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Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
21 de Janeiro de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 9
Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4
1.5.2 - A Distinção entre o Concurso Formal Próprio e o Impróprio Relaciona-Se com o Elemento Subjetivo do Agente
........................................................................................................................................................................................ 26
1.5.3 - Progressão de Regime para o Condenado por Crime Hediondo Reincidente não Específico ............................. 27
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 9
1.7.1 - Breves considerações sobre o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), após a entrada em vigor do Pacote
Anticrime: ....................................................................................................................................................................... 36
3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 90
49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e
15 questões discursivas.
Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
ecj@estrategiaconcursos.com.br
Boa leitura!
O Poder Legislativo federal, exercitado pelo Congresso Nacional, é definido como complexo de órgãos
dedicados ao exercício predominante da função legislativa, que se compõe da Câmara dos Deputados e
Senado Federal (FRAGA, Alberico. Do Poder Legislativo. Salvador: Imprensa Oficial, 1928, p. 13).
A Câmara dos Deputados é engendrada como órgão legislativo popular, na medida em que é formada por
representantes do povo, eleitos pelo sistema de escrutínio proporcional, em número não inferior a 8 e
superior a 70 membros por Estado ou Distrito Federal, totalizando 513 Deputados Federais, para o mandato
de quatro anos, cabendo-lhe as atribuições enumeradas no art. 51.
O Senado Federal é entendido como órgão legislativo federativo, uma vez que é formado por representantes
de entidades da federação, eleitos pelo sistema de escrutínio majoritário, em número de 3 membros por
Estado ou Distrito Federal, assegurada a renovação da representação de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços, totalizando 81 Senadores da República, para o mandato de oito anos,
cumprindo-lhe as atribuições enunciadas no art. 52, ambos da Constituição Federal.
O Poder Legislativo é titular de atribuição investigatória, uma vez que os órgãos legislativos reúnem as
investigações financeiro-orçamentária, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, e político-
administrativa, por intermédio de Comissão Parlamentar de Inquérito, em conformidade com os arts. 58, §
3º, e 71, caput.
O Congresso Nacional é titular de atribuição legislativa, visto que os órgãos legislativos são responsáveis pela
produção de normas legais, que encerra o processo de criação, modificação e revogação das espécies
normativas, em consonância com os arts. 59 a 69, todos da Constituição da República.
Fala, meus amigos. Tudo bem? Hoje, vamos estuda, nesse primeiro momento, sobre a desapropriação. Na
rodada 5, nós vimos a fase declaratória da desapropriação. Nessa rodada 11, vamos estudar a fase
executória.
1.Fase Executória
A fase executória envolve, de fato, os atos de transferência da propriedade. Essa competência vai desde a
negociação com o proprietário até a finalização do processo judicial expropriatório, passando pelo próprio
ajuizamento da ação de desapropriação.
Têm competência para proceder a fase executória os entes da Administração Pública Direta, da
Administração Pública Indireta, bem como os Concessionários e Permissionários de serviço público. Atente-
se que estes delegatários de serviços públicos somente podem proceder com a desapropriação se
expressamente autorizados em lei ou contrato.
Observe que aquele que realiza a fase executória é quem irá pagar a indenização da desapropriação.
A desapropriação efetivada por meio da via administrativa é aquela em que houve acordo entre o Poder
Público e o proprietário. O que se pretende com o acordo é evitar a ação de desapropriação no Poder
Judiciário. A doutrina denomina a desapropriação ocorrida na via administrativa de desapropriação
amigável.
Importante observar que esta desapropriação amigável é, na verdade, um negócio jurídico bilateral,
translativo e oneroso, retratando verdadeiro contrato de compra e venda.
Não havendo acordo na via administrativa, não resta outra solução senão o ajuizamento de uma ação para
solucionar o conflito de interesses entre o Poder Público e o Proprietário.
Este dispositivo deve ser entendido da seguinte forma: O Poder Judiciário pode verificar se há ou não os
casos de utilidade pública. Contudo, deve fazê-lo em ação autônoma, e não no processo expropriatório.
ATENÇÃO!!!
1 – De acordo com o Enunciado 3 do CJF, não constitui ofensa ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/1941 o
exame por parte do Poder Judiciário, no curso do processo de desapropriação, da regularidade do processo
administrativo de desapropriação e da presença dos elementos de validade do ato de declaração de utilidade
pública.
2 – Na Contestação da ação de desapropriação, o réu somente poderá versar sobre vícios do processo judicial
ou impugnação ao preço. Qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta. A expressão vícios do
processo deve ser entendida como a carência das condições da ação e dos pressupostos processuais. Dessa
forma, o réu pode alegar a ilegitimidade das partes, falta de interesse de agir, inépcia da inicial,
litispendência, coisa julgada entre outras situações.
A ação de desapropriação deve ser ajuizada, como regra, no foro da situação do bem. Caso a União seja a
autora, o foro será a capital do Estado onde for domiciliado o réu ou no DF. Observe, porém, que a ação
somente deverá ser ajuizada no DF, se o réu tiver domicílio no DF. Caso o réu ali não seja domiciliado, não
poderá a União ajuizar a ação no DF.
Após o oferecimento da indenização ao proprietário, caso este recuse a oferta apresentada, poderá ser feita
a opção pela mediação ou pela via arbitral. Assim, o particular indicará um dos órgãos ou instituições
especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão responsável pela
desapropriação.
Poderá ser eleita câmara de mediação criada pelo poder público, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.140, de
26 de junho de 2015.
1. Conceitos Importantes
A Parceria Público-Privada são reguladas pela Lei 11.079/04, que afirma ser aplicável aos órgãos da
administração pública direta dos Poderes Executivo e Legislativo, aos fundos especiais, às autarquias, às
fundações públicas, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais entidades
controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Observe, portanto, que há uma exclusão expressa da celebração das PPP’s no âmbito do Poder Judiciário.
De acordo com o art. 2º da Lei nº 11.079/04, considera-se parceria público-privada o contrato administrativo
de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. A PPP patrocinada, nos termos do § 1º do mesmo
artigo legal, é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987/95, quando
envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação pecuniária do parceiro público ao
parceiro privado.
Ante ao conceito legal, observe que a PPP patrocinada é a concessão comum, prevista na Lei nº 8.987/95, a
qual é adicionada a contraprestação pecuniária do parceiro público. Observe que, de acordo com o art. 2º,
§ 3º da Lei nº 11.079/04, não será PPP patrocinada, quando não houver a contraprestação pecuniária do
parceiro público ao parceiro privado.
Ademais, de acordo com o art. 7º, a contraprestação da Administração Pública será obrigatoriamente
precedida da disponibilização do serviço objeto do contrato de parceria público-privada. Dessa forma, o
pagamento feito pela Administração não pode ocorrer antes da disponibilização do serviço, sob pena de
ilegalidade da medida.
I – ordem bancária;
Pode-se dar como exemplos de concessões patrocinadas, a concessão de uma linha de metrô e de um
estacionamento.
Por sua vez, a PPP administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja
a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.
Observe que essa PPP administrativa vai residir em áreas como a segurança pública, habitação e saneamento
básico. Dessa forma, pode-se dar como exemplo a concessão para remoção de lixo, bem como a construção
e gerenciamento de presídios.
ATENÇÃO!!! O art. 6º, §2º da Lei 11.079/04 estabelece que o contrato poderá prever o aporte de recursos
em favor do parceiro privado para a realização de obras e aquisição de bens reversíveis, desde que haja
autorização no edital de licitação.
Atente-se que esses aportes, na prática, permitiriam reduzir os custos financeiros do projeto. Há uma
combinação mais adequada entre os recursos públicos e privados.
2. Vedações Legais
III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.
Dessa forma, faz-se importante observar que o valor mínimo de uma PPP é R$ 10 milhões. A duração do
contrato deve ser de 5 a 35 anos, incluindo eventual prorrogação, nos termos do art. 5º, I da Lei de PPP’s.
Ademais, não pode haver uma PPP que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra e de
instalação de equipamentos, bem como não pode haver uma PPP cujo objeto seja uma execução de obra
pública.
3. Diretrizes Legais
As diretrizes para uma PPP estão previstas no art. 4º da Lei nº 11.079/04, que assim estabelece:
II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados
incumbidos da sua execução;
Observe o previsto o inciso VI do referido artigo. Ele estabelece o compartilhamento dos riscos. O que a lei
propôs é que o parceiro público se solidarize com o parceiro privado, em eventual prejuízo, mesmo que
decorrido de caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica, conforme o art. 5º, III.
Atente-se também para o inciso III, o que estabelece a indelegabilidade das funções exclusivas de Estado, como a
função jurisdicional e o exercício do poder de polícia. Tais atividades não podem ser delegadas ao particular.
Ademais, perceba o Enunciado 34 do CJF: Nos contratos de concessão e PPP, o reajuste contratual para
reposição do valor da moeda no tempo é automático e deve ser aplicado independentemente de alegações
do Poder Público sobre descumprimentos contratuais ou desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, os
quais devem ser apurados em processos administrativos próprios para este fim, nos quais garantir-se-ão ao
parceiro privado os direitos ao contraditório e à ampla defesa.
4. Garantias
De acordo com o art. 8o da Lei 11.079/04, as obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública
em contrato de parceria público-privada poderão ser garantidas mediante:
III – contratação de seguro-garantia com as companhias seguradoras que não sejam controladas
pelo Poder Público;
IV – garantia prestada por organismos internacionais ou instituições financeiras que não sejam
controladas pelo Poder Público;
V – garantias prestadas por fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade;
De acordo com o art. 9º da Lei das PPP’s, antes da celebração do contrato, deverá ser constituída sociedade
de propósito específico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. A SPE é uma pessoa jurídica de
direito privado.
Dessa forma, o licitante vencedor deverá instituir essa sociedade de propósito específico, a qual irá assinar
o contrato das PPP’s com o Poder Concedente.
A sociedade de propósito específico poderá assumir a forma de companhia aberta, com valores mobiliários
admitidos a negociação no mercado.
No caso de transferência do controle da sociedade de propósito específico, esta situação estará condicionada
à autorização expressa da Administração Pública, nos termos do edital e do contrato, Ademais, deve observar
o estabelecido no art. 27, parágrafo único da Lei nº 8.987/95, que estabelece requisitos relativos à
capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal, que habilitem à execução do
contrato.
Por fim, fica vedado à Administração Pública ser titular da maioria do capital votante dessas sociedades.
O DB é formado por um comitê composto por profissionais especialistas e independentes, nomeados para
acompanharem a execução contratual, desde o início ou nos momentos mais críticos do projeto, e
sugerirem/decidirem soluções às eventuais controvérsias técnicas que possam surgir ao longo da execução
contratual.
Quanto à composição dos membros do Comitê, a prática contratual normalmente adota a formação por três
membros, cada parte contratante indicando um dos componentes. Os dois indicados, então, nomeiam um
terceiro membro.
Dessa forma, o dispute board proporciona uma espécie de gerenciamento que previne o acirramento das
divergências e conflitos oriundos do desgaste natural das relações entre as partes envolvidas.
A adoção pelo comitê de resolução de disputas gera vantagens na execução contratual, que podem ser
resumidas em (i) fator qualitativo das manifestações; (ii) diminuição da litigiosidade nos contratos; (iii)
celeridade na resolução de conflitos; e (iv) integração de contratos incompletos, reduzindo incertezas; (v)
redução de custos.
O Conselho da Justiça Federal (CJF), em estudo sobre a Prevenção e Solução Extrajudicial de Conflitos,
coordenado pelo Ministro Luis Felipe Salomão, emitiu três importantes enunciados sobre os Dispute Boards:
a) Enunciado CJF nº 49: “Os Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards) são método de solução
consensual de conflito, na forma prevista no § 3° do art. 3º do Código de Processo Civil Brasileiro.”;
b) Enunciado CJF nº 76: “As decisões proferidas por um Comitê de Resolução de Disputas (Dispute
Board), quando os contratantes tiverem acordado pela sua adoção obrigatória, vinculam as partes ao
seu cumprimento até que o Poder Judiciário ou o juízo arbitral competente emitam nova decisão ou
a confirmem, caso venham a ser provocados pela parte inconformada.”;
c) Enunciado CJF nº 80: “A utilização de Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards), com a
inserção da respectiva cláusula contratual, é recomendável para os contratos de construção ou de
obras de infraestrutura, como mecanismo voltado para a prevenção de litígios e redução dos custos
correlatos, permitindo a imediata resolução de conflitos surgidos no curso da execução dos
contratos.”
Atente-se que o DB pode ser dividido em três categorias tratadas pela doutrina especializada e visualizadas
na prática de seu manejo contratual, quais sejam 1) a recomendatória, 2) a adjudicatória e 3) a mista
No DB recomendatório, os comitês fazem recomendações, e são chamados de Dispute Review Boards – DRB.
No DB adjudicatório, os comitês irão tomar decisões, e são chamados de Dispute Adjudication Boards – DAB.
Por fim, o DB misto é aquele que terá ambas as funções, sendo, portanto, chamado de Combined Dispute
Boards – CDB.
Portanto, a depender do regramento contratual, as soluções providas pelo Comitê poderão assumir a feição
de recomendações aos contratantes, é dizer, não vinculantes; poderão assumir a qualificação de decisões
obrigatórias às partes; ou, a depender do ajuste, poderão ter, para algumas matérias, natureza cogente e,
para outras circunstâncias do contrato, natureza recomendatória, revelando-se modelagem híbrida do
dispute board. Nesta modelagem, a manifestação do Comitê passará a ter natureza decisória se uma das
partes o acionar para decidir sobre dada questão e a outra parte anuir ou silenciar quanto à resolução do
litígio através de solução vinculante do board.
Como já visto em rodada anterior, não há consenso doutrinário quanto às bases estruturantes do dano
moral. O legislador, igualmente, não determinou um conceito fechado e expresso sobre a temática, que, por
isso, é permeada de cunho predominantemente subjetivo. É cediço, todavia, que à lesão aos direitos de
personalidade (que possuem, pois, caráter extrapatrimonial) dá-se o nome de dano moral.
Em regra, o dano moral atinge os direitos de personalidade de um indivíduo e, por essa razão, por muito
tempo não era possível imaginar dano extrapatrimonial experimentado por uma coletividade – isto é, a lesão
a direitos difusos e coletivos. Contudo, a Lei da Ação Civil Pública inovou ao estabelecer expressamente a
possibilidade de reparação por danos morais e direitos difusos:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I – ao meio ambiente;
II – ao consumidor;
VI – à ordem urbanística;
Com efeito, abandonou-se a ideia de que o dano moral é a dor sofrida pela pessoa (a dor, em verdade, é
apenas a consequência eventual da lesão à esfera extrapatrimonial)1. Assim, o conceito de direitos da
personalidade tem que ser ampliado para abarcar a previsão legal, tendo em vista inexistir uma
personalidade jurídica coletiva e difusa2.
O dano moral coletivo, portanto, pode ser conceituado como uma lesão ao direito de toda e qualquer
pessoa3; é a lesão que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas
ou determináveis. Aferível in re ipsa, é categoria autônoma de dano, relacionado à violação injusta e
intolerável de valores fundamentais da coletividade: o dano moral coletivo, de natureza objetiva, tem por
fundamento o parágrafo único do artigo 927 do mesmo Código Civil, de forma que não se exige, no plano
fático, que haja necessidade de se perquirir sobre a culpabilidade do agente4.
1
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1413.
2
Idem.
3
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1413.
4
DOS SANTOS, Enoque Ribeiro. A natureza objetiva do dano moral coletivo no direito do trabalho. In:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/dano-moral-coletivo-breves-consideracoes-e-fundamentos-
normativos/#_ftn23. Acesso em: 17/01/2021.
Por fim, saliente-se que não se deve confundir o dano moral coletivo com os danos sociais, já que,
diferentemente daquele, estes são considerados espécie autônoma de dano, causados por comportamentos
exemplares negativos ou condutas socialmente reprováveis5. Para Antônio Junqueira de Azevedo, os danos
sociais
são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral –
principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida. Os danos
sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, (...) se
atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, se atos em
geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da
população6.
No Direito, conceitua-se como fato jurídico todo acontecimento, natural ou humano, que possua relevância
jurídica – isto é, que seja apto a criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.
Compreendido como o evento concretizador da hipótese contida na norma 7, o conceito de fato jurídico
abarca, como dito, acontecimentos naturais (fato jurídico em sentido estrito) e também as ações humanas
lícitas ou ilícitas (ato jurídico em sentido amplo – que se divide em negócio jurídico e em ato jurídico stricto
5
Disponível em https://www.dizerodireito.com.br/2013/10/danos-morais-coletivos-e-danos-sociais.html. Acesso em
14/01/2021.
6
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o dano social. In: FILOMENO, José
Geraldo Brito; WAGNER JR., Luiz Guilherme da Costa; GONÇALVES, Renato Afonso (coord.). O Código Civil e sua
interdisciplinariedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 376.
7
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
229.
sensu – e ato ilícito); além disso, também engloba os fatos em que, embora haja atuação humana, esta é
desprovida de manifestação de vontade, mas mesmo assim produz efeitos jurídicos (ato-fato jurídico)8.
Na presente rodada, abordaremos especificamente a temática do ato jurídico stricto sensu e do ilícito.
Em uma definição ampla, ato jurídico é toda a ação ou conduta humana, lícita ou ilícita9, com a finalidade de
criar, modificar ou extinguir direitos.
O ato jurídico em sentido estrito é a simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que
determina a produção de efeitos legalmente previstos; visa, tão-somente, a concretizar o pressuposto fático
contido na norma jurídica10. Aqui,
não há necessidade de uma declaração e vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro
do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente, mas sim um
simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei11.
O artigo 185 do Código Civil define que aos atos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que
couber, as disposições relativas ao negócio jurídico.
Doutra banda, o ato ilícito também deriva da manifestação de vontade humana, mas é praticado em
desconformidade com a ordem jurídica, violando direito subjetivo12. Sérgio Cavalieri Filho define ato ilícito
como o ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever jurídico 13.
Para o Código Civil, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (artigo 186). E, ainda, também
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (artigo 187) – abuso de direito, já visto em
rodadas passadas.
8
Idem.
9
A doutrina diverge sobre a juridicidade do ato ilícito: para Zeno Veloso, o ato ilícito não é considerado jurídico, porquanto ostente
a pecha da antijuridicidade; já para José Carlos Moreira Alves, autor da parte geral do Código Civil de 2002, o ato ilícito é também
jurídico.
10
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
230.
11
Idem.
12
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/dos-atos-e-fatos-juridicos/. Acesso em: 18/01/2020.
13
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 22.
