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Rodada 9

Rodadas para MPEs - Membro do


Ministério Público - Regular

Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque

21 de Janeiro de 2021
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 9

Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 4

1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 6

1.1 - Direito Constitucional ............................................................................................................................. 6

1.1.1 - Poder Legislativo: Definição .................................................................................................................................. 6

1.1.2 - Poder Legislativo: Estrutura................................................................................................................................... 6

1.1.3 - Poder Legislativo: Funcionamento ........................................................................................................................ 6

1.2 - Direito Administrativo ............................................................................................................................ 7

1.2.1 Desapropriação – Fase Executória........................................................................................................................... 7

1.2.2 - Serviço Público - PPPs ............................................................................................................................................ 9

1.2.3 - Comitê de Resolução de Disputa ......................................................................................................................... 12

1.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 13

1.3.1 - Dano moral coletivo ............................................................................................................................................ 13

1.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 19

1.4.1 - Da assistência ...................................................................................................................................................... 19

1.4.2 - Assistência e representação no processo civil .................................................................................................... 23

1.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 26

1.5.1 - Pena Pecuniária – Impossibilidade Financeira do Réu ........................................................................................ 26

1.5.2 - A Distinção entre o Concurso Formal Próprio e o Impróprio Relaciona-Se com o Elemento Subjetivo do Agente
........................................................................................................................................................................................ 26

1.5.3 - Progressão de Regime para o Condenado por Crime Hediondo Reincidente não Específico ............................. 27

1.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 28

1.6.1 - O Ministério Público ............................................................................................................................................ 28

1.6.2 - O Ministério Público pode investigar? ................................................................................................................ 34

1.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 36

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1.7.1 - Breves considerações sobre o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), após a entrada em vigor do Pacote
Anticrime: ....................................................................................................................................................................... 36

1.7.2 - As gerações do crime de “lavagem de capitais e os conceitos envolvidos no delito .......................................... 39

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 43

1.8.1 - Justiça Eleitoral: Estrutura ................................................................................................................................... 43

1.8.2 - Justiça Eleitoral: Funcionamento......................................................................................................................... 44

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 45

1.9.1 - Infrações Administrativas – Parte Geral .............................................................................................................. 45

1.10 - Direito Tributário................................................................................................................................ 48

1.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 50

1.11.1 - Legitimidade do MP no mandado de segurança coletivo ................................................................................. 50

1.11.2 - Ministério Público e ação popular ..................................................................................................................... 50

1.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 51

1.12.1 - Registro Empresarial.......................................................................................................................................... 51

1.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 54

1.13.1 - Campo de Atuação: Fundamentação Normativa .............................................................................................. 54

1.13.2 - Campo de Atuação: Esferas de Atuação............................................................................................................ 54

1.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 55

1.14.1 - Os diversos tipos de consumidor no Código de Defesa do Consumidor ........................................................... 55

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 56

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 57

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 60

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 65

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 70

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 73

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2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 78

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 79

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 80

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 82

2.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 83

2.11 - Direitos Difusos e Coletivos ................................................................................................................ 85

2.12 - Direito Empresarial ............................................................................................................................ 87

2.13 - Legislação Institucional do MP .......................................................................................................... 88

2.14 - Direito do Consumidor ....................................................................................................................... 89

3 - Questões Discursivas................................................................................................................................... 90

3.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 91

3.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 92

3.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 95

3.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 97

3.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 98

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 102

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 103

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 104

3.9 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 104

3.10 - Direitos Difusos e Coletivos .............................................................................................................. 105

3.11 - Legislação Institucional do MP ........................................................................................................ 105

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RODADAS – MPES REGULAR


CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Caro aluno, hoje iniciamos a 1ª Rodada de MPEs. Às quintas-feiras a cada quinzena, publicaremos um
material como este que conterá:

 30 temas específicos e aprofundados, seguindo as disciplinas e a importância de cada uma delas


para a prova;

 49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e

 15 questões discursivas.

Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

É isso! Vamos ao trabalho?

Se houver dúvida de conteúdo, poste-a no fórum.

Caso haja dúvida a respeito do curso, funcionamento, estarei à disposição em:

ecj@estrategiaconcursos.com.br

Boa leitura!

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Prof. Ricardo Torques

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1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Constitucional, vamos discutir um assunto
importante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos
estaduais: o Poder Legislativo.

1.1.1 - Poder Legislativo: Definição

O Poder Legislativo federal, exercitado pelo Congresso Nacional, é definido como complexo de órgãos
dedicados ao exercício predominante da função legislativa, que se compõe da Câmara dos Deputados e
Senado Federal (FRAGA, Alberico. Do Poder Legislativo. Salvador: Imprensa Oficial, 1928, p. 13).

1.1.2 - Poder Legislativo: Estrutura

Por força do bicameralismo, característica de constituição da federação, o Poder Legislativo da União é


constituído por Câmara dos Deputados e Senado Federal.

A Câmara dos Deputados é engendrada como órgão legislativo popular, na medida em que é formada por
representantes do povo, eleitos pelo sistema de escrutínio proporcional, em número não inferior a 8 e
superior a 70 membros por Estado ou Distrito Federal, totalizando 513 Deputados Federais, para o mandato
de quatro anos, cabendo-lhe as atribuições enumeradas no art. 51.

O Senado Federal é entendido como órgão legislativo federativo, uma vez que é formado por representantes
de entidades da federação, eleitos pelo sistema de escrutínio majoritário, em número de 3 membros por
Estado ou Distrito Federal, assegurada a renovação da representação de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços, totalizando 81 Senadores da República, para o mandato de oito anos,
cumprindo-lhe as atribuições enunciadas no art. 52, ambos da Constituição Federal.

1.1.3 - Poder Legislativo: Funcionamento

O funcionamento dos órgãos legislativos é baseado no exercício de atribuições de natureza representativa,


investigatória e legislativa.

O Congresso Nacional é titular de atribuição representativa, na medida em que os órgãos legislativos


referendam os tratados e convenções internacionais celebrados pelo Presidente da República, introduzindo-
os na ordem jurídica brasileira, pelo instrumento do decreto legislativo, em concordância com os arts. 49,
inc. I, e 84, inc. VIII.

O Poder Legislativo é titular de atribuição investigatória, uma vez que os órgãos legislativos reúnem as
investigações financeiro-orçamentária, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, e político-

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administrativa, por intermédio de Comissão Parlamentar de Inquérito, em conformidade com os arts. 58, §
3º, e 71, caput.

O Congresso Nacional é titular de atribuição legislativa, visto que os órgãos legislativos são responsáveis pela
produção de normas legais, que encerra o processo de criação, modificação e revogação das espécies
normativas, em consonância com os arts. 59 a 69, todos da Constituição da República.

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 Desapropriação – Fase Executória

Fala, meus amigos. Tudo bem? Hoje, vamos estuda, nesse primeiro momento, sobre a desapropriação. Na
rodada 5, nós vimos a fase declaratória da desapropriação. Nessa rodada 11, vamos estudar a fase
executória.

Prontos???? Vamos lá!

1.Fase Executória

A fase executória envolve, de fato, os atos de transferência da propriedade. Essa competência vai desde a
negociação com o proprietário até a finalização do processo judicial expropriatório, passando pelo próprio
ajuizamento da ação de desapropriação.

Têm competência para proceder a fase executória os entes da Administração Pública Direta, da
Administração Pública Indireta, bem como os Concessionários e Permissionários de serviço público. Atente-
se que estes delegatários de serviços públicos somente podem proceder com a desapropriação se
expressamente autorizados em lei ou contrato.

Observe que aquele que realiza a fase executória é quem irá pagar a indenização da desapropriação.

1.1. Via Administrativa

A desapropriação efetivada por meio da via administrativa é aquela em que houve acordo entre o Poder
Público e o proprietário. O que se pretende com o acordo é evitar a ação de desapropriação no Poder
Judiciário. A doutrina denomina a desapropriação ocorrida na via administrativa de desapropriação
amigável.

Importante observar que esta desapropriação amigável é, na verdade, um negócio jurídico bilateral,
translativo e oneroso, retratando verdadeiro contrato de compra e venda.

1.2. Via Judicial

Não havendo acordo na via administrativa, não resta outra solução senão o ajuizamento de uma ação para
solucionar o conflito de interesses entre o Poder Público e o Proprietário.

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OBS: Art. 9º DL 3.365/41 - Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se


verificam ou não os casos de utilidade pública.

Este dispositivo deve ser entendido da seguinte forma: O Poder Judiciário pode verificar se há ou não os
casos de utilidade pública. Contudo, deve fazê-lo em ação autônoma, e não no processo expropriatório.

ATENÇÃO!!!

1 – De acordo com o Enunciado 3 do CJF, não constitui ofensa ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/1941 o
exame por parte do Poder Judiciário, no curso do processo de desapropriação, da regularidade do processo
administrativo de desapropriação e da presença dos elementos de validade do ato de declaração de utilidade
pública.

2 – Na Contestação da ação de desapropriação, o réu somente poderá versar sobre vícios do processo judicial
ou impugnação ao preço. Qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta. A expressão vícios do
processo deve ser entendida como a carência das condições da ação e dos pressupostos processuais. Dessa
forma, o réu pode alegar a ilegitimidade das partes, falta de interesse de agir, inépcia da inicial,
litispendência, coisa julgada entre outras situações.

A ação de desapropriação deve ser ajuizada, como regra, no foro da situação do bem. Caso a União seja a
autora, o foro será a capital do Estado onde for domiciliado o réu ou no DF. Observe, porém, que a ação
somente deverá ser ajuizada no DF, se o réu tiver domicílio no DF. Caso o réu ali não seja domiciliado, não
poderá a União ajuizar a ação no DF.

Ademais, na ação de desapropriação por utilidade pública, a citação do proprietário do imóvel


desapropriado dispensa a do respectivo cônjuge. Isso porque o art. 16 do Decreto-Lei 3.365/1941 (Lei das
Desapropriações) dispõe que a “citação far-se-á por mandado na pessoa do proprietário dos bens; a do
marido dispensa a da mulher”. Ressalte-se que, apesar de o art. 10, § 1º, I, do CPC dispor que “ambos os
cônjuges serão necessariamente citados para as ações que versem sobre direitos reais imobiliários”, o art.
42 do referido Decreto-Lei preconiza que o CPC somente incidirá no que for omissa a Lei das
Desapropriações. Assim, havendo previsão expressa quanto à matéria, não se aplica a norma geral.
Precedente citado do STF: RE 86.933, Segunda Turma, DJ 18/6/1979. REsp 1.404.085-CE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 5/8/2014

1.3. Via arbitral

Após o oferecimento da indenização ao proprietário, caso este recuse a oferta apresentada, poderá ser feita
a opção pela mediação ou pela via arbitral. Assim, o particular indicará um dos órgãos ou instituições
especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão responsável pela
desapropriação.

A mediação seguirá as normas da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, e, subsidiariamente, os


regulamentos do órgão ou instituição responsável.

Poderá ser eleita câmara de mediação criada pelo poder público, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.140, de
26 de junho de 2015.

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A arbitragem seguirá as normas da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, e, subsidiariamente, os


regulamentos do órgão ou instituição responsável.

1.2.2 - Serviço Público - PPPs

1. Conceitos Importantes

A Parceria Público-Privada são reguladas pela Lei 11.079/04, que afirma ser aplicável aos órgãos da
administração pública direta dos Poderes Executivo e Legislativo, aos fundos especiais, às autarquias, às
fundações públicas, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais entidades
controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Observe, portanto, que há uma exclusão expressa da celebração das PPP’s no âmbito do Poder Judiciário.

De acordo com o art. 2º da Lei nº 11.079/04, considera-se parceria público-privada o contrato administrativo
de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. A PPP patrocinada, nos termos do § 1º do mesmo
artigo legal, é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987/95, quando
envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação pecuniária do parceiro público ao
parceiro privado.

Ante ao conceito legal, observe que a PPP patrocinada é a concessão comum, prevista na Lei nº 8.987/95, a
qual é adicionada a contraprestação pecuniária do parceiro público. Observe que, de acordo com o art. 2º,
§ 3º da Lei nº 11.079/04, não será PPP patrocinada, quando não houver a contraprestação pecuniária do
parceiro público ao parceiro privado.

Ademais, de acordo com o art. 7º, a contraprestação da Administração Pública será obrigatoriamente
precedida da disponibilização do serviço objeto do contrato de parceria público-privada. Dessa forma, o
pagamento feito pela Administração não pode ocorrer antes da disponibilização do serviço, sob pena de
ilegalidade da medida.

A contraprestação da Administração Pública nos contratos de parceria público-privada poderá


ser feita por:

I – ordem bancária;

II – cessão de créditos não tributários;

III – outorga de direitos em face da Administração Pública;

IV – outorga de direitos sobre bens públicos dominicais;

V – outros meios admitidos em lei.

Pode-se dar como exemplos de concessões patrocinadas, a concessão de uma linha de metrô e de um
estacionamento.

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Por sua vez, a PPP administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja
a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.

Observe que essa PPP administrativa vai residir em áreas como a segurança pública, habitação e saneamento
básico. Dessa forma, pode-se dar como exemplo a concessão para remoção de lixo, bem como a construção
e gerenciamento de presídios.

ATENÇÃO!!! O art. 6º, §2º da Lei 11.079/04 estabelece que o contrato poderá prever o aporte de recursos
em favor do parceiro privado para a realização de obras e aquisição de bens reversíveis, desde que haja
autorização no edital de licitação.

Atente-se que esses aportes, na prática, permitiriam reduzir os custos financeiros do projeto. Há uma
combinação mais adequada entre os recursos públicos e privados.

2. Vedações Legais

Importante artigo da Lei nº 11.079/04 é o art. 2, § 4º, o qual estabelece:

É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada:

I – cujo valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais);

II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou

III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.

Dessa forma, faz-se importante observar que o valor mínimo de uma PPP é R$ 10 milhões. A duração do
contrato deve ser de 5 a 35 anos, incluindo eventual prorrogação, nos termos do art. 5º, I da Lei de PPP’s.

Ademais, não pode haver uma PPP que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra e de
instalação de equipamentos, bem como não pode haver uma PPP cujo objeto seja uma execução de obra
pública.

3. Diretrizes Legais

As diretrizes para uma PPP estão previstas no art. 4º da Lei nº 11.079/04, que assim estabelece:

Art. 4o Na contratação de parceria público-privada serão observadas as seguintes diretrizes:

I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da sociedade;

II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados
incumbidos da sua execução;

III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e


de outras atividades exclusivas do Estado;

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IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;

V – transparência dos procedimentos e das decisões;

VI – repartição objetiva de riscos entre as partes;

VII – sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de parceria.

Algumas dessas diretrizes merecem comentários mais detalhados.

Observe o previsto o inciso VI do referido artigo. Ele estabelece o compartilhamento dos riscos. O que a lei
propôs é que o parceiro público se solidarize com o parceiro privado, em eventual prejuízo, mesmo que
decorrido de caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica, conforme o art. 5º, III.

Atente-se também para o inciso III, o que estabelece a indelegabilidade das funções exclusivas de Estado, como a
função jurisdicional e o exercício do poder de polícia. Tais atividades não podem ser delegadas ao particular.

Ademais, perceba o Enunciado 34 do CJF: Nos contratos de concessão e PPP, o reajuste contratual para
reposição do valor da moeda no tempo é automático e deve ser aplicado independentemente de alegações
do Poder Público sobre descumprimentos contratuais ou desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, os
quais devem ser apurados em processos administrativos próprios para este fim, nos quais garantir-se-ão ao
parceiro privado os direitos ao contraditório e à ampla defesa.

4. Garantias

De acordo com o art. 8o da Lei 11.079/04, as obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública
em contrato de parceria público-privada poderão ser garantidas mediante:

I – vinculação de receitas, observado o disposto no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal;

II – instituição ou utilização de fundos especiais previstos em lei;

III – contratação de seguro-garantia com as companhias seguradoras que não sejam controladas
pelo Poder Público;

IV – garantia prestada por organismos internacionais ou instituições financeiras que não sejam
controladas pelo Poder Público;

V – garantias prestadas por fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade;

VI – outros mecanismos admitidos em lei.

5. Sociedade de Propósito Específico

De acordo com o art. 9º da Lei das PPP’s, antes da celebração do contrato, deverá ser constituída sociedade
de propósito específico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. A SPE é uma pessoa jurídica de
direito privado.

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Dessa forma, o licitante vencedor deverá instituir essa sociedade de propósito específico, a qual irá assinar
o contrato das PPP’s com o Poder Concedente.

A sociedade de propósito específico poderá assumir a forma de companhia aberta, com valores mobiliários
admitidos a negociação no mercado.

No caso de transferência do controle da sociedade de propósito específico, esta situação estará condicionada
à autorização expressa da Administração Pública, nos termos do edital e do contrato, Ademais, deve observar
o estabelecido no art. 27, parágrafo único da Lei nº 8.987/95, que estabelece requisitos relativos à
capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal, que habilitem à execução do
contrato.

Por fim, fica vedado à Administração Pública ser titular da maioria do capital votante dessas sociedades.

1.2.3 - Comitê de Resolução de Disputa

O comitê de resolução de disputas ou o dispute board (DB) é um mecanismo alternativo de solução de


controvérsias que busca resolver conflitos, especialmente com relação a contratos de longa duração,
notadamente os contratos de infraestrutura e de inovação científica e tecnológica.

O DB é formado por um comitê composto por profissionais especialistas e independentes, nomeados para
acompanharem a execução contratual, desde o início ou nos momentos mais críticos do projeto, e
sugerirem/decidirem soluções às eventuais controvérsias técnicas que possam surgir ao longo da execução
contratual.

Quanto à composição dos membros do Comitê, a prática contratual normalmente adota a formação por três
membros, cada parte contratante indicando um dos componentes. Os dois indicados, então, nomeiam um
terceiro membro.

Dessa forma, o dispute board proporciona uma espécie de gerenciamento que previne o acirramento das
divergências e conflitos oriundos do desgaste natural das relações entre as partes envolvidas.

A adoção pelo comitê de resolução de disputas gera vantagens na execução contratual, que podem ser
resumidas em (i) fator qualitativo das manifestações; (ii) diminuição da litigiosidade nos contratos; (iii)
celeridade na resolução de conflitos; e (iv) integração de contratos incompletos, reduzindo incertezas; (v)
redução de custos.

O Conselho da Justiça Federal (CJF), em estudo sobre a Prevenção e Solução Extrajudicial de Conflitos,
coordenado pelo Ministro Luis Felipe Salomão, emitiu três importantes enunciados sobre os Dispute Boards:

a) Enunciado CJF nº 49: “Os Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards) são método de solução
consensual de conflito, na forma prevista no § 3° do art. 3º do Código de Processo Civil Brasileiro.”;
b) Enunciado CJF nº 76: “As decisões proferidas por um Comitê de Resolução de Disputas (Dispute
Board), quando os contratantes tiverem acordado pela sua adoção obrigatória, vinculam as partes ao
seu cumprimento até que o Poder Judiciário ou o juízo arbitral competente emitam nova decisão ou
a confirmem, caso venham a ser provocados pela parte inconformada.”;

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c) Enunciado CJF nº 80: “A utilização de Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards), com a
inserção da respectiva cláusula contratual, é recomendável para os contratos de construção ou de
obras de infraestrutura, como mecanismo voltado para a prevenção de litígios e redução dos custos
correlatos, permitindo a imediata resolução de conflitos surgidos no curso da execução dos
contratos.”

Atente-se que o DB pode ser dividido em três categorias tratadas pela doutrina especializada e visualizadas
na prática de seu manejo contratual, quais sejam 1) a recomendatória, 2) a adjudicatória e 3) a mista

No DB recomendatório, os comitês fazem recomendações, e são chamados de Dispute Review Boards – DRB.
No DB adjudicatório, os comitês irão tomar decisões, e são chamados de Dispute Adjudication Boards – DAB.
Por fim, o DB misto é aquele que terá ambas as funções, sendo, portanto, chamado de Combined Dispute
Boards – CDB.

Portanto, a depender do regramento contratual, as soluções providas pelo Comitê poderão assumir a feição
de recomendações aos contratantes, é dizer, não vinculantes; poderão assumir a qualificação de decisões
obrigatórias às partes; ou, a depender do ajuste, poderão ter, para algumas matérias, natureza cogente e,
para outras circunstâncias do contrato, natureza recomendatória, revelando-se modelagem híbrida do
dispute board. Nesta modelagem, a manifestação do Comitê passará a ter natureza decisória se uma das
partes o acionar para decidir sobre dada questão e a outra parte anuir ou silenciar quanto à resolução do
litígio através de solução vinculante do board.

1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Dano moral coletivo

Como já visto em rodada anterior, não há consenso doutrinário quanto às bases estruturantes do dano
moral. O legislador, igualmente, não determinou um conceito fechado e expresso sobre a temática, que, por
isso, é permeada de cunho predominantemente subjetivo. É cediço, todavia, que à lesão aos direitos de
personalidade (que possuem, pois, caráter extrapatrimonial) dá-se o nome de dano moral.

Em regra, o dano moral atinge os direitos de personalidade de um indivíduo e, por essa razão, por muito
tempo não era possível imaginar dano extrapatrimonial experimentado por uma coletividade – isto é, a lesão
a direitos difusos e coletivos. Contudo, a Lei da Ação Civil Pública inovou ao estabelecer expressamente a
possibilidade de reparação por danos morais e direitos difusos:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I – ao meio ambiente;

II – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

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IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

V – por infração da ordem econômica;

VI – à ordem urbanística;

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos;

VIII – ao patrimônio público e social.

Com efeito, abandonou-se a ideia de que o dano moral é a dor sofrida pela pessoa (a dor, em verdade, é
apenas a consequência eventual da lesão à esfera extrapatrimonial)1. Assim, o conceito de direitos da
personalidade tem que ser ampliado para abarcar a previsão legal, tendo em vista inexistir uma
personalidade jurídica coletiva e difusa2.

O dano moral coletivo, portanto, pode ser conceituado como uma lesão ao direito de toda e qualquer
pessoa3; é a lesão que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas
ou determináveis. Aferível in re ipsa, é categoria autônoma de dano, relacionado à violação injusta e
intolerável de valores fundamentais da coletividade: o dano moral coletivo, de natureza objetiva, tem por
fundamento o parágrafo único do artigo 927 do mesmo Código Civil, de forma que não se exige, no plano
fático, que haja necessidade de se perquirir sobre a culpabilidade do agente4.

Quanto à admissibilidade do dano moral coletivo na prática, verifiquemos o aresto a seguir:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO


MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. DANOS
MORAIS COLETIVOS. DISPONIBILIZAÇÃO NO MERCADO DE LEITE IMPRÓPRIO PARA O
CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO CONFIGURADO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1.
Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo
Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. Os danos morais coletivos configuram-se na

1
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1413.

2
Idem.

3
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
1413.

4
DOS SANTOS, Enoque Ribeiro. A natureza objetiva do dano moral coletivo no direito do trabalho. In:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/dano-moral-coletivo-breves-consideracoes-e-fundamentos-
normativos/#_ftn23. Acesso em: 17/01/2021.

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própria prática ilícita, dispensam a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade e se


baseiam na responsabilidade de natureza objetiva, na qual é desnecessária a comprovação de
culpa ou de dolo do agente lesivo. 3. Esta Corte já se manifestou no sentido de que o atentado
aos interesses dos consumidores que seja de razoável significância e desborde os limites da
tolerabilidade gera dano coletivo, como ocorre no presente caso, dada a comprovada
comercialização de leite com vício de qualidade. 4. Agravo interno não provido. (STJ - AgInt no
AREsp: 1343283 RJ 2018/0201781-9, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento:
17/02/2020, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/02/2020).

Por fim, saliente-se que não se deve confundir o dano moral coletivo com os danos sociais, já que,
diferentemente daquele, estes são considerados espécie autônoma de dano, causados por comportamentos
exemplares negativos ou condutas socialmente reprováveis5. Para Antônio Junqueira de Azevedo, os danos
sociais

são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral –
principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida. Os danos
sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, (...) se
atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, se atos em
geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da
população6.

1. Do ato jurídico lícito e ilícito

No Direito, conceitua-se como fato jurídico todo acontecimento, natural ou humano, que possua relevância
jurídica – isto é, que seja apto a criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações.

Compreendido como o evento concretizador da hipótese contida na norma 7, o conceito de fato jurídico
abarca, como dito, acontecimentos naturais (fato jurídico em sentido estrito) e também as ações humanas
lícitas ou ilícitas (ato jurídico em sentido amplo – que se divide em negócio jurídico e em ato jurídico stricto

5
Disponível em https://www.dizerodireito.com.br/2013/10/danos-morais-coletivos-e-danos-sociais.html. Acesso em
14/01/2021.

6
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o dano social. In: FILOMENO, José
Geraldo Brito; WAGNER JR., Luiz Guilherme da Costa; GONÇALVES, Renato Afonso (coord.). O Código Civil e sua
interdisciplinariedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 376.

7
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
229.

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sensu – e ato ilícito); além disso, também engloba os fatos em que, embora haja atuação humana, esta é
desprovida de manifestação de vontade, mas mesmo assim produz efeitos jurídicos (ato-fato jurídico)8.

Na presente rodada, abordaremos especificamente a temática do ato jurídico stricto sensu e do ilícito.

Em uma definição ampla, ato jurídico é toda a ação ou conduta humana, lícita ou ilícita9, com a finalidade de
criar, modificar ou extinguir direitos.

O ato jurídico em sentido estrito é a simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que
determina a produção de efeitos legalmente previstos; visa, tão-somente, a concretizar o pressuposto fático
contido na norma jurídica10. Aqui,

não há necessidade de uma declaração e vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro
do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente, mas sim um
simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei11.

O artigo 185 do Código Civil define que aos atos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que
couber, as disposições relativas ao negócio jurídico.

Doutra banda, o ato ilícito também deriva da manifestação de vontade humana, mas é praticado em
desconformidade com a ordem jurídica, violando direito subjetivo12. Sérgio Cavalieri Filho define ato ilícito
como o ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever jurídico 13.

Para o Código Civil, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (artigo 186). E, ainda, também
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (artigo 187) – abuso de direito, já visto em
rodadas passadas.

8
Idem.

9
A doutrina diverge sobre a juridicidade do ato ilícito: para Zeno Veloso, o ato ilícito não é considerado jurídico, porquanto ostente
a pecha da antijuridicidade; já para José Carlos Moreira Alves, autor da parte geral do Código Civil de 2002, o ato ilícito é também
jurídico.

