituído residência.
b) Quanto às pessoas jurídicas de direito privado, o endereço do sócio-administrador.
c) Quanto às pessoas jurídicas de direito público, o endereço da primeira repartição fundada.
d) Quanto às firmas individuais, o endereço do sócio-administrador.
e) Quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual.

Comentários

A afirmativa correta é a letra e, nos termos do artigo 127 do CTN:

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Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma
da legislação aplicável, considera-se como tal:

I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida,
o centro habitual de sua atividade;

II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede,
ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento;

III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da
entidade tributante.

Questão 2. Julgue as assertivas abaixo:


I) A obrigação tributária é principal ou acessória. A obrigação principal decorre da legislação tributária e tem
por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização
dos tributos.
II) A inobservância da obrigação acessória, por si só, não se converte em obrigação principal.
III) O fato gerador da obrigação acessória é a situação definida necessariamente em lei como necessária e
suficiente à sua ocorrência.
a) Apenas a “III” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “II” e “III” estão incorretas
e) Todas as assertivas estão incorretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “e".

I) Assertiva incorreta. Art. 113, §2º, do CTN: A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por
objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização
dos tributos.

II) Assertiva incorreta. Art. 113, §3º, do CTN: “A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,
converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”

III) Assertiva incorreta. “Art. 114 do CTN: Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei
como necessária e suficiente à sua ocorrência.” Ademais, as obrigações acessórias podem ser introduzidas
por atos infralegais.

Questão 3. Sobre os limites da competência tributária, julgue os itens abaixo.


I) É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer limitações ao tráfego, no
território nacional, de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais.

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II) É vedado às entidades federativas instituir tributos sem lei, ressalvado os pedágios, que podem ser
instituídos por atos infralegais ou contratos firmados com concessionárias.
III) É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre fonogramas
e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores
brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou
arquivos digitais que os contenham, inclusive na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a
laser.
a) Apenas a ”III” está correta
b) Apenas a “II” está correta
c) Apenas a “I” está correta
d) As assertivas “II” e “III” estão corretas
e) As assertivas “I” e “III” estão corretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “c".

I) Assertiva correta, conforme artigo 150, inciso V, da CF

II) Assertiva incorreta. Pedágio não é tributo.

III) Assertiva incorreta. A etapa de replicação industrial pode ser tributada, conforme dicção do artigo 150,
inciso VI, alínea e: “ fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais
ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser”

2.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta em relação à lei 8.069/90:
a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais.
b) Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como
pessoas em desenvolvimento.
c) Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial.
d) Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

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e) Qualquer pessoa e o servidor público deverão provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe
informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.

Comentários

A incorreta é a letra E, pois, no caso de qualquer pessoa, esta tem a faculdade e não obrigatoriedade em
provocar a iniciativa do Ministério Público, na forma do art. 220 do ECA. A letra A encontra respaldo no art.
5º do ECA, a B no art. 6º da mesma lei, a C no art. 211 (e correspondência na lei 7.347/85). Por fim, a letra D
tem previsão no art. 213 do ECA e correspondência no art. 84 do Código de Defesa do Consumidor,
alinhando-se ao microssistema processual coletivo.

Questão 2. Assinale a alternativa correta em relação à lei de improbidade administrativa (LIA 8.429/92).
a) A LIA prevê três modalidades de atos de improbidade administrativa, todas exclusivamente dolosas.
b) A LIA prevê quatro modalidades de ato de improbidade administrativa.
c) A LIA prevê apenas atos de improbidade típicos e dolosos.
d) A LIA prevê duas modalidades de atos de improbidade culposos.
e) A LIA prevê cinco modalidade de atos de improbidade administrativa.

Comentários

Há quatro modalidades de atos de improbidade, previstas nos arts. 9, 10, 10-A e 11, sendo apenas uma
culposa, que causa prejuízo ao erário.

Questão 3. Assinale a alternativa correta em relação ao entendimento do Superior Tribunal de Justiça


sobre o processo coletivo:
a) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de assegurar os
interesses individuais indisponíveis, difusos ou coletivos em relação à infância, à adolescência e aos idosos,
salvo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada.
b) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de assegurar
assistência médica e odontológica à comunidade indígena, em razão da natureza indisponível dos bens
jurídicos salvaguardados e o status de hipervulnerabilidade dos sujeitos tutelados. 4
c) O Ministério Público não tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa de interesses e direitos
individuais homogêneos pertencentes a consumidores decorrentes de contratos de cessão e concessão do
uso de jazigos em cemitérios.
d) O Ministério Público Estadual tem legitimidade para ajuizar ação civil pública objetivando defesa de bem
da União, por se tratar de defesa do patrimônio público.
e) O Ministério não Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública objetivando a cessação dos jogos
de azar.

Comentários

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Todas as assertivas foram extraídas de teses firmadas pelo Superior Tribunal de Justiça e retiradas do
“Jurisprudência em Teses”, edição nº 19. A correta é a letra ‘b’, que corresponde na íntegra à tese nº 4. A ‘a’
está incorreta, pois em desacordo com a tese nº 3. O Ministério Público é parte legítima no caso retratado,
mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada. A ‘c’ está incorreta, pois em
desacordo com a tese nº 6. O caso tratado versa sobre direito do consumidor e havendo um direito individual
homogêneo, o Ministério Público afigura-se como parte legítima. A ‘d’ está incorreta, porque se o bem
pertence à União, a ação deve ser ajuizada pelo MPF, a teor do art. 109 da Constituição. Por fim, a ‘e’ está
incorreta, pois em desacordo com a tese nº 9, que confere legitimidade do Ministério Público, no caso de
jogos de azar.

2.12 - DIREITO EMPRESARIAL


Questão 1. A empresa Casas Nordestinas, conhecida por atuar no ramo de vendas de móveis, lançou
recentemente um sítio eletrônico onde disponibiliza para a venda os móveis disponíveis em suas lojas
físicas. Sobre o comércio eletrônico, de acordo com as lições de José Olinto, nesse caso:
a) é originário puro;
b) é originário misto;
c) é derivado;
d) é derivado misto;
e) nenhuma das anteriores

Comentários

Gabarito: C

Segundo as lições de José Olinto de Toledo Ridolfo, existem 2 tipos de estabelecimento digital. O originário
se caracteriza pelo fato de que a criação, desenvolvimento e implementação do comércio virtual estão
desvinculados à atividade empresarial e organizada. O derivado, por sua vez, decorre de atividade
empresarial que já existe e que passa a usar os meios eletrônicos para o exercício. Este último caracteriza o
sítio eletrônico do caso em tela, vez que a atividade empresarial das Casas Nordestinas já existe.

2.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. Não é princípio institucional do Ministério Público:
a) Unidade.
b) Independência funcional.
c) Promotor natural.
d) Autonomia administrativa.
e) Indivisibilidade.