Assim, em arremate, conclui-se que os elementos que compõem o ato ilícito são: a ação humana (positiva
ou negativa); a contrariedade ao direito ou a ilicitude (violação de dever jurídico preexistente); e o prejuízo
(material ou moral)14.
Desenvolvida na França, segundo o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino15, e sem previsão expressa no
ordenamento jurídico pátrio, a teoria da perda de uma chance fundamenta-se numa espécie autônoma de
indenização, no âmbito da responsabilidade civil. Cria-se, por meio dela, “uma quarta categoria de dano (...),
ao lado dos danos materiais, morais e estéticos”16.
A teoria considera que quem, de forma intencional ou não, retira de outra pessoa a oportunidade de um dado
benefício deve responder pelo fato17; em outras palavras, aplica-se a perda de uma chance quando um evento
danoso acarreta para alguém a frustração da chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma
perda18.
O dano originado a partir da oportunidade perdida relaciona-se diretamente a uma probabilidade, razão pela
qual se aproxima dos danos eventuais – que, por sua vez, não são passíveis de indenização.
Contudo, na perda de uma chance, a reparação do dano apenas terá lugar nos casos em que nitidamente
houver omissão, por culpa de outrem, de um fato que a vítima esperava, o que a impede,
consequentemente, de auferir um possível benefício ou de evitar uma desvantagem – o agente causador do
dano frustra uma expectativa da vítima. A probabilidade há, todavia, de ser certa.
Neste sentido, no julgamento do Recurso Especial 1.291.247, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino explicou:
na perda de uma chance, há também prejuízo certo, e não apenas hipotético, situando-se a certeza na
14
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
304.
15
No julgamento do REsp 1.291.247. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--reparacoes-possiveis-a-
teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.
16
Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/245438/aspectos-gerais-sobre-a-teoria-da-perda-de-uma-chance--
quando-uma-oportunidade-perdida-e-causa-de-indenizar. Acesso em: 18/01/2021.
17
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--
reparacoes-possiveis-a-teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.
18
Idem.
probabilidade de obtenção de um benefício frustrado por força do evento danoso. Repara-se a chance
perdida, e não o dano final19. In verbis:
(REsp 1.291.247/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/08/2014, DJe 01/10/2014).
No mesmo diapasão, o Ministro Luis Felipe Salomão, no julgamento do Recurso Especial 1.540.153/RS,
elucidou:
Assim, verifica-se que, para que se enseje a reparação pela perda de uma chance, também se exige, como
nas demais espécies de danos (moral, material ou estético), a presença de uma conduta culposa do agente
19
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--
reparacoes-possiveis-a-teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.
20
Recurso Especial nº 1.540.153/RS. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1700478&num_registro=2015
00820539&data=20180606&formato=PDF. Acesso em 19/01/2021.
(manifestada por um ato ilícito ou abuso de direito) e do dano. Entretanto, diverge das demais situações de
responsabilização civil, eis que, aqui, o dano é de difícil verificação e quantificação. Com efeito, deve-se
analisar o caso concreto e se diferenciar o dano decorrente da perda de uma chance de um dano eventual;
“é necessária uma nítida compreensão de que aquela chance que se alega perdida pela vítima seria muito
provável de se alcançar se não fosse a conduta do agente que violou a expectativa” 21 – a chance perdida
deve repercutir na esfera patrimonial ou extrapatrimonial daquele que suportou a oportunidade perdida.
Ademais, há entendimento no sentido de que a teoria não teria aplicabilidade apenas no âmbito das relações
privadas, e, assim, o Estado poderia ser responsabilizado com base nela. De acordo com o Ministro Mauro
Campbell Marques, “(...) é certo que o ente público também está obrigado à reparação quando, por sua
conduta ou omissão, provoca a perda de uma chance do cidadão de gozar determinado benefício”22.
1.4.1 - Da assistência
Já vimos que é possível a intervenção de parte posteriormente ao ingresso na lide. É o caso do litisconsórcio.
Também é viável a intervenção de terceiros na relação jurídico-processual. Citem-se, como exemplos, os
casos do amicus curiae, devidamente abordado em rodada passada, e da assistência. Nos ocuparemos,
agora, da segunda.
A assistência é modalidade de intervenção de terceiro – portanto, não parte, e que nem poderia ser, de regra
– em processo em curso, fundamentada no interesse jurídico da obtenção de provimento jurisdicional, seja
favorável, seja desfavorável, a depender da parte que será assistida.
(A assistência) é o mecanismo pelo qual se admite que um terceiro, que tenha interesse jurídico
em que a sentença seja favorável a uma das partes, possa requerer o seu ingresso, para auxiliar
aquele a quem deseja que vença.
21
Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/245438/aspectos-gerais-sobre-a-teoria-da-perda-de-uma-chance--
quando-uma-oportunidade-perdida-e-causa-de-indenizar. Acesso em 18/01/2021.
22
Recurso Especial nº 1.308.719. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1700478&num_registro=2015
00820539&data=20180606&formato=PDF. Acesso em 19/01/2021.
23
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 392.
Nota-se que, na espécie, o elemento essencial à admissibilidade da assistência, a par da condição de terceiro,
é o interesse jurídico.
No ponto, saliente-se que o interesse pode ser não jurídico; sim, econômico, político, afetivo, enfim. Não
viabilizam a assistência.
Diferentemente, jurídico é o interesse detido por aquele que detenha relação jurídica com a parte que
receberá a assistência e que, assim, poderá ter esta mesma relação afetada com o resultado da lide. A relação
jurídica é distinta da versada na lide – se igual fosse, o assistente parte seria –, mas poderá, repita-se, ser
afetada com o resultado da demanda, do que ressai a relação de prejudicialidade da lide24.
Há, no ordenamento jurídico, relações jurídicas que, conquanto diferentes entre si, são
interligadas: o que acontece com uma afeta a outra. Por isso, guardam relação de
prejudicialidade. É o que o ocorre, por exemplo, com os contratos de locação e sublocação. As
relações são distintas: os participantes da locação não são os da sublocação, e as condições
contratuais, como prazos e valor dos alugueres, podem ser muito distintas. Mas são interligadas,
porque não pode haver sublocação sem que exista prévia locação, e se esta desaparecer aquela
também se extinguirá. Quem pode ingressar como assistente simples é o terceiro que, não sendo
o titular da relação jurídica que está sendo discutida em juízo, é titular de uma relação com ela
interligada. Por isso, poderá sofrer os efeitos da sentença que, decidindo sobre uma relação,
repercutirá sobre todas as outras que com ela guardam prejudicialidade.
A propósito, dispõe o CPC que pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente
interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. A
assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o
assistente o processo no estado em que se encontre (art. 119). O dispositivo reforça, ademais, que a
assistência é sempre voluntária; nunca provocada (seja pelo juiz, seja pelas partes).
Frise-se que o regime jurídico da assistência prevê que as partes poderão impugnar o pedido de assistência,
em 15 dias. Ultrapassado o prazo, e preenchidos os requisitos o pedido será acolhido, salvo se rejeitado
liminarmente – por falta dos pressupostos. Porém, se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse
jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo (art. 120, parágrafo único). Da
decisão que resolve o incidente, cabe agravo de instrumento.
24
Há interdependência e relação de prejudicialidade entre a relação jurídica discutida nos autos e a que possui o pretenso
assistente com o assistido.
25
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 393.
Na assistência simples, o assistente possui interesse jurídico na causa. Será sempre cabível no caso de o
assistente possuir direito de regresso contra o assistido, se este for derrotado.
São, enfim, os requisitos da simples: a) lide pendente; b) lide alheia; c) interesse jurídico - a sentença pode
atingir reflexamente uma relação jurídica de que é titular o assistente.
Prevê o Código que o assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes
e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Sendo revel ou, de qualquer outro modo,
omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual (art. 121).
Anote-se que a codificação anterior previa que, no segundo caso, seria o assistente gestor de negócios do
assistido revel. Importante modificação da legislação atual é a previsão de que o assistente será substituto
processual. Compreende-se, porém, que é uma substituição processual sui generis, já que o substituído
permanece no processo. Com isso, o assistente não perceberá os efeitos da coisa julgada: tão somente a
justiça da decisão (v. mais a frente).
Embora atue o assistente conjuntamente com o assistido, a sua intervenção é limitada. Por isso, a assistência
simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao
direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos (art. 122).
Cite-se como poder do assistente a interposição de recurso, quando silente o assistido. Neste sentido,
importante enunciado do FPPC: a tutela antecipada concedida em caráter antecedente não se estabilizará
quando for interposto recurso pelo assistente simples, salvo se houver manifestação expressa do réu em
sentido contrário (Enunciado 501).
Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica
entre ele e o adversário do assistido. Foge-se, portanto, da regra geral da assistência: a relação jurídica do
assistido é distinta da litigada.
É o mais eloquente exemplo da assistência litisconsorcial a alienação de coisa litigiosa: o alienante conserva
sua condição de parte, mas o adquirente poderá ingressar como assistente litisconsorcial.
Nos casos em que couber assistência litisconsorcial, como o objeto litigioso a todos pertence e é defendido
pelo representante legítimo, a coisa julgada estender-se-á a todos, ainda que não tenham ingressado
originariamente (litisconsorte facultativo unitário) ou posteriormente (assistente litisconsorcial ulterior).
na assistência litisconsorcial, o assistente não é parte, mas seu direito também está em causa,
tanto que a doutrina admite que seu regime jurídico é análogo ao do litisconsórcio ulterior. Por
isso, pode agir no processo e conduzir sua atividade sem se subordinar ao assistido. Pode,
inclusive, ir além da atividade do assistido e até contrariar a vontade deste, porque seu agir
processual se aproxima daquele de um litisconsorte. Dessa forma, aborda-se a assistência
litisconsorcial como uma assistência qualificada, pelo fato de o assistente ter vínculo não só com
o assistido, em favor de quem irá intervir, como também com o adversário do assistido.
Quanto aos poderes, possui o assistente litisconsorcial os mesmos poderes que o litisconsorte unitário, com
a ressalva de que, tendo ingressado no processo já em curso, assumi-lo-á no estado em que se encontrar.
Vale dizer, tal qual no litisconsórcio unitário, os atos benéficos praticados pelo assistente ou pelo assistido
produzem efeitos para ambos, mas os atos maléficos praticados pelo assistente ou pelo assistido não
produzem efeitos, nem mesmo para quem os praticou. Vide, a respeito, a abordagem já realizada neste curso
quanto ao litisconsórcio unitário.
No litisconsórcio simples, a coisa julgada não incidirá sobre o assistente. Mas a ratio da decisão no processo
que a intervenção se deu não mais poderá ser debatida pelo assistente. É a justiça da decisão, intocável, de
regra.
Dispõe o CPC:
Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não
poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:
I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido (atuação
cerceada), foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu.
Justiça da decisão refere-se à fundamentação do provimento jurisdicional, que não poderá mais ser discutida
pelo assistente simples que efetivamente interveio no processo. É dizer, a verdade dos fatos que embasou a
26
BERNARDINO, Humberto Dalla. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São Paulo, 2020.
p. 288-289.
sentença não poderá mais ser rediscutida pelo assistente em outro processo. A chamada justiça da decisão,
todavia, somente atingirá o assistente se efetivamente vier a intervir.
Assim, ressalvadas as hipóteses legalmente previstas de rediscussão, o assistente ficará adstrito à verdade
estabelecida em sentença. Em nova lide correlata à assistida, outros fundamentos poderão ser levantados,
desde que distintos da verdade do processo anterior.
De carona com o tema anterior, convém analisarmos a sistema da capacidade processual e separar o seu
suprimento mais tênue – assistência – da intervenção de terceiros homônima.
A Lei processual civil estabelece que, para litigar em juízo, é necessária a capacidade processual. Assim é que
o art. 70 veicula que apenas as pessoas que se acham no exercício dos seus direitos, de acordo com a Lei
civil, é que poderão estar em juízo. Assim, exige-se que a pessoa tenha capacidade plena civil.
Noutros termos, é a aptidão para figurar como parte sem a necessidade de representante legal. As partes no
processo terão necessariamente que praticar atos processuais, que são espécie de ato jurídico. Dessa forma,
as partes precisam ter capacidade processual (legitimatio ad processum) para a prática de tais atos.
A falta de capacidade processual deve ser suprida. Para tanto, exsurgem os fenômenos da representação e
da assistência.
O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei (art. 71 do
CPC). Representado, se absolutamente incapaz; assistido, se relativamente.
A determinação do representante ou do assistido será aferido de acordo com a Lei civil, novamente. Sobre
o tema, Rios Gonçalves27:
27
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 321-322.
necessário, sob curatela. Nesse caso, a pessoa terá de ser representada ou assistida em juízo pelo
seu curador.
A problemática se acentua na hipótese de o litigante material (i.e., a parte que afirma deter o bem da vida
litigioso, ou sobre a qual recai a pretensão) não reunir a capacidade plena e tampouco possuir representante
legal.
O suprimento, nestes casos, se dará com o curador especial, figura anômala (no sentido de ser tratado na
disciplina dos fenômenos processuais excepcionais) que atuará apenas no processo em que foi nomeado.
Frise-se: diferentemente do representante legal já definido, o curador especial tem atuação pontual. O termo
final da representação ou da assistência coincide com o fim do processo.
O curador especial é, pois, instrumento de (re)equilíbrio processual. A parte vulnerável tem o incremento de
sua posição com a curatela nomeada para o processo, de modo que possa exercer as prerrogativas
constitucionais e legais a ela asseguradas, em especial as garantias processuais, como o contraditório, a
ampla defesa e o devido processo legal, na plenitude.
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele,
enquanto durar a incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for
constituído advogado.
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.
Note-se que os incisos tratam de fundamentos, em absoluto, distintos. No primeiro, o incapaz civil, sem
representante legal, ou mesmo aquele que o tenha, mas com pretensões diacrônicas. Nestes casos,
comporta a curatela a ideia de vulnerabilidade inerente.
No segundo, pertinente ao preso, não há, de resto, incapacidade. A pessoa presa é plenamente capaz, por
presunção (se incapaz fosse, estaria em cumprimento de medida de segurança, sublinhe-se). A restrição da
liberdade, porém, é indicativo de vulnerabilidade decorrente não da pessoa em si (ou seja, não é inerente),
mas, sim, da situação de impossibilidade de ir e vir – e, consequentemente, esgotar as suas garantias e
pretensões no processo.
Há, ainda no segundo inciso, o réu revel citado por edital ou com hora certa. Veja-se que, aqui, o curador
especial representará a pessoa maior e capaz cujo paradeiro se desconhece.
A jurisdição não poderá ser negada ao litigante pela incerteza do paradeiro do réu. Desde que se esgotem os
meios à disposição para a localização, prevê a Lei processual a citação ficta, editalícia; o processo seguirá e,
para que o ausente possa ter as suas pretensões presuntivamente satisfeitas na lide, o curador especial
atuará. Assim também na suspeita de ocultação, seguido o procedimento legal (arts. 253 e 254), com a
possibilidade de citação com hora certa.
É de Rios Gonçalves28 o arremate do ponto, quanto à posição peculiar do curador especial do réu citado por
edital ou com hora certa:
Sua função será defender o réu, apresentando contestação. Esta é oferecida, portanto, depois
de já ter se encerrado o prazo originário de contestação. O curador especial é obrigado a
apresentá-la, mesmo que não tenha elementos para fazê-lo. Seu prazo é impróprio: se não
cumprir a tarefa, será substituído e sofrerá sanções administrativas, mas não haverá preclusão.
Cumpre-lhe alegar o que for possível em favor do réu. Como, em regra, ele não tem contato com
o réu, pode não ter elementos para defendê-lo. Por isso, a lei inclui esse como um dos casos em
que pode haver contestação por negativa geral (CPC, art. 341, parágrafo único). Em regra,
cumpre ao réu apresentar impugnação específica dos fatos narrados na inicial, sob pena de
presumirem-se verdadeiros os não contrariados. Mas a contestação por negativa geral obriga o
autor a provar os fatos alegados, mesmo não havendo impugnação específica. Ela afasta a
presunção de veracidade, decorrente da revelia.
Veja-se que não há abertura sistemática à reconvenção a ser aforada pelo curador especial da pessoa capaz
(preso ou citado fictamente). A nomeação visa à defesa da parte; o contra-ataque – reconvenção – desborda
desses limites. No campo da defesa, porém, é permitida a plenitude compatível com a função, inclusive a
apresentação de exceções de suspeição e de incompetência relativa.
Quando o curador especial assumir a representação de incapazes, a atuação se dará tal qual a representação
legal – o que inclui a própria reconvenção. Não há limitação à defesa, pois.
Na ação monitória, necessitado o curador especial, tem-se admitido que, nomeado, apresente os seus
embargos em favor do curatelado, em função símile contestação. No ponto, o maior relevo – e abertura à
discussão – refere-se à representação do revel e do citado fictamente.
Por fim, saliente-se que a ausência de curador especial representa causa de nulidade absoluta, quando
incapaz a parte, por falta de pressuposto processual de validade. Ao citado fictamente e ao preso, igualmente
há a nulidade, que poderá ser suprida, entretanto, se o resultado do processo for favorável à parte
prejudicada (porque preenchidos os pressupostos processuais, quanto à capacidade).
28
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 325.
Conforme dispõe o art. 49 do Código Penal, a pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário,
nacional, distrital ou estadual, da quantia fixada na sentença, calculada em dias-multa.
a) Isoladamente aplicadas (caso de contravenções penais e de determinados tipos penais como o furto
privilegiado – CP, art. 155, §2o).
b) Cumulativamente aplicadas (como na maioria dos crimes contra o patrimônio, em que a pena de multa
vem com a pena privativa de liberdade).
c) Substitutivas (podem ser aplicadas isoladamente, quando a pena privativa de liberdade for menor ou igual
a 1 ano, ou cumulativamente com uma pena restritiva de direitos, quando superior a 1 ano).
A individualização da pena pecuniária deve obedecer a um critério bifásico. Primeiro, a fixação do número
de dias-mula (mínimo de 10 e máximo de 360); segundo, a definição do valor do dia-multa (1/30 do salário-
mínimo a cinco vezes o salário-mínimo – CP, art. 49, §1o).
Conforme dispõe o art. 60 do Código Penal, na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente,
à situação econômica do réu, podendo aumentá-la até o triplo, se considerar que, em virtude de sua situação
econômica, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
Todavia, nos termos do entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, a impossibilidade financeira
do réu não afasta a imposição da pena de multa, inexistindo previsão legal de isenção do preceito secundário
do tipo penal incriminador. (HC 298.169/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
11/10/2016, DJe 28/10/2016).
