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CURSO PREPARATÓRIO PARA

OAB 2012-1

DIREITO PROCESSUAL DO
TRABALHO

Professor: Carlos Alberto Begalles

2012-1
Direito Processual do Trabalho

SUMÁRIO

1. COMPETÊNCIA .............................................................................................................. 8
1.1 - Noções gerais .......................................................................................................... 8
1.2 - Competência em razão da matéria .......................................................................... 8
1.2.1 - Relação de trabalho .......................................................................................... 9
1.2.2 - Greve................................................................................................................. 9
1.2.3 Ações que envolvem sindicatos e trabalhadores ............................................... 10
1.2.4 Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data .................................... 10
1.2.5 Ações por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho ....... 10
1.2.6 Penalidades administrativas .............................................................................. 10
1.2.7 Contribuições previdenciárias ............................................................................ 11
1.2.8 Outras controvérsias .......................................................................................... 11
1.2.9 - Competência normativa ................................................................................... 11
1.2.10 - Falência ......................................................................................................... 11
1.3 - Competência territorial ........................................................................................... 11
1.3.1 Local da prestação dos serviços........................................................................ 12
1.3.2 - Empregados viajantes ..................................................................................... 13
1.3.3 - Empregados brasileiros laborando no estrangeiro .......................................... 13
1.4 - Competência funcional ........................................................................................... 13
1.5 - Prorrogação da competência ................................................................................. 14
1.6 - Conflito de competência ......................................................................................... 14
2. ATOS, TERMOS E PRAZOS PROCESSUAIS. DESPESAS PROCESSUAIS .............. 15
2.1 - Atos processuais - características.......................................................................... 15
2.1.1 - Publicidade ...................................................................................................... 15
2.1.2 - Documentação ................................................................................................ 15
2.1.3 - Certificação...................................................................................................... 15
2.2 - Termo processual .................................................................................................. 16
2.3 - Prazo processual ................................................................................................... 16
2.3.1 - Prazo legal, judicial ou convencional ............................................................... 16
2.3.2 - Prazo comum ou particular .............................................................................. 17
2.3.3 - Prazos peremptórios e dilatórios ..................................................................... 17
2.4 - Início do prazo e início da contagem ...................................................................... 17
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2.5 - Suspensão e interrupção do prazo ........................................................................ 18
2.6 - Prazo para a Fazenda Pública ............................................................................... 19
2.7 - Prazo para os litisconsortes ................................................................................... 19
2.8 - Custas e emolumentos .......................................................................................... 19
2.8.1- Custas .............................................................................................................. 19
2.8.2 - Emolumentos................................................................................................... 20
2.8.3 - Outras disposições acerca das custas e emolumentos ................................... 21
3. PARTES E PROCURADORES ..................................................................................... 21
3.1 - Capacidade processual das partes ........................................................................ 21
3.2 Incapacidade processual ou irregularidade de representação das partes ............... 21
3.3 - Capacidade postulatória (jus postulandi) ............................................................... 21
3.4 - Mandato tácito e constante em ata (apud acta) ..................................................... 22
3.5 - Da substituição das partes ..................................................................................... 22
3.6 Da substituição dos procuradores ............................................................................ 22
3.7 - Substituição processual ......................................................................................... 23
3.8 - Assistência judiciária e justiça gratuita ................................................................... 23
3.9 Honorários advocatícios ........................................................................................... 23
4. NULIDADES .................................................................................................................. 24
4.1- Conceito .................................................................................................................. 24
4.2 – Normas da CLT ..................................................................................................... 24
4.3- Princípios dos vícios dos atos processuais ............................................................. 25
5. PETIÇÃO INICIAL ......................................................................................................... 26
5.1 - Apresentação ......................................................................................................... 26
5.2 - A petição inicial poderá ser apresentada verbal ou escrita .................................... 26
5.3 - Requisitos da petição inicial ................................................................................... 26
5.4 - Os meios de prova ................................................................................................. 26
5.5 - Requerimento para citação do réu ......................................................................... 27
5.6 - Valor da causa ....................................................................................................... 27
5.7 - Indeferimento da petição inicial .............................................................................. 28
5.8 - Tutela antecipada................................................................................................... 28
6. DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................................. 28
6.1 - Noções gerais ........................................................................................................ 29
6.2 - Efeitos decorrentes da distribuição ........................................................................ 29
7. CITAÇÃO ...................................................................................................................... 29
7.1 - Formas de citação no processo do trabalho .......................................................... 29
7.1.1 – Postal .............................................................................................................. 29
7.1.2 - Citação por meio de Oficial de Justiça ............................................................ 30

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7.1.3 - Por edital ......................................................................................................... 30
7.2 - Inexistência ou nulidade de citação ....................................................................... 31
8. AUDIÊNCIA ................................................................................................................... 31
8.1- Noções gerais da audiência .................................................................................... 31
8.2 - Presença do reclamante ........................................................................................ 32
8.3 - Presença do reclamado ......................................................................................... 33
8.4 - Primeiro ato processual da audiência: tentativa de conciliação ............................. 33
19. DEFESA ...................................................................................................................... 33
9.1 - A resposta .............................................................................................................. 34
9.2- A resposta do réu poderá ser oral ou escrita ......................................................... 34
9.3 - Defesa quanto ao processo e quanto ao mérito..................................................... 34
9.4 - Formas de defesa do réu ....................................................................................... 34
9.5 - Exceção de incompetência territorial ..................................................................... 35
9.6 - Exceção de impedimento ....................................................................................... 35
9.7 - Exceção de suspeição ........................................................................................... 36
9.8 - Contestação ........................................................................................................... 37
9.8.1 - Considerações gerais ...................................................................................... 37
9.8.2 - Tipos de contestação ...................................................................................... 37
9.8.3 Requisitos e técnica de elaboração da contestação .......................................... 37
10 - Reconvenção.............................................................................................................. 38
11. TEORIA GERAL DA PROVA ....................................................................................... 38
11.1 - Noções gerais ...................................................................................................... 38
11.2 - Objeto da prova.................................................................................................... 38
11.3 - Distribuição do ônus da prova .............................................................................. 39
11.4 - Revelia e produção de provas.............................................................................. 39
12. PROVAS EM ESPÉCIE ............................................................................................... 39
12.1 - Interrogatório e depoimento pessoal das partes .................................................. 39
12.2 Confissão ............................................................................................................... 41
12.3. Prova documental ................................................................................................. 41
12.4. Prova testemunhal ................................................................................................ 42
12.5. Prova pericial......................................................................................................... 44
12.6. Inspeção judicial .................................................................................................... 45
13. RAZÕES FINAIS ......................................................................................................... 45
14. SENTENÇA ................................................................................................................. 45
14.1. Julgamento extra petita, ultra petita e citra petita .................................................. 46
14.2. O princípio da identidade física do Juiz ................................................................. 46
14.3. Publicação da sentença ........................................................................................ 47

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15. COISA JULGADA ........................................................................................................ 47
16. RECURSO ................................................................................................................... 49
17. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ................................................................................ 50
18. RECURSO ORDINÁRIO.............................................................................................. 52
19. RECURSO DE REVISTA............................................................................................. 53
20. EMBARGOS PARA O TST .......................................................................................... 54
21. RECURSO EXTRAORDINÁRIO .................................................................................. 55
22. AGRAVO DE INSTRUMENTO .................................................................................... 55
24. AGRAVO DE PETIÇÃO ............................................................................................... 57
25. EXECUÇÃO TRABALHISTA ....................................................................................... 58
25.1. Princípios regentes do processo de execução. ..................................................... 58
25.1.1. Princípio da patrimonialidade ou da natureza real. ......................................... 58
25.1.2. Princípio da limitação expropriatória. .............................................................. 58
25.1.3. Princípio do interesse ao credor ou da relativização da isonomia entre os
litigantes. .................................................................................................................... 59
25.1.4. Princípio da dignidade do devedor. ................................................................ 59
25.1.5. Princípio da utilidade. ..................................................................................... 59
25.1.6. Princípio da disponibilidade. ........................................................................... 59
25.1.7. Princípio da especificação. ............................................................................. 60
25.1.8. Princípio da norma processual mais eficaz..................................................... 60
26. Liquidação da sentença ............................................................................................... 60
26.1 Introdução .............................................................................................................. 60
26.2 A falta de elementos para liquidaç ......................................................................... 61
26.3 O princípio da fidelidade ao título ........................................................................... 61
26.4 Espécies de liquidação e procedimento ................................................................. 61
26.5 Liquidação com “dano zero” ................................................................................... 63
27. Impugnação ao cálculo ................................................................................................ 63
28. Títulos executivos ........................................................................................................ 64
28.1 Introdução .............................................................................................................. 64
28.2 Títulos executivos judiciais ..................................................................................... 65
28.3 Títulos executivos extrajudiciais ............................................................................. 65
29. Competência................................................................................................................ 65
29.1 Título executivo judicial .......................................................................................... 65
29.2 Título executivo extrajudicial .................................................................................. 66
30. Execução provisória .................................................................................................... 66
30.1 Introdução .............................................................................................................. 66
30.2 Procedimento ......................................................................................................... 67
30.3 Requerimento do credor ......................................................................................... 67
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30.2 Autuação apartada ................................................................................................. 67
30.3 Até onde vai à execução provisória ........................................................................ 68
30.4 Caução ................................................................................................................... 68
30.5 Penhora de dinheiro ............................................................................................... 69
30.6 Execução provisória e obrigação de fazer ............................................................. 69
31. Legitimidade ................................................................................................................ 69
31.1 Legitimidade ativa .................................................................................................. 69
31.1.2 Qualquer interessado ...................................................................................... 70
31.1.3 Ex officio .......................................................................................................... 70
31.1.5 Espólio, herdeiros ou sucessores .................................................................... 70
31.1.6 Cessionário ou sub-rogado .............................................................................. 71
31.1.7 Legitimidade extraordinária.............................................................................. 71
31.2 Legitimidade passiva .............................................................................................. 71
31.2.1 Devedor ........................................................................................................... 71
31.2.2 Sucessor no caso de alienação de estabelecimento comercial ....................... 72
31.2.3 Espólio, herdeiros ou sucessores .................................................................... 72
31.2.4 O fiador ............................................................................................................ 72
31.2.6 Do sócio ........................................................................................................... 73
31.2.7 Do cônjuge....................................................................................................... 74
32. Penhora ....................................................................................................................... 77
32.1 Noções gerais ........................................................................................................ 77
32.2 Efeitos .................................................................................................................... 77
32.3 Objeto da penhora.................................................................................................. 78
32.4 Impenhorabilidade .................................................................................................. 78
32.57 Bem de família ..................................................................................................... 80
32.6 Bem dado em garantia real .................................................................................... 81
32.7 Penhora de imóvel ................................................................................................. 81
32.8 Avaliação ................................................................................................................ 82
32.8 Depositário ............................................................................................................. 82
32.9 Intimação da penhora............................................................................................. 83
33. Embargos à execução. ................................................................................................ 83
34. Prescrição intercorrente. .............................................................................................. 84
35. Particularidades da execução de contribuições previdenciárias. ................................. 85
36. Exceção de pré-executividade. .................................................................................... 86
37. Da fraude de execução trabalhista. ............................................................................. 87
38. Expropriação de bens .................................................................................................. 87
38.1 Arrematação ........................................................................................................... 88

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38.1 Edital ...................................................................................................................... 88
38.2 Hasta pública propriamente dita ............................................................................. 89
38.3 Auto de arrematação .............................................................................................. 90
38.3 Carta de arrematação ............................................................................................ 90
38.4 Efeitos da arrematação .......................................................................................... 90
38.4 Desfazimento da arrematação ............................................................................... 91
39. Adjudicação ................................................................................................................. 92
40. Remição....................................................................................................................... 92
41. Suspensão e extinção da execução. ........................................................................... 92
42. Embargos de terceiro................................................................................................... 93
43. Execução em face da Fazenda Pública ....................................................................... 94

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Direito Processual do Trabalho
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
PROVA DA OAB/PRIMEIRA FASE
Novembro de 2011

1. COMPETÊNCIA

1.1 - Noções gerais

Segundo a lei e a doutrina a competência é dividida em


absoluta (em razão da matéria, das pessoas e funcional) e relativa
(valor da causa e territorial).
No processo do trabalho, atualmente, não existe a competência
em razão do valor da causa e também em razão das pessoas.
Não existe a competência em razão do valor da causa porque não
há um órgão especial dentro da organização judiciária trabalhista
para julgar ações de valores menores ou maiores. O que existe,
atualmente, são procedimentos diferentes (ritos processuais
diferentes) para ações de até 40 salários mínimos ou ações acima
de 40 salários mínimos. Assim, todas as ações trabalhistas
julgadas em primeiro grau são julgadas unicamente pelas Varas do
Trabalho. Não há, portanto, na Justiça do Trabalho, um órgão
jurisdicional, como na Justiça Comum Estadual ou Federal, chamado
Juizado Especial, que julga as ações de valores menores.
Quanto à competência em razão das pessoas, também não existe
essa espécie de competência no processo do Trabalho, pois todos
aqueles que entabulam contratos que se encaixam na “relação de
trabalho”, conforme art. 114, I, da CF, terão suas demandas
julgadas pela Justiça do Trabalho, seja o particular, seja o
agente público, seja o Estado, sejam as pessoas jurídicas de
Direito Público etc. Assim, um prefeito que contrate uma empregada
para laborar como doméstica em sua residência, caso não pague as
obrigações trabalhistas, a ação em face do dele será ajuizada na
justiça do trabalho.
Portanto, tecnicamente, existe no processo do trabalho a
competência em razão da matéria, em razão do território e em razão
da função.
1.2 - Competência em razão da matéria

A competência material é determinada segundo a natureza da


relação jurídica a ser decidida: matéria de família, competência
do juízo de família; matéria criminal, competência do juízo
criminal; matéria eleitoral, competência do juízo eleitoral. A
competência material da Justiça do Trabalho está declinada no art.
114 da CF/88.

