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Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas
26 de Julho de 2022
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 13
Sumário
1 - Tópicos Específicos e Temas Aprofundados ................................................................................................. 4
1.1.2 - Violação do direito constitucional de liberdade de consciência e crença e vacinação de filho menor ................ 7
1.4.1 - Modalidades de tutela urgente antecipada na forma específica: tutela inibitória e tutela de remoção do ilícito
........................................................................................................................................................................................ 29
1.7.1 - Progressão de regime para condenados por crimes hediondos e afins .............................................................. 69
1097228
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 13
1.10.1 - Benefícios Fiscais: Imunidade, Isenção, Não Incidência e Alíquota Zero .......................................................... 86
RODADA 13 - PROMOTORIA
1 - TÓPICOS ESPECÍFICOS E TEMAS APROFUNDADOS
1.1.1 - Neoconstitucionalismo
Com o Neoconstitucionalismo, a Constituição deixa de ser o simples topo da pirâmide hierárquica normativa,
passando a figurar no centro do sistema, dotada de intensa carga valorativa. Assim, a lei em geral deve não
só observar a forma prescrita na Constituição, mas, acima de tudo, estar em consonância com o seu espírito,
o seu caráter axiológico e os seus valores.
Diante de tudo isso, é importante destacar ainda a Teoria das Fontes no Neoconstitucionalismo, que explica
o deslocamento de poder do Legislativo para o Judiciário, em que o Judiciário passa a ser o protagonista de
ações e a participar de forma mais ativa da criação do Direito, com a súmula vinculante e a teoria dos
precedentes trazidas pelo novo Código de Processo Civil. Há um empoderamento do Poder Judiciário. E a
Teoria da interpretação no Neoconstitucionalismo, com o uso de uma nova hermenêutica constitucional -
inserção de novas técnicas hermenêuticas, como a proporcionalidade, a ponderação, teorias da
argumentação etc.
Vamos aproveitar o momento e tratar de dois temas que, com certeza, serão alvo de questionamento em
provas da magistratura: transconstitucionalismo e constitucionalismo abusivo.
a) Transconstitucionalismo
b) Constitucionalismo Abusivo
O conceito de constitucionalismo abusivo foi pensado por David Landau como abuso de instrumentos de
origem democrática para minar o espaço político e plural em determinado país. Assim, o autor identificou
que chefes do Poder Executivo podem utilizar elementos, como o seu poder de regulamentar ou de participar
do processo legislativo, para enfraquecer outros poderes e até rejeitar proteção a direitos fundamentais de
grupos minoritários ou vulneráveis, num verdadeiro abuso dos instrumentos democráticos que são dispostos
na Constituição local.
Recentemente, esse tema veio à tona no julgamento da ADPF 622/DF, quando o ministro Luís Roberto
Barroso suspendeu trechos de decreto editado por Bolsonaro e restabeleceu os mandatos dos antigos
conselheiros do Conanda - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Segue parte da
ementa:
A Constituição Federal, em seu art. 5º, incisos VI e VIII, assegura o direito à liberdade de consciência e de
crença, in verbis:
Art. 5º (...)
(...)
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Se levarmos em consideração os direitos acima mencionados, podemos dizer que é legítima a recusa dos
pais à vacinação de seus filhos menores, com base unicamente em motivo de consciência e de crença?
O Supremo Tribunal Federal enfrentou recentemente o tema e entendeu que (vale a pena a leitura da
ementa):
Em síntese: é constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão
de vigilância sanitária, (a) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (b) tenha sua
aplicação obrigatória determinada em lei ou (c) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito
Federal ou município, com base em consenso médico-científico.
A licitação para compras e alienações pela Administração Pública é exigência constitucional, ressalvados os
casos especificados em lei (CF, art. 37, XXI).
CF, art. 37, XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações.
A abertura para a previsão de exceções decorre da constatação de que há hipóteses em que a realização de
licitação seria impossível ou frustraria o próprio interesse público que deve ser sempre perseguido pela
Administração.
A antiga Lei 8.666/93 apresenta três casos em que a Administração pode ou deve deixar de realizar licitação,
tornando-a dispensável, dispensada ou inexigível.
✓ (2) Dispensa: há possibilidade de competição, mas a lei faculta a dispensa, em certos casos, a
critério discricionário da Administração Pública. A dispensa é gênero no qual se incluem a figuras
da licitação dispensada e da licitação dispensável.
O que nos interessa, para fins do presente tópico aprofundado, é o estudo da inexigibilidade.
Segundo a doutrina, a inexigibilidade poderá ocorrer em virtude da ausência de algum dos três pressupostos
para a realização do procedimento licitatório, que inviabilizam a competição:
✓ (d) controle financeiro, por meio da fiscalização dos setores financeiro e contábil da pessoa jurídica
criada.
A novel Lei 14.133/21 repete quase na integralidade os três casos de inexigibilidade de licitação
mencionados na Lei 8.666/93 e traz duas novas hipóteses (art. 74, I a V):
✓ o sistema de credenciamento (que já era entendido como caso de inexigibilidade não previsto
expressamente na lei); e
Com efeito, é inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de (art.
74):
Por fim, vale registrar algumas definições que decorrem da própria literalidade da Lei 14.133/2021.
Para fins do disposto no inciso I, a Administração deverá demonstrar a inviabilidade de competição, mediante
atestado de exclusividade, contrato de exclusividade, declaração do fabricante ou outro documento idôneo
capaz de comprovar que o objeto é fornecido ou prestado por produtor, empresa ou representante
comercial exclusivos, vedada a preferência por marca específica (art. 74, § 1º).
Para fins do disposto no inciso II, considera-se empresário exclusivo a pessoa física ou jurídica que possua
contrato, declaração, carta ou outro documento que ateste a exclusividade permanente e contínua de
representação, no País ou em Estado específico, do profissional do setor artístico, afastada a possibilidade
de contratação direta por inexigibilidade por meio de empresário com representação restrita a evento ou
local específico (art. 74, § 2º).
Para fins do disposto no inciso III, considera-se de notória especialização o profissional ou a empresa cujo
conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência,
publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas
atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e reconhecidamente adequado à plena satisfação
do objeto do contrato (art. 74, § 3º). Também no caso do inciso III, é vedada a subcontratação de empresas
ou a atuação de profissionais distintos daqueles que tenham justificado a inexigibilidade (art. 74, § 4º).
Nas contratações com fundamento no inciso V, devem ser observados os seguintes requisitos: I - avaliação
prévia do bem, do seu estado de conservação e dos custos de adaptações, quando imprescindíveis às
necessidades de utilização, e prazo de amortização dos investimentos; II - certificação da inexistência de
imóveis públicos vagos e disponíveis que atendam ao objeto; III - justificativas que demonstrem a
singularidade do imóvel a ser comprado ou locado pela Administração e que evidenciem vantagem para ela
(art. 74, § 5º).
Agente público é expressão ampla que designa toda pessoa física que atua como preposto do Estado e das
pessoas jurídicas da Administração Indireta, por vínculo de qualquer espécie, ainda que temporariamente e
mesmo sem remuneração.
A análise do texto constitucional, aliada aos complementos doutrinários, demonstra que são quatro as
categorias de agentes públicos:
✓ 1. Agentes políticos;
✓ 3. Militares; e
Uma relevante discussão doutrinária envolve o enquadramento dos membros do Poder Judiciário. Seriam
servidores públicos (agentes administrativos) ou agentes políticos?
Para uma grande parcela da doutrina (Di Pietro; Carvalho Filho; Bandeira de Mello), agente político é só
aquele que exerce função de governo, política, sendo eleitos para um mandato, como os Chefes do
Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos), seus auxiliares (Ministros e Secretários Estaduais, Distritais
e Municipais) e os Parlamentares (Senadores, Deputados Federais, Estaduais, Distritais e Vereadores).
Segundo essa vertente doutrinária, o que caracteriza o agente político é o fato de exercerem efetivamente
(e não eventualmente) função política, de governo e administração, de comando e, sobretudo, de fixação
das estratégias de ação.
Para essa primeira linha de entendimento, os membros do Poder Judiciário não podem ser
considerados agentes políticos, mas, sim, servidores públicos.
Uma segunda linha de pensamento inclui na noção de agentes políticos aqueles que exercem atribuições
constitucionais no Governo (em sentido amplo), como os membros da Magistratura, do Ministério Público
e dos Tribunais de Contas.
É o que defende, por exemplo, o prof. Hely Lopes Meirelles, ao visualizar nos agentes políticos a atuação com
plena liberdade funcional e independência, e o desempenho de suas atribuições com prerrogativas e
responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais.
Essa corrente conta com dois poderosos fundamentos extraídos diretamente do Texto Constitucional.
✓ Para fins de responsabilização política, a Constituição abrange, nos termos dos arts. 29-A, §§ 2º e
3º; 52, I e II; 102, I; 105, I; e 108, I, diversas autoridades, como os Prefeitos, Presidentes da Câmara
Municipal, Presidente e Vice-Presidente da República, Ministros de Estado e Comandantes das Forças
Armadas, membros do Judiciário em todas as instâncias, inclusive do CNJ, membros do CNMP,
membros do Ministério Público, o Advogado-Geral da União, membros dos Tribunais de Contas e
chefes de missão diplomática, sem contar os Governadores e Secretários de Estado (nos termos da
Lei 1.079/50).
✓ O art. 37, XI, da CF, ao dispor sobre a remuneração e o subsídio de agentes estatais, menciona os
“membros de qualquer dos Poderes”, os “detentores de mandato eletivo” e “os demais agentes
políticos”, revelando não só a existência de outros agentes que se encaixam nessa categoria, como o
próprio enquadramento dos “membros de qualquer dos Poderes”, inclusive o Judiciário, como
agentes políticos.
Não é por menos que o STF considera que os membros da Magistratura são agentes políticos, por
exercerem uma parcela da soberania do Estado:
Contextualização
A partir da promulgação do CC/2002, o Codex máximo das relações privadas passou a tutelar de forma
incisiva os direitos existenciais, e não somente os patrimoniais. Tal mudança paradigmática do Direito Civil
se dá como consequência à eficácia horizontal dos direitos fundamentais e a criação de um Direito Civil-
Constitucional, profundamente defendido por Pietro Perlingieri.
A mudança na face protetiva do Direito Civil não quer dizer que houve o abandono da tutela dos
interesses particulares-patrimoniais, mas tão somente a imposição da necessidade de se
observar os preceitos decorrentes da dignidade da pessoa humana quando das relações privadas
(relações horizontais, daí a eficácia “horizontal” dos direitos fundamentais).
Características e conceito
A construção do conceito de Direitos da Personalidade é recente, teve seu início no pós-guerra, sobretudo a
partir das doutrinas germânica e francesa, de modo a operacionalizar uma série de direitos inerentes às
pessoas humanas nas relações privadas.
Deste modo, podemos conceituar os direitos da personalidade como uma classe de direitos
indisponíveis, vitalícios, imprescritíveis, inexpropriáveis e inerentes à pessoa humana, reflexos
aos direitos fundamentais, garantidos a todos e aplicáveis nas relações privadas do indivíduo.
Trata-se de um núcleo garantidor da existência mínima e digna das pessoas que atue se sobrepondo às
liberdades negociais dentro das relações privadas dos indivíduos. O Código Civil regula os direitos da
personalidade, de forma expressa, em seus artigos 11 a 21.
A caracterização destes direitos se dá logo no início do Código Civil, a partir dos artigos 11 e 12, que definem
suas intransmissibilidade e irrenunciabilidade de forma expressa, impondo a vedação à limitação voluntária
ao exercício destes direitos por seu titular, além de garantir que se pode exigir que cesse ameaça ou lesão,
bem como reparação por perdas e danos.
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.
Caso haja ofensa aos direitos da personalidade perpetrada pelo Estado, deve-se invocar o art. 5º, inciso X,
da Constituição, mas é possível que se extraiam normas protetivas dos direitos da personalidade tanto do
Código Civil quanto da própria Constituição, isso se dá como reflexo do Direito Civil-Constitucional. Nesse
sentido, Pietro Perlingieri leciona que a Constituição, como limite do ordenamento, sempre vai atuar, direta
ou indiretamente, no caso concreto.
Atenção! O rol de direitos da personalidade trazido pelo Código Civil não é taxativo, mas sim meramente
exemplificativo, é o que parte da doutrina chama de “tipicidade aberta”.
Enunciado 274, CJF: “Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo
Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc.
III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles,
como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.”
Os direitos da personalidade podem receber diversas características (com diferentes nomes), mas vamos
tratar aqui de forma a contemplar o maior número de características possível, vejamos:
Vitaliciedade: esta característica garante que estes direitos sejam inatos e que sua titularidade não
convalesça com o tempo. Desta forma, esta classe de direitos é resguardada à pessoa durante toda sua vida,
desde a concepção naquilo que cabível (direitos do nascituro), sendo ainda alguns deles garantidos depois
da morte (memória do morto);
Imprescritibilidade: da mesma forma que são vitalícios, os direitos da personalidade são imprescritíveis, isto
é, não se extinguem pelo não uso ou pela inércia em sua defesa;
Da mesma forma, não poderá o Estado agir de maneira que se pretenda a constrição dos direitos da
personalidade do indivíduo, por qualquer razão que seja.
Memória do morto
Sobre a intransmissibilidade dos direitos da personalidade importa que façamos uma observação, trata-se
dos direitos do morto.
A morte gera o fim dos direitos patrimoniais e da personalidade da pessoa, nesse sentido, ao ocorrer a morte,
abre-se automaticamente sua sucessão, para a transmissão do patrimônio aos sucessores, enquanto que,
em se tratando de direitos da personalidade, estes são extintos.
Contudo, a morte não quer dizer que se possa atentar contra sua honra, imagem, nome, etc., ainda que o
indivíduo tenha falecido e seus direitos da personalidade não sejam transmissíveis a seus sucessores, estes
últimos passam a titularizar um novo direito da personalidade que surge com a morte, chamado “memória
do morto”.
Atenção! A “memória do morto” não é um direito do falecido, mas um direito da personalidade dos seus
familiares, sendo composta pela proteção à imagem, nome e privacidade da pessoa falecida.
São legitimados à propositura de medidas de tutela, isto é, são titulares da memória do morto: cônjuge,
companheiro sobrevivente, parente em linha reta ou colateral em até quarto grau, conforme dispõe o art.
12, CC, como vimos acima. Este dispositivo é de tutela geral, isto é, não diz respeito a todos os direitos da
personalidade.
Em se tratando especificamente dos direitos relativos à honra e imagem, é cabível o artigo 20, parágrafo
único, que determina como titulares o cônjuge, ascendentes e descendentes:
Os legitimados poderão tanto proteger a memória do morto de modo a impor uma obrigação de
fazer ou de não fazer, como também requerer a reparação por dano moral.
A doutrina tece críticas ao rol trazido pelo legislador ao Código Civil, uma vez que se leva em consideração a
consanguinidade ou parentesco formal, ignorando-se os laços de intimidade e afeto do falecido.
Exemplo: Eduardo era noivo de Matheus há 3 (três) anos, e não tinha contato com sua família, que o
expulsou de casa ainda adolescente por ser gay. Voltando do trabalho sofre um acidente de carro e falece.
Após seu falecimento, os colegas de trabalho passam a fazer brincadeiras de mal gosto na internet,
utilizando-se da imagem de Eduardo. Neste caso, Matheus não poderia propor ação que visasse a cessação
das brincadeiras, por não ser titular do direito à memória de Eduardo, ainda que os atos lesivos à imagem de
seu noivo lhe causem profunda dor psíquica.
Dada esta situação, a doutrina entende por bem estender a possibilidade de proteção à memória do morto
a todos aqueles que comprovem existência de um laço de afetividade com o falecido, independentemente
de estar arrolado ou não.
Atenção! Este o entendimento acima não é aquele que consta do CC. É necessário que você observe aquilo
que o examinador está pedindo na questão, ou seja, se é o entendimento do CC ou se é entendimento
doutrinário. Em uma prova de segunda fase, recomenda-se que o candidato pode aponte a crítica feita pela
doutrina, fazendo uma contraposição ao CC, enquanto que em uma prova objetiva, recomendamos que siga
a literalidade do Código.
Reflexos patrimoniais
Este ponto específico merece especial atenção, uma vez que diz respeito tanto à intransmissibilidade quanto
à imprescritibilidade dos direitos da personalidade.
Neste ponto é importante que tenhamos em mente que não se deve confundir a prescrição por danos
materiais com a imprescritibilidade dos direitos da personalidade. A pretensão surgida para a indenização
por danos morais tem natureza patrimonial, e desta maneira prescrevem, o que não prescreve é a pretensão
pela tutela dos direitos da personalidade propriamente ditos.
Desta forma, importa que entendamos sobre a sucessão da titularidade destes direitos patrimoniais
decorrentes de violação aos direitos da personalidade, e isso podemos extrair do art. 943, CC:
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Desta forma, todo tipo de reparação, seja por dano moral, material, perda de uma chance, dano institucional,
dentre outros, há a existência de conteúdo econômico e, portanto, o direito de exigir transmite-se com a
herança.
Independentemente se o indivíduo ajuizou ou não a ação, seus herdeiros poderão prosseguir na busca pela
reparação, seja como sucessores processuais ou como autores originários da ação de reparação, ambos os
casos são decorrentes da aplicação do art. 943.
Ainda que seja grande esta ementa, recomendamos sua leitura integral, trata-se de um julgado muito rico e
interessante.
pelo próprio lesado, o qual, no curso do processo, vem a óbito. Todavia, em se tratando de ação
proposta diretamente pelos herdeiros do ofendido, após seu falecimento, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça possui orientações divergentes. De um lado, há entendimento no
sentido de que "na ação de indenização de danos morais, os herdeiros da vítima carecem de
legitimidade ativa ad causam" (REsp 302.029/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de
1º.10.2001); de outro, no sentido de que "os pais - na condição de herdeiros da vítima já falecida
- estão legitimados, por terem interesse jurídico, para acionarem o Estado na busca de
indenização por danos morais, sofridos por seu filho, em razão de atos administrativos praticados
por agentes públicos (...)". Isso, porque "o direito de ação por dano moral é de natureza
patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima (RSTJ, vol. 71/183)" (REsp
324.886/PR, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 3.9.2001). 4. Interpretando-se
sistematicamente os arts. 12, caput e parágrafo único, e 943 do Código Civil (antigo art. 1.526 do
Código Civil de 1916), infere-se que o direito à indenização, ou seja, o direito de se exigir a
reparação de dano, tanto de ordem material como moral, foi assegurado pelo Código Civil aos
sucessores do lesado, transmitindo-se com a herança. Isso, porque o direito que se sucede é o
de ação, que possui natureza patrimonial, e não o direito moral em si, que é personalíssimo e,
portanto, intransmissível. 5. José de Aguiar Dias leciona que não há princípio algum que se
oponha à transmissibilidade da ação de reparação de danos, porquanto "a ação de indenização
se transmite como qualquer outra ação ou direito aos sucessores da vítima. Não se distingue,
tampouco, se a ação se funda em dano moral ou patrimonial. A ação que se transmite aos
sucessores supõe o prejuízo causado em vida da vítima" (Da Responsabilidade Civil, Vol. II, 4ª ed.,
Forense: Rio de Janeiro, 1960, p. 854). 6. Como bem salientou o Ministro Antônio de Pádua
Ribeiro, no julgamento do REsp 11.735/PR (2ª Turma, DJ de 13.12.1993), "o direito de ação por
dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima". 7. "O
sofrimento, em si, é intransmissível. A dor não é 'bem' que componha o patrimônio transmissível
do de cujus. Mas me parece de todo em todo transmissível, por direito hereditário, o direito de
ação que a vítima, ainda viva, tinha contra o seu ofensor. Tal direito é de natureza patrimonial.
Leon Mazeaud, em magistério publicado no Recueil Critique Dalloz, 1943, pág. 46, esclarece: 'O
herdeiro não sucede no sofrimento da vítima. Não seria razoável admitir-se que o sofrimento do
ofendido se prolongasse ou se entendesse (deve ser estendesse) ao herdeiro e este, fazendo sua
a dor do morto, demandasse o responsável, a fim de ser indenizado da dor alheia. Mas é
irrecusável que o herdeiro sucede no direito de ação que o morto, quando ainda vivo, tinha
contra o autor do dano. Se o sofrimento é algo entranhadamente pessoal, o direito de ação de
indenização do dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores'.
(PORTO, Mário Moacyr, in Revista dos Tribunais, Volume 661, pp. 7/10). 8. O dano moral, que
sempre decorre de uma agressão a bens integrantes da personalidade (honra, imagem, bom
nome, dignidade etc.), só a vítima pode sofrer, e enquanto viva, porque a personalidade, não há
dúvida, extingue-se com a morte. Mas o que se extingue - repita-se - é a personalidade, e não o
dano consumado, nem o direito à indenização. Perpetrado o dano (moral ou material, não
importa) contra a vítima quando ainda viva, o direito à indenização correspondente não se
extingue com sua morte. E assim é porque a obrigação de indenizar o dano moral nasce no
mesmo momento em que nasce a obrigação de indenizar o dano patrimonial - no momento em
que o agente inicia a prática do ato ilícito e o bem juridicamente tutelado sofre a lesão. Neste
aspecto não há distinção alguma entre o dano moral e patrimonial. Nesse mesmo momento,
também, o correlativo direito à indenização, que tem natureza patrimonial, passa a integrar o
patrimônio da vítima e, assim, se transmite aos herdeiros dos titulares da indenização?
(CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2007, pp.
85/88). 9. Ressalte-se, por oportuno, que, conforme explicitado na r. sentença e no v. acórdão
recorrido, "o finado era solteiro e não deixou filhos, fato incontroverso comprovado pelo
documento de fl. 14 (certidão de óbito), sendo os autores seus únicos herdeiros, legitimados,
pois, a propor a demanda" (fl. 154). Ademais, foi salientado nos autos que a vítima sentiu-se
lesada moral e fisicamente com o ato praticado pelos policiais militares e que a ação somente foi
proposta após sua morte porque aguardava-se o trânsito em julgado da ação penal. 10. Com
essas considerações doutrinárias e jurisprudenciais, pode-se concluir que, embora o dano moral
seja intransmissível, o direito à indenização correspondente transmite-se causa mortis, na
medida em que integra o patrimônio da vítima. Não se olvida que os herdeiros não sucedem na
dor, no sofrimento, na angústia e no aborrecimento suportados pelo ofendido, tendo em vista
que os sentimentos não constituem um "bem" capaz de integrar o patrimônio do de cujus.
Contudo, é devida a transmissão do direito patrimonial de exigir a reparação daí decorrente.
Entende-se, assim, pela legitimidade ativa ad causam dos pais do ofendido, já falecido, para
propor ação de indenização por danos morais, em virtude de ofensa moral por ele suportada. 11.
Recurso especial do Estado de São Paulo conhecido, mas desprovido.
(REsp 978.651/SP, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe
26/03/2009)
Ainda que o art. 11, CC disponha que os direitos da personalidade não podem sofrer limitação voluntária no
seu exercício, para a doutrina, nada impede que o indivíduo, em ato de manifestação de vontade, limite o
exercício de certos direitos da personalidade.
Exemplo: A participação em reality shows pressupõe que o indivíduo assine termo de cessão, ainda que
temporária, do uso de sua imagem, ao mesmo tempo que abdica temporariamente de sua privacidade. Neste
caso não há a renúncia aos direitos da personalidade, dada sua natureza irrenunciável, contudo, se observa,
na prática, uma limitação voluntária dos limites protetivos a seus direitos.
Desta forma, entende-se que a cessão de direitos da personalidade deve observar alguns requisitos:
Sobre este último requisito, importa ressaltar que foi uma construção doutrinária, que pode ser
exemplificado a partir da exploração voluntária de uma característica incomum do indivíduo.
Exemplo: Nos Estados Unidos (séculos XIX e início do XX) era comum os Freak Shows, onde pessoas com
características peculiares, muitas vezes deficiências ou deformidades corporais, eram expostas ao público e
tratadas como animais de circo. Além das mudanças sociais, o ordenamento jurídico brasileiro não permitiria
tal tipo de exposição no Brasil do século XXI, uma vez que, embora tenha havido uma limitação voluntária,
temporária, de um determinado direito da personalidade, trata-se de exposição degradante e violadora da
dignidade do indivíduo.
Enunciado 04, CJF: “Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação
voluntária, desde que não seja permanente nem geral.”
Como vimos, os direitos da personalidade não possuem taxatividade fechada, contudo, para fins de estudo
direcionado para concurso, vamos dividi-los em 5 (cinco), a divisão que se aduz do capítulo dos direitos da
personalidade no CC.
Entende-se como direito à integridade física a proteção jurídica do corpo humano, ou seja, a incolumidade
corporal, está disposto entre os artigos 13 e 15 do Código Civil.
Para os estudos deste direito, é necessário que façamos uma divisão das três frentes de apresentação no
ordenamento: a) tutela do corpo vivo; b) tutela do corpo morto; e c) autodeterminação do paciente.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.
Esta face do direito à integridade física se caracteriza pela necessidade e intenção de proteção em face de
ato que diminua a integridade física do indivíduo, ato esse perpetrado por terceiro ou por ele próprio.
Cabe aqui apresentar uma crítica feita por parte da doutrina à parte final do caput do artigo, uma vez que a
expressão “bons costumes” se reveste de subjetivismo e pode ser empregada de maneira a perpetuar
preconceitos contra determinados grupos socialmente marginalizados. Outrora, poderia um juiz, baseado
em suas convicções pessoais, proibir uma cirurgia de readequação sexual (que veremos mais à frente), por
se tratar de procedimento que viola os bons costumes, cabe ressaltar que hoje tal entendimento não
prosperaria, sendo a cirurgia oferecida inclusive pelo SUS.
Desta forma, entende-se “bons costumes” como tudo aquilo que não invada, objetivamente, a liberdade,
igualdade ou direitos fundamentais de terceiros.
A interpretação deste artigo deve ser feita com cautela, não se podendo ater à literalidade do texto, uma
vez que diversas práticas cotidianas seriam violadoras à norma, se lida sob uma perspectiva estritamente
positivista, vamos ver a seguir alguns debates sobre a necessidade de uma leitura ponderada deste
dispositivo:
Cirurgia plástica
O primeiro ponto de crítica que a doutrina faz, quanto ao núcleo do dispositivo em si, é sobre a indicação de
que a disposição do próprio corpo apenas seria possível e justificável nos casos em que há exigência médica,
que, na forma trazida pelo Código, pressupõe necessidade de intervenção por razões de saúde.
Desta forma, sob uma perspectiva puramente voltada ao texto legal, a cirurgia plástica, realizada com fins
estéticos, estaria em desacordo com a legislação, tendo em vista que a opção do paciente em realizar um
procedimento invasivo que lhe modificasse o corpo seria ilegal, sob o ponto de vista legal.
Não seria o caso de se discutir a responsabilidade pelo erro médico em si, mas sim do consentimento e
conivência do profissional em realizar um procedimento “desnecessário”.
Deste modo, se mostra muito desconexo da realidade este dispositivo, se lido da maneira puramente
gramatical, uma vez que o Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, e que são totalmente
legais.
O parágrafo único do art. 13 dispõe sobre a possibilidade de transplante entre vivos, na forma de lei especial,
trata-se da Lei n° 9.434/97.
Nesses casos é preciso que se tenha em mente que será permitida a disposição parcial do corpo para fins de
transplante ou tratamento, devendo ser observados alguns requisitos para tal:
Acerca deste último item, a doação inter vivos apenas será possível em se tratando de partes
renováveis (sangue, medula, fígado) ou órgãos duplos (rins).
Nesses casos de transplante, o doador poderá escolher o beneficiário de seu órgão, que, em princípio,
deverá ser alguém da família. Em casos excepcionais e justificáveis será possível que outra pessoa receba.
Importa elucidar que a mesma disposição não se aplica à doação de sangue ou medula que, via de regra,
será destinada a alguém compatível e que precise da doação.
A cirurgia de redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo) implica em uma
mudança permanente no corpo do indivíduo, podendo, a depender da interpretação feita, ser contrária às
disposições do artigo 13.
Contudo, o procedimento obedece a critérios rígidos para que ocorra, sendo estes trazidos pela resolução
n° 2.265 de 2019 do CFM, sendo determinado que para que seja autorizado o procedimento cirúrgico é
necessário acompanhamento por, no mínimo, 1 (um) ano por equipe multiprofissional e interdisciplinar.
O procedimento cirúrgico independe de autorização judicial, desta forma, se formulou o Enunciado 276 do
CJF:
Enunciado 276, CJF: “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por
exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os
procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do
prenome e do sexo no Registro Civil.”
A realização do procedimento era requisito para a mudança de nome e gênero no registro civil da pessoa
(STJ, REsp 1.008.398), que alterou posteriormente seu entendimento pela possibilidade de alteração
independente da cirurgia.
Contudo, o STF, em 2018, por meio da ADI 4275, finalizou qualquer discussão ao reconhecer que não há que
se falar em compulsoriedade da cirurgia para a mudança dos registros (nome e gênero). Esta decisão se deu
a partir da interpretação do art. 58 da Lei n° 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos) conforme a Constituição e
ao Pacto de San Jose da Costa Rica, se reconhecendo que as pessoas transgêneras, que assim desejarem,
podem alterar gênero e nome diretamente nos cartórios, independentemente de cirurgia prévia ou de
tratamento hormonal.
Naquilo que diz respeito à tutela sobre o corpo morto, o Código Civil determina ser admitida a disposição do
próprio corpo (no todo ou em parte) quando se tratar de fins científicos ou altruísticos, se tratando de ato
necessariamente gratuito e revogável a qualquer tempo.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Desta forma, precisamos nos atentar em relação a algumas particularidades em se tratando da doação de
órgãos de doador morto.
É entendimento do STJ que não há necessidade de formalismo específico da manifestação de última vontade,
sendo seu desejo manifesto sobreposto à vontade de seus familiares.
Atenção! Nos casos onde não há manifestação de vontade em vida, prevalecerá aquilo que a família decidir.
Ainda no campo protetivo do artigo 14, podemos vislumbrar possibilidades como decorrentes da disposição
altruística ou com fins científicos.
Aqui, um exemplo que podemos trazer é a possibilidade de que a pessoa disponha do próprio corpo (no todo
ou em parte) para que seja objeto de estudo em uma universidade, doando seu corpo para laboratório das
áreas da saúde, trata-se de disposição altruística do corpo.
Neste caso, temos como finalidade um objetivo correlacionado com questões ligadas à ciência, neste
sentido, é livre que a pessoa destine seu corpo a estudos ou procedimentos científicos.
Em ambos os casos, é importante ter-se em mente que a manifestação de vontade do de cujus é o objeto a
se observar quando da destinação do corpo, nesse sentido, julgou o STJ pela possibilidade de submeter um
corpo ao procedimento de criogenia, dado que esta era sua vontade e suas filhas divergiam sobre a questão:
presente caso, visto que, embora legítimo o interesse das recorridas em tentar sepultar o pai em
território nacional, não se pode ignorar que a situação jurídica, de certa forma, já se consolidou
no tempo. De fato, negar provimento ao presente recurso especial para que o corpo seja
repatriado e, posteriormente, sepultado e enterrado no Rio de Janeiro/RJ, cidade na qual as
recorridas nem sequer residem, não se mostra razoável, pois, além de restabelecer o difícil
sentimento de perda e sofrimento já experimentado quando do falecimento, essa situação,
certamente, não teria o condão de assegurar a pacificação social almejada pelo direito. 5.2. A
solução da controvérsia perpassa pela observância ao postulado da razoabilidade, porquanto, a
par do reconhecimento de que o de cujus realmente desejava ser submetido ao procedimento
da criogenia após a morte, não se pode ignorar, diante da singularidade da questão discutida,
que a situação fático-jurídica já se consolidou no tempo, impondo-se, dessa forma, a preservação
do corpo do pai da recorrente e das recorridas submetido ao procedimento da criogenia no
referido instituto. 6. Recurso especial provido.
(REsp 1693718/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
26/03/2019, DJe 04/04/2019)
c) autodeterminação do paciente:
Naquilo que diz respeito à autodeterminação do paciente (ou livre consentimento informado), o Código Civil
determina que ninguém poderá ser constrangido a submeter-se a tratamento médico ou intervenção
cirúrgica que importe em risco de vida.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico
ou a intervenção cirúrgica.
Desta forma, houve uma mudança paradigmática em relação à autonomia do paciente, uma vez que
antigamente vigia o princípio da beneficência, isto é, a escolha cabia ao médico, independentemente da
vontade do paciente.
Sobre este ponto, destacamos o conceito de testamento biológico (ou testamento vital), isto é, a
manifestação do indivíduo em relação à realização, ou não, de procedimento médico ou intervenção
cirúrgica, de modo a impedir que outros escolham por ele em casos de perda da capacidade de manifestação
da vontade.
Neste sentido, o STJ firmou entendimento no sentido de que é cabível indenização em face do médico nos
casos onde não é oportunizado ao paciente a ponderação de riscos e decisão sobre os procedimentos a
serem empregados.
A principal questão trazida, em relação à autonomia do paciente, é a recusa feita à transfusão de sangue por
adeptos da religião conhecida como Testemunhas de Jeová, trata-se de um conflito entre a liberdade
religiosa e o direito à vida, ambos constitucionalmente protegidos e hierarquicamente equivalentes.
Sobre este ponto é muito importante fazer uma diferenciação situacional, isto é, dependerá profundamente
das características essenciais do caso concreto, sendo de entendimento majoritário tanto em doutrina
quanto dos Tribunais que se faz necessária a observação de alguns pressupostos concretos para a análise:
a) A capacidade da pessoa:
Acerca da capacidade do paciente, deve-se pensar tanto na incapacidade do artigo 3° do Código Civil, quanto
na incapacidade de manifestação de vontade, desta forma, se o paciente for menor, ou se maior, e estiver
inapto a manifestar sua vontade e esteja diante de uma emergência médica (iminente perigo de morte), a
transfusão será realizada, independentemente do consentimento ou autorização de familiares.
Em se tratando de criança ou adolescente, o STJ entendeu (sob o campo do direito penal), que a
conduta dos pais que recusam o tratamento em nome do filho é atípica, porém que devem os
médicos desconsiderar a manifestação deles, procedendo ao tratamento necessário (STJ, HC
268.459, DJe 28/10/2014).
b) Emergência médica:
Em se tratando, contudo, de pessoa maior e capaz, e não havendo emergência médica, o caso se torna mais
complexo, uma vez que doutrina e jurisprudência parecem divergir, uma vez que a aparente tendência dos
Tribunais é de preservação da vida do paciente, enquanto a doutrina se mantém mais alinhada à autonomia
do paciente.
O Enunciado 403 trata diretamente sobre a questão de paciente que nega tratamento médico, determinando
os critérios trazidos acima como preponderantes quando do caso concreto:
Enunciado 403, CJF: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI,
da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive
transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele,
desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento
pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c)
oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.
O Enunciado 138 do CJF, por sua vez, é importante por dispor acerca da importância dada à manifestação de
vontade do absolutamente incapaz (menor de 16 anos), impondo que se deve observa-la, tendo em
consideração a necessidade de discernimento por parte do menor:
Enunciado 138, CJF: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º é
juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde
que demonstrem discernimento bastante para tanto.
