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Aula 12

Promotoria - Rodadas Regulares - 2022

Autor:
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas

11 de Julho de 2022
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Aula 12

Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4

1.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................ 4

1.1.1 - Garantias Constitucionais ...................................................................................................................................... 4

1.1.2 - Emendas constitucionais estaduais e reserva de iniciativa ................................................................................... 5

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 7

1.2.1 - Desapropriação: Aspectos relevantes ................................................................................................................... 7

1.2.2 - Extinção dos Atos Administrativos ...................................................................................................................... 10

1.2.3 - Sindicabilidade e Lei de introdução às normas do direito brasileiro................................................................... 15

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 17

1.3.1 - Meios originários de aquisição da propriedade imóvel ...................................................................................... 17

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 22

1.4.1 - Do cumprimento de sentença que obriga a prestar alimentos........................................................................... 22

1.4.2 - Da justiça multiportas.......................................................................................................................................... 24

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 27

1.5.1 - Autorização para o cultivo de maconha para fins medicinais ............................................................................. 27

1.5.2 - Combinação de leis penais, lei mista ou lex tertia .............................................................................................. 28

1.5.3 - Aberratio Ictus .................................................................................................................................................... 29

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 31

1.6.1 - Nuances da Prova Testemunhal .......................................................................................................................... 31

1.6.2 - Recurso de Apelação no Âmbito do Tribunal do Júri e a Possibilidade de Revisão Criminal .............................. 37

1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 41

1.7.1 - Breves comentários sobre os crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários públicos, com base
na Lei n.º 8.137/1990: .................................................................................................................................................... 41

1.7.2 - Justa causa duplicada e o entendimento do STJ sobre a desnecessidade de o autor do crime de lavagem de
dinheiro ter sido autor ou partícipe da infração penal antecedente ............................................................................. 43

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1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 46

1.8.1 - Reprovação de servidor público em estágio probatório e inelegibilidade .......................................................... 46

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 48

1.9.1 - Lei Menino Bernardo ........................................................................................................................................... 48

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 49

1.10.1 – Ação Anulatória ................................................................................................................................................ 49

1.11 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................... 52

1.11.1 - Planos de saúde privados e as relações de consumo ........................................................................................ 52

1.11.2 - Urbanismo como direito difuso ......................................................................................................................... 53

1.12 - Direito Processual Coletivo................................................................................................................. 53

1.12.1 - Ministério Público e a judicialização da saúde .................................................................................................. 53

1.12.2 - Litispendência, conexão e continência .............................................................................................................. 54

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 60

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 60

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 65

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 72

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 77

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 87

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 98

2.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 102

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 109

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................. 110

2.10 - Direito Tributário .............................................................................................................................. 113

2.11 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 115

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2.12 - Direito Processual Coletivo............................................................................................................... 118

3 - Questões Discursivas................................................................................................................................. 123

3.1 - Direito Constitucional ......................................................................................................................... 123

3.2 - Direito Administrativo ........................................................................................................................ 125

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 127

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 129

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 131

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 136

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 142

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 144

3.9 – Direito da Criança e do Adolescente ................................................................................................. 144

3.10 - Direito Tributário .............................................................................................................................. 148

3.11 - Direito Material Coletivo .................................................................................................................. 150

3.12 – Direito Processual Coletivo .............................................................................................................. 153

4 – Peça Prática .............................................................................................................................................. 154

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RODADA 12 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL

1.1.1 - Garantias Constitucionais

Definição

As garantias constitucionais em sentido estrito são definidas como formalidades que asseguram o exercício
dos direitos fundamentais, pelo mecanismo da coerção, das condutas contra eles direcionadas, a
permanecerem nos limites da ordem jurídica, com a finalidade de proteger os seus titulares contra
violações de qualquer natureza.

Características

As garantias constitucionais são dotadas de cinco características.

Em primeiro lugar, quanto à natureza da regra de positivação, as regras de garantias constitucionais são
reputadas como disposições assecuratórias, eis que estabelecem limitações ao poder em defesa de
direitos.

Em segundo lugar, quanto à limitação espacial, as garantias constitucionais somente existem dentro do
Estado do qual provém.

Em terceiro lugar, quanto à atribuição de prerrogativas, as normas de garantias constitucionais não


atribuem nenhuma faculdade jurídica, limitando-se a um sentido organizatório objetivo.

Em quarto lugar, quanto à função, as garantias constitucionais desenvolvem uma função instrumental,
conquanto sejam instrumentos para o asseguramento dos direitos fundamentais.

Por fim, quanto ao conteúdo, as regras de garantias constitucionais têm sempre conteúdo positivo, visto
que determinam a atuação do Estado ou dos próprios indivíduos

Tipologia

Os direitos individuais, direitos coletivos, direitos sociais, direito à nacionalidade e direitos políticos são
amparados por cinco “instrumentos de proteção dos direitos fundamentais” (BARBOSA, Ruy.
Commentarios à Constituição Federal Brasileira. v. V. São Paulo: Saraiva & Cia., 1934, p. 176-185).

As garantias constitucionais dos direitos individuais são compendiadas pela legalidade, inafastabilidade do
controle judicial, devido processo legal, ampla defesa, contraditório, razoável duração do processo, petição

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e certidão, à luz dos arts. 5º, incs. II, XXXIII, XXXIV, XXXV, LIV, LV e LXXVIII, 37, caput, 84, incs. IV e VI e 217,
§ 1º.

As garantias constitucionais dos direitos coletivos são dedicadas à associação, cuja instituição não depende
de autorização governamental, desautorizada a intervenção estatal, de acordo com o art. 5º, incs. XVII a
XXI.

As garantias constitucionais dos direitos sociais são evidenciadas pelo serviço público, resumido como
atividade material ou substancial executada direta ou indiretamente pelo Estado, por interposição de
entidades políticas, administrativas ou delegatárias, sob regime jurídico próprio, para o atendimento de
necessidade de interesse coletivo ou geral, a teor dos princípios da continuidade, cortesia, eficiência,
generalidade, modicidade e universalização.

As garantias constitucionais do direito à nacionalidade são delimitadas à atribuição estatal, já que a


produção de normas, constitucionais e legais, sobre aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade é
reservada aos Estados, inconstrangibilidade, posto que nenhuma pessoa, mesmo que apátrida, pode ser
constrangida a adquirir uma nacionalidade, e optabilidade, visto que todas as pessoas devem ser livres
para mudar ou conservar suas nacionalidades, em face do art. 12.

As garantias constitucionais dos direitos políticos são compostas pela anualidade, gratuidade dos atos
jurídicos necessários ao exercício da cidadania e impugnações eleitorais, à vista dos arts. 5º, inc. LXXVII, 14,
§§ 9º a 11, e 16, todos da Constituição Federal.

1.1.2 - Emendas constitucionais estaduais e reserva de iniciativa

Na ADI 4.590, o STF recentemente julgou inconstitucional emenda constitucional do estado de Minas
Gerais que incluiu na respectiva Constituição Estadual a obrigatoriedade de formação jurídica para ingresso
de oficiais na PM mineira. A norma é formalmente inconstitucional, pois violou a iniciativa privativa do
executivo para tratar de seus servidores.

Esse é um tema relevante pro MP/MG, pois trata de controle de constitucionalidade (assunto que a
instituição tradicionalmente gosta de cobrar em seus concursos) e um caso concreto envolvendo a
Constituição mineira.

De acordo com a jurisprudência do STF, o legislador constituinte estadual, inclusive o decorrente inicial,
não pode dispor sobre matéria reservada à iniciativa do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, da CRFB/88), pois
não estaria garantida, no processo legislativo, a participação do Poder Executivo, incidindo-se em
inconstitucionalidade formal.

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Assim, as normas inseridas na Constituição Estadual por emenda constitucional não podem dispor sobre
matéria de iniciativa legislativa reservada a outro Poder, sob pena de se permitir ao Legislativo, na prática,
expedir normas sobre qualquer tema, ignorando as limitações expressas no art. 61, § 1º, e em outros
dispositivos que prevejam iniciativa privativa de algum outro órgão público.

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MILITARES. REGIME JURÍDICO. INICIATIVA


PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Emenda
Constitucional 29/2002, do estado de Rondônia. Inconstitucionalidade. À luz do princípio da
simetria, é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo estadual as leis que disciplinem o
regime jurídico dos militares (art. 61, § 1º, II, f, da CF/1988). Matéria restrita à iniciativa do
Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar.
Precedentes. Pedido julgado procedente”. (ADI 2.966, rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal
Pleno, DJ 6.5.2005)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL ESTADUAL. ESCOLHA


DO DELEGADO CHEFE DA POLÍCIA CIVIL. VÍCIO DE INICIATIVA. 1. Não é materialmente
inconstitucional a exigência de que o Chefe da Polícia Civil seja delegado de carreira da classe
mais elevada, conforme nova orientação do STF. Precedente: ADI 3.062, Rel. Min. Gilmar
Mendes. 2. Todavia, a instituição de requisitos para a nomeação do Delegado Chefe da Polícia
Civil é matéria de iniciativa privativa do Poder Executivo (CRFB/1988, art. 61, § 1º, II, c e e), e,
desta forma, não pode ser tratada por Emenda Constitucional de iniciativa parlamentar.
Precedentes. 3. Pedido julgado procedente, para declarar a inconstitucionalidade formal da EC
nº 86/2013, do Estado de Rondônia, por vício de iniciativa”. (ADI 5.075, rel. Min. Roberto
Barroso, Tribunal Pleno, DJe 8.9.2015)

Assim, percebe-se que essa espécie de emenda constitucional, ao dispor sobre regime jurídico de
servidores públicos, viola a separação de Poderes.

É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,


em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CRFB/88) no caso de emenda à Constituição Federal proposta
por parlamentares federais.

Todavia, não é possível esse tipo de Emenda no caso de Emenda à Constituição Estadual
proposta por parlamentares estaduais.

Essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à


Constituição Estadual se justifica porque o poder constituinte estadual não é
originário. É poder constituído, decorrente e, em consequência, cercado por
limites mais rígidos do que o poder constituinte federal. A regra da simetria é um
exemplo dessa limitação. Por isso, as Assembleias Legislativas se submetem a limites mais rigorosos
quando pretendem emendar as Constituições Estaduais.

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Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando sobre os assuntos
do art. 61, § 1º, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria regra da Constituição Federal,
em razão do princípio da simetria.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 - Desapropriação: Aspectos relevantes

DESAPROPRIAÇÃO DE BENS PÚBLICOS

Importante dizer que os bens públicos podem ser desapropriados, de acordo com o art. 2º, § 2º do DL
3.365/41. Para tanto, é necessário observar 2 requisitos:

1- Autorização Legislativa

2- “Hierarquia Federativa”

Os bens dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os
dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa.

ATENÇÃO!! Pode um município ou um Estado desapropriar um bem uma Empresa Pública ou Sociedade de
Economia Mista Federal?

RESPOSTA: Como regra é vedada esta desapropriação. Contudo, se houver prévia autorização por decreto
do Presidente da República é possível que a desapropriação ocorra. Isto está de acordo com o art. 2º, § 3º
do DL 3.365/41.

SÚMULA Nº 157 - É NECESSÁRIA PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARA


DESAPROPRIAÇÃO, PELOS ESTADOS, DE EMPRESA DE ENERGIA ELÉTRICA.

BENS INSUSCETÍVEIS DE DESAPROPRIAÇÃO

Coisas Fora do Comércio

Ex.: Direitos personalíssimos.

Moeda Corrente

Caso fosse possível desapropriar a moeda corrente, isso impediria o pagamento da indenização. Ademais,
observe que é possível a desapropriação de uma nota ou moeda antigas.

Cadáver

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Como regra, não é possível a desapropriação de cadáveres. Contudo, em casos excepcionais é possível essa
desapropriação, quando o cadáver tiver caráter econômico, notadamente, para fins históricos e de
pesquisa. Pode-se dar como exemplo as Múmias.

Bens da União

De acordo com o art. 2º, § 2º do DL 3.365/41, os bens da União não podem ser desapropriados.

São Insuscetíveis de Desapropriação para fins de Reforma Agrária

I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua
outra;

II - a propriedade produtiva.

DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA – ART. 4º DO DL 3.365/41

A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se


destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. As
referidas áreas devem ser bem especificadas quando da declaração de utilidade pública, indicando-se quais
as que vão propiciar o desenvolvimento da obra e aquelas que vão sofrer a valorização extraordinária. É em
relação a estas que a lei autoriza a revenda a terceiros, sendo permitido ao expropriante que a venda
ocorra pelo valor atualizado, ou seja, pelo valor que passou a ter o bem após a realização da obra.

DIREITO DE EXTENSÃO

É o direito que o proprietário possui na desapropriação parcial que o desapropriante inclua na


desapropriação a área remanescente que se tornou insuscetível de qualquer exploração econômica. De
acordo com o Carvalho Filho , o direito de extensão “é o direito de expropriado de exigir que a
desapropriação e a indenização alcancem a totalidade do bem, quando o remanescente resultar esvaziado
de seu conteúdo econômico”.

O DL 3.365/41 não traz qualquer dispositivo sobre o tema. Contudo, a melhor doutrina entende que há o
direito de extensão baseado no Decreto nº 4956/1903.

De acordo com a jurisprudência do STJ, quando a área remanescente perde qualquer valor econômico, o
que há é uma verdadeira desapropriação indireta. Portanto, haveria o direito de extensão e a indenização
deve abarcar toda a área da propriedade.

DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO

A desapropriação é um procedimento administrativo, ou seja, é um conjunto de atos administrativos


destinados a um fim específico. Dessa forma, é possível que o desapropriante possa desistir da
desapropriação, caso os motivos que provocaram a iniciativa do processo expropriatório desapareçam.

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A desistência da desapropriação, contudo, pode ocorrer até o bem se incorporar ao patrimônio do


expropriante. Isto ocorre com o pagamento integral do valor do preço. Dessa forma, até antes do
pagamento integral, o expropriante pode desistir de proceder a desapropriação.

Atente-se que o proprietário não pode se opor à desistência. Contudo, esta gera a ele uma indenização por
eventuais prejuízos sofridos.

Ainda, deve-se observar que será impossível a desistência da desapropriação, caso a ocupação do bem a
ser desapropriado provocou alterações substanciais, sendo inviável a devolução nas condições anteriores.
Pode-se dar como exemplo a invasão do imóvel por membros do MST.

RETROCESSÃO

A retrocessão é um direito que o antigo proprietário possui de, no caso de tredestinação ilícita, exigir do
desapropriante a retomada do bem ou o pagamento de uma indenização.

A tredestinação é a destinação desconforme com o plano inicialmente previsto. Dessa forma, a


tredestinação pode ser lícita ou ilícita. A primeira é aquela que ocorre quando há uma destinação diversa
da originariamente prevista, porém, é mantida a finalidade/interesse público. Pode-se dar como exemplo a
desapropriação em que se destinavam à construção de um hospital público, e o Estado decide construir
uma escola pública. Contudo, observe que haverá situação em que a tredestinação, ainda que lícita, é
vedada. É o caso do art. 5º, § 3º do DL 3.365/41, que afirma: “Ao imóvel desapropriado para implantação
de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, não se dará outra utilização nem haverá
retrocessão”

Por sua vez, a segunda forma de tredestinação é aquela em que há um desvio de finalidade, isto é, não há
mais a perseguição ao interesse/finalidade pública. Há, na verdade, um interesse privado ou de terceiros
sendo alcançado. Dessa forma, a desapropriação torna-se ilegítima. Pode-se dar como exemplo a
desapropriação em que se destinavam à construção de um hospital público e, na verdade, houve a
construção da casa do prefeito.

É em relação à tredestinação ilícita que a retrocessão se relaciona, de acordo com o STJ.

Ainda, veja que ainda é possível a chamada adestinação, isto é, a situação em que a Administração não da
nenhuma destinação ao bem. A doutrina aplica, por analogia, o art.10 do DL 3.365/41, de forma que após 5
anos a declaração de utilidade pública caso a Administração não dê nenhum destinação pública para o
bem, fica configurada a tredestinação ilícita.

Natureza Jurídica

Sobre a natureza jurídica da retrocessão, há que ser estudada 3 correntes doutrinárias

1ª Corrente – Direito Pessoal – Essa corrente é defendida pelo professor José Santos Carvalho Filho e pelo
art. 35 do DL 3.365/41. De acordo com essa corrente, não há nenhum dispositivo no ordenamento jurídico
assegurando o direito de retomada da propriedade pelo proprietário primitivo. De acordo com o art. 35 do
referido Decreto, qualquer ação julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

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2ª Corrente – Direito Real – Essa corrente é a defendida pelo professor Pontes de Miranda. De acordo com
essa vertente, a retrocessão seria um instituto que defende o direito de retomada do bem, em razão da
inconstitucionalidade da desapropriação, que não destinou um fim público ao bem. Em outras palavras, o
que haveria, para essa corrente, é que o expropriante devolveria o bem, e o expropriado devolve o valor da
indenização devidamente atualizado. A situação voltaria ao status quo ante.

3ª Corrente – A terceira vertente é a defendida pelos professores Celso Antônio Bandeira de Mello e Maria
Sylvia Zanella Di Pietro. De acordo com esta corrente, a retrocessão, em regra, é um instituto de direito
real, mas que, excepcionalmente, poderia ser exercido como um direito pessoal. Se não fosse possível ou
for de interesse do expropriado, pode este optar em pleitear perdas e danos.

Quanto ao posicionamento jurisprudencial, os Tribunais brasileiros já proferiram decisões de que a


retrocessão seria um instituto de direito real e pessoal. É certo que não há um posicionamento pacífico.

Prazo Prescricional

O prazo prescricional da retrocessão vai variar, a depender da natureza jurídica do instituto. Para aqueles
que defendem ser a retrocessão um instituto de direito pessoal, o prazo prescricional será de 5 anos, nos
termos do DL 20.910/32. Por sua vez, para aqueles que defendem ser a retrocessão um instituto de direito
real, o prazo prescricional será de 10 anos, de acordo com o art. 205 do CC/02.

O termo a quo (inicial) da ação de retrocessão irá iniciar quando o prazo para o expropriante dar a
destinação ao bem se esgotar.

1.2.2 - Extinção dos Atos Administrativos

Um ato Administrativo pode-se extinguir pelas seguintes formas:

I – Cumprimento de seus efeitos; (extinção natural)

II – Desaparecimento do sujeito (extinção subjetiva) ou do seu objeto (extinção objetiva);

III – Renúncia;

IV – Retirada.

1. Cumprimento de seus Efeitos

Em relação à primeira forma de extinção dos atos administrativos, tem-se que um ato se extinguirá em
decorrência de ter cumprido o seus efeitos. Em outras palavras, quer dizer que o ato administrativo
cumpriu o seu papel, alcançou seus objetivos. Dessa forma, não há razão de ser do ato continuar a existir.

Cumprido seus efeitos, o ato administrativo se extingue.

2. A Desaparecimento do Sujeito ou do seu Objeto

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Em relação à segunda forma de extinção dos atos administrativo, tem-se que um ato se extinguirá em
decorrência de ter perdido o seu sujeito, isto é, o destinatário do ato administrativo, ou ter perdido o seu
objeto, isto é, o seu conteúdo.

Havendo algumas dessas situações, não há motivos para que o ato administrativo permaneça, vendo ser
extinto.

3. Renúncia

A Renúncia é a forma de extinção do ato administrativo pela qual se extinguem os efeitos do ato porque o
próprio beneficiário abriu mão de uma vantagem de que desfrutava.

4. Retirada

4.1. Revogação – Art. 53 da Lei 9784/99

 A revogação é a retirada do ato LEGAL, por motivos de conveniência ou oportunidade;


 Possui efeitos ex nunc;
 Administração Pública (autotutela) e o Poder Legislativo são os legitimados para revogar um ato
administrativo;

OBS: O Poder Judiciário poderá revogar atos administrativos, desde que sejam atos expedidos por ele e na
sua função administrativa. Portanto, um ato judicial não pode ser revogado.

 Somente o ato DISCRICIONÁRIO pode ser revogado, afinal, envolve análise de mérito administrativo
(conveniência e oportunidade);
 Não podem ser revogados:
 Atos Vinculados;
 Atos Ilegais;
 Atos que já cumpriram seus efeitos;
 Atos que trouxeram direito adquirido;
 Atos que integram procedimento;
 Atos meramente administrativos, como o parecer, o atestado e a certidão

Perceba que o ato revogador, assim como o ato revogado serão discricionários, uma vez que exige uma
análise de oportunidade e conveniência.

A revogação, em regra, não enseja o direito a uma indenização, em razão dos atos serem a praticados a
título precário. Contudo, quando a revogação ocasionar prejuízos comprovados ao destinatário poderá
requerer o pagamento de uma indenização.

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Atenção ao Enunciado 20 do CJF. Por ele, o exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do
ato administrativo que produza efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à
prévia intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

4.2. Anulação – art. 53 da Lei 9784/99

 É a retirada do ato ILEGAL, seja por ter violado lei, seja por ter violado princípio;
 Possui efeitos ex tunc;

O ato da anulação pode possuir efeitos ex nunc1 ou até mesmo pode ocorrer a modulação dos seus efeitos.

 Administração Pública (autotutela), o Poder Legislativo e o Poder Judiciário são os legitimados para
anular um ato administrativo;
 Tanto os atos DISCRICIONÁRIOS, quanto os atos VINCULADOS podem ser anulados.

OBS: Súmula 473 STF - A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO
EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM DIREITOS;
OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS
DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

Art. 54 da Lei 9784/99 - Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.

Atenção ao Enunciado 20 do CJF. Por ele, o exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do
ato administrativo que produza efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à
prévia intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

Observe que, de acordo com a súmula 633 do STJ, a Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz
respeito ao prazo decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública
federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e
específica que regule a matéria.

Perceba que há, no texto da lei, a exteriorização do princípio da segurança jurídica. Estando o
destinatário do ato favorável de boa-fé e decaído os 5 anos, a Administração Pública não poderá anular
esse ato ilegal. Em outras palavras, prevalecerá o princípio da segurança jurídica, de modo que os efeitos
produzidos permanecerão consolidados.

1
Na hipótese de um servidor público receber vantagens pecuniárias em razão de um ato ilegal, estando ele de boa-fé, a
anulação somente produzirá efeitos ex nunc. O que se quer dizer é que o servidor vai deixar de receber a vantagem, mas não
terá que devolver o período recebido.

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Contudo, observe que não cumprido um dos requisitos exigidos (boa-fé e o decurso do tempo), a
Administração Pública poderá anular o ato, prevalecendo o princípio da autotutela.

No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro


pagamento. Dessa forma, se todo mês o servidor recebe uma parcela salarial ilegal, o prazo decadencial
inicia-se a partir da percepção da 1ª parcela.

Se o ato aconteceu antes da Lei nº 9784/99, o STJ entende que o fato será alcançado por esta lei. Contudo,
o prazo de início (termo a quo) será em fevereiro de 1999.

Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe
impugnação à validade do ato. Em outras palavras, quer-se dizer que se dentro do prazo decadencial a
Administração Pública instaurou o processo de anulação do ato administrativo, mas a anulação só ocorreu
fora do prazo, esta será considerada válida.

Atente-se para o fato de que é necessária a realização de um procedimento administrativo prévio.


Contudo, excepcionalmente, não se exige a realização do processo, quando a declaração de nulidade
decorre de decisão judicial.2

De acordo com o STJ, no âmbito de recurso ordinário, a decadência administrativa prevista no art. 54 da
Lei n. 9.784/1999 pode ser reconhecida a qualquer tempo e ex officio, por se tratar de matéria de ordem
pública, sendo indispensável seu prequestionamento nas instâncias especiais. 3
Ademais, diante da ausência de previsão legal, o prazo decadencial de cinco anos do art. 54, caput, da
Lei n. 9.784/1999 é insuscetível de suspensão ou de interrupção, devendo ser observada a regra do art. 207
do Código Civil.4
Atente-se que o prazo decadencial é aplicado tanto a atos nulos, quanto aos anuláveis5.
Por fim, as situações flagrantemente inconstitucionais não se submetem ao prazo decadencial de 5 anos
previsto no art. 54 da Lei n. 9.784/1999, não havendo que se falar em convalidação pelo mero decurso do
tempo.6

OBS: Aprofundamento:

Anulação de aposentadoria: De acordo com o STF, o ato de aposentadoria é um ato complexo.

2
Rcl 5.819/TO, STF. Rel.ª Minª Cármem Lúcia.
3
STJ. AgInt no AREsp 629004/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/06/2019, DJe
13/06/2019
4
STJ. AgInt no AgRg no REsp 1580246/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe
18/04/2017
5
STJ. AgInt no REsp 1749059/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/03/2019, DJe 28/05/2019
6
STJ. REsp 1799759/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2019,
DJe 29/05/2019.

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Ainda, nos termos da SÚMULA VINCULANTE Nº 3, NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO ASSEGURAM-SE O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR
ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A
APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.

ATENÇÃO!!! O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 636553/RS, rel. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 19.2.2020. (RE-636553), estabeleceu, em tese de Repercussão Geral, que “Em atenção aos
princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de
cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou
pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas”.

Nesses termos, por constituir exercício da competência constitucional (CF, art. 71, III), tal ato ocorre sem a
participação dos interessados e, portanto, sem a observância do contraditório e da ampla defesa.

Entretanto, por motivos de segurança jurídica e necessidade da estabilização das relações, é necessário
fixar-se um prazo para que a Corte de Contas exerça seu dever constitucional.

Diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a hipótese, aplica-se ao caso o disposto no
art. 4º do Decreto-lei 4.657/1942, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB).

Assim, tendo em vista o princípio da isonomia, seria correta a aplicação, por analogia, do Decreto
20.910/1932.

Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer direito contra a Fazenda
Pública, também deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo
prazo para rever eventual ato administrativo favorável ao administrado.

Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que o TCU proceda ao registro dos
atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão
definitivamente registrados.

Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da ampla defesa após o transcurso
do prazo de cinco anos da chegada do processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o
referido prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não havendo mais a
possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

4.3. Cassação

A cassação é uma espécie de retirada pela qual o destinatário do ato administrativo deixou de cumprir
algum requisito estabelecido em lei necessário para que haja a prática do ato administrativo; Ex.: Cassação
de Licença para funcionamento de hotel por haver convertido em casa de tolerância.

4.4. Caducidade

A caducidade é a retirada do ato administrativo em razão de norma jurídica (lei) que tornou inadmissível a
situação antes permitida pelo direito e pelo ato precedente. Ex.: Caducidade de autorização de uso de
música em bares que, em razão de nova lei de ruídos, tornou-se incompatível.

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4.5. Contraposição ou Derrubada

A contraposição ou derrubada é a retirada do ato administrativo em razão da edição de um outro ato


administrativo com efeitos contrários ao editado anteriormente. Ex.: Nomeação e Exoneração de servidor.

1.2.3 - Sindicabilidade e Lei de introdução às normas do direito brasileiro

A Lei 13.655/18 alterou o Decreto-Lei 4.657/42, também conhecido como Lei de introdução às normas do
direito brasileiro. O grande objetivo da lei alteradora foi assegurar maior segurança jurídica, previsibilidade
e eficiência nas relações travadas pela Administração Pública.

Abaixo seguem os artigos acrescidos pela Lei 13.655/18 que são importantes o conhecimento.

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou


da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das
possíveis alternativas.

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo
expresso suas consequências jurídicas e administrativas.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses
gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do
caso, sejam anormais ou excessivos.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e
as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
dos direitos dos administrados.

§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo


ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração


cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias
agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente.

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções
de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou


orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo

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condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que
o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado
levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança
posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas


em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e
ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e
presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados,
observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses


gerais;

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito


reconhecidos por orientação geral;

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as
sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá
impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do
processo ou da conduta dos envolvidos.

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual


entre os envolvidos.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.

ATENÇÃO!!! Para fins de responsabilização perante o TCU, pode ser tipificada como erro grosseiro (art. 28
do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) a decisão do gestor que
desconsidera, sem a devida motivação, parecer da consultoria jurídica do órgão ou da entidade que dirige.

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Tal conduta revela desempenho aquém do esperado do administrador médio, o que configura culpa grave,
passível de multa.7

ATENÇÃO 2!!! Para fins do exercício do poder sancionatório do TCU, pode ser tipificado como erro
grosseiro (art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) o
direcionamento de licitação para marca específica sem a devida justificativa técnica.8

Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública
para manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será
considerada na decisão.

§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da


consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.

art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação
das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas.

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Meios originários de aquisição da propriedade imóvel

Em linhas gerais, a propriedade é o direito real mais completo do ordenamento. Isso porque confere ao seu
titular os poderes de usar, gozar e dispor da coisa, bem como reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha9. É definida como o direito que alguém possui em relação a um bem
determinado, que deve sempre atender a uma função social, em prol da coletividade.

Com efeito, a aquisição da propriedade imóvel será originária ou derivada.

7
TCU - Acórdão 1264/2019 Plenário
8
TCU - Acórdão 1264/2019 Plenári
9
Disponível em: https://academicooziel.jusbrasil.com.br/artigos/140562640/fundamentos-juridicos-da-
propriedade#:~:text=O%20art.,injustamente%20a%20possua%20ou%20detenha%E2%80%9D.&text=A%20propriedade%20%C3
%A9%20o%20direito%20real%20mais%20completo. Acesso em 24 de março de 2021.

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A primeira hipótese, objeto desta rodada, decorre de um fato jurídico que permite a aquisição da
propriedade sem qualquer ônus ou gravame10; analisam-se os requisitos legais para a obtenção de uma
propriedade sem a necessidade da autonomia privada – trata-se de fato jurídico e não há intermediação
pessoal. Pela aquisição derivada, a autonomia das partes faz com que a propriedade seja transferida de
uma pessoa para outra, exigindo, a legislação, certas formalidades e solenidades 11.

Em síntese, são formas originárias de aquisição da propriedade: a usucapião e as acessões (naturais e


artificiais). Passemos, então, ao estudo delas.

A primeira hipótese de aquisição originária da propriedade prevista no Código Civil é a usucapião (artigo
1.243 e seguintes). Surge do exercício da posse mansa, pacífica e contínua, durante um determinado prazo
fixado em lei, e fundamenta-se na necessidade de segurança jurídica e de atendimento da função social. É,
pois, forma de prescrição aquisitiva, razão por que ‘estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor
acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição’ 12.

Para sua caracterização, imperioso o atendimento de três pressupostos, portanto: posse, tempo e animus
domini.

A depender dos requisitos e prazos específicos, a usucapião poderá apresentar as seguintes classificações:
usucapião extraordinária (prevista no artigo 1.238 do CC); ordinária (art. 1.242 do CC); constitucional rural
(arts. 190 e 191 da CF, e art. 1.239 do CC); constitucional urbana (art. 183 da CF, art. 9º da Lei 10.257/01 e
art. 1.240 do CC); especial urbana por abandono do lar ou usucapião conjugal (art. 1.240-A); especial
urbana coletiva (art. 10 da Lei nº 10.257/01); e outras modalidades ainda previstas em leis especiais.

Em resumo:

a) adquirirá a propriedade pela usucapião extraordinária, aquele que ininterruptamente, sem oposição,
possuir como seu imóvel por quinze anos, independentemente de justo título e boa-fé – o prazo cairá para
dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual ou tiver realizado obras ou
serviços de caráter produtivo;

b) pela usucapião ordinária, aquele que ininterruptamente, sem oposição, possuir como seu imóvel por dez
anos, com justo título e boa-fé. O prazo será de cinco anos se o possuidor adquiriu o imóvel onerosamente,
com base no registro constante no cartório de imóveis, cancelado posteriormente, desde que nele tiverem
estabelecido moradia ou realizado investimentos de interesse social e econômico;

10
GAZZI, Fábio Pinheiro. Aquisição derivada e aquisição originária de propriedade. Disponível em:
https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/aquisicao-derivada-e-aquisicao-originaria-de-propriedade-entenda-a-
diferenca#:~:text=A%20aquisi%C3%A7%C3%A3o%20origin%C3%A1ria%20decorre%20de,sem%20qualquer%20%C3%B4nus%20o
u%20gravame.&text=Note%2Dse%20que%2C%20na%20aquisi%C3%A7%C3%A3o,conferem%20a%20transmiss%C3%A3o%20da
%20propriedade. Acesso em 24 de março de 2021.
11
Idem.
12
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 1582.

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c) pela usucapião constitucional rural (ou pro labore), aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural
ou urbano, possuir como sua, ininterruptamente e sem oposição, por cinco anos, área de terra em zona
rural não superior a 50 hectares, e torná-la produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia;

d) pela usucapião constitucional urbana, aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 metros
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, desde que não seja proprietário de outro imóvel rural ou urbano;

e) pela usucapião conjugal, aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados)
cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural; e

f) pela usucapião especial urbana coletiva, as áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros
quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis
de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.

O próximo meio originário de aquisição da propriedade previsto pelo Código civilista (artigo 1.248) é a
acessão que, em síntese, implica aumento de volume da coisa principal, mediante união física13. Em outras
palavras, passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado ao seu patrimônio imobiliário
de forma natural ou artificial.

Pela literalidade do dispositivo, poderá ocorrer por formação de ilhas; por aluvião; por avulsão; por
abandono de álveo; e por plantações ou construções – única espécie de acessão artificial.

A acessão por formação de ilhas vem prevista no artigo 1.249:

Art. 1249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos
proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:

I – as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos


ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que
dividir o álveo em duas partes iguais;

II – as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos
aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;

13
Idem, p. 1605.

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III – as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer
aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

Disciplinada no artigo 1.250 do CC/02, a aluvião consiste no aumento lento e paulatino da margem do
terreno, mediante acúmulo natural de detritos e sedimentos.

Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros


naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos
donos dos terrenos marginais, sem indenização.

Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários


diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.

A aluvião poderá, ainda, ser imprópria, que se dá mediante a retração das águas, a exemplo da lagoa que
perde volume de água, resultando em aumento da margem da fazenda que a tangencia14.

A avulsão, ao contrário da aluvião, processa-se repentinamente. É observada quando, por força natural
violenta, uma porção de terra se destaca de um imóvel e se junta a outro. O dono deste, portanto,
adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano,
ninguém houver reclamado15 (artigo 1.251).

Para exemplificar a avulsão, Pablo Stolze e Pamplona Filho citam o caso de uma enchente que “destaca”
bruscamente parte de um imóvel rural, agregando-a, com força das águas, em outra propriedade.

Pelo artigo 1.252 da lei privada, o álveo abandonado de corrente – isto é, o leito seco do rio – pertence aos
proprietários ribeirinhos de duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as
águas abrirem novo curso, entendendo-se que os imóveis marginais se estendem até o meio do álveo.

Como já visto anteriormente, a acessão pode, ainda, ser artificial; são os casos de construções e
plantações. Consoante o artigo 1.253, toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se
feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário – é, pois, presunção relativa.

Outrossim, prevê o artigo 1.254: aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de
responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. No caso de a plantação ou construção for em terreno
alheio, perde-se, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; no entanto, se aquele
que semeou, plantou ou edificou agiu de boa-fé, terá direito a indenização.

14
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 1608.
15
Idem.

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As hipóteses de construção e plantação acima descritas referem-se à clássica regra da vis atractiva do solo,
ou seja, o dono do solo se torna dono da acessão16. É possível, ainda, a chamada acessão inversa ou
invertida, que se trata da possibilidade de o dono da construção ou plantação tornar-se dono do solo.

Nesse sentido, estabelece o parágrafo único do artigo 1.255:

Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de


boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Todavia, se ambas as partes estiverem de má-fé, o proprietário do solo adquirirá as sementes, plantas e
construções, devendo ressarcir o valor das acessões. A má-fé do proprietário será presumida, de acordo
com o legislador, quando o trabalho de construção, ou lavoura, ocorreu em sua presença e sem sua
impugnação.

Quanto à possibilidade de a construção invadir parcialmente o solo alheio, o artigo 1.258 esclarece que:

Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não
superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo
invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que
represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.

Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de
má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte
deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir
a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.

Por fim, se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste,
adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que
a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de
má-fé, deve demolir o que nele construiu, pagando em dobro pelas perdas e danos apurados.

16 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p.
1608.

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1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - Do cumprimento de sentença que obriga a prestar alimentos

O Código de Processo Civil estabelece regramento específico para a fase de cumprimento de sentenças que
reconhecem a exigibilidade da obrigação de prestar alimentos. Com efeito, dispensa-se a instauração de
um processo autônomo de execução das sentenças que reconhecem essa obrigação 17, alinhando-se à ideia
de sincretismo.

Prevista no artigo 528 e seguintes do CPC, para ser promovido o cumprimento de sentença que obriga a
prestação alimentícia, três são as possibilidades admitidas no ordenamento jurídico: a forma convencional;
a forma especial; e por desconto em folha.

Pela forma convencional, que se processa como cumprimento de sentença condenatória em quantia certa,
observa-se o procedimento do artigo 523 e seguintes do Código de Processo Civil. O credor de alimentos
pode sempre preferir a execução pelo método tradicional, com a penhora e a expropriação de bens18.

Dar-se-á pelo procedimento convencional o cumprimento de sentença dos alimentos de caráter


indenizatório, que decorrem de ato ilícito. Não se defere a opção pelo rito especial. Aqui, não haverá a
possibilidade de prisão do devedor – aliás, como veremos a seguir, é cediço que apenas na forma especial
admitir-se-á a prisão civil do devedor de alimentos, pois se referem às relações familiares e de parentesco.

Ademais, aduzem a súmula 309 do Superior Tribunal de Justiça e o artigo 528, parágrafo 7º, do CPC, que
apenas permitem a execução especial do artigo 528, caput, para os débitos que compreendam as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo 19:

Súmula 309. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende
as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo.

Art. 528, §7º: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende
até as 3 prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo.

Assim, acaso pretenda prestações anteriores a estas, o exequente apenas poderá valer-se do procedimento
convencional – sempre considerando que a prestação de alimentos prescreve em dois anos, segundo o
artigo 206, §2º, do Código Civil.

17
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2020, p. 454.
18
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 2021, p. 1342.
19
Idem.

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Pois bem.

Regulada pelo artigo 528, caput, do CPC, na execução especial de alimentos, como já adiantado acima, o
juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar pessoalmente o devedor para, em três dias, pagar o
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Nessa hipótese, o credor não poderá
exigir o pagamento de toda a obrigação alimentícia, mas tão-somente os três últimos créditos, vencidos
antes do ajuizamento da execução, e os que se vencerem no seu curso.

A execução especial poderá ser utilizada para alimentos fixados em cognição sumária – provisórios ou
provisionais – ou definitiva – fixados por sentença. Devem, contudo, estar na seara do direito de família.

Marcus Vinicius Rios Gonçalves preleciona que as ações em que se pede a condenação do réu ao
pagamento de prestação alimentícia podem ter procedimento especial ou comum20. Seguirá o
procedimento especial quando houver prova pré-constituída da obrigação alimentar; igualmente, se
houver prova de parentes, união estável ou casamento. Doutra banda, se não houver prova pré-
constituída, o procedimento será comum, sem alimentos provisórios21.

Iniciado o cumprimento de sentença pela forma especial, o exequente requererá ao juiz que intime o
executado pessoalmente para que, no prazo de três dias úteis, pague o débito; prove que já o fez; ou
justifique a impossibilidade de efetuá-lo.