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1.2.1 - Relação de trabalho

A justiça do trabalho julga ações decorrentes da relação de


trabalho. Isso significa dizer que além de julgar a relação de
emprego regida pelos arts. 2º e 3o da CLT, ela julga, ainda, as
lides que envolvam os trabalhadores autônomos de um modo geral,
estagiários, representantes comerciais, empreiteiros pessoas
físicas etc., ou seja, toda relação de trabalho que tenha por
objetivo a prestação pessoal de trabalho em prol de outrem. Há um
caráter intuito personae com relação ao prestador dos serviços,
seja autônomo ou empregado.
Existem algumas exceções que são:

- os servidores estatutários ocupantes de cargos criados por lei,


de provimento efetivo ou em comissão, incluídos as autarquias e
fundações públicas (ADIn 3395). Se o servidor público for
celetista a competência é da Justiça do Trabalho. Se for
estatutário, será da Justiça Comum Estadual (servidores municipais
e estaduais) ou Federal (servidores federais). Quanto aos
servidores temporários se a lei disser que são celetistas a
competência é da Justiça do Trabalho. Todavia, se a lei não fizer
referência ao regime jurídico do servidor (celetista ou
estatutário) o STF entende que a competência é da Justiça Comum,
ainda que a causa de pedir e o pedido esteja fundamento em verbas
tipicamente celetistas (STF - AgRg-MC-RCL 4.069 - Rel. Min. Marco
Aurélio - DJe 06.06.2011 - p. 17).

- as relações de consumo, segundo a jurisprudência atual do TST


(TST - RR 5148/2006-018-12-00.7 - Rel. Min. Antônio José de Barros
Levenhagen - DJe 10.09.2010 - p. 967), pois pode haver relação de
trabalho de natureza trabalhista e relação de trabalho de natureza
de consumo (art. 3°, § 2° do CDC) e, no último caso, a competência
não é da Justiça do Trabalho.

- quanto à ação para cobrança de honorários advocatícios o STJ,


por meio da súmula 363, entende que a competência é da Justiça
Comum Estadual.

1.2.2 - Greve

Segundo o art. 114, II, da CF/88 compete a Justiça do Trabalho


processar e julgar as ações que envolvem o exercício do direito de
greve. Nessa competência inclui-se a declaração da abusividade ou
não da greve, o interdito proibitório, as ações de reparação de
danos causados entre as partes etc. Se não houver norma expressa
determinando a competência às ações iniciam-se no primeiro grau
(Vara do Trabalho), todavia, se houver norma determinando a
competência do TRT ou do TST trata-se de competência funcional,
como no caso do dissídio coletivo de greve.

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Quanto à greve que envolve os servidores públicos o
entendimento, por simetria, é o mesmo da competência, ou seja, se
for estatutário a competência é da Justiça Comum (Estadual ou
Federal).

1.2.3 Ações que envolvem sindicatos e trabalhadores

Determina o art. 114, III, da CF/88, que compete a Justiça do


Trabalho processar e julgar as ações que envolvem representação
sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e
entre sindicatos e empregadores. Os casos mais comuns de ações que
se enquadram nesse dispositivo são: litígios entre sindicatos que
envolvem a representação de determinada categoria; litígios entre
sindicatos que envolvem a representação de determinada categoria
em determinado território; ações que envolvem cobrança de
contribuição sindical ou confederativa e ações que envolver
eleições sindicais.

1.2.4 Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data

Conforme determina o art. 114, III, da CF/88, compete a


Justiça do Trabalho processar e julgar os mandados de segurança,
habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver
matéria sujeita à sua jurisdição.

1.2.5 Ações por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação


de trabalho

Determina o art. 114, VI, da CF/88 que compete a Justiça o


Trabalho processar e julgar as ações de indenização por dano moral
ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. Ex.: assédio
sexual, assédio moral, acidente de trabalho, revista íntima, não
pagamento de verbas rescisórias etc.

1.2.6 Penalidades administrativas

Determina o art. 114, VII, da CF/88 que compete a Justiça do


Trabalho processar e julgar as ações relativas às penalidades
administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de
fiscalização das relações de trabalho. São as penalidades
aplicadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mas o
entendimento da doutrina é que não somente elas, mas todos os atos
administrativos que não envolvam imposição de penalidade
(indeferimento de concessão de intervalo menor do que uma hora,
interdição do estabelecimento, setor de serviço, máquina ou
equipamento ou embargo de obra etc.).
A competência, nesses casos, é funcional e do 1° grau.
Especificamente, quanto ao FGTS, o STJ, por meio da súmula 349
entende que a competência para julgar a imposição da multa pelo
não recolhimento é da Justiça Federal, pois o órgão gestou do FGTS

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é a Caixa Econômica Federal e, nesse caso, a competência é da
Justiça Federal (art. 109, I, da CF/88).
Há que se ressaltar que não somente as ações de conhecimento
são de competência da Justiça do Trabalho, mas também a execução
em razão da autuação e inscrição na dívida ativa das multas serão
executadas na Justiça do Trabalho, obedecendo ao rito da Lei n.
6.830/80.

1.2.7 Contribuições previdenciárias

O art. 114, VIII, da CF/88, preceitua que compete à Justiça do


Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas
no art. 195, incisos I, a e II, da CF/88, e seus acréscimos legais
decorrentes das sentenças que proferir.
O entendimento que prevalece atualmente é que somente a
sentença condenatória e, ainda, com relação às parcelas salariais,
é que devem ser executadas na Justiça do Trabalho (súmula 368, I,
do TST). As contribuições previdenciárias decorrentes do
reconhecimento do vínculo, onde a sentença é meramente
declaratória, prevalece o entendimento de que a competência é da
Justiça Federal.

1.2.8 Outras controvérsias

A lei pode estabelecer competência a Justiça do Trabalho para


a solução de outras controvérsias decorrentes da relação de
trabalho (art. 114, IX, da CF/88).

1.2.9 - Competência normativa

Conforme o artigo 114, parágrafo 2o, da CF/88, quando os


sindicatos se recusam à negociação ou à arbitragem, é facultado a
eles, de comum acordo, ajuizarem dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito,
respeitadas as disposições legais de proteção ao trabalho, bem
como as convencionadas anteriormente.
A competência para julgamento do dissídio coletivo é do
Tribunal Regional do Trabalho onde o litígio estiver acontecendo.
Caso o litígio se estenda por mais de uma região (Estado), a
competência passa a ser do TST (art. 2o, I, a, da Lei 7.701/88).

1.2.10 - Falência

Quando existe falência o processo de conhecimento deve ser


dirimido pela Justiça do Trabalho (art. 114, I, da CF/88 e art.
5°, § 2° da Lei n. 11.101/2005), pois a matéria decorre da relação
de trabalho. Após o trânsito em julgado e a liquidação da
sentença/acórdão deve a parte habilitar o seu crédito no juízo
universal.

1.3 - Competência territorial

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A competência territorial é a aquela que determina em que foro


a causa deve ser processada. Cada órgão jurisdicional tem uma
localidade onde funcionam os órgãos do Poder Judiciário. Esse
lugar, normalmente designado de foro, tem competência sobre uma
extensão territorial determinada por lei. No processo do trabalho,
a diretriz geral acerca da competência territorial está no artigo
651 da CLT.

1.3.1 Local da prestação dos serviços

A competência territorial da Justiça do Trabalho para o


dissídio individual, como diretriz geral, firma-se em razão do
local da prestação de serviços. Assim, se o empregado foi
contratado em Goiânia e prestou serviços em Goiânia, à competência
para dirimir a lide é de uma das Varas do Trabalho de Goiânia.
Essa opção do legislador firma-se no fato de que no local de
trabalho estão as provas da relação laboral; inclusive, a
jurisprudência não admite foro de eleição no contrato de trabalho,
mormente quando visa prejudicar o efetivo direito de ação do
empregado. Há que se ressaltar que se o local da contratação e o
local da prestação dos serviços são diferentes, neste caso, o
empregado pode optar por um ou por outro local, conforme art. 651,
parágrafo 3o da CLT. Apesar da contradição literal entre a parte
final do caput do art. 651 e o seu parágrafo 3o a jurisprudência é
pacífica no sentido de que se deve dar concretização da mens
legis, que foi a de facilitar o acesso à justiça daquele empregado
que prestou serviços em localidade diversa daquela em que foi
contratado. É o caso do empregado contratado na cidade em que
reside para trabalhar em localidade diversa.
A divergência surge quando o empregado presta serviços em
vários locais. Por exemplo, é contratado em São Paulo, trabalha no
Rio de Janeiro, Salvador e, posteriormente, em Belém. Qual a
localidade competente para dirimir o feito?
Martins entende que nesse caso é o último local de trabalho1,
entretanto, o doutrinador não justifica seu ponto de vista.
Diferentemente do citado autor, entendo que, se o empregado
labora em várias localidades, ele pode escolher aquela que mais
lhe favoreça, tendo em vista que o escopo do legislador é
proporcionar ao empregado menor custo para o ajuizamento da ação e
maior facilidade na produção da prova. Além disso, se adotarmos a
tese do professor Martins, um empregado que laborou para a mesma
empresa 3 anos em São Paulo, 2 anos no Rio de Janeiro, 5 anos em
Salvador e 15 dias em Belém teria que ajuizar a ação em Belém. A
nós parece claro que o escopo da acessibilidade e da facilidade na
produção da prova não pode ser alcançado se o empregado tiver que
ajuizar a ação em Belém, mesmo residindo em São Paulo, local onde
também trabalhou. Esse, inclusive, é o entendimento do C. TST.2

1
Direito processual do trabalho. 20a ed. São Paulo: Atlas. 2003. p. 128.
2
TST – CC 711443 – SBDI 2 – Rel. Min. João Oreste Dalazen – DJU 23.02.2001 – p. 646.
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1.3.2 - Empregados viajantes

Conforme o parágrafo 1o, do art. 651 da CLT: “Quando for parte


no dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Vara da
localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado
esteja subordinado e, na falta, será competente a Vara da localização em
que o empregado tenha domicilio ou a localidade mais próxima”.
Assim, a competência para o julgamento de reclamação
trabalhista de empregado viajante é o local da agência ou filial à
qual está subordinado. Caso não tenha agência ou filial, a
competência é da Vara da localidade de domicílio do empregado ou a
localidade mais próxima.

1.3.3 - Empregados brasileiros laborando no estrangeiro

Preceitua o art. 651, parágrafo 2o, da CLT que: “A competência


da Vara, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em
agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e
não haja convenção internacional dispondo em contrário”.
Desse modo, um empregado contratado no Brasil, e que presta
serviços no estrangeiro, como, por exemplo, um empregado do Banco
do Brasil que labora em Paris, poderá ajuizar sua ação no Brasil,
desde que seja brasileiro e não haja convenção em contrário.
Quando ao direito material a ser aplicado ao caso, o TST, com
fulcro no art. 198 do Código de Bustamante, entende que deve ser o
direito material do país da prestação dos serviços, conforme
Enunciado 207.
Já para os trabalhadores contratados no Brasil e transferidos
por empresas prestadoras de serviços de engenharia - inclusive
consultoria, projetos e obras, montagens, gerenciamento e
congêneres - ocorrerá à aplicação da legislação brasileira de
proteção ao trabalho, quando mais favorável do que a legislação
territorial no conjunto de normas e em relação a cada matéria (Lei
n. 7.064/82, art. 3o).

1.4 - Competência funcional

A competência funcional “é determinada pela natureza especial


e pelas exigências especiais das funções que o magistrado é
chamado a exercer num determinado processo”.3
A competência funcional pode ser horizontal ou vertical. A
horizontal significa que dois ou mais juízes atuam no mesmo
processo, na mesma instância, mas exercem, porém, funções
diferentes. A vertical significa que, no mesmo processo, atuam
juízes de primeira e segunda instâncias, cada um com sua
competência definida pela lei, mas dentro do mesmo processo. No
processo do trabalho não há competência funcional horizontal, mas
somente a vertical, também chamada hierárquica.

3
CARREIRA ALVIM, J. E.. Elementos de teoria geral do processo. 6a ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p.
93.
Professor Carlos Alberto Begalles 13
Direito Processual do Trabalho
1.5 - Prorrogação da competência

Prorrogação de competência é o fenômeno processual pelo qual o


juiz tem ampliada a sua competência, para atuar num processo que,
a princípio, era incompetente. Isso somente é possível quando a
competência é relativa. Sendo a incompetência absoluta, a
negligência da parte em deixar de alegá-la não prorroga a
competência, tendo em vista que o juiz deverá decretá-la ex
officio (CPC, art. 301, parágrafo 4o), cabendo até mesmo ação
rescisória (CPC, art. 485, inciso II).

1.6 - Conflito de competência

Ocorre o conflito de competência quando dois órgãos


jurisdicionais se dizem competentes (conflito positivo) ou
incompetentes (conflito negativo) para dirimir o feito. Os
conflitos, no que se refere à Justiça do Trabalho, podem se dar
entre vários órgãos:

a) quando o conflito de competência, positivo ou negativo, ocorre


entre Vara do Trabalho e Juiz de Direito investido na jurisdição
trabalhista, ambos na região do mesmo Tribunal Regional do
Trabalho, a competência para julgar o conflito de competência é do
Tribunal Regional do Trabalho (art. 678, c, III, da CLT)

b) quando o conflito de competência, positivo ou negativo, ocorre


entre Varas do Trabalho pertencentes a Tribunais Regionais do
Trabalho diferentes, a competência para julgar o conflito de
competência é do TST;

c) quando o conflito de competência, positivo ou negativo, ocorre


entre Vara Cível e Vara do Trabalho que não sujeitas à jurisdição
do mesmo Tribunal, a competência para julgar o conflito de
competência é do STJ, conforme art. 105, inc. I, alínea d, da
CF/88.

d) quando o conflito de competência ocorre entre Tribunais


Regionais do Trabalho, a competência para julgar o conflito é do
TST.

e) quando o conflito ocorre entre o Superior Tribunal de Justiça e


quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre eles e
qualquer outro tribunal, a competência é do STF, conforme art.
102, I, o, da CF.