Vacinação compulsória
Como vimos em rodada de Direito Constitucional, em dezembro de 2020 o Plenário do STF decidiu que o
Estado pode determinar a compulsoriedade da vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei 13.979/2020.
De acordo com esta decisão, o Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas
restritivas de direitos previstas em lei (multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer
matrícula em escola), contudo não se pode fazer a imunização à força.
Neste sentido, a ADI 6586 não afronta a autonomia ou o consentimento, por não impor de maneira forçosa
a imunização, mas tão somente permitir que sejam aplicadas consequências jurídicas àqueles que não se
vacinem e, consequentemente, coloquem em risco a saúde pública.
(I) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, facultada a recusa do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem,
dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados
lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e tenham como base evidências
científicas e análises estratégicas pertinentes, venham acompanhadas de ampla informação
sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, respeitem a dignidade humana
e os direitos fundamentais das pessoas; atendam aos critérios de razoabilidade e
proporcionalidade; e sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente.
Inicialmente, destaca-se que a tutela jurisdicional, em relação à natureza jurídica do seu resultado jurídico-
material, pode ser classificada em:
Preventiva Reparatória
A tutela preventiva visa a evitar a prática do ato ilícito e a ocorrência do dano. Por sua vez, a tutela
reparatória objetiva o restabelecimento patrimonial da vítima do ato ilícito danoso1.
Historicamente, o surgimento das tutelas preventivas se deu para tutelar aqueles bens jurídicos que não
encontravam na tutela reparatória proteção suficiente. É o caso dos direitos da personalidade e o meio
ambiente.
É importante destacar que a tutela preventiva será sempre direcionada para situações futuras,
não havendo a possibilidade de se voltar para atos ilícitos já praticados.
Contudo, isso não retira o caráter preventivo da tutela inibitória, visto que permanece voltada ao futuro,
enquanto os efeitos já gerados serão objeto da tutela reparatória.
A tutela inibitória se dirige às situações de prática continuada de um determinado ato ilícito. Ou seja, busca-
se impedir a continuação da prática ilícita.
Por sua vez, a tutela de remoção do ilícito é adequada para atacar aquelas situações em que determinado
ato ilícito já foi praticado. Contudo, continua a produzir efeitos que geram danos.
Apesar de em ambos os casos ser possível o manejo de ação pleiteando a tutela preventiva para evitar danos
ao meio ambiente, no caso da empresa Alfa será cabível a tutela inibitória, para que sejam tomadas as
precauções necessárias para cessar a emissão dos poluentes.
1
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 12ª ed., Salvador, 2019, pág. 107.
2
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 12ª ed., Salvador, 2019, pág. 109.
Por outro lado, no caso da empresa Beta, a tutela preventiva será da espécie de remoção do ilícito, uma vez
que o ato ilícito já foi praticado, apesar de continuar gerando efeitos negativos ao meio ambiente. Dessa
forma, a tutela preventiva visa a evitar que esses danos continuem sendo provocados.
Outrossim, em diversas passagens do CPC/15 é possível extrair a autorização legal para que
o magistrado atue de ofício na fase de produção de provas.
3
Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
4
Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Art. 385. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim de que esta seja
interrogada na audiência de instrução e julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo
de ofício.
Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em
seu poder.
Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos livros e dos
documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções
autenticadas.
Art. 464 (...) § 2º De ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em substituição à
perícia, determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido
for de menor complexidade.
Art. 480. O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia
quando a matéria não estiver suficientemente esclarecida.
Com base nisso, a doutrina majoritária entende que, no tocante à produção de provas, o CPC/15
adotou o modelo inquisitivo (art. 370, caput), no mesmo sentido do antigo CPC/73.
Isso significa que o juízo possui poderes instrutórios, podendo determinar de ofício a produção de provas,
independentemente da provocação das partes.
Cabe relembrar que a doutrina costuma diferenciar dois principais modelos de direito processual: (i) o
modelo inquisitivo e (ii) o modelo dispositivo.
O primeiro é caracterizado pelo protagonismo judicial na condução do processo, tendo o juiz amplos
poderes instrutórios. Já o segundo prevê que o protagonismo na condução do processo é das partes,
cabendo a elas a produção probatória, enquanto ao juiz resta uma posição passiva, sendo mero destinatário
das provas.
Contudo, conforme os ensinamentos da doutrina, não se pode perder de vista que não existe modelo
processual puro, ou seja, nenhum modelo é tão somente inquisitivo ou dispositivo. O que há, na verdade, é
a predominância de um ou de outro modelo.
• Protagonismo do juiz;
Modelo inquisitivo • Juiz possui amplos poderes instrutórios;
• Modelo adotado no Brasil (doutrina majoriária).
CUIDADO! Em prova, recomenda-se não dizer que o processo civil é inquisitivo. Isso porque com
o advento do CPC/15 é mais adequado falar que o processo civil adota o modelo cooperativo.
Por fim, ressalte-se que a autorização para que o juiz possa produzir provas de ofício é objeto de severas
críticas por parte de doutrinadores processualistas de viés garantista, que identificam diversas falhas na
atribuição de poderes instrutórios amplos ao magistrado, tais como prejuízos à imparcialidade do juiz (art.
145, IV, do CPC/155) e favorecimento ao ativismo judicial na condução do processo.
De acordo com o art. 14º, II, do Código Penal, diz-se o crime tentado, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
A tentativa (conatus) é uma norma de extensão temporal prevista na parte geral do Código Penal que amplia
a abrangência de uma norma penal incriminadora para alcançar crimes que não foram consumados (por
circunstâncias alheias à vontade do agente).
5
Art. 145. Há suspeição do juiz:
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
Da própria definição legal é possível extrair alguns elementos da tentativa: I) o dolo de consumação, II) o
início da consumação; III) a não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente, IV) o
resultado do crime ser possível.
Existem diversas teorias ou sistemas que tratam do assunto, veremos algumas a seguir:
A tentativa é punida conforme a periculosidade apresentada pelo agente, tal sistema permite a punição até
mesmo dos atos preparatórios.
Para a punição da tentativa, deve-se atentar ao aspecto subjetivo do crime, ou seja, o dolo do agente. Como
na tentativa o crime é subjetivamente completo (o agente quis o resultado, só não conseguiu alcança-lo por
circunstâncias alheias à sua vontade), o crime tentado deve ser punido da mesma forma que o crime
consumado.
Para a punição da tentativa, deve-se considerar o aspecto objetivo do delito. No crime consumado tanto o
aspecto objetivo como o subjetivo estão completos, já no crime tentado, apesar de subjetivamente o crime
ser completo (o agente quis praticar o crime) o resultado alcançado não foi alcançado por circunstâncias
alheias à sua vontade.
O Código Penal adotou como regra a teoria objetiva, punindo a tentativa com a pena do crime consumado
reduzida de um a dois terços (o critério de redução é o iter percorrido pelo agente, quanto mais distante da
consumação, maior a redução).
Vejamos como o assunto foi cobrado na prova para o cargo de Juiz Substituto do TJ-SC, realizada pela FCC:
Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: TJ-SC Prova: FCC - 2015 - TJ-SC - Juiz Substituto
Sobre as relações que se estabelecem entre os conceitos de desvalor da ação e desvalor do resultado,
é correto afirmar que no sistema legal positivo brasileiro expressado pelo Código Penal vigente
A - na ofensa ao bem jurídico reside o desvalor da ação, enquanto que na forma ou modalidade de
concretizar-se a ofensa situa-se o desvalor do resultado.
B - há preponderância do desvalor da ação sobre o desvalor do resultado, o que faz com que não haja
distinção entre gravidade de condutas dolosas e culposas.
C - os conceitos de desvalor da ação e de desvalor do resultado não têm qualquer relevo para o sistema
legal brasileiro.
E - o conceito de desvalor da ação acha-se limitado aos crimes de mera conduta e crimes formais
enquanto o desvalor do resultado guarda relação apenas com os crimes materiais.
Gabarito: A alternativa correta é a letra D. No sistema adotado pelo Código Penal o desvalor do
resultado prepondera sobre o desvalor da ação, com isso admite-se a punição menos rigorosa nos
crimes tentados.
Visa limitar a teoria subjetiva, evitando punir atos preparatórios. Para essa teoria, a tentativa só passa a ser
punível a partir do momento em que a conduta seja capaz de abalar a confiança na vigência do ordenamento
jurídico.
Vimos que o Código Penal adotou como regra a teoria objetiva, qual seria a exceção?
A exceção à regra da teoria objetiva são os chamados crimes de atentado ou de empreendimento. Nesses
crimes o legislador já considera punível a forma tentada (geralmente os tipos penais trazem o verbo
“tentar”). É o caso, por exemplo, do crime de evasão mediante violência contra a pessoa, previsto no art.
352 do CP:
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Perceba que o próprio tipo penal já criminaliza a forma tentada (evadir-se ou tentar evadir-se) e a ela comina
a mesma pena da forma consumada.
Interessante registrar que no crime de empreendimento a tentativa não advém da norma de extensão
temporal previsto no art. 14º, II, do CP. O que há é uma adequação típica direta com o tipo penal incriminador
que já prevê a punição da forma tentada.
A tentativa é punida conforme a periculosidade apresentada pelo agente, tal sistema permite a punição
até mesmo dos atos preparatórios.
2. Sistema ou teoria subjetiva (monista ou voluntarística)
Para a punição da tentativa, deve-se atentar ao aspecto subjetivo do crime, ou seja, o dolo do agente.
Como na tentativa o crime é subjetivamente completo (o agente quis o resultado, só não conseguiu
alcança-lo por circunstâncias alheias à sua vontade), o crime tentado deve ser punido da mesma forma
que o crime consumado.
3. Sistema ou teoria objetiva (realística)
Para a punição da tentativa, deve-se considerar o aspecto objetivo do delito. No crime consumado tanto
o aspecto objetivo como o subjetivo estão completos, já no crime tentado, apesar de subjetivamente o
crime ser completo (o agente quis praticar o crime) o resultado alcançado não foi alcançado por
circunstâncias alheias à sua vontade.
O Código Penal adotou como regra a teoria objetiva, punindo a tentativa com a pena do crime
consumado reduzida de um a dois terços (o critério de redução é o iter percorrido pelo agente, quanto
mais distante da consumação, maior a redução).
4. Sistema ou teoria da impressão (objetivo-subjetiva)
Visa limitar a teoria subjetiva, evitando punir atos preparatórios. Para essa teoria, a tentativa só passa
a ser punível a partir do momento em que a conduta seja capaz de abalar a confiança na vigência do
ordenamento jurídico.
A exceção à regra da teoria objetiva são os chamados crimes de atentado ou de empreendimento.
Nesses crimes o legislador já considera punível a forma tentada (geralmente os tipos penais trazem o
verbo “tentar”). É o caso, por exemplo, do crime de evasão mediante violência contra a pessoa, previsto
no art. 352 do CP.
No crime de empreendimento a tentativa não advém da norma de extensão temporal previsto no art.
14º, II, do CP. O que há é uma adequação típica direta com o tipo penal incriminador que já prevê a
punição da forma tentada.
Noções Gerais
O roubo é um crime complexo, caracterizado pelo furto somado à violência (própria ou imprópria) ou à grave
ameaça contra a pessoa. É, portanto, um crime pluriofensivo, ou seja, com mais de um bem jurídico tutelado
(vida e/ou integridade física e patrimônio).
O crime de roubo está previsto no artigo 157 do Código Penal e foi alterado recentemente pelo Pacote
Anticrime. A novel legislação introduziu no §2º, inciso VII, uma causa de aumento de pena referente ao
emprego de arma branca. Além disso, deu tratamento mais gravoso ao determinar a aplicação da pena
prevista no caput em dobro para os casos em que há a utilização de arma de fogo de uso restrito ou proibido
(§2ª-B).
Roubo Próprio
É o previsto no caput, em que os meios de execução - violência e grave ameaça - são condutas
ANTECEDENTES à subtração da coisa alheia. O artigo 157, caput, possui a seguinte redação:
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Na segunda parte, por outro lado, é necessário ficar atento com a expressão “qualquer meio”. Ela abrange,
por exemplo, o uso de psicotrópicos (“boa noite cinderela”), hipnose etc. Aqui, portanto, há o ROUBO
PRÓPRIO, COM VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA.
Não confunda violência imprópria com roubo impróprio, que será explicado logo em seguida.
São institutos completamente distintos.
Violência própria é aquela em que o agente, com emprego de força física, lesiona a vítima.
Na violência imprópria o agente reduz o sujeito passivo à incapacidade de resistir, como no
caso do “boa noite cinderela”.
❖ Quanto ao roubo próprio com violência imprópria, uma questão é relevante: cabe o reconhecimento
do arrependimento posterior?
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Para a maioria da doutrina, o roubo próprio com Não é possível o reconhecimento do roubo próprio
violência imprópria admite arrependimento com violência imprópria, pois a violência imprópria
posterior não deixa de ser uma espécie de violência.
Roubo Impróprio
Também conhecido como roubo “por aproximação”, é aquele previsto no §1º do artigo 157 do Código Penal,
que possui a seguinte redação;
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.
Percebam, meus amigos, que a violência física contra a pessoa ou a grave ameaça são empregadas APÓS a
subtração da coisa, como forma de assegurar a coisa para si ou terceiro ou a impunidade do crime. Aqui,
ocorre o roubo impróprio, com violência própria.
Como não há previsão legal, O ROUBO IMPRÓPRIO NÃO ADMITE VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA, sob pena de
estarmos fazendo uma analogia em desfavor do réu. Os tipos penais incriminadores devem ser interpretados
restritivamente.
Dessa forma, se o agente empregar violência imprópria APÓS a subtração, não haverá roubo, mas sim um
furto seguido de outro crime, a depender do caso concreto.
Consumação e Tentativa
O roubo próprio consuma-se com o apoderamento da coisa mediante violência ou grave ameaça, NÃO sendo
exigida a posse mansa e pacífica do bem. A sua consumação ocorre, portanto, quando o agente retira o bem
da esfera de disponibilidade e vigilância da vítima, cessando a violência ou a grave ameaça.
Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição
imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica
ou desvigiada
A doutrina clássica, defendida, por exemplo, por Damásio de Jesus, entende não ser
possível a tentativa no caso de roubo impróprio. Ou o agente usa violência ou grave ameaça
e está consumado o roubo impróprio, ou não a utiliza e mantém-se somente a figura do
furto, que pode ser simples ou qualificado, a depender do caso concreto.
Por outro lado, doutrina moderna admite a tentativa, ao argumento de que após apoderar-
se do bem tenta empregar violência ou grave ameaça, mas é contido. Tal entendimento é
defendido por Nucci, Greco etc.
Uma questão recorrente em provas objetivas, subjetivas e orais é a respeito das teorias acerca da
consumação do delito de roubo. A fim de facilitar o entendimento, lanço o quadro abaixo:
TEORIA DA CONTRECTACIO A consumação ocorreria com o toque na coisa móvel alheia feita pelo
agente. Também chamada de Teoria do Contato.
TEORIA DA APPREHENSIO Também conhecida como Teoria da Inversão da Posse, defende que a
OU TEORIA DA AMOTIO consumação ocorre no momento em que a coisa subtraída passa para o
poder do agente, ainda que por um breve espaço de tempo. Dessa forma,
o crime estaria consumado mesmo que o agente não consiga a posse mansa
e pacífica. É a que prevalece na doutrina e na jurisprudência.
TEORIA ABLATIO Para consumação há a necessidade de subtração e transporte da coisa
alheia de um lugar para outro.
TEORIA ILATIO Só haveria a consumação quando o agente levar a coisa subtraída para o
local desejado, estando ela a salvo.
Por fim, o tema mais relevante e que certamente será explorado nos próximos concursos, em razão da
novidade legislativa, é a alteração feita no artigo 157 do Código Penal. Vamos, então, para as mudanças:
(...)
(...)
(...)
Como dito, o crime de roubo está previsto no artigo 157 do Código Penal e foi alterado recentemente pelo
Pacote Anticrime. A novel legislação introduziu no §2º, inciso VII, uma causa de aumento de pena referente
ao emprego de arma branca. Além disso, deu tratamento mais gravoso ao determinar a aplicação da pena
prevista no caput em DOBRO para os casos em que há a utilização de arma de fogo de uso restrito ou
proibido (§2ª-B).
Tais mudanças, como se observa, são mais gravosas, razão pela qual, por força do princípio da
irretroatividade da lei penal, não poderão retroagir para prejudicar o investigado/acusado/réu.
ARMA PENA
Arma Branca A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade.
Arma de Fogo de Uso Permitido A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços).
Aplica-se em DOBRO a pena prevista no caput do
Arma de Fogo de Uso Restrito ou Proibido
artigo 157.
Diante da mudança implementada pelo §2ºB, doutrina vem defendendo a inconstitucionalidade da previsão
legal, por entender que houve violação ao Princípio da Proporcionalidade, em razão da pena prevista. Um
homicídio simples ou até mesmo um estupro de vulnerável, por exemplo, possuem pena menor do que
roubar com uma arma de fogo de uso restrito/proibido.
Além do mais, como uma vítima leiga vai poder diferenciar uma arma de fogo de uso permitido de uma de
uso restrito? E qual a diferença o tipo de arma faria na prática do crime? São questionamentos que a
jurisprudência futuramente irá nos responder.
Por fim, deixo aqui alguns entendimentos sobre o assunto e que, de maneira recorrente, são cobrados em
provas.
STJ: ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes, haverá
concurso formal impróprio de latrocínios. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 534.618/MS,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/10/2019. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1251035/SE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 03/08/2017.
Consentimento do ofendido pode ser conceituada como a renúncia do titular do direito à sua tutela.
Não há previsão legal, tratando-se, em verdade, de uma causa supralegal de exclusão da ilicitude.
1º – O dissentimento da vítima não pode configurar elementar do tipo penal, uma vez que, quando a
ausência de consentimento da vítima for elementar do tipo, havendo o consentimento, desaparece a própria
tipicidade (o fato já será atípico e não será necessário examinar a ilicitude);
2º – Ofendido capaz de consentir (a capacidade de consentir não coincide com a capacidade civil);
4º – Disponibilidade do bem jurídico objeto da renúncia: o bem jurídico sobre o qual recai o consentimento
deve ser disponível.
Doutrina clássica (Nelson Hungria): a integridade física é bem indisponível, não permitindo o
consentimento do ofendido como excludente da ilicitude.
Esta restou amparada pela Lei dos Juizados Especiais (art. 88 da Lei 9.099/1995).
Lei 9.099/1995 art.88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá
de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Deste modo, como a lei condiciona a existência da ação penal à manifestação via representação da vítima
ofendida nos crimes de lesão corporal, a integridade física não pode ser tida como um bem indisponível.
Assim, deve se admitir o consentimento do ofendido nos casos de lesões corporais leves.
Noutro giro, na ablação de órgãos do transexual, ter-se-á lesão corporal que, apesar de não contrariar a
moral ou os bons costumes (visa solucionar um problema psicológico), possui natureza gravíssima,
impedindo, portanto, o consentimento do ofendido nos termos da doutrina moderna. Todavia, não haverá
crime por dois motivos:
a) Ausência de dolo: o médico que causou as lesões, obedecendo todos os procedimentos legais da operação
(local autorizado, estudo psicológico prévio, etc), não age com dolo de lesionar, eis que sua intenção
primordial não é ofender a integridade física do paciente, mas sim curá-lo. O fato, então, seria atípico.
b) Ausência de ilicitude por exercício regular de direito: ainda que se considere fato típico de lesões corporais,
o médico não responderá pelo crime porque, ao operar o transexual, agia em excludente de ilicitude,
fundado no exercício regular de um direito incentivado por lei, qual seja, a profissão.
5º – Titularidade do bem renunciado: o bem jurídico objeto do consentimento deve ser próprio, não sendo
admitido o consentimento na ofensa de bem alheio.
O consentimento posterior do ofendido não autoriza a excludente supralegal de ilicitude, mas pode
configurar renúncia ou perdão do ofendido apta a extinguir a punibilidade (em regra, apenas para crimes de
ação penal de iniciativa privada).
7º – Consentimento expresso: o consentimento da vítima deve ser expresso. Todavia, há doutrina admitindo
o consentimento tácito ou presumido.
Inicialmente, necessário se faz delimitar o alcance normativo do assunto em questão. Assim, pois, temos que
o tema provas é trabalhado na legislação processual penal entre os arts. 155 a 250, do CPP.
Feita a observação acima, pontuamos que o Código de Processo Penal estabeleceu normas gerais
relacionadas aos critérios a serem utilizados pelo magistrado na valoração dos elementos de convicção
carreados ao processo e ao ônus probante, bem como disciplinou determinados meios específicos de prova,
ou seja, elementos trazidos ao processo capazes de orientar o juiz na busca da verdade dos fatos.
Importante destacar que não se pode considerar o Código de Processo Penal como limitativo em termos de
meios de prova, tampouco interpretá-lo de forma restrita a ponto de considerar-se como exaustiva a
regulamentação nele inserida. Bem pelo contrário, na atualidade, é preciso ter em mente que a
regulamentação dos meios de prova existente no Código de Processo Penal não é taxativa, podendo ser
aceitos meios de provas atípicos ou inominados, vale dizer, sem regulamentação expressa em lei, desde que
não importe em violação à Constituição Federal e às normas processuais gerais.
Essa categoria de provas despida de regulamentação própria terá, em tese, o mesmo valor das provas
consideradas típicas ou nominadas (objeto de regulamentação legal), ou seja, um valor relativo,
condicionado ao exame conjunto dos elementos de convicção incorporados ao processo.
Pode-se conceituar a prova como o conjunto de atividades de verificação e demonstração, mediante as quais
se procura chegar à verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Nesse sentido, identifica-se o conceito
de prova com a produção dos meios e atos praticados no processo visando ao convencimento do juiz - que
é o destinatário da prova6 - sobre a veracidade (ou não) de uma alegação sobre um fato que interesse à
solução da causa.
A doutrina divide o sistema de apreciação (ou avaliação) das provas em dois grandes momentos: o primitivo
e o moderno.
No sistema primitivo, dois momentos podem ser apontados: o é étnico, também chamado de “pagão”, no
qual se afirmava que a apreciação das provas era deixada ao sabor das impressões do juiz, que as aferia de
acordo com a sua própria experiência; e o religioso, também denominado de sistema das provas irracionais
ou dos ordálios, fruto da superstição de um povo e, por meio dos quais, os ordálios - que eram os “juízes de
deus” - com a falsa crença de que uma divindade intervinha nos julgamentos, diziam se o acusado era ou
não culpado através de “testes” que eles faziam com o acusado, do que é exemplo mandar o réu caminhar
descalço sobre a brasa e, a depender do resultado disso, ele seria condenado ou absolvido.
No sistema moderno, por seu turno, pode ser dividido em três momentos: o da íntima convicção do
magistrado, o da prova tarifada e o do livre convencimento motivado.
De acordo com o sistema da íntima convicção, também conhecido como sistema da certeza moral do juiz ou
da livre convicção, o juiz é livre para valorar as provas, inclusive aquelas que não se encontram nos autos,
não sendo obrigado a fundamentar seu convencimento. Este sistema é, em regra, afastado do nosso
ordenamento, subsistindo apenas no Tribunal do Júri, quanto à atividade dos jurados
De outro lado, o sistema da prova tarifada - também conhecido como sistema das regras legais, da certeza
moral do legislador ou da prova legal - é próprio do sistema inquisitivo e trabalha com a ideia de que
determinados meios de prova têm valor probatório fixado em abstrato pelo legislador, cabendo ao
magistrado tão somente apreciar o conjunto probatório e lhe atribuir o valor conforme estabelecido pela lei.
6
Parte da doutrina entende que o Ministério Público também seria destinatário da prova, pois ele é influenciado pela sua produção
na formação de sua opinio delicti, ou seja, na formação da sua convicção acerca do oferecimento (ou não) da denúncia, entretanto
é mais correto afirmar que o Ministério Público é destinatário dos elementos informativos colhidos na fase investigativa.
Aqui, o magistrado é despido da análise crítica e a lei pode inclusive indicar a prova necessária para
demonstrar determinado fato7.
Finalmente, no sistema do livre convencimento motivado, também conhecido como sistema da persuasão
racional ou livre apreciação judicial da prova, o magistrado tem ampla liberdade na valoração das provas
constantes dos autos, que possuem o mesmo valor probatório, devendo, no entanto, motivar/fundamentar
sua escolha. Trata-se, pois, do sistema regra em nosso ordenamento.
Prova não se confunde com elemento informativo. A prova somente existirá no curso de um processo
judicial, com o emprego do contraditório e da ampla defesa; por outro lado, o elemento informativo é aquele
colhido ainda na fase investigatória, sem a participação da outra parte (sem contraditório e ampla defesa).
Segundo o professor Renato Brasileiro:
No ponto, de acordo com a jurisprudência, o juiz não poderá utilizar exclusivamente os elementos
informativos colhidos ainda na fase de investigação para fundamentar uma decisão condenatória, pois isso
ofende o princípio do contraditório e da ampla defesa; no entanto, é possível a utilização desses elementos
de informação como complemento às provas produzidas sob o crivo do contraditório judicial - STF, RHC nº
117.192/MG, rel. Rosa Weber, j. 03.09.13 e STJ, AgRg no AREsp nº 603.158/DF, rel. Min. Leopoldo de Arruda
Raposo, j. 17.03.15. Neste sentido, também, é o CPP:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
7
Parte da doutrina entende que há no CPP resquícios desse sistema, isso porque, o art. 158, do CPP, exige o exame de corpo de
delito para demonstrar a materialidade nas infrações que deixam vestígios.
Conheça o referido artigo: art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de
delito quando se tratar de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança,
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
A ressalva feita pelo artigo acima precisa ser compreendida, pois é tema recorrente em provas e, numa
interpretação a contrario sensu, deixa entrever que é possível que o juiz forme sua convicção exclusivamente
com base em 3 (três) espécies de provas produzidas na fase investigatória.
As provas cautelares, devem ser compreendidas como aquelas nas quais há um risco de desaparecimento
do objeto da prova em razão do decurso do tempo. Aqui, o contraditório será diferido (postergado ou
adiado), isso porque, em face de medidas cautelares inaudita altera parte, o contraditório só ocorrerá depois
da concretização da prova. Trata-se de espécie de provas que podem ser produzidas no curso da fase
investigatória ou durante a fase judicial, mas, em regra, dependem de autorização judicial. É o que acontece,
por exemplo, com uma interceptação telefônica.
Por outro lado, a prova não repetível é aquela que, uma vez produzida, não tem como ser novamente
coletada ou produzida, em virtude do desaparecimento, destruição ou perecimento da fonte probatória.
Também, podem ser feitas na fase investigatória e em juízo, sendo que, em regra, não dependem de
autorização judicial. É o caso, por exemplo, do exame pericial em alguém que tenha sido vítima de lesões
corporais de natureza leve. Aqui, nos mesmos moldes do que ocorre com as provas cautelares, o
contraditório também será diferido. em relação às provas não repetíveis.
Já as provas antecipadas, são aquelas produzidas com a observância do contraditório real, perante a
autoridade judicial, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do
início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância, para tanto, a autorização judicial é
indispensável. É o caso, por exemplo, do denominado depoimento ad perpetuam rei memoriam, previsto no
art. 225 do CPP, no qual se colhe o depoimento antecipado de pessoa que pode morrer antes de prestá-lo.
Nos termos do art. 156, do CPP, a prova da alegação incumbe a quem a fizer, sendo facultado ao magistrado
- de ofício: i) ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida e ii)
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
dúvida sobre ponto relevante. Este ponto, no entanto, é controvertido na doutrina, pois existe
questionamento acerca da constitucionalidade desse poder agir de ofício dado ao magistrado. Nas palavras
do professor Aury Lopes, sobre o tema:
O art. 156 do CPP funda um sistema inquisitório, e não pode mais viger, pois representa uma
quebra da igualdade, do contraditório, da própria estrutura dialética do processo. Como
decorrência, fulminam a principal garantia da jurisdição, que é a imparcialidade do julgador. Está
desenhado um processo inquisitório.
Também, para o autor, o art. 156, do CPP, fora revogado pelo art. 3º-A, do CPP8 , introduzido pelo “Pacote
Anticrime”:
A parte inicial do caput do art. 156 do CPP exige uma leitura à luz da presunção de inocência,
quando diz que "a prova da alegação incumbirá a quem a fizer". Na verdade, a primeira alegação
é feita pelo MP na denúncia, quando afirma a autoria e a materialidade, cabendo a ele acusador
ônus total e intransferível de provar a existência do delito (inclusive na perspectiva formal, de
fato típico, ilícito e culpável). O restante do art. 156 viola o sistema acusatório e, portanto, além
de substancialmente inconstitucional, está tacitamente revogado pelo art. 3º-A do CPP
(infelizmente tal dispositivo está com sua eficácia suspensa pela liminar do Min. FUX9).
OBJETO DA PROVA
O objeto da prova, segundo parte da doutrina, são os fatos. Renato Brasileiro, no entanto, não concorda com
esse entendimento. Isso porque, segundo o autor:
Costuma-se dizer que o objeto da prova são os fatos que interessam à solução de uma
controvérsia submetida à apreciação judicial. A nosso ver, contudo, o objeto da prova não são os
fatos, pois jamais será possível se atingir a reconstrução integral do que efetivamente ocorreu.
Na verdade, o objeto da prova é a verdade ou falsidade de uma afirmação sobre um fato que
interessa à solução do processo. São as asserções feitas pelas partes que interessam à solução
de controvérsia submetida à apreciação judicial.
São, portanto, objeto de prova: a imputação constante da peça acusatória; o direito consuetudinário; os
regulamentos e portarias; o direito estrangeiro, estadual e municipal e os fatos não contestados ou
incontroversos, neste caso, porque no âmbito processual penal, por força do princípio da presunção de
inocência, mesmo que o acusado venha a confessar a prática do delito, subsiste o ônus da acusação de
comprovar a imputação constante da peça acusatória - portanto, não confunda este último ponto com o
CPC, para o qual não dependem de prova os fatos afirmados por uma parte e confessados pela parte
contrária ou aqueles admitidos, no processo, como incontroversos.
8
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da
atuação probatória do órgão de acusação.
9
Na condição de Relator das ADI’s 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305, todas ajuizadas em face da Lei n. 13.964/19, o Min. Luiz Fux (j.
22/01/2020) suspendeu sine die a eficácia, ad referendum do Plenário, da implantação do juiz das garantias e de seus consectários
(CPP, arts. 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E e 3º-F), da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível
(CPP, art. 157, §5º), da alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (CPP, art. 28, caput) e da liberalização da
prisão pela não realização da audiência de custódia no prazo de 24 horas (CPP, art. 310, §4º)
Acrescentamos, ainda, que há fatos que não precisam ser provados. São eles: os fatos evidentes, os s
notórios, os inúteis e as presunções legais.
Considera-se fatos evidentes, as verdades axiomáticas do mundo do conhecimento. Neste sentido, por
exemplo, não se precisa provar que o fogo queima.
Por outro lado, os fatos notórios são aqueles de conhecimento público geral. São fatos cujo conhecimento
está inserido na cultura normal e própria de determinada esfera social no tempo em que ocorrer a decisão,
como as datas históricas, os fatos políticos ou sociais de conhecimento público, ou seja, os fatos que
pertençam ao patrimônio estável de conhecimento do cidadão de cultura média em uma sociedade
historicamente determinada. Assim, portanto, não se precisa provar que o dia 15 de novembro é feriado
nacional no Brasil.
Os fatos inúteis ou irrelevantes, por seu turno, são aqueles que não interessam à decisão da causa, sejam
eles verdadeiros ou falsos. É o caso, por exemplo da orientação sexual de uma pessoa acusada do crime de
furto.
Finalmente, não precisam ser provadas as presunções legais, que são os juízos de certeza que decorrem da
lei. Aqui, a doutrina classifica essas presunções em absolutas (jure et de jure) e relativas (juris tantum). As
primeiras não aceitam prova em contrário, sendo exemplo a condição de inimputável do indivíduo menor de
18 anos, em que, por força do critério biológico adotado pela Constituição Federal (art. 228) e pelo Código
Penal (art. 27), presume-se de maneira absoluta sua inimputabilidade. E, as segundas, admitem a produção
de prova em sentido oposto, como é o caso da presunção de imputabilidade do maior de 18 anos, que pode
ser descaracterizada a partir de laudo de insanidade mental apontando que o indivíduo não tem
discernimento.
Quanto à distribuição do ônus da prova, duas correntes precisam ser estudadas. Vamos a elas.
A primeira corrente, que é minoritária, sustenta que, diante do princípio do in dubio pro reo, que é a regra
de julgamento que vigora no campo real, o acusado jamais poderá ser prejudicado pela dúvida sobre um
fato relevante para a decisão do processo, pelo menos nos casos de ação penal condenatória. Em um
processo penal que vigora a presunção de inocência, o ônus probatório é atribuído, com exclusividade, ao
acusador. Segundo essa corrente, havendo, por exemplo, alegação da defesa acerca da presença de uma
causa excludente da ilicitude, caberá à acusação demonstrar que a conduta do agente é típica, ilícita e
culpável.
A segunda corrente, hoje, majoritária, trabalha com uma distribuição do ônus da prova. Na qual incumbe à
acusação tão somente a prova da existência do fato típico, não sendo objeto de prova acusatória a ilicitude
e a culpabilidade do agente. Em suma, enquanto o Ministério Público e o querelante têm o ônus de provar
os fatos delituosos além de qualquer dúvida razoável, produzindo no magistrado um juízo de certeza em
relação ao fato delituoso imputado ao acusado, à defesa é suficiente gerar apenas uma fundada dúvida sobre
causas excludentes da ilicitude, causas excludentes da culpabilidade, causas extintivas da punibilidade ou
acerca de eventual álibi.
Resumindo, portanto, cabe à acusação provar a existência do fato típico - a ilicitude, em tese, é presumida
pela doutrina majoritária - a autoria ou participação do acusado, o nexo causal e o elemento subjetivo do
crime (dolo ou culpa) - para criar juízo de certeza no juiz. Por outro lado, cabe à defesa apresentar causas
excludentes de ilicitude/antijuridicidade, de culpabilidade, extintivas da punibilidade ou álibi - para suscitar
dúvida razoável no magistrado.
Quanto à forma da prova, que se refere à maneira pela qual a prova se apresenta em juízo, ela pode ser
documental, material ou testemunhal.
Há que se comentar, também, sobre a fonte de prova, que é expressão utilizada para designar as pessoas ou
coisas das quais se consegue a prova, daí resultando a classificação em fontes pessoais (ofendido, peritos,
acusado, testemunhas) e fontes reais (documentos, em sentido amplo).
O professor Renato Brasileiro lembra, ainda, da necessidade de distinção entre os meios de prova e os meios
de obtenção de prova. Segundo o autor:
Meios de prova são os instrumentos através dos quais as fontes de prova são introduzidas no
processo. Dizem respeito, portanto, a uma atividade endoprocessual que se desenvolve perante
o juiz, com o conhecimento e a participação das partes, cujo objetivo precípuo é a fixação de
dados probatórios no processo. Enquanto as fontes de prova são anteriores ao processo e
extraprocessuais, os meios de prova somente existem no processo.