Nas duas primeiras situações apontadas, o cumprimento de sentença será extinto. Na terceira, o executado
terá oportunidade de fazer prova do alegado – será possível, inclusive, a designação de audiência de
instrução e julgamento. Apenas a impossibilidade absoluta será hábil a justificar o inadimplemento,
segundo a própria literalidade do §2º do artigo 528 do CPC; entretanto,

o devedor não ficará isento do pagamento das prestações, que poderão ser executadas na
forma convencional, com penhora de bens. Ainda que comprovada a impossibilidade, o juiz da
execução não poderá reduzir o valor das prestações futuras, o que só poderá ser determinado
em ação revisional de alimentos.

Ultrapassado o prazo sem que o devedor se manifeste, o juiz ordenará o protesto do pronunciamento
judicial. Nesse sentido, o STJ já decidiu que em execução de alimentos devidos a filho menor de idade é
possível o protesto e a inscrição do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito 22.

Outrossim,

20
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 2021, p. 1343.
21
É o exemplo da ação de alimentos proposta contra aquele que não reconheceu a paternidade do autor. In: idem.
22
REsp 1469102/SP; REsp 1533206/MG. In: DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil
Contemporâneo. 2020, p. 454.

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além do protesto e da negativação, e diante da falta de pagamento ou da apresentação de


justificativa não aceita, será decretada a prisão civil do devedor pelo prazo de 1 a 3 meses, que
será cumprida em regime fechado e em separado dos presos comuns 23.

Note-se que prisão do devedor de alimentos não constitui pena, mas meio de coerção 24; feito o
pagamento, o devedor é colocado em liberdade imediatamente. Não poderá, ainda, ser decretada de
ofício; depende do requerimento do credor25.

Importa ressaltar que é possível a prisão civil quando a execução dos alimentos se basear em título
executivo extrajudicial, como no caso de este instrumento se prestar à fixação de alimentos pelo genitor
em benefício de seu filho.

O §5º do artigo 528 enfatiza que o cumprimento da prisão não eximirá o executado do pagamento das
prestações vencidas e vincendas, que poderão ser cobradas na forma convencional, com a penhora de
bens; não será possível, porém, a prisão do devedor, por mais de uma vez, pelas mesmas prestações, sem
prejuízo da continuidade da execução para a cobrança dos débitos vincendos ou vencidos após a liberação
do devedor, por meio de nova constrição pessoal.

Por fim, o cumprimento de sentença que segue o procedimento previsto no art. 529 (desconto em folha)
será aplicado quando o funcionário for funcionário público militar, diretor ou gerente de empresa, ou
empregado sujeito à legislação do trabalho. Nestes casos, a comunicação será feita por ofício a empresa ou
empregador, do qual constarão os nomes do credor, do devedor, a importância e o tempo de duração da
prestação.

Refere-se, assim, a medida de excussão amena ao devedor e de alta efetividade ao credor, porque permite
a satisfação do débito alimentar em prestações periódicas e contínuas, sem implicar a prisão ou mesmo a
redução do patrimônio já constituído do inadimplente.

1.4.2 - Da justiça multiportas

O Código de Processo Civil de 2015 buscou adequar e harmonizar o sistema processual brasileiro aos
princípios e garantias da Constituição Federal de 1988 - mormente quanto aos princípios do amplo acesso à
justiça, da razoável duração do processo, da eficiência e do contraditório.

Com efeito, o legislador optou por valorizar as conciliações e as mediações judiciais, bem como a
arbitragem26 – solução ideal para combater aos problemas de lentidão e falta de efetividade da justiça.

23
Idem.
24
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1346.
25
Marcus Vinícios Rios Gonçalves alerta que há controvérsias sobre a possibilidade de o Ministério Público requerer a prisão do
devedor de alimentos; mas defende o entendimento da impossibilidade, cabendo este requerimento apenas ao exequente. In:
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 1345.

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Como consequência, o novo ordenamento processual pátrio passou a se alinhar ao conceito de Justiça
Multiportas.

Essa terminologia

foi cunhada pelo professor Frank Sander, da Faculdade de Direito de Harvard. Opondo-se ao
sistema clássico, que antevê a atividade jurisdicional estatal como a única capaz de solver
conflitos, o Sistema de Justiça Multiportas remete a uma estruturação que conta com
diferentes mecanismos de tutela de direitos, sendo cada método adequado para determinado
tipo de disputa27.

O modelo multiportas de justiça consiste na ideia de que a atividade jurisdicional estatal não deve ser a
única e nem a principal opção para as partes solucionarem um litígio. Valoriza-se as soluções extrajudiciais,

sejam elas: autocompositivas, por meio da mediação, conciliação, ou outros métodos de


solução consensual de litígios, a exemplo da negociação direta; ou heterocompositivas, como é
o caso da arbitragem, apresentada pelo CPC/2015 como uma jurisdição extraestatal28.

Em suma, não basta que o caso seja julgado; é preciso que seja conferida uma solução adequada que faça
com que as partes saiam satisfeitas com o resultado29. E, assim, para cada tipo de litígio haveria uma forma
mais adequada de solução.

O tema, contudo, não é recente. O CNJ implementou o sistema multiportas em nosso ordenamento em
2010, quando editou a Resolução n. 125. O art. 1º da Resolução instituiu a Política Judiciária Nacional de
tratamento dos conflitos de interesses,

a fim de garantir o direito à solução dos conflitos por meios adequados, explicitando, ainda,
que é dever do Poder Judiciário, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer
outras formas para resolver controvérsias, especialmente os chamados meios consensuais,
como a mediação e a conciliação, bem como prestar atendimento e orientação ao cidadão30.

Na mesma senda, o CNMP editou a Resolução n. 118/2014, que dispõe sobre a Polícia Nacional de
incentivo à autocomposição no âmbito do Ministério Público.

26
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São
Paulo, 2020. p. 50.
27
Disponível em: migalhas.com.br/coluna/cpc-marcado/330271/o-sistema-de-justica-multiportas-no-novo-cpc. Acesso em 28 de
março de 2021.
28
Idem.
29
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 13ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 637. In: Ibidem.
30
DE PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São
Paulo, 2020. p. 51.

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O artigo 3º, caput, do CPC/15 reforça, pois, a garantia constitucional de acesso ao Poder Judiciário: não se
excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. Bem assim, indica a adoção do sistema
multiportas nos respectivos parágrafos do mesmo dispositivo, ao reiterar a permissão legal de arbitragem,
além da previsão acerca da solução consensual dos conflitos:

§1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

§3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.

Igualmente, o artigo 334, caput, do CPC reitera a adoção do sistema multiportas, e incentiva ainda mais
essa postura pacificadora e cooperativa, ao prever a designação obrigatória de audiência de conciliação e
mediação:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação
com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência.

O Código de Processo Civil também inovou ao criar as câmaras privadas de mediação e conciliação (art.
167). Trata-se de empresas privadas adequadamente capacitadas que, junto a mediadores e conciliadores,
poderão operar, em caráter preventivo, judicial e extrajudicial, para a pacificação de conflitos e litígios31.

Assim, para além da jurisdição estatal, o sistema judiciário brasileiro adota, ainda, as ADR (alternative
dispute resolution) e ODR (online dispute resolution) – a primeira, também chamada de meios alternativos
de resolução de controvérsias (MASCs) ou meios extrajudiciais de resolução de controvérsias (MESCs):

Ambos os termos remetem aos métodos de negociação, mediação, conciliação e arbitragem.


(...)

Por seu turno, ODR significa Online Dispute Resolution e se refere aos mesmos métodos de
resolução de conflitos citados em relação à ADR, a diferença é que a modalidade ODR se dá por
meio das plataformas digitais32.

31
Disponível: https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-marcado/330271/o-sistema-de-justica-multiportas-no-novo-cpc. Acesso
em 29 de março de 2021.
32
Idem.

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A adoção desse sistema permite que o cidadão assuma o protagonismo da solução de seu problema, com
maior comprometimento e responsabilização acerca dos resultados; estimula a autocomposição; garante
maior eficiência do Poder Judiciário, eis que a ele caberia a solução jurisdicional apenas dos casos mais
complexos – quando inviável a solução por outros meios ou quando as partes assim o desejassem; e
assegura uma maior transparência, diante do conhecimento prévio pelas partes sobre os procedimentos
disponíveis para a solução do conflito33.

1.5 - DIREITO PENAL

1.5.1 - Autorização para o cultivo de maconha para fins medicinais

Os Tribunais Superiores já possuem jurisprudência firmada no sentido de considerar que a conduta de


importar pequenas quantidades de sementes de maconha não se adequa à forma prevista no art. 33 da Lei
de Drogas, subsumindo-se, formalmente, ao tipo penal descrito no art. 334-A do Código Penal, mas cuja
tipicidade material é afastada pela aplicação do princípio da insignificância.

O controle do cultivo e da manipulação da maconha deve ser limitado aos conhecidos efeitos deletérios
atribuídos a algumas substâncias contidas na planta, sendo certo que a própria Lei n. 11.343/2006 permite
o manejo de vegetais dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas para fins medicinais ou
científicos, desde que autorizado pela União.

No atual estágio do debate acerca da regulamentação dos produtos baseados na Cannabis e de


desenvolvimento das pesquisas a respeito da eficácia dos medicamentos obtidos a partir da planta, não
parece razoável desautorizar a produção artesanal do óleo à base de maconha apenas sob o pretexto da
falta de regulamentação. De mais a mais, a própria agência de vigilância sanitária federal já permite a
importação de medicamentos à base de maconha, produzidos industrial ou artesanalmente no exterior.

Entretanto, tal autorização depende de análise de critérios técnicos que não cabem ao juízo criminal,
especialmente em sede de habeas corpus. Essa incumbência está a cargo da própria Agência Nacional de
Vigilância Sanitária que, diante das peculiaridades do caso concreto, poderá autorizar ou não o cultivo e
colheita de plantas das quais se possam extrair as substâncias necessárias para a produção artesanal dos
medicamentos.

Assim, a melhor solução é, inicialmente, submeter a questão ao exame da autarquia responsável pela
vigilância sanitária para que analise o caso concreto e decida se é viável a autorização para cultivar e ter a
posse de plantas de Cannabis sativa L. para fins medicinais, suprindo a exigência contida no art. 33 da Lei n.
11.343/2006, e, em caso de demora ou de negativa, apresentar o tema ao Poder Judiciário, devendo o

33
PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura; PEIXOTO, Renata Cortez Vieira. Fazenda Pública e Execução. Salvador: Juspodivm, 2018, p.
118.

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pleito ser direcionado à jurisdição cível competente. (RHC 123.402-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 23/03/2021)

1.5.2 - Combinação de leis penais, lei mista ou lex tertia

Lex tertia é a combinação de duas ou mais leis favoráveis ao agente.

Em regra, o ato é regido pela lei penal do seu tempo (tempus regit actum). Ocorre que a lei penal benéfica
é dotada de retroatividade.

CRFB/88 art. 5°, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

CP Art.2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

A lex tertia consiste, na verdade, em um procedimento pelo qual o juiz, com base no princípio do tempus
regit actum, aplica a parte benéfica da primeira lei e, com base no princípio da retroatividade da lei penal
benéfica, aplica a parte benéfica da segunda lei, objetivando, com isto, favorecer a situação do agente.
Assim agindo, o juiz termina por criar uma “terceira lei” (lex tertia).

LEI n° 01 LEI n° 02

Lei do tempo do fato Lei posterior, que revoga a LEI n°


01
1a parte mais benéfica
1a parte mais gravosa
a
2 parte mais gravosa
2a parte mais benéfica
LEX TERTIA

1a parte da LEI n° 01 (tempus regit actum e, portanto, mais benéfica)

2a parte da LEI n° 02 (retroatividade da lei benéfica e, portanto, mais benéfica)

Há divergência quanto à admissibilidade desse procedimento no âmbito da doutrina jurídica pátria:

1ª Corrente – não admite a construção da lex tertia pelo juiz (Nelson Hungria): entende que, ao criar uma
lex tertia, estaria o juiz usurpando função atribuída pela Constituição com exclusividade e privatividade ao
Poder Legislativo, ofendendo o princípio da separação de poderes.

O juiz somente poderá funcionar como legislador negativo, deixando de aplicar uma lei que considere
contrária à Constituição. Por outro lado, nunca poderá funcionar como legislador positivo, construindo
uma lei não contemplada pelo legislador.

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2ª Corrente – admite a elaboração da lex tertia pelo juiz (Frederico Marques e Damásio de Jesus): postula
que “quem pode o mais, pode o menos”, logo se o sistema autoriza o juiz a aplicar a lei do tempo do fato
na sua integralidade, através do princípio do tempus regit actum, não há motivos que o impeçam de aplicá-
la parcialmente. Da mesma forma, se há a exigência de observância, pelo juiz, da retroatividade da lei penal
benéfica, o que o autoriza a aplicar a nova lei na sua integralidade, também não há restrição no
ordenamento que o impeça de aplicá-la parcialmente. Trata-se apenas do cumprimento, pelo juiz, dos dois
princípios constitucionais que regulam a aplicação da lei penal no tempo.

Para Frederico Marques, não há nenhuma ofensa ao princípio da separação dos poderes, já que inexiste
usurpação de qualquer função do legislador. O juiz, ao elaborar a lex tertia, em momento algum se
transforma em legislador positivo, mas simplesmente aplica trechos de leis criadas pelo próprio legislador.
Não há inovação, criação de direito novo, pelo magistrado. O que há é apenas a aplicação de textos de lei
contidos na legislação.

Portanto, para esta corrente, não há qualquer ofensa à Constituição através da elaboração, pelo juiz, da lex
tertia, sendo perfeitamente admissível no sistema esta combinação de leis.

Apesar da divergência doutrinária, a questão restou pacificada no âmbito dos tribunais superiores, de
modo que STF e STJ não admitem a combinação de leis.

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PENAL.


PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. CRIME COMETIDO NA VIGÊNCIA DA
LEI 6.368/1976. APLICAÇÃO RETROATIVA DO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006.
COMBINAÇÃO DE LEIS. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. I – É inadmissível a aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 à pena relativa à condenação por crime cometido na vigência da Lei 6.368/1976.
Precedentes. II – Não é possível a conjugação de partes mais benéficas das referidas normas,
para criar-se uma terceira lei, sob pena de violação aos princípios da legalidade e da separação
de Poderes. III – O juiz, contudo, deverá, no caso concreto, avaliar qual das mencionadas leis é
mais favorável ao réu e aplicá-la em sua integralidade. IV - Recurso parcialmente provido.

(RE 600817, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/11/2013,


ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC
30-10-2014 RTJ VOL-00236-01 PP-00204).

STJ, súmula n° 501: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da
aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis.

1.5.3 - Aberratio Ictus

O Erro na execução, ou aberratio ictus, previsto no art. 73 do Código Penal significa desvio na execução. o
agente não se confunde quanto à pessoa que pretende atingir, mas realiza o crime de forma desastrada,
errando o alvo e atingindo vítima diversa (ex.: erro de pontaria, desvio da trajetória de projétil etc.).

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Quanto ao resultado, pode ser assim classificado:

• Com resultado único ou unidade simples – ocorre quando o agente, pretendendo atingir determinada
pessoa, acaba atingindo outra por erro na execução do crime.

• Com resultado duplo ou unidade complexa – nesta hipótese, o agente atinge quem ele queria, mas, por
erro na execução, acaba atingindo também um terceiro inocente. De acordo com a unidade ou pluralidade
de resultados, as consequências são diversas. No caso de resultado único, a consequência jurídica é a
mesma do erro sobre a pessoa, ou seja, levam-se em consideração as características da pessoa que o
agente queria atingir na tipificação do crime e aplicação da pena.

• No resultado duplo ou múltiplo, o agente responde por crime doloso com relação ao primeiro resultado
e crime culposo no que toca ao segundo resultado (aplica-se a regra do concurso formal, impondo-se a
pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 (um sexto) até a metade – CP, art. 70).

Diversa é a interpretação quando o agente atua com dolo eventual, e não culpa, em relação aos terceiros
inocentes. Se o agente agir com dolo eventual quanto aos terceiros inocentes, responderá pelo crime
doloso em concurso formal imperfeito, pois os resultados diversos de- rivam de desígnios autônomos,
somando-se as penas – CP, art. 70, última parte).

Homicídio e Aberratio Ictus

Especificamente no tocante ao crime de homicídio, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento no


sentido de que atingida, além da pessoa que se visava atingir, vítima diversa, por imprecisão dos atos
executórios, deve ser a ela estendido o elemento subjetivo (dolo), aplicando-se a regra do concurso
formal.

Neste sentido:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA. HOMICÍDIO DOLOSO. ERRO NA


EXECUÇÃO. ABERRATIO ICTUS COM DUPLICIDADE DE RESULTADO. DOLO. EXTENSÃO À
CONDUTA NÃO INTENCIONAL. INCIDÊNCIA DO ART. 73, ÚLTIMA PARTE, DO CP. APLICAÇÃO DO
CONCURSO FORMAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. Ocorre aberratio ictus com resultado duplo, ou unidade complexa, de que dispõe o art. 73,
segunda parte, do CP, quando, na execução do crime de homicídio doloso, além do resultado
intencional, sobrevém outro não pretendido, decorrente de erro de pontaria, em que, além da
vítima originalmente visada, outra é atingida por erro na execução.

2. Pronunciado como incurso nos arts. 121, § 2°, I e IV, e do art. 121, § 2º, e IV, c/c o art. 14, II,
na forma do 73, do CP, o réu, em apelação, teve desclassificada a conduta, relativa ao resultado
danoso não pretendido, para lesão corporal culposa.

3. Alvejada, além da pessoa que se visava atingir, vítima diversa, por imprecisão dos atos
executórios, deve ser a ela estendido o elemento subjetivo (dolo), aplicando-se a regra do
concurso formal.

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4. "A norma prevista no art. 73 do Código Penal afasta a possibilidade de se reconhecer a


ocorrência de crime culposo quando decorrente de erro na execução na prática de crime
doloso" (HC 210.696/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
19/09/2017, DJe 27/09/2017).

5. "Por se tratar de hipótese de aberratio ictus com duplicidade de resultado, e não tendo a
defesa momento algum buscando desvincular os resultados do erro na execução, a tese de
desclassificação do delito para a forma culposa em relação somente ao resultado não
pretendido, só teria sentido se proposta também para o resultado pretendido" (HC 105.305/RS,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 27/11/2008, DJe 09/02/2009).

6. Recurso especial provido para restabelecer a sentença de pronúncia.

(REsp 1853219/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe
08/06/2020)

1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - Nuances da Prova Testemunhal

A prova testemunhal se trata de meio de prova que objetiva trazer ao processo informações decorrentes
da percepção do indivíduo que é arrolado para depor. De acordo com Brasileiro34, “testemunha é a pessoa
desinteressada e capaz de depor que, perante a autoridade judiciária, declara o que sabe acerca de fatos
percebidos por seus sentidos que interessam à decisão da causa”. Bonfim35 afirma, ainda, que “a prova
testemunhal é aquela feita por afirmação pessoal”.

De acordo com o artigo 202 do Código de Processo Penal, toda pessoa poderá ser testemunha. Todavia, o
Código de Processo Civil excepciona as pessoas incapazes, impedidas ou suspeitas. Veja-se:

Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou
suspeitas.

§ 1º São incapazes:

I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;

34
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm,
2020.
35
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012.

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II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em que ocorreram


os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a
transmitir as percepções;

III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;

IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.

§ 2º São impedidos:

I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral, até


o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o
interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de
outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito;

II - o que é parte na causa;

III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da pessoa
jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes.

§ 3º São suspeitos:

I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;

II - o que tiver interesse no litígio.

Por outro lado, sendo necessário, o juiz poderá admitir o depoimento de testemunhas menores, impedidas
ou suspeitas, o qual será prestado independentemente de compromisso. Assim, lhe será atribuído o valor
que possa merecer (artigo 447, §§ 4º e 5º, do Código de Processo Civil).

Porém, Brasileiro pontua a irrelevância da incapacidade jurídica, considerando que podem depor, no
processo penal, menores de 18 (dezoito) anos, doentes e deficientes mentais. Ademais, o autor assevera
que somente pessoas físicas podem figurar como testemunhas, uma vez que o depoimento pressupõe
memória36.

Quanto à ordem de inquirição, verifica-se que, no rito comum ordinário, a prova testemunhal se inicia com
a oitiva do ofendido, passando-se à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação, seguida da
inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, e aos esclarecimentos dos peritos, às acareações,

36
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm,
2020.

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reconhecimentos, e, por fim, o interrogatório do acusado, nos termos do artigo 400 do Código de Processo
Penal.

Contudo, há ressalva quando houver a necessidade de oitiva de testemunha por meio de carta precatória.
Isto porque, nesta hipótese, é possível que uma testemunha arrolada pela defesa seja ouvida antes das
testemunhas indicadas pela acusação, por exemplo, sem que essa inversão seja configurada nulidade
(nesse sentido: HC 159.885/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 21/06/2016, DJe 01/07/2016;
HC 574.885/PE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2020, DJe 05/08/2020).

Todavia, não sendo este o caso, a inversão da ordem de oitiva das testemunhas não é passível de
modificação, sob pena de nulidade, em observância ao princípio da ampla defesa. Trata-se, pois, de
nulidade relativa, sendo indispensável a comprovação do prejuízo37.

É de se salientar, ademais, que em conformidade com os moldes do sistema acusatório, as perguntas serão
formuladas pelas partes diretamente às testemunhas, cabendo ao juiz inadmitir aquelas que puderem
induzir a resposta, que não tiverem relação com a causa ou que importarem na repetição de outra questão
já respondida, nos exatos termos do artigo 212 do CPP. Poderá também o julgador complementar a
inquirição sobre pontos não esclarecidos.

No mais, cada testemunha será inquirida primeiramente por quem a arrolou (exame direto ou “direct-
examination”), sendo submetida, na sequência, aos questionamentos da parte contrária (exame cruzado –
ou cross-examination).

Assim, tratando-se de testemunha da acusação, cabe ao órgão acusador fazer suas perguntas
primeiramente e, em seguida, à defesa. Por outro lado, tendo a testemunha sido arrolada pela defesa,
incumbe a ela elaborar suas perguntas, e após, ao acusador38.

Do mesmo modo, a inobservância da ordem de questionamentos (primeiramente das partes, e após, do


magistrado) caracteriza mera nulidade relativa, devendo ser demonstrado o efetivo prejuízo, conforme
precedente do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. [...] ORDEM DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS.


NULIDADE RELATIVA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

[...] 3. Este Superior Tribunal possui o entendimento de que, ainda que a nova redação do art.
212 do Código de Processo Penal tenha estabelecido uma ordem de inquirição das

37
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm,
2020.

38
LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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testemunhas, a não observância dessa regra acarreta, no máximo, nulidade relativa, sendo
necessária, ainda, a demonstração de efetivo prejuízo (pas de nullité sans grief), por se tratar
de mera inversão, visto que não foi suprimida do juiz a possibilidade de efetuar perguntas,
ainda que subsidiariamente, para a busca da verdade. [...]

(AgRg no HC 345.871/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
01/12/2020, DJe 10/12/2020)

Brasileiro traz como características da prova testemunhal a judicialidade (vez que o depoimento deve ser
prestado em juízo, observando-se os princípios do contraditório e da ampla defesa), a oralidade
(considerando que a colheita da prova testemunhal não pode se dar de forma escrita – embora a
testemunha possa fazer breve consulta a apontamentos, nos termos do artigo 204, do CPP) e objetividade
(a testemunha não deve emitir opiniões e apreciações pessoais). Acrescenta, ainda, as características da
retrospectividade (pois a testemunha somente depõe sobre fatos já ocorridos) e individualidade (de modo
a evitar que as testemunhas que ainda não foram ouvidas possam ter contato com o depoimento das
demais, nos termos do artigo 210 do CPP).

Para que os depoimentos das testemunhas obtenham o status de prova, não é admissível que elas se
limitem à ratificação das declarações já prestadas na fase policial. A esse propósito, calha à fiveleta aresto
emanado do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO. AUDIÊNCIA DE TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO. [...]


COLHEITA DE DEPOIMENTO. LEITURA DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PERANTE A AUTORIDADE
POLICIAL. RATIFICAÇÃO. NULIDADE.

RECONHECIMENTO.

2. A produção da prova testemunhal é complexa, envolvendo não só o fornecimento do relato,


oral, mas, também, o filtro de credibilidade das informações apresentadas. Assim, não se
mostra lícita a mera leitura pelo magistrado das declarações prestadas na fase inquisitória, para
que a testemunha, em seguida, ratifique-a.

3. Ordem concedida para para anular a ação penal a partir da audiência de testemunhas de
acusação, a fim de que seja refeita a colheita da prova testemunhal, mediante a regular
realização das oitivas, com a efetiva tomada de depoimento, sem a mera reiteração das
declarações prestadas perante a autoridade policial.

(HC 183.696/ES, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
14/02/2012, DJe 27/02/2012)

No mais, as testemunhas possuem os deveres de comparecer em juízo (sob pena de serem conduzidas
coercitivamente, sofrerem a aplicação de multa, dentre outras penalidades), de depor, de prestar o
compromisso de dizer a verdade e, além disso, de comunicar ao juízo eventual mudança de residência,
dentro do prazo de 01 (um) ano.

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No que tange ao dever de depor, o próprio Diploma Processual Penal excepciona tal obrigação, ao indicar
determinadas pessoas que são proibidas ou podem se recusar a prestar depoimento, conforme orientam
os artigos 206 e 207 do CPP:

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

Por outro lado, em relação ao dever de prestar o compromisso de dizer a verdade, salienta-se que a
testemunha deve informar aquilo que sabe sem se calar, não podendo negar a verdade, nem declarar fatos
inverídicos, sob pena de incidir no crime de falso testemunho (artigo 342 do Código Penal).

Todavia, nem todas as pessoas prestam o compromisso de dizer a verdade, como é o caso dos doentes e
deficientes mentais, menores de 14 anos e dos indivíduos mencionados no artigo 206 do CPP, os quais são
ouvidos, neste caso, na qualidade de informantes.

Brasileiro39 esclarece que “depoentes são as testemunhas que prestam compromisso legal, enquanto que
declarantes ou informantes são as pessoas que não prestam o compromisso legal de dizer a verdade”, não
havendo consenso na doutrina quanto à possibilidade de a testemunha não compromissada responder
pelo crime de falso testemunho.

Sobre o tema, o STJ já proferiu decisão no sentido de ser desnecessário o compromisso para a
caracterização do crime de falso testemunho, verbis:

PENAL E PROCESSUAL. FALSO TESTEMUNHO. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. RELAÇÃO DE


AFETIVIDADE. RÉU MARIDO DA DEPOENTE. PRECEDENTE DO STJ.

1 - Para a caracterização do crime de falso testemunho não é necessário o compromisso.


Precedentes.

2 - Tratando-se de testemunha com fortes laços de afetividade (esposa) com o réu, não se pode
exigir-lhe diga a verdade, justamente em detrimento da pessoa pela qual nutre afeição, pondo
em risco até a mesmo a própria unidade familiar. Ausência de ilicitude na conduta.

39
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3 - Conclusão condizente com o art. 206 do Código de Processo Penal que autoriza os
familiares, inclusive o cônjuge, a recusarem o depoimento.

4 - Habeas corpus deferido para trancar a ação penal.

(HC 92.836/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
27/04/2010, DJe 17/05/2010)

Ainda, o artigo 214 do Código de Processo Penal traz a previsão da contradita e da arguição de parcialidade
da testemunha, mencionando que “antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a
testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé”.

A contradita consiste na impugnação do depoimento da testemunha, a fim de impedir que alguém proibido
de depor (conforme artigo 207 do CPP) seja ouvido. Por outro lado, na arguição de parcialidade, não se
busca a exclusão da testemunha, mas são alegadas circunstâncias que possam descredibilizar sua palavra
(seja pela suspeição de sua parcialidade ou por ser indigna de fé), o que sopesará diretamente na valoração
da prova, posteriormente, pelo magistrado40.

Todavia, embora o magistrado deva fazer consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha,
somente a excluirá ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208, já
mencionados.

Com relação às testemunhas vulneráveis, é de se destacar as hipóteses de escuta especializada e


depoimento especial, instituídas pela Lei 13.431/2017, que visam resguardar crianças ou adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência de qualquer contato com o acusado ou outra pessoa que lhe
represente ameaça, coação ou constrangimento, bem como o chamado “depoimento sem dano ou
especial”, introduzido na Lei Maria da Penha, para a inquirição de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, com restrição à publicidade do ato.

Ademais, em que pese o direito ao confronto do acusado, de presenciar e participar da prova oral, se o juiz
verificar que a presença do réu causará humilhação, temor ou sério constrangimento à testemunha ou ao
ofendido (com risco de prejudicar a veracidade do depoimento), poderá realizar a inquirição por meio de
videoconferência. Em último caso, não sendo possível a oitiva desta forma, poderá determinar a retirada
do réu, subsistindo, porém, a presença do seu defensor.

40
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1.6.2 - Recurso de Apelação no Âmbito do Tribunal do Júri e a Possibilidade de Revisão


Criminal

O Tribunal do Júri trata de órgão Especial do Poder Judiciário de primeira instância, e a ele se atribui a
competência para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida. Possui previsão constitucional, e é
dotado de uma sistemática própria, por meio da qual as decisões são soberanas e tomadas de maneira
sigilosa, baseando-se na íntima convicção dos jurados, sem a necessidade de fundamentação41.

Seus princípios constitucionais básicos, assegurados no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal,
são: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Em relação ao princípio da soberania dos veredictos, impende destacar que, por decorrência de tal
princípio, cabe aos jurados a decisão de procedência ou não da imputação de crime doloso contra a vida
que é feita ao acusado. Assim, é inviável que um tribunal composto por juízes togados substitua o
posicionamento adotado pelo conselho de sentença, para que não haja supressão da competência de
julgamento prevista constitucionalmente.

Todavia, tais decisões não podem ser consideradas irrecorríveis e definitivas. Isto porque, em
determinadas situações, admite-se a interposição de recurso, como é o caso do Recurso de Apelação, por
exemplo, conforme previsão do artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal.

É certo que, em grande parte dos casos, o Tribunal está limitado a anular a decisão proferida pelos jurados,
e não a reformá-la, em respeito ao princípio da soberania dos veredictos. A título de exemplo, se a matéria
recursal tratar do mérito da decisão proferida pelos jurados (com fundamento no artigo 593, inciso III,
alínea “d” do CPP, por exemplo), apenas é admitido que o Tribunal ad quem realize o juízo rescindente,
determinando que o acusado seja submetido a um novo julgamento.

Por outro lado, se o recurso não tratar do mérito do feito, e guardar relação apenas com as decisões
proferidas pelo juiz-Presidente (como por exemplo a fixação da pena), consigna-se ser cabível a
modificação e substituição da decisão pelo Tribunal, o qual realizará, neste caso, não apenas o juízo
rescindente, mas também o juízo rescisório42.

Todavia, a viabilidade de recurso de apelação contra as decisões tomadas pelo Tribunal do Júri se dá
apenas em casos pontuais. Assim, apenas é cabível a sua interposição quando houver nulidade posterior à
pronúncia, quando a sentença do juiz presidente for contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados, se
houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança e quando a decisão dos

41
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42
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jurados for manifestamente contrária à prova dos autos, nos moldes do artigo 593, inciso III, do Código de
Processo Penal.

É de se salientar, ainda, que conforme a súmula 713 do STF, “o efeito devolutivo da apelação contra
decisões do Júri é adstrito aos fundamentos de sua interposição”. Desse modo, se a defesa interpuser
recurso de apelação sob o fundamento do artigo 593, inciso III, alínea “a” do CPP (nulidade após a
pronúncia), por exemplo, não é permitido que o Tribunal dê provimento ao recurso sob a fundamentação
de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos (artigo 593, III, “d”, do CPP),
mesmo que assim o entenda.

Tratando-se da hipótese de nulidade posterior à pronúncia, é cabível a interposição de recurso de apelação


por mais de uma vez, e neste caso, é imposta a realização de um novo júri, ou a renovação dos atos
viciados.

Por outro lado, se o recurso de apelação estiver fundado na hipótese de contrariedade da sentença do juiz-
presidente com a lei expressa ou com a decisão dos jurados, é possível que o juízo ad quem corrija
diretamente o equívoco, sem a necessidade de um novo julgamento, conforme prevê o próprio artigo 593,
§1º, do CPP.

Igualmente, caso o recurso de apelação esteja fundado em erro ou injustiça quanto à aplicação da pena ou
medida de segurança, o Tribunal também está autorizado a retificar diretamente o equívoco do
magistrado, aplicando a pena ou medida de segurança adequadas ao feito (artigo 593, §2º, do CPP),
logicamente, sem entrar no âmbito das qualificadoras, privilégios, causas de aumento e diminuição de
pena, para que não haja desrespeito à soberania dos veredictos.

Por fim, quanto à hipótese de apelação por decorrência de decisão dos jurados manifestamente contrária à
prova dos autos, Lima43 afirma que “é necessário que a decisão dos jurados seja absurda, escandalosa,
arbitrária e totalmente divorciada do conjunto probatório constante dos autos”.

Neste caso, deverá ser determinada a realização de um novo júri.

No mais, a decisão tida como contrária à prova dos autos pode guardar relação com a autoria, causas
excludentes da ilicitude/culpabilidade, qualificadoras, causas de aumento e diminuição da pena, dentre
outras.

Neste ponto, impende destacar, porém, que a anulação parcial de decisão proferida pelo Conselho de
Sentença acerca da qualificadora sem submissão do réu a novo júri viola o princípio da soberania dos
veredictos. Nesse sentido é a orientação do STJ:

43
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PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO


QUALIFICADO. DECOTE DE QUALIFICADORA (MOTIVO TORPE) RECONHECIDA PELO TRIBUNAL
DO JÚRI. INADMISSIBILIDADE. OFENSA À SOBERANIA DOS VEREDICTOS. ART. 121, § 2º, DO CPC
E ART. 593, § 3º, DO CPP. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. [...] 3. Se
o Tribunal entende que há dúvida sobre a existência da qualificadora reconhecida pelo
Conselho de Sentença, outra alternativa não tem senão submeter o acusado a novo
julgamento, com fundamento no art. 593, III, d, e § 3º, do CPP, sendo inadmissível apenas o
decote da qualificadora, com o ajuste da pena. Precedentes. 4. Afastada a improcedência
afirmada pelo órgão julgador a quo, é de se reconhecer a higidez da deliberação do Conselho
de Sentença, porquanto lastreada na decisão de pronúncia, que não foi anulada pelo acórdão
recorrido, não tendo havido recurso sobre a inclusão da qualificadora, nem à época da prolação
do decisum que limitou à acusação, nem após a sentença condenatória [...] c) se é atribuição do
Conselho de Sentença votar pela existência (ou não) de uma qualificadora constante da
pronúncia, não pode o Tribunal de Justiça, em grau de apelação, decotar a qualificadora
reconhecida pelo Conselho de Sentença, sob pena de ofender o princípio da soberania dos
veredictos e §1º do artigo 413 do CPP; d) Os fundamentos para a anulação de julgamento de
júri estão consubstanciados no artigo 593 do Código de Processo Penal e não comporta
interpretação extensiva de forma a confrontar a soberana decisão do Conselho de Sentença.

(REsp 1577374/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
28/06/2016, DJe 01/08/2016)

Outrossim, uma vez determinada a realização de novo julgamento, pelo Tribunal, não é possível que as
partes inovem no conjunto probatório, uma vez que o novo conselho de sentença deverá reanalisar o
mesmo acervo de provas anteriormente apresentado.

Ademais, nos termos do artigo 593, §3º, do Código de Processo Penal, não é admitida uma segunda
apelação com base no mesmo fundamento (decisão manifestamente contrária à prova dos autos), pouco
importando se foi a defesa ou a acusação quem interpôs primeiramente o recurso.

Além disso, é de se destacar a divergência relacionada à possibilidade (ou não) de interposição de recurso
de apelação, pela Acusação, com fundamento no artigo 593, inciso III, “d”, do CPP, calcado no quesito
absolutório genérico de absolvição, previsto no artigo 483, inciso III do Diploma Processual Penal.

Lima44 indica que uma primeira posição aduz que o quesito genérico de absolvição permite que os jurados
absolvam o acusado por questões subjetivas, como por exemplo por clemência ou juízo de caráter
humanitário, não estando submetidos ao acervo probatório produzido. Neste caso, eventual recurso de
apelação do Ministério Público com fundamento no artigo 593, inciso III, “d”, do CPP violaria os princípios
da soberania dos veredictos, da plenitude de defesa, e da íntima convicção dos jurados. Neste norte é o

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entendimento de Aury Lopes Jr e algumas decisões monocráticas proferidas no âmbito do STF, citando-se
como exemplos as seguintes: STF, RHC 117.076/PR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 1º/08/2019; STF, HC
143.595 MC/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/05/2017.

Já para uma segunda corrente, inclusive partilhada por Lima, o quesito absolutório genérico não autoriza a
absolvição sob qualquer fundamento, devendo, pois, estar condizente com o conjunto probatório, não
podendo ser manifestamente contrária à prova dos autos. Assim, em caso de absolvição com base no
quesito genérico, seria plenamente possível a interposição do recurso de apelação, pela acusação.

Por fim, uma terceira posição possui o entendimento de que os jurados podem absolver o réu por qualquer
motivo, mesmo que isso signifique se desvincular das provas constantes nos autos, sendo igualmente
cabível a interposição de recurso de apelação, pela acusação, com fundamento na hipótese de “decisão
manifestamente contrária à prova dos autos”.

Em julgado de setembro de 2020, a 5ª Turma do STJ proferiu decisão no sentido de que é cabível, na
hipótese, a interposição de recurso de apelação, pela acusação, com o fim de evitar arbitrariedades e em
observância ao duplo grau de jurisdição. Veja-se:

HOMICÍDIO SIMPLES. TRIBUNAL DO JÚRI. ABSOLVIÇÃO PELO QUESITO GENÉRICO (POR


CLEMÊNCIA). RÉU CONFESSO. DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA ÀS
PROVAS DOS AUTOS. ÚNICA TESE DEFENSIVA DE HOMICÍDIO PRIVILEGIADO NÃO QUESITADA.
ANULAÇÃO DA DECISÃO DO JÚRI. NOVO JULGAMENTO. DECISÃO MANTIDA. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

[...] 2. A absolvição do réu pelos jurados, com base no art. 483, III, do CPP, ainda que por
clemência, não constitui decisão absoluta e irrevogável, assim, resta plenamente possível o
controle excepcional da decisão absolutória do Júri, com o fim de evitar arbitrariedades e em
observância ao duplo grau de jurisdição. Entender em sentido contrário exigiria a aceitação de
que o conselho de sentença disporia de poder absoluto e peremptório quanto à absolvição do
acusado, o que, ao meu ver não foi o objetivo do legislador ao introduzir a obrigatoriedade do
quesito absolutório genérico previsto no art. 483, III, do CPP.

3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que " não
ofende a soberania dos veredictos a anulação de decisão do Tribunal do Júri que se mostre
manifestamente contrária a prova dos autos, ainda que os jurados tenham respondido
positivamente ao terceiro quesito formulado nos termos do art. 483, § 2º, do CPP [...]"(AgRg no
AREsp n. 1.116.885/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 15/5/20). Precedentes.[...]