10
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
230.

11
Idem.

12
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/dos-atos-e-fatos-juridicos/. Acesso em: 18/01/2020.

13
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 22.

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Assim, em arremate, conclui-se que os elementos que compõem o ato ilícito são: a ação humana (positiva
ou negativa); a contrariedade ao direito ou a ilicitude (violação de dever jurídico preexistente); e o prejuízo
(material ou moral)14.

2. A teoria da perda de uma chance

Desenvolvida na França, segundo o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino15, e sem previsão expressa no
ordenamento jurídico pátrio, a teoria da perda de uma chance fundamenta-se numa espécie autônoma de
indenização, no âmbito da responsabilidade civil. Cria-se, por meio dela, “uma quarta categoria de dano (...),
ao lado dos danos materiais, morais e estéticos”16.

A teoria considera que quem, de forma intencional ou não, retira de outra pessoa a oportunidade de um dado
benefício deve responder pelo fato17; em outras palavras, aplica-se a perda de uma chance quando um evento
danoso acarreta para alguém a frustração da chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma
perda18.

O dano originado a partir da oportunidade perdida relaciona-se diretamente a uma probabilidade, razão pela
qual se aproxima dos danos eventuais – que, por sua vez, não são passíveis de indenização.

Contudo, na perda de uma chance, a reparação do dano apenas terá lugar nos casos em que nitidamente
houver omissão, por culpa de outrem, de um fato que a vítima esperava, o que a impede,
consequentemente, de auferir um possível benefício ou de evitar uma desvantagem – o agente causador do
dano frustra uma expectativa da vítima. A probabilidade há, todavia, de ser certa.

Neste sentido, no julgamento do Recurso Especial 1.291.247, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino explicou:
na perda de uma chance, há também prejuízo certo, e não apenas hipotético, situando-se a certeza na

14
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. Volume único. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p.
304.

15
No julgamento do REsp 1.291.247. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--reparacoes-possiveis-a-
teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.

16
Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/245438/aspectos-gerais-sobre-a-teoria-da-perda-de-uma-chance--
quando-uma-oportunidade-perdida-e-causa-de-indenizar. Acesso em: 18/01/2021.

17
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--
reparacoes-possiveis-a-teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.

18
Idem.

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probabilidade de obtenção de um benefício frustrado por força do evento danoso. Repara-se a chance
perdida, e não o dano final19. In verbis:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PERDA DE UMA CHANCE. DESCUMPRIMENTO DE


CONTRATO DE COLETA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS DO CORDÃO UMBILICAL DO
RECÉM NASCIDO. NÃO COMPARECIMENTO AO HOSPITAL. LEGITIMIDADE DA CRIANÇA
PREJUDICADA. DANO EXTRAPATRIMONIAL CARACTERIZADO. 1. Demanda indenizatória movida
contra empresa especializada em coleta e armazenagem de células tronco embrionárias, em face
da falha na prestação de serviço caracterizada pela ausência de prepostos no momento do parto.
2. Legitimidade do recém-nascido, pois "as crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus à
proteção irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito à integralidade
mental, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação" (REsp.
1.037.759/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe
05/03/2010). 3. A teoria da perda de uma chance aplica-se quando o evento danoso acarreta
para alguém a frustração da chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma perda.
4. Não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando prova da certeza da
chance perdida, pois esta é o objeto de reparação. 5. Caracterização de dano extrapatrimonial
para criança que tem frustrada a chance de ter suas células embrionárias colhidas e
armazenadas para, se for preciso, no futuro, fazer uso em tratamento de saúde. 6.
Arbitramento de indenização pelo dano extrapatrimonial sofrido pela criança prejudicada. 7.
Doutrina e jurisprudência acerca do tema.

(REsp 1.291.247/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/08/2014, DJe 01/10/2014).

No mesmo diapasão, o Ministro Luis Felipe Salomão, no julgamento do Recurso Especial 1.540.153/RS,
elucidou:

Na configuração da responsabilidade pela perda de uma chance, não se vislumbrará o dano


efetivo mencionado, sequer se responsabilizará o agente causador por um dano emergente, ou
por eventuais lucros cessantes, mas por algo intermediário entre um e outro, precisamente a
perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa, que muito provavelmente se
alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado20.

Assim, verifica-se que, para que se enseje a reparação pela perda de uma chance, também se exige, como
nas demais espécies de danos (moral, material ou estético), a presença de uma conduta culposa do agente

19
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/09082020-Oportunidades-perdidas--
reparacoes-possiveis-a-teoria-da-perda-de-uma-chance-no-STJ.aspx. Acesso em 18/01/2021.

20
Recurso Especial nº 1.540.153/RS. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1700478&num_registro=2015
00820539&data=20180606&formato=PDF. Acesso em 19/01/2021.

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(manifestada por um ato ilícito ou abuso de direito) e do dano. Entretanto, diverge das demais situações de
responsabilização civil, eis que, aqui, o dano é de difícil verificação e quantificação. Com efeito, deve-se
analisar o caso concreto e se diferenciar o dano decorrente da perda de uma chance de um dano eventual;
“é necessária uma nítida compreensão de que aquela chance que se alega perdida pela vítima seria muito
provável de se alcançar se não fosse a conduta do agente que violou a expectativa” 21 – a chance perdida
deve repercutir na esfera patrimonial ou extrapatrimonial daquele que suportou a oportunidade perdida.

Ademais, há entendimento no sentido de que a teoria não teria aplicabilidade apenas no âmbito das relações
privadas, e, assim, o Estado poderia ser responsabilizado com base nela. De acordo com o Ministro Mauro
Campbell Marques, “(...) é certo que o ente público também está obrigado à reparação quando, por sua
conduta ou omissão, provoca a perda de uma chance do cidadão de gozar determinado benefício”22.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - Da assistência

O processo é protagonizado pela dicotomia autor-réu. São as partes, na essência.

Já vimos que é possível a intervenção de parte posteriormente ao ingresso na lide. É o caso do litisconsórcio.
Também é viável a intervenção de terceiros na relação jurídico-processual. Citem-se, como exemplos, os
casos do amicus curiae, devidamente abordado em rodada passada, e da assistência. Nos ocuparemos,
agora, da segunda.

A assistência é modalidade de intervenção de terceiro – portanto, não parte, e que nem poderia ser, de regra
– em processo em curso, fundamentada no interesse jurídico da obtenção de provimento jurisdicional, seja
favorável, seja desfavorável, a depender da parte que será assistida.

Nas lições de Marcus Vinicius Rios Gonçalves23:

(A assistência) é o mecanismo pelo qual se admite que um terceiro, que tenha interesse jurídico
em que a sentença seja favorável a uma das partes, possa requerer o seu ingresso, para auxiliar
aquele a quem deseja que vença.

21
Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/245438/aspectos-gerais-sobre-a-teoria-da-perda-de-uma-chance--
quando-uma-oportunidade-perdida-e-causa-de-indenizar. Acesso em 18/01/2021.

22
Recurso Especial nº 1.308.719. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1700478&num_registro=2015
00820539&data=20180606&formato=PDF. Acesso em 19/01/2021.

23
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 392.

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Nota-se que, na espécie, o elemento essencial à admissibilidade da assistência, a par da condição de terceiro,
é o interesse jurídico.

No ponto, saliente-se que o interesse pode ser não jurídico; sim, econômico, político, afetivo, enfim. Não
viabilizam a assistência.

Diferentemente, jurídico é o interesse detido por aquele que detenha relação jurídica com a parte que
receberá a assistência e que, assim, poderá ter esta mesma relação afetada com o resultado da lide. A relação
jurídica é distinta da versada na lide – se igual fosse, o assistente parte seria –, mas poderá, repita-se, ser
afetada com o resultado da demanda, do que ressai a relação de prejudicialidade da lide24.

Ainda no escólio de Rios Gonçalves25:

Há, no ordenamento jurídico, relações jurídicas que, conquanto diferentes entre si, são
interligadas: o que acontece com uma afeta a outra. Por isso, guardam relação de
prejudicialidade. É o que o ocorre, por exemplo, com os contratos de locação e sublocação. As
relações são distintas: os participantes da locação não são os da sublocação, e as condições
contratuais, como prazos e valor dos alugueres, podem ser muito distintas. Mas são interligadas,
porque não pode haver sublocação sem que exista prévia locação, e se esta desaparecer aquela
também se extinguirá. Quem pode ingressar como assistente simples é o terceiro que, não sendo
o titular da relação jurídica que está sendo discutida em juízo, é titular de uma relação com ela
interligada. Por isso, poderá sofrer os efeitos da sentença que, decidindo sobre uma relação,
repercutirá sobre todas as outras que com ela guardam prejudicialidade.

A propósito, dispõe o CPC que pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente
interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. A
assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o
assistente o processo no estado em que se encontre (art. 119). O dispositivo reforça, ademais, que a
assistência é sempre voluntária; nunca provocada (seja pelo juiz, seja pelas partes).

Frise-se que o regime jurídico da assistência prevê que as partes poderão impugnar o pedido de assistência,
em 15 dias. Ultrapassado o prazo, e preenchidos os requisitos o pedido será acolhido, salvo se rejeitado
liminarmente – por falta dos pressupostos. Porém, se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse
jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo (art. 120, parágrafo único). Da
decisão que resolve o incidente, cabe agravo de instrumento.

A assistência pode se dar na modalidade simples e na litisconsorcial.

24
Há interdependência e relação de prejudicialidade entre a relação jurídica discutida nos autos e a que possui o pretenso
assistente com o assistido.

25
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 393.

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Na assistência simples, o assistente possui interesse jurídico na causa. Será sempre cabível no caso de o
assistente possuir direito de regresso contra o assistido, se este for derrotado.

São, enfim, os requisitos da simples: a) lide pendente; b) lide alheia; c) interesse jurídico - a sentença pode
atingir reflexamente uma relação jurídica de que é titular o assistente.

Prevê o Código que o assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes
e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Sendo revel ou, de qualquer outro modo,
omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual (art. 121).

Anote-se que a codificação anterior previa que, no segundo caso, seria o assistente gestor de negócios do
assistido revel. Importante modificação da legislação atual é a previsão de que o assistente será substituto
processual. Compreende-se, porém, que é uma substituição processual sui generis, já que o substituído
permanece no processo. Com isso, o assistente não perceberá os efeitos da coisa julgada: tão somente a
justiça da decisão (v. mais a frente).

Embora atue o assistente conjuntamente com o assistido, a sua intervenção é limitada. Por isso, a assistência
simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao
direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos (art. 122).

Cite-se como poder do assistente a interposição de recurso, quando silente o assistido. Neste sentido,
importante enunciado do FPPC: a tutela antecipada concedida em caráter antecedente não se estabilizará
quando for interposto recurso pelo assistente simples, salvo se houver manifestação expressa do réu em
sentido contrário (Enunciado 501).

Como importante vedação, mencione-se a arguição de suspeição e incompetência relativa. A primeira,


subjetiva, só interessa à parte principal; assim igualmente a incompetência relativa: prorrogá-la é direito
potestativo do réu.

Há, ainda, a assistência litisconsorcial.

Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica
entre ele e o adversário do assistido. Foge-se, portanto, da regra geral da assistência: a relação jurídica do
assistido é distinta da litigada.

É o mais eloquente exemplo da assistência litisconsorcial a alienação de coisa litigiosa: o alienante conserva
sua condição de parte, mas o adquirente poderá ingressar como assistente litisconsorcial.

Nos casos em que couber assistência litisconsorcial, como o objeto litigioso a todos pertence e é defendido
pelo representante legítimo, a coisa julgada estender-se-á a todos, ainda que não tenham ingressado
originariamente (litisconsorte facultativo unitário) ou posteriormente (assistente litisconsorcial ulterior).

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Para Dalla Bernardino26,

na assistência litisconsorcial, o assistente não é parte, mas seu direito também está em causa,
tanto que a doutrina admite que seu regime jurídico é análogo ao do litisconsórcio ulterior. Por
isso, pode agir no processo e conduzir sua atividade sem se subordinar ao assistido. Pode,
inclusive, ir além da atividade do assistido e até contrariar a vontade deste, porque seu agir
processual se aproxima daquele de um litisconsorte. Dessa forma, aborda-se a assistência
litisconsorcial como uma assistência qualificada, pelo fato de o assistente ter vínculo não só com
o assistido, em favor de quem irá intervir, como também com o adversário do assistido.

Frise-se: diferentemente da assistência simples, na litisconsorcial o interesse jurídico se dá pela possibilidade


de a sentença atingir diretamente (e não reflexa ou indiretamente) a relação jurídica de que o assistente é
titular.

Quanto aos poderes, possui o assistente litisconsorcial os mesmos poderes que o litisconsorte unitário, com
a ressalva de que, tendo ingressado no processo já em curso, assumi-lo-á no estado em que se encontrar.
Vale dizer, tal qual no litisconsórcio unitário, os atos benéficos praticados pelo assistente ou pelo assistido
produzem efeitos para ambos, mas os atos maléficos praticados pelo assistente ou pelo assistido não
produzem efeitos, nem mesmo para quem os praticou. Vide, a respeito, a abordagem já realizada neste curso
quanto ao litisconsórcio unitário.

Em arremate, importante é a abordagem da chamada justiça da decisão.

No litisconsórcio simples, a coisa julgada não incidirá sobre o assistente. Mas a ratio da decisão no processo
que a intervenção se deu não mais poderá ser debatida pelo assistente. É a justiça da decisão, intocável, de
regra.

Dispõe o CPC:

Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não
poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:

I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido (atuação
cerceada), foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu.

Justiça da decisão refere-se à fundamentação do provimento jurisdicional, que não poderá mais ser discutida
pelo assistente simples que efetivamente interveio no processo. É dizer, a verdade dos fatos que embasou a

26
BERNARDINO, Humberto Dalla. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo. 2ª edição. Editora Saraiva: São Paulo, 2020.
p. 288-289.

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sentença não poderá mais ser rediscutida pelo assistente em outro processo. A chamada justiça da decisão,
todavia, somente atingirá o assistente se efetivamente vier a intervir.

Assim, ressalvadas as hipóteses legalmente previstas de rediscussão, o assistente ficará adstrito à verdade
estabelecida em sentença. Em nova lide correlata à assistida, outros fundamentos poderão ser levantados,
desde que distintos da verdade do processo anterior.

1.4.2 - Assistência e representação no processo civil

De carona com o tema anterior, convém analisarmos a sistema da capacidade processual e separar o seu
suprimento mais tênue – assistência – da intervenção de terceiros homônima.

A Lei processual civil estabelece que, para litigar em juízo, é necessária a capacidade processual. Assim é que
o art. 70 veicula que apenas as pessoas que se acham no exercício dos seus direitos, de acordo com a Lei
civil, é que poderão estar em juízo. Assim, exige-se que a pessoa tenha capacidade plena civil.

Noutros termos, é a aptidão para figurar como parte sem a necessidade de representante legal. As partes no
processo terão necessariamente que praticar atos processuais, que são espécie de ato jurídico. Dessa forma,
as partes precisam ter capacidade processual (legitimatio ad processum) para a prática de tais atos.

A falta de capacidade processual deve ser suprida. Para tanto, exsurgem os fenômenos da representação e
da assistência.

O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei (art. 71 do
CPC). Representado, se absolutamente incapaz; assistido, se relativamente.

A determinação do representante ou do assistido será aferido de acordo com a Lei civil, novamente. Sobre
o tema, Rios Gonçalves27:

Para saber quem é o representante ou assistente, é preciso identificar o tipo de incapacidade: se


proveniente da menoridade, os incapazes serão representados pelos pais; se casados, por
qualquer um deles; se não, por aquele que detenha a guarda. Se ela for compartilhada, por
qualquer um. Se o incapaz não está sob poder familiar, porque os pais faleceram ou dele foram
destituídos, haverá nomeação de um tutor, que passará a representá-lo ou assisti-lo. O tutor
serve apenas ao incapaz por menoridade. Se a incapacidade provém de outras causas, como de
embriaguez habitual ou uso de tóxicos, ou da incapacidade transitória ou permanente de
exprimir a vontade, ou ainda da prodigalidade (art. 4º do Código Civil, com a redação dada pela
Lei n. 13.146/2015), haverá interdição e nomeação de um curador, que passará a assistir o
incapaz. Nos termos do art. 6º da Lei n. 13.146/2015, a enfermidade ou deficiência mental não
afeta a capacidade da pessoa, mas o art. 84, § 1º, da mesma lei permite que ela seja colocada, se

27
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 321-322.

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necessário, sob curatela. Nesse caso, a pessoa terá de ser representada ou assistida em juízo pelo
seu curador.

A problemática se acentua na hipótese de o litigante material (i.e., a parte que afirma deter o bem da vida
litigioso, ou sobre a qual recai a pretensão) não reunir a capacidade plena e tampouco possuir representante
legal.

O suprimento, nestes casos, se dará com o curador especial, figura anômala (no sentido de ser tratado na
disciplina dos fenômenos processuais excepcionais) que atuará apenas no processo em que foi nomeado.
Frise-se: diferentemente do representante legal já definido, o curador especial tem atuação pontual. O termo
final da representação ou da assistência coincide com o fim do processo.

O curador especial é, pois, instrumento de (re)equilíbrio processual. A parte vulnerável tem o incremento de
sua posição com a curatela nomeada para o processo, de modo que possa exercer as prerrogativas
constitucionais e legais a ela asseguradas, em especial as garantias processuais, como o contraditório, a
ampla defesa e o devido processo legal, na plenitude.

Dispõe o Código Adjetivo:

Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:

I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele,
enquanto durar a incapacidade;

II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for
constituído advogado.

Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.

Note-se que os incisos tratam de fundamentos, em absoluto, distintos. No primeiro, o incapaz civil, sem
representante legal, ou mesmo aquele que o tenha, mas com pretensões diacrônicas. Nestes casos,
comporta a curatela a ideia de vulnerabilidade inerente.

No segundo, pertinente ao preso, não há, de resto, incapacidade. A pessoa presa é plenamente capaz, por
presunção (se incapaz fosse, estaria em cumprimento de medida de segurança, sublinhe-se). A restrição da
liberdade, porém, é indicativo de vulnerabilidade decorrente não da pessoa em si (ou seja, não é inerente),
mas, sim, da situação de impossibilidade de ir e vir – e, consequentemente, esgotar as suas garantias e
pretensões no processo.

Há, ainda no segundo inciso, o réu revel citado por edital ou com hora certa. Veja-se que, aqui, o curador
especial representará a pessoa maior e capaz cujo paradeiro se desconhece.

A jurisdição não poderá ser negada ao litigante pela incerteza do paradeiro do réu. Desde que se esgotem os
meios à disposição para a localização, prevê a Lei processual a citação ficta, editalícia; o processo seguirá e,
para que o ausente possa ter as suas pretensões presuntivamente satisfeitas na lide, o curador especial

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atuará. Assim também na suspeita de ocultação, seguido o procedimento legal (arts. 253 e 254), com a
possibilidade de citação com hora certa.

É de Rios Gonçalves28 o arremate do ponto, quanto à posição peculiar do curador especial do réu citado por
edital ou com hora certa:

Sua função será defender o réu, apresentando contestação. Esta é oferecida, portanto, depois
de já ter se encerrado o prazo originário de contestação. O curador especial é obrigado a
apresentá-la, mesmo que não tenha elementos para fazê-lo. Seu prazo é impróprio: se não
cumprir a tarefa, será substituído e sofrerá sanções administrativas, mas não haverá preclusão.
Cumpre-lhe alegar o que for possível em favor do réu. Como, em regra, ele não tem contato com
o réu, pode não ter elementos para defendê-lo. Por isso, a lei inclui esse como um dos casos em
que pode haver contestação por negativa geral (CPC, art. 341, parágrafo único). Em regra,
cumpre ao réu apresentar impugnação específica dos fatos narrados na inicial, sob pena de
presumirem-se verdadeiros os não contrariados. Mas a contestação por negativa geral obriga o
autor a provar os fatos alegados, mesmo não havendo impugnação específica. Ela afasta a
presunção de veracidade, decorrente da revelia.

Veja-se que não há abertura sistemática à reconvenção a ser aforada pelo curador especial da pessoa capaz
(preso ou citado fictamente). A nomeação visa à defesa da parte; o contra-ataque – reconvenção – desborda
desses limites. No campo da defesa, porém, é permitida a plenitude compatível com a função, inclusive a
apresentação de exceções de suspeição e de incompetência relativa.

Quando o curador especial assumir a representação de incapazes, a atuação se dará tal qual a representação
legal – o que inclui a própria reconvenção. Não há limitação à defesa, pois.

Destaque-se que é cabível a representação na execução, na mesma sistemática do processo de


conhecimento – já visto. É a Súmula 196 do STJ: ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos. Assim
é que se viabiliza a apresentação de embargos, na execução por título extrajudicial.

Na ação monitória, necessitado o curador especial, tem-se admitido que, nomeado, apresente os seus
embargos em favor do curatelado, em função símile contestação. No ponto, o maior relevo – e abertura à
discussão – refere-se à representação do revel e do citado fictamente.

Por fim, saliente-se que a ausência de curador especial representa causa de nulidade absoluta, quando
incapaz a parte, por falta de pressuposto processual de validade. Ao citado fictamente e ao preso, igualmente
há a nulidade, que poderá ser suprida, entretanto, se o resultado do processo for favorável à parte
prejudicada (porque preenchidos os pressupostos processuais, quanto à capacidade).

28
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 325.

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1.5 - DIREITO PENAL


Olá pessoal! Aqui é Flávio Milhomem, professor do Estratégia Carreira Jurídica; em Direito Penal, vamos
discutir alguns assuntos atuais que, certamente, serão explorados em provas objetivas e dissertativas do
Ministério Público.

1.5.1 - Pena Pecuniária – Impossibilidade Financeira do Réu

Conforme dispõe o art. 49 do Código Penal, a pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário,
nacional, distrital ou estadual, da quantia fixada na sentença, calculada em dias-multa.

As penas de multa podem ser de três naturezas.

a) Isoladamente aplicadas (caso de contravenções penais e de determinados tipos penais como o furto
privilegiado – CP, art. 155, §2o).

b) Cumulativamente aplicadas (como na maioria dos crimes contra o patrimônio, em que a pena de multa
vem com a pena privativa de liberdade).

c) Substitutivas (podem ser aplicadas isoladamente, quando a pena privativa de liberdade for menor ou igual
a 1 ano, ou cumulativamente com uma pena restritiva de direitos, quando superior a 1 ano).

A individualização da pena pecuniária deve obedecer a um critério bifásico. Primeiro, a fixação do número
de dias-mula (mínimo de 10 e máximo de 360); segundo, a definição do valor do dia-multa (1/30 do salário-
mínimo a cinco vezes o salário-mínimo – CP, art. 49, §1o).

Conforme dispõe o art. 60 do Código Penal, na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente,
à situação econômica do réu, podendo aumentá-la até o triplo, se considerar que, em virtude de sua situação
econômica, é ineficaz, embora aplicada no máximo.

Todavia, nos termos do entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, a impossibilidade financeira
do réu não afasta a imposição da pena de multa, inexistindo previsão legal de isenção do preceito secundário
do tipo penal incriminador. (HC 298.169/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
11/10/2016, DJe 28/10/2016).

1.5.2 - A Distinção entre o Concurso Formal Próprio e o Impróprio Relaciona-Se com o


Elemento Subjetivo do Agente

O concurso formal dá-se quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não. Nesse caso, o agente é punido pela pena mais grave, no caso de penas distintas, ou somente
uma delas, aumentada, em quaisquer dos casos, de um sexto até a metade. Da mesma forma que o concurso
material, também se fala em concurso formal homogêneo e heterogêneo.

Na realidade, o concurso formal implica a existência de dois ou mais crimes que, para efeito de política
criminal, são apenados de maneira menos rigorosa.

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São dois os requisitos para a aplicação do concurso formal:

I) Conduta única: compreende um único ato ou uma sequência de atos, que têm em comum o
tempo e o lugar, destinados à prática de um crime.
II) Dois ou mais resultados típicos: uma só conduta dá origem a mais de um crime, quando atingir
mais de um bem penalmente tutelado.

E são quatro as espécies possíveis de concurso formal.

I) Próprio ou perfeito: resulta de um único desígnio. o agente, por meio de uma única ação, dá causa a
dois ou mais resultados (ex.: o agente dirige um carro em alta velocidade e termina por atropelar e
matar três pessoas). Responde pelo crime mais grave, com um acréscimo.
II) Impróprio ou imperfeito: resulta de desígnios autônomos. Aparentemente, há uma só ação, mas o
agente intimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los (ex.: o agente
envenena um reservatório de água, visando à morte de um desafeto, porém assumindo o risco de
matar outras pessoas que fizerem uso do líquido). Somam-se as penas, como no concurso material.
III) Homogêneos: ocorrem resultados idênticos.
IV) Heterogêneos: ocorrem resultados diversos.

Especificamente, no tocante ao concurso formal impróprio, o Superior Tribunal de Justiça firmou


jurisprudência no sentido de que, configurado o crime de latrocínio, com o objetivo de única subtração
patrimonial, mas com a presença de desígnios autônomos de obter mais de um resultado morte, fica
caracterizado o concurso formal impróprio, previsto no art. 70, parte final, do Código Penal, segundo o qual
as penas cominadas serão aplicadas cumulativamente, seguindo a previsão do concurso material de crimes.

A distinção entre o concurso formal próprio e o impróprio relaciona-se com o elemento subjetivo do agente,
ou seja, a existência ou não de desígnios autônomos (AgRg no REsp 1.299.942/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, Sexta Turma, DJe 21/6/2013).

1.5.3 - Progressão de Regime para o Condenado por Crime Hediondo Reincidente não
Específico

Firmou-se no Superior Tribunal de Justiça o entendimento no sentido de que, nos termos da legislação em
vigor, mostra-se irrelevante que a reincidência seja específica em crime hediondo para a aplicação da fração
de 3/5 na progressão de regime, pois não deve haver distinção entre as condenações anteriores (se por crime
comum ou por delito hediondo) (AgRg no HC n. 494.404/MS, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, DJe 20/5/2019).

Contudo, tal entendimento não pode mais prevalecer diante da nova redação do art. 122 da Lei de Execução
Penal, trazida com a Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime).

Com efeito, a Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para
estabelecer o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime, é o que se depreende da
leitura do § 2º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990: A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for

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primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº
7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).