Como aduz Badaró, “a testemunha de um fato é a fonte de prova, enquanto suas declarações em
juízo são o meio de prova. O documento é uma fonte de prova, a sua incorporação ao processo
é o meio de prova. O livro contábil é a fonte de prova, enquanto a perícia contábil é o meio de
prova”.
Os meios de prova podem ser lícitos ou ilícitos. Somente os primeiros podem ser admitidos pelo
magistrado, dispondo o art. 157 do CPP que são inadmissíveis as provas ilícitas, assim entendidas
as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais, devendo ser desentranhadas dos
autos do processo. Como destaca Nucci, os meios ilícitos abrangem não somente os que forem
expressamente proibidos por lei, mas também os imorais, antiéticos, atentatórios à dignidade e
à liberdade da pessoa humana e aos bons costumes, bem como os contrários aos princípios gerais
de direito.
Com base no grau de restrição aos direitos e garantias do investigado, os meios de prova podem ser
ordinários e extraordinários, segundo o autor:
Meios ordinários de obtenção de prova são aqueles previstos não só para investigação de delitos
graves, como também para infrações de menor gravidade, cuja forma de execução é
diferenciada, por ser escondida sob o manto protetor da inviolabilidade de bens jurídicos
individuais. A título de exemplo, podemos citar uma busca domiciliar.
Meios extraordinários de obtenção de prova (ou técnicas especiais de investigação) são as
ferramentas sigilosas postas à disposição da Polícia, dos órgãos de inteligência e do Ministério
Público para a apuração e a persecução de crimes graves, que exigem o emprego de estratégias
Por fim, os meios de investigação da prova (ou de obtenção da prova) referem-se a certos procedimentos
(em regra, extraprocessuais) regulados por lei, com o objetivo de conseguir provas materiais, e que podem
ser realizados por outros funcionários que não o juiz.
O direito à prova, como todo e qualquer direito fundamental, não tem natureza absoluta. Está sujeito a
limitações porque coexiste com outros direitos igualmente protegidos pelo ordenamento jurídico. Não por
outro motivo, dispõe a Constituição Federal que são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos (art. 5º, LVI, da CF/88).
Perceba que a Constituição Federal apenas menciona “prova ilícita”, mas sem especificar o seu alcance e
sem fazer distinção com outras espécies. No entanto, a doutrina diferencia prova ilícita de prova ilegítima.
Segundo a doutrina, a prova ilícita é aquela vedada em sentido absoluto, ou seja, quando o direito proíbe,
em qualquer caso, a sua produção por infringir a lei material e/ou princípios do ordenamento. Por outro
lado, a prova ilegítima é aquela vedada em sentido relativo, ou seja, embora admitido o meio de prova, as
formalidades não são respeitadas - ilegítima, pois, é a prova que viola a um preceito processual.
Perceba que de nada adiantaria dizer que são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos,
se essa ilicitude também não se estendesse às provas que dela derivassem.
Portanto, a prova ilícita não é só aquela produzida de forma contrária à lei, mas, além disso, a prova que dela
seja consequência - trata-se de fenômeno chamado pela doutrina de teoria da árvore envenenada. Assim,
por exemplo, não é ilícita apenas a interceptação telefônica sem ordem judicial, mas, também, a busca e
apreensão realizada com base nas informações colhidas nesta interceptação ilegal.
Aqui, especial atenção se deve ter ao fato de que os Tribunais Superiores admitem o uso da prova ilícita para
absolver o acusado e, ainda, o CPP, permite o uso da prova derivada da ilícita quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre a prova ilícita e a lícita ou, ainda, quando as derivadas puderem ser obtidas por
uma fonte independente - teoria da fonte independente. Sobre o tema, assim dispõe o CPP:
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma
fonte independente das primeiras.
Quanto ao parágrafo 2º, acima, parte da doutrina aponta que ele se refere à teoria da descoberta inevitável,
que é assim referenciada por Renato Brasileiro:
De acordo com a teoria da descoberta inevitável, também conhecida como exceção da fonte
hipotética independente, caso se demonstre que a prova derivada da ilícita seria produzida de
qualquer modo, independentemente da prova ilícita originária, tal prova deve ser considerada
válida.
A aplicação dessa teoria não pode ocorrer com base em dados meramente especulativos, sendo
indispensável a existência de dados concretos a confirmar que a descoberta seria inevitável.
Somente com base em fatos históricos demonstrados capazes de pronta verificação será possível
dizer que a descoberta seria inevitável. Em outras palavras, não basta um juízo do possível. É
necessário um juízo do provável, baseado em elementos concretos de prova.
Há, ainda, quem se refira à limitação da mancha purgada, também conhecida como vícios sanados ou tinta
diluída, como mais uma exceção à utilização de prova ilícita no processo penal. De acordo com essa limitação,
não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal entre a prova primária e a secundária
for atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória, da
menor relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a persecução
criminal. Nesse caso, apesar de já ter havido a contaminação de um determinado meio de prova em face da
ilicitude ou ilegalidade da situação que o gerou, um acontecimento futuro elide esse vício, permitindo-se,
assim, o aproveitamento da prova inicialmente contaminada.
10
STJ, Corte Especial, APn 856/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/10/2017, DJe 06/02/2018.
Inicialmente, cabe apontar que a Lei dos Juizados Especiais tem sede constitucional. Trata-se da disposição
do artigo 98, I. Vejamos o que diz o dispositivo constitucional:
Disposição semelhante inicia o capítulo dos Juizados Especiais Criminais na Lei 9.099/95, veja:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei nº
11.313, de 2006)
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri,
decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da
transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)
Vimos, portanto, que a Lei dos Juizados Especiais Criminais se aplica às infrações de menor potencial
ofensivo:
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Temos, portanto, que todas as contravenções, também chamadas de crime anão ou infrações liliputianas,
são consideradas como infração de menor potencial ofensivo. Por outro lado, quanto aos crimes, temos que
eles devem observar o critério de quantidade máxima de pena privativa de liberdade, neste caso, não
superior a dois anos.
QUAIS SÃO AS INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO ADMITEM A APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95?
Este dispositivo sofreu questionamentos quanto à sua constitucionalidade no STF, mas o Supremo
considerou que as disposições desta lei são constitucionais. Veja os julgados:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI Nº 11.340/06 (...) O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos
crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com
o disposto no § 8º do artigo, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que
coíbam a violência no 226 da Carta da República no âmbito das relações familiares. ADC 19. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 09/02/2012.
AÇÃO PENAL - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER - LESÃO CORPORAL - NATUREZA. A
ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada - considerações. ADI 4424. Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 09/02/2012.
Hoje este tema também tem tratamento pacífico na jurisprudência do STJ, e há duas súmulas que tratam da
matéria. Importa acrescer, ainda, que a inaplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais se estende,
inclusive, às contravenções penais praticadas contra a mulher no contexto de violência doméstica e familiar.
Veja:
O fundamento para a existência deste tratamento leva em consideração o seguinte: não há compatibilidade
entre a lei os Juizados Especiais Criminais e a lei Maria da Penha em razão da necessidade de punição mais
rigorosa aos delitos praticados contra a mulher no contexto de violência doméstica e familiar. A
consequência deste tratamento resulta no afastamento das medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95. A
isto reforça a afirmação de que há previsão de Juizado específico para o tratamento dos delitos praticados
contra mulher resultantes de violência doméstica e familiar, consoante disposição do artigo. 14, da Lei
11.340/06: Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Ademais, em face da inexistência desse juizado nos Estados, ainda assim a referida lei não prevê o
direcionamento das causas para o JECRIM, veja:
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as
previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o
julgamento das causas referidas no caput.
• JUSTIÇA MILITAR: Por fim, a lei dos juizados especiais criminais também não se aplica à Justiça Militar,
em razão do artigo 90-A da referida lei que assim preceitua: As disposições desta Lei não se aplicam
no âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)
O artigo 62 da lei dos juizados especiais criminais enumera os cinco princípios que regem este juizado, são
eles: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. O princípio da simplicidade
não foi previsto inicialmente, mas em 2018, após edição da lei 13.603/18, passou a constar neste rol.
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que
possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de
liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018)
A crise que atingiu a administração da justiça e que gerou o debate pela necessidade de efetividade do
processo, abriu debate para dois temas: a DEFORMALIZAÇÃO e a DELEGALIZAÇÃO.
A DELEGALIZAÇÃO, por seu turno, subtrai a solução legal, busca submeter determinados conflitos a um juízo
de equidade.
A deformalização e a delegalização são finalidades da 9.099/95 e o resultado disto é a busca por um modelo
de justiça consensual.
Ainda no que diz respeito aos objetivos da Juizado Especial Criminal, vamos lembrar que há a finalidade de
não aplicação da pena privativa de liberdade. Este objetivo é traduzido pela doutrina através do fenômeno
da DESPENALIZAÇÃO, chamada por Rogério Greco de DESCARCERIZAÇÃO. Por este fenômeno, apesar de
haver infração penal, a pena aplicada não será a pena privativa de liberdade.
São medidas que buscam a despenalização: a representação, a composição dos danos civis, a transação penal
e a suspensão condicional do processo. Todas as medidas mencionadas têm como finalidade evitar o
processo.
COMPETÊNCIA
Segundo a Lei 9.099/95, a competência se determina de acordo com o lugar em que a infração foi praticada
a infração penal. Veja a disposição legal:
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal.
A questão que se põe aqui é a seguinte: a expressão “praticada” se refere ao lugar de início ou de
consumação do delito? Segundo o professor e ex Defensor Público Gabriel Habib, deve-se interpretar o
dispositivo no sentido de que se trata do lugar da consumação do delito, que é a solução do CPP.
ATENÇÃO: Via de regra, a Justiça Federal é competente para processar e julgar infrações penais
praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas. A exceção ocorre em relação às contravenções penais, que,
ainda que praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de seus entes,
não serão de competência da Justiça Federal, mas dos JECRIM estaduais.
ATOS PROCESSUAIS
NÃO HÁ CITAÇÃO POR EDITAL NO JECRIM: A citação é sempre pessoal, portanto, se o autor do fato não for
encontrado as peças do processo serão encaminhadas ao juízo comum e, apenas lá, é possível citar por edital
para, posteriormente, suspender o processo, nos temos do artigo 366, do CPP.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por
mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças
existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
Art. 366, CPP. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996).
As intimações, diferente das citações, são em regra por correspondência com AR, no entanto é possível que
sejam feitas excepcionalmente por oficial de justiça ou outro meio de comunicação, conforme segue:
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou,
tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da
recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça,
independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de
comunicação.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes,
os interessados e defensores.
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a
necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na
sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.
FASE PRELIMINAR
- TERMO CIRCUNSTANCIADO:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
A conclusão que se extrai da leitura deste dispositivo é a de que em face de uma infração de menor potencial
ofensivo não se lavra o auto de prisão em flagrante, mas o termo circunstanciado.
Atenção ao parágrafo único do artigo acima trabalhado, pois através dele é possível aferir que pode o autor
do fato não ser encaminhado imediatamente ao juizado quando assumir o compromisso de a ele comparecer
voluntariamente. Da leitura deste dispositivo é possível concluir que não haverá prisão em flagrante ou
exigência de fiança nestas hipóteses.
Ainda, em caso de violência doméstica e familiar contra a mulher, é possível a aplicação pelo juiz de medida
cautelar de afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
(Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002)
- AUDIÊNCIA PRELIMIAR: tem por objetivo evitar o processo. Vejamos o seu procedimento:
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização imediata da
audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua
intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
Da leitura do dispositivo acima podemos perceber mais uma peculiaridade desta lei: não há condução
coercitiva para a audiência preliminar.
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato
e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz
esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de
aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
Perceba que nesta fase não se fala em testemunhas ou produção de provas. Como dissemos, neste momento
ainda não há processo e esta audiência busca exatamente evitá-lo, portanto, não há qualquer necessidade
da presença de testemunhas ou produção de provas.
Em seguida, importante se faz notar a presença da primeira medida despenalizadora: a composição dos
danos civis. A composição pode ser aceita pelas partes ou não. Se elas aceitarem, a composição é reduzida
por escrito e homologada pelo juiz mediante sentença irrecorrível que serve como título executivo no juizado
cível.
A realização da composição civil dos danos gera como efeito a renúncia ao direito de queixa (na ação de
iniciativa privada) ou de representação (na ação penal pública sujeita à representação) e, portanto, a
extinção da punibilidade, nos termos do CP, como segue:
Ainda neste ponto, é importante perceber que em caso de pluralidade de ofensores, como regra, a renúncia
em relação a um deles abrange os demais em razão do princípio da indivisibilidade da ação penal - art. 48 do
CPP. No entanto, no JECRIM é diferente! Neste, a renúncia é condicionada à composição dos danos civis,
portanto, se apenas um ofensor faz a composição, a renúncia só alcança ele, não podendo se estender aos
demais.
Dito isto, perceba mais esta nuance apontada pela professora Ada Pellegrini: se a reparação dos danos for
integral, a renúncia estende-se a todos os ofensores. Por outro lado, se a pluralidade for de vítimas, ainda
segundo a professora Ada Pellegrini, a composição produz efeitos em relação à vítima que aceitou a
composição e as demais, que não aceitaram, podem oferecer a representação ou a queixa.
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local,
preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na
administração da Justiça Criminal.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.
Por outro lado, caso a composição dos danos civis não seja aceita pelas partes, pode o ofendido
imediatamente exercer o direito de representação.
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica
decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada,
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
Perceba que após a representação do ofendido ou sendo o caso de ação penal pública incondicionada que
não caiba arquivamento, surge a segunda medida despenalizadora da Lei 9.099/95: a transação penal. A
transação penal oferecida pelo MP pode trazer como consequência a imposição de uma pena restritiva de
direitos ou multa, no entanto, aqui elas não aparecem com natureza jurídica de pena, mas como forma de
justiça consensual que evitam o processo.
Este primeiro requisito negativo objetivo, segundo a doutrina, apenas se aplica se a reincidência ocorrer em
crime doloso.
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena
restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
O inciso II traz o segundo requisito negativo objetivo, que é a impossibilidade do MP de oferecer transação
para o autor do fato que tiver sido beneficiado com aquele instituto em período inferior a 5 anos.
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do
Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a
pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas
para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
ATENÇÃO: O juiz pode deixar de homologar transação penal em razão de atipicidade, ocorrência
de prescrição ou falta de justa causa para a ação penal, equivalendo tal decisão à rejeição da
denúncia ou queixa, impugnável por apelação.
No caso de transação penal homologada e não cumprida, o decurso do prazo prescricional provoca a
declaração de extinção de punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. Por outro lado, a homologação
da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas
suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da
persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial (Súmula Vinculante
35).
DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO
a) Na Ação Penal Pública a denúncia é oral, desde que não seja necessária a realização de diligências
imprescindíveis. Veja o que diz o artigo 77 da lei 9099/95:
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência
do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência
referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do
corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
equivalente.
Noticiam os autos que fora lavrado termo circunstanciado pela prática, em tese, do delito
tipificado no art. 28 da Lei 11.343/2006 (usuário de droga/pequena quantia) e, sendo designada
audiência preliminar para oferecimento de transação penal, ela não se realizou em razão do não
comparecimento do acusado... Então, o juízo suscitado acolheu manifestação do MP estadual e
determinou a remessa dos autos ao juízo da vara criminal, com fundamento no art. 66, parágrafo
único, da Lei n. 9.099/1995 e, por sua vez, o juízo da vara de vara criminal suscitou o conflito de
competência, alegando que não foi cumprido o art. 77, caput e § 1º, da Lei n. 9.099/1995, pois o
MP deveria ter oferecido denúncia oral ao juízo suscitado... Explica o Min. Relator que, não
comparecendo o acusado à audiência preliminar designada para oferecimento de transação
penal e não havendo a necessidade de diligências imprescindíveis, o MP deve oferecer de
imediato a denúncia oral nos termos do art. 77 da Lei 9.099/1995 e, somente após a
apresentação dessa exordial acusatória, é que poderiam ser remetidos os autos ao juízo comum
para proceder à citação editalícia, conforme dispõe expressamente o art. 78, § 1º, da referida lei.
Diante do exposto, a Seção conheceu do conflito e declarou a competência do juízo suscitado.
Precedente citado: CC 102.240-PB, DJe 30/4/2009. CC 104.225-PR. Rel. Min. Haroldo Rodrigues
(Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em 25/5/2011.
e) Na ação de iniciativa privada, a queixa também é oferecida de forma oral, mas cabe ao juiz
verificar a necessidade ou não de enviar o processo ao juízo comum.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz
verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências
previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.
f) Oferecida a Denúncia ou Queixa, ela é reduzida a termo e uma cópia é entregue ao acusado, que
já sai citado e cientificado da designação do dia e hora da audiência de instrução de julgamento.
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado,
que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a
audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o
ofendido, o responsável civil e seus advogados.
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e
cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas
testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua
realização.
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art.
67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.
Nesta audiência há nova possibilidade de composição dos danos civis, segundo artigo 79 do CPP:
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase
preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de
proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução
coercitiva de quem deva comparecer.
A resposta à acusação é oral - perceba que até aqui o juiz não recebeu a denúncia. Caso o juiz receba a
denúncia, passa-se à oitiva da vítima, oitiva de testemunhas, tanto da defesa quanto da acusação, prossegue-
se com o interrogatório do réu, debates orais e, ao fim, a sentença é proferida. Veja o que diz a lei neste
ponto:
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o
que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima
e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente,
passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz
limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes,
contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá
ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição,
reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo
Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o
pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º
do art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá
de acórdão.
Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade,
contradição ou omissão. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015)
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias,
contados da ciência da decisão.
§ 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso. (Redação
dada pela Lei nº 13.105, de 2015)
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
EXECUÇÃO
A fase executória aceita a transação, em caso de aplicação de pena de multa, o agente pode pagar ou não
pagar. Se pagar, o juiz declarará extinta a punibilidade e não ficam registros criminais do agente. Se a multa,
no entanto, não for paga, segundo a lei 9.099/95, era possível a conversão em pena privativa de liberdade
ou restritiva de direitos.
ATENÇÃO: o artigo 85 desta lei foi tacitamente revogado pelo artigo 51 do Código Penal, segundo
o qual: Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor,
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no
que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento
na Secretaria do Juizado.
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando
que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição
judicial.
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da
liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa
cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei. - Este
órgão competente é o Juízo da execução penal.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
A consequência da não representação é decadência, segundo artigo 91: Nos casos em que esta Lei passa a
exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será
intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
Vale lembrar que isto não se aplica aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
A quarta e última medida despenalizadora da Lei 9.099/95 é a suspensão condicional do processo ou sursis
processual, que começa a ser disciplinada a partir do art. 89 da lei.
A natureza jurídica da suspensão condicional do processo não é assunto pacífico na jurisprudência. Temos o
seguinte tratamento nos Tribunais Superiores:
STF. “(...) Suspensão condicional do processo (...) Natureza de transação processual da suspensão
condicional do processo. Inexistência de direito público subjetivo à aplicação do art. 89 da Lei
9.099/95(...) (HC 129346, Rela- tor(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
05/04/2016)”
STJ. 5ª Turma “(...) 1. A suspensão condicional do processo é um direito público subjetivo do réu,
cumprindo ao magistrado, desde que presentes as condições objetivas e subjetivas, instar o
representante do Ministério Público para fazer a oferta ou aplicar, por analogia, o disposto no
art. 28 do Código de Processo Penal (RHC 60.936/RO, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,
julgado em 13/12/2016, DJe 19/12/2016)”
STJ. 6ª Turma “(...) Este Superior Tribunal tem decidido que a suspensão condicional do processo
não é direito subjetivo do acusado, mas sim um poder-dever do Ministério Público, titular da
ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido
instituto, desde que o faça de forma fundamentada (...) (AgRg no RHC 74.464/PR, Rel. Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 02/02/2017, DJe 09/02/2017)”
Embora não haja posição única entre os Tribunais Superiores, resta razoável concluir que a posição
majoritária é a de que não se trata de direito subjetivo. No ponto, importante conhecer que:
• O acusado não pode estar sendo processado ou ter sido condenado por outro crime;
• Presença dos requisitos do art. 77, do CP, que são: a) não reincidência em crime doloso; b) a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; c) não seja indicada ou cabível
pena restritiva de direitos;
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Para fins de aplicação do artigo 89 da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do processo), se houver causa de
aumento variável, deve-se aumentar o mínimo; se houver causa de diminuição variável, deve-se diminuir o
máximo, pois o objetivo é sempre encontrar a pena mínima abstratamente prevista para o crime.
As circunstâncias agravantes ou atenuantes não são analisadas para verificar o cabimento ou não do instituto
da suspensão do processo, pois, conforme é pacífico na doutrina, as atenuantes e agravantes não possuem
a intenção de alterar a pena cominada ao tipo, não reduzindo-a aquém do patamar mínimo ou aumentando-
a além do máximo.
No entanto, as causas de aumento e de diminuição de pena podem alterar a pena para o fim de reduzi-la
aquém do patamar mínimo ou aumentando-a além do máximo. Deste modo, quando presentes, devem ser
analisadas para fins da concessão do benefício, procurando encontrar a pena mínima abstrata.
Ademais, em caso de concursos de crime é preciso ficar atento ao enunciado das súmulas 243 do STJ e 723
do STF:
STJ, SÚMULA 243: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações
penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a
pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o
limite de um (01) ano.
STJ, SÚMULA 723: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se
a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior
a um ano.
Feita a proposta, o acusado pode ou não aceitar. Se não a aceitar, segue-se o procedimento, consoante
disposição do § 7º, do art. 89 da 9099/95:
Art. 89, §7º. Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá
em seus ulteriores termos. No entanto, em caso de aceitação pelo acusado e pelo seu defensor,
aquele passará por um período de prova, no qual deverá cumprir as condições legais e judicias
impostas a partir da decisão.
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a
denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas
atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
Segundo o STJ, é possível que essas outras condições coincidam com algumas espécies de Pena Restritiva de
Direitos, embora com sua natureza não se confundam. Veja:
(...) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art.
89, § 2º, da Lei estabeleçam 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a
sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou de prestação pecuniária), mas
que, para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua
incidência. REsp 1.498.034-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
25/11/2015, DJe 2/12/2015. Info 574.
A Lei prevê, ainda, que, em caso de descumprimento de alguma condição imposta, poderá haver a revogação
do benefício. Dependendo da condição que foi descumprida, esta revogação pode ser obrigatória ou
facultativa. Vamos às hipóteses:
§ 3º A suspensão SERÁ revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão PODERÁ ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo,
por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
ATENÇÃO:
O processamento do réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do
período de prova deve ser considerado como causa de revogação facultativa da suspensão
condicional do processo. Em princípio, ressalte-se que a conduta prevista no artigo 28 da Lei
11.343/2006 não foi descriminalizada, mas apenas despenalizada pela nova Lei de Drogas, razão
pela qual a sua prática tem aptidão para gerar os mesmos efeitos secundários que uma
condenação por qualquer outro crime gera, como a reincidência e a revogação obrigatória da
suspensão condicional do processo, conforme previsto no artigo 89, § 3º, da Lei 9.099/1995.
Todavia, quanto ao crime descrito no artigo 28 da Lei de Drogas, cumpre destacar que
importantes ponderações no âmbito desta Corte Superior têm sido feitas no que diz respeito aos
efeitos que uma condenação por tal delito pode gerar. Em recente julgado deste Tribunal
entendeu-se que "em face dos questionamentos acerca da proporcionalidade do direito penal
para o controle do consumo de drogas em prejuízo de outras medidas de natureza extrapenal
relacionadas às políticas de redução de danos, eventualmente atémais severas para a contenção
do consumo do que aquelas previstas atualmente, o prévio apenamento por porte de droga para
consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de Drogas, não deve constituir causa geradora
de reincidência" (REsp 1.672.654/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
julgado em 21/08/2018, DJe 30/08/2018).
Outrossim, segundo a lei do JECRIM, a prescrição não corre durante o período de prova da Suspensão
Condicional do Processo.
Por fim, importante se faz a leitura dos dispositivos que seguem a fim de que nenhum deles fique de fora.
Ao final deste material, todas as disposições penais desta lei terão sido lidas por você.
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído
pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no
que não forem incompatíveis com esta Lei.
O sistema progressivo, vigente na execução penal brasileira, prevê que o indivíduo deverá passar por regimes
de cumprimento de pena cada vez menos rigorosos, a ser determinado pelo juiz, de acordo com seu mérito
(requisito subjetivo) e desde que cumpra tempo de pena estabelecido em lei no regime em que se encontra
(requisito objetivo).
Para uma segunda progressão (ex. semiaberto para aberto) dever-se-á considerar o saldo restante de pena,
devendo ser descontado o período já cumprido no regime anterior.
STJ, súmula n° 491: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional
Se a pena concreta ultrapassar o limite máximo admitido a título de pena unificada (40 anos – CP art. 75),
para efeitos de progressão deverá considerar-se o valor total de condenação, o mesmo valendo para o
livramento condicional (STF, 715).
STF, súmula n° 715: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado
pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.
Especialmente em relação aos crimes hediondos e equiparados, o quantum de pena a ser cumprido para
aquisição da progressão para o regime seguinte veio sendo objeto de alterações legais e jurisprudenciais, o
que pode causar confusão.
Caso o crime tenha sido praticado em data anterior à entrada em vigor da Lei 11.464/07, o que ocorreu em
29.03.2007, a progressão dar-se-á nos termos gerais da redação originária da LEP, que é cumprimento de ao
menos 1/6 da pena no regime.
STJ, súmula n° 471: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da
Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a
progressão de regime prisional.
Por outro lado, na vigência da Lei 11.464/07, a progressão de regime depende do cumprimento de 2/5, se
primário, ou 3/5, se reincidente.
A seu turno, a Lei 13.964/2019 (vigente em 23/01/2019) trouxe novas alterações à matéria, notadamente
no quantum de pena a ser cumprido quando houver resultado morte.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
(…);
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, se for primário;
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado
o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado; (…);
VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, vedado o livramento condicional.
(…).
Por fim, o STJ decidiu que a progressão de regime aos condenados pela prática de crime hediondo ou
equiparado sem resultado morte, quando reincidentes em crimes comuns (reincidentes não específicos em
crimes hediondos ou equiparados), deve ocorrer após o cumprimento de 40% da pena, aplicando-se tal
disposição inclusive a casos anteriores à vigência da Lei 13.964/2019 (STJ, REsp nº 1.910.240/MG)
1. A Lei n. 13.964/2019, intitulada Pacote Anticrime, promoveu profundas alterações no marco normativo
referente aos lapsos exigidos para o alcance da progressão a regime menos gravoso, tendo sido
expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/1990 e estabelecidos patamares
calcados não apenas na natureza do delito, mas também no caráter da reincidência, seja ela genérica ou
específica.
2. Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por crime
hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal a integração da
norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é imperiosa a aplicação aos
reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos sentenciados primários.
3. Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de lege lata, a
incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna legal relativa aos
apenados condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes genéricos, instituiu conjuntura mais
favorável que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a retroatividade da lei penal mais benigna.
4. Dadas as ponderações acima, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais benéfica ao
apenado, condenado por estupro, porém reincidente genérico, de forma que é mister o reconhecimento de
sua retroatividade, dado que o percentual por ela estabelecido – qual seja, de cumprimento de 40% das
reprimendas impostas –, é inferior à fração de 3/5, anteriormente exigida para a progressão de condenados
por crimes hediondos, fossem reincidentes genéricos ou específicos.
1.1.2.1 - Introdução
Até a CRFB/88, a tortura não encontrava disposição em qualquer diploma normativo pátrio.
CRFB/88 art. 5°
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura
, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;
1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores
ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim
de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que
ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou
coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de
qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público
ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que
sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou
delas decorram.
O ECA (Lei 8.069/90) tipificou o primeiro crime de tortura. O art. 236, atualmente revogado, tipificava o crime
de tortura contra a criança e o adolescente.
A Lei 9.455/97 pode ser aplicada em conjunto com a Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19), sendo
possível a percepção de crime de tortura e de abuso de autoridade num mesmo contexto.
1.8.2.2 - Espécies
a) Tortura Confissão, Declaratória, Acusatória, Inquisitorial, Institucional ou Persecutória (art. 1º, I, “a”):
Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração
ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: b) para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa; Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Caso a vítima da tortura crime esteja sujeita a coação moral irresistível, não responderá pelo crime praticado
(inexigibilidade de conduta diversa). Já o torturador responderá, em concurso material, pela tortura crime e
pelo crime praticado (neste, como autor mediato).
c) Tortura Discriminatória ou Racial (art. 1º, I, “c”): ex. agredir um umbandista (religião) ou ameaçar um
negro (raça) como fazia a ku klux klan.
Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: c) em razão de discriminação racial ou
religiosa; Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Art. 1º Constitui crime de tortura: II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade,
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos.
A tortura castigo não se confunde com o crime de Maus Tratos (CP art. 136). Este se caracteriza pelo abuso
de meios de correção (finalidade corretiva), aquela pela finalidade de castigar.
Art. 1º, § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou
não resultante de medida legal.
Trata-se de crime próprio quanto ao sujeito passivo, de modo que só poderá ser praticado quanto a preso
ou sujeito a medida de segurança.
A criança ou o adolescente não pode ser sujeito passivo, porquanto só pode ser apreendido.
O crime em tela também é próprio quanto ao sujeito ativo, de modo que só poderá ser praticado pelo
agente público que custódia ou guarda o preso ou sujeito a medida de segurança.
Nesta modalidade não é aplicável a majorante do agente público (art. 1º, §4º, I), pois é vedado o bis in idem.
Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
Quanto à tortura por omissão no dever de evitar, o garantidor deveria responder por crime comissivo por
omissão (art. 13, §2º), todavia, em razão da regra específica, ele responderá pela tortura por omissão (crime
omissivo próprio).
Tem-se um crime próprio, uma vez que somente agente público tem o dever de apurar. Nesta modalidade
não é aplicável a majorante do agente público (art. 1º, §4º, I), pois é vedado o bis in idem.
Este delito não é crime de tortura, e, portanto, não é equiparado a hediondo, nem é inafiançável.
Art. 1º, § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de
quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
As lesões corporais graves (CP art. 129, §1º) e lesões corporais gravíssimas (CP art. 129, §2º) qualificam o
crime de tortura, já as lesões corporais leves são por ele absorvidas.
O resultado morte que qualifica o crime deve ser conseguido a título de culpa, nunca de dolo, eis que, neste
caso, haverá crime de homicídio.
No homicídio qualificado pela tortura (CP art. 121, §2º, IV), o dolo do agente (animus necandi) é inequívoco
e há despendimento de sofrimento desnecessário (o termo tortura é empregado em sentido vulgar).
Na hipótese do indivíduo que deseja torturar e, posteriormente, decide matar, surgem duas correntes:
2ª Corrente: há, tão somente, homicídio qualificado pela tortura, pelo princípio da progressão criminosa.
Na hipótese da majorante por agente público não se exige que o indivíduo esteja no exercício da função,
bastando que o mesmo se valha da função pública, ainda que fora do exercício.
O sequestro que enseja a majorante em tela deve constituir meio para o crime de tortura (sequestro-meio).
Caso a privação de liberdade, na hipótese, perdure por tempo relevante, o individuo deverá responder por
tortura e sequestro em concurso material.
1.8.2.4 - Perda do Cargo e Interdição para o Exercício de Função Pública (art. 1º, §5º)
Art. 1º, § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
A condenação por crime de tortura, em razão da função pública, implica a perda automática do cargo (efeito
da condenação).
CRFB art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
A Lei de Crimes Hediondos veda expressamente a concessão de indulto ao crime de tortura (art. 2º, I).
Todavia, existe uma corrente que advoga que, como a Lei de Tortura (lei superveniente) é omissa quanto à
vedação do indulto (art. 1º, § 6º), seria cabível sua concessão ao crime de tortura.
Art. 1º, § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado.
Apesar da literalidade legal, o STJ tem firmado entendimento no sentido de que não é obrigatório que o
condenado por crime de tortura inicie o cumprimento de pena em regime fechado.
(…).
3. É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial fechado com base
no art. 1.º, § 7.º, da Lei de Tortura.
5. Writ não conhecido. Ordem de habeas corpus concedida, de ofício, apenas para fixar o regime
inicial semiaberto.
(HC 286.925/RR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/05/2014, DJe
21/05/2014).
morte.
Por fim, o STJ decidiu que a progressão de regime aos condenados pela prática de crime hediondo ou
equiparado sem resultado morte, quando reincidentes em crimes comuns, deve ocorrer após o
cumprimento de 40% da pena, aplicando-se tal disposição inclusive a casos anteriores à vigência da Lei
13.964/2019 (STJ, REsp nº 1.910.240/MG)
2. Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por
crime hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal
a integração da norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é
imperiosa a aplicação aos reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos
sentenciados primários.
3. Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de
lege lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna
legal relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes
genéricos, instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a
retroatividade da lei penal mais benigna.
4. Dadas as ponderações acima, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais
benéfica ao apenado, condenado por estupro, porém reincidente genérico, de forma que é
mister o reconhecimento de sua retroatividade, dado que o percentual por ela estabelecido –
qual seja, de cumprimento de 40% das reprimendas impostas –, é inferior à fração de 3/5,
anteriormente exigida para a progressão de condenados por crimes hediondos, fossem
reincidentes genéricos ou específicos.
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território
nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
A Lei de Tortura poderá ser aplicada a fatos praticados no estrangeiro, nas hipóteses da vítima ser brasileira
ou da tortura ocorrer em local sob jurisdição brasileira (ex. embaixada brasileira na França – território
francês).
Para uma primeira corrente, representada por Capez, trata-se de extraterritorialidade condicionada
(condições no CP art. 7º, §2º), todavia, para a melhor doutrina trata-se de extraterritorialidade
incondicionada, regida pelo princípio da defesa real ou da proteção.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei n° 8.069/90), a família pode ser natural,
extensa ou substituta. Sobre esta última espécie versará o nosso tema específico da primeira rodada, haja
vista sua incidência reiterada nas provas da Magistratura Estadual tanto nas provas objetivas de primeira
fase quanto nas provas escritas.
Ponto de partida importante para o desenvolvimento de qualquer tema é seu conceito, comecemos por ele,
então.
>CONCEITO: família substituta, prevista nos art. 28 e seguintes do ECA, é a que se origina a partir da guarda,
tutela e adoção, suas três modalidades. Nesta rodada abordaremos as duas primeiras espécies, ficando a
adoção para ser aprofundada em rodada próxima.
A família substituta é espécie excepcional de família, que apenas tem lugar quando seja impossível a
manutenção da criança ou do adolescente no âmbito da família natural ou extensa. Assim, a autoridade
judiciária, a quem cabe a colocação em família substituta, tentará, ao máximo, a preservação da unidade
familiar natural ou extensa.
