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Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
04 de Março de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 12
Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4
1.2.2 - Direito Administrativo – Lei do processo Administrativo Federal – Lei nº 9.784/99 .......................................... 14
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 12
1.7.1 - As penas alternativas nos crimes de homicídio e lesões corporais culposos na direção de veículo automotor, se
o agente conduz veículo sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência, previstos no Código de Trânsito Brasileiro .............................................................................................. 41
1.7.2 - O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acerca do crime do art. 90, da Lei n.º 8.666/1993: ....... 43
1.11.1 - O art. 16 da lei da ação civil pública e sua necessária releitura ........................................................................ 50
3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 90
49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e
15 questões discursivas.
Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
ecj@estrategiaconcursos.com.br
Boa leitura!
As funções essenciais à justiça são descritas como complexo orgânico que, embora não conformando um
quarto Poder do Estado, recebeu a seu cargo a função de provedoria da justiça (QUINTÃO, Geraldo Magela.
Das Funções Essenciais à Justiça. Brasília: Anpaf, 1997, p. 7).
As funções essenciais à justiça, no âmbito das carreiras de Estado, são decompostas em Advocacia Pública,
Defensoria Pública e Ministério Público.
De acordo com José Alfredo Baracho, “operou-se uma verdadeira extensão das magistraturas: à magistratura
judicante (art. 92), com a mesma hierarquia constitucional, alinham-se a ‘magistratura de partido’ (arts. 131
e 132), ‘magistratura instrumental’ (art. 134) e ‘magistratura de pé’ (arts. 127 a 130)” (BARACHO, José
Alfredo. Parecer. Revista de Direito da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, nº 7, 1995, p. 199-
200).
5Pelo fio do exposto, a Advocacia Pública é dedicada à tutela dos interesses públicos cometidos a cada
entidade estatal.
A Defensoria Pública é deliberada à tutela dos interesses, individuais e metaindividuais, dos necessitados
econômicos e jurídicos.
O Ministério Público é destinado à tutela dos interesses difusos, coletivos, individuais homogêneos e
individuais indisponíveis, sujeito o Estado ao dever de garantir a igualdade de tratamento entre elas,
conforme será exposto nas respostas às questões a seguir.
Vamos lá?
1. Procedimento Administrativo
O procedimento administrativo está regulado pelos artigos 14 a 16 da LIA. De acordo com o art. 14, qualquer
pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada investigação
destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação do representante,
as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento.
2. Procedimento Judicial
A ação de improbidade, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa
jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar 1. Observe, então, que há uma
legitimidade ativa concorrente entre o MP e a PJ interessada.
As ações de improbidade administrativa admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos
termos da Lei de improbidade.
Havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo
para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias.
1
Normalmente, as ações de improbidade administrativa são precedidas de Arresto.
Atente-se ainda que existindo meros indícios de cometimento de atos enquadrados como improbidade
administrativa, a petição inicial da ação de improbidade deve ser recebida pelo juiz, pois, na fase inicial
prevista no art.17, §§ 7ª, 8ª e 9ª da Lei 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de
possibilitar o maior resguardo do interesse público.
No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, a pessoa jurídica de direito público ou
de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá
atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante
legal ou dirigente. A isso se dá o nome de legitimação bifronte da pessoa jurídica.
O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei,
sob pena de nulidade.
Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para
oferecer manifestação por escrito, dentro do prazo de quinze dias. De acordo com o STJ, a simples ausência
da referida notificação não acarreta a nulidade processual de plano, ocasionando apenas nulidade relativa,
motivo pelo qual somente será reconhecida se comprovados eventuais prejuízos decorrentes do
descumprimento da notificação, sendo uma decorrência do princípio do pas de nullité sans grief.
Prescrição
De acordo com o art. 23 da LIA, a prescrição dos atos de improbidade administrativa será:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a
bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação de contas final das
entidades consideradas sujeitos passivos secundários.
ATENÇÃO!!! Se a pretensão se fundar em reparação dos danos ao erário, deve-se ter em mente que esta
pretensão é imprescritível, nos termos do art. 37, § 5º da CR/88.
2
Recurso Extraordinário (RE) 852475. Julgamento dia 08 de agosto de 2018.
Ademais, o STJ entende que O termo inicial da prescrição em improbidade administrativa em relação a
particulares que se beneficiam de ato ímprobo é idêntico ao do agente público que praticou a ilicitude.3
Trata-se de entendimento firmado pela Súmula 634 do STJ.
Por outro lado, entendeu o STJ que em caso de concurso de agentes, a prescrição da ação de improbidade é
contada individualmente.4
Ainda, o STJ entende que no caso de agentes políticos reeleitos, o termo inicial do prazo prescricional nas
ações de improbidade administrativa deve ser contado a partir do término do último mandato. 5 Ademais,
observe O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida contra prefeito reeleito só se
inicia após o término do segundo mandato, ainda que tenha havido descontinuidade entre o primeiro e o
segundo mandato em razão da anulação de pleito eleitoral, com posse provisória do Presidente da Câmara,
por determinação da Justiça Eleitoral, antes da reeleição do prefeito em novas eleições convocadas. 6
Ainda, a interrupção da prescrição das ações de improbidade administrativa ocorre com a simples
propositura da ação e não com a citação válida.
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de
Contas.
É em razão do inciso I que o STJ não aplica o Princípio da Insignificância nos casos de improbidade
administrativa.
Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá
a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a
indisponibilidade dos bens do indiciado.
A medida de indisponibilidade de bens é considerada uma tutela de evidência, haja vista que não há a
necessidade de comprovação de perigo de dano ou risco de dilapidação do patrimônio do sujeito.
A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o
acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. Contudo, importante observar a jurisprudência
3
STJ AgRg no REsp 1510589/SE,Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 26/05/2015,DJE 10/06/2015
4
STJ. REsp 1230550/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 26/02/2018.
5
STJ AgRg no AREsp 161420/TO,Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,Julgado em 03/04/2014,DJE 14/04/2014
6
STJ. REsp 1.414.757-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015, DJe 16/10/2015
do STJ que afirma aplicar a medida cautelar de indisponibilidade dos bens do art. 7º aos atos de improbidade
administrativa que impliquem violação dos princípios da administração pública - no art. 11 da LIA.7
A indisponibilidade de bens prevista na LIA pode alcançar tantos bens quantos necessários a garantir as
consequências financeiras da prática de improbidade, excluídos os bens impenhoráveis assim definidos por
lei.8
Os bens de família podem ser objeto de medida de indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade
Administrativa, uma vez que há apenas a limitação de eventual alienação do bem.9
Jurisprudências Importantes
A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública. O legislador
estabeleceu premissa que deve orientar o agente público em toda a sua atividade, a saber: "Art.
4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos
assuntos que lhe são afetos". Em reforço, o art. 11, I, da mesma lei, reitera que configura
improbidade a violação a quaisquer princípios da administração, bem como a deslealdade às
instituições, notadamente a prática de ato visando a fim proibido em lei ou regulamento. Tais
disposições evidenciam que o legislador teve preocupação redobrada em estabelecer que a grave
desobediência - por parte de agentes públicos - ao sistema normativo em vigor pode significar
ato de improbidade. Com base nessas premissas, a Segunda Turma já teve oportunidade de
decidir que "A Lei 8.429/1992 objetiva coibir, punir e afastar da atividade pública todos os
agentes que demonstraram pouco apreço pelo princípio da juridicidade, denotando uma
degeneração de caráter incompatível com a natureza da atividade desenvolvida" (REsp
1.297.021-PR, DJe 20/11/2013). É certo que o STJ, em alguns momentos, mitiga a rigidez da
interpretação literal dos dispositivos acima, porque "não se pode confundir improbidade com
simples ilegalidade. A improbidade é ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo
da conduta do agente. Por isso mesmo, a jurisprudência do STJ considera indispensável, para a
caracterização de improbidade, que a conduta do agente seja dolosa, para a tipificação das
condutas descritas nos artigos 9º e 11 da Lei 8.429/92, ou pelo menos eivada de culpa grave, nas
do artigo 10" (AIA 30-AM, Corte Especial, DJe 28/9/2011). A referida mitigação, entretanto,
ocorre apenas naqueles casos sem gravidade, sem densidade jurídica relevante e sem
demonstração do elemento subjetivo. De qualquer maneira, a detida análise da Lei n. 8.429/1992
demonstra que o legislador, ao dispor sobre o assunto, não determinou expressamente quais
seriam as vítimas mediatas ou imediatas da atividade desonesta para fins de configuração do ato
7
STJ AgRg no REsp 1311013/RO,Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,Julgado em 04/12/2012,DJE 13/12/2012
8
STJ AgRg no AREsp 436929/RS,Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 21/10/2014,DJE 31/10/2014
9
REsp 1461882/PA,Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 05/03/2015,DJE 12/03/2015
como ímprobo. Impôs, sim, que o agente público respeite o sistema jurídico em vigor e o bem
comum, que é o fim último da Administração Pública. Essa ausência de menção explícita
certamente decorre da compreensão de que o ato ímprobo é, muitas vezes, um fenômeno
pluriofensivo, ou seja, ele pode atingir bens jurídicos diversos. Ocorre que o ato que apenas
atingir bem privado e individual jamais terá a qualificação de ímprobo, nos termos do
ordenamento em vigor. O mesmo não ocorre, entretanto, com o ato que atingir bem/interesse
privado e público ao mesmo tempo. Aqui, sim, haverá potencial ocorrência de ato de
improbidade. Por isso, o primordial é verificar se, dentre todos os bens atingidos pela postura do
agente, existe algum que seja vinculado ao interesse e ao bem público. Se assim for, como
consequência imediata, a Administração Pública será vulnerada de forma concomitante. No caso
em análise, trata-se de discussão sobre séria arbitrariedade praticada por policial, que, em tese,
pode ter significado gravíssimo atentado contra direitos humanos. Com efeito, o respeito aos
direitos fundamentais, para além de mera acepção individual, é fundamento da nossa República,
conforme o art. 1º, III, da CF, e é objeto de preocupação permanente da Administração Pública,
de maneira geral. De tão importante, a prevalência dos direitos humanos, na forma em que
disposta no inciso II do art. 4º da CF, é vetor de regência da República Federativa do Brasil nas
suas relações internacionais. Não por outra razão, inúmeros são os tratados e convenções
assinados pelo nosso Estado a respeito do tema. Dentre vários, lembra-se a Convenção
Americana de Direito Humanos (promulgada pelo Decreto n. 678/1992), que já no seu art. 1º,
dispõe explicitamente que os Estados signatários são obrigados a respeitar as liberdades
públicas. E, de forma mais eloquente, os arts. 5º e 7º da referida convenção reforçam as suas
disposições introdutórias ao prever, respectivamente, o "Direito à integridade pessoal" e o
"Direito à liberdade pessoal". A essas previsões, é oportuno ressaltar que o art. 144 da CF é
taxativo sobre as atribuições gerais das forças de segurança na missão de proteger os direitos e
garantias acima citados. Além do mais, é injustificável pretender que os atos mais gravosos à
dignidade da pessoa humana e aos direitos humanos, entre os quais a tortura, praticados por
servidores públicos, mormente policiais armados, sejam punidos apenas no âmbito disciplinar,
civil e penal, afastando-se a aplicação da Lei da Improbidade Administrativa. Essas práticas
ofendem diretamente a Administração Pública, porque o Estado brasileiro tem a obrigação de
garantir a integridade física, psíquica e moral de todos, sob pena de inúmeros reflexos jurídicos,
inclusive na ordem internacional. Pondere-se que o agente público incumbido da missão de
garantir o respeito à ordem pública, como é o caso do policial, ao descumprir com suas
obrigações legais e constitucionais de forma frontal, mais que atentar apenas contra um
indivíduo, atinge toda a coletividade e a própria corporação a que pertence de forma imediata.
Ademais, pertinente reforçar que o legislador, ao prever que constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de lealdade às instituições, findou por tornar de interesse público,
e da própria Administração em si, a proteção da imagem e das atribuições dos entes/entidades
públicas. Disso resulta que qualquer atividade atentatória a esse bem por parte de agentes
públicos tem a potencialidade de ser considerada como improbidade administrativa. Afora isso,
a tortura perpetrada por policiais contra presos mantidos sob a sua custódia tem outro reflexo
jurídico imediato. Ao agir de tal forma, o agente público cria, de maneira praticamente
automática, obrigação ao Estado, que é o dever de indenizar, nos termos do art. 37, § 6º, da CF.
Na hipótese em análise, o ato ímprobo caracteriza-se quando se constata que a vítima foi
torturada em instalação pública, ou melhor, em delegacia de polícia. Por fim, violência policial
arbitrária não é ato apenas contra o particular-vítima, mas sim contra a própria Administração
Pública, ferindo suas bases de legitimidade e respeitabilidade. Tanto é assim que essas condutas
são tipificadas, entre outros estatutos, no art. 322 do CP, que integra o Capítulo I ("Dos Crimes
Praticados por Funcionário Público contra a Administração Pública"), que por sua vez está
inserido no Título XI ("Dos Crimes contra a Administração Pública"), e também nos arts. 3º e 4º
da Lei n. 4.898/1965, que trata do abuso de autoridade. Em síntese, atentado à vida e à liberdade
individual de particulares, praticado por agentes públicos armados - incluindo tortura, prisão
ilegal e "justiciamento" -, afora repercussões nas esferas penal, civil e disciplinar, pode configurar
improbidade administrativa, porque, além de atingir a pessoa-vítima, alcança, simultaneamente,
interesses caros à Administração em geral, às instituições de segurança pública em especial, e ao
próprio Estado Democrático de Direito. Precedente citado: REsp 1.081.743-MG, Segunda Turma,
julgado em 24/3/2015.REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em
26/8/2015, DJe 17/2/2016.
Não comete ato de improbidade administrativa o médico que cobre honorários por
procedimento realizado em hospital privado que também seja conveniado à rede pública de
saúde, desde que o atendimento não seja custeado pelo próprio sistema público de saúde. Isso
porque, nessa situação, o médico não age na qualidade de agente público e, consequentemente,
a cobrança não se enquadra como ato de improbidade. Com efeito, para o recebimento de ação
por ato de improbidade administrativa, deve-se focar em dois aspectos, quais sejam, se a
conduta investigada foi praticada por agente público ou por pessoa a ele equiparada, no exercício
do munus publico, e se o ato é realmente um ato de improbidade administrativa. Quanto à
qualidade de agente público, o art. 2º da Lei 8.429/1992 o define como sendo “todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. Vale destacar, na apreciação desse ponto,
que é plenamente possível a realização de atendimento particular em hospital privado que seja
conveniado ao Sistema Único de Saúde – SUS. Assim, é possível que o serviço médico seja
prestado a requerimento de atendimento particular e a contraprestação ao hospital seja
custeada pelo próprio paciente – suportado pelo seu plano de saúde ou por recursos próprios.
Na hipótese em análise, deve-se observar que não há atendimento pelo próprio SUS e não há
como sustentar que o médico tenha prestado os serviços na qualidade de agente público, pois a
mencionada qualificação somente restaria configurada se o serviço tivesse sido custeado pelos
cofres públicos. Por consequência, se o ato não foi praticado por agente público ou por pessoa a
ele equiparada, não há falar em ato de improbidade administrativa. REsp 1.414.669-SP, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014.
1. Conforme decidido pela Corte Especial, no julgamento da Rcl 2.790/SC, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJe 4/3/10, a Lei8.429/92 é aplicável aos agentes políticos municipais, tais como
prefeitos, ex-prefeitos e vereadores.
Meios Específicos
Estes meios de controle judicial, por sua vez, são as ações que exigem a presença do Poder Público em um
dos polos da demanda, seja das Pessoas Jurídicas públicas ou dos agentes públicos. Pode-se dar como
exemplo o mandado de segurança, a ação popular, o habeas data e a ação civil pública.
Continuando nossos estudos, vamos agora passar na primeira parte da Lei 9.784/99.
Comentários Iniciais
A Lei 9.784/99 é aplicada aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
de função administrativa.
OBS: 1) O princípio da Verdade Material norteia a atuação do administrador público, quando se fala de
processo administrativo. Diante disso, o próprio administrador pode buscar as provas para alcançar à sua
conclusão. Portanto, o que se quer no processo administrativo é a busca pela verdade real.
2) O STJ tem entendimento de que, em nome do principio da segurança jurídica, na ausência de lei local
sobre processo administrativo, Estados e Municípios devem aplicar a Lei n. 9.784/99. 10
3) Outro princípio que se aplica ao processo administrativo é o Princípio da Razoável Duração do processo,
“o qual mantém vínculo estreito com o da eficiência e visa à tramitação, sem delongas injustificadas, do
processo administrativo, para que a decisão seja tomada no menor tempo possível”.11
4) De acordo com a Súmula vinculante nº5 do STF a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
5) O STF, no julgamento do MS 7415, firmou posição de que a denúncia anônima é apta a deflagrar o processo
administrativo disciplinar. Contudo, observe que a instauração do PAD não pode se dar exclusivamente com
base em denúncia anônima. A Administração Pública, em seu dever de autotutela, deve realizar
10
STJ. AgRg no REsp 1092202 DF 2008/0212281-9. 18/04/2013
11
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 19ª ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. P. 208
procedimentos de investigações internas e preliminares com o objetivo de apurar a veracidade dos fatos que
lhe são comunicados.
7) Observe que, de acordo com a súmula 633 do STJ, a Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz
respeito ao prazo decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública
federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e
específica que regule a matéria.
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências,
salvo autorização em lei;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida
superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos
direitos dos administrados;
12
STJ. AgInt no AREsp 629004/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/06/2019, DJe
13/06/2019
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a
que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam
assegurados:
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos
e o cumprimento de suas obrigações;
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista
dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração
pelo órgão competente;
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força
de lei.
São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos.
Do Início do Processo
O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pedido de interessado. Observe que, diferente do
Processo Civil, o processo administrativo pode se iniciar de ofício pela autoridade administrativa. A isso tem-
se o princípio da Oficialidade.
O requerimento inicial do interessado, salvo casos em que for admitida solicitação oral, deve ser formulado
por escrito e conter os seguintes dados:
Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão
ser formulados em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
Dos Interessados
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de direitos ou interesses individuais ou no exercício
do direito de representação;
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses que possam ser afetados pela
decisão a ser adotada;
São capazes, para fins de processo administrativo, os maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em
ato normativo próprio.
II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais situações
ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à autoridade competente,
abstendo-se de atuar.
A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.
Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com
algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.
O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, SEM efeito suspensivo.
1. Quanto à Forma
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.