O concurso formal dá-se quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não. Nesse caso, o agente é punido pela pena mais grave, no caso de penas distintas, ou somente
uma delas, aumentada, em quaisquer dos casos, de um sexto até a metade. Da mesma forma que o concurso
material, também se fala em concurso formal homogêneo e heterogêneo.
Na realidade, o concurso formal implica a existência de dois ou mais crimes que, para efeito de política
criminal, são apenados de maneira menos rigorosa.
I) Conduta única: compreende um único ato ou uma sequência de atos, que têm em comum o
tempo e o lugar, destinados à prática de um crime.
II) Dois ou mais resultados típicos: uma só conduta dá origem a mais de um crime, quando atingir
mais de um bem penalmente tutelado.
I) Próprio ou perfeito: resulta de um único desígnio. o agente, por meio de uma única ação, dá causa a
dois ou mais resultados (ex.: o agente dirige um carro em alta velocidade e termina por atropelar e
matar três pessoas). Responde pelo crime mais grave, com um acréscimo.
II) Impróprio ou imperfeito: resulta de desígnios autônomos. Aparentemente, há uma só ação, mas o
agente intimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los (ex.: o agente
envenena um reservatório de água, visando à morte de um desafeto, porém assumindo o risco de
matar outras pessoas que fizerem uso do líquido). Somam-se as penas, como no concurso material.
III) Homogêneos: ocorrem resultados idênticos.
IV) Heterogêneos: ocorrem resultados diversos.
A distinção entre o concurso formal próprio e o impróprio relaciona-se com o elemento subjetivo do agente,
ou seja, a existência ou não de desígnios autônomos (AgRg no REsp 1.299.942/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, Sexta Turma, DJe 21/6/2013).
1.5.3 - Progressão de Regime para o Condenado por Crime Hediondo Reincidente não
Específico
Firmou-se no Superior Tribunal de Justiça o entendimento no sentido de que, nos termos da legislação em
vigor, mostra-se irrelevante que a reincidência seja específica em crime hediondo para a aplicação da fração
de 3/5 na progressão de regime, pois não deve haver distinção entre as condenações anteriores (se por crime
comum ou por delito hediondo) (AgRg no HC n. 494.404/MS, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, DJe 20/5/2019).
Contudo, tal entendimento não pode mais prevalecer diante da nova redação do art. 122 da Lei de Execução
Penal, trazida com a Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
Com efeito, a Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para
estabelecer o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime, é o que se depreende da
leitura do § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990: A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº
7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).
Já a Lei n. 13.964/2019 trouxe significativas mudanças na legislação penal e processual penal, e, nessa toada,
revogou o referido dispositivo legal. Agora, os requisitos objetivos para a progressão de regime foram
sensivelmente modificados, tendo sido criada uma variedade de lapsos temporais a serem observados antes
da concessão da benesse.
A leitura da atual redação do dispositivo em comento revela, porém, que a situação em exame (condenado
por crime hediondo, reincidente não específico) não foi contemplada na lei. Vejamos: Art. 112. A pena
privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: […] V - 40% (quarenta por
cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; […] VII - 60% (sessenta
por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII - 70%
(setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte, vedado o livramento condicional.
Dessa forma, em relação aos apenados que foram condenados por crime hediondo mas que são reincidentes
em razão da prática anterior de crimes comuns não há percentual previsto na Lei de Execuções Penais, em
sua nova redação, para fins de progressão de regime, visto que os percentuais de 60% e 70% se destinam
unicamente aos reincidentes específicos, não podendo a interpretação ser extensiva, vez que seria
prejudicial ao apenado. Assim, por ausência de previsão legal, o julgador deve integrar a norma aplicando a
analogia in bonam partem.
No caso de condenado por crime hediondo, reincidente não específico, diante da lacuna na lei, deve ser
observado o lapso temporal relativo ao primário. Impõe-se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do
referido artigo da Lei de Execução Penal, exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a
progressão de regime.
Sem pretender esmiuçar os meandres históricos do Ministério Público, que nos remontaria ao Rei Felipe, o
Belo, mas apenas a título de curiosidade, trazemo-lhes alguns registros sobre a instituição.
Rui Cavalin Pinto (p. 13) menciona que a expressão Ministério Público foi mencionada pela primeira vez no
Brasil, no artigo 18, do Regulamento das Relações do Império, de 1847.
Também nos traz uma breve explanação acerca da origem etimológica, tanto da expressão Ministério,
quanto do epíteto Parquet, pelo qual se designa a instituição em diversos documentos:
Diz-se que a expressão provém do latim magister, com o sentido de líder ou aquele que conduz.
Minister, é o menor, o que se presta a servir, ou o servidor que passa a ser um agente público
cujo ofício é servir à lei e à justiça.
O Ministério Público foi criado pelo decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, que organizou a
Justiça Federal, no contexto das transformações administrativas promovidas pelo governo
provisório após a Proclamação da República. Na exposição de motivos que serviu como
justificativa para a aprovação do ato, o então ministro da Justiça, Manuel Ferraz de Campos Sales,
reconheceu o órgão como uma “instituição necessária em toda a organização democrática”, ao
qual cabia velar pela execução das leis, decretos e regulamentos aplicados pela Justiça Federal e
promover a ação pública quando necessário, tendo sua independência resguardada (SALES,
1890, s.p.).
http://mapa.an.gov.br/dicionario-primeira-republica/532-ministerio-publico-2.html
A formatação do Ministério Público tal qual se vê nos dias de hoje ocorreu ao longo de anos de história.
Cavalin chega a afirmar que “a sua criação e independência são conquistas alcançadas no nosso tempo,
através de uma lenta e gradativa sucessão e aperfeiçoamento do seu papel jurídico-social”.
Da atividade de “oficiar na relação nas apelações criminais de qualquer natureza, a fim de alegar e requerer
por parte da Justiça”, prevista no já mencionado artigo 18, do Regulamento, ao Ministério Público de hoje,
mais de cem anos se passaram, e muita coisa mudou.
O Ministério Público tem, hoje, assento constitucional. Trata-se de função essencial à justiça, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Trata-se, no escólio do festejado Mazzilli (p. 42), de órgão pelo qual o Estado manifesta a sua soberania,
responsável por zelar das principais formas de interesse público, ou melhor, do interesse público primário,
noção que aqui se confunde com o bem geral.
Manteve, na seara criminal, a missão de promover, privativamente, a ação penal pública, consoante anela o
artigo 129, I, da Constituição.
Antes de adentrar o tema especificamente, urge uma rápida e singela explicação a respeito dos princípios
constitucionais que regem o Parquet e as implicações que eles propõem:
Por força do princípio da unidade do Ministério Público (art. 127, § 1º, da CF), os membros do
Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral. Só
existe unidade dentro de cada Ministério Público, não havendo unidade entre o Ministério
Público de um Estado e o de outro, nem entre esses e os diversos ramos do Ministério Público
da União.
ii) indivisibilidade: cada membro do Ministério Público age em nome da instituição. Não a representa, mas
constitui o próprio Ministério Público atuando. Permite, outrossim, a substituição de um membro por outro
no curso do processo, justamente porque cada membro age pela instituição.
iii) independência funcional: tão caro ao bom funcionamento da instituição. Significa, de modo simples, que
cada membro é livre para agir segundo a sua consciência, não estando adstrito a nenhuma orientação
institucional ou ingerência externa. Isso no tocante à atividade-fim.
A importância dessa normativa é que ela garante a isenção de atuação do representante do Parquet, que, é
óbvio, não lhe traz qualquer tipo de blindagem, seja interna corporis, seja extra muros. Naturalmente ele se
prende aos deveres funcionais, estando sujeito a responsabilização civil, criminal e administrativa.
O que ela, a independência, evita, ou pretende evitar, é que alguém, dentro ou fora da instituição, obrigue
o membro a atuar de tal ou qual forma. Apenas a título ilustrativo, imagine que um Promotor de Justiça
esteja a investigar um influente comerciante local, que valendo-se de todo o seu prestígio, consiga acessar
alguém do alto escalão político, que o ordene debandar a investigação. Não é o que se quer.
No campo do Processo Penal, essa garantia da independência é percebida no artigo 28, do CPP, que trata do
arquivamento do inquérito policial. Seja na sistemática antiga (ainda vigente), seja na sistemática proposta
pelo Pacote Anticrime (com efeito suspenso por força de liminar concedida pelo STF), caso a instância
revisora da manifestação discorde do arquivamento proposto, não pode simplesmente obrigar o membro a
ofertar denúncia, senão denunciar por si própria ou designar ou representante para fazê-lo.
A par desses importantes princípios, há garantias ofertadas aos membros do Ministério Público, que longe
de caracterizar prerrogativas indevidas, objetivam propiciar uma tranquilidade para que atuem em prol de
seus objetivos constitucionais.
Assim, a instituição tem autonomia administrativa, sendo responsável pela elaboração de sua própria
proposta orçamentária, a iniciativa de projeto de lei para estabelecer organização, atribuições e o estatuto
de cada Ministério Público, além da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.
[ADI 2.513 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 3-4-2002, P, DJE de 15-3-2011.]
Também objetivando o bom desempenho das atividades ministeriais, incidem aos membros vedações, como
o de exercício da advocacia, de atividade político-partidária, de outra função pública, salvo uma de
magistério etc.
Como decorrência de toda essa conformação, o Supremo tem reconhecido o princípio do Promotor natural,
que, a exemplo do juiz natural, tão caro ao processo penal, veda a designação casuística e arbitrária de
membros para a atuação em determinados feitos.
o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o promotor cuja intervenção se justifique
a partir de critérios abstratos e predeterminados, estabelecidos em lei. A matriz constitucional
desse princípio assenta-se nas cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos
membros da instituição. O postulado do promotor natural limita, por isso mesmo, o poder do
procurador-geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não deve exercer a
chefia do Ministério Público de modo hegemônico e incontrastável. Posição dos ministros Celso
de Mello (relator), Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso. Divergência, apenas,
quanto à aplicabilidade imediata do princípio do promotor natural: necessidade da interpositio
legislatoris para efeito de atuação do princípio (min. Celso de Mello); incidência do postulado,
independentemente de intermediação legislativa (min. Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e
Carlos Velloso).
- vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a
perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos
demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
- inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
- irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e
153, § 2º, I.
O MP no processo penal
Ao imaginar um processo civil (autor x réu), parece inconcebível que alguém proponha uma ação e ao final
peça a sua improcedência. Essa situação remonta ao indesejável assédio processual, tão rechaçado pela
jurisprudência do Eg. Tribunal da Cidadania.
No processo penal, diversamente, o membro do Ministério Público, autor por excelência da ação penal
pública, pode (e deve) pedir a absolvição, quando desenhada alguma das hipóteses do artigo 386, do CPP.
Pode acontecer que, a despeito do quadro fático apurado ao cabo das investigações preliminares, o Parquet
ofereça denúncia, porém essa situação não se confirme em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa, ou mesmo que o acusado apresente alguma justificante ou dirimente da culpabilidade, devidamente
comprovada, caso em que a absolvição passa a ser medida impositiva.
Não se deseja que isso seja regra (e de fato não o é), até por conta de todo o constrangimento imposto ao
réu por força do processo contra ele movido, com todas as consequências daí advindas.
Por sua vez, o artigo 127, da Constituição Federal, diz que o Parquet é o defensor da ordem jurídica.
O que se extrai dessas importantes normativas é que ao Ministério Público incumbe a) defender a ordem
pública e b) fiscalizar a execução da lei, antes mesmo de ser o titular da ação penal pública!
De modo bastante percuciente, Eugênio Paccelli de Oliveira (p. 560 e ss.) faz uma distinção entre parte em
sentido formal e parte em sentido material. Basicamente, em sentido formal, parte é aquele que ocupa um
dos polos da situação ou relação jurídica, praticando atos de postulação, apresentação de arrazoados,
produção de provas, interposição de recursos, desenvolvendo “toda e qualquer atividade reservada a quem
pode provocar a jurisdição”.
Aqui, há uma nítida distinção entre as categorias do direito material e do direito processual. O conteúdo do
direito material a ser deduzido pelo Ministério Público em juízo, nem sempre será uma pretensão
acusatória/condenatória, típica de quem ocupa o polo ativo de uma relação, como por exemplo no processo
civil.
Já a parte em sentido material é aquela que atua com parcialidade, “que defende(m) a aplicação do direito
unicamente enquanto favorável à relação jurídica material levada ao processo.”
(...) a parte é material quando há coincidência entre a sua manifestação (de direito material) na
causa e sua posição no processo (requerimento de condenação por quem é autor); é formal
quando independe de tal coincidência, como ocorre, por exemplo, quando o Ministério Público,
mesmo autor da ação, requer a absolvição do acusado (art. 385, CPP).
Edilson Mougenot Bonfin (p. 593 e ss), ao explicar que o Ministério Público é por uns identificado como
“parte imparcial”, arremata que
(...) mesmo atuando como autor, deverá zelar pela correta aplicação da lei, ainda que isso
implique, em determinadas situações, atuar em favor da parte contrária. Com efeito, o órgão do
Ministério Público tem compromisso com a justiça, acima dos interesses parciais.
Bonfin esclarece que também há quem classifique o Ministério Público como parte sui generis, parte formal
ou instrumental, parte material ou processual, ou sequer o considera como parte.
Pode-se afirmar, destarte, que o Ministério Público não é órgão de acusação e sim órgão legitimado a acusar.
Perceba-se aqui a diferença: O órgão de acusação, acusa. O órgão legitimado a acusar, acusa quando
necessário, mas resigna-se (e muito mais do que isso, luta pela) com a absolvição.
(...) ao Estado (e, aqui, ao Ministério Público) deve interessar, na mesma medida, tanto a
condenação do culpado quanto a absolvição do inocente.
Parte imparcial?
Como já dito noutra oportunidade, o Ministério Público ocupa um dos polos da relação processual, sem que
necessariamente defenda uma pretensão que lhe é típica, dado o seu caráter peculiar no processo penal.
(...) a imparcialidade deverá permear toda a atividade do Ministério Público, em todas as fases
da persecução penal, incluindo a fase pré-processual, reservada às investigações.
O atuar imparcial do Ministério Público está relacionado com a inteira liberdade que se lhe
reconhece na apreciação dos fatos e do direito a eles aplicável. O Ministério Público é livre e deve
ser livre na formação de seu convencimento, sem que esteja vinculado a qualquer valoração ou
consideração prévia sobre as consequências que juridicamente possam ser atribuídas aos fatos
tidos por delituosos.
O significado dessa proposição é que o representante do Ministério Público tem liberdade para avaliar a
situação posta e formar o seu convencimento, de acordo com o material probatório angariado aos autos.
Durante muito tempo persistiu a discussão sobre se o Ministério Público pode ou não investigar.
Uma importante consideração preliminar é no sentido de que a investigação no sistema brasileiro é plural,
significando que pode ser exercida por diversas instituições. Não se trata de tarefa exclusiva da Polícia, como
aliás se vê do gráfico outrora apresentado.
É até ideal que essa atribuição seja repartida, garantindo-se a proteção adequada dos bens jurídicos
protegidos pelo Direito Penal, que não ficam desguarnecidos por conta de eventual atuação deficitária das
entidades, que sabe-se estão, em sua grande maioria, com grande déficit de material humano e físico.
Ainda, outro importante registro é que grande parte das investigações existentes em solo brasileiro são
conduzidas pela Polícia Judiciária, que é vocacionada a tanto, o que não significa que outras instituições
também o possam fazer!
Pois bem. Após acalorados debates, ainda em 2009, o Supremo Tribunal Federal reconheceu essa
possibilidade, aplicando a teoria dos poderes implícitos.
Argumenta-se que se o Parquet é o destinatário da investigação, o titular da opinio delicti, tendo o poder-
dever de denunciar, num caso concreto, ele deve dispor de ferramentas ao adequado cumprimento dessa
tarefa, que é investigar. Ainda, como reforço retórico ao reconhecimento desse poder investigatório está o
fato de que o Ministério Público é o titular do controle externo da atividade Policial.
A outorga constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não impede nem
exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o "dominus litis", determinar a abertura de
inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos e diligências investigatórias, estar presente e
acompanhar, junto a órgãos e agentes policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo
aqueles sob regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam indispensáveis à
formação da sua "opinio delicti", sendo-lhe vedado, no entanto, assumir a presidência do
inquérito policial, que traduz atribuição privativa da autoridade policial.
(HC 87610, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 27/10/2009, DJe-228
DIVULG 03-12-2009 PUBLIC 04-12-2009 EMENT VOL-02385-02 PP-00387)
Como se nota, o poder de investigar não está concentrado exclusivamente nas mãos da chamada Polícia
Judiciária, havendo outras instituições legitimadas a tanto.
Impende registrar, por oportuno, que a investigação por meio de inquérito policial é exclusiva da Polícia, na
forma da lei 12.830/12, cabendo às demais Autoridades investigar por meio de expediente próprio, no caso
do Ministério Público, o Procedimento Investigatório Criminal.
O substrato normativo são as previsões contidas não artigo 8º, da Lei Complementar 75 e 26, da lei 8.625/93,
que tratam sobre a organização, atribuições e estatuto do MPU, e da Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público, respectivamente.
Nada obstante, temos ainda a Resolução 13/2006, do Conselho Nacional do Ministério Público, que explicita
os meandres das investigações conduzidas pelo Parquet.
1.7.1 - Breves considerações sobre o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), após a entrada
em vigor do Pacote Anticrime:
O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) está previsto no art. 52, da Lei de Execuções Penais, que foi alterado
pelo Pacote Anticrime:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características:
I – duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave
de mesma espécie;
III – visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de
terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;
IV – direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de
até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
V – entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;
§ 2º (Revogado).
§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema de áudio ou
de áudio e vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber
a visita de que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter
contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por
10 (dez) minutos.
O RDD trata-se de uma forma de cumprimento de pena fixada em regime fechado, uma subdivisão do regime
fechado, mais rigoroso e exigente, que se caracteriza como uma sanção disciplinar. Não estamos diante de
um quarto regime de cumprimento de pena, temos ainda somente três regimes: fechado, semiaberto e
aberto.
Parte da doutrina entende que, caso o apenado tenha direito à progressão de regime, ou seja, estando
presentes dos requisitos objetivos e subjetivos, deverá ser retirado do regime disciplinar diferenciado. Por
outro lado, há quem entenda que, como não há vedação expressa à progressão de regime prisional durante
o cumprimento do RDD, no caso de um apenado cumprir RDD e receber progressão de regime para, por
exemplo, o regime semiaberto, deverá primeiro cumprir integralmente a sanção disciplinar e depois efetivar
sua transferência para o novo regime (ROQUE, et al., 2020, p. 1315).