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Comentários

A autonomia administrativa de que trata o art. 127, § 2º, da Constituição da República, segundo o qual o
Ministério Público dispõe de autonomia em relação aos demais órgãos da Administração Pública, é
considerada como garantia, e não princípio institucional.

O candidato deve assinalar a alternativa D, pois.

Questão 2. Qual é o organismo responsável pela solução do conflito de atribuição entre órgãos do
Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual?
a) Supremo Tribunal Federal.
b) Superior Tribunal de Justiça.
c) Procuradoria-Geral da República.
d) Conselho Nacional do Ministério Público.
e) Conselho Nacional de Justiça.

Comentários

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firmada no sentido de que o conflito de atribuição entre
órgãos do Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual deve ser resolvido pelo Conselho
Nacional do Ministério Público.

Revela-se correta a alternativa D.

“Petição. Constitucional e Administrativo. Competência do Conselho Nacional do Ministério


Público para dirimir conflito de atribuição entre Ministérios Públicos diversos. Exercício do
controle da legalidade da atuação administrativa. Respeito à independência funcional. CF, art.
130-A, § 2º, incs. I e II. Incompetência do Supremo Tribunal Federal. Incompetência originária do
Supremo Tribunal Federal para conhecer e dirimir conflito de atribuições entre membros de
ramos diversos do Ministério Público. Inaplicabilidade do art. 102, inc. I, ‘f’, da CF, por ausência
de risco ao equilíbrio federativo. Impossibilidade de encaminhamento do conflito de
atribuição para o Procurador-Geral da República, enquanto autoridade competente, pois é parte
interessada na solução da demanda administrativa, uma vez que acumula a Chefia do Ministério
Público da União com a chefia de um de seus ramos, o Ministério Público Federal, nos termos da
LC nº 75/1993. Os membros do Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de
um só Procurador-Geral, ressalvando-se, porém, que só existem unidade e indivisibilidade dentro
de cada Ministério Público, inexistindo qualquer relação de hierarquia entre o Ministério Público
Federal e os dos Estados, entre o de um Estado e o de outro, ou entre os diversos ramos do
Ministério Público da União. EC nº 45/2004 e interpretação sistemática da Constituição Federal.
A solução de conflitos de atribuições entre ramos diversos dos Ministérios Públicos pelo CNMP,
nos termos do artigo 130-A, § 2º, e incs. I e II, da Constituição Federal e no exercício do controle
da atuação administrativa do Parquet, é a mais adequada, pois reforça o mandamento
constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade das ações administrativas dos membros
e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem ingressar ou ferir a independência funcional. Não

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conhecimento da ação e encaminhamento dos autos ao Conselho Nacional do Ministério


Público para, nos termos do artigo 130-A, incs. I e II, da Constituição Federal, dirimir o conflito de
atribuições” (STF, Pet nº 5.091, Rel. Min. Alexandre de Moraes, J. 16.06.2020, DJU 06.08.2020).

Questão 3. De acordo com o princípio da independência funcional:


a) Não existe hierarquia administrativa entre os membros do Ministério Público.
b) Os membros do Ministério Público, no desempenho de suas atribuições, estão submetidos à Constituição,
legislação e recomendações da Instituição.
c) Os membros do Ministério Público respondem pelos danos que causarem a terceiros em caso de dolo ou
fraude.
d) Os membros do Ministério Público, no exercício de suas atribuições, estão submetidos a avocações e
delegações.
e) A Instituição não pode figurar como assistente simples nos processos instaurados em decorrência de ações
de reparação ou ressarcimento em face dos membros do Ministério Público.

Comentários

De acordo com o princípio da independência funcional e, em especial, a regra do 181 do Código de Processo
Civil, os membros do Ministério Público respondem pelos danos que causarem a terceiros em caso de dolo
ou fraude.

Portanto, a alternativa C está correta.

2.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR


Questão 1. Assinale a alternativa correta em relação ao Código de Defesa do Consumidor
a) Interesses ou direitos difusos, são assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas determináveis ou indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;
b) Interesses ou direitos difusos, são assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato.
c) Interesses ou direitos difusos, são assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias jurídicas.
d) Interesses ou direitos difusos, são assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
e) Interesses ou direitos difusos, são assim entendidos, para efeitos do Código de Defesa do Consumidor, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma origem comum.

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Comentários

A assertiva ‘b’ é a única correta. De acordo com o conceito do art. 81, p. único, I, do CDC. A marca dos
interesses e direitos difusos é a transindividualidade e indeterminabilidade dos titulares. As demais
assertivas mudam o sentido do texto, retirando características essenciais do tema.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta em relação ao Código de Defesa do Consumidor:


a) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final. O Código de Defesa do Consumidor utiliza a teoria finalista.
b) O Código de Defesa do Consumidor estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem
pública e interesse social.
c) Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, exceto os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.
d) Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
e) Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Comentários

a) correta, dentro do art. 2º, do CDC, utilização da teoria finalista para conceito de consumidor; b) correte,
na forma do art. 1º, do CDC; c) incorreta, pois os entes despersonalizados também estão enquadrados no
conceito de fornecedor, na forma do art. 3º, do CDC; d) correta, na forma do §2º, do art. 3º, do CDC; e)
correta, na forma do p. único do art. 2º, do CDC.

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA PROFESSOR QUESTÕES


Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes 2
Direito Administrativo Bruno Betti 2
Direito Civil Edon Rodarte 2
Direito Processual Civil Edon Rodarte 1
Direito Penal Flávio Milhomem 2
Direito Processual Penal Guilherme Rezende 1
Legislação Penal Especial Alex Fadel 1
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes 1
Direito Tributário Mateus Pontalti 1

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Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa 1


Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. O que é legitimação ativa universal para ação direta de inconstitucionalidade? É admissível
que Governador proponha ação direta de inconstitucionalidade contra lei de outro Estado? Respostas
objetivamente fundamentadas.

Comentários

A jurisprudência nacional estabelece a diferenciação entre legitimados ativos universais e especiais.

Os legitimados ativos universais são os que prescindem da demonstração de pertinência temática, pois o
interesse genérico em preservar a supremacia da Constituição decorre das suas atribuições institucionais.

Os legitimados ativos especiais são os que imprescindem da demonstração de pertinência temática, sendo-
lhes exigida a relação de adequação entre o interesse específico para cuja tutela foram constituídos e o
conteúdo da norma jurídica arguida como inconstitucional.

Nessa ordem de ideias, a legitimação ativa do Governador de Estado, como legitimado ativo especial, para a
ação direta de inconstitucionalidade não é limitada à impugnação de leis ou atos normativos oriundos da
entidade federativa governada pelo requerente. O Governador pode impugnar, por intermédio da ação
direta de inconstitucionalidade, lei ou ato normativo originário de entidade federativa diferente, se
demonstrar a repercussão nos interesses específicos do Estado ou Distrito Federal, tal como na hipótese de
concessão, por lei ou ato normativo estadual ou distrital, de benefícios fiscais relativos ao imposto sobre
operações relacionadas à circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação.