Circular – É o ato administrativo que as autoridades se valem para transmitir ordens internas uniformes a
seus subordinados.
Resolução e Portaria – São atos emanados de autoridades outras que não o chefe do executivo.
Alvará – É a forma por meio do qual, a Administração confere a autorização ou a licença ao particular para o
exercício de determinada atividade. O alvará é a FORMA do ato, ao passo que a licença e a autorização são
o CONTEÚDO do ato.
2. Quanto ao Conteúdo
Licença – É ato unilateral e vinculado por meio do qual administração pública concede ao administrado a
possibilidade de realizar determinada atividade.
A autorização pode ter a acepção de uso de espaço público, isto é, é o ato unilateral e discricionário que a
Administração possibilidade ao particular o uso privativo de bem público, em caráter precário.
Ademais, a autorização pode ter o sentido de autorização de serviço público, ou seja, uma das formas de
delegação de serviço público que o particular pode desempenhar.
Permissão – É ato unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração faculta ao administrado a
utilização privativa de determinado bem público.
Admissão – É ato unilateral e vinculado por meio do qual a Administração reconhece ao particular o direito
à prestação de determinado serviço público, desde que preencha os requisitos legais.
Aprovação – É ato unilateral e discricionário pelo qual a Administração exerce o controle do ato
administrativo. A aprovação pode gerar um controle a priori ou a posteriori.
Homologação – É o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração faz a análise da legalidade de ato
praticado pelos seus órgãos como forma de lhe dar eficácia. O melhor exemplo de homologação é o ato da
autoridade que homologa o procedimento do concurso público.
Visto – É o ato administrativo unilateral pelo qual determinada autoridade atesta a legitimidade formal de
outro ato administrativo.
Parecer – É o ato pelo qual os órgãos consultivos da Administração emitem opinião sobre determinados
assuntos, sejam jurídicos, sejam técnicos.
O parecer obrigatório é aquele que a lei o exige como pressuposto para a prática do ato final. Perceba que a
obrigatoriedade está relacionada à solicitação do parecer.
Ainda, o parecer pode ser vinculante, ou seja, a administração é obrigada a solicitá-lo e também a acatar a
sua conclusão. O melhor exemplo é o caso da aposentadoria por invalidez. A administração, para conceder
essa aposentadoria, deve solicitar o parecer do órgão médico oficial e acatar a decisão deste órgão.
Em suma, vige a premissa de que, assim como ao credor há o direito de ver a obrigação pactuada cumprida,
o devedor também tem o direito, a faculdade, de se valer da consignação para ver-se livre do liame
obrigacional.
Nesse sentido, Antonio Carlos Marcato, citado por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho 13:
De acordo com a literalidade da lei14, o depósito pode ocorrer na esfera judicial (consignação judicial) ou
extrajudicial (consignação extrajudicial); outrossim, a consignação pode ter como objeto bens móveis e
imóveis, e sempre está relacionada a uma obrigação de dar.
No caso de a consignação ser em dinheiro, o devedor pode optar pelo depósito extrajudicial, como dito
anteriormente, ou pelo ajuizamento da ação competente. Por esse motivo,
essa regra de pagamento tem natureza mista ou híbrida, ou seja, é instituto de direito civil e
processual civil ao mesmo tempo (direito material + instrumental). O Código Civil utiliza a
expressão pagamento em consignação, enquanto o Código de Processo Civil, o termo
consignação em pagamento15.
É imperioso que se estabeleça que inexiste consignação em relação à obrigação de fazer ou de não fazer. A
consignação libera o devedor do vínculo obrigacional, isentando-o dos riscos e de eventual obrigação de
pagar os juros moratórios e a cláusula penal (ou multa contratual). (...) esse depósito afasta a eventual
aplicação das regras de inadimplemento, seja ele absoluto ou relativo16
No que tange à terminologia ideal aos sujeitos da consignação, para compreensão da matéria, é a que
identifica o devedor, que é sujeito ativo da consignação, com a expressão “consignante”, e o credor, em face
de quem se consigna, com a expressão “consignatário”, devendo ser reservada a expressão “consignado”
para o bem objeto do depósito, judicial ou extrajudicial17.
O artigo 335 do Código Civil estabelece um rol de situações em que a consignação poderá ocorrer:
13
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 476.
14
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida,
nos casos e nas formas legais.
15
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 670.
16
Idem.
17
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 475.
a) Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar a receber o pagamento, ou dar quitação na devida
forma (hipótese de mora accipiendi, mora no recebimento): Note-se que a norma exige que a recusa seja
justa – contudo, sua constatação poderá apenas ser aferida, em definitivo, judicialmente. No caso da recusa
em dar quitação, Carlos Roberto Gonçalves entende que é necessário que tenha havido oferta real, efetiva,
incumbindo ao autor prová-la, bem como a recusa injustificada do credor. A este, incumbe (...) o ônus de
provar a existência da justa causa para a recusa18.
b) Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidas (hipótese também
de mora accipiendi): como é cediço, a regra geral no ordenamento jurídico brasileiro, quanto ao lugar de
pagamento das obrigações, é a do domicílio do devedor. Assim, se o credor não comparecer ou mandar
terceiro para exigir a prestação, isso não afasta, por si só, o vencimento e a exigibilidade da dívida19, motivo
pelo qual se autoriza a consignação.
c) Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, for declarado ausente, ou residir em lugar incerto
ou de acesso perigoso ou difícil;
d) Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento: para esta hipótese,
necessário que se analise o artigo 547 do CPC/2015, que estabelece que se houver dúvida sobre quem deva
legitimidade receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito
para provarem o seu direito. E, conforme o artigo 345 do CC/2002, se a dívida se vencer, pendendo litígio
entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.
Aqui, a hipótese é de exigir a consignação, e não o pagamento propriamente dito. Para Maria Helena Diniz,
a ação de consignação é privativa do devedor para liberar-se do débito, mas se a dívida se vencer não tendo
havido o depósito pelo devedor, pendendo litígio entre credores que se pretendam mutuamente excluir,
qualquer deles estará autorizado a requerer a consignação (...)20.
e) Se pender litígio sobre o objeto do pagamento (causa objetiva para a consignação): nesse caso, o artigo
344 do Código Civil estabelece que o devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação,
mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do
pagamento.
Essas hipóteses trazidas pelo artigo 335 do CC/2002 são meramente exemplificativas, podendo ser admitidas
outras situações desse pagamento indireto. Exemplo citado pela doutrina é o caso de consignação para a
revisão de conteúdo de contrato ou o caso em que as partes apresentem desentendimento grave, de
maneira que não possam estar fisicamente presentes para o adimplemento da obrigação21. Ademais, há
18
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 476.
19
Idem.
20
Idem, p. 477.
21
TJSP, Agravo de instrumento 7281754-2, acórdão 3300739, 20ª Câmara de Direito Privado, São Paulo. Rel. Des. Álvaro Torres
Junior, j 13.10.2008, DJESP 03.11.2008. In: TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro:
Método, 2021. p. 671.
ainda os casos previstos nos artigos 341 e 34222, ambos do Código Civil, e o artigo 17, parágrafo único, do
Decreto-lei nº 58/3723; e artigos 19 e 21, inciso III, da Lei nº 492/3724, entre outros.
Quando o depósito for em dinheiro, para que a consignação seja válida e eficaz, com força de adimplemento,
o devedor deve observar todos os requisitos do pagamento direto, de acordo com o artigo 336 do Código
Civil; o depósito deverá ocorrer no lugar pactuado para o pagamento, que constará do instrumento
obrigacional. Ademais, o devedor poderá levantar o depósito enquanto o credor não informar que aceita a
consignação ou não a impugnar, subsistindo integralmente a dívida, que continua intocável25.
Vale mencionar que, na contestação da ação de consignação (artigo 544 do CPC/2015), o credor (réu) poderá
alegar que: não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; foi justa a recusa; o depósito
não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; o depósito não foi integral (caso em que o réu pode
indicar o valor que entende ser devido). Inclusive, no caso de insuficiência do depósito em ação de
consignação em pagamento, decidiu o STJ que não conduz à liberação do devedor, que permanecerá em
mora e, por consequência, dá ensejo à improcedência da consignatória26.
Por fim, com relação à prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar,
no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até cinco
dias, contados da data do vencimento27.
Em determinadas situações previstas em lei, ou abarcadas por um ato de última vontade do autor da
herança, o direito sucessório do herdeiro ou legatário é excluído; surgem, então, as penalidades civis da
(exclusão por) indignidade sucessória e da deserdação.
22
Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar
o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.
Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito
e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.
23
Art. 17. Pagas todas as prestações do preço, é lícito ao compromitente requerer a intimação judicial do compromissário para,
no prazo de trinta dias, que correrá em cartório, receber a escritura de compra e venda.
Parágrafo único. Não sendo assinada a escritura nesse prazo, depositar-se-á o lote comprometido por conta e risco do
compromissário, respondendo este pelas despesas judiciais e custas do depósito.
24
Art. 19. É a cédula rural pignoratícia a resgatável a qualquer tempo, desde que se efetue o pagamento de sua importância, mais
os juros devidos até ao dia da liquidação; e em caso de recusa por parte do endossatário constante do registro, pode o devedor
fazer a consignação judicial da importância total da dívida capital e juros até o dia do depósito, citado aquele e notificado o oficial
do registro imobiliário competente para o cancelamento da transcrição e anotação no verso da folha do talão arquivando a
respectiva contrafé, de que constará o teor do termo de depósito.
Art. 21. Cancela-se a transcrição do penhor rural: (...)
III – pela consignação judicial da importância total da dívida, capital e juros, até o dia do depósito.
25
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 671.
26
STJ, REsp 1.108.058/DF, 2.ª Seção, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5.ª Região), Rel. p/ Acórdão
Ministra Maria Isabel Gallotti, j. 10.10.2018,DJe 23.10.2018.
27
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 674.
Não obstante funcionem como penalidades, esses institutos não se confundem com as hipóteses de
impedimentos legais para a sucessão (previstas no artigo 1.801 do Código Civil). Neste caso, há um
afastamento do direito por razão de ordem objetiva – enquanto na indignidade e na deserdação o herdeiro
é considerado como desprovido de moral para receber a herança, diante de uma infeliz atitude praticada28.
Gagliano e Pamplona Filho lecionam que se trata de um instituto penal, pois comina uma sanção ou pena –
de caráter civil, e que traduz uma consequência lógico-normativa pela prática de um “ato ilícito” (consoante
o conceito do artigo 186 do CC/2002), dado o seu caráter antijurídico e desvalioso 29.
Pois bem. O Código Civil traz em rol taxativo as causas de exclusão por indignidade, em seu artigo 1.814, e
que serão aplicadas tanto à sucessão legítima como à testamentária.
Vejamos:
I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste,
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade.
Observe-se que a natureza da indignidade é essencialmente punitiva, já que afasta da relação sucessória
aquele que haja cometido ato grave, socialmente reprovável, em detrimento da integridade física,
psicológica ou moral, ou até mesmo contra a própria vida do autor da herança 30 – o algoz não deve herdar
da vítima31.
Efetiva-se a exclusão do herdeiro ou legatário por meio de decisão judicial, conforme preconiza o artigo 1.815
– que decai no prazo de quatro anos, contados da abertura da sucessão. Quanto aos legitimados para a
propositura da ação de indignidade, estão o interessado ou o Ministério Público (quando houver questão de
interesse público, conforme o Enunciado n. 116 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil32). Igualmente, a Lei
nº 13.532/2017 introduziu o parágrafo 2º no dispositivo, para prever expressamente que o MP tem
28
Idem, p. 2538.
29
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 2225.
30
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 2225.
31
Idem.
32
O Ministério Público, por força do art. 1.815 do novo Código Civil, desde que presente o interesse público, tem legitimidade para
promover ação visando à declaração da indignidade de herdeiro ou legatário.
legitimidade para promover a ação de indignidade, quando houver crime de homicídio doloso ou sua
tentativa, praticado pelo herdeiro contra o falecido ou seus familiares (inciso I do artigo 1.814).
Os efeitos da exclusão por indignidade são pessoais, isto é, não se transmitem aos descendentes do herdeiro
excluído, que sucedem como se este fosse morto antes da abertura da sucessão. A indignidade não atinge o
direito de representação dos herdeiros do indigno, como nos casos de renúncia à herança. E, por
consequência, o excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus
sucessores couberem na herança (...), nem à sucessão eventual desses bens (...) 33.
Doutra banda, na deserdação há um ato de última vontade que afasta o herdeiro necessário, sendo
imprescindível, contudo, que seja confirmado por sentença. Somadas às causas de indignidade, os artigos
1.962 e 1.963 do CC permitem a deserdação dos descendentes por seus ascendentes e vice-versa quando
houver:
III – as relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; bem como relações ilícitas com a
mulher ou companheira do (a) filho (a) ou do (a) neto (a) – aqui, a doutrina entende como
relações ilícitas a prática de atos sexuais e envolvimentos afetivos entre as pessoas elencadas,
tidos como adúlteros, de infidelidade ou incestuosos;
Ao cônjuge admite-se a deserdação, pois herdeiro necessário; todavia, apenas quanto às hipóteses tratadas
pelo artigo 1.814 do Código Civil, uma vez que normas restritivas de direito não permitem analogia.
Nesse sentido, abre-se discussão sobre a possibilidade de deserdação do companheiro ou convivente. E, com
fundamento na equiparação sucessória da união estável ao casamento (entendimento do STF sobre a
inconstitucionalidade do artigo 1790 do Código Civil), indubitável que se enquadre o companheiro também
como herdeiro necessário, sendo perfeitamente crível sua deserdação.
Sob pena de nulidade absoluta, o artigo 1.964 do diploma civilista apenas permite que seja ordenada em
testamento a deserdação mediante a declaração expressa das causas que a ensejaram, obedecendo-se,
assim, a solenidade e a forma que o instrumento exige.
33
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 2541.
34
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 2540.
Ademais, quanto ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe o dever de
provar a veracidade da causa alegada pelo testador na ação de confirmação da deserdação – que decai em
quatro anos, contados da abertura do testamento.
Mencione-se, ainda, o posicionamento de Flávio Tartuce quanto ao efeito do artigo 1.816 do Código Civil
que, a priori, aplicar-se-ia apenas na seara da indignidade:
Cumpre salientar que são válidas, antes da sentença de exclusão, as alienações onerosas de bens hereditários
a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de
exclusão. No caso dos herdeiros que obtêm a sentença de indignidade, subsiste, quando prejudicados, o
direito de demandar-lhes perdas e danos36 (frise-se, porém, que o excluído da sucessão é obrigado a restituir
os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das
despesas com a conservação deles (artigo 1.817, parágrafo único).
É possível a reabilitação do indigno por força de testamento ou outro ato autêntico (como uma escritura
pública – reabilitação expressa), também podendo ser verificada a reabilitação tácita – quando o autor da
herança contempla o indigno por testamento, quando a causa da indignidade já era de seu conhecimento.
Famigerada é a premissa de que todas as situações possíveis são previstas (ou deveriam sê-las) pelo
legislador no processo de criação de uma norma. Nesse sentido, o Código Civil regulamentou as
consequências de uma herança sem herdeiros: o instituto da herança jacente.
Pois bem. O artigo 1.819 preconiza que falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração
de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou a declaração de sua vacância.
A herança será jacente, portanto, quando alguém falece e não deixa nenhum herdeiro notoriamente
conhecido e nenhum testamento, ficando sem destinação.
35
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. 11ª edição. Rio de Janeiro: Método, 2021. p. 2542.
36
Idem.
Trata-se, assim como o espólio, de uma massa patrimonial, sem personalidade jurídica; é resultado de uma
arrecadação de bens, para se evitar que fique sem titular indefinidamente. Sobre sua natureza, Carlos
Roberto Gonçalves ensina que:
A arrecadação dos bens não terá prosseguimento (será suspensa ou simplesmente não ocorrerá) quando,
iniciada, apresentarem-se para reclamar os bens o cônjuge ou o companheiro, o herdeiro ou o testamenteiro
notoriamente reconhecido, e não houver oposição motivada do curador, de qualquer interessado, do
Ministério Público ou de representante da Fazenda Pública.
Ultimada a arrecadação, o juiz mandará que se expeça edital. Nessa oportunidade, se verificada a existência
de sucessor ou de testamenteiro em lugar certo, sua citação será feita – sem prejuízo do edital. A partir deste
primeiro edital, conta-se, então, o prazo de 6 meses para a habilitação dos herdeiros.
Na hipótese, contudo, de não surgirem herdeiros, converter-se-á a herança jacente em vacante, conforme
estabelece o artigo 1.820 do CC e o artigo 743 do Código de Processo Civil:
Art. 743. Passado 1 (um) ano da primeira publicação do edital e não havendo herdeiro habilitado
nem habilitação pendente, será a herança declarada vacante.
Com efeito, considera-se vacante a herança que não teve qualquer habilitação de herdeiro, seja por ser
desconhecido, seja porque aqueles de que se têm notícias a ela renunciaram38. Isto é, devolve-se a massa ao
37
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro — Direito das Sucessões, 7. ed., São Paulo: Saraiva, 2011, v. 7, p. 135.
38
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 2248.
patrimônio público, pois nenhum herdeiro foi habilitado (ou, na hipótese do artigo 1823, renunciaram a
herança) - trata-se de declarar que a herança é de ninguém.
Assim, pode-se concluir que a vacância somente é reconhecida quando não houve qualquer habilitação de
herdeiros para a herança, sendo a jacência um estado meramente provisório 39.
Declarada a vacância da herança, não haverá prejuízo aos herdeiros que legalmente se habilitarem:
Não há, note-se, prejuízo necessário aos herdeiros — enquanto não se dá tal incorporação —,
uma vez que ainda podem se habilitar para receber a herança, salvo os colaterais (que não são
herdeiros necessários), que ficam, na forma do mencionado parágrafo único do art. 1.822,
excluídos da sucessão.40
Porém, decorridos cinco anos contados da data da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao
domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se
ao domínio da União quando situados em território federal. Nessa situação, com a declaração de vacância,
o Estado terá apenas a propriedade resolúvel dos bens – que somente se tornará definitiva após 5 anos da
abertura da sucessão.
Inclusive, para o STJ, como o Estado não adquire a propriedade dos bens que integram a herança jacente até
que seja declarada a vacância, o patrimônio está sujeito à usucapião.
Ainda, transitada em julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e
os credores só poderão reclamar o seu direito por ação direta. Quanto aos colaterais, se igualmente não se
habilitarem até a declaração de vacância, ficarão excluídos da sucessão.