Já a Lei n. 13.964/2019 trouxe significativas mudanças na legislação penal e processual penal, e, nessa toada,
revogou o referido dispositivo legal. Agora, os requisitos objetivos para a progressão de regime foram
sensivelmente modificados, tendo sido criada uma variedade de lapsos temporais a serem observados antes
da concessão da benesse.

A leitura da atual redação do dispositivo em comento revela, porém, que a situação em exame (condenado
por crime hediondo, reincidente não específico) não foi contemplada na lei. Vejamos: Art. 112. A pena
privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: […] V - 40% (quarenta por
cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; […] VII - 60% (sessenta
por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII - 70%
(setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte, vedado o livramento condicional.

Dessa forma, em relação aos apenados que foram condenados por crime hediondo mas que são reincidentes
em razão da prática anterior de crimes comuns não há percentual previsto na Lei de Execuções Penais, em
sua nova redação, para fins de progressão de regime, visto que os percentuais de 60% e 70% se destinam
unicamente aos reincidentes específicos, não podendo a interpretação ser extensiva, vez que seria
prejudicial ao apenado. Assim, por ausência de previsão legal, o julgador deve integrar a norma aplicando a
analogia in bonam partem.

No caso de condenado por crime hediondo, reincidente não específico, diante da lacuna na lei, deve ser
observado o lapso temporal relativo ao primário. Impõe-se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do
referido artigo da Lei de Execução Penal, exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a
progressão de regime.

1.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - O Ministério Público

Sem pretender esmiuçar os meandres históricos do Ministério Público, que nos remontaria ao Rei Felipe, o
Belo, mas apenas a título de curiosidade, trazemo-lhes alguns registros sobre a instituição.

Rui Cavalin Pinto (p. 13) menciona que a expressão Ministério Público foi mencionada pela primeira vez no
Brasil, no artigo 18, do Regulamento das Relações do Império, de 1847.

Também nos traz uma breve explanação acerca da origem etimológica, tanto da expressão Ministério,
quanto do epíteto Parquet, pelo qual se designa a instituição em diversos documentos:

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Diz-se que a expressão provém do latim magister, com o sentido de líder ou aquele que conduz.
Minister, é o menor, o que se presta a servir, ou o servidor que passa a ser um agente público
cujo ofício é servir à lei e à justiça.

O tratamento do parquet, corresponde, no Tribunal, ao espaço cercado (petit parc ou enclos),


que separava os magistrados judiciais dos magistrados do Ministério Público.

Segundo o Portal do Arquivo Nacional:

O Ministério Público foi criado pelo decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, que organizou a
Justiça Federal, no contexto das transformações administrativas promovidas pelo governo
provisório após a Proclamação da República. Na exposição de motivos que serviu como
justificativa para a aprovação do ato, o então ministro da Justiça, Manuel Ferraz de Campos Sales,
reconheceu o órgão como uma “instituição necessária em toda a organização democrática”, ao
qual cabia velar pela execução das leis, decretos e regulamentos aplicados pela Justiça Federal e
promover a ação pública quando necessário, tendo sua independência resguardada (SALES,
1890, s.p.).

http://mapa.an.gov.br/dicionario-primeira-republica/532-ministerio-publico-2.html

A formatação do Ministério Público tal qual se vê nos dias de hoje ocorreu ao longo de anos de história.
Cavalin chega a afirmar que “a sua criação e independência são conquistas alcançadas no nosso tempo,
através de uma lenta e gradativa sucessão e aperfeiçoamento do seu papel jurídico-social”.

Aliás, o próprio Portal já referido, relata que

Após a Independência, a Constituição promulgada em 1824 conferiu o encargo da acusação


criminal ao procurador da Coroa e Soberania Nacional, que existiria em cada uma das relações
do Império, e que teria suas funções definidas nos regulamentos dessas instituições aprovados
ao longo desse período.

Da atividade de “oficiar na relação nas apelações criminais de qualquer natureza, a fim de alegar e requerer
por parte da Justiça”, prevista no já mencionado artigo 18, do Regulamento, ao Ministério Público de hoje,
mais de cem anos se passaram, e muita coisa mudou.

O Ministério Público tem, hoje, assento constitucional. Trata-se de função essencial à justiça, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Trata-se, no escólio do festejado Mazzilli (p. 42), de órgão pelo qual o Estado manifesta a sua soberania,
responsável por zelar das principais formas de interesse público, ou melhor, do interesse público primário,
noção que aqui se confunde com o bem geral.

Manteve, na seara criminal, a missão de promover, privativamente, a ação penal pública, consoante anela o
artigo 129, I, da Constituição.

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Antes de adentrar o tema especificamente, urge uma rápida e singela explicação a respeito dos princípios
constitucionais que regem o Parquet e as implicações que eles propõem:

i) unidade: segundo Alexandre de Moraes,

Por força do princípio da unidade do Ministério Público (art. 127, § 1º, da CF), os membros do
Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral. Só
existe unidade dentro de cada Ministério Público, não havendo unidade entre o Ministério
Público de um Estado e o de outro, nem entre esses e os diversos ramos do Ministério Público
da União.

[ADPF 482, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 3-3-2020, P, DJE de 12-3-2020.]

ii) indivisibilidade: cada membro do Ministério Público age em nome da instituição. Não a representa, mas
constitui o próprio Ministério Público atuando. Permite, outrossim, a substituição de um membro por outro
no curso do processo, justamente porque cada membro age pela instituição.

iii) independência funcional: tão caro ao bom funcionamento da instituição. Significa, de modo simples, que
cada membro é livre para agir segundo a sua consciência, não estando adstrito a nenhuma orientação
institucional ou ingerência externa. Isso no tocante à atividade-fim.

A importância dessa normativa é que ela garante a isenção de atuação do representante do Parquet, que, é
óbvio, não lhe traz qualquer tipo de blindagem, seja interna corporis, seja extra muros. Naturalmente ele se
prende aos deveres funcionais, estando sujeito a responsabilização civil, criminal e administrativa.

O que ela, a independência, evita, ou pretende evitar, é que alguém, dentro ou fora da instituição, obrigue
o membro a atuar de tal ou qual forma. Apenas a título ilustrativo, imagine que um Promotor de Justiça
esteja a investigar um influente comerciante local, que valendo-se de todo o seu prestígio, consiga acessar
alguém do alto escalão político, que o ordene debandar a investigação. Não é o que se quer.

No campo do Processo Penal, essa garantia da independência é percebida no artigo 28, do CPP, que trata do
arquivamento do inquérito policial. Seja na sistemática antiga (ainda vigente), seja na sistemática proposta
pelo Pacote Anticrime (com efeito suspenso por força de liminar concedida pelo STF), caso a instância
revisora da manifestação discorde do arquivamento proposto, não pode simplesmente obrigar o membro a
ofertar denúncia, senão denunciar por si própria ou designar ou representante para fazê-lo.

A par desses importantes princípios, há garantias ofertadas aos membros do Ministério Público, que longe
de caracterizar prerrogativas indevidas, objetivam propiciar uma tranquilidade para que atuem em prol de
seus objetivos constitucionais.

Assim, a instituição tem autonomia administrativa, sendo responsável pela elaboração de sua própria
proposta orçamentária, a iniciativa de projeto de lei para estabelecer organização, atribuições e o estatuto
de cada Ministério Público, além da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

Nesse sentido, colha-se da jurisprudência do STF:

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A alta relevância jurídico-constitucional do Ministério Público – qualificada pela outorga, em seu


favor, da prerrogativa da autonomia administrativa, financeira e orçamentária – mostra-se tão
expressiva, que essa instituição, embora sujeita à fiscalização externa do Poder Legislativo, com
o auxílio do respectivo tribunal de contas, dispõe de uma esfera própria de atuação
administrativa, livre da ingerência de órgãos do Poder Executivo, aos quais falece, por isso
mesmo, competência para sustar ato do procurador-geral de justiça praticado com apoio na
autonomia conferida ao Parquet. A outorga constitucional de autonomia, ao Ministério Público,
traduz um natural fator de limitação dos poderes dos demais órgãos do Estado, notadamente
daqueles que se situam no âmbito institucional do Poder Executivo. A dimensão financeira dessa
autonomia constitucional – considerada a instrumentalidade de que se reveste – responde à
necessidade de assegurar-se ao Ministério Público a plena realização dos fins eminentes para os
quais foi ele concebido, instituído e organizado. (...) Sem que disponha de capacidade para
livremente gerir e aplicar os recursos orçamentários vinculados ao custeio e à execução de suas
atividades, o Ministério Público nada poderá realizar, frustrando-se, desse modo, de maneira
indevida, os elevados objetivos que refletem a destinação constitucional dessa importantíssima
instituição da República, incumbida de defender a ordem jurídica, de proteger o regime
democrático e de velar pelos interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público –
consideradas as prerrogativas constitucionais que lhe acentuam as múltiplas dimensões em que
se projeta a sua autonomia – dispõe de competência para praticar atos próprios de gestão,
cabendo-lhe, por isso mesmo, sem prejuízo da fiscalização externa, a cargo do Poder Legislativo,
com o auxílio do tribunal de contas, e, também, do controle jurisdicional, adotar as medidas que
reputar necessárias ao pleno e fiel desempenho da alta missão que lhe foi outorgada pela Lei
Fundamental da República, sem que se permita ao Poder Executivo, a pretexto de exercer o
controle interno, interferir, de modo indevido, na própria intimidade dessa instituição, seja pela
arbitrária oposição de entraves burocráticos, seja pela formulação de exigências descabidas, seja,
ainda, pelo abusivo retardamento de providências administrativas indispensáveis, frustrando-
lhe, assim, injustamente, a realização de compromissos essenciais e necessários à preservação
dos valores cuja defesa lhe foi confiada.

[ADI 2.513 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 3-4-2002, P, DJE de 15-3-2011.]

Também objetivando o bom desempenho das atividades ministeriais, incidem aos membros vedações, como
o de exercício da advocacia, de atividade político-partidária, de outra função pública, salvo uma de
magistério etc.

Como decorrência de toda essa conformação, o Supremo tem reconhecido o princípio do Promotor natural,
que, a exemplo do juiz natural, tão caro ao processo penal, veda a designação casuística e arbitrária de
membros para a atuação em determinados feitos.

O aresto abaixo, bem ilustra a aplicação desse princípio:

O postulado do promotor natural, que se revela imanente ao sistema constitucional brasileiro,


repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela chefia da instituição, a
figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia de ordem jurídica, destinada
tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício
pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece

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o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o promotor cuja intervenção se justifique
a partir de critérios abstratos e predeterminados, estabelecidos em lei. A matriz constitucional
desse princípio assenta-se nas cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos
membros da instituição. O postulado do promotor natural limita, por isso mesmo, o poder do
procurador-geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não deve exercer a
chefia do Ministério Público de modo hegemônico e incontrastável. Posição dos ministros Celso
de Mello (relator), Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso. Divergência, apenas,
quanto à aplicabilidade imediata do princípio do promotor natural: necessidade da interpositio
legislatoris para efeito de atuação do princípio (min. Celso de Mello); incidência do postulado,
independentemente de intermediação legislativa (min. Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e
Carlos Velloso).

[HC 67.759, rel. min. Celso de Mello, j. 6-8-1992, P, DJ de 1º-7-1993.]

Ainda, os membros do Ministério Público gozam das seguintes garantias:

- vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a
perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos
demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

- inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

- irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e
153, § 2º, I.

O MP no processo penal

O Ministério Público tem uma posição diferenciada no processo penal.

Ao imaginar um processo civil (autor x réu), parece inconcebível que alguém proponha uma ação e ao final
peça a sua improcedência. Essa situação remonta ao indesejável assédio processual, tão rechaçado pela
jurisprudência do Eg. Tribunal da Cidadania.

No processo penal, diversamente, o membro do Ministério Público, autor por excelência da ação penal
pública, pode (e deve) pedir a absolvição, quando desenhada alguma das hipóteses do artigo 386, do CPP.

Pode acontecer que, a despeito do quadro fático apurado ao cabo das investigações preliminares, o Parquet
ofereça denúncia, porém essa situação não se confirme em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa, ou mesmo que o acusado apresente alguma justificante ou dirimente da culpabilidade, devidamente
comprovada, caso em que a absolvição passa a ser medida impositiva.

Não se deseja que isso seja regra (e de fato não o é), até por conta de todo o constrangimento imposto ao
réu por força do processo contra ele movido, com todas as consequências daí advindas.

Daí já é possível perceber as particularidades do Ministério Público no processo penal.

O artigo 257, do CPP, assim dispõe:

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Art. 257. Ao Ministério Público cabe:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste Código;


e

II - fiscalizar a execução da lei.

Por sua vez, o artigo 127, da Constituição Federal, diz que o Parquet é o defensor da ordem jurídica.

O que se extrai dessas importantes normativas é que ao Ministério Público incumbe a) defender a ordem
pública e b) fiscalizar a execução da lei, antes mesmo de ser o titular da ação penal pública!

De modo bastante percuciente, Eugênio Paccelli de Oliveira (p. 560 e ss.) faz uma distinção entre parte em
sentido formal e parte em sentido material. Basicamente, em sentido formal, parte é aquele que ocupa um
dos polos da situação ou relação jurídica, praticando atos de postulação, apresentação de arrazoados,
produção de provas, interposição de recursos, desenvolvendo “toda e qualquer atividade reservada a quem
pode provocar a jurisdição”.

Aqui, há uma nítida distinção entre as categorias do direito material e do direito processual. O conteúdo do
direito material a ser deduzido pelo Ministério Público em juízo, nem sempre será uma pretensão
acusatória/condenatória, típica de quem ocupa o polo ativo de uma relação, como por exemplo no processo
civil.

Já a parte em sentido material é aquela que atua com parcialidade, “que defende(m) a aplicação do direito
unicamente enquanto favorável à relação jurídica material levada ao processo.”

Sintetizando, o autor esclarece que

(...) a parte é material quando há coincidência entre a sua manifestação (de direito material) na
causa e sua posição no processo (requerimento de condenação por quem é autor); é formal
quando independe de tal coincidência, como ocorre, por exemplo, quando o Ministério Público,
mesmo autor da ação, requer a absolvição do acusado (art. 385, CPP).

Edilson Mougenot Bonfin (p. 593 e ss), ao explicar que o Ministério Público é por uns identificado como
“parte imparcial”, arremata que

(...) mesmo atuando como autor, deverá zelar pela correta aplicação da lei, ainda que isso
implique, em determinadas situações, atuar em favor da parte contrária. Com efeito, o órgão do
Ministério Público tem compromisso com a justiça, acima dos interesses parciais.

Bonfin esclarece que também há quem classifique o Ministério Público como parte sui generis, parte formal
ou instrumental, parte material ou processual, ou sequer o considera como parte.

Pode-se afirmar, destarte, que o Ministério Público não é órgão de acusação e sim órgão legitimado a acusar.
Perceba-se aqui a diferença: O órgão de acusação, acusa. O órgão legitimado a acusar, acusa quando
necessário, mas resigna-se (e muito mais do que isso, luta pela) com a absolvição.

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Em emblemática passagem de sua obra, Pacelli sublinha que

(...) ao Estado (e, aqui, ao Ministério Público) deve interessar, na mesma medida, tanto a
condenação do culpado quanto a absolvição do inocente.

Parte imparcial?

Como já dito noutra oportunidade, o Ministério Público ocupa um dos polos da relação processual, sem que
necessariamente defenda uma pretensão que lhe é típica, dado o seu caráter peculiar no processo penal.

Trata-se de uma parte imparcial. Paccelli sublinha que

(...) a imparcialidade deverá permear toda a atividade do Ministério Público, em todas as fases
da persecução penal, incluindo a fase pré-processual, reservada às investigações.

Arremata o autor, asseverando que

O atuar imparcial do Ministério Público está relacionado com a inteira liberdade que se lhe
reconhece na apreciação dos fatos e do direito a eles aplicável. O Ministério Público é livre e deve
ser livre na formação de seu convencimento, sem que esteja vinculado a qualquer valoração ou
consideração prévia sobre as consequências que juridicamente possam ser atribuídas aos fatos
tidos por delituosos.

O significado dessa proposição é que o representante do Ministério Público tem liberdade para avaliar a
situação posta e formar o seu convencimento, de acordo com o material probatório angariado aos autos.

Em que pesem os princípios da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal, o Parquet não é


obrigado a sustentar uma pretensão acusatória em juízo, ao verificar que o material probatório converge no
sentido da absolvição. É que, como já dito, antes de parte, ele é custos juris!

1.6.2 - O Ministério Público pode investigar?

Durante muito tempo persistiu a discussão sobre se o Ministério Público pode ou não investigar.

Uma importante consideração preliminar é no sentido de que a investigação no sistema brasileiro é plural,
significando que pode ser exercida por diversas instituições. Não se trata de tarefa exclusiva da Polícia, como
aliás se vê do gráfico outrora apresentado.

É até ideal que essa atribuição seja repartida, garantindo-se a proteção adequada dos bens jurídicos
protegidos pelo Direito Penal, que não ficam desguarnecidos por conta de eventual atuação deficitária das
entidades, que sabe-se estão, em sua grande maioria, com grande déficit de material humano e físico.

Ainda, outro importante registro é que grande parte das investigações existentes em solo brasileiro são
conduzidas pela Polícia Judiciária, que é vocacionada a tanto, o que não significa que outras instituições
também o possam fazer!

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Pois bem. Após acalorados debates, ainda em 2009, o Supremo Tribunal Federal reconheceu essa
possibilidade, aplicando a teoria dos poderes implícitos.

Argumenta-se que se o Parquet é o destinatário da investigação, o titular da opinio delicti, tendo o poder-
dever de denunciar, num caso concreto, ele deve dispor de ferramentas ao adequado cumprimento dessa
tarefa, que é investigar. Ainda, como reforço retórico ao reconhecimento desse poder investigatório está o
fato de que o Ministério Público é o titular do controle externo da atividade Policial.

Segue o precedente paradigmático (trecho) de nossa Corte Suprema:

TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS - CASO "McCULLOCH v. MARYLAND" (1819) - MAGISTÉRIO DA


DOUTRINA (RUI BARBOSA, JOHN MARSHALL, JOÃO BARBALHO, MARCELLO CAETANO, CASTRO
NUNES, OSWALDO TRIGUEIRO, v.g.) -
==10be0c==

A outorga constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não impede nem
exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o "dominus litis", determinar a abertura de
inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos e diligências investigatórias, estar presente e
acompanhar, junto a órgãos e agentes policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo
aqueles sob regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam indispensáveis à
formação da sua "opinio delicti", sendo-lhe vedado, no entanto, assumir a presidência do
inquérito policial, que traduz atribuição privativa da autoridade policial.

É PLENA A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE INVESTIGAR DO MINISTÉRIO PÚBLICO,


POIS OS ORGANISMOS POLICIAIS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA)
NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA PENAL
INVESTIGATÓRIA.

O poder de investigar compõe, em sede penal, o complexo de funções institucionais do


Ministério Público, que dispõe, na condição de "dominus litis" e, também, como expressão de
sua competência para exercer o controle externo da atividade policial, da atribuição de fazer
instaurar, ainda que em caráter subsidiário, mas por autoridade própria e sob sua direção,
procedimentos de investigação penal destinados a viabilizar a obtenção de dados informativos,
de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe permitam formar a "opinio delicti",
em ordem a propiciar eventual ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. Doutrina.

(HC 87610, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 27/10/2009, DJe-228
DIVULG 03-12-2009 PUBLIC 04-12-2009 EMENT VOL-02385-02 PP-00387)

Como se nota, o poder de investigar não está concentrado exclusivamente nas mãos da chamada Polícia
Judiciária, havendo outras instituições legitimadas a tanto.

Impende registrar, por oportuno, que a investigação por meio de inquérito policial é exclusiva da Polícia, na
forma da lei 12.830/12, cabendo às demais Autoridades investigar por meio de expediente próprio, no caso
do Ministério Público, o Procedimento Investigatório Criminal.

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O substrato normativo são as previsões contidas não artigo 8º, da Lei Complementar 75 e 26, da lei 8.625/93,
que tratam sobre a organização, atribuições e estatuto do MPU, e da Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público, respectivamente.

Nada obstante, temos ainda a Resolução 13/2006, do Conselho Nacional do Ministério Público, que explicita
os meandres das investigações conduzidas pelo Parquet.

1.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Breves considerações sobre o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), após a entrada
em vigor do Pacote Anticrime:

O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) está previsto no art. 52, da Lei de Execuções Penais, que foi alterado
pelo Pacote Anticrime:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características:

I – duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave
de mesma espécie;

II – recolhimento em cela individual;

III – visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de
terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;

IV – direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de
até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;

V – entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;

VI – fiscalização do conteúdo da correspondência;

VII – participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-


se a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.

§ 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos presos provisórios ou


condenados, nacionais ou estrangeiros:

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I – que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da


sociedade;

II – sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título,


em organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da
prática de falta grave.

§ 2º (Revogado).

§ 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação


criminosa ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da
Federação, o regime disciplinar diferenciado será obrigatoriamente cumprido em
estabelecimento prisional federal.

§ 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado poderá ser


prorrogado sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso:

I – continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de


origem ou da sociedade;

II – mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada,


considerados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a
operação duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do
tratamento penitenciário.

§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar diferenciado deverá contar


com alta segurança interna e externa, principalmente no que diz respeito à necessidade de se
evitar contato do preso com membros de sua organização criminosa, associação criminosa ou
milícia privada, ou de grupos rivais.

§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será gravada em sistema de áudio ou
de áudio e vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.

§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber
a visita de que trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter
contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por
10 (dez) minutos.

O RDD trata-se de uma forma de cumprimento de pena fixada em regime fechado, uma subdivisão do regime
fechado, mais rigoroso e exigente, que se caracteriza como uma sanção disciplinar. Não estamos diante de
um quarto regime de cumprimento de pena, temos ainda somente três regimes: fechado, semiaberto e
aberto.

Parte da doutrina entende que, caso o apenado tenha direito à progressão de regime, ou seja, estando
presentes dos requisitos objetivos e subjetivos, deverá ser retirado do regime disciplinar diferenciado. Por
outro lado, há quem entenda que, como não há vedação expressa à progressão de regime prisional durante
o cumprimento do RDD, no caso de um apenado cumprir RDD e receber progressão de regime para, por

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exemplo, o regime semiaberto, deverá primeiro cumprir integralmente a sanção disciplinar e depois efetivar
sua transferência para o novo regime (ROQUE, et al., 2020, p. 1315).

Importante mencionar que o STJ firmou entendimento, por meio da Súmula n.º 526, de que “o
reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime doloso no
cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato”. Ou seja, não é necessário o trânsito em julgado relativo ao crime
cometido durante a execução para a aplicação da sanção disciplinar (CUNHA, 2020).

Bem fixadas tais balizas, cuida-se agora dos requisitos para a inclusão em regime disciplinar diferenciado. O
art. 52, caput, da LEP, prevê que “a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado”.

Igualmente, será sujeito ao RDD, os presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que
apresentem alto risco para a ordem e segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, ou que sob
esses presos recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização
criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave, conforme
prevê o §2º, incisos I e II, do art. 52, da LEP.

Ademais, o regime disciplinar diferenciado tem as seguintes características, previstas nos incisos I ao VI, do
caput, do art. 52, da LEP:

I – duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
espécie;

II – recolhimento em cela individual;

III – visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para impedir
o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado
judicialmente, com duração de 2 (duas) horas. As visitas serão gravadas em sistema de áudio ou de áudio e
vídeo e, com autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário;

IV – direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro)
presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;

V – entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário;

VI – fiscalização do conteúdo da correspondência;

VII – participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a


participação do defensor no mesmo ambiente do preso.

Com relação as visitas recebidas pelo preso, impende salientar que, conforme prevê o §7º, do artigo em
estudo, se decorridos seis meses de regime disciplinar diferenciado e o preso não tiver recebido visitas,

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poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família,
duas vezes por mês e por dez minutos.

Desse modo é de se compreender que o tratamento mais rigoroso ao preso não importa em sua
incomunicabilidade:

“Apesar de tal regime dispensar tratamento carcerário mais rígido aos presos, não há qualquer
previsão de incomunicabilidade do preso. […] Como se vê, organização e agendamento de visitas
não importa incomunicabilidade do preso, mas sim expediente administrativo visando à correta
execução da pena.” (LIMA, 2020, p. 223)

Ainda, se houver indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa
ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da Federação, o regime
disciplinar diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal. Neste caso,
o regime disciplinar diferenciado deverá contar com alta segurança interna e externa, principalmente no que
diz respeito à necessidade de se evitar contato do preso com membros de sua organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.

Por fim, à luz da previsão do §4º, do artigo em comento, nas hipóteses de presos que apresentem alto risco
e que tenham envolvimento com organizações criminosas e milícias privadas, o regime disciplinar
diferenciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, caso tenha indícios de que
o preso (I) continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem
ou da sociedade; ou (II) mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, considerados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a
operação duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento
penitenciário.

1.7.2 - As gerações do crime de “lavagem de capitais e os conceitos envolvidos no delito

Para definir a geração da incriminação da tipificação da lavagem de capitais, o parâmetro a ser observado é
a abrangência de maior ou menor número de delitos antecedentes à lavagem.

Veja-se, é necessário saber que a estrutura do crime de lavagem de capitais pressupõe uma infração penal
anterior, suposta, precedente. Ou seja, o delito de lavagem de capitais é um crime remetido, subsequente a
outro, que lhe é anterior, originário. Processualmente, a acusação deve descrever a lavagem de capitais
fundada em uma justa causa duplicada, evidenciando-se uma dupla imputação ao denunciado.

Pois bem, a primeira geração da tipificação do crime de lavagem de capitais assim o considerava se a conduta
originária, precedente, fosse o crime de tráfico de drogas.

A segunda geração estipulava um rol de crimes anteriores, além do tráfico de entorpecentes, que
configurariam, então, a lavagem de capitais. Inicialmente a Lei n.º 9.613/1998 seguiu essa geração, visto que
somente considerava lavagem de dinheiro a ação de ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores, que tivesse proveniência, direta ou
indireta, restritamente dos crimes seguintes:

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1 – tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;

2 – terrorismo (e seu financiamento, acrescido pela lei 10.701/2013);

3 – contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;

4 – extorsão mediante sequestro;

5 – contra a administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos
administrativos;

6 – contra o sistema financeiro nacional;

7 – praticado por organização criminosa; e

8 – praticado por particular contra a administração pública estrangeira.