“Ação direta de inconstitucionalidade. Pertinência. Tratando-se de impugnação de ato


normativo de Estado diverso daquele governado pelo requerente, impõe-se a demonstração do
requisito ‘pertinência’. Isto ocorre quanto ao Decreto nº 33.656, de 16 de abril de 1993, do
Estado de São Paulo, no que se previu o crédito de cinquenta por cento do valor do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços devido em operações ligadas aos produtos finais do
sistema eletrônico de processamento de dados. O interesse dos Estados mostrou-se conducente
a reserva a lei complementar da disciplina da matéria e esta cogita da necessidade de convenio
– Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975, recepcionada pela Carta de 1988 – artigo 34,
§ 8º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Liminar concedida” (STF, ADI nº 902,
Rel. Min. Marco Aurélio, J. 03.03.1994, DJU 22.04.1994).

Questão 2. Considerando a arguição de descumprimento de preceito fundamental de que trata o art.


102, § 1º, da Constituição da República e, bem assim, Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999, estabeleça

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a distinção entre a arguição direta ou autônoma e arguição indireta ou incidental. Resposta objetivamente
justificada.

Comentários

A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instituto bivalente ou dúplice, dado que comporta
a arguição direta ou autônoma, com fulcro no art. 1º, caput, e a arguição indireta ou incidental, com
fundamento no art. 1º, parágrafo único, inc. I, ambos da Lei nº 9.882/99.

Por um lado, a arguição autônoma é suscitada diretamente perante o Supremo Tribunal Federal, para evitar
ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.

A natureza jurídica da arguição direta é a de ação constitucional, porquanto veicula pretensão dirigida à
tutela de preceito fundamental decorrente da Constituição, ameaçado ou lesado por ato do Poder Público.

Por outro lado, a arguição incidental é suscitada durante a tramitação de processo em qualquer juízo ou
tribunal, incluindo o Supremo Tribunal Federal, desde que seja relevante o fundamento da controvérsia
sobre a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição.

A natureza jurídica da arguição indireta é a de incidente de constitucionalidade, porque viabiliza a suspensão


do processo em curso perante qualquer juízo ou tribunal, para que seja proferida decisão exclusivamente
sobre a questão constitucional suscitada, com o fim de antecipar a solução da controvérsia constitucional,
que percorreria a via de exceção até o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal em recurso
extraordinário.

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Explique o que significa a autarquização das empresas estatais e dê exemplos de sua aplicação
na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

Comentários

As empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, embora sejam figuras
jurídicas classificadas como pessoas de direito privado, possuem características que identificam traços de
natureza jurídica híbrida, que ora se aproximam do regime de direito público, ora se afastam. A classificação,
por conseguinte, dessas entidades como pessoas jurídicas de direito privado, não possui o condão de
dissocia-las, de modo absoluto, de incidências do regime de direito público, em razão de sua atuação
destinada à prestação de serviços públicos.

Trata-se da “autarquização das empresas estatais prestadoras de serviço públicos” ou “ feições autárquicas”
(Gustavo Binenbojm)

Ex: as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de
natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.

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Ex2: Equiparação dos Correios à Fazenda Pública

Questão 2. Explique de modo detalhado a recente decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da
delegação do poder de polícia.

Comentários

O STF, em recente julgamento, no RE 633782, fixou a seguinte Tese de Repercussão Geral:

É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.

Histórico das decisões de Poder de Polícia

1) STF - poder de polícia é indelegável a pessoas jurídicas privadas. (tese que hoje deve ser relida com o novo
julgamento. Trata-se de PJ de DP que não integram a AP)

2) STJ – Bloco de Polícia – Também trata-se de julgado que deve ser reinterpretado. Aplica-se o
entendimento fixado pelo STJ, nesse julgamento, apenas para pessoas jurídicas de direito privado não
integrantes da Administração Pública. A essas pessoas, continua sendo possível apenas a delegação das
atividades materiais do Poder de Polícia, como os atos de consentimentos e a fiscalização.

ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA APLICADA POR SOCIEDADE DE


ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE.

1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia, convém afastar a preliminar de conhecimento levantada pela
parte recorrida. Embora o fundamento da origem tenha sido a lei local, não há dúvidas que a tese sustentada
pelo recorrente em sede de especial (delegação de poder de polícia) é retirada, quando o assunto é trânsito,
dos dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 24), na medida em que
estes artigos tratam da competência dos órgãos de trânsito. O enfrentamento da tese pela instância
ordinária também tem por consequência o cumprimento do requisito do prequestionamento. 2. No que
tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia pode ser conceituado como o
dever estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A
controvérsia em debate é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no caso, aplicação
de multas de trânsito por sociedade de economia mista). 3. As atividades que envolvem a consecução do
poder de polícia podem ser sumariamente divididas em quatro grupo, a saber: (i) legislação, (ii)
consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da
liberdade no trânsito, esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece normas genéricas e abstratas para
a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o
Poder Público (consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há
respeito à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona aquele que não
guarda observância ao CTB (sanção). 5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são
delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público.
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por particulares estaria, inclusive,
comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para aumentar a arrecadação. 7. Recurso especial
provido. (STJ, REsp 817534/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 10.11..2009)

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3) STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.

Para entendermos a recente Tese de Repercussão Geral fixada pelo STF, é preciso entender as decisões do
STF acerca das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista

CR/88 – Estabelece o Regime de Direito Privado, parcialmente derrogado por normas de Direito Público –
art. 173, da CR/88

STF diferencia as EP e SEM prestadoras de serviço público e exploradoras de atividade econômica. De acordo
com o STF:

As empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, embora


sejam figuras jurídicas classificadas como pessoas de direito privado, possuem características que
identificam traços de natureza jurídica híbrida , que ora se aproximam do regime de direito
público, ora se afastam. A classificação, por conseguinte, dessas entidades como pessoas
jurídicas de direito privado, não possui o condão de dissocia-las, de modo absoluto, de
incidências do regime de direito público, em razão de sua atuação destinada à prestação de
serviços públicos.

Trata-se da “autarquização das empresas estatais prestadoras de serviço públicos” ou “ feições autárquicas”
(Gustavo Binenbojm)

Ex: as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e
de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.

Ex2: Equiparação dos Correios à Fazenda Pública

A indelegabilidade do Poder de Polícia à Pessoas Jurídicas de Direito Privado fundamenta-se em quatro


pilares argumentativos:

(i) ausência de autorização constitucional;

(ii) indispensabilidade da estabilidade do serviço público para o seu exercício;

(iii) impossibilidade de delegação da prerrogativa da coercibilidade, atributo intrínseco ao poder de


polícia, por ser atividade típica de Estado, e

(iv) incompatibilidade da função de polícia com finalidade lucrativa.