Como bem delineado por Marcus Vinícius Rios Gonçalves, a imparcialidade é garantia do jurisdicionado e
decorrência do princípio do juiz natural, que impede que as partes possam escolher o juiz da causa (...), que
deve ser identificado de acordo com regras previamente existentes no ordenamento jurídico41.
39
Idem.
40
Ibidem.
41 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Curso de Direito Processual Civil. p. 483.
Note-se que, não obstante os institutos do impedimento e da suspeição tenham o mesmo fito – proteger a
parcialidade do juiz e, dessa forma, promover segurança jurídica – distanciam-se em pontos fundamentais.
A lei
As causas de impedimento, descritas exaustivamente no artigo 144 do CPC, são objetivas e não permitem
que haja margem para subjetividade – há presunção absoluta de parcialidade. Com efeito, apesar de não
precluir quando não alegada no momento oportuno, se observada alguma de suas hipóteses, gera nulidade.
Saliente-se, contudo, que podem ser reconhecidas de ofício.
III – se o seu cônjuge/companheiro ou parente até 3º grau estiver postulando como defensor
público, advogado ou membro do MP;
IV – quando ele próprio, seu cônjuge/companheiro ou parente até 3º grau for parte no processo;
VII – em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou
decorrente de contrato de prestação de serviços;
42 Idem. p. 484.
Oportuno mencionar que, de acordo com o artigo 966, inciso II, do CPC, a sentença proferida por juiz
impedido é hipótese de ação rescisória. Os atos decisórios praticados por juiz impedido são nulos,
independentemente de prova do prejuízo.
A suspeição, em contrapartida, apresenta certo grau de subjetividade, na medida em que há uma presunção
relativa de parcialidade. Se não alegada em momento oportuno, haverá preclusão – mas o juiz também pode
reconhecê-la de ofício. Em outras palavras, se o processo for conduzido por um juiz suspeito, sem que ele o
reconheça nem as partes reclamem, não haverá vício ou nulidade43. O juiz pode tomar a iniciativa de pedir a
sua substituição no processo, e, se não o fizer, qualquer das partes pode, por meio de petição, invocar a
suspeição e formular o pedido, que será apreciado pela superior instância. Reconhecida a suspeição, os atos
praticados pelo juiz quando já presentes as causas serão reputados nulos44.
II – que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado
o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar
meios para atender às despesas do litígio;
III – quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro
ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
O magistrado poderá declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem que seja necessário declarar suas
razões.
Por fim, ressalte-se que, em recente informativo lançado pelo STF, firmou-se o entendimento de que as
hipóteses de impedimento e suspeição se restringem aos processos subjetivos, não se aplicando, assim,
ordinariamente, ao processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade.
43 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito Processual Civil. 12 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
p. 486.
44 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito Processual Civil. 12 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 486.
Veja-se, assim, que, de acordo com o Informativo 989 (bem como a súmula 72 do STF e o no artigo 277,
parágrafo único, do Regimento Interno do Pretório Excelso45), os Ministros não serão considerados
impedidos no STF pelo mero fato de terem atuado no Tribunal Superior Eleitoral (exceção ao inciso II do
artigo 144 do CPC). Da mesma forma, também se reconheceu como exceção às regras de impedimento e de
suspeição o processo objetivo de controle normativo abstrato:
Vale ressaltar, contudo, que nada impede que o próprio Ministro não se sinta à vontade para
julgar a causa e, neste caso, invoque sua suspeição por razões de foro íntimo (...) como
fundamento legítimo a autorizar seu afastamento e consequente não participação46.
O ônus da impugnação específica, previsto no artigo 341 do Código de Processo Civil, determina que ao réu
cabe manifestar-se pontualmente sobre todos os fatos constitutivos do direito do autor, narrados na petição
inicial, sob pena de que se presumam verdadeiros:
Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato
constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas (...).
A regra aplica-se, por analogia, à réplica, ou seja, cabe ao autor impugnar especificadamente os
fatos novos suscitados pelo réu em sua defesa, sob pena de admissão e, portanto, de
45 Súmula 72 – STF: No julgamento de questão constitucional, vinculada a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, não estão
impedidos os ministros do Supremo Tribunal Federal que ali tenham funcionado no mesmo processo, ou no processo originário.
Art. 277. (...) Parágrafo único. Não estão impedidos os Ministros que, no Tribunal Superior Eleitoral, tenham funcionado no mesmo
processo ou no processo originário, os quais devem ser excluídos, se possível, da distribuição.
46 Informativo 989 STF.
incontrovérsia do fato, cuja prova se dispensa (art. 374, III, CPC). Também se aplica à regra aos
recursos, em que cabe ao recorrente impugnar especificadamente a decisão recorrida, sob pena
de não conhecimento do seu recurso47.
Ainda que não seja possível a negativa geral pelo réu, o legislador previu situações em que a ausência de
impugnação específica não gerará presunção de veracidade aos fatos trazidos pelo autor. Assim, enquadram-
se nessas hipóteses: os fatos a cujo respeito não se admite confissão (direitos indisponíveis); petição inicial
desacompanhada de um instrumento público que a lei considere da substância do ato; e os fatos que estejam
em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto – aqui, exige-se do juiz
uma análise da defesa como um todo, reconhece-se que em algumas situações a impugnação de
determinados fatos, por uma questão lógica, impede que os demais, ainda que não impugnados
especificamente, sejam presumidos verdadeiros48.
E note-se que,
mesmo que não haja a expressa indicação de que o réu está se valendo da negativa geral, uma
interpretação lógica desse benefício impede que o juiz presuma verdadeiros os fatos alegados
pelo autor. Basta, portanto, a apresentação da contestação para que os fatos se considerem
controvertidos, cabendo ao autor, ao menos em regra, o ônus da prova50.
Importa salientar que o Novo Código de Processo Civil excluiu do rol dos sujeitos que detêm a prerrogativa
da negativa geral o Ministério Público – o que, na prática, não acarreta prejuízos. Isso porque as situações
em que o Parquet figura no polo passivo são excepcionalíssimas e, em outras, atua como curador especial –
mantendo, aqui, a prerrogativa.
47 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de
conhecimento. 17. ed. v.1. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015.
48 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. 3ª edição. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 635.
49 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito Processual Civil. 12 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 730.
50 Idem.
Em princípio, o homicídio perpetrado contra vítima de tenra idade (adolescente ou criança) ostenta
reprovabilidade idêntica àquele perpetrado contra um adulto, pois ambos vulneram o objeto jurídico
tutelado pela norma (vida). Não há como ignorar, no entanto, o fato de que o homicídio perpetrado conta a
vítima jovem ceifa uma vida repleta de possibilidades e perspectivas, que não guardam identidade ou
semelhança com aquelas verificadas na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as consequências do homicídio
contra vítima de tenra idade no núcleo familiar respectivo: pais e demais familiares enlutados por um crime
que subverte a ordem natural da vida. Não se pode olvidar, ademais, o aumento crescente do número de
homicídios perpetrados contra adolescentes no Brasil, o que reclama uma resposta estatal. Não ignoro que
o legislador ordinário estabeleceu - no art. 121, § 4º, do Código Penal - o aumento de pena para o crime de
homicídio doloso praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos. Nada obsta, contudo, que o
magistrado, ao se deparar com crime de homicídio perpetrado contra uma vítima com 14 anos de idade ou
mais (mas com menos de 18 anos), aumente a pena na primeira fase da dosimetria, pois, como referenciado
acima, um crime perpetrado contra um adolescente ostenta consequências mais gravosas do que um
homicídio comum. Assim, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de
18 anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto,
pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do crime,
ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, § 4º
(parte final), do Código Penal. (Informativo n. 679/STJ)
Trata-se de denúncia pela prática do delito de estupro de vulnerável na forma omissiva imprópria, tendo por
vítimas as irmãs menores da denunciada e como autor da conduta comissiva seu marido. Os crimes omissos
impróprios, de acordo com a doutrina, são aqueles que "(...) envolvem um não fazer, que implica a falta do
dever legal de agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não têm tipos específicos, gerando uma
tipicidade por extensão. Para que alguém responda por um delito omissivo impróprio é preciso que tenha o
dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar, dolosa ou culposamente, auxiliando na produção do
resultado. "Quando se fala em "dever legal de agir" e em assunção do papel de "garantidor", o Código Penal,
no art. 13, § 2º, apresenta três hipóteses taxativas para caracterizar tal incumbência ao agente. Na primeira
perspectiva, na alínea "a", tem-se a figura do garantidor legal stricto sensu, aquele que tem por lei o dever
de proteção, vigilância e cuidado, hipótese comumente aplicada entre os pais e os seus filhos menores de
idade, no exercício de seu poder familiar.
Nesse ponto, é clara a impossibilidade de extensão das obrigações paternas aos irmãos. Afinal, muito embora
haja vínculo familiar e até presumidamente uma relação afetiva entre irmãos, o mero parentesco não torna
penalmente responsável um irmão para com o outro, salvo, evidentemente, os casos de transferência de
guarda ou tutela. A lei, ainda, expressamente prevê a assunção da figura de "garantidor" pelo agente, nas
alíneas "b" e "c", quais sejam: o da pessoa que de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado, e daquele que criou o risco da ocorrência do resultado a partir de seu comportamento anterior.
Assim, muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea "a" do art. 13, § 2º, do CP,
pois o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, caso caracterizada
situação fática de assunção da figura do "garantidor" pela irmã, nos termos previstos nas duas alíneas
seguintes do referido artigo ("b" e "c"), não há falar em atipicidade de sua conduta. Hipótese em que a
acusada omitiu-se quanto aos abusos sexuais em tese praticados pelo seu marido na residência do casal
contra suas irmãs menores durante anos. Assunção de responsabilidade ao levar as crianças para sua casa
sem a companhia da genitora e criação de riscos ao não denunciar o agressor, mesmo ciente de suas
condutas, bem como ao continuar deixando as meninas sozinhas em casa. (Informativo n. 681/STJ)
Não se aplica a agravante prevista no art. 61, II, "h", do Código Penal na hipótese em que o crime de furto
qualificado pelo arrombamento à residência ocorreu quando os proprietários não se encontravam no imóvel,
não havendo que se falar, portanto, em ameaça à vítima ou em benefício do agente para a prática delitiva
em razão de sua condição de fragilidade.
Por se tratar de agravante de natureza objetiva, a incidência do art. 61, II, "h", do CP independe da prévia
ciência pelo réu da idade da vítima, sendo, de igual modo, desnecessário perquirir se tal circunstância, de
fato, facilitou ou concorreu para a prática delitiva. A incidência da agravante ocorre em razão da fragilidade,
vulnerabilidade da vítima perante o agente, em razão de sua menor capacidade de defesa, a qual é
presumida. Ausente qualquer nexo entre a ação do réu e a condição de vulnerabilidade da vítima, quando o
furto qualificado pelo arrombamento à residência ocorreu quando os proprietários não se encontram no
imóvel, com a escolha da residência de forma aleatória, nada indicando a condição de idoso do morador da
casa invadida. Configurada a excepcionalidade da situação, deve ser afastada a agravante relativa ao crime
praticado contra idoso, prevista no art. 61, II, 'h', do Código Penal. (Informativo n. 679/STJ)
O Inquérito Policial se trata de procedimento administrativo, presidido pelo delegado de polícia, cuja
finalidade é angariar elementos informativos acerca da autoria e materialidade da infração penal. Os
elementos colhidos na fase do inquérito policial influenciam diretamente na convicção e formação da opinião
delitiva (opinio delicti) do titular da ação penal, ou seja, fornece elementos para que ele decida se o processo
deve ou não ser deflagrado51.
Quanto às características do Inquérito Policial, Renato Brasileiro52 assevera que se trata de procedimento
escrito, devendo as peças que o compõem serem reduzidas a escrito, datilografadas e rubricadas pela
51 TÁVORA, Nestor. ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal: 10ª ed. rev., ampl. e atual.
Salvador: Ed. JusPodivm, 2015.
52 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
Além disso, é considerado um procedimento discricionário, considerando que a autoridade policial não
possui um rol predeterminado de medidas a serem adotadas na condução das investigações, podendo
determinar o rumo das diligências de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Ademais, se trata de
procedimento meramente informativo, sendo, portanto, dispensável.
É, ainda, dotado de oficialidade, vez que é presidido pelo delegado de polícia (ou seja, fica a cargo de órgão
oficial do Estado). Também possui a característica da oficiosidade, considerando que impõe a obrigação da
autoridade policial em agir de ofício ao tomar conhecimento da notícia de um crime – independentemente
de provocação da vítima ou de terceiro (exceto nos casos em que se tratar de crime de ação penal privada
ou quando houver necessidade de representação).
É de se salientar, ademais, que o inquérito policial é indisponível, tendo em vista que, uma vez instaurado,
seu arquivamento somente poderá ocorrer por ordem do Promotor natural, com posterior homologação
pela instância de revisão ministerial (nos termos da nova redação do artigo 28, caput, do Código de Processo
Penal, em decorrência das modificações trazidas pela Lei 13.964/19 – em que pese tal dispositivo esteja com
a sua eficácia suspensa em decorrência de decisão proferida pelo Ministro Luiz Fux).
Brasileiro ainda afirma que se trata de procedimento temporário, uma vez que as investigações possuem
prazo legal predeterminado, de modo que seu prazo de conclusão não pode ser prorrogado
indefinidamente53, sobretudo se se considerar a nova Lei de Abuso de Autoridade, que pune a conduta do
agente público que estende injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado,
conforme artigo 31 da referida lei.
Por fim, tem-se que o inquérito policial se trata de procedimento inquisitorial e sigiloso.
Quanto à inquisitorialidade, tem-se que, por se tratar de mero procedimento de natureza administrativa, o
contraditório e a ampla defesa são prescindíveis na fase de inquérito policial, considerando que ao final da
investigação não haverá condenação instantânea, mas tão somente o indiciamento (o qual sequer vincula o
titular da ação penal e o magistrado). Ademais, tal desnecessidade visa garantir a eficácia e agilidade das
investigações.
Todavia, cabe ressaltar que as alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 excepcionaram tal característica nos
casos elencados no artigo 14-A do Código de Processo Penal. Veja-se:
53 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da
Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais
militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos
relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou
tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração
do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e
oito) horas a contar do recebimento da citação.
Por fim, quanto ao sigilo, é de se mencionar a existência do sigilo externo e sigilo interno do inquérito policial.
O sigilo externo se impõe para bloquear o acesso de terceiros não interessados na investigação. Se faz
necessário para garantir a elucidação do fato ou quando é exigido pelo interesse da sociedade, conforme
prevê o artigo 20 do Código de Processo Penal.
Por sua vez, o sigilo interno diz respeito à impossibilidade de acesso do advogado às diligências que ainda
estão em andamento, até mesmo para assegurar a eficiência da investigação.
No tocante ao acesso do advogado aos autos de inquérito policial, em que pese a característica relacionada
ao sigilo, a súmula vinculante nº 14 garante ao defensor o acesso amplo aos elementos de prova já
documentados. Veja-se:
Súmula Vinculante 14
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Inclusive, Renato Brasileiro destaca que “a negativa de acesso do advogado aos autos da investigação
preliminar, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de
peças já incluídas no caderno investigativo também implicará responsabilização criminal e funcional por
abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o
exercício da defesa” (Conforme previsão legal do art. 7º, § 12, do Estatuto da Advocacia, incluído pela Lei nº
13.245/16).
Ademais, o Pacote Anticrime acrescentou, dentre as responsabilidades do juiz das garantias, a de “assegurar
prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a
todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que
concerne, estritamente, às diligências em andamento” (artigo 3º-B, inciso XV, do Código de Processo Penal).
Assim, é certo que o advogado deve ter acesso aos autos do procedimento investigatório, não se exigindo
prévia autorização judicial (por via de regra), nem mesmo a apresentação de procuração para tanto
(conforme prevê o artigo 7º, inciso XIV, do Estatuto da Advocacia).
Tal acesso engloba até mesmo a obtenção de cópias, pelo defensor, das peças até então produzidas. Nesse
sentido:
(Rcl 23.101, rel. min. Ricardo Lewandowski, 2ª T, j. 22-11-2016, DJE 259 de 6-12-2016)
(Rcl 31.213 MC, rel. min. Marco Aurélio, dec. monocrática, j. 20-8-2018, DJE 174 de 24-8-2018)
No mais, cabe destacar que a possibilidade de acesso do advogado aos autos de inquérito policial se restringe
às diligências realizadas que já tenham sido documentadas pela autoridade policial, a fim de assegurar a
54 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
própria eficiência das investigações (que certamente seriam prejudicadas caso o investigado ou seu defensor
obtivessem ciência prévia das diligências ainda não realizadas ou em andamento). Nesse sentido:
[...] Guarda-se sigilo somente quanto aos atos de investigação, assim na deliberação, como na
sua prática (art. 20 do CPP). Os atos de instrução, enquanto documentação dos elementos
retóricos colhidos na investigação, esses devem estar acessíveis ao indiciado e ao defensor, à luz
da Constituição da República, que garante à classe dos acusados, na qual não deixam de situar-
se o indiciado e o investigado mesmo, o direito de defesa. O sigilo aqui, atingindo a defesa,
frustra-lhe, por conseguinte, o exercício. [...]
Assim, trata-se de um direito retrospectivo, uma vez que o advogado pode ter acesso aos elementos de
prova já documentados, de modo que o sigilo interno somente se justifica ao defensor em relação aos
eventos prospectivos (futuros).
Por fim, caso não seja franqueado o acesso do advogado aos autos de inquérito policial, poderá ele se utilizar
de alguns instrumentos, dentre eles a reclamação ao STF, e a impetração de habeas corpus ou mandado de
segurança, a fim de fazer valer seu direito.
O interrogatório é o ato por meio do qual o indivíduo é questionado acerca dos fatos que lhe estão sendo
imputados. Renato Brasileiro assevera que o interrogatório judicial “é a oportunidade que o acusado tem de
se dirigir diretamente ao magistrado, quer para apresentar a versão da defesa acerca da imputação que recai
sobre a sua pessoa, podendo, inclusive, indicar meios de prova, quer para confessar, ou até mesmo para
permanecer em silêncio, fornecendo apenas elementos relativos a sua qualificação”.
Já durante a fase investigatória, o interrogatório deve ser dirigido a verificar se existem ou não motivos
suficientes para a abertura do processo criminal55.
De acordo com Aury Lopes Junior56, é o interrogatório (policial ou judicial) o momento de maior relevância
para o exercício da defesa pessoal ou autodefesa. O autor afirma, ainda, que “é estéril aprofundar a discussão
sobre a ‘natureza jurídica’ do interrogatório, […] pois as alternativas ‘meio de prova’ e ‘meio de defesa’ não
são excludentes, senão que coexistem de forma inevitável”.