Professor Carlos Alberto Begalles 14


Direito Processual do Trabalho
2. ATOS, TERMOS E PRAZOS PROCESSUAIS. DESPESAS PROCESSUAIS

2.1 - Atos processuais - características

2.1.1 - Publicidade

Segundo o art. 770 da CLT, “os atos processuais serão


públicos, salvo quando o contrário determinar o interesse social,
e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 (seis) às 20 (vinte) horas”.
Já o parágrafo único do mesmo artigo dispõe que “a penhora poderá
realizar-se em domingo ou dia feriado, mediante autorização
expressa do juiz ou presidente”. Acrescentamos que o ato
processual realizado em domingo ou feriado deve obedecer ao
disposto no art. 5o, XI, da CF/884.
Assim, a publicidade dos atos processuais é a regra, salvo se
há interesse social, como, por exemplo, o depoimento da parte em
processo que discute assédio sexual, que pode expô-la a situação
vexatória. Além disso, havendo interesse social, não somente o ato
(audiência, por exemplo), mas todo o processo ser realizado em
segredo de justiça.
Ademais, mesmo o art. 770 dispondo que o ato processual deve
ser praticado das 6 (seis) às 20 (vinte) horas, outras situações
podem ocorrer, como, por exemplo, quando: ”(...) não possam ser
praticados apenas no horário descrito pela lei (das 6:00 às 20:00
horas), (...) o juiz pode autorizar que sejam realizados fora
daquele período. É o que ocorreria com certa empresa que só começa
a funcionar a partir da 23 horas (um clube noturno, boite etc.)
Nesse caso, se o ato não for praticado após as 20 horas, nunca
poderá ser realizado, pois antes das 20 horas aquela casa, estará,
com certeza, fechada”.5

2.1.2 - Documentação

Quanto à documentação, preceitua o art. 771 da CLT que “os


atos e termos processuais poderão ser escritos a tinta,
datilografados ou a carimbo”. Isso demonstra que a aplicação do
princípio da oralidade é ainda um objetivo a ser alcançado, pois,
atualmente, somente os atos escritos que constam do processo são
tidos como aceitáveis e aptos a produzirem efeito. Mesmo o
depoimento da parte, que é feito oralmente, necessita ser reduzido
a termo, portanto, escrito.

2.1.3 - Certificação

4
Art. 5. XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
5
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 20a ed. São Paulo: Atlas. 2003. p. 147.
Professor Carlos Alberto Begalles 15
Direito Processual do Trabalho

A certificação dos atos processuais está no art. 772 da CLT


“Os atos e termos processuais, que devam ser assinados pelas
partes interessadas, quando estas, por motivo justificado, não
pudessem fazê-lo, serão firmados a rogo, na presença de 2 (duas)
testemunhas, sempre que não houver procurador legalmente
constituído”.
Assim, os atos e termos devem ser assinados pelas partes para
terem validade. O art. 169 do CPC dispõe que, quando as partes não
puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão certificará, nos
autos, a ocorrência.

2.2 - Termo processual

Termo processual “é a reprodução gráfica dos atos


6
processuais” e “conceitua-se como a expressão escrita assumida
pelo ato processual”.7 Os termos judiciais “revelam, assim, a
materialização dos atos judiciais quando convertidos numa
8
declaração escrita constante dos autos”. Pode ser entendimento,
ainda, o termo processual como a realização do ato processual em
secretaria (art. 659, § 4° da CLT).

2.3 - Prazo processual


Prazo é o tempo no qual deve ser praticado o ato processual.
Segundo a doutrina, os prazos processuais podem ser classificados
em: a) prazos legais, judiciais e convencionais; b) prazos comuns
e particulares e c) prazos dilatórios e peremptórios.

2.3.1 - Prazo legal, judicial ou convencional

Prazo legal é o modo comum de determinação de prazo. É exemplo


de prazo legal o de 8 dias para apresentar recursos (ordinário, de
revista, agravo de petição, etc.). São prazos de que não se
permite, regra geral, prorrogação pelo juiz e pelas partes.
Prazo judicial é o determinado pelo juiz. Por exemplo, o prazo
de 10 dias para que a parte se manifeste sobre o laudo pericial;
ou prazo para que a parte tenha vista de determinado documento
juntado aos autos, etc. Esses prazos são determinados pelo juiz,
levando-se em consideração a complexidade do ato e a necessidade
de tempo para análise por parte do advogado. O CPC, em seu art.

6 a
GIGLIO, Wagner. D. Direito processual do trabalho. 12 ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 85.
7
RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo trabalhista de conhecimento. 6a ed. São Paulo: LTr. 2001.
p. 160.
8
SILVA, De Plácido e. apud RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo trabalhista de conhecimento. 6a
ed. São Paulo: LTr. 2001. p. 16.
Professor Carlos Alberto Begalles 16
Direito Processual do Trabalho
185, expõe que, quando o juiz não determina o prazo e este não é
legal, a parte tem o prazo de cinco dias para se manifestar.
Prazo convencional é o estabelecido pelas partes, como, por
exemplo, a suspensão do processo para tentativa de transação.

2.3.2 - Prazo comum ou particular

Prazo comum é o que corre ao mesmo tempo para todas as partes,


como, por exemplo, para recorrer de sentença que julga o pedido
parcialmente procedente.
Prazo particular é o que corre somente para uma das partes,
como, por exemplo, o prazo para apresentar contrarrazões ao
recurso ordinário.

2.3.3 - Prazos peremptórios e dilatórios

Os prazos peremptórios não podem ser reduzidos ou prorrogados


pelas partes, pois são contínuos e irreleváveis (art. 775 da CLT).
Para o juízo, a prorrogação dos prazos peremptórios poderá ocorrer
nas comarcas onde for difícil o transporte, mas nunca por mais de
60 (sessenta) dias. Todavia, em caso de calamidade pública, poderá
ser excedido o limite previsto no artigo (art. 182 do CPC). Além
disso, havendo justa causa, deverá o juiz prorrogar os prazos
peremptórios. Prazos dilatórios são aquelas que, por convenção das
partes ou por determinação do juízo, podem ser reduzidos ou
prorrogados.

2.4 - Início do prazo e início da contagem

No processo do trabalho, o prazo inicia-se com a


citação/intimação (notificação) da parte. Preceitua o art. 774 da
CLT que: “Salvo disposição em contrário, os prazos previstos neste
Título contam-se, conforme o caso, a partir da data em que for
feita pessoalmente, ou recebida a notificação, daquele em que for
publicado o edital no jornal oficial ou no que publicar o
expediente da Justiça do Trabalho, ou, ainda, daquele em que for
afixado o edital na sede da Junta, Juízo ou Tribunal”.
Não há que confundir início do prazo com início da contagem do
prazo. Há sempre a exclusão do dia do início e a inclusão do dia
do vencimento. Dispõe o art. 775 da CLT: “Os prazos estabelecidos
neste Título contam-se com exclusão do dia do começo e inclusão do
dia do vencimento, e são contínuos e irreleváveis, podendo,
entretanto, ser prorrogados pelo tempo estritamente necessário
pelo juiz ou tribunal, ou em virtude de força maior, devidamente
comprovada”.

Professor Carlos Alberto Begalles 17


Direito Processual do Trabalho
Além disso, os prazos não se iniciam ou terminam em sábado,
domingo ou feriado. A contagem do prazo inicia-se sempre em dia
útil e o término do prazo, se cair em sábado, domingo ou feriado,
prorroga-se para o primeiro dia útil seguinte (art. 775, parágrafo
único da CLT). Como os atos processuais devem ser praticados em
dia útil (art. 770 da CLT), caso a parte seja citada ou intimada
no sábado, o início do prazo dar-se-á no primeiro dia útil
imediato e a contagem, no subsequente (súmula 262 do TST). Quando
a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito
de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial será contado da
segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em
que fluirá do dia útil que se seguir (súmula 01 do TST).
Quanto ao processo eletrônico, a Lei n. 11.419/2006, no art.
3° determina que: Consideram-se realizados os atos processuais por meio
eletrônico no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciário, do
que deverá ser fornecido protocolo eletrônico. Parágrafo único. Quando a
petição eletrônica for enviada para atender prazo processual, serão
consideradas tempestivas as transmitidas até as 24 (vinte e quatro) horas
do seu último dia.
O prazo para recurso conta-se da intimação na própria
audiência, se a sentença for proferida em audiência e as partes
estiverem presentes. Todavia, se a sentença não for publicada em
audiência, mas o juiz determinar outra para publicação da sentença
e as partes saírem intimadas da nova data, o prazo para recurso da
parte que, intimada, não comparecer à audiência em prosseguimento
para a prolação da sentença, conta-se de sua publicação (súmula
197 do TST).
Dispõe a súmula nº 16 do TST que, presume-se recebida a
notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua postagem. O
seu não recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo
constituem ônus de prova do destinatário.

2.5 - Suspensão e interrupção do prazo

Na suspensão do prazo, conta-se o tempo decorrido antes do


motivo da suspensão, recomeçando a contagem do prazo restante no
primeiro dia útil seguinte ao termo da suspensão. Na interrupção
do prazo, não se conta o tempo decorrido antes do motivo da
interrupção, recomeçando-se o prazo, na sua totalidade, no
primeiro dia útil seguinte ao termo da interrupção.
Consoante o art. 179 do CPC, “a superveniência de férias
suspenderá o curso do prazo; o que lhe sobeja, recomeçará a correr
do primeiro dia útil seguinte ao termo das férias”. Na Justiça do
Trabalho, as férias forenses são determinadas pela Lei n. 5.010/66
e limitam-se entre os dias 20 de dezembro a 06 de janeiro. O
Tribunal Superior do Trabalho dispõe que as férias forenses são
casos de suspensão (súmula 262 do TST).

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Direito Processual do Trabalho
2.6 - Prazo para a Fazenda Pública

O Decreto-Lei n. 779/69 dispõe sobre a aplicação de normas


processuais trabalhistas à União Federal, aos Estados, Municípios,
Distrito Federal e autarquias ou fundações de direito público que
não explorem atividade econômica, em processo perante a Justiça do
Trabalho. Constituem privilégio dos órgãos públicos citados o
prazo em quádruplo do prazo fixado no art. 841, in fine, da CLT,
para apresentação de contestação e o prazo em dobro para recurso.

2.7 - Prazo para os litisconsortes

O Tribunal Superior do Trabalho entende que o disposto no art.


191 não se aplica ao Processo do Trabalho, conforme OJ n. 310 da
SDI-1 do C. TST.

2.8 - Custas e emolumentos

A Lei nº 10.537, de 27.08.2002 modificou o sistema de custas e


emolumentos no Processo do Trabalho (arts. 789 a 790B da CLT).

2.8.1- Custas

Quanto ao processo de conhecimento temos a seguinte


sistemática com relação às custas, conforme art. 789 da CLT:
a) Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do
trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do
Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça
Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas
relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois
por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e
quatro centavos) e serão calculadas:
I - quando houver acordo ou condenação, sobre o respectivo valor;
II - quando houver extinção do processo, sem julgamento do mérito,
ou julgado totalmente improcedente o pedido, sobre o valor da
causa;
III - no caso de procedência do pedido formulado em ação
declaratória e em ação constitutiva, sobre o valor da causa;
IV - quando o valor for indeterminado, sobre o que o juiz fixar.
b) As custas no processo de conhecimento serão pagas pelo vencido,
após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as
custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo
recursal.
c) Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor
e fixará o montante das custas processuais.
d) Sempre que houver acordo, se de outra forma não for
convencionado, o pagamento das custas caberá em partes iguais aos
litigantes.

Professor Carlos Alberto Begalles 19


Direito Processual do Trabalho
e) Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão
solidariamente pelo pagamento das custas, a serem calculadas sobre
o valor arbitrado na decisão ou pelo Presidente do Tribunal.
Quanto ao processo de execução, temos a seguinte sistemática
acerca das custas, nos termos do art. 789-a:
a) No processo de execução, são devidas custas, sempre de
responsabilidade do executado e pagas ao final, de conformidade
com a seguinte tabela:
I - autos de arrematação, de adjudicação e de remição: 5% (cinco
por cento) sobre o respectivo valor, até o máximo de R$ 1.915,38
(um mil, novecentos e quinze reais e trinta e oito centavos);
II - atos dos oficiais de justiça, por diligência certificada: em
zona urbana: R$ 11,06 (onze reais e seis centavos); em zona rural:
R$ 22,13 (vinte e dois reais e treze centavos);
III - agravo de instrumento: R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e
vinte e seis centavos);
IV - agravo de petição: R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e vinte
e seis centavos);
V - embargos à execução, embargos de terceiro e embargos à
arrematação: R$ 44,26 (quarenta e quatro reais e vinte e seis
centavos);
VI - recurso de revista: R$ 55,35 (cinquenta e cinco reais e
trinta e cinco centavos);
VII - impugnação à sentença de liquidação: R$ 55,35 (cinquenta e
cinco reais e trinta e cinco centavos);
VIII - despesa de armazenagem em depósito judicial: por dia, 0,1%
(um décimo por cento) do valor da avaliação;
IX - cálculos de liquidação realizados pelo contador do juízo
sobre o valor liquidado: 0,5% (cinco décimos por cento) até o
limite de R$ 638,46 (seiscentos e trinta e oito reais e quarenta e
seis centavos).

2.8.2 - Emolumentos

Emolumentos constituem “contribuições pagas por toda pessoa


que se favoreça de um serviço prestado por uma repartição pública,
tal como o que decorre de uma certidão por esta fornecida”.9
Quanto aos emolumentos, dispõe o art. 789-B da CLT: Os
emolumentos serão suportados pelo Requerente, nos valores fixados
na seguinte tabela: I - autenticação de traslado de peças mediante
cópia reprográfica apresentada pelas partes - por folha: R$ 0,55
(cinquenta e cinco centavos de real); II - fotocópia de peças -
por folha: R$ 0,28 (vinte e oito centavos de real); III -
autenticação de peças - por folha: R$ 0,55 (cinquenta e cinco
centavos de real); IV - cartas de sentença, de adjudicação, de
remição e de arrematação - por folha: R$ 0,55 (cinquenta e cinco
centavos de real); V - certidões - por folha: R$ 5,53 (cinco reais
e cinquenta e três centavos).
9
DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. 9a ed. Rio de Janeiro: Forense. 1986, apud BEBBER, Júlio
César. Processo do trabalho: temas atuais. São Paulo: LTr. 2003. p. 313.
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Direito Processual do Trabalho

2.8.3 - Outras disposições acerca das custas e emolumentos

Tratando-se de empregado que não tenha obtido o benefício da


justiça gratuita, ou isenção de custas, o sindicato que houver
intervindo no processo responderá solidariamente pelo pagamento
das custas devidas.
No caso de não-pagamento das custas, far-se-á execução da
respectiva importância, segundo o procedimento estabelecido no
Capítulo V da CLT.
São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários de
justiça gratuita:
I - a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e
respectivas autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou
municipais que não explorem atividade econômica;
II - o Ministério Público do Trabalho (art. 790-A, II e II da
CLT). A isenção das custas não alcança as entidades fiscalizadoras
do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas
referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas
judiciais realizadas pela parte vencedora (art. 790-A, parágrafo
único da CLT).

3. PARTES E PROCURADORES

3.1 - Capacidade processual das partes

Preceitua o art. 792 da CLT que os maiores de 18 anos podem


pleitear perante a Justiça do Trabalho, sem a assistência de seus
pais ou tutores. Por sua vez, o art. 793 da CLT determina que a
“reclamação trabalhista do menor de 18 anos será feita por seus
representantes legais e, na falta destes, pela Procuradoria da
Justiça do Trabalho, pelo sindicato, pelo Ministério Público
estadual ou curador nomeado em juízo”.