Conforme será visto, o STF afastou todos esses argumentos no que tange à Pessoas Jurídicas de Direito
Privado integrantes da Administração Pública, cujo capital social seja majoritariamente (ou integralmente)
público, que preste serviço público de natureza não-concorrencial. Vejamos:

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(i) ausência de autorização constitucional;

Não se sustenta a lógica da indelegabilidade por ausência de permissivo constitucional. É que o


regime jurídico híbrido das estatais prestadoras de serviço público em regime de monopólio é
plenamente compatível com a delegação, nos mesmos termos em que se admite a
constitucionalidade do exercício delegado de atividade de polícia por entidades de regime
jurídico de direito público.

[...] tem-se como possível o exercício de uma função de Estado (poder de polícia) por uma pessoa
jurídica integrante da Administração Pública indireta prestadora de serviço público.

(ii) indispensabilidade da estabilidade do serviço público para o seu exercício;

[...] vale lembrar que nem todos os servidores estatutários possuem estabilidade. Os ocupantes
de cargos em comissão não possuem tal garantia, sendo, inclusive, demissíveis ad nutum . Além
deles, os servidores em estágio probatório também não contam com a estabilidade até o término
do período de prova. Todavia, essas peculiaridades não deslegitimam a prática atos derivados do
poder de polícia.

(iii) impossibilidade de delegação da prerrogativa da coercibilidade, atributo intrínseco ao poder de polícia,


por ser atividade típica de Estado,

Em relação às estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e em regime


de monopólio, não há razão para o afastamento do atributo da coercibilidade inerente ao
exercício do poder de polícia, sob pena de esvaziamento da finalidade para a qual aquelas
entidades foram criadas.

(iv) incompatibilidade da função de polícia com finalidade lucrativa

as estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado não exploram atividade
econômica em regime de concorrência. A razão é óbvia: a atuação típica do Estado não se dirige
precipuamente ao lucro. É dizer, se a entidade exerce função pública típica, a obtenção de lucro
não é o seu fim principal.

A possibilidade de ocorrem abusos de poder no exercício do poder de polícia delegado. É certo


que eventuais abusos não decorrem, exclusivamente, da atuação de pessoas jurídicas de direito
privado, mas também de pessoas jurídicas de direito público. Fato é que os abusos devem ser,
constantemente, apurados e reprimidos pelo Estado, de modo a diminuir a sua incidência.

Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente indelegável: a
ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de consentimento, de fiscalização e de aplicação de
sanções podem ser delegados a estatais que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um regime
jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.

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3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a correlação entre interesses existenciais e dano moral.

Comentários

A temática do dano moral, já abordada em rodada anterior, é multifacetada. Sua repercussão é vasta em
âmbito jurisprudencial e dogmático, o que se expressa em provas de concurso público.

Não há, porém, consenso doutrinário acerca das bases estruturantes do dano moral. E, pois, o fato gerador
do dano moral, em especial a intensidade da lesão apta a deflagrá-lo, tornou à discussão em recente aresto
do STJ.

Sabe-se que a lesão de caráter extrapatrimonial, isto é, a que atinge direitos da personalidade, é reputada
como substrato fático do dano moral. Entretanto, deve-se atentar à sistemática do dissabor social
experimentado e, como já mencionado, à própria intensidade da lesão.

Deve-se atentar, substancialmente, à diferente entre o chamado mero dissabor, que não extrapola os
inconvenientes decorrentes da sociedade hipercomplexa em que vivemos, e o que se denomina de lesão a
interesses existenciais.

O primeiro – mero dissabor – deve ser tolerado pela parte que o percebe. Trata-se de imperativo de
convivência pública, sob pena de onerosidade excessiva à parte contrária e de desequilíbrio nas relações
privadas.

O segundo, a seu turno, consiste na lesão que, efetivamente, atinge interesses patrimonialmente
compensáveis, por lesionar o núcleo da personalidade inerente.

Nos dizeres do STJ, no REsp 1.406.245:

Como bem adverte a doutrina especializada, é recorrente o equívoco de se tomar o dano moral
em seu sentido natural, e não jurídico, associando-o a qualquer prejuízo incalculável, como figura
receptora de todos os anseios, dotada de uma vastidão tecnicamente insustentável, e mais
comumente correlacionando-o à dor, ao aborrecimento, ao sofrimento e à frustração.

Por isso, aborrecimentos, embora censuráveis, não deflagram a compensação. Prossegue o STJ, ao aduzir
que essas situações, em regra, não têm a capacidade de afetar o direito da personalidade, interferindo
intensamente no bem-estar do consumidor (equilíbrio psicológico, isto é, saúde mental).

Assim, são essas lesões intensas ao bem-estar que, ao atingir interesse existencial, irá viabilizar o dano moral.

Questão 2. Discorra sobre a prescrição intercorrente no âmbito do Direito Civil.

Comentários

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A prescrição é a extinção do direito de demandar direito subjetivo violado, em decorrência da inércia do


titular.

A par da categorização geral do instituto, tem-se a denominada prescrição intercorrente, consistente naquela
que transcorre no curso de uma lide, após a sua interrupção. Isso porque, nos termos do art. 202 do Código
Civil, a interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma vez.

De fato. Se a prescrição apenas ocorre uma vez, afigura-se intuitivo concluir-se que, após, ela tornará a
correr.

Porém, diferentemente da prescrição comum, a intercorrente não pressupõe a inércia do credor. Poderá ela
ocorrer ainda que não haja inação por parte do detentor do direito subjetivo.

É, justamente, o que prevê o art. 921 do Código de Processo Civil, em seus §§ 1º e 4º, ao ditar que se suspende
a execução (...) (III) quando o executado não possuir bens penhoráveis. § 1º Na hipótese do inciso III, o juiz
suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se suspenderá a prescrição. § 4º Decorrido
o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do exequente, começa a correr o prazo de prescrição
intercorrente.

Em conclusão lógica, o art. 924, em seu inciso V, do mesmo Código, aduz que a execução se extinguirá quando
ocorrer a prescrição intercorrente.

Portanto, nota-se que a prescrição intercorrente é fenômeno endoprocessual, verificada em situações


pontuais, em geral na hipótese em que previsto legalmente que a prescrição, outrora interrompida,
retomará o seu curso, em decorrência de fenômeno tipificado como idôneo a ativar o lapso temporal
necessário à extinção do direito subjetivo litigado em juízo.

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Disserte sobre a liquidação por arbitramento e a quem incumbe o ônus de antecipar os
honorários periciais.

Comentários

A liquidação por arbitramento configura uma das modalidades pelas quais pode se operar a definição exata
do quantum do débito que, embora tenha sido judicialmente reconhecido ao final da fase cognitiva, seja
despido de liquidez. Por essa forma de liquidação, assim decidida por determinação contida na sentença,
convenção das partes ou exigência da natureza ou do objeto da obrigação, deve o juiz intimar as partes para
a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de
plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial, conforme
intelecção dos artigos 509, “caput”, I, e 511, ambos do Código de Processo Civil.