(AgRg no AREsp 1567450/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 28/09/2020)

Todavia, é de se salientar que, em maio de 2020, o STF reconheceu a existência de repercussão geral do
tema (no ARE n. 1.225.185), estando a questão ainda pendente de definição.

Para além do recurso de apelação, também se demonstra cabível a desconstituição e substituição da


decisão dos jurados, posteriormente, por meio de Revisão Criminal. Neste caso, se a condenação criminal

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houver sido fundada em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos, por exemplo, o
acusado poderá ser absolvido desde logo pelo Tribunal, não havendo a necessidade de submissão a um
novo júri.

Sobre o tema, inclusive, o STJ já fixou tese no sentido de que “a soberania do veredicto do Tribunal do Júri
não impede a desconstituição da decisão por meio de revisão criminal”. Nesse sentido:

[...]. IV. O Tribunal competente para julgar a Revisão Criminal pode, analisando o feito,
confirmar a condenação, ou, no juízo revisional, alterar a classificação do crime, reduzir a pena,
anular o processo ou mesmo absolver o condenado, nos termos do art. 626 do CPP.

V. Uma vez que o Tribunal de origem admitiu o erro judiciário, não por nulidade no processo,
mas em face de contrariedade à prova dos autos e de existência de provas da inocência do réu,
não há ofensa à soberania do veredicto do Tribunal do Júri se, em juízo revisional, absolve-se,
desde logo, o réu, desconstituindo-se a injusta condenação. Precedente da 6ª Turma do STJ.

VI. "A obrigação do Poder Judiciário, em caso de erro grave, como uma condenação que
contrarie manifestamente as provas dos autos, é reparar de imediato esse erro. Por essa razão
é que a absolvição do ora paciente (e peticionário, na revisão criminal) é perfeitamente
aceitável, segundo considerável corrente jurisprudencial e doutrinária" (STJ, HC 63.290/RJ, Rel.
p/ acórdão Ministro CELSO LIMONGI (Desembargador Convocado do TJ/SP), SEXTA TURMA, DJe
de 19/04/2010).

VII. Recurso Especial conhecido e improvido.

(REsp 1304155/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEXTA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 01/07/2014)

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Breves comentários sobre os crimes contra a ordem tributária praticados por
funcionários públicos, com base na Lei n.º 8.137/1990:

Há três artigos na Lei n.º 8.137/1990 que descrevem os crimes contra a ordem tributária, os quais não
possuem modalidade culposa e são de ação penal pública incondicionada.

Os dois primeiros artigos consistem em crimes praticados por particulares e o estudo deles foi realizado na
rodada anterior. Já o terceiro artigo prevê os crimes funcionais contra a ordem tributária, ou seja,
praticados por funcionários públicos.

Ser funcionário público é elementar do tipo penal do art. 3º, da Lei n.º 8.137/1990. Para efeitos penais,
considera-se funcionário público “quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública”, e “equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública”, conforme o art. 327, do Código Penal.

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Esse mesmo artigo do CP, em seu §2º, prevê uma causa de aumento de pena aos crimes funcionais: “A
pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público”.

Ocorre que essa causa de aumento não é aplicada aos crimes funcionais contra a ordem tributária
previstos na Lei n.º 8.137/90, visto que a redação do §2º diz “dos crimes previstos neste Capítulo”, ou seja,
do Capítulo I, do Título XI, do Código Penal (dos crimes praticados por funcionário público contra a
administração em geral).

O caput do art. 3º da Lei n.º 8.137/90 é claro ao dispor que os crimes funcionais ali previstos não excluem
aqueles do Capítulo I, do Título XI, do Código Penal. Porém, em um conflito aparente de normas, deve ser
aplicada a regra da Lei n.º 8.137/90, tendo em vista o princípio da especialidade.

O inciso I, do art. 3º da Lei n.º 8.137/90, tipifica a conduta de “extraviar livro oficial, processo fiscal ou
qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou
parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social”. O tipo penal
não se confunde com aquele do art. 314, do CP45, visto que esta Lei Especial pressupõe que, para a
caracterização do crime, as condutas devem acarretar o pagamento indevido ou inexato de tributo ou
contribuição social.

Em seu inciso II, há a tipificação da conduta daquele que “exigir, solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão
dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou
contribuição social, ou cobrá-los parcialmente”.

Tal qual no crime anteriormente analisado, este também se assemelha com outros previstos no Código
Penal, tais como a concussão e a corrupção passiva (artigos 316 e 317, do CP46). O que diferencia o crime

45
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total
ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
46
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

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em estudo é a finalidade do agente, de maneira que o funcionário público exige, solicita, recebe ou aceita
vantagem ou promessa de vantagem indevida “para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente”.

Por fim, o crime previsto no inciso III, do art. 3º da Lei n.º 8.137/90, tipifica a conduta do funcionário
público que “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária,
valendo-se da qualidade de funcionário público”. Aqui a similitude é com a figura típica prevista no Código
Penal, agora com o art. 32147 (advocacia administrativa), que prevê “Patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.

Como se vê, a diferença entre os dois dispositivos está na expressa disposição de “administração
fazendária”, no art. 3º, da Lei n.º 8.137/90. Ora, sabe-se que a administração fazendária é órgão integrante
da administração pública.

Assim, diante do aparente conflito de normas, deve-se aplicar o princípio da especialidade, ou seja, quando
o patrocínio aos interesses privados for levado por funcionário público perante a administração fazendária
(Receitas Federal, Estadual ou Municipal), tratar-se-á do crime previsto no art. 3º, inciso III, da Lei n.º
8.137/90.

Lado outro, se for perante a outros órgãos da administração pública, o crime tipificado será o de advocacia
administrativa, previsto no art. 321, do CP.

Ademais, ainda aplicando-se o princípio da especialidade, se o interesse patrocinado tiver relação com
Licitação Pública, não será aplicada a Lei n.º 8.137/90 e nem o Código Penal, mas sim o art. 91, da Lei de
Licitações (Lei n.º 8.666/93)48.

1.7.2 - Justa causa duplicada e o entendimento do STJ sobre a desnecessidade de o autor


do crime de lavagem de dinheiro ter sido autor ou partícipe da infração penal
antecedente

De acordo com o art. 2º, §1º, da Lei de Lavagem de Capitais, a “denúncia será instruída com indícios
suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda
que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente”.

47
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
48
Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação
ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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Ante a exigência de indícios suficientes da existência de infração penal antecedente é que surge a
expressão “justa causa duplicada”.

Justa causa constitui condição da ação penal e é compreendida como o lastro probatório mínimo indicativo
da autoria e materialidade da infração penal (art. 395, inciso III, do CPP49). À medida que o Ministério
Público, enquanto autor da ação penal, deverá angariar elementos de autoria e materialidade não só
quanto ao crime de lavagem de capitais propriamente dito, mas também quanto à existência da infração
penal antecedente, tem-se a “justa causa duplicada”.

Sobre a ‘profundidade’ desses elementos probatórios, quanto ao crime anterior, já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça:

TEMA: Lavagem de dinheiro. Denúncia. Condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012. Crime
antecedente. Descrição exaustiva e pormenorizada. Desnecessidade. Lastro probatório mínimo.
Aptidão. DESTAQUE: A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige
uma descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com relação às
condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012, a presença de indícios suficientes de que o
objeto material da lavagem seja proveniente, direta ou indiretamente, de uma daquelas
infrações penais mencionadas nos incisos do art. 1º da Lei n. 9.613/1998. INFORMAÇÕES DO
INTEIRO TEOR: *…+O STF adota o posicionamento de que “o processo e julgamento do crime de
lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da Autonomia, não se exigindo, para que a
denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta, prova
concreta da ocorrência de uma das infrações penais exaustivamente previstas nos incisos I a
VIII do art. 1º do referido diploma legal, bastando a existência de elementos indiciários de que
o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas” (STF, HC 93.368/PR,
Primeira Turma, DJe de 25/8/2011). Desse modo, a inicial deve ser considerada apta se contiver
narrativa que demonstre, de modo indiciário, a probabilidade da prática do crime antecedente
e as condutas relacionadas ao suposto branqueamento de bens, direitos e valores que
provavelmente seriam proveitos desse anterior crime previsto no rol do art. 1º da Lei n.
9.613/1998, permitindo a efetiva defesa do acusado. (Informativo n.º 657 do STJ – APn 923-DF,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 23/09/2019, DJe
26/09/2019 – negritamos).

HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LAVAGEM


DE DINHEIRO. TRANCAMENTO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. DESCRIÇÃO DO CRIME ANTECEDENTE.
JUSTA CAUSA DUPLICADA. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE OCORRÊNCIA DE FATO DELITUOSO

49
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou
condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

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ANTECEDENTE. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA.


NÃO OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. [...] 3. No caso do delito previsto no art.
1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a partir da verificação da presença de
elementos informativos suficientes que sirvam de lastro probatório mínimo que apontem a
materialidade e ofereçam indícios da autoria da prática de atos de ocultação ou de
dissimulação da origem dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve trazer
elementos que sinalizem a existência de infração penal antecedente, demonstrando a
chamada justa causa duplicada. 4. Neste caso, apesar dos esforços argumentativos dos
impetrantes, não se pode falar em inépcia da peça acusatória, já que esta, embora não tenha
descortinado o delito antecedente em profundidade, indicou a existência de infração penal
prévia, conhecida pelos ora pacientes, cujos desdobramentos podem ser melhor esclarecidos
no curso da instrução criminal. [...] 6. Habeas corpus não conhecido (STJ - HC 525.790/MG, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 15/10/2019, DJe 22/10/2019 –
negritamos).

Pode ocorrer também – e é bom que se conheça – a denominada “justa causa triplicada”, isto quando a
infração antecedente à lavagem de capitais também depender da prova de existência de infração penal
anterior, como seria o caso de se pensar no crime de receptação como antecedente à lavagem de capitais.

Ainda, o Superior Tribunal de Justiça entende que “é desnecessário que o autor do crime de lavagem de
dinheiro tenha sido autor ou partícipe da infração penal antecedente, basta que tenha ciência da origem
ilícita dos bens, direitos e valores e concorra para sua ocultação ou dissimulação” (Jurisprudência em Teses
– Edição n.º 166).

Nesse sentido:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.


LAVAGEM DE DINHEIRO E RECEPTAÇÃO. ATIPICIDADE DO DELITO DE RECEPTAÇÃO DE BEM
IMÓVEL. PRECEDENTES. FALTA DE JUSTA CAUSA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO
MATERIAL FÁTICO/PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA DECLARAR A ATIPICIDADE DO DELITO DE RECEPTAÇÃO. *…+ 2. O
Supremo Tribunal Tribunal Federal, em julgado da Relatoria do Ministro Moreira Alves, já
decidiu que, em face da legislação penal brasileira, só as coisas móveis ou mobilizadas podem
ser objeto de receptação. Interpretação do art. 180 do Código Penal. Assim, não é crime, no
direito pátrio, o adquirir imóvel que esteja registrado em nome de terceiro, que não é o
verdadeiro proprietário (RHC-57.710/SP, Segunda Turma, DJ de 16/5/1980). No mesmo sentido
o RHC n.58.329/MG, Relator Ministro CUNHA PEIXOTO, Primeira Turma, DJ de 28/11/1980 e
doutrina de Nelson Hungria e Guilherme de Souza Nucci. 3. O fato de um dos ora denunciados
não haver sido denunciado pelo crime antecedente é irrelevante para a responsabilização por
lavagem de dinheiro. Conforme orientação deste Superior Tribunal de Justiça, a participação
no crime antecedente não é indispensável à adequação da conduta de quem oculta ou
dissimula a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens,
direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente, de crime, ao tipo do art. 1º, da Lei
9.613/98. Precedentes. (APn n. 458/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão
Ministro GILSON DIPP, Corte Especial, julgado em 16/9/2009, DJe 18/12/2009) 4. A análise da
ausência de justa causa para a ação penal em relação ao delito de lavagem de dinheiro (falta de

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prova de que o paciente tinha conhecimento acerca da corrupção passiva e contribuiu com a
ocultação de seus valores – crime antecedente) exigiria, inevitavelmente, o revolvimento de
todo o material fático probatório dos autos, tarefa vedada no remédio constitucional do habeas
corpus. 5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para declarar atípica a
conduta do crime de receptação, devendo a ação penal prosseguir tão-somente em relação ao
delito de lavagem de dinheiro. (HC 545.395/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2020, DJe 13/03/2020 – negritamos).

Sabe-se que o crime de lavagem de capitais é delito autônomo, assim, a absolvição do agente pela infração
penal antecedente não impede o processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro (desde que a
absolvição não tenha sido pela inexistência do fato ou atipicidade da conduta). Da mesma forma, a
prescrição do crime anterior não descaracteriza o crime de lavagem de capitais.

Por fim, a pendência de julgamento da infração penal antecedente pode ser questão prejudicial, podendo
o juiz suspender o processo pelo crime de lavagem de capitais, aguardando-se a solução do processo da
infração penal antecedente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.

Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 166: DO CRIME DE LAVAGEM – I. Disponível em:


<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.

ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm,
2020.

1.8 - DIREITO ELEITORAL

1.8.1 - Reprovação de servidor público em estágio probatório e inelegibilidade

Há de se convir que se um servidor público pratica algum ato no exercício de suas funções a ponto de ser
demitido então há uma probabilidade muito grande de que ele também não possui aptidão para ocupar
um cargo eletivo, certo50? Por conta disso, o art. 1º, I, “o” da Lei Complementar nº 64/90 prevê a
inelegibilidade por demissão do serviço público. Observe:

Art. 1º, LC 64/90. São inelegíveis:

50
Nesse sentido: GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2021. p. 325.

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I - para qualquer cargo: [...]


o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou
judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou
anulado pelo Poder Judiciário

A demissão do servidor público ocorre quando ele comete grave infração administrativa, conforme o
respectivo estatuto, e só pode ocorrer através de processo administrativo disciplinar ou procedimento
judicial, sem assegurando o contraditório e a ampla defesa. Em âmbito federal, por exemplo, as infrações
disciplinares que acarretam demissão estão dispostas no art. 132 da Lei nº 8.112/90.

Essa hipótese de inelegibilidade engloba todos aqueles que trabalham no serviço público, incluindo os
ocupantes de empregos públicos das empresas estatais. Abrange, ainda, os titulares de cargos em
comissão e funções de confiança (sendo o mais correto falar, no último caso, em destituição)51.

Contudo, a inelegibilidade não alcança a exoneração, seja a pedido ou por conveniência da administração
quando o cargo ocupado for admissível ad nutum52. Lembre-se que, em âmbito administrativo, a
exoneração nunca tem caráter de penalidade.

Mas há uma situação que pode gerar dúvidas. Antes de adquirir a estabilidade no serviço público, qualquer
servidor deve ser aprovado no estágio probatório. Trata-se de um período em que ele estará em constante
avaliação para averiguar se ele possui ou não condições de se estabilizar junto à Administração Pública 53.
Cada ente federativo é responsável por organizar a forma como essa avaliação ocorrerá, mas sempre
observando o período de três anos.

Por exemplo, os servidores públicos civis da administração pública federal devem observar a Lei nº
8.112/90, que traz em seu art. 20 os fatores que devem ser observados durante esse período de análise.
Dentre eles estão a assiduidade, a disciplina, a capacidade de iniciativa, a produtividade e a
responsabilidade. Caso, durante o estágio probatório, o funcionário público deixar de atender a qualquer
desses requisitos, ele será reprovado e, como consequência, exonerado do serviço público.

Como se percebe, a reprovação em estágio probatório demonstra que a pessoa não possui aptidão para
exercer o cargo público. Nessa orientação, por que teria capacidade para ocupar um cargo eletivo?
Pesando nesse sentido, poder-se-ia encaixar a reprovação em estágio probatório na hipótese de
inelegibilidade em análise.

Todavia, esse não foi o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo a Corte Eleitoral, a
inelegibilidade revista no art. 1º, I, “o”, da Lei Complementar nº 64/90 – proveniente de demissão do

51
TSE. RO 60079292/PE. Rel. Min. Admar Gonzaga. Julg. 18/12/2018
52
TSE. REspe 163-12/SP. Rel. Min. Dias Toffoli. Julg. 9/10/2012.
53
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28 ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 701.

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serviço público – não incide no caso de inabilitação em estágio probatório54. No julgamento do caso, o
relator afirmou que “a ‘ratio’ da norma examinada atinge somente aqueles candidatos que foram
demitidos do serviço público, considerada falta disciplinar grave, o que impede a representação política por
meio de cargos eletivos”.

Essa compreensão foi firmada levando em consideração a jurisprudência consolidada do TSE, que sempre
afirmou que as normas de inelegibilidade devem ser interpretadas de forma restrita. No caso, como a
norma fala apenas em “demissão”, não seria possível ampliá-la para abranger a “exoneração”, ainda que
decorrente de reprovação em estágio probatório. Esse é o entendimento a ser levado para a prova.

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Lei Menino Bernardo

Inicialmente conhecida como “Lei da Palmada”, e hoje chamada “Lei Menino Bernardo”, a lei 13.010/2014
teve por objeto alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil, a fim de estabelecer a
proibição da submissão de crianças e adolescentes a quaisquer formas de castigos corporais. Foi, por meio
dessa lei incluído o art. 13 no Estatuto, que dispõe que:

“Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de


maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho
Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”.

Logo, se observa que não teve por objetivo criminalizar condutas, mas apenas proibir duas condutas em
relação a crianças e adolescentes: a prática de castigos físicos e o tratamento cruel ou degradante e de
maus-tratos. A distinção terminológica foi incluída no art. 18-A, que define castigo físico como a ação de
natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que
resulte em sofrimento físico ou lesão; enquanto tratamento cruel ou degradante se caracteriza pela
conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que humilhe, ameace
gravemente ou ridicularize.

Importante destacar que a legislação fez a escolha pelo termo “sofrimento físico”, o que trouxe avanços
com relação a expressão “lesão corporal”, já adotada pelo Código Penal no tipo prescrito em seu art. 129.
Foi além também do tipo penal do art. 136 do Código Penal, que criminaliza a prática de maus-tratos, ao
proibir uma gama maior de condutas que o tipo penal. Ressalte-se, novamente, que não teve por objetivo,
a lei 13.010/2014 criminalizar tais condutas, mas apenas proibir sua prática.

54
TSE. AgR no REspe 600.269-98/SC. Rel. Min. Alexandre de Moraes. Julg. 11/2/2021.

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Antes da edição da lei em debate, já se proibia no art. 1.638 do Código Civil, sob a pena de perda do poder
familiar por ato judicial, o castigo “imoderado” dos filhos. Contudo, partindo da ideia da legalidade estrita,
tudo o que a lei não proíbe encontra-se no campo da permissão para os cidadãos, que tinham, a partir
dessa previsão, a possibilidade de castigar seu filho de forma “moderada”.

Assim, dentro desse campo de castigo moderado encontra-se a nova previsão da lei n. 13.010/2014, com a
finalidade de garantir uma maior e mais abrangente proteção às crianças e adolescentes, até mesmo em
casos em que não há qualquer contato físico (no caso da proibição ao tratamento cruel ou degradante).

Além da proibição, determina o art. 18-B, incluído pela lei, que diante da prática dessas condutas, sem
prejuízo das sanções cabíveis, serão aplicadas as seguintes medidas conforme a gravidade do caso:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;

V - advertência.

Estabelece ainda, o parágrafo único, que as medidas em questão são aplicáveis pelo Conselho Tutelar, sem
prejuízo de outras providências legais.

Outro ponto da legislação que merece destaque é o art. 70-A, incluído no Estatuto, que distribui entre
União, Estados, Distrito Federal e Municípios a competência para atuar, de forma articulada, elaborando
políticas públicas e executando ações com a finalidade de coibir o uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante, bem como para difundir formas não violentas de educar crianças e adolescentes,
destacando ações como a promoção de campanhas educativas, integração entre órgãos Estatais, além da
formação continuada e capacitação de profissionais.

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 – Ação Anulatória

Há duas modalidades de ação anulatória. A primeira delas se caracteriza pelo fato de a parte autora
ingressar com uma ação judicial com o objetivo de anular uma dívida já constituída. Aqui, a parte autora
não pagou a quantia constituída e não tem a pretensão de fazê-lo.

A segunda modalidade de ação anulatória é aquela prevista no artigo 169 do Código Tributário Nacional,
que tem como objetivo anular uma decisão administrativa que denegou a restituição de um tributo pago
indevidamente. Nesse caso, a parte autora pagou um tributo que reputa indevido e solicitou a sua
restituição ao fisco, que negou o pedido. Inconformada, a parte autora ingressa com uma ação com o
objetivo de anular essa decisão.

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Ação anulatória comum

A ação anulatória comum é uma ação ordinária de cunho desconstitutivo ou constitutivo negativo, que visa
a anular pela via judicial a existência de débito fiscal já constituído. Essa é, inclusive, a circunstância que a
diferencia da ação declaratória, que tem seu âmbito de cabimento restrito às hipóteses em que não houve
ainda a constituição do crédito tributário.

Embora os pedidos sejam diversos, nada impede que uma ação cumule uma pretensão anulatória com uma
pretensão declaratória, nos casos em que os fatos geradores ocorrem com certa frequência.

Exemplo
A pessoa jurídica X foi notificada de lançamento tributário concernente à taxa de limpeza
pública dos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017. Nesse caso, a empresa pode ingressar com uma
ação anulatória, para desconstituir os lançamentos dos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017,
cumulada com uma ação declaratória de inexistência de relação jurídica, com o objetivo de
evitar que seja constituído o crédito do pretenso fato gerador ocorrido em 2018.

Por se tratar de uma ação ordinária, a petição inicial deve observar todos os requisitos do artigo 319 do
Código de Processo Civil e o valor da causa deve corresponder à quantia que se pretende anular.

Embora o artigo 38 da LEF55 pudesse induzir à interpretação distinta, não é necessária a realização de
depósito para ingressar com uma ação anulatória, conforme entendimento vinculante do Supremo
Tribunal Federal:

Súmula Vinculante nº 28: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de


admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito
tributário.

Por outro lado, o ingresso da ação anulatória não tem o condão, por si só, de suspender a exigibilidade do
crédito tributário. Assim, regra geral, o ajuizamento dessa ação não impede o fisco de ingressar com a ação
de execução fiscal ou de prosseguir nos atos expropriatórios iniciados em demanda que lhe for anterior. O
fundamento reside na circunstância de que as causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário
são aquelas enunciadas no artigo 151 do Código Tributário Nacional, que não prevê o ajuizamento de uma
ação anulatória no seu rol.

55
Art. 38 - A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as
hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta
precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e
demais encargos.

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Entretanto, é possível que o contribuinte obtenha a suspensão da exigibilidade do crédito tributário no


bojo de uma ação anulatória. Isso pode ocorrer de duas formas: o autor pode realizar o depósito do
montante integral da dívida, o que acarreta, independentemente de qualquer outra circunstância, a
suspensão da exigibilidade do crédito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN; ou ele pode conseguir
um provimento antecipatório, seja em tutela de urgência ou em tutela de evidência, conforme determina o
artigo 151, inciso V, do CTN.

Por fim, antes de encerrarmos o estudo dessa modalidade de ação anulatória, gostaríamos de frisar três
aspectos importantes:

O primeiro diz respeito à distinção entre a consignação e o depósito na ação anulatória. No primeiro caso,
tem-se um depósito-pagamento, porque na ação de consignação não se discute a legalidade da cobrança;
no segundo, um depósito-caução, utilizado para suspender a exigibilidade do crédito tributário durante a
tramitação da demanda que pretende a anulação do crédito56.

O segundo concerne à relação entre a ação anulatória e ação de execução fiscal ajuizada previamente.
Quanto ao tema, existem duas correntes doutrinárias: a primeira entende que depois da execução fiscal
não seria mais cabível o ajuizamento da ação anulatória, porque a matéria de defesa deveria ser suscitada
por meio de embargos, após a garantia do juízo; a segunda corrente entende que seria cabível o
ajuizamento da ação anulatória, porque além de não existir vedação legal nesse sentido, esse seria o
entendimento mais compatível com o princípio da ampla defesa e com o princípio do acesso à justiça. Do
ponto de vista da jurisprudência, prevalece essa última interpretação.

Assim, na prática, o executado pode se defender independentemente de prévia garantia do juízo, desde
que o faça por meio da ação anulatória.

O terceiro aspecto diz respeito ao prazo prescricional da ação anulatória. Na ausência de norma específica,
a jurisprudência entende que se aplica o prazo quinquenal previsto no artigo 1º do Decreto nº 20.910/3257:

Ação anulatória do artigo 169 do Código Tributário Nacional

Dispõe o artigo 169 do Código Tributário Nacional:

Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a
restituição.

Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial,


recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao
representante judicial da Fazenda Pública interessada.

56
CARNEIRO, Cláudio. Processo Tributário: administrativo e judicial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 425
57
REsp 1688518/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/11/2017, DJe 19/12/2017

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O dispositivo se aplica nos casos em que o sujeito passivo tentou a restituição administrativamente, mas o
fisco denegou o pedido. Nessas hipóteses, o interessado tem o prazo de 2 anos, contados da decisão
denegatória, para ingressar com a ação anulatória.

O parágrafo único, por sua vez, estabelece uma hipótese de prescrição intercorrente. De fato, segundo o
texto da lei, a prescrição é interrompida pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso pela metade,
a partir da intimação da Fazenda Pública.

Esse dispositivo tem sido considerado inconstitucional pela maior parte da doutrina, por ser bastante
improvável que a ação seja julgada no prazo de um ano. Assim, estar-se-ia imputando ao autor o ônus pela
morosidade do Poder Judiciário.

Uma forma de compatibilizá-lo com a Constituição Federal seria aplicá-lo tão somente nos casos em que o
processo ficou parado por culpa do próprio autor, como aconteceria na hipótese em que seu advogado
retirasse os autos em carga e só devolvesse um ano depois, mesmo após reiteradas intimações para fazê-
lo.

1.11 – DIREITO MATERIAL COLETIVO

1.11.1 - Planos de saúde privados e as relações de consumo

Os planos de saúde privados e sua comercialização fazem parte da chamada relação de consumo. De fato,
há o perfeito enquadramento de um lado, da categoria jurídica consumidor, art. 2º do CDC, e, do outro, a
categoria jurídica fornecedor de produtos e serviços, na forma do art. 3º do CDC. No caso em questão, a
interação entre fornecedor e consumidor, tendo o plano de saúde como objeto caracteriza relação de
consumo. O consumidor, no caso, afigura-se como destinatário final. No caso da lei 9.656/98, esta
menciona a figura do consumidor em 44 oportunidades, destacando-se:

Art. 1o Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que
operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica
que rege a sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as
seguintes definições: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) I - Plano
Privado de Assistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou cobertura de custos
assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de
garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento
por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede
credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e
odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada,
mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do
consumidor; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001). A reforçar essa ideia, o
Superior Tribunal de Justiça já editou a seguinte tese (ed. 143): 1) Aplica-se o Código de Defesa
do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de
autogestão. (Súmula n. 608/STJ). Com efeito, mesmo na questão específica dos planos de
saúde, o consumidor é protegido pelo CDC, de modo que a esta relação privada incidem todas
as normas e interpretações protetivas consumeristas.

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1.11.2 - Urbanismo como direito difuso

A questão urbanística vem expressamente prevista na lei 7.347/85 como um interesse difuso, passível de
tutela judicial. Afinal de contas, o urbanismo das cidades se amolda ao conceito de interesses difusos, do
art. 81, I, do Código de Defesa do Consumidor. Dentre as várias questões que envolvem o urbanismo,
podemos citar a lei 10.257/01, que em seu art. 1º: Art. 1 o Na execução da política urbana, de que tratam
os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei. Parágrafo único. Para todos
os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social
que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

O parágrafo único deixa evidente a natureza difusa do tema, tornando a necessária intervenção do
Ministério Público. Ordem pública, interesse social, coletividade e equilíbrio ambiental. A ação civil pública
possui como um de seus objetos jurídicos, a ordem urbanística:

“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011). VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)”

Como conceito de ordem urbanística pode-se compreender o conjunto de regras e situações


jurídicas que integram e dão azo à política urbana.

1.12 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO

1.12.1 - Ministério Público e a judicialização da saúde

O direito à saúde possui previsão constitucional no art. 196 da Carta Magna:

Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Direito à saúde é um direito difuso por excelência, enquadrando-se no conceito do art. 81, p. único, I, do
CDC, sendo tutelado pelo art. 1º, IV, da Lei 7.347/85. Do conceito extraído da Constituição, verifica-se que
a saúde se dirige a um número indeterminável de pessoas, de modo que seu objeto é absolutamente
indivisível. Assim, o processo coletivo é uma das vias processuais para a defesa da saúde. Nesse espectro, o
Ministério Público é parte legítima para a defesa da saúde em juízo, a título individual e coletivo, como já
decidido pelos tribunais superiores. Não obstante essa legitimidade, vários temas sobre saúde vinham
desafiando o Poder Judiciário, oportunidade em que o Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral,
assim pontuou as seguintes teses:

1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.

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2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por
decisão judicial.

3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de


mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando
preenchidos três requisitos:

I – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso de medicamentos órfãos


para doenças raras e ultrarraras;

II – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior;

III – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão ser
necessariamente propostas em face da União.

Várias das demandas judiciais sobre temas diversos na área da saúde motivaram as teses fixadas,
mormente por questões orçamentárias e para impedir o chamado ativismo judicial.

1.12.2 - Litispendência, conexão e continência

A litispendência, a conexão e a continência são modalidades de relação entre duas ou mais demandas,
respectivamente daquela onde há mais elementos em comum àquela onde há menos.

Atenção! Ainda que não integre o microssistema da tutela coletiva, devemos lembrar da aplicação
subsidiária do CPC, e estes temas são tratados por ele.

Litispendência

A litispendência é configurada nas hipóteses em que dois processos idênticos (mesmas partes, pedido e
causa de pedir) tramitam simultaneamente na justiça.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

VI - litispendência;

§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente


ajuizada.

§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
mesmo pedido.

§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

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A litispendência, em se tratando de processos coletivos, poderá ser entre duas ações iguais (duas ações
civis públicas), duas ações diferentes (uma ação civil pública e uma ação popular), bastando a verificação
do mesmo objeto, causa de pedir e réu, sendo indiferente que se trate de mesmo autor, uma vez que a
sentença atingirá uma coletividade, tendo o indivíduo proposto ou não a ação.

O efeito decorrente da litispendência será a extinção da demanda proposta posteriormente ao


ajuizamento de uma já existente, uma vez que havendo ajuizamento de uma demanda idêntica a outra que
já está tramitando, esta segunda deverá ser extinta sem resolução do mérito, por litispendência:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

[...]

V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;

Continência e conexão

Nos casos onde as similaridades entre os processos não são absolutas, teremos os fenômenos da
continência e da conexão.

A principal forma de apresentação destes fenômenos jurídicos no processo coletivo é quando há o mesmo
objeto, causa de pedir e réu, contudo, as ações serão coletiva e individual (direito individual homogêneo).

Exemplo: Uma empresa despeja esgoto em um determinado rio, contaminando as águas e matando os
peixes. O Ministério Público ajuíza ação civil pública em face do dano ambiental, ao mesmo tempo alguns
pescadores que dependem do rio ajuízam ações individuais de reparação por danos materiais sofridos.

Repare que os interesses individuais homogêneos também poderiam ser tutelados por meio de ação civil
pública e na liquidação de sentença seria individualizado o prejuízo de cada um dos autores das ações
individuais.

Disposições comuns

Conexão e continência têm muitas similaridades, de forma que trataremos de suas disposições comuns em
um primeiro momento para depois entrarmos nas especificidades de cada uma, e dada sua similaridade
cabe ao direito positivo estabelecer qual o tipo de vínculo considerado como relevante e quais são os seus
efeitos jurídicos.

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Vejamos então os pontos convergentes:

i) A conexão é configurada pela similaridade de pedido ou de causa de pedir (art. 55, CPC), enquanto a
continência é a similaridade de partes, causa de pedir e o pedido de uma engloba o pedido da outra (art.
57, CPC).

Nesse sentido, a doutrina diz que continência é uma espécie de conexão, uma vez que em toda continência
haverá, no mínimo, similaridade da causa de pedir.

ii) A reunião, em ambas as hipóteses (conexão e continência), possui os mesmos objetivos:

a) economia processual;

b) evitar o risco de decisões contraditórias (princípio da segurança jurídica).

iii) Tanto conexão quanto continência podem gerar a reunião dos processos em um mesmo juízo para seu
processamento e julgamento simultâneo.

Atenção! A reunião dos processos não é a conexão ou continência propriamente, mas sim um efeito da
conexão ou da continência.

Em regra, a ação coletiva atrai para si a individual.

Há algumas hipóteses de exceção à regra da reunião de processos, que podem ser por impossibilidade ou
inoportunidade da reunião processual, vejamos:

a) a reunião causar prorrogação de competência absoluta

Por exemplo, a ação individual foi proposta na Justiça Estadual, enquanto a coletiva foi proposta na Justiça
Federal, e esta tem sua competência restrita pelo artigo 109 da CF.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL. AUTONOMIA. REUNIÃO DE


PROCESSOS. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. MODIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A ação individual
pode ter curso independente da ação coletiva para defesa de direitos individuais homogêneos.
2. A competência absoluta não pode ser modificada por conexão ou continência (CPC, art. 102).
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de São
José dos Pinhais/PR, o suscitado.

(CC 41.953/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/08/2004, DJ 13/09/2004, p. 165)

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Contudo, há uma exceção admitida, trata-se da súmula 489 do STJ, que permite modificação de
competência absoluta, hipótese em que se deve reunir as demandas na Justiça Federal.

Súmula 489 - STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações
civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual.”

b) a reunião dificultar à pessoa lesada o acesso à Justiça

Nesse caso, tal ocorrência se verifica por retirar do foro de seu domicílio a competência para processar e
julgar a ação individualizada, nos termos do CDC:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo
do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

c) os processos estiverem em estágios muito distantes

Por exemplo, um deles está em prazo de contestação enquanto o outro está concluso para sentença.

d) quando importar na reunião excessiva de processos

A reunião de centenas ou milhares de ações em um mesmo órgão judiciário inviabilizaria tanto o


julgamento da tutela coletiva quanto da individual.

Não sendo possível ou conveniente a reunião das ações conexas ou continentes, uma das causas deverá ser
suspensa para que a outra seja julgada, nos termos do art. 313, inciso V, alínea a) do CPC.

Art. 313. Suspende-se o processo:

[...]

V - quando a sentença de mérito:

a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de


relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

iv) Tanto conexão quanto continência podem ser suscitadas pelas partes ou reconhecidas de ofício pelo
juiz

Por ser de interesse público que os feitos conexos tenham decisões harmonizadas (pacificação social) o juiz

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poderá reconhecer conexão ou continência de ofício.

Atenção! As partes podem suscitar a conexão ou a continência até a sentença, pois, uma vez prolatada,
não haverá mais possibilidade da reunião de processos (principal efeito dos fenômenos).

Esta impossibilidade é trazida tanto pelo CPC quanto em jurisprudência:

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a
causa de pedir.

§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já
houver sido sentenciado.

Súmula 235 - STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”.

v) Havendo conexão e continência e podendo ocorrer a reunião das demandas, as causas serão reunidas
no juízo prevento que, segundo o CPC/15, é aquele em que primeiro tiver havido o registro ou registro e
a distribuição.

Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.

Segundo o STJ, é facultativa a regra de reunião, havendo juízo de conveniência e oportunidade do


magistrado, aferindo a razoabilidade da reunião e os riscos de se permitir o julgamento em separado das
decisões.

Um exemplo da facultatividade é a súmula 515 do STJ

Súmula 515 - STJ: “A reunião de execuções fiscais contra o mesmo devedor constitui faculdade
do juiz”.

Vamos passar agora a ver os pontos específicos de cada um dos fenômenos:

Conexão

A conexão, conceituada por um aspecto objetivo, é caracterizada se houver identidade entre o pedido ou
causa de pedir.

Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa
de pedir.

§ 1° Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já
houver sido sentenciado.

§ 2º Aplica-se o disposto no caput :

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I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;

II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.

§ 3° Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação
de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão
entre eles.

Incidente de Resolução de Demandas repetitivas (IRDR)

O CPC/2015 criou um sistema de julgamento dos casos repetitivos, abrangendo nele o julgamento do IRDR
e recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão
proferida em: I - incidente de resolução de demandas repetitivas; II - recursos especial e
extraordinário repetitivos.

Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material
ou processual.

Segundo Didier, essas hipóteses trouxeram uma nova hipótese de conexão, a “conexão por afinidade”, isto
é, a afinidade de algumas questões de fato ou de direito entre diferentes demandas.

Contudo, os efeitos dessa conexão não serão os mesmos da conexão simples (reunião processual), elas
terão outros efeitos:

a) escolha de alguns “casos-piloto” para julgamento;

b) sobrestamento dos demais processos, à espera da fixação da tese jurídica a ser aplicada a todos
indistintamente.

Conexão da ação acessória

O art. 61 do CPC, determina que a demanda acessória destinada a complementar ação principal deverá ser
ajuizada no mesmo juízo desta.

Art. 61. A ação acessória será proposta no juízo competente para a ação principal.

Continência

A continência é definida como aqueles casos em que há identidade quanto às partes e causa de pedir.

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Neste caso há duas hipóteses, nos termos do art. 57 do CPC, daquilo que pode ocorrer com as ações:

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Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no
processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas.

a) Se a ação menor (contida) for proposta antes da ação maior (continente), as duas são reunidas.

b) Se a ação maior (continente) for proposta antes da ação menor (contida), essa segunda será extinta sem
resolução de mérito.

A diferença, em se tratando de processo coletivo, é que a extinção da demanda contida não ocorrerá na
tutela coletiva, hipótese de continência em que deverão as demandas individuais continentes a ação civil
pública ser reunidas a esta no juízo federal, tendo em consideração a Súmula 489 do STJ.

A doutrina destaca a desnecessidade da existência da categoria da continência, uma vez que


toda continência é uma conexão.

2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6
Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. O sistema de proteção dos direitos fundamentais compreende:
a) As proteções normativa, institucional e processual.

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b) As proteções judicial e extrajudicial.


c) As proteções pública, metaindividual e individual.
d) As proteções pública e privada.
e) As proteções civil, penal e processual.

Comentários

O sistema de proteção dos direitos fundamentais é integralizado por um complexo de mecanismos,


dotados de natureza normativa, institucional ou processual, tendentes a assegurar sua plena realização.

O mecanismo normativo de proteção dos direitos fundamentais é singularizado pela cláusula pétrea ou
limitação material explícita ao poder constituinte derivado reformador, traduzida pela impossibilidade de
reforma sobre o cerne imodificável da Constituição.

Os mecanismos institucionais de proteção dos direitos fundamentais são sintetizados pela organização e
funcionamento do Poder Judiciário, Funções Essenciais à Justiça e Tribunais de Contas.

Os mecanismos processuais de proteção dos direitos fundamentais são sistematizados pelos remédios
constitucionais disponibilizados na ordem jurídica, que englobam o habeas corpus, mandado de segurança,
mandado de injunção, habeas data, ação popular e ação civil pública.

Destarte, revela-se correta a alternativa A.