3.2 Incapacidade processual ou irregularidade de representação das


partes

Se o magistrado constatar a incapacidade processual (por


exemplo, menor de 18 anos demandando sem assistente) deverá
suspender o processo e intimar a parte para sanar a incapacidade
ou irregularidade de representação. Aplica-se ao caso o disposto
no art. 13 do CPC, ou seja, dá-se a oportunidade à parte para que
supra a incapacidade ou irregularidade.

3.3 - Capacidade postulatória (jus postulandi)

No processo do trabalho, o art. 791 da CLT preceitua que os


empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante
a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o
final. Isso também está expresso no art. 839, a, da CLT. O
entendimento atual do TST é que a capacidade postulatória da

Professor Carlos Alberto Begalles 21


Direito Processual do Trabalho
própria parte não se aplica aos recursos de natureza
extraordinária (súmula 425 do TST).

3.4 - Mandato tácito e constante em ata (apud acta)

O mandato tácito (existente pelo fato de a parte comparecer a


audiência acompanhada por advogado) e apud acta (constante em ata,
mediante ato formal), é a representação da parte por advogado que
não tem procuração escrita nos autos. Tal instituto é aceito no
processo do trabalho (súmula 164 do TST).

3.5 - Da substituição das partes

Sendo o processo um conjunto de atos que compõe um


procedimento, pode acontecer a morte do empregado ou até mesmo a
alienação do estabelecimento empresarial, o que pode importar na
substituição da parte no processo.
Com o falecimento do empregado, a ação deverá ser ajuizada
pelos dependentes habilitados perante a previdência social ou, na
falta, pelos sucessores indicados na lei civil (art. 1º da Lei n.
6.858/80). Se o processo já tiver sido ajuizado, deverá ocorrer a
habilitação pelos dependentes nomeados perante a previdência
social ou, na falta, pelos sucessores indicados na lei civil (art.
1º da Lei n. 6.858/80 c/c arts. 43 e 1055/1062 do CPC).
Com relação ao empregador pessoa jurídica, há possibilidade,
durante a tramitação do processo, do estabelecimento ser alienado
para outra pessoa. Nesse caso, aplicam-se os art. 10 e 448 da CLT,
não havendo necessidade de procedimento formal para inclusão da
nova sociedade empresária no processo, já que a sucessão é
automática. No caso de falência declarada pelo juízo competente, o
administrador judicial é o legítimo representante (art. 12, III,
do CPC). Ocorrendo a sucessão de partes, a sentença produzirá
efeitos sobre o sucessor, pois esse passará a ser parte no
processo.

3.6 Da substituição dos procuradores

Pode ocorrer de o advogado renunciar ao mandato que lhe foi


outorgado ou até mesmo que a parte venha a destituir seu advogado,
nomeando outro para defender seus interesses.
A parte pode substituir o advogado que a representa em juízo.
Segundo o art. 44 do CPC “a parte que revogar o mandato outorgado
ao seu advogado, no mesmo ato constituirá outro que assuma o
patrocínio da causa”. O TST, inclusive, por meio da OJ n. 349 da
SDI-1 entende que “A juntada de nova procuração aos autos, sem
ressalva de poderes conferidos ao antigo patrono, implica
revogação tácita do mandato anterior”.
Por outro lado, o advogado também pode renunciar ao mandato,
conforme dispõe o art. 45 do CPC: “O advogado poderá, a qualquer
tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante,

Professor Carlos Alberto Begalles 22


Direito Processual do Trabalho
a fim de que este nomeie substituto. Durante os dez dias
seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde
que necessário para lhe evitar prejuízo”.

3.7 - Substituição processual

Conforme o art. 6o do CPC, “ninguém poderá pleitear, em nome


próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”. Assim,
somente o titular do direito, regra geral, poderá protegê-lo em
juízo.
Não há confundir a substituição processual com a representação
processual. Na substituição, o substituto age em nome próprio,
pleiteando direito alheio. Na representação, o representante age
em nome alheio, defendendo direito alheio.
No Processo do Trabalho, há casos expressos de substituição
processual, como as questões de insalubridade ou periculosidade
(art. 195, parágrafo 2o, da CLT), ações de cumprimento (art. 872 da
CLT) e recolhimento do FGTS (art. 25 da Lei n. 8.036/90). Nesses
casos, a substituição se dá pelo Sindicato.
Além dos artigos citados, determina o art. 8o, III, da CF/88
que “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões
judiciais ou administrativas”.

3.8 - Assistência judiciária e justiça gratuita

No processo do trabalho, a assistência judiciária a que se


refere à Lei n. 1.060/50 será prestada pelo Sindicato da categoria
profissional a que pertencer o trabalhador (art. 14, caput, da Lei
n. 5.584/70). A assistência judiciária será prestada ao
trabalhador ainda que esse não seja associado do respectivo
Sindicato (art. 18 da Lei n. 5.584/70). A assistência é devida a
todo aquele que perceber salário igual ou inferior ao dobro do
mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de
maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe
permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família
(art. 14, parágrafo 1o, da Lei n. 5.584/70).
A assistência judiciária não se confunde com a justiça
gratuita. A assistência judiciária se concretiza quando há um
órgão que presta os serviços de advocacia à parte (no caso da
Justiça do Trabalho, o Sindicato); já a justiça gratuita é
deferida quando a parte não possui recursos para pagamento das
despesas processuais (custas e emolumentos), diante da sua
miserabilidade econômica no momento da propositura da ação e
contrata um advogado particular e este requer ao juiz o
deferimento da justiça gratuita.

3.9 Honorários advocatícios

Professor Carlos Alberto Begalles 23


Direito Processual do Trabalho
Quanto à possibilidade de condenação em honorários
advocatícios na Justiça do Trabalho é preciso analisar se a lide é
entre empregado e empregador ou entre outras pessoas.
Tratando-se de lide entre empregado e empregador, segundo a
jurisprudência do TST (súmulas 219 e 329) os honorários
advocatícios somente são devidos numa única hipótese: quando o
empregado estiver representado pelo Sindicato de sua categoria
profissional (art. 14 da Lei n. 5.584/70) e sendo beneficiário da
justiça gratuita por receber até dois salários mínimos, ou por
declarar, na forma da lei, não poder arcar com os custos do
processo sem prejuízo para sua sobrevivência e de sua família
(art. 14, parágrafo 1o). Nesse caso, haverá condenação em
honorários advocatícios (art. 16), nunca superiores a 15%. Além
disso, os honorários do advogado pagos pelo vencido reverterão em
favor do Sindicato assistente (art. 16 da Lei n. 5.584/70). São
conhecidos como honorários assistenciais.
Após a promulgação e publicação da Emenda Constitucional n.
45/2004, com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho,
criou-se outra hipótese de condenação em honorários advocatícios
pela sucumbência, qual seja: quando a lide não envolver empregado
e empregador. Qualquer lide de competência da Justiça do Trabalho
que não envolva empregado e empregador cabe condenação em
honorários advocatícios, nos parâmetros dispostos pelo CPC.
Inclusive, esse é o entendimento do C. TST, ao publicar a
Instrução Normativa n. 27, que em seu artigo 5o dispõe que: “exceto
nas lides decorrentes de relação de emprego, os honorários
advocatícios são devidos pela mera sucumbência”.

4. NULIDADES

4.1- Conceito

A nulidade do ato processual é a invalidação dele pela


presença de algum vício que macula sua forma ou conteúdo. Toda vez
que o ato jurídico processual é praticado com desrespeito a norma
vigente, torna-se passível de ser retirado do mundo jurídico pelo
juiz, ex officio, ou por provocação da parte interessada. Quando
isso acontece, o ato processual precisa ser novamente praticado,
agora higidamente, podendo, ainda, dependendo do caso, ocorrer à
nulidade de todos os atos subsequentes que dependiam do ato nulo
praticado.

4.2 – Normas da CLT

Na CLT o tema é tratado nos arts. 794 a 798.

Art. 794 - Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do


Trabalho só haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto
prejuízo às partes litigantes.

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Direito Processual do Trabalho
Art. 795 - As nulidades não serão declaradas senão mediante
provocação das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que
tiverem de falar em audiência ou nos autos.

§ 1º - Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade


fundada em incompetência de foro. Nesse caso, serão considerados nulos os
atos decisórios.

§ 2º - O juiz ou Tribunal que se julgar incompetente determinará, na


mesma ocasião, que se faça remessa do processo, com urgência, à
autoridade competente, fundamentando sua decisão.

Art. 796 - A nulidade não será pronunciada:

a) quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato;

b) quando arguida por quem lhe tiver dado causa.

Art. 797 - O juiz ou Tribunal que pronunciar a nulidade declarará os


atos a que ela se estende.

Art. 798 - A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores


que dele dependam ou sejam consequência.

4.3- Princípios dos vícios dos atos processuais

A lei, a doutrina e a jurisprudência sustentam que há


princípios que regem as nulidades processuais. Não é qualquer
vício na prática do ato que promove a remoção do ato processual do
mundo jurídico, pois muitos atos processuais que possuem vícios
podem ser sanados. São os seguintes os princípios das nulidades
processuais: princípio do alcance da finalidade do ato; princípio
do prejuízo e princípio da preclusão.

a) Princípio do alcance da finalidade do ato

O Direito Processual do Trabalho consagra o princípio da


instrumentalidade das formas à luz da constatação de que os atos e
termos processuais apenas dependerão de forma especial quando a
Lei expressamente o exigir. Preenchida a finalidade do ato, ainda
que de modo diverso, o mesmo é considerado válido (art. 796 da
CLT, 154 e 244, do CPC). Na atualidade prestigia-se o princípio da
instrumentalidade porque o processo é meio para alcançar a solução
dos conflitos de interesse ao invés de fim em si mesmo. O
princípio da instrumentalidade das formas estipula que o
importante é a finalidade do ato, e não o ato em si mesmo,
devendo, por conseguinte, ser considerado válido aquele que, mesmo
irregular na forma, atingir a sua finalidade. Por exemplo: se o
carteiro deixar a notificação com o vizinho e a parte tomar
ciência da data de audiência, comparecer e produzir defesa, o ato
alcançou a finalidade.

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Direito Processual do Trabalho
b) Princípio do prejuízo

No Processo do Trabalho, a declaração de nulidade do ato


somente pode ser levada a efeito quando houver prejuízo para as
partes, na forma do art. 794 da CLT. Ao ato processual, mesmo não
sendo observada a forma legalmente prevista, uma vez atingida a
sua finalidade, não poderá ser declarada qualquer nulidade (arts.
249, § 1º, e 250, parágrafo único, do CPC e o art. 794 da CLT).

c) Princípio da preclusão pela não alegação no momento oportuno

Esse princípio é adotado pela CLT no art. 795, pois o silêncio


da parte, em especial a não arguição da nulidade no momento
oportuno, tem eficácia convalidadora do ato praticado pela parte
adversa ou pelo juiz. Isso se a nulidade for sanável, pois se for
insanável pode ser alegada a qualquer tempo.

5. PETIÇÃO INICIAL
5.1 - Apresentação

A apresentação da petição inicial pode ser feita diretamente


pela parte –ius postulandi (art. 839, alínea a e art. 791 da CLT)
- ou com a assistência de um advogado (art. 133 da CF/88). O
Sindicato também pode propor ação trabalhista assistindo o
empregado (essa assistência, na prática, significa que o sindicato
irá colocar à disposição do empregado um advogado que irá assisti-
lo tecnicamente no processo). Por fim, o Ministério Público pode
propor ação para o autor (art. 839, alínea b, da CLT), nos casos
de incapacidade do empregado, por exemplo.

5.2 - A petição inicial poderá ser apresentada verbal ou escrita

Dispõe o art. 840, caput, da CLT, que a reclamação poderá ser


apresentada por escrito ou verbalmente. Entretanto, sendo a
reclamação verbal, será reduzida a termo em 2 (duas) vias datadas
e assinadas pelo escrivão ou diretor de secretaria.
Todavia, o inquérito para apuração de falta grave de empregado
garantido pela estabilidade sindical terá sua petição inicial
necessariamente elaborada por escrito (art. 853 da CLT), bem como
a petição inicial de dissídio coletivo (art. 856 da CLT).

5.3 - Requisitos da petição inicial

Dispõe o art. 840, parágrafo 1o, da CLT que “Sendo escrita, a


reclamação deverá conter a designação do Juiz da Vara, ou do Juiz
de direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do
reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resulte o
dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu
representante”.

5.4 - Os meios de prova

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Direito Processual do Trabalho

O art. 840, parágrafo 1o, da CLT, quando trata dos requisitos


da petição inicial trabalhista, não faz referência ao requerimento
do autor dos meios de prova com que pretende provar em juízo suas
alegações. Quem trata do assunto é o art. 845 da CLT, que dispõe
que “o reclamante e o reclamado comparecerão à audiência
acompanhados das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as
demais provas”. Deste modo, está claro que o reclamante não
precisa requerer na petição inicial a oitiva de testemunhas, ou o
depoimento da parte ré, ou o requerimento de perícia, pois isso
deve ser feito em audiência.
Com relação aos documentos, entretanto, o art. 787 da CLT
exige que sejam juntados com a petição inicial: “A reclamação
escrita deverá ser formulada em 2 (duas) vias e desde logo
acompanhada dos documentos em que se fundar”. Assim, possuindo o
autor documento capaz de sustentar seu pedido, deve juntá-lo ao
processo com a petição inicial. O art. 397 do CPC, aplicado
subsidiariamente ao processo do trabalho, por disposição do art.
769 da CLT, preceitua que: “É lícito às partes, em qualquer tempo,
juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova
de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contrapô-los
aos que foram produzidos nos autos”.

5.5 - Requerimento para citação do réu

No processo civil, art. 282, VII, do CPC, há necessidade de o


autor requerer a citação do réu na petição inicial. No processo do
trabalho, o art. 840, parágrafo 1o, da CLT, não faz referência ao
“pedido de citação do réu”. Isso porque a citação do réu no
processo do trabalho é atribuição do Diretor da Secretaria ou
Escrivão, conforme dispõe o art. 841 da CLT: “Recebida e
protocolada a reclamação, o escrivão ou diretor de secretaria,
dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da
petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o, ao mesmo tempo,
para comparecer à audiência de julgamento, que será a primeira
desimpedida, depois de 5 (cinco) dias”.