Importante mencionar que o STJ firmou entendimento, por meio da Súmula n.º 526, de que “o
reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime doloso no
cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato”. Ou seja, não é necessário o trânsito em julgado relativo ao crime
cometido durante a execução para a aplicação da sanção disciplinar (CUNHA, 2020).
Bem fixadas tais balizas, cuida-se agora dos requisitos para a inclusão em regime disciplinar diferenciado. O
art. 52, caput, da LEP, prevê que “a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado”.
Igualmente, será sujeito ao RDD, os presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que
apresentem alto risco para a ordem e segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, ou que sob
esses presos recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização
criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave, conforme
prevê o §2º, incisos I e II, do art. 52, da LEP.
Ademais, o regime disciplinar diferenciado tem as seguintes características, previstas nos incisos I ao VI, do
caput, do art. 52, da LEP:
I – duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
espécie;
III – visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para impedir
o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado
judicialmente, com duração de 2 (duas) horas. As visitas serão gravadas em sistema de áudio ou de áudio e
vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário;
IV – direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro)
presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
V – entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário;
Com relação as visitas recebidas pelo preso, impende salientar que, conforme prevê o §7º, do artigo em
estudo, se decorridos seis meses de regime disciplinar diferenciado e o preso não tiver recebido visitas,
poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família,
duas vezes por mês e por dez minutos.
Desse modo é de se compreender que o tratamento mais rigoroso ao preso não importa em sua
incomunicabilidade:
“Apesar de tal regime dispensar tratamento carcerário mais rígido aos presos, não há qualquer
previsão de incomunicabilidade do preso. […] Como se vê, organização e agendamento de visitas
não importa incomunicabilidade do preso, mas sim expediente administrativo visando à correta
execução da pena.” (LIMA, 2020, p. 223)
Ainda, se houver indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa
ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da Federação, o regime
disciplinar diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal. Neste caso,
o regime disciplinar diferenciado deverá contar com alta segurança interna e externa, principalmente no que
diz respeito à necessidade de se evitar contato do preso com membros de sua organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.
Por fim, à luz da previsão do §4º, do artigo em comento, nas hipóteses de presos que apresentem alto risco
e que tenham envolvimento com organizações criminosas e milícias privadas, o regime disciplinar
diferenciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, caso tenha indícios de que
o preso (I) continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem
ou da sociedade; ou (II) mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, considerados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a
operação duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento
penitenciário.
Para definir a geração da incriminação da tipificação da lavagem de capitais, o parâmetro a ser observado é
a abrangência de maior ou menor número de delitos antecedentes à lavagem.
Veja-se, é necessário saber que a estrutura do crime de lavagem de capitais pressupõe uma infração penal
anterior, suposta, precedente. Ou seja, o delito de lavagem de capitais é um crime remetido, subsequente a
outro, que lhe é anterior, originário. Processualmente, a acusação deve descrever a lavagem de capitais
fundada em uma justa causa duplicada, evidenciando-se uma dupla imputação ao denunciado.
Pois bem, a primeira geração da tipificação do crime de lavagem de capitais assim o considerava se a conduta
originária, precedente, fosse o crime de tráfico de drogas.
A segunda geração estipulava um rol de crimes anteriores, além do tráfico de entorpecentes, que
configurariam, então, a lavagem de capitais. Inicialmente a Lei n.º 9.613/1998 seguiu essa geração, visto que
somente considerava lavagem de dinheiro a ação de ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores, que tivesse proveniência, direta ou
indireta, restritamente dos crimes seguintes:
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Superado o conteúdo, deve-se atentar às várias terminologias presentes na Lei de Lavagem ou Ocultação de
Bens, Direitos e Valores, a Lei n.º 9.613/1998. Entende-se que “lavagem de dinheiro”, “lavagem de capitais”
ou “braqueamento de capitais” (Portugal), são expressões metafóricas que objetivam definir a atuação de
alguém em atividades econômicas e financeiras, visando esconder ou disfarçar a origem ilícita dos bens ou
ativos financeiros acrescidos ao seu patrimônio. O dinheiro, bem ou valor “sujo” é “lavado” metaforicamente
para tornar-se “limpo”. Essa expressão surgiu com o famoso contrabandista Al Capone que, em 1928,
comprou uma rede de lavanderias em Chicago para mascarar seus ganhos com o comércio ilegal de bebidas
alcoólicas e outros ilícitos.
O termo “bens” é definido pelo art. 2º, “d”, da Convenção de Palermo (2000) como “os ativos de qualquer
tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis, e os documentos ou
instrumentos jurídicos que atestem a propriedade ou outros direitos sobre os referidos ativos”. Além disso,
salieta-se que o termo bens é um gênero que engloba também as noções de direitos e valores.
Por "produtos do crime", também com base na Conveção acima mencionada, art. 2º, “e”, entende-se que
são “os bens de qualquer tipo, provenientes, direta ou indiretamente, da prática de um crime”.
Quando se diz “Bloqueio de ativos financeiros” tem-se que o verbo bloquear é empregado com o sentido
de limitar. Essa ação recai sobre o patrimônio de alguém. Juridicamente, tem o sentido de apreensão, ou
seja, vedação transitória à transferência, conversão, disposição ou movimentação de bens, ou custódia ou
controle temporário de bens. O art. 2º, “f”, da Convenção de Palermo (2000), define que “bloqueio” ou
“apreensão” consiste na “proibição temporária de transferir, converter, dispor ou movimentar bens, ou a
custódia ou controle temporário de bens, por decisão de um tribunal ou de outra autoridade competente”.
Em nosso país, em respeito aos ditames constitucionais, essa ação depende de ordem judicial fundamentada
proferida por magistrado competente.
O termo “confisco” trata-se da “privação com caráter definitivo de bens, por decisão de um tribunal ou outra
autoridade competente” (art. 2º, “g”, da Convenção de Palermo (2000)). Para ocorrer um confisco, faz-se
necessário respeitar o devido processo legal, o contraditório e a decisão deverá ser fundamentada pela
autoridade judicial competente.
Entende-se por “infração principal” da qual deriva o produto ou o proveito que pode passar a ser o objeto
material do crime de lavagem de capitais.
Ante a exigência de indícios suficientes da existência de infração penal antecedente é que surge a expressão
“justa causa duplicada”:
Art. 2º […] § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de
pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente.
Justa causa constitui condição da ação penal e é compreendida como o lastro probatório mínimo indicativo
da autoria e materialidade da infração penal (art. 395, inciso III, do CPP). À medida que o Ministério Público,
enquanto autor da ação penal, deverá angariar elementos de autoria e materialidade não só quanto ao
crime de lavagem de capitais propriamente dito, mas também quanto à existência da infração penal
antecedente, é que surge a denominada “justa causa duplicada”.
Sobre a ‘profundidade’ desses elementos probatórios, quanto ao crime anterior, já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça:
TEMA: Lavagem de dinheiro. Denúncia. Condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012. Crime
antecedente. Descrição exaustiva e pormenorizada. Denecessidade. Lastro probatório mínimo.
Aptidão.
DESTAQUE: A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige uma
descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com relação às
condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012, a presença de indícios suficientes de que o
objeto material da lavagem seja proveniente, direta ou indiretamente, de uma daquelas
infrações penais mencionadas nos incisos do art. 1º da Lei n. 9.613/1998.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: […]O STF adota o posicionamento de que "o processo e
julgamento do crime de lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da Autonomia, não se
exigindo, para que a denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considera
apta, prova concreta da ocorrência de uma das infrações penais exaustivamente previstas nos
incisos I a VIII do art. 1º do referido diploma legal, bastando a existência de elementos indiciários
de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas" (STF, HC 93.368/PR,
Primeira Turma, DJe de 25/8/2011). Desse modo, a inicial deve ser considerada apta se contiver
narrativa que demonstre, de modo indiciário, a probabilidade da prática do crime antecedente e
as condutas relacionadas ao suposto branqueamento de bens, direitos e valores que
provavelmente seriam proveitos desse anterior crime previsto no rol do art. 1º da Lei n.
9.613/1998, permitindo a efetiva defesa do acusado.
(Informativo n.º 657 do STJ - APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por
unanimidade, julgado em 23/09/2019, DJe 26/09/2019 – negritamos)
[...]
3. No caso do delito previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a partir
da verificação da presença de elementos informativos suficientes que sirvam de lastro probatório
mínimo que apontem a materialidade e ofereçam indícios da autoria da prática de atos de
ocultação ou de dissimulação da origem dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve
trazer elementos que sinalizem a existência de infração penal antecedente, demonstrando a
chamada justa causa duplicada.
4. Neste caso, apesar dos esforços argumentativos dos impetrantes, não se pode falar em inépcia
da peça acusatória, já que esta, embora não tenha descortinado o delito antecedente em
profundidade, indicou a existência de infração penal prévia, conhecida pelos ora pacientes, cujos
desdobramentos podem ser melhor esclarecidos no curso da instrução criminal.
[...]
(STJ - HC 525.790/MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
15/10/2019, DJe 22/10/2019 – negritamos)
Por fim, pode ocorrer também – e é bom que se conheça – a denominada “justa causa triplicada”, isto
quando a infração antecedente à lavagem de capitais também depender da prova de existência de infração
penal anterior, como seria o caso de se pensar no crime de receptação como antecedente à lavagem de
capitais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Rogério Sanches. Teses do STJ sobre falta grave na execução penal – I. Disponível em:
<https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/07/30/teses-stj-sobre-falta-grave-na-execucao-
penal/>.
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020.
PEREIRA, Jeferson Botelho. Nova roupagem do RDD no pacote anticrime – um reforço ao combate ao crime
organizado. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/78899/nova-roupagem-do-rdd-no-pacote-
anticrime#:~:text=O%20Regime%20disciplinar%20diferenciado%20possui,com%20dura%C3%A7%C3%A3o
%20de%20duas%20horas>.
ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm,
2020.
A Justiça Eleitoral é composta pelo Tribunal Superior Eleitoral, constituído por, no mínimo, 7 Ministros,
escolhidos dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e idoneidade
moral, e nomeados pelo Presidente da República, sendo três dentre os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, três dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça e dois dentre advogados, indicados por
aquele; Tribunais Regionais Eleitorais, construídos por 7 Juízes, escolhidos dentre brasileiros com mais de 30
e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e idoneidade moral, e nomeados pelo Presidente da República,
sendo um dentre juízes federais do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou Distrito
Federal, dois dentre desembargadores, dois dentre juízes de direito do Tribunal de Justiça e dois dentre
advogados, indicados por este; Juntas Eleitorais, consubstanciadas por um Juiz de Direito, assim como por
dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade, aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral, designados pela
Presidência do mesmo, e Juízos Eleitorais, contidos nos limites da circunscrição judiciária, de acordo com os
arts. 118 a 121 da Constituição da República.
O Tribunal Superior Eleitoral detém competência para processar e julgar, originariamente, o registro e a
cassação de registro de partido político, diretório nacional e candidatos à Presidência e Vice-Presidência da
República; conflitos de jurisdição entre Tribunais Regionais e Juízes Eleitorais de Estados diferentes; crimes
eleitorais e comuns que lhes forem conexos praticados por Juízes de Tribunais Eleitorais; habeas corpus em
matéria eleitoral, referentes a atos do Presidente da República e Ministros de Estado e dos Tribunais
Regionais, ou, ainda, quando houver perigo de se consumar a violência antes que o Juiz competente possa
prover sobre a impetração; reclamações relativas a obrigações impostas pela legislação aos partidos
políticos, quanto à sua contabilidade e apuração da origem dos seus recursos; impugnações à apuração do
resultado geral, proclamação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de Presidente e Vice-Presidente
da República; pedidos de desaforamento dos feitos não decididos nos Tribunais Eleitorais no prazo de 30
dias a contar da conclusão ao relator e ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada
dentro de 120 dias de decisão irrecorrível, bem como julgar os recursos interpostos das decisões dos
Tribunais Regionais, nas hipóteses de contrariedade à expressa disposição da Constituição ou legislação;
divergência na interpretação de lei entre dois ou mais Tribunais Eleitorais; denegação de habeas corpus,
habeas data, mandado de injunção ou mandado de segurança; decretação de inelegibilidade ou perda de
mandatos eletivos e expedição ou anulação de diplomas nas eleições federais e estaduais.
Os Tribunais Regionais Eleitorais dispõem de competência para processar e julgar, originariamente, o registro
e a cassação de registro de diretórios de partido político estaduais e municipais e candidatos à Governadoria
e Vice-Governadoria do Estado, Congresso Nacional e Assembleia Legislativa; conflitos de jurisdição entre
Juízes eleitorais do mesmo Estado; crimes eleitorais cometidos pelos Juízes eleitorais; habeas corpus em
matéria eleitoral, referentes a atos de autoridades que respondam perante os Tribunais de Justiça por crime
de responsabilidade, ou, ainda, quando houver perigo de se consumar a violência antes que o juiz
competente possa prover sobre a impetração; reclamações relativas a obrigações impostas pela legislação
aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e apuração da origem dos seus recursos e pedidos de
desaforamento dos feitos não decididos pelos Juízes eleitorais no prazo de 30 dias a contar da conclusão
para julgamento, como também julgar os recursos interpostos dos atos e decisões das Juntas e Juízes
Eleitorais, na hipótese de concessão ou denegação de habeas corpus ou mandado de segurança.
As Juntas Eleitorais encerram competência para processar e julgar as impugnações e demais incidentes
verificados durante os trabalhos da contagem e apuração das eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a
sua jurisdição, concluídos no prazo de dez dias, para efeito de diplomação dos eleitos para cargos municipais.
Os Juízes Eleitorais enfeixam competência para processar e julgar o registro e cassação do registro de
candidatos à Prefeitura e Câmara Municipal; crimes eleitorais e comuns que lhes forem conexos, desde que
não estejam atribuídos privativamente a instância superior, e habeas corpus e mandado de segurança em
matéria eleitoral, ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais,
cumprindo-lhe a direção do processo eleitoral.
Conceito
A inobservância dos deveres jurídicos impostos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pode gerar a
responsabilização do agente responsável, o que pode ocorrer em diferentes esferas.
A propósito, já foi registrado que da “inobservância do dever fundamental pode decorrer: a) tipificação de
crimes; b) tipificação de infrações administrativas; c) aplicação de medidas pertinentes aos pais ou
responsáveis; d) aplicação de penalidades às entidades de atendimento responsáveis pela execução de
programas socioeducativos e de proteção”29, acrescentando-se, ainda, e) as medidas decorrentes da
utilização de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de educação (em sentido
amplo, posto que abrange também outras condutas).
Nesse sentido, o Estatuto tipificou as infrações administrativas, cuja apuração ocorrerá perante a Vara da
Infância e da Juventude.
Prescrição
29
ROSSATO, Luciano Alves. LÉPORE, Paulo Eduardo. CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado.
10ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 639.
A pretensão de aplicação e de execução da multa também é sujeita à prescrição, que observará a regência
existente no âmbito do Direito Administrativo30, de modo que será quinquenal, afastando-se o regime de
Direito Penal.31
Sobre o termo inicial da prescrição, há dois posicionamentos divergentes sobre o tema: o primeiro, de que
o prazo tem início na data do fato; de outro lado, prevalece no Superior Tribunal de Justiça que o termo
inicial da prescrição deverá observar a regra contida no art. 214, § 1º, do Estatuto, ou seja, o prazo se iniciará
depois de transcorrido o prazo de trinta dias do trânsito em julgado, período em que poderá ocorrer o seu
pagamento espontâneo.32 Ultrapassado esse período, o Ministério Público deverá providenciar a execução.
30
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. MULTA DO ART.
258 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PRESCRIÇÃO. PRAZO QÜINQÜENAL. PRECEDENTES DO STJ.
1. É entendimento sedimentado o de não haver omissão no acórdão que, com fundamentação suficiente, ainda que não
exatamente a invocada pelas partes, decide de modo integral a controvérsia posta.
2. "A multa imposta com supedâneo no art. 258 da Lei nº 8.069/90, cognominado Estatuto da Criança e do Adolescente, denota
sanção de feição administrativa e, a fortiori, subsume-se às regras de Direito Administrativo, cujo prazo prescricional para a
cobrança é qüinqüenal" (REsp 850.227/RN, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ 27.02.2008).
3. No mesmo sentido: REsp 855.179/RN, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 04.10.2007; REsp 892.936/RN, 2ª Turma, Min. Carlos
Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ª Região, DJe 18.06.2008; REsp 891.985/RN, 2ª Turma, Min. Castro Meira, DJ de
19.09.2007; REsp 849.184/RN, 2ª Turma, Min. Eliana Calmon, DJ de 11.09.2007.
(REsp 892.941/RN, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 11/05/2009)
31
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ECA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. MULTA.
DECISÃO MONOCRÁTICA.
PRESCRIÇÃO. LEI PENAL. INAPLICABILIDADE. 1. Inexiste ofensa ao princípio da colegialidade pelo julgamento monocrático que
aplica entendimento predominante ou sumulado das Cortes Superiores. Ademais, tal alegação é superada pela submissão do
agravo interno ao órgão plural. 2. O agravante não demonstra como o exame da regularidade da representação dispensaria a
análise de provas e fatos. Ao contrário, admite que o acolhimento da pretensão recursal demandaria apreciação do teor dos
documentos. Incidência da Súmula 7/STJ. 3. Conforme a jurisprudência desta Corte, as infrações administrativas têm natureza
diversa das dos crimes previstos no ECA, sendo inaplicável a lei penal para as punições regidas pelo direito administrativo. 4.
Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1297641/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 21/03/2019, DJe 28/03/2019).
32
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AUTO DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA. ESTABELECIMENTO COMERCIAL QUE PERMITIA O INGRESSO DE ADOLESCENTES DESACOMPANHADOS DE
RESPONSÁVEIS. APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA POR INFRAÇÃO À LEI 8.069/1990. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE MANTEVE
Sanção
As infrações administrativas, como se verá, cominam a multa pecuniária como sanção. A propósito, por
exemplo, note-se a sanção prevista no art. 258-B: multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
reais), cuja redação atual foi incluída pela Lei nº 12.010/2009.
Note-se que as infrações administrativas originalmente tipificadas pelo Estatuto não fazem referência à
multa em quantidade de reais (moeda atualmente vigente), mas em múltiplos de salário de referência, como
se verifica no art. 258, que prevê multa de três a vinte salários de referência.
À época da elaboração do Estatuto, vigia o Decreto-lei nº 2.351/1987, responsável pela instituição do Piso
Nacional de Salários e do Salário-Mínimo de Referência. Contudo, antes mesmo da sanção da Lei nº
8.069/1990, o salário de referência foi extinto pela Lei nº 7.789/1989, de modo a existir unicamente o salário-
mínimo.