Essa diferença quanto ao peso da opinião da criança e do adolescente já era muito explorada em provas de
múltipla escolha e, agora, em razão de recentíssima e paradigmática decisão do STJ, veiculada no
informativo n° 691 de abril de 2021, deve receber maior atenção dos examinadores e tem tudo para estar
na sua prova.
Decidiu o STJ, dando interpretação sistemática e teleológica ao art. 39, § 1º, do ECA (irrevogabilidade da
adoção), que, em razão da essencialidade do consentimento do adolescente para sua colocação em família
substituta, é POSSÍVEL a rescisão da sentença de ADOÇÃO se, posteriormente, for constatado que o
consentimento foi eivado de vício e não correspondia ao real desejo do adotante. Vejamos destaques da
ementa dada sua importância:
(...) 9- A hipótese dos autos representa situação sui generis na qual inexiste qualquer utilidade
prática ou reais vantagens ao adotado na manutenção da adoção, medida que sequer atende ao
seu melhor interesse. Ao revés, a manutenção dos laços de filiação com os recorrentes
representaria, para o adotado, verdadeiro obstáculo ao pleno desenvolvimento de sua
personalidade, notadamente porque impediria o evolver e o aprofundamento das relações
estabelecidas com os atuais guardiões, representando interpretação do § 1º do art. 39 do ECA
descolada de sua finalidade protetiva. (REsp 1892782/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 06/04/2021, DJe 15/04/2021)
Antes de iniciarmos o estudo da guarda, duas informações relevantes sobre a colocação familiar:
Guarda
>CONCEITO: de acordo com o ECA, é espécie de colocação familiar que visa à regularização da posse de fato
da criança ou do adolescente.
O poder familiar, em regra, abrange o dever de guarda, conforme art. 22 do ECA e art. 1.634 do CC. No
entanto, se, quem detém o referido poder não estiver exercendo a guarda de modo adequado, essa será
destacada, separada do poder familiar e será entregue a alguém que, de forma autônoma, irá exercê-la.
Guarda Guarda
(Família Substituta) Compartilhada
>HIPÓTESES:
-No curso de processo de adoção ou tutela (art. 33, § 1º do ECA), regularizando a posse de fato de
quem, na prática, já é encarregado dos cuidados da criança ou do adolescente;
-Quando verificado pelo juiz que mãe e pai não estão cumprindo com os deveres inerentes ao poder
familiar, devendo priorizar parentes com quem a criança ou o adolescente mantenham relações de afinidade
e afetividade.
>CARACTERÍSTICAS DA GUARDA:
- É revogável;
- Obriga à assistência material, moral e educacional;
- Não implica perda ou suspensão do poder familiar, mas o guardião pode se opor a terceiros, inclusive
aos pais que oponham resistência ao exercício da guarda.
-Em regra, há direito de visitação dos pais e dever de prestar alimentos (§ 4º, do art. 33, do ECA), salvo
expressa decisão da autoridade judiciária ou nos casos de preparação para adoção.
- Em regra, tem lugar no curso dos processos de tutela e adoção, exceto na adoção estrangeira. Pode,
eventualmente ser pedida de maneira autônoma em caso de falta eventual de pais ou responsável.
A partir desse ponto quero desenvolver com vocês a questão da abrangência ou não de direitos
previdenciários como decorrência do exercício da guarda. Esse tema, que até a reforma da
previdência, estava pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça - STJ foi objeto da EC n°
103/2019, em manifesta tentativa de superação legislativa de jurisprudência (ou ativismo
congressual).
Percebam: é um assunto que já costuma cair muito em prova, passou por uma série de
modificações legislativas, que tinha jurisprudência consolidada, e agora foi objeto de tratamento
em Emenda Constitucional. Vai cair na prova! Então eu vou estruturar o histórico dessa evolução
de maneira bem esquemática.
MP1.523/96 e
• A guarda confere a Lei 9.528/97 • A proteção
condição de integral e
dependente para preferência da
• Modificaram a criança e do
todos os fins; Lei nº 8.213/91
• inclusive adolescente fazem
• Excluíram o com que o art. 33,
previdenciários menor sob § 3º do ECA
guarda do rol prevaleça.
ECA, Art. 33, § de
3º. • Continua sendo
dependentes; dependente. STJ
No entanto, a reforma da previdência, operada pela Emenda Constitucional n° 103/2019 buscou superar
essa jurisprudência, por meio do § 6º do art. 23 da EC 103/2019, segundo o qual:
Art. 23 (...) § 6º Equiparam-se a filho, para fins de recebimento da pensão por morte,
exclusivamente o enteado e o menor TUTELADO, desde que comprovada a dependência
econômica.
Assim, verifica-se que o § 3º do art. 33 do ECA não foi recepcionado pela EC 103/2019, de modo que o
menor sob guarda não se considera dependente para fins previdenciários no âmbito do Regime Geral de
Previdência Social - RGPS, bem como no Regime Próprio de Previdência Social - RPPS dos servidores
federais.
Então prestem muito cuidado com os enunciados da prova!
Tutela
A tutela pode ser definida como um conjunto de poderes e encargos conferidos pela lei a um terceiro, para
que zele não só pela pessoa menor de 18 anos de idade e que se encontra fora do poder familiar, como
também lhe administre os bens. É cabível quando ambos os pais falecem ou são declarados ausentes ou,
ainda, se forem destituídos do poder familiar, sendo, portanto, dele substitutiva.
Na hipótese da criança ou do adolescente ter um patrimônio muito robusto, o juiz pode exigir que o tutor
preste uma caução, deposite um dinheiro em juízo como forma de garantia de reparação, caso venha a
causar algum prejuízo ao patrimônio da criança ou adolescente.
>Tutela Testamentária: a indicação do tutor pode decorrer de declaração de vontade manifestada pelos
pais, por meio de testamento ou outro documento idôneo (art. 37, do ECA e art. 1.729, do CC). No entanto,
caberá a autoridade judiciária, com vistas ao melhor interesse da criança ou adolescente, aferir se a pessoa
nomeada é a mais indicada.
Apadrinhamento
Apesar de não ser modalidade de família substituta, aproveitei a presente rodada para abordar também o
apadrinhamento.
Inserido no ECA pela Lei 13.509/2017, o apadrinhamento é instituto surgido na prática e que ingressou
recentemente no ECA e, desde então, tem sido de cobrança recorrente em provas de concurso para a
magistratura.
O apadrinhamento é voltado para crianças e adolescentes que se encontram em abrigos e que dificilmente
serão adotadas, por não ostentarem o perfil que a maioria dos adotantes cadastrados buscam.
>SUJEITOS DO APADRINHAMENTO:
-Madrinhas ou Padrinhos: pessoas maiores de 18 anos que NÃO estejam inscritas no cadastro
de adoção! Essa informação é muito importante e costuma ser objeto de questionamento em
provas.
-Pessoas Jurídicas: outro ponto muito explorado é a possibilidade de PESSOAS JURÍDICAS
apadrinharem crianças e adolescentes. Isso está expressamente autorizado no art. 19-B, § 3º, do
ECA.
Atenção para uma diferença importante: a pessoa inscrita em cadastro de adotante NÃO pode apadrinhar,
há vedação expressa no art. 19-B, § 2º, do ECA. O contrário, no entanto, não é verdadeiro. É possível que
uma madrinha ou um padrinho se inscreva no cadastro de adotante e entre para a fila de adoção.
O objetivo da lei foi o de concretizar o melhor interesse da criança e do adolescente, podendo servir também
como estímulo a adoção. Mas CUIDADO, se o padrinho ou madrinha resolvem se inscrever no cadastro de
adoção, deverão entrar na fila da adoção!
Outra pergunta que costuma cair em prova: o fato de ser apadrinhado autoriza a adoção fora da fila? NÃO!
>FUNÇÃO DO APADRINHAMENTO:
Como bem ensina Barreiros Neto11, com fulcro na lição de Suzana de Camargo Gomes12, os crimes eleitorais
estão previstos no Código Eleitoral (arts. 289 a 354), na Lei Complementar 64/90 (art. 25), na Lei nº 6.091/74
(art. 11) e na Lei nº 9.504/97, podendo ser divididos em 8 (oito) grandes grupos: os crimes eleitorais
concernentes à formação do corpo eleitoral; os crimes relativos à formação e funcionamento dos partidos
políticos; os crimes em matéria de inelegibilidade; os crimes eleitorais concernentes à propaganda eleitoral;
os crimes relativos à votação; os crimes pertinentes à garantia do resultado legítimo das eleições; os crimes
concernentes à organização e funcionamento dos serviços eleitorais; os crimes contra a fé pública eleitoral.
E para que uma infração penal possa ser considerada como “crime eleitoral”, é necessário o preenchimento
de dois requisitos13:
1) previsão na lei eleitoral: a conduta delituosa deve estar prevista em lei que trate sobre direito eleitoral; e
2) finalidade eleitoral: a conduta do agente deve ter sido praticada com o objetivo de violar bem jurídico
eleitoral, ou seja, é preciso que o crime tenha sido praticado com objetivo de atingir valores como a liberdade
do exercício do voto, a regularidade do processo eleitoral e a preservação do modelo democrático.
Nessa rodada, vamos falar, especificamente, do novo tipo penal eleitoral criado pela Lei nº 13.834/2019,
que acrescentou o art. 326-A ao Código Eleitoral. Vejamos.
11
BARREIROS NETO, Jaime. Direito Eleitoral. 10ª ed. Salvador: JusPodivm, 2020, p. 151.
12
GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. 3ª. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
13
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O novo crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral (art. 326-A do Código
Eleitoral). Disponível em: <https://www.dizerodireito.com.br/2019/06/o-novo-crime-de-denunciacao-caluniosa.html>. Acesso
em: 07 jul. 2021.
§ 3º Incorrerá nas mesmas penas deste artigo quem, comprovadamente ciente da inocência do
denunciado e com finalidade eleitoral, divulga ou propala, por qualquer meio ou forma, o ato ou
fato que lhe foi falsamente atribuído.
Logo, o tipo penal pune a conduta do agente que, movido por uma finalidade eleitoral (ex.: para atingir a
imagem do adversário político), pratica alguma conduta por meio da qual atribui a determinada pessoa a
prática de um crime ou ato infracional, mesmo sabendo que ela é inocente, fazendo com que as autoridades
iniciem uma investigação policial, um processo judicial, uma investigação administrativa, um inquérito civil
ou uma ação de improbidade administrativa14.
Mas qual é a diferença entre o crime de "denunciação caluniosa com finalidade eleitoral" (art. 326-A do
Código Eleitoral) e o crime de "denunciação caluniosa" previsto no art. 339 Código Penal?
No crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral (art. 326-A do Código Eleitoral), exige-se
finalidade eleitoral; o agente atribui a alguém a prática de crime ou ato infracional de que o sabe inocente;
e a competência é da Justiça Eleitoral. Já no crime de denunciação caluniosa, previsto no art. 339 do Código
Penal, não se exige finalidade eleitoral; o agente atribui a alguém a prática de crime de que o sabe inocente;
e a competência é da Justiça Comum.
Atenção: antes da Lei nº 13.834/2019, caso o agente tivesse praticado essa conduta “com
finalidade eleitoral”, ele respondia pelo do art. 339 do CP, sendo o crime julgado pela Justiça
Comum Federal. (Agravo de Instrumento nº 26717, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 07/04/2011, Página 42)
Assim, com a inclusão do art. 326-A no Código Eleitoral, praticamente a única mudança foi quanto à
competência: se o agente praticasse denunciação caluniosa com finalidade eleitoral antes da Lei nº
13.834/2019, ele responderia pelo crime do art. 339 do CP, sendo julgado pela Justiça Comum Federal; mas
14
CAVALCANTE, op. cit.
se o agente praticar denunciação caluniosa com finalidade eleitoral depois da Lei nº 13.834/2019, ele
responde pelo crime do art. 326-A do Código Eleitoral, sendo julgado pela Justiça Eleitoral15.
• Bem jurídico protegido: em primeiro lugar, a Administração da Justiça (pune-se o agente pelo fato
de ter movimentado a Justiça mesmo sabendo que a pessoa a quem se atribuiu o crime/ato
infracional era inocente). Além disso, o tipo busca proteger, secundariamente, a honra da pessoa a
quem se atribuiu o crime ou ato infracional.
• Elemento subjetivo: é o dolo direto, considerando que o tipo penal utiliza a expressão “imputando-
lhe crime de que o sabe inocente” (é imprescindível que esteja provado que o agente tenha efetivo
conhecimento da inocência da pessoa e, mesmo assim, dê causa à instauração do procedimento).
Não se admite o dolo eventual nem a modalidade culposa. Além do dolo, o crime exige um elemento
subjetivo especial (“dolo específico”): a finalidade eleitoral. Por isso, o sujeito ativo deve ter dado
causa à instauração motivado por objetivos eleitorais (ex.: impedir que o adversário político concorra,
fazer com que ele perca votos etc.).
• Incorrerá nas mesmas penas do caput do dispositivo quem, comprovadamente ciente da inocência
do denunciado e com finalidade eleitoral, divulga ou propala, por qualquer meio ou forma, o ato ou
fato que lhe foi falsamente atribuído: é o crime previsto no §3º do art. 326-A do Código Eleitoral.
15
CAVALCANTE, op. cit.
16
CAVALCANTE, op. cit.
Com relação a esse último ponto, destaca-se, abaixo, enunciado aprovado na I Jornada de Direito Eleitoral17.
O crime previsto no §3º do art. 326-A do Código Eleitoral tem relação acessória com o caput do mesmo
dispositivo, de modo que somente apresenta tipificação a conduta de propalação ou divulgação de ato
que já foi ou é objeto de uma denunciação caluniosa eleitoral
"O crime previsto no §3º do art. 326-A do Código Eleitoral tem relação acessória com o caput do
mesmo dispositivo, de modo que somente apresenta tipificação a conduta de propalação ou
divulgação de ato que já foi ou é objeto de uma denunciação caluniosa eleitoral".
Segundo justificativa apresentada para a aprovação do referido Enunciado, deve-se compatibilizar o crime
de divulgar ou propalar calúnia eleitoral (art. 324, §1º, do Código Eleitoral) com o novo tipo penal inserto no
§3º do art. 326-A do Código Eleitoral, não sendo razoável que a primeira conduta seja sujeita a uma pena de
detenção entre 06 meses e dois anos enquanto a segunda pode acarretar reclusão entre 02 e 08 anos.
Nesse sentido, para além da ideia de preservação da proporcionalidade e da compatibilidade entre esses
dispositivos, convém assinalar que a gravidade do crime de denunciação caluniosa é justificada
fundamentalmente pela indevida movimentação da atividade estatal. Daí que, nesse cenário, somente pode
responder pela infração penal do §3º do art. 326-A do Código Eleitoral aquele que divulga ou propala fato
que surge no contexto de uma denunciação caluniosa.
A não incidência é o fenômeno tributário pelo qual um fato da vida não é abrangido pela norma tributária.
Nesse sentido, pode-se dizer que a não incidência pode decorrer de 3 (três) situações distintas:
17
Disponível em:
<https://eadeje.tse.jus.br/pluginfile.php/172462/mod_resource/content/1/Propostas%20Aprovadas%20%28Corrigido%2020.05
-1%29.pdf>. Acesso em 07 jul. 2021. Convém lembrar que a Jornada de Direito Eleitoral é um evento acadêmico e científico, que
busca delinear posições interpretativas das normas aplicáveis ao Direito Eleitoral, adequando-as às inovações legislativas,
doutrinárias e jurisprudenciais, a partir do debate entre professores, magistrados, membros do Ministério Público, advogados,
servidores da Justiça Eleitoral e demais especialistas convidados. Nesse contexto, a I Jornada de Direito Eleitoral, promovida
pela Escola Judiciária Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (EJE/TSE) de 4 de fevereiro a 10 de maio de 2021, aprovou 66
enunciados, selecionados por oito comissões de trabalho responsáveis por analisar os seguintes temas: “Direitos Políticos”,
“Justiça Eleitoral”, “Propaganda Política”, “Financiamento de Campanha”, “Contencioso Eleitoral”, “Crimes Eleitorais”,
“Participação Democrática” e “Partidos Políticos”.
O último caso reflete a hipótese em que o estado-membro institui o IPVA, mas não poderá cobrar a exação
sobre os veículos de propriedade da União, em razão da limitação de sua competência estabelecida pelo
artigo 150, VI, a, da CF/8818.
Nos dois primeiros casos, a doutrina costuma dizer tratar-se de não incidência pura e simples, enquanto no
último caso estamos diante da imunidade tributária. Ou seja, a imunidade é uma hipótese de não incidência
constitucionalmente qualificada.
Em outras palavras, a imunidade pode ser conceituada como a limitação constitucional ao poder
de tributar consistente na delimitação da competência tributária constitucionalmente
conferida aos entes políticos19.
Por sua vez, a isenção decorre daquelas situações nas quais o ente tributante possui competência para
instituir o tributo e assim o faz, prevendo, em lei, algumas hipóteses em que o sujeito passivo estará
desobrigado de realizar o pagamento.
18
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
19
Alexandre, Ricardo. Direito tributário, 14ª ed., Salvador, 2020, página 211.
Outrossim, o artigo 175 do CTN estabelece que a isenção é uma modalidade de exclusão do crédito
tributário. Ou seja, há a ocorrência do fato gerador e o nascimento da obrigação tributária, contudo, em
razão da isenção, não haverá a constituição do crédito tributário pelo lançamento.
Imunidade Isenção
O exemplo normalmente utilizado pela doutrina, para ilustrar o que foi dito acima, é o
artigo 195, §7º, da CF/88, que estabelece que “são isentas de contribuição para a
seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei”.
Nesse caso, em que pese a utilização do termo “isentas”, o Supremo Tribunal Federal já se posicionou no
sentido de entender que se trata, em verdade, de imunidade.
20
STF, RMS 22.192/DF, Rel. Ministro Celso de Mello, j. 28.11.1995.
Por fim, a alíquota zero constitui medida de política fiscal pela qual a alíquota incidente sobre
o tributo é reduzida a zero, para que o resultado da equação matemática do montante devido
seja igual a zero.
Essa técnica é normalmente utilizada nos tributos com natureza eminentemente extrafiscal (tributos
regulatórios), visando a fomentar ou desestimular determinadas atividades. O exemplo é a redução da carga
tributária incidente sobre as exportações para incentivar a economia nacional. Assim, será possível a redução
ao patamar de zero da alíquota do Imposto de Exportação.
Também conhecida como Teoria da Perda do Tempo Útil, busca valorizar o tempo dispendido pelo
consumidor na resolução de uma problemática que não só não é sua culpa, como o fornecedor possuía a
obrigação de não criar.
Adotada pelo STJ no AREsp 1.260.458/SP, sob relatoria do Ministro Marco Aurélio Belizze, a teoria busca
compensar o consumidor pelo tempo gasto resolvendo (ou pelo menos tentando) situações que que lhe
causaram prejuízo ou que não lhe são imputáveis, nos casos em que, em verdadeira violação ao dever
contratual de colaboração, o fornecedor não se mostra disposto, nem auxilia na resolução do problema.
Dessa forma, o consumidor se vê obrigado a enfrentar sistemas burocráticos (internos do fornecedor ou de
instituições como PROCON, Juizados Especiais, etc.), desperdiçando o tempo que poderia ser utilizado em
atividades de seu interesse não fosse o descaso do fornecedor em colaborar com a solução do problema
criado por ele mesmo.
Assim, usa-se a referida teoria para tentar compensar o tempo perdido do consumidor em, por exemplo,
infindáveis ligações a calls centers e inúmeros protocolos administrativos.
Em outras palavras:
vital, adia ou suprime algumas de suas atividades e, muitas vezes, assume deveres e custos do
fornecedor.21
Em 2019, inclusive, no julgamento do REsp 1.737.412/SE, sob relatoria da Min. Nancy Andrighi, condenou
uma instituição bancária ao pagamento de danos morais coletivos pela violação ao tempo útil do
consumidor, por não terem sido adotadas as medidas necessárias para o eficiente funcionamento dos
serviços oferecidos pela instituição:
21
DESSAUNE, Marcos. Teoria aprofundada do desvio produtivo do consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida
alterada. 2ª Ed. Vitória, ES: [s.n.], 2017. p. 246.
sociedade, por meio da repartição social dos lucros obtidos com a prática ilegal com a destinação
do valor da compensação ao fundo do art. 13 da Lei nº 7.347/85. STJ. 2ª Turma. REsp 1402475/SE,
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/05/2017. STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019 (Info 641).22
Além disso, a jurisprudência tem se inclinado a reconhecer de forma autônoma o dano pela perda do tempo
útil do consumidor e não apenas como embasamento para a condenação em dano moral genérico (Proc.
1046556-03.2019.8.26.0576/TJSP).
Mostra-se, assim, que a doutrina criou e a jurisprudência acolheu a tutela do tempo desperdiçado
desnecessariamente pelo consumidor, que, com certeza, não poderá ser recuperado.
22
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É cabível indenização por danos morais em caso de demora excessiva para atendimento na
fila do banco?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3a9044746ffc9e6f539ecace6d3e2c82>. Acesso em:
16/08/2021
Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas.
Veja-se que a lei, ao conceber o meio ambiente como o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida humana, não considera o ser humano
o seu único destinatário, já que fala em regência da vida em todas as suas formas.
Ocorre que a Resolução n. 306/2002 do CONAMA trouxe conceito ainda mais abrangente de meio ambiente:
“conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e
urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”
O conceito geralmente estudado está mais ligado ao meio ambiente natural, mas tal definição é insuficiente
para abranger todos os valores jurídicos tutelados pelo Direito Ambiental.
Com efeito, existem outras modalidades de meio ambiente. Prevalece, inclusive no STF, a corrente que
defende a existência de quatro modalidades. Confira-se:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito
de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ
158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e
preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e
de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é
irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves
conflitos intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se
impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. A ATIVIDADE
ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A
TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não
pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de
índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios
gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito
amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio
ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral.” (ADIn 3.540-MC, j. 2005)
QUESTÃO PARA TREINO: “De acordo com a doutrina majoritária, o conceito de meio ambiente tende
a ser globalizante, abrangendo não apenas o meio ambiente natural, mas também o cultural, o artificial
e o meio ambiente do trabalho.”
Gabarito: Correto.
I. Natural: é composto por bens da natureza que existem independentemente da ação humana.
Dividem-se em bens com vida (bióticos) e sem vida (abióticos). As demais modalidades, ao contrário
desta, são formadas por bens que decorrem de uma ação antrópica (do homem);
II. Cultural: é formado por bens tangíveis ou intangíveis ligados à identidade, à memória e à ação dos
diversos grupos formadores da sociedade. É integrado pelo patrimônio histórico, artístico,
arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, difere
do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se
impregnou;
III. Artificial: seu enquadramento é residual. Tudo que o homem criar e não se inserir no meio ambiental
cultural ou do trabalho será considerado bem integrante do meio ambiente artificial;
IV. Do trabalho: formado por bens materiais ou imateriais que permitem o exercício digno e seguro da
atividade laborativa praticada pelo trabalhador. Como exemplos, temos os Equipamentos de
Proteção Individual - EPI. Pode ser conceituado como o “complexo de bens imóveis e móveis de uma
empresa e de uma sociedade, objeto de direitos subjetivos privados, e de direitos invioláveis da saúde
e da integridade física dos trabalhadores, que o frequentam”. Na Constituição Federal, é mencionado
no art. 200, VIII: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
(...) VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.”
Meio ambiente genético (patrimônio genético). Há autores que pregam a existência de um meio ambiente
genético, que seria composto pela informação de origem genética contida em amostras do todo ou de parte
de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes do
metabolismo desses seres vivos e de extratos obtidos desses organismos vivos ou mortos, encontrados em
condições in situ, inclusive domesticados, ou mantidos em coleções ex situ, desde que coletados no território
brasileiro.
A nossa Constituição Federal tutela esses valores genéticos, assim como a Lei n. 11.105/2005 (Lei da
Biossegurança):
CF, Art. 225. § 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: II -
preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
Art. 7º da LC n. 140/2011. São ações administrativas da União: XXIII - gerir o patrimônio genético
e o acesso ao conhecimento tradicional associado, respeitadas as atribuições setoriais.
O recurso de agravo manteve ao longo do tempo a sua característica principal, que é a de se constituir em
espécie recursal idônea para impugnar as decisões interlocutórias proferidas no transcorrer da marcha
procedimental. Aliás, com o passar do tempo, teve o seu campo de incidência sensivelmente ampliado a fim
de evitar a proliferação de mandados de segurança como sucedâneo recursal. O CPC de 1973, em seu texto
original, previa que as decisões interlocutórias poderiam ser impugnadas por agravo de instrumento (art.
522).
Este panorama permaneceu inalterado até o advento da Lei 9.139, de 20 de novembro de 1995, que
modificou o regime jurídico até então vigente, passando a prever que o agravo, que é recurso cabível para a
impugnação de decisão interlocutória, pode ser interposto na forma retida ou por instrumento. Assim, as
questões incidentais deviam ser impugnadas imediatamente, sob pena de preclusão.
O CPC de 2015 promoveu nova reconstrução do tema e suprimiu o agravo retido, além de restringir o
cabimento do agravo de instrumento às matérias previamente elencadas em seu art. 1.015. De acordo com
este novo modelo, as matérias não recorríveis de imediato por agravo de instrumento podem ser
impugnadas, ao final, no recurso de apelação interposto contra a sentença, o que representa, em última
análise, uma postergação dos efeitos da preclusão (daí a denominação “preclusão elástica”).
É que o se extraí do § 1º do art. 1.009 do diploma processual, verbis: “as questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela
preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão
final, ou nas contrarrazões”.
Dessa forma, não se pode afirmar que toda decisão interlocutória proferida na fase de conhecimento é
recorrível por agravo de instrumento, eis que existe a possibilidade de impugnar tais decisões na apelação,
notadamente quando não versarem sobre quaisquer das matérias constantes do rol do art. 1.015 do CPC.
Consequentemente, é possível a afirmar que há decisões interlocutórias apeláveis!!!
Logo, o exame da recorribilidade das decisões interlocutórias perpassa o estudo das hipóteses de cabimento
do agravo de instrumento. Nesse sentido, a não subsunção da decisão a uma das hipóteses do art. 1.015
impede a preclusão da questão, que pode ser rediscutida no recurso de apelação, caso em que em que
haverá a cumulação imprópria de pretensões recursais: uma destinada a reformar ou anular a decisão
interlocutória não agravável e outra atacando a sentença propriamente dita, sendo o acolhimento da
primeira prejudicial ao conhecimento da segunda.
Ademais, não se importou do processo trabalhista a necessidade de protesto para viabilizar o pleito recursal
por ocasião da apelação. Nesse sentido, Cássio Scarpinella Bueno lembra que “não prevaleceu, na versão
final do CPC de 2015 exigência que chegou a ser aprovada no Projeto da Câmara, que estabelecia a figura
desconhecida do direito processual civil brasileiro, um “protesto”, apenas para evitar que a questão
precluísse, permitindo que ela fosse reavivada em apelo ou em contrarrazões”23.
A questão que se coloca, contudo, diz respeito às situações de urgência não contempladas pelo art. 1.015 do
CPC, haja vista que não houve a reprodução da cláusula genérica do cabimento do agravo contra decisão
capaz de causar lesão grave e de difícil reparação.
Inicialmente, firmou-se entendimento de que o rol do art. 1.015 é taxativo e, portanto, insuscetível de
ampliação para situações não contempladas, o que ascendeu o debate sobre a utilização do mandado de
segurança como sucedâneo recursal. Surgiu, então, tese no sentido de que, a despeito da taxatividade, seria
possível interpretação extensiva das hipóteses de cabimento do agravo.
Ambas as orientações eram incapazes de resolver o problema que ocorreria nas situações em que o aguardo
do recurso contra a sentença tornaria prejudicada a discussão da questão. Daí porque o STJ construiu a tese
(Tema 988) da taxatividade mitigada, segundo a qual o agravo de instrumento será cabível quando a
urgência evidenciar a inutilidade do julgamento da questão por ocasião do recurso de apelação.
23
BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. Volume Único. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 689.
exemplificativo, por sua vez, resultaria na repristinação do regime recursal das interlocutórias
que vigorava no CPC/73 e que fora conscientemente modificado pelo legislador do novo CPC, de
modo que estaria o Poder Judiciário, nessa hipótese, substituindo a atividade e a vontade
expressamente externada pelo Poder Legislativo. 6- Assim, nos termos do art. 1.036 e seguintes
do CPC/2015, fixa-se a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade
mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência
decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. 7- Embora não haja
risco de as partes que confiaram na absoluta taxatividade serem surpreendidas pela tese jurídica
firmada neste recurso especial repetitivo, pois somente haverá preclusão quando o recurso
eventualmente interposto pela parte venha a ser admitido pelo Tribunal, modulam-se os efeitos
da presente decisão, a fim de que a tese jurídica apenas seja aplicável às decisões interlocutórias
proferidas após a publicação do presente acórdão. 8- Na hipótese, dá-se provimento em parte
ao recurso especial para determinar ao TJ/MT que, observados os demais pressupostos de
admissibilidade, conheça e dê regular prosseguimento ao agravo de instrumento no que se refere
à competência, reconhecendo-se, todavia, o acerto do acórdão recorrido em não examinar à
questão do valor atribuído à causa que não se reveste, no particular, de urgência que justifique
o seu reexame imediato. 9- Recurso especial conhecido e parcialmente provido24.
A relação jurídica processual e seus efeitos alcançam apenas aqueles que a integram (autor, juiz e réu), de
modo que as decisões judiciais proferidas no curso do processo não podem prejudicar terceiros, isto é,
sujeitos que não compõem o quadro subjetivo processual. Entretanto, se eventualmente o patrimônio de
terceiro for atingido por pronunciamento judicial, a lei lhe confere legitimidade para contestá-lo por meio
de mecanismo próprio: os embargos de terceiro.
Trata-se de ação de conhecimento destinada a quem, não sendo parte no processo, pretender desconstituir
constrição que recaia sobre o seu patrimônio ou afastar ameaça de constrição em seus bens ou sobre os
quais tenha direito incompatível com o ato constritivo (art. 674, caput do CPC).
O CPC 1973 reservou para os embargos de terceiro procedimento específico, em que predominava a
existência de restrições à cognição sumária, uma vez que as matérias cognoscíveis eram restritas àquelas
expressamente referidas nos arts. 1.046 e 1.047, e vertical, pois após a defesa o procedimento seguia as
regras do rito cautelar, que impede o aprofundamento da cognição (art. 1.053).
De fato,
24
STJ, REsp 1.696.396/MT, Corte Especial, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05.12.2018, DJe 19.12.2018.
procedimento dos embargos de terceiro, nos termos do art. 1.053 do CPC. O prazo para resposta
será de apenas 10 dias e não haverá espaço para aprofundamento da cognição, ou mesmo a
utilização da reconvenção. Este é o motivo pelo qual não se admite, em sede de embargos, a
defesa do embargado pautado na fraude contra credores (Súmula 195 do STJ).25.
O CPC de 2015 trilhou caminho diferente, ao menos em relação à cognição vertical. Com efeito, o art. 679
prescreveu que os embargos poderão ser contestados no prazo de quinze dias, findo o qual se seguirá o
procedimento comum. Com isso, ampliou-se a cognição vertical nos embargos de terceiro.
A cognição horizontal, por sua vez, é restrita, na medida em que o acolhimento do pedido enseja o
cancelamento do ato de constrição judicial, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou
da reintegração definitiva do bem ou direito ao embargante (art. 681). Significa, portanto, que o
pronunciamento se limita ao exame da legalidade do ato judicial que culminou na constrição.
A sentença proferida nos embargos vai além da declaração, tanto que o ato judicial impugnado
cede, revelando eficácia demasiadamente forte para uma sentença declarativa. A sentença que
julga os embargos restringe-se à ilegalidade do ato de constrição e não impede que o terceiro
busque a via ordinária perante eventual improcedência dos embargos para discussão com maior
amplitude, momento em que poderá suscitar matérias (e.g., fraude contra credores) incabíveis
na seara dos embargos.26.
25
MEDINA, José Miguel; ARAÚJO, Fábio Caldas de; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Processo Civil Moderno. Vol.: 4:
Procedimentos Cautelares e Especiais. 3ª ed. São Paulo: 2012, p. 322.
26
MEDINA, José Miguel; ARAÚJO, Fábio Caldas de; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Processo Civil Moderno. Vol.: 4:
Procedimentos Cautelares e Especiais. 3ª ed. São Paulo: 2012, p. 325.
27
STJ, REsp 1.703.707/RS, 3ª T., rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25.05.2021, DJe 28.05.2021.
Acrescente-se, ainda, tal como o fez o relator do recurso especial mencionado alhures, que não se aplica à
espécie o art. 327, § 2º do CPC, o qual assegura a cumulação quando o autor empregar o procedimento
comum. Conforme julgado citado pelo magistrado, a sobredita regra não se aplica indiscriminadamente,
“alcançando apenas os pedidos sujeitos a procedimentos que admitam conversão para o rito ordinário"28.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com questões
objetivas.
Vamos lá!
Comentários
A resposta desta questão se dá pela análise dos incisos X, XI e XII do artigo 5°, uma vez que são eles os que
garantem o direito à privacidade no âmbito da Constituição, vejamos:
28
STJ, REsp 993.535/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 22.04.2010.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
[...]
a) Como determinado pelo caput, a aplicação do direito à privacidade se dá aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País, não havendo qualquer menção ou necessidade de CPF.
b) Nos termos do inciso X, é assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente da
violação da intimidade, vida privada, honra e a imagem.
Importa lembrar que a configuração de dano está sujeita à violação da honra objetiva.
c) Essa afirmativa, em específico, tem seu fundamento de verificação na doutrina, na teoria das esferas, que
determina diferentes graus de proteção da privacidade, sendo a intimidade apenas uma delas, desta forma
está incorreta a afirmação.
d) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ainda que hajam hipóteses de suspensão desta inviolabilidade, nos
termos do inciso XI.
e) Conforme disposição do inciso XII, o sigilo das comunicações telefônicas poderá ser violado por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal.
Questão 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, muitas vezes, não se atenta à distinção
terminológica necessária ao emprego da tutela do direito à privacidade. Esta distinção conceitual é
importante, tendo em vista que privacidade é gênero, enquanto a inviolabilidade se divide em espécies.
Tendo como base o trecho acima e a construção doutrinária, assinale a alternativa INCORRETA:
a) Intimidade, vida privada, honra e imagem são as espécies invioláveis.
b) A Esfera pública diz respeito aos atos praticados em locais públicos com desejo de torna-los públicos.
c) Não existe hipótese de renúncia da tácita da privacidade, mas tão somente a renúncia expressa.
d) Esfera privada é aquela que se relaciona as relações do indivíduo com o meio social no qual se insere, não
se configurando interesse público na divulgação dos elementos constitutivos destas relações.
e) A Esfera íntima está ligada aos sentimentos identitários do indivíduo.
Comentários
A resposta para a questão exige conhecimento da construção feita pela doutrina e jurisprudência alemãs, a
teoria das esferas, que pode ser utilizada para estabelecer uma variação do grau protetivo à privacidade de
acordo com a área da privacidade afetada.