5.6 - Valor da causa

O art. 840, parágrafo 1o, da CLT, diferentemente do art. 282,


V, do CPC, não faz constar entre os requisitos da petição inicial
trabalhista o valor da causa no procedimento ordinário.
Entretanto, por uma interpretação sistemática das normas que
regulam o processo do trabalho, chega-se à conclusão de que a
petição inicial deve conter o valor da causa, mesmo que fixado ex
officio. Isso porque há rito diferente para as causas de até 40
salários mínimos.
Se o advogado não fizer constar o valor da causa o juiz o
arbitrará (2o da Lei 5.584/70).
Como a CLT é omissa sobre a forma de elaboração do valor da
causa, utiliza-se o que dispõe o CPC em seu art. 259.

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Direito Processual do Trabalho
5.7 - Indeferimento da petição inicial

A CLT é omissa acerca do indeferimento da petição inicial.


Isso porque a petição inicial não vai, em regra, à conclusão
imediata após a distribuição, conforme art. 841, parágrafo 1o, da
CLT e também porque basta ao reclamante fazer uma “breve exposição
dos fatos” (art. 840 da CLT). Assim, com fulcro no art. 769 da
CLT, há necessidade de se buscar em normas do CPC o tratamento do
assunto. Segundo o Enunciado 263 do C. TST “Salvo nas hipóteses do
art. 295 do CPC, o indeferimento da petição inicial, por
encontrar-se desacompanhada de documento indispensável à
propositura da ação ou não preencher outro requisito legal,
somente é cabível se, após intimada para suprir a irregularidade
em 10 (dez) dias, a parte não o fizer”.

5.8 - Tutela antecipada

A tutela antecipada - regulada pelo art. 273 do CPC, aplicado


subsidiariamente ao processo do trabalho, por força do art. 769 da
CLT - significa a antecipação dos efeitos da sentença. Por
exemplo, suspender a eficácia do ato cuja anulação se pede
(transferência do empregado sem os requisitos legais estabelecidos
pelo art. 469 da CLT).
Para que o juiz conceda a antecipação da tutela, o requerente
deve provar os requisitos legais determinados pelo art. 273 do
CPC.

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,


total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação; ou
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o
manifesto propósito protelatório do réu.
§ 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de
modo claro e preciso, as razões do seu convencimento.
§ 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver
perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.
& 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que
couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts.
588, 461, §§ 4o e 5o, e 461-A.
§ 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a
qualquer tempo, em decisão fundamentada.
§ 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o
processo até final julgamento.
§ 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando
um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-
se incontroverso.
§ 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer
providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando
presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida
cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.

6. DISTRIBUIÇÃO

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Direito Processual do Trabalho
6.1 - Noções gerais

Elaborada a reclamação trabalhista pelo advogado, ou pela


própria parte (já que ainda se admite o ius postulandi - art. 791
da CLT), ela precisa ser distribuída.
Se houver somente uma Vara do Trabalho na localidade, a
petição inicial será protocolada diretamente na Secretaria da
Vara, conforme determina o artigo 837 da CLT.
Havendo mais de uma Vara do Trabalho, determina o art. 838 da
CLT que se fará, preliminarmente, a distribuição. Por sua vez, o
art. 783 da CLT determina que a distribuição será feita “pela
ordem rigorosa de sua apresentação ao distribuidor”.
Quando não há Vara do Trabalho em determinada localidade e a
Vara do Trabalho mais próxima não estende sua competência sobre a
localidade onde o empregado laborou, a competência será do Juiz de
Direito da comarca (art. 699, parágrafos 1o e 2o, da CLT).
O distribuidor fornecerá ao interessado um recibo, no qual
constará, essencialmente, o nome do reclamante e do reclamado, a
data da distribuição, o objeto da reclamação e a junta ou juízo a
que coube a distribuição (art. 784 da CLT).
Quando se tratar de reclamação verbal, ela será distribuída
antes de sua redução a termo. Além disso, distribuída a reclamação
verbal, o reclamante deverá, salvo motivo de força maior,
apresentar-se no prazo de cinco dias, ao cartório ou à secretaria,
para reduzi-la a termo, sob a pena de perda, pelo prazo de seis
meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho (art.
786 c/c com o art. 731 da CLT).
A reclamação escrita deverá ser formulada em duas vias e,
desde logo, acompanhada dos documentos em que se fundar (art. 787
da CLT).
Feita a distribuição, a reclamação será remetida pelo
distribuidor à Vara ou Juízo competente, acompanhada do bilhete de
distribuição (art. 788 da CLT).

6.2 - Efeitos decorrentes da distribuição

É com a apresentação da reclamação, seja ela verbal ou


escrita, na Vara, no Cartório, ou na Distribuição que surgem, no
processo do trabalho, os efeitos do art. 291 do CPC, ou seja, a
simples distribuição induz litispendência, torna litigiosa a
coisa, determina a prevenção e interrompe a prescrição.

7. CITAÇÃO

7.1 - Formas de citação no processo do trabalho

7.1.1 – Postal

No procedimento ordinário (art. 841, parágrafo 1o da CLT), a


citação do réu para comparecer à audiência e produzir defesa

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procede-se por via postal e é atribuição do Diretor de Secretaria
ou Escrivão da Vara.
Com fulcro nos artigos 774 e 841 da CLT, a doutrina entende
que a citação, no processo do trabalho, não precisa ser pessoal,
ou seja, na pessoa do réu. Para Nascimento: “A citação, no
processo trabalhista, diante do sistema adotado, não precisar ser
necessariamente pessoal. Nem mesmo quando cumprida por oficial de
justiça. Basta a entrega da notificação postal ou por oficial no
endereço indicado e está perfeita e acabada”.10
No processo do trabalho, a defesa é apresentada em audiência
e, deste modo, deve haver um prazo mínimo entre a citação e a data
da audiência, que permita ao reclamado contratar advogado,
organizar documentos e produzir a defesa. Esse prazo, segundo o
art. 841 da CLT, é de cinco dias.
Tratando-se da União, Estados, Municípios, DF, suas autarquias
e fundações que não explorem atividade econômica, o prazo a que se
refere o art. 841 da CLT (cinco dias entre a citação e a
realização da audiência) deve ser contado em quádruplo (Decreto-
lei n. 779/69, art. 1o, II).

7.1.2 - Citação por meio de Oficial de Justiça

O art. 841, parágrafo 1o da CLT, diz que, se o reclamado criar


embaraços ou não for encontrado através da citação postal, a
citação se fará por Edital. Todavia, na prática, a citação,
primeiro, é tentada por meio de Oficial de Justiça.
A doutrina diverge sobre a possibilidade ou não de citação por
hora certa na Justiça do Trabalho.
Nascimento aceita esta forma de citação, pois “nada impede
(...) que o juiz, segundo as necessidades de cada caso concreto e
de acordo com o seu prudente arbítrio, utilize-se desse
instrumento previsto na legislação processual civil, que é de
aplicação subsidiária”.11 Tostes Malta, tem entendimento em outro
sentido: “(...) por força do que determina a CLT 841, parágrafo 1o,
não há citação com hora certa (se o reclamado criar embaraços ao
seu recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação por
edital...). Se o oficial de justiça não encontrar o reclamado ou
se este criar dificuldades ao recebimento da citação deverá
recolher o mandado, certificando o sucedido”.12 Sérgio Pinto
Martins também entende não ser possível a citação por hora certa
na Justiça do Trabalho, “pois inexiste omissão na CLT”.13

7.1.3 - Por edital

10
Curso de direito processual do trabalho. 21a ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 395.
11
Curso de direito processual do trabalho. 21a ed. São Paulo: Saraiva. 2002, p. 395.
12
Prática do processo trabalhista. 32a ed. São Paulo: LTr. 2004, p. 320.
13
Direito processual do trabalho. 20a ed. São Paulo: Atlas. 2003. p. 157.
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Direito Processual do Trabalho
A CLT determina no art. 841, parágrafo 1o, da CLT que a
citação por edital será feita quando “o reclamado criar embaraços
ao seu recebimento, ou não for encontrado”. A citação, neste caso,
será efetuada no jornal oficial ou no que publicar o expediente
forense, ou, na falta, será afixada na sede da Vara ou Juízo,
conforme art. 841, parágrafo 1o da CLT.

7.2 - Inexistência ou nulidade de citação

Segundo o art. 214 do CPC, para a validade do processo é


indispensável à citação do reclamado.
Se, porventura, houver nulidade na citação e o reclamado
comparecer em audiência e produzir a defesa, fica suprida a
nulidade (art. 214, § 1o, do CPC).
Caso o reclamado compareça para arguir a nulidade (como, por
exemplo, o não respeito ao quinquídio legal do art. 841 da CLT) o
juiz reconhecerá a nulidade e redesignará a audiência para que o
reclamado possa apresentar a defesa na próxima audiência,
respeitando o prazo legal de cinco dias.
Caso a nulidade ou inexistência de citação somente seja
detectada posteriormente (tendo o processo corrido à revelia do
reclamado) este poderá requerer a nulidade do processo - inclusive
com apresentação de ação rescisória (art. 485, V, do CPC). Se a
nulidade somente for detectada no processo de execução - pois o
processo de conhecimento correu a revelia do reclamado - este
poderá, nos embargos à execução, arguir a inexistência ou nulidade
de citação (art. 16 da Lei n. 6.830/80). A exceção acontece se a
intimação da sentença no processo de conhecimento não contiver
vício, pois aí ocorreu a preclusão, já que no processo do trabalho
o revel é intimado da sentença (art. 852 da CLT). Neste caso, ao
ser intimado da sentença, deveria o revel ter apresentado Recurso
Ordinário e, se não o fez, precluiu o seu direito.

8. AUDIÊNCIA

8.1- Noções gerais da audiência

Distribuída a petição inicial, designa-se a audiência e


remete-se a segunda via da petição ao reclamado, citando-o para,
querendo, comparecer à audiência, que será a primeira desimpedida
depois de cinco dias (art. 841 da CLT), onde poderá produzir a sua
defesa.
As audiências na Justiça do Trabalho serão públicas e se
realizarão na sede do Juízo ou Tribunal, entre as 8 e as 18 horas,
em dias úteis previamente fixados. Não podem ultrapassar 5 horas
seguidas, salvo quando houver matéria urgente. Em casos especiais,
poderá ser designado outro local, mediante edital afixado na sede
do Juízo ou Tribunal, com antecedência mínima de 24 horas.

Professor Carlos Alberto Begalles 31


Direito Processual do Trabalho
Sempre que necessário, poderão ser convocadas audiências
extraordinárias, observados a intimação das partes e o prazo
mínimo de 24 horas (art. 813 da CLT).
Às audiências deverão estar presentes, comparecendo com a
necessária antecedência, os escrivães ou chefes de secretaria
(art. 814 da CLT).
À hora marcada, o juiz declarará aberta a audiência, sendo
feita pelo chefe de secretaria ou escrivão a chamada das partes,
testemunhas e demais pessoas que devam comparecer. Se em até 15
minutos após a hora marcada o juiz não houver comparecido, os
presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar do livro
de registro das audiências (art. 815 da CLT).
O juiz manterá a ordem na audiência, podendo mandar retirar do
recinto os que a perturbarem (art. 816 da CLT).
O registro será feito em livro próprio, constando de cada
registro os processos apreciados e a respectiva solução, bem como
as ocorrências eventuais. Do registro das audiências poderão ser
fornecidas certidões às pessoas que as requererem (art. 817 da
CLT).

8.2 - Presença do reclamante

Determina o art. 843 da CLT “Na audiência de julgamento,


deverão estar presentes o reclamante e o reclamado,
independentemente do comparecimento de seus representantes, salvo
no caso de Reclamatórias Plúrimas ou Ações de Cumprimento, quando
os empregados poderão fazer-se representar pelo Sindicato de sua
categoria”.
Na audiência de julgamento são praticados todos os atos
processuais (desde o pregão para verificar a presença das partes
até a intimação da sentença - se for possível, é claro).
O comparecimento do reclamante à audiência é obrigatório.
Todavia, se por doença ou qualquer outro motivo justificado,
devidamente comprovado, não for possível ao empregado comparecer
pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que
pertença à mesma profissão, ou pelo seu sindicato (art. 843,
parágrafo 2o, da CLT).
No que se refere a esse parágrafo 2o, a doutrina majoritária
entende que o comparecimento de um colega de trabalho da mesma
profissão ou do sindicato é somente para adiar a audiência e
evitar o arquivamento do processo ou evitar a confissão (caso
trate-se de audiência de instrução) - e não para prestar
depoimento.
Dispõe o art. 844 da CLT que o não comparecimento do
reclamante à audiência importará em “arquivamento da reclamação”.
Na verdade, o arquivamento é o ato material e o que ocorre
juridicamente é a extinção do processo sem resolução do mérito.
Se, porventura, a audiência for fracionada (inicial, instrução e
julgamento), o arquivamento ocorrerá caso o reclamante não
compareça à audiência inicial. Se comparecer a essa e não
comparecer à audiência de instrução (audiência de prosseguimento),

Professor Carlos Alberto Begalles 32


Direito Processual do Trabalho
o que ocorre não é a extinção do processo sem julgamento de
mérito, mas a confissão ficta com relação aos fatos, conforme
dispõe a súmula 74 do C. TST.
Se o processo for extinto sem resolução do mérito por ausência
do reclamante à audiência, poderá ser ajuizada novamente a ação;
entretanto, se o reclamante deixar arquivar o processo por duas
vezes em razão de não comparecimento à audiência (art. 844 da
CLT), incorrerá na pena de perda do direito de reclamar perante a
Justiça do Trabalho, pelo prazo de 6 meses (arts. 731 c/c 732 da
CLT).
O não comparecimento do reclamante e a consequente extinção do
processo sem julgamento de mérito (conhecido como arquivamento)
interrompe a prescrição? O C. TST, na súmula 268 diz: “A ação
trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente
em relação aos pedidos idênticos.”

8.3 - Presença do reclamado

O art. 843 da CLT dispõe que o reclamado também deve estar


presente à audiência. Entretanto, o parágrafo 1o do referido artigo
diz que “é facultado ao empregador fazer-se substituir pelo
gerente, ou qualquer preposto que tenha conhecimento do fato, e
cujas declarações obrigarão o proponente”. Assim, na audiência
trabalhista, o reclamado poderá comparecer pessoalmente ou indicar
um preposto que conheça os fatos da lide.
Mesmo que o art. 843, parágrafo 1o, não exija, o TST, por meio
da súmula 377 entende que o preposto tem de ser empregado da
empresa, exceto quanto à reclamação do empregado doméstico, ou
contra micro e pequeno empresário.
Se o empregador não comparece à audiência, determina o art.
844 da CLT que “importa revelia, além da confissão quanto à
matéria de fato”.