Em sendo necessária a designação de perito, certa se faz a correlata precisão de fixação dos honorários
periciais, cujo pagamento deve ocorrer de maneira antecipada e por conta do executado. Isso porque já pesa
em desfavor deste a existência de um débito reconhecido, em juízo, por sentença transitada em julgado,
malgrado ilíquido, cabendo-lhe, pois, por óbvio, o ônus de arcar com as despesas necessárias à liquidação da

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dívida, como verdadeira medida de justiça, dado que imputá-lo ao exequente denotaria, no mínimo,
incongruência do mecanismo processual. Esse é o entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de
Justiça por meio do REsp 1274466/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 14/05/2014, DJe 21/05/2014 – Informativo 541.

3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Crimes comissivos por omissão são aqueles em que se atribui, normativamente, um resultado
naturalístico a quem deixa de agir; identificando-se, no caso sob exame, o dever de agir, seja ele
decorrente de lei ou de outras hipóteses previstas no Código Penal. Neste contexto, pode-se atribuir a um
irmão a responsabilidade penal por não impedir o crime praticado contra outro? Fundamente.

Comentários

Os crimes omissos impróprios, de acordo com a doutrina, são aqueles que "(...) envolvem um não fazer, que
implica a falta do dever legal de agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não têm tipos específicos,
gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém responda por um delito omissivo impróprio é preciso
que tenha o dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar, dolosa ou culposamente, auxiliando na
produção do resultado."

Quando se fala em "dever legal de agir" e em assunção do papel de "garantidor", o Código Penal, no art. 13,
§ 2º, apresenta três hipóteses taxativas para caracterizar tal incumbência ao agente.

Na primeira perspectiva, na alínea "a", tem-se a figura do garantidor legal stricto sensu, aquele que tem por
lei o dever de proteção, vigilância e cuidado, hipótese comumente aplicada entre os pais e os seus filhos
menores de idade, no exercício de seu poder familiar. Nesse ponto, é clara a impossibilidade de extensão
das obrigações paternas aos irmãos. Afinal, muito embora haja vínculo familiar e até presumidamente uma
relação afetiva entre irmãos, o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o
outro, salvo, evidentemente, os casos de transferência de guarda ou tutela.

A lei, ainda, expressamente prevê a assunção da figura de "garantidor" pelo agente, nas alíneas "b" e "c",
quais sejam: o da pessoa que de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, e daquele
que criou o risco da ocorrência do resultado a partir de seu comportamento anterior.

Assim, muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea "a" do art. 13, § 2º, do CP,
pois o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, caso caracterizada
situação fática de assunção da figura do "garantidor" pela irmã, nos termos previstos nas duas alíneas
seguintes do referido artigo ("b" e "c"), não há falar em atipicidade de sua conduta.

Neste sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

2. Muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea "a" do art. 13, §2, do
CP, pois o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, caso
caracterizada situação fática de assunção da figura do "garantidor" pela irmã, nos termos
previstos nas duas alíneas seguintes do referido artigo ("b" e "c"), não há falar em atipicidade de

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sua conduta. Hipótese em que a acusada omitiu-se quanto aos abusos sexuais em tese praticados
pelo seu marido na residência do casal contra suas suas irmãs menores durante anos. Assunção
de responsabilidade ao levar as crianças para sua casa sem a companhia da genitora e criação de
riscos ao não denunciar o agressor, mesmo ciente de suas condutas, bem como ao continuar
deixando as meninas sozinhas em casa. (HC 603.195/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 16/10/2020)

Vamos à régua de correção:

Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a 10%
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Crimes omissivos
Os crimes omissos impróprios, de acordo com a
impróprios - conceito doutrina, são aqueles que "(...) envolvem um não fazer,
que implica a falta do dever legal de agir, contribuindo,
pois, para causar o resultado. Não têm tipos específicos,
gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém 30%
responda por um delito omissivo impróprio é preciso
que tenha o dever de agir, imposto por lei, deixando de
atuar, dolosa ou culposamente, auxiliando na produção
do resultado."
Dever legal de agir Quando se fala em "dever legal de agir" e em assunção
do papel de "garantidor", o Código Penal, no art. 13, §
2º, apresenta três hipóteses taxativas para caracterizar
tal incumbência ao agente.
Na primeira perspectiva, na alínea "a", tem-se a figura
do garantidor legal stricto sensu, aquele que tem por lei
o dever de proteção, vigilância e cuidado, hipótese
comumente aplicada entre os pais e os seus filhos 30%
menores de idade, no exercício de seu poder familiar.
A lei, ainda, expressamente prevê a assunção da figura
de "garantidor" pelo agente, nas alíneas "b" e "c", quais
sejam: o da pessoa que de outra forma assumiu a
responsabilidade de impedir o resultado, e daquele que
criou o risco da ocorrência do resultado a partir de seu
comportamento anterior.
A situação de garantidor Assim, muito embora uma irmã mais velha não possa
do irmão ser enquadrada na alínea "a" do art. 13, § 2º, do CP, pois
o mero parentesco não torna penalmente responsável
30%
um irmão para com o outro, caso caracterizada situação
fática de assunção da figura do "garantidor" pela irmã,
nos termos previstos nas duas alíneas seguintes do

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referido artigo ("b" e "c"), não há falar em atipicidade


de sua conduta.
Questão 2. No dia 1º de dezembro de 2020, EPAMINONDAS BORBOREMA e ANTONIO MANSO PACÍFICO
abordaram um casal que saía de um restaurante em direção a seu veículo, estacionado em via pública;
determinaram que entrassem no veículo, no banco de trás, e lhes subtraíram os pertences. Ato contínuo,
passaram a dirigir o veículo pelo bairro até que, ao encontrarem um caixa eletrônico, exigiram das vítimas
a entrega das senhas dos cartões bancários subtraídos, o que foi feito, permitindo o saque de expressiva
quantia. Após algumas horas, EPAMINONDAS e ANTONIO liberaram as vítimas em um terreno baldio; e
tomaram rumo ignorado.
Em razão da investigação policial, os autores foram identificados e denunciados pelos crimes de roubo (CP,
Art. 157, §2º, II) e extorsão (CP, Art. 158, §§1º e 3º); vindo a ser condenados pelos referidos crimes,
aplicando-se a regra do art. 69 do Código Penal.
Irresignada com a condenação, a defesa interpôs recurso de apelação visando à reforma parcial da sentença,
para que seja reconhecida a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão.
Na qualidade de promotor natural do caso, quais argumentos utilizaria em sede de contrarrazões recursais
para afastar a pretensão defensiva?

Comentários

Crime continuado é aquele no qual o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie, os quais, pelas semelhantes condições de tempo, lugar, modo de execução e
outras, podem ser tidos uns como continuação dos outros. Cuida-se de ficção jurídica criada por uma questão
de política criminal.