Esta teoria pode ser interpretada com base no artigo 5°, inciso X da CF/88, tendo em vista que este traz as
espécies invioláveis da privacidade, sendo elas a intimidade, vida privada, honra e imagem.
Art. 5° [...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação
[...]
Esfera pública: atos praticados em locais públicos com desejo de torna-los públicos;
Esta esfera se verifica pela presença de critério espacial e volitivo, sendo necessária a renúncia expressa ou
tácita à privacidade.
Esfera privada: se relaciona às relações do indivíduo com o meio social no qual se insere, não se
configurando interesse público na divulgação dos elementos constitutivos destas relações, ainda que não se
trate de informações sigilosas.
Esfera íntima: ligada às características definidoras do sujeito, aos sentimentos identitários, segredos e
informações confidenciais.
Resposta: alternativa c.
Comentários
A alternativa a) está incorreta em afirmar que flagrante delito e desastre são as únicas hipóteses de
suspensão da inviolabilidade do domicílio, uma vez que prestar socorro e determinação judicial também
são causas da suspensão, nos termos do artigo 5°, inciso XI da CF:
Art. 5° [...]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial;
Importa ressaltar que o STF entende que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial é lícita
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro
da casa há situação de flagrante delito. (AgRg no REsp 1.298.036/RS)
A alternativa b) não está correta em afirmar que apenas o juiz poderá determinar quebra de sigilo bancário,
uma vez que este também poderá ser determinado por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), nos
termos do artigo 58, §3° da CF/88, bem como no artigo 2° da Lei n° 1.579/52:
CF/88
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que
resultar sua criação.
[...]
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão
criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e
por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para
que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
Lei n° 1.579/52
Art. 2° No exercício de suas atribuições, poderão as Comissões Parlamentares de Inquérito
determinar diligências que reputarem necessárias e requerer a convocação de Ministros de
Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, ouvir
os indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar da administração pública direta,
indireta ou fundacional informações e documentos, e transportar-se aos lugares onde se fizer
mister a sua presença.
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser
tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
[...]
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à
prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
[...]
V - busca e apreensão em domicílio;
A alternativa e), por fim, está incorreta por afirmar que para a configuração do dia, no âmbito da
inviolabilidade do domicílio, adota-se o critério físico-astronômico, quando em realidade existem outro
critério também empregado (majoritariamente) que é o critério cronológico, entendendo-se, por este
último, o dia como período entre as 6 e 18 horas.
Com base no critério físico-astronômico compreende como dia o período entre a aurora
e o crepúsculo, este é defendido por Marcelo Novelino, enquanto o cronológico é
defendido por José Afonso da Silva.
Comentários
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art.
26, II;
VI - o mar territorial;
Gabarito: E
Questão 5. Com fundamento na jurisprudência do STF, julgue os itens a seguir e marque a alternativa que
conste apenas os itens corretos:
I - Lei estadual que modifique os limites geográficos de Município não pode ser objeto de ADI;
II - É constitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre as atribuições dos órgãos da Administração
Pública;
III - É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) Apenas o item III.
Comentários
Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui
natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado.
STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 978).
Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições de
órgãos da Administração Pública (art. 61, §1º, II, “e” e art. 84, VI, da Constituição Federal).
STF. Plenário. ADI 3981, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 15/04/2020 (Info 978).
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes.
STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 975).
Gabarito: E
Questão 6. Compete exclusivamente à União, exceto:
a) instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
de seu uso.
b) registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos
e minerais em seu território.
c) instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos.
d) organizar, manter e executar a inspeção do trabalho.
e) estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
Comentários
A alternativa B é a incorreta, já que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
hídricos e minerais em seus territórios, nos termos do artigo 23, XI, da CRFB/88.
Gabarito: B
para o desempenho de atividade privada de relevante interesse social. Nesse sentido, apresenta proposta
ao Poder Público, na qual se estabelece o repasse de recursos financeiros do parceiro público para o
parceiro privado.
Diante dos fatos narrados, podemos afirmar que a proposta da pessoa jurídica de direito privado se
identifica com qual instrumento admitido pela legislação vigente?
a) Termo de parceria.
b) Acordo de cooperação.
c) Termo de colaboração.
d) Termo de fomento.
e) Contrato de gestão.
Comentários
A questão aborda os diferentes tipos de ajustes firmados entre o Poder Público e as entidades do terceiro
setor. Trata-se de tema relativamente simples e com grande incidência em provas de concurso de carreiras
jurídicas. Portanto, o custo benefício do estudo dessa matéria é alto.
De início, é necessário que o candidato identifique a espécie de entidade a que o enunciado está se referindo,
se organização social (OS), organização social de interesse público (OSCIP) ou organização da sociedade civil
(OSC). Isso porque cada uma dessas entidades possui um tratamento jurídico diferenciado, inclusive no que
tange aos ajustes que podem firmar com o Poder Público.
As organizações sociais (OS) são entidades privadas sem fins lucrativos que recebem essa qualificação do
Poder Executivo. Destaque-se que a qualificação como OS depende do preenchimento dos requisitos legais,
mas é ato discricionário do Poder Executivo (art. 2º, II, da Lei 9.637/98). Uma vez qualificadas como OS, essas
entidades podem firmar contrato de gestão com o Poder Público, nos termos do artigo 5º, da Lei 9.637/98:
“Para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de gestão o instrumento firmado entre o Poder Público
e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de parceria entre as partes para
fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1º.”
Por sua vez, apenas podem qualificar-se como organização social de interesse público (OSCIP) as pessoas
jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, de acordo com o artigo 1º da Lei 9.790/99. Essas
entidades firmam termo de parceria com o Poder Público, nos termos do artigo 9º da referida Lei: “Fica
instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser firmado entre o Poder
Público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à
formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse
público previstas no art. 3º desta Lei.”
Por fim, a organização da sociedade civil (OSC), nos termos do artigo 2º da Lei 13.019/2014, pode ser a
“entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou associados, conselheiros,
diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos
ou líquidos, dividendos, isenções de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio,
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente na consecução do
respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de
reserva.”
Uma OSC pode firmar 03 (três) tipos distintos de ajuste com o Poder Público. São eles:
→ “termo de colaboração: instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas
pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco propostas pela administração pública que envolvam a transferência de
recursos financeiros;” (art. 2º, VII).
→ “termo de fomento: instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela
administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco propostas pelas organizações da sociedade civil, que envolvam a
transferência de recursos financeiros;” (art. 2º, VIII).
→ “acordo de cooperação: instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas
pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco que não envolvam a transferência de recursos financeiros;” (art. 2º, VIII-
A).
No caso do enunciado, a entidade não possui qualquer qualificação conferida pelo Poder Público, isto é, não
se trata de OS ou OSCIP. Além disso, sequer poderia se qualificar como OSCIP, pois constituída há apenas 2
(dois) anos.
Portanto, não é possível firmar contrato de gestão (OS), tampouco termo de parceria (OSCIP). Assim, tendo
em vista que se trata de entidade privada sem fins lucrativos e considerando que a proposta é de sua
iniciativa e prevê o repasse de recursos financeiros, o instrumento mais adequado é o termo de fomento,
previsto no art. 2º, VIII, da Lei 13.019/2014.
Gabarito: letra D.
Questão 2. No que diz respeito à competência regulatória da Administração Pública, assinale a alternativa
correta.
a) Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou autorização,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
b) As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem
propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União,
garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
c) Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções
de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e privado.
d) É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, mediante autorização dos órgãos
públicos competentes.
e) A lei disciplinará, com base no interesse regional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os
reinvestimentos e regulará a remessa de lucros.
Comentários
A alternativa A está incorreta, nos termos do artigo 175, “caput”, da Constituição: “Incumbe ao Poder
Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.”
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. Trata-se do artigo 176, “caput”, da Constituição
Federal: “As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica
constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à
União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra."
A alternativa C está incorreta, conforme o artigo 174 da Constituição: “Como agente normativo e regulador
da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.”
A alternativa D está incorreta, como estabelece o artigo 170, parágrafo único, da Constituição Federal: “É
assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização
de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.”
A alternativa E está incorreta, nos termos do artigo 172 da Constituição: “A lei disciplinará, com base no
interesse nacional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a
remessa de lucros.”
Gabarito: letra B.
Questão 3. Sobre o regime jurídico-administrativo e os princípios pertinentes ao Direito Administrativo,
assinale a alternativa INCORRETA:
a) De acordo com o atual entendimento do STJ, é obrigatória a presença de advogado em todas as fases do
processo administrativo disciplinar. Essa posição contraria o entendimento do STF, segundo o qual a ausência
de advogado constituído ou de defensor dativo com habilitação, por si só, não importa em nulidade de
processo administrativo disciplinar.
b) O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado resulta na posição privilegiada ostentada
pela Administração Pública, a quem o Direito positivo outorga prerrogativas instrumentais para a satisfação
dos interesses da coletividade.
c) A vedação aos atos de publicidade dos órgãos públicos que contenham nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos é decorrência direta do princípio da
impessoalidade.
d) Os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de
concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte
de Contas.
e) O princípio da precaução incide no âmbito do Direito Administrativo.
Comentários
Letra B. Correta. O princípio da supremacia do interesse público, da maneira idealizada por Celso Antônio
Bandeira de Mello, tem por fundamento normativo a Constituição Federal e estabelece a preponderância do
interesse público (interesse primário, relativo ao conjunto de interesses que os indivíduos possuem
enquanto membros da sociedade) sobre o interesse privado (interesses secundários da pessoa jurídica
estatal, interesses pessoais do agente público e interesses exclusivamente privados dos indivíduos,
singularmente considerados).
As consequências jurídicas desses princípios são a posição privilegiada ostentada pela Administração Pública,
através da concessão de benefícios pelo Direito positivo, como instrumento para possibilitar um adequado
desempenho na satisfação dos interesses da coletividade, e a posição de supremacia dos entes públicos em
relação aos particulares, autorizando a imposição unilateral de comportamentos e a alteração de relações
jurídicas já estabelecidas. Por isso, correta a assertiva.
Letra C. Correta. Segundo a doutrina, o princípio da impessoalidade pode ser visualizado sob diversas
dimensões ou facetas. Por uma delas, o princípio em questão traduz a ilicitude da conduta de associar os
atos públicos à imagem pessoal dos agentes estatais. Nesse sentido, o § 1º do art. 37 da CF prescreve, in
verbis: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.”
Letra D. Correta. Inicialmente, relembremos que, nos termos da Súmula vinculante 3, “nos processos
perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão
puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”.
Porém, em um segundo momento, o STF passou a permitir o exercício do contraditório e da ampla defesa,
mas somente após o decurso de cinco anos a contar da chegada do processo no TCU (MS 24.781, j. 2.3.11).
Mais recentemente, no julgamento do RE 636.553, j. 19.2.20 (Informativo 967-STF), o STF assentou que, “em
atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas”. Cuida-se de prazo
preclusivo para a análise do órgão de controle. Por isso, correta a assertiva.
Letra E. Correta. O princípio da precaução é bastante estudado no Direito Ambiental, mas é citado por José
dos Santos Carvalho Filho no cenário do Direito Administrativo.
Para o autor, a precaução é princípio não expresso que inspira as condutas administrativas, o qual
atualmente tem sido invocado para a tutela do interesse público, “em ordem a considerar que, se
determinada ação acarreta risco para a coletividade, dever a Administração adotar postura de precaução
para evitar que eventuais danos acabem por concretizar-se”.
Aliás, o princípio da precaução foi mencionado pelo STF no julgamento que tratou da responsabilização dos
agentes públicos em cenário de pandemia de COVID-19, em razão do disposto nos arts. 1º e 2º da MP 966/20
(ADI 6.421 MC/DF, j. 20 e 21.5.20 - Info 978).
Alternativa INCORRETA: letra A. Durante muito tempo vigorou no STJ o entendimento cristalizado em sua
Súmula 343: “É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo
disciplinar”. Tal entendimento contrariava o disposto na Súmula Vinculante 5: “A falta de defesa técnica por
advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”.
Com efeito, para o STJ, a presença de assistência jurídica em processo administrativo disciplinar é mera
faculdade do acusado. Por si só, a ausência de advogado constituído ou de defensor dativo com habilitação
não importa em nulidade de processo administrativo disciplinar (RE 434.059, j. 7.5.08).
Recentemente, em maio de 2021, A Primeira Seção do STJ cancelou o enunciado de súmula número 343,
justamente por estar em desacordo com a jurisprudência vinculante do STF. Por isso, o erro da questão.
Questão 4. A respeito dos agentes públicos, julgue os itens abaixo, atentando-se ao comando disposto ao
final:
I - Ocupantes de cargos em comissão declarados em lei como de livre nomeação e exoneração.
II - Empregados das pessoas jurídicas de direito privado que integram a Administração Indireta.
III - Servidores temporários, contratados para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.
IV - Ex-combatentes que tenham efetivamente participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra
Mundial.
Enquadra(m)-se como exceção(ões) à regra constitucional do concurso público:
a) Os itens I, II e III.
b) Os itens I, III e IV.
c) Todos os itens.
d) Os itens I e III,
e) Os itens II e IV.
Comentários
Porém, são exceções à regra do concurso público, entre alguns outros casos:
✓ cargos em comissão declarados em lei como de livre nomeação e exoneração (CF, art. 37, II, parte
final). Item I;
Letra B. Correta. Enquadra(m)-se como exceção(ões) à regra constitucional do concurso público os itens I, III
e IV.
Comentários
Item I. Correto. Aos bens de uso comum do povo e de uso especial incide o regime jurídico de direito público
derrogatório e exorbitante do direito comum. São os bens do domínio público do Estado, ao contrário dos
bens dominicais, que são de domínio privado do Estado.
É nesse contexto que o vigente Código Civil, em seu art. 100, prescreve que “os bens públicos de uso comum
do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei
determinar”.
Tais bens somente poderão ser alienados após a incidência do fenômeno da desafetação, que retira o bem
da dominialidade pública para incorporá-lo ao domínio privado, ainda que do Estado.
Item II. Correto. A assertiva expressa a linha de entendimento cristalizada na Súmula 340-STF: “Desde a
vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por
usucapião.”
Item III. Correto. Enquanto o bem afetado é aquele que está sendo utilizado para dado fim público, o bem
desafetado é o que não está sendo usado para qualquer finalidade pública.
Com efeito, afetação e desafetação são fatos administrativos pelos quais se atribui ao bem público uma
destinação pública de interesse direito ou indireto da Administração ou se retira a finalidade pública anterior,
respectivamente.
Item IV. Correto. Diante do poder público, não é viável a configuração de posse do particular sobre área
pública. Para o STJ, o uso de bem público pelo particular sem qualquer título configura mera detenção,
aplicando-se, a respeito, a Súmula 619-STJ: “A ocupação indevida de bem público configura mera detenção,
de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.”
Comentários
A antiga Lei de Licitações e Contratos Administrativos - a Lei 8.666/93 - era (e ainda será, durante os 2 anos
seguintes à publicação do novo marco regulatório, nos quais coexistirá com a nova lei) aplicável aos órgãos
da Administração Direta, fundos especiais, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades
de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios (art. 1º, parágrafo único). A disciplina abrange todos os órgãos administrativos dos três
Poderes, além dos que compõem o Ministério Público e os Tribunais de Contas. Além dos órgãos da
Administração Direta e Indireta, a lei faz menção a fundos especiais e a entidades controladas pelos entes
políticos.
Contudo, com a edição da Lei 13.303/2016, as empresas públicas, sociedades de economia mista e suas
subsidiárias passaram a ser reguladas pela referida lei especial.
A Lei 14.133/2021 manteve, em linhas gerais, o disposto na Lei 8.666/93 em relação ao âmbito de incidência.
Com efeito, segundo o disposto no seu art. 1º, “esta Lei estabelece normas gerais de licitação e contratação
para as Administrações Públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e abrange:
I - os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos Estados e do Distrito Federal e os órgãos do
Poder Legislativo dos Municípios, quando no desempenho de função administrativa (item II, correto);
II - os fundos especiais (item III, correto) e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
Administração Pública (item I, correto).
Porém, nos termos do art. 1º, § 1º, da Lei 14.133/2021, “não são abrangidas por esta Lei as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e as suas subsidiárias, regidas pela Lei nº 13.303, de 30 de junho
de 2016, ressalvado o disposto no art. 178 desta Lei.” (item IV, incorreto).
Veja-se que, em regra, a novel legislação não abrange as empresas estatais, mas pode haver exceções
pontuais. Além do disposto no art. 178 (que introduz os crimes licitatórios no Código Penal), pode-se
mencionar, p. ex., a aplicação dos critérios de desempate previstos no art. 60 da Lei 14.133/21 (conforme
se extrai do art. 55, III, da Lei das Estatais, c.c o art. 189 da Lei 14.133/2021).
Comentários
O item I está errado. O art. 1.228, §3º do CC prevê que a desapropriação se dará por necessidade ou utilidade
pública ou interesse social. Já em caso de perigo público iminente, a privação do bem se dará mediante
requisição.
O item II está correto. Trata-se da literalidade do art. 1.230, parágrafo único do CC.
O item III está errado. De acordo com o Enunciado nº 49 da I Jornada de Direito Civil, o disposto no artigo
mencionado deve ser interpretado restritivamente, em harmonia com o princípio da função social da
propriedade e com o disposto no art. 187 (Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes).
Questão 2. A doutrina conceitua o condomínio como sendo a hipótese em que mais de uma pessoa tem o
exercício da propriedade sobre determinado bem (Tartuce, 2020). Considerando as disposições legais e
entendimento jurisprudencial a respeito do tema, assinale a alternativa correta:
a) As dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e durante ela, obrigam o
contratante; não tendo este direito à propositura de ação regressiva contra os demais.
b) Não poderá exceder de três anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador.
c) É possível que o condômino contraia um empréstimo para o cumprimento do requisito de depósito do
preço do bem, no exercício do direito de preferência legal.
d) O condômino que administrar presume-se representante comum, ainda que com oposição.
e) A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão daquele
que requereu a divisão pelas despesas da desta.
Comentários
A alternativa A está errada. As dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e
durante ela, obrigam o contratante; mas terá este ação regressiva contra os demais. Essa é a disposição
contida no art. 1.318, do CC.
A alternativa B está errada. A indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador não poderá exceder de
cinco anos, conforme previsão do art. 1.320, §2º do CC.
A alternativa C está correta. Trata-se do entendimento do STJ29 a respeito do tema. O Tribunal fundamenta
que “a origem do dinheiro utilizado para o depósito do preço do bem não tem qualquer relevância para o
exercício do direito de preferência”.
A alternativa D está errada. O Código Civil estabelece, em seu art. 1.324 que se presume representante
comum o condômino que administrar, desde que seja sem oposição dos outros.
A alternativa E está errada. O art. 1.320 do CC disciplina que “a todo tempo será lícito ao condômino exigir a
divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão”.
Questão 3. De acordo com o entendimento sumulado do STJ a respeito do dano moral, considere:
I. A simples devolução indevida de cheque não caracteriza dano moral.
II. É imprescindível a prova do prejuízo para que haja a indenização pela publicação não autorizada de
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
III. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
Está correto o que se afirma em:
29
REsp 1875223/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/05/2021, DJe 31/05/2021
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II, apenas.
e) III, apenas.
Comentários
O item I está errado. A Súmula 388 do STJ traz o entendimento de que caracteriza dano moral a simples
devolução indevida de cheque.
O item II está errado. Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais, conforme preceitua a Súmula 403, do STJ.
O item III está correto. Trata-se da literalidade disposta na Súmula 370 do STJ.
Comentários
Nos termos do artigo 1.012 do Código de Processo Civil, o recurso de apelação terá efeito suspensivo. Trata-
se do chamado efeito suspensivo ope legis. Contudo, o §1º desse artigo prevê algumas situações nas quais a
sentença produzirá efeitos imediatamente após a sua publicação. Vejamos: “Art. 1.012. A apelação terá
efeito suspensivo. § 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente
após a sua publicação a sentença que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar
alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV -
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição.”
Desta forma, a resposta correta é a letra C, tendo em vista que a sentença que julga improcedente o pedido
de instituição de arbitragem não produz efeitos imediatamente após a sua publicação.
Gabarito: letra C.
Questão 2. Assinale a alternativa que prevê corretamente o entendimento do Superior Tribunal de Justiça
sobre o recurso de Agravo de Instrumento.
a) Considerando a prerrogativa da Fazenda Nacional de ser intimada das decisões, por meio da concessão de
vista pessoal e, em atenção ao princípio da supremacia do interesse público, a certidão de concessão de
vistas dos autos não pode ser considerada elemento suficiente à demonstração da tempestividade do agravo
de instrumento, substituindo a certidão de intimação legalmente prevista.
b) A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada é óbice ao conhecimento do Agravo de
Instrumento mesmo que seja possível aferir a tempestividade do recurso, por outros meios inequívocos, em
atendimento ao princípio da indisponibilidade do interesse público.
c) Cabe Agravo de Instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação
judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
d) A decisão interlocutória que afasta a alegação de prescrição é irrecorrível, de imediato, por meio de Agravo
de Instrumento.
e) O rol do art. 1.015 do CPC/15 é taxativo, por isso não é admitida a interposição de Agravo de Instrumento
quando não for verificada hipótese prevista no seu rol.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Trata-se de entendimento firmado pelo STJ em sede de Recurso Especial
repetitivo (tema 651): “Considerando a prerrogativa que possui a Fazenda Nacional de ser intimada das
decisões, por meio da concessão de vista pessoal e, em atenção ao princípio da instrumentalidade das
formas, pode a certidão de concessão de vistas dos autos ser considerada elemento suficiente à
demonstração da tempestividade do agravo de instrumento, substituindo a certidão de intimação
legalmente prevista.”
A alternativa B está incorreta, nos termos da tese firmada pelo STJ em Recurso Especial repetitivo (tema
697): “A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não é óbice ao conhecimento do
Agravo de Instrumento quando, por outros meios inequívocos, for possível aferir a tempestividade do
recurso, em atendimento ao princípio da instrumentalidade das formas.”
A alternativa C é a assertiva correta, conforme o entendimento firmado pelo STJ em sede de Recurso Especial
repetitivo (tema 1.022): “Cabe Agravo de Instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no
processo de recuperação judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do
CPC/2015.”
A alternativa D está incorreta, uma vez que a decisão interlocutória que afasta a alegação de prescrição é
decisão de mérito, de modo que se enquadra no inciso II, do artigo 1.015, do CPC/15. Esse é o entendimento
do STJ (informativo 643): “A decisão interlocutória que afasta a alegação de prescrição é recorrível, de
imediato, por meio de Agravo de Instrumento. Isso porque se trata de decisão de mérito. Embora a
ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na sentença, não há
óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões interlocutórias, hipótese em
que caberá agravo de instrumento, sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão.”
A alternativa E também está incorreta, visto que o rol do artigo 1.015 do CPC/15 é de taxatividade mitigada
(tema 988, do STJ). Vejamos: “O rol do art. 1.015 do CPC/15 é de taxatividade mitigada, por isso admite a
interposição de Agravo de Instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação.”
Gabarito: letra C.
Questão 3. De acordo com o Código de Processo Civil, a decisão que condenar o réu ao pagamento de
prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou
de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária.
A esse respeito, assinale a alternativa correta.
a) A decisão produz a hipoteca judiciária embora a condenação seja genérica.
b) Sobrevindo a reforma ou a invalidação da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá,
nos casos em que comprovada sua culpa, pelos danos que a outra parte tiver sofrido em razão da
constituição da garantia, devendo o valor da indenização ser liquidado e executado nos próprios autos.
c) Caso a decisão seja impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo a decisão não produzirá hipoteca
judiciária.
d) A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia da sentença perante o cartório
de registro imobiliário, mediante ordem judicial, de declaração expressa do juiz ou de demonstração de
urgência.
e) A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência,
quanto ao pagamento, em relação a outros credores, independentemente da prioridade no registro.
Comentários
A alternativa A é a assertiva correta. Trata-se da literalidade do artigo 495, §1º, I, do CPC: “A decisão produz
a hipoteca judiciária: I - embora a condenação seja genérica.”
A alternativa B está incorreta, nos termos no artigo 495, §5º, do CPC: “Sobrevindo a reforma ou a invalidação
da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de culpa, pelos
danos que a outra parte tiver sofrido em razão da constituição da garantia, devendo o valor da indenização
ser liquidado e executado nos próprios autos.”
A alternativa C está incorreta, conforme o disposto no artigo 495, §1º, III, do CPC: “A decisão produz a
hipoteca judiciária: III - mesmo que impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo.”
A alternativa D está incorreta, uma vez que a hipoteca judiciária independe de ordem judicial, conforme
prevê o artigo 495, §2º, do CPC: “A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia
da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração
expressa do juiz ou de demonstração de urgência.”
A alternativa E também está incorreta, em razão da previsão no artigo 495, §4º, do CPC: “A hipoteca
judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao
pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro.”
Gabarito: letra A.
Questão 4. O Código de Processo Civil elenca uma série de deveres que devem ser observados pelas partes,
seus procuradores e todos aqueles que de qualquer forma participem do processo.
Dentre esses deveres, assinale aquele que, uma vez violado, configura ato atentatório à dignidade da
justiça.
a) declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional
onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação
temporária ou definitiva.
b) não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito.
c) não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
d) não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento.
e) expor os fatos em juízo conforme a verdade.
Comentários
De acordo com o artigo 77 do Código de Processo Civil, “são deveres das partes, de seus procuradores e de
todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; IV
- cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à
sua efetivação; V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial
ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer
modificação temporária ou definitiva; VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito
litigioso.”
Outrossim, o §1º do referido artigo estabelece que: “Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá
qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à
dignidade da justiça.”
Portanto, configura ato atentatório à dignidade da justiça o descumprimento dos deveres previstos nos
incisos IV e VI, o que torna correta a assertiva C.
Gabarito: letra C.
Questão 5. De acordo com a Lei Federal 12.153/2009, que trata dos Juizados Especiais da Fazenda Pública,
assinale a alternativa correta.
a) É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de
interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 40 (quarenta)
salários-mínimos.
b) No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua competência é relativa.
c) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer providências cautelares e
antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação.
d) Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito
público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para a audiência de conciliação ser efetuada
com antecedência mínima de 10 dias.
e) Nas causas de competência do Juizado Especial da Fazenda Pública, as decisões que condenem a Fazenda
a pagar valor superior à 100 (cem) salários-mínimos estarão sujeitas ao reexame necessário.
Comentários
A alternativa A está incorreta, de acordo com o artigo 2º, da Lei 12.153/09: “É de competência dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários-mínimos.”
A alternativa B está incorreta, nos termos no artigo 2º, §4º, da Lei 12.153/09: “No foro onde estiver instalado
Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua competência é absoluta.”
A alternativa C está correta, conforme o disposto no artigo 3º da Lei 12.153/09: “O juiz poderá, de ofício ou
a requerimento das partes, deferir quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso do processo,
para evitar dano de difícil ou de incerta reparação.”
A alternativa D está incorreta, nos termos do artigo 7º da Lei 12.153/09: “Não haverá prazo diferenciado
para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição
de recursos, devendo a citação para a audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de
30 dias.”
A alternativa E também está incorreta, em razão da previsão no artigo 11 da Lei 12.153/09: “Nas causas de
que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.”
Gabarito: letra C.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Com o advento do CPC/15, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser
condição da ação e passou a ser considerada matéria de mérito. Atualmente, as condições da ação são:
interesse de agir e legitimidade, nos termos do artigo 17 do CPC/15: “Para postular em juízo é necessário ter
interesse e legitimidade.”
A alternativa B está incorreta, na medida em que o CPC/15 adotou a teoria eclética do direito de ação,
desenvolvida por Liebman. Para essa teoria, o direito de ação é independente e autônomo, não se
confundindo com o direito material, porém, é condicionado ao preenchimento das condições da ação.
Por sua vez, a teoria abstrata do direito de ação, criada por Degenkolb e Plòsz, prevê que o direito de ação é
independente, autônomo e incondicionado, de modo que a análise das condições da ação é irrelevante para
a existência do direito de ação e a análise do preenchimento dessas condições é, na realidade, questão de
mérito.
De modo resumido, o escopo jurídico está relacionado à aplicação da vontade do direito ao caso concreto,
enquanto o escopo social consiste na solução dos conflitos buscando a pacificação social. Ainda, o escopo
educacional estabelece a função da jurisdição de ensinar aos jurisdicionados seus direitos e deveres. Por fim,
o escopo político associa-se ao fortalecimento do Estado, afirmando o seu poder.
A alternativa E está incorreta. O CPC/15 admite tanto a cumulação própria como a cumulação imprópria de
pedidos. A primeira consiste na cumulação de pedidos que podem ser objeto de procedência simultânea,
podendo ser simples ou sucessiva. Já a cumulação imprópria corresponde àquelas situações nas quais apenas
um dos pedidos pode ser concedido, sendo espécies dessa cumulação a subsidiária e a alternativa.
Gabarito: letra D.
d) A fraude processual pode ser conceituada como a inovação artificiosa que se dá apenas na pendência de
processo civil ou penal, de estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o
perito.
e) Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o
proveito do crime consubstancia-se em favorecimento pessoal.
Comentários
A alternativa A está correta e deve ser marcada. Conforme entendimento do STJ, “a conduta de ingressar
em estabelecimento prisional com chip de celular não se subsome ao tipo penal previsto no art. 349-A do
Código Penal, em estrita observância ao Princípio da Legalidade, pois o legislador limitou-se em punir o
ingresso ou o auxílio na introdução de aparelho telefônico móvel ou similar em estabelecimento prisional,
não fazendo qualquer referência a outro componente ou acessório utilizados no funcionamento desses
equipamentos”30.
A alternativa B está errada. Nesse caso, conforme previsão do art. 343 do CP, a pena será de três a quatro
anos e multa.
A alternativa C está errada. A alternativa conceitua a comunicação falsa de crime ou contravenção (art. 340,
do CP). Já a denunciação caluniosa é prevista no art. 339 do mesmo Código como sendo o ato de “Dar causa
à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente”.
A alternativa D está errada. O art. 347 do CP é claro ao mencionar a existência de fraude processual também
em relação a inovações artificiosas em processos administrativos.
A alternativa E está errada. Trata-se do conceito de favorecimento real (art. 349, do CP). O favorecimento
pessoal está previsto no art. 348 do mesmo Código como sendo o auxílio a subtrair-se à ação de autoridade
pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão.
30
STJ. 5ª Turma. HC 619776/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/04/2021 (Info 693).
d) Violação de sigilo de proposta de concorrência revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que
deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação.
e) Violação de sigilo funcional o ato de devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar
a terceiro o ensejo de devassá-lo.
Comentários
A alternativa A está errada. Este é o conceito disciplinado pelo art. 334-A, do CP como referente ao
contrabando.
A alternativa C está errada. O conceito mencionado é de descaminho, conforme previsão do art. 334, do CP.
A alternativa D está errada. Refere-se à violação de sigilo funcional, conforme preceitua o art. 325, do CP.
A alternativa E está errada. Os termos são referentes ao conceito do crime específico de violação de sigilo de
proposta de concorrência (art. 326, do CP).
Questão 3. Considere as seguintes informações referentes aos crimes contra a administração pública:
I. A inserção de dados falsos em sistema de informações possui penalidade de detenção, de 3 meses a dois
anos e multa.
II. O crime de peculato prevê a pena de reclusão, de dois a doze anos, e multa.
III. Considera-se concussão o ato de exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.
IV. No crime de corrupção passiva privilegiada, caso o funcionário deixe de praticar ato de ofício, com
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem, a pena será de detenção, de três
meses a um ano e multa.
Está correto o que se afirma em:
a) I, II, III e IV
b) I e IV
c) III e IV
d) I e II
e) II e III
Comentários
O item I está errado. A penalidade prevista para esse crime, conforme previsão do art. 313-A, do CP é de
reclusão, de 2 a doze anos e multa.
O item II está correto, posto que dispõe a previsão do art. 312, do CP.
O item III está correto. A concussão possui previsão expressa no Código Penal, em seu art. 316, com pena de
reclusão de 2 a 12 anos e multa.
O item IV errado. Apesar de tratar-se de parte do conceito do crime de corrupção passiva privilegiada, a pena
será detenção de três meses a um ano ou multa.
Comentários
A alternativa A está errada. Conforme previsão do Código Penal, nesse caso, a pena será aumentada da sexta
parte (art. 297, §1º).
A alternativa B está errada. O art. 300 do CP dispõe que a pena será de reclusão, de um a cinco anos, e multa,
se o documento é público e de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
A alternativa C está errada. Como preceitua o §2º do art. 301 do CP, se o crime é praticado com o fim de
lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa.
A alternativa D está correta. Esse é o entendimento do STJ31, sendo importante destacar também a
fundamentação de que é considerado como local da infração a sede fiscal da pessoa jurídica responsável
pela inserção, na Declaração de Importação, de seu nome como importadora ostensiva, sabedora de que o
real importador é outro.
31
AgRg no CC 175.542/PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/02/2021, DJe 01/03/2021.
A alternativa E está errada. Consoante disposição do art. 298 do CP, a pena é de reclusão de um a cinco anos
e multa, tanto para falsificação de documento particular como para alteração de documento particular
verdadeiro.
Questão 5. Nucci conceitua princípio da insignificância no direito penal da seguinte forma: “sustenta-se
que o direito penal, diante de seu caráter subsidiário, funcionando como ultima ratio, no sistema punitivo,
não se deve ocupar de bagatelas”. A respeito da insignificância, assinale a alternativa errada:
a) A incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância dos seguintes aspectos: a mínima
ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
b) Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a ordem tributária.
c) Ainda que preencha todos os requisitos caracterizadores da bagatela, esta não será aplicada em casos de
reiteração da conduta delitiva.
d) A análise do valor do bem jurídico para a aplicação ou não da insignificância deve ser ampla, de forma a
abranger o valor para a vítima, o agressor e a sociedade.
e) É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher
no âmbito das relações domésticas.
Comentários
A alternativa A está correta. É o entendimento do STJ32 que dispõe, ainda, ser inaplicável esse princípio no
caso de prática de delito de furto qualificado por escalada, arrombamento ou rompimento de obstáculo ou
concurso de agentes, o que indica especial reprovabilidade do comportamento.
A alternativa B está errada. O STJ33 já se posicionou no sentido de que o referido princípio é aplicável, em
tese, aos crimes materiais contra a ordem tributária.
A alternativa C está correta. Referida afirmação se fundamenta em decisão do STJ no sentido de que “o
princípio da insignificância não tem aplicabilidade em casos de reiteração da conduta delitiva, salvo
excepcionalmente, quando as instâncias ordinárias entenderem ser tal medida recomendável diante das
circunstâncias concretas do caso”34.
32
STJ - HC: 433827 SP 2018/0011964-4, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 24/05/2018, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/06/2018.
33
STJ - REsp: 1604512 SP 2016/0148101-6, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Publicação: DJ 06/12/2016.