Na terceira geração considera-se lavagem de capitais independentemente da natureza da infração penal


anterior, pressuposta. Assim, considerar-se-á lavagem de capitais se ela for decorrente tanto da prática de
crime, quanto de contravenção penal. A Lei n.º 12.683/2012 faz parte dessa geração, visto que revogou o rol
de crimes antes previsto na Lei de Lavagem de Capitais (Lei n.º 9.613/1998). Confira o art. 1º da norma:

Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou


propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração
penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

II – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

III – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

IV – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

V – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

VI – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

VII – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

VIII – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

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Superado o conteúdo, deve-se atentar às várias terminologias presentes na Lei de Lavagem ou Ocultação de
Bens, Direitos e Valores, a Lei n.º 9.613/1998. Entende-se que “lavagem de dinheiro”, “lavagem de capitais”
ou “braqueamento de capitais” (Portugal), são expressões metafóricas que objetivam definir a atuação de
alguém em atividades econômicas e financeiras, visando esconder ou disfarçar a origem ilícita dos bens ou
ativos financeiros acrescidos ao seu patrimônio. O dinheiro, bem ou valor “sujo” é “lavado” metaforicamente
para tornar-se “limpo”. Essa expressão surgiu com o famoso contrabandista Al Capone que, em 1928,
comprou uma rede de lavanderias em Chicago para mascarar seus ganhos com o comércio ilegal de bebidas
alcoólicas e outros ilícitos.

O termo “bens” é definido pelo art. 2º, “d”, da Convenção de Palermo (2000) como “os ativos de qualquer
tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis, e os documentos ou
instrumentos jurídicos que atestem a propriedade ou outros direitos sobre os referidos ativos”. Além disso,
salieta-se que o termo bens é um gênero que engloba também as noções de direitos e valores.

Por "produtos do crime", também com base na Conveção acima mencionada, art. 2º, “e”, entende-se que
são “os bens de qualquer tipo, provenientes, direta ou indiretamente, da prática de um crime”.

Quando se diz “Bloqueio de ativos financeiros” tem-se que o verbo bloquear é empregado com o sentido
de limitar. Essa ação recai sobre o patrimônio de alguém. Juridicamente, tem o sentido de apreensão, ou
seja, vedação transitória à transferência, conversão, disposição ou movimentação de bens, ou custódia ou
controle temporário de bens. O art. 2º, “f”, da Convenção de Palermo (2000), define que “bloqueio” ou
“apreensão” consiste na “proibição temporária de transferir, converter, dispor ou movimentar bens, ou a
custódia ou controle temporário de bens, por decisão de um tribunal ou de outra autoridade competente”.
Em nosso país, em respeito aos ditames constitucionais, essa ação depende de ordem judicial fundamentada
proferida por magistrado competente.

O termo “confisco” trata-se da “privação com caráter definitivo de bens, por decisão de um tribunal ou outra
autoridade competente” (art. 2º, “g”, da Convenção de Palermo (2000)). Para ocorrer um confisco, faz-se
necessário respeitar o devido processo legal, o contraditório e a decisão deverá ser fundamentada pela
autoridade judicial competente.

Entende-se por “infração principal” da qual deriva o produto ou o proveito que pode passar a ser o objeto
material do crime de lavagem de capitais.

Ante a exigência de indícios suficientes da existência de infração penal antecedente é que surge a expressão
“justa causa duplicada”:

Art. 2º […] § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de
pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente.

Justa causa constitui condição da ação penal e é compreendida como o lastro probatório mínimo indicativo
da autoria e materialidade da infração penal (art. 395, inciso III, do CPP). À medida que o Ministério Público,
enquanto autor da ação penal, deverá angariar elementos de autoria e materialidade não só quanto ao
crime de lavagem de capitais propriamente dito, mas também quanto à existência da infração penal
antecedente, é que surge a denominada “justa causa duplicada”.

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Sobre a ‘profundidade’ desses elementos probatórios, quanto ao crime anterior, já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça:

TEMA: Lavagem de dinheiro. Denúncia. Condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012. Crime
antecedente. Descrição exaustiva e pormenorizada. Denecessidade. Lastro probatório mínimo.
Aptidão.

DESTAQUE: A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige uma
descrição exaustiva e pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com relação às
condutas praticadas antes da Lei n. 12.683/2012, a presença de indícios suficientes de que o
objeto material da lavagem seja proveniente, direta ou indiretamente, de uma daquelas
infrações penais mencionadas nos incisos do art. 1º da Lei n. 9.613/1998.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: […]O STF adota o posicionamento de que "o processo e
julgamento do crime de lavagem de dinheiro é regido pelo Princípio da Autonomia, não se
exigindo, para que a denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considera
apta, prova concreta da ocorrência de uma das infrações penais exaustivamente previstas nos
incisos I a VIII do art. 1º do referido diploma legal, bastando a existência de elementos indiciários
de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas" (STF, HC 93.368/PR,
Primeira Turma, DJe de 25/8/2011). Desse modo, a inicial deve ser considerada apta se contiver
narrativa que demonstre, de modo indiciário, a probabilidade da prática do crime antecedente e
as condutas relacionadas ao suposto branqueamento de bens, direitos e valores que
provavelmente seriam proveitos desse anterior crime previsto no rol do art. 1º da Lei n.
9.613/1998, permitindo a efetiva defesa do acusado.

(Informativo n.º 657 do STJ - APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, por
unanimidade, julgado em 23/09/2019, DJe 26/09/2019 – negritamos)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LAVAGEM


DE DINHEIRO. TRANCAMENTO. INÉPCIA DA DENÚNCIA.

DESCRIÇÃO DO CRIME ANTECEDENTE. JUSTA CAUSA DUPLICADA. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE


OCORRÊNCIA DE FATO DELITUOSO ANTECEDENTE. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ALEGAÇÃO
DE ATIPICIDADE DA CONDUTA. NÃO OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

[...]

3. No caso do delito previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a partir
da verificação da presença de elementos informativos suficientes que sirvam de lastro probatório
mínimo que apontem a materialidade e ofereçam indícios da autoria da prática de atos de
ocultação ou de dissimulação da origem dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve
trazer elementos que sinalizem a existência de infração penal antecedente, demonstrando a
chamada justa causa duplicada.

4. Neste caso, apesar dos esforços argumentativos dos impetrantes, não se pode falar em inépcia
da peça acusatória, já que esta, embora não tenha descortinado o delito antecedente em

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profundidade, indicou a existência de infração penal prévia, conhecida pelos ora pacientes, cujos
desdobramentos podem ser melhor esclarecidos no curso da instrução criminal.

[...]

6. Habeas corpus não conhecido

(STJ - HC 525.790/MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
15/10/2019, DJe 22/10/2019 – negritamos)

Por fim, pode ocorrer também – e é bom que se conheça – a denominada “justa causa triplicada”, isto
quando a infração antecedente à lavagem de capitais também depender da prova de existência de infração
penal anterior, como seria o caso de se pensar no crime de receptação como antecedente à lavagem de
capitais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Rogério Sanches. Teses do STJ sobre falta grave na execução penal – I. Disponível em:
<https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/07/30/teses-stj-sobre-falta-grave-na-execucao-
penal/>.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020.

PEREIRA, Jeferson Botelho. Nova roupagem do RDD no pacote anticrime – um reforço ao combate ao crime
organizado. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/78899/nova-roupagem-do-rdd-no-pacote-
anticrime#:~:text=O%20Regime%20disciplinar%20diferenciado%20possui,com%20dura%C3%A7%C3%A3o
%20de%20duas%20horas>.

ROQUE, Fábio et al. Legislação Criminal para concursos. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm,
2020.

1.8 - DIREITO ELEITORAL


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Direito Eleitoral, vamos discutir um assunto relevante, que
certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos Ministérios Públicos estaduais: a Justiça
Eleitoral.

1.8.1 - Justiça Eleitoral: Estrutura

A Justiça Eleitoral é composta pelo Tribunal Superior Eleitoral, constituído por, no mínimo, 7 Ministros,
escolhidos dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e idoneidade
moral, e nomeados pelo Presidente da República, sendo três dentre os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, três dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça e dois dentre advogados, indicados por
aquele; Tribunais Regionais Eleitorais, construídos por 7 Juízes, escolhidos dentre brasileiros com mais de 30

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e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e idoneidade moral, e nomeados pelo Presidente da República,
sendo um dentre juízes federais do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou Distrito
Federal, dois dentre desembargadores, dois dentre juízes de direito do Tribunal de Justiça e dois dentre
advogados, indicados por este; Juntas Eleitorais, consubstanciadas por um Juiz de Direito, assim como por
dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade, aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral, designados pela
Presidência do mesmo, e Juízos Eleitorais, contidos nos limites da circunscrição judiciária, de acordo com os
arts. 118 a 121 da Constituição da República.

1.8.2 - Justiça Eleitoral: Funcionamento

O Tribunal Superior Eleitoral detém competência para processar e julgar, originariamente, o registro e a
cassação de registro de partido político, diretório nacional e candidatos à Presidência e Vice-Presidência da
República; conflitos de jurisdição entre Tribunais Regionais e Juízes Eleitorais de Estados diferentes; crimes
eleitorais e comuns que lhes forem conexos praticados por Juízes de Tribunais Eleitorais; habeas corpus em
matéria eleitoral, referentes a atos do Presidente da República e Ministros de Estado e dos Tribunais
Regionais, ou, ainda, quando houver perigo de se consumar a violência antes que o Juiz competente possa
prover sobre a impetração; reclamações relativas a obrigações impostas pela legislação aos partidos
políticos, quanto à sua contabilidade e apuração da origem dos seus recursos; impugnações à apuração do
resultado geral, proclamação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de Presidente e Vice-Presidente
da República; pedidos de desaforamento dos feitos não decididos nos Tribunais Eleitorais no prazo de 30
dias a contar da conclusão ao relator e ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada
dentro de 120 dias de decisão irrecorrível, bem como julgar os recursos interpostos das decisões dos
Tribunais Regionais, nas hipóteses de contrariedade à expressa disposição da Constituição ou legislação;
divergência na interpretação de lei entre dois ou mais Tribunais Eleitorais; denegação de habeas corpus,
habeas data, mandado de injunção ou mandado de segurança; decretação de inelegibilidade ou perda de
mandatos eletivos e expedição ou anulação de diplomas nas eleições federais e estaduais.

Os Tribunais Regionais Eleitorais dispõem de competência para processar e julgar, originariamente, o registro
e a cassação de registro de diretórios de partido político estaduais e municipais e candidatos à Governadoria
e Vice-Governadoria do Estado, Congresso Nacional e Assembleia Legislativa; conflitos de jurisdição entre
Juízes eleitorais do mesmo Estado; crimes eleitorais cometidos pelos Juízes eleitorais; habeas corpus em
matéria eleitoral, referentes a atos de autoridades que respondam perante os Tribunais de Justiça por crime
de responsabilidade, ou, ainda, quando houver perigo de se consumar a violência antes que o juiz
competente possa prover sobre a impetração; reclamações relativas a obrigações impostas pela legislação
aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e apuração da origem dos seus recursos e pedidos de
desaforamento dos feitos não decididos pelos Juízes eleitorais no prazo de 30 dias a contar da conclusão
para julgamento, como também julgar os recursos interpostos dos atos e decisões das Juntas e Juízes
Eleitorais, na hipótese de concessão ou denegação de habeas corpus ou mandado de segurança.

As Juntas Eleitorais encerram competência para processar e julgar as impugnações e demais incidentes
verificados durante os trabalhos da contagem e apuração das eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a
sua jurisdição, concluídos no prazo de dez dias, para efeito de diplomação dos eleitos para cargos municipais.

Os Juízes Eleitorais enfeixam competência para processar e julgar o registro e cassação do registro de
candidatos à Prefeitura e Câmara Municipal; crimes eleitorais e comuns que lhes forem conexos, desde que
não estejam atribuídos privativamente a instância superior, e habeas corpus e mandado de segurança em

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matéria eleitoral, ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais,
cumprindo-lhe a direção do processo eleitoral.

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Infrações Administrativas – Parte Geral

Conceito

A inobservância dos deveres jurídicos impostos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pode gerar a
responsabilização do agente responsável, o que pode ocorrer em diferentes esferas.

A propósito, já foi registrado que da “inobservância do dever fundamental pode decorrer: a) tipificação de
crimes; b) tipificação de infrações administrativas; c) aplicação de medidas pertinentes aos pais ou
responsáveis; d) aplicação de penalidades às entidades de atendimento responsáveis pela execução de
programas socioeducativos e de proteção”29, acrescentando-se, ainda, e) as medidas decorrentes da
utilização de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de educação (em sentido
amplo, posto que abrange também outras condutas).

Nesse sentido, o Estatuto tipificou as infrações administrativas, cuja apuração ocorrerá perante a Vara da
Infância e da Juventude.

Prescrição

29
ROSSATO, Luciano Alves. LÉPORE, Paulo Eduardo. CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado.
10ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 639.

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A pretensão de aplicação e de execução da multa também é sujeita à prescrição, que observará a regência
existente no âmbito do Direito Administrativo30, de modo que será quinquenal, afastando-se o regime de
Direito Penal.31

Sobre o termo inicial da prescrição, há dois posicionamentos divergentes sobre o tema: o primeiro, de que
o prazo tem início na data do fato; de outro lado, prevalece no Superior Tribunal de Justiça que o termo
inicial da prescrição deverá observar a regra contida no art. 214, § 1º, do Estatuto, ou seja, o prazo se iniciará
depois de transcorrido o prazo de trinta dias do trânsito em julgado, período em que poderá ocorrer o seu
pagamento espontâneo.32 Ultrapassado esse período, o Ministério Público deverá providenciar a execução.

30
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. MULTA DO ART.
258 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PRESCRIÇÃO. PRAZO QÜINQÜENAL. PRECEDENTES DO STJ.

1. É entendimento sedimentado o de não haver omissão no acórdão que, com fundamentação suficiente, ainda que não
exatamente a invocada pelas partes, decide de modo integral a controvérsia posta.

2. "A multa imposta com supedâneo no art. 258 da Lei nº 8.069/90, cognominado Estatuto da Criança e do Adolescente, denota
sanção de feição administrativa e, a fortiori, subsume-se às regras de Direito Administrativo, cujo prazo prescricional para a
cobrança é qüinqüenal" (REsp 850.227/RN, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ 27.02.2008).

3. No mesmo sentido: REsp 855.179/RN, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 04.10.2007; REsp 892.936/RN, 2ª Turma, Min. Carlos
Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ª Região, DJe 18.06.2008; REsp 891.985/RN, 2ª Turma, Min. Castro Meira, DJ de
19.09.2007; REsp 849.184/RN, 2ª Turma, Min. Eliana Calmon, DJ de 11.09.2007.

4. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 892.941/RN, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 11/05/2009)

31
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ECA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. MULTA.
DECISÃO MONOCRÁTICA.

NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. REPRESENTAÇÃO. REGULARIDADE. SÚMULA 7/STJ.

PRESCRIÇÃO. LEI PENAL. INAPLICABILIDADE. 1. Inexiste ofensa ao princípio da colegialidade pelo julgamento monocrático que
aplica entendimento predominante ou sumulado das Cortes Superiores. Ademais, tal alegação é superada pela submissão do
agravo interno ao órgão plural. 2. O agravante não demonstra como o exame da regularidade da representação dispensaria a
análise de provas e fatos. Ao contrário, admite que o acolhimento da pretensão recursal demandaria apreciação do teor dos
documentos. Incidência da Súmula 7/STJ. 3. Conforme a jurisprudência desta Corte, as infrações administrativas têm natureza
diversa das dos crimes previstos no ECA, sendo inaplicável a lei penal para as punições regidas pelo direito administrativo. 4.
Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1297641/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 21/03/2019, DJe 28/03/2019).

32
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AUTO DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA. ESTABELECIMENTO COMERCIAL QUE PERMITIA O INGRESSO DE ADOLESCENTES DESACOMPANHADOS DE
RESPONSÁVEIS. APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA POR INFRAÇÃO À LEI 8.069/1990. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE MANTEVE

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Sanção

As infrações administrativas, como se verá, cominam a multa pecuniária como sanção. A propósito, por
exemplo, note-se a sanção prevista no art. 258-B: multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
reais), cuja redação atual foi incluída pela Lei nº 12.010/2009.

Note-se que as infrações administrativas originalmente tipificadas pelo Estatuto não fazem referência à
multa em quantidade de reais (moeda atualmente vigente), mas em múltiplos de salário de referência, como
se verifica no art. 258, que prevê multa de três a vinte salários de referência.

À época da elaboração do Estatuto, vigia o Decreto-lei nº 2.351/1987, responsável pela instituição do Piso
Nacional de Salários e do Salário-Mínimo de Referência. Contudo, antes mesmo da sanção da Lei nº
8.069/1990, o salário de referência foi extinto pela Lei nº 7.789/1989, de modo a existir unicamente o salário-
mínimo.

Ocorre, no entanto, que a redação do projeto de lei que gerou o Estatuto não foi modificada, permanecendo
a redação como salário de referência.

Questiona-se se é possível equiparar o salário de referência ao salário-mínimo.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao analisar o tema, em diversas oportunidades, reformou
sentenças que equipararam o salário de referência ao mínimo. Atento a essa regra, a sanção do art. 258 não
correspondente a multa de três a vinte salários-mínimos.

O DECRETO DE PRESCRIÇÃO DA MULTA, PORQUANTO DECORRIDO O PRAZO DE 5 ANOS DA DATA DO FATO. FUNDAMENTO QUE
CONTRARIA JULGADOS DA EGRÉGIA 2a. TURMA DO STJ, QUE, À LUZ DO ART. 214, § 1o. DO ECA, DECLARA QUE O TERMO INICIAL
DO REFERIDO PRAZO PRESCRICIONAL SOMENTE PODE OCORRER APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO CONDENATÓRIA,
QUANDO HAVERÁ O PRAZO PARA PAGAMENTO ESPONTÂNEO. RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA CONHECIDO E PROVIDO PARA AFASTAR A PRESCRIÇÃO E DETERMINAR O RETORNO DOS AUTOS AO PRIMEIRO
GRAU DE JURISDIÇÃO PARA REGULAR PROSSEGUIMENTO, COMO SE ENTENDER DE JUSTIÇA. 1. A 2a. Turma deste Tribunal
Superior já entendeu por diversas vezes que, nos casos como o ora apresentado, o termo inicial da prescrição deve obedecer o
que dispõe o art. 214, § 1o. do ECA. Precedentes: REsp. 1.323.653/SC, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe
1o.4.2013; REsp. 894.528/RN, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 8.5.2009; e REsp. 1.079.589/SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe
18.2.2009. 2. Divergência jurisprudencial reconhecida, na medida em que o acórdão recorrido entendeu que o marco inicial da
prescrição seria a data do fato. 3. Recurso Especial do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA conhecido e provido
para afastar a prescrição e determinar o retorno dos autos ao Juízo de primeiro grau para regular prosseguimento, como se
entender de justiça. (REsp 1655163/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/08/2020,
DJe 01/09/2020). E, também: (REsp 1323653/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/03/2013, DJe 01/04/2013).

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Nessa linha, adotou-se a seguinte regra: para o cálculo do valor da sanção pecuniária, há de ser levado em
conta o montante do salário de referência quando de sua extinção, qual seja, NCz$ 46,80, fixado em maio de
1989, até o efetivo pagamento.33

Não se pode negar, contudo, que o próprio TJ/SP, em outras oportunidades, não vislumbrou irregularidade
na aplicação da sanção em salários-mínimos.34

O valor relacionado à sanção deverá ser direcionado ao Fundo vinculado ao Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente.35

1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


A constituição do crédito tributário não é realizada exclusivamente por meio do lançamento tributário, sendo
possível a sua formalização através de outros mecanismos.

É o que ocorre quando a Justiça do Trabalho apura as contribuições previdenciárias incidentes sobre a
quantia a que o empregador foi condenado a pagar, conforme determina o inciso VIII do artigo 114 da
Constituição Federal:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

Nesse caso, o Poder Judiciário calcula o valor devido, sendo dispensável que a administração pública efetue
o lançamento do crédito correspondente.

33
TJSP, Ap. 990.10.016196-2, rel. Des. Marco César e TJSP, Ap. 18472-0, rel. Nigro Conceição.

34
TJ/SP. Ap. Cível 0000333-94.2019.8.26.0095. Rel. daniela Maria Cilento Morsello. Câmara Especial. D. j. 16.12.2020.

35
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. MULTA APLICADA EM DECORRÊNCIA DA INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA PREVISTA NO ART. 249 DO ECA. DESTINAÇÃO AO FUNDO GERIDO PELO CONSELHO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE DO RESPECTIVO MUNICÍPIO. PRECEDENTES. 1. Os valores das multas administrativas aplicadas com
fundamento na Lei n. 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - devem ser destinados ao fundo gerido pelo Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município, conforme dispõe o art. 214 da referida norma. Precedentes das
Primeira e Segunda Turmas desta Corte. 2. Recurso especial provido. (REsp 703.241/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/09/2008, DJe 29/10/2008).

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O mesmo acontece quando o sujeito passivo declara o valor da obrigação tributária, mas não realiza o seu
pagamento36. Nessa situação, a obrigação é tornada líquida e certa pela declaração, que constitui o crédito
tributário e dispensa o fisco de proceder ao lançamento. Sobre o assunto, há inclusive Súmula do Superior
Tribunal de Justiça:

Súmula 436, STJ

A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito


tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco. (Súmula 436, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 13/05/2010)

Assim, se contribuinte X fizer declaração de ajuste de IRPF que resulte na quantia a pagar de R$ 15.000,00,
mas não realizar o pagamento, pode o fisco imediatamente inscrever o crédito em dívida ativa e ingressar
com a ação de execução fiscal, não sendo necessário o prévio lançamento tributário.

Por outro lado, se o valor foi declarado apenas parcialmente, é necessário o lançamento tributário com
relação à quantia não informada. Retomando o nosso exemplo, seria o caso se o contribuinte X tivesse
omitido rendimentos, que elevariam o valor do tributo de R$ 15.000,00 para R$ 20.000,00. Nessa
circunstância, com relação aos R$ 5.000,00 omitidos, seria necessário que o fisco procedesse ao lançamento
tributário.

Por fim, também constitui o crédito tributário a realização de depósito integral para discutir a legalidade da
dívida no bojo de um processo judicial, conforme tem decidido o STJ37:

36
Para o STJ, a diferença entre essa modalidade de constituição do crédito e o lançamento por homologação reside no fato de
nesse último existir o pagamento. Quanto ao ponto, citamos o seguinte trecho do voto proferido pelo ex-Ministro do STJ, Teori
Zavaschi, ao julgar o Resp 1.101.738-SP, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos: “[...]A modalidade mais comum de
constituição do crédito tributário sem que o seja por lançamento é a da apresentação, pelo contribuinte, de Declaração de Débitos
e Créditos Tributários Federais – DCTF, instituída pela IN-SRF 129/86, atualmente regulada pela IN SRF 395/2004, editada com
base no art. 5º do DL 2.124/84 e art. 16 da Lei 9.779/99, ou de Guia de Informação e Apuração do ICMS – GIA, ou de outra
declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo constituição do crédito tributário. Não se confunde tal declaração com o
chamado lançamento por homologação (em que o contribuinte paga antecipadamente, ou seja: constitui o crédito tributário e
desde logo o extingue, sob condição resolutória – CTN art. 150, § 1º). Aqui (DCTF, GIA) há declaração (com efeito constitutivo do
crédito tributário), sem haver, necessariamente, pagamento imediato”

37
STJ - AgRg no REsp: 1213319 SP 2010/0169452-5, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento: 17/05/2012, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/05/2012

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1.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1.11.1 - Legitimidade do MP no mandado de segurança coletivo

O mandado de segurança coletivo é instituto previsto no art. 5º, LXX da Constituição e regulamentado pela
lei 12.016/09. Observa-se que nem a lei ordinária, nem a Constituição contemplam o Ministério Público como
legitimado à sua impetração:

Art. 5º LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa
de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na
forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial.

Não obstante a ausência de previsão legal e constitucional acera do tema, é possível fazer essa construção,
à luz dos arts. 127, caput e 129, III, ambos da Constituição, aliado ao art. 32, I da Lei 8.625/93. É de se reforçar
que a par dos dispositivos específicos sobre o MS coletivo, outros podem tratar da legitimidade, como os
citados agora. No caso, inquestionável a vocação do MP para a tutela dos direitos e interesses difusos e
coletivos. O art. 32, I da Lei 8.625/93 dispõe que:

Art. 32. Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica
e demais leis, compete aos Promotores de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições:

I - impetrar habeas-corpus e mandado de segurança e requerer correição parcial, inclusive


perante os Tribunais locais competentes;

Desta forma, interpretando o tema de forma sistêmica, não há exclusão expressa da legitimidade do MP para
o mandado de segurança coletivo, de modo que, se em função institucional pode tutelar direitos coletivos
bem como pode impetrar mandado de segurança, não há óbice para o mandado de segurança coletivo.

1.11.2 - Ministério Público e ação popular

No caso da ação popular, a interpretação é diferente do MS coletivo. No mesmo sentido constitucional, a


Carta Magna também não contempla o MP como legitimado ao exercício da ação popular, conferindo esta
prerrogativa apenas ao cidadão:

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Art. 5º LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

A lei que regula o tema é a lei 4.717/65, e, de igual forma, não contempla o Ministério Público como
legitimado ao ingresso de ação popular:

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade
de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio
o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio
ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos
cofres públicos.

No caso da ação popular, as leis orgânicas dos Ministérios Públicos nada mencionam sobre ação popular,
mesmo porque a ação civil pública é bem mais abrangente que a popular, além do fato de o art. 1º da lei
7.347/85 mencionar que a ACP não prejudica a ação popular. Desta forma, a legitimidade para o manejo da
ação popular é apenas e tão somente do cidadão.

1.12 - DIREITO EMPRESARIAL

1.12.1 - Registro Empresarial

De início, é essencial frisar que a finalidade do Registro Público das Empresas é a de levar ao conhecimento
da sociedade e daqueles que mantém relação de negócios com a empresa ou com o empresário de todos
os fatos relativos à vida da pessoa jurídica.

Cumpre dizer, que o registro não é elemento essencial para que alguém seja considerado empresário que,
se não o fizer, será considerado como irregular. Sua natureza é meramente declaratória, já que apenas
declara publicamente algo que de fato já existia: a condição de empresário. Quando cria uma pessoa jurídica,
é possível dizer, também, que o registro tem natureza constitutiva.