Ocorre, no entanto, que a redação do projeto de lei que gerou o Estatuto não foi modificada, permanecendo
a redação como salário de referência.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao analisar o tema, em diversas oportunidades, reformou
sentenças que equipararam o salário de referência ao mínimo. Atento a essa regra, a sanção do art. 258 não
correspondente a multa de três a vinte salários-mínimos.
O DECRETO DE PRESCRIÇÃO DA MULTA, PORQUANTO DECORRIDO O PRAZO DE 5 ANOS DA DATA DO FATO. FUNDAMENTO QUE
CONTRARIA JULGADOS DA EGRÉGIA 2a. TURMA DO STJ, QUE, À LUZ DO ART. 214, § 1o. DO ECA, DECLARA QUE O TERMO INICIAL
DO REFERIDO PRAZO PRESCRICIONAL SOMENTE PODE OCORRER APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO CONDENATÓRIA,
QUANDO HAVERÁ O PRAZO PARA PAGAMENTO ESPONTÂNEO. RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA CONHECIDO E PROVIDO PARA AFASTAR A PRESCRIÇÃO E DETERMINAR O RETORNO DOS AUTOS AO PRIMEIRO
GRAU DE JURISDIÇÃO PARA REGULAR PROSSEGUIMENTO, COMO SE ENTENDER DE JUSTIÇA. 1. A 2a. Turma deste Tribunal
Superior já entendeu por diversas vezes que, nos casos como o ora apresentado, o termo inicial da prescrição deve obedecer o
que dispõe o art. 214, § 1o. do ECA. Precedentes: REsp. 1.323.653/SC, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe
1o.4.2013; REsp. 894.528/RN, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 8.5.2009; e REsp. 1.079.589/SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe
18.2.2009. 2. Divergência jurisprudencial reconhecida, na medida em que o acórdão recorrido entendeu que o marco inicial da
prescrição seria a data do fato. 3. Recurso Especial do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA conhecido e provido
para afastar a prescrição e determinar o retorno dos autos ao Juízo de primeiro grau para regular prosseguimento, como se
entender de justiça. (REsp 1655163/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/08/2020,
DJe 01/09/2020). E, também: (REsp 1323653/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/03/2013, DJe 01/04/2013).
Nessa linha, adotou-se a seguinte regra: para o cálculo do valor da sanção pecuniária, há de ser levado em
conta o montante do salário de referência quando de sua extinção, qual seja, NCz$ 46,80, fixado em maio de
1989, até o efetivo pagamento.33
Não se pode negar, contudo, que o próprio TJ/SP, em outras oportunidades, não vislumbrou irregularidade
na aplicação da sanção em salários-mínimos.34
O valor relacionado à sanção deverá ser direcionado ao Fundo vinculado ao Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente.35
É o que ocorre quando a Justiça do Trabalho apura as contribuições previdenciárias incidentes sobre a
quantia a que o empregador foi condenado a pagar, conforme determina o inciso VIII do artigo 114 da
Constituição Federal:
VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
Nesse caso, o Poder Judiciário calcula o valor devido, sendo dispensável que a administração pública efetue
o lançamento do crédito correspondente.
33
TJSP, Ap. 990.10.016196-2, rel. Des. Marco César e TJSP, Ap. 18472-0, rel. Nigro Conceição.
34
TJ/SP. Ap. Cível 0000333-94.2019.8.26.0095. Rel. daniela Maria Cilento Morsello. Câmara Especial. D. j. 16.12.2020.
35
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DA INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA PREVISTA NO ART. 249 DO ECA. DESTINAÇÃO AO FUNDO GERIDO PELO CONSELHO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE DO RESPECTIVO MUNICÍPIO. PRECEDENTES. 1. Os valores das multas administrativas aplicadas com
fundamento na Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - devem ser destinados ao fundo gerido pelo Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município, conforme dispõe o art. 214 da referida norma. Precedentes das
Primeira e Segunda Turmas desta Corte. 2. Recurso especial provido. (REsp 703.241/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/09/2008, DJe 29/10/2008).
O mesmo acontece quando o sujeito passivo declara o valor da obrigação tributária, mas não realiza o seu
pagamento36. Nessa situação, a obrigação é tornada líquida e certa pela declaração, que constitui o crédito
tributário e dispensa o fisco de proceder ao lançamento. Sobre o assunto, há inclusive Súmula do Superior
Tribunal de Justiça:
Assim, se contribuinte X fizer declaração de ajuste de IRPF que resulte na quantia a pagar de R$ 15.000,00,
mas não realizar o pagamento, pode o fisco imediatamente inscrever o crédito em dívida ativa e ingressar
com a ação de execução fiscal, não sendo necessário o prévio lançamento tributário.
Por outro lado, se o valor foi declarado apenas parcialmente, é necessário o lançamento tributário com
relação à quantia não informada. Retomando o nosso exemplo, seria o caso se o contribuinte X tivesse
omitido rendimentos, que elevariam o valor do tributo de R$ 15.000,00 para R$ 20.000,00. Nessa
circunstância, com relação aos R$ 5.000,00 omitidos, seria necessário que o fisco procedesse ao lançamento
tributário.
Por fim, também constitui o crédito tributário a realização de depósito integral para discutir a legalidade da
dívida no bojo de um processo judicial, conforme tem decidido o STJ37:
36
Para o STJ, a diferença entre essa modalidade de constituição do crédito e o lançamento por homologação reside no fato de
nesse último existir o pagamento. Quanto ao ponto, citamos o seguinte trecho do voto proferido pelo ex-Ministro do STJ, Teori
Zavaschi, ao julgar o Resp 1.101.738-SP, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos: “[...]A modalidade mais comum de
constituição do crédito tributário sem que o seja por lançamento é a da apresentação, pelo contribuinte, de Declaração de Débitos
e Créditos Tributários Federais – DCTF, instituída pela IN-SRF 129/86, atualmente regulada pela IN SRF 395/2004, editada com
base no art. 5º do DL 2.124/84 e art. 16 da Lei 9.779/99, ou de Guia de Informação e Apuração do ICMS – GIA, ou de outra
declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo constituição do crédito tributário. Não se confunde tal declaração com o
chamado lançamento por homologação (em que o contribuinte paga antecipadamente, ou seja: constitui o crédito tributário e
desde logo o extingue, sob condição resolutória – CTN art. 150, § 1º). Aqui (DCTF, GIA) há declaração (com efeito constitutivo do
crédito tributário), sem haver, necessariamente, pagamento imediato”
37
STJ - AgRg no REsp: 1213319 SP 2010/0169452-5, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento: 17/05/2012, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/05/2012
O mandado de segurança coletivo é instituto previsto no art. 5º, LXX da Constituição e regulamentado pela
lei 12.016/09. Observa-se que nem a lei ordinária, nem a Constituição contemplam o Ministério Público como
legitimado à sua impetração:
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa
de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na
forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial.
Não obstante a ausência de previsão legal e constitucional acera do tema, é possível fazer essa construção,
à luz dos arts. 127, caput e 129, III, ambos da Constituição, aliado ao art. 32, I da Lei 8.625/93. É de se reforçar
que a par dos dispositivos específicos sobre o MS coletivo, outros podem tratar da legitimidade, como os
citados agora. No caso, inquestionável a vocação do MP para a tutela dos direitos e interesses difusos e
coletivos. O art. 32, I da Lei 8.625/93 dispõe que:
Art. 32. Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica
e demais leis, compete aos Promotores de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições:
Desta forma, interpretando o tema de forma sistêmica, não há exclusão expressa da legitimidade do MP para
o mandado de segurança coletivo, de modo que, se em função institucional pode tutelar direitos coletivos
bem como pode impetrar mandado de segurança, não há óbice para o mandado de segurança coletivo.
Art. 5º LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
A lei que regula o tema é a lei 4.717/65, e, de igual forma, não contempla o Ministério Público como
legitimado ao ingresso de ação popular:
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade
de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio
o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio
ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos
cofres públicos.
No caso da ação popular, as leis orgânicas dos Ministérios Públicos nada mencionam sobre ação popular,
mesmo porque a ação civil pública é bem mais abrangente que a popular, além do fato de o art. 1º da lei
7.347/85 mencionar que a ACP não prejudica a ação popular. Desta forma, a legitimidade para o manejo da
ação popular é apenas e tão somente do cidadão.
De início, é essencial frisar que a finalidade do Registro Público das Empresas é a de levar ao conhecimento
da sociedade e daqueles que mantém relação de negócios com a empresa ou com o empresário de todos
os fatos relativos à vida da pessoa jurídica.
Cumpre dizer, que o registro não é elemento essencial para que alguém seja considerado empresário que,
se não o fizer, será considerado como irregular. Sua natureza é meramente declaratória, já que apenas
declara publicamente algo que de fato já existia: a condição de empresário. Quando cria uma pessoa jurídica,
é possível dizer, também, que o registro tem natureza constitutiva.
Existem situações no Direito Empresarial que exigem registro, como é o caso do Empresário Rural. Nessa
situação, o registro terá natureza constitutiva, já que antes do registro o empresário rural não era
considerado empresário.
É dizer, então, que em regra o registro tem natureza declaratória, pois o empresário receberá tal
qualificação quando desempenha profissionalmente atividade econômica organizada para
circulação ou produção de bens e serviços. No entanto, em relação ao empresário rural, há
natureza constitutiva, pois, a partir do registro, o produtor rural passa a integrar o regime jurídico
empresarial. Por fim, em relação à sociedade empresária e à EIRELI, o registro tem natureza
constitutiva, porque cria uma pessoa jurídica.
Os efeitos negativos decorrentes da falta de registro são diversos. Podemos citar a impossibilidade de
manter contabilidade geral, tratamento tributário mais rigoroso e, inclusive, a desvantagem da não utilização
de determinados benefícios legais, como é o caso das hipóteses de recuperação de empresas em crise
trazidas pela Lei 11.101/2005.
“Art. 998, caput, do CC. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá
requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua
sede.”
“Art. 1.151, § 1º, do CC. Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no
prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos.”
1. Órgãos Registrais
Obs.: Cabe dizer que as sociedades simples deverão ser registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
2. Atos registrais
Tais atos constitutivos somente podem ser arquivados mediante assinatura de advogado.
O empresário que não arquivar nenhum documento em um prazo de até dez anos deverá comunicar
à junta a continuidade de sua atividade (art. 60 da Lei n. 8.934/1994).
A irregularidade do empresário faz que ele não possa usufruir dos benefícios que lhe são reservados,
trazendo certas restrições como a de não possuir legitimidade para instaurar pedido de falência ou
recuperação judicial de outra empresa ou empresário e tampouco participar de licitação pública ou registra-
se no CNPJ.
Os profissionais que desempenham atividade econômica organizada rural (produtor rural), se quiserem,
podem requerer o registro na Junta Comercial. E, a partir do registro, submetem-se ao mesmo regime
jurídico do empresário, nos termos do art. 971 do Código Civil.
“Art. 971 CC. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, PODE,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito,
ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.”
O Ministério Público, considerando a norma inserida no art. 257 do Código de Processo Penal e, bem assim,
a norma insertada nos arts. 177 e 178 do Código de Processo Civil, atua tanto na esfera criminal quanto na
esfera cível.
Na esfera criminal, o campo de atividade do Ministério Público comporta a atuação no interesse da sociedade
ou acusado.
A atuação no interesse da sociedade é delineada pela promoção exclusiva da ação penal pública, requisição
para instauração de inquérito policial, realização de investigações criminais e controle da atividade policial.
A atuação no interesse do acusado é demonstrada pela livre manifestação no sentido da absolvição penal,
como também pela interposição de recurso, impetração de habeas corpus e iniciativa de revisão criminal
que, de alguma maneira, beneficie o autor do fato, indiciado, acusado, condenado ou culpado.
Na esfera cível, o campo de atividade do Ministério Público compreende a atuação extrajudicial e judicial.
A atuação extrajudicial é denotada pela promoção da administração pública dos interesses privados,
participação nos Tribunais e Conselhos de Contas e atendimento ao público.
Com efeito, na atuação judicial com a condição de órgão agente, o Ministério Público tem a iniciativa em
juízo, figurando como demandante (autor, exequente ou requerente).
Demais disso, na atuação judicial com a condição de órgão interveniente, o Ministério Público tem a
intervenção em juízo, por motivo da natureza da lide ou qualidade da parte, funcionando como fiscal da
correta aplicação da regra jurídica ao caso concreto.
Por último, as atuações em decorrência da qualidade da parte e natureza da lide são diferenciadas quanto à
natureza da intervenção, atuação processual e interesse em recorrer: a natureza da intervenção do
Ministério Público em razão da qualidade da parte é a de “fiscal assistente”, de forma que o órgão ministerial
encontra-se ligado ao interesse da parte que reclama a atuação protetiva, posto que a causa da intervenção
consiste em interesse individual indisponível correlacionado à qualidade subjetiva da parte; ao passo que a
natureza da intervenção do Ministério Público em virtude da natureza da lide é a de “fiscal imparcial”, de
modo que o órgão ministerial não se encontra ligado ao interesse das partes, visto que a causa da
intervenção consiste em interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo correlato à qualidade objetiva
da situação.
A questão do conceito de consumidor pode ser abrangida de diversas formas pelo Código de Defesa do
Consumidor. Tanto do ponto de vista individual, como coletivo. A figura jurídica denominada consumidor,
vem esculpida no art. 2º do CDC, alinhada ao quesito de destinatário final de produtos e serviços,
consagrando a teoria finalista, a qual o Superior Tribunal de Justiça já flexibilizou por meio de teses firmada,
ao adotar a teoria finalista mitigada. De qualquer sorte, uma coletividade indeterminada de pessoas pode
ser equiparada a consumidor, mesmo que em potencial, pois práticas do mercado de consumo podem atingir
a um número indeterminado de pessoas. Além dessas duas possibilidades, há a figura do bystander, prevista
no art. 17do CDC: “Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento”. Trata-se da pessoa que não está participando da relação de consumo, mas é atingido por ela, sendo,
portanto, equiparado e protegido pelo CDC nos mesmos moldes do consumidor direto. Assim, nos dizeres
do Professor Rodrigo Vaslin (PDF Estratégia):
a) coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo (art. 2º, parágrafo único, do CDC);
Com efeito, ante a interpretação extensiva do conceito de consumidor, há que se analisar o caso a caso para
o devido encaixe conceitual e da relação de consumo, para fins de aplicação da lei 8.078/90 e seus institutos
protetivos.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
Vamos lá!
Comentários
Na questão sob exame, de fato, salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa
e de suas Comissões devem ser tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus
membros (art. 47); o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito
Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos
ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha
menos de oito ou mais de setenta Deputados (art. 45, § 1º); cada Estado e o Distrito Federal devem eleger
três Senadores, com mandato de oito anos (art. 46, § 1º), e o Senado Federal deve ser composto de
representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário (art. 46, caput).
Em razão disso, como a Câmara dos Deputados deve ser composta de representantes do povo, eleitos, pelo
sistema proporcional, em cada Estado e no Distrito Federal, por força do art. 45, caput, todos Constituição
da República, deve o candidato assinalar a alternativa B.
“Mandado de segurança. Fidelidade partidária. Desfiliação. Perda de mandato. Arts. 14, § 3º, V,
e 55, I a VI, da Constituição. Conhecimento do mandado de segurança, ressalvado entendimento
do relator. Substituição do Deputado Federal que muda de partido pelo suplente da legenda
anterior. Ato do Presidente da Câmara dos Deputados que negou posse aos suplentes. Consulta,
ao Tribunal Superior Eleitoral, que decidiu pela manutenção das vagas obtidas pelo sistema
proporcional em favor dos partidos políticos e coligações. Alteração da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. Marco temporal a partir do qual a fidelidade partidária deve ser
observada [27.3.07]. Exceções definidas e examinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Desfiliação ocorrida antes da resposta à consulta ao TSE. Ordem denegada” (STF, MS nº 26.602,
Rel. Min. Eros Grau, J. 04.10.2007, DJU 17.10.2008).
Questão 2. A organização judiciária dos Territórios pode ser objeto de projeto de lei de iniciativa:
a) Geral.
b) Reservada ao Supremo Tribunal Federal.
Comentários
À luz do art. 61, § 1º, inc. II, “b”, da Constituição Federal, são de iniciativa privativa do Presidente da República
as leis que disponham sobre a organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária,
serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios.
Comentários
Considerando que ao Congresso Nacional é afeta a competência para resolver definitivamente sobre
tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional (alternativa A); o Congresso Nacional é munido de competência constitucional para aprovar o
estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas
medidas (alternativa C); compete ao Congresso Nacional, autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da
República a se ausentarem do País, somente quando a ausência exceder a quinze dias (alternativa D) e ao
Senado Federal compete privativamente dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da
União em operações de crédito externo e interno (alternativa E), de acordo com os arts. 49, incs. I, III e IV, e
52, inc. VIII, a toda evidência, deve o candidato assinalar a alternativa B, segundo a qual compete ao
Congresso Nacional, exclusivamente, sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa, como prevê o art. 49, inc. V, todos da Constituição da
República.
“O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado,
cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica
que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar
Comentários
Questão 5. Dentre as competências dos Deputados Federais e Senadores está a propositura de projetos
de lei que versem sobre:
a) Criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta.
b) Normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
c) Servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria.
d) Bens públicos.
e) Criação de órgãos da administração pública.
Comentários
Na presente questão, o Presidente da República dispõe de iniciativa reservada para os projetosa de lei que
versem sobre a criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta (art. 61, § 1º, inc.
II, “a”); normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios (art. 61, § 1º, inc. II, “d”); servidores públicos da União e Territórios, seu
regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (art. 61, § 1º, inc. II, “c”) e criação de
órgãos da administração pública (art. 61, § 1º, inc. II, “e”).
Como a iniciativa das leis complementares e ordinárias, em geral, cabe a qualquer membro ou comissão da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, inclusive as relacionadas aos bens públicos, em virtude do art.
61, caput, da Constituição da República, deve o candidato assinalar a alternativa D.
Comentários
Gabarito: B
Letra A – Errada – De acordo com a Súmula 266 do STJ, O diploma ou habilitação legal para o exercício do
cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público.
O candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito
subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, aprovado
dentro do número de vagas, for convocado e manifestar desistência. O posicionamento do STJ (RMS
33.875-MT, Primeira Turma, DJe 22/6/2015; e AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 1.398.319-ES, Segunda Turma,
DJe 9/3/2012) induz à conclusão de que o candidato constante de cadastro de reserva, ou, naqueles
concursos em que não se utiliza essa expressão, aprovado fora do número de vagas previsto no edital, só
terá direito à nomeação nos casos de comprovada preterição, seja pela inobservância da ordem de
classificação, seja por contratações irregulares. Contudo, deve-se acrescentar e destacar que a desistência
de candidatos aprovados dentro do número de vagas previsto no edital do certame é hipótese diversa e
resulta em direito do próximo classificado à convocação para a posse ou para a próxima fase do concurso,
conforme o caso. É que, nessa hipótese, a necessidade e o interesse da Administração no preenchimento
dos cargos ofertados estão estabelecidos no edital de abertura do concurso, e a convocação do candidato
que, logo após, desiste, comprova a necessidade de convocação do próximo candidato na ordem de
classificação. Precedentes do STF citados: ARE 866.016 AgR, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; ARE 661.760
AgR, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; RE 643.674 AgR, Segunda Turma, DJe 28/8/2013; ARE 675.202 AgR,
Segunda Turma, DJe 22/8/2013. AgRg no ROMS 48.266-TO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
18/8/2015, DJe 27/8/2015.
Letra C – Errada - Os candidatos em concurso público não têm direito à prova de segunda chamada nos testes
de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior,
salvo contrária disposição editalícia.
Letra D - A Administração Pública tem o dever de intimar o candidato, pessoalmente, quando há o decurso
de tempo razoável entre a homologação do resultado e a data da nomeação, em atendimento aos princípios
constitucionais da publicidade e da razoabilidade. (STJ. RMS 22508 e RMS 21554)
Questão 2. Acerca das licitações e contratações realizadas pelas Microempresas e as Empresas de Pequeno
Porte, marque a assertiva incorreta:
a) Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das
empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato.
b) As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião da participação em certames licitatórios,
deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal e
trabalhista, mesmo que esta apresente alguma restrição.
c) Nas licitações será assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação para as
microempresas e empresas de pequeno porte. Entende-se por empate aquelas situações em que as
propostas apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 5% (cinco
por cento) superiores à proposta mais bem classificada.
d) A microempresa e a empresa de pequeno porte titular de direitos creditórios decorrentes de empenhos
liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e Município não pagos em até 30
(trinta) dias contados da data de liquidação poderão emitir cédula de crédito microempresarial.
Comentários
Gabarito: C
Letra A – Correta – De acordo com o art. 42, da LC nº 123/06, Nas licitações públicas, a comprovação de
regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte somente será exigida
para efeito de assinatura do contrato.
Letra C – Errada – De acordo com o art. 44, da LC nº 123/06, Art. 44. Nas licitações será assegurada, como
critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e empresas de pequeno porte.
Nesse sentido, o parágrafo 1º estabelece que entende-se por empate aquelas situações em que as propostas
apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 10% (dez por cento)
superiores à proposta mais bem classificada.
Por sua vez, o parágrafo 2º, afirma que na modalidade de pregão, o intervalo percentual estabelecido no §
1o deste artigo será de até 5% (cinco por cento) superior ao melhor preço.
Questão 3. De acordo com os recentes entendimentos do Superior Tribunal de Justiça, marque a assertiva
correta
a) A readmissão na carreira da Magistratura não encontra amparo na Lei Orgânica da Magistratura Nacional
nem na Constituição Federal de 1988.
b) A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da
heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer outro
fundamento, dispensa o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.
c) A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar exige a exposição detalhada dos fatos a
serem apurados.
d) Em ação de desapropriação indireta não é cabível reparação decorrente de limitações administrativas.
Comentários
Gabarito: A
A – Correta - Inicialmente cumpre salientar que a orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é
no sentido da inexistência de direito adquirido a regime jurídico. No que tange à controvérsia colocada em
discussão no caso em concreto, a Corte Suprema tem entendido que, após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, não remanesce ao servidor exonerado o direito de reingresso no cargo, tendo em vista que
o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso público como condição para o
provimento em cargo efetivo da Administração Pública.
Por sua vez, o Conselho Nacional de Justiça expediu orientação normativa vinculante assentando a
impossibilidade de formas de provimentos dos cargos relacionados à carreira da Magistratura que não
estejam explicitamente previstas na Constituição Federal de 1988, nem na LOMAN.
Assim, no caso em concreto, não há falar na existência de direito líquido e certo de fazer valer-se de norma
prevista em legislação local que esteja em afronta aos dispositivos da Constituição Federal e da Lei Orgânica
da Magistratura.
Por conseguinte, não há óbice para que o Tribunal a quo, ainda que no exercício da função administrativa,
lance mão da orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal aplicável à espécie, para fundamentar
sua decisão de negar o pedido de readmissão. Assim o fazendo, forçoso reconhecer que a Administração deu
cumprimento à Constituição Federal, à Lei Orgânica da Magistratura Nacional, bem como à orientação
normativa expedida pelo Conselho Nacional de Justiça.
Depreende-se que, nos procedimentos destinados a selecionar quem tem ou não direito a concorrer às vagas
reservadas, tanto as declarações dos candidatos, quanto os atos dos entes que promovem a seleção, devem
se sujeitar a algum tipo de controle.
A autodeclaração é controlada pela Administração Pública mediante comissões preordenadas para realizar
a heteroidentificação daqueles que se lançam na disputa; o reexame da atividade administrativa poderá ser
feito pelos meios clássicos de controle administrativo, como a reclamação, o recurso administrativo e o
pedido de reconsideração.
Assim, deve-se entender, em consonância com a orientação que se consolidou no Supremo, que a exclusão
do candidato pelo critério da heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do
fenótipo, ou por qualquer outro fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.
C – Incorreta – De acordo com a Súmula 641 do STJ, A portaria de instauração do processo administrativo
disciplinar prescinde da exposição detalhada dos fatos a serem apurados.
D – Incorreta – De acordo com o STJ, Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas.
O STJ possui julgados no sentido de que a ação de desapropriação indireta, ante seu caráter real, não seria
adequada para a postulação de reparação decorrente de limitações administrativas, pretensão de natureza
pessoal. No entanto, a pretensão à reparação encerrada na ação de desapropriação indireta resulta do
esgotamento econômico da propriedade privada, cuja origem é, indubitavelmente, o agravo, pelo Poder
Público, aos poderes decorrentes do direito real de propriedade dos particulares, que, nos termos do art.
1.228, caput, do Código Civil, compreendem "a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha". Depreende-se, assim, que, nessa
ação, busca-se a satisfação de direito pessoal, cuja gênese está em ato estatal praticado face a direito real
de titularidade do particular. Ademais, devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas
e da primazia da solução integral do mérito para reconhecer o interesse-adequação da ação para o
requerimento de indenização.
Questão 4. Ainda sobre os recentes posicionamentos do STF sobre o Direito Administrativo, marque a
assertiva incorreta:
a) É inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular de serventias judiciais, com
caráter privado após a CF/88
b) Os candidatos em concurso público não têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão
física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver
previsão no edital permitindo essa possibilidade.
c) É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.
d) É constitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista
prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos
trabalhistas.
Comentários
Gabarito: D
Letra D – Errado - É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de
economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de
débitos trabalhistas. Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está
sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial
de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88)
e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III). STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920)
Letra A – Correto - É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios privatizados que tenham
ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de promulgação da CF em vigor. As pessoas que
assumiram as serventias judiciais depois da CF/1988, em caráter privado, não têm direito líquido e certo de
nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir
do momento em que assumem cargo em serventia que deveria ser estatizada. Isso porque é inconstitucional
o provimento de pessoas para exercerem a função de titular de serventias judiciais, com caráter privado
(serventias judicias privatizadas / não estatizadas), após a CF/88. O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo
que é obrigatória a estatização das serventias judiciais à medida que elas fiquem vagas. O prazo decadencial
do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição
Federal. STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 12/2/2019 (Info 930).
Letra B – Correto - Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos
testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força
maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade. STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/5/2013 (repercussão geral) (Info 706)
Letra C – Correto - É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida
à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF.
Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral) (Info 924).
Comentários
Gabarito: D
Letra A – Correta – Trata-se da nova redação do art. 4º da Lei 9.986/00, dada pela Lei 13.848/19
Letra B – Correta – Trata-se da redação do art. 8º-A, I da Lei 9.986/00, dada pela Lei 13.848/19.
Letra D – Errada – De acordo com o art. 9º, da Lei 9.986/00, Art. 9º O membro do Conselho Diretor ou da
Diretoria Colegiada somente perderá o mandato:
I - em caso de renúncia;
III - por infringência de quaisquer das vedações previstas no art. 8º-B desta Lei
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque as organizações religiosas constam do rol de pessoas jurídicas de direito
privado do diploma civil (art. 44, IV, CC), sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou
registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento, consoante §1º do mesmo dispositivo
legal.
A alternativa B é falsa, porque as organizações não governamentais não constituem espécie autônoma de
pessoa jurídica de direito privado, mas sim de entidades privadas que integram o terceiro setor no âmbito
da Administração Pública, com vistas ao desempenho de funções eminentemente sociais, cuja constituição
se reveste de uma espécie verdadeiramente autônoma de pessoa jurídica de direito privado, seja associação,
fundação, entre outras.
A alternativa C é verdadeira, porque os partidos políticos constam do rol de pessoas jurídicas de direito
privado do diploma civil (art. 44, V, do CC). Com efeito, o artigo 1º, “caput”, da Lei 9.096/95, dispõe que o
partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime
democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na
Constituição Federal.
A alternativa E é verdadeira, porque as fundações constam do rol de pessoas jurídicas de direito privado do
diploma civil (art. 44, III, do CC) e somente podem ser constituídas para os fins especificados, os quais se
encontram elencados no artigo 62, parágrafo único, do Código Civil.
b) Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados, vedada a previsão de transmissão
desta qualidade.
c) A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
d) As fontes de recursos para a sua manutenção e a forma de distribuição de eventual lucro entre os
associados.
e) A instituição de categorias com vantagens especiais e os respectivos critérios para habilitação dos
associados.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque o estatuto das associações deve conter, sob pena de nulidade, os direitos e
deveres dos associados – com relação à associação – e não entre si (artigo 54, III, do Código Civil), mesmo
porque não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos (artigo 53, parágrafo único, do Código
Civil).
A alternativa B é falsa, porque, nos termos do artigo 54, II, do Código Civil, o estatuto das associações deve
conter, sob pena de nulidade, os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; podendo,
ainda, dispor sobre a transmissão da qualidade de associado, conforme intelecção do artigo 56, “caput”, do
mesmo diploma legal.
A alternativa C é verdadeira, pois corresponde à literalidade do artigo 54, VII, do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque, por se tratar de corporação sem persecução ao lucro, não é o lucro das
associações dividido entre os associados (Art. 53, “caput”, do CC).
A alternativa E é falsa, porque a instituição de categorias com vantagens especiais é uma faculdade a ser
disposta no estatuto, não se tratando de cláusula essencial, cuja falta gera nulidade, nos moldes do artigo 55
do Código Civil.
Questão 3. É contrato formal e solene, pelo qual as partes regulamentam as questões patrimoniais
relativas ao casamento, da forma como melhor lhes aprouver, em regra, ante a característica da
autonomia da vontade privada, inerente aos regimes de bens. Sobre o pacto antenupcial, assinale a
alternativa incorreta:
a) Trata-se de negócio jurídico submetido a condição suspensiva, uma vez que a sua eficácia subordina-se à
seguinte ocorrência do casamento, o qual, contudo, não se afeta por eventual nulidade daquele.
b) A eficácia do pacto antenupcial realizado por menor, salvo nos casos de regime de separação obrigatória
dos bens, não prescinde da aprovação de seu representante legal.
c) Por força do exercício da autonomia privada, é possível dispor em pacto antenupcial cláusula de exclusão
do direito à sucessão no regime de comunhão parcial de bens, afastando-se, por exemplo, a concorrência
sucessória do cônjuge com os ascendentes, desde que observadas as formalidades legais para a celebração
do contrato.
d) Pode-se convencionar, em pacto antenupcial que adote o regime de participação final nos aquestos, a
livre disposição dos bens imóveis particulares por um dos cônjuges, independentemente de outorga do
outro.
e) O registro das convenções antenupciais, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio
dos cônjuges, constitui requisito à produção de seus efeitos em caráter erga omnes.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque é nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e
ineficaz se não lhe seguir o casamento, conforme o artigo 1.653 do Código Civil. Noutro giro, eventual
nulidade do pacto não atinge o casamento, que será válido e regido pela comunhão parcial de bens, diante
do princípio da conservação dos negócios jurídicos.
A alternativa B é verdadeira, porque a eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada
à aprovação de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens, com
base no artigo 1.654 do Código Civil.
A alternativa C é falsa, porque é nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de
lei (artigo 1.655 do Código Civil). Assim, serão nulas, por exemplo, as cláusulas de exclusão do direito à
sucessão no regime de comunhão parcial de bens, afastando a concorrência sucessória do cônjuge com os
ascendentes. Pondera-se, contudo, que a nulidade de cláusula não prejudica o pacto como um todo,
aplicando-se a máxima da conservação dos negócios jurídicos.
A alternativa D é verdadeira, porque, no pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos
aquestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares, por força do
artigo 1.656 do Código Civil.
A alternativa E é verdadeira, porque as convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão
depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. Assim
prescreve o artigo 1.657 do Código Civil.
Questão 4. Bens imóveis, também denominados bens de raiz, consistem naqueles bens que não se pode
transportar, de um lugar para outro, sem destruição ou alteração de sua substância. Doutrinariamente,
são classificados em diversas categorias, sobre as quais não se pode afirmar a seguinte assertiva:
a) Entende-se por bens imóveis por sua natureza, isto é, de sua própria essência, o solo, a superfície, o espaço
aéreo e os respectivos direitos reais que sobre eles recaírem.
b) Inserem-se na classe de bens imóveis por acessão artificial, física ou industrial as construções e as
plantações, por se tratarem de bens incorporados permanentemente ao solo em decorrência de ação
humana.
c) Trata-se o direito à sucessão aberta de bem imóvel por ficção jurídica, uma vez que seu caráter imobiliário
é determinado por força de disposição legal.
d) Mantêm o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local, bem como os materiais provisoriamente separados de um prédio, para
nele se reempregarem.
e) Compreendem-se na categoria de bens imóveis por acessão natural as árvores e os frutos, visto que
representam bens que se prendem naturalmente ao solo.
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A alternativa A é falsa, porque o solo, a superfície e o espaço aéreo são bens imóveis por sua natureza,
segundo o artigo 79 do Código Civil; entretanto, os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram
são entendidos como bens imóveis por determinação legal ou ficção jurídica, porquanto a atribuição do
caráter imobiliário resultou da vontade do legislador, nos termos do artigo 80, I, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é verdadeira, porque é bem imóvel por acessão artificial, física ou industrial tudo aquilo que
o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada e o edifício construído. Em síntese,
são as construções e plantações.
A alternativa C é verdadeira, porque, tal como os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram,
o direito à sucessão aberta trata-se de bem imóvel por determinação legal ou ficção jurídica, com amparo
no artigo 80, II, do Código de Processo Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo,
mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local, bem como os materiais provisoriamente
separados de um prédio, para nele se reempregarem, nos exatos termos do artigo 81 do Código de Processo
Civil.
A alternativa E é verdadeira, porque é bem imóvel por acessão natural tudo aquilo que se prende
naturalmente ao solo, como as árvores e os frutos.
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Apenas a alternativa E é a verdadeira, pois reproduz o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 1469761 - PR (2014/0168771-7). Veja-se:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VIOLAÇÃO DO ART. 535
DO CPC/1973. INEXISTÊNCIA. MALFERIMENTO DO ART. 128 DO CPC/1973. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. APELAÇÃO INTEMPESTIVA. EFEITO TRANSLATIVO. NÃO OCORRÊNCIA (...) 5. Na
espécie, o Tribunal de origem reconhece a intempestividade do recurso de apelação, contudo analisou a
alegação do recorrido de ocorrência de cerceamento de defesa, ao argumento de que a intempestividade é
regulada pelo Código de Processo Civil, enquanto o cerceamento de defesa versa sobre matéria
constitucional, ou seja, hierarquicamente superior. 6. Para que ocorra o efeito translativo dos recursos, é
necessária a abertura da instância recursal, ou seja, que o recurso interposto ultrapasse o juízo de
admissibilidade e, assim, a matéria possa ser conhecida, o que não ocorreu no caso. 7. Somente após o
conhecimento do recurso, é que as demais assertivas poderão ser analisadas pela Corte local, ainda que
versem sobre questão de ordem pública. 8. Em face da intempestividade da apelação, não há como atribuir-
se ao recurso o efeito translativo, motivo pelo qual o acórdão questionado incorreu em violação dos arts.
508 e 515 do CPC/1973. Portanto, deve ser reformado. 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, provido para reformar o acórdão recorrido e reconhecer a intempestividade do recurso de
apelação.
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A alternativa A é verdadeira, porque o litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela
natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam
ser litisconsortes. Assim, nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que
requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção
do processo, na forma dos artigos 114 e 115, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é falsa, porque é unitário – e não necessário – o litisconsórcio quando, pela natureza da
relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes, na linha do
artigo 116 do Código de Processo Civil.
da competência nos juizados especiais federais, na hipótese de existência de litisconsórcio ativo, deve ser
calculado dividindo-se o montante pelo número de autores. Dessa forma, se as parcelas percebidas e as
supostamente devidas a cada um dos litisconsortes for inferior a sessenta salários mínimos, prevalece a
competência absoluta do Juizado Especial Federal Cível para o julgamento da lide (art. 3º da Lei n.
10.259/2001). Precedentes citados: AgRg no REsp 1209914/PB, DJe 14/2/2011; AgRg no CC 104714/PR, DJe
28/8/2009. REsp 1.257.935-PB, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 18/10/2012” (Info 507 STJ). Tal
entendimento se aplica também aos demais Juizados Especiais.
Questão 3. No tocante às provas no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, estão corretas todas as
afirmativas a seguir, exceto:
a) No curso da audiência de instrução e julgamento, pode o juiz, de ofício, realizar inspeção em pessoas ou
coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
b) Diferentemente da conciliação, a qual pode ser presidida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado, a
instrução somente por este pode ser dirigida.
c) A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos
depoimentos.
d) A veracidade dos fatos alegados pelas partes pode ser comprovada por todos os meios de prova, mesmo
que não especificados em lei, contanto que sejam moralmente legítimos.
e) A ausência de prévio requerimento sobre a produção de determinada prova em nada prejudica a sua
realização na audiência de instrução e julgamento.
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A alternativa A é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 35, parágrafo único, da Lei 9.099/95.