34
STJ - AgRg no REsp: 1764927 RS 2018/0232341-9, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 12/02/2019, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/02/2019.
A alternativa D está correta. A doutrina majoritária entende que essa análise deve ser pormenorizada e
abrangente, de modo a observar o valor do bem para cada um dos envolvidos.
Comentários
A alternativa A está correta e deve ser assinalada. É o teor da Súmula 588, do STJ.
A alternativa B está errada. O art. 69 do CP disciplina que, em caso de cumulação, executar-se-á primeiro a
pena de reclusão.
A alternativa D está errada. Conforme previsão do art. 33, §4º do CP, “O condenado por crime contra a
administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do
dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais”, não dispondo
a respeito de exceções.
A alternativa E está errada. O art. 34, §3º do CP dispõe a possibilidade de realização de trabalho externo, no
regime fechado, em serviços ou obras públicas.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a reincidência é um critério a ser observado pelo magistrado quando da
fixação do regime inicial de cumprimento de pena, de acordo com art. 33, §2º, do CP: “Art. 33 (...) §2º - As
penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b)
o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá,
desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. c) regime aberto a execução
da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.”.
A alternativa B está incorreta, tendo em vista que, embora a reincidência em crime doloso possa obstar a
substituição da PPL por PRD, isso não retira a possibilidade de o magistrado aplicar a substituição se esta for
socialmente recomendável e a reincidência não for de natureza específica, conforme previsto no §3º do art.
44 do CP: Art. 44 (...). §3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que,
em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha
operado em virtude da prática do mesmo crime.”.
A alternativa C está incorreta, pois considerou a reincidência como atenuante, quando na verdade se trata
de agravante, nos termos do art. 61, I, do CP: “Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência;”.
A alternativa D é a correta, na medida em que a condenação definitiva pela prática de crime militar próprio,
por expressa previsão legal, não configura reincidência, de acordo com o art. 64, II, do CP: Art. 64 - Para
efeito de reincidência: II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
A alternativa E está incorreta, visto que o aumento de um terço no prazo da prescricional se refere à
pretensão executória, e não à pretensão punitiva, conforme se extrai do art. 110, “caput”, do CP: “Art. 110 -
A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-
se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.”.
Nesse sentido, inclusive, é a súmula 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da prescrição da
pretensão punitiva.”.
Gabarito: letra D.
Questão 8. Considerando o entendimento sumulado do STF e do STJ acerca dos crimes contra o
patrimônio, marque a alternativa CORRETA:
a) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de
bens da vítima.
b) A consumação do crime de extorsão depende da obtenção da vantagem indevida.
c) É admissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
d) É inadmissível o reconhecimento do privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de
furto qualificado, ainda que presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora
for de ordem objetiva.
e) Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave
ameaça, sendo necessária a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
Comentários
A alternativa A é a correta, visto que reproduz o teor da súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando
o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. Essa súmula caiu na
prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa B está incorreta, pois vai de encontro à súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se
independentemente da obtenção da vantagem indevida.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz
substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa C está incorreta, pois vai de encontro à súmula 442 do STJ: “É inadmissível aplicar, no furto
qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz
substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa D está incorreta, pois vai de encontro à súmula 511 do STJ: “É possível o reconhecimento do
privilégio previsto no §2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes
a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.”. Essa súmula
caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019 elaborada pela FCC.
A alternativa E está incorreta, pois vai de encontro à súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo com
a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e
em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada.”. Essa súmula caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJAL/2019
elaborada pela FCC.
Gabarito: letra B.
Questão 9. De acordo com os princípios gerais do Direito Penal, analise os itens a seguir e marque, ao final,
a alternativa CORRETA:
I - O princípio da intervenção mínima pode ser desdobrado em dois subprincípios: o da subsidiariedade e
o da fragmentariedade. O primeiro (subsidiariedade) preconiza que o Direito Penal deve incidir para
tutelar os bens jurídicos mais relevantes contra as agressões mais graves. Já o segundo (fragmentariedade)
estabelece que o Direito Penal somente deve ser aplicado quando os demais meios de controle social se
apresentarem como insuficientes para a proteção de bens jurídicos.
II - O princípio da adequação social, desenvolvido pelo jurista Claus Roxin, sustenta que a mera subsunção
do fato à norma penal, sem que tenha havido relevante lesão ao bem jurídico tutelado pela norma, deve
tornar o fato atípico, por ausência de tipicidade material.
III - O princípio da bagatela imprópria estabelece que, apesar da conduta do agente ser típica sob o aspecto
formal e material, caracterizando-se como crime, pode o magistrado deixar de aplicar a pena se verificar
que, no caso concreto, a punição é desnecessária ou inócua.
Comentários
O item I está incorreto, visto que inverteu as definições de subsidiariedade e fragmentariedade. De fato, o
princípio da intervenção mínima pode ser dividido em dois corolários ou subprincípios: o da subsidiariedade
e o da fragmentariedade. Todavia, enquanto o princípio da subsidiariedade prevê que o Direito Penal
somente deve intervir quando as demais formas de controle social não funcionarem em sua missão de
proteção de bens jurídicos, o princípio da fragmentariedade recomenda que o Direito Penal se preocupe tão
somente com a tutela dos bens jurídicos mais relevantes lesionados de forma mais agressiva. Sendo, o erro
do item foi trocar os conceitos de subsidiariedade e fragmentariedade.
O item II está incorreto, na medida em que indicou o princípio da adequação social mas apresentou a
definição do princípio da insignificância ou da bagatela. O princípio da adequação social foi desenvolvido
pelo jurista Hans Welzel e consiste na ideia de que os comportamentos socialmente aceitos, isto é, aquelas
condutas que não afrontam o sentimento social de justiça, devem ser consideradas atípicas, por ausência de
tipicidade material. Por sua vez, o princípio da insignificância realmente é visto como apontado no item II,
ou seja, foi idealizado por Claus Roxin e parte da ideia de que condutas que não lesam de forma relevante
os bens jurídicos tutelados pela norma penal, ainda que se enquadrem no tipo penal, devem ser
reconhecidas como atípicas, por lhes faltar tipicidade material. Destaque-se que os princípios da adequação
social e da insignificância possuem um ponto em comum consistente na possibilidade de sua aplicação excluir
a tipicidade material da conduta.
O item III está correto, haja vista que apresentou de forma adequada a definição do princípio da bagatela
imprópria. Referido princípio é defendido por parte da doutrina que extrai do art. 59 do Código Penal a
possibilidade do magistrado deixar de aplicar a sanção penal, nas hipóteses em que a punição for
desnecessária ou inócua, ainda que o fato seja típico, antijurídico e culpável.
Gabarito: letra D.
Comentários
O crime de calúnia é perseguido via ação penal privada, em que vítima ou seu representante legal decidem
se a ação será proposta ou não. No entanto, caso a vítima faleça ou seja declarada ausente, a legitimidade
passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Veja:
CPP:
Art. 24, §1º. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
O STF equiparou a união estável ao casamento, por entender que ambos trazem em si os mesmos direitos e
deveres e a diferença prática entre os dois institutos é praticamente inexistente. Veja:
união estável heteroafetiva' [...]". (RE 646721, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017).
APn 912/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/08/2019, DJe
22/08/2019
Assim, se a questão pedisse o entendimento jurisprudencial, a resposta correta seria Letra B, já que caso o
companheiro de Christian não desejasse a persecução penal, esse direito passaria a mãe do falecido. No
entanto, perceba que a questão pediu a alternativa que estava de acordo com a previsão legal e não com o
entendimento do STJ.
Assim, o direito de queixa poderá ser exercido pela mãe de Christian, haja vista não estar legitimado, de
acordo com o texto legal, seu companheiro.
Questão 2. Railson, agente sem antecedentes, não reincidente e com residência fixa, foi preso em flagrante
pelo furto mediante fraude por meio de dispositivo eletrônico (art. 155, §4º-B, CP - pena de 4 a 8 anos).
Na audiência de custódia, o juiz decretou a prisão preventiva de ofício, justificando que o crime praticado
era de excepcional gravidade e que havia a probabilidade de reiteração criminosa. Nesse contexto,
assinale a alternativa correta:
a) Agiu corretamente o juiz, pois a possibilidade de reiteração delituosa, por si só, justifica a prisão preventiva
do acusado.
b) O delegado de polícia poderia ter concedido a liberdade provisória mediante o pagamento de fiança a
Railson.
c) O juiz agiu corretamente em decretar a prisão preventiva de Railson, pois o entendimento que prevalece
nos tribunais superiores é pela admissão, de ofício, da conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva
nas audiências de custódia.
d) O juiz deverá avaliar, antes de decretar a preventiva, se medidas cautelares diversas da prisão são
adequadas e suficientes.
Comentários
Tem-se no caso em tela o crime de furto mediante fraude por meio de dispositivo eletrônico ou informático,
que recentemente sofreu alteração pela Lei 14.155/21. Trata-se de qualificadora do crime de furto, cuja pena
é um pouco menor do que a estipulada para o art. 154, §4º-B, isto é, a pena do furto mediante fraude é de
2 a 8 anos, enquanto a do furto mediante fraude por meio de dispositivo eletrônico é de 4 a 8 anos.
Pela redação do tipo penal, infere-se que basta que a fraude seja eletrônica, não sendo necessário que haja
violação de senha ou sequer conexão à internet.
Veja que a alternativa (letra A) vai de encontro à jurisprudência do STF (HC 154.582), que entende não ser
possível justificar a necessidade de prisão preventiva a simples opinião do julgador quanto à gravidade do
crime em abstrato:
Lembre-se ainda que a opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime também não constitui
motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada, de
acordo com o entendimento sumulado no Enunciado 718 do STF.
Quanto à alternativa B, perceba que à autoridade policial é permitida a concessão de liberdade provisória
mediante o arbitramento de fiança. No entanto, de acordo com o art. 322 do CPP, que diz:
CPC:
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena
privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos” e nos demais casos, de acordo
com o parágrafo único desse mesmo artigo “a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas.
Assim, como a pena máxima do crime de furto mediante fraude por meio de dispositivo eletrônico ou
informático é de 8 anos, caberá apenas ao juiz decidir acerca do arbitramento da fiança.
Já no tocante à alternativa C, o entendimento do STF e do STJ hoje é de que não é admissível a conversão de
prisão em flagrante em prisão preventiva, em nenhuma hipótese. Veja:
Veja a redação do art. 311, CPP antes da alteração produzida pela Lei 13.964/2019:
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.
Assim, inadmissível a decretação da prisão preventiva de ofício pelo magistrado, em que pese a possibilidade
que o juiz tem para, de ofício, revogá-la ou substituí-la quando faltar motivo para que subsista ou quando
sobrevierem motivos que o justifique.
Finalmente, quanto à letra D, nosso gabarito, note que a privação de liberdade do indivíduo é sempre a
ultima ratio e só deve subsistir quando se mostrar ser a única medida capaz de assegurar a eficácia do
processo. Veja o que diz o CPP quanto aos requisitos para a decretação da prisão preventiva:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado.
(...)
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil
da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso
ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
recomendar a manutenção da medida. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de
cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Assim, veja que no caso concreto não havia elementos suficientes que justificassem a decretação da
preventiva, devendo o magistrado procurar impor alternativas à prisão (que, lembremos, de acordo com o
STF, o sistema carcerário brasileiro vive um estado de coisas inconstitucional).
Ainda, para a decretação da Prisão Temporária é necessária a aplicação cumulativa do inc. III com o inc. I do
artigo 1º da Lei n. 7.960/1989 (ENUNCIADO 9, DA I JORNADA DE DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL CJF/STJ).
Questão 3. Júlio foi denunciado pelo crime de roubo, tendo a denúncia sido recebida pelo magistrado no
dia 15.12.2020. No entanto, ao comparecer à audiência de instrução e julgamento, o réu foi citado por um
processo de roubo qualificado pela morte, conexo teleologicamente ao roubo, que tramitava em outra
vara criminal da mesma comarca e da mesma categoria, cuja exordial foi oferecida dia 02.02.2021 e
recebida em 05.04.2021. Neste caso, o juiz deverá:
a) Como no concurso de jurisdições de mesma categoria prevalece o local em que foi praticada a infração
mais grave, deverá remeter os autos à vara em que tramita o crime de latrocínio.
b) Comunicar ao juízo da outra comarca sobre a existência do processo e continuar a instrução presente,
tendo em vista a regra da separação de processo e julgamento.
c) Avocar o processo que tramita perante a outra comarca, em que pese não sejam crimes conexos.
d) Remeter os autos do processo ao outro juízo apenas ao final da instrução criminal, haja vista prevalecer
no concurso de jurisdições da mesma categoria o local em que praticada a infração mais grave.
Comentários
Cumpre esclarecer que o enunciado se refere à conexão “teleológica”. Você sabe o que é?
A conexão teleológica ocorre quando um crime é praticado para facilitar a execução de outro e está prevista
no art. 76, II, 1º verbo, CPP. Ex.: agente pratica um furto de automóvel para garantir o sucesso no crime de
roubo anterior.
Via de regra, a conexão teleológica acarreta na reunião dos processos, salvo nas hipóteses do art. 79, CPP:
Assim, sabendo que o caso do enunciado não se amolda às exceções que ensejariam na separação de
processo e julgamento, agora vamos entender qual juízo será o competente pelos dois processos.
Lembre-se que o crime de latrocínio não é julgado pelo Júri, haja vista os tribunais superiores entenderem
eu não se trata de crime contra a vida, mas contra o patrimônio. Veja:
STF, Súmula 603: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e
não do tribunal do júri.
Dessa forma, como são juízos de mesma categoria, em atenção ao inciso II do art. 78, tem-se que atrai a
competência o juízo do lugar da infração (veja no enunciado que ambos os processos são da mesma comarca)
em que seja cominada a pena mais grave. Quanto à definição sobre o que é “pena mais grave”, deve-se,
primeiramente, levar em conta a natureza da pena cominada (reclusão é mais grave do que a detenção, que
é mais grave que a prisão simples e a multa). Sendo da mesma natureza, deverá ser considerada a quantidade
de pena prevista in abstrato (primeiramente a pena máxima e, após, a pena mínima).
Ora, o roubo qualificado pela morte possui a pena privativa de liberdade de 20 a 30 anos e multa (art. 157,
§3º, CP), enquanto o roubo simples é punido com a pena de reclusão de 4 a 10 anos e multa (art. 157, caput,
CP).
Logo, é competente para julgar ambos os processos o juízo em que tramita o processo de latrocínio, de modo
que, de acordo com o art. 82, CPP, os processos deverão ser reunidos para julgamento, salvo se um deles já
tiver sido sentenciado, o que não é o caso. Confira:
Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se
dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.
Questão 4. No tocante às provas no processo penal e de acordo com o entendimento dos tribunais
superiores, assinale a alternativa correta:
I - A existência de denúncias anônimas somada à fuga do acusado, por si sós, configuram fundadas razões a
autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem o seu consentimento ou determinação judicial e
eventual prova obtida nessa operação poderá ser utilizada no processo penal sem empecilhos.
II - Para prestigiar os princípios da celeridade e eficiência, o mandado judicial de busca e apreensão podem
conter objetivo incerto e pessoas indeterminada, de modo que é admitida ordem judicial genérica e
indiscriminada para a entrada da polícia em quaisquer residências de uma determinada região
III. Não é nula a prova obtida em busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em
residência que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente
ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crime
permanente.
IV. É nula a prova obtida por meio de interrogatório realizado por autoridades policiais ao agente sem que
lhe tenha sido dado o “aviso de Miranda”.
A) Somente a III está correta.
b) Somente a III e IV estão corretas.
c) Somente a I está incorreta.
d) Somente a I, II, e a III estão incorretas.
Comentários
Trata-se de questão que contém alguns dos principais julgados relacionados à nulidade de provas.
I) INCORRETO. Veja que o STJ e STJ entendem justamente o oposto. São necessárias diligências a fim de
verificar se há o mínimo de plausibilidade e verossimilhança a justificar a violação de domicílio:
A denúncia anônima desacompanhada de quaisquer outros indícios sequer é apta a embasar mandado de
busca e apreensão:
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações
telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas
posteriores. Se há notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a
polícia deve, antes de representar pela expedição de mandado de busca e apreensão, proceder
a diligências veladas no intuito de reunir e documentar outras evidências que confirmem,
indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos de informação o
juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a expedição
do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão
expedido exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC
180709/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
II) INCORRETO. O julgado a que a alternativa se refere trata-se de caso em que um magistrado do Rio de
Janeiro autorizou busca e apreensão em domicílios nas comunidades de Jacarezinho e no Conjunto
Habitacional Morar Carioca, sem identificar o nome de investigados e os endereços a serem objeto da
abordagem policial, pois, segundo justificou, a região é urbanizada de forma desorganizada e, como as
comunidades pobres ganham novas casas constantemente, sem registro ou numeração que as individualize,
a revista coletiva seria necessária para a própria segurança dos moradores da região e dos policiais que ali
atuam. O STJ cassou essa decisão.
quisessem ter acesso ao prédio já no muro externo, o que não ocorre no caso concreto, em que
há, inclusive, depoimento de policial afirmando que o portão estaria aberto.
6. De mais a mais, havendo depoimento de policial, asseverando que teria sido visualizada, pela
janela, parte do material ilícito ali existente, é de se concluir que a entrada dos policiais na
quitinete em questão se deu em razão da suspeita concreta de flagrância do crime de
armazenamento de drogas, que é permanente.
7. Modificar as premissas tidas como válidas pela instância ordinária demandaria o revolvimento
de todo o material fático/probatório dos autos, o que inviável na sede mandamental.
8. Habeas corpus de que não se conhece.
(HC 588.445/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
25/08/2020, DJe 31/08/2020)
IV) CORRETO. O “Aviso de Miranda” trata-se de garantia do direito fundamental do acusado. É o dever que
as autoridades possuem de informar ao réu que ele possui o direito ao silêncio e à garantia à não
autoincriminação, tendo sido declarada nula a prova obtida por meio de confissão de investigado realizada
em “entrevista” da autoridade policial por ocasião da da prisão em flagrante ou mesmo do cumprimento de
mandado de busca e apreensão. O investigado possui direito ao silêncio não apenas no interrogatório formal,
mas também no momento da abordagem, quando recebe voz de prisão por policial em situação de flagrante
delito. Veja:
(Rcl 33711, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 11/06/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 22-08-2019 PUBLIC 23-08-2019)
Também é o entendimento do STF que o juiz também NÃO pode condenar o réu com base exclusivamente
em declarações informais prestadas a policiais no momento da prisão em flagrante, sem que tenha sido dado
o “Aviso de Miranda”: A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os presos que eles possuem
o direito de permanecer em silêncio (art. 5º, LXIII). Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não
apenas pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos policiais responsáveis pela voz
de prisão em flagrante. Isso porque a todos os órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos
fundamentais. A falta da advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa
confissão. STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/5/2021 (Info 1016).
Comentários
I) Errado. O flagrante é forma de prisão cautelar autorizada expressamente pela Constituição Federal (art.
5º, XI), no decorrer da prática da infração ou momentos depois e possui como funções:
Há quem defenda uma 4ª função da prisão em flagrante: preservar a integridade física do preso, diante da
comoção que alguns crimes provocam na população, evitando-se, assim, possível linchamento.
No caso da assertiva, como não crime em andamento, não há que se falar em auto de flagrante, mas de
apresentação, só havendo que se impor a privação de liberdade se for o caso do preenchimento dos
requisitos da prisão preventiva por meio de ordem judicial.
A alteração no art. 492, I, e, CPP, em que é permitida a execução provisória da pena superior a
15 anos no procedimento do Júri, não deve ser aplicada. É pacífica a jurisprudência do STJ no
sentido da ilegalidade da execução da pena como decorrência automática da condenação
proferida pelo Tribunal do Júri. STJ, AgRG no Pedido de Tutela Provisória 3.026, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, j. 01.12.2020.
O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida
a execução provisória da pena. O réu até pode ser preso antes do trânsito em julgado de sua condenação,
mas na forma de prisão preventiva e não de execução antecipada da pena propriamente dita que foi
declarada inconstitucional pelo STF. A doutrina e a jurisprudência apontam as seguintes razões para a não
admissão da antecipação da pena:
• O art. 283 do CPP prevê que: “Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou
em virtude de condenação criminal transitada em julgado”.
• O art. 5º, LVII, CF/88 é claro: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória”.
• É infundada a crítica de que a defesa do princípio da presunção de inocência poderia impedir e
obstaculizar as atividades investigatórias do Estado, pois a persecução de crimes não pode
desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e, menos ainda, os direitos e garantias fundamentais dos
investigados, que são sujeitos de direito.
III) Errado. As infrações de menor potencial ofensivo, isto é, cuja pena máxima é inferior a 2 anos, não se
sujeitam à prisão em flagrante, conforme art. 69, parágrafo único, Lei 9.099/95. Veja:
Art. 69, páragrafo único, Lei 9.099/95: Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a vítima.
IV) Errado. Não cabe prisão preventiva nos crimes culposos, pois o texto da lei não dá margem a nenhuma
espécie de dúvida: “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos”.
A prisão preventiva medida drástica que revela-se incompatível com os crimes culposos, em que sequer há
voluntariedade do agente. A lógica desse raciocínio está no fato de que os crimes culposos em hipótese
alguma geram uma pena de prisão. Veja o que diz o art. 44, CP:
Art. 44, CP: As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada,
se o crime for culposo;”. Assim, como a pena definitiva do crime não é privativa de liberdade,
não há como admitir uma medida cautelar mais gravosa que a definitiva por força do princípio
da homogeneidade das medidas cautelares.
Questão 6. Sobre recursos na execução penal, assinale a alternativa correta:
a) O agravo em execução possui efeito suspensivo, via de regra.
b) É de 8 dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal.
c) Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo, não podendo o
Ministério Público obtê-lo por meio da interposição de mandado de segurança.
d) O agravo em execução possui efeito é regido pelas normas pertinentes à apelação.
Comentários
Veja o que dispõe o art 197, LEP: “Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo”.
O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal
interposto pelo Ministério Público.
O raciocínio é o seguinte: como a lei não confere efeito suspensivo à determinado recurso, não há que se
falar que a parte recorrente tenha direito líquido e certo a obtê-lo. Assim, se não há direito líquido e certo,
não cabe concessão de segurança.
Letra A: INCORRETA. A LEP prevê o recurso de agravo, em regra, sem efeito suspensivo. Trata-se do único
recurso previsto para impugnar decisões do juízo de execução penal do condenado. A única hipótese (isto é,
de forma excepcional) em que haverá o efeito suspensivo em seu agravo é a do art. 179, LEP, no caso em
que o Ministério Público impugna a expedição de ordem de desinternação ou liberação de indivíduo sujeito
a medida de segurança. Veja: Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a
desinternação ou a liberação.
Letra B: INCORRETA. Veja que o prazo é de 5 dias, conforme entendimento sumulado do STF no enunciado
700: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal.
Letra D: INCORRETA: Veja que, apesar de dispor que o recurso cabível das decisões do juío de execução é o
agravo, a LEP acabou por não definir seu procedimento. Assim, diante dessa lacuna legislativa, a doutrina e
a jurisprudência entendem que aplica-se subsidiariamente os dispositivos do CPP referentes ao RESE.
Comentários
A alternativa A está incorreta, visto que é possível o término da internação voluntária por solicitação escrita
do paciente ou por determinação do médico assistente, conforme previsto no art. 7º da Lei Antimanicomial:
“Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento
da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. Parágrafo único. O término da
internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico
assistente.”.
A alternativa B está incorreta, pois a pessoa com transtorno mental tem direito de ser tratada com
humanidade e respeito no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, e não de resguardar a incolumidade
das demais pessoas, conforme podemos extrair do art. 2º, p.ú., II, da Lei Antimanicomial: “Art. 2º Nos
atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão
formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São
direitos da pessoa portadora de transtorno mental: II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse
exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e
na comunidade;”.
A alternativa C está incorreta, haja vista que é vedada a internação de pacientes portadores de transtornos
mentais em instituições com características asilares, não admitindo a Lei qualquer exceção, nos termos do
art. 4º, §3º, da Lei Antimanicomial: Art. 4º (...). §3º É vedada a internação de pacientes portadores de
transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos
mencionados no §2º e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art.
2º.”.
A alternativa D é a correta, pois reproduz a exigência do §1º do art. 8º da Lei Antimanicomial: “Art. 8º (...).
§1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao
Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo
esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.”.
A alternativa E está incorreta, tendo em vista que o médico que autorizar a internação voluntária ou
involuntária deverá possuir registro no CRM do Estado onde se localize o estabelecimento de internação, de
acordo com a previsão do art. 8º, “caput”, da Lei Antimanicomial: “Art. 8º A internação voluntária ou
involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina
- CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.”.
Gabarito: letra D.
Questão 2. Acerca dos crimes contra o consumidor previstos na Lei Federal n. 8.078/ (Código de Defesa do
Consumidor), marque a alternativa CORRETA.
a) O crime de omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas
embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade, não pode ser praticado na forma culposa.
b) Constitui crime a prática de permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um
número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo.
c) Constitui infração administrativa, mas não crime, a conduta de fazer ou promover publicidade que sabe
ou deveria saber ser enganosa ou abusiva.
d) Constitui crime empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, ainda
que com autorização do consumidor.
e) É circunstância atenuante dos crimes tipificados no CDC quando cometidos em época de grave crise
econômica.
Comentários
A alternativa A está incorreta, visto que referido crime admite forma culposa, nos termos do art. 63, §2º, do
CDC: “Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas
embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§1º Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre
a periculosidade do serviço a ser prestado. §2º Se o crime é culposo: Pena Detenção de um a seis meses ou
multa.”.
A alternativa B é a correta, haja vista indica prática abusiva que é considerada crime, nos termos do art. 65,
§2º, do CDC: “Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de
autoridade competente: Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa. §1º As penas deste artigo são
aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte. §2º A prática do disposto no inciso
XIV do art. 39 desta Lei também caracteriza o crime previsto no caput deste artigo.”.
A alternativa C está incorreta, visto que a conduta descrita caracteriza crime, na forma do art. 67 do CDC:
“Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção
de três meses a um ano e multa.”.
A alternativa D está incorreta, pois a autorização do consumidor torna o fato atípico, nos termos do art. 70
do CDC: “Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem
autorização do consumidor: Pena Detenção de três meses a um ano e multa.”.
A alternativa E está incorreta, porque, ao contrário do que afirmado, a prática de crimes tipificados no CDC
em época de grave crise econômica é circunstância agravante, conforme previsto no art. 76, I, do CDC: “Art.
76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código: I - serem cometidos em época de grave
crise econômica ou por ocasião de calamidade;”.
Gabarito: letra B.
Questão 3. Julgue as alternativas seguir, marcando a CORRETA, de acordo com a legislação penal especial:
a) Nos termos da Lei n. 12.850/13 (Lei de organização criminosa), considera-se organização criminosa a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
==10be0c==
desde que formalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cuja penas mínimas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam
de caráter transnacional.
b) Nos termos da Lei n. 9.605/98 (Lei de crimes ambientais), é crime o abate de animal quando realizado
para saciar a fome do agente ou de sua família, ainda quando realizado em estado de necessidade.
c) Nos termos da Lei 8.072/90 (Lei dos crimes hediondos), considera-se hediondo o crime de posse ou porte
ilegal de arma de fogo de uso restrito.
d) Nos termos da Lei 9.455/97 (Lei de crimes de tortura), é efeito automático da condenação por crime de
tortura a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo
da pena aplicada.
e) Nos termos da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), é cabível a substituição da pena privativa de
liberdade por restritivas de direitos, prevista no art. 44, I, do Código Penal, no caso de condenação por crime
de homicídio culposo na direção de veículo automotor, na forma qualificada pela condução sob a influência
de álcool, desde que a pena privativa de liberdade não supere 4 (quatro) anos.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois incorreu em 2 erros ao apresentar o conceito de organização criminosa.
Primeiro, a divisão de tarefas na ORCRIM pode ocorrer informalmente. Além disso, as infrações penais
praticadas pela ORCRIM devem ter pena máxima superior a 4 (quatro) anos. É o que extraímos do art. 1º,
§1º, da Lei 12.850/13: “Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal,
os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. §1º
Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”.
A alternativa B está incorreta, pois não há crime na situação, por se tratar de excludente de ilicitude prevista
de modo expresso no art. 37, I, da Lei 9.605/98: “Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;”.
A alternativa C está incorreta, haja vista que a Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) alterou a Lei 8.072/90 (Lei
dos crimes hediondos), fazendo com somente a posse ou porte de arma de fogo de uso proibido seja crime
hediondo, nos termos do art. 1º, p.ú., II, da Lei de crimes hediondos: Art. 1º (...). Parágrafo único.
Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: II - o crime de posse ou porte ilegal de arma
de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;”.
A alternativa D é a correta, tendo em vista que, de fato, é efeito automático da condenação a perda do
cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada,
nos termos 1º, §5º, da Lei 9.455/97: Art. 1º (...). §5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.”.
A alternativa E está incorreta, porque a Lei 14.071/2020 incluiu o art. 312-B no CTB, a fim de afastar a
possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ao crime de homicídio
culposo na direção de veículo automotor quando qualificado pelo fato do agente conduzir o veículo sob a
influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência (art. 302, §3º,
do CTB). Vejamos: “Art. 312-B. Aos crimes previstos no §3º do art. 302 e no §2º do art. 303 deste Código não
se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).”.
Gabarito: letra D.
Questão 4. Considerando o entendimento sumulado do STJ acerca da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), marque a alternativa CORRETA:
a) A prática de contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico
não possibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
b) É aplicável o princípio da insignificância nas contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito
das relações domésticas.
c) Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha) se exige a coabitação entre autor e vítima.
d) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos
ao rito da Lei Maria da Penha.
e) A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é
pública condicionada à representação da ofendida.
Comentários
A alternativa A está incorreta, visto que inclusive a prática de contravenção penal contra mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, como se extrai da súmula 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal
contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.”.
A alternativa B está incorreta, pois não será aplicável o princípio da insignificância ainda que se trate de
contravenção penal, quando praticada contra a mulher no âmbito das relações domésticas. É o que se extrai
da súmula 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.”. Essa súmula caiu nas provas objetivas para
juiz substituto do TJAL/2019 e do TJMS/2020, elaboradas pela FCC.
A alternativa C está incorreta, na medida em que a caracterização de violência doméstica e familiar contra a
mulher independe de coabitação entre autor e vítima, nos termos da súmula 600 do STJ: “Para a
configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.”.
A alternativa D é a correta, pois reproduziu a súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a
transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.”. Essa súmula
caiu na prova objetiva para juiz substituto do TJMS/2020 elaborada pela FCC.
A alternativa E está incorreta, pois vai de encontro à súmula 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de
lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.”. Essa súmula
caiu nas provas objetivas para defensor público da DPE-AM/2018 e juiz substituto do TJMS/2020, elaboradas
pela FCC.
Gabarito: letra B.
Questão 5. Julgue as alternativas a seguir, marcando a CORRETA, de acordo com a legislação penal
especial:
a) Nos termos da Lei n. 9.613/98 (Lei de lavagem de capitais), se o acusado, citado por edital, não comparecer
nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva.
b) Nos termos da Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha), nas ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida de que trata a Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz,
em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do oferecimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.
c) Nos termos da Lei 11.343/06 (Lei de drogas), considera-se hediondo ou equiparado o crime de tráfico de
drogas, ainda que na forma do art. 33, §4º (“tráfico privilegiado”).
d) Nos termos do Decreto-Lei 3.688/41 (Lei de contravenções penais), é punível a tentativa de contravenção.
e) Nos termos da Lei 8.137/90 (Lei dos crimes contra a ordem tributária), os crimes previstos nesta Lei são
de ação penal pública incondicionada, aplicando-se-lhes o disposto no art. 100 do Código Penal.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o crime de lavagem de capitais representa exceção à regra do art. 366 do
Código de Processo Penal, de modo que, se o acusado for citado por edital, mas não comparecer ou constituir
advogado, o processo seguirá normalmente, até julgamento final, devendo o juiz nomear defensor dativo
para acompanhar o feito. É o que extraímos do art. 2º, §2º, da Lei 9.613/98: “Art. 2º (...) §2º No processo por
crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei n.º 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser
citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.”.
A alternativa B está incorreta, pois indicou termo final incorreto para que a vítima se retrate de sua
representação nos crimes sujeitos a essa condição de procedibilidade. No caso a retratação (renúncia) à
representação poderá ser feita até o recebimento da denúncia, e não até o seu oferecimento. Isso está
previsto no art. 16 da Lei Maria da Penha: “Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação
da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério
Público.”.
A alternativa C está incorreta, haja vista que a Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) inclui o §5º no art. 112 da
Lei 7.210/90 (Lei execução penal), o qual estabelece, de forma expressa, que o tráfico de drogas privilegiado
não é considerado crime hediondo ou equiparado. Vejamos: “Art. 112 (...). §5º. Não se considera hediondo
ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei n.º
11.343, de 23 de agosto de 2006.”.
A alternativa D está incorreta, tendo em vista que, no caso de contravenção penal, a tentativa não é punível,
como previsto no art. 4º da Lei de contravenções penais: “Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.”.
A alternativa E é a correta, porque, de fato, os crimes tributários previstos na Lei 8.137/90 são de ação penal
pública incondicionada, conforme previsto no art. 15 da referida Lei, o qual faz remissão expressa ao art. 100
do Código Penal: “Art. 15. Os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública, aplicando-se-lhes o
disposto no art. 100 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.”.
Gabarito: letra D.
Questão 6. Julgue as alternativas a seguir, marcando a INCORRETA, de acordo com a legislação penal
especial:
a) Nos termos da Lei n. 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), comente crime de omissão de cautela aquele
que deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
propriedade.
b) Nos termos da Lei n. 11.101/05 (Lei de falências), a sentença que decreta a falência, concede a
recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial é condição objetiva de punibilidade das
infrações penais descritas na referida Lei.
c) Nos termos da Lei n. 1.521/51 (Lei de crimes contra a economia popular), a usura pecuniária não configura
crime, mas sim mera infração administrativa.
d) Nos termos da Lei n. 7.716/1989 (Lei dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor), constitui
efeito não automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.
e) Nos termos da Lei 10.741/03 (Estatuto do idoso), aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei dos Juizados
Especiais Criminais, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do CP e do CPP.
Comentários
A alternativa A não pode ser o gabarito da questão, pois está correta, ao se referir ao crime de omissão de
cautela, previsto no art. 13 do Estatuto do Desarmamento: “Art. 13. Deixar de observar as cautelas
necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se
apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1
(um) a 2 (dois) anos, e multa.”.
A alternativa B não pode ser o gabarito da questão, pois está de acordo com a condição de punibilidade
indicada no art. 180 da Lei de falências para os crimes falimentares: “Art. 180. A sentença que decreta a
falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta
Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei.”.
A alternativa C é o gabarito da questão, tendo em vista que a usura pecuniária é crime, nos termos previstos
no art. 4º da Lei dos crimes contra a economia popular: “Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura
pecuniária ou real, assim se considerando: a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas
em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia
permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial
de crédito; b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência
ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação
feita ou prometida. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil
cruzeiros.”.