Questão 2. Como medida de proteção aos direitos fundamentais, a Constituição da República veda à lei:
a) Estabelecer a possibilidade de se efetuar prisão senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente.
b) Cominar pena de morte ou de caráter perpétuo, exceto no caso de guerra declarada.
c) Estabelecer casos em que a pena passe da pessoa do condenado.
d) Prever hipóteses em que o civilmente identificado seja submetido a identificação criminal.
e) Restringir a publicidade de atos processuais, exceto quando a defesa da intimidade ou o interesse social
o exigirem.

Comentários

A norma veiculada pelo art. 5º, inc. LX, da Constituição da República veda à lei restringir a publicidade de
atos processuais, exceto quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

Ao contrário, o art. 5º, incs. XLVII, “a”, XLV, LVIII e LXI, da Constituição Federal permitem à lei estabelecer a
hipótese de prisão por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, cominar pena
de morte ou em caso de guerra declarada, estender a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens aos sucessores e prever hipóteses em que o civilmente identificado seja submetido a
identificação criminal.

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Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa E.

JURISPRUDÊNCIA

“Petição. Agravo regimental. Levantamento do sigilos dos áudios e termos de declaração de


acordo de colaboração premiada. Possibilidade. Art. 7º, § 2 º, da Lei 12.850/13. A Constituição
proíbe restringir a publicidade dos atos processuais, salvo quando a defesa da intimidade ou
o interesse social o exigirem (art. 5º, LX), e estabelece, com as mesmas ressalvas, que a
publicidade dos julgamentos do Poder Judiciário é pressuposto inafastável de sua validade (art.
93, IX). A Lei 12.850/2013, quando trata da colaboração premiada em investigações criminais,
impõe regime de sigilo ao acordo e aos procedimentos correspondentes (art. 7º), sigilo que, em
princípio, perdura até a decisão de recebimento da denúncia, se for o caso (art. 7º, § 3º). Essa
restrição, todavia, tem como finalidades precípuas (a) proteger a pessoa do colaborador e de
seus próximos (art. 5º, II) e (b) garantir o êxito das investigações (art. 7°, § 2º). No caso, todavia,
a manifestação do órgão acusador revela não mais subsistirem razões a impor o regime
restritivo de publicidade. A manutenção da revogação do sigilo dos termos de depoimento e da
íntegra dos áudios não gera, no caso, prejuízos aos agravantes. Agravo regimental a que se
nega provimento” (STF, Pet-AgR nº 6.138/DF, Rel. Min. Edson Fachin, J. 21.02.2017, DJU
05.09.2017).

Questão 3. Dentre os “instrumentos de proteção dos direitos fundamentais” de que trata José Joaquim
Gomes Canotilho, na obra “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, não se inclui:
a) Poder Judiciário.
b) Defensoria Pública.
c) Tribunal de Contas.
d) Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
e) Poder Executivo.

Comentários

De acordo com José Joaquim Gomes Canotilho (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e
Teoria da Constituição. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 1999, p. 1.175), a proteção institucional dos direitos
fundamentais pode ser oferecida pelo Poder Judiciário (alternativa A), Tribunal de Contas (alternativa C) e
Funções Essenciais à Justiça, que, por sua vez, compreende a Defensoria Pública (alternativa B) e
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (alternativa D).

Dentro dessa perspectiva, a alternativa E há de ser assinalada.

Questão 4. O Direito Constitucional no Brasil, pós-Constituição de 1988, passou a preocupar-se com o


aperfeiçoamento dos direitos e das garantias fundamentais. Com base na Constituição Federal vigente,
assinale a alternativa correta:

a) É vedada qualquer legitimação de provas obtidas por meios ilícitos em processos administrativos ou
judiciais.

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b) Os direitos e as garantias fundamentais chegaram a tal nível de abrangência na previsão constitucional


que, de sua interpretação, é possível afirmar que não mais somente frente ao Estado, mas, agora também,
nas relações privadas, podem os cidadãos fazer valer suas garantias a fim de concretizar seus direitos
fundamentais.

c) Como importante mecanismo de garantia dos direitos sociais, os sindicatos brasileiros gozam de plena
autonomia quanto à sua organização, sendo vedado o exercício de atividade estatal em seu funcionamento
que vise a normatizar restrições à sua atuação, dentre outras, limites para o valor de suas contribuições
exigíveis de seus associados, necessidade de registro próprio que não os exigidos para qualquer associação
e a delimitação de sua base territorial.

d) São cassados os direitos políticos em decorrência do cancelamento da naturalização brasileira concedida


a estrangeiro, desde que decorrente de sentença transitada em julgado.

e) O cidadão brasileiro perderá sua nacionalidade se adquirir uma outra, salvo a hipótese
constitucionalmente prevista da segunda nacionalidade, voluntariamente requerida, quando for
reconhecida pela lei estrangeira. São os casos em que um indivíduo nasce no Brasil, de pais estrangeiros
que não estejam a serviço de seu País, e, no caso, este país estrangeiro adote o sistema de ius sanguinis.

Comentários

A questão gira em torno da horizontalidade, aplicação entre particulares ou eficácia nas relações privadas
dos direitos fundamentais.

Em razão disso, é possível afirmar que não mais somente frente ao Estado, mas também, nas relações
privadas, podem as pessoas fazer valer suas garantias a fim de concretizar seus direitos fundamentais,
motivo pelo qual deve o candidato assinalar a alternativa B.

JURISPRUDÊNCIA

“Segurança e saúde do trabalho decorrem de pacto internacional subscrito pelo Brasil, o qual
não faz distinção, para esse fim, entre setor público e privado. De outra parte, o princípio da
horizontalidade dos direitos fundamentais põe no costado, emparelhada, a proteção do
obreiro exercente de trabalho de qualquer natureza. Assim, o braço da regulamentação
apropriada, emitida pelo Ministério do Trabalho (...), com status de lei, em virtude do
fenômeno da deslegalização, em que o Poder Legislativo outorga a órgão técnico a atribuição
regulamentadora, alcança o setor público” (STF, Rcl-MC nº 44.008/PI, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, J. 22.10.2020, DJU 26.10.2020).

Questão 5. O jurista espanhol Antonio Enrique Perez Luño define os direitos fundamentais como um
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da
dignidade, igualdade e liberdade humanas, devendo obrigatoriamente ser reconhecidos no
ordenamento jurídico positivo e por este garantidos, em âmbito internacional e nacional, gozando no
ordenamento nacional de tutela reforçada em face dos poderes constituídos do Estado. No ordenamento
brasileiro, a tutela reforçada a que se refere o autor:
a) Não encontra previsão em nível constitucional.

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b) Decorre do princípio internacional do pacta sunt servanda.


c) Decorre da impossibilidade de o Congresso Nacional deliberar sobre proposta de emenda à Constituição
tendente a abolir os direitos fundamentais.
d) É considerada um desdobramento da aplicabilidade imediata e eficácia limitada das normas definidoras
de direitos fundamentais previstas na Constituição.
e) Não pode ser imposta ao poder constituinte derivado.

Comentários

A tutela reforçada dos direitos fundamentais de que trata Antonio Enrique Perez Luño (LUÑO, Antonio
Enrique Perez. Los Derechos Fundamentales. 5a ed. Madrid: Tecnos, 1993, p. 46-47) deriva da
impossibilidade de o Congresso Nacional deliberar sobre proposta de emenda à Constituição tendente a
abolir os direitos fundamentais.

Logo, revela-se correta a alternativa C.

Questão 6. Acerca das competências constitucionais, assinale a alternativa correta.


a) É constitucional norma que obrigue a manutenção de exemplar de determinado livro de cunho religioso
em unidades escolares e bibliotecas públicas estaduais.
b) É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o
sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.
c) É constitucional lei estadual que autoriza o Poder Executivo a cobrar um valor das concessionárias de
energia elétrica pela utilização das faixas de domínio e das áreas adjacentes às rodovias estaduais e
federais delegadas.
d) É constitucional lei estadual que proíbe as operadoras de planos de saúde de recusarem atendimento
aos usuários com suspeitas ou diagnosticados com Covid-19, em razão de prazo de carência dos contratos
firmados.
e) É inconstitucional a lei estadual que veicula proibição de suspensão do fornecimento do serviço de
energia elétrica, o modo de cobrança e pagamentos dos débitos e exigibilidade de multa e juros
moratórios, limitadas ao tempo da vigência do plano de contingência, em decorrência da pandemia de
Covid-19.

Comentários

A alternativa A está incorreta, nos termos da jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal. “É
inconstitucional, por ofensa aos princípios da isonomia, da liberdade religiosa e da laicidade do Estado,
norma que obrigue a manutenção de exemplar de determinado livro de cunho religioso em unidades
escolares e bibliotecas públicas estaduais.” (ADI 5.258, rel. min. Cármen Lúcia, j. 13-4-2021, P, DJE de 27-4-
2021)

A alternativa B é a correta, conforme fixado pelo STF no julgamento do RE 494.601: “É constitucional a lei
de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em

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cultos de religiões de matriz africana.” (RE 494.601, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 28-3-2019, P, DJE de
19-11-2019)

A alternativa C está incorreta. Conforme a jurisprudência do STF (ADI 3763), é inconstitucional lei estadual
que autoriza o Poder Executivo a cobrar um valor das concessionárias de energia elétrica pela utilização das
faixas de domínio e das áreas adjacentes às rodovias estaduais e federais delegadas. Isso porque a norma
estadual não pode onerar o contrato de concessão de energia elétrica firmado pela União em
decorrência da sua competência constitucional exclusiva (art. 21, XII, b, da CF/88).

A alternativa D está incorreta, uma vez que o STF (ADI 6493) entendeu que é inconstitucional lei estadual
que proíbe as operadoras de planos de saúde de recusarem atendimento aos usuários com suspeitas ou
diagnosticados com Covid-19, em razão de prazo de carência dos contratos firmados. A Suprema Corte
entendeu que a norma viola a competência privativa da União para legislar sobre direito civil e sobre
política de seguros.

A alternativa E também está incorreta, visto que o STF (ADI 6432) entendeu que são constitucionais as
normas estaduais que veiculam proibição de suspensão do fornecimento do serviço de energia elétrica, o
modo de cobrança e pagamentos dos débitos e exigibilidade de multa e juros moratórios, limitadas ao
tempo da vigência do plano de contingência, em decorrência da pandemia de Covid-19, por versarem,
essencialmente, sobre defesa e proteção dos direitos do consumidor e da saúde pública, matéria de
competência concorrente (art. 24, V e XII, da CF/88)

Gabarito: letra B.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. No terceiro setor da economia estão presentes as entidades privadas que atuam sem
finalidade lucrativa, visando garantir o interesse da sociedade, executando atividades de interesse social.
Assim, esse setor é composto por pessoas privadas que são incentivadas pelo Estado para exercerem
atividades de interesse público, podendo ser estimuladas por meio do fomento. Sobre as entidades do
terceiro setor, também chamadas de entidades paraestatais, é correto afirmar:
a) O foro competente para as causas que envolvem as entidades do serviço social autônomo é a justiça
estadual.
b) As organizações sociais interagem com a Administração Pública por meio do chamado “convênio de
fomento”, o qual deve prever os direitos e obrigações da entidade em vista dos objetivos públicos da
parceria.
c) O serviço social autônomo compreende as entidades particulares criadas por autorização legal para
execução de atividades de interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas sob a forma de
associação ou fundação, ou, ainda, por meio de estruturas não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei
específica da entidade. Essas entidades prestam serviço público delegado pelo Estado e a atuação estatal,
no caso, é de prestação de serviço público.
d) As entidades do terceiro setor integram a estrutura administrativa como entes da Administração Direta
ou Indireta.

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e) As entidades paraestatais são definidas como pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por
particulares, com autorização legislativa, para o desempenho de atividades de interesse público, mediante
fomento e controle pelo Estado.

Comentários

Gabarito: A.

A-CORRETA.

A súmula 516 do Supremo Tribunal Federal estabelece que "O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito
a jurisdição da justiça estadual".

B-INCORRETA.

Art. 5º, Lei nº 9637/1998. Para os efeitos desta Lei, entende-se por CONTRATO DE GESTÃO o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de
parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1º.

C-INCORRETA.

O serviço social autônomo compreende as entidades particulares criadas por autorização legal para
execução de atividades de interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas sob a forma de
associação ou fundação, ou, ainda, por meio de estruturas não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei
específica da entidade. É muito comum a atuação dessas entidades nas atividades de assistência social,
médica, de auxílio a categorias profissionais e de ensino. Forma o chamado Sistema "S" e inclui entidades
como: o SESI (Serviço Social da Indústria), SESC (Serviço Social do Comércio), SENAI (Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), entre outras criadas por
meio de autorização legislativa.

ESSAS ENTIDADES NÃO PRESTAM SERVIÇO PÚBLICO DELEGADO PELO ESTADO, MAS ATIVIDADE DE
INTERESSE PÚBLICO (SERVIÇOS NÃO EXCLUSIVOS DO ESTADO). É por esse motivo que são incentivadas pelo
Poder Público. A ATUAÇÃO ESTATAL, NO CASO, É DE FOMENTO e não de prestação de serviço público.

D-INCORRETA.

As entidades do terceiro setor NÃO INTEGRAM a estrutura administrativa como entes da Administração
Direta ou Indireta.

E-INCORRETA.

Acerca da expressão “entidades paraestatais”, Di Pietro leciona que estas “são definidas como pessoas
jurídicas de direito privado, instituídas por particulares, COM OU SEM AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA, para o
desempenho de atividades de interesse público, mediante fomento e controle pelo Estado” (DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32. Ed. Rev. Atual e Ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2019).

Questão 2. Com relação aos atos administrativos é correto afirmar:

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a) A avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para si o exercício das
funções que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.
b) Todo ato administrativo possui 4 elementos essenciais: competência, finalidade, motivo e forma.
c) A doutrina desdobra a autoexecutoriedade em dois atributos, são eles: a exigibilidade e a
executoriedade. A executoriedade está presente quando a Administração pode usar meios indiretos de
coação, como aplicação de multas ou de outras penalidades.
d) O atributo da imperatividade existe em todos os atos administrativos.
e) A presunção de legitimidade e de veracidade do ato administrativo, quanto aos fatos, aplica-se quando o
particular invocar perante o Judiciário a invalidade do procedimento administrativo anterior ao ato
questionado, apontando vícios na atuação administrativa.

Comentários

Gabarito: A.

A-CORRETA.

A avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para si o exercício das funções
que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.

É medida de caráter excepcional, devendo ser feita apenas temporariamente e por motivos relevantes
devidamente justificados. Também não é possível quando se tratar de competência exclusiva do
subordinado.

B-INCORRETA.

Todo ato administrativo possui 5 elementos essenciais: competência, finalidade, motivo, OBJETO e forma.

C-INCORRETA.

A doutrina desdobra a autoexecutoriedade em dois atributos, são eles:

Exigibilidade: a Administração pode usar meios indiretos de coação, como aplicação de multas ou de outras
penalidades; e

Executoriedade: é a possibilidade de a própria Administração praticar o ato ou compelir, direta e


materialmente, o administrado a praticá-lo. Emprega meios diretos, como: demolição de obra irregular e
dissipação de passeata.

D-INCORRETA.

O atributo da imperatividade não existe em todos os atos administrativos, mas apenas nos que impõem
obrigações e restrições, atos que consubstanciam um provimento ou uma ordem administrativa, tais como
regulamentos, portarias e interdição de estabelecimentos ou atividades. Não estando, assim, presente nos
atos enunciativos e nem no que conferem direitos.

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E-INCORRETA.

Um dos efeitos dessas presunções é o de permitir que o ato opere efeitos imediatos (operatividade), ainda
que eivados de vícios ou defeitos. Outro efeito é a inversão do ônus da prova, assim, quem deve
demonstrar a existência de vício no ato é o administrado e não a Administração. Entretanto, essa inversão
do ônus da prova não exime a Administração de, caso requisitada pelo Judiciário, apresentar informações e
documentos que comprovem a correspondência do ato à realidade e à veracidade dos fatos.

Questão 3. Sobre a intervenção e restrição do Estado na propriedade privada, assinale a alternativa que
está em conformidade com a legislação vigente:
a) Compete aos Municípios desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
b) Quanto a desapropriação por utilidade pública, a desapropriação irá abranger somente a área necessária
para a realização da obra a que se destina o ato, não sendo incorporadas a isso áreas que valorizem por
consequência do serviço.
c) Sobre a desapropriação por interesse social, expropriante tem o prazo de 2 (dois) anos, a partir da
decretação da desapropriação por interesse social, para efetivar a aludida desapropriação e iniciar as
providências de aproveitamento do bem expropriado.
d) Os bens desapropriados não serão objeto de venda ou locação, mesmo que seja a alguém com
condições de dar-lhes a destinação social prevista.
e) A declaração de utilidade pública só poderá ser feita pelo Presidente da República, ainda que se trate de
ato emergencial.

Comentários

Gabarito: C.

A-INCORRETA.

A competência é da União e não do Município, nos termos do art. 184, CF: Art. 184. Compete à União
desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo
sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão,
e cuja utilização será definida em lei.

B-INCORRETA.

art. 4º do Decreto-lei 3.365/41: “A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao


desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em
consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá
compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam à
revenda."

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C- CORRETA.

A Lei 4.132/1962 trata do tema desapropriação por interesse social.

Art. 3º, Lei 4.132/1962. O expropriante tem o prazo de 2 (dois) anos, a partir da decretação da
desapropriação por interesse social, para efetivar a aludida desapropriação e iniciar as providências de
aproveitamento do bem expropriado.

D-INCORRETA.

Art. 4º, Lei 4.132/1962. Os bens desapropriados serão objeto de venda ou locação, a quem estiver em
condições de dar-lhes a destinação social prevista.

E-INCORRETA.

A declaração de utilidade pública pode ser efetivada por todos os Chefes do Executivo, na forma do art. 6º
do Decreto-lei 3.365/41, inclusive pela figura do interventor.

Art. 6º, Decreto-lei 3.365/41. A declaração de utilidade pública far-se-á por decreto do Presidente da
República, Governador, Interventor ou Prefeito.

OBS: Não confundir com a competência privativa da União de legislar sobre o tema "desapropriação". (Art.
22, II, CF/88). 019).

Questão 4. Quanto aos serviços públicos, julgue os itens a seguir:


I- O serviço público é uma espécie de atividade econômica em sentido amplo, pois destina-se à circulação
de bens e/ou serviços do produtor ao consumidor final, mas não se confunde com as atividades
econômicas em sentido estrito, tendo em vista o objetivo do serviço público (interesse público) e a
titularidade do Estado.
II- A Constituição Federal prevê que incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o
regime de concessão, permissão ou autorização, a prestação de serviços públicos, sempre mediante
licitação.
III- A Lei 13.460/2017, que estabelece as regras de proteção, participação e defesa dos usuários de serviços
públicos, não afasta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor quando caracterizada relação de
consumo.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II
b) I
c) II e III
d) I e III
e) Apenas o item I

Comentários

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I- CORRETO. Transcrição literal de trecho do livro do ex-Ministro Eros Roberto Grau .

II- INCORRETO. Não obstante o tema ser altamente controvertido em doutrina, a assertiva está em
desacordo com o previsto no art. 175 da Constituição Federal, que não traz o instrumento da “autorização”
como apto a prestação de serviços públicos. Sendo assim, nessas ocasiões, em provas objetivas, é
recomendável se ater ao texto literal da lei/Constituição. “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da
lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de
serviços públicos”.

III- CORRETO. A Lei 13.460/2017 é novidade legislativa que tem grande potencial para ser cobrada em
provas objetivas. Conforme previsto no artigo 1º, §2º, II, da Lei 13.460/17, “§2º, A aplicação desta Lei não
afasta a necessidade de cumprimento do disposto: II - na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quando
caracterizada relação de consumo”.

Questão 5. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) O direito à boa administração é consagrado na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.
b) A ideia de boa administração contrapõe-se à de má administração, compreendida de modo
exemplificativo, abrangendo situações como irregularidades e omissões administrativas, abusos de poder,
favoritismos, atrasos injustificados, ausência de informação.
c) O direito à boa administração pode abranger posições defensivas por parte dos cidadãos,
compreendendo, por exemplo, o direito a se manifestar, antes de qualquer medida ou decisão
desfavorável que venha a lhe afetar.
d) Assim como ocorre na Constituição da República Portuguesa de 1976, o direito fundamental à boa
administração é consagrado expressamente na Constituição brasileira de 1988.

Comentários

Letra A. Correta. A formulação do direito à boa administração, no âmbito do Direito Europeu, está contida
no artigo 41 da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, com a seguinte redação:

1. Toda pessoa tem direito a que as instituições e órgãos da União tratem de seus assuntos de forma
imparcial e equitativa e dentro de um prazo razoável

2. Este direito inclui em particular: - o direito de toda pessoa de ser ouvida antes que se tome contra ela
uma medida individual que lhe afete desfavoravelmente; - o direito que toda pessoa a ter acesso a
expediente que lhe afete, dentro do respeito aos interesses legítimos da confidencialidade e do segredo
profissional e comercial; -a obrigação que incumbe à Administração de motivar suas decisões.

3. Toda pessoa tem direito à reparação pela Comunidade pelos danos causados por suas instituições ou
seus agentes no exercício de suas funções, em conformidade com os princípios gerais comuns aos Direitos
dos Estados membros.

4. Toda pessoa poderá dirigir-se às instituições da União em uma das línguas dos Tratados e deverá receber
uma contestação na mesma língua.

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Letra B. Correta. De fato, a ideia de boa administração contrapõe-se à de má administração,


compreendida, num primeiro momento, consoante explicam alguns estudiosos, de modo exemplificativo,
abrangendo situações como irregularidades e omissões administrativas, abusos de poder, favoritismos,
atrasos injustificados, ausência de informação etc.

Letra C. Correta. O direito fundamental à boa administração, da maneira como consagrado no âmbito dos
órgãos e instituições da União Europeia, abrange posições defensivas por parte dos cidadãos,
compreendendo o direito a se manifestar, antes de qualquer medida ou decisão desfavorável que venha a
lhe afetar, o direito ao acesso a expedientes e documentos que se encontrem em poder dos órgãos
comunitários; o direito à reparação por danos causados por esses últimos, e por fim, o direito a dirigir-se
aos órgãos da União Europeia na linguagem de seu Estado-membro.

Letra D. INCORRETA. A Constituição da República Portuguesa de 1976 não consagra expressamente um


direito fundamental à boa administração, muito embora diversas previsões sejam formas de sua
concretização. A Constituição brasileira de 1988 também não contém expressamente a previsão do
referido direito.

Questão 6. Julgue os itens:


I – O princípio da supremacia do interesse público sobre o particular não está expresso na Constituição
Federal, mas é implicitamente dela extraído.
II – Inspirador tanto do legislador, no momento da elaboração da lei, quanto do administrador público, na
execução das atividades estatais, o princípio da supremacia do interesse público é uma reação contra o
individualismo jurídico e instrumento necessário para a consecução do bem-estar coletivo.
III – Por força do princípio da supremacia do interesse público, a Administração Pública é dotada de
prerrogativas, situando-se em posição privilegiada quando se relaciona com os particulares.
IV – Ao praticar atos administrativos, a autoridade pública deve se nortear pelo interesse público, e não
pelas suas próprias vontades, sob pena de se caracterizar o desvio de poder ou de finalidade.
Estão corretos:
a) Todos os itens.
b) Os itens II e IV, somente.
c) Os itens I e III, somente.
d) Os itens I, II e III, somente.
e) Os itens II, III e IV, somente.

Comentários

Item I. Correto. Segundo a doutrina – a exemplo de Ricardo Alexandre e João de Deus –, o princípio da
supremacia do interesse público sobre o particular não está expresso na Constituição Federal, mas é
implicitamente dela extraído, a partir de uma interpretação sistemática que abrange diversos dispositivos.

Item II. Correto. A assertiva está correta, pois reproduz as lições doutrinárias. Com efeito, inspirador tanto
do legislador, no momento da elaboração da lei, quanto do administrador público, na execução das

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atividades estatais, o princípio da supremacia do interesse público é uma reação contra o individualismo
jurídico e instrumento necessário para a consecução do bem-estar coletivo.

Itens III e IV. Corretos. Ao praticar atos administrativos, a autoridade pública deve se nortear pelo
interesse público, e não pelas suas próprias vontades, sob pena de se caracterizar o desvio de poder ou de
finalidade. Ademais, os interesses da sociedade devem prevalecer diante de necessidades específicas do
particular, individualmente considerado. Por isso a Administração Pública é dotada de prerrogativas,
situando-se em posição privilegiada quando se relaciona com os particulares. São exemplos as cláusulas
exorbitantes dos contratos administrativos, as garantias dos bens públicos, os prazos diferenciados na
atuação da Fazenda Pública em juízo e as modalidades de intervenção do Estado na propriedade privada.

Alternativa CORRETA: Letra A. Estão corretos todos os itens.

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. No âmbito da sucessão provisória dos bens do ausente, é sabido que, decorrido um ano de
sua arrecadação ou, se aquele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, podem os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Para tais efeitos,
consideram-se interessados, exceto:
a) O cônjuge não separado judicialmente.
b) O curador nomeado pelo juiz para administração dos bens do ausente.
c) Os credores de obrigações vencidas e não pagas.
d) Os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários.
e) Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte.

Comentários

A alternativa B é a falsa, porque o curador nomeado pelo juiz para administração dos bens do ausente, na
primeira fase do procedimento, não se encontra no rol dos interessados a requerer a abertura da sucessão
provisória, nos termos do artigo 27 do Código Civil.

Questão 2. No que tange ao direito das sucessões, assinale a alternativa correta:


a) O direito à sucessão aberta e o quinhão de que disponha o co-herdeiro não podem ser objeto de cessão
enquanto pendente a indivisibilidade.
b) Enquanto não prestado compromisso pelo inventariante, a administração da herança caberá ao cônjuge
ou companheiro do de cujus, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão, salvo se a posse e
a administração dos bens já se encontrarem em poder de outro herdeiro.
c) O co-herdeiro a quem não se der conhecimento da cessão de quota por outro para pessoa estranha à
sucessão poderá, a qualquer tempo, haver para si a quota cedida, depositando o respectivo preço, tanto
por tanto, desde que ainda não homologada a partilha.
d) Os herdeiros possuem legitimidade ativa para atuarem diretamente em juízo em ações de direito real,
enquanto não aberto o inventário, por aplicação do princípio de saisine.

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e) Até a abertura do inventário, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, não
pode ser objeto de divisão.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública, com fulcro no artigo 1.793, “caput”, do Código
Civil. Em verdade, o que se considera ineficaz é a cessão pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente ou mesmo a disposição, sem prévia autorização do
juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a
indivisibilidade (art. 1.793, §2º e §3º, CC).

A alternativa B é falsa, porque até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,


sucessivamente, ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão;
ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao
mais velho, de acordo com o artigo 1.797, I e II, do Código Civil.

A alternativa C é falsa, porque o co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a
transmissão, com base no artigo 1.795, “caput”, do Código Civil.

A alternativa D é verdadeira, pois reproduz fielmente teor do Enunciado nº 03 da Edição 133 das
Jurisprudências em Tese do Superior Tribunal de Justiça. No mesmo sentido, apresentam-se os seguintes
acórdãos:

REsp 1773822/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2019,
DJe 13/08/2019
REsp 1373569/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2018,
DJe 04/02/2019
REsp 1117018/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe
14/06/2017
AgRg no REsp 1404889/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/06/2015, DJe 05/08/2015
REsp 623511/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/05/2005, DJ
06/06/2005 p. 186

A alternativa E é falsa, porque até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. É o que prevê o artigo 1.791,
parágrafo único, do Código Civil.

Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética: Fernando é proprietário de um imóvel situado no


bairro Alfa de determinado município. No ano 2015, visando à segurança da população, em virtude do
aumento da ocorrência de crimes no local, parcela dos moradores do bairro constituiu uma associação e
transmudou o perímetro da respectiva área populacional em um loteamento imobiliário urbano,
cumprindo-se todas as exigências legais e cartorárias para tanto. Ocorre que Fernando, que há muito
residia no local, não aderiu à ideia e se negou a pagar as taxas de manutenção e conservação exigidas

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pela associação, o que ensejou o ajuizamento de ação de cobrança em seu desfavor. Já no ano 2020,
Roberta adquiriu imóvel no mesmo bairro, porém, sabedora de que Fernando não pagava qualquer
despesa relativa ao condomínio, negou-se também a adimplir qualquer taxa de mesma espécie. No
âmbito municipal, jamais houve lei que disciplinasse o referido tipo de loteamento. Com base nessa
situação e considerando o advento da lei federal 13.465/17, que, dentre outros temas alusivos à
regularização fundiária, regulamentou a modalidade de loteamento nominada “de acesso controlado”,
marque a alternativa correta:
a) Ainda que não formalmente vinculado, não pode Fernando, enquanto proprietário de imóvel a quem se
aproveitam os serviços condominiais, tais como vigilância e instalação de portaria, esquivar-se do
pagamento das respectivas taxas, sob pena de enriquecimento sem causa.
b) Tendo em vista a liberdade contratual nas relações civis e a garantia constitucional de que ninguém
pode ser compelido a se associar, encontram-se tanto Fernando quanto Roberta desobrigados do
pagamento das despesas relativas ao condomínio.
c) Apesar da existência fática de um condomínio, não podem Fernando e Roberta serem compelidos ao
pagamento das taxas condominiais, visto que não há, no caso em espécie, edição de lei pelo ente municipal
a disciplinar a matéria, a quem compete legislar sobre uso, parcelamento e ocupação do solo urbano.
d) Embora não associado, encontra-se Fernando obrigado ao pagamento das taxas condominiais a partir do
advento da Lei federal 13.465/17, a qual, a fim de conferir tratamento igualitário entre os condôminos de
fato e evitar o enriquecimento sem causa, impôs, em caráter ex nunc, a cotização de todos os proprietários
de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado. Em relação a
Roberta, faz-se certa a sua obrigação de pagar, haja vista a data da aquisição do imóvel e a vigência da
mencionada lei.
e) É inconstitucional a cobrança das taxas de conservação e manutenção do condomínio em face de
Fernando, mesmo com o advento da lei federal 13.465/17, uma vez que ele não aderiu ao ato constitutivo
da associação. Lado outro, é plenamente cabível a cobrança das despesas condominiais em relação a
Roberta, dado que, quando da aquisição do lote, já se encontrava constituído o loteamento de acesso
controlado, com o registro do ato constitutivo no competente Cartório de Registro Imobiliário.

Comentários

A alternativa E é a verdadeira, porque “é inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de


manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento
da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna
possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de
acesso controlado, que:

i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou

ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente
Registro de Imóveis”.

STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492)
(Info 1003).

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Questão 4. De acordo com as disposições da Lei 6.766/79, pode-se afirmar que constitui requisito
urbanístico para o loteamento:
a) As áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem
como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano
diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem.
b) Ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a
reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 10 (dez) metros de cada lado.
c) Os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5
(cinco) metros, independentemente da destinação do loteamento.
d) Ao longo das faixas de domínio público das rodovias, será obrigatória a reserva de faixa não edificável
de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado, a qual não pode ser reduzida por lei municipal ou distrital.
e) Ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva
de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado, que poderá ser reduzida por
lei municipal ou distrital que aprovar o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5
(cinco) metros de cada lado.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 4º, “caput”, I, da Lei 6.766/79.

A alternativa B é falsa, porque ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das
ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada
lado, nos termos do artigo 4º, “caput”, III-A, da Lei 6.766/79.

A alternativa C é falsa, porque os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros
quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a urbanização
específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos
órgãos públicos competentes, com amparo no artigo 4º, “caput”, II, da Lei 6.766/79.

A alternativa D é falsa, porque ao longo das faixas de domínio público das rodovias, a reserva de faixa não
edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado poderá ser reduzida por lei municipal ou distrital
que aprovar o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5 (cinco) metros de cada
lado.

A alternativa E é falsa, porque ao longo das águas correntes e dormentes e da faixa de domínio das
ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada
lado (art. 4º, “caput”, III-A, da Lei 6.766/79). A lei não aborda a possibilidade de redução da área mínima
não edificável nesta hipótese, tal como faz em relação à reserva mínima de faixa não edificável ao longo
das faixas de domínio público das rodovias.

Questão 5. Acerca do processo de tomada de decisão apoiada, assinale a alternativa correta:


a) Trata-se de instituto destinado à representação da pessoa com deficiência, com vistas a suprir a sua
incapacidade relativa e lhe fornecer elementos e informações necessários para a prática dos atos da vida
civil.

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b) O apoiador pode, a qualquer tempo, desligar-se do processo de tomada de decisão apoiada,


independentemente de pronunciamento judicial, contanto que indique, desde logo, pessoa idônea a
prestar o apoio em seu lugar, sem embargo da subsistência de seu compromisso para a prática de atos
urgentes que possam ser prejudicados pelo desligamento.
c) É o processo pelo qual são nomeadas duas pessoas idôneas da confiança do juízo para prestar apoio à
pessoa com deficiência na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.
d) Considerando que a pessoa com deficiência a ser apoiada não se trata de pessoa incapaz, à luz da
modificação provocada pela Lei Brasileira de Inclusão nº 13.146/2015 na teoria das incapacidades, faz-se
desnecessária a intervenção ou oitiva do Ministério Público nas demandas dessa natureza.
e) A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem quaisquer restrições,
desde que inserida nos limites do apoio acordado.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque a tomada de decisão apoiada não se trata de instituto de representação,
mesmo porque não se fala, neste caso, na incapacidade da pessoa com deficiência, mas de instrumento de
prestação de apoio a esta na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade, conforme o artigo 1.783-A, “caput”, do
Código Civil. Aliás, o artigo 6º, “caput”, do Estatuto da Pessoa com Deficiência dispõe que a deficiência não
afeta a plena capacidade civil da pessoa. Ademais, à pessoa com deficiência é facultada a adoção de
processo de tomada de decisão apoiada, nos moldes do artigo 84, §2º, do mesmo diploma legal.

A alternativa B é falsa, porque o apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo
de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a
matéria, na forma do artigo 1.783-A, §10º, do Código Civil.

A alternativa C é falsa, porque os apoiadores são pessoas que mantêm vínculos e gozem da confiança da
pessoa com deficiência, por ela eleitas, e não necessariamente da confiança pessoal do juízo. É o que
mostra o artigo 1.783-A, “caput”, do Código Civil: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a
pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que
gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-
lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

A alternativa D é falsa, porque, ainda que não se trate o apoiado de pessoa incapaz, justamente em razão
da nova roupagem adotada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, a participação, intervenção e oitiva
do Ministério Público possui previsão legal específica no capítulo concernente ao tema da tomada de
decisão apoiada na codificação, em consonância com o artigo 1.783-A, §3º, §6º e §7º, do Código Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque em exata reprodução do artigo 1.783-A, §4º, do Código Civil.

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2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Como reafirmação da necessidade de rigorosa observância do princípio do contraditório, o
legislador processual civil vedou a prolação de decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida, evitando-se, assim, as designadas “decisões-surpresas”. Entretanto, existem
determinadas situações que, por sua urgência ou evidência, autorizam ou até mesmo reclamam a
excepcionalidade dessa exigência, de modo não a anular, mas a postergar o contraditório. Entre tais
hipóteses excepcionais somente não se insere:
a) O deferimento da expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de
obrigação de fazer ou de não fazer, no âmbito da ação monitória, em sendo evidente o direito do autor.
b) Quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
c) Quando a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito
do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
d) Quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo e for, portanto, cabível a concessão da tutela provisória de urgência, cautelar ou
antecipada.
e) Quando se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa.

Comentários

A alternativa A está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à decisão prevista no artigo 701. Bem assim, o artigo 701, “caput”, do CPC consigna
que, inserido no capítulo alusivo à ação monitória, dispõe que, sendo evidente o direito do autor, o juiz
deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de
fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de
honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.

A alternativa B está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, I, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à tutela provisória de urgência.

A alternativa C é incorreta, porque a referida hipótese não se insere nos casos de tutela de evidência
previstos no artigo 9º, parágrafo único, II, do Código de Processo Civil, a autorizar a excepcionalidade de
dispensa da oitiva prévia, mesmo porque, estando prevista no artigo 311, IV, do mesmo diploma legal,
pressupõe, naturalmente, ao deferimento da tutela de evidência, a atuação prévia do requerido, ao
consignar em sua parte final: “a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável”.

A alternativa D está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à hipótese de tutela de evidência prevista no artigo 311, II, do mesmo diploma legal.

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A alternativa E está correta, porque preceitua o artigo 9º, parágrafo único, III, do Código de Processo Civil,
que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida, mas que essa
vedação não se aplica à hipótese de tutela de evidência prevista no artigo 311, III, do mesmo diploma legal.

Questão 2. Segundo a codificação processual civil, não podem depor como testemunhas:
a) As pessoas que, por estado ou profissão, devam guardar sigilo sobre os fatos.
b) Os que possuem interesse no litígio.
c) Os mudos e os surdos, salvo quando a deficiência não comprometer a possibilidade de comunicação por
outro recurso ou linguagem não verbal.
d) As pessoas cujos cônjuges ou companheiros e parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, possam sofrer grave dano em razão da exposição dos fatos.
e) O tutor e o advogado da parte, ressalvada a hipótese em que, quando da prestação do depoimento, não
mais a assistam.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque, neste caso, inexiste a obrigação de depor, mas não há óbice, no plano da
sistemática processual civil, a que o faça. Preceitua o artigo 448 do Código de Processo Civil que a
testemunha não é obrigada a depor sobre fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar
sigilo.

A alternativa B é verdadeira, porque, nos moldes do artigo 447, “caput”, do Código de Processo Civil,
podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. Nesse
sentido, consigna o §3º, II, do mesmo dispositivo, que é suspeito o que tiver interesse no litígio.

A alternativa C é falsa, porque o codex processual civil não prevê óbice a que o mudo preste depoimento.
Quanto aos surdos, somente figuram como incapazes de depor – de acordo com a terminologia literal
empregada pelo diploma processual – quando a ciência do fato depender do sentido que lhe falta e não de
forma generalizada, na forma do artigo 447, §1º, IV, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é falsa, porque, neste caso, inexiste a obrigação de depor, mas não há óbice, no plano da
sistemática processual civil, a que o faça. Bem assim, prevê o artigo 448, I, do Código de Processo Civil, que
a testemunha não é obrigada a depor sobre fatos que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge
ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau.

A alternativa E é falsa, porque, nos moldes do artigo 447, “caput”, do Código de Processo Civil, podem
depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. Nesse sentido, é
impedido aquele que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da pessoa
jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes, com fulcro no §2º, III, do
mesmo artigo.

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Questão 3. Considerando o entendimento atual dos Tribunais Superiores sobre a admissibilidade de


intervenção de terceiros no procedimento alusivo ao mandado de segurança, marque a alternativa
correta:
a) É cabível a intervenção de assistente, simples ou litisconsorcial, em qualquer procedimento judicial,
inclusive em mandado de segurança.
b) Admite-se a intervenção de terceiros no mandado de segurança sob qualquer modalidade prevista na
codificação processual, tendo em vista a ausência de vedação legal, desde que dela não resulte embaraço
ao processamento da pretensão do impetrante.
c) O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros, ainda
que na modalidade de assistência litisconsorcial.
d) No âmbito do mandado de segurança, não se confere a possibilidade de formação de litisconsórcio.
e) A possibilidade de intervenção de terceiros no mandado de segurança restringe-se à modalidade do
amicus curie, dado que esta se presta, na essência, a fornecer subsídio às decisões do órgão julgador, por
meio de amparo especializado, e não enseja, propriamente, a dilatação dos elementos subjetivos da ação.