Desse modo, tem-se que o ato de interrogatório possui natureza híbrida, uma vez que atua como meio de
prova e também como meio de defesa.
55JUNIOR, Aury Lopes. Direito processual penal. 17. ed. – São Paulo: Saraiva. Educação, 2020.
56JUNIOR, Aury Lopes. Direito processual penal. 17. ed. – São Paulo: Saraiva. Educação, 2020.
(HC 14.668/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 19/06/2001,
DJ 24/09/2001, p. 348)
Assim, afigurando-se também como meio de defesa, o interrogatório permite, pelo acusado, o exercício da
ampla defesa, a qual consagra não apenas a defesa técnica, realizada por profissional da advocacia com
capacidade postulatória, mas também a autodefesa, exercida pelo próprio acusado durante o processo.
De acordo com Renato Brasileiro57, a autodefesa “diferencia-se da defesa técnica porque, embora não possa
ser desprezada pelo juiz, é disponível, já que não há como se compelir o acusado a exercer seu direito ao
interrogatório nem tampouco a acompanhar os atos da instrução processual”.
No tocante aos direitos do réu na ocasião de seu interrogatório, demonstra-se indispensável a presença de
advogado ou defensor para acompanhar o ato na fase judicial. Além disso, o réu tem direito a uma entrevista
prévia e reservada com seu defensor, inclusive nos casos em que o interrogatório é realizado por
vídeoconferência.
Isto porque, tratando-se de interrogatório realizado por meio virtual (videoconferência), o art. 185, § 5º, do
CPP, garante ao acusado o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que
esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.
Ainda, o artigo 400 do Código de Processo Penal possibilita que o acusado seja ouvido ao final da instrução
processual, após a colheita de toda a prova oral.
57 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
Outrossim, deve ser garantido ao interrogado que o magistrado conduza o ato de maneira neutra, imparcial,
equilibrada e serena, não podendo confrontar sua versão com veemência, sob pena de nulidade do ato, em
face do constrangimento ao exercício da autodefesa ou por violação à garantia da imparcialidade58.
Ademais, não se pode olvidar que o direito ao silêncio (decorrente do princípio do nemo tenetur se detegere)
é uma das premissas básicas relacionadas ao ato do interrogatório, cuja previsão está expressa na
Constituição Federal (artigo 5º, inciso LXIII), no artigo 186 do Código de Processo Penal, no artigo 8, item 2,
“g”, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e também no Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (art. 14, item 3, “g”).
Desse modo, o indivíduo que opta por exercer o seu direito ao silêncio no momento do interrogatório não
pode sofrer prejuízos decorrentes da sua omissão em colaborar com a atividade probatória da acusação, de
modo que não há que se falar em presunção de culpabilidade ou qualquer tipo de prejuízo jurídico para o
imputado.
Inclusive, a Lei de Abuso de Autoridade, em seu artigo 15, parágrafo único, inciso I, criminaliza a conduta do
agente público que prossegue com o interrogatório de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao
silêncio (caso o agente o faça a fim de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei n. 13.869/19).
Sob este viés, portanto, Aury Lopes Junior59 assevera que há o dever, por parte da autoridade policial ou
judicial que realiza o interrogatório, em advertir o indivíduo no sentido de que ele não está obrigado a
responder às perguntas que lhe forem feitas, a fim de informá-lo sobre suas garantias, sob pena de nulidade.
Quanto ao local do interrogatório, verifica-se que, em regra, tratando-se de acusado solto, o interrogatório
deve ser realizado na sala de audiências, no Fórum. Todavia, tratando-se de réu preso, o artigo 185, §2º do
Diploma Processual Penal disciplina que o interrogatório deverá ser realizado em sala própria do
estabelecimento prisional em que ele estiver recolhido, embora, na prática, tal formalidade ocorra de modo
diverso por uma questão de logística. Veja-se:
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
Ainda, cabe destacar que o sistema preferencial para a realização do interrogatório é por meio pessoal, com
a presença física do acusado, a fim de preservar o exercício da ampla defesa.
58 Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 8. ed. rev., ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
59JUNIOR, Aury Lopes. Direito processual penal. 17. ed. – São Paulo: Saraiva. Educação, 2020.
Nesse sentido, inclusive, é o artigo 8, item 2, “d”, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o artigo
14, item 3, “d”, do Pacto de Direitos Civis e Políticos. Veja-se:
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se
comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas: […]
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos, as
seguintes garantias: […]
(RHC 39.287/PB, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJe
1º/2/2017).
Sendo assim, o interrogatório realizado por meio de videoconferência se demonstra medida excepcional,
que somente pode ser aplicada nas hipóteses destacadas no artigo 185, §2º, do Código de Processo Penal,
devendo, para tanto, existir decisão judicial fundamentada (indicando os motivos concretos – elencados na
própria lei - que justifiquem a realização excepcional da videoconferência) e a intimação das partes com 10
(dez) dias de antecedência.
Assim, para a excepcional realização de interrogatório por meio de videoconferência, é preciso que a medida
seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades, conforme §2º do artigo 185 do CPP:
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade
para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível
colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;
Ademais, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da
audiência única de instrução e julgamento, nos termos do artigo 185, §4º do CPP.
Sobre o assunto, cabe salientar que, em decorrência das restrições sanitárias impostas pelo período de
pandemia, o CNJ editou a Recomendação nº 62 de 17/03/2020, a qual sugere, em seu artigo 7º, que os
Tribunais e magistrados atuantes na esfera penal procedam à realização de audiências por meio de
videoconferência quando se tratar de réu preso, conforme o trecho abaixo colacionado:
Art. 7º Recomendar aos Tribunais e magistrados com competência penal que priorizem a
redesignação de audiências em processos em que o réu esteja solto e a sua realização por
videoconferência nas hipóteses em que a pessoa esteja privada de liberdade, com vistas à
redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus.
É certo que a medida visa a redução de contato entre as pessoas e, por consequência, o contágio e
disseminação do coronavírus, todavia, não se trata de recomendação permanente, de modo que o
interrogatório por meio de videoconferência ainda se trata de medida excepcional.
1.7.1 - As penas alternativas nos crimes de homicídio e lesões corporais culposos na direção
de veículo automotor, se o agente conduz veículo sob a influência de álcool ou de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência, previstos no Código de Trânsito
Brasileiro
As penas restritivas de direito, de acordo com o art. 43, do Código Penal, são: prestação pecuniária, perda
de bens e valores, limitação de fim de semana, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas
e interdição temporária de direitos. Em regra, as penas restritivas de direito são impostas na sentença
condenatória, porém, o art. 180 da Lei de Execuções Penais permite, desde que cumpridos certos requisitos,
que na fase de execução da pena privativa de liberdade esta seja substituída pelas restritivas de direitos.
De acordo com a Súmula 643, do STJ: “A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em
julgado da condenação”.
De acordo com o art. 44, inciso I, do CP, as penas restritivas de direito são autônomas e substituem as
privativas de liberdade quando, dentre outras hipóteses, qualquer que seja a pena aplicada, o crime for
culposo e o condenado cumpra os demais requisitos do artigo. Confira o seguinte quadro resumo
(CAVALCANTE, 2020, s/p):
1º REQUISITO (OBJETIVO):
3º REQUISITO (SUBJETIVO):
NATUREZA DO CRIME 2º REQUISITO (SUBJETIVO):
A SUBSTITUIÇÃO SEJA INDICADA E
E NÃO REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO
SUFICIENTE
QUANTUM DA PENA
Regra: não ser reincidente em
crime doloso.
a) Crime doloso: A culpabilidade, os antecedentes,
Exceção:
– pena igual ou inferior a 4 a conduta social e a
(quatro) anos; §3º Se o condenado for personalidade do condenado,
reincidente, o juiz poderá aplicar bem como os motivos e as
– sem violência ou grave ameaça a substituição, desde que, em circunstâncias indicarem que essa
a pessoa. face de condenação anterior, a substituição seja suficiente
b) Crime culposo: qualquer que medida seja socialmente (Princípio da suficiência da
seja a pena. recomendável e a reincidência resposta alternativa ao delito).
não se tenha operado em virtude
da prática do mesmo crime.
Ao analisar a tabela didática acima, percebe-se que, independentemente do quantum de pena privativa de
liberdade aplicada ao condenado, basta que tenha sido ele condenado por um delito culposo, será possível
a substituição por pena restritiva de direitos. Assim, em respeito à legislação em vigor, ainda é possível a
substituição por penas restritivas de direito mesmo diante do cometimento dos crimes de homicídio e lesões
corporais culposas na direção de veículo automotor, mesmo que qualificados pela condução do veículo sob
a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência (artigos
302,§3º e 303,§2º, respectivamente, ambos do CTB).
Ocorre que, com o advento da Lei n.º 14.071/2020, que entrará em vigor em abril de 2021, não mais será
possível essa substituição nos crimes de trânsito mencionados. Referida Lei inserirá no Código de Trânsito
Brasileiro o art. 312-B, com a seguinte redação: “aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art.
303 deste Código não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal)”.
Portanto, a Lei nova (ainda em vacatio legis) impedirá a aplicação de penas alternativas para os crimes de
homicídio culposo e lesões corporais culposas do Código de Trânsito Brasileiro.
Como a Lei n.º 14.071/2020 ainda não entrou em vigor, não há posicionamento dos Tribunais acerca da
constitucionalidade deste artigo 312-B do Código de Trânsito Brasileiro, eis que, de forma genérica, impede
expressamente a concessão de um benefício aos condenados por dois tipos imprudentes específicos, o que,
para alguns, violaria frontalmente o princípio constitucional da individualização das penas, por exemplo
(mesmo argumento utilizado (dentre outros, óbvio) pelos Tribunais, inclusive STF, para se permitir, por
exemplo, referida substituição ao crime de tráfico privilegiado – artigo 33, §4º, da Lei n.º 11.343/06).
Aguardemos, pois, as decisões dos Tribunais. Porém, já vá pensando a respeito disso: o artigo 312-B do CTB
viola o princípio da individualização das penas?
1.7.2 - O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acerca do crime do art. 90, da
Lei n.º 8.666/1993:
A licitação tem o objetivo de garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, devendo ser
selecionada a proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável. Ainda, a licitação será processada e julgada em conformidade com os princípios básicos da
legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao
instrumento convocatório, julgamento objetivo e dos princípios que lhes são correlatos.
Por esta razão é que o inciso I, do §1º, do art. 3º, da Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/1993) veda aos agentes
públicos frustrarem o caráter competitivo do certame60.
O crime previsto no art. 90, da Lei n.º 8.666/1993 visa proibir esta prática e prevê que se o sujeito ativo frustar
ou fraudar (condutas mistas alternativas), mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório (elemento normativo do tipo), com o intuito de obter,
para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação, terá pena de detenção
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
Hely Lopes Meirelles entende que adjudicação é “o ato pelo qual se atribui ao vencedor o objeto da
licitação para a subsequente efetivação do contrato” (apud FERREIRA e PONTOCARRERO, 2020, p. 642).
O STJ esclarece que “o caráter competitivo do procedimento licitatório” é elementar do tipo em estudo:
Para configurar o tipo do art. 90 da Lei n. 8.666/1993, necessário ficar demonstrada a quebra do
caráter competitivo entre os licitantes interessados em contratar, ocasionada pelo mero ajuste,
60
[...] §1º É vedado aos agentes públicos: I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que
comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e
estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra
circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5 o a 12 deste
artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991; [...]
Assim dispõe a Súmula 645 do STJ: “O crime de fraude à licitação é formal, e sua consumação prescinde da
comprovação do prejuízo ou da obtenção de vantagem” (SÚMULA 645, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
10/02/2021, DJe 17/02/2021 – grifamos).
O STJ entende que o dano se revela pela simples quebra do caráter competitivo entre os licitantes
interessados em contratar, causada pela frustração ou pela fraude no procedimento licitatório61.
Há entendimento doutrinário no sentido de que o crime em comento é próprio, porém, o STJ firmou
jurisprudência no sentido de que se trata de delito comum:
Ainda, é possível a incidência da agravante genérica prevista no art. 61, II, g, do Código Penal62 ao crime de
fraude em licitação, sem configurar bis in idem:
61
Jurisprudência em Teses - STJ. EDIÇÃO N. 134: DOS CRIMES DA LEI DE LICITAÇÃO – LEI N. 8.666/1993. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
62
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: [...] II - ter o agente
cometido o crime: [...] g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
genérica prevista no art. 61, II, g, do Código Penal ao crime de fraude em licitação, uma vez que
a violação do dever inerente à função pública não integra o tipo previsto no art. 90 da Lei n.
8.666/1993. 2. Agravo regimental desprovido.
(STJ, T5 – QUINTA TURMA. AgRg no AgRg no AREsp 1223079/SP. Relator Ministro RIBEIRO
DANTAS. Julgamento em 04/02/2020. Publicação/Fonte em Dje 12/02/2020).
Por fim, o Superior Tribunal de Justiça firmou jurisprudência no sentido de que o termo inicial para a
contagem do prazo prescricional deve ser a data em que o contrato administrativo foi efetivamente assinado:
1. Esta Corte Superior já se manifestou no sentido de que, em relação ao delito previsto no art.
90 da lei n. 8.666/1993, o termo inicial para contagem do prazo prescricional deve ser a data
em que o contrato administrativo foi efetivamente assinado. Nesse sentido: MS 15.036/DF, Rel.
Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/11/2010, DJe 22/11/2010; e HC
484.690/SC, deste Relator, QUINTA TURMA, julgado em 30/5/2019, DJe 4/6/2019.
(STJ, T5 – QUINTA TURMA, AgRg no RHC 136462 / MG, Relator Ministro RIBEIRO DANTAS.
Julgamento em 02/02/2021. Publicação/Fonte em DJe 08/02/2021). Negritou-se.
Seguem algumas Teses firmadas pelo Superior Tribunal de Justiça sobre o tema e publicadas na Edição n.º
13463:
5) O crime previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/1993 classifica-se como comum, não se exigindo do
sujeito ativo nenhuma característica específica, podendo ser praticado por qualquer pessoa que
participe do certame.
63
Jurisprudência em Teses - STJ. EDIÇÃO N. 134: DOS CRIMES DA LEI DE LICITAÇÃO – LEI N. 8.666/1993. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
6) É possível a incidência da agravante genérica prevista no art. 61, II, g, do Código Penal, no
crime de fraude em licitação, quando violado dever inerente à função pública, circunstância que
não integra o tipo previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/1993.
8) Em relação ao delito previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/1993, o termo inicial para contagem
do prazo prescricional deve ser a data em que o contrato administrativo foi efetivamente
assinado.
12) As infrações penais tipificadas na Lei n. 8.666/1993 não são meio necessário ou fase
preparatória ou de execução para a prática de crimes de responsabilidade de prefeitos (art. 1º
da Decreto-Lei n. 201/1976), tratando-se de delitos autônomos e distintos, a tutelar bens
jurídicos diversos, não sendo possível a aplicação do princípio da consunção.
Lembre-se de que é importante manter-se atualizado quanto aos entendimentos dos Tribunais Superiores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Penas alternativas nos casos de homicídio e lesão culposos qualificados pela
embriaguez no CTB. Disponível em: <https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/02/16/penas-
alternativas-nos-casos-de-homicidio-e-lesao-culposos-qualificados-pela-embriaguez-no-ctb/>.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A Lei 14.071/2020 realmente proibiu as penas restritivas de direitos para
os crimes do art. 302, §3º e do art. 303, §2º do Código de Trânsito? Disponível em:
<https://www.dizerodireito.com.br/2020/10/a-lei-140712020-realmente-proibiu-as.html>.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.
Jurisprudência em Teses – STJ. EDIÇÃO N. 134: DOS CRIMES DA LEI DE LICITAÇÃO – LEI N. 8.666/1993.
Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
A investigação judicial eleitoral é definida, primordialmente, para impugnação de fatos ocorridos durante a
campanha eleitoral, no período entre o deferimento do pedido de registro de candidatura e a diplomação.
A investigação judicial eleitoral sobre a qual versam os arts. 19 a 23 da Lei Complementar nº 64/90 pode ser
investigada sob seis aspectos.
Hipótese de cabimento: abuso de poder econômico ou político ou captação ilícita de sufrágio. O abuso de
poder econômico ou político é configurado em favor de candidato, partido político ou coligação, com
potencialidade lesiva sobre o pleito, resguardada a normalidade da eleição, sob pena de declaração de
inelegibilidade e cancelamento do registro de candidatura ou declaração de nulidade da diplomação, tendo
em conta a prescrição na Lei Complementar nº 64/90. A captação ilícita de sufrágio é consumada entre
candidato e eleitor, sem potencialidade lesiva sobre o pleito, resguardada a vontade do eleitor, sob pena de
multa e cancelamento do registro de candidatura ou declaração de nulidade da diplomação, tendo em vista
a previsão na Lei nº 9.504/97.
Legitimidade ativa: qualquer candidato, partido político ou coligação e Ministério Público Eleitoral.
O direito à vida possui três dimensões de proteção: a dimensão da existência; a dimensão da integridade
física; e, a dimensão da integridade moral.
É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por
intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
promoção, proteção e recuperação da saúde.
Deve o poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiente que atende às normas sanitárias e assistenciais
para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente.
A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o
nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude.
No Habeas Corpus Coletivo nº 143.641, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as mulheres gestantes
(adultas presas preventivamente e adolescente internadas), amamentando ou que tenham filhos com até
12 anos ou com deficiência, cumpram prisão domiciliar, a fim de resguardar os direitos de seus filhos.
Constitui-se o bullying em todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem
motivo evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-
la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes
envolvidas.
Ajuizada a execução fiscal, são múltiplas as possibilidades que podem ocorrer: o sujeito passivo pode
adimplir com débito, voluntariamente ou através da expropriação dos seus bens; o fisco pode ser negligente
com as suas atribuições e deixar o processo paralisado; ou o devedor pode efetivamente não possuir
qualquer bem penhorável, o que torna inviável a expropriação de bens por meio da execução fiscal.
Do ponto de vista da funcionalidade do sistema jurídico, o ideal seria que se alcançasse sempre o primeiro
resultado, com a satisfação do credor. No entanto, não é isso que ocorre comumente. Na maior parte das
execuções fiscais não se consegue obter o resultado almejado, sendo necessária a adoção de uma solução
que ponha fim a esses processos, que não podem tramitar eternamente.