A alternativa D não pode ser o gabarito da questão pois está correta, na medida em que, de fato, os
mencionados efeitos da condenação não são automáticos, conforme previsto no art. 16 c/c art. 18 da Lei do
racismo: “Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público,
e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.; Art.
18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.”.
A alternativa E não pode ser o gabarito da questão, pois está correta, ao reproduzir o art. 94 do Estatuto do
Idoso: “Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4
(quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e,
subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.”.
Gabarito: letra C.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Criança é a pessoa de até doze anos incompletos, o que torna incorreta a
alternativa. O adolescente é, de fato, aquele que possui de doze anos de idade até dezoito anos de idade
incompletos, tudo conforme o artigo 2º, caput, do ECA.
A alternativa C está incorreta. O direito à saúde, no caso da alternativa, é gratuito, por expressa previsão
legal do artigo 11, § 2º, do ECA, inclusive no que diz respeito às órteses e próteses. Veja:
A alternativa D está incorreta, porque os estabelecimentos de saúde devem garantir a presença de um dos
pais, e não ambos, nos termos do artigo 12 do ECA. Idêntico direito à assegurado aos responsáveis legais da
criança ou do adolescente.
A alternativa E está incorreta. Por expressa previsão legal, a vacinação das crianças e adolescentes é
obrigatória, nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias (ECA, artigo 14, § 1º).
c) O direito à liberdade das crianças e adolescentes compreende o de opinião e expressão, mas não o de
participar da vida política, liberdade que está condicionada à maioridade civil.
d) A criança cuja mãe estiver em acolhimento institucional com esta não terá contato, para preservar o seu
melhor interesse.
e) A observância do cadastro de adotantes não é absoluta, podendo ser excepcionada em prol do princípio
do melhor interesse da criança.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque a competência para processar e julgar as ações conexas de interesse
de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda. (SÚMULA 383, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009). O atual Código de Processo Civil possui regra de competência que,
embora mais ampla, porque trata de todos os incapazes, e não apenas das crianças e dos adolescentes, é
aplicável a estes, que diz: “A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu
representante ou assistente” (artigo 50 do CPC).
A alternativa B está incorreta. Quando favoráveis ao adotando, eventuais irregularidades na adoção podem
ser superadas em virtude da situação de fato consolidada no tempo, consoante o entendimento pacífico do
STJ, o que torna incorreta a alternativa.
A alternativa C está incorreta, tendo em vista que o ECA expressamente afirma que o direito à liberdade
compreende participar da vida política, na forma da lei (art. 16, VI).
A alternativa D está incorreta. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral
(ECA, artigp 19, caput). Assim, é imperioso o contato da criança com a sua mãe, ainda que esta esteja em
acolhimento institucional, existindo regra expressa nesse sentido, a do artigo 19, § 5º, do ECA.
A alternativa E está correta. O ECA estipula um cadastro de interessados na adoção, bem como um cadastro
de crianças e adolescentes em condições de serem adotados (artigo 50 do ECA). A esse respeito, o STJ
entendeu que esse cadastramento não é absoluto, e deve ser lido à luz do princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente.
Comentários
A alternativa B está incorreta, porque “Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de
colaborar para o seu desenvolvimento” (artigo 19-B, § 3º).
A alternativa C está incorreta, porque a lei manda os responsáveis notificarem o juiz da infância competente
(artigo 19-B, § 6º), o que não impede a comunicação ao Conselho Tutelar, mas não é este o órgão ao qual a
notificação deve obrigatoriamente ser dirigida.
A alternativa D está correta, e consiste na regra do artigo 19-B, § 2º, do ECA. Além disso, as pessoas deverão
atender aos requisitos do programa de apadrinhamento de que fazem parte.
Comentários
O art. 22 da Lei Complementar nº 64/90 trata, especificamente, da Ação de Investigação Judicial Eleitoral
(AIJE). Segundo a doutrina35, ela tem por finalidade a apuração de abuso de poder político ou econômico
cuja gravidade influa na normalidade e legitimidade do exercício do poder de sufrágio popular, bem como
para a apuração de condutas em desacordo com as normas da Lei nº 9.504/97 relativas à arrecadação e
gastos de recursos e a doação acima dos limites legais.
Questão 2. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de __________
contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
A __________ tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
manifesta má-fé.
Considerando o texto da Constituição Federal de 1988, assinale a alternativa que preenche corretamente
as lacunas:
a) 15 dias - Ação de Impugnação de Registro de Candidatura.
b) 10 dias - Ação de Impugnação de Registro de Candidatura.
c) 15 dias - Ação de Impugnação de Mandato.
d) 10 dias - Ação de Impugnação de Mandato.
e) 10 dias - Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
Comentários
A questão requer o conhecimento da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME), prevista no art. 14,
§§ 10 e 11 da CF/88, in verbis:
“Art. 14 (...)
§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção
ou fraude.
35
NETO, op. cit., p. 350.
Questão 3. De acordo com o Código Eleitoral, compete ao Tribunal Superior processar e julgar,
originariamente, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão
irrecorrível, a:
a) Ação de Impugnação de Registro de Candidatura.
b) Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
c) Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.
d) Representação por Captação Ilícita de Sufrágio.
e) Ação Rescisória Eleitoral.
Comentários
Segundo o art. 22, I, “j”, do Código Eleitoral, compete ao Tribunal Superior processar e julgar,
originariamente, a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte
dias de decisão irrecorrível.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A moratória é uma modalidade de suspensão do crédito tributário, pelo
alargamento do prazo originário para o pagamento do tributo, nos termos do artigo 151, I, do CTN. Em
caráter geral é aquela concedida pela pessoa jurídica de direito público com a competência para instituir e
cobrar o tributo (artigo 152, I, “a”, do CTN).
A alternativa B está incorreta, porque a moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será
revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as
condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o
crédito acrescido de juros de mora (artigo 155, caput, do CTN).
A alternativa C está incorreta, nos exatos termos da súmula vinculante 21 do STF: “É inconstitucional a
exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso
administrativo”. No mesmo sentido é a sumula 373 do STJ: “É ilegítima a exigência de depósito prévio para
admissibilidade de recurso administrativo”.
A alternativa D está correta, nos termos da súmula 397 do STJ: “O contribuinte do IPTU é notificado do
lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço”.
A alternativa E está incorreta, porque o lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da
obrigação e rege-se pela lei então vigente (artigo 144, caput, do CTN). O aspecto material da obrigação
tributária é o do surgimento da obrigação, e é regido pela lei que vigia no momento do fato gerador.
Questão 2. Sobre o Sistema Tributário Nacional, considerando a jurisprudência dos tribunais superiores,
assinale a correta:
a) Não incide ICMS sobre o serviço de transporte interestadual de mercadorias destinadas ao exterior.
b) A imunidade tributária para livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão aplica-se para
os livros eletrônicos, assim como aos notebooks e computadores de mesa (“desktops”), pois podem ser
utilizados como ferramentas de leitura.
c) Para fazer jus à manutenção da isenção do imposto de renda, o contribuinte deve comprovar a
contemporaneidade dos sintomas da doença e/ou a recidiva da enfermidade.
d) A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de
expansão urbana está condicionada à existência meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais,
e abastecimento de água potável, no entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
e) A responsabilidade tributária solidária do ex-proprietário, prevista Código de Trânsito Brasileiro - CTB,
abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se refere ao período posterior à sua alienação.
Comentários
A alternativa A está correta, e consiste no entendimento recentemente sumulado pelo STJ no enunciado de
n. 649: “Não incide ICMS sobre o serviço de transporte interestadual de mercadorias destinadas ao exterior”.
Vejamos, de forma mais aprofundada, a posição do STJ:
(...) 1. O art. 3º, II da LC 87/96 dispôs que não incide ICMS sobre operações e prestações que
destinem ao exterior mercadorias, de modo que está acobertado pela isenção tributária o
transporte interestadual dessas mercadorias.
A alternativa B está incorreta, porque a referida imunidade, a partir de uma interpretação teleológica, se
estende para os livros digitais e para as tecnologias que se destinem a exclusivamente possibilitar a leitura,
como os e-readers, ainda que possuam finalidades acessórias. Em contrapartida, não se aplica aos
computadores, tabletes ou celulares, porque estes não se destinam primordialmente à leitura, embora
possam funcionar para esse fim. Veja a redação da súmula vinculante 57:
Súmula vinculante 57. A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à
importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que
possuam funcionalidades acessórias
A alternativa C está incorreta, tendo em vista que o contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da
isenção do imposto de renda independentemente da demonstração da contemporaneidade dos sintomas
da doença nem da recidiva da enfermidade, consoante súmula 627 do STJ.
A alternativa D está incorreta. O entendimento do STJ é o de que “A incidência do IPTU sobre imóvel situado
em área considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à
existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN”. Mas quais são os melhoramentos em
questão? Os seguintes:
Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial
urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por
natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal;
observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois)
dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:
I - Meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - Abastecimento de água;
III - Sistema de esgotos sanitários;
IV - Rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;
V - Escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel
considerado.
§ 2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana,
constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à
indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do
parágrafo anterior.
A alternativa E está incorreta. O artigo 134 do CTN prevê a responsabilidade tributária de terceiros. Sobre
esse tema, a súmula 585 do STJ dispõe: “A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134
do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se
refere ao período posterior à sua alienação”, o que torna incorreta a alternativa.
Comentários
A alternativa A está incorreta, nos termos do artigo 157, inciso I, do CTN. De semelhante modo, o pagamento
de um crédito não importa em presunção de pagamento, quando total, de outros créditos referentes ao
mesmo ou a outros tributos.
A alternativa B está correta, e representa a súmula 460-STJ: “É incabível o mandado de segurança para
convalidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte”. Existem dois fundamentos jurídicos para
essa súmula:
A alternativa C está incorreta. A obrigação tributária tem natureza quesível, de forma que, em regra,
pagamento é efetuado na repartição competente do domicílio do sujeito passivo (devedor), conforme artigo
159 do CTN. Porém, a legislação tributária pode dispor de modo diverso, instituindo outro local para o
pagamento.
A alternativa D está incorreta. O pagamento do tributo é efetuado em moeda corrente, cheque ou vale
postal, ou, nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou por processo mecânico (CTN,
artigo 162, incisos I e II). Porém, “O crédito pago por cheque somente se considera extinto com o resgate
deste pelo sacado”, (§ 2º) e não pela mera tradição da cártula.
A alternativa E está incorreta. O prazo é de cinco anos, nos termos do artigo 168 do CTN. Sobre o tema, o
STJ editou a súmula 625, com o seguinte teor: “O pedido administrativo de compensação ou de restituição
não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168
do CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública.”.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A regra do artigo 12, § 2º, do CDC é clara no sentido de que “O produto não é
considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado”.
A alternativa B está incorreta. O artigo 12, § 3º, III, do CDC, apenas afasta a responsabilidade do fornecedor
pelo defeito do produto diante da culpa exclusiva do consumidor ou do terceiro. Assim, no entendimento da
doutrina majoritária, a culpa concorrente é incapaz de afastar a responsabilidade do fornecedor.
A alternativa C está correta, e corresponde ao artigo 12, § 1º, II, do CDC. O fornecedor é obrigado a informar
o consumidor de forma clara e adequada as características, a composição, a qualidade, os tributos incidentes
e o preço, bem como sobre os riscos inerentes ao produto (artigo 6º, III, do CDC). A falta dessa informação
que implique em dano ao consumidor caracteriza, assim, um defeito do produto, pelo qual o fornecedor
responde de maneira objetiva.
A alternativa D está incorreta. Dentre os direitos básicos do consumidor está o de ampla reparação dos danos
sofridos, materiais e morais, de natureza individual, coletiva ou difusa. Cuida-se do princípio da ampla
reparação dos danos, o que torna a alternativa incorreta.
A alternativa E está incorreta. A responsabilidade do comerciante pelo defeito do produto é subsidiária, mas
existe, e é prevista no artigo 13 do CDC. Assim, o comerciante é responsável quando: o fabricante, o
construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados (inciso I); o produto for fornecido sem
identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador (inciso II); ou não conservar
adequadamente os produtos perecíveis (inciso III).
Comentários
A alternativa A está incorreta. O STJ tem o entendimento sumulado de que o envio de cartão bancário ao
consumidor sem o seu prévio e expresso pedido é prática abusiva, configurando ato ilícito indenizável,
sujeito, ainda, à multa administrativa (Súmula 523). Mas e se o cartão estiver bloqueado? Não importa. Nos
termos expressos do artigo 39, III, do CDC, o envio de produto ao consumidor sem a sua solicitação é prática
abusiva (STJ. REsp 1199117/SP).
A alternativa B está correta. O entendimento do STJ é exatamente no sentido de que "As instituições
financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias" (Súmula 479-STJ). É que, os bancos são
fornecedores de serviços, nos termos do artigo 3º, § 2º, do CDC, e, assim, ocorrendo uma fraude ou delito
no âmbito do serviço bancário estará caracterizado o fato do serviço (CDC, artigo 14), que atrai para a
instituição bancária a responsabilidade objetiva pelo prejuízo.
A alternativa C está incorreta. Essa é uma verdadeira "pegadinha", porque o prazo máximo que a Lei dos
Planos de Saúde (lei n. 9.656/1998) institui é de 24 (vinte e quatro) horas, e não meses. A súmula 597-STJ diz
"A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de assistência
médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo
de 24 horas contado da data da contratação", o que torna incorreta a alternativa.
A alternativa D está incorreta. Repare que o artigo 42, parágrafo único, do CDC, assegura o direito ao
ressarcimento em dobro "por igual valor ao dobro do que pagou em excesso" o consumidor. Portanto, ao
contrário da regra do artigo 940 do Código Civil, nas relações de consumo o consumidor só tem direito ao
dobro daquilo que efetivamente desembolsou de modo indevido (não basta a mera cobrança indevida).
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem
será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito,
por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável
A alternativa E está incorreta. Sucede que o artigo 54, § 3º, do CDC, dispõe que "Os contratos de adesão
escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não
será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor". Logo, o erro da
alternativa está no tamanho da fonte, que deve ter o corpo ("tamanho") doze.
Saiba, ainda, que para evitar o abuso de direito, parte da doutrina entende que a fonte utilizada deve ser
uma daquelas comumente empregadas nas escritas atuais, como a Arial, a Calibri ou a Times New Roman,
impedindo o uso de fontes exóticas cujo corpo doze seja incapaz de permitir uma leitura adequada do
conteúdo do contrato.
Comentários
Gabarito: alternativa A
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural,
sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor. (Incluído pela Lei nº
14.181, de 2021)
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas tenham sido contraídas
mediante fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos celebrados dolosamente com o
propósito de não realizar o pagamento ou decorram da aquisição ou contratação de produtos e
serviços de luxo de alto valor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021).
Questão 4. Sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e o sistema constitucional de proteção do meio
ambiente, assinale a alternativa correta:
a) A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, e sendo temporária, terá o prazo mínimo de dez
anos.
b) A servidão ambiental se aplica às áreas de preservação permanente e à reserva legal mínima exigida.
c) As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
d) A responsabilidade pela sanção administrativa ambiental (multa ambiental) pode ser cobrada do
proprietário atual transgressor e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
e) Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer, ou à
obrigação de indenizar, vedando-se a incidência conjunta das cominações por violar o princípio da proibição
do bis in idem.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua,
mas se for temporária o seu prazo mínimo será de 15 (quinze) anos, nos termos do artigo 9º-B, § 1º, da Lei
n. 6.938/1981.
A alternativa B está incorreta, porque “A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação
Permanente e à Reserva Legal mínima exigida”, nos termos do artigo 9º-A, § 2º, da Lei n. 6.938/1981.
A alternativa C está correta, e é o entendimento previsto na súmula 623 do STJ: “As obrigações ambientais
possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos
anteriores, à escolha do credor”. Essa norma é retirada do artigo 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981, ao afirmar
que “o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
(...) Em resumo: a aplicação e a execução das penas limitam-se aos transgressores; a reparação
ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a própria
legislação define como "a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental" (art. 3º, inc. V, do
mesmo diploma normativo). (...)
REsp 1251697/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/04/2012, DJe 17/04/2012
A alternativa D está incorreta. A multa ambiental, por infração à legislação administrativa, portanto, somente
poderia ser cobrada do próprio transgressor, não podendo passar da pessoa do culpado. É que:
“(...) 8. Pelo princípio da intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CR88), aplicável não só ao
âmbito penal, mas também a todo o Direito Sancionador, não é possível ajuizar execução fiscal
em face do recorrente para cobrar multa aplicada em face de condutas imputáveis a seu pai.
9. Isso porque a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da
responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve
obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo
alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do
nexo causal entre a conduta e o dano. (...)
REsp 1251697/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/04/2012, DJe 17/04/2012
A alternativa E está incorreta. O entendimento do STJ é o de que “Quanto ao dano ambiental, é admitida a
condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar” (Súmula 629). Não
há “bis in idem” porque as condenações têm finalidades e naturezas diferentes.
Comentários
A alternativa A está correta, e representa o artigo 16 da Lei Complementar n. 140/2011. Além disso,
importante lembrarmos que “A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da
atribuição”, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo.
A alternativa B está incorreta, porque “A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com
antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva
licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental
competente”, conforme dispõe o artigo 14, § 4º, da Lei Complementar n. 140/2011.
A alternativa C está incorreta, porque afronta diretamente a regra do artigo 13, § 3º, da LC n. 140/2011, que
dispõe: “O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão
tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva
referida no art. 15”. Vejamos, pois, o que é a competência supletiva:
Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de
licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no
Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até
a sua criação;
II - Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado
deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III - Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no
Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles
entes federativos.
A alternativa D está incorreta. Qualquer ente federativo que tiver contato com a infração ambiental poderá
lavrar o auto respectivo, nos termos do artigo 17, § 2º, da Lei Complementar n. 140/2011. Todavia, na
concomitância de autos de infração, prevalecerá “o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização” (§ 3º).
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de
um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. (...)
§ 2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente
federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-
la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque contraria a súmula 618 do STJ: “A inversão do ônus da prova aplica-se
às ações de degradação ambiental”. O fundamento para essa súmula é o princípio da precaução: a incerteza
científica quanto à possibilidade ou não de dano ambiental a partir de determinada conduta ou omissão
deve ser interpretada no sentido de preservar o meio ambiente.
A implicação prática dessa súmula é a de que o autor precisará provar apenas o nexo de causalidade entre a
atividade exercida e a degradação ambiental. Com essa prova, fica transferido para o réu o encargo (ônus)
de provar que sua conduta não ensejou riscos ou danos para o meio ambiente (STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp
1311669/SC).
A alternativa B está incorreta. A súmula 613 do STJ é em sentido contrário: “Não se admite a aplicação da
teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental”. Essa teoria prega que situações jurídicas
consolidadas no tempo não podem ser desconstituídas em nome da segurança jurídica e da estabilidade das
relações sociais. Ela, porém, não se aplica às violações do meio ambiente, porque, do contrário, se estaria
admitindo a perpetuação do direito de poluir, de degradar o meio ambiente, bem jurídico de titularidade
difusa, e até mesmo das futuras gerações, nos termos do artigo 225 da CF/88.
A alternativa C está incorreta. O artigo 9º-A, caput, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente dispõe que
“O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou
particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda
a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes,
instituindo servidão ambiental”.
A alternativa D está correta, e representa uma das obrigações especificas atribuídas constitucionalmente ao
poder público para preservar o meio ambiente, nos termos do artigo 225, § 1º, VII, da Constituição Federal.
A alternativa E está incorreta, porque “Prescreve em cinco anos, contados do término do processo
administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração
ambiental”, consoante entendimento do STJ sumulado no enunciado de n. 467.
Comentários
O item I está errado. Ainda que a finalidade do inquérito civil seja a tutela de direitos transindividuais, há
possibilidade de que se instaure o procedimento para a defesa de determinados interesses individuais de
maneira individualizada, podendo tutelar direitos individuais relativos à criança e ao adolescente e direitos
individuais indisponíveis de idosos, nos termos dos arts. 201, V do ECA e 74, I do EI.
O item II está certo. Desde a instauração até o encerramento do inquérito civil, fica obstada a decadência do
direito de o consumidor reclamar contra vícios aparentes ou de fácil constatação no fornecimento de serviço
ou produto, nos termos do art. 26, §2°, III do CDC.
O item III está errado. O prazo para a conclusão do inquérito civil é de 1 (um) ano, sendo prorrogável por
igual prazo quantas vezes forem necessárias, nos termos do art. 9°, caput, da Res. 23/2007, contudo, seu §1°
determina que cada MP poderá estabelecer prazo inferior, bem como limitar a prorrogação.
O item IV está errado. Nos termos da LACP, ante a inexistência de fundamento para a propositura de ACP, o
membro (órgão) do MP promoverá o arquivamento do inquérito, o fazendo de maneira fundamentada,
devendo remeter, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público para homologação,
sob pena de cometimento de falta grave.
Resposta: alternativa a
Comentários
A alternativa a está correta. Ainda que a maior parte das audiências públicas tenha natureza extrajudicial, é
possível que sejam camadas de maneira judicial (dentro de um determinado processo), exemplo disto é a
possibilidade de realização em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade para
esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes
nos autos, nos termos do art. 20, §1° da Lei da ADI, dentre outras hipóteses.
A alternativa b está incorreta. O Ministério Público a exemplo dos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário, quando no desempenho de função administrativa (e em sendo cabível e necessário), deve
realizar audiência pública em conformidade com a Lei nº 9.784/1999, e ao exercer a defesa dos direitos que
lhe são de tutela, dentre outras providências possíveis, poderá o Ministério Público promover audiências
públicas, nos termos da LONMP. Deste modo, não é o único legitimado ao chamamento das audiências.
A alternativa c está incorreta. O principal fundamento da realização das audiências públicas é fazer com que
o interesse público, em sua atividade produza atos legítimos, de modo a verificar o interesse dos particulares,
que podem apresentar argumentos e provas anteriormente à tomada de determinada decisão.
A alternativa d está incorreta. A audiência pública representa, juntamente com a consulta popular, a
democratização das relações do Estado para com o cidadão, sendo uma das formas de concretização do
princípio democrático, por meio dos princípios da cidadania e da participação popular.
Resposta: alternativa a
Comentários
A alternativa a está incorreta. A Lei n° 14.133/2021 (nova lei de licitações) prevê o chamamento de audiência
pública presencial ou à distância sobre licitação que se pretenda realizar, de modo a possibilitar a
manifestação de todos os interessados.
A alternativa b está correta. O art. 39 da Lei n° 8.666/93, que ainda está em vigor, impõe que o processo
licitatório que precede a formalização de contrato deve ser iniciado por uma audiência pública.
A alternativa c está incorreta. Dada a diversidade e complexidade dos temas tratado pelas Casas do
Congresso Nacional, a análise das matérias exige a existência de comissões parlamentares especializadas,
atuando estas de forma técnica, fazendo estudo prévio das propostas apresentadas, de modo que emitem
um parecer para posterior apreciação pelo plenário, deste modo, a CF/88 em seu art. 58, §2°, II, prevê a
realização de audiências públicas com entidades da sociedade civil pelas comissões da Câmara e do Senado.
A alternativa d está incorreta. A Lei n° 10.257/2001 traz hipóteses em que a realização de audiência pública
é obrigatória, tratam-se dos casos de elaboração do plano diretor municipal (processo legislativo) ou quando
houver projeto de implantação de algum empreendimento de significativo impacto (possivelmente negativo)
para a comunidade de um determinado Município.
Resposta: alternativa b
Comentários
O item I está correto. As despesas da realização de audiências públicas caberão ao empreendedor ambientais
nos casos de empreendimentos sujeitos à realização de EIA/RIMA, enquanto que nos demais casos as
despesas caberão ao órgão ambiental competente.
O item II está correto. Quando houver solicitação de audiência pública, o órgão ambiental fornecerá as
instruções para publicação dos editais de convocação ao empreendedor, e procederá comunicação escrita,
através de correspondência, àqueles que tenham realizado a solicitação, bem como a outros agentes sociais
que eventualmente julgue necessário. Sendo necessário que sejam convocados para manifestação na
audiência pública: representante do órgão ambiental; membros da equipe de consultoria, responsáveis pela
elaboração do EIA/RIMA; empreendedor ou seu representante legal; solicitante da audiência pública e
público interessado.
O item III está incorreto. Nos termos do art. 2° da Res. CONAMA 9/87, as audiências serão obrigatórias
sempre que o Órgão de Meio Ambiente competente julgar necessário, quando for solicitada por entidade
civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos.
Resposta: alternativa c
Comentários
A alternativa a está incorreta. A litispendência é configurada nas hipóteses em que dois processos idênticos
(mesmas partes, pedido e causa de pedir) tramitam simultaneamente na justiça, nos termos do art. 337, VI,
§§ 1°, 2° e 3° do CPC.
A alternativa b está incorreta. A litispendência, em se tratando de processos coletivos, poderá ser entre duas
ações iguais (duas ações civis públicas), duas ações diferentes (uma ação civil pública e uma ação popular).
A alternativa c está incorreta. O efeito decorrente da litispendência será a extinção da demanda proposta
posteriormente ao ajuizamento de uma já existente, uma vez que havendo ajuizamento de uma demanda
idêntica a outra que já está tramitando, esta segunda deverá ser extinta sem resolução do mérito, por
litispendência, nos termos do art. 485, V do CPC.
A alternativa d está correta. Para se configurar litispendência, em se tratando de processos coletivos, basta
a verificação do mesmo objeto, causa de pedir e réu, sendo indiferente que se trate de mesmo autor, uma
vez que a sentença atingirá uma coletividade, tendo o indivíduo proposto ou não a ação.
Resposta: alternativa d
Comentários
A alternativa a está incorreta. A conexão é configurada pela similaridade de pedido ou de causa de pedir
(art. 55, CPC), enquanto a continência é a similaridade de partes, causa de pedir e o pedido de uma engloba
o pedido da outra (art. 57, CPC).
A alternativa c está incorreta. Tanto conexão quanto continência podem gerar a reunião dos processos em
um mesmo juízo para seu processamento e julgamento simultâneo.
Resposta: alternativa b
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Encerradas as questões objetivas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com
questões discursivas.
Vamos lá!
Comentários
a) A primeira pergunta, acerca da fase do constitucionalismo de que se trata o excerto apresentado, deve
ser respondida com base no entendimento de que, segundo parte da doutrina, após a Segunda Grande
Guerra entramos no neoconstitucionalismo (ou constitucionalismo contemporâneo).
Acerca do segundo ponto da questão deve-se arguir que o neoconstitucionalismo se instalou de maneira
tardia no Brasil, tendo se manifestado aqui a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.
ii) Consagração de novos grupos de direitos fundamentais, ligados à fraternidade, democracia, informação
e pluralismo;
iii) Limitação formal e material ao legislador, juntamente com imposição do dever de legislar e instrumentos
de fiscalização de omissões inconstitucionais;
Questão 2. Há 10 anos (em 05 de maio de 2011), sob a relatoria do Ministro Ayres Britto, foi julgada a ADPF
132, cujo resultado foi o reconhecimento das uniões homoafetivas e a consequente possibilidade de
formação de núcleos familiares formados por pessoas do mesmo gênero.
Comentários
a) Inicialmente, deve-se indicar aqueles que detêm legitimidade ativa em sede de ADPF, sendo os mesmos
arrolados para a propositura da ADI, nos termos do artigo 2° da Lei da ADPF (Lei n° 9.882/99).
b) Nos termos do artigo 1° da Lei da ADPF, esta ação “terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito
fundamental, resultante de ato do Poder Público.”
Ainda nos termos de seu inciso I, caberá ADPF “quando for relevante o fundamento da controvérsia
constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição”
Deve-se atentar, portanto, que ao trazer o vocábulo “ato do Poder Público” a ADPF expande seu campo de
tutela (se comparada à ADI).
Comentários
De acordo com a doutrina, o direito fundamental à boa administração é um princípio constitucional implícito,
que decorre diretamente da cláusula do Estado Democrático de Direito. Seu surgimento remonta à Carta de
Direitos Fundamentais da União Europeia, que previu expressamente o direito a uma boa administração.
Referido direito impõe ao Estado o dever de conferir tratamento imparcial, equitativo e num prazo razoável
aos assuntos dos seus administrados. Ademais, assegura ao cidadão (i) o direito de ser ouvido antes de ser
tomada qualquer medida a seu respeito (contraditório e ampla defesa); (ii) o direito de acesso aos processos
que digam respeito a sua pessoa; (iii) o respeito dos legítimos interesses da confidencialidade e do segredo
profissional e comercial; e (iv) a obrigação da administração de fundamentar as suas decisões (motivação
das decisões administrativas).
Nesse sentido, entende-se que o direito à boa administração está relacionado ao dever do Estado de
respeitar os direitos procedimentais dos administrados (devido processo legal). Ainda, confere ao cidadão o
direito à reparação pelos danos causados pelas instituições públicas ou pelos seus agentes no exercício das
respectivas funções (responsabilidade civil do Estado).
Em uma segunda perspectiva, esse direito regula o exercício do poder discricionário da Administração
Pública, que deve sempre ter como finalidade precípua da sua atuação o atingimento do interesse público
(limitação da discricionariedade administrativa).
Por fim, parte da doutrina ainda afirma que o direito à boa administração pode ser caracterizado pelo direito
do administrado à atuação eficiente do Poder Público (princípio da eficiência), com alto grau de diligência e
cuidado sobre a coisa pública, exercendo uma boa gestão dos recursos públicos para garantir a qualidade
dos serviços públicos prestados.
Comentários
A regra é a irresponsabilidade do Estado por decisões judiciais que causem dano a alguém. A doutrina
encontra dois fundamentos para tanto:
Nos termos do art. 5º, LXXV, da CF, o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença.
“Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos,
inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento.” (RE 580.252, j. 16.2.17).
Nesse caso, no entanto, o ato que gera a responsabilidade estatal não é, aparentemente, o provimento
judicial em si, mas a ausência de providências de atribuição legislativa e administrativa, não obstante o
problema do estado de coisas inconstitucional do sistema penitenciário brasileiro configure uma falha
estrutural que atrai a responsabilidade de todos os três Poderes estatais.
Pelo art. 143 do CPC, o juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando:
✓ II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a
requerimento da parte.
O parágrafo único do art. 143 dispõe que as hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois
que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de
10 (dez) dias.
Como o juiz responde regressivamente, a ação deve ser direcionada ao Estado, entendimento que já
prevalecia no STF mesmo na vigência do CPC/73 (RE 228.977, j. 5.3.02).
Veja-se que, no âmbito cível, o CPC faz menção expressa à intenção dolosa do juiz, não mencionando o ato
culposo. Nesse contexto, alguns autores - a exemplo de José dos Santos Carvalho Filho - defendem que, em
nosso ordenamento, o ato culposo do juiz, de natureza cível, que causa danos à parte, deve ser combatido
pelos instrumentos recursais e administrativos pertinentes, sendo inviável a responsabilização civil do Estado
por fatos desse tipo.
Com efeito, é razoável defender que entendimento contrário ensejaria a perda ou mitigação da
independência dos membros do Poder Judiciário em sua atuação constitucional típica.
Comentários
À luz das explanações feitas pelo Supremo Tribunal Federal, o direito à felicidade é um princípio implícito do
ordenamento jurídico brasileiro, diferentemente de outros países, em que tal princípio foi positivado nas
Cartas Políticas, como nos Estados Unidos, França e Japão. Trata-se de tentativa de assegurar a concretização
da felicidade de cada sujeito, desde que não haja interferência no bem-estar comum.
1) Viés liberal ou negativo: exige a abstenção do Estado, isto é, o poder público não pode interferir
ilegitimamente nas escolhas de ordem pessoal de cada indivíduo, de modo que cada sujeito é livre
para tomar decisões sobre a própria vida;
2) Viés positivo: não basta o Estado se abster de interferir nas escolhas pessoais de cada indivíduo, mas
é necessário, também, que garanta ferramentas para que esses sujeitos possam concretizar suas
aspirações;
3) Para concretização desse direito, ainda é exigido o meio ambiente ecologicamente saudável e a paz.
Embora a felicidade seja objeto de difícil conceituação e o direito à busca dela tenha caráter meramente
principiológico, não sendo possível afirmar que se trata de uma regra, o mencionado direito foi citado em
importantes decisões do STF e STJ, com relevante desdobramento no que se refere às pessoas transgênero.
Nesse sentido, entendeu o Tribunal da Cidadania, em 2017, que as questões relativas às pessoas transgênero
devem ser guiadas pelo direito à felicidade, sendo possível a alteração de gênero no registro civil sem
realização da cirurgia de adequação do sexo. Para o Ministro Luís Felipe Salomão, é inegável a existência de
um direito ao gênero, decorrente do sexo psicológico da pessoa humana, devendo ser considerado o direito
à felicidade.
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SOUZA, Erik Almeida Rodrigues de; RAMOS, Zélia Maria Xavier; CORDEIRO, Chirley Vanuyre Vianna. Direito à felicidade: análise
principiológica e desdobramentos no ordenamento jurídico brasileiro. Revista do Direito Público, Londrina, v. 13, n. 2, p.100-137,
ago. 2018.
Diante dessas informações, a informação dada pelo funcionário do Cartório de Registro Civil está equivocada,
tendo em vista que Miguel poderá alterar seu gênero nos registros públicos independentemente da
realização da cirurgia de adequação sexual.
b) O mesmo funcionário informou a Miguel que a pretendida alteração do seu prenome somente poderia
ser feita por meio de determinação judicial, tendo em vista o princípio da imutabilidade dos nomes, que
impede a alteração na via administrativa. A referida informação está correta?
Comentários
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos
públicos notórios.
Apesar desse dispositivo legal, em 2018, o Supremo Tribunal Federal tomou importante decisão acerca da
alteração do prenome de pessoas trans ou transgênero. Na referida decisão, com o objetivo de dar
prevalência ao princípio da dignidade humana, que é fundamento da República Federativa do Brasil, bem
como ao princípio da busca pela felicidade, além dos direitos da personalidade, o STF decidiu pela
possibilidade de alteração do nome civil dessas pessoas, asseverando importantes informações:
Desse modo, para a prática do mencionado ato, basta a livre manifestação de vontade do solicitante.
Ademais, é assegurada a confidencialidade da alteração, não podendo haver remissão a ela nos documentos
oficiais. Nesse sentido, vislumbra-se o excerto abaixo:
Direito civil - Pessoas naturais. Transgêneros e direito a alteração no registro civil. O direito à
igualdade sem discriminações abrange a identidade ou a expressão de gênero. A identidade de
gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado
apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa não deve provar o que é, e o
Estado não deve condicionar a expressão da identidade a qualquer tipo de modelo, ainda que
meramente procedimental. Com base nessas assertivas, o Plenário, por maioria, julgou
procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar interpretação
conforme a Constituição e o Pacto de São José da Costa Rica ao art. 58 da Lei 6.015/1973.
Reconheceu aos transgêneros, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da
realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, o direito à alteração de prenome e
gênero diretamente no registro civil.