Comentários

A alternativa C é a verdadeira. Confira-se:

“O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de


terceiros, conforme se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de
assistência litisconsorcial”.
STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em
28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE
06/11/2020.

Tal entendimento já descarta, de única vez, o disposto nas alternativas A, B e E, tornando-as falsas. A
alternativa D, a seu turno, é falsa, porque consigna o artigo 24 da Lei 12.016/09 que se aplicam ao
mandado de segurança os arts. 46 a 49 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil,
dispositivos relacionados ao instituto do litisconsórcio, atualmente regulado pelos artigos 113 a 117 do
Código de Processo Civil de 2015. Vale lembrar que o litisconsórcio não se confunde com as hipóteses de
intervenção de terceiros, porquanto se trata de pluralidade de partes em um dos polos da ação.

Questão 4. Em relação à técnica de julgamento ampliado em caso de resultado não unânime, é correto
afirmar:
a) Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento do art. 942
do CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada no julgamento da apelação.
b) Os julgadores que já tiverem votado não poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do
julgamento com colegiado ampliado.
c) A técnica de julgamento ampliado será aplicada nos casos de remessa necessária quando o julgamento
não unânime reformar a sentença de mérito.

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d) Em caso de decisão não unânime proferida em incidente de resolução de demandas repetitivas


submetido a julgamento na corte especial, a competência será do plenário do Tribunal.
e) Sua aplicação ocorrerá no recurso de apelação, na ação rescisória julgada procedente e no agravo de
instrumento que reforma decisão que julga parcialmente o mérito.

Comentários

A. Errada. Conforme demonstrado no tópico acima, a técnica de ampliação de julgamento prevista no art.
942 do CPC/2015 deve ser utilizada quando o resultado da apelação for não unânime, independentemente
de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença impugnada (STJ. 4ª Turma. REsp 1733820-SC, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 639).

B. Errada.

Art. 942,§ 2o Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do
prosseguimento do julgamento.

C. Errada.

Art. 942,§ 4o Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:

I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;

II - da remessa necessária;

III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

D. Errada.

Art. 942,§ 4o Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:

I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;

II - da remessa necessária;

III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

E. Correta.

Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento
em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos
termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o
direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.

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§ 1o Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão, colhendo-se


os votos de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado.

§ 3o A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não


unânime proferido em:

I - ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;

II - agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o


mérito.

§ 4o Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:

I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;


(alternativa D incorreta)

II - da remessa necessária; (alternativa C incorreta)

III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

Questão 5. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:


I) Em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Nesse
caso, o STJ entende que qualquer das partes na demanda pode requerer a prioridade, e não apenas a
pessoa idosa beneficiária da mesma.
II) Os procedimentos regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
III) em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7
de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).
a) I e III.
b) II e III.
c) II, apenas.
d) I, apenas
e) nenhuma das anteriores
Comentários

I. Errado.

CPC, Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:

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I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º,
inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988 ;

§ 1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá


requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório
do juízo as providências a serem cumpridas.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO. TRAMITAÇÃO. PRIORIDADE. IDOSO. LEGITIMIDADE. ART. 71 DA


LEI Nº 10.471/2003. ESTATUTO DO IDOSO. ART. 1.048 DO CPC/2015. REQUERIMENTO.
CONCESSÃO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a
definir quem legitimamente pode postular a prioridade de tramitação do feito atribuída por lei
ao idoso. 3. A prioridade na tramitação do feito é garantida à pessoa com idade igual ou
==10be0c==

superior a 60 (sessenta) anos que figura como parte ou interveniente na relação processual
(arts. 71 da Lei nº 10. 471/2003 e 1.048 do CPC/2015). 4. A pessoa idosa é a parte legítima para
requerer a prioridade de tramitação do processo, devendo, para tanto, fazer prova da sua
idade. 5. Na hipótese dos autos, a exequente - pessoa jurídica - postula a prioridade na
tramitação da execução de título extrajudicial pelo fato de um dos executados ser pessoa idosa,
faltando-lhe, portanto, legitimidade e interesse para formular o referido pedido. 6. Recurso
especial não provido. (REsp 1801884/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 21/05/2019, DJe 30/05/2019)

II. Correto.

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:

(...)

II - regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

III. Correto.

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:

III - em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340,
de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

Questão 6. Considerando o entendimento dos Tribunais Superiores a respeito dos recursos, pode-se
corretamente afirmar:
a) Configura erro grosseiro que impede a aplicação do princípio da fungibilidade a interposição de agravo
em recurso extraordinário quando cabível agravo interno contra a decisão que nega seguimento ao recurso
extraordinário observando a sistemática da repercussão geral.
b) Não comprovação da divergência constitui vício que permite a complementação da fundamentação
prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015.

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c) Não é possível a conversão dos embargos de declaração em agravo interno, ainda quando houver nítido
pleito de reforma do julgamento.
d) Em nenhuma hipótese consideram-se prequestionados os fundamentos adotados nas razões de
apelação e desprezados no julgamento do respectivo recurso.
e) “Despacho” que intima o advogado para que o devedor cumpra obrigação de fazer, sob pena de multa,
não pode ser impugnado por meio de recurso.
Comentários
A. Correta.

AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO A RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. MANIFESTO DESCABIMENTO. NÃO CONHECIMENTO DO RECLAMO. 1. Nos
termos do art. 1.030, § 2º, do Código de Processo Civil, é cabível agravo interno contra a
decisão que nega seguimento ao recurso extraordinário, observando a sistemática da
repercussão geral. 2. A interposição de agravo em recurso extraordinário contra o referido
pronunciamento judicial configura erro grosseiro, impedindo a aplicação do princípio da
fungibilidade. Precedentes do STJ e do STF. 3. Recurso não conhecido. (STJ; ARE-RE-EDcl-AgInt-
AREsp 939.065; Proc. 2016/0162047-1; RS; Corte Especial; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE
18/12/2020)

HABEAS CORPUS – PRESSUPOSTOS RECURSAIS – CABIMENTO. Em jogo a liberdade de ir e vir,


não se tem como deixar de adentrar a matéria versada no habeas, pouco importando que
direcione à análise de pressupostos recursais. RECURSO EXTRAORDINÁRIO –INADMISSÃO –
REPERCUSSÃO GERAL – IMPUGNAÇÃO – AGRAVO – ERRO GROSSEIRO. A decisão mediante a
qual, observada a sistemática da repercussão geral, inadmitido recurso mostra-se impugnável
por meio de agravo interno, a teor do artigo 1.030, § 2º, do Código de Processo Civil,
constituindo erro grosseiro a interposição de agravo visando dar sequência ao extraordinário.
COISA JULGADA – RECURSO INADMISSÍVEL. A interposição de recurso inadmissível não impede
a formação da coisa julgada. Precedentes: habeas corpus nº 150.718, Primeira Turma, de minha
relatoria e habeas corpus nº 113.558, Segunda Turma, relator ministro Gilmar Mendes. (HC
154737, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 29/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 15-07-2020 PUBLIC 16- 07-2020)

B. Errada. A não comprovação da divergência constitui vício substancial que não permite a
complementação da fundamentação prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015.

AGRAVO INTERNO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ACÓRDÃOS PARADIGMAS.AUSÊNCIA DE


JUNTADA DO INTEIRO TEOR. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. VÍCIO
SUBSTANCIAL. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

1. Os embargos de divergência ostentam característica de recurso de fundamentação


vinculada, a teor do que dispõem os arts. 1.043 e 1.044 do CPC, os quais exigem, como
pressuposto indispensável, a demonstração de divergência jurisprudencial entre os órgãos
fracionários. Sua finalidade precípua consiste em dirimir dissídio decorrente da interpretação
da legislação federal existente entre julgados proferidos nesta Corte Superior, não servindo

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para nova discussão acerca da utilização ou não de regra técnica de admissibilidade ou


conhecimento do recurso especial, ocorrida no caso concreto e devidamente chancelada pelo
respectivo órgão fracionário.

2. Segundo a jurisprudência desta Corte Especial, interpretando § 4º do art. 1.043 do CPC e o


art. 266, § 4º, do RISTJ, configura pressuposto indispensável para a comprovação ou
configuração da alegada divergência jurisprudencial a adoção pela parte recorrente, na
petição dos embargos de divergência, de uma das seguintes providências, quanto aos
paradigmas indicados: (a) a juntada de certidões; (b) apresentação de cópias do inteiro teor
dos acórdãos apontados; (c) a citação do repositório oficial, autorizado ou credenciado nos
quais eles se achem publicados, inclusive em mídia eletrônica; e (d) a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com a indicação da respectiva fonte na
Internet.

3. Na hipótese em exame, o ora agravante não instruiu os embargos de divergência com o


inteiro teor dos acórdãos paradigmas, não restando configurada a divergência jurisprudencial
atual.

4. A ausência de demonstração do dissídio alegado no recurso uniformizador - nos moldes


exigidos pelo artigo 1.043, § 4º, do CPC e pelo artigo 266, § 4º, do RISTJ - constitui vício
substancial, resultante da inobservância do rigor técnico exigido na interposição do presente
recurso, apresentando-se, pois, descabida a incidência do parágrafo único do artigo 932 do
CPC, para complementação de fundamentação.

5. Não restando configurada a divergência jurisprudencial, não há falar em em dissídio notório,


hipótese na qual eventual mitigação dos pressupostos recursais recairia sobre a exigência de
realização do cotejo analítico.

6. Agravo interno desprovido.

(AgInt nos EAREsp 1414158/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, CORTE ESPECIAL, julgado em
01/12/2020, DJe 07/12/2020)

C. Errada.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RECEBIMENTO COMO AGRAVO


INTERNO. PRINCÍPIOS DA FUNGIBILIDADE E DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. ART. 93,
INCISO IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SUFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO. ACÓRDÃO
RECORRIDO EM CONFORMIDADE COM O ENTENDIMENTO DA SUPREMA CORTE EM
REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 339/STF. ART. 85, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
RESPONSABILIDADE PENAL E POLÍTICO-ADMINISTRATIVA PREVISTA NO DECRETO-LEI 201/1967
POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA TIPIFICADO NA LEI 8.429/92. AUTONOMIA DAS
INSTÂNCIAS. TEMA 576/STF. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONFORMIDADE COM O
ENTENDIMENTO DA SUPREMA CORTE EM REPERCUSSÃO GERAL. EMBARGOS RECEBIDOS
COMO AGRAVO INTERNO E NÃO PROVIDO.

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1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, em atenção aos princípios da


fungibilidade recursal e da instrumentalidade das formas, admite a conversão de embargos de
declaração em agravo interno quando a pretensão declaratória denota nítido pleito de reforma
por meio do reexame de questão já decidida.

2. Segundo a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, reafirmada no


julgamento, sob o regime de repercussão geral, do AI-RG-QO 791.292/PE, a teor do disposto no
artigo 93, IX, da Constituição Federal, as decisões judiciais devem ser motivadas, ainda que de
forma sucinta, não se exigindo o exame pormenorizado de cada alegação ou prova trazida pelas
partes, tampouco que sejam corretos os seus fundamentos (Tema 339/STF).

3. Consoante a jurisprudência consolidada do Pretório Excelso, reafirmada no julgamento, sob o


regime de repercussão geral, do RE 976.566/PA, o processo e julgamento de prefeito municipal
por crime de responsabilidade (Decreto-Lei n. 201/67) não impede sua responsabilização por
atos de improbidade administrativa previstos na Lei n. 8.429/1992, em virtude da autonomia
das instâncias (Tema 576/STF).

(EDcl no RE nos EDcl no AgInt no AREsp 926.632/PB, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/05/2020, DJe 15/05/2020)

D. Errada.
Toda a matéria devolvida à segunda instância deve ser considerada apreciada quando o TJ ou TRF dá
provimento à apelação por apenas um dos fundamentos expostos pela parte apelante, ignorando os
demais.

PROCESSUAL CIVIL. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE APELAÇÃO COM EXPOSIÇÃO DE MAIS DE


UM FUNDAMENTO. PROVIMENTO DA APELAÇÃO COM BASE EM APENAS UM FUNDAMENTO,
DEIXANDO-SE DE EXAMINAR OS DEMAIS. REVERSÃO DO ACÓRDÃO DE SEGUNDA INSTÂNCIA
EM DECISÃO MONOCRÁTICA NO STJ. AGRAVO REGIMENTAL QUE VENTILA FUNDAMENTOS
DESPREZADOS NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO. EXISTÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
DIVERGÊNCIA INTERNA NO STJ. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA PARCIALMENTE PROVIDOS PARA
DAR POR PREQUESTIONADAS QUESTÕES JURÍDICAS REITERADAS NAS CONTRARRAZÕES AO
RECURSO ESPECIAL.

I - Cuida-se de embargos de divergência por meio dos quais pretendem os embargantes a


uniformização do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça no tocante à resposta ao
seguinte questionamento: consideram-se prequestionados o(s) fundamento(s) das razões de
apelação desprezados no acórdão que deu integral provimento ao recurso? II - À luz do acórdão
da C. Primeira Turma deste Tribunal, o recurso especial não atendeu ao requisito especial do
prequestionamento quanto aos temas de (i) não fluência do prazo prescricional na ausência de
liquidez do título executivo; (ii) não ocorrência de inércia dos exequentes; e (iii) execução
movida por incapaz, contra o qual não corre a prescrição.

III - Lidando com situação jurídica idêntica à dos presentes autos, assentou o acórdão
paradigma (EREsp n. 1.144.667/RS), julgado por esta C. Corte Especial em 7/3/2018 e da
relatoria do e. Min. Felix Fisher, que "a questão levantada nas instâncias ordinárias, e não

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examinada, mas cuja pretensão foi acolhida por outro fundamento, deve ser considerada como
prequestionada quando trazidas em sede de contrarrazões".

IV - Portanto, existem duas linhas de pensamento em rota de colisão no Superior Tribunal de


Justiça, revelando-se de todo pertinente o recurso de embargos de divergência, em ordem a
remarcar o entendimento que já havia sido proclamado no julgamento do paradigma invocado.
Com efeito, rendendo vênias à C. Primeira Turma, o entendimento correto é o que considera
toda a matéria devolvida à segunda instância apreciada quando provido o recurso por apenas
um dos fundamentos expostos pela parte, a qual não dispõe de interesse recursal para a
oposição de embargos declaratórios.

V - A questão precisa ser analisada sob a perspectiva da sucumbência e da possibilidade de


melhora da situação jurídica do recorrente, critérios de identificação do interesse recursal. Não
se trata de temática afeta a esta ou aquela legislação processual (CPC/73 ou CPC/15), mas de
questão antecedente, verdadeiro fundamento teórico da disciplina recursal. Só quem perde,
algo ou tudo, tem interesse em impugnar a decisão, desde que possa obter, pelo recurso,
melhora na sua situação jurídica. Precedente: AgInt no REsp n. 1.478.792/PR, Rel. Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 12/12/2017, DJe 2/2/2018. Doutrina:
MARINONI, Luiz Guilherme;

ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil: tutela dos direitos
mediante procedimento comum. V. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 516; MEDINA,
José Miguel Garcia.

Direito processual civil moderno. 2 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, p. 1276.

VI - É bastante fácil perceber que os ora embargantes não dispunham, após o julgamento da
apelação, de nenhum dos dois requisitos: não eram vencidos (sucumbentes) e não existia
perspectiva de melhora na sua situação jurídica. Logo, agiram segundo a ordem e a dogmática
jurídicas quando se abstiveram de recorrer.

VII - Tenho por bem compor a divergência entre os acórdãos confrontados adotando o
entendimento do acórdão paradigma, segundo o qual se consideram prequestionados os
fundamentos adotados nas razões de apelação e desprezados no julgamento do respectivo
recurso, desde que, interposto recurso especial, sejam reiterados nas contrarrazões da parte
vencedora.

VIII - Embargos de divergência conhecidos e parcialmente providos a fim de dar por


prequestionada a matéria relativa à não ocorrência de prescrição em razão da iliquidez do título
executivo, cassando o v. acórdão de fls. 293-294, para que seja realizada nova análise do tema
prescrição.

(EAREsp 227.767/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em


17/06/2020, DJe 29/06/2020)

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E. Errada.

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.


VIOLAÇÃO DE SÚMULA. NÃO CABIMENTO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
AUSÊNCIA. INTIMAÇÃO DO EXECUTADO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL APTO A CAUSAR PREJUÍZO. RECURSO CABÍVEL. JULGAMENTO:
CPC/15.

1. Ação de complementação de benefício de previdência privada ajuizada em 2007, da qual foi


extraído o presente recurso especial, interposto em 06/07/2016 e atribuído ao gabinete em
06/03/2017.

2. O propósito recursal é dizer sobre a negativa de prestação jurisdicional bem como sobre a
recorribilidade do pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de sentença,
determina a intimação do executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer
sob pena de multa.

3. Não cabe recurso especial para impugnar eventual violação de súmula, porquanto não se
enquadra no conceito de lei federal, disposto no art. 105, III, "a" da CF/88.

4. A mera referência à existência de omissão, sem demonstrar, concretamente, o ponto


omitido, sobre o qual deveria ter se pronunciado o Tribunal de origem, e sem evidenciar a
efetiva relevância da questão para a resolução da controvérsia, não é apta a anulação do
acórdão por negativa de prestação jurisdicional.

5. A Corte Especial consignou que a irrecorribilidade de um pronunciamento judicial advém,


não só da circunstância de se tratar, formalmente, de despacho, mas também do fato de que
seu conteúdo não é apto a causar gravame às partes.

6. Hipótese em que se verifica que o comando dirigido à recorrente é apto a lhe causar
prejuízo, em face da inobservância da necessidade de intimação pessoal da devedora para a
incidência de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer.

7. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, parcialmente provido.

(REsp 1758800/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em


18/02/2020, DJe 21/02/2020)

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. “W.D.W.” foi sentenciado pela primeira vez a uma pena de 45 anos de reclusão por quatro
homicídios qualificados (hediondos), praticados em concurso material no dia 01/01/2018, tendo
respondido ao processo em liberdade e preso tão-somente após o trânsito em julgado. Expedida a guia
de execução definitiva relativa a essa sentença de 45 anos, após 10 dias de cumprimento da pena, o
magistrado proferiu decisão de unificadas das penas, nos termos do art. 75, §1º do Código Penal,

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limitando o cumprimento dessas penas em 30 anos. Entretanto, cumpridos 20 dias da pena, “W.D.W.”
encontrou no cárcere um desafeto do mundo do crime, e aproveitando-se de um momento de distração,
durante o banho de sol, matou seu inimigo. Preso em flagrante pelo fato, foi levado a julgamento
perante o Tribunal do Júri, tendo sido sentenciado a uma pena de 18 anos de reclusão por esse novo
homicídio qualificado (hediondo). Em relação a esse fato, “W.D.W.” permaneceu preso desde o
flagrante. A sentença penal da segunda condenação transitou em julgado 9 meses e 5 dias após a
primeira prisão.
Com a juntada à execução penal da guia de execução definitiva relativa à segunda sentença, o juiz deve
proferir
a) primeiramente decisão de unificação de penas e, em seguida, de soma de penas.
b) primeiramente decisão de soma de penas e, em seguida, de unificação de penas.
c) apenas decisão de unificação de penas.
d) apenas decisão de soma de penas.

Comentários

Gabarito: B

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.

§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á


nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

STF, Súmula 715 A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo
art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.

Questão 2. Assinale a alternativa correta:


a) Segundo o STJ, a previsão legal do crime de desacato a funcionário público no exercício da função não
viola o direito à liberdade de expressão e de pensamento previstos no Pacto de São José da Costa Rica.
b) Situação hipotética: Pedro, réu primário, valendo-se da confiança que lhe depositava o seu empregador,
subtraiu para si mercadoria de pequeno valor do estabelecimento comercial em que trabalhava. Assertiva:
Nessa situação, apesar de configurar a prática de furto qualificado pelo abuso de confiança, o juiz poderá
reconhecer o privilégio.
c) A circunstância do descumprimento de medida protetiva de urgência imposta ao agressor, consistente
na proibição de aproximação da vítima, não constitui causa de aumento de pena no delito de feminicídio.
d) Nos casos de concurso formal ou de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela prescrição
regula-se pela pena imposta com o acréscimo decorrente da previsão legal.

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e) A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, não
subsistindo qualquer efeito condenatório, salvo para fins de reincidência.

Comentários

Gabarito: A

A - O desacato é especial forma de injúria, caracterizado como uma ofensa à honra e ao prestígio dos
órgãos que integram a Administração Pública.

(...)

Preenchimento das condições antevistas no art. 13.2. do Pacto de São José da Costa Rica, de
modo a acolher, de forma patente e em sua plenitude, a incolumidade do crime de desacato
pelo ordenamento jurídico pátrio, nos termos em que entalhado no art. 331 do Código Penal.
(HC 379269 / MS)

B–

Súmula 511 - É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos


casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o
pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. (Súmula 511, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/06/2014, DJe 16/06/2014)

C - CP, Art. 121

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:

(...)

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do


caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

D–

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente.

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços.

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Súmula 497 STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena
imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.

E - Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de
reincidência.

Súmula 18, STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da


punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Questão 3. Assinale a alternativa correta:


“M.K.T.” encontrava-se em regime semiaberto quando foi deferido o livramento condicional. Encerrado
o período de prova do livramento, os autos foram ao Ministério Público que requereu a juntada da Folha
e da Certidão de Antecedentes Criminais. Deferido o pedido ministerial e juntados os documentos
requeridos, com vista dos autos, o parquet verificou que “M.K.T.” havia sido preso – e logo solto em
audiência de custódia – pela prática de crime ocorrido durante o período de prova do livramento
condicional. O Ministério Público observou ainda que ele havia sido denunciado e condenado pelo fato,
tendo a sentença penal permitido que “M.K.T.” recorresse em liberdade. Interposto recurso pela defesa,
a sentença penal condenatória não havia transitado em julgado. Diante da informação acerca da
condenação penal, o Ministério Público requereu a revogação do livramento condicional, a regressão
cautelar de regime prisional e a designação de audiência de justificação.
Após a manifestação da defesa, deve o magistrado
a) declarar extinta a pena privativa de liberdade.
b) revogar o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de justificação e
expedir mandado de prisão.
c) suspender o livramento condicional, regredir cautelarmente o regime, designar audiência de justificação
e expedir mandado de prisão.
d) expedir mandado de prisão e decidir sobre suspensão ou revogação do livramento condicional após
audiência de justificação a ser designada.a) Estão corretas todas as assertivas.
e) Revogar o livramento condicional e determinar a regressão de regime.

Comentários

Gabarito: A

Súmula 617-STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do


término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da
pena.

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Questão 4. Sobre a parte geral do Código Penal, analise as afirmativas a seguir.


I. O excesso culposo nas causas de justificação deriva de erro do agente quanto aos seus limites ou quanto
às circunstâncias objetivas do fato concreto.
II. A desistência voluntária pode se materializar tanto em hipóteses de tentativa perfeita quanto em casos
de tentativa imperfeita.
III. Descriminantes putativas ocorrem quando o agente supõe que está agindo licitamente, imaginando que
se encontra presente uma das causas excludentes de ilicitude previstas em lei.
IV. A regra da incomunicabilidade das circunstâncias (art. 30 do Código Penal), promove a extensão da
culpabilidade com base em ficção legal de qualidades pessoais.
V. Na hipótese de aberratio ictus com unidade complexa, deve ser utilizado, na aplicação da sanção penal,
o mesmo tratamento do concurso formal impróprio.
Está correto o que se afirma em
A I, II e IV, apenas.
B I e III, apenas.
C II, III e V, apenas.
D III e IV, apenas.

Comentários

Gabarito: B

I - CORRETA Excesso é a desnecessária intensificação de um fato típico inicialmente amparado por uma
causa de justificação. O excesso punível pode ocorrer nas modalidades culposa e dolosa. Na modalidade
culposa, o agredido, após cessar a injusta agressão, age de forma negligente, imprudente ou imperita e,
dessa forma, dá continuidade à sua “defesa”.

II – ERRADA - A desistência voluntária só é possível na tentativa imperfeita ou inacabada, enquanto na


tentativa perfeita ou acabada, só é possível o arrependimento eficaz.

III – CORRETA – Art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

IV – ERRADA - Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo


quando elementares do crime.

V - Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Questão 5. Marque a alternativa incorreta:

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a) A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao crime acessório.


b) São efeitos automáticos da condenação tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime, e a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra
filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado.
c) Nos termos da Lei n° 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor,
constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão
do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a 3 (três) meses; no entanto, tais
efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
d) É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, se favoráveis as circunstâncias judiciais.

Comentários

Gabarito: B

A–

CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da
conexão.

B–

CP, Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos.

II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes


dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo
poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado;

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime
doloso.

Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

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C-

1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, à exceção dos casos do crime
de tortura - que não é a hipótese dos autos - , a perda de cargo ou função pública prevista no
inciso I do art. 92 do Código Penal não é consequência automática da condenação, sendo
necessário existir fundamentação concreta e específica para esse desiderato, o que não foi
delineado, na espécie, pelas instâncias ordinárias.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 1638764/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
03/11/2020, DJe 19/11/2020)

D–

SÚMULA 269 – STJ É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes
condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias.

Questão 6. Considerando o entendimento sumulado do STF e do STJ acerca dos crimes contra o
patrimônio, marque a alternativa CORRETA:
a) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de
bens da vítima.
b) A consumação do crime de extorsão depende da obtenção da vantagem indevida.
c) É admissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
d) É inadmissível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de
furto qualificado, ainda que presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.
e) Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave
ameaça, sendo necessária a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

Comentários

A alternativa A é a correta, visto que reproduz o teor da súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio,
quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. Essa
súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.

A alternativa B está incorreta, pois vai de encontro à súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se
independentemente da obtenção da vantagem indevida.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz
substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.

A alternativa C está incorreta, pois vai de encontro à súmula 442 do STJ: “É inadmissível aplicar, no furto
qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz
substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.

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A alternativa D está incorreta, pois vai de encontro à súmula 511 do STJ: “É possível o reconhecimento do
privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes
a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.”. Essa súmula
caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa E está incorreta, pois vai de encontro à súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo
com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível
a posse mansa e pacífica ou desvigiada.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do
TJAL/2019 elaborada pela FCC.

Gabarito: letra B.

Questão 7. Sobre as excludentes de ilicitude ou causas de justificação, marque a alternativa CORRETA.


a) O excesso punível, no caso das excludentes de ilicitude, aplica-se à legítima defesa, mas não ao estado
de necessidade.
b) O estado de necessidade pode ser justificante ou exculpante, conforme teoria diferenciadora adotada
pelo Código Penal.
c) As causas de justificação estão previstas em rol taxativo no art. 23 do Código Penal, podendo ser estado
de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de um dever legal e exercício regular de direito.
d) As excludentes de ilicitude são normas penais não incriminadoras permissivas exculpantes.
e) Na legítima defesa, ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, o commodus discessus não
descaracteriza a excludente de ilicitude

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois o excesso punível, seja doloso ou culposo, aplica-se a qualquer das
causas de justificação previstas no art. 23 do Código Penal, isto é, ao estado de necessidade, à legítima
defesa, ao estrito cumprimento de um dever legal e ao exercício regular de direito. Isso está previsto no
parágrafo único do art. 23: “Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de
necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.”.

A alternativa B está incorreta, pois a teoria adotada pelo Código Penal é a unitária, de modo que o estado
de necessidade será sempre justificante, excluindo a ilicitude da conduta. Isso significa que o bem jurídico
sacrificado deve ser de valor inferior ou igual ao do bem jurídico preservado para haver estado de
necessidade (art. 24 do CP). O Código Penal não adotou a teoria diferenciadora, pela qual o estado de
necessidade poder ser justificante ou exculpante (exclui a culpabilidade). É exculpante o estado de
necessidade quando o bem jurídico sacrificado for de valor superior ao do bem jurídico preservado.
Todavia, destaque-se que, conquanto não haja previsão expressa no Código Penal, parte da doutrina tem
admitido o estado de necessidade exculpante como uma causa supralegal de inexigibilidade de conduta
diversa (excludente de culpabilidade). Por fim, vale lembrar que o Código Penal Militar adota a teoria
diferenciadora do estado de necessidade, permitindo que este seja justificante (art. 43) ou exculpante (art.
39).

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A alternativa C está incorreta, pois o rol do art. 23 do CP não esgota as hipóteses de excludentes de
ilicitude, existindo outras na parte geral do Código e também na legislação penal especial. Exemplos de
causas de justificação previstas na parte especial do CP são as do art. 128 (aborto necessário e aborto
humanitário). Há também excludentes da ilicitude na legislação penal especial, como é o caso do art. 37, I,
da Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98), que prevê um estado de necessidade específico. Por fim,
lembre-se que a doutrina sustenta a existência de causas de justificação supralegais, por exemplo o
consentimento do ofendido.

A alternativa D está incorreta, pois as causas de justificação ou excludentes de ilicitude, embora seja
normas penais não incriminadoras, sua natureza é justificante (exclusão da ilicitude) e não exculpante
(exclusão da culpabilidade). Cabe relembrar que as normas penais podem ser dividias em incriminadoras e
não incriminadoras. As primeiras (incriminadoras) são os próprios tipos penais que preveem uma conduta
típica acompanhada de uma pena (por exemplo: art. 121 do Código Penal). Já as segundas (não
incriminadoras), não definem condutas criminosas nem cominam sanção, podendo ser subdividias em (a)
não incriminadoras explicativas ou interpretativas, quando definem algum instituto, preenchendo seu
conteúdo e delimitando seu alcance (por exemplo, o art. 327 do CP); (b) não incriminadoras integrativas ou
de extensão, quando ampliam a abrangência da tipicidade (por exemplo, o art. 14, II, do CP, ou o art. 29 do
CP); (c) não incriminadoras complementares, quando estabelecem os limites da aplicação da lei penal (por
exemplo, o art. 5º do CP); e, por fim, (d) não incriminadoras permissivas, quando autorizam determinado
comportamento. Estas últimas ainda podem ser justificantes (art. 23 do CP) ou exculpantes (art. 21 do CP).

A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. De fato, na legítima defesa, a verificação de que o
agente estava em “commodus discessus”, isto é, que podia ter uma atitude menos gravosa, por exemplo,
possibilidade de fuga da injusta agressão, não afasta a referida excludente de ilicitude. Lado outro, o
commodus discessus pode descaracterizar o estado de necessidade, quando verificado que o agente
poderia fugir do perigo atual sem sacrificar bem jurídico alheio.

Gabarito: letra E.

Questão 8. Sobre os crimes contra o patrimônio e o entendimento dos tribunais superiores, marque a
alternativa INCORRETA:
a) Adota-se a teoria da amotio quanto ao crime de furto, de modo que sua consumação ocorre com a
posse de fato da coisa furtada, ainda que por curto período e seguida da perseguição do agente, sendo
irrelevante a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
b) A existência de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por presença de
segurança no interior do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do
crime de furto.
c) A causa de aumento de pena no furto, pelo fato do crime ter sido praticado durante o repouso noturno,
é aplicável às hipóteses de furto qualificado, não sendo admissível que a referida majorante seja afastada
em razão da sua posição topográfica.
d) Tratando-se de furto de energia elétrica mediante fraude, admite-se que o adimplemento do débito
perante a concessionária, antes do recebimento da denúncia, acarrete a extinção da punibilidade.

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e) É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto
qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora
for de ordem objetiva.

Comentários

A alternativa A não pode ser a correta, visto que está de acordo com o entendimento do STJ, fixado em
sede de recurso especial repetitivo (Tema 934): “Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res
furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada.”. Frise-se que o posicionamento da Corte Cidadão se amolda à teoria
da amotio ou aprehensio, pela qual o crime se consuma com a mera inversão da posse da coisa subtraída,
sendo dispensável que essa posse do agente seja mansa e pacífica.

A alternativa B não pode ser a correta, tendo em vista que está de acordo com a Súmula 567 do STJ:
“Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.”. Essa
súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.

A alternativa C não pode ser considerada incorreta, pois está de acordo com o entendimento do STF acerca
da compatibilidade entre a majorante do repouso noturno e as qualificadoras no crime de furto. Vejamos:
“1. Não convence a tese de que a majorante do repouso noturno seria incompatível com a forma
qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes das qualificadoras
(critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às modalidades qualificadas do tipo
penal incriminador. 2. Se assim fosse, também estaria obstado, pela concepção topográfica do Código
Penal, o reconhecimento do instituto do privilégio (CP, art. 155, § 2º) no furto qualificado (CP, art. 155, §
4º) -, como se sabe, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. 3.
Inexistindo vedação legal e contradição lógica, nada obsta a convivência harmônica entre a causa de
aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º)
quando perfeitamente compatíveis com a situação fática. 4. Ordem denegada.”(STF. 2ª Turma. HC
130952/MG, Rel. Min. Dias Tofolli, j. 13/12/2016 – Informativo 851).

A alternativa D é o gabarito da questão, pois vai de encontro ao entendimento do STJ, segundo o qual, no
crime de furto de energia elétrica mediante fraude, o pagamento do débito antes do recebimento da
denúncia não extingue a punibilidade do agente. Vejamos: “O crime de furto de energia elétrica mediante
fraude praticado contra concessionária de serviço público situa-se no campo dos delitos patrimoniais.
Neste âmbito, o Estado ainda detém tratamento mais rigoroso. O desejo de aplicar as benesses dos crimes
tributários ao caso em apreço esbarra na tutela de proteção aos diversos bens jurídicos analisados, pois o
delito em comento, além de atingir o patrimônio, ofende a outros bens jurídicos, tais como a saúde
pública, considerados, principalmente, o desvalor do resultado e os danos futuros.”(STJ. 3ª Seção. RHC
101.299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Paciornik, j. 13.3.2019 – Informativo 645).
A alternativa E não pode ser o gabarito da questão, pois reproduz o entendimento fixado na súmula 511
do STJ: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de
furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019,
elaboradas pela FCC.

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Gabarito: letra D.

Questão 9. Sobre a extinção da punibilidade, marque a alternativa CORRETA.


a) A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância
agravante de outro se estende a este.
b) Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede, quanto aos outros, a agravação da
pena resultante da conexão.
c) Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.
d) A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de
improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo
inicial data anterior ao recebimento da denúncia ou da queixa.
e) No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada
pelo tempo integral da pena.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois em desacordo com o art. 108 do Código Penal: “Art. 108 - A extinção da
punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não
se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos
outros, a agravação da pena resultante da conexão.”.

A alternativa B está incorreta, pois, no mesmo sentido da alternativa anterior, está em desacordo com o
art. 108 do Código Penal: “Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento
constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.”.

A alternativa C é a correta, tendo em vista que reproduziu o parágrafo único do art. 109 do Código Penal:
“Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas
de liberdade.”.

A alternativa D está incorreta, pois indicou como marco temporal o recebimento da denúncia ou da
queixa, em oposição ao §1º do art. 110 do CP: “Art. 110 (...). §1º A prescrição, depois da sentença
condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela
pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou
queixa.”.

A alternativa E está incorreta, pois afronta o art. 113 do Código Penal: “Art. 113 - No caso de evadir-se o
condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da
pena.”.

Gabarito: letra C.

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2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado.
b) Não haverá prioridade para realização do exame de corpo de delito.
c) O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de
curso superior.
d) Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.
e) Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao
acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

Comentários

Resposta: alternativa B.

As situações de prioridade para a realização do exame pericial estão dispostas no parágrafo único, do
artigo 158:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Atenção para o fato de que as infrações não transeuntes, é dizer, as infrações que deixam vestígios, a
realização do exame de corpo de delito revela-se providência obrigatória.

A perícia somente ser substituída pela prova testemunhal, nas hipóteses do artigo 167, do CPP:

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


a) O exame de corpo de delito poderá somente poderá ser feito durante o período de expediente da Polícia
Científica, notificando-se o suspeito com antecedência mínima, se houver.

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b) A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
c) Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração
penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver
necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.
d) Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora
previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
e) Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida
do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.

Comentários

Resposta: alternativa A.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

A limitação de expediente da Polícia Científica não impede a realização dos exames periciais.

Intuitivo até, afinal há situações em que uma delonga poderá comprometer a prova. Imagine-se um
homicídio culposo na direção de veículo automotor ocorrido em uma rua de grande movimentação. Não há
como aguardar o expediente para a liberação da via pública.

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de
escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em
que época presumem ter sido o fato praticado.
b) Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou que constituam
produto do crime.
c) No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele
tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
d) Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar
a natureza e a eficiência.
e) No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a
autoridade declarará nulo o laudo.

Comentários

Resposta: alternativa E.

Nas hipóteses versadas no enunciado da questão: inobservância de formalidades, omissões, obscuridades


ou contradições, deverá o magistrado ordenar seja suprida a formalidade, complementado ou esclarecido
o laudo, conforme anela o artigo 181:

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Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou


contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o
laudo.

Questão 4. Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta:


I. No procedimento ordinário, a audiência de instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo
máximo de 90 dias, devendo ser ouvidos o acusado, as testemunhas de acusação e de defesa, passando
aos aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, nesta
ordem.
II. No procedimento sumário, a audiência de instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo
máximo de 30 dias, o número máximo de testemunhas é de 5 para a acusação e para a defesa, e não há a
fase de “requerimento de diligências”.
III. Segundo o STF, a homologação da transação penal não faz coisa julgada material. Portanto,
descumprido o acordo, o Ministério Público poderá dar prosseguimento à persecução penal, oferecendo
denúncia ou requisitando a instauração de inquérito policial.
IV. O STF admite a interposição de recurso especial em face das decisões proferidas por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) I, II e III
e) II, III e IV

Comentários

A alternativa C está correta. A asserção I está incorreta. Segundo o art. 400 do CPP, a audiência de
instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo máximo de 60 dias. Este dispositivo legal traz, ainda,
a ordem dos trabalhos na audiência: “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste
Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e
coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado”.

A asserção II é verdadeira. No procedimento sumário, a audiência de instrução e julgamento deverá ser


realizada no prazo máximo de 30 dias (art. 531, CPP), o número máximo de testemunhas é de 5 para a
acusação e para a defesa (art. 532, CPP), e não há a fase de “requerimento de diligências”.

A asserção III é verdadeira. Se o infrator descumprir os termos do acordo, retorna-se à situação anterior,
possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de
denúncia ou requisição de inquérito policial, de acordo com a Súmula Vinculante 35, STF: “A homologação
da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas

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suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da


persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial”.

A asserção é falsa. O STF tem admitido a interposição de recurso extraordinário contra as decisões da
Turma Recursal, nos termos da Súmula 640 do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão
proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e
criminal”.

Questão 5. De acordo com o art. 397 do CPP, o juiz deverá absolver sumariamente o réu quando
verificar:
a) a inépcia da inicial.
b) faltar condição para o exercício da ação penal.
c) faltar pressuposto processual para o exercício da ação penal.
d) faltar justa causa para o exercício da ação penal.
e) extinta a punibilidade do agente.