Existem situações no Direito Empresarial que exigem registro, como é o caso do Empresário Rural. Nessa
situação, o registro terá natureza constitutiva, já que antes do registro o empresário rural não era
considerado empresário.

É dizer, então, que em regra o registro tem natureza declaratória, pois o empresário receberá tal
qualificação quando desempenha profissionalmente atividade econômica organizada para
circulação ou produção de bens e serviços. No entanto, em relação ao empresário rural, há
natureza constitutiva, pois, a partir do registro, o produtor rural passa a integrar o regime jurídico

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empresarial. Por fim, em relação à sociedade empresária e à EIRELI, o registro tem natureza
constitutiva, porque cria uma pessoa jurídica.

Os efeitos negativos decorrentes da falta de registro são diversos. Podemos citar a impossibilidade de
manter contabilidade geral, tratamento tributário mais rigoroso e, inclusive, a desvantagem da não utilização
de determinados benefícios legais, como é o caso das hipóteses de recuperação de empresas em crise
trazidas pela Lei 11.101/2005.

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis


da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

No entanto, a depender da espécie de empresário, há efeitos diferentes decorrentes do registro:


- Empresário individual: acarreta a atividade empresarial regular;
- EIRELI: acarreta a atividade empresarial regular e aquisição de personalidade jurídica;
- Sociedade Empresária: acarreta na atividade empresarial regular e aquisição da personalidade jurídica.
Enquanto o empresário individual deve registrar-se antes do início de sua atividade empresarial (art. 967 do
CC); a sociedade deve registrar-se em até 30 (trinta) dias após sua constituição (art. 998, caput, do CC), leia-
se, após a assinatura do contrato/estatuto social:

"Art. 967 do CC. É obrigatória a inscrição do empresário [individual] no Registro Público de


Empresas Mercantis [leia-se: Junta Comercial] da respectiva sede, antes do início de sua
atividade."

“Art. 998, caput, do CC. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá
requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua
sede.”

“Art. 1.151, § 1º, do CC. Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no
prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos.”

No entanto, ambos (empresário individual e sociedade) devem apresentar a documentação necessária à


Junta Comercial (ou Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, caso se trate de uma sociedade não
empresária) no prazo de 30 (trinta) dias da lavratura “dos atos respectivos”, ou seja: (a) da data da
declaração/requerimento de inscrição (art. 968 CC) para o empresário individual e; (b) da data do contrato
ou estatuto social (art. 997 CC) de Pessoas Jurídicas para as sociedades.
Destaca-se, por fim, que a obrigatoriedade da inscrição NÃO se aplica ao profissional/produtor rural (art. 971
CC), visto que esse indivíduo tem a faculdade de registrar-se a Junta Comercial.

1. Órgãos Registrais

• DREI - Departamento de Registro Empresarial e Integração: estabelece normas e diretrizes, além de


solucionais dúvidas na interpretação das leis e cadastrar empresas nacionais e estrangeiras em
funcionamento.

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• Juntas Estaduais: subordinados administrativamente ao governo das Unidades Federativas (Estados)


a que pertencem, já que cada uma das Unidades de nossa Federação contará com um órgão dessa
natureza e se subordinará, administrativamente, ao DREI. Aqui, se registram o empresário individual,
EIRELI e sociedades empresárias.

Obs.: Cabe dizer que as sociedades simples deverão ser registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

2. Atos registrais

Os principais e mais importantes atos registrais são:

• Matrícula: refere-se à obrigatoriedade de registro de alguns auxiliares do comércio, como leiloeiros,


tradutores públicos e intérpretes comerciais, administradores de armazéns gerais e trapicheiros
(administradores de pequenos armazéns portuários).
• Arquivamento: refere-se ao registro, feito pelos empresários, de documentos relativos a
constituição, alteração, dissolução, incorporação, fusão, cisão, transformação e extinção de
sociedades empresárias, cooperativas e firmas individuais, dos atos relativos a consórcios ou grupos
de sociedades, bem como de atos concernentes a empresas estrangeiras no país ou mesmo as
declarações de microempresa.
• As proibições de arquivamento estão previstas no art. 35 da Lei 8.934/1994, com regulamentação
pelo art. 53 do Decreto 1.800/1996, sempre no sentido de ausência de prescrições legais, com
matérias contrárias à lei, ordem pública e bons costumes, ou, ainda, na situação de o titular ou
administrador incorrer em determinados crimes não condizentes com tais atividades ou ausência de
determinados requisitos legais.

Tais atos constitutivos somente podem ser arquivados mediante assinatura de advogado.

• Autenticação: objetiva dotar de credibilidade os instrumentos de escrituração, inclusive os livros


empresariais de empresário unipessoal, sociedades empresárias, sociedades cooperativas, entre
outras formas que estejam sujeitas a escrituração.

O empresário que não arquivar nenhum documento em um prazo de até dez anos deverá comunicar
à junta a continuidade de sua atividade (art. 60 da Lei n. 8.934/1994).

3. Processo decisório nas juntas

As juntas comerciais se utilizam de decisões singulares (Presidente, Consultor ou Vogal) e decisões


colegiadas.
As decisões singulares funcionam principalmente para os atos próprios do Registro Público de Empresas
Mercantis. Os vogais e servidores habilitados a proferir decisões singulares serão designados pelo presidente
da junta comercial.
As decisões colegiadas atendem: arquivamento e julgamento de recursos.

4. Consequências da Irregularidade Registral

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A irregularidade do empresário faz que ele não possa usufruir dos benefícios que lhe são reservados,
trazendo certas restrições como a de não possuir legitimidade para instaurar pedido de falência ou
recuperação judicial de outra empresa ou empresário e tampouco participar de licitação pública ou registra-
se no CNPJ.

5. Dispensa do registro prévio

Os profissionais que desempenham atividade econômica organizada rural (produtor rural), se quiserem,
podem requerer o registro na Junta Comercial. E, a partir do registro, submetem-se ao mesmo regime
jurídico do empresário, nos termos do art. 971 do Código Civil.

“Art. 971 CC. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, PODE,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito,
ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.”

1.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Olá pessoal! Aqui é Guilherme Peña de Moraes, Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e Professor
do Estratégia Carreira Jurídica, e, na disciplina de Legislação Institucional do Ministério Público, vamos
discutir um assunto relevante, que certamente será explorado em provas objetivas e dissertativas dos
Ministérios Públicos estaduais: o campo de atuação.

1.13.1 - Campo de Atuação: Fundamentação Normativa

O Ministério Público, considerando a norma inserida no art. 257 do Código de Processo Penal e, bem assim,
a norma insertada nos arts. 177 e 178 do Código de Processo Civil, atua tanto na esfera criminal quanto na
esfera cível.

1.13.2 - Campo de Atuação: Esferas de Atuação

Na esfera criminal, o campo de atividade do Ministério Público comporta a atuação no interesse da sociedade
ou acusado.

A atuação no interesse da sociedade é delineada pela promoção exclusiva da ação penal pública, requisição
para instauração de inquérito policial, realização de investigações criminais e controle da atividade policial.

A atuação no interesse do acusado é demonstrada pela livre manifestação no sentido da absolvição penal,
como também pela interposição de recurso, impetração de habeas corpus e iniciativa de revisão criminal
que, de alguma maneira, beneficie o autor do fato, indiciado, acusado, condenado ou culpado.

Na esfera cível, o campo de atividade do Ministério Público compreende a atuação extrajudicial e judicial.

A atuação extrajudicial é denotada pela promoção da administração pública dos interesses privados,
participação nos Tribunais e Conselhos de Contas e atendimento ao público.

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A atuação judicial é desmembrada em iniciativa e intervenção em juízo.

Com efeito, na atuação judicial com a condição de órgão agente, o Ministério Público tem a iniciativa em
juízo, figurando como demandante (autor, exequente ou requerente).

Demais disso, na atuação judicial com a condição de órgão interveniente, o Ministério Público tem a
intervenção em juízo, por motivo da natureza da lide ou qualidade da parte, funcionando como fiscal da
correta aplicação da regra jurídica ao caso concreto.

Por último, as atuações em decorrência da qualidade da parte e natureza da lide são diferenciadas quanto à
natureza da intervenção, atuação processual e interesse em recorrer: a natureza da intervenção do
Ministério Público em razão da qualidade da parte é a de “fiscal assistente”, de forma que o órgão ministerial
encontra-se ligado ao interesse da parte que reclama a atuação protetiva, posto que a causa da intervenção
consiste em interesse individual indisponível correlacionado à qualidade subjetiva da parte; ao passo que a
natureza da intervenção do Ministério Público em virtude da natureza da lide é a de “fiscal imparcial”, de
modo que o órgão ministerial não se encontra ligado ao interesse das partes, visto que a causa da
intervenção consiste em interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo correlato à qualidade objetiva
da situação.

“Ação rescisória. A preliminar da ré sobre a dúvida a respeito da habilitação do autor para


advogar em causa própria está preclusa. A preliminar do autor sobre a intempestividade da
contestação é improcedente. Quanto ao fundamento da rescisória previsto no inciso III do artigo
485 do CPC, além de o autor não caracterizar precisamente onde se encontraria o dolo do
Ministério Público, o certo é que este, no mandado de segurança e no recurso ordinário, não
atuou como parte, mas, sim, como custos legis. No tocante ao fundamento previsto no inciso V
do artigo 485 do CPC, a violação da norma, que se poderia extrair das alegações constantes da
inicial, não ocorre. Ação rescisória que se julga improcedente” (STF, AR nº 1.364, Rel. Min.
Moreira Alves, J. 22.5.2002, DJU 02.05.2003).

1.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR

1.14.1 - Os diversos tipos de consumidor no Código de Defesa do Consumidor

A questão do conceito de consumidor pode ser abrangida de diversas formas pelo Código de Defesa do
Consumidor. Tanto do ponto de vista individual, como coletivo. A figura jurídica denominada consumidor,
vem esculpida no art. 2º do CDC, alinhada ao quesito de destinatário final de produtos e serviços,
consagrando a teoria finalista, a qual o Superior Tribunal de Justiça já flexibilizou por meio de teses firmada,
ao adotar a teoria finalista mitigada. De qualquer sorte, uma coletividade indeterminada de pessoas pode
ser equiparada a consumidor, mesmo que em potencial, pois práticas do mercado de consumo podem atingir
a um número indeterminado de pessoas. Além dessas duas possibilidades, há a figura do bystander, prevista
no art. 17do CDC: “Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento”. Trata-se da pessoa que não está participando da relação de consumo, mas é atingido por ela, sendo,
portanto, equiparado e protegido pelo CDC nos mesmos moldes do consumidor direto. Assim, nos dizeres
do Professor Rodrigo Vaslin (PDF Estratégia):

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Relevante, ainda, a conceituação do Consumidor por Equiparação. Como vimos alhures, o


Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final, nos termos do art. 2º, caput, do CDC. Já o Consumidor por Equiparação,
também denominado de by standard, possui previsão em três dispositivos do CDC:

a) coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo (art. 2º, parágrafo único, do CDC);

b) todas as vítimas de danos ocasionados pelo fornecimento de produto ou serviço defeituoso


(art. 17 do CDC); e

c) todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas comerciais ou contratuais


abusivas (art. 29 do CDC)

Com efeito, ante a interpretação extensiva do conceito de consumidor, há que se analisar o caso a caso para
o devido encaixe conceitual e da relação de consumo, para fins de aplicação da lei 8.078/90 e seus institutos
protetivos.

2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa

Vamos lá!

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2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Considerando a Constituição Federal, assinale a afirmativa incorreta:
a) As deliberações de cada Casa Legislativa federal serão tomadas por maioria simples dos votos, presente a
maioria absoluta dos seus membros, salvo disposição constitucional contraria.
b) A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo eleitos pelo sistema proporcional
nacional.
c) O número de deputados federais é fixado proporcionalmente à população dos Estados-Membros, a fim de
que nenhuma dessas unidades da Federação tenham menos de 8 e mais de setenta deputados.
d) O mandato dos senadores é fixado em 8 anos.
e) O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos pelo sistema
majoritário.

Comentários

Na questão sob exame, de fato, salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa
e de suas Comissões devem ser tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus
membros (art. 47); o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito
Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos
ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha
menos de oito ou mais de setenta Deputados (art. 45, § 1º); cada Estado e o Distrito Federal devem eleger
três Senadores, com mandato de oito anos (art. 46, § 1º), e o Senado Federal deve ser composto de
representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário (art. 46, caput).

Em razão disso, como a Câmara dos Deputados deve ser composta de representantes do povo, eleitos, pelo
sistema proporcional, em cada Estado e no Distrito Federal, por força do art. 45, caput, todos Constituição
da República, deve o candidato assinalar a alternativa B.

“Mandado de segurança. Fidelidade partidária. Desfiliação. Perda de mandato. Arts. 14, § 3º, V,
e 55, I a VI, da Constituição. Conhecimento do mandado de segurança, ressalvado entendimento
do relator. Substituição do Deputado Federal que muda de partido pelo suplente da legenda
anterior. Ato do Presidente da Câmara dos Deputados que negou posse aos suplentes. Consulta,
ao Tribunal Superior Eleitoral, que decidiu pela manutenção das vagas obtidas pelo sistema
proporcional em favor dos partidos políticos e coligações. Alteração da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. Marco temporal a partir do qual a fidelidade partidária deve ser
observada [27.3.07]. Exceções definidas e examinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Desfiliação ocorrida antes da resposta à consulta ao TSE. Ordem denegada” (STF, MS nº 26.602,
Rel. Min. Eros Grau, J. 04.10.2007, DJU 17.10.2008).

Questão 2. A organização judiciária dos Territórios pode ser objeto de projeto de lei de iniciativa:
a) Geral.
b) Reservada ao Supremo Tribunal Federal.

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c) Reservada ao Presidente da República.


d) Reservada ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
e) Concorrente.

Comentários

À luz do art. 61, § 1º, inc. II, “b”, da Constituição Federal, são de iniciativa privativa do Presidente da República
as leis que disponham sobre a organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária,
serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios.

Portanto, revela-se correta a alternativa C.

Questão 3. Conforme a Constituição Federal de 1988, marque a alternativa correta:


a) É de competência concorrente do Congresso Nacional e do Presidente da República assinar e ratificar
tratados, acordos ou atos internacionais que acarretam encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional.
b) Compete ao Congresso Nacional, exclusivamente, sustar os atos normativos do Poder Executivo que
exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.
c) O Congresso Nacional é munido de competência constitucional para autorizar o estado de defesa e a
intervenção federal, aprovar o estado de sítio, mas não para suspender qualquer uma dessas medidas.
d) Compete ao Congresso Nacional, autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem
do País, somente quando a ausência exceder a vinte e um dias.
e) É de competência da Câmara dos Deputados dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia
da União em operações de crédito externo e interno.

Comentários

Considerando que ao Congresso Nacional é afeta a competência para resolver definitivamente sobre
tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional (alternativa A); o Congresso Nacional é munido de competência constitucional para aprovar o
estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas
medidas (alternativa C); compete ao Congresso Nacional, autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da
República a se ausentarem do País, somente quando a ausência exceder a quinze dias (alternativa D) e ao
Senado Federal compete privativamente dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da
União em operações de crédito externo e interno (alternativa E), de acordo com os arts. 49, incs. I, III e IV, e
52, inc. VIII, a toda evidência, deve o candidato assinalar a alternativa B, segundo a qual compete ao
Congresso Nacional, exclusivamente, sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa, como prevê o art. 49, inc. V, todos da Constituição da
República.

“O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado,
cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica
que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar

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obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado


ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. O abuso de poder regulamentar,
especialmente nos casos em que o Estado atua contra legem ou praeter legem, não só expõe o
ato transgressor ao controle jurisdicional, mas viabiliza, até mesmo, tal a gravidade desse
comportamento governamental, o exercício, pelo Congresso Nacional, da competência
extraordinária que lhe confere o art. 49, inc. V, da Constituição da República e que lhe permite
"sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar” (STF, ACO-
QO nº 1.048, Rel. Min. Celso de Mello, J. 30.08.2007, DJU 31.10.2007).

Questão 4. Independentemente de autorização judicial, as Comissões Parlamentares de Inquérito não


dispõem de atribuição para:
a) Oitiva de indiciados e testemunhas.
b) Quebra de sigilo bancário.
c) Decretação de prisão provisória, excluída a em flagrante delito.
d) Quebra de sigilo telefônico.
e) Requisição de informações e documentos.

Comentários

Às Comissões Parlamentares de Inquérito é proibida a determinação de prisão provisória de indiciados e


testemunhas, ressalvada a em flagrante delito, em face da reserva constitucional de jurisdição dos arts. 5º,
inc. LXI, e 136, § 3º, inc. I, da Constituição Federal.

Forte nessa premissa, correta está a alternativa C.

“O órgão de investigação político-administrativa não possui competência para determinar a


prisão provisória de qualquer pessoa, posto que os casos de privação da liberdade individual
somente podem derivar de situação de flagrância ou de ordem emanada de autoridade judiciária
competente, salvo a hipótese de prisão por crime contra o Estado, durante a vigência de estado
de defesa decretado pelo Presidente da República. Disso decorre que a cláusula judiciária de
tutela da liberdade inibe a Comissão Parlamentar de Inquérito de afetar, por deliberação própria,
o ius libertatis de qualquer pessoa, reservada aos órgãos que, posicionados na estrutura
institucional do Poder Judiciário, acham-se investidos de função jurisdicional, e retirada a
situação de flagrância penal” (STF, HC nº 71.279, Rel. Min. Celso de Mello, J. 17.03.1994, DJU
01º.04.1994).

Questão 5. Dentre as competências dos Deputados Federais e Senadores está a propositura de projetos
de lei que versem sobre:
a) Criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta.
b) Normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
c) Servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria.

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d) Bens públicos.
e) Criação de órgãos da administração pública.

Comentários

Na presente questão, o Presidente da República dispõe de iniciativa reservada para os projetosa de lei que
versem sobre a criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta (art. 61, § 1º, inc.
II, “a”); normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios (art. 61, § 1º, inc. II, “d”); servidores públicos da União e Territórios, seu
regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (art. 61, § 1º, inc. II, “c”) e criação de
órgãos da administração pública (art. 61, § 1º, inc. II, “e”).

Como a iniciativa das leis complementares e ordinárias, em geral, cabe a qualquer membro ou comissão da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, inclusive as relacionadas aos bens públicos, em virtude do art.
61, caput, da Constituição da República, deve o candidato assinalar a alternativa D.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Acerca da temática dos agentes públicos, marque a assertiva correta:
a) O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na inscrição para o concurso
público.
b) O candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito
subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, aprovado
dentro do número de vagas, for convocado e manifestar desistência.
c) Os candidatos em concurso público têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física
em razão de circunstâncias pessoais.
d) A Administração Pública não precisa intimar o candidato de um concurso público, pessoalmente, ainda
que haja decurso de tempo razoável entre a homologação do resultado e a data da nomeação.

Comentários

Gabarito: B

Letra A – Errada – De acordo com a Súmula 266 do STJ, O diploma ou habilitação legal para o exercício do
cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público.

Letra B – Correto – Trata-se de entendimento STJ

O candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito
subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, aprovado
dentro do número de vagas, for convocado e manifestar desistência. O posicionamento do STJ (RMS
33.875-MT, Primeira Turma, DJe 22/6/2015; e AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 1.398.319-ES, Segunda Turma,
DJe 9/3/2012) induz à conclusão de que o candidato constante de cadastro de reserva, ou, naqueles

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concursos em que não se utiliza essa expressão, aprovado fora do número de vagas previsto no edital, só
terá direito à nomeação nos casos de comprovada preterição, seja pela inobservância da ordem de
classificação, seja por contratações irregulares. Contudo, deve-se acrescentar e destacar que a desistência
de candidatos aprovados dentro do número de vagas previsto no edital do certame é hipótese diversa e
resulta em direito do próximo classificado à convocação para a posse ou para a próxima fase do concurso,
conforme o caso. É que, nessa hipótese, a necessidade e o interesse da Administração no preenchimento
dos cargos ofertados estão estabelecidos no edital de abertura do concurso, e a convocação do candidato
que, logo após, desiste, comprova a necessidade de convocação do próximo candidato na ordem de
classificação. Precedentes do STF citados: ARE 866.016 AgR, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; ARE 661.760
AgR, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; RE 643.674 AgR, Segunda Turma, DJe 28/8/2013; ARE 675.202 AgR,
Segunda Turma, DJe 22/8/2013. AgRg no ROMS 48.266-TO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
18/8/2015, DJe 27/8/2015.

Letra C – Errada - Os candidatos em concurso público não têm direito à prova de segunda chamada nos testes
de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior,
salvo contrária disposição editalícia.

Letra D - A Administração Pública tem o dever de intimar o candidato, pessoalmente, quando há o decurso
de tempo razoável entre a homologação do resultado e a data da nomeação, em atendimento aos princípios
constitucionais da publicidade e da razoabilidade. (STJ. RMS 22508 e RMS 21554)

Questão 2. Acerca das licitações e contratações realizadas pelas Microempresas e as Empresas de Pequeno
Porte, marque a assertiva incorreta:
a) Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das
empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato.
b) As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião da participação em certames licitatórios,
deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal e
trabalhista, mesmo que esta apresente alguma restrição.
c) Nas licitações será assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação para as
microempresas e empresas de pequeno porte. Entende-se por empate aquelas situações em que as
propostas apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 5% (cinco
por cento) superiores à proposta mais bem classificada.
d) A microempresa e a empresa de pequeno porte titular de direitos creditórios decorrentes de empenhos
liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e Município não pagos em até 30
(trinta) dias contados da data de liquidação poderão emitir cédula de crédito microempresarial.

Comentários

Gabarito: C

Letra A – Correta – De acordo com o art. 42, da LC nº 123/06, Nas licitações públicas, a comprovação de
regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte somente será exigida
para efeito de assinatura do contrato.

Letra B – Correta – Trata-se de disposição do artigo 43, da LC nº 123/06.

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Letra C – Errada – De acordo com o art. 44, da LC nº 123/06, Art. 44. Nas licitações será assegurada, como
critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e empresas de pequeno porte.

Nesse sentido, o parágrafo 1º estabelece que entende-se por empate aquelas situações em que as propostas
apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 10% (dez por cento)
superiores à proposta mais bem classificada.

Por sua vez, o parágrafo 2º, afirma que na modalidade de pregão, o intervalo percentual estabelecido no §
1o deste artigo será de até 5% (cinco por cento) superior ao melhor preço.

Letra D – Correto – Trata-se da redação do art. 46, da LC nº 123/06.

Questão 3. De acordo com os recentes entendimentos do Superior Tribunal de Justiça, marque a assertiva
correta
a) A readmissão na carreira da Magistratura não encontra amparo na Lei Orgânica da Magistratura Nacional
nem na Constituição Federal de 1988.
b) A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da
heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer outro
fundamento, dispensa o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.
c) A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar exige a exposição detalhada dos fatos a
serem apurados.
d) Em ação de desapropriação indireta não é cabível reparação decorrente de limitações administrativas.

Comentários

Gabarito: A

A – Correta - Inicialmente cumpre salientar que a orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é
no sentido da inexistência de direito adquirido a regime jurídico. No que tange à controvérsia colocada em
discussão no caso em concreto, a Corte Suprema tem entendido que, após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, não remanesce ao servidor exonerado o direito de reingresso no cargo, tendo em vista que
o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso público como condição para o
provimento em cargo efetivo da Administração Pública.

Por sua vez, o Conselho Nacional de Justiça expediu orientação normativa vinculante assentando a
impossibilidade de formas de provimentos dos cargos relacionados à carreira da Magistratura que não
estejam explicitamente previstas na Constituição Federal de 1988, nem na LOMAN.

Assim, no caso em concreto, não há falar na existência de direito líquido e certo de fazer valer-se de norma
prevista em legislação local que esteja em afronta aos dispositivos da Constituição Federal e da Lei Orgânica
da Magistratura.

Por conseguinte, não há óbice para que o Tribunal a quo, ainda que no exercício da função administrativa,
lance mão da orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal aplicável à espécie, para fundamentar
sua decisão de negar o pedido de readmissão. Assim o fazendo, forçoso reconhecer que a Administração deu

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cumprimento à Constituição Federal, à Lei Orgânica da Magistratura Nacional, bem como à orientação
normativa expedida pelo Conselho Nacional de Justiça.

B – Incorreta - O STF, no julgamento da ADC 41/DF, declarou a constitucionalidade dos critérios de


autodeclaração e heteroidentificação para o reconhecimento do direito de disputar vagas reservadas pelo
sistema de cotas. Entretanto, lê-se no voto do relator, Ministro Roberto Barroso, que esses dois critérios
serão legítimos, na medida em que viabilizem o controle de dois tipos possíveis de fraude que, se verificados,
comprometem a política afirmativa de cotas: dos "candidatos que, apesar de não serem beneficiários da
medida, venham a se autodeclarar pretos ou pardos apenas para obter vantagens no certame"; e também
da "própria Administração Pública, caso a política seja implementada de modo a restringir o seu alcance ou
a desvirtuar os seus objetivos". Também aduziu em seu voto que "devem ser garantidos os direitos ao
contraditório e à ampla defesa, caso se entenda pela exclusão do candidato".

Depreende-se que, nos procedimentos destinados a selecionar quem tem ou não direito a concorrer às vagas
reservadas, tanto as declarações dos candidatos, quanto os atos dos entes que promovem a seleção, devem
se sujeitar a algum tipo de controle.

A autodeclaração é controlada pela Administração Pública mediante comissões preordenadas para realizar
a heteroidentificação daqueles que se lançam na disputa; o reexame da atividade administrativa poderá ser
feito pelos meios clássicos de controle administrativo, como a reclamação, o recurso administrativo e o
pedido de reconsideração.

Assim, deve-se entender, em consonância com a orientação que se consolidou no Supremo, que a exclusão
do candidato pelo critério da heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do
fenótipo, ou por qualquer outro fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.

C – Incorreta – De acordo com a Súmula 641 do STJ, A portaria de instauração do processo administrativo
disciplinar prescinde da exposição detalhada dos fatos a serem apurados.

D – Incorreta – De acordo com o STJ, Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas.