A alternativa B é falsa, porque a instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado,
nos termos do artigo 37 da Lei 9.099/95.
A alternativa D é verdadeira, porque todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes, segundo o artigo
32 da Lei 9.099/95.
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Gabarito: B
I Excesso da legítima defesa quando decorre de erro de tipo escusável (inevitável ou invencível) exclui o dolo
e a culpa. Se o erro de tipo for inescusável (evitável ou vencível) exclui o dolo, mas permite a punição culposa
se houver previsão legal; nos termos do art. 20 do Código Penal.
II A hipótese de estado de necessidade agressivo, uma vez que o estado de necessidade defensivo atinge o
bem jurídico daquele que gerou a situação de perigo.
III O CP adotou a teoria unitária que defende que só haverá exclusão da ilicitude em caso de estado de
necessidade justificante que ocorre quando o bem sacrificado é de valor igual ou inferior ao preservado.
Todavia, prevê, no art. 24, §2º, que embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena
poderá ser reduzida de um a dois terços.
IV Tanto o erro voluntário, doloso; quanto o involuntário, culposo, nas causas de justificação, são igualmente
puníveis.
I A obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico caracteriza situação de exculpação
legal, que exclui a culpabilidade, por inexigibilidade de comportamento diverso, e a obediência a ordem ilegal
de superior hierárquico não exclui a culpabilidade, podendo funcionar como causa de diminuição de pena,
que reduz a culpabilidade.
II A emoção e a paixão não excluem a imputabilidade, mas a violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, pode privilegiar determinados crimes ou constituir circunstância atenuante de outros.
III Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o erro evitável de policial sobre os limites do estrito
cumprimento do dever legal, que produz lesão corporal grave em cidadão, permite atribuição de
responsabilidade penal ao policial, a título de culpa.
IV A embriaguez proveniente de caso fortuito é hipótese de inexigibilidade de conduta diversa.
V A coação irresistível, física ou moral, conduz à inexigibilidade de conduta diversa.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I e II;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.
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Gabarito: B
I Nos termos do art. 22 do Código Penal, se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência
a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
O art. 65, III, considera como circunstância atenuante, ter o agente cometido o crime em cumprimento de
ordem de autoridade superior.
II Conforme o disposto no art. 28 do Código Penal, não excluem a imputabilidade penal a emoção e a paixão;
todavia estas figuram como causa especial de diminuição de pena no homicídio privilegiado (CP, Art. 121,
§1º) e como circunstância atenuante genérica (CP, Art. 65, III).
III No erro de proibição indireto evitável, a consequência prevista no art. 21 do Código Penal é a diminuição
da pena de um sexto a um terço.
IV A embriaguez completa proveniente de caso fortuito é hipótese de inimputabilidade (CP, Art. 28, §1º)
Questão 3. No que toca ao concurso de pessoas, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I O concurso de pessoas é inadmissível nos crimes monossubjetivos.
II Haverá único crime para os coautores e partícipes, segundo a teoria monista adotada pelo Código Penal,
todos por ele respondendo em absoluta igualdade de condições.
III É inadmissível a coautoria nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão.
IV O concurso de pessoas é admissível nos crimes próprios e nos delitos culposos.
V No concurso de pessoas é indispensável prévia combinação entre os agentes e adesão subjetiva à vontade
do outro.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
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Gabarito: E
I Os crimes unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou de concurso eventual) são aqueles que podem ser
praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a co-autoria e a participação.
III Nos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, o tipo traz uma conduta positiva,
mas a omissão do agente, que descumpre o dever jurídico de agir, acarreta a produção de resultado e
responsabilização penal. Com relação à co-autoria em crime omissivo próprio, parte da doutrina entende
que não (Juarez Taveres), pois cada um responde isoladamente, não sendo o caso de concurso de agentes.
É o exemplo clássico em que A e B omitem socorro a C, sendo que cada um deles poderia socorrer, sem risco
pessoal. Contudo, Cezar Roberto Bitencourt (Manual de Direito Penal, Parte Geral, p. 445) entende "ser
perfeitamente possível a co-autoria em crime omissivo próprio". No mesmo sentido é a posição de Rogério
Greco (Curso de Direito Penal, Parte Geral, p. 476). A doutrina manifesta pela possibilidade de participação
em crime omissivo impróprio. Ex: A instiga B, que ele não conhece, a não alimentar o filho. B cometerá o
crime de homicídio por omissão, já que B tem o dever jurídico de evitar o resultado. A será partícipe. No
mesmo sentido é acerca do cabimento da co-autoria em crime omissivo impróprio. Ex: A e B, em comum
acordo, deixa de alimentar seu filho, vindo este a falecer. O casal é co-autor de homicídio.
IV O concurso de pessoas é admissível nos crimes culposos, não se admitindo, contudo, a participação; e
também nos crimes próprios, conforme o disposto no art. 30 do Código Penal.
V No concurso de pessoas, muito embora seja necessário que todos os agentes atuem conscientes de que
estão reunidos para a prática da mesma infração; não se pode confundir tal liame psicológico com a
necessidade de acordo prévio de vontades. A adesão espontânea, sem prévia combinação é perfeitamente
possível. Por exemplo, quando um popular se junta a outros para cometer lesão corporal contra suposto
autor de furto de uma bicicleta que é pego em flagrante delito.
Questão 4. Acerca dos crimes contra a administração pública, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Constitui crime de tráfico de influência, delito contra a administração da justiça, solicitar ou receber dinheiro
ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da
justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
II Constitui o crime de tergiversação, delito contra a administração da justiça, o ato do advogado ou
procurador judicial que defende na mesma causa, sucessivamente, partes contrárias.
III Constitui crime de tráfico de influência, delito praticado por particular contra a administração em geral,
solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
IV Constitui crime de patrocínio infiel, o delito praticado por funcionário púbico contra a administração em
geral, de patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário.
V Constitui crime de favorecimento real, delito contra a administração da justiça, auxiliar a subtrair-se à ação
de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: C
I Cuida-se do crime de exploração de prestígio - CP, Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
II É o crime descrito no art. 355, Parágrafo único, do Código Penal - Incorre na pena deste artigo o advogado
ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
III CP, Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: Pena -
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
IV A conduta descrita é a advocacia administrativa – CP, Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção,
de um a três meses, ou multa.
V A hipótese descreve o favorecimento pessoal, previsto no art. 348 do Código Penal - Auxiliar a subtrair-se
à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a
seis meses, e multa.
Comentários
Gabarito: D
I CP, Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
II CP, Art. 75. § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
III CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de
um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.
IV CP, Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente.
V CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de
um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.
Comentários
GABARITO: A
FUNDAMENTO:
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor.
Comentários
GABARITO: C
FUNDAMENTO:
Comentários
GABARITO: E
FUNDAMENTO:
Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou
qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
Comentários
GABARITO: ERRADO
O regime disciplinar diferenciado pode ser aplicado aos presos provisórios, condenados, nacionais ou
estrangeiros, com fulcro no art. 52, caput, da Lei de Execuções Penais:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
Questão 2. À luz do Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/2003), analise a afirmativa a seguir:
Os crimes definidos no Estatuto do Idoso são de ação penal pública incondicionada e a eles não se aplicam
os benefícios das escusas absolutórias, previstos nos artigos 181 e 182, do Código Penal.
Comentários
GABARITO: CERTO
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes
aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Salienta-se que, de igual modo, a não aplicação das escusas absolutórias no caso de crimes praticados contra
idosos está prevista no art. 183, inc. III, do Código Penal:
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: […]
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Questão 3. Em atenção à Lei n.º 12.850/2013, é certo que, depois de homologado o acordo de colaboração
premiada, o colaborador poderá ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de
polícia responsável pelas investigações, mesmo que desacompanhado de seu defensor.
Comentários
GABARITO: ERRADO
c) Junta Eleitoral.
d) Tribunal Regional Eleitoral.
e) Juiz de Direito.
Comentários
De acordo com os arts. 23, inc. XII, e 30, inc. VIII, do Código Eleitoral, ao Tribunal Superior Eleitoral compete
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade com jurisdição
federal ou órgão nacional de partido político, enquanto que aos Tribunais Regionais Eleitorais compete
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
partido político
Comentários
e) São irrecorríveis, salvo as que contrariarem a Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou
mandado de segurança.
Comentários
Dispõe o art. 121, § 3º, da Constituição da República, que as decisões do Tribunal Superior Eleitoral são
irrecorríveis, salvo as que contrariarem o texto constitucional e as denegatórias de habeas corpus ou
mandado de segurança.
Comentários
Alternativa “A”: incorreta. A medida socioeducativa de liberdade assistida tem prazo mínimo de seis meses,
podendo ser prorrogado pela autoridade judiciária. Ao final do período, será possível que o juízo da
execução, se o caso, substitua a medida por outra que seja suficiente à ressocialização, não necessariamente
a internação.
Alternativa “B”: incorreta. O ato infracional equiparado ao delito de furto não se constitui em ato cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, de modo que está inviabilizada a aplicação da internação.
Alternativa “C”: correta. A medida socioeducativa de semiliberdade admite as atividades externas, as quais
não poderão ser proibidas pela autoridade judiciária. De outro lado, a restrição poderá ocorrer na medida
de internação.
Alternativa “D”: incorreta. Não há vedação para a aplicação da medida de liberdade, sobretudo porque a
inserção em internação ocorrerá de forma subsidiária, se houver necessidade pedagógica, bem como se o
ato estiver indicado em uma das hipóteses do art. 122, do Estatuto.
Questão 2. (FGV – Exame de Ordem 2020.1) Maria chega à maternidade já em trabalho de parto, sendo
atendida emergencialmente. Felizmente, o parto ocorre sem problemas e Maria dá à luz, Fernanda.
No mesmo dia do parto, a enfermeira Cláudia escuta a conversa entre Maria e uma amiga que a visitava, na
qual Maria oferecia Fernanda a essa amiga em adoção, por não se sentir preparada para a maternidade.
Preocupada com a conversa, Cláudia a relata ao médico obstetra de plantão, Paulo, o qual, por sua vez,
noticia o ocorrido a Carlos, diretor-geral do hospital. Naquela noite, já recuperada, Maria e a mesma amiga
vão embora da maternidade, sem que nada tenha ocorrido e nenhuma providência tenha sido tomada por
qualquer dos personagens envolvidos - Cláudia, Paulo ou Carlos.
Diante dos fatos acima, assinale a afirmativa correta.
a) Não foi cometida qualquer infração, porque a adoção irregular não se consumou no âmbito da
maternidade.
b) Carlos cometeu infração administrativa, consubstanciada no não encaminhamento do caso à autoridade
judiciária, porque somente o diretor do hospital pode fazê-lo.
c) Carlos e Paulo não cometeram infração administrativa ao não encaminharem o caso à autoridade
judiciária, porque não cabe ao corpo médico tal atribuição.
d) Carlos, Paulo e Cláudia cometeram infração administrativa por não encaminharem o caso de que tinham
conhecimento para a autoridade judiciária.
Comentários
Consoante prevê o art. 19-A, do Estatuto, a gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho
para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. A
inobservância desse dever jurídico caracterizará a prática da infração administrativa tipificada no art. 258-B,
do Estatuto, desde que praticada por médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à
saúde de gestante.
Alternativa “D”: correta. Conforme explicado acima, a conduta de deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para
adoção, é tipificada como infração administrativa (e não infração penal), nos termos do art. 258-B, do
Estatuto.
Comentários
a) Assertiva errada. A transação é uma causa extintiva do crédito, conforme determina o artigo 156, inciso
III.
b) Assertiva errada. A peça conhecida como exceção de pré-executividade é fruto de uma criação doutrinária
e jurisprudencial. E a sua oposição, por si só, não suspende a exigibilidade do crédito tributário.
c) Assertiva errada. Ainda que a reclamação e o recurso administrativo sejam instrumentos hábeis a
suspender o crédito tributário, é inconstitucional a exigência de depósito prévio para sua admissibilidade,
em conformidade com a súmula vinculante n. 21.
Comentários
a) Alternativa incorreta. Art. 130 do CTN: Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja
a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de
serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos
adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação.
Comentários
d) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se barreiras urbanísticas somente as existentes nas vias e nos
espaços públicos ou de uso coletivo;
e) Segundo a Lei n. 13. 146/15, a pessoa com deficiência, em certos casos, estará obrigada à fruição de
benefícios decorrentes de ação afirmativa.
Comentários
Gabarito: C.
a) Errado, suprimiu a condição de que o impedimento tem de ser de longo prazo, art. 2º.
Comentários
Gabarito: C
c) Errada, pois a natureza é de interesse difuso. Coletivos stricto sensu são os previstos no art. 81, parágrafo
único, II, do CDC.
e) Correto, pois não existe nenhuma restrição legal ao tipo de atividade exercida pelo membro. Se ele, por
exemplo, oferecer denúncia dolosamente abusiva contra um desafeto, responderá também, no âmbito cível,
por improbidade.
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Gabarito: d.
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Gabarito: C
A letra 'c' é a resposta correta, pois traduz os ditames do art. 971 do Código Civil.
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Gabarito: Errado
Conforme disposto no Código Civil: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
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Dispõe o art. 129, inc. IX, da Constituição da República que ao Ministério Público é vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades pública.
Questão 2. A possibilidade de atuação de dois membros do Ministério Público no mesmo processo não
importa em violação ao:
a) Princípio da unidade.
b) Princípio da indivisibilidade.
c) Princípio da independência funcional.
d) Princípio do promotor natural.
e) Não é admissível a pluralidade de membros do Ministério Público no mesmo processo.
Comentários
Na hipótese de ocorrência de duas causas interventivas que se afigurem inacumuláveis nas mãos do mesmo
membro do Ministério Público, atuação de dois Promotores de Justiça ou Procuradores da República no
mesmo processo não importa em violação ao princípio da unidade.
Questão 3. Não é obrigatória a intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam:
a) Prática de ato simulado ou à obtenção de fim proibido por lei.
b) Normatização de serviços públicos.
c) Licitações e contratos administrativos.
d) Licenciamento ambiental e infrações ambientais.
e) Os direitos dos menores, dos incapazes e dos idosos em qualquer situação.
Comentários
Nos termos do art. 5º, incs. I, II, III, VI e VIII, da Resolução CNMP nº 34/16, além dos casos que tenham
previsão legal específica, é obrigatória a intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam a
prática de ato simulado ou à obtenção de fim proibido por lei, a normatização de serviços públicos, as
licitações e contratos administrativos, o licenciamento ambiental e infrações ambientais e os direitos dos
menores, dos incapazes e dos idosos em situação de vulnerabilidade.
Comentários
Gabarito: B.
b) Correta. São apenas três: o consumidor em sentido coletivo (art. 2º, parágrafo único), o consumidor
bystanter (art. 17), e o consumidor em potencial (art. 29).
Comentários
A incorreta é a letra ‘a’, pois em desacordo com o conceito legal de consumidor do art. 2º do CDC. Falta a
expressão “serviço” – utiliza produto ou serviço-, o que torna o conceito incompleto. As letras b, c, d, e são
transcrições dos arts. 2º. P. único, 3º, caput, 3º §2º e 3º, §1º, respectivamente, afigurando-se como corretas.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
A atuação das Comissões Parlamentares de Inquérito é subordinada a três requisitos formais, traduzidos pelo
requerimento de constituição e inquérito parlamentar, cujo relatório final é destinado ao Ministério Público
(PIÇARRA, Nuno. O Inquérito Parlamentar e os seus Modelos Constitucionais. Coimbra: Almedina, 2004, p.
19).
O requerimento de constituição deve ser formulado por um terço dos membros da Casa Legislativa, com o
esclarecimento da composição numérica do órgão parlamentar, independentemente de deliberação
plenária, o que, por via de consequência, resguarda o exercício, pelas minorias parlamentares, do direito de
investigar.
Questão 2. Lei ordinária, cujo projeto foi apresentado por Deputado Federal, dispôs sobre aumento de
remuneração de servidores públicos federais. A propositura legislativa recebeu emenda no Senado, que
estendeu o reajuste a outras carreiras do serviço público federal. O Presidente da República sancionou o
projeto, convertendo-o em lei. O processo legislativo foi regular? Resposta objetivamente justificada.
Comentários
A um, porque projeto de lei que disponha sobre aumento de remuneração de servidores públicos federais
deveria ser apresentado pelo Presidente da República, conforme o art. 61, § 1º, inc. II, “a” e “c”.
A dois, porque emenda a projeto de lei de iniciativa reservada não pode ocasionar aumento de despesa,
consoante o art. 63, inc. I.
A três, porque a sanção presidencial não tem o condão de convalidar a inconstitucionalidade formal de que
era dotado o projeto de lei, restando superado o entendimento consubstanciado no verbete nº 5 da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Comentários
A desapropriação indireta é o fato administrativo pelo qual o Poder Público se apropria de um bem particular,
sem a observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia.38
A expressão também se refere à supressão do direito de propriedade, uma vez que esvazia o conteúdo
econômico da propriedade. Ademais, a expressão pode ser entendida como a ação a ser ajuizada pelo
proprietário do bem esbulhado, requerendo uma indenização.
Importante observar que o direito do expropriado, quando acontece a desapropriação indireta, é somente
a indenização. Isto está legislado no art. 35 do DL 3.365/41. Em outras palavras, quer-se dizer que em nada
afeta o direito de propriedade que tem o Estado sobre o bem expropriado. A sua propriedade se torna
intangível.
O valor a ser pago a título de indenização pode ser considerado meramente estimativo. Dessa forma, pode
o juiz condenar o Poder Público a pagar quantia a maior ao autor, ainda que este tenha requerido uma
indenização de valor menor.39
38
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 871
39
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p.875
Ademais, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas.40
De acordo com o STJ, não configura desapropriação indireta quando o Estado limita-se a realizar serviços
públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e
irreversível.41
A legitimidade ativa e passiva nesse tipo de ação é inversa à da ação de desapropriação. Observe que o autor
da ação será sempre o ex-proprietário42, ao passo que a ré será a pessoa jurídica de direito público
responsável pela incorporação do bem a seu patrimônio.
Por ser considerada uma ação de natureza real, a jurisprudência do STF43 manifestou-se no sentido de a ação
dever ser ajuizada no foro do local do imóvel. Não será no domicílio do réu.
O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é de 10 anos, nos termos do art. 1238 do CC/02.
De acordo com o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante é de que a ação de desapropriação
indireta observará o mesmo prazo da usucapião.44
Esse é o entendimento correto, a despeito da súmula 119 do STJ entender que o prazo da desapropriação
indireta é de 20 anos.