Comentários

A alternativa E está correta. Segundo o art. 397 do Código de Processo Penal, o juiz deverá absolver
sumariamente o réu quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou

IV - extinta a punibilidade do agente.

Questão 6. Quanto ao instituto da revisão criminal, julgue as afirmativas a seguir:


Considerando as informações apresentadas, avalie as afirmações a seguir:
I. Cabe revisão criminal quando a sentença absolutória for expressamente contrária ao texto expresso da
lei penal ou à evidência dos autos.
II. O irmão do condenado falecido poderá requerer a revisão criminal.
III. A revisão criminal poderá resultar no agravamento ou na redução da pena imposta ao condenado.
Está correto o que se afirma em:
a) I, apenas
b) II, apenas
c) III, apenas
d) I e II, apenas

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e) II e III, apenas

Comentários

A alternativa B está correta. A asserção I está incorreta. A revisão criminal está prevista no art. 622 do CPP
e tem como objetivo desconstituir a sentença. Segundo o art. 621, inc. I do CPP, a revisão dos processos
findos será admitida: I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à
evidência dos autos.

A asserção II está correta. A revisão criminal poderá ser ajuizada pelo próprio réu ou por procurador
legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art.
623, CPP).

A asserção III está incorreta. Segundo o art. 621, inc. III do CPP, a revisão dos processos findos será
admitida: III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de
circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. Logo, não poderá ser agravada a
pena imposta pela decisão revista.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. À luz das disposições da Lei n.º 7.960/89, assinale a alternativa incorreta:
a) Caberá prisão temporária, para os crimes previstos em lei, quando for imprescindível para as
investigações do inquérito policial.
b) Em regra, terá o prazo de cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.
c) Caberá prisão temporária, para os crimes previstos em lei, quando o indiciado não tiver residência fixa.
d) A prisão temporária será decretada de ofício pelo juiz, quando houver fundadas razões, de acordo com
qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado em crime de roubo.
e) Após o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela custódia deverá,
independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade.

Comentários

Gabarito: D

a) Art. 1º, inciso I, da Lei n.º 7.960/89.

b) Nos delitos comuns, o prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorrogável por igual período em caso
de extrema e comprovada necessidade, conforme o art. 2º, caput, da Lei n.º 7.960/89. Em se tratando de
crimes hediondos ou equiparados, o prazo da prisão temporária é de trinta dias, igualmente prorrogável
pelo mesmo período em caso de extrema e comprovada necessidade, conforme o §4º, do art. 2º, da Lei
dos Crimes Hediondos (Lei n.º 8.072/90).

c) Art. 1º, inciso II, da Lei n.º 7.960/89.

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d) Está incorreta, pois a prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz. Somente em face de
representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público. Conforme redação
expressa do art. 2º, caput, da Lei n.º 7.960/89 e em consonância com o sistema acusatório que rege todo o
processo penal brasileiro, de acordo com o CPP: “Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória,
vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação.”

e) O preso será colocado em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada a autoridade responsável pela
custódia sobre a prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. Art. 2º, §7º, da
Lei n.º 7.960/89.

Questão 2. Sobre a Lei n.º 12.850/2013 (Organizações Criminosas), assinale a alternativa correta:
a) Considera-se organização criminosa a associação de três ou mais pessoas, estruturadamente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter vantagem de qualquer natureza.
b) A pena do crime de promover, constitui, financiar ou integrar organização criminosa será aumentada de
um sexto a dois terços se houver participação de criança ou adolescente.
c) A pena do crime de promover, constitui, financiar ou integrar organização criminosa será aumentada de
um sexto a dois terços se houver emprego de arma de fogo na atuação da organização.
d) Se houver indícios de participação de policial nos crimes previstos na Lei n.º 12.850/2013, o Ministério
Público instaurará inquérito policial e designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.
e) Embora existam elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo, o
condenado por integrar organização criminosa poderá progredir de regime de cumprimento de pena.

Comentários

Gabarito: B

a) Art. 1º, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro)
ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de
caráter transnacional”.

Já o crime de associação criminosa é previsto no art. 288 do CP: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou
adolescente.”

b) Correta. Art. 2º, §4º, inciso I, da Lei n.º 12.850/2013.

c) A pena aumenta-se até a metade no caso de emprego de arma de fogo. Art. 2º, §2º, da Lei n.º
12.850/2013.

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d) A Corregedoria de Polícia que fará a instauração de inquérito policial e comunicará ao Ministério Público,
que designará membro para acompanhar o feito até a conclusão, conforme o art. 2º, §7º, da Lei n.º
12.850/2013.

e) Art. 2º, §9º, da Lei n.º 12.850/2013: “O condenado expressamente em sentença por integrar
organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de
regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver
elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo”.

Questão 3. Acerca dos meios de obtenção de prova previstos na Lei das Organizações Criminosas (Lei n.º
12.850/2013), assinale a alternativa incorreta:
a) Considerando a relevância da colaboração premiada prestada, o delegado de polícia, nos autos do
inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderá manifestar-se ao juiz pela concessão
de perdão judicial ao colaborador.
b) A ação controlada consiste em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada
por organização criminosa, para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz para a formação
de provas e obtenção de informações.
c) A infiltração de agentes de polícia poderá ser admitida mediante representação do delegado de polícia,
que deverá demonstrar a necessidade da medida e, necessariamente, os nomes e apelidos das pessoas
investigadas.
d) Independentemente de autorização judicial, o delegado de polícia terá acesso aos dados cadastrais do
investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço, dados mantidos,
dentre outros, pela Justiça Eleitoral, empresas de telefonia e administradores de cartão de crédito.
e) Aquele que se recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitados
pelo delegado de polícia comete crime, com pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa.

Comentários

Gabarito: C

a) Correta. Art. 4º, §4º, da Lei n.º 12.850/2013: “Considerando a relevância da colaboração prestada, o
Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão
judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se,
no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.

b) Art. 8ª, §2º, da Lei n.º 12.850/2013: “Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
formação de provas e obtenção de informações”.

c) Incorreta. Além de demonstrar a necessidade da medida, deverá também demonstrar o alcance das
tarefas dos agentes, o local da infiltração e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas
investigadas. Art. 11, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O requerimento do Ministério Público ou a

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representação do delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da


necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das
pessoas investigadas e o local da infiltração”.

d) Art. 15, da Lei n.º 12.850/2013: “O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito”.

e) Art. 21, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e
informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou
do processo: Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa”.

Questão 4. Considerando o entendimento dos tribunais superiores acerca da Lei Federal n. 11.343/2006
(Lei de Drogas), marque a alternativa INCORRETA:
a) Embora o STF considere como crime o porte de drogas para uso próprio (art. 28 da Lei n. 11.343/2006),
o STJ possui entendimento de que a condenação definitiva pelo porte de entorpecentes para consumo
pessoa não é apta a configurar reincidência.
b) Em caso de porte de drogas para consumo pessoal, o STF reconhece a constitucionalidade das previsões
contidas nos §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei n. 11.343/2006, segundo as quais o autor do fato deve ser
imediatamente encaminhado à autoridade judicial, a qual lavrará o termo circunstanciado e requisitará os
exames e periciais necessários.
c) O STJ possui entendimento no sentido de que a incidência da atenuante da confissão espontânea no
crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a
mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.
d) Entende o STJ que é cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei
n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
e) As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida podem ser levadas em consideração
em mais de uma das fases do cálculo da pena.

Comentários

A alternativa A não pode ser considerada o gabarito da questão, uma vez que de fato o STF reconhece que
a conduta de quem porta droga para consumo (art. 28 da Lei n. 11.343/06) possui natureza jurídica de
crime (STF. RE n.430.105/RJ). Todavia, não obstante o entendimento da Suprema Corte, a Quinta e Sexta
Turmas do STJ, que compõem a Seção de Direito Penal e Processual Penal, compartilham o entendido de
que o porte de droga para consumo próprio não configura reincidência (STJ. Quinta Turma. HC 453.437-
SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 4/10/2018; Sexta Turma 1.672.654/SP, Rel. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, j. 21/8/2018). O principal argumento utilizado pela Corte Cidadã para afastar a
reincidência no caso do porte de drogas para consumo pessoal é o fato de que nem mesmo a contravenção
penal, cuja pena cominada é de prisão simples (espécie de pena privativa de liberdade), pode gerar
reincidência, então com mais razão é preciso reconhecer que o crime do art. 28 da Lei de Drogas não
configura reincidência, na medida em que comina penas não privativas de liberdade, tais como

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advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa. Por fim, destaque-se que esse
entendimento foi cobrado na prova objetiva do concurso para defensor público do Estado do Amapá,
aplicada pela FCC em 2018.

A alternativa B não pode ser o gabarito da questão, pois está de acordo com o entendimento fixado pelo
STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, em que a Suprema Corte reconheceu a
constitucionalidade dos §§ 2º e 3º da Lei de Drogas, nos termos da ementa a seguir: “EMENTA: AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 3º DO ART. 48 DA LEI N. 11.343/2006. PROCESSAMENTO DO
CRIME PREVISTO NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/2006. ATRIBUIÇÃO À AUTORIDADE JUDICIAL DE LAVRATURA
DE TERMO CIRCUNSTANCIADO E REQUISIÇÃO DOS EXAMES E PERÍCIAS NECESSÁRIOS.
CONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE ATO DE INVESTIGAÇÃO. INOCORRÊNCIA DE ATRIBUIÇÃO DE
FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA AO PODER JUDICIÁRIO. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE.” (ADI
3807, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 29/6/2020).

A alternativa C não pode ser o gabarito da questão, haja vista que reproduz a súmula n. 630 do STJ,
segundo o qual “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de
entorpecentes exige reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse
ou propriedade para uso próprio”.

A alternativa D não pode ser o gabarito da questão, porque se trata de reprodução literal da súmula n. 501
do STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.”.

A alternativa E é o gabarito da questão, pois está em desacordo com o entendimento fixado pelo STF em
sede de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida (Tema 712): “As circunstâncias da
natureza e da quantidade da droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das
fases do cálculo da pena.”.

Gabarito: letra E.

Questão 5. Considerando a Lei Federal n. 10.216/2001 (Lei Antimanicomial) que dispõe sobre a proteção
e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, marque a alternativa CORRETA.
a) A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da
admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento, sendo que o término da
internação voluntária dar-se-á apenas por solicitação do médico assistente ou por pessoa da família do
internado.
b) A pessoa portadora de transtorno mental tem direito de ser tratada com humanidade e respeito, no
interesse de beneficiar sua saúde e resguardar a incolumidade das demais pessoas.
c) Excepcionalmente, admite-se a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em
instituições com características asilares.
d) A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao
Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo
esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.

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e) A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no
Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o domicílio da pessoa portadora de
transtornos mentais.

Comentários

A alternativa A está incorreta, visto que é possível o término da internação voluntária por solicitação
escrita do paciente ou por determinação do médico assistente, conforme previsto no art. 7º da Lei
Antimanicomial: “Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve
assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por
determinação do médico assistente.”.

A alternativa B está incorreta, pois a pessoa com transtorno mental tem direito de ser tratada com
humanidade e respeito no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, e não de resguardar a incolumidade
das demais pessoas, conforme podemos extrair do art. 2º, p.ú., II, da Lei Antimanicomial: “Art. 2º Nos
atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão
formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São
direitos da pessoa portadora de transtorno mental: II - ser tratada com humanidade e respeito e no
interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no
trabalho e na comunidade;”.

A alternativa C está incorreta, haja vista que é vedada a internação de pacientes portadores de transtornos
mentais em instituições com características asilares, não admitindo a Lei qualquer exceção, nos termos do
art. 4º, §3º, da Lei Antimanicomial: Art. 4º (...). §3º É vedada a internação de pacientes portadores de
transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos
mencionados no §2º e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art.
2º.”.

A alternativa D é a correta, pois reproduz a exigência do §1º do art. 8º da Lei Antimanicomial: “Art. 8º (...).
§1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao
Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo
esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.”.

A alternativa E está incorreta, tendo em vista que o médico que autorizar a internação voluntária ou
involuntária deverá possuir registro no CRM do Estado onde se localize o estabelecimento de internação,
de acordo com a previsão do art. 8º, “caput”, da Lei Antimanicomial: “Art. 8º A internação voluntária ou
involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de
Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.”.

Gabarito: letra D.

Questão 6. Considerando o entendimento dos tribunais superiores acerca da Lei Federal n. 11.343/2006
(Lei de Drogas), marque a alternativa INCORRETA:

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a) Embora o STF considere como crime o porte de drogas para uso próprio (art. 28 da Lei n. 11.343/2006),
o STJ possui entendimento de que a condenação definitiva pelo porte de entorpecentes para consumo
pessoa não é apta a configurar reincidência.
b) Em caso de porte de drogas para consumo pessoal, o STF reconhece a constitucionalidade das previsões
contidas nos §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei n. 11.343/2006, segundo as quais o autor do fato deve ser
imediatamente encaminhado à autoridade judicial, a qual lavrará o termo circunstanciado e requisitará os
exames e periciais necessários.
c) O STJ possui entendimento no sentido de que a incidência da atenuante da confissão espontânea no
crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a
mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.
d) Entende o STJ que é cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei
n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
e) As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida podem ser levadas em consideração
em mais de uma das fases do cálculo da pena.

Comentários

A alternativa A não pode ser considerada o gabarito da questão, uma vez que de fato o STF reconhece que
a conduta de quem porta droga para consumo (art. 28 da Lei n. 11.343/06) possui natureza jurídica de
crime (STF. RE n.430.105/RJ). Todavia, não obstante o entendimento da Suprema Corte, a Quinta e Sexta
Turmas do STJ, que compõem a Seção de Direito Penal e Processual Penal, compartilham o entendido de
que o porte de droga para consumo próprio não configura reincidência (STJ. Quinta Turma. HC 453.437-
SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 4/10/2018; Sexta Turma 1.672.654/SP, Rel. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, j. 21/8/2018). O principal argumento utilizado pela Corte Cidadã para afastar a
reincidência no caso do porte de drogas para consumo pessoal é o fato de que nem mesmo a contravenção
penal, cuja pena cominada é de prisão simples (espécie de pena privativa de liberdade), pode gerar
reincidência, então com mais razão é preciso reconhecer que o crime do art. 28 da Lei de Drogas não
configura reincidência, na medida em que comina penas não privativas de liberdade, tais como
advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa. Por fim, destaque-se que esse
entendimento foi cobrado na prova objetiva do concurso para defensor público do Estado do Amapá,
aplicada pela FCC em 2018.

A alternativa B não pode ser o gabarito da questão, pois está de acordo com o entendimento fixado pelo
STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, em que a Suprema Corte reconheceu a
constitucionalidade dos §§ 2º e 3º da Lei de Drogas, nos termos da ementa a seguir: “EMENTA: AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 3º DO ART. 48 DA LEI N. 11.343/2006. PROCESSAMENTO DO
CRIME PREVISTO NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/2006. ATRIBUIÇÃO À AUTORIDADE JUDICIAL DE LAVRATURA
DE TERMO CIRCUNSTANCIADO E REQUISIÇÃO DOS EXAMES E PERÍCIAS NECESSÁRIOS.
CONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE ATO DE INVESTIGAÇÃO. INOCORRÊNCIA DE ATRIBUIÇÃO DE
FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA AO PODER JUDICIÁRIO. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE.” (ADI
3807, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 29/6/2020).

A alternativa C não pode ser o gabarito da questão, haja vista que reproduz a súmula n. 630 do STJ,
segundo o qual “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de

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entorpecentes exige reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse
ou propriedade para uso próprio”.

A alternativa D não pode ser o gabarito da questão, porque se trata de reprodução literal da súmula n. 501
do STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.”.

A alternativa E é o gabarito da questão, pois está em desacordo com o entendimento fixado pelo STF em
sede de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida (Tema 712): “As circunstâncias da
natureza e da quantidade da droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das
fases do cálculo da pena.”.

Gabarito: letra E.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Sobre a ação de impugnação de mandato eletivo é correto afirmar:
a) Deverá ser proposta no prazo de 15 (quinze) dias a contar do esgotamento do prazo para a interposição
de recurso contra a diplomação.
b) Pode ter como causa de pedir, inclusive, causas de inelegibilidade ou falta de condição de elegibilidade
de índole constitucional, supervenientes ao registro de candidatura.
c) Deve tramitar em segredo de justiça.
d) Segundo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, é cabível tutela provisória de urgência na ação de
impugnação de mandato eletivo, com o fim de sustar o ato de diplomação do candidato eleito.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

Comentários

A ação de impugnação de mandato deve tramitar em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
lei, se temerária ou de manifesta má-fé, em conformidade com o art. 14, § 11, da Constituição da
República.

Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C.

Questão 2. Sobre a ação de impugnação ao mandato eletivo (AIME), que tem como objetivo impedir o
abuso de poder político, econômico, a corrupção ou a fraude, é correto afirmar que:
a) Não gera litisconsórcio passivo unitário e necessário entre o titular e o vice do cargo, pois são situações
subjetivas distintas.
b) Tem o mesmo rito processual da ação de impugnação eleitoral (AIJE), sem qualquer outra peculiaridade,
tendo em vista a identidade de finalidade entre ambas as ações.
c) Não pode gerar litispendência entre ela, a AIME, e a AIJE.

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d) Traz como consequência a anulação dos votos dados ao candidato e, se a nulidade atingir menos da
metade dos votos, será dada posse ao segundo colocado, ou, caso contrário, realiza-se nova eleição.
e) Não há coincidência entre os legitimados ativos para as duas ações.

Comentários

Constitui efeito da decisão pela procedência da ação de impugnação de mandato eletivo a anulação dos
votos dados ao candidato cassado. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, aplica-se o art. 224 do
Código Eleitoral.

Em razão disso, a alternativa D está correta.

JURISPRUDÊNCIA

“Mandado de segurança e medida cautelar. Julgamento conjunto. Dupla vacância dos cargos de
prefeito e de vice. Questão prejudicial ao exame de mérito. Efeito da decisão pela procedência
da AIME. Anulação dos votos. Concessão da segurança. Indeferimento da medida cautelar.
Agravos regimentais prejudicados. Devido ao liame indissolúvel entre o mandato eletivo e o
voto, constitui efeito da decisão pela procedência da AIME a anulação dos votos dados ao
candidato cassado. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, aplica-se o art. 224 do
Código Eleitoral” (TSE, MS nº 3.649, Rel. Min. Cezar Peluso, DJU 10.03.2008).

Questão 3. São legitimados ativos para propor recurso contra a Diplomação, exceto:
a) O Ministério Público.
b) Os partidos políticos.
c) O eleitor.
d) As coligações partidárias.
e) Os demais candidatos.

Comentários

O recurso contra a diplomação pode ser interposto por qualquer candidato, partido político ou coligação e
Ministério Público Eleitoral, e não também pelos eleitores em geral.

O candidato deve assinalar a alternativa C, pois.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (Cespe – Juiz de Direito – PR/2017) De acordo com as disposições da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, assinale a opção correta.
a) Além do estabelecimento de idade mínima antes da qual se presume que a criança não tem capacidade
para infringir as leis penais, devem ser estabelecidos procedimentos judiciais obrigatórios para tratar a
criança que tenha infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido as leis penais.

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b) Em todo processo judicial ou administrativo que a afete, deve ser assegurada à criança que tenha
capacidade de formular seus próprios juízos a oportunidade de ser ouvida, levando-se devidamente em
consideração as opiniões em função da idade e maturidade dela.
c) Em razão do princípio da separação dos poderes, o Poder Judiciário não é alcançado pelo dispositivo
segundo o qual todas as ações relativas às crianças devem considerar o interesse superior da criança, que
deve ser observado por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades administrativas
ou órgãos legislativos.
d) O exercício do direito da criança à liberdade de expressão não pode sofrer restrição e inclui a liberdade
de procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de
forma oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.

Comentários

Alternativa “a”: A Convenção trata da desjudicialização, impondo-se a adoção, sempre que conveniente e
desejável, de medidas para tratar as crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam
respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais (artigo 40).

Alternativa “b”: A criança deve ser ouvida sempre que possível para a tomada de decisões que lhe digam
respeito, pois se trata de pessoa em situação de desenvolvimento, e não de objeto de proteção. Nesse
sentido, devem os Estados Partes assegurarem-lhe, desde que capacitada a formular seus próprios juízos, o
direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos que lhe sejam relacionados, levando-
se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança (Artigo 12 da
Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, de 1989).

Alternativa “c”: O interesse superior da criança constitui-se em postulado normativo de observância


obrigatória por todo o Estado, especialmente pelo Poder Judiciário.

Alternativa “d”: Admitem-se certas restrições a tal direito, consideradas necessárias para o respeito dos
direitos ou da reputação dos demais, ou para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou
para proteger a saúde e a moral públicas (Artigo 13).

Alternativa correta: letra “b”.

Questão 2. (Vunesp – Juiz de Direito Substituto - RJ/2016) Com relação à Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, tratado internacional de proteção de direitos humanos, com início de vigência em 1990,
é correto afirmar que
a) se afastando da técnica de diferenciação utilizada pela legislação específica brasileira, define criança
como todo ser humano que não atingir a maioridade civil e penal ou for declarado totalmente incapaz,
desde que menor de 18 anos, nos termos da legisla-ção aplicável.
b) em respeito aos princípios da anterioridade e da legalidade, bem como ao garantismo processual, foram
criados os Protocolos Facultativos adesivos, versando sobre a) Venda de Crianças, Prostituição Infantil e
Pornografia Infantil e b) Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, para tipificação de delitos contra
a dignidade sexual e de guerra envol-vendo crianças.

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c) ao estabelecer a obrigação dos Estados de respeitar responsabilidades, direitos e obrigações dos pais,
apropriados para o exercício, pela criança, dos direitos que contempla, adotou o princípio do best interest
of the child-, encampada pelo artigo 227, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.
d) estabelece, em seu rol de direitos contemplados, a proteção de crianças estrangeiras, inclusive contra a
migração interna forçada e utilização em experiên-cias médicas e científicas, prevendo a entrega como
instituto de cooperação internacional.
e) visando a observação dos direitos das crianças, estabeleceu forma de monitoramento peculiar (special
force machinery-), via relatórios apresentados pelo Comitê sobre os Direitos da Criança aos Estados- -
Partes, para análise e acompanhamento.

Comentários

Alternativa “a”: Em conformidade com a Convenção, será criança a pessoa que tiver menos de dezoito
anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada
antes (Artigo 1). Conforme se vê, admitiu-se que cada Estado Parte faça previsão de outra idade (“em
conformidade com a lei aplicável à criança”).

Alternativa “b”: Os Protocolos Facultativos à Convenção foram criados em razão do reconhecimento de


que determinadas necessidades da coletividade infância precisariam ser trabalhadas com mais
detalhamento, buscando-se a sua efetiva proteção. Nesse sentido, foram aprovados os Protocolos sobre a)
Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil e b) Envolvimento de Crianças em Conflitos
Armados, além de outro mais recente, c) que trata do controle da efetivação das disposições da Convenção
e que admite as petições individuais. Todos se encontram em vigência no âmbito internacional.

Alternativa “c”: O princípio do best interest of the child se refere ao superior interesse da criança, que deve
ser observado pela administração, pelo legislador e pelo julgador. O art. 227 da Constituição Federal, ao
prever a prioridade absoluta, encampa o superior interesse da criança e do adolescente.

Alternativa “d”: Não há essa previsão na Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU.

Alternativa “e”: Foi estabelecida como forma de monitoramento a partir de relatórios enviados pelos
Estados Partes ao Comitê sobre os Direitos da Criança da ONU, por intermédio do Secretário-Geral das
Nações Unidas. Tais relatórios devem relatar as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos
os direitos reconhecidos na convenção e sobre os progressos alcançados no desempenho desses direitos,
com periodicidade quinquenal (art. 44, item 1, b, da Convenção). De outro lado, admite-se que o Comitê
solicite aos Estados Partes maiores informações sobre a implementação da convenção. A cada dois anos, o
Comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembleia Geral das Nações Unidades, por
intermédio do Conselho Econômico e Social.

Alternativa Correta: letra “c”.

Questão 3. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa


incorreta:
a) A prática de crimes em concurso com dois adolescentes dá ensejo à condenação por dois crimes de
corrupção de menores.

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b) No caso de adoção unilateral, a irrevogabilidade pode ser flexibilizada no melhor interesse do adotando.
c) Para a configuração da reiteração de atos infracionais graves, é suficiente a prática de nova conduta após
prévia aplicação de medida socioeducativa, salvo falta de contemporaneidade ou menor relevância da
prática infracional antecedente
d) A prescrição penal não é aplicável nas medidas sócio-educativas.
e) É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida sócioeducativa.

Comentários

Gabarito: alternativa D

Alternativa A: correta.

REsp 1.680.114-GO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, por unanimidade, julgado em 10/10/2017, DJe
16/10/2017

Alternativa B: correta.

REsp 1.545.959-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi, por maioria,
julgado em 6/6/2017, DJe 1/8/2017.

Alternativa C: correta.

AgRg no HC 668487 / SP, AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 2021/0156909-2

Alternativa D: incorreta.

Súmula 338 - A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas. (SÚMULA 338,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/05/2007, DJ 16/05/2007, p. 201)

Alternativa E: correta.

(SÚMULA 265, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/05/2002, DJ 29/05/2002, p. 135).

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal:
a) Normas relativas à prescrição e decadência em matéria tributária são reservadas à lei complementar.
b) O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
c) A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou
destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.
d) É constitucional a taxa de renovação de funcionamento e localização municipal.

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e) As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI foram revogadas pela EC 33/2001.

Comentários

a) Tema 2 de Repercussão Geral


b) Súmula Vinculante 41
c) Sumula Vinculante 19
d) Tema 217: É constitucional taxa de renovação de funcionamento e localização municipal, desde que
efetivo o exercício do poder de polícia, demonstrado pela existência de órgão e estrutura competentes
para o respectivo exercício.
e) Tese 325 da Repercussão Geral: As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI, com fundamento
na Lei 8.029/1990, foram recepcionadas pela EC 33/2001
Questão 2. De acordo com a jurisprudência do STJ, é incorreto afirmar que:
a) O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.
b) A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar
cautelar ou antecipatória.
c) A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário,
dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.
d) O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o indébito
tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado.
e) A discussão judicial da dívida, embora não suspensa, por si só, a exigibilidade do crédito, nos termos do
art. 151 do CTN, impede a inclusão do nome do devedor no CADIN.

Comentários

a) Súmula nº 112: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em
dinheiro.

b) Súmula nº 212: A compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por
medida liminar cautelar ou antecipatória.

c) Súmula nº 436: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito
tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

d) Súmula nº 461: O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o
indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado.

e) Tema 264: A mera discussão judicial da dívida, sem garantia idônea ou suspensão da exigibilidade do
crédito, nos termos do art. 151 do CTN, não obsta a inclusão do nome do devedor no CADIN.

Questão 3. Julgue os itens a seguir, de acordo com a disciplina constitucional dos empréstimos
compulsórios:

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I) O empréstimo compulsório pode ser instituído por medida provisória, desde que haja a sua conversão
em lei antes do término do exercício financeiro.
II) É possível a instituição de empréstimo compulsório para o atendimento de despesas extraordinárias,
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência.
III) É possível a instituição de empréstimo compulsório para custeio de investimento público de caráter
urgente ou de relevante interesse nacional
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Nenhuma das afirmativas está correta.
c) Apenas a afirmativa do item I está correta.
d) Apenas a afirmativa do item II está correta.
e) As afirmativas II e III estão corretas.

Comentários

I) Afirmativa incorreta. Há a necessidade da edição de lei complementar.

II) Afirmativa correta.

III) Afirmativa incorreta. O artigo 148, inciso II, da CF, exige que o investimento seja de caráter urgente e de
relevante interesse nacional.

2.11 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1 - Assinale a alternativa incorreta, de acordo com a lei 12.529/2011, que estrutura o Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência.
a) O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) entidade judicante com jurisdição em todo o
território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e
foro no Distrito Federal.
b) O Tribunal Administrativo de Defesa Econômica é órgão do CADE.
c) A Superintendência-Geral é órgão do Cade.
d) O Departamento de Estudos Econômicos é órgão do Cade.
e) O Conselho Administrativo de Defesa Econômica é órgão do Cade.

Comentários

A alternativa ‘a’ corresponde ao conceito do art. 4º da Lei 12.529/2011. As alternativas ‘b’, ‘c’ e ‘d’ são os
órgãos do Cade mencionados no art. 5º. A ‘e’, incorreta, não consta como órgão do Cade.

Questão 2. É clausula abusiva prevista no Código de Defesa do Consumidor, as cláusulas que:


a) Possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

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b) Estipulem prazos para a solução dos problemas decorrentes da relação de consumo.


c) Autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, mesmo quando igual direito seja
conferido ao consumidor.
d) Determinem a utilização consensual da arbitragem.
e) Utilizem o Código de Defesa do Consumidor como parâmetro.

Comentários

Cláusulas abusivas são aquelas que exorbitam os parâmetros estabelecidos pelo Código de Defesa do
Consumidor. São nulas de pleno direito como se nunca tivessem produzido qualquer efeito. A alternativa
‘a’ é a única que se encontra prevista no art. 51, XVI do CDC. As demais não encontram previsão em
nenhum diploma legal.

Questão 3. Assinale a alternativa CORRETA:


a) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
b) As Ações Civis Públicas com base no Estatuto do Idoso serão ajuizadas no foro do local do dano, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa.
c) Conforme a Lei n. 7.853/89, somente a Ação Civil Pública que concluir pela carência ou pela
improcedência da ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal.
d) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se barreiras urbanísticas somente as existentes nas vias e nos
espaços públicos ou de uso coletivo;
e) Segundo a Lei n. 13. 146/15, a pessoa com deficiência, em certos casos, estará obrigada à fruição de
benefícios decorrentes de ação afirmativa.

Comentários

Gabarito: C.

a) Errado, suprimiu a condição de que o impedimento tem de ser de longo prazo, art. 2º.

b) Errado, será no domicílio do idoso, art. 80.

c) Correta, art. 4º, § 1º.

d) Errado, art. 3º, IV, a.

e) Errado, art. 4º, § 2º.

Questão 4. É CORRETO dizer que:

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a) Segundo a Lei n. 7.661/88, considera-se Zona Costeira o espaço geográfico de interação do ar, do mar e
da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que
serão definidas pelo Plano.
b) Conforme a Lei n. 12.651/12, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais,
desde que sejam manifestações culturais, registradas como bem de natureza imaterial integrante do
patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos
animais envolvidos.
c) Conforme a Constituição da República, são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pela União e
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
d) Conforme a Constituição da República, a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Mateira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma
da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.
e) Segundo a Lei n. 7.661/88, normas e diretrizes sobre o uso do solo, do subsolo e das águas, bem como
limitações à utilização de imóveis, poderão ser estabelecidas nos Planos de Gerenciamento Costeiro,
Nacional, Estadual e Municipal, prevalecendo sempre as disposições de natureza mais ampla.

Comentários

Gabarito: A

a) Correto, art. 2º, parágrafo único.

b) Errado, está prevista no art. 225, § 7º da Constituição.

c) Errado, art. 225, § 5.

d) Errado, art. 225, § 4º.

e) Errado, art. 5º, § 2º.

Questão 5. Sobre a condenação a pagar, em sede de direitos difusos, pode-se afirmar:

a) A indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participará necessariamente o Ministério Público.
b) O dinheiro será destinado integralmente a fundo federal.
c) O dinheiro será destinado integralmente a fundo estadual.
d) Haverá a reparação por indenização individual.

Comentários

A alternativa a está correta. Dada a indivisibilidade do objeto lesado e a indeterminabilidade de seus


titulares, não será possível reparar o dano na forma de indenizações individuais, diante deste impasse, a
LACP determinou a destinação do dinheiro proveniente dessas condenações para um fundo federal ou

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fundos estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da


comunidade, na forma do artigo 13 da LACP.

A alternativa b está errada. Com a mesma fundamentação na alternativa a.

A alternativa c está errada. Com a mesma fundamentação na alternativa a.

A alternativa d está errada. Os objetos dos direitos difusos são indivisíveis e seus sujeitos são
indetermináveis. Assim sendo, nos casos onde há lesão a um direito difuso, a reparação individual, por
meio de pagamento de indenização a cada um de seus titulares, é inviável.

Resposta: alternativa a.

Questão 6. Sobre os fundos de direitos difusos, analise os itens a seguir:


I- A principal fonte alimentadora do fundo federal será o montante dos valores decorrentes de
condenações.
II- Os fundos municipais não poderão admitir outras fontes de receita que não as estabelecidas pela Lei
n° 9.008/95.
III- O fluid recovery será destinado a estes fundos.
Assinale a alternativa que apresente os itens corretos:
a) Todos estão corretos.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) Nenhum está correto.

Comentários

O Item I está correto. A principal fonte alimentadora do fundo federal será o montante dos valores
decorrentes de condenações emanadas da justiça federal, de forma que os fundos estaduais receberão os
recursos provenientes de condenações proferidas pela respectiva justiça estadual.

O Item II está incorreto. Cada um dos respectivos regulamentos dos fundos poderá prever outras fontes de
receitas que não os valores provenientes de condenações judiciais.

O Item III está correto. Os recursos oriundos de indenizações relativas a interesses individuais homogêneos
somente serão destinados aos fundos nos casos de fluid recovery.

Resposta: alternativa b.

2.12 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Em relação ao Fundif, assinale a alternativa correta:

a) Não há comunicabilidade, em matéria de recursos, com o fundo federal.

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b) Será beneficiário o projeto de recuperação desenvolvido por entidade não governamental legalmente
constituída há pelo menos 3 (três) anos.
c) São recursos do Fundif os rendimentos provenientes exclusivamente de aplicações financeiras no
tesouro direto.
d) São recursos do Fundif as doações, os auxílios, as contribuições e os legados destinados ao Fundif por
pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira.

Comentários

A alternativa a está errada. Nos termos do inciso IV do artigo 3° da Lei estadual n° 14.086/2001, são
recursos do Fundif os provenientes de fundo federal de direitos difusos.

A alternativa b está errada. Conforme dispõe a alínea a) do inciso II do artigo 2° da Lei estadual n°
14.086/2001, poderá ser beneficiário do Fundif, dentre outros, o projeto de recuperação desenvolvido por
entidade não governamental legalmente constituída há pelo menos 1 (um) ano.

A alternativa c está errada. Nos termos do inciso II do artigo 3° da Lei estadual n° 14.086/2001, são
recursos do Fundif os rendimentos provenientes de depósitos bancários e de aplicações financeiras.

A alternativa d está correta. Nos termos do inciso III do artigo 3° da Lei estadual n° 14.086/2001 são
recursos do Fundif as doações, os auxílios, as contribuições e os legados destinados ao Fundif por pessoa
física ou jurídica, nacional ou estrangeira.

Resposta: alternativa d.

Questão 2. A partir de seus conhecimentos sobre os compromissos de ajustamento de conduta, analise


os seguintes itens:
I- Foi inaugurado no ordenamento a partir de previsão do ECA.
II- Tem eficácia de título executivo judicial.
III- Poderá ser tomado, em relação às infrações à ordem financeira, com exclusividade pelo MPF.
Assinale a alternativa que apresente os itens corretos:
a) Todos estão corretos.
b) apenas I.
c) apenas II.
d) Nenhum está correto.

Comentários

O Item I está correto. O primeiro diploma legal a trazer previsão de compromisso de ajustamento foi o
ECA, ainda que limitando sua abrangência aos direitos das crianças e dos adolescentes, nos termos de seu
artigo 211.

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O Item II está incorreto. Por força de seu artigo 113, o CDC acresceu à LACP o §6° ao artigo 5°,
determinando que os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título
executivo extrajudicial.

O Item III está incorreto. A Lei 12.529/2011 (Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência) prevê
modalidade específica de compromisso de ajustamento de conduta, o "compromisso de cessação da
prática sob investigação ou dos seus efeitos lesivos", a ser tomado pelo Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) em hipóteses de infrações à ordem econômica.

Resposta: alternativa b.

Questão 3. Acerca da legitimação e da cominação em compromissos de ajustamento de conduta,


assinale a alternativa verdadeira:

a) Nos termos do ECA e da LACP, Ministério Público, Defensoria Pública e as Polícias poderão celebrá-lo.
b) Poderão ser legitimadas, excepcionalmente, empresas públicas.
c) O juiz poderá, por discricionariedade, diminuir o valor de multa.
d) Para que a multa possa ser executada, esta deverá ser líquida ou liquidável.

Comentários

A alternativa a está errada. Nos termos do ECA e da LACP, os órgãos públicos legitimados à propositura de
ações civis públicas estão também autorizados a tomar compromissos de ajustamento de conduta.

A alternativa b está correta. As sociedades de economia mista e as empresas públicas podem ser ou não
legitimadas: deve-se observar se sua finalidade é a prestação de serviços públicos, nestes casos atuam
como órgãos públicos, estando, portanto, legitimadas; nos casos onde seu objeto é a exploração de
atividades econômicas, sua atuação é de ente privado, não estando legitimadas, contudo este
entendimento não é uniforme.

A alternativa c está errada. Nas hipóteses em que o título fixou uma multa, mas seu valor for excessivo, o
magistrado poderá reduzi-lo conforme o disposto no parágrafo único do 814 do CPC.

A alternativa d está errada. É importante compreender que, para que a multa possa ser executada, é
necessário que ela seja certa, líquida e exigível, nos termos do artigo 783 do CPC.

Resposta: alternativa b.

Questão 4. Sobre o compromisso de ajustamento de conduta, pode-se afirmar:

a) O tomador do compromisso, como titular do interesse em questão, poderá mitigar a reparação.


b) O compromisso deverá ser formulado de forma a fixar o modo, lugar, extensão e tempo no qual o dano
ao interesse transindividual deverá ser reparado.

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c) É possível que seja celebrado pelo Ministério Público compromisso parcial ou provisória, a implicação
deste tipo de compromisso é a continuidade da investigação aos demais aspectos da questão.
d) Se homologará a promoção de arquivamento de inquérito civil, em decorrência de tomada de
compromisso de ajustamento, contanto que a parte faça depósito de valor em conta judicial para garantir a
transação.

Comentários

A alternativa a está errada. O tomador do compromisso não é titular do interesse em questão, desta forma
não pode abdicar, ainda que parcialmente, do seu conteúdo, tendo em vista que se trata de interesse
transindividual.

A alternativa b está errada. De forma geral, o compromisso deverá ser formulado de forma a fixar apenas o
modo, lugar e tempo no qual o dano ao interesse transindividual deverá ser reparado, como consequência
daquilo que fundamenta a alternativa a.

A alternativa c está correta. No exercício de suas atribuições, poderá o órgão do Ministério Público tomar
compromisso de ajustamento de conduta para a adoção de medidas provisórias ou definitivas, parciais ou
totais, sendo que na hipótese de adoção de medida provisória ou parcial, a investigação deverá continuar
em relação aos demais aspectos da questão, ressalvada situação excepcional que enseje arquivamento
fundamentado, nos exatos termos do artigo 2° da resolução n° 179/2017 do CNMP.