O STJ possui julgados no sentido de que a ação de desapropriação indireta, ante seu caráter real, não seria
adequada para a postulação de reparação decorrente de limitações administrativas, pretensão de natureza
pessoal. No entanto, a pretensão à reparação encerrada na ação de desapropriação indireta resulta do
esgotamento econômico da propriedade privada, cuja origem é, indubitavelmente, o agravo, pelo Poder
Público, aos poderes decorrentes do direito real de propriedade dos particulares, que, nos termos do art.
1.228, caput, do Código Civil, compreendem "a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha". Depreende-se, assim, que, nessa
ação, busca-se a satisfação de direito pessoal, cuja gênese está em ato estatal praticado face a direito real
de titularidade do particular. Ademais, devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas
e da primazia da solução integral do mérito para reconhecer o interesse-adequação da ação para o
requerimento de indenização.

Questão 4. Ainda sobre os recentes posicionamentos do STF sobre o Direito Administrativo, marque a
assertiva incorreta:

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a) É inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular de serventias judiciais, com
caráter privado após a CF/88
b) Os candidatos em concurso público não têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão
física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver
previsão no edital permitindo essa possibilidade.
c) É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.
d) É constitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista
prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos
trabalhistas.

Comentários

Gabarito: D

Letra D – Errado - É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de
economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de
débitos trabalhistas. Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está
sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial
de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88)
e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III). STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920)

Letra A – Correto - É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios privatizados que tenham
ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de promulgação da CF em vigor. As pessoas que
assumiram as serventias judiciais depois da CF/1988, em caráter privado, não têm direito líquido e certo de
nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir
do momento em que assumem cargo em serventia que deveria ser estatizada. Isso porque é inconstitucional
o provimento de pessoas para exercerem a função de titular de serventias judiciais, com caráter privado
(serventias judicias privatizadas / não estatizadas), após a CF/88. O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo
que é obrigatória a estatização das serventias judiciais à medida que elas fiquem vagas. O prazo decadencial
do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição
Federal. STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 12/2/2019 (Info 930).

Letra B – Correto - Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos
testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força
maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade. STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/5/2013 (repercussão geral) (Info 706)

Letra C – Correto - É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida
à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF.
Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral) (Info 924).

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Questão 5. Sobre as agências reguladoras, marque a alternativa incorreta:


a) As agências terão como órgão máximo o Conselho Diretor ou a Diretoria Colegiada, que será composto de
até 4 (quatro) Conselheiros ou Diretores e 1 (um) Presidente, Diretor-Presidente ou Diretor-Geral.
b) É vedada a indicação para o Conselho Diretor ou a Diretoria Colegiada de Agência Reguladora de Ministro
de Estado, Secretário de Estado, Secretário Municipal, dirigente estatutário de partido político e titular de
mandato no Poder Legislativo de qualquer ente da federação, ainda que licenciados dos cargos
c) Os membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada ficam impedidos de exercer atividade ou de
prestar qualquer serviço no setor regulado pela respectiva agência, por período de 6 (seis) meses, contados
da exoneração ou do término de seu mandato, assegurada a remuneração compensatória.
d) Os Conselheiros e os Diretores somente perderão o mandato em caso de condenação judicial transitada
em julgado ou de processo administrativo disciplinar.
e) Incorre na prática de crime de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-dirigente que
violar o período de quarentena, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, administrativas e civis.

Comentários

Gabarito: D

Letra A – Correta – Trata-se da nova redação do art. 4º da Lei 9.986/00, dada pela Lei 13.848/19

Letra B – Correta – Trata-se da redação do art. 8º-A, I da Lei 9.986/00, dada pela Lei 13.848/19.

Letra C – Correta – Trata-se da redação do art. 8º da Lei 9.986/00.

Letra D – Errada – De acordo com o art. 9º, da Lei 9.986/00, Art. 9º O membro do Conselho Diretor ou da
Diretoria Colegiada somente perderá o mandato:

I - em caso de renúncia;

II - em caso de condenação judicial transitada em julgado ou de condenação em processo administrativo


disciplinar;

III - por infringência de quaisquer das vedações previstas no art. 8º-B desta Lei

Letra E – Correta – Trata-se da redação do art. 8º, §4º da Lei 9.986/00.

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. São espécies autônomas de pessoas jurídicas de direito privado, exceto:
a) As organizações religiosas, cujo reconhecimento e registro dos atos constitutivos e necessários ao seu
funcionamento não podem ser negados pelo Poder Público.
b) As organizações não governamentais, entendidas como entidades civis destinadas ao desempenho de
funções eminentemente sociais, sem persecução de lucro.

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c) Os partidos políticos, os quais se destinam a assegurar, no interesse do regime democrático, a


autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição
Federal.
d) As empresas individuais de responsabilidade limitada, constituídas originariamente por uma única pessoa
titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, ou resultantes da concentração de quotas
de outra modalidade societária num único sócio.
e) As fundações, que somente podem ser constituídas para fins de assistência social, cultura, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico, educação, saúde, segurança alimentar e nutricional, defesa,
preservação e conservação do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, pesquisa
científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos, promoção da ética, da cidadania, da
democracia e dos direitos humanos e atividades religiosas.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque as organizações religiosas constam do rol de pessoas jurídicas de direito
privado do diploma civil (art. 44, IV, CC), sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou
registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento, consoante §1º do mesmo dispositivo
legal.

A alternativa B é falsa, porque as organizações não governamentais não constituem espécie autônoma de
pessoa jurídica de direito privado, mas sim de entidades privadas que integram o terceiro setor no âmbito
da Administração Pública, com vistas ao desempenho de funções eminentemente sociais, cuja constituição
se reveste de uma espécie verdadeiramente autônoma de pessoa jurídica de direito privado, seja associação,
fundação, entre outras.

A alternativa C é verdadeira, porque os partidos políticos constam do rol de pessoas jurídicas de direito
privado do diploma civil (art. 44, V, do CC). Com efeito, o artigo 1º, “caput”, da Lei 9.096/95, dispõe que o
partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime
democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na
Constituição Federal.

A alternativa D é verdadeira, porque as empresas individuais de responsabilidade limitada constam do rol de


pessoas jurídicas de direito privado do diploma civil (art. 44, VI, do CC), podendo, de fato, serem constituídas
por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, ou resultarem da
concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, na forma do artigo 980-A, “caput”
e §3º, do Código Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque as fundações constam do rol de pessoas jurídicas de direito privado do
diploma civil (art. 44, III, do CC) e somente podem ser constituídas para os fins especificados, os quais se
encontram elencados no artigo 62, parágrafo único, do Código Civil.

Questão 2. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:


a) Os direitos e obrigações recíprocos entre os associados.

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b) Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados, vedada a previsão de transmissão
desta qualidade.
c) A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
d) As fontes de recursos para a sua manutenção e a forma de distribuição de eventual lucro entre os
associados.
e) A instituição de categorias com vantagens especiais e os respectivos critérios para habilitação dos
associados.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o estatuto das associações deve conter, sob pena de nulidade, os direitos e
deveres dos associados – com relação à associação – e não entre si (artigo 54, III, do Código Civil), mesmo
porque não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos (artigo 53, parágrafo único, do Código
Civil).

A alternativa B é falsa, porque, nos termos do artigo 54, II, do Código Civil, o estatuto das associações deve
conter, sob pena de nulidade, os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; podendo,
ainda, dispor sobre a transmissão da qualidade de associado, conforme intelecção do artigo 56, “caput”, do
mesmo diploma legal.

A alternativa C é verdadeira, pois corresponde à literalidade do artigo 54, VII, do Código Civil.

A alternativa D é falsa, porque, por se tratar de corporação sem persecução ao lucro, não é o lucro das
associações dividido entre os associados (Art. 53, “caput”, do CC).

A alternativa E é falsa, porque a instituição de categorias com vantagens especiais é uma faculdade a ser
disposta no estatuto, não se tratando de cláusula essencial, cuja falta gera nulidade, nos moldes do artigo 55
do Código Civil.

Questão 3. É contrato formal e solene, pelo qual as partes regulamentam as questões patrimoniais
relativas ao casamento, da forma como melhor lhes aprouver, em regra, ante a característica da
autonomia da vontade privada, inerente aos regimes de bens. Sobre o pacto antenupcial, assinale a
alternativa incorreta:
a) Trata-se de negócio jurídico submetido a condição suspensiva, uma vez que a sua eficácia subordina-se à
seguinte ocorrência do casamento, o qual, contudo, não se afeta por eventual nulidade daquele.
b) A eficácia do pacto antenupcial realizado por menor, salvo nos casos de regime de separação obrigatória
dos bens, não prescinde da aprovação de seu representante legal.
c) Por força do exercício da autonomia privada, é possível dispor em pacto antenupcial cláusula de exclusão
do direito à sucessão no regime de comunhão parcial de bens, afastando-se, por exemplo, a concorrência
sucessória do cônjuge com os ascendentes, desde que observadas as formalidades legais para a celebração
do contrato.

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d) Pode-se convencionar, em pacto antenupcial que adote o regime de participação final nos aquestos, a
livre disposição dos bens imóveis particulares por um dos cônjuges, independentemente de outorga do
outro.
e) O registro das convenções antenupciais, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio
dos cônjuges, constitui requisito à produção de seus efeitos em caráter erga omnes.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque é nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e
ineficaz se não lhe seguir o casamento, conforme o artigo 1.653 do Código Civil. Noutro giro, eventual
nulidade do pacto não atinge o casamento, que será válido e regido pela comunhão parcial de bens, diante
do princípio da conservação dos negócios jurídicos.

A alternativa B é verdadeira, porque a eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada
à aprovação de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens, com
base no artigo 1.654 do Código Civil.

A alternativa C é falsa, porque é nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de
lei (artigo 1.655 do Código Civil). Assim, serão nulas, por exemplo, as cláusulas de exclusão do direito à
sucessão no regime de comunhão parcial de bens, afastando a concorrência sucessória do cônjuge com os
ascendentes. Pondera-se, contudo, que a nulidade de cláusula não prejudica o pacto como um todo,
aplicando-se a máxima da conservação dos negócios jurídicos.

A alternativa D é verdadeira, porque, no pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos
aquestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares, por força do
artigo 1.656 do Código Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque as convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão
depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. Assim
prescreve o artigo 1.657 do Código Civil.

Questão 4. Bens imóveis, também denominados bens de raiz, consistem naqueles bens que não se pode
transportar, de um lugar para outro, sem destruição ou alteração de sua substância. Doutrinariamente,
são classificados em diversas categorias, sobre as quais não se pode afirmar a seguinte assertiva:
a) Entende-se por bens imóveis por sua natureza, isto é, de sua própria essência, o solo, a superfície, o espaço
aéreo e os respectivos direitos reais que sobre eles recaírem.
b) Inserem-se na classe de bens imóveis por acessão artificial, física ou industrial as construções e as
plantações, por se tratarem de bens incorporados permanentemente ao solo em decorrência de ação
humana.
c) Trata-se o direito à sucessão aberta de bem imóvel por ficção jurídica, uma vez que seu caráter imobiliário
é determinado por força de disposição legal.
d) Mantêm o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local, bem como os materiais provisoriamente separados de um prédio, para
nele se reempregarem.

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e) Compreendem-se na categoria de bens imóveis por acessão natural as árvores e os frutos, visto que
representam bens que se prendem naturalmente ao solo.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o solo, a superfície e o espaço aéreo são bens imóveis por sua natureza,
segundo o artigo 79 do Código Civil; entretanto, os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram
são entendidos como bens imóveis por determinação legal ou ficção jurídica, porquanto a atribuição do
caráter imobiliário resultou da vontade do legislador, nos termos do artigo 80, I, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque é bem imóvel por acessão artificial, física ou industrial tudo aquilo que
o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada e o edifício construído. Em síntese,
são as construções e plantações.

A alternativa C é verdadeira, porque, tal como os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram,
o direito à sucessão aberta trata-se de bem imóvel por determinação legal ou ficção jurídica, com amparo
no artigo 80, II, do Código de Processo Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo,
mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local, bem como os materiais provisoriamente
separados de um prédio, para nele se reempregarem, nos exatos termos do artigo 81 do Código de Processo
Civil.

A alternativa E é verdadeira, porque é bem imóvel por acessão natural tudo aquilo que se prende
naturalmente ao solo, como as árvores e os frutos.

Questão 5. Dentre os documentos necessários a instruir o requerimento de habilitação para o casamento,


apenas não se apresenta corretamente:
a) Certidão de nascimento ou documento equivalente dos contraentes.
b) Declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem
conhecidos;
c) Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento,
transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
d) Declaração de duas testemunhas maiores, sem relação de parentesco natural ou civil com os contraentes,
que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar;
e) Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra.

Comentários

A alternativa D é a falsa, porque as duas testemunhas maiores a atestarem conhecer os contraentes e


afirmarem não haver impedimento que os iniba de casar podem ser ou não parentes, com fulcro no artigo
1.525, III, do Código de Processo Civil. Os demais itens estão em consonância com o referido dispositivo legal.

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2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Considere a seguinte situação hipotética: Maria ajuizou ação de indenização por danos morais
em face de João, em virtude de publicações em redes sociais que lhe causaram extrema humilhação e
constrangimento, tendo o requerido sido, ao final, condenado ao pagamento da quantia de R$ 3.000,00
(três mil reais). Inconformado, João interpôs apelação, no bojo da qual alegou a ocorrência de
cerceamento de defesa; todavia, o Tribunal de Justiça, ao examinar os autos, constatou a intempestividade
de seu recurso. Com base nessas informações e no entendimento exarado pelo Superior Tribunal de
Justiça, assinale a alternativa correta:
a) Considerando que a tempestividade é regulada pelo Código de Processo Civil, ao passo que o cerceamento
de defesa corresponde a matéria de ordem constitucional, isto é, hierarquicamente superior, deve a análise
da nulidade se sobrepor a óbice meramente consubstanciado em prazo processual.
b) Tendo em vista que a apelação é dotada de efeito translativo, o que permite ao órgão ad quem examinar,
de ofício, matérias de ordem pública, ainda que não alegadas, entende-se também, por critério de
razoabilidade, pela possibilidade de análise de matéria de ordem pública cuja alegação ocorreu de forma
expressa, mas tão somente fora do prazo legal, como no caso apresentado.
c) Por se tratar de matéria de ordem pública, deve o Tribunal analisar a ocorrência de cerceamento de defesa,
em detrimento da intempestividade recursal, ainda que aquela não integrasse o objeto da irresignação, salvo
nos casos dos recursos excepcionais – RE e RESP, os quais não possuem o efeito translativo se a matéria,
mesmo que de ordem pública, não for prequestionada.
d) Tendo em vista que o atual Código de Processo Civil trouxe à tona uma sistemática que sobreleva os
princípios da instrumentalidade das formas, da efetividade, da economia processual e da primazia pelo
julgamento de mérito, em detrimento de questões puramente formais, cabe ao Tribunal, no caso
apresentado, examinar a alegação de cerceamento de defesa, a despeito da intempestividade do recurso,
mormente por se tratar de matéria de ordem pública.
e) No caso em questão, resta prejudicada a análise da alegação de cerceamento de defesa, haja vista que a
apelação foi interposta fora do prazo legal e o efeito translativo somente ocorre após a ultrapassagem do
juízo de admissibilidade recursal, ainda que se trate de matéria de ordem pública.

Comentários

Apenas a alternativa E é a verdadeira, pois reproduz o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 1469761 - PR (2014/0168771-7). Veja-se:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VIOLAÇÃO DO ART. 535
DO CPC/1973. INEXISTÊNCIA. MALFERIMENTO DO ART. 128 DO CPC/1973. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. APELAÇÃO INTEMPESTIVA. EFEITO TRANSLATIVO. NÃO OCORRÊNCIA (...) 5. Na
espécie, o Tribunal de origem reconhece a intempestividade do recurso de apelação, contudo analisou a
alegação do recorrido de ocorrência de cerceamento de defesa, ao argumento de que a intempestividade é
regulada pelo Código de Processo Civil, enquanto o cerceamento de defesa versa sobre matéria
constitucional, ou seja, hierarquicamente superior. 6. Para que ocorra o efeito translativo dos recursos, é
necessária a abertura da instância recursal, ou seja, que o recurso interposto ultrapasse o juízo de
admissibilidade e, assim, a matéria possa ser conhecida, o que não ocorreu no caso. 7. Somente após o

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conhecimento do recurso, é que as demais assertivas poderão ser analisadas pela Corte local, ainda que
versem sobre questão de ordem pública. 8. Em face da intempestividade da apelação, não há como atribuir-
se ao recurso o efeito translativo, motivo pelo qual o acórdão questionado incorreu em violação dos arts.
508 e 515 do CPC/1973. Portanto, deve ser reformado. 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, provido para reformar o acórdão recorrido e reconhecer a intempestividade do recurso de
apelação.

Questão 2. Em relação ao instituto do litisconsórcio e suas repercussões práticas, assinale a alternativa


incorreta:
a) O litisconsórcio necessário, por força de lei ou pela natureza da relação jurídica controvertida, implica a
chamada legitimidade ad causam plúrima, de modo a condicionar o exercício do direito processual de ação
ao cumprimento do cúmulo subjetivo da demanda.
b) É necessário o litisconsórcio quando o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os
litisconsortes, ante a indivisibilidade do direito material, como ocorre nas ações de anulação de casamento.
c) Admite-se a formação de litisconsórcio passivo facultativo entre o segurado causador do dano e a
seguradora, mas não é possível ao autor ajuizar a ação de reparação exclusivamente em face desta.
d) Em havendo litisconsórcio em ação de competência dos Juizados Especiais, aplica-se o critério valorativo
previsto na Lei 9.099/95 por litisconsorte, o que possibilita o ajuizamento de causa cujo valor exceda o
patamar de 40 (quarenta) salários mínimos.
e) Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos
contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente
de requerimento, salvo em relação ao prazo recursal, quando apenas um dos litisconsortes haja sucumbido.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque o litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela
natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam
ser litisconsortes. Assim, nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que
requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção
do processo, na forma dos artigos 114 e 115, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque é unitário – e não necessário – o litisconsórcio quando, pela natureza da
relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes, na linha do
artigo 116 do Código de Processo Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque é possível a formação de litisconsórcio passivo entre o segurado


causador de dano e a seguradora, o qual se classifica como facultativo, por se reservar à vontade de ambos,
conforme o artigo 113 do Código de Processo Civil. Todavia, No seguro de responsabilidade civil facultativo,
não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora
do apontado causador do dano. É o que preceitua a súmula 529 do STJ.

A alternativa D é verdadeira. Confira-se o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça: “DIREITO


PROCESSUAL CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS. VALOR DA CAUSA PARA FINS DE COMPETÊNCIA.
DIVISÃO DO MONTANTE TOTAL PELO NÚMERO DE LITISCONSORTES. O valor da causa para fins de fixação

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da competência nos juizados especiais federais, na hipótese de existência de litisconsórcio ativo, deve ser
calculado dividindo-se o montante pelo número de autores. Dessa forma, se as parcelas percebidas e as
supostamente devidas a cada um dos litisconsortes for inferior a sessenta salários mínimos, prevalece a
competência absoluta do Juizado Especial Federal Cível para o julgamento da lide (art. 3º da Lei n.
10.259/2001). Precedentes citados: AgRg no REsp 1209914/PB, DJe 14/2/2011; AgRg no CC 104714/PR, DJe
28/8/2009. REsp 1.257.935-PB, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 18/10/2012” (Info 507 STJ). Tal
entendimento se aplica também aos demais Juizados Especiais.

A alternativa E é verdadeira, porque os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de


advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo
ou tribunal, independentemente de requerimento, conforme o artigo 229, “caput”, do Código de Processo
Civil. Não obstante, a súmula 641 do Supremo Tribunal Federal prevê que não se conta em dobro o prazo
para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido.

Questão 3. No tocante às provas no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, estão corretas todas as
afirmativas a seguir, exceto:
a) No curso da audiência de instrução e julgamento, pode o juiz, de ofício, realizar inspeção em pessoas ou
coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
b) Diferentemente da conciliação, a qual pode ser presidida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado, a
instrução somente por este pode ser dirigida.
c) A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos
depoimentos.
d) A veracidade dos fatos alegados pelas partes pode ser comprovada por todos os meios de prova, mesmo
que não especificados em lei, contanto que sejam moralmente legítimos.
e) A ausência de prévio requerimento sobre a produção de determinada prova em nada prejudica a sua
realização na audiência de instrução e julgamento.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 35, parágrafo único, da Lei 9.099/95.

A alternativa B é falsa, porque a instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado,
nos termos do artigo 37 da Lei 9.099/95.

A alternativa C é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto no artigo 36 da Lei 9.099/95.

A alternativa D é verdadeira, porque todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não
especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes, segundo o artigo
32 da Lei 9.099/95.

A alternativa E é verdadeira, porque todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e


julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar
excessivas, impertinentes ou protelatórias, conforme intelecção do artigo 33 da Lei 9.099/95.

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2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Causas de exclusão da ilicitude, normas permissivas, descriminantes ou justificantes, são
hipóteses previstas em lei que afastam a responsabilidade penal do autor de conduta típica. Acerca da
exclusão da ilicitude, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I No excesso de legítima defesa involuntário, derivado de erro de tipo escusável, o agente responde pelo fato
criminoso.
II O estado de necessidade defensivo ocorre quando a conduta do agente atinge um bem jurídico de terceiro
inocente
III O Código Penal Brasileiro adotou a teoria unitária do estado de necessidade.
IV O excesso culposo decorrente de erro sobre os limites da causa de justificação não é punível a título de
dolo ou culpa.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: B

I Excesso da legítima defesa quando decorre de erro de tipo escusável (inevitável ou invencível) exclui o dolo
e a culpa. Se o erro de tipo for inescusável (evitável ou vencível) exclui o dolo, mas permite a punição culposa
se houver previsão legal; nos termos do art. 20 do Código Penal.

II A hipótese de estado de necessidade agressivo, uma vez que o estado de necessidade defensivo atinge o
bem jurídico daquele que gerou a situação de perigo.

III O CP adotou a teoria unitária que defende que só haverá exclusão da ilicitude em caso de estado de
necessidade justificante que ocorre quando o bem sacrificado é de valor igual ou inferior ao preservado.
Todavia, prevê, no art. 24, §2º, que embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena
poderá ser reduzida de um a dois terços.

IV Tanto o erro voluntário, doloso; quanto o involuntário, culposo, nas causas de justificação, são igualmente
puníveis.

Questão 2. Tendo em vista que a potencial ou real consciência da ilicitude, a imputabilidade e a


exigibilidade de conduta diversa, elementos da culpabilidade, podem ser afastadas diante de
determinadas hipóteses legalmente previstas, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:

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I A obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico caracteriza situação de exculpação
legal, que exclui a culpabilidade, por inexigibilidade de comportamento diverso, e a obediência a ordem ilegal
de superior hierárquico não exclui a culpabilidade, podendo funcionar como causa de diminuição de pena,
que reduz a culpabilidade.
II A emoção e a paixão não excluem a imputabilidade, mas a violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, pode privilegiar determinados crimes ou constituir circunstância atenuante de outros.
III Segundo a teoria limitada da culpabilidade, o erro evitável de policial sobre os limites do estrito
cumprimento do dever legal, que produz lesão corporal grave em cidadão, permite atribuição de
responsabilidade penal ao policial, a título de culpa.
IV A embriaguez proveniente de caso fortuito é hipótese de inexigibilidade de conduta diversa.
V A coação irresistível, física ou moral, conduz à inexigibilidade de conduta diversa.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I e II;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.

Comentários

Gabarito: B

I Nos termos do art. 22 do Código Penal, se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência
a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
O art. 65, III, considera como circunstância atenuante, ter o agente cometido o crime em cumprimento de
ordem de autoridade superior.

II Conforme o disposto no art. 28 do Código Penal, não excluem a imputabilidade penal a emoção e a paixão;
todavia estas figuram como causa especial de diminuição de pena no homicídio privilegiado (CP, Art. 121,
§1º) e como circunstância atenuante genérica (CP, Art. 65, III).

III No erro de proibição indireto evitável, a consequência prevista no art. 21 do Código Penal é a diminuição
da pena de um sexto a um terço.

IV A embriaguez completa proveniente de caso fortuito é hipótese de inimputabilidade (CP, Art. 28, §1º)

V A coação física irresistível é hipótese de exclusão da tipicidade.

Questão 3. No que toca ao concurso de pessoas, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a
opção correta:
I O concurso de pessoas é inadmissível nos crimes monossubjetivos.

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II Haverá único crime para os coautores e partícipes, segundo a teoria monista adotada pelo Código Penal,
todos por ele respondendo em absoluta igualdade de condições.
III É inadmissível a coautoria nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão.
IV O concurso de pessoas é admissível nos crimes próprios e nos delitos culposos.
V No concurso de pessoas é indispensável prévia combinação entre os agentes e adesão subjetiva à vontade
do outro.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

Comentários

Gabarito: E

I Os crimes unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou de concurso eventual) são aqueles que podem ser
praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a co-autoria e a participação.

II No Brasil adota-se a teoria monista para a explicação do concurso de pessoas e a atribuição de


responsabilidade penal nesse contexto, entendendo-se que autores e partícipes responderão por um só
crime na medida de sua culpabilidade.

III Nos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, o tipo traz uma conduta positiva,
mas a omissão do agente, que descumpre o dever jurídico de agir, acarreta a produção de resultado e
responsabilização penal. Com relação à co-autoria em crime omissivo próprio, parte da doutrina entende
que não (Juarez Taveres), pois cada um responde isoladamente, não sendo o caso de concurso de agentes.
É o exemplo clássico em que A e B omitem socorro a C, sendo que cada um deles poderia socorrer, sem risco
pessoal. Contudo, Cezar Roberto Bitencourt (Manual de Direito Penal, Parte Geral, p. 445) entende "ser
perfeitamente possível a co-autoria em crime omissivo próprio". No mesmo sentido é a posição de Rogério
Greco (Curso de Direito Penal, Parte Geral, p. 476). A doutrina manifesta pela possibilidade de participação
em crime omissivo impróprio. Ex: A instiga B, que ele não conhece, a não alimentar o filho. B cometerá o
crime de homicídio por omissão, já que B tem o dever jurídico de evitar o resultado. A será partícipe. No
mesmo sentido é acerca do cabimento da co-autoria em crime omissivo impróprio. Ex: A e B, em comum
acordo, deixa de alimentar seu filho, vindo este a falecer. O casal é co-autor de homicídio.

IV O concurso de pessoas é admissível nos crimes culposos, não se admitindo, contudo, a participação; e
também nos crimes próprios, conforme o disposto no art. 30 do Código Penal.