O Colegiado assentou seu entendimento nos princípios da dignidade da pessoa humana, da
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, bem como no Pacto de São
José da Costa Rica. Considerou desnecessário qualquer requisito atinente à maioridade, ou
outros que limitem a adequada e integral proteção da identidade de gênero autopercebida. Além
disso, independentemente da natureza dos procedimentos para a mudança de nome, asseverou
que a exigência da via jurisdicional constitui limitante incompatível com essa proteção. Ressaltou
que os pedidos podem estar baseados unicamente no consentimento livre e informado pelo
solicitante, sem a obrigatoriedade de comprovar requisitos tais como certificações médicas ou
psicológicas, ou outros que possam resultar irrazoáveis ou patologizantes. Pontuou que os
pedidos devem ser confidenciais, e os documentos não podem fazer remissão a eventuais
alterações. Os procedimentos devem ser céleres e, na medida do possível, gratuitos. Por fim,
concluiu pela inexigibilidade da realização de qualquer tipo de operação ou intervenção cirúrgica
ou hormonal.
Vencidos, em parte os Ministros Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes, Ricardo
Lewandowski e Gilmar Mendes. O relator assentou a possibilidade de mudança de prenome e
gênero no registro civil, mediante averbação no registro original, condicionando-se a
modificação, no caso de cidadão não submetido à cirurgia de transgenitalização, aos seguintes
requisitos: a) idade mínima de 21 anos; e b) diagnóstico médico de transexualismo, presentes os
critérios do art. 3.º da Resolução 1.955/2010, do Conselho Federal de Medicina, por equipe
multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e
assistente social, após, no mínimo, dois anos de acompanhamento conjunto. Considerou
inconstitucional interpretação que encerre a necessidade de cirurgia para ter-se a alteração do
registro quer em relação ao nome, quer no tocante ao sexo. Os Ministros Alexandre de Moraes,
Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes condicionaram a alteração no registro civil a ordem
judicial e a averbação no registro civil de nascimento, resguardado sigilo no tocante à
modificação.
(STF, ADI4275/DF, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, j. 28.02 e
1º.03.2018).
Quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando
numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a
identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no
registro civil.
É, também, de lavra do Supremo Tribunal Federal os seguintes entendimentos acerca da alteração de nome
da pessoa transgênero37:
37
STF, RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15.8.2018, publicado no seu Informativo n. 911.
4) Tendo em vista a natureza sigilosa do ato, as certidões do registro não constará nenhuma observação
sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do
próprio interessado ou por determinação judicial;
Desse modo, a informação recebida por Miguel segundo a qual há necessidade de determinação judicial para
alteração do prenome também está equivocada, sendo possível proceder ao ato na via administrativa,
diretamente no Cartório de Registro Civil.
É importante destacar, por fim, que, na prática dessa alteração na via administrativa, deverá ser observado
o Provimento nº 73/2018 do Conselho Nacional de Justiça, que traz as orientações para alteração do nome
da pessoa trans.
Comentários
O Novo Código de Processo Civil quedou silente em relação à necessidade de requerimento da parte para a
concessão da tutela provisória, diferentemente do antigo diploma processual, que previa expressamente a
necessidade de pedido da parte38. Diante desse cenário, criou-se grande controvérsia sobre a possibilidade
de concessão da tutela provisória de ofício pelo magistrado, de modo que, atualmente, existem duas
correntes sobre o tema.
A primeira, defendida por autores como Fredie Didier e Marinoni, entende não ser possível a sua concessão
de ofício, salvo expressa previsão legal. Um exemplo de autorização legal é a previsão no artigo 4º da Lei nº
10.259/01, que rege os juizados especiais federais39. Para essa corrente, a concessão de ofício da tutela
provisória viola os princípios da congruência e dispositivo (arts. 2º, 141 e 492, CPC), bem como o art. 295 do
CPC, que estabelece que a tutela provisória deverá ser requerida.
Outrossim, os autores afirmam que, em razão de a efetivação da tutela provisória correr sob
responsabilidade objetiva do beneficiário (art. 302 do CPC/15), não seria possível sua concessão de ofício,
uma vez que o beneficiário não poderia ser responsabilizado pelos prejuízos decorrentes de tutela que não
requereu.
38
Art. 273, CPC/73: O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e I - haja fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu.
39
Art. 4º, Lei nº 10.259/01: O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do
processo, para evitar dano de difícil reparação.
Por sua vez, autores como Daniel Assumpção e Scarpinella Bueno, entendem que, apesar de não ser a regra,
é possível a concessão de ofício da tutela provisória em situações excepcionais, mesmo que não previstas
em lei, com fundamento no poder geral de cautela do magistrado (art. 139, IV, do CPC/15).
Entendem os autores que se o autor formulou o pedido de tutela definitiva e a única forma de evitar o
perecimento do direito é mediante o adiantamento da tutela, esta deverá ser concedida de forma
antecipada, mesmo que de ofício pelo magistrado.
Sendo assim, tratando-se de matéria controvertida em sede doutrinária, será necessária a pacificação do
tema pelos tribunais superiores, os quais terão de enfrentar a possibilidade de juízes e tribunais concederem
tutela provisória de urgência de ofício.
Questão 2. Qual o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal a respeito dos limites geográficos da
decisão proferida em sede de ação civil pública, nos termos da Lei Federal nº 7.347/85?
Comentários
O artigo 16 da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) estabelece que a sentença civil fará coisa julgada
erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Essa redação foi dada pela Lei nº 9.494/97, que tinha por finalidade restringir a produção de efeitos da
sentença proferida em ACP aos limites territoriais do juízo que a prolatou. Referida alteração foi objeto de
grandes críticas pela doutrina, especialmente em razão da violação dos princípios da celeridade, economia
processual e isonomia.
Nesse sentido, a Corte Especial do STJ já possuía o entendimento no sentido de que a eficácia das decisões
proferidas em ações civis públicas não deve ficar limitada ao território da competência do órgão jurisdicional
que prolatou a decisão40.
40
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.
41
STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info
1012).
Para a Suprema Corte, o dispositivo representa retrocesso indevido na proteção dos interesses difusos e
coletivos, estando na contramão do avanço institucional de proteção aos direitos metaindividuais. Ainda, o
dispositivo está em dissonância com o microssistema de proteção dos direitos difusos e coletivos.
Outrossim, a alteração tem a aptidão de gerar grave prejuízo à isonomia, à segurança jurídica e à efetividade
da prestação jurisdicional, uma vez que passou a ser possível que, nos casos de lesão ou ameaça a direito de
âmbito regional ou nacional, sejam proferidas decisões conflitantes em diferentes territórios.
Por fim, o STF decidiu que, ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se
a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.
Comentários
a. A dosimetria foi realizada de forma correta pois como não existem circunstâncias desfavoráveis a
João e sua capacidade econômica é baixa a fixação da pena de multa, bem como a pena de prestação
pecuniária foram feitas no mínimo legal: a primeira em 10 dias-multa e a segunda em 1 salário mínimo.
Ao substituir a pena privativa de liberdade o juiz contrariou o verbete da Súmula 171 do STJ:
b. João não praticou o crime em razão de sua função pública (servidor público do INCRA), portanto, não
há que se falar em interesse da União, devendo os fatos serem processados e julgados pela Justiça Estadual.
Sugestão de Resposta
De acordo com a situação hipotética, João tinha situação econômica difícil e possuía todas as circunstâncias
judiciais em seu favor. Assim sendo, quanto a dosimetria, foi acertada a fixação da pena de multa e da pena
de prestação pecuniária no mínimo legal, a saber, 10 dias-multa e pagamento de 1 salário mínimo como
prestação pecuniária.
Entretanto, no que tange a substituição da pena privativa de liberdade por multa, o juiz agiu de forma
equivocada ao contrariar o verbete de súmula 171 do STJ, que veda a substituição da pena privativa de
liberdade por multa quando a pena de prisão for cominada cumulativamente com uma pecuniária na
legislação especial. No caso concreto, João foi processado pelo crime do art. 14 º do Estatuto do
Desarmamento (Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido), que prevê a pena de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos de reclusão e multa. Como o tipo penal está previsto na legislação especial e comina cumulativamente
pena privativa de liberdade e pena de multa, o juiz não poderia substituir a pena privativa de liberdade por
outra de multa.
A Justiça competente para julgar os fatos é a Justiça Estadual. Embora seja servidor do INCRA, João não
praticou a conduta criminosa em razão de seu cargo, portanto, inexiste qualquer interesse da União na
situação hipotética.
Comentários
a. O magistrado não poderia ter aplicado a causa de diminuição de pena art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/06 pois José também foi condenado pela prática de associação para o tráfico. Um dos
requisitos de aplicação do “tráfico privilegiado” é que o réu não se dedique às atividades criminosas,
o que não é o caso de José.
Além disso, a jurisprudência do STJ é no sentido de ser inaplicável a causa de diminuição de pena do
tráfico de drogas quando o réu também é condenado pelo crime de associação para o tráfico:
2. Recurso provido.
(REsp 1199671/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
26/02/2013, DJe 06/03/2013).
b. A jurisprudência dos tribunais superiores não admite combinação de leis, ainda que em benefício do
réu. Na situação descrita no enunciado, o magistrado deve escolher a opção que seja mais benéfica
ao réu, sendo vedada a combinação de ambas para criar uma terceira norma não prevista pelo
legislador.
Em razão disso foi editada a Súmula 501 do STJ:
Súmula 501-STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da
aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis.
Sugestão de resposta:
a. O magistrado não poderia ter aplicado a causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
nº 11.343/06 pois José também foi condenado pela prática de associação para o tráfico de drogas.
Um dos requisitos para a aplicação da causa de diminuição de pena do tráfico de drogas é que o réu não se
dedique a atividades criminosas, o que não se verifica no exemplo do caso concreto, haja vista que José
também foi condenado pela prática do crime de associação para o tráfico de drogas. Além disso, a
jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a condenação pela prática de associação para o tráfico de
drogas impede a incidência da causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.
b. A Lei nº 11.343/06 e a Lei n° 6.368/76 não podem ser combinadas para gerar uma situação mais
favorável ao réu. A proposta apresentada pela defesa não é aceita na jurisprudência dos tribunais superiores
pois haveria a criação de uma terceira nova não esperada pelo legislador.
Dessa forma, na aplicação da pena, o juiz deve considerar a norma que seja mais favorável ao réu, ou seja,
se aplica a causa de diminuição de pena com a pena mínima de 5 anos da nova lei de drogas, ou se aplica
apenas a pena mínima de 3 anos (sem causa de diminuição de pena) prevista na antiga lei de drogas.
Questão 3. Discorra sobre o princípio da insignificância, abordando os seguintes aspectos:
a) Definição e natureza jurídica do princípio;
b) Requisitos para aplicação do princípio à luz da jurisprudência dos tribunais superiores;
c) Aplicação do princípio no caso de réus reincidentes;
d) Aplicação do princípio aos crimes de furto e de roubo.
Comentários
Sugestão de resposta
O princípio da insignificância ou da bagatela foi desenvolvido pelo jurista Claus Roxin e consiste na ideia de
que a mera subsunção do fato à norma, isto é, a verificação de que a conduta do agente se amolda no tipo
penal (tipicidade formal), é insuficiente para caracterização do delito. Isso porque, para configuração do
delito, exige-se que a conduta ofenda de forma relevante e efetivamente o bem jurídico tutelado pela norma
penal incriminadora (tipicidade material). Assim, sendo a conduta apenas formalmente típica, aplica-se o
princípio da insignificância, por ausência de tipicidade material.
A doutrina e a jurisprudência entendem que o princípio da insignificância, embora não tenha previsão
expressa na legislação penal, decorre dos princípios básicos do Direito Penal, tais como o da intervenção
mínima (subsidiariedade e fragmentariedade) e o da lesividade. Desse modo, o princípio da insignificância
representa uma causa supralegal de exclusão da tipicidade, por ausência de tipicidade material.
Destaque-se que, além dos vetores indicados pela Suprema Corte, o STJ tem adotado requisitos de ordem
subjetiva para o reconhecimento da bagatela, tais como a ausência de reiteração criminosa por parte do
agente42.
Contudo, ressalte-se que o entendimento das cortes superiores (STF/STJ) é no sentido de que o simples fato
do indivíduo ser reincidente não impede, por si só, a aplicação do princípio da insignificância, sendo
necessário analisar as peculiaridades do caso concreto, a fim de se decidir pela adequação da incidência do
princípio43.
No caso de furto, o STJ tem entendido pela aplicação do princípio da insignificância quando o valor do bem
subtraído não ultrapassar o montante de 10% do salário mínimo vigente44. Porém, tem sido afastada a
aplicação do princípio ao furto qualificado, em razão da maior reprovabilidade do comportamento45. De
qualquer modo, é preciso avaliar as circunstâncias do caso concreto, a fim de se verificar a adequação da
aplicação do princípio.
42
STJ. 6ª Turma.RHC 31612-PB, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 20/5/2014 – Informativo 541.
43
STF. Plenário. HC 123108/MG, Rel. Min Roberto Barroso, j. 3/8/2015; STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1509985, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, j. 17/4/2018.
44
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1558547, Rel. Min. Maria Thereza Assis Moura, j. 19/11/2015.
45
STJ. 5ª Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 11/02/2020.
Por fim, no crime de roubo, o entendimento é pela não aplicação do princípio, tendo em vista que, nesse
caso, o delito é complexo, envolvendo lesão ao patrimônio e à integridade física e psicológica da vítima, o
que é incompatível com os requisitos objetivos exigidos para o reconhecimento da bagatela 46.
Comentários
No Brasil, a presunção de inocência está expressamente consagrada no art. 5º, LVII, da Constituição, que
assim dispõe: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”.
Trata-se, pois, de princípio reitor do processo penal e, em última análise, pode-se verificar a qualidade de
um sistema processual através do seu nível de observância. Para além da CF/88, este princípio é amplamente
reconhecido em diplomas internacionais, tais como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (art.
9º), a Declaração Universal de Direitos Humanos (art. 11.1), o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
(art. 14.2), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, § 2º), entre outros.
Por força da regra probatória, não cabe ao acusado o ônus de provar sua inocência, mas sim à parte
acusadora o ônus de demonstrar que houve crime e que o acusado é seu autor, além de qualquer dúvida
razoável.
Neste ponto, o importante debate que se coloca é sobre a (im)possibilidade da execução provisória da pena,
assunto esse que sofreu grandes oscilações, especialmente promovidas pelo Supremo Tribunal Federal.
Em um primeiro momento, até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da
pena. Assim, o réu condenado em primeira e segunda instâncias iniciava o cumprimento provisório da pena,
ainda que sua condenação estivesse pendente de recurso especial ou recurso extraordinário.
Já a partir de fevereiro de 2009, o STF mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução
provisória da pena. Portanto, o condenado só aguardaria o julgamento dos Recursos Especial e
Extraordinário preso, se estivessem presentes os requisitos da prisão preventiva. Assim, restou consignado
que a prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar, que
46
STJ. 6ª Turma. HC 56431-SC, Rel. Min. Maria Thereza Assis Moura, j. 18/6/2015.
a execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição do direito de defesa e
que a antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição.
Já em um terceiro momento, a partir de fevereiro de 2016, a Suprema Corte voltou à primeira posição, sendo,
portanto, mais uma vez declarado que era possível a execução provisória da pena. Neste momento, concluiu-
se a partir dos seguintes argumentos:
Finalmente, no dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54, cuja relatoria cabia ao Ministro Marco
Aurélio, consignou, mais uma vez, que é proibida a execução provisória da pena - trata-se da posição vigente
no neste momento. Assim, para que o réu fique preso antes do julgamento dos Recursos Especial e
Extraordinários, faz-se necessária uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado
demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva. Neste quarto momento, os seguintes
argumentos foram utilizados:
a) o art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente,
em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. Trata-se de artigo é plenamente
compatível com a Constituição em vigor;
b) o inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de
interpretação;
c) é infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as
atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e
transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
d) a Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário
embasar suas decisões no clamor público.
Assim, nos dias presentes, o STF entende que a presunção de inocência é princípio basilar do ordenamento
brasileiro, impedindo a execução provisória da pena mesmo em caso de condenações pelo Tribunal do Júri
à penas privativas de liberdade de mais de 15 anos (conforme autoriza recente alteração no Código de
Processo Penal, por meio da Lei 13.964/2019).
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A impronúncia trata-se de decisão interlocutória mista de conteúdo terminativo, que encerra a primeira fase
do processo do rito do Tribunal do Júri (judicium accusationis), sem haver juízo de mérito. Assim, inexistindo
prova da materialidade do fato ou não havendo indícios suficientes de autoria, deve o magistrado
impronunciar o réu, isto é, julgar improcedente a denúncia e não a pretensão punitiva do Estado, conforme
art. 414, CPP. A impronúncia não aprecia o mérito para declarar a culpa ou inocência, além de acarretar a
extinção do processo antes do final do procedimento.
Já a despronúncia pode ocorrer em 2 situações. A primeira é quando, diante de recurso em sentido estrito
interposto contra a pronúncia, o próprio juiz que prolatou aquela decisão, utilizando-se do juízo de
retratação que é inerente ao RESE (art. 589, CPP), reconsidera sua decisão anterior, não submetendo o
acusado a júri popular. Já a segunda situação em que há a despronúncia ocorre quando o magistrado não
exerce a retratação da pronúncia, mas o tribunal, ao julgar o RESE interposto, revoga a decisão da pronúncia
e determina o arquivamento do processo criminal.
Por fim, a desclassificação é a decisão interlocutória que modifica a competência do juízo, não analisando o
mérito, nem pondo fim ao processo. A desclassificação pode ocorrer tanto na primeira fase do procedimento
do júri quanto na segunda.
Na fase do iuditio acusationis, a desclassificação própria ocorre quando o magistrado se convence de que
não se trata de crime doloso contra a vida, remetendo os autos ao juízo competente. A desclassificação
imprópria, por seu turno, ocorre na hipótese em que o magistrado é convencido de que se trata de crime
doloso contra a vida, mas não aquele imputado na denúncia pelo Ministério Público, permanecendo, assim,
a competência do Tribunal do Júri.
Por fim, na fase do judicium causae, a desclassificação própria ocorre quando o Conselho de Sentença
desclassifica o crime para outro delito que não é o de sua competência, sem, no entanto, especificar qual
seria o delito cometido pelo réu. Nesse caso, o juiz presidente assume total capacidade decisória para
apreciar o fato delituoso, haja vista não estar vinculado ao pronunciamento do Júri, e pode até mesmo
absolver o acusado. Já a desclassificação imprópria ocorre quando o Conselho de Sentença reconhece sua
incompetência para julgar o crime, mas aponta o delito cometido pelo acusado, hipótese em que o juiz
presidente fica vinculado e é obrigado a condenar o acusado pelo delito indicado.
Comentários
ECA Art. 106 - Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
b) Formalização do flagrante de ato infracional (ECA art. 173): se for ato infracional com violência ou grave
ameaça à pessoa, o delegado deve lavrar auto de apreensão de adolescente (ECA art. 173, caput). Por outro
lado, em se tratando de ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado pode lavrar: (i)
auto de apreensão de adolescente, ou (ii) boletim de ocorrência circunstanciada (ECA art. 173, parágrafo).
c) Destinação do adolescente (ECA art. 174): formalizado o flagrante, o delegado tem duas opções:
c.1) Liberação do adolescente para os pais ou responsável, sob compromisso de apresentação do infrator
ao MP (ECA art. 174, 1ª Parte): Nesta hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente,
cópia do auto de apreensão ou do BOC ao Ministério Público (ECA art. 176).
c.2) Não liberação do adolescente quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva
o mesmo permanecer sob internação para garantia da sua segurança ou da ordem pública (ECA art. 174, 2ª
Parte): Nessa hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente, o adolescente ao MP,
juntamente com cópia do auto de apreensão ou do BOC, ou, sendo impossível a apresentação imediata,
encaminhará o mesmo à entidade de atendimento (ECA art. 175, caput e §1º).
Caso não haja entidade de atendimento, o delegado poderá deixar o adolescente apreendido por até 24
horas, devendo este permanecer em repartição especializada para menores. Caso esta seja inexistente,
ficará em dependência comum separada da destinada aos maiores (ECA art. 175, §2º).
Noutro giro, caso o cerceamento da liberdade dê-se por ordem judicial, o infante deverá ser encaminhado
diretamente à autoridade judiciária (ECA art. 171).
Questão 2 - José e João viajavam de carro de Itaobim/MG para São Paulo/SP. Ao transitarem pela BR-381,
município de Pouso Alegre/MG, o veículo deles foi parado por Policiais Rodoviários Federais. Os ocupantes
apresentaram nervosismo e como os policiais sentiram odor característico de droga vindo do interior,
resolveram revistar, no que encontraram 20 quilos de maconha nos pertences de João e 4 quilos de cocaína
nos pertences de José, motivo pelo qual ambos foram presos em flagrante.
Apenas com os dados apresentados, responda:
a) Caso sejam condenados por tráfico de drogas, incide a majorante do tráfico interestadual de drogas?
b) É cabível apresentação de denúncia face ao cometimento de associação para o tráfico em relação a José
e João?
c) Qual a justiça competente para processamento e julgamento do caso proposto?
O tráfico interestadual de drogas está previsto no art. 40, V, da Lei 11.343/06, que estabelece o seguinte:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
STJ, súmula n° 587: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente
a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
Assim, uma vez condenados por tráfico de drogas, incide, em relação a João e José, a majorante do tráfico
interestadual de drogas, devendo as reprimendas impostas a ambos serem exasperadas de 1/6 a 2/3, na
terceira fase da dosimetria da pena.
Outrossim, os elementos trazidos, até então, não permitem imputar a prática de crime de associação para o
tráfico a José e João.
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)
anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática
reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
Conquanto esteja demonstrada a prática de tráfico de drogas por duas pessoas, a questão não traz
elementos a demonstrar o estabelecimento de uma associação criminosa voltada ao tráfico, considerando
que esta demanda a demonstração de estabilidade e permanência do vínculo associativo (Informativo n°
429/STJ – HC 149330).
Drogas (tráfico ilícito). Associação para o tráfico (condenação). Mera eventualidade (caso).
1. O delito previsto no art. 35 da Lei nº 11.343/06 não se configura diante de associação eventual,
mas apenas quando estável e duradoura, não se confundindo com a simples coautoria.
Precedentes.
2. No caso dos autos, em nenhum momento foi feita referência ao vínculo associativo
permanente porventura existente entre os agentes, mas apenas àquele que gerou a acusação
pelo tráfico em si.
(HC 149.330/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe
28/06/2010)
Registro que, conforme jurisprudência do STJ, o delito de associação para o tráfico de drogas não tem índole
hedionda.
(AgRg no HC 485.529/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 12/03/2019,
DJe 18/03/2019)
Por fim, o caso deve ser julgado pela Justiça Estadual. Isso porque, conquanto o tráfico internacional de
drogas (art. 40, I, da Lei 11.343/06) seja de competência da Justiça Federal, o chamado tráfico interestadual
de drogas (art. 40, V, da Lei 11.343/06) é de competência da Justiça Estadual, eis que esta tem competência
residual e a competência da Justiça Federal é taxativamente elencada na Constituição.
Comentários
Direcionamento de resposta.
O candidato deve discorrer sobre o princípio da prioridade absoluta, previsto no artigo 227 da Constituição
Federal, abordando a possibilidade de interpretação desse princípio com as demais garantias fundamentais
e individuais estabelecidas no artigo 5º da Lei Maior, à luz da Teoria dos Princípios de Robert Alexy, admitindo
ponderação e cedência a outros princípios constitucionais.
Deverá mencionar o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), que é
estruturado nos três eixos estratégicos de atuação: promoção, defesa e controle.
Estabelece o artigo 227 da Constituição federal que é dever da família da sociedade e do estado assegurar
à criança ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Vejamos:
Embora não esteja disciplinado no artigo 5º da Constituição federal, não há dúvidas não há dúvida de que se
trata de verdadeira garantia fundamental, cláusula pétrea, que se encerra norma constitucional de eficácia
plena exige interpretação que configura a máxima efetividade.
Partindo-se do pressuposto de que não existem direitos absolutos na Constituição, a doutrina desenvolve
teorias e métodos de interpretação que permitam a preservação e coexistência nas situações
aparentemente conflitantes. Uma dessas teorias, é a Teoria dos Princípios de Robert Alexy.
Alexy trabalha com a ideia de que princípios são normas, normas-princípios, ao lado das normas-
regras, e sua efetivação nas situações concretas demandará a ponderação frente a outros
direitos fundamentais, a partir dos critérios da adequação, da necessidade e da
proporcionalidade em sentido estrito. Esta significa observar o grau de afetação do princípio
afastado, e a necessidade de implementação daquele que é preservado.
Esse Sistema é sustentado em três eixos intimamente ligados que são os eixos da promoção, da defesa e do
controle.
De sua vez, o princípio da prioridade absoluta guarda íntima relação com o eixo da promoção.
Participam desse Sistema, em sua feição de proteção, ainda, todos os órgãos públicos incumbidos da
proteção dos direitos da criança e do adolescente, como o Judiciário, o Ministério público, a Defensoria
Pública, o Conselho Tutelar, assistência social, e a segurança pública e a sociedade civil.
Régua de correção
Questionamento Composição na
Nota
Conceituar o princípio da prioridade absoluta, indicando o fundamento 33,33%
constitucional e legal de sua aplicação.
Conceituar a teoria dos princípios de Alexy e os seus parâmetros: adequação, 33,33%
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.
Apontar o SGCA fundamentado nos três eixos: promoção, defesa e controle. 33,33%
Indicar que o princípio da prioridade absoluta está ligado ao eixo da proteção.
Comentários
a) As mais importantes fontes diretas do Direito Eleitoral são a Constituição Federal, o Código Eleitoral, a Lei
das Eleições (Lei nº 9.504/97), a Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar nº 64/90), a Lei dos Partidos
Políticos (Lei nº 9.096/95), além das resoluções do TSE. Por outro lado, a jurisprudência e a doutrina são
exemplos de fontes indiretas do Direito Eleitoral.
b) São exemplos de princípios específicos do Direito Eleitoral: princípio da lisura das eleições; princípio do
aproveitamento do voto; princípio da celeridade; princípio da anualidade; e princípio da moralidade eleitoral.
c) São exemplos de ações eleitorais: Ação de Impugnação de Registro de Candidatura; Ação de Investigação
Judicial Eleitoral; Ação de Impugnação de Mandato Eletivo; Representação do art. 96 da Lei nº 9.504/97;
Representação por Captação Ilícita de Sufrágio; Representação para a Apuração de Arrecadação e Gastos
Ilícitos; e Ação Rescisória Eleitoral.
Comentários
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA (Lei 6.938/81) instituiu um sistema de responsabilização
por ilícitos ambientais, estruturando órgãos para o exercício do poder de polícia ambiental fiscalizador,
conceituando a figura do poluidor e estabelecendo a tríplice responsabilização para os que descumpram as
medidas necessárias à preservação ambiental: penal, administrativa e cível.
O fundamento jurídico da responsabilidade civil do poluidor ambiental está nos seguintes dispositivos da Lei
da PNMA:
(...)
Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.
CF, art. 225, § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.
✓ Objetiva: a doutrina entende que a responsabilidade objetiva está implícita na Constituição Federal
e é, também, extraída da própria literalidade do art. 14, § 1º, da Lei da PNMA. O poluidor ambiental
será obrigado a reparar o dano ambiental decorrente de sua atividade independentemente da
existência de culpa, bastando a demonstração do dano e do nexo de causalidade entre ele a conduta
do poluidor. Ademais, tal responsabilidade é lastreada na teoria do risco integral, em que não se
quebra o vínculo de causalidade pelo caso fortuito ou força maior.
✓ Solidária: a responsabilidade civil por danos ambientais é solidária entre todos os poluidores
diretos e indiretos, como decorrência legal do art. 3º, IV, da Lei da PNMA. O litisconsórcio é
facultativo. Mas, cuidado: apesar de ser solidária, objetiva e ilimitada, a atual jurisprudência
dominante no STJ é no sentido de que a responsabilidade civil do Poder Público é de execução
subsidiária, na hipótese de omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar que foi
determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto.
✓ Imprescritível: o fundamento está no fato de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é
essencial à sadia qualidade de vida, sendo considerado um direito fundamental de terceira dimensão
(STJ, REsp 1644195/SC, j. 27.4.17). Anote-se que, nos termos da súmula 613 do STJ, não se admite a
aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
✓ Com inversão do ônus da prova: a responsabilidade civil por danos ambientais conta com a
garantia processual da inversão do ônus da prova, transferindo-se ao empreendedor da atividade
potencialmente poluidora o ônus de demonstrar a segurança do seu empreendimento, com base na
compreensão do art. 6º, VIII, do CDC, c/c art. 21 da LACP e com base material no princípio da
precaução. É o que se extrai da súmula 618-STJ: “A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de
degradação ambiental.”
Questão 2. João ingressou no interior da Universidade Federal do Paraná para utilizar um caixa eletrônico
de propriedade do Banco X. Suponha que o estacionamento da Universidade conta com segurança privada,
o que João afirma ser um atrativo para a utilização daquele caixa eletrônico em específico, embora o fosse
aberto ao público em geral. No estacionamento, João foi rendido por assaltantes armados que subtraíram
o seu veículo, seus cartões de crédito e seus documentos pessoas. A vítima não era aluno da Universidade.
A partir desses fatos, e considerando a jurisprudência do STJ, discorra sobre a responsabilidade civil da
instituição financeira e da Universidade no caso narrado.
Comentários
Súmula 130-STJ. A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de
veículo ocorridos em seu estacionamento.
Essa responsabilidade existe até mesmo se o estacionamento for gratuito nos shoppings, hotéis e
hipermercados, por exemplo, tanto pela segurança dos veículos, quanto dos clientes (STJ. EREsp
419.059/SP).
Agora, atente-se para o fato de que a súmula fala em "dano" e em "furto". Nada diz quanto aos roubos
sofridos por clientes.
Quanto aos roubos sofridos pelos clientes (consumidores), o STJ tem outro posicionamento, pois nem sempre
reconhecerá a responsabilidade do fornecedor.
É que, em alguns casos, o roubo caracterizará fortuito externo à atividade desenvolvida pelo
fornecedor, assim entendido como aquele que não se insere na órbita da organização da
empresa. Em outras palavras, um fato que não guarda nenhuma relação de causalidade com a
Não se aplica a súmula 130 no roubo de cliente de lanchonete de fast-food, se o fato ocorreu
no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. Nesse caso, estác configurado o
fortuito ou a força maior apta a afastar o dever de indenizar.
Então, ainda na esteira do STJ, caso se verifique um fortuito interno à atividade ou a quebra da legítima
expectativa de segurança, estará presente a responsabilidade civil de consumo pelo roubo sofrido pelo
consumidor.
Mas e o roubo sofrido por João, que não era aluno da Universidade e ocorreu no estacionamento externo
desta?
Para o STJ, não houve demonstração de falha na segurança interna da agência bancária (caixa
eletrônico), que propiciasse a atuação dos criminosos fora das suas dependências. Portanto, não
há falar em vício na prestação de serviços (STJ. 4ª Turma. REsp 1487050/RN).
É certo que as instituições educacionais possuem o dever de zelar pela incolumidade física e psicológica de
seus alunos durante o tempo em que se encontrem em suas dependências, submetidos às rotinas típicas da
atividade discente. Não observada a segurança devida, o fornecedor de serviços, a Universidade, responderá
pela reparação dos danos causados, por configurarem defeito relativo à prestação dos serviços (STJ. 4ª
Turma. REsp 1487050/RN).
Porém, no problema proposto, análogo a um caso julgado pelo STJ, a vítima não era aluno da Universidade,
e o estacionamento se encontrava em uma área aberta e gratuita, de livre acesso a qualquer pessoa que
desejasse utilizá-lo.
Não era possível à Universidade, portanto, impedir a ação dos sequestradores, o que torna inviável a sua
responsabilização pelo infortúnio.
Quanto à instituição financeira, nos casos em que o estacionamento representa mera comodidade, em área
aberta, gratuita e de acesso livre a todos, não há responsabilidade desta última por crimes como roubos e
sequestros, porque tais circunstâncias constituem fato de terceiro, excludente de responsabilidade por
configurar fortuito externo.
Vale acrescentar:
(...) A responsabilidade das instituições financeiras pelos crimes cometidos contra seus clientes
é objetiva sempre que o evento ocorrer no interior de suas agências, justamente por ser o local
onde a atividade de risco é exercida, atraindo a ação de delinquentes (...) (REsp 1487050/RN,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe 04/02/2020)
Régua de correção.
Prosseguir apresentando o posicionamento do STJ quanto aos roubos sofridos por 33,33%
clientes nos mais variados serviços, indicando que a responsabilidade existirá
quando constituir fortuito interno à atividade, ou violar a legítima expectativa de
segurança do consumidor.
Concluir pela ausência de responsabilidade civil da Universidade, porque a vítima 33,33%
não era aluna da instituição, e o estacionamento configurava mera comodidade,
porque aberto ao público, de livre acesso. Com idênticos fundamentos, concluir
pela inexistência de responsabilidade da instituição financeira.
Comentários
As respostas das indagações estão ligadas ao dano ambiental em sede de ação civil pública, sendo necessário
conhecimento tanto da legislação quanto de jurisprudência.
a) A primeira pergunta tem como base a própria LACP, que define dentre seus objetos a responsabilização
por danos causados ao meio ambiente:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados
l - ao meio-ambiente;
[...]
Desta maneira, o desmatamento é afronta aos interesses transindividuais por um meio ambiente saudável
e protegido, sendo a ACP um instrumento válido.
O STJ entende que do dano ecológico emerge obrigação propter rem de reparar, tendo fixado as seguintes
teses:
“Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de
Área de Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar
“Não há falar em direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio
ambiente.”
Dessarte, Inácio poderá ser responsabilizado civilmente pelo desmatamento, devendo reparar os danos
ambientais causados por Jairo anteriormente à aquisição da propriedade.
Questão 12. Disserte, de maneira que traga ao menos um dispositivo legal, sobre o princípio da máxima
amplitude do processo coletivo.
Comentários
Entende-se como princípio da máxima amplitude (ou da não-taxatividade) do processo coletivo a ideia de
que para a defesa dos interesses metaindividuais, são admissíveis todas as espécies de ações capazes de
garantir a tutela adequada.
Qualquer ação, em tese individual, pode se transformar em uma ação coletiva, tendo em vista que a
previsão da tutela coletiva não é taxativa e admite o incremento de pedidos ordinariamente individuais.
Desta maneira, a ação civil pública, a ação popular, dentre outras, são instrumentos clássicos de tutela
coletiva no Brasil que não vão excluir outros, como, por exemplo, a reintegração de posse coletiva ou até
uma monitória coletiva, desde que se discutam nesses processos direitos ou interesses metaindividuais.
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas
as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Ainda importa, por fim, evidenciar que, mesmo que o artigo acima não disponha de maneira
específica sobre os interesses coletivos, é forçosa sua aplicabilidade como decorrência da posição
nuclear do CDC no microssistema da tutela coletiva.