8.4 - Primeiro ato processual da audiência: tentativa de


conciliação

Determina o art. 846 da CLT que: “aberta a audiência, o juiz


proporá a conciliação”. Se houver acordo, lavrar-se-á termo,
assinado pelo juiz e pelos litigantes, consignando-se o prazo e
demais condições para o seu cumprimento. Entre as condições que
podem constar no termo, poderá ficar estabelecida a de ficar a
parte que descumprir o acordo obrigada a satisfazer integralmente
o pedido, ou a pagar uma indenização convencionada, sem prejuízo
do cumprimento do acordado (art. 846, parágrafos 1o e 2o, da CLT).
No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como
decisão irrecorrível (súmula 259 do TST), salvo para a Previdência
Social quanto às contribuições que lhe forem devidas (CLT, art.
831, parágrafo único).

19. DEFESA

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Direito Processual do Trabalho
9.1 - A resposta

A CLT trata da defesa do réu no artigo 847, nos seguintes


termos: “não havendo acordo, o reclamado terá 20 minutos para
aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não
for dispensada por ambas as partes”.
Assim, diferente do processo civil, onde a resposta é
apresentada mediante protocolo no prazo de 15 dias (art. 297 do
CPC, pelo menos no procedimento ordinário), no processo do
trabalho, a resposta do réu é apresentada em audiência (seja ela
exceção, contestação ou reconvenção), após a tentativa frustrada de
transação.

9.2- A resposta do réu poderá ser oral ou escrita

Como o autor pode apresentar sua reclamação de forma verbal


(CLT, art. 840), assim também ocorre quanto à resposta do réu
(CLT, art. 847). A resposta pode ser verbal, pois o artigo citado
diz que o réu terá vinte minutos para aduzir a sua defesa.
Entretanto, no dia a dia, as defesas são elaboradas por escrito
pelos advogados.
9.3 - Defesa quanto ao processo e quanto ao mérito

A defesa poderá atacar o próprio processo (defesa processual),


ou os fatos que dão base aos pedidos (defesa de mérito), ou ambos
(defesa processual e defesa de mérito).
Quanto à defesa processual, ela pode ser dilatória, quando não
visa por fim à relação processual, como, por exemplo, alegação de
exceção de incompetência territorial; ou peremptória, quando visa
por fim à relação processual, como, por exemplo, a alegação de
litispendência.
A defesa de mérito pode ser direta, quando o reclamado nega o
fato afirmado pelo reclamante, como, por exemplo, na alegação de
que o reclamante não trabalhou para o reclamado; ou pode ser
indireta, quando o reclamado aceita o fato alegado pelo
reclamante, mas lhe impõe um outro impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor, como, por exemplo, quando o
reclamado reconhece o vínculo de trabalho, mas alega que o
reclamante era autônomo.

9.4 - Formas de defesa do réu

A CLT (art. 846) faz referência à defesa, em sentido genérico.


Entretanto, isso não impede que a defesa, além da contestação,
inclua as exceções (art. 799 da CLT), a reconvenção (art. 315 do
CPC) e o reconhecimento do pedido (art. 269, I, do CPC).
A CLT traz também uma particularidade com relação ao processo
do trabalho: a possibilidade de o reclamado arguir compensação (de
obrigações) e retenção (de coisas), conforme artigo 767 da CLT,
que preceitua: “a compensação, ou retenção, só poderá ser arguida
como matéria de defesa”.

Professor Carlos Alberto Begalles 34


Direito Processual do Trabalho

9.5 - Exceção de incompetência territorial

A exceção de incompetência é alegada quando o réu não concorda


com o foro para o qual foi distribuída a petição inicial. A
discordância não é meramente subjetiva, mas com base em leis
processuais que determinam a competência.
A exceção de incompetência territorial deve ser apresentada em
audiência pelo réu porque este é o primeiro momento em que o réu
se manifesta nos autos.
Cumpre à parte alegar a exceção indicando o juízo para o qual
declina, conforme dispõe o art. 307 do CPC. Entretanto, como a
defesa pode ser apresentada verbalmente (art. 847 da CLT), nada
impede que o réu apresente exceção de incompetência verbalmente.
Recebida a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos
autos ao exceto por 24 horas, não prorrogáveis, devendo a decisão
ser proferida na primeira audiência, ou sessão que se seguir (art.
800 da CLT).
Instruído o processo, cabe ao juiz proferir e publicar a
decisão, da qual, dependendo da situação, caberá recurso:
a) se o juízo não acolher a exceção de incompetência relativa
territorial, não caberá recurso de imediato, mas somente após a
sentença, quando a parte poderá, no recurso ordinário, alegar
novamente a matéria (súmula 214 do C. TST);
b) se o juízo acolher a exceção de incompetência territorial, mas
o juízo para o qual se declinou pertence ao mesmo TRT do juízo
originário, não cabe recurso de imediato, e sim somente após a
sentença, quando a parte poderá, no recurso ordinário, alegar
novamente a matéria (súmula 214 do C. TST);
c) se o juízo acolher a exceção de incompetência territorial e o
juízo indicado como o competente pertencer à jurisdição de outro
TRT, cabe recurso ordinário de imediato (súmula 214 do C. TST).

9.6 - Exceção de impedimento

O motivo para que a parte tenha a possibilidade de alegar a


exceção de impedimento do juiz está no fato de que o processo deve
ser conduzido por um juiz imparcial. Inclusive, a imparcialidade
do juiz é um dos pressupostos de desenvolvimento válido do
processo.
O art. 801 da CLT, que se refere à suspeição, trata tanto de
casos de suspeição, como de impedimento.
O referido artigo faz somente referência à suspeição, quando
na verdade trata também de casos de impedimento. Por quê? Segundo
Teixeira Filho: “A CLT, em seu art. 799, caput, alude, apenas, às
exceções de suspeição e de incompetência, vale dizer: a) não trata
do impedimento e b) não diz que somente a incompetência relativa
pode ser objeto de exceção. Há uma justificativa histórica (ou
cronológica) para esse fato. Sucede que a CLT foi dada a lume
quando estava a viger o CPC de 1939 – o primeiro Código unitário

Professor Carlos Alberto Begalles 35


Direito Processual do Trabalho
que o país conheceu. No art. 182, deste álbum processual: a)
também não se falava do impedimento (inciso I), mas, só, da
suspeição e da incompetência; b) o inciso II, do mesmo
dispositivo, deixava claro que a incompetência absoluta também
poderia constituir fundamento da exceção, ainda que ao juiz fosse
permitido pronunciar essa incompetência ‘em qualquer tempo ou
instância’”.14
O art. 801 da CLT traz um impedimento na alínea “c”:
parentesco por consanguinidade ou afinidade até o terceiro grau
civil. Entretanto, a doutrina e a jurisprudência entendem que os
casos do art. 134 do CPC, por aplicação subsidiaria, na forma do
art. 769 da CLT, são perfeitamente aplicáveis ao processo do
trabalho, quando a norma trabalhista for omissa.
A oportunidade para que a parte alegue o impedimento é a
primeira vez que tiver que falar em audiência ou nos autos, a
partir do momento em que o fato que se enquadra na previsão legal
existir (art. 305 do CPC).
A exceção de impedimento poderá ser apresentada por escrito
ou verbalmente (art. 847 da CLT c/c o art. 802 da CLT). O art. 802
da CLT sempre preceituou que o próprio juiz julgaria o feito
relativo à alegação do impedimento, em razão da existência dos
juízes classistas na Justiça do Trabalho. Todavia, com a
promulgação da EC 24/99, o julgamento deve ser efetuado pelo TRT,
caso o impedimento seja de um juiz da Vara do Trabalho. Adota-se o
mesmo procedimento do CPC (art. 313), ou seja, despachando a
petição, o juiz - se reconhecer o impedimento ou a suspeição -
ordenará a remessa dos autos ao seu substituto legal; caso
contrário, dentro de 10 dias dará as suas razões - acompanhadas de
documentos e de rol de testemunhas, se houver - ordenando a
remessa dos autos ao tribunal.

9.7 - Exceção de suspeição

A suspeição está relacionada a aspectos subjetivos, isto é,


“diz respeito à pessoa do juiz, dependendo das relações pessoais
do juiz”.15 Os casos de suspeição estão no art. 801 da CLT e,
supletivamente, no art. 135 do CPC.
A oportunidade para que a parte alegue a suspeição (ou
impedimento) é à primeira vez em que tiver que falar em audiência
ou nos autos, a partir do momento em que o fundamento legal
existir.
A exceção de suspeição poderá ser apresentada por escrito ou
verbalmente (art. 847 da CLT c/c o art. 802 da CLT). O art. 802 da
CLT sempre preceituou que o próprio juiz julgaria o feito relativo
à alegação de suspeição, em razão da existência dos juízes
classistas na Justiça do Trabalho. Todavia, com a promulgação da
EC 24/99, o julgamento deve ser efetuado pelo TRT, caso a
suspeição seja de um juiz da Vara do Trabalho. Adota-se o mesmo
procedimento do CPC (art. 313), ou seja, despachando a petição, o
14
Petição inicial e resposta do réu. São Paulo: LTr. 1996, p. 155.
15
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 20a ed. São Paulo: Atlas. 2003. p. 265.
Professor Carlos Alberto Begalles 36
Direito Processual do Trabalho
juiz - se reconhecer o impedimento ou a suspeição - ordenará a
remessa dos autos ao seu substituto legal; caso contrário, dentro
de 10 dias, dará as suas razões - acompanhadas de documentos e de
rol de testemunhas - se houver, ordenando a remessa dos autos ao
tribunal.
Conforme o art. 801, parágrafo único, da CLT, se o recusante
houver praticado algum ato pelo qual haja consentido na pessoa do
juiz, não mais poderá alegar exceção de suspeição, salvo
sobrevindo novo motivo. A suspeição não será também admitida se do
processo constar que o recusante deixou de alegá-la anteriormente,
quando já a conhecia, ou que, depois de conhecida, aceitou o juiz
recusado ou, finalmente, procurou de propósito o motivo de que ela
se originou.

9.8 - Contestação

9.8.1 - Considerações gerais

A contestação constitui-se na defesa típica e mais importante


do réu, onde terá oportunidade de refutar os fatos afirmados pelo
autor, ou a própria relação jurídica processual. Assim como o
autor tem o direito constitucional de ação (art. 5o, XXXV, CF), o
réu tem o direito constitucional de defesa (art. 5o, LIV e LV, CF).

9.8.2 - Tipos de contestação

A defesa do réu na contestação pode ser processual (art. 301


do CPC), como, por exemplo, as preliminares; ou de mérito (arts.
300 e 302 do CPC), como, por exemplo, a contestação dos fatos
alegados pelo autor.
Além disso, a defesa de mérito pode ser direta, quando o autor
nega o fato afirmado pelo reclamante, como, por exemplo, a
alegação de que o reclamante não trabalhou para o reclamado; ou
pode ser indireta, quando o reclamado aceita o fato alegado pelo
reclamante, entretanto lhe impõe um outro impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito de autor. Isso ocorre, por exemplo, quando
o reclamado reconhece o vínculo de trabalho, mas alega que o
reclamante era autônomo.

9.8.3 Requisitos e técnica de elaboração da contestação

Assim como a petição inicial tem seus requisitos (art. 840,


parágrafo 1o da CLT), a contestação também deve obedecer a
formalidades. Deve conter cabeçalho indicando o juízo para o qual
é elaborada; qualificação das partes (é dispensável quando já
consta na petição inicial; entretanto, algumas vezes os dados
estão incorretos e cabe ao réu fazer constar na contestação); os
fatos e fundamentos jurídicos pelos quais refuta as alegações do
autor. Além disso deve trazer as provas documentais pelas quais
pretende provar o alegado na contestação (art. 787 da CLT).

Professor Carlos Alberto Begalles 37


Direito Processual do Trabalho
Quanto à técnica de elaboração, a contestação,
preferencialmente, deve conter a seguinte ordem de apresentação de
matérias:
a) preliminares (art. 301 do CPC);
b) prejudiciais de mérito: tais como prescrição, decadência,
quitação, compensação, exame de inconstitucionalidade de uma lei
etc.;
c) mérito (refere-se aos fatos).

10 - Reconvenção

A reconvenção é uma ação do réu em face do autor na mesma


relação processual (CPC, art. 315). É aceita no processo do
trabalho, a teor do art. 769 da CLT.
Em alguns processos o réu não precisa reconvir para receber o
seu crédito, pois pode requerer a compensação, que pode ser
requerida na contestação (a teor do art. 767 da CLT). Todavia, o
réu terá que reconvir quando o seu crédito for maior do que o
valor a compensar e, como o rito ordinário trabalhista não possui
natureza dúplice, não resta alternativa ao réu a não ser reconvir
para receber o crédito excedente.
Oferecida a reconvenção (em audiência, já que este é o momento
para produzir defesa), o juiz terá que adiá-la e proporcionar ao
reconvindo prazo para produção de sua defesa, exceto se ele abrir
mão deste prazo e produzir a contestação da reconvenção em
audiência.
Quanto ao procedimento da reconvenção em audiência, não há
peculiaridade alguma: tratando-se de uma ação autônoma, deve
ocorrer a tentativa de conciliação antes da apresentação da defesa
por parte do réu, recebimento da defesa, réplica, instrução,
razões finais, nova tentativa de conciliação e, por fim,
julgamento (julgar-se-ão na mesma sentença a ação e a reconvenção
- art. 318 do CPC).
A desistência da ação principal, ou a existência de qualquer
causa que a extinga, não obsta ao prosseguimento da reconvenção
(art. 317 do CPC).

11. TEORIA GERAL DA PROVA


11.1 - Noções gerais

A instrução do processo é o momento em que o juiz tem contato


com os litigantes, as testemunhas, os documentos e os peritos,
para esclarecimento dos fatos controvertidos. As provas são
produzidas, como regra, em audiência (art. 845 da CLT). Há
exceções, como por exemplo, a prova pericial, que é realizada no
local no local do fato (por exemplo: insalubridade) ou na pessoa
de um dos litigantes (por exemplo: doença ocupacional).