O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do EREsp 1.575.846-SC, entendeu que, de fato, o prazo
prescricional para a ação indenizatória por desapropriação indireta é de 10 anos, em regra, salvo
comprovação da inexistência de obras ou serviços públicos no local, caso em que o prazo passa a ser de 15
anos.
Além do valor da indenização pela perda da propriedade, o ex- proprietário tem direito à percepção dos juros
moratórios e juros compensatórios.
40
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019
41
STJ. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 05/11/2019, DJe
07/11/2019
42
O STJ admite que o promissário comprador é parte legítima a ajuizar a ação, ainda que a promessa de compra e venda não tenha
sido registrada no cartório imobiliário. STJ, REsp 1.204.923 – 2012. Ademais, sendo casado o autor, o STJ também exige a presença
de ambos os cônjuges no polo ativo da ação. STJ, REsp 46.899-0.
43
STF, RE nº 111.988.
44
REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013 (Informativo nº 0523).
Os juros moratórios são aqueles devidos ao ex-proprietário, em razão do Poder Público não ter pago
tempestivamente a indenização a que aquele tinha direito. O valor desses juros moratórios é de 6% ao ano,
a despeito do dispositivo legal estabelecer até 6% ao ano.45
Ademais, o termo inicial da contagem dos juros moratórios será dia 1º da janeiro do ano seguinte àquele em
que o pagamento deveria ser efetuado.
Por fim, a base de cálculo será o valor da indenização fixado na sentença condenatória.
Por sua vez, os juros compensatórios são aqueles devidos, em razão do Poder Público ter realizado a
desapropriação sem observar a exigência de prévia indenização.
O termo inicial dos juros compensatórios será a partir da efetiva ocupação do imóvel pelo Estado. Em outras
palavras, os juros compensatórios são devidos a partir do momento em houve a efetiva transferência do
bem. Este é o entendimento da Súmula 69 do STJ.
Atente-se que, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas. Segundo a Corte Cidadã, nessa ação devem ser observados os princípios da
instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito para reconhecer o interesse-
adequação da ação para o requerimento de indenização.46
Comentários
De acordo com o art. 25, § 1º da Lei nº 8.8987/95, a concessionária poderá contratar com terceiros o
desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como
a implementação de projetos associados.
Ademais, os contratos celebrados entre a concessionária e os terceiros reger-se-ão pelo direito privado, não
se estabelecendo qualquer relação jurídica entre os terceiros e o poder concedente, nos termos do art. 25,
§ 2º da mesma lei.
A execução das atividades contratadas com terceiros pressupõe o cumprimento das normas regulamentares
da modalidade do serviço concedido, como previsto no art. 25, § 3º da lei de concessões.
45
ADIMC 2.332-DF – O STF suspendeu a eficácia da expressão “até seis por cento”.
46
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019
De acordo com o art. 26, é possível que a concessionária realize uma subconcessão. Para isso, haverá
necessidade de previsão no contrato de concessão e expressa autorização do poder concedente.
A outorga de subconcessão será sempre precedida de concorrência, como afirma o art. 26, § 1º.
Para que haja a anuência do poder concedente, o pretendente deverá 1) atender às exigências de capacidade
técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e 2)
comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.
Comentários
Na demanda correlata, afigura-se possível a antecipação dos efeitos da tutela. Assim, em provimento
provisório, os alimentos serão destinados ao autor, preenchidos os pressupostos da medida: evidência do
direito (no mais, a filiação) e a necessidade premente (presumida, de regra).
Há, entretanto, a problemática do provimento final: acaso, provisoriamente, fixe-se valor maior do que a
sentença, os valores já pagos com base na decisão antecipatória poderão ser reavidos ou compensados?
Ainda: eventual execução poderá continuar ou ser aforada com base no provimento provisório (cujo valor é
maior, frise-se), relativamente ao período entre a prolação da decisão e a sentença?
A decisão judicial (sentido amplo) de cognição exauriente substitui a cognição sumária. Daí o caráter de
substitutividade. A decisão anterior perde o efeito; a relação jurídica passa a ser regulada pela sentença, que
poderá, inclusive, confirmar a tutela provisória.
Nesta ambiência é que a jurisprudência assentou que o os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera
os alimentos retroagirá. Precisamente, os termos da súmula 621 do STJ e da tese 1 da edição 77 da seção
jurisprudência em teses, do mesmo sodalício:
Veja-se que há retroatividade. I.e., acaso maior o valor fixado em sentença, eventual execução deverá
prosseguir ou ser iniciada com base no valor superior. Também, o valor pago a menor deverá ser
complementado.
Frise-se, ademais, a impossibilidade da compensação e da repetibilidade. Significa dizer que não se poderá
compensar o valor a maior, pago com base em decisão provisória com quantum superior ao da sentença,
com prestações futuras; veda-se, também, que haja a repetição (restituição) do valor superior pago. Em
ambos os casos, o excesso se conservará regido pela decisão a maior.
Comentários
O testamento é o ato de disposição causa mortis que visa à destinação patrimonial, ou mesmo moral, aos
herdeiros hereditários ou terceiros, chamados de herdeiros testamentários.
Há vícios que impedem a produção regular dos efeitos do testamento. Dentre eles, o rompimento,
consistente na causa legalmente prevista de retirada da regularidade do testamento, em todas as suas
cláusulas, tornando-as ineficazes.
Dispõe o art. 1.973 que, sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia
quando testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver ao
testador.
Presume-se, assim, que o testador não haveria testado da forma como o fez se conhecesse o descendente
ou se este já existisse ao tempo do testamento. Por isso, a retirada dos efeitos, como instrumento protetivo
da legítima e da preservação do patrimônio da família em que constituído.
Se, porém, o testador já sabia da existência do filho, a norma não se subsome, sem embargo da proteção à
legítima, que será destina ao filho excluído da testamentária. Também não se verificará o rompimento se o
testador já possuísse descendente e sobrevenha outro, já que a legítima já se terá por preservada.
E, por decorrência lógica, igualmente não se romperá o testamento se a legítima permanecer disponível.
Nesse caso, a teleologia protetiva da norma não incidirá.
Anote-se que se rompe, também, o testamento feito na ignorância de existirem outros herdeiros
necessários, como no caso de ascendentes, o que se estende ao cônjuge ou ao companheiro ausente,
supondo o testamenteiro que o estivesse morto.
Por fim, dispõe a Lei que não se rompe o testamento, se o testador dispuser da sua metade, não
contemplando os herdeiros necessários de cuja existência saiba, ou quando os exclua dessa parte (art. 1.975
do CC).
Comentários
Em julgamento do recurso especial 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que é possível a penhora de quotas sociais de sócio
por dívida particular por ele contraída, ainda que de sociedade empresária em recuperação judicial.
Isso porque o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas
obrigações, a teor do artigo 789 do Código de Processo Civil, bem como porque a realização da penhora não
enseja, necessariamente, e tampouco de imediato, a liquidação da quota, e não há qualquer vedação legal
para tal prática. Do contrário, prevê o artigo 861 do Código de Processo Civil a hipótese de penhora de quotas
ou ações de sócio em sociedade simples ou empresária.
É também consagrado o entendimento de que essa constrição não implica ofensa ao princípio da affectio
societatis, pelo qual não se faria pertinente a inclusão de pessoa estranha (e quiçá indesejada) no quadro
societário, uma vez que, por não ocasionar, obrigatoriamente, a liquidação da quota penhorada, não há que
se falar na inevitável inclusão de novo sócio.
Para além, há que se destacar a possibilidade conferida aos demais sócios, após a penhora da quota do
devedor, de aquisição da fração sobre a qual recaiu a medida constritiva, justamente a fim de evitar a sua
liquidação e o ingresso de terceiros no quadro social da empresa, sem prejuízo de outras faculdades
legalmente previstas com o mesmo fim, com fulcro no artigo 861 do Código de Processo Civil, de modo que
existe uma pluralidade de situações que podem ocorrer no trâmite da execução antes mesmo de eventual
liquidação. Por tais razões, impera a viabilidade da referida penhora, ainda que a sociedade empresária
relativa ao sócio devedor esteja em recuperação judicial.
“Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota”. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
“É perfeitamente possível a penhora de cotas de sociedade limitada, haja vista que tal constrição, além de
não implicar ofensa ao princípio da affectio societatis, não encontra nenhuma vedação legal”. STJ. 3ª Turma.
AgRg no AREsp 551.613/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 29/06/2020.
“A penhora de quotas sociais não encontra vedação legal nem afronta o princípio da affectio societatis, já
que não enseja, necessariamente, a inclusão de novo sócio”. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1058599/RS, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/11/2017.
Comentários
O erro é uma falsa representação da realidade; um equívoco acerca dos atributos de pessoa, coisa, situação
de fato ou de direito. No erro de tipo, o erro incide sobre um fato que compõe um dos elementos do tipo.
O legislador prevê que o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite
a punição por crime culposo, se previsto em lei (CP, art. 20).
O erro de tipo pode ser classificado como essencial, aquele que recai sobre elementar, elemento essencial
do tipo, ou seja, sobre fato constitutivo do crime, sem o qual o crime não existiria; e acidental, que recai
sobre circunstâncias acessórias da pessoa ou da coisa estranhas ao tipo, que não constituem elementares do
tipo. Sem ele, o crime não deixa de existir. Assim, a característica do erro de tipo essencial é ele impedir o
agente de compreender o caráter criminoso do fato ou de conhecer a circunstância.
Por sua vez, no delito putativo por erro de tipo, o sujeito quer praticar um crime, mas, em face do erro,
desconhece que está cometendo um irrelevante penal. Assim, o delito putativo é o delito erroneamente
suposto, imaginário, que só existe na mente do agente. Na hipótese apresentada, o sujeito quer praticar o
tráfico ilícito de entorpecentes, mediante a conduta de adquirir drogas para revendê-la, constante do
preceito primário do art. 33 da Lei nº 11.343/06; todavia adquiriu barro, substância que não encontra
descrição como proibida na Portaria nº 344 da ANVISA, que complementa o referido tipo penal (norma penal
em branco).
Desta feita, ao incidir em erro essencial que, portanto, afasta o dolo e a culpa da conduta do agente, este
não poderá ser punido por ter sido enganado.
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
A fixação da pena acima do mínimo legal se deu em face da existência de duas condenações anteriores
transitadas em julgado, de 2015 e 2019, pela mesma incidência penal, que foram consideradas para fins de
reincidência e para valoração negativa dos maus antecedentes e da personalidade do condenado.
A defesa, irresignada, apelou da sentença condenatória; e, em suas razões, sustentou a impossibilidade da
dupla consideração das condenações anteriores para o agravamento da pena. Na qualidade de Promotor de
Justiça, em contrarrazões, opinaria pelo acolhimento da tese defensiva? Fundamente.
Comentários
Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior – CP, art. 63.
O legislador não faz distinção quanto à natureza dos crimes, caracterizando-se a reincidência entre crimes
idênticos ou não, dolosos, culposos, dolosos e culposos, culposos e dolosos, tentados, consumados, tentados
e consumados, consumados e tentados.
O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, tem entendimento no sentido de que, considerada e valorizada
a reincidência para estabelecer a pena-base acima do mínimo legal, incabível considerá-la novamente para
agravar a pena, sob o risco de sancionar-se o bis in idem. Neste sentido, cita a Súmula 241 STJ:
Por sua vez, as condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64, inciso I, do
Código Penal afastam os efeitos da
reincidência, mas não impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das penas.
Inovando a jurisprudência dos tribunais superiores, A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
submeteu, para julgamento sob o rito dos repetitivos, um recurso especial em que se discute o uso de
condenações anteriores na dosimetria da pena. A tese proposta é a seguinte:
O entendimento adotado no STJ, tanto pela Quinta quanto pela Sexta Turma, é de que não é possível a
utilização de condenações penais pretéritas, ainda que transitadas em julgado, como fundamento para a
valoração negativa da personalidade.
Com base no exposto, em sede de contrarrazões recursais, opinaria pelo acolhimento parcial do pedido da
defesa, para que a condenação anterior a 05 anos não possa ser utilizada para valorização negativa da
personalidade do agente; e traga, como consequência, a redução da pena imposta ao apelante.
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Reincidência Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo
crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no
País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior – CP, art. 63.
O legislador não faz distinção quanto à natureza dos 30%
crimes, caracterizando-se a reincidência entre crimes
idênticos ou não, dolosos, culposos, dolosos e culposos,
culposos e dolosos, tentados, consumados, tentados e
consumados, consumados e tentados.
Coexistência de O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, tem
condenações anteriores entendimento no sentido de que, considerada e
para reincidência valorizada a reincidência para estabelecer a pena-base
acima do mínimo legal, incabível considerá-la
novamente para agravar a pena, sob o risco de
sancionar-se o bis in idem. Neste sentido, cita a Súmula
241 STJ:
A reincidência penal não pode ser considerada como
30%
circunstância agravante e, simultaneamente, como
circunstância judicial.
No entanto, a existência de duas condenações
transitadas em julgado em desfavor do agente permite a
fixação da pena-base acima do mínimo legal, em
decorrência dos maus antecedentes do réu, e o
reconhecimento da agravante da reincidência, sem que
se vislumbre a ocorrência de bis in idem.
Coexistência de Por sua vez, as condenações alcançadas pelo período
condenações anteriores depurador de 5 anos, previsto no art. 64, inciso I, do
ao período de 05 anos Código Penal afastam os efeitos da
reincidência, mas não impedem a configuração de maus 30%
antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das
penas.
Comentários
O Ministério Público é o dominus litis, é dizer, o titular privativo da ação penal pública. Cabe a ele, e
exclusivamente a ele, avaliar, no caso concreto, se é o caso de disparar a persecução penal. Afirmamos que
exclusivamente, pois ainda que o magistrado discorde da postura do Promotor e determine a remessa dos
autos ao PGJ, na forma do artigo 28, do CPP (redação originária), quem dará a última palavra é a chefia da
instituição Ministério Público.
Não é o titular exclusivo da ação penal, pois sobra a hipótese da ação penal privada subsidiária da pública,
regrada no artigo 29, do CPP.
O filtro que o representante do Ministério Público deve fazer ao receber os autos do inquérito
necessariamente deve passar pela viabilidade da persecução, a possibilidade de que eventual denúncia
chegue a um resultado condenatório. Veja, possibilidade e não probabilidade.
Se de antemão o Promotor verificar que a imputação será infrutífera, qualquer que seja a causa – evidente
excludente da ilicitude, incidência do princípio da insignificância, falta de justa causa – não deve promovê-
la.
Assim, no caso vertente, o furto é insignificante, não havendo uma lesão significativa ao bem jurídico
tutelado pela norma: o patrimônio da vítima.
Em obediência ao artigo 28-A, que diz “não sendo o caso de arquivamento”, não seria o caso de oferecer
acordo de não persecução, senão promover o arquivamento do expediente.
Prevê o artigo 10, § 1º, do Código de Processo Penal que o inquérito policial será concluído com a elaboração,
pela autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz
competente.
Prevalece o entendimento de que a peça terá “conteúdo eminentemente descritivo” e que “pelo menos em
regra, deve a autoridade policial abster-se de fazer qualquer juízo de valor no relatório”47, isto porque a
opinio delicti deve ser formada pelo titular da ação penal: seja o Ministério Público, seja o ofendido ou seu
representante legal.
Caberá, portanto, à autoridade policial fazer um esboço das diligências e relatar objetivamente o apurado.
Contudo, de acordo com o art. 52, inciso I, da Lei de Drogas, findos os prazos do inquérito policial – prazo de
30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto –, a autoridade de polícia
judiciária:
Assim, cabe ao delegado não somente o enquadramento da conduta do investigado em algum tipo penal,
mas também fazê-lo de forma fundamentada, o que leva à compreensão de que é possível, se não necessária,
47
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020, p. 230.
a emissão de juízo de valor pela autoridade policial nessas circunstâncias. O objetivo imediato da norma é
diferenciar a conduta do usuário e do traficante de drogas.
Por óbvio, mesmo nesse caso da Lei de Drogas, a opinião do delegado não vincula o Ministério Público, que
é titular da ação penal.
Comentários
Entretanto, nos Tribunais Regionais Eleitorais devem ser registrados os candidatos a Senador da República,
Deputado Federal, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Deputado Estadual e
Deputado Distrital, como determina o art. 89, incs. I e II, do Código Eleitoral.
Comentários
Essa regra é aplicável às moratórias concedidas em caráter individual, quando se verifique posteriormente
que o sujeito passivo não satisfazia ou deixou de satisfazer os requisitos necessários para sua fruição. Embora
o dispositivo fale de revogação, na verdade o termo correto é anulação, porque o ato concessivo da
moratória é retirado do ordenamento jurídico por não possuir respaldo legal, acarretando efeitos ex tunc
(retroativos). Tanto é assim que o sujeito passivo deverá recolher o tributo que não pagou acrescido de
atualização monetária e juros de mora.
A imposição de sanções pecuniárias, por outro lado, não é automática. Se o sujeito passivo agiu de boa fé,
não deve ser aplicado a ele penalidades, conforme determina o inciso II do dispositivo. Por outro lado, se o
sujeito passivo ou o terceiro em benefício daquele atuou com dolo ou simulação, a anulação da moratória
deve ser acompanhada da imposição da penalidade cabível, conforme determina o inciso I.
O mesmo ocorre com relação à contagem do prazo prescricional, conforme evidencia o parágrafo único do
artigo 155. Se o contribuinte não laborou com má-fé, a anulação da moratória só pode ser efetuada antes
de decorrido o prazo prescricional para cobrança do crédito. Caso tenha havido dolo ou simulação, o tempo
decorrido entre a moratória e a sua anulação não é computado para efeito de prescrição do direito à
cobrança.
Comentários
No âmbito da tutela coletiva, vários instrumentos extrajudiciais podem ser utilizados pelo Ministério Público,
dentre o quais se destaca o inquérito civil, com regulamentação na resolução 23/07 do CNMP e previsão
constitucional no art. 129, III da CF/88, a recomendação, com previsão na resolução 164/2017 do CNMP,
bem como o Termo de Ajustamento de Conduta, com previsão na resolução 179/2017, também do CNMP,
e a audiência pública, com previsão na resolução 82/2012. Com exceção desta última, todas as demais são
atividade fim do Ministério Público, pois podem adentrar no mérito da tutela dos interesses difusos e
coletivos. A audiência pública é atividade meio, pois ela se destina à colheita de elementos para posterior
encaminhamento.
Comentários
Paulo Cezar Pinheiro Carneiro afirma a possibilidade de interposição de recursos em detrimento da parte
que reclama a atuação protetiva em caso de nulidade processual, a partir da constatação de que o Ministério
Público, nessa hipótese, não se despe da condição de fiscal imparcial (CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O
Ministério Público no Processo Civil e Penal. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 13).