A alternativa d está errada. Apenas se homologará a promoção de arquivamento de inquérito civil, em


decorrência de tomada de compromisso de ajustamento, se constar no TAC que seu não cumprimento
sujeitará o infrator a suportar a execução do título executivo extrajudicial ali formado, devendo a obrigação
ser certa quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto.

Resposta: alternativa c.

Questão 5. O inquérito civil


a) é um procedimento de competência dos legitimados para a propositura de ação civil pública,
excetuando-se as associações.
b) tem como finalidade a investigação de fatos sociais da vida pregressa do candidato a membro do
Ministério Público.
c) será instaurado mediante requerimento ou de ofício.
d) tem natureza judicial.

Comentários

A alternativa a está incorreta. O inquérito civil é um procedimento administrativo, previsto pela


Constituição como privativo do Ministério Público, configurando uma prerrogativa constitucional da
Instituição.

A alternativa b está incorreta. O inquérito civil tem como finalidade mediata a defesa dos interesses
difusos e coletivos (podendo ser utilizado na tutela de interesses individuais homogêneos, se passíveis de

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proteção pelo MP), e como finalidade imediata a averiguação aprofundada de fatos, de modo que, com
base no substrato produzido em sede investigatória, se formará a convicção do membro do MP sobre a
necessidade ou não de propositura de Ação Civil Pública ou tomada de outras medidas cabíveis.

A alternativa c está correta. O art. 6° da LACP determina que qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa
do MP sobre fatos objeto de ACP, deste modo, a representação ou requerimento apresentado, se
consubstanciada em robusto conjunto probatório, poderá imediatamente ser fundamento de propositura
da ação. O art. 2° da Res. CNMP 23/2007, por sua vez, determina que o inquérito civil poderá ser
instaurado de ofício, a requerimento ou representação de qualquer pessoa ou por designação do
Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério Público, Câmaras de Coordenação e
Revisão e demais órgãos superiores da Instituição.

A alternativa d está incorreta. Trata-se de um procedimento extrajudicial, de natureza preparatória e


facultativa.

Resposta: alternativa c

Questão 6. Sobre o inquérito civil, assinale a alternativa INCORRETA:


a) Não é pressuposto para a propositura de ação civil pública.
b) Será instaurado mediante termo de compromisso.
c) Poderá ser instaurado como resposta a denúncia anônima.
d) Não obriga sua integral utilização na instrução de ação civil pública.

Comentários

A alternativa a está correta. Nos termos do parágrafo único do art. 1° da Res. 23/2007, o inquérito civil não
é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público, nem para a
realização das demais medidas de sua atribuição própria.

A alternativa b está incorreta. A instauração do inquérito civil se dará, obrigatoriamente por meio de
portaria, na qual constem: o fundamento legal; o nome e a qualificação do possível autor do fato; o nome e
a qualificação possível do autor da representação; a data e o local da instauração e a determinação de
diligências iniciais; a designação do secretário, quando couber; a determinação de afixação da portaria,
bem como a de remessa de cópia para publicação, nos termos do art. 4° da Res. 23/2007.

A alternativa c está correta. Seria desarrazoado ignorar provocação recebida por ter sido feita por meio de
denúncia anônima, desta forma, a jurisprudência do STJ entende pela inexistência de óbice à instauração
decorrente deste tipo de denúncia. (RMS 38.010/RJ)

A alternativa d está correta. Via de regra, o inquérito civil servirá para instruir a petição inicial da ACP,
contudo, é plenamente possível que a esta sejam juntadas somente as provas produzidas em sede da
investigação, não havendo necessidade de se juntar aos autos toda a documentação do procedimento.
Nesse sentido, é entendimento solidificado do STJ pela possibilidade de que se descarte aquilo que não é
relevante, dada a natureza do procedimento, não havendo que se falar em má-fé do Ministério Público ao
proceder de tal maneira. (REsp 448.023/SP)

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Resposta: alternativa b

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1
Direito eleitoral 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Defina as garantias constitucionais, esclarecendo a relação entre direitos fundamentais,
garantias e remédios constitucionais. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

A expressão “garantias constitucionais” é recoberta de duplo significado.

Numa significação, as garantias constitucionais funcionam como instrumentos, próprios do Estado de


Direito, de limitação do poder político, em proveito das pessoas. Far-se-á melhor designá-las como
“garantismo constitucional” (FARIAS, Cristiano Chaves. Garantismo Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2006, p. 54.)

Noutra significação, as garantias constitucionais figuram como formalidades que asseguram o exercício dos
direitos fundamentais, pelo mecanismo da coerção, das condutas contra eles direcionadas, a
permanecerem nos limites da ordem jurídica, com a finalidade de proteger os seus titulares contra
violações de qualquer natureza. Far-se-á melhor denominá-las “garantias constitucionais em sentido
estrito” (GRINOVER, Ada Pellegrini. Garantias Constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p.
36).

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Debruçando-se sobre o tema, os três institutos – direitos fundamentais, garantias e remédios


constitucionais – encontram-se correlacionados, tendo como ponto de confluência o princípio da
inafastabilidade do controle judicial, sendo exato que a todo direito corresponde uma garantia
constitucional que o assegura, bem como a toda garantia constitucional corresponde um remédio que a
torna eficaz, em atenção ao art. 5º, inc. XXXV, da Constituição da República.

Questão 2. Discorra sobre as ações afirmativas no Direito brasileiro. Resposta objetivamente justificada.

Comentários

As affirmative actions, por cujas origem, meios e fins perpassaremos sinteticamente, são definidas como
políticas ou programas, públicos ou privados, que objetivam conceder algum tipo de benefício a minorias
ou grupos sociais que se encontrem em condições desvantajosas em determinado contexto social, em
razão de discriminações, existentes ou passadas.

As ações afirmativas remontam à Lei do Serviço de Libertos (Freedman’s Bureau Act), que instituiu um
serviço no Departamento de Guerra dos Estados Unidos para dispensar cuidados e proteção aos escravos
libertos e realizar a supervisão de terras abandonadas em 1865.

As ações afirmativas são efetivadas pelo sistema de cotas ou sistema de pontuação, assim como pela oferta
de treinamentos profissionais e reformulação de políticas de contratação e promoção de empregados.

As ações afirmativas são efetuadas para o estabelecimento de relações de emprego, bem como para a
delegação de serviços de comunicação social, contratação e dispêndio de recursos públicos e admissão em
instituições de ensino superior, com diferentes fundamentações filosófica e jurídica.

JURISPRUDÊNCIA

“Concurso público. Pessoa portadora de deficiência. Reserva percentual de cargos e empregos


públicos (CF, art. 37, VIII). Ocorrência, na espécie, dos requisitos necessários ao
reconhecimento do direito vindicado pela recorrente. Atendimento, no caso, da exigência de
compatibilidade entre o estado de deficiência e o conteúdo ocupacional ou funcional do cargo
público disputado, independentemente de a deficiência produzir dificuldade para o exercício da
atividade funcional. Pessoa portadora de necessidades especiais cuja situação de deficiência
não a incapacita nem a desqualifica, de modo absoluto, para o exercício das atividades
funcionais. Inadmissibilidade da exigência adicional de a situação de deficiência também
produzir “dificuldades para o desempenho das funções do cargo”. Reconhecimento, em favor
de pessoa comprovadamente portadora de necessidades especiais, do direito de investidura
em cargos públicos, desde que – obtida prévia aprovação em concurso público de provas ou de
provas e títulos dentro da reserva percentual a que alude o art. 37, VIII, da Constituição – a
deficiência não se revele absolutamente incompatível com as atribuições funcionais inerentes
ao cargo ou ao emprego público. Incidência, na espécie, das cláusulas de proteção fundadas na
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Incorporação
desse ato de direito internacional público, com eficácia e hierarquia de norma constitucional
(CF, art. 5º, § 3º), ao ordenamento doméstico brasileiro (Decreto nº 6.949/2009). Primazia da
norma mais favorável: critério que deve reger a interpretação judicial, em ordem a tornar mais

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efetiva a proteção das pessoas e dos grupos vulneráveis. Precedentes. Vetores que informam o
processo hermenêutico concernente à interpretação/aplicação da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas portadoras de deficiência (Artigo 3). Mecanismos compensatórios
que concretizam, no plano da atividade estatal, a implementação de ações afirmativas.
Necessidade de recompor, pelo respeito à diversidade humana e à igualdade de oportunidades,
sempre vedada qualquer ideia de discriminação, o próprio sentido de igualdade inerente às
instituições republicanas. Parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. Recurso
ordinário provido” (STF, RMS nº 32.732/DF, Rel. Min. Celso de Mello, J. 13.05.2014,
DJU 19.05.2014).

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Explique, de maneira sucinta, como ocorre a responsabilidade civil do Estado por atos
notariais

Comentários

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o Estado possui responsabilidade civil direta e primária pelos
danos que tabeliães e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a
terceiros. Ademais, o Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que,
no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o
responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.

Por outro lado, a legislação acerca de notários e registradores trata a matéria de forma diferente, de modo
que a responsabilidade do notário seria subjetiva. Assim, conforme dispõe o art 22 da Lei nº 8.935 de 1994,
os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na
pratica de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou
culpa dos prepostos.

De acordo com Marcio André Cavalcante, a responsabilidade civil dos notários e registradores não precisa
ser, necessariamente, objetiva, tal qual prevê o art. 37, § 6º da CF/88 considerando que o constituinte
facultou ao legislador a opção de estipular regra diversa. Em outras palavras, a própria Constituição Federal
retirou o assento constitucional da regulação da responsabilidade civil e criminal dos notários, relegando-a
à autoridade legislativa.

A disciplina conferida à matéria pelo legislador consagra a responsabilidade civil subjetiva dos notários e
oficiais de registro. Portanto, não compete ao STF fazer interpretação analógica e extensiva, a fim de
equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de notários ao das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, da CF/88)

Questão 2. Disserte de maneira detalhada os efeitos da fase declaratória da desapropriação

Comentários

A declaração de desapropriação não tem o condão de suprimir a propriedade do particular.

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São efeitos da declaração:

A Declaração Fixa o Estado do Bem

É com a declaração que se saberá o valor da indenização a ser paga pelo poder público.

De acordo com o art. 26, § 1º do DL 3.365/41, as benfeitorias necessárias serão indenizadas, ainda que
feitas após a declaração de desapropriação. Por sua vez, as benfeitorias úteis serão indenizadas somente se
autorizadas pelo poder público. Por fim, as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas.

Ainda, o art. 2º, § 4º da Lei nº 8629/93 afirma que, no caso de reforma agrária, não será considerada
qualquer modificação introduzida ou ocorrida até 6 meses após a data da comunicação da desapropriação.
As modificações poderão ocorrer após esses 6 meses.

SÚMULA Nº 23 - VERIFICADOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA O LICENCIAMENTO DA OBRA,


NÃO O IMPEDE A DECLARAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA PARA DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL,
MAS O VALOR DA OBRA NÃO SE INCLUIRÁ NA INDENIZAÇÃO, QUANDO A DESAPROPRIAÇÃO
FOR EFETIVADA.

2. Direito de Penetração – art. 7º do DL 3.365/41

Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas autorizadas a penetrar nos prédios
compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de oposição, ao auxílio de força policial.

O direito de penetração não transfere a posse. O poder público entra, mas sai do bem, exatamente por não
haver a posse. A penetração ocorre para que o expropriante adentre no bem para realizar determinadas
atividades.

3. Início do prazo decadencial para que a fase executória tenha Início

A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de 5 anos,


contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. Neste caso, somente
decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração. Em outras palavras, tem-se o
prazo de 5 anos da data da expedição do decreto para iniciar a fase executória. Passado o prazo, somente
depois de 1 ano é que o bem poderá ser objeto de nova declaração. Isto de acordo com o art. Art. 10 do DL
3.365/41.

O prazo de 5 anos refere-se para a declaração de utilidade pública. No caso de interesse social, o prazo de
caducidade será de 2 anos, de acordo com o art. 2º da Lei nº 4.132/62.

4. Preferência daquele ente que declara um bem para desapropriação em 1º lugar, quando 2 entes de
mesma hierarquia desejam desapropriar um bem móvel

Observe que a preferência ocorre somente do bem móvel, afinal, em relação ao bem imóvel somente o
ente em que este se situa poderá proceder com a declaração de desapropriação.

5. Imissão Provisória na Posse

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Para que haja a imissão provisória na posse é necessário a presença de 2 requisitos, quais sejam, 1) a
declaração de urgência e 2) que seja depositado o valor de acordo com o que a lei estabelecer,
independente da citação do réu.

Observe que presente ambos os requisitos, o expropriante tem direito subjetivo à imissão provisória na
posse, não podendo o juiz indeferi-la.

A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão
provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias. Excedido o prazo não será concedida
a imissão provisória.

A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente.

Se houver concordância, reduzida a termo, do expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na


posse implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o consequente registro da propriedade
na matrícula do imóvel.

A concordância escrita do expropriado não implica renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado
em juízo.

Na hipótese deste artigo, o expropriado poderá levantar 100% (cem por cento) do depósito.

Do valor a ser levantado pelo expropriado devem ser deduzidos os valores dispostos nos §§ 1o e 2o do art.
32 deste Decreto-Lei, bem como, a critério do juiz, aqueles tidos como necessários para o custeio das
despesas processuais.

Observe que a imissão é uma situação facultada ao expropriante. Não é obrigatório requerer a imissão
provisória. Contudo, na desapropriação por reforma agrária, a imissão provisória é fase obrigatória, nos
termos do art. 6º, I da LC nº 76/93.

Por fim, observe que o art. 1º do DL 1.075/70, que versa sobre a desapropriação de prédio urbano
residencial possibilita também a imissão provisória na posse, mediante o depósito do preço oferecido. Este
depósito pode ser impugnado. Havendo a impugnação, o juiz fixará, em 48 horas, o valor provisório do
imóvel. Quando o valor arbitrado for superior à oferta, o juiz só autorizará a imissão provisória na posse do
imóvel, se o expropriante complementar o depósito para que este atinja a metade do valor arbitrado.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Conceitue codicilo e aponte suas principais características.

Comentários

O codicilo é um negócio jurídico unilateral de última vontade, pelo qual o autor da herança dispõe sobre
bens de pequena monta ou sobre seu funeral. Por meio dele, seu autor poderá expressa certas

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manifestações de vontade, a respeito de providências menores que quer ver atendidas58 após seu
falecimento.

Dispõe o artigo 1.881 do Código Civil:

Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer
disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

É cediço, ainda, que é possível, por meio do codicilo, a nomeação ou substituição de testamenteiro; a
manifestação de perdão ao indigno; e, ainda, o reconhecimento voluntário de filhos.

Ao contrário do testamento, o codicilo apresenta forma simplificada: não exige a presença de testemunhas
e nem registro; basta a capacidade testamentária, podendo ser feito de próprio punho, por meios
mecânicos ou eletrônicos, sempre com data e assinatura – elementos estes essenciais para o
reconhecimento da validade dessa manifestação de vontade.

É possível sua revogação, assim como qualquer outra manifestação de vontade. Nesse sentido, um codicilo
pode revogar outro anteriormente elaborado; no caso de testamento posterior, de qualquer natureza, este
poderá revogar o codicilo, desde que não o confirme ou modifique – o contrário, no entanto, não é
possível; ou seja, um codicilo não tem o condão de revogar um testamento, diante das formalidades
exigidas a este.

Questão 2. É possível legado de coisa incerta? Explique e indique o fundamento legal.

Comentários

O legado de coisa incerta é possível em situações excepcionais, de acordo com o que estabelece o artigo
1.915 do Código Civil: se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo cumprido,
ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.

Com efeito, caso haja testamenteiro, a este caberá cumprir tal determinação. Contudo, se não houver
pessoa especificamente designada para o cumprimento do legado, caberá aos herdeiros e, não os havendo,
aos legatários, na proporção do que herdaram – segundo o artigo 1.934.

Bem assim, o artigo 1.929 estabelece que: se o legado consiste em coisa determinada pelo gênero, ao
herdeiro tocará escolhê-la, guardando o meio-termo entre as congêneres da melhor e pior qualidade. E
essa mesma regra será aplicada no caso de o testador deixar ao arbítrio de um terceiro, ou de um juiz, se

58
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2368.

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aquele não quiser ou não puder escolher. Ainda, se a escolha couber ao legatário, poderá este escolher,
dentre as coisas do mesmo gênero, o melhor que existir na herança.

E esse é o teor dos artigos 1.930 e 1.931 do Código civilista:

Art. 1.930. O estabelecido no artigo antecedente será observado, quando a escolha for deixada
a arbítrio de terceiro; e, se este não a quiser ou não a puder exercer, ao juiz competirá fazê-la,
guardado o disposto na última parte do artigo antecedente.

Art. 1.931. Se a opção foi deixada ao legatário, este poderá escolher, do gênero determinado, a
melhor coisa que houver na herança; e, se nesta não existir coisa de tal gênero, dar-lhe-á de
outra congênere o herdeiro, observada a disposição na última parte do art. 1.929.

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a competência do juízo estadual para o processamento e julgamento de
demandas de âmbito, a priori, federal.

Comentários

A competência da Justiça Federal, na sistemática processual civil brasileira, é definida pelo artigo 109 da
Constituição Federal, ora pelo critério da causa de pedir, a exemplo das demandas sobre direitos indígenas
(art. 109, XI, CF/88), ora pelas partes da relação jurídica, a exemplo das causas marcadas pela presença da
União, entidade autárquica ou empresa pública federal (art. 109, I, CF/88), ressalvada, neste último caso, a
competência das Justiças Especiais, ao passo que a competência da Justiça Estadual se dispõe de forma
residual, isto é, concentra-se nos feitos não abarcados pelas demais Justiças.

Não obstante, a própria Constituição Federal elenca que lei poderá autorizar que as causas de competência
da Justiça Federal em que forem parte instituição de previdência social e segurado possam ser processadas
e julgadas na justiça estadual quando a comarca do domicílio do segurado não for sede de vara federal, na
forma do artigo 109, §3º, da Magna Carta.

Trata-se de verdadeira delegação da competência da Justiça Federal para a Justiça Estadual, relativamente
às ações em que se discutem benefícios previdenciários. Bem assim, o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 860508/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/3/2021 (Repercussão Geral – Tema
820) (Info 1008), consignou que a competência prevista no § 3º do art. 109 da Constituição Federal, da
Justiça comum, pressupõe inexistência de Vara Federal na Comarca do domicílio do segurado.

Vale ressaltar que essa hipótese não se confunde com as ações acidentárias típicas, relativas a benefícios
por acidente de trabalho, ajuizadas em face do Instituto Nacional de Seguridade Social, as quais são de
competência própria da Justiça Estadual e não por delegação, por força do artigo 109, I, da Constituição
Federal, que prevê: Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a União, entidade
autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho.

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Questão 2. Em sede de ação monitória, o réu opôs embargos monitórios e requereu direito à repetição
de indébito em dobro. O referido pleito, contudo, foi afastado pelo magistrado competente ao
argumento de que os embargos não seriam a sede própria para o exame da aludida pretensão, uma vez
que não tem natureza dúplice nem comporta pedido contraposto. Examine a decisão e aponte os
fundamentos jurídicos no sentido de sua correção ou incorreção.

Comentários

A ação monitória mescla atividades de processo de conhecimento e de execução. Com efeito, caso o réu
não apresente defesa, tem-se a constituição do título executivo e o processo segue para os atos de
efetivação.

A defesa, entretanto, se opera por meio de mecanismo próprio: os embargos monitórios, que ensejam
ampliação da cognição judicial, na medida em que o réu pode alegar qualquer matéria passível de arguição
como defesa no procedimento comum, nos exatos termos do art. 702, § 1º do CPC.

Logo, a cognição nos embargos é exauriente e, destarte, o réu pode suscitar qualquer matéria passível de
defesa no procedimento comum, daí porque até mesmo o pedido de restituição em dobro, na forma do
art. 940 do Código Civil, pode ser alegada nos embargos.

Trata-se de uma decorrência da sanção por comportamento ilícito, que tem por escopo punir o abuso do
exercício do direito de ação (v.g. ajuizar processo para cobrar dívida já paga), em típica repressão a ilícitos
processuais.

Nesse sentido é o entendimento do STJ:

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA. PLEITO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO NO


BOJO DOS EMBARGOS MONITÓRIOS. POSSIBILIDADE. 1. Ação monitória, por meio da qual o
autor afirma ser credor da quantia de R$ 153.409,35 (cento e cinquenta e três mil,
quatrocentos e nove reais e trinta e cinco centavos), correspondente a suposto saldo devedor
de contrato de mútuo e abertura de crédito. 2. Ação ajuizada em 24/11/2016. Recurso especial
concluso ao gabinete em 27/07/2020. Julgamento: CPC/2015. 3. O propósito recursal é definir
se é cabível o pedido de repetição de indébito em dobro – previsto no art. 940 do CC/02 – em
sede de embargos monitórios. 4. A condenação ao pagamento em dobro do valor
indevidamente cobrado pode ser formulada em qualquer via processual, inclusive, em sede de
embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção, até mesmo reconvenção,
prescindindo de ação própria para tanto. 5. Recurso especial conhecido e provido 59.

Logo, a decisão revela-se equivocada.

59
STJ, REsp 1.877.292/SP, 3ª T., rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.10.2020, DJe 26.10.2020.

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3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, MANOEL PIMPÃO enviou mensagens diárias,
muitas das vezes mais de uma vez ao dia, para o telefone de sua professora de Direito Penal, afirmando
tratar-se ela da mulher da sua vida, com quem pretendia ter uma dezena de filhos e ser feliz para
sempre; e mesmo depois de solicitado que interrompesse tal comportamento, Manoel manteve a
perseguição.
Constrangida com o assédio, e temerosa pelo seu bem estar, a vítima registrou ocorrência policial no dia
31 de março. No dia seguinte, o Delegado de Polícia, analisando a notícia de fato, classificou-a como
crime de perseguição, previsto no art. 147-A do Código Penal, por força da entrada em vigor, naquele
mesmo dia da Lei nº 14.132/21, que tipificou o “Stalking”.
Considerou ainda a autoridade policial que se encontravam presentes as circunstâncias de violência de
gênero, que justificavam a majoração da pena e permitiam a instauração de inquérito policial, no lugar
do termo circunstanciado.
Na qualidade de Promotor de Justiça, ao receber o inquérito policial, você oferecerá a denúncia com a
classificação jurídica adotada pelo Delegado de Polícia? Fundamente.

Comentários

O Código Penal adotou a teoria da ação para determinar o tempo do crime. CP, art. 4º: Considera-se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário determinar o momento da prática do fato, o
momento da ação ou omissão. Regido pelo princípio da anterioridade e, consequentemente, pela aplicação
da lei penal mais favorável ao acusado, tem-se que o Direito Penal adota as regras de irretroatividade da lei
penal mais prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da lei penal mais benéfica (in melius).

O conflito intertemporal de leis penais resolve-se, assim, da seguinte maneira:

• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada ultrativamente ao fato cometido à sua época.

• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei revogadora, é esta que deverá ser aplicada retroativamente.

Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após
sua revogação, em razão de sua natureza mais benéfica.

A Lei nº 14.132/21 foi publicada no dia 1º de abril de 2021, tipificando o crime de perseguição, nos
seguintes termos:

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a


integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer
forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.

Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

I – contra criança, adolescente ou idoso;

II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código;

III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.

O referido diploma legal revogou expressamente o art. 65 da Lei de Contravenções Penais, que previa:

Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável:
(Revogado pela Lei nº 14.132, de 2021)

Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos
de réis.

Em face da continuidade normativo-típica da conduta prevista na Lei de Contravenções Penais, constata-se


que a Lei nº 14.132/21, que entrou em vigor após o encerramento da conduta praticada por PIMPÃO,
representa um agravamento do tratamento jurídico-penal reservado ao fato abstratamente considerado, já
que passa a prever a pena de reclusão de até 3 (três) anos para infração penal até então punida com prisão
simples de, no máximo, 02 (dois) meses.

Diante de tal situação, por interpretação do art. 2º, Parágrafo único, do Código Penal, o Promotor de
Justiça deve adotar a classificação jurídica constante do art. 65 da Lei de Contravenções Penais;
oferecendo, por conseguinte, proposta de transação penal ao suspeito, caso verificadas as circunstâncias
subjetivas.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
O Código Penal adotou a teoria da ação para
determinar o tempo do crime. CP, art. 4º: Considera-se
Tempo do crime 30%
praticado o crime no momento da ação ou omissão,
ainda que outro seja o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário
Princípio da determinar o momento da prática do fato, o momento
30%
anterioridade da ação ou omissão. Regido pelo princípio da
anterioridade e, consequentemente, pela aplicação da

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lei penal mais favorável ao acusado, tem-se que o


Direito Penal adota as regras de irretroatividade da lei
penal mais prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da
lei penal mais benéfica (in melius).
Em face da continuidade normativo-típica da conduta
prevista na Lei de Contravenções Penais, constata-se
que a Lei nº 14.132/21, que entrou em vigor após o
encerramento da conduta praticada por PIMPÃO,
representa um agravamento do tratamento jurídico-
penal reservado ao fato abstratamente considerado, já
que passa a prever a pena de reclusão de até 3 (três)
Maior gravosidade da Lei anos para infração penal até então punida com prisão
30%
nº 14.132/21. simples de, no máximo, 02 (dois) meses.

Diante de tal situação, por interpretação do art. 2º,


Parágrafo único, do Código Penal, o Promotor de Justiça
deve adotar a classificação jurídica constante do art. 65
da Lei de Contravenções Penais; oferecendo, por
conseguinte, proposta de transação penal ao suspeito,
caso verificadas as circunstâncias subjetivas.
Questão 2. No dia 5 de fevereiro de 2021, João das Dores, motorista de caminhão, durante parada em
posto de gasolina para pernoite, abordou a adolescente X.Y.Z, propondo-lhe conjunção carnal, em troca
de remuneração, o que foi aceito pela menor.
Ao descer do caminhão, a adolescente foi abordada por conselheiros tutelares que faziam fiscalização no
local, confirmando a relação sexual em troca de dinheiro com o caminhoneiro.
João das Dores foi preso em flagrante delito por policiais militares que acompanhavam a fiscalização, e
autuado na Delegacia de Polícia por violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. 218-B do
Código Penal.
Em audiência de custódia, o autuado obteve a liberdade provisória; tendo o auto de prisão em flagrante
sido encaminhado ao Ministério Público para análise.
Antes do oferecimento da denúncia, no entanto, o advogado do acusado ajuizou Habeas Corpus,
pleiteando o trancamento da investigação policial, em face da atipicidade da conduta do autuado.
A tese sustentada foi a de que o crime previsto no art. 218-B do Código Penal (Favorecimento da
prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável) exigiria
a intermediação de um terceiro entre a adolescente e o suspeito da prática delituosa.
Na manifestação ministerial, você opinaria pelo acolhimento da tese sustentada no remédio heroico?
Fundamente.

Comentários

Apesar de o nomen juris do tipo em questão ter deixado de ser "favorecimento da prostituição ou outra
forma de exploração sexual de vulnerável" para evitar confusão terminológica com a figura do vulnerável

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do art. 217-A do CP, é inegável que o legislador, em relação à pessoa menor de 18 e maior de 14 anos,
trouxe uma espécie de presunção relativa de vulnerabilidade.

Nesse ensejo, a exploração sexual é verificada sempre que a sexualidade da pessoa menor de 18 e maior
de 14 anos é tratada como mercancia.

A norma penal não exige a figura do intermediador, além disso, o ordenamento jurídico reconhece à
criança e ao adolescente o princípio constitucional da proteção integral, bem como o respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Assim, é lícito concluir que a norma traz uma espécie de presunção relativa de maior vulnerabilidade das
pessoas menores de 18 e maiores de 14 anos. Logo, quem, se aproveitando da idade da vítima, oferece-lhe
dinheiro em troca de favores sexuais está a explorá-la sexualmente, pois se utiliza da sexualidade de
pessoa ainda em formação como mercancia, independentemente da existência ou não de terceiro
explorador. (Info 690/STJ)

O delito previsto no art. 218-b, § 2°, inciso I, do Código Penal, na situação de exploração sexual, não exige a
figura do terceiro intermediador, comforme entendimento uniformizado pela Terceira Seção do STJ (EREsp
1.530.637/SP, rel. Min. Ribeiro dantas, terceira seção, por maioria, julgado em 24/03/2021.)

Diante de tal entendimento, a manifestação ministerial, em sede de Habeas Corpus, deve ser pelo não
acolhimento do writ; possibilitando-se, assim, o ajuizamento da respectiva ação penal.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Apesar de o nomen juris do tipo em questão ter
deixado de ser "favorecimento da prostituição ou outra
Presunção de forma de exploração sexual de vulnerável" para evitar
vulnerabilidade do confusão terminológica com a figura do vulnerável do 30%
adolescente art. 217-A do CP, é inegável que o legislador, em relação
à pessoa menor de 18 e maior de 14 anos, trouxe uma
espécie de presunção relativa de vulnerabilidade.
Assim, é lícito concluir que a norma traz uma espécie de
presunção relativa de maior vulnerabilidade das
Desnecessidade de
pessoas menores de 18 e maiores de 14 anos. Logo,
intermediados para 30%
quem, se aproveitando da idade da vítima, oferece-lhe
configuração do crime
dinheiro em troca de favores sexuais está a explorá-la
sexualmente, pois se utiliza da sexualidade de pessoa

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ainda em formação como mercancia,


independentemente da existência ou não de terceiro
explorador. (Info 690/STJ)

O delito previsto no art. 218-b, § 2°, inciso I, do Código


Penal, na situação de exploração sexual, não exige a
figura do terceiro intermediador, comforme
entendimento uniformizado pela Terceira Seção do STJ
(EREsp 1.530.637/SP, rel. Min. Ribeiro dantas, terceira
seção, por maioria, julgado em 24/03/2021.)
Diante de tal entendimento, a manifestação ministerial,
em sede de Habeas Corpus, deve ser pelo não
Manifestação ministerial 30%
acolhimento do writ; possibilitando-se, assim, o
ajuizamento da respectiva ação penal.
Questão 3. Após a regular instrução processual, o juízo da causa reconheceu a inimputabilidade do réu,
em virtude de seu desenvolvimento mental incompleto, corroborado pelo laudo pericial de avaliação de
insanidade mental acostado aos autos, que deu conta de que o acusado, ao tempo do crime, era
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito de sua conduta.
Ocorre que, em razão do crime imputado ao réu na denúncia, qual seja, o de tentativa de estupro (art.
213, “caput”, c/c art. 14, II, do CP), o magistrado entendeu por bem aplicar a respectiva medida de
segurança na modalidade de internação, pelo simples fato de que o referido crime é punido com pena de
reclusão, com base no art. 97, “caput”, do CP:
“Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.”.
Na condição de defensor público do réu, esclareça se a decisão do magistrado foi acertada quanto à
aplicação de medida de segurança na forma de internação. Fundamente.

Comentários

A decisão merece ser reformada. Isso porque a aplicação de internação, considerando tão somente que o
crime imputado ao agente comina pena de reclusão (art. 213 do CP), desvirtua a natureza da medida de
segurança, assim como está em desarmonia com o entendimento dos tribunais superiores.

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A medida de segurança, destinada aos inimputáveis, pode ser aplicada na modalidade de internação em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, ainda, na forma de tratamento ambulatorial (art. 96 do
CP60).

Nesse ponto, embora a redação literal do art. 97 do Código Penal dê a impressão de que a internação se
destina a crimes punidos com reclusão e o tratamento ambulatorial se destina a crimes cuja pena seja de
detenção, a melhor interpretação do dispositivo deve ser aquela que considera a periculosidade do agente
para definir qual a medida de segurança mais adequada.

Nesse sentido, inclusive, o STJ decidiu que o simples fato de ser imputado ao inimputável crime punível
com pena de reclusão não autoriza a imposição automática da medida de segurança de internação,
devendo o juízo analisar o grau de periculosidade do agente para fins de determinar se a medida mais
adequada ao ocaso é a internação ou o tratamento ambulatorial, independentemente da espécie de pena
privativa de liberdade cominada abstratamente ao delito61.

Assim, pode-se concluir que a mera previsão em abstrato de pena de reclusão não impede, por si só, a
aplicação de medida de segurança na modalidade de tratamento ambulatorial. Sendo assim, a decisão do
juízo deve ser reformada, para que se aplique a medida de segurança mais adequada ao agente, segundo
sua periculosidade.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Explique no que consiste a sentença vazia.

Comentários

Segundo classificação doutrinária, a sentença vazia consiste na sentença sem fundamentação, que difere,
portanto, da sentença suicida e da sentença autofágica. A primeira é aquela em que há contradição entre a
fundamentação e o dispositivo, e a segunda é aquela que se “consome”, reconhecendo a pretensão
punitiva estatal, deixando, porém, de aplicar a pena, como é o caso da decisão concessiva do perdão
judicial.

Importante frisar que o Pacote Anticrime alterou a redação do artigo 315, §2º, do CPP, dizendo não se
considerar fundamentada qualquer decisão judicial que:

60
Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial. Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe
medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta.
61
STJ. 3ª Seção. EREsp 998.128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 27/11/2019 – Informativo 662.

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I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua


relação com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua


incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019) (Vigência)

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos


determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,


sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

São hipóteses de sentença vazia!

Questão 2. João é produtor de cocaína na Holanda e realiza a distribuição da droga por diversos métodos
logísticos. Para um grupo de clientes determinados a entrega é feita pela Empresa de Correios e
Telégrafos, uma vez que o volume do grupo é pequeno ficando fácil esconder o entorpecente.
Numa dessas remessas, com o destino a cidade de São Caetano do Sul/SP a carga foi interceptada após
verificação de bagagem ocorrida em Recife/PE e iniciado o procedimento para apuração do delito de
tráfico de drogas.
Com base na situação hipotética acima narrada, e com base na atual jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, disserte sobre o foro competente para processar e julgar o crime praticado por João.

Comentários

No caso do crime de tráfico ilícito de drogas, a competência para processar e julgar o delito é, em regra, da
Justiça Estadual. Entretanto, na hipótese de se tratar de tráfico internacional de drogas, onde o delito é
praticado em mais de um país, a competência para processar e julgar o fato ou os fatos é da Justiça
Federal, consoante prevê o artigo 109, V da Constituição Federal de 1988:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

(...)

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no


País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

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Ou seja, nos delitos que possuam repercussão internacional e não meramente interna no país a
competência será da Justiça Federal

Na hipótese de tráfico internacional de drogas, a Justiça Federal será a competente quando exista a
demonstração da internacionalidade do crime, caso contrário a competência será da Justiça Estadual, pois
considera-se como tráfico interno. Neste sentido, cite-se a súmula 522 do STF que, salvo ocorrência de
tráfico para o exterior, quando então a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados
o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes”.

Enfim, para a atribuição de competência para Justiça Federal processar e julgar o crime de tráfico de
entorpecentes, é necessária a presença da transnacionalidade, ou seja, a transferência da droga entre
países distintos.

Além disso, é preciso também que a droga objeto do trânsito internacional seja igualmente coibido no país
de origem.

Assim, no caso narrado na questão, como a droga foi remetida da Holanda para o Brasil
(transnacionalidade) e a cocaína é entorpecente proibido pela legislação brasileira, estamos diante de
tráfico internacional de drogas e a competência para julgamento será da Justiça Federal.

Para a fixação da competência em razão do lugar do crime existem 3 teorias aplicáveis que procuram fixar
onde o delito se consumou para fins de fixação do foro competente.

O primeiro é a teoria do resultado (artigo 70, caput do CPP), onde se considera competente para o
processo e julgamento, em regra, juízo do lugar onde a infração se consumou, ou, sendo hipótese de
tentativa, o local onde o último ato de execução foi praticado.

A segunda é a teoria da atividade, exceção à regra geral do artigo 70, caput do CPP. Para esta teoria o
local competente para o respectivo processo e julgamento deva ser aquele em que se deu a conduta
criminosa. A doutrina traz como exemplo de aplicação desta teoria o crime de homicídio, onde a fato
ocorre num lugar e o resultado morte ocorre em outro. Dado que é no local em que ocorreu a conduta
típica que se encontram as testemunhas e melhores elementos para elucidação do delito, o STJ entende
pela aplicação desta teoria, sendo a que melhor serve para formação da verdade real (CC 34.557/PE).

Por fim existe a teoria da ubiquidade (artigo 70, §§1º e 2º do CPP) que também excepciona a regra geral
do artigo 70, caput do Código de Processo Penal nas hipóteses dos chamados crimes a distância, aqueles
que têm a sua execução iniciada em um determinado país e a sua consumação em outro. Esta teoria realiza
a conjugação das teorias anteriores (teoria do resultado e teoria da atividade), considerando como local do
crime tanto o lugar em que se processou a ação ou omissão (art. 70, § 1.º) como aquele em que ocorreu ou
deveria ter ocorrido o resultado (art. 70, § 2.º).

O crime de tráfico internacional de drogas, como trazido na presente questão, caracteriza-se, em regra,
como um crime a distância, existindo atos praticados no Brasil e outros atos praticados fora do país. No
caso narrado, a execução do crime de tráfico teve seu início na Holanda e foi consumado no Brasil.
Conforme inteligência do artigo 70, §2º do Código de Processo Penal, se o último ato de execução for
praticado fora do território nacional, será competente o Juiz do lugar em que o crime, embora
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. E esta regra se harmoniza com o previsto

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no artigo 6º, 2ª parte do Código Penal ao prever que “considera-se praticado o crime ... onde se produziu
ou deveria produzir-se o resultado”.

Conforme ensina o professor Norberto Avena, essa normatização é importante, pois permite que seja
levado a julgamento no Brasil o agente desde que o crime por ele praticado aqui tenha produzido seu
resultado ou aqui devesse tê-lo produzido.

No caso narrado na questão, aplica-se, então a teoria da ubiquidade para considerar como local do crime o
lugar em que se processou a ação, como aquele em que ocorreu ou deveria ter ocorrido o resultado (no
caso, o Brasil).

Para o delito de tráfico internacional de drogas, chama-se atenção para Súmula 580 do Superior Tribunal
de Justiça que assim prevê:

Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.

Assim, aplicando apenas tal entendimento sumulado a resposta seria que o juízo federal de Recife/PE seria
o competente para o caso.

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça vem avançando e flexibilizando a aplicação do referido verbete
sumular especificamente para o caso de remessa de drogas ao Brasil por via postal, com o conhecimento
do endereço designado para a entrega. Nestes casos, segundo fixado pela Corte, o processamento e
julgamento deve ser realizado pelo juízo do local de destino da droga.

O motivo para a flexibilização do entendimento consolidado na súmula 580 foram expostos no voto do
Ministro Joel Ilan Paciornik (relator), e são: facilitação da instrução probatória e de razoabilidade de
duração do processo.

No voto do relator, o Ministro deixou consignado que embora no local de apreensão da droga já seja
possível a realização da prova da materialidade delitiva, o mesmo não acontece no que diz respeito à
autoria, cuja apuração à distância é difícil e muitas vezes inviável. Em outras palavras, nem mesmo a força
de uma Súmula n. 528/STJ consegue alterar a realidade fática da dificuldade investigativa em local distante
do endereço de destino da droga.