11.2 - Objeto da prova

Professor Carlos Alberto Begalles 38


Direito Processual do Trabalho
O objeto da prova são os fatos, as alegações da parte (ver
art. 818 da CLT e art. 332 do CPC). Além disso, somente há
necessidade de produção da provas sobre fatos controvertidos,
relevantes e determinados.
Todavia, nem todos os fatos necessitam de prova. Segundo o
CPC, artigo 334, não dependem de prova os fatos notórios, os fatos
afirmados por uma das partes e confessados pela parte contrária,
os fatos admitidos no processo como incontroversos e, por fim, em
cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.
Além disso, não se prova, regra geral, o direito, exceto nas
hipóteses do art. 337 do CPC, ou seja, a parte que alegar direito
municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provará o teor
e a vigência, se assim o determinar o juiz.

11.3 - Distribuição do ônus da prova

Determina o art. 818 da CLT que: “A prova das alegações


incumbe à parte que as fizer”. A maioria da doutrina e a
jurisprudência entendem que o artigo 818 da CLT não regula a
matéria de forma esclarecedora e, portanto, com fulcro no art. 769
da CLT, deve-se utilizar do disposto no art. 333 do CPC: “O ônus
da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu
direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor”.

11.4 - Revelia e produção de provas

Havendo a revelia (ausência de contestação por parte do réu) o


juiz, com fulcro no artigo 844 da CLT, poderá proferir sentença,
julgando antecipadamente a lide. Isso significa dizer que o réu
não terá mais oportunidade de produzir prova em 1o grau. Todavia,
em grau de recurso, a parte revel pode apresentar documentos para
elidir a revelia (súmulas 8 e 122 do C. TST).

12. PROVAS EM ESPÉCIE

12.1 - Interrogatório e depoimento pessoal das partes

A doutrina processual civil, com base nos art. 342 e 343 do


CPC, faz uma distinção entre interrogatório da parte e depoimento
pessoal. Interrogatório da parte seria o “mecanismo que de que se
vale o juiz para aclarar pontos do processo que ele repute
importantes para a decisão da causa”16. Já o depoimento pessoal “é
meio de prova que tem como principal finalidade fazer com que a
parte que o requereu obtenha a confissão, espontânea ou provocada,
da parte contrária, sobre fatos relevantes à solução da causa”17.

16
NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JÚNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 2003. p. 731.
17
NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JÚNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 2003. p. 732.
Professor Carlos Alberto Begalles 39
Direito Processual do Trabalho
Tecnicamente, pode-se dizer que entre o interrogatório e o
depoimento pessoal há uma diferença no sentido de que o primeiro
pode ocorrer a qualquer momento e é determinado pelo juiz (art.
848 c/c 813, parágrafo 2o da CLT), enquanto o depoimento pessoal
precisa ser requerido pela parte no momento oportuno, no caso do
processo do trabalho, na audiência de instrução e julgamento (art.
343 do CPC c/c art. 769 da CLT), sob pena de preclusão.
As partes devem ser interrogadas pessoalmente, ou seja, o
empregado deve se interrogado pessoalmente e o empregador
pessoalmente ou por meio de seu preposto (súmula 377 do TST).
O advogado da parte não pode prestar depoimento pessoal,
exceto se for ao mesmo tempo advogado e empregado da reclamada, ou
somente empregado, conforme art. 843, parágrafo 1o, da CLT.
No caso de litisconsórcio ativo, principalmente nas chamadas
ações plúrimas (vários autores), determina o art. 843 da CLT que
os empregados poderão ser representados em audiência pelo
sindicato de sua categoria.
No caso de empregado menor de 18 anos, como este pode laborar
dos 14 aos 18 anos, a doutrina admite que preste depoimento
pessoal, desde que assistido pelos pais ou representantes legais.
Se a parte não souber falar a língua nacional, o depoimento
será feito através de intérprete nomeado pelo juiz. O mesmo
ocorrerá quando se tratar de surdo-mudo, ou de mudo que não saiba
escrever (art. 819 da CLT).
A ordem do depoimento pessoal das partes é o mesmo das
testemunhas (art. 344 do CPC). Assim, primeiro será ouvido o autor
e depois o réu (art. 413 do CPC). A parte responderá pessoalmente
sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos
adrede preparados; o juiz lhe permitirá, todavia, a consulta a
notas breves, desde que objetivem completar esclarecimentos (art.
346 do CPC).
Dispõe o art. 344 do CPC que, a quem ainda não depôs, é vedado
assistir ao interrogatório da outra parte (art. 344, parágrafo
único). O objetivo deste artigo “é o de possibilitar ao juiz
melhores condições para desvendar a verdade real, apanhando
contradições, principalmente entre o alegado na resposta e o
depoimento do réu”18Ademais, como diz Teixeira Filho: “Quando a
parte, que está sendo ouvida em Juízo, já assistiu ao
interrogatório da outra, a sua preocupação maior é no sentido de
rebater as declarações do litigante adverso e não de responder às
perguntas que lhe são formuladas de acordo com as alegações que
ela, depoente, expendeu na inicial ou na contestação, conforme
seja o caso”.19
Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao
que lhe for perguntado, ou empregar evasivas, o juiz, apreciando

18
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 12a ed. São Paulo: LTr. 2002. p. 204
19
A prova no processo do trabalho. 8a ed. São Paulo: LTr. 2003. p. 244.
Professor Carlos Alberto Begalles 40
Direito Processual do Trabalho
as demais circunstâncias e os elementos da prova, declarará, na
sentença, se houve recusa de depor (art. 345 do CPC).
A parte não é obrigada a depor sobre fatos criminosos ou
torpes que lhe forem imputados e a cujo respeito, por estado ou
profissão, deva guardar sigilo (art. 347 do CPC).

12.2 Confissão

A confissão é o ato pelo qual a parte admite a verdade de um


fato contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. A
confissão ocorre quando a parte declara expressamente em
depoimento pessoal o fato favorável ao adversário ou reconhece em
documento a realização do fato favorável ao adversário ou não
produz a sua defesa (revelia).
A confissão - real ou ficta - tem como efeito a presunção de
veracidade dos fatos alegados pela parte beneficiada com a
confissão (art. 334, II, do CPC).
Se houver litisconsórcio, a confissão somente faz prova contra
o confitente, não prejudicando os litisconsortes que contestaram o
feito ou que prestaram depoimento pessoal e não confessaram (art.
350 do CPC). É muito comum, na Justiça do Trabalho, litisconsórcio
no caso de terceirização, empreitada e subempreitada, sucessão de
empregadores, grupo econômico, ações plúrimas etc.

12.3. Prova documental

O autor deve juntar com a petição inicial os documentos que


alicerçam os seus pedidos (art. 787 da CLT). Ao réu compete juntar
na defesa os documentos que embasam sua tese (art. 845 da CLT).
Essa é a regra do direito processual.
Entretanto, é lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos
autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos
ocorridos depois dos articulados, ou para contrapô-los aos que
foram produzidos nos autos. (art. 397 do CPC). Sempre que uma das
partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz ouvirá, a
seu respeito, a outra, no prazo de cinco dias (art. 398 do CPC).
De acordo com o art. 780 da CLT “os documentos junto aos autos
poderão ser desentranhados somente depois de findo o processo,
ficando traslado”.
O art. 830 da CLT preceitua que: “O documento em cópia
oferecido para prova poderá ser declarado autêntico pelo próprio
advogado, sob sua responsabilidade pessoal. Parágrafo único.
Impugnada a autenticidade da cópia, a parte que a produziu será
intimada para apresentar cópias devidamente autenticadas ou o
original, cabendo ao serventuário competente proceder à
conferência e certificar a conformidade entre esses documentos”
Segundo o art. 390 do CPC, a arguição incidental da falsidade
documental “pode ocorrer em qualquer tempo e grau de jurisdição,
incumbindo à parte contra quem foi produzido o documento suscitá-

Professor Carlos Alberto Begalles 41


Direito Processual do Trabalho
lo na contestação ou no prazo de 10 (dez) dias, contados da
intimação da sua juntada aos autos”. Isso significa dizer que se o
documento falso for juntado com a petição inicial, deve o réu
arguir o incidente de falsidade na contestação, sob pena de
preclusão, tendo-se o documento por verdadeiro. Se o documento for
juntado aos autos por qualquer das partes, pode a outra promover o
incidente de falsidade no prazo de 10 dias de sua intimação acerca
da juntada aos autos do documento (art. 390 do CPC). No caso
específico da audiência una, deve o reclamante, se o reclamado
trouxer documento falso aos autos, alegar a falsidade na réplica,
já que essa é a primeira oportunidade de manifestação do
reclamante sobre os documentos juntados com a defesa, sob pena de
preclusão (art. 795 da CLT).

12.4. Prova testemunhal

Conforme dispõe o art. 821 da CLT, no procedimento ordinário


trabalhista, cada parte poderá indicar até três testemunhas para
comprovar os fatos controvertidos, relevantes e determinados dos
autos. No inquérito para apuração de falta grave, as partes
poderão indicar até seis testemunhas (art. 821 da CLT). No
procedimento sumaríssimo, poderão ser indicadas até duas
testemunhas (art. 852-H da CLT).
Todas as pessoas capazes podem servir como testemunhas.
Segundo o art. 829 da CLT: “a testemunha que for parente até o
terceiro grau civil, amigo íntimo ou inimigo de qualquer das
partes, não prestará compromisso, e seu depoimento valerá como
simples informação”.
Vê-se que o art. 829 da CLT trata somente de três casos
(parente até o terceiro grau civil; amigo íntimo; inimigo da
parte) em que a parte prestará o depoimento somente como
informante, não prestando o compromisso.
Entretanto, há outros casos, que podemos buscar, de forma
subsidiaria, no processo civil (art. 769 da CLT) que também
proíbem que a pessoa sirva como testemunha, são elas: a) no caso
de incapazes, o interdito por demência; o que, acometido por
enfermidade (ou debilidade mental), ao tempo em que ocorreram os
fatos não podia discerni-los; b) ou, ao tempo em que deve depor,
não está habilitado a transmitir as percepções; c) o cego e o
surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam (art. 405, parágrafo 1º, do CPC).
Quando ao menor, se tiver 16 anos, poderá depor como
testemunha, conforme dispõe o art. 228, I, do CC e art. 405,
parágrafo 1o, III, do CPC. Alguns autores sustentam que pelo fato
de o menor 18 anos não poder responder pelo crime de falso
testemunho (art. 23 do CP c/c art. 228 da CF), deverá prestar o
depoimento como informante, pois de nada valeria tomar-lhe o
compromisso legal (art. 415 do CPC).

Professor Carlos Alberto Begalles 42


Direito Processual do Trabalho
Segundo o TST, por meio da súmula 357, a pessoa que promove
ação em face da empresa pode ser testemunha em outro processo em
que um colega de trabalho esteja demandando também em face da
empresa
Dispõe o art. 828 da CLT que “toda testemunha, antes de
prestar o compromisso legal, será qualificada, indicando o nome,
nacionalidade, profissão, idade, residência, e, quando empregada,
o tempo de serviço prestado ao empregador, ficando sujeito, em
caso de falsidade, às leis penais”.
É cabível no processo do trabalho o disposto no art. 414,
parágrafo 1o, do CPC, ou seja, a contradita, que consiste em um
requerimento feito pela parte, no sentido de que não se ouça o
depoimento da testemunha por incapacidade, impedimento ou
suspeição.
Se a testemunha negar os fatos que lhe são imputados, a parte
poderá provar a contradita com documentos ou com testemunhas.
Sendo provada a contradita, ou confessados os fatos alegados na
contradita pela testemunha, o juiz dispensará a testemunha, ou lhe
tomará o depoimento como informante, sem prestar o compromisso.
Nesse caso, o juiz dará ao depoimento da testemunha informante “o
valor que merecer”, conforme art. 405, parágrafo 4o, do CPC.
Segundo o art. 845 da CLT, “o reclamante e o reclamado
comparecerão à audiência acompanhados das suas testemunhas,
apresentando, nessa ocasião, as demais provas”. Por sua vez, o
art. 825 da CLT determina que “as testemunhas comparecerão à
audiência, independentemente de notificação ou intimação”.
Como regra geral, a prova testemunhal será sempre admitida.
Entretanto, o Código de Processo Civil, em seu art. 400, descreve
quatro situações em que o juiz indeferirá a oitiva de testemunhas
quando:

a) o fato já estiver provado por documento;


b) houver confissão da parte;
c) só por documento puder ser provado;
d) só por exame pericial puder ser provado.

Conforme art. 822 da CLT, “as testemunhas não poderão sofrer


qualquer desconto pelas faltas ao serviço, ocasionadas pelo seu
comparecimento para depor, quando devidamente arroladas ou
convocadas”. Esse, inclusive, é o entendimento do Enunciado 155 do
C. TST: “as horas em que o empregado falta ao serviço para
comparecimento necessário, como parte, à Justiça do Trabalho, não
serão descontadas de seus salários”.
Vimos que a testemunha será qualificada e, antes que preste o
compromisso, poderá ser contraditada pela parte contrária. Se não
houver a contradita, o juiz adverte a testemunha de que ela
compareceu a audiência para dizer a verdade sobre os fatos que lhe
forem perguntados, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho (art. 342 do Código Penal).

Professor Carlos Alberto Begalles 43


Direito Processual do Trabalho
O juiz providenciará para que o depoimento de uma testemunha
não seja ouvido pelas demais que tenham de depor no processo (art.
824 da CLT).
As testemunhas são inquiridas pelo juiz e reinquiridas pelas
partes (ou seus advogados), por meio do juiz. O juiz interrogará a
testemunha e depois o advogado que a arrolou poderá fazer
perguntas a ela. Por último, o advogado da parte contrária poderá
fazer perguntas a testemunha.
Caso o juiz indefira alguma pergunta da parte (ou de seu
advogado), por entender que a pergunta é irrelevante ou que não
tem relação com o fato controvertido etc., poderá a parte requerer
que está pergunta conste em ata (art. 416, parágrafo 2o da CLT).

12.5. Prova pericial

Dispõe o art. 145 do CPC que “quando a prova do fato depender


de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por
perito”. Perito é um terceiro na relação processual, que possui
conhecimento técnico ou científico, e que é chamado ao processo
pelo juiz para demonstrar como determinados fatos aconteceram,
subsidiando o magistrado no seu julgamento.
O procedimento da prova pericial é a seguinte:
a) Ao determinar a perícia, o juiz concede às partes a faculdade
de nomear um assistente técnico e apresentar quesitos, ou seja,
perguntas a serem respondidas pelo perito (art. 3o da Lei 5.584/70
c/c art. 421, parágrafo 1o, II, do CPC);
b) O CPC exige que as partes tenham ciência da data e local
designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a
produção da prova (431-A).
c) Para realizar a perícia, podem o perito e os assistentes
técnicos se utilizarem de todos os meios necessários: ouvir
testemunhas, obter mais informações, solicitar documentos que
estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como
instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras
quaisquer peças (art. 429 do CPC).
d) As partes poderão apresentar, durante a realização da perícia,
quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos, dará o
escrivão ciência à parte contrária.
e) Terminada a perícia e elaborado o laudo, o perito o entregará
na Secretaria da Vara e o juiz determinará a intimação das partes
para manifestarem-se sobre ele.
g) O juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da parte,
a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer
suficientemente esclarecida. A segunda perícia tem por objeto os
mesmos fatos sobre que recaiu a primeira e destina-se a corrigir
eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu.
A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a
primeira (arts. 437 a 439 do CPC).