Essa solução é a prescrição intercorrente, que fulmina com o direito do credor de vindicar o seu direito
durante o curso do processo executivo. No âmbito do Direito Tributário, a prescrição intercorrente se
encontra regulada pelo artigo 40 da Lei de Execuções Fiscais:
Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou
encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de
prescrição.
§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante judicial da
Fazenda Pública.
§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou
encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.
Por força dessa regra, não localizado o devedor ou não encontrados bens sobre os quais possa recair a
penhora, o processo deve ser suspenso por 1(um) ano, período durante o qual não corre a prescrição.
Decorrido o prazo máximo de 1(um) ano, o juiz deve ordenar o arquivamento dos autos, e o prazo
prescricional volta a correr.
Assim, surgem as seguintes possibilidades: a) A fazenda pública localiza o devedor e encontra bens
penhoráveis dentro do prazo prescricional de cinco anos, retomando a execução; b) a fazenda pública não
encontra o devedor e/ou não localiza bens penhoráveis dentro do prazo prescricional, caso em que ocorre a
prescrição intercorrente. Nessa última hipótese, a Fazenda Pública deve ser ouvida, porque é possível que
tenha ocorrido alguma hipótese de interrupção da prescrição, como a adesão a algum parcelamento, por
exemplo.
Em que pese aparentemente simples, o artigo 40 suscitava diversas dúvidas sobre a sua melhor
interpretação. Afinal, o prazo de suspensão por 1 ano é automático ou depende de decisão judicial?
Transcorrido o prazo de 1 ano, é necessário o arquivamento para que o prazo prescricional volte a correr? A
Fazenda Pública precisa ser intimada do arquivamento?
Para resolver essas e outras questões, o Superior Tribunal de Justiça afetou o Resp. 1.340.553 para ser
julgado sob a sistemática de recursos repetitivos, ainda em 2012. Em 12 de setembro de 2018 o julgamento
foi concluído, tendo prevalecido o voto do Ministro Mauro Campbell Marques.
1º: o prazo de suspensão de 01 (um) ano começa a ser contado a partir do momento em que a fazenda
pública tomar ciência de que o devedor não foi localizado ou de que não foram encontrados bens no seu
endereço. Desse modo, embora o juízo deva proferir um despacho suspendendo a execução tão logo ocorra
a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou a primeira tentativa de localização de bens
penhoráveis, eventual omissão do órgão julgador não tem o condão de evitar o fluxo do prazo.
3º: A prescrição intercorrente é interrompida apenas com a citação do devedor e com a efetiva constrição
patrimonial. Assim, não basta que a Fazenda indique bens à penhora e forneça o endereço do sujeito passivo
para que o prazo prescricional deixe de transcorrer. É necessário que o executado seja efetivamente citado
– ainda que por edital – e que sejam penhorados bens. No entanto, uma vez citado o devedor e realizada a
penhora, a interrupção da prescrição retroage para a data do protocolo da petição que requereu a
providência frutífera.
4º: Transcorrido o prazo prescricional, o Juízo deve, depois de ouvida a Fazenda Pública, reconhecer a
prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.
5º: A ausência de intimação da Fazenda Pública para se manifestar sobre a prescrição intercorrente não
acarreta automaticamente a nulidade, devendo a exequente, em sua primeira oportunidade de falar nos
autos, demonstrar o prejuízo que sofreu. O prejuízo é presumido nos casos em que a Fazenda não tiver sido
intimada do termo inicial, ou seja, do fato de não ter sido localizado o devedor ou de não terem sido
encontrados bens penhoráveis no seu endereço.
Na redação atual, assim está o art. 16 da lei da ação civil pública (7.347/85):
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
Alvo de muitas críticas., o dispositivo confunde os conceitos de competência e coisa julgada, sendo mitigado
pela jurisprudência amplamente dominante do Superior Tribunal de Justiça, que restabelece o efeito erga
omnes de forma ampla em ações civis pública:
STJ – [...] 2. A restrição territorial prevista no art. 16 da Lei da Ação Civil Pública (7.374/1985)
não opera efeitos no que diz respeito às ações coletivas que visam a proteger interesses difusos
ou coletivos stricto sensu, como no presente caso; nessas hipóteses, a extensão dos efeitos à
toda categoria decorre naturalmente da eficácia da sentença prolatada, vez que, por ser a
legitimação do tipo ordinária, tanto o autor quanto o réu estão sujeitos à autoridade da coisa
julgada, não importando onde se encontrem. Precedentes: REsp. 399.357/SP, Rel. Min. NANCY
ANDRIGHI, DJe 20.04.2009; CC 109.435/PR, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe
15.12.2010. 3. Agravo Interno da empresa desprovido. (AgInt no AREsp 319.716/PA, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/03/2019, DJe 02/04/2019)
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, exceto se a ação for julgada improcedente
por deficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
A redação original reflete a ideia de proteção dos direitos metaindividuais, com segurança jurídica. Afina, é
impensável, por exemplo, que uma publicidade seja considerada abusiva em uma cidade e não em outras.
Na esfera do processo coletivo, envolvendo criança e adolescente, há que se ter especial cuidado na
interpretação da legislação. Toda a sistemática do processo coletivo se volta para a aplicação de dois artigos
da lei 8;069/90 em especial, os quais refletem os cuidados do Estado brasileiro com a criança e o adolescente.
O primeiro artigo é o 4º:
Desta forma, a proteção dos direitos da criança e do adolescente se dá de forma difusa, por todos os
envolvidos. Outro dispositivo importante nessa interação é o art. 6º do ECA:
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
A nota promissória surgiu paralelamente à letra de câmbio durante a Idade Média. No entanto, no Brasil,
não teve, no Código Comercial, uma regulamentação especial, de maneira que Foi o Decreto nº 2.044 de
1908 que deu maior destaque à nota promissória, regulando-a e caracterizando-a como título diverso da
letra de câmbio. Trata-se de promessa de pagamento que uma pessoa faz a outra.
(i) o emitente, promitente ou sacador: é aquele que assume o compromisso de pagar certa quantia, é o
devedor principal do título e;
(ii) o beneficiário ou tomador: é aquele a quem se deve pagar, isto é, o credor da promessa de pagamento.
1. Requisitos legais
(i) Requisitos essenciais, que não podem estar ausentes de forma alguma, sob pena de o documento perder
da qualidade de letra de câmbio, previstos no art. 75, e;
(ii) Requisitos não essenciais (requisitos supríveis), os quais podem estar ausentes desde que seja suprido
por outra indicação.
O título em que faltar algum dos requisitos indicados não produzirá efeito como nota promissória, salvo nos
casos determinados em lei. A nota promissória em que se não indique a época do pagamento será
considerada à vista.
2. Regime legal
Apesar dos 4 (quatro) artigos da LUG destinados especificamente às notas promissórias (arts. 75/78), não
existe um regime legal completo para esse título de crédito, de modo que se aplicam os dispositivos relativos
à letra de câmbio (art. 77 da LUG), com as seguintes peculiaridades:
Cumpre destacar que, ainda que vinculada a um contrato, a nota promissória continua sendo um título de
crédito. Assim, ela ainda admite os institutos típicos dos títulos de crédito, como o endosso e o aval. Contudo,
neste caso, a nota promissória perde sua abstração em relação ao negócio que lhe deu origem, isto é, ao
contrato. Dessa forma, vícios do contrato contaminam a obrigação contida na nota promissória.
A propositura de ação civil pública, com suporte probatório em inquérito civil ou peças de informação, tem
por objeto a proteção, prevenção e reparação dos danos causados à infância e adolescência, meio ambiente,
consumidor, contribuinte, bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e
outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, sem embargo da anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa da União, Estados, Distrito
Federal ou Municípios, com anteparo no art. 129, inc. III, da Constituição da República e art. 5º da Lei nº
7.347/85.
Questão controvertida gira em torno da utilização da ação civil pública como instrumento de controle de
constitucionalidade concreto ou incidental.
Gilmar Ferreira Mendes salienta a impossibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade difuso, ao argumento de que o processo instaurado em decorrência do
exercício da ação civil pública, sob o aspecto prático, seria assemelhado ao processo deflagrado pela ação
direta de inconstitucionalidade, porquanto o objeto imediato da arguição de inconstitucionalidade não seria
a tutela do direito difuso, coletivo ou individual homogêneo que, no caso concreto, teria sido lesado ou
ameaçado de lesão, mas seria a aferição, em tese, da constitucionalidade da lei ou do ato normativo versado
na ação civil pública (MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade:
estudos de Direito Constitucional. São Paulo: Celso Bastos, 1998, p. 379-385).
Luís Roberto Barroso sustenta a possibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade incidental, tendo em vista que o exercício da ação civil pública dá ensejo à
instauração de processo subjetivo, dado que há partes individualizadas, tendo o demandante proposto a
ação em face do demandado, com o objetivo de proteger direito difuso, coletivo ou individual homogêneo,
e não de processo objetivo, eis que não há partes individualizadas, não tendo o requerente proposto a ação
em face da norma, sem o objetivo de proteger a ordem jurídica (BARROSO, Luís Roberto. O Direito
Constitucional e a Efetividade de suas Normas: limites e possibilidades da Constituição brasileira. 4ª ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2000, p. 237-242).
STJ. Tese nº 5: Em demanda que trata da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço
(arts. 12 e 14 do CDC), a inversão do ônus da prova decorre da lei (ope legis), não se aplicando o
art. 6º, inciso VIII, do CDC.
STJ. Tese nº 10: Considera-se consumidor por equiparação (bystander), nos termos do art. 17 do
CDC, o terceiro estranho à relação consumerista que experimenta prejuízos decorrentes do
produto ou serviço vinculado à mencionada relação, bem como, a teor do art. 29, as pessoas
determináveis ou não expostas às práticas previstas nos arts. 30 a 54 do referido código.”
Ademais, é essa a interpretação que se extrai do art. 17 do CDC: “Art. 17. Para os efeitos desta
Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.” Mesmo que não participe
diretamente da relação de consumo mas é por ela atingido, é equiparado a consumidor.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
Vamos lá!
Comentários
Consoante o art. 142, inc. I, do Código Penal, não constitui injúria ou difamação punível a ofensa irrogada
em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador.
Destarte, a imunidade processual conferida aos advogados não abrange o delito de calúnia, evidenciando-se
correta a alternativa C.
JURISPRUDÊNCIA
“Processual penal. Habeas corpus. Trancamento da ação penal. Calúnia. Imunidade penal do
advogado. A imunidade prevista no inciso I do art. 142 do Código Penal não abrange a ofensa
caracterizada como calúnia. Denúncia que atende aos requisitos do art. 41 do Código de
Processo Penal. A jurisprudência da Suprema Corte firmou-se no sentido de que não se tranca a
ação penal se a conduta descrita na denúncia configura, em tese, crime, como ocorre na
hipótese. Habeas corpus indeferido” (STF, HC nº 84.107, Rel. Min. Carlos Velloso, J. 01.06.2004,
DJU 18.06.2004).
Comentários
O advogado público, ao defender o interesse público que ao Estado cabe proteger, não se vincula à tutela
em juízo coincidente com o interesse da autoridade pública por ele representado.
JURISPRUDÊNCIA
“Recurso extraordinário. Questão de ordem. paralisação dos advogados públicos federais. Força
maior. Suspensão dos processos. A recente greve dos advogados públicos federais coloca em
risco a defesa do erário e, principalmente, do interesse público, revelando-se motivo de força
maior suficiente para determinar-se a suspensão dos feitos que envolvem a União, suas
autarquias e fundações. Inteligência do art. 265, inc. V, do CPC e do art. 105, § 2º, do RISTF.
Questão de ordem resolvida no sentido de acolher o pedido formulado pelo Instituto Nacional
do Seguro Social, a fim de suspender o andamento do recurso extraordinário” (STF, RE-QO nº
413.478, Rel. Min. Ellen Gracie, J. 22.03.2004, DJU 04.06.2004).
Questão 3. Em virtude de a Defensoria Pública ser instituição essencial à função jurisdicional do Estado, é
da sua incumbência prestar às pessoas necessitadas, de forma integral e gratuita:
a) Assistência judiciária.
b) Assistência judicial.
c) Assistência jurídica, judicial e extrajudicial.
d) Assistência institucional.
e) Assistência jurisdicional.
Comentários
A Defensoria Pública dispõe de atribuição para prestação de assistência jurídica, judicial e extrajudicial,
integral e gratuita, em todas as instâncias e graus, dos necessitados econômicos e jurídicos, que, por sua vez,
compreende a representação judicial, prática de atos jurídicos extrajudiciais e consultoria jurídica,
decomposta em aconselhamento, informação e orientação em matéria jurídica.
JURISPRUDÊNCIA
Comentários
Na questão sob exame, todas as opções são incorretas, devendo o candidato, pois, assinalar a alternativa E.
De fato, como dispõem os arts. 95, parágrafo único, inc. V, 128, §§ 3º, 4º, 5º, inc. II, “e”, e 6º, da Constituição
da República, o chefe do Ministério Público do Distrito Federal é escolhido pelo Governador do Distrito
Federal, e não Presidente da República, mediante lista tríplice (alternativa A); os Procuradores-Gerais de
Justiça podem ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo (alternativa B); os
integrantes do Ministério Público não podem exercer a advocacia no organismo junto ao qual funcionaram
antes de decorridos três anos do afastamento da carreira (alternativa C), sendo vedado ao membro do
Parquet o exercício de atividade político-partidária, salvo as exceções previstas em lei anteriormente ao
advento da Emenda Constitucional nº 45/2004 (alternativa D).
JURISPRUDÊNCIA
Comentários
A autonomia funcional de que trata o art. 127, § 2º, da Constituição Federal, segundo o qual o Ministério
Público dispõe de autonomia para o desempenho das funções que lhe foram conferidas, é considerada como
garantia, e não princípio institucional.
JURISPRUDÊNCIA
Comentários
§ 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei nº
8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
Gabarito: A
Comentários
Quanto à Destinação
Estes bens são aqueles que se destinam à utilização geral pelos indivíduos. Via de regra, os bens de uso
comum do povo são utilizados por todos os integrantes da coletividade. Contudo, nada impede o poder
público de restringir ou impedir o uso desses bens, como o pagamento de pedágio para utilização de
estradas, fechamento de ruas para eventos comemorativos.
Os bens de uso comum do povo são bens indisponíveis, isto é, não ostentam caráter patrimonial e, por isso
mesmo, as pessoas a que pertencem não podem deles dispor. Isso vale enquanto os bens de uso comum do
povo mantiverem essa destinação.
Os bens de uso especial, por sua vez, são aqueles que visam à execução dos serviços administrativos e dos
serviços públicos em geral.
Quanto ao uso, pode-se dizer que cabe ao Poder Público a sua utilização primordial. Contudo, os particulares
também podem utilizá-los na medida em que precisam estar presentes das repartições estatais.
Ex.: Escolas e Universidades Públicas, hospitais públicos, prédios do Executivo, Legislativo e Judiciário,
quartéis, cemitérios públicos, aeroportos, museus, mercados públicos, terras reservadas aos indígenas,
veículos oficiais, navios militares.
Os bens de uso especial são bens patrimoniais indisponíveis, isto é, “possuem caráter patrimonial, porque,
mesmo sendo indisponíveis, admitem em tese uma correlação de valor, sendo, por isso, suscetíveis de
avaliação pecuniária. São indisponíveis, entretanto, porque utilizados efetivamente pelo Estado para
alcançar os seus fins”.64
3. Bens Dominicais/Dominiais
Os bens dominicais possuem um caráter residual, ou seja, serão aqueles em que não se situam como de uso
comum do povo ou de uso especial. Dessa forma, são bens dominicais aqueles sem destinação pública
específica, como por exemplo, os prédios públicos desativados, os bens móveis inservíveis e a dívida ativa.
Esses bens são bens patrimoniais disponíveis, isto é, possuem caráter patrimonial e podem ser alienados nas
condições estabelecidas pela lei.
Gabarito: C
Comentários
a) INCORRETA. “Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade
administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se, contudo, a
possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário. STJ. 1ª Turma. REsp 1412214-PR, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/3/2016 (Info 580)”
64
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. P. 1148
b) INCORRETA. “A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública. STJ. 1ª Seção. REsp
1177910-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2015 (Info 577).
c) CORRETA. “De acordo com a orientação jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de cometimento
de atos enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação de improbidade deve ser
recebida pelo juiz, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da Lei nº 8.429/92, vale o princípio
do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público (AgRg no REsp
1.317.127-ES). Assim, após o oferecimento de defesa prévia, somente é possível a pronta rejeição da
pretensão deduzida na ação de improbidade administrativa se houver prova hábil a evidenciar, de plano: • a
inexistência de ato de improbidade; • a improcedência da ação; ou • a inadequação da via eleita. STJ. 1ª
Turma. REsp 1192758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio
Kukina, julgado em 4/9/2014 (Info 547)”
d) INCORRETA. De fato, o STJ entende que a ausência de prestação de contas pode configurar ato de
improbidade que atenta contra os princípios da administração pública. Entretanto, o mero atraso na
prestação de contas não pode ser considerado um ato de improbidade, senão vejamos: “A ausência de
prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao Princípio da Publicidade. Vale
ressaltar, no entanto, que o simples atraso na entrega das contas, sem que exista dolo na espécie, não
configura ato de improbidade. Para a configuração do ato de improbidade previsto no art. 11, inc. VI, da Lei
nº 8.429/92, não basta o mero atraso na prestação de contas, sendo necessário demonstrar a má-fé ou o
dolo genérico. Assim, por exemplo, se o Prefeito não presta contas, para que ele seja condenado por
improbidade administrativo será necessário provar que ele agiu com dolo ou má-fé. STJ. 2ª Turma. AgRg
no REsp 1382436-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/8/2013 (Info 529)
Gabarito: C
Comentários
Questão 5. A Lei das Estatais – Lei Federal n° 13.303/2016 – estabelece diversas hipóteses de dispensa de
licitação aplicáveis às empresas públicas e sociedades de economia mista. Segundo o artigo 29 da lei, é
dispensável a licitação:
a) para obras e serviços de engenharia de valor até R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), desde que não se
refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda a obras e serviços de mesma natureza e no
mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente.
b) para aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor,
empresa ou representante comercial exclusivo.
c) na contratação de remanescente de obra, de serviço ou de fornecimento, em consequência de rescisão
contratual, desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e mantidas as condições da
proposta do licitante a ser contratado, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido.
d) na doação de bens móveis para fins e usos de interesse social, após avaliação de sua oportunidade e
conveniência socioeconômica relativamente à escolha de outra forma de alienação.
e) na contratação de serviços técnicos especializados relativos a assessorias ou consultorias técnicas e
auditorias financeiras ou tributárias, com profissionais ou empresas de notória especialização.