V No concurso de pessoas, muito embora seja necessário que todos os agentes atuem conscientes de que
estão reunidos para a prática da mesma infração; não se pode confundir tal liame psicológico com a
necessidade de acordo prévio de vontades. A adesão espontânea, sem prévia combinação é perfeitamente

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possível. Por exemplo, quando um popular se junta a outros para cometer lesão corporal contra suposto
autor de furto de uma bicicleta que é pego em flagrante delito.

Questão 4. Acerca dos crimes contra a administração pública, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Constitui crime de tráfico de influência, delito contra a administração da justiça, solicitar ou receber dinheiro
ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da
justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
II Constitui o crime de tergiversação, delito contra a administração da justiça, o ato do advogado ou
procurador judicial que defende na mesma causa, sucessivamente, partes contrárias.
III Constitui crime de tráfico de influência, delito praticado por particular contra a administração em geral,
solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
IV Constitui crime de patrocínio infiel, o delito praticado por funcionário púbico contra a administração em
geral, de patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário.
V Constitui crime de favorecimento real, delito contra a administração da justiça, auxiliar a subtrair-se à ação
de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

Comentários

Gabarito: C

I Cuida-se do crime de exploração de prestígio - CP, Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

II É o crime descrito no art. 355, Parágrafo único, do Código Penal - Incorre na pena deste artigo o advogado
ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

III CP, Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: Pena -
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

IV A conduta descrita é a advocacia administrativa – CP, Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção,
de um a três meses, ou multa.

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V A hipótese descreve o favorecimento pessoal, previsto no art. 348 do Código Penal - Auxiliar a subtrair-se
à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a
seis meses, e multa.

Questão 5. A respeito da punibilidade e suas causas de extinção, analise as proposições abaixo e, em


seguida, assinale a opção correta:
I O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos.
II Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta)
anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo do art. 75 do Código Penal.
III No tocante à prescrição, é correto afirmar que, cometido o homicídio qualificado para ocultar outro crime,
a prescrição deste impede a qualificação daquele.
IV Os crimes mais leves prescrevem com os mais graves, se cometidos em concurso de delitos.
V A ocorrência da prescrição em relação ao crime de furto não alcança a receptação que o tinha como
pressuposto.
a) Estão incorretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão corretas 4 assertivas

Comentários

Gabarito: D

I CP, Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

II CP, Art. 75. § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a
40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)

III CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de
um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

IV CP, Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente.

V CP, Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de
um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

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2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Assinale a alternativa incorreta:
a) O acusado ausente ou foragido será processado ou julgado sem defensor.
b) A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de
manifestação fundamentada.
c) Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo,
nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação.
d) O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo
juiz.
e) O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o
juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.

Comentários

GABARITO: A

FUNDAMENTO:

Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta:


A) A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não puder comparecer.
b) Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não
determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que
provisoriamente ou só para o efeito do ato.
c) A constituição de defensor dependerá sempre de instrumento de mandato.
d) O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o
juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.
e) Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo,
nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação.

Comentários

GABARITO: C

FUNDAMENTO:

Art. 266. A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o acusado o


indicar por ocasião do interrogatório.

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Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que tiver funcionado seu cônjuge ou parente,
consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
b) Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes,
consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
c) O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do
casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento
sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem
for parte no processo.
d) A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der
motivo para criá-la.
e) Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for
seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o quarto grau, inclusive, e a
eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos
juízes.

Comentários

GABARITO: E

FUNDAMENTO:

Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou
qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Com base na Lei n.º 7.210/84, analise a afirmativa a seguir:
O preso estrangeiro não pode ser inserido no regime disciplinar diferenciado, previsto no art. 52, da Lei de
Execuções Penais.

Comentários

GABARITO: ERRADO

O regime disciplinar diferenciado pode ser aplicado aos presos provisórios, condenados, nacionais ou
estrangeiros, com fulcro no art. 52, caput, da Lei de Execuções Penais:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional

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ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as


seguintes características: […]

Questão 2. À luz do Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/2003), analise a afirmativa a seguir:
Os crimes definidos no Estatuto do Idoso são de ação penal pública incondicionada e a eles não se aplicam
os benefícios das escusas absolutórias, previstos nos artigos 181 e 182, do Código Penal.

Comentários

GABARITO: CERTO

A assertiva é a previsão do art. 95, do Estatuto do Idoso:

Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes
aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.

Salienta-se que, de igual modo, a não aplicação das escusas absolutórias no caso de crimes praticados contra
idosos está prevista no art. 183, inc. III, do Código Penal:

Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: […]

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Questão 3. Em atenção à Lei n.º 12.850/2013, é certo que, depois de homologado o acordo de colaboração
premiada, o colaborador poderá ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de
polícia responsável pelas investigações, mesmo que desacompanhado de seu defensor.

Comentários

GABARITO: ERRADO

Conforme o disposto no art. 4º, §9º, da Lei n.º 12.850/2013:

§ 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu


defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável
pelas investigações.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. É competente para responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas por
autoridade pública ou partido político:
a) Juiz Eleitoral.
b) Tribunal Superior Eleitoral.

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c) Junta Eleitoral.
d) Tribunal Regional Eleitoral.
e) Juiz de Direito.

Comentários

De acordo com os arts. 23, inc. XII, e 30, inc. VIII, do Código Eleitoral, ao Tribunal Superior Eleitoral compete
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade com jurisdição
federal ou órgão nacional de partido político, enquanto que aos Tribunais Regionais Eleitorais compete
responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou
partido político

Em consequência, o candidato deve assinalar a alternativa D.

Questão 2. Sobre os órgãos da Justiça Eleitoral, é correto afirmar:


a) Além da função jurisdicional, o Juiz Eleitoral exerce função administrativa, já que investido de poder de
polícia. São exemplos dessa função administrativa: medidas para impedir a prática de propaganda eleitoral
irregular e o alistamento eleitoral.
b) Os tribunais regionais federais elegerão seu Presidente e Vice-Presidente dentre os Juízes que os
compõem.
c) O Tribunal Superior Eleitoral é composto, entre outros, por dois Juízes dentre seis advogados de notável
saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Senado Federal.
d) Junta Eleitoral é órgão da Justiça Eleitoral composta pelo Juiz de Direito, que a preside, pelo representante
do Ministério Público eleitoral e por dois a quatro cidadãos de notória idoneidade.
e) Compete ao Juiz Eleitoral processar e julgar o registro e o cancelamento de registro dos diretórios
municipais de partidos políticos.

Comentários

Os órgãos da Justiça Eleitoral dispõem de competência jurisdicional e, bem assim, de competência


administrativa-fiscalizadora sobre a organização do processo eleitoral, à luz dos arts. 23, inc. XVIII, 30, inc.
XVII, e 35, inc. XVII, e administração do processo eleitoral, a teor dos arts. 23, inc. XIV, 30, inc. XII, e 35, incs.
I, IV, V e XVI, do Código Eleitoral.

A alternativa A está correta, portanto.

Questão 3. As decisões judiciais do Tribunal Superior Eleitoral:


a) São irrecorríveis, salvo as que contrariarem a legislação federal e as concessivas de habeas corpus ou
mandado de segurança.
b) São recorríveis ao Supremo Tribunal Federal, em qualquer hipótese.
c) São irrecorríveis, em qualquer hipótese.
d) São recorríveis ao Superior Tribunal de Justiça, em qualquer hipótese.

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e) São irrecorríveis, salvo as que contrariarem a Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou
mandado de segurança.

Comentários

Dispõe o art. 121, § 3º, da Constituição da República, que as decisões do Tribunal Superior Eleitoral são
irrecorríveis, salvo as que contrariarem o texto constitucional e as denegatórias de habeas corpus ou
mandado de segurança.

Pelo fio do exposto, o candidato deve assinalar a alternativa E.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (FGV – Exame de Ordem 2020.1) O adolescente João, com 16 anos completos, foi apreendido
em flagrante quando praticava ato infracional análogo ao crime de furto. Devidamente conduzido o
processo, de forma hígida, ele foi sentenciado ao cumprimento de medida socioeducativa de 1 ano, em
regime de semiliberdade.
Sobre as medidas socioeducativas aplicadas a João, assinale a afirmativa correta.
a) A medida de liberdade assistida será fixada pelo prazo máximo de 6 meses, sendo que, ao final de tal
período, caso João não se revele suficientemente ressocializado, a medida será convolada em internação.
b) A medida aplicada foi equivocada, pois deveria ter sido, necessariamente, determinada a internação de
João.
c) No regime de semiliberdade, João poderia sair da instituição para ocupações rotineiras de trabalho e
estudo, sem necessidade de autorização judicial.
d) A medida aplicada foi equivocada, pois não poderia, pelo fato análogo ao furto, ter a si aplicada medida
diversa da liberdade assistida.

Comentários

Alternativa “A”: incorreta. A medida socioeducativa de liberdade assistida tem prazo mínimo de seis meses,
podendo ser prorrogado pela autoridade judiciária. Ao final do período, será possível que o juízo da
execução, se o caso, substitua a medida por outra que seja suficiente à ressocialização, não necessariamente
a internação.

Alternativa “B”: incorreta. O ato infracional equiparado ao delito de furto não se constitui em ato cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, de modo que está inviabilizada a aplicação da internação.

Alternativa “C”: correta. A medida socioeducativa de semiliberdade admite as atividades externas, as quais
não poderão ser proibidas pela autoridade judiciária. De outro lado, a restrição poderá ocorrer na medida
de internação.

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Alternativa “D”: incorreta. Não há vedação para a aplicação da medida de liberdade, sobretudo porque a
inserção em internação ocorrerá de forma subsidiária, se houver necessidade pedagógica, bem como se o
ato estiver indicado em uma das hipóteses do art. 122, do Estatuto.

Questão 2. (FGV – Exame de Ordem 2020.1) Maria chega à maternidade já em trabalho de parto, sendo
atendida emergencialmente. Felizmente, o parto ocorre sem problemas e Maria dá à luz, Fernanda.
No mesmo dia do parto, a enfermeira Cláudia escuta a conversa entre Maria e uma amiga que a visitava, na
qual Maria oferecia Fernanda a essa amiga em adoção, por não se sentir preparada para a maternidade.
Preocupada com a conversa, Cláudia a relata ao médico obstetra de plantão, Paulo, o qual, por sua vez,
noticia o ocorrido a Carlos, diretor-geral do hospital. Naquela noite, já recuperada, Maria e a mesma amiga
vão embora da maternidade, sem que nada tenha ocorrido e nenhuma providência tenha sido tomada por
qualquer dos personagens envolvidos - Cláudia, Paulo ou Carlos.
Diante dos fatos acima, assinale a afirmativa correta.
a) Não foi cometida qualquer infração, porque a adoção irregular não se consumou no âmbito da
maternidade.
b) Carlos cometeu infração administrativa, consubstanciada no não encaminhamento do caso à autoridade
judiciária, porque somente o diretor do hospital pode fazê-lo.
c) Carlos e Paulo não cometeram infração administrativa ao não encaminharem o caso à autoridade
judiciária, porque não cabe ao corpo médico tal atribuição.
d) Carlos, Paulo e Cláudia cometeram infração administrativa por não encaminharem o caso de que tinham
conhecimento para a autoridade judiciária.

Comentários

Consoante prevê o art. 19-A, do Estatuto, a gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho
para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. A
inobservância desse dever jurídico caracterizará a prática da infração administrativa tipificada no art. 258-B,
do Estatuto, desde que praticada por médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à
saúde de gestante.

Alternativa “D”: correta. Conforme explicado acima, a conduta de deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para
adoção, é tipificada como infração administrativa (e não infração penal), nos termos do art. 258-B, do
Estatuto.

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. respeito das causas de suspensão de crédito tributário, assinale a alternativa correta:
a) A transação suspende o crédito tributário.
b) A interposição de uma exceção de pré-executividade, por si só, suspende a exigibilidade do crédito
tributário.

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c) A reclamação e o recurso administrativo corporificam a possibilidade de suspensão do crédito tributário.


E, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é constitucional a exigência de depósito
prévio de bens para admissibilidade de recurso administrativo.
d) A adesão ao parcelamento interrompe o prazo prescricional, que volta a fluir a partir da sua rescisão.
e) Em todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o contribuinte faz jus à certidão
negativa de débitos.

Comentários

a) Assertiva errada. A transação é uma causa extintiva do crédito, conforme determina o artigo 156, inciso
III.

b) Assertiva errada. A peça conhecida como exceção de pré-executividade é fruto de uma criação doutrinária
e jurisprudencial. E a sua oposição, por si só, não suspende a exigibilidade do crédito tributário.

c) Assertiva errada. Ainda que a reclamação e o recurso administrativo sejam instrumentos hábeis a
suspender o crédito tributário, é inconstitucional a exigência de depósito prévio para sua admissibilidade,
em conformidade com a súmula vinculante n. 21.

d) Assertiva correta, conforme dicção do artigo 174, inciso IV, do CTN.

e) Assertiva errada. Em todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o contribuinte


faz jus à certidão positiva de tributos com efeitos de negativa.

Questão 2. Sobre responsabilidade tributária, assinale a alternativa correta:


a) Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse
de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a
contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, ainda que conste do título
a prova da sua quitação.
b) Em caso de sucessão tributária, o cônjuge meeiro é pessoalmente responsável pelos tributos devidos pelo
de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante da meação.
c) Caso o adquirente de determinado estabelecimento comercial dê continuidade a exploração comercial
que anteriormente ali se exercia, mas sob outra razão social, tal circunstância lhe eximirá da responsabilidade
dos tributos até então devidos.
d) A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em
outra não é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado
fusionadas, transformadas ou incorporadas.

Comentários

a) Alternativa incorreta. Art. 130 do CTN: Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja
a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de
serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos
adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação.

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b) Alternativa correta. Art. 131, inciso II, do CTN

c) Alternativa incorreta. Art. 133, inciso II, do CTN

d) Afirmativa incorreta. Art. 132 do CTN.

Questão 3. Sobre as limitações constitucionais ao poder de tributar, julgue os itens abaixo.


I) A lei não poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador poderá ocorrer posteriormente.
II) Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou
remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica,
federal, estadual ou municipal.
III) É facultado à União cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da
lei que os houver aumentado.
a) Apenas a “I” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “I” e “III” estão incorretas
e) As assertivas “I” e “II” estão incorretas

Comentários

Assertiva correta é a letra “d".

I) Assertiva incorreta. Art. 150, § 7º, da CF/88.

II) Assertiva correta. Art. 150, § 6º, CF/88.

III) Assertiva incorreta. Art. 150, III, “a”, da CF/88.

2.11 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. Assinale a alternativa CORRETA:
a) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
b) As Ações Civis Públicas com base no Estatuto do Idoso serão ajuizadas no foro do local do dano, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a causa.
c) Conforme a Lei n. 7.853/89, somente a Ação Civil Pública que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal.

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d) Segundo a Lei n. 13.146/15, considera-se barreiras urbanísticas somente as existentes nas vias e nos
espaços públicos ou de uso coletivo;
e) Segundo a Lei n. 13. 146/15, a pessoa com deficiência, em certos casos, estará obrigada à fruição de
benefícios decorrentes de ação afirmativa.

Comentários

Gabarito: C.

a) Errado, suprimiu a condição de que o impedimento tem de ser de longo prazo, art. 2º.

b) Errado, será no domicílio do idoso, art. 80.

c) Correta, art. 4º, § 1º.

d) Errado, art. 3º, IV, a.

e) Errado, art. 4º, § 2º.

Questão 2. Sobre o tema improbidade administrativa é INCORRETO dizer que:


a) Nos casos de ato de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio
o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
a sanção patrimonial limita-se à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
b) As disposições da Lei n. 8.429/92 são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Portanto, o particular não pode praticar ato de improbidade
de modo autônomo, vale dizer, sem que dele participe um agente público.
c) A tutela da probidade administrativa tem natureza de interesse coletivo stricto sensu.
d) Segundo doutrina e jurisprudência majoritárias, a sanção de perda da função pública da Lei n. 8.429/92
não é aplicada ao Presidente da República, cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal.
e) O membro do Ministério Público responde por improbidade administrativa, quer seja no exercício de
atividade-fim, quer seja no exercício de atividade-meio.

Comentários

Gabarito: C

a) Correto, art. 1º, parágrafo único da LIA.

b) Correto, art. 3º da LIA.

c) Errada, pois a natureza é de interesse difuso. Coletivos stricto sensu são os previstos no art. 81, parágrafo
único, II, do CDC.

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d) Correto. STJ e doutrina majoritária.

e) Correto, pois não existe nenhuma restrição legal ao tipo de atividade exercida pelo membro. Se ele, por
exemplo, oferecer denúncia dolosamente abusiva contra um desafeto, responderá também, no âmbito cível,
por improbidade.

Questão 3. É INCORRETO dizer que:


a) Segundo o Estatuto do Idoso, todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer
forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
b) Conforme o Estatuto do Idoso, a obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os
prestadores.
c) À luz da Lei n. 10.741/03, é vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos públicos.
d) À luz da Lei n. 10.741/03, ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o
direito de optar pelo seu tratamento de saúde. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta
poderá será feita, entre outros, pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo
hábil para consulta a curador ou familiar, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público.
e) Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, são considerados especialmente vulneráveis a criança, o
adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.

Comentários

Gabarito: d.

a) Correto, art. 6º.

b) Correto, art. 12.

c) Certo, art. 15, § 5º.

d) Errado, art. 17.

e) Correto, art. 5º, parágrafo único.

2.12 - DIREITO EMPRESARIAL


Questão 1. Sobre o registro do empresário que exerça atividade rural, assinale a alternativa correta:
a) o registro é obrigatório para o exercício da atividade.
b) o registro não equiparará o empresário ao empresário sujeito a registro.
c) o registro não é obrigatório, mas o empresário, após inscrito, ficará equiparado ao empresário sujeito a
registro.
d) não é possível registrar tal atividade.

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e) nenhuma das anteriores

Comentários

Gabarito: C

A letra 'c' é a resposta correta, pois traduz os ditames do art. 971 do Código Civil.

Questão 2. Não é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da


respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Comentários

Gabarito: Errado

Conforme disposto no Código Civil: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

2.13 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. Não está inserida no campo de atuação do Ministério Público:
a) Atuação judicial no interesse da sociedade.
b) Atuação judicial pela qualidade da parte.
c) Atuação extrajudicial.
d) Atuação judicial pela natureza da lide.
e) Atuação judicial no interesse da fazenda.

Comentários

Dispõe o art. 129, inc. IX, da Constituição da República que ao Ministério Público é vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades pública.

O candidato deve assinalar a alternativa E, pois.

Questão 2. A possibilidade de atuação de dois membros do Ministério Público no mesmo processo não
importa em violação ao:
a) Princípio da unidade.
b) Princípio da indivisibilidade.
c) Princípio da independência funcional.
d) Princípio do promotor natural.
e) Não é admissível a pluralidade de membros do Ministério Público no mesmo processo.

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Na hipótese de ocorrência de duas causas interventivas que se afigurem inacumuláveis nas mãos do mesmo
membro do Ministério Público, atuação de dois Promotores de Justiça ou Procuradores da República no
mesmo processo não importa em violação ao princípio da unidade.

Revela-se correta a alternativa A.

Questão 3. Não é obrigatória a intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam:
a) Prática de ato simulado ou à obtenção de fim proibido por lei.
b) Normatização de serviços públicos.
c) Licitações e contratos administrativos.
d) Licenciamento ambiental e infrações ambientais.
e) Os direitos dos menores, dos incapazes e dos idosos em qualquer situação.

Comentários

Nos termos do art. 5º, incs. I, II, III, VI e VIII, da Resolução CNMP nº 34/16, além dos casos que tenham
previsão legal específica, é obrigatória a intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam a
prática de ato simulado ou à obtenção de fim proibido por lei, a normatização de serviços públicos, as
licitações e contratos administrativos, o licenciamento ambiental e infrações ambientais e os direitos dos
menores, dos incapazes e dos idosos em situação de vulnerabilidade.

Portanto, a alternativa E deve ser assinalada pelo candidato.

2.14 - DIREITO DO CONSUMIDOR


Questão 1. Sobre Direito do Consumidor, é CORRETO afirmar que:
a) Um bem imaterial não pode ser produto.
b) O CDC estabeleceu apenas três espécies de consumidor equiparados além do chamado consumidor
standart, ou seja, aquele, pessoa física ou jurídica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
c) Nenhum produto ou serviço colocado no mercado de consumo pode acarretar risco à saúde ou segurança
do consumidor, segundo determina o CDC.
d) A má apresentação de um produto não implica a sua conceituação como defeituoso.
e) O CDC prevê três excludentes de responsabilidade para o caso de vício do serviço.

Comentários

Gabarito: B.

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a) Errado, art. 3º, § 1º.

b) Correta. São apenas três: o consumidor em sentido coletivo (art. 2º, parágrafo único), o consumidor
bystanter (art. 17), e o consumidor em potencial (art. 29).

c) Errado, existem produtos com risco inerente, art. 8º.

d) Errado, art. 12, § 1º, do CDC.

e) Errado, apenas para o caso de fato do serviço, art. 14, § 3º.

Questão 2. Assinale a alternativa incorreta em relação à lei 8.078/90:


a) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto como destinatário final.
b) Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.
c) Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.
d) Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
e) Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

Comentários

A incorreta é a letra ‘a’, pois em desacordo com o conceito legal de consumidor do art. 2º do CDC. Falta a
expressão “serviço” – utiliza produto ou serviço-, o que torna o conceito incompleto. As letras b, c, d, e são
transcrições dos arts. 2º. P. único, 3º, caput, 3º §2º e 3º, §1º, respectivamente, afigurando-se como corretas.

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA PROFESSOR QUESTÕES


Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes 2
Direito Administrativo Bruno Betti 2
Direito Civil Edon Rodarte 2
Direito Processual Civil Edon Rodarte 1
Direito Penal Flávio Milhomem 2

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Direito Processual Penal Guilherme Rezende 1


Legislação Penal Especial Alex Fadel 1
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes 1
Direito Tributário Mateus Pontalti 1
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa 1
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Na ordem jurídica pátria, é reconhecido o exercício, pelas minorias parlamentares, do direito
de investigar? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

A atuação das Comissões Parlamentares de Inquérito é subordinada a três requisitos formais, traduzidos pelo
requerimento de constituição e inquérito parlamentar, cujo relatório final é destinado ao Ministério Público
(PIÇARRA, Nuno. O Inquérito Parlamentar e os seus Modelos Constitucionais. Coimbra: Almedina, 2004, p.
19).

O requerimento de constituição deve ser formulado por um terço dos membros da Casa Legislativa, com o
esclarecimento da composição numérica do órgão parlamentar, independentemente de deliberação
plenária, o que, por via de consequência, resguarda o exercício, pelas minorias parlamentares, do direito de
investigar.

“Comissão Parlamentar de Inquérito. Direito de oposição. Prerrogativa das minorias


parlamentares. Expressão do postulado democrático. Direito impregnado de estatura
constitucional. Instauração de inquérito parlamentar e composição da respectiva CPI. Tema que
extravasa os limites interna corporis das casas legislativas. Viabilidade do controle jurisdicional.
Impossibilidade de a maioria parlamentar frustrar, no âmbito do Congresso Nacional, o exercício,
pelas minorias legislativas, do direito constitucional à investigação parlamentar (CF, art. 58, § 3º).
Mandado de segurança concedido” (STF, MS nº 24.831, Rel. Min. Celso de Mello, J. 22.06.2005,
DJU 04.08.2006).

Questão 2. Lei ordinária, cujo projeto foi apresentado por Deputado Federal, dispôs sobre aumento de
remuneração de servidores públicos federais. A propositura legislativa recebeu emenda no Senado, que
estendeu o reajuste a outras carreiras do serviço público federal. O Presidente da República sancionou o
projeto, convertendo-o em lei. O processo legislativo foi regular? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

O processo legislativo não foi regular.

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A um, porque projeto de lei que disponha sobre aumento de remuneração de servidores públicos federais
deveria ser apresentado pelo Presidente da República, conforme o art. 61, § 1º, inc. II, “a” e “c”.

A dois, porque emenda a projeto de lei de iniciativa reservada não pode ocasionar aumento de despesa,
consoante o art. 63, inc. I.

A três, porque a sanção presidencial não tem o condão de convalidar a inconstitucionalidade formal de que
era dotado o projeto de lei, restando superado o entendimento consubstanciado no verbete nº 5 da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Acerca da desapropriação indireta, disserte sobre o seu conceito, legitimidade para a ação,
foro, prescrição e sobre os juros moratórios e compensatórios.

Comentários

A desapropriação indireta é o fato administrativo pelo qual o Poder Público se apropria de um bem particular,
sem a observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia.38

A expressão também se refere à supressão do direito de propriedade, uma vez que esvazia o conteúdo
econômico da propriedade. Ademais, a expressão pode ser entendida como a ação a ser ajuizada pelo
proprietário do bem esbulhado, requerendo uma indenização.

Importante observar que o direito do expropriado, quando acontece a desapropriação indireta, é somente
a indenização. Isto está legislado no art. 35 do DL 3.365/41. Em outras palavras, quer-se dizer que em nada
afeta o direito de propriedade que tem o Estado sobre o bem expropriado. A sua propriedade se torna
intangível.

O valor a ser pago a título de indenização pode ser considerado meramente estimativo. Dessa forma, pode
o juiz condenar o Poder Público a pagar quantia a maior ao autor, ainda que este tenha requerido uma
indenização de valor menor.39

38
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 871

39
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.p.875

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Ademais, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas.40

De acordo com o STJ, não configura desapropriação indireta quando o Estado limita-se a realizar serviços
públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e
irreversível.41

A legitimidade ativa e passiva nesse tipo de ação é inversa à da ação de desapropriação. Observe que o autor
da ação será sempre o ex-proprietário42, ao passo que a ré será a pessoa jurídica de direito público
responsável pela incorporação do bem a seu patrimônio.

Por ser considerada uma ação de natureza real, a jurisprudência do STF43 manifestou-se no sentido de a ação
dever ser ajuizada no foro do local do imóvel. Não será no domicílio do réu.

O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é de 10 anos, nos termos do art. 1238 do CC/02.
De acordo com o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante é de que a ação de desapropriação
indireta observará o mesmo prazo da usucapião.44

Esse é o entendimento correto, a despeito da súmula 119 do STJ entender que o prazo da desapropriação
indireta é de 20 anos.

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do EREsp 1.575.846-SC, entendeu que, de fato, o prazo
prescricional para a ação indenizatória por desapropriação indireta é de 10 anos, em regra, salvo
comprovação da inexistência de obras ou serviços públicos no local, caso em que o prazo passa a ser de 15
anos.