Para o reconhecimento da existência do crime continuado, exige-se a presença dos seguintes requisitos.

a) Pluralidade de crimes da mesma espécie: aqueles previstos no mesmo tipo penal, abrangendo as formas
simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou consumadas.

b) Condições semelhantes de tempo: no tocante à conexão temporal, ela se traduz em certa continuidade
no tempo e, até mesmo, periodicidade.

c) Condições semelhantes de lugar: mesmo bairro, bairros de uma mesma cidade e até cidades vizinhas.

d) Condições semelhantes de modo de execução: o modus operandi utilizado pelo agente na prática dos
delitos deve ser semelhante.

e) Unidade de desígnio: exige-se unidade de resolução, devendo o agente desejar praticar os crimes em
continuidade.

f) Outras condições semelhantes: o aproveitamento das mesmas oportunidades e das mesmas relações pode
ser incluído no conceito de condições semelhantes.

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A jurisprudência dos tribunais superiores adota a interpretação pela impossibilidade de reconhecimento da


continuidade delitiva nos crimes de mesmo gênero, quando não sejam da mesma espécie. Neste sentido, o
Superior Tribunal de Justiça:

Ademais, a jurisprudência desta Corte Superior é iterativa no sentido de que "não é possível o
reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, pois embora
sejam delitos do mesmo gênero, são de espécies distintas, o que inviabiliza a aplicação da regra
contida no art. 71 do Código Penal" (HC n. 409.602/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, DJe de 27/09/2017).

Desta feita, deve ser adotada a regra prevista no art. 69 do Código Penal, com a aplicação do sistema do
cúmulo material, e somatório das penas dos crimes de roubo e extorsão pelos quais foram condenados.

Vamos à régua de correção:

Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a 10%
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Crime continuado - Crime continuado é aquele no qual o agente, mediante
conceito mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie, os quais, pelas semelhantes
condições de tempo, lugar, modo de execução e outras, 30%
podem ser tidos uns como continuação dos outros.
Cuida-se de ficção jurídica criada por uma questão de
política criminal.
Requisitos Para o reconhecimento da existência do crime
continuado, exige-se a presença dos seguintes
requisitos.
a) Pluralidade de crimes da mesma espécie: aqueles
previstos no mesmo tipo penal, abrangendo as formas
simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou
consumadas.
b) Condições semelhantes de tempo: no tocante à 30%
conexão temporal, ela se traduz em certa continuidade
no tempo e, até mesmo, periodicidade.
c) Condições semelhantes de lugar: mesmo bairro,
bairros de uma mesma cidade e até cidades vizinhas.
d) Condições semelhantes de modo de execução: o
modus operandi utilizado pelo agente na prática dos
delitos deve ser semelhante.

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e) Unidade de desígnio: exige-se unidade de resolução,


devendo o agente desejar praticar os crimes em
continuidade.
f) Outras condições semelhantes: o aproveitamento das
mesmas oportunidades e das mesmas relações pode
ser incluído no conceito de condições semelhantes.

Impossibilidade de A jurisprudência dos tribunais superiores adota a


aplicação das regras a interpretação pela impossibilidade de reconhecimento
30%
crimes que não sejam da da continuidade delitiva nos crimes de mesmo gênero,
mesma espécie quando não sejam da mesma espécie.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. RAFAEL, 18 anos de idade, e MANUEL, 17 anos, matam o seu desafeto, RAFAEL.
Durante as investigações, a Autoridade Policial adota inúmeras providências no intuito de descobrir a autoria
delitiva, e acaba por chegar ao nome do acusado RAFAEL, após acessar, sem autorização judicial, o aparelho
celular de MANUEL.
Após ser descoberto, RAFAEL confessa a prática do crime.
Como Promotor(a) de Justiça como você justificaria a utilização da prova mencionada no enunciado da
questão do processo? Explique.

Comentários

Segundo remansosa jurisprudência do Tribunal da Cidadania, devassa aos dados armazenados em aparelho
telefônico demanda autorização judicial, consoante se extrai de trecho do julgado abaixo:

A análise dos dados armazenados nas conversas de WhatsApp revela manifesta violação da garantia
constitucional à intimidade e à vida privada, razão pela qual se revela imprescindível autorização judicial
devidamente motivada. RHC 89.981

Partindo dessa premissa, a prova padeceria de vício, sendo portanto nula, assim como as provas dela
decorrentes, por força da aplicação dos frutos da árvore envenenada.

No entanto, a superveniente confissão do acusado RAFAEL, tornaria por demasiado tênue o nexo de
causalidade entre a prova ilícita e as consequências dela advindas, autorizando-se, por força da teoria da
tinta diluída ou da mancha purgada, a sua utilização em processo judicial.

Eis precedente do Eg. Tribunal da Cidadania:

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL. PROVA PRODUZIDA NO


EXTERIOR. PARÂMETRO DE VALIDADE. ADMISSIBILIDADE NO PROCESSO. ORDEM PÚBLICA,
SOBERANIA NACIONAL E BONS COSTUMES. VIOLAÇÃO. INOCORRÊNCIA. PROVAS ILÍCITAS
DERIVADAS. FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. EXCEÇÕES. TEORIA DA MANCHA PURGADA.

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NEXO DE CAUSALIDADE. ATENUAÇÃO. PRERROGATIVA DE FORO. CONEXÃO E CONTINÊNCIA.


COMPETÊNCIA. DESMEMBRAMENTO. FORO PREVALENTE. ART. 78 DO CPP. PREJUÍZO
CONCRETO. DEFESA. AUSÊNCIA. CORRUPÇÃO PASSIVA QUALIFICADA. APTIDÃO DA DENÚNCIA.
LAVAGEM DE DINHEIRO. CONSUNÇÃO. MATÉRIA DE PROVA. ATIPICIDADE. INOCORRÊNCIA.
RECEBIMENTO.

1. O propósito da presente fase procedimental é verificar a aptidão da denúncia e a possibilidade


de absolvição sumária do acusado, a quem é imputada a suposta prática dos crimes de corrupção
passiva circunstanciada (art. 317, § 1º, do CP), por 17 (dezessete vezes), e de lavagem de dinheiro
(art. 1º da Lei 9.613/98).

2. A provas obtidas por meio de cooperação internacional em matéria penal devem ter como
parâmetro de validade a lei do Estado no qual foram produzidas, conforme a previsão do art. 13
da LINDB. 3. A prova produzida no estrangeiro de acordo com a legislação de referido país pode,
contudo, não ser admitida no processo em curso no território nacional se o meio de sua obtenção
violar a ordem pública, a soberania nacional e os bons costumes brasileiros, em interpretação
analógica da previsão do art. 17 da LINDB.

4. A teoria dos frutos da árvore envenenada tem sua incidência delimitada pela exigência de que
seja direto e imediato o nexo causal entre a obtenção ilícita de uma prova primária e a aquisição
da prova secundária. 5. De acordo com a teoria do nexo causal atenuado ou da mancha purgada,
i) o lapso temporal decorrido entre a prova primária e a secundária; ii) as circunstâncias
intervenientes na cadeia probatória; iii) a menor relevância da ilegalidade; ou iv) a vontade do
agente em colaborar com a persecução criminal, entre outros elementos, atenuam a ilicitude
originária, expurgando qualquer vício que possa recair sobre a prova secundária e afastando a
inadmissibilidade de referida prova.