Comentários
A resposta está no artigo 29, da Lei nº 13.303/16. Segundo o dispositivo legal, é dispensável a realização de
licitação por empresas públicas e sociedades de economia mista:
XVII - na doação de bens móveis para fins e usos de interesse social, após avaliação de sua
oportunidade e conveniência socioeconômica relativamente à escolha de outra forma de
alienação;
d) Para a presunção de fraude do negócio jurídico oneroso, basta que, celebrando-o o devedor insolvente,
haja motivo para que a insolvência seja conhecida pela outra parte.
e) Sob o prisma da conservação dos negócios jurídicos, admite-se a convalescença daquele que, contendo
declaração ou cláusula não verdadeira, seja retificado pelos contratantes, desde que respeitados os direitos
de terceiros de boa-fé.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial, nos termos do artigo 153 do Código Civil.
A alternativa B é falsa, porque se configura o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação
excessivamente onerosa. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá
segundo as circunstâncias, conforme o artigo 156, parágrafo único, do Código Civil.
A alternativa C é falsa, porque ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
Ademais, aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico (art. 157, “caput” e §1º, do Código Civil). É dizer, a lesão é um vício de formação;
havendo desequilíbrio negocial por fato posterior, será aplicada a revisão contratual por imprevisibilidade e
onerosidade excessiva.
A alternativa D é verdadeira, porque são anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a
insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante, de acordo com o artigo
159 do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque haverá simulação nos negócios jurídicos quando contiver declaração,
confissão, condição ou cláusula não verdadeira (art. 167, §1º, II). Nesse sentido, é nulo o negócio jurídico
simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma (art. 167, “caput”, CC).
Para mais, o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo
(art. 169 CC) e as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes
(art. 168, parágrafo único, CC).
d) As exceções pessoais opostas pelo devedor demandado não se aproveitam aos demais codevedores, mas
o pagamento parcial feito por aquele ou a remissão por ele obtida os beneficiam até a concorrência da
quantia paga ou relevada.
e) A solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes, e não se extingue pela conversão
da prestação em perdas e danos.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque dispõe o artigo 268 do Código Civil que enquanto alguns dos credores
solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar, o que, a contrario
sensu, revela que se algum dos credores demandar o devedor, este apenas se libertará do pagamento
entregando a prestação ao demandante, isto é, não lhe será mais lícito escolher o credor solidário para a
realização da prestação.
A alternativa B é verdadeira, porque o credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou
de todos os devedores. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais
(art. 282 do CC). Não obstante, no caso de rateio entre os codevedores, contribuirão também os exonerados
da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente (art. 284 do CC).
A alternativa C é falsa, porque, se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes
será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores. É o que prevê o artigo 276 do Código Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque o devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem
pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro codevedor (art. 281 do CC).
Noutro giro, o pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam
aos outros devedores, senão até a concorrência da quantia paga ou relevada (art. 277 do CC).
A alternativa E é verdadeira, porque a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes
(art. 265 do CC) e, convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a
solidariedade (art. 271 do CC).
Comentários
A alternativa C é falsa, porque o reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o artigo 1.831
do Código Civil, não pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro
sobrevivente. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018
(Info 633).
A alternativa E é verdadeira, porque aos herdeiros não é autorizado exigir a extinção do condomínio e a
alienação do bem imóvel comum enquanto perdurar o direito real de habitação. REsp 1.846.167-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 09/02/2021, DJe 11/02/2021 (Info 685).
Questão 4. Em relação ao exercício da tutela, pode-se afirmar que compete ao tutor, independentemente
de autorização judicial:
a) Aceitar pelo tutelado heranças, legados ou doações, ainda que com encargos.
b) Alienar os bens do menor, já devidamente destinados à venda.
c) Propor em juízo as ações, ou nelas assistir o menor, e promover todas as diligências a bem deste, assim
como defendê-lo nos pleitos contra ele movidos.
d) Pagar as dívidas do menor.
e) Vender os bens móveis do menor, cuja conservação não convier, e os imóveis nos casos em que for
permitido.
Comentários
A alternativa B é a verdadeira, porquanto inserida no rol das condutas que podem ser praticadas pelo tutor,
no exercício da tutela, sem autorização judicial, nos termos do artigo 1.747, IV, do Código Civil. Todos os
demais itens consigam atividades cuja prática reclama a intervenção judicial, com base no artigo 1.748,
“caput”, I, II, IV e V, do mesmo diploma legal.
Questão 5. No âmbito das relações de vizinhança, são comuns as necessidades de interferência em imóvel
confinante com o intuito de viabilizar a realização de cuidados indispensáveis, o exercício de direitos que
se mostre originariamente prejudicado e a retomada de coisas que, de maneira eventual, nele se achem,
impondo-se ao proprietário vizinho a correlata obrigação de suportar tais intromissões. Com base nisso,
assinale a alternativa que não dispõe corretamente sobre essas espécies de interferência:
a) Por meio do instituto da servidão de passagem, o dono do prédio que não tiver acesso a via pública,
nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar
passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário.
b) Fica o dono ou possuidor do prédio inferior obrigado a receber as águas que correm naturalmente do
superior e impedido de realizar obras que embaracem o seu fluxo.
c) O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante aviso
prévio, para dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou
limpeza de sua casa ou do muro divisório; bem como para se apoderar de coisas suas, inclusive animais, que
aí se encontrem casualmente.
d) Pode o proprietário de um imóvel constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre
os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se,
proporcionalmente, entre os interessados as respectivas despesas. Em caso de construção de tapumes
especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, todavia, ficam as despesas unicamente sob
obrigação de quem provocou a necessidade deles.
e) Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à desvalorização da área remanescente, o
proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos
subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando de outro modo
for impossível ou excessivamente onerosa.
Comentários
A alternativa B é verdadeira, porque o dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas
que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a
condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor
do prédio superior, conforme intelecção do artigo 1.288 do Código Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto no artigo 1.313, “caput”, I e II, do Código
Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque o proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer
modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação
entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-
se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas (art. 1.297, “caput”, do CC). De outro
modo, a construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para
outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado
a concorrer para as despesas (art. 1.297, §3º, do CC).
Comentários
A alternativa A é verdadeira, conforme o artigo 489, §1º, I, do Código de Processo Civil, a contrario sensu.
A alternativa B é verdadeira, conforme o artigo 489, §1º, VI, do Código de Processo Civil, a contrario sensu.
Para além, ressalte-se que a regra do art. 489, §1º, VI, do CPC, segundo a qual o juiz, para deixar de aplicar
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, deve demonstrar a existência de
distinção ou de superação, somente se aplica às súmulas ou precedentes vinculantes, mas não às súmulas e
aos precedentes apenas persuasivos, como, por exemplo, os acórdãos proferidos por Tribunais de 2º grau
distintos daquele a que o julgador está vinculado”. STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.774-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).
A alternativa D é verdadeira, conforme o artigo 489, §1º, II, do Código de Processo Civil, a contrario sensu.
A alternativa E é verdadeira, conforme o artigo 489, §1º, V, do Código de Processo Civil, a contrario sensu.
Questão 2. Considere as situações hipotéticas a seguir e assinale a alternativa que discorre corretamente
sobre a (in) viabilidade das pretensões narradas em cada uma delas.
Situação 01: José, titular de um crédito equivalente ao valor de 70 (setenta) salários mínimos em face da
União, pretendendo se valer da celeridade e simplicidade do microssistema dos Juizados Especiais, resolveu
ajuizar demanda de cobrança contra o ente público devedor, renunciando, de modo expresso, ao montante
que excedia o teto do Juizado Especial Cível Federal, a fim de adequar o valor da causa ao limite previsto no
respectivo diploma legal.
Situação 02: Maria, servidora pública estadual, pretendendo se valer da celeridade e simplicidade do
microssistema dos Juizados Especiais, resolveu promover, no Juizado Especial da Fazenda Pública, o
cumprimento individual de sentença coletiva, prolatada na vara comum da Fazenda Pública, sob o
fundamento de que a execução individual era inferior a 60 (sessenta) salários mínimos.
Não se admite a renúncia de parte do crédito intentada por José para fins de adequação do valor da causa
do Juizado Especial Cível Federal, uma vez que o critério valorativo é, nesse âmbito, definidor de competência
absoluta, a qual não pode ser burlada por manobra das partes. Quanto à pretensão formulada por Maria,
não há óbice legal para que proceda ao cumprimento individual de sentença coletiva no Juizado Especial da
Fazenda Pública, visto que respeitado o limite do valor da causa.
Não se admite a renúncia de parte do crédito intentada por José para fins de adequação do valor da causa
do Juizado Especial Cível Federal, por consistir em manobra que viola o princípio do juiz natural,
notadamente porque se presta a afastar a competência originária da Justiça Comum, tendo em vista a
totalidade de seu crédito. Quanto à pretensão formulada por Maria, não há óbice legal para que proceda ao
cumprimento individual de sentença coletiva no Juizado Especial da Fazenda Pública, visto que respeitado o
limite do valor da causa.
Não se admite o cumprimento individual, no Juizado Especial da Fazenda Pública, de sentença coletiva
formada sob o rito ordinário, ainda que seu valor seja inferior a 60 (sessenta) salários mínimos, reservando-
se a competência executória daquele juízo aos seus próprios julgados e aos títulos extrajudiciais que atendam
ao limite do valor da causa previsto pelo respectivo diploma legal. Também não se admite a renúncia de
parte do crédito intentada por José para fins de adequação do valor da causa do Juizado Especial Cível
Federal, uma vez que o critério valorativo é, nesse âmbito, definidor de competência absoluta, a qual não
pode ser burlada por manobra das partes.
Não se admite o cumprimento individual, no Juizado Especial da Fazenda Pública, de sentença coletiva
formada sob o rito ordinário, ainda que seu valor seja inferior a 60 (sessenta) salários mínimos, reservando-
se a competência executória daquele juízo aos seus próprios julgados e aos títulos extrajudiciais que atendam
ao limite do valor da causa previsto pelo respectivo diploma legal. Também não se admite a renúncia de
parte do crédito intentada por José para fins de adequação do valor da causa do Juizado Especial Cível
Federal, por consistir em manobra que viola o princípio do juiz natural, notadamente porque se presta a
afastar a competência originária da Justiça Comum, tendo em vista a totalidade de seu crédito.
e) Não se admite o cumprimento individual, no Juizado Especial da Fazenda Pública, de sentença coletiva
formada sob o rito ordinário, ainda que seu valor seja inferior a 60 (sessenta) salários mínimos, reservando-
se a competência executória daquele juízo aos seus próprios julgados e aos títulos extrajudiciais que atendam
ao limite do valor da causa previsto pelo respectivo diploma legal. Quanto à pretensão formulada por José,
é possível a renúncia, de modo expresso e para fins de atribuição do valor da causa do Juizado Especial Cível
Federal, ao montante que excede a quantia equivalente a 60 (sessenta) salários mínimos.
Comentários
A alternativa E é a verdadeira, pois dispõe fielmente o entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de
Justiça em relação aos casos apresentados. Confira-se:
Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo expresso
e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta) salários mínimos previstos
no art. 3º, caput, da Lei nº 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, as prestações vincendas. STJ. 1ª Seção.
REsp 1.807.665-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1030) (Info
683)
Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título executivo formado em
ação coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como impor o rito sumaríssimo da Lei nº 12.153/2009
ao juízo comum da execução. STJ. 1ª Seção. REsp 1.804.186-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1029) (Info 679).
Questão 3. A atual sistemática processual civil, repaginada pela Lei 13.105/15, valorizou, sobremaneira, o
sistema de precedentes jurisprudenciais, impondo aos Tribunais o dever de uniformizar sua jurisprudência
e mantê-la estável, íntegra e coerente (art. 926 do CPC). Há, contudo, que se diferenciar a existência de
precedente vinculante (binding precedent) ou dotado de autoridade vinculante (binding authority) do
precedente persuasivo (persuasive precedent). Com base nessa distinção, pode-se afirmar que consiste(m)
em precedente(s) meramente persuasivo(s):
a) As decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade.
b) Os enunciados de súmula vinculante.
c) Os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em
julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos.
d) Os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal
de Justiça em matéria infraconstitucional
e) Os acórdãos proferidos pelos tribunais de segundo grau em relação a quaisquer dos juízos de primeira
instância, excetuados aqueles que se achem hierarquicamente adstritos.
Comentários
A alternativa E é a verdadeira, porque os acórdãos proferidos por tribunais de segundo grau somente
representam precedentes vinculantes em relação aos juízos que se encontrem a eles hierarquicamente
vinculados, possuindo, portanto, quanto aos demais juízos de primeiro grau, caráter meramente persuasivo,
sem obrigação de serem seguidos. É o entendimento exarado pelo Superior Tribunal de Justiça (3ª Turma)
no REsp 1.698.774-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).
Os demais itens apresentados constituem, efetivamente, precedentes de eficácia vinculativa, nos moldes do
artigo 927, I, II, III e IV, do Código de Processo Civil.
Comentários
I Lei nº 11.340/06: Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Veja que o
item fala “independentemente da qualidade da vítima”; assim, se a vítima for do sexo masculino, nada
impede o sursis processual.
II Súmula 542/STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.
IV A afirmação contraria o disposto no art. 129, §4º, do Código Penal(§ 4° Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço).
V Cuida-se do disposto no art. 129, §5º, do Código Penal ( § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: (...)II - se as lesões
são recíprocas).
Gabarito: C
Questão 2. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O crime de roubo é majorado se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
II Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista para o roubo simples;
III Há continuidade delitiva entre roubo e furto, já que considerados delitos do mesmo gênero e espécie;
IV Para reconhecimento do crime de furto privilegiado é necessário que o bem furtado tenha sido restituído
à vítima.
V O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo, previstas no art. 155, § 4º,
I e II, do CP, exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento de
vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
I Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º, VII, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)
II Cuida-se da redação dada ao Art. 157, §2º-B, do Código Penal, dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19)
III É consolidado nesta Corte o entendimento de que não há falar em continuidade delitiva entre roubo e
furto, porquanto, ainda que possam ser considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie
(STJ/HC n. 202.792/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 19/9/2013).
IV Para o reconhecimento do furto privilegiado, a lei não prevê a necessidade de restituição do bem subtraído
- CP, Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
1. Da leitura dos artigos 158 e 167 do Código de Processo Penal, extrai-se que a perícia somente
é essencial para comprovar a materialidade delitiva quando o crime deixa vestígios, admitindo-
se a prova testemunhal quando estes não estiverem mais presentes.
2. Por sua vez, o artigo 171 da Lei Penal Adjetiva confirma a necessidade de realização de perícia
para a comprovação da qualificadora da escalada, que pode ser substituída por outras provas
apenas quando os vestígios desaparecerem, não existirem, ou o exame técnico não for passível
de implementação. (HC 330.156/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
03/11/2015, DJe 10/11/2015)
Questão 3. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Com a entrada em vigor do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), o crime de estelionato passou a ser de
ação penal pública incondicionada.
II A partir da entrada em vigor da Lei nº 13.964/19, no crime de estelionato, somente se procede mediante
representação.
III O crime de estelionato é de ação penal pública incondicionada se a vítima é a Administração Pública.
IV O crime de estelionato é de ação penal pública incondicionada se a vítima é criança ou adolescente.
V O crime de estelionato é de ação penal pública incondicionada se a vítima é pessoa com deficiência mental;
ou maior de 70 (setenta) anos de idade .
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições III, IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I e V;
d)Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.
Comentários
I Antes da entrada em vigor do Pacote Anticrime, a ação penal no crime de estelionato era pública
incondicionada.
II Muito embora a Lei nº 13.964/19 tenha, como regra, previsto para o crime de estelionato a ação penal
pública condicionada à representação da vítima; igualmente, em determinadas circunstâncias, manteve
inalterado o ajuizamento de ação penal pública incondicionada.
IV É a redação conferida pelo Pacote Anticrime no Art. 171, §5º, II, do Código Penal.
Gabarito: B
Comentários
Alternativa A.
De fato pode a Autoridade Policial determinar a realização da reprodução simulada dos fatos, porém o
investigado não pode ser compelido a participar da diligência, em virtude do princípio da presunção da
inocência, que o desobriga a (eventualmente) produzir prova contra si mesmo.
Comentários
alternativa D.
De fato o ofendido e o indiciado podem requerer diligência à Autoridade Policial, porém não está ela
vinculada ao seu cumprimento, conforme verbera o artigo 14, do CPP.
Não é demais lembrar que o inquérito tem estrutura inquisitiva, não se submetendo ao contraditório e à
ampla defesa.
Comentários
Resposta: alternativa C.
Os autos do inquérito policial não podem ser arquivados pela Autoridade Policial.
Trata-se de providência que fica ao exclusivo alvedrio do Ministério Público, dominus litis, submetido porém
a fiscalização anômala por parte do Judiciário, até que o STF delibere sobre a validade da proposta
introduzida pelo Pacote Anticrime, que estipula um trâmite exclusivamente interna corporis, no âmbito do
próprio MP.
Comentários
GABARITO: CERTO
Questão 2. Com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal – STF, analise a afirmativa a seguir:
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que
a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que verse
sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave.
Comentários
A assertiva é uma tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal. Confira as informações disponíveis no
Informativo por temas n. 10565:
EXECUÇÃO DA PENA Falta grave no curso da execução penal e necessidade de trânsito em julgado
(Tema 758 RG)
TESE FIXADA: O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como
crime doloso no curso da execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação
criminal no juízo do conhecimento, desde que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com
observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, podendo a instrução
em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que verse sobre a
materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave.
65
Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoInformativoTema/anexo/Informativo_temas_mensal/Informativomensaldezembr
o2020.pdf>.
Com esse entendimento, o Plenário, em sessão virtual, deu provimento ao recurso extraordinário
para determinar ao Juízo de origem que dê início à apuração da prática de falta grave, com a
observância das diretrizes fixadas no julgamento
(RE 776823/RS, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 – negritou-
se).
GABARITO: CERTO
Questão 3. Com base na Lei n.º 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais), assinale a alternativa incorreta:
a) As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto na Lei
n.º 9.605/1998, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
b) Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
c) Dentre outras, são circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime, a
reincidência nos crimes de natureza ambiental; ter o agente cometido a infração para obter vantagem
pecuniária; ou coagindo outrem para a execução material da infração.
d) Dentre outras, são circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime, ter
o agente cometido a infração concorrendo para danos à propriedade alheia; quando ocasionarem grave dano
individual ou coletivo; ou quando cometido em detrimento de operário ou rurícola.
e) Nos crimes previstos na Lei dos Crimes Ambientais, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada
nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.