Além do valor da indenização pela perda da propriedade, o ex- proprietário tem direito à percepção dos juros
moratórios e juros compensatórios.

40
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019

41
STJ. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 05/11/2019, DJe
07/11/2019

42
O STJ admite que o promissário comprador é parte legítima a ajuizar a ação, ainda que a promessa de compra e venda não tenha
sido registrada no cartório imobiliário. STJ, REsp 1.204.923 – 2012. Ademais, sendo casado o autor, o STJ também exige a presença
de ambos os cônjuges no polo ativo da ação. STJ, REsp 46.899-0.

43
STF, RE nº 111.988.

44
REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013 (Informativo nº 0523).

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Os juros moratórios são aqueles devidos ao ex-proprietário, em razão do Poder Público não ter pago
tempestivamente a indenização a que aquele tinha direito. O valor desses juros moratórios é de 6% ao ano,
a despeito do dispositivo legal estabelecer até 6% ao ano.45

Ademais, o termo inicial da contagem dos juros moratórios será dia 1º da janeiro do ano seguinte àquele em
que o pagamento deveria ser efetuado.

Por fim, a base de cálculo será o valor da indenização fixado na sentença condenatória.

Por sua vez, os juros compensatórios são aqueles devidos, em razão do Poder Público ter realizado a
desapropriação sem observar a exigência de prévia indenização.

O termo inicial dos juros compensatórios será a partir da efetiva ocupação do imóvel pelo Estado. Em outras
palavras, os juros compensatórios são devidos a partir do momento em houve a efetiva transferência do
bem. Este é o entendimento da Súmula 69 do STJ.

Atente-se que, de acordo com o STJ, em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de
limitações administrativas. Segundo a Corte Cidadã, nessa ação devem ser observados os princípios da
instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito para reconhecer o interesse-
adequação da ação para o requerimento de indenização.46

Questão 2. Sobre a Lei nº 8.987/95, explique e diferencie os institutos da subcontratação, subconcessão e


da transferência da concessão

Comentários

De acordo com o art. 25, § 1º da Lei nº 8.8987/95, a concessionária poderá contratar com terceiros o
desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como
a implementação de projetos associados.

Ademais, os contratos celebrados entre a concessionária e os terceiros reger-se-ão pelo direito privado, não
se estabelecendo qualquer relação jurídica entre os terceiros e o poder concedente, nos termos do art. 25,
§ 2º da mesma lei.

A execução das atividades contratadas com terceiros pressupõe o cumprimento das normas regulamentares
da modalidade do serviço concedido, como previsto no art. 25, § 3º da lei de concessões.

45
ADIMC 2.332-DF – O STF suspendeu a eficácia da expressão “até seis por cento”.

46
STJ. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe
11/12/2019

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De acordo com o art. 26, é possível que a concessionária realize uma subconcessão. Para isso, haverá
necessidade de previsão no contrato de concessão e expressa autorização do poder concedente.

A outorga de subconcessão será sempre precedida de concorrência, como afirma o art. 26, § 1º.

O subconcessionário se sub-rogará todos os direitos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da


subconcessão, nos termos do art. 26, § 2º.

A transferência da concessão, bem como do controle societário da concessionária necessitará, para


acontecer, de prévia anuência do poder concedente. Caso não haja essa anuência, o art. 27 da Lei nº
8.987/95 estabelece que ocorrerá a caducidade do contrato de concessão.

Para que haja a anuência do poder concedente, o pretendente deverá 1) atender às exigências de capacidade
técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e 2)
comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a substitutividade do provimento provisório pela cognição exauriente, no
âmbito da ação de alimentos.

Comentários

Sabe-se que os alimentos se destinam ao provimento do mínimo existencial ao alimentado. A sua


constituição jurídica pressupõe provimento jurisdicional fixador da obrigação de pagar.

Na demanda correlata, afigura-se possível a antecipação dos efeitos da tutela. Assim, em provimento
provisório, os alimentos serão destinados ao autor, preenchidos os pressupostos da medida: evidência do
direito (no mais, a filiação) e a necessidade premente (presumida, de regra).

Há, entretanto, a problemática do provimento final: acaso, provisoriamente, fixe-se valor maior do que a
sentença, os valores já pagos com base na decisão antecipatória poderão ser reavidos ou compensados?
Ainda: eventual execução poderá continuar ou ser aforada com base no provimento provisório (cujo valor é
maior, frise-se), relativamente ao período entre a prolação da decisão e a sentença?

A decisão judicial (sentido amplo) de cognição exauriente substitui a cognição sumária. Daí o caráter de
substitutividade. A decisão anterior perde o efeito; a relação jurídica passa a ser regulada pela sentença, que
poderá, inclusive, confirmar a tutela provisória.

Nesta ambiência é que a jurisprudência assentou que o os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera
os alimentos retroagirá. Precisamente, os termos da súmula 621 do STJ e da tese 1 da edição 77 da seção
jurisprudência em teses, do mesmo sodalício:

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Súmula 621-STJ: os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do


pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade.

Tese 1: os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos - seja em caso de


redução, majoração ou exoneração - retroagem à data da citação (Lei n. 5.478/68, art. 13, § 2º),
ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a impossibilidade de compensação do
excesso pago com prestações vincendas.

Veja-se que há retroatividade. I.e., acaso maior o valor fixado em sentença, eventual execução deverá
prosseguir ou ser iniciada com base no valor superior. Também, o valor pago a menor deverá ser
complementado.

Frise-se, ademais, a impossibilidade da compensação e da repetibilidade. Significa dizer que não se poderá
compensar o valor a maior, pago com base em decisão provisória com quantum superior ao da sentença,
com prestações futuras; veda-se, também, que haja a repetição (restituição) do valor superior pago. Em
ambos os casos, o excesso se conservará regido pela decisão a maior.

Questão 2. Discorra sobre o rompimento do testamento.

Comentários

O testamento é o ato de disposição causa mortis que visa à destinação patrimonial, ou mesmo moral, aos
herdeiros hereditários ou terceiros, chamados de herdeiros testamentários.

Há vícios que impedem a produção regular dos efeitos do testamento. Dentre eles, o rompimento,
consistente na causa legalmente prevista de retirada da regularidade do testamento, em todas as suas
cláusulas, tornando-as ineficazes.

Dispõe o art. 1.973 que, sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia
quando testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver ao
testador.

Presume-se, assim, que o testador não haveria testado da forma como o fez se conhecesse o descendente
ou se este já existisse ao tempo do testamento. Por isso, a retirada dos efeitos, como instrumento protetivo
da legítima e da preservação do patrimônio da família em que constituído.

Se, porém, o testador já sabia da existência do filho, a norma não se subsome, sem embargo da proteção à
legítima, que será destina ao filho excluído da testamentária. Também não se verificará o rompimento se o
testador já possuísse descendente e sobrevenha outro, já que a legítima já se terá por preservada.

E, por decorrência lógica, igualmente não se romperá o testamento se a legítima permanecer disponível.
Nesse caso, a teleologia protetiva da norma não incidirá.

Anote-se que se rompe, também, o testamento feito na ignorância de existirem outros herdeiros
necessários, como no caso de ascendentes, o que se estende ao cônjuge ou ao companheiro ausente,
supondo o testamenteiro que o estivesse morto.

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Por fim, dispõe a Lei que não se rompe o testamento, se o testador dispuser da sua metade, não
contemplando os herdeiros necessários de cuja existência saiba, ou quando os exclua dessa parte (art. 1.975
do CC).

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Considerando o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, discorra sobre a (im)
possibilidade de penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, relativamente
a sociedade empresária em recuperação judicial.

Comentários

Em julgamento do recurso especial 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que é possível a penhora de quotas sociais de sócio
por dívida particular por ele contraída, ainda que de sociedade empresária em recuperação judicial.

Isso porque o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas
obrigações, a teor do artigo 789 do Código de Processo Civil, bem como porque a realização da penhora não
enseja, necessariamente, e tampouco de imediato, a liquidação da quota, e não há qualquer vedação legal
para tal prática. Do contrário, prevê o artigo 861 do Código de Processo Civil a hipótese de penhora de quotas
ou ações de sócio em sociedade simples ou empresária.

É também consagrado o entendimento de que essa constrição não implica ofensa ao princípio da affectio
societatis, pelo qual não se faria pertinente a inclusão de pessoa estranha (e quiçá indesejada) no quadro
societário, uma vez que, por não ocasionar, obrigatoriamente, a liquidação da quota penhorada, não há que
se falar na inevitável inclusão de novo sócio.

Para além, há que se destacar a possibilidade conferida aos demais sócios, após a penhora da quota do
devedor, de aquisição da fração sobre a qual recaiu a medida constritiva, justamente a fim de evitar a sua
liquidação e o ingresso de terceiros no quadro social da empresa, sem prejuízo de outras faculdades
legalmente previstas com o mesmo fim, com fulcro no artigo 861 do Código de Processo Civil, de modo que
existe uma pluralidade de situações que podem ocorrer no trâmite da execução antes mesmo de eventual
liquidação. Por tais razões, impera a viabilidade da referida penhora, ainda que a sociedade empresária
relativa ao sócio devedor esteja em recuperação judicial.

Vale trazer à tona os seguintes julgados a respeito:

“Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota”. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

“É perfeitamente possível a penhora de cotas de sociedade limitada, haja vista que tal constrição, além de
não implicar ofensa ao princípio da affectio societatis, não encontra nenhuma vedação legal”. STJ. 3ª Turma.
AgRg no AREsp 551.613/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 29/06/2020.

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“A penhora de quotas sociais não encontra vedação legal nem afronta o princípio da affectio societatis, já
que não enseja, necessariamente, a inclusão de novo sócio”. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1058599/RS, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/11/2017.

3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Na cidade de Bom Jesus da Penha, no sul de Minas Gerais, um traficante acabou sendo
enganado por seu fornecedor após comprar uma grande quantidade de drogas para revender no final do
ano. Segundo ele, o prejuízo foi de R$ 19 mil com a compra de dois tijolos, um de maconha e outro de
cocaína, porém, ele acabou recebendo dois tijolos de barro, que são usados em construções.
Revoltado, ele gravou um vídeo em que ameaça o fornecedor. "Você me aguarde, agora você vai ver o que
é uma pessoa ruim nessa Terra". Porém, o homem acabou sendo preso pela Polícia Civil com 35 papelotes
de cocaína, uma balança de precisão, cigarros falsificados e mais de R$ 3 mil em dinheiro vivo. A compra dos
tijolos de barro no lugar da droga atrai responsabilidade penal para o traficante enganado? Fundamente.

Comentários

O erro é uma falsa representação da realidade; um equívoco acerca dos atributos de pessoa, coisa, situação
de fato ou de direito. No erro de tipo, o erro incide sobre um fato que compõe um dos elementos do tipo.

O legislador prevê que o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite
a punição por crime culposo, se previsto em lei (CP, art. 20).

O erro de tipo pode ser classificado como essencial, aquele que recai sobre elementar, elemento essencial
do tipo, ou seja, sobre fato constitutivo do crime, sem o qual o crime não existiria; e acidental, que recai
sobre circunstâncias acessórias da pessoa ou da coisa estranhas ao tipo, que não constituem elementares do
tipo. Sem ele, o crime não deixa de existir. Assim, a característica do erro de tipo essencial é ele impedir o
agente de compreender o caráter criminoso do fato ou de conhecer a circunstância.

Por sua vez, no delito putativo por erro de tipo, o sujeito quer praticar um crime, mas, em face do erro,
desconhece que está cometendo um irrelevante penal. Assim, o delito putativo é o delito erroneamente
suposto, imaginário, que só existe na mente do agente. Na hipótese apresentada, o sujeito quer praticar o
tráfico ilícito de entorpecentes, mediante a conduta de adquirir drogas para revendê-la, constante do
preceito primário do art. 33 da Lei nº 11.343/06; todavia adquiriu barro, substância que não encontra
descrição como proibida na Portaria nº 344 da ANVISA, que complementa o referido tipo penal (norma penal
em branco).

Desta feita, ao incidir em erro essencial que, portanto, afasta o dolo e a culpa da conduta do agente, este
não poderá ser punido por ter sido enganado.

Vamos à régua de correção:

Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão

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Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por


microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Erro de tipo - conceito O erro é uma falsa representação da realidade; um
equívoco acerca dos atributos de pessoa, coisa, situação
de fato ou de direito. No erro de tipo, o erro incide sobre
um fato que compõe um dos elementos do tipo.
30%
O legislador prevê que o erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei
(CP, art. 20).
Erro de tipo - classificação O erro de tipo pode ser classificado como essencial,
aquele que recai sobre elementar, elemento essencial do
tipo, ou seja, sobre fato constitutivo do crime, sem o qual
o crime não existiria; e acidental, que recai sobre
circunstâncias acessórias da pessoa ou da coisa
30%
estranhas ao tipo, que não constituem elementares do
tipo. Sem ele, o crime não deixa de existir. Assim, a
característica do erro de tipo essencial é ele impedir o
agente de compreender o caráter criminoso do fato ou
de conhecer a circunstância.
Delito putativo por erro Por sua vez, no delito putativo por erro de tipo, o sujeito
de tipo quer praticar um crime, mas, em face do erro,
desconhece que está cometendo um irrelevante penal.
Assim, o delito putativo é o delito erroneamente
suposto, imaginário, que só existe na mente do agente.
Na hipótese apresentada, o sujeito quer praticar o tráfico
ilícito de entorpecentes, mediante a conduta de adquirir
drogas para revendê-la, constante do preceito primário 30%
do art. 33 da Lei nº 11.343/06; todavia adquiriu barro,
substância que não encontra descrição como proibida na
Portaria nº 344 da ANVISA, que complementa o referido
tipo penal (norma penal em branco).
Desta feita, ao incidir em erro essencial que, portanto,
afasta o dolo e a culpa da conduta do agente, este não
poderá ser punido por ter sido enganado.
Questão 2. No dia 21 de janeiro de 2021, o Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Açailândia/MA
proferiu sentença condenando JOÃO DAS DORES às penas de 02 anos e 06 meses de reclusão, e pagamento
de 60 dias-multa, pela violação aos mandamentos proibitivos constantes do art. 155, caput, do Código
Penal.

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A fixação da pena acima do mínimo legal se deu em face da existência de duas condenações anteriores
transitadas em julgado, de 2015 e 2019, pela mesma incidência penal, que foram consideradas para fins de
reincidência e para valoração negativa dos maus antecedentes e da personalidade do condenado.
A defesa, irresignada, apelou da sentença condenatória; e, em suas razões, sustentou a impossibilidade da
dupla consideração das condenações anteriores para o agravamento da pena. Na qualidade de Promotor de
Justiça, em contrarrazões, opinaria pelo acolhimento da tese defensiva? Fundamente.

Comentários

Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior – CP, art. 63.

O legislador não faz distinção quanto à natureza dos crimes, caracterizando-se a reincidência entre crimes
idênticos ou não, dolosos, culposos, dolosos e culposos, culposos e dolosos, tentados, consumados, tentados
e consumados, consumados e tentados.

O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, tem entendimento no sentido de que, considerada e valorizada
a reincidência para estabelecer a pena-base acima do mínimo legal, incabível considerá-la novamente para
agravar a pena, sob o risco de sancionar-se o bis in idem. Neste sentido, cita a Súmula 241 STJ:

A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,


simultaneamente, como circunstância judicial.

No entanto, a existência de duas condenações transitadas em julgado em desfavor do agente permite a


fixação da pena-base acima do mínimo legal, em decorrência dos maus antecedentes do réu, e o
reconhecimento da agravante da reincidência, sem que se vislumbre a ocorrência de bis in idem.

Por sua vez, as condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64, inciso I, do
Código Penal afastam os efeitos da

reincidência, mas não impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das penas.

Inovando a jurisprudência dos tribunais superiores, A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
submeteu, para julgamento sob o rito dos repetitivos, um recurso especial em que se discute o uso de
condenações anteriores na dosimetria da pena. A tese proposta é a seguinte:

"Condenações criminais transitadas em julgado, não utilizadas para caracterizar a reincidência,


somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais,
não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social do
agente".

O entendimento adotado no STJ, tanto pela Quinta quanto pela Sexta Turma, é de que não é possível a
utilização de condenações penais pretéritas, ainda que transitadas em julgado, como fundamento para a
valoração negativa da personalidade.

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Com base no exposto, em sede de contrarrazões recursais, opinaria pelo acolhimento parcial do pedido da
defesa, para que a condenação anterior a 05 anos não possa ser utilizada para valorização negativa da
personalidade do agente; e traga, como consequência, a redução da pena imposta ao apelante.

Vamos à régua de correção:

Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Reincidência Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo
crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no
País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior – CP, art. 63.
O legislador não faz distinção quanto à natureza dos 30%
crimes, caracterizando-se a reincidência entre crimes
idênticos ou não, dolosos, culposos, dolosos e culposos,
culposos e dolosos, tentados, consumados, tentados e
consumados, consumados e tentados.
Coexistência de O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, tem
condenações anteriores entendimento no sentido de que, considerada e
para reincidência valorizada a reincidência para estabelecer a pena-base
acima do mínimo legal, incabível considerá-la
novamente para agravar a pena, sob o risco de
sancionar-se o bis in idem. Neste sentido, cita a Súmula
241 STJ:
A reincidência penal não pode ser considerada como
30%
circunstância agravante e, simultaneamente, como
circunstância judicial.
No entanto, a existência de duas condenações
transitadas em julgado em desfavor do agente permite a
fixação da pena-base acima do mínimo legal, em
decorrência dos maus antecedentes do réu, e o
reconhecimento da agravante da reincidência, sem que
se vislumbre a ocorrência de bis in idem.
Coexistência de Por sua vez, as condenações alcançadas pelo período
condenações anteriores depurador de 5 anos, previsto no art. 64, inciso I, do
ao período de 05 anos Código Penal afastam os efeitos da
reincidência, mas não impedem a configuração de maus 30%
antecedentes, permitindo o aumento da pena-base
acima do mínimo legal e a devida individualização das
penas.

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Inovando a jurisprudência dos tribunais superiores, A


Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
submeteu, para julgamento sob o rito dos repetitivos,
um recurso especial em que se discute o uso de
condenações anteriores na dosimetria da pena. A tese
proposta é a seguinte:
"Condenações criminais transitadas em julgado, não
utilizadas para caracterizar a reincidência, somente
podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a
título de antecedentes criminais, não se admitindo sua
utilização também para desvalorar a personalidade ou a
conduta social do agente".
O entendimento adotado no STJ, tanto pela Quinta
quanto pela Sexta Turma, é de que não é possível a
utilização de condenações penais pretéritas, ainda que
transitadas em julgado, como fundamento para a
valoração negativa da personalidade.
Com base no exposto, em sede de contrarrazões
recursais, opinaria pelo acolhimento parcial do pedido
da defesa, para que a condenação anterior a 05 anos não
possa ser utilizada para valorização negativa da
personalidade do agente; e traga, como consequência, a
redução da pena imposta ao apelante.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 4. Você, Promotor(a) de Justiça, recebe os autos de um inquérito policial, noticiando a ocorrência
de um furto ocorrido num mercado local, de um desodorante, avaliado em R$ 6,50. O investigado é
primário e tem bons antecedentes. Nesse contexto, ofereceria acordo de não persecução?

Comentários

O Ministério Público é o dominus litis, é dizer, o titular privativo da ação penal pública. Cabe a ele, e
exclusivamente a ele, avaliar, no caso concreto, se é o caso de disparar a persecução penal. Afirmamos que
exclusivamente, pois ainda que o magistrado discorde da postura do Promotor e determine a remessa dos
autos ao PGJ, na forma do artigo 28, do CPP (redação originária), quem dará a última palavra é a chefia da
instituição Ministério Público.

Não é o titular exclusivo da ação penal, pois sobra a hipótese da ação penal privada subsidiária da pública,
regrada no artigo 29, do CPP.

O filtro que o representante do Ministério Público deve fazer ao receber os autos do inquérito
necessariamente deve passar pela viabilidade da persecução, a possibilidade de que eventual denúncia
chegue a um resultado condenatório. Veja, possibilidade e não probabilidade.

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Se de antemão o Promotor verificar que a imputação será infrutífera, qualquer que seja a causa – evidente
excludente da ilicitude, incidência do princípio da insignificância, falta de justa causa – não deve promovê-
la.

Assim, no caso vertente, o furto é insignificante, não havendo uma lesão significativa ao bem jurídico
tutelado pela norma: o patrimônio da vítima.

Em obediência ao artigo 28-A, que diz “não sendo o caso de arquivamento”, não seria o caso de oferecer
acordo de não persecução, senão promover o arquivamento do expediente.

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Em atenção ao contido na Lei n.º 11.343/2006, discorra sobre a emissão de juízo de valor por
parte do delegado de polícia quando da elaboração do relatório policial. (máximo 15 linhas)
Comentários

Prevê o artigo 10, § 1º, do Código de Processo Penal que o inquérito policial será concluído com a elaboração,
pela autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz
competente.

Prevalece o entendimento de que a peça terá “conteúdo eminentemente descritivo” e que “pelo menos em
regra, deve a autoridade policial abster-se de fazer qualquer juízo de valor no relatório”47, isto porque a
opinio delicti deve ser formada pelo titular da ação penal: seja o Ministério Público, seja o ofendido ou seu
representante legal.

Caberá, portanto, à autoridade policial fazer um esboço das diligências e relatar objetivamente o apurado.

Contudo, de acordo com o art. 52, inciso I, da Lei de Drogas, findos os prazos do inquérito policial – prazo de
30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto –, a autoridade de polícia
judiciária:

I – relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à


classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da
prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

Assim, cabe ao delegado não somente o enquadramento da conduta do investigado em algum tipo penal,
mas também fazê-lo de forma fundamentada, o que leva à compreensão de que é possível, se não necessária,

47
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020, p. 230.

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a emissão de juízo de valor pela autoridade policial nessas circunstâncias. O objetivo imediato da norma é
diferenciar a conduta do usuário e do traficante de drogas.

Por óbvio, mesmo nesse caso da Lei de Drogas, a opinião do delegado não vincula o Ministério Público, que
é titular da ação penal.

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. Segundo dispõe o Código Eleitoral, a competência para o registro de candidatura a presidente
e vice-presidente da República, senador, governador e vice-governador, e deputado federal é do Tribunal
Superior Eleitoral?

Comentários

Os candidatos a Presidente e Vice-Presidente da República devem ser registrados no Tribunal Superior


Eleitoral.

Entretanto, nos Tribunais Regionais Eleitorais devem ser registrados os candidatos a Senador da República,
Deputado Federal, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Deputado Estadual e
Deputado Distrital, como determina o art. 89, incs. I e II, do Código Eleitoral.

“Eleições presidenciais. Autorização para registro de candidatura. Presidente e Vice-Presidente


da República. Resolução TSE no 20.993/02. Requisitos atendidos. Deferimento. Transcorrido o
prazo sem impugnação e estando em termos a documentação relativa à instrução do presente
feito, bem como atendidos os requisitos legais e os da Resolução pertinente (Resolução TSE n o
20.993/02), é de se deferir o registro das candidaturas para os cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República” (TSE, RCPR no 109, Rel. Min. Barros Monteiro, DJU 01o.08.2002).

3.9 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. Disserte sobre o artigo 155 do CTN. (20 linhas no máximo)

Comentários

Essa regra é aplicável às moratórias concedidas em caráter individual, quando se verifique posteriormente
que o sujeito passivo não satisfazia ou deixou de satisfazer os requisitos necessários para sua fruição. Embora
o dispositivo fale de revogação, na verdade o termo correto é anulação, porque o ato concessivo da
moratória é retirado do ordenamento jurídico por não possuir respaldo legal, acarretando efeitos ex tunc
(retroativos). Tanto é assim que o sujeito passivo deverá recolher o tributo que não pagou acrescido de
atualização monetária e juros de mora.

A imposição de sanções pecuniárias, por outro lado, não é automática. Se o sujeito passivo agiu de boa fé,
não deve ser aplicado a ele penalidades, conforme determina o inciso II do dispositivo. Por outro lado, se o

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sujeito passivo ou o terceiro em benefício daquele atuou com dolo ou simulação, a anulação da moratória
deve ser acompanhada da imposição da penalidade cabível, conforme determina o inciso I.

O mesmo ocorre com relação à contagem do prazo prescricional, conforme evidencia o parágrafo único do
artigo 155. Se o contribuinte não laborou com má-fé, a anulação da moratória só pode ser efetuada antes
de decorrido o prazo prescricional para cobrança do crédito. Caso tenha havido dolo ou simulação, o tempo
decorrido entre a moratória e a sua anulação não é computado para efeito de prescrição do direito à
cobrança.

3.10 - DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS


Questão 1. Quais as principais formas de atuação extrajudicial do Ministério Público na tutela coletiva?

Comentários

No âmbito da tutela coletiva, vários instrumentos extrajudiciais podem ser utilizados pelo Ministério Público,
dentre o quais se destaca o inquérito civil, com regulamentação na resolução 23/07 do CNMP e previsão
constitucional no art. 129, III da CF/88, a recomendação, com previsão na resolução 164/2017 do CNMP,
bem como o Termo de Ajustamento de Conduta, com previsão na resolução 179/2017, também do CNMP,
e a audiência pública, com previsão na resolução 82/2012. Com exceção desta última, todas as demais são
atividade fim do Ministério Público, pois podem adentrar no mérito da tutela dos interesses difusos e
coletivos. A audiência pública é atividade meio, pois ela se destina à colheita de elementos para posterior
encaminhamento.

3.11 - LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL DO MP


Questão 1. É admissível que membro do Ministério Público, na qualidade de órgão interveniente pela
qualidade da parte, interponha recurso em desfavor da parte cuja assistência enseja a atuação
institucional?

Comentários

A questão sob exame é objeto de controvérsia na doutrina.

Hugo Nigro Mazzilli nega a possibilidade de atuação no processo e de interposição de recursos em


detrimento da parte que reclama a atuação protetiva, a partir da consideração de que o Ministério Público
encontra-se ligado ao interesse da pessoa com vulnerabilidade (MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do
Ministério Público. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996, 31).

Paulo Cezar Pinheiro Carneiro afirma a possibilidade de interposição de recursos em detrimento da parte
que reclama a atuação protetiva em caso de nulidade processual, a partir da constatação de que o Ministério
Público, nessa hipótese, não se despe da condição de fiscal imparcial (CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O
Ministério Público no Processo Civil e Penal. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 13).

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