6. Na presente hipótese, as provas encaminhadas ao MP brasileiro são legítimas, segundo o


parâmetro de legalidade suíço, e o meio de sua obtenção não ofende a ordem pública, a
soberania nacional e os bons costumes brasileiros, até porque decorreu de circunstância
autônoma interveniente na cadeia causal, a qual afastaria a mancha da ilegalidade existente no
indício primário. Não há, portanto, razões para a declaração de sua inadmissibilidade no presente
processo.

7. A fase investigativa de crimes imputados a autoridades com prerrogativa de foro no STJ, ocorre
sob a supervisão desta Corte, a qual deve ser desempenhada durante toda a tramitação das
investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento,
ou não, de denúncia.

8. Havendo indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, os autos devem ser
encaminhados imediatamente ao foro prevalente, definido segundo o art. 78, III, do CPP, o qual
é o único competente para resolver sobre a existência de conexão ou continência e acerca da
conveniência do desmembramento do processo.

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9. In casu, embora o juízo de primeiro grau de jurisdição tenha usurpado a competência do STJ
ao desmembrar o inquérito, não há prejuízo concreto à defesa do réu, razão pela qual esse vício
não é capaz de impedir o recebimento da denúncia.

10. Ocorre a inépcia da denúncia ou queixa quando sua deficiência resultar em prejuízo ao
exercício da ampla defesa do acusado, ante a falta de descrição do fato criminoso, da imputação
de fatos determinados ou da circunstância de da exposição não resultar logicamente a conclusão.

11. Na hipótese, a denúncia narra que o acusado, funcionário público, teria, em mais de uma
oportunidade, recebido vantagens indevidas em razão dos cargos que já ocupou e atualmente
ocupa e que teria deixado de praticar atos de ofício e praticado outros com violação de dever
funcional, evidenciando de modo suficiente a presença de elementos que permitem o exercício
da ampla defesa pelo acusado.

12. Embora a tipificação da lavagem de dinheiro dependa da existência de um crime antecedente,


é possível a autolavagem - isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente
e do crime de lavagem -, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que
compõe a realização do primeiro crime, circunstância na qual não ocorrerá o fenômeno da
consunção.

13. A verificação da efetiva prática de condutas tendentes a acobertar a origem ilícita de dinheiro,
com o propósito de emprestar-lhe a aparência da licitude, é matéria que depende de provas e
deve ser objeto da instrução no curso da ação penal.

14. Preliminares rejeitadas. Denúncia recebida.

(APn 856/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/10/2017, DJe
06/02/2018)

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz da Lei n.º 8.137/1990 (dos crimes contra a ordem tributária), notadamente seu art. 2º,
inciso II (“Constitui crime da mesma natureza: […] deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou
de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria
recolher aos cofres públicos;”), e do entendimento dos tribunais superiores, discorra sobre a tipicidade,
ou não, da conduta do contribuinte que deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente por apenas 1
(um) mês (máximo 15 linhas):

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O Plenário do STF, no julgamento do RHC n.º 163.334/SC (ano de 2019), veiculado no informativo de
Jurisprudência n.º 96456, fixou a seguinte tese: “O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de
apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço incide no tipo penal
do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990”. Confira-se:

DIREITO PENAL – LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL Lei 8.137/1990, art. 2º, II: não recolhimento de
ICMS declarado e tipicidade – 2 – O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de
apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço incide
no tipo penal do art. 2º, II, da Lei 8.137/1990 (1). […] Prevaleceu o voto do ministro Roberto
Barroso (relator), que estabeleceu três premissas, reputadas importantes no equacionamento da
matéria: (i) o Direito Penal deve ser sério, igualitário e moderado; (ii) o pagamento de tributos é
dever fundamental de todo cidadão, na medida em que ocorra o fato gerador e ele exiba
capacidade contributiva; e (iii) o mero inadimplemento tributário não deve ser tido como fato
típico criminal, para que seja reconhecida a tipicidade de determinada conduta impende haver
==10be0c==

um nível de reprovabilidade especial que justifique o tratamento mais gravoso. Explicitou que o
sujeito ativo do crime é o sujeito passivo da obrigação, que, na hipótese do ICMS próprio, é o
comerciante. O objeto do delito é o valor do tributo. No caso, a quantia transferida pelo
consumidor ao comerciante. […] O relator lembrou que a Primeira Turma do STF concedeu
pedido de extradição fundado em tipo penal análogo (Ext 1.139) e que o STF já reconheceu a
constitucionalidade do tipo penal em debate (ARE 999.425, Tema 937 da repercussão geral). […]
No tocante às consequências do reconhecimento da tipicidade sobre os níveis de
encarceramento no País, aduziu que é virtualmente impossível alguém ser efetivamente preso
pelo delito de apropriação indébita tributária. A pena cominada é baixa, portanto, são cabíveis
transação penal, suspensão condicional do processo e, em caso de condenação, substituição da
pena privativa de liberdade por medidas restritivas de direito. Além disso, é possível a extinção
da punibilidade se o sonegador ou quem tenha se apropriado indevidamente do tributo quitar o
que devido. Assentada a possibilidade do delito em tese, o ministro assinalou que o crime de
apropriação indébita tributária não comporta a modalidade culposa. É imprescindível a
demonstração do dolo e não será todo devedor de ICMS que cometerá o delito. O inadimplente
eventual distingue-se do devedor contumaz. O devedor contumaz faz da inadimplência tributária
seu modus operandi. Por fim, consignou que o dolo da apropriação deve ser apurado na instrução
criminal, pelo juiz natural da causa, a partir de circunstâncias objetivas e factuais, tais como a
inadimplência reiterada, a venda de produtos abaixo do preço de custo, a criação de obstáculos
à fiscalização, a utilização de “laranjas”, a falta de tentativa de regularização de situação fiscal, o
encerramento irregular de atividades com aberturas de outras empresas. A ministra Rosa Weber
acrescentou que a conduta eleita pelo legislador penal não exige, para sua perfectibilização, o
emprego de fraude ou simulação pelo contribuinte, nem qualquer omissão. Vencidos os
ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, que deram provimento ao
recurso, por considerarem a conduta atípica. Compreenderam estar-se diante de imputação
criminal pelo mero inadimplemento de dívida fiscal. O ministro Gilmar Mendes salientou que
uma interpretação constitucional do dispositivo deve levar em conta o animus de fraude do

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Disponível em: <http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo964.htm>.

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agente, sob pena de fomentar-se uma política criminal arrecadatória. Ademais, inexiste
apropriação de tributo devido por terceiro, pois o tributo é devido pela própria empresa. (1) Lei
8.137/1990: “Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (…) II – deixar de recolher, no prazo
legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito
passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;” RHC 163334/SC, rel. Min.
Roberto Barroso, julgamento em 18.12.2019. (RHC-163334).(negritou-se).