Para a completude da resposta e melhor entendimento da controvérsia, é relevante citar trecho do parecer
do Ministério Público Federal no processo, falando o seguinte:

Este entendimento jurídico tem fundamento legal e constitucional, primeiro porque observa a
regra de que a competência para processar e julgar o crime é do juiz do local do fato, como tal
o local do iter criminis planejado para entrega da mercadoria (o destino da mercadoria);
também observa as garantias constitucionais de razoável duração do processo, de ampla
defesa, do contraditório e da identidade física do juiz. A rigor, o local de apreensão da droga,
distante do local do destino, é apenas um ponto de passagem do longo iter criminis, sem
qualquer relevância para o desiderato criminoso, que deve focar-se no local de destino da
droga, Por isso é que fixar a competência no local de apreensão da droga, em detrimento do

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domicílio do réu/investigado, dificulta o trâmite natural do ação penal e da própria investigação


policial." (fls. 172/174)

Importante ressaltar, ainda, que a prestação jurisdicional efetiva depende de investigação policial eficiente.
Se inicialmente o local da apreensão da droga possa apresentar-se como facilitador da colheita de provas
no tocante à materialidade delitiva, em um segundo momento, a distância de destino da droga dificulta
sobremaneira as investigações da autoria do crime.

É inegável que os autores do delito possuam alguma ligação com o endereço aposto na correspondência.
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a fixação de competência no local de apreensão da
droga pelos correios pode levar ao reconhecimento de competência investigatória e jurisdicional na por
autoridades vinculadas à Região Nordeste, por um crime praticado na Região Sudeste, como ocorre no
enunciado, mostrando-se contra producente em razão da distância.

De acordo com o STJ a fixação da competência no local de destino da droga, quando houver postagem do
exterior para o Brasil com o conhecimento do endereço designado para a entrega, proporcionará eficiência
da colheita de provas relativamente à autoria e consequentemente também viabilizará o exercício da
defesa de forma mais ampla.

Vejamos o acórdão publicado no Conflito de Competência nº 177.882-PR (08/06/2021):

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS VIA


CORREIO. IMPORTAÇÃO. APREENSÃO DA DROGA EM CENTRO INTERNACIONAL DOS CORREIOS
DISTANTE DO LOCAL DE DESTINO. FACILIDADE PARA COLHEITA DE PROVAS DA AUTORIA
DELITIVA NO ENDEREÇO DO DESTINATÁRIO DA DROGA. MITIGAÇÃO DA SÚMULA N. 528 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO.

1. O presente conflito de competência deve ser conhecido, por se tratar de incidente


instaurado entre juízos vinculados a Tribunais distintos, nos termos do art. 105, inciso I, alínea
"d", da Constituição Federal – CF.

2. No caso dos autos, a Polícia Federal em Sinop/MT instaurou inquérito policial para apurar a
suposta prática de crime de tráfico internacional de drogas, tipificado no art. 33 c.c. os arts. 40,
inciso I, e 70, todos da Lei nº. 11.343/2006, uma vez que, nos dias 23/12/2016, 5/4/2017 e
11/5/2017, no Centro Internacional dos Correios em Pinhais/PR, foram apreendidos objetos
postais que continham, respectivamente, 148,47, 30 e 75 g de ecstasy. Apurou-se no
procedimento investigatório tratar-se de importação de droga, visto que os objetos postais
foram remetidos da Holanda e tinham como destinatários pessoas residentes no município de
Sinop/MT, de acordo com o recibo dos Correios.

3. O núcleo da controvérsia consiste em verificar a possibilidade de redimensionar o alcance da


Súmula n. 528/STJ, a qual cuida de tráfico de drogas praticado via postal, nos mesmos moldes
em que a Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça, no precedente do CC 172.392/SP, de
minha relatoria, DJe 29/6/2020, flexibilizou a incidência da Súmula n. 151/STJ, no caso de
contrabando e descaminho, quando a mercadoria apreendida estiver em trânsito e conhece-se
o endereço da empresa importadora destinatária da mercadoria.

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4. Conforme Súmula n. 528/STJ, "Compete ao Juiz Federal do local da apreensão da droga


remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional". Feita a
necessária digressão sobre os julgados inspiradores da Súmula n. 528/STJ, constatase que o
ilustre Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, no julgamento do CC 134.421/TJ (DJe 4/12/2014),
propôs a revisão do seu posicionamento para, exclusivamente no caso de importação de droga
via correio (ou seja, quando conhecido o destinatário), reconhecer como competente o Juízo do
local de destino da droga. Malgrado tenha vencido a tese pela competência do local da
apreensão da droga, em nome da segurança jurídica, a dinâmica do tempo continua revelando
as dificuldades investigativas no caso de importação via correios, quando a droga é apreendida
em local distante do destino conhecido.

5. "Em situações excepcionais, a jurisprudência desta Corte tem admitido a fixação da


competência para o julgamento do delito no local onde tiveram início os atos executórios, em
nome da facilidade para a coleta de provas e para a instrução do processo, tendo em conta os
princípios que atendem à finalidade maior do processo que é a busca da verdade real" (CC
151.836/GO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 26/6/2017).
Ademais, uma vez abraçada a tese de que a consumação da importação da droga ocorre no
momento da entabulação do negócio jurídico, o local de apreensão da mercadoria em trânsito
não se confunde com o local da consumação do delito, o qual já se encontrava perfeito e
acabado desde a negociação.

6. Prestação jurisdicional efetiva depende de investigação policial eficiente. Caso inicialmente o


local da apreensão da droga possa apresentar-se como facilitador da colheita de provas no
tocante à materialidade delitiva, em um segundo momento, a distância do local de destino da
droga dificulta sobremaneira as investigações da autoria delitiva, sendo inegável que os autores
do crime possuam alguma ligação com o endereço aposto na correspondência.

7. A fixação da competência no local de destino da droga, quando houver postagem do exterior


para o Brasil com o conhecimento do endereço designado para a entrega, proporcionará
eficiência da colheita de provas relativamente à autoria e, consequentemente, também
viabilizará o exercício da defesa de forma mais ampla. Em suma, deve ser estabelecida a
competência no Juízo do local de destino do entorpecente, mediante flexibilização da Súmula n.
528/STJ, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca da verdade e da duração
razoável do processo.

8. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara Cível e Criminal de
Sinop - SJ/MT, o suscitado.

Desta maneira, na esteira da jurisprudência mais atual do Superior Tribunal de Justiça o foro competente
para processar e julgar o crime de tráfico internacional de drogas será a justiça federal de São Caetano do
Sul/SP, uma vez que se trata de remessa de entorpecente via postal com o conhecimento do endereço
designado para a entrega.

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3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Discorra sobre o dolo no crime de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses legais ou
deixar de observar as formalidades da dispensa ou inexigibilidade (art. 89, da Lei n.º 8.666/93), à luz do
entendimento do Superior Tribunal de Justiça (máximo 15 linhas).

Comentários

O crime do art. 89, da Lei n.º 8.666/93 é tipo misto alternativo e próprio, vez que somente poderá ser
sujeito ativo do crime os agentes públicos ou equiparados, que são aqueles que se encaixam no conceito
do art. 84, da Lei de Licitações:

Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que exerce, mesmo que
transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público.

§1o Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações, empresas públicas e
sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle, direto ou indireto, do Poder
Público.

§2o A pena imposta será acrescida da terça parte, quando os autores dos crimes previstos nesta
Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de função de confiança em órgão da
Administração direta, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, fundação
pública, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo Poder Público.

Esse tipo penal é doloso e, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça 62, para a sua
configuração é indispensável a comprovação do dolo específico do agente em causar dano ao erário e a
demonstração do prejuízo à administração pública. Confira:

DIREITO SANCIONADOR. AGRAVO INTERNO EM ARESP. ACP DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS CARREADOS NO
MUNICÍPIO DE VIÇOSA/MG. PRETENSÃO DO ENTÃO ALCAIDE DE AFASTAMENTO DA
CONDENAÇÃO POR CONDUTA ÍMPROBA. LESÃO AOS COFRES PÚBLICOS EXTENSIFICADA PELAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 10 DA LEI 8.429/1992.
AGRAVO INTERNO DO IMPLICADO DESPROVIDO.

62 Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 134: DOS CRIMES DA LEI DE LICITAÇÃO – LEI N. 8.666/1993. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.

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1. Cinge-se a controvérsia em analisar se a conduta imputada ao demandado, então Prefeito do


Município de Viçosa/MG, cifrada a supostas irregularidades em procedimento licitatório, pode
ser qualificada como ímproba.

2. Acerca do tema, as Turmas desta Corte Superior especializadas em Direito Penal firmaram
a diretriz de que, para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993
[dispensa ou inexigibilidade de licitação fora das hipóteses legais] exige-se a presença do dolo
específico de causar dano ao erário e a caracterização do efetivo prejuízo (REsp. 1.485.384/SP,
Rel. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 2.10.2017; REsp. 1.367.663/DF, Rel. Min. NEFI
CORDEIRO, DJe 11.9.2017). 3. *…+ (AgInt no AREsp 1370933/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2020, DJe 17/11/2020 – negritamos).

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 89 DA LEI N. 8.666/1993. DISPENSA DE LICITAÇÃO MEDIANTE


FRACIONAMENTO DA CONTRATAÇÃO. DOLO ESPECÍFICO. INTENÇÃO DE LESAR A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PREJUÍZO EFETIVO AO ERÁRIO. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO.
CONDUTA. ATIPICIDADE. EXTENSÃO DA ORDEM AOS CORRÉUS (ART. 580 C/C ART. 654, § 2º,
AMBOS DO CPP).

1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmada a partir do julgamento


da APn n. 480/MG, a consumação do crime do art. 89 da Lei n. 8.666/1993 exige a
demonstração do dolo específico, ou seja, a intenção de causar dano ao Erário e a efetiva
ocorrência de prejuízo aos cofres públicos.

2. Hipótese em que o paciente, prefeito do município, foi condenado como incurso no art. 89
da Lei n. 8.666/1993, por ter, juntamente com os membros da comissão de licitação, fracionado
o serviço de transporte escolar em vários roteiros para, considerando o valor isolado de cada
uma das linhas, dispensar o processo licitatório, em desacordo com o que determina o art. 23,
§§ 2º e 5º e art. 24, II, da Lei n. 8.666/1993.

3. Observa-se, contudo, a existência de condenação baseada no dolo genérico (dispensa ou


inexigibilidade de licitação, fora das hipóteses legais, com o objetivo de direcionamento da
contratação), o que, segundo a jurisprudência desta Corte, não é suficiente para sustentar o
decreto condenatório.

4. A sentença não fez qualquer referência à existência de deliberada intenção de causar


prejuízos à Administração Pública ou à efetiva ocorrência do dano. Ao contrário, o magistrado
de primeiro grau reconhece que os serviços foram prestados e, ao afastar a conduta prevista no
art. 1°, inciso I, do Decreto-Lei n. 201/67, afirma, categoricamente, inexistir nos autos provas
suficientes para comprovar o dolo do denunciado de efetuar pagamentos aos contratados
superiores aos ajustados, sem qualquer justificativa para tanto.

5. Ordem concedida para absolver o paciente Cesar Augusto de Freitas, com fundamento no
art. 386, III, do Código de Processo Penal, da imputação da prática do crime previsto no art.
89 da Lei n. 8.666/1993, com extensão dos efeitos aos corréus Ronildo Vieira Maciel, Tereza
Maria Lopes de Brito e Amarildo Bezerra Leite (art. 580 do CPP). Pedido de reconsideração da
decisão que apreciou o pleito liminar prejudicado. Comunique-se, com urgência, ao Juízo da 37ª

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Vara Federal da Subseção Judiciária de Caruaru/PE e à Primeira Turma do Tribunal de Justiça de


Pernambuco. (HC 588.359/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 08/09/2020, DJe 14/09/2020 – negritamos).

Assim, não estando configurado o dolo específico, não constituirá o fato infração penal.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. O candidato com registro deferido pela Justiça Eleitoral, com menos de 6 (seis) meses de
domicílio, poderá ter a sua elegibilidade questionada pelo Ministério Público, em grau de recurso,
perante a Justiça Eleitoral? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

O prazo de 6 (seis) meses de fixação do domicílio eleitoral do candidato na circunscrição territorial é fixado
por norma legal, veiculada pelo art. 9º, caput, initio, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi
conferida pela Lei nº 13.488/17.

Nesse diapasão, como as condições de elegibilidades legais estão subordinadas à preclusão temporal, de
forma que devem ser alegadas em ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura, ressalvadas,
tão somente, as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade supervenientes, em consonância
com os arts. 223, § 3º, e 259 do Código Eleitoral, art. 3º da Lei Complementar nº 64/90 e art. 11, § 10, da
Lei nº 9.504/97, incluído pela Lei nº 12.034/09, o candidato com registro deferido pela Justiça Eleitoral,
com menos de 6 (seis) meses de domicílio, não poderá ter a sua elegibilidade questionada pelo Ministério
Público, em grau de recurso, perante a Justiça Eleitoral.

JURISPRUDÊNCIA

“Eleições 2012. Agravos regimentais (...). Incide, na espécie, o disposto no art. 11, § 10, da Lei
nº 9.504/97, porque constatada alteração jurídica superveniente ao registro de candidatura
(...). De acordo com a jurisprudência desta Corte, cumpre à Justiça Eleitoral, enquanto não
cessada a jurisdição relativamente ao registro de candidato, levar em conta fato
superveniente” (STF, AI nº 35.425, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU 26.08.2014).

3.9 – DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. Em entrevista a um programa televisivo, um dos entrevistados disse que “os adolescentes
assumem o BO, porque não dá em nada”.
Na qualidade de membro do Ministério Público, responda de forma técnica se a pessoa adolescente
pode ter sua liberdade cerceada e, em caso positivo, qual o procedimento a ser seguido para tanto.

Comentários

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O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, no art. 106, que:

ECA Art. 106 - Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

Havendo flagrante de ato infracional, o procedimento policial seguirá as seguintes etapas:

a) Adolescente é apresentado à autoridade policial (ECA art. 172);

b) Formalização do flagrante de ato infracional (ECA art. 173): se for ato infracional com violência ou
grave ameaça à pessoa, o delegado deve lavrar auto de apreensão de adolescente (ECA art. 173, caput).
Por outro lado, em se tratando de ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado
pode lavrar: (i) auto de apreensão de adolescente, ou (ii) boletim de ocorrência circunstanciada (ECA art.
173, parágrafo).

c) Destinação do adolescente (ECA art. 174): formalizado o flagrante, o delegado tem duas opções:

c.1) Liberação do adolescente para os pais ou responsável, sob compromisso de apresentação do infrator
ao MP (ECA art. 174, 1ª Parte): Nesta hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente,
cópia do auto de apreensão ou do BOC ao Ministério Público (ECA art. 176).

c.2) Não liberação do adolescente quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social,
deva o mesmo permanecer sob internação para garantia da sua segurança ou da ordem pública (ECA art.
174, 2ª Parte): Nessa hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente, o adolescente ao
MP, juntamente com cópia do auto de apreensão ou do BOC, ou, sendo impossível a apresentação
imediata, encaminhará o mesmo à entidade de atendimento (ECA art. 175, caput e §1º).

Caso não haja entidade de atendimento, o delegado poderá deixar o adolescente apreendido por até 24
horas, devendo este permanecer em repartição especializada para menores. Caso esta seja inexistente,
ficará em dependência comum separada da destinada aos maiores (ECA art. 175, §2º).

O procedimento será seguido, então, por etapas ministerial e judicial.

Noutro giro, caso o cerceamento da liberdade dê-se por ordem judicial, o infante deverá ser encaminhado
diretamente à autoridade judiciária (ECA art. 171).

Questão 2. É possível responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera penal? Em que consiste a teoria da
dupla imputação? Esta teoria é aplicada no Direito pátrio?

Comentários

A Constituição da República estabelece que:

CRFB Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

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Destarte, objetivando interpretar o dispositivo supra e estabelecer (ou não) a possibilidade de


responsabilização penal da pessoa jurídica, três correntes apresentam-se:

1ª Corrente – Não há previsão constitucional sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica


(minoritária): segundo este entendimento, a CRFB (art. 225, §3º) teria relacionado condutas a pessoas
físicas e sanções penais, por sua vez, as atividades estariam relacionadas às pessoas jurídicas e sanções
administrativas. Assim, as condutas de pessoas físicas estariam sujeitas ao Direito Penal, enquanto as
atividades de pessoas jurídicas estariam sujeitas ao Direito Administrativo.

2ª Corrente – Pessoa jurídica não pode cometer crimes - Societas delinquere non potest (minoritária):
embasando-se na teoria da ficção de Savigny, as pessoas jurídicas teriam existência meramente fictícia e,
em razão disto, seriam desprovidas de vontade e consciência próprias e não praticariam conduta. Assim,
como não agiriam com dolo ou culpa, em razão da inexistência de responsabilidade penal objetiva não
cometeriam crimes. Além do mais, não haveria culpabilidade, vez que a reprovabilidade pessoal da
conduta não seria dirigida à pessoa jurídica, mas à pessoa física representante daquela. Também não
haveria sentido a aplicação de pena à pessoa jurídica, vez que as finalidades da pena não incidiriam sobre a
pessoa jurídica e haveria violação ao princípio da intranscendência da pena.

3ª Corrente – Pessoa jurídica pode cometer crime - teoria da realidade, de Otto Gierke (STJ, REsp
610.114): a pessoa jurídica seria um ente real com capacidade e vontade próprias, distintas das pessoas
físicas que a compõem, assim, não há de se falar em responsabilidade penal objetiva. As mesmas, ainda,
possuem capacidade de culpabilidade (relacionada à vontade do administrador) e de sanção penal. Além
disso, ela é dotada de capacidade de pena, não havendo violação ao princípio da pessoalidade da pena.
Ressalta-se, também, que há previsão na legislação infraconstitucional de penas aplicáveis às pessoas
jurídicas e a Constituição (art. 225, § 3º; CRFB art. 173, §5º) prevê expressamente a responsabilidade da
pessoa jurídica.

Os tribunais pátrios, então, estabeleceram que é possível a responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera
penal, pela prática de crime ambiental.

Isso ocorre quando preenchidos os seguintes requisitos cumulativos: (a) infração cometida em benefício ou
interesse da PJ; e (b) por decisão do representante legal ou contratual da PJ, ou de seu órgão colegiado;

Lei 9.605/98 Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
beneficio da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou participes do mesmo fato.

Por fim, a teoria da dupla imputação consistia na necessidade da denúncia do Ministério Público
relacionar, a um só tempo, a pessoa jurídica e a pessoa física que atuou em benefício daquela, figurando
ambos em litisconsórcio passivo necessário.

Essa teoria, entretanto, não é mais aplicada pelos tribunais superiores.

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EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À
PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução
penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não
impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade
se caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo
inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3.
Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a
pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do
constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de
evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico
ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da
produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de
esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas
atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em
benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado
delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da
pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em
não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual.
5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.

(RE 548181, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL: DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO
CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA.

1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não
condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014,
public. 30/10/2014).

2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. Precedentes desta Corte.

3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática
de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução.

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4. Recurso ordinário a que se nega provimento.

(RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
06/08/2015, DJe 13/08/2015)

3.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Disserte sobre o artigo 166 do Código Tributário Nacional (máximo 45 linhas)

Comentários

Trata-se de dispositivo que tem provocado controvérsias tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

Por força desse dispositivo, tratando-se de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do
respectivo encargo financeiro, a restituição somente será feita a quem prove haver assumido o referido
encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la.

A interpretação desse dispositivo passa pela construção de sentido dessas duas expressões que grifamos
acima. O que significa transferência do respectivo encargo financeiro? Quem é aquele que, assumindo o
encargo, tem direito à restituição?

Duas são as possibilidades de interpretação da expressão transferência do respectivo encargo financeiro.


Pela primeira, o dispositivo estaria se referindo à transferência econômica do encargo financeiro. Assim,
sempre que o contribuinte de direito repasse o custo da tributação a um terceiro – o contribuinte de fato –
incidiria o disposto no artigo 166. Pela segunda interpretação, a transferência a que o dispositivo faria
referência não seria a econômica, mas a jurídica. Desse modo, só haveria a incidência do artigo 166 nos
casos em que a própria legislação estabelecesse a transferência do ônus tributário.

O problema da interpretação econômica é que não é fácil saber quando um tributo foi ou não transferido a
terceiro. Luís Eduardo Schoeuri63, levando apenas em consideração as variáveis apontadas por Cesare
Cosciani, realizou cálculo matemático combinatório e chegou à conclusão de que existe a possibilidade da
ocorrência de 566.231.040 (quinhentos e sessenta e seis milhões, duzentos e trinta e um mil e quarenta)
diferentes situações que podem impactar na eventual translação.

Portanto, esse estudo demonstra a inviabilidade da interpretação segundo a qual o artigo 166 se aplicaria
sempre que houvesse a transferência econômica da tributação, pela impossibilidade de aferição de quando
isso ocorreu.

63
SCHOEURI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 69

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Assim, a expressão transferência do respectivo encargo financeiro deve ser compreendia como
transferência jurídica do respectivo encargo financeiro, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça
em alguns julgados.64

A rigor, há apenas dois tributos em que há a transferência jurídica do respectivo encargo financeiro:
Referimo-nos ao ICMS e ao IPI, em razão de em ambos os impostos incidir a sistemática da não
cumulatividade, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas
operações anteriores.

Apesar disso, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que também o ISSQN comporta, como regra, a
transferência do respectivo encargo financeiro, enquadrando-se na regra do artigo 16665.

Portanto, à luz dessas premissas e da jurisprudência dominante, podemos afirmar que o artigo 166 pode
incidir apenas com relação aos seguintes tributos: ICMS, IPI e ISSQN. Nos demais, não há repasse jurídico
do respectivo encargo financeiro, aplicando-se a regra geral do artigo 165.

Agora, cabe enfrentarmos a segunda indagação, para responder quem é aquele que tem legitimidade para
pleitear a restituição.

Quanto ao tema, o Superior Tribunal de Justiça parece ter resolvido a celeuma nos julgamentos do REsp
903394 e do REsp 1299303, ambos apreciados sob a sistemática dos recursos repetitivos.

No primeiro julgado66, a Corte entendeu que somente o contribuinte de direito tem legitimidade para
pedir a restituição, desde que comprove que não repassou o custo da tributação ou, no caso ter repassado,
tenha a autorização do terceiro.

No segundo julgado, o Superior Tribunal de Justiça considerou que aquele entendimento não se aplicava
aos casos de repetição de indébito envolvendo a incidência do ICMS sobre a demanda de energia elétrica
contratada e não utilizada67. O argumento foi o de que, nesses casos, a lei expressamente autoriza a
concessionária a repassar o custo da tributação ao consumidor final (art. 9º, § 3º, da Lei 8.987/1995), razão
pela qual a empresa não teria nenhum incentivo para questionar as exigências indevidas.

Embora o julgado tenha sido bastante específico, abarcando apenas o ICMS incidente sobre a energia
elétrica, seus fundamentos podem ser aplicados a qualquer serviço público que seja prestado sob o regime
de concessão ou permissão.

Portanto, acerca do artigo 166 do Código Tributário Nacional, é possível fazer a seguinte síntese:

64
STJ, 1ª T., AgREsp 436.894/PR, Min. José Delgado, dez. 2002
65
EREsp 873.616/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe 1º/02/2011
66
REsp 903.394/AL, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/03/2010, DJe 26/04/2010
67
REsp 1299303/SC, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012, DJe 14/08/2012

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1º: De um modo geral, a regra se aplica ao ICMS, IPI e ISSQN;


2º: Como regra geral, apenas o contribuinte de direito é quem tem a legitimidade para pleitear
a repetição do indébito, desde que não tenha repassado o custo da tributação ou tenha obtido
a autorização do terceiro;
3º: Quanto aos serviços concedidos, o contribuinte de fato – consumidor final – tem
legitimidade para pleitear a repetição do indébito nos tributos indiretos incidentes sobre
serviços concedidos.

3.11 - DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo
psicológico?

Comentários

O dano moral coletivo, compreendido como o resultado de lesão à esfera extrapatrimonial de determinada
comunidade, dá-se quando a conduta agride, de modo ilegal ou intolerável, os valores normativos
fundamentais da sociedade em si considerada, a provocar repulsa e indignação na consciência coletiva.

Possui natureza transindividual que atinge classe específica ou não de pessoas.

Poderá ser comprovado pela presença de prejuízo à imagem, ao sentimento e à moral coletiva dos
indivíduos.

Prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de apreciação na


esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos.

Enfim, “O dano moral extrapatrimonial atinge direitos de personalidade do grupo ou coletividade


como realidade massificada, que a cada dia reclama mais soluções jurídicas para sua proteção. Isso não
importa exigir da coletividade "dor, repulsa, indignação tal qual fosse um indivíduo isolado, pois a
avaliação que se faz é simplesmente objetiva, e não personalizada, tal qual no manuseio judicial da boa-
fé objetiva. Na noção inclui-se tanto o dano moral coletivo indivisível (por ofensa a interesses difusos e
coletivos de uma comunidade) como o divisível (por afronta a interesses individuais homogêneos)"
(REsp n. 1.574.350/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 3/10/2017, DJe
6/3/2019).

Questão 2. Valor: 4 (quatro) pontos.


DISSERTAÇÃO (No máximo 60 linhas)

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A aparente antinomia da norma civil codificada e a lei processual, relativamente ao sistema de


incapacidades preconizado pela Lei nº 13.146/15, na definição da curatela.
Discorra sobre os aspectos jurídicos essenciais do tema proposto, abrangendo o conceito, as
características do instituto, o conflito normativo e as atribuições do Ministério Público.68

Comentários

O instituto das incapacidades foi imaginado e construído sobre uma razão moralmente elevada: a proteção
dos que são portadores de uma deficiência juridicamente apreciável.

Com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei 13.146/2015, que concretizou o
compromisso assumido em plano internacional durante a Convenção de Nova York sobre os direitos das
pessoas com deficiência de 12/2006, o plano das incapacidades foi todo reformulado, visando a proteção e
promoção da autonomia da pessoa com deficiência, possibilitando sua autodeterminação. O enfoque
deixou de ser a incapacidade e passou a ser as capacidades.

Cumpre destacar que a referida convenção foi aprovada nos moldes do §3º do artigo 5º da Constituição
Federal, equivalente à Emenda Constitucional, prevalecendo sobre as demais leis.

O artigo 3º da Convenção consagra como princípios a igualdade plena das pessoas com deficiência e a sua
inclusão com autonomia, recomendando o dispositivo seguinte a revogação de todos os diplomas legais
que tratam as pessoas com deficiência de forma discriminatória.

Por meio das alterações promovidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência - EPD -, houve a
desconstrução de um paradigma negativo que acompanhava as pessoas com deficiência.

A linha central das alterações realizadas é o caráter inclusivo das pessoas com deficiência, permitindo que
sua autodeterminação seja limitada apenas em casos de extrema necessidade e, ainda assim, será limitada
apenas no tocante a aos direitos de natureza patrimonial e negocial.

Com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a matéria das incapacidades foi
completamente reformulada e todas as incapacidades relacionadas aos deficientes deixaram de existir.

Com as mudanças promovidas pela Lei nº. 13.146/2015, somente são absolutamente incapazes os
menores de 16 anos - denominados de menores impúberes -, não mais havendo maiores absolutamente
incapazes.

Em outras palavras, a partir da entrada em vigor da Lei nº. 13.146/2015, a pessoa com deficiência – aquela
que tem impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, nos termos do

68
55º CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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art. 2º. – não deve ser mais tecnicamente considerada civilmente incapaz, na medida em que os arts. 6º. e
84, do mesmo diploma, deixam claro que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa.

Caso a pessoa com deficiência possua alguma limitação, poderá eleger duas pessoas idôneas para lhe
prestar apoio na tomada de decisão. Ainda, a depender do nível da limitação, pode ser necessária a
curatela da pessoa com deficiência. Tal possibilidade vem prevista no próprio estatuto, mas com uma
roupagem diferente.

A curatela de pessoas com deficiência constitui uma medida de proteção extraordinária, estritamente
proporcional às suas necessidades, devendo durar o menor tempo possível. Afetará apenas os direitos de
natureza patrimonial e negocial.

Os direitos ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho


e ao voto não serão afetados pela curatela.

A pessoa curatelada poderá ter seu consentimento suprido. No entanto, quando tratar-se de realização de
tratamento, procedimento e hospitalização, deve ser assegurada sua participação na decisão, no maior
grau possível.

Para fins de proteção dos interesses das pessoas com deficiência em situação de curatela, o Juiz deverá
ouvir o Ministério Público antes de nomear curador.

A curatela pode ser requerida pelo cônjuge ou companheiro, pelos parentes ou tutores, pelo representante
de entidade onde se encontre abrigada a pessoa e pelo Ministério Público.

Considerando-se o sistema jurídico tradicional, vigente por décadas, no Brasil, que sempre tratou a
incapacidade como um consectário quase inafastável da deficiência, pode parecer complicado, em uma
leitura superficial, a compreensão da recente alteração legislativa. Mas uma reflexão mais detida é
esclarecedora.

Em verdade, o que o Estatuto pretendeu foi, homenageando o princípio da dignidade da pessoa humana,
fazer com que a pessoa com deficiência deixasse de ser “rotulada” como incapaz, para ser considerada –
em uma perspectiva constitucional isonômica – dotada de plena capacidade legal, ainda que haja a
necessidade de adoção de institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e,
extraordinariamente, a curatela, para a prática de atos na vida civil.

Régua de correção fornecida pela banca

A questão proposta visa a aferir o conhecimento do candidato sobre as substanciais alterações havidas no
sistema de incapacidades pelo advento da Lei 13.146/15. Além, verificar a argumentação e fundamentação
jurídica acerca da aparente antinomia entre o CPC que, entrando em vigor posteriormente, dispôs
diversamente quanto ao instituto da Curatela. Neste sentido, espera-se que a resposta contemple a
prevalência da Convenção dos Direitos da pessoa com deficiência e sua importância normativa como
emenda constitucional e, ainda, a adoção do diálogo de fontes como instrumento de compatibilização do
conflito que reverencie o princípio da dignidade da pessoa humana. Cobra-se a análise dos legitimados.
Deve ainda apreciar o tratamento do Ministério Público relativamente à intervenção, bem como a
incongruência da previsão legal para atuação funcional do Parquet. A simples transcrição de dispositivos

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legais não será considerada como argumento válido isoladamente. Será ainda observada a correção do
vernáculo e a estrutura lógica das assertivas constantes nas respostas. A pontuação da resposta foi
distribuída conforme a descrição fundamentada dos aspectos jurídicos essenciais do tema 4.

3.12 – DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. No que consiste o princípio da residualidade, em sede de processo coletivo?

Comentários

O princípio da residualidade consiste na possibilidade de ampliação do rol de objetos jurídicos tutelados na


lei 7.347/85, desde que seja possível o enquadramento no macro tema. Assim, no inciso IV do art. 1º da
LACP, verifica-se que esta lei abrange “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”, sendo estes, qualquer
um não mencionado no demais sete incisos do art. 1º, mas que carregam consigo as mesmas
características dos direitos coletivos em sentido amplo, mencionados no art. 81 do CDC.

Questão 2. Após a propositura de determinada Ação Civil Pública, a autora (associação legitimada) não
promove diligência que lhe foi incumbida no prazo de 30 (trinta) dias, o juiz então profere sentença sem
resolução de mérito.
Acerca da hipótese acima, responda:
a) Qual a fundamentação para a sentença sem resolução de mérito pelo juiz?
b) Foi correta a sentença proferida?
c) Qual o papel do Ministério Público no andamento processual acima?

Comentários

A questão versa sobre o abandono da causa em âmbito de ação civil pública, bem como em seus
desdobramentos.

a) A fundamentação utilizada para a sentença sem resolução de mérito foi o abandono de causa, nos
termos do artigo 485, inciso III do CPC:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

[...]

III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por
mais de 30 (trinta) dias;

b) Não foi correta a sentença proferida pelo magistrado, levando-se em conta o princípio da
indisponibilidade mitigada da ação coletiva.

O princípio apresentado impede que o abandono da causa autorize sua extinção, e é extraído do artigo 5°,
§3° da LACP:

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Art.5° [...]

§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o


Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

No caso, o juiz deveria ter intimado a autora para suprir sua falta no prazo de 5 (cinco) dias, conforme
dispõe o artigo 485, §1° do CPC.

Art. 485 [...]

§ 1º Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada pessoalmente para suprir a
falta no prazo de 5 (cinco) dias.

Caso, após a intimação, não houvesse manifestação da autora, iniciaria a sucessão processual, mas jamais a
sentença extintiva do processo.

c) O MP, conforme vimos acima (art. 5°, §3°, LACP), seria o provável legitimado a assumir o polo ativo da
ação, como decorrência de sua função de substituto processual.

4 – PEÇA PRÁTICA
Alegações Finais

Esse, em síntese, é o fluxograma do procedimento comum ordinário, que usaremos para fins de indicação
da fase processual que se encontram as alegações finais.

Ela é apresentada de modo preferencialmente oral, podendo ser convertida em memoriais nas hipóteses
do §3º, do artigo 403, do CPP:

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Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa,
prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.

§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder


às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse
caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Ela tem basicamente a mesma estrutura da sentença, sendo composta de relatório, fundamentação e
conclusão.

* A primeira, relatório, deve conter um resumo dos principais ocorridos durante o processo: o conteúdo da
imputação, a data de recebimento da denúncia (que constitui marco interruptivo da prescrição), a forma
de citação, a apresentação de resposta, e as ocorrências da fase instrutória.

Isso permite com que o Promotor visite os atos mais importantes do processo, a fim de averiguar se foram
respeitadas as formalidades legais, até porque ele é, antes de tudo, custos juris, cabendo-lhe fiscalizar a
regularidade da marcha processual.

Modelo:

I-) RELATÓRIO:

O Ministério Público ofereceu denúncia contra ... imputando-lhe a prática do crime ..., assim narrando a
exordial de sequencial/fls.:

O réu foi notificado e apresentou defesa escrita, conforme sequencial/fls. (se lei 11.343/06)

A denúncia foi recebida em ..., conforme sequencial/fls.

Regularmente citado e intimado, o réu apresentou defesa preliminar, consoante fl.

Durante a instrução do feito foram ouvidas ... testemunhas e, ao final, procedeu-se ao interrogatório do
réu.

Na fase do artigo 402, do CPP, as partes nada requereram.

Vieram os autos com vista para apresentação de alegações finais por memoriais.

* Na fundamentação, o membro do Ministério Público deve inicialmente enfrentar as questões que dizem
respeito aos pressupostos processuais e às condições da ação, buscando a sanação das nulidades.

Esse enfrentamento é salutar e irá demonstrar ao seu examinador que você conhece o sistema das
nulidades e é capaz de já se antecipar a eventual tese que possa ser suscitada pela defesa. Essas teses são
extraídas da análise do processo. Exemplo: defesa conduz as perguntas, tanto aos policiais testemunhas,
quanto ao réu, no sentido de que aqueles teriam devassado a intimidade do acusado, mexendo em seu
aparelho telefônico sem autorização judicial. Nesse caso, antecipe-se e sustente a existência de uma fonte

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independente, ou a descoberta inevitável, enfim, alguma tese que possa limitar o alcance da teoria dos
frutos da árvore envenenada, ou, se for o caso, peça o refazimento do ato ou a decretação de nulidade,
caso a nulidade seja insuperável. Lembre-se que a sua atuação tem uma natureza peculiar no processo!

Modelo:

II-) FUNDAMENTAÇÃO:

O feito apresenta-se regular nas suas formalidades, inexistindo prefaciais a analisar.

De inicio, anote-se, que o presente feito cuida de processo e julgamento de ..., acusado de no dia ...

Pois bem. Encerrada a instrução tanto a autoria quanto a materialidade delitiva restaram suficientemente
demonstradas pelo (auto de prisão em flagrante/portaria de instauração de inquérito policial, boletim de
ocorrência, auto de constatação provisória da droga, laudo de exame definitivo da droga apreendida, laudo
de exame de local de crime, tudo roborado pela prova oral arrecadada, que se passa a examinar).

Em seguida, deve ser abordada a autoria e a materialidade.

A conclusão acerca de estarem presentes indicativos de autoria e materialidade é extraída a partir da


análise da prova coletada, tanto na fase inquisitiva, quanto na fase processual. Lembre-se que o juiz não
pode condenar (e você não deve pedir que condenação), com base em provas colhidas exclusivamente na
fase pré-processual, na forma do artigo 155, do CPP.

Aqui é possível trabalhar teses jurídicas, como por exemplo o afastamento de eventual tese de defesa
pessoal sustentada pelo réu em seu interrogatório, o reconhecimento ou não de qualificadoras, causas de
aumento ou diminuição, a incidência do princípio da insignificância, a caraterização ou não de estado de
necessidade etc. Cabível, outrossim, a citação de um verbete sumular, de julgados, de doutrina etc.

Duas teses bastante recorrentes na práxis forense:

PALAVRA DA VÍTIMA:

A palavra do ofendido assume especial relevo como meio de prova, mormente quando inexiste qualquer
indício de que seja desafeto do acusado, revelando, no caso concreto, apenas a vontade de apontar o
verdadeiro autor da infração. Neste cariz:

Em crimes cometidos na clandestinidade, sem a presença de qualquer testemunha, a palavra


da vítima assume especial relevância como meio de prova para a condenação, nos termos do
entendimento desta Corte.

Habeas corpus não conhecido.

(HC 467.883/MS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/10/2018, DJe
23/10/2018)

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Interessante a conclusão do Eg. Tribunal de Justiça gaúcho, em julgado que embora não tão recente,
reflete uma lógica universal e atemporal:

Nos crimes patrimoniais a palavra da vítima é decisiva para a condenação, mormente quando
as partes não se conheciam anteriormente, não havendo motivo para que terceira pessoa
desconhecida fosse injustamente acusada por aquele que teve seu patrimônio desfalcado. Na
verdade, neste tipo de infração, a vontade da vítima é a de apontar o verdadeiro autor da
subtração que sofreu.

(TJ-RJ - APL: 03558608520128190001 RJ 0355860-85.2012.8.19.0001, Relator: DES. MARCUS


HENRIQUE PINTO BASILIO, Data de Julgamento: 21/01/2014, PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL,
Data de Publicação: 13/02/2014 15:32)

PALAVRA DOS POLICIAIS:

A propósito, cumpre salientar que os depoimentos dos policiais são amplamente admitidos como meio de
prova, sendo certo que não podem ser colocados em dúvida pela sua condição profissional, na suposição
de que tenham interesse em demonstrar a validade do trabalho realizado. Ao contrário, para que se
questione a sua validade é preciso evidenciar que o agente público tenha interesse particular na
investigação ou que suas declarações contenham incoerências e contradições, o que inocorre no caso em
apreço.

Nessa vertente, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que os depoimentos dos policiais têm o
mesmo valor probatório atribuído a qualquer outra testemunha, especialmente quando submetido ao
crivo do contraditório.

Ao trabalhar a prova e, de sorte, essas teses, você deve direcionar a conclusão de sua peça, pedindo a
procedência ou a improcedência da pretensão deduzida na denúncia, com a consequente condenação ou
absolvição do réu.

Modelo:

III-) CONCLUSÃO:

De resto, sinale-se que, não se tendo notícias de quaisquer causas excludentes de tipo, ilicitude ou
culpabilidade, e, à vista do mosaico probatório (judicializado) incluso nos autos, a condenação do
increpado afigura-se como um imperativo categórico.

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