Comentários
a) CORRETA: art. 3º, caput, da Lei n.º 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais): “As pessoas jurídicas serão
responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade”.
b) CORRETA: art. 4º, da Lei n.º 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais): “Poderá ser desconsiderada a pessoa
jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente”.
c) CORRETA: art. 15, incisos I, e II, alíneas “a” e “b”, da Lei n.º 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais): “Art.
15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I – reincidência
nos crimes de natureza ambiental; II – ter o agente cometido a infração: a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração; […].
d) INCORRETA: O erro da alternativa está em seu final, visto que são circunstâncias agravantes dos crimes
tipificados no Código de Defesa do Consumidor (Art. 76) ocasionar grave dano individual ou coletivo; ou
quando o crime for cometido em detrimento de operário ou rurícola.
e) CORRETA: art. 16 da Lei n.º 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais): “Nos crimes previstos nesta Lei, a
suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não
superior a três anos”.
Comentários
O objetivo da investigação judicial eleitoral é apurar indícios de autoria e materialidade de atos que, em tese,
configurem abuso do poder econômico ou político ou captação ilícita de sufrágio durante a campanha
eleitoral.
JURISPRUDÊNCIA
Questão 2. Relativamente à ação de investigação judicial eleitoral (AIJE), prevista no art. 22 da Lei
Complementar nº 64/90, assinale a alternativa correta:
a) Pessoas jurídicas podem figurar no polo passivo da demanda, nos casos em que tiverem contribuído para
a prática do ato.
b) O diretório municipal de um partido político não possui legitimidade ativa para a representação visando à
abertura da AIJE de candidato a prefeito, quando não está participando da eleição.
c) Candidato a vereador possui legitimidade para ajuizar AIJE contra candidato a prefeito, desde que ambos
pertençam à mesma circunscrição eleitoral.
d) O prazo final para ajuizamento da AIJE é de 15 (quinze) dias contados da diplomação do eleito, conforme
jurisprudência majoritária do Tribunal Superior Eleitoral.
e) Na demanda em que se postula a cassação do registro ou diploma, não há litisconsórcio passivo necessário
entre os integrantes da chapa majoritária, quando o ato ilícito foi praticado apenas pelo titular, sem a
participação do candidato a vice.
Comentários
A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é firmada no sentido de que candidato a vereador possui
legitimidade para promover a investigação judicial eleitoral contra candidato a prefeito, desde que ambos
pertençam à mesma circunscrição eleitoral.
JURISPRUDÊNCIA
“Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Eleições 2016. Ação de investigação judicial
eleitoral. Abuso do poder econômico. Ausência da oportuna formação do litisconsórcio passivo
Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética. Candidato João obteve o segundo lugar na eleição
para Prefeito no Município de Cantagalo e ajuizou Ação de Investigação Judicial Eleitoral em face dos
vencedores do pleito, o candidato José, e Maria, que com ele compunha a chapa. Na ação, João alegou
que os eleitos ofereceram empregos nas empresas de propriedade de terceiro, Antônio, irmão de Maria,
eleita Vice-Prefeita, em troca de votos. A instrução processual comprovou os fatos, com robustas provas
de que houve efetivamente a promessa de emprego em troca de votos. Diante desse caso, é correto
afirmar que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral:
a) Deve ser julgada improcedente, pois embora tenha sido comprovada a oferta de empregos em troca de
votos, como a empresa pertence a Antônio, terceiro estranho ao pleito, que não é candidato, não se
caracteriza abuso de poder econômico.
b) Deve ser julgada improcedente, pois a oferta de emprego não pode ser considerada abuso de poder
econômico, já que o pagamento eventualmente efetuado será uma contraprestação do trabalho, e, para
caracterizar o abuso de poder econômico, é necessário que o valor ofertado esteja nas contas a serem
prestadas pelo candidato.
c) Pode ser julgada procedente, com a sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizar nos 8 (oito)
anos subsequentes à eleição em que se verificaram os fatos, não havendo, todavia, cassação dos diplomas
de José e Maria, se já estiverem no exercício do mandato.
d) Deve ser extinta sem resolução de mérito, pois o candidato que foi eleito em segundo lugar não possui
legitimidade para propor essa ação, que pode ser proposta somente por partido político, coligação, ou pelo
Ministério Público Eleitoral.
e) Deve ser julgada procedente, pois restou comprovada a promessa de emprego em troca de voto, o que
caracteriza abuso de poder econômico na eleição municipal, com a consequente cassação do diploma do
Prefeito José e da Vice-Prefeita Maria.
Comentários
Na questão sob exame, restou comprovada a promessa de emprego em troca de voto, o que caracteriza
abuso de poder econômico na eleição municipal.
Destarte, o pedido veiculado na investigação judicial eleitoral deve ser julgado procedente, com a
consequente cassação do diploma do Prefeito José e da Vice-Prefeita Maria.
JURISPRUDÊNCIA
“Eleições 2016. Agravo regimental. Agravo. Investigação judicial eleitoral. Candidato a Prefeito
não eleito. Questões preliminares e nulidades. Improcedência. Decisões. Instâncias ordinárias.
Abuso do poder econômico e político e captação ilícita de sufrágio. Instâncias ordinárias.
Procedência. Imposição. Cassação de registro, inelegibilidade e multa. Reexame de fatos e
Comentários
Alternativa Correta: letra “A”: Entre os princípios fundamentais do aludido documento, encontra-se a
previsão de que “a consideração de que o comportamento ou conduta dos jovens, que não é conforme às
normas e valores sociais gerais, faz muitas vezes parte do processo de maturação e crescimento e tende a
desaparecer espontaneamente na maior parte dos indivíduos na transição para a idade adulta”. Nota-se que
se considera o jovem como um ser em estágio de desenvolvimento (exclui todas as demais alternativas).
Questão 2. (UFMT – Defensor Público – DPE – MT/2016) Sobre a evolução histórica do direito da criança e
do adolescente, assinale a afirmativa correta.
a) Antes da doutrina da proteção integral, inexistia preocupação em manter vínculos familiares, até porque
a família ou a falta dela era considerada a causa da situação regular.
b) Na doutrina da proteção integral, descentralizou-se a atuação, materializando-a na esfera municipal pela
participação direta da comunidade por meio do Conselho Municipal de Direitos e do Conselho Tutelar.
c) A doutrina da situação irregular limitava-se basicamente ao tratamento jurídico dispensado ao menor
carente, ao menor abandonado e às políticas públicas.
d) Na vigência do Código de Menores, havia a distinção entre criança e adolescente, embora
majoritariamente adotava-se apenas a denominação “menor”.
e) Além do judiciário, com a doutrina da proteção integral, novos atores entram em cena, como a
comunidade local, a família e a Defensoria Pública como um grande agente garantidor de toda a rede,
fiscalizando seu funcionamento, exigindo resultados, assegurando o respeito prioritário aos direitos
fundamentais infanto-juvenis.
Comentários
Alternativa Correta: letra “B”. Como a proteção da infância foi inserida na Assistência Social, os princípios
desta foram devidamente encampados. Entre outros, pode ser indicado o princípio da descentralização e o
da participação popular. Nesse sentido, a sociedade passou também a ser responsável pela efetivação dos
direitos infanto-juvenis, escolhendo alguns de seus membros para constituir, com exclusividade, os
conselhos tutelares, bem como sendo representada por meio de entidades civis junto aos conselhos de
direitos, responsáveis pela deliberação de ações e programas voltados à infância e à juventude. Assim, as
deliberações sobre as ações e programas deixaram de ser tomada exclusivamente pelo Poder Público,
admitindo-se também que sejam feitas por meio dos conselhos de direitos, que existem no âmbito nacional
(Conanda), estadual e municipal. Da mesma forma, adotou-se o princípio da desjudicialização do
atendimento, que também passou a ser feito pelos conselhos tutelares.
Alternativa incorreta: letra “A”. A doutrina da situação irregular não desconsiderava a necessidade de
manter-se a continuidade da família, muito embora a inserção em outra família ou a institucionalização
ocorria com maior facilidade. De toda maneira, era o menor que era considerado como um indivíduo em
situação irregular, e não a família, diferentemente do que ocorre com a proteção integral, em que a família,
a sociedade e o Estado estão em situação irregular se os direitos da criança e do adolescente foram violados.
Alternativa incorreta: letra “C”. A doutrina da situação irregular também se ocupava do menor que tivesse
praticado o ato ilícito, considerado como crime ou contravenção penal.
Alternativa incorreta: letra “D”. Na vigência do Código de Menores, não havia distinção entre a criança e
adolescente, havendo tratamento comum na pessoa dos menores.
Alternativa incorreta: letra “E”. O papel da Defensoria Pública é o de garantir a assistência jurídica integral
à criança e ao adolescente.
a) Nas operações ocorridas no território nacional, o tributo tem como fato gerador a entrada do produto no
estabelecimento de destino.
b) O imposto é não-cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante devido resulte da diferença a maior,
em determinado período, entre o imposto referente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago
relativamente aos produtos nele entrados.
c) Para os efeitos deste imposto, considera-se industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer
operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.
d) O imposto é seletivo em função da essencialidade dos produtos.
Comentários
a) Incorreta – Art. 46, inciso II, do CTN. Tem como fato gerador: II - a sua saída dos estabelecimentos a que
se refere o parágrafo único do artigo 51;
Questão 2. A respeito das causas de suspensão de crédito tributário, assinale a alternativa correta:
a) A transação suspende o crédito tributário.
b) A interposição de uma exceção de pré-executividade, por si só, suspende a exigibilidade do crédito
tributário.
c) A reclamação e o recurso administrativo corporificam a possibilidade de suspensão do crédito tributário.
E, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é constitucional a exigência de depósito
prévio de bens para admissibilidade de recurso administrativo.
d) A adesão ao parcelamento interrompe o prazo prescricional, que volta a fluir a partir da sua rescisão.
e) Em todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o contribuinte faz jus à certidão
negativa de débitos.
Comentários
a) Assertiva errada. A transação é uma causa extintiva do crédito, conforme determina o artigo 156, inciso
III.
b) Assertiva errada. A peça conhecida como exceção de pré-executividade é fruto de uma criação doutrinária
e jurisprudencial. E a sua oposição, por si só, não suspende a exigibilidade do crédito tributário.
c) Assertiva errada. Ainda que a reclamação e o recurso administrativo sejam instrumentos hábeis a
suspender o crédito tributário, é inconstitucional a exigência de depósito prévio para sua admissibilidade,
em conformidade com a súmula vinculante n. 21.
Comentários
a) Incorreta - O método de interpretação literal deve ser observado quando analisamos a legislação tributária
que dispõe sobre exclusão do crédito tributário. Assim, não se pode utilizar a analogia para obter a extensão
dos efeitos de uma lei isentiva.
Comentários
c) Alternativa incorreta. Conforme redação do artigo 19 § 4º: Será garantida a convivência da criança e do
adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo
responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente
de autorização judicial.
Comentários
a) Alternativa incorreta: é NULA a admissão ao serviço público remunerado, quando houver desobediência
às normas legais, conforme Artigo 4º, inciso I.
c) Alternativa incorreta: conforme redação do Artigo 6º, § 5º, é facultado a qualquer cidadão habilitar-se
como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.
e) Alternativa incorreta. O Ministério Público poderá promover o prosseguimento da Ação Popular em caso
de desistência do autor ou der motivo à absolvição da instância, conforme artigo 9º.
Comentários
a) Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora
lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais
legitimados. Artigo 15 da Lei 7.343/85
b) Qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de prova nova, não
somente o Ministério Público. Artigo 16 da Lei 7.343/85.
d) A sentença fara coisa julgada erga omnes para beneficiar as vítimas e seus sucessores.
e) A liquidação e a execução também podem ser promovidas por um dos legitimados de que trata o artigo
82 do CDC.
Comentários
Apesar dos 4 (quatro) artigos da LUG destinados especificamente às notas promissórias (arts. 75/78), não
existe um regime legal completo para esse título de crédito, de modo que se aplicam os dispositivos relativos
à letra de câmbio (art. 77 da LUG), com as seguintes peculiaridades:
Gabarito: Incorreta.
Comentários
É pacífica a previsão de que a nota promissória será considerada à vista quando não indique a época do
pagamento.
Gabarito: C
Comentários
A ação civil pública pode ser promovida pelo (i) Ministério Público; (ii) Defensoria Pública; (iii) União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios; (iv) autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista,
(v) a associação que, concomitantemente, esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei
civil, e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos
ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Questão 2. Sobre a atuação da Defensoria Pública no processo coletivo, é correto afirmar que:
a) São devidas custas e honorários advocatícios em relação à outra parte, salvo em caso de má-fé, quando
também será devida multa sancionatória.
b) Sua legitimidade está circunscrita aos direitos individuais homogêneos, em razão da necessidade de se
verificar a hipossuficiência econômica.
c) A pertinência temática prescinde de demonstração nas ações envolvendo relação consumerista, devendo
ser demonstrada nas demais causas coletivas.
d) Pode firmar termo ou compromisso de ajustamento de conduta, não lhe competindo, porém, a
instauração de inquérito civil.
e) É possível a formação de litisconsórcio ativo com o Ministério Público, seja por expressa disposição de lei
ou pela natureza da relação jurídica coletiva.
Comentários
À luz dos arts. 5º, § 6°, e 8º, § 1º, da Lei nº 7.347/85, a Defensoria Pública pode firmar termo ou compromisso
de ajustamento de conduta, não lhe competindo, porém, a instauração de inquérito civil.
JURISPRUDÊNCIA
“Súmula Vinculante 10, do Supremo Tribunal Federal. Reclamação Procedente (...). O art. 201,
inc. V, do ECA confere ao Ministério Público, expressa e especificamente, a legitimidade para
promover o inquérito civil e ação civil pública para a proteção dos interesses difusos e coletivos
relativos à infância e à adolescência” (STF, Rcl nº 11.381, Rel. Min. Cármen Lúcia, J. 15.03.2012,
DJU 22.03.2012).
Comentários
Não é cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou outros fundos de natureza institucional cujos
beneficiários podem ser individualmente determinados, como dispõe o art. 1º, parágrafo único, da Lei nº
7.347/85, incluído pela Medida Provisória nº 2.180-35/01.
JURISPRUDÊNCIA
“Processual Civil. Repercussão geral reconhecida. Ação civil pública. Pretensão destinada à tutela
de direitos individuais de elevada conotação social. Adoção de regime unificado ou unificação de
contas do fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS). Ministério Público. Parte ativa legítima.
Defesa de interesses sociais qualificados. Arts. 127 e 129, inc. IIII, da CF. Reafirmação da
jurisprudência desta corte (...). Pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias,
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos
beneficiários podem ser individualmente determinados (parágrafo único do art. 1º da Lei
7.347/1985)” (STF, RE nº 643.978, Rel. Min. Alexandre de Moraes, J. 09.10.2019, DJU
25.10.2019).
Comentários
Alternativa correta: previsão do artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor. Garante o direito de ingressar
com a ação que seja indicada para a solução do conflito, garantia de seus direitos, não havendo possibilidade
de limitação legal. As demais estão em desacordo com o CDC. A ‘b’ está errada, pois são admitidas todos os
tipos de ações. A ‘c’ está errada, pois admitidas todos os tipos de ações. A ‘d’ e a ‘e’ estão erradas, pelos
mesmos motivos, com previsão no art. 83 do CDC.
Questão 2. Tendo como norte as ações coletivas previstas na Lei 8.078/90, é incorreto afirmar
a) Em ação coletiva que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, há a
possibilidade de conversão dessa obrigação em pagamento de indenização por perdas e danos somente se
e por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
b) Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do
dano, poderá o Ministério Público, concorrendo com os demais legitimados apontados pelo CDC, promover
a liquidação e execução da indenização devida.
c) Se o Ministério Público não ajuizar a ação, atuará como fiscal da Lei, nas ações que versam sobre esses
direitos coletivos.
d) Nas ações coletivas previstas no CDC não haverá adiantamento de custas, emolumentos e honorários
periciais, podendo, em caso de sucumbência, haver a condenação em honorários de advogados, custas e
despesas processuais.
e) Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos
danos causados.
Comentários
Alternativa D incorreta: Nas ações coletivas de que trata o CDC não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais. A ‘a’ está de acordo
com o art. 81, §1º do CDC. A ‘b’ está de acordo com o art. 100 do CDC, que trata do fluid recovery. A ‘c’ está
de acordo com o art. 92 do CDC. A ‘e’ está de acordo com o art. 95 do CDC.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
As Funções Essenciais à Justiça têm atribuição para tutela, judicial e extrajudicial, de interesses públicos,
metaindividuais e individuais.
A Advocacia Pública é dedicada à tutela dos interesses públicos cometidos a cada entidade estatal, na medida
em que à Instituição é concedida a atribuição para a representação, judicial e extrajudicial, das unidades da
federação, sem prejuízo da consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo, a teor dos arts. 131 e
132 da CRFB, regulados pela Lei Complementar nº 73/93.
JURISPRUDÊNCIA
A Defensoria Pública é deliberada à tutela dos interesses, individuais e metaindividuais, dos necessitados
econômicos e jurídicos, uma vez que à Instituição é conferida a atribuição para a assistência jurídica, integral
e gratuita, dos necessitados econômicos e jurídicos, à vista do art. 134 da CRFB, regulado pela Lei
Complementar nº 80/94.
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA
“Norma estadual que atribui à Defensoria Pública do estado a defesa judicial de servidores
públicos estaduais processados civil ou criminalmente em razão do regular exercício do cargo
extrapola o modelo da Constituição Federal (art. 134), o qual restringe as atribuições da
Defensoria Pública à assistência jurídica a que se refere o art. 5º, LXXIV” (STF, ADI no 3.022, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, J. 02.08.2004, DJU 04.03.2005).
O Ministério Público é destinado à tutela dos interesses difusos, coletivos, individuais homogêneos e
individuais indisponíveis sobre os quais versam os arts. 127 a 130 da CRFB, regulados pela Lei nº 8.625/93 e
Lei Complementar nº 75/93.
JURISPRUDÊNCIA
“Recurso extraordinário. Legitimidade. Ministério Público. Ação civil pública. Interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos. O Tribunal (...) concluiu pela legitimidade do Ministério
Público para o ajuizamento de ação civil pública, com vistas à defesa dos interesses de uma
coletividade, mesmo no caso de interesses homogêneos de origem comum, por serem
subespécies de interesses coletivos” (STF, AI-AgR nº 559.141, Rel. Min. Marco Aurélio, J.