Diante dessa decisão, a Terceira Seção do STJ decidiu no julgamento do AgRg no REsp 1.867.109-SC
(julgamento em 25/08/2020), veiculado no informativo de Jurisprudência do STJ n.º 679 57, que “a ausência
de contumácia no não recolhimento do ICMS em operações próprias conduz ao reconhecimento da
atipicidade da conduta”:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


TESE DE AFRONTA AOS ARTS. 332 E 1.022 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INOVAÇÃO NO
AGRAVO INTERNO. DESCABIMENTO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL.
INVIABILIDADE DE ANÁLISE NA VIA DO RECURSO ESPECIAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. SENTENÇA
CONDENATÓRIA. SUPERVENIÊNCIA. QUESTÃO PREJUDICADA. DOLO ESPECÍFICO.
DESNECESSIDADE. TESES DE INEXISTÊNCIA DE DOLO E INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA.
INVERSÃO DO JULGADO. SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ART. 2.º, INCISO II,
DA LEI N. 8.137/90. NÃO RECOLHIMENTO DE ICMS. TIPICIDADE DA CONDUTA. NECESSÁRIO
COMPROVAR TAMBÉM A CONTUMÁCIA. ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
PLASMADO NO RHC N. 16334/SC. CONDUTA QUE SE RESTRINGIU AO NÃO RECOLHIMENTO DO
ICMS RELATIVO A UM MÊS (NOVEMBRO/2016). ATIPICIDADE RECONHECIDA. PRECEDENTE.
AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO. (AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.867.109 –
SC (2020/0063833-1), rel. Min. Laurita Vaz, julgamento em 25/08/2020). (negritou-se).

Assim, conclui-se que é atípica a conduta do contribuinte que deixa de recolher o ICMS cobrado do
adquirente por apenas 1 (um) mês.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. As coligações partidárias podem operar efeitos jurídicos após as eleições para as quais foram
constituídas? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

A coligação partidária é delineada como pessoa formal constituída por meio da conjugação de esforços e
ideologias, com o fim de potencializar a força dos partidos políticos coligados.

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Disponível em: <https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/>.

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Nessa ordem de ideias, a coligação partidária pode operar efeitos jurídicos após a eleição para a qual foi
constituída, como, por exemplo, o efeito da suplência, que é definida em função da coligação, de forma que
a ordem de substituição é fixada segundo a ordem da coligação partidária, independentemente dos partidos
políticos aos quais são filiados os suplentes.

“Mandado de segurança preventivo. Constitucional. Suplentes de Deputado Federal. Ordem de


substituição fixada segundo a ordem da coligação (...). As coligações são conformações políticas
decorrentes da aliança partidária formalizada entre dois ou mais partidos políticos para
concorrerem, de forma unitária, às eleições proporcionais ou majoritárias. Distinguem-se dos
partidos políticos que a compõem e a eles se sobrepõe, temporariamente, adquirindo
capacidade jurídica para representá-los. A figura jurídica derivada dessa coalizão transitória não
se exaure no dia do pleito ou, menos ainda, apaga os vestígios de sua existência quando esgotada
a finalidade que motivou a convergência de vetores políticos: eleger candidatos. Seus efeitos
projetam-se na definição da ordem para ocupação dos cargos e o exercício dos mandatos
conquistados. A coligação assume perante os demais partidos e coligações, os órgãos da Justiça
Eleitoral e, também, os eleitores, natureza de superpartido; ela formaliza sua composição,
registra seus candidatos, apresenta-se nas peças publicitárias e nos horários eleitorais e, a partir
dos votos, forma quociente próprio, que não pode ser assumido isoladamente pelos partidos que
a compunham nem pode ser por eles apropriado. O quociente partidário para o preenchimento
de cargos vagos é definido em função da coligação, contemplando seus candidatos mais votados,
independentemente dos partidos aos quais são filiados. Regra que deve ser mantida para a
convocação dos suplentes, pois eles, como os eleitos, formam lista única de votações nominais
que, em ordem decrescente, representa a vontade do eleitorado. A sistemática estabelecida no
ordenamento jurídico eleitoral para o preenchimento dos cargos disputados no sistema de
eleições proporcionais é declarada no momento da diplomação, quando são ordenados os
candidatos eleitos e a ordem de sucessão pelos candidatos suplentes. A mudança dessa ordem
atenta contra o ato jurídico perfeito e desvirtua o sentido e a razão de ser das coligações. Ao se
coligarem, os partidos políticos aquiescem com a possibilidade de distribuição e rodízio no
exercício do poder buscado em conjunto no processo eleitoral. Segurança denegada” (STF, MS
nº 30.260, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJU 30.08.2011).

3.9 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Discorra sobre a base de cálculo da contribuição de melhoria (máximo de 20 linhas)

Comentários

O artigo 81 do CTN traz os limites que servem de baliza na exigência da contribuição de melhoria:

Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo
de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.

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Assim, o valor a ser cobrado possui dois limites: a) a despesa total gasta pelo Poder Público ao realizar a obra;
b) a valorização que beneficiou cada um dos imóveis isoladamente considerados.

O fundamento da primeira condicionante reside na circunstância de que a contribuição de melhoria é um


tributo vinculado, ou seja, que tem como pressuposto uma atividade estatal. Como a base de cálculo tem
como uma das funções justamente dimensionar economicamente o fato jurídico, o valor da contribuição de
melhoria deve corresponder ao custo incorrido pelo Estado na sua atuação, isto é, deve corresponder ao
valor total gasto pela realização da obra pública.

A segunda condicionante repousa na circunstância de que a contribuição de melhoria pode ser instituída
para neutralizar os efeitos positivos da obra pública sobre o patrimônio do contribuinte – mantendo, assim,
o capital que existia antes da obra ser realizada – mas não pode ser usada para produzir um decréscimo no
seu valor.

Portanto, a base econômica da contribuição de melhoria deve observar esses dois limites: a) não pode ser
superior ao custo global da obra; b) não pode superar a valorização individual de cada imóvel.

3.10 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. É possível a inversão do ônus da prova em ação civil pública de matéria ambiental? (justifique
considerando o entendimento dos Tribunais Superiores e as leis aplicáveis)

Comentários

De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “ É possível a inversão do ônus da prova da
ação civil pública em matéria ambiental a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art.
21 da Lei n. 7.347/1985.” Também pode ser fundamentado no art. 373, §1º do Código de Processo Civil. Tal
entendimento decorre do princípio da integração no microssistema processual coletivo.

3.11 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. Estabeleça a distinção entre a independência funcional e a autonomia funcional. Resposta
objetivamente justificada.

Comentários

A independência funcional, indivisibilidade e unidade são consideradas como princípios institucionais, à luz
do art. 127, § 1º.

Em outro sentido, a autonomia funcional, autonomia administrativa e autonomia financeira são definidas
como garantias institucionais, a teor do art. 127, § 2º, ambos da Constituição da República.

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