21.06.2011, DJU 15.08.2011).
Questão 2. Qual é o organismo competente para a solução do conflito de atribuição entre órgãos do
Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual? Indique a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal a respeito do tema.
Comentários
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Petição nº 4.891/DF, decidiu que a atribuição para a solução
de conflitos positivos ou negativos entre Ministérios Públicos diferentes é afeta ao Conselho Nacional do
Ministério Público, com lastro no art. 130-A, § 2º , da Constituição da República.
JURISPRUDÊNCIA
B) A jurisprudência do STJ firmou o entendimento no sentido de que, em virtude da natureza alimentar, não
é devida a restituição dos valores que, por força de decisão transitada em julgado, foram recebidos de boa-
fé, ainda que posteriormente tal decisão tenha sido desconstituída em ação rescisória.
C) É devida a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela Administração Pública a
servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária posteriormente revogada. Não é possível,
em tais casos, aplicar o entendimento de que a restituição não seria devida, sob o argumento de que o
servidor encontrava-se de boa fé, porquanto sabedor da fragilidade e provisoriedade da tutela concedida.
Precedente citado: EREsp 1.335.962-RS, Primeira Seção, DJe 2/8/2013. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014
D) A jurisprudência do STF66 afirma a desnecessidade de restituição de parcelas recebidas por decisão judicial
posteriormente revogada em razão de mudança da jurisprudência. A orientação ampara-se: (i) na confiança
legítima que tinham os beneficiários de a pretensão ser acolhida; e (ii) no lapso temporal transcorrido entre
o deferimento da liminar e a sua revogação.
Configura ato ilícito o saque de dinheiro disponibilizado, a título de remuneração para servidora
falecida, por seus herdeiros. Como essa remuneração não tem razão de ser, o pagamento é
indevido, gera o enriquecimento de quem não era titular da quantia e o dever de restituição.
Pessoas naturais possuem personalidade jurídica entre seu nascimento com vida e o momento
de sua morte. Com efeito, o ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o
ente federativo depositou a quantia ora pleiteada.
Assim, para que se possa ser titular de direitos e obrigações (deveres), necessita-se de
personalidade jurídica. Se o de cujus não tinha mais personalidade, não poderia se tornar titular
de deveres. Ademais, o falecimento é causa de vacância do cargo público, de modo a não existir
mais vínculo jurídico-administrativo entre a Administração Pública e o servidor, após o
falecimento deste.
Nesse contexto, o espólio responde pelas dívidas do falecido e, por isso, não deve responder pelo
enriquecimento sem causa dos herdeiros que não é atribuível ao falecido.
Logo, se o espólio não pode ser vinculado, nem mesmo abstratamente, ao dever de restituir,
também não pode ser considerado parte legítima na ação nos termos do art. 17 do CPC/2015.
(REsp 1.805.473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade,
julgado em 03/03/2020, DJe 09/03/2020)
Já visto que o direito ao esquecimento é a defesa particular em face de publicações jornalísticas atinentes a
reminiscências históricas que atingem a imagem ou a honra do enfocado de modo tão intenso que, mediante
ponderação concreta, tornam-se vedadas.
Há, entretanto, conflito extremado entre direitos individuais da personalidade e direitos coletivos. Quanto
ao segundo, despontam a liberdade jornalística, no aspecto geral, e o direito ao conhecimento histórico do
66
STF. (MS 32185 ED, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado
em 24/10/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-169 DIVULG 02-08-2019 PUBLIC 05-08-2019).
contexto histórico por parte da geração que consome a publicação – que, de resto, pode ser distinta da que
acompanhou o acontecimento no passado.
Chamado a deliberar sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal rechaçou a tradição pátria de
reconhecimento, ainda que pontual, do direito ao esquecimento e atribuiu especial relevo ao direito de
informar e de ser informado. Confira-se o resumo do julgado:
Veja-se, entretanto, que não se assentou a liberdade irrestrita de divulgação de fatos históricos. Ao revés,
extirpou-se a possibilidade de censura prévia da reminiscência, de modo que a publicação que viole de
maneira injustificável direitos personalíssimos de terceiros atrairá a responsabilidade por parte da cadeia de
pessoas às quais a publicação puder ser imputada. E, nesta ambiência, tanto a tutela de remoção do ilícito
(retirada da publicação) quanto o dever de indenizar despontam como consequências do ato ilícito.
Questão 2. A prescrição penal impede o ajuizamento de ação indenizatória pelo mesmo fato?
A vítima de conduta delitiva, violada patrimônio ou existencialmente, poderá ingressar com a ação
indenizatória cível (ex delicto) ou mesmo aguardar o desfecho penal para, então, promover a liquidação ou
a execução cível da condenação criminal.
Por primeiro, é de se salientar que a prescrição da pretensão punitiva apenas fulmina a perspectiva de se
executar a condenação criminal. Isso porque, perdida pelo Estado a pretensão punitiva, não mais subsiste a
possibilidade de condenação do indivíduo. Nada obsta, porém, que se prossiga ou se inicie a ação ex delicto,
dês que a pretensão cível também não esteja prescrita, evidentemente. Trata-se de expressão da
independência das instâncias.
A seu turno, a pretensão executória, que só atinge efeitos secundários da condenação, não extirpa o dever
de indenizar decorrente da condenação criminal. Por isso, mesmo a execução ex delicto deverá prosseguir,
salvo se prescrita no cível, igualmente.
Ilustre-se:
Segundo o entendimento exarado pelo Superior Tribunal de Justiça (no julgamento do REsp 1.810.444), não
é possível às partes pactuarem, em negócio jurídico processual, sobre ato regulamentado por norma de
ordem pública, cuja aplicação seja obrigatória, notadamente porque, assim o sendo, não há que se falar na
possibilidade de se reduzi-la à vontade das partes e à autonomia privada.
É certo que, versando o processo sobre direitos que admitem autocomposição, é lícito às partes plenamente
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar
sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo, nos termos do
artigo 190, “caput”, do Código de Processo Civil.
Bem se mostra prestigiada a vontade das partes no âmbito dessa liberdade negocial, que o juiz, no controle
da validade das convenções, somente pode recusar-lhes aplicação nos casos de nulidade ou de inserção
abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de
vulnerabilidade (art. 190, parágrafo único, CPC).
Entretanto, a despeito da amplitude, em abstrato, do objeto dos negócios jurídicos processuais, não se pode
dispor, em sua formação, sobre atos regidos por normas de ordem pública de incidência obrigatória que, se
de outro modo tratadas, podem significar, por exemplo, violação ao contraditório e ao devido processo legal
ou mesmo interferência no poder geral de cautela do julgador.
Nesse sentido, deve-se entender, com prudência, a restrição da atividade jurisdicional no controle das
convenções firmadas em negócio jurídico processual, a fim de não excluir, a partir da literalidade normativa,
da apreciação do magistrado cláusulas que importem verdadeiras manobras prejudiciais ou que não se
afinam com os ditames constitucionais. Aliás, referido controle deve se pautar não apenas em normas de
validade processual, mas observar, primordialmente, seu alinhamento à matriz constitucional.
Comentários
O crime de exercício arbitrário das próprias razões encontra previsão no art. 345 do Código Penal:
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Segundo Noronha, o objeto jurídico tutelado é a atuação da justiça. Não condiz com o estágio atual da
civilização que a pessoa seja juiz e parte ao mesmo tempo. Se alguém tem pretensão, que quer fazer valer,
deve invocar o Estado-juiz para satisfazê-la. É a este que compete dirimir o conflito, em decidindo ou
proclamando o direito.
A doutrina diverge quanto ao momento consumativo do crime. A primeira corrente sustenta que o delito é
formal, consumando-se antecipadamente com o emprego dos meios a fim de que seja satisfeita a pretensão.
A segunda (majoritária), ensina ser o delito material, exigindo, para a sua caracterização, a efetiva satisfação
da pretensão (Nélson Hungria, Heleno Fragoso, Mirabete).
Noronha discorda da doutrina majoritária, e sustenta que o crime se consuma com a satisfação da pretensão;
ou seja, com o uso do meio arbitrário com o fim de satisfazer uma pretensão.
O Superior Tribunal de Justiça, em decisão de 09 de fevereiro de 2021, acolheu a tese minoritária, fixando
da seguinte forma seu entendimento:
1. Pela interpretação da elementar "para satisfazer", conclui-se ser suficiente, para a consumação
do delito do art. 345 do Código Penal, que os atos que buscaram fazer justiça com as próprias
mãos tenham visado obter a pretensão, mas não é necessário que o Agente tenha conseguido
efetivamente satisfazê-la, por meio da conduta arbitrária. A satisfação, se ocorrer, constitui mero
exaurimento da conduta.
2. Por se tratar de crime formal, uma vez praticados todos os atos executórios, consumou-se o
delito, a despeito de o Recorrente não ter logrado êxito em sua pretensão, que era a de pegar o
celular de propriedade da vítima, a fim de satisfazer dívida que esta possuía com ele.
Neste sentido, não merece acolhida o pedido da defesa; assistindo razão ao Ministério Público em requerer
a condenação pelo crime consumado.
1. Pela interpretação da
elementar "para satisfazer",
conclui-se ser suficiente, para a
Jurisprudência 30%
consumação do delito do art. 345
do Código Penal, que os atos que
buscaram fazer justiça com as
próprias mãos tenham visado
obter a pretensão, mas não é
necessário que o Agente tenha
conseguido efetivamente
satisfazê-la, por meio da conduta
arbitrária. A satisfação, se
Comentários
As causas interruptivas da prescrição são aquelas que constituem um obstáculo à regular contagem do prazo
para o exercício da pretensão punitiva do Estado, trazendo, como efeito, o reinício da contagem,
desprezando-se o tempo já transcorrido, à exceção da hipótese prevista no art. 117, V, do Código Penal.
Para o Supremo Tribunal Federal, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial ou
confirmatório da decisão para fins de interrupção da prescrição. O acórdão que confirma a sentença
condenatória, justamente por revelar pleno exercício da jurisdição penal, é marco interruptivo do prazo
prescricional, nos termos do art. 117, IV, do Código Penal.
O Supremo Tribunal Federal fixou a tese, seguido pelo Superior Tribunal de Justiça que: Nos termos do inciso
IV do artigo 117 do Código Penal, o Acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando
confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente
imposta.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A prescrição é o perecimento da pretensão punitiva ou
da pretensão executória pela inércia do próprio Estado;
Prescrição prendendo-se à noção de perda do direito de punir por 30%
sua negligencia, ineficiência ou incompetência em
determinado lapso de tempo.
De acordo com o art. 117 do Código Penal, são estas.
Comentários
A inviolabilidade domiciliar constitui direito fundamental. A casa é asilo inviolável do indivíduo. A propósito,
o STF fixou o seguinte entendimento a respeito do ingresso em residência alheia: “A entrada forçada em
domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas
razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante
delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados”. (tema 280)
No caso em tela, não havia aparentemente, fundadas razões para o ingresso na residência de Pedro, de sorte
que a prova é, de fato, ilícita. É claro que a ilicitude da prova e das provas dela derivadas pode ser trabalhada
na perspectiva das limitações à teoria dos frutos da árvore envenenada: fonte independente, descoberta
inevitável etc.
Importante consignar que o STJ fixou, na data de 02 de março do corrente ano, outras teses a respeito do
tema:
2) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza
permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se
encontra a droga. Apenas será permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir
Destaque para o item 4 supra, que obriga o Policial a não só colher por escrito a autorização do morador,
como também gravá-la: Em julgamento realizado nesta terça-feira (2), a Sexta Turma do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) decidiu que os agentes policiais, caso precisem entrar em uma residência para investigar a
ocorrência de crime e não tenham mandado judicial, devem registrar a autorização do morador em vídeo e
áudio, como forma de não deixar dúvidas sobre o seu consentimento. A permissão para o ingresso dos
policiais no imóvel também deve ser registrada, sempre que possível, por escrito.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/02032021-Policiais-devem-gravar-
autorizacao-de-morador-para-entrada-na-residencia--decide-Sexta-Turma.aspx
Comentários
O entendimento do STJ, em julgado colacionado na Edição n. 146, da Jurisprudência em Teses 67, foi no
sentido de que o marco inicial da prescrição para a apuração da falta grave em caso de fuga é o dia da
recaptura do foragido. Confira:
1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a
restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal
própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a eficácia do mandamus,
que é o instrumento constitucional mais importante de proteção à liberdade individual do
cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a celeridade que o seu
julgamento requer.
2. As Turmas que compõem a Terceira Seção desta Corte firmaram o entendimento de que,
em razão da ausência de legislação específica, a prescrição da pretensão de se apurar falta
disciplinar, cometida no curso da execução penal, deve ser regulada, por analogia, pelo prazo
do art. 109 do Código Penal, com a incidência do menor lapso previsto, atualmente de três
anos, conforme dispõe o inciso VI do aludido artigo.
3. In casu, conforme consta do voto condutor do acórdão impugnado, a falta grave foi cometida
em 4/4/2017 ( fuga em 26/12/2013, com recaptura do sentenciado em 4/4/2017), tendo sido
determinada a instauração de procedimento administrativo disciplinar para a respectiva
apuração.
4. O termo inicial do prazo prescricional, no caso de fuga, é a data da recaptura, por ser uma
infração disciplinar de natureza permanente (HC n. 362.895/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
Quinta Turma, julgado em 14/2/2017, DJe 22/2/2017) .
5. A conduta foi praticada após a edição da Lei n. 12.234/2010, cujo menor lapso prescricional
é de 3 anos, prazo ainda não implementado.
(HC 527625/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/11/2019, DJe 26/11/2019).
Negritou-se.
67
Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp>.
Sobre o procedimento para a apuração da falta grave e aplicação das respectivas sanções disciplinares, o STJ
editou a Súmula n.º 533 pela imprescindibilidade de prévia instauração de procedimento administrativo
disciplinar, com contraditório e ampla defesa. Confira-se:
Súmula 533: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal,
é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado.
Contudo, a questão foi recentemente levada ao Supremo Tribunal Federal que decidiu que a oitiva do
condenado em audiência de justificação, realizada na presença do defensor e do membro do Ministério
Público, afasta a necessidade prévia de PAD.
O entendimento considerou que o procedimento judicial consta com mais garantias que o administrativo,
aliado à circunstância de que a decisão administrativa pode sempre ser revista judicialmente dentro do
chamado Sistema de Jurisdição Una ou Inglês.
Então o STF, em sede de repercussão geral, fixou a seguinte Tese n.º 941:
(STF - Plenário. RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado em 04/05/2020, Repercussão Geral –
Tema 941).
Assim, tem se entendido que resta superada – embora formalmente não cancelada – a Súmula n.º 533 do
STJ.
68
Neste sentido, julgados do STJ: AgRg no HC 592.270/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 09/02/2021,
DJe 17/02/2021; e RE nos EDcl no HC 335.994/RS, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
09/02/2021, DJe 18/02/2021.
Comentários
Emerson Garcia assevera que a investigação judicial eleitoral dispõe de natureza administrativa, por se tratar
de direito de petição (GARCIA, Emerson. Abuso de Poder nas Eleições. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2004, p. 167).
Pedro Henrique Távora Niess assinala que a investigação judicial eleitoral detém natureza jurisdicional, por
se tratar de direito de ação (NIESS, Pedro Henrique Távora. Direitos Políticos – condições de elegibilidade,
inelegibilidade e ações eleitorais. 2ª ed. Bauru: Edipro, 2000, p. 168).
Em diversos acórdãos, como, por exemplo, no RESPE nº 46.996/SP, o Tribunal Superior Eleitoral tem decidido
sobre a natureza jurídica da “ação de investigação judicial eleitoral”.
JURISPRUDÊNCIA
“Direito Eleitoral. Eleições 2016. Recursos especiais eleitorais. Ação de investigação judicial
eleitoral. Vereador e Prefeito. Gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
autorização judicial em ambiente público. Licitude da prova. Preliminares afastadas. Captação
ilícita de sufrágio. Ausência dos requisitos para configuração. Abuso do poder econômico.
Inexistência de prova robusta. Recurso da coligação não conhecido” (TSE, RESPE no 46.996, Rel.
Min. Luís Roberto Barroso, DJU 29.08.2019).
A exceção de pré-executividade é um mecanismo de defesa que pode ser utilizado pelo executado nos
próprios autos da ação de execução, nos casos em que a matéria alegada possa ser conhecida de ofício e não
demande dilação probatória.
Esse instituto não tem previsão expressa no ordenamento jurídico, tendo sido construído por Pontes de
Miranda no Caso Mannesmann, em 1966.
Dois são os requisitos que autorizam ao executado opor essa defesa nos próprios autos da execução fiscal,
sem, portanto, a necessidade da garantia do juízo e da interposição da ação autônoma de embargos: a) a
matéria deve poder ser conhecida de ofício; b) a matéria não pode demandar dilação probatória.
Em Direito Tributário, a utilização desse expediente é relativamente comum, sobretudo nos casos em que o
executado verifica algum vício formal na CDA ou a ocorrência da decadência ou da prescrição.
A decisão que acolhe a exceção de pré-executividade e extingue a execução deve ser atacada por meio de
apelação. Por outro lado, se a exceção for rejeitada, cabe a interposição de agravo de instrumento, com base
no parágrafo único do artigo 1.015 do CPC.
Concorrente, pois estabelece um rol de legitimados em condições processuais para o exercício da ação.
Disjuntiva, pois os legitimados podem atuar em conjunto ou separadamente. Por fim, autônoma, poque cada
ente legitimidade, pode propor, por si, a ação civil pública.
Comentários
JURISPRUDÊNCIA
“Constitucional e Processo Civil. Recurso extraordinário com agravo. Ação civil pública por ato de
improbidade administrativa. Utilização de colaboração premiada. Análise da possibilidade e
validade em âmbito civil. Repercussão geral reconhecida. Revela especial relevância, na forma
do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da utilização da colaboração premiada no
âmbito civil, em ação civil pública por ato de improbidade administrativa movida pelo Ministério
Público em face do princípio da legalidade (CF, art. 5º, inc. II), da imprescritibilidade do
ressarcimento ao erário (CF, art. 37, §§ 4º e 5º ) e da legitimidade concorrente para a propositura
da ação (CF, art. 129, §1º). Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035
do CPC” (STF, ARE-RG nº 1.175.650, Rel. Min. Alexandre de Moraes, J. 25.04.2019, DJU
07.05.2019).