Professor Carlos Alberto Begalles 44


Direito Processual do Trabalho
Deve o perito cumprir escrupulosamente o encargo que lhe foi
cometido, prestando o compromisso (art. 827 da CLT).
O perito pode recusar a sua nomeação alegando motivo legítimo,
no prazo de 5 (cinco) dias, contados da intimação (art. 423 c/c
art. 146, ambos do CPC).
Qualquer das partes podem recusar o perito por impedimento ou
suspeição (art. 138, III, c/c art. 423, ambos do CPC).
O perito pode ser substituído quando carecer de conhecimento
técnico ou científico ou, sem motivo legítimo, deixar de cumprir o
encargo no prazo que lhe foi assinado (art. 424 do CPC).
12.6. Inspeção judicial

A inspeção judicial é um meio de prova pelo qual o juiz, no


curso do processo, a requerimento da parte ou ex officio, faz a
vistoria de pessoas ou coisas, a fim de esclarecer fatos
relevantes para o deslinde da causa.
A CLT é omissa acerca da inspeção judicial. Assim, com fulcro
no art. 769 da CLT, deve o jurista subsidiar-se do CPC, onde o
assunto é tratado nos artigos 440 a 443.

13. RAZÕES FINAIS


Dispõe a CLT, em seu artigo 850, parágrafo único, que,
“terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em
prazo não excedente de dez minutos para cada uma. Em seguida, o
juiz renovará a proposta de conciliação, e, não se realizando
esta, será proferida a decisão”.
As razões finais têm os seguintes objetivos:

a) evitar a preclusão de nulidades (art. 795 da CLT)


b) esclarecer o juiz acerca de fatos importantes ocorridos no
trâmite do processo;
c) convencer o julgador da legalidade e da justiça dos pedidos da
parte;

14. SENTENÇA

No que se refere aos requisitos da sentença, o art. 832 da CLT


determina: “Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo
do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da
decisão e a respectiva conclusão.” Em que pese o art. 832 da CLT
utilize o termo “decisão” essa palavra aqui é sinônimo de
“sentença”.
Assim, a sentença trabalhista, no dissídio individual, deve
conter: a) o nome das partes e o resumo do pedido e da defesa; b)
Professor Carlos Alberto Begalles 45
Direito Processual do Trabalho
a apreciação das provas e os fundamentos da decisão; c) a
conclusão.

14.1. Julgamento extra petita, ultra petita e citra petita

Os artigos 128 e 460 da CLT são plenamente aplicáveis ao


processo do trabalho, por disposição do art. 769 da CLT.

Art.128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi


proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não
suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da
partes.

Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do


autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu
em quantidade superior ou objeto diverso do que lhe foi
demandado.

Se o juiz deferir à parte quantia superior à pedida, o


julgamento se caracteriza como ultra petita. Se o juiz deferir
menos do que foi pedido, o julgamento é citra petita. E se o juiz
deferir fora do que foi pedido, a sentença é extra petita.
As sentenças ultra petita ou extra petita poderão ser
reformadas em eventual recurso, para que o Tribunal possa, nas
palavras de Rodrigues Pinto, “podar-lhe o excesso”20. Constatando o
Tribunal o excesso ou o julgamento fora do pedido, simplesmente
fará a sua adequação. Já no caso de sentença citra petita, compete
à parte interpor embargos de declaração, para suprir a ausência de
julgamento no ponto atacado.
A jurisprudência vem entendendo que se a sentença é citra
petita pode, inclusive, ser rescindida mesmo quando a parte
interessada não tenha oposto embargos declaratórios (OJ n. 41 da
SBDI-II do TST).
No caso de fato superveniente (art. 462 da CLT), o julgamento
do juiz não será extra petita, pois estará obedecendo
rigorosamente o disposto na legislação: “Se, depois da propositura
da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do
direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de
proferir a sentença.”
Pode-se citar, a titulo de exemplo, a aplicação do referido
artigo na Justiça do Trabalho: a) quando o empregado pleiteia
rescisão indireta do contrato de trabalho e continua laborando
para o empregador e, posteriormente, é dispensado; b) quando há
pedido de reintegração de empregado com estabilidade provisória e
está se exaure antes do transito em julgado da decisão; etc.

14.2. O princípio da identidade física do Juiz

Preceitua o art. 132 do CPC: “O Juiz, titular ou substituto,


que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver

20
Processo trabalhista de conhecimento. 6a ed. São Paulo: LTr. 2001, p. 448.
Professor Carlos Alberto Begalles 46
Direito Processual do Trabalho
convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou
aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.”
Assim, pelo CPC, a regra é a de que o juiz que concluiu a
instrução deve sentenciar o processo. Isso está alicerçado no
propósito de conferir maior qualidade aos julgamentos, por isso o
artigo reza que o juiz que instruir o processo, mantendo contato
com as testemunhas, a ele deve ficar vinculado, proferindo a
sentença.
O art. 132 do CPC, apesar da omissão da CLT, não é aplicado ao
processo do trabalho, por força de duas súmulas: a do STF (súmula
222) e a do TST (súmula 122), que sempre entenderam inaplicável o
princípio da identidade física do juiz ao processo do trabalho.

14.3. Publicação da sentença

Dispõe o art. 852 da CLT que: “da decisão serão os litigantes


notificados, pessoalmente, ou por seu representante, na própria
audiência. No caso de revelia, a notificação far-se-á pela forma
estabelecida no parágrafo 1o do art. 841”.
Como a audiência na Justiça do Trabalho é una, as partes são
intimadas da sentença na própria audiência, começando aí o prazo
para eventual recurso (art. 834 da CLT). Todavia, na prática,
muitos juízes determinam, ao final da audiência de instrução, uma
data para audiência de publicação de sentença, que terá que ser no
máximo em 10 dias (art. 456 do CPC), prorrogável por mais 10 dias
(art. 187 do CPC). Nesse caso, aplica-se o disposto na súmula 197
do TST: “o prazo para recurso da parte que, intimada, não
comparecer à audiência em prosseguimento para a prolação da
sentença conta-se de sua publicação”. Entretanto, sendo o
reclamado revel, deverá ser intimado da sentença, conforme
determina o art. 852 da CLT.
Se não for determinada data para a publicação da sentença ao
final da instrução (sine die), conta-se o prazo a partir da
intimação das partes.

15. COISA JULGADA

A coisa julgada é o fenômeno jurídico processual pelo qual a


decisão torna-se irrecorrível e, consequentemente, torna-se
indiscutível e imutável, quando ultrapassado o prazo para recurso,
ou quando esgotarem-se os recursos legais possíveis.
O fundamento da coisa julgada reside no princípio da segurança
jurídica, para que as ações não sejam eternizadas, ou mesmo que
não sejam repetidas inúmeras vezes. Essa segurança jurídica é mais
política do que de justa. O legislador, quando trata da coisa
julgada, tem como intenção: “(...) imperativo de ordem prática, qual seja,
o de não mais permitir que retornem à discussão questões já soberanamente
decididas pelo Poder Judiciário. Em outros termos, o objeto da coisa
julgada repousa na segurança nas relações jurídicas e na

Professor Carlos Alberto Begalles 47


Direito Processual do Trabalho
pacificação dos conflitos, possibilitando, assim, a convivência
social”.21
A coisa julgada, segundo a legislação, possui dois atributos,
quais sejam: a irrecorribilidade e a imutabilidade da decisão.
Significa dizer que, no momento em que ocorre a chamada coisa
julgada, não é mais possível à parte interessada apresentar
qualquer recurso. Significa dizer também que a decisão dentro do
mesmo processo é imutável. Entretanto, há casos em que a
imutabilidade não vigora, pois a parte interessada pode, em outro
processo, discutir o mérito da causa anteriormente extinta.
Todavia, para que isso possa ser compreendido, é preciso entender
a diferença entre as espécies de coisa julgada: coisa julgada
formal e coisa julgada material, pois toda sentença ou acórdão, em
algum momento, passará a ter a qualidade de coisa julgada formal,
mas nem toda sentença ou acórdão passará a ter a qualidade de
coisa julgada material.
A coisa julgada formal é aquela que está relacionada com o fim
do processo, quando não cabe mais nenhum recurso dentro da mesma
relação processual, seja porque a parte não quis recorrer, seja
porque já foram interpostos todos os recursos. Quando há coisa
julgada formal não há possibilidade de se mudar a sentença ou
acórdão dentro do mesmo processo. Fazem coisa julgada formal tanto
as sentenças que decidem o mérito, quanto aquelas que não decidem
o mérito. Isso quer dizer que, extinto o processo, seja com
julgamento de mérito, seja sem julgamento de mérito, ocorre a
coisa julgada formal, ou seja, dentro daquele processo, não é
possível mais ocorrer qualquer discussão.
A coisa julgada material existirá quando o juiz proferir uma
decisão de mérito (que analisa os pedidos da parte) e está
relacionada com o conteúdo da decisão. Nesse caso, “faz nascer a
imutabilidade daquilo que tenha sido decidido para além dos
limites daquele processo em que se produziu, ou seja, quando sobre
determinada decisão judicial passa a pesar autoridade de coisa
julgada, não se pode mais discutir sobre aquilo que foi decidido
em nenhum outro processo”.22 São exemplos de sentença que produzem
coisa julgada material aquela que acolhe ou rejeita o pedido do
autor; quando o juiz pronuncia a decadência e a prescrição etc.
Pela leitura do art. 469 do CPC, verificamos que somente
ocorre a coisa julgada com relação à parte dispositiva da
sentença.
As razões que levaram o juiz a julgar procedente ou
improcedente o pedido não fazem coisa julgada. “Continuam,
portanto, passíveis de ser objeto de discussão, em outros
processos posteriores”.23

21
BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de direito processual do trabalho. 2a ed. São Paulo: LTr. 2004,
p. 424.
22
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINE, Eduardo. Curso avançado
de processo civil. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 615. v 1.
23
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINE, Eduardo. Curso avançado
de processo civil. vol. 1. 3a ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2000, p. 616.
Professor Carlos Alberto Begalles 48
Direito Processual do Trabalho
A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada,
não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas
ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em
litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença
produz coisa julgada em relação a terceiros.
As sentenças que tratam de relações continuativas não fazem
coisa julgada material. É o que determina o art. 471, I, do CPC:
Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas
à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica
continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou de
direito; caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi
estatuído na sentença.
Nos processos perante a Justiça do Trabalho (Decreto-Lei
779/69, art. 1o, inciso V), constitui privilégio da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias ou
fundações de direito público federais (estaduais ou municipais,
que não explorem atividades econômicas) o recurso ordinário ex
officio das decisões que lhe sejam total ou parcialmente
contrárias.
A referida disposição legal institui uma condição de eficácia
da sentença, que, embora existente e válida, somente produzirá
efeitos depois de confirmado pelo Tribunal competente, ou seja, a
sentença proferida em face dos citados entes públicos somente terá
a qualidade da coisa julgada quando apreciada pelo Tribunal
superior competente, mesmo que não tenha ocorrido recurso
voluntário do ente interessado.
Há que se ressaltar que o C. TST tem entendimento já sumulado
no sentido de que, no caso desse artigo 1o, V, do Decreto-Lei
779/69, aplica-se o disposto no art. 475, parágrafos 2o e 3o, do
CPC, ou seja, quando a demanda não exceder a 60 (sessenta)
salários mínimos - ou a sentença estiver fundada em jurisprudência
do plenário do Supremo Tribunal Federal, ou em súmula deste
Tribunal ou do tribunal superior competente - não há que se falar
em reexame necessário, ou seja, nesses casos, deve haver recurso
voluntário do ente interessado, sob pena de formação da coisa
julgada (súmula 303).

16. RECURSO

A doutrina sempre classificou os pressupostos recursais em


objetivos e subjetivos.
Os pressupostos subjetivos são: legitimidade; capacidade e
interesse. Os pressupostos objetivos são: recorribilidade do ato
processual; adequação do recurso; tempestividade; fundamentação do
recurso; representação regular; preparo (pagamento das custas);
depósito recursal e inexistência de impedimentos recursais.
Todavia, atualmente, a doutrina passou a não designar os
pressupostos processuais em subjetivos e objetivos, mas sim em
extrínsecos e intrínsecos, simplesmente mudando-se o nome de
subjetivo para intrínseco e objetivo para extrínseco.

Professor Carlos Alberto Begalles 49


Direito Processual do Trabalho
Entretanto, entende-se que essa utilização como sinônimo entre
pressuposto subjetivo e intrínseco e objetivo e extrínseco está
equivocada, pois pressupostos extrínsecos são os pressupostos
comuns a todos os recursos e continuam sendo os pressupostos
objetivos e subjetivos; e os intrínsecos são os pressupostos
inerentes ou específicos de determinados recursos. Essa é
inclusive, o ensinamento de João Oreste Dalazen: “Há pressupostos
comuns ou extrínsecos de admissibilidade e há pressupostos
intrínsecos ou específicos de admissibilidade. Os pressupostos
comuns ou extrínsecos são os exigíveis da generalidade dos
recursos e os únicos exigíveis dos recursos de natureza ordinária
(recurso ordinário, agravo de petição e agravo de instrumento). Os
pressupostos intrínsecos ou específicos – isto é, que devem
coexistir com os pressupostos comuns -, exigíveis dos recursos de
natureza extraordinária (recurso de revista, recurso de embargos e
recurso extraordinário). Tais recursos, precisamente porque não
têm por finalidade imediata propriamente distribuir justiça às
partes, não se viabilizam ante a mera sucumbência da parte em face
da decisão e a presença dos pressupostos comuns: reclamam, além
destes, outros pressupostos. Assim, por exemplo, no caso do
recurso de revista, a sua admissibilidade está condicionada também
à configuração de uma das hipóteses contempladas no art. 896, da
CLT”.24
Assim, quando o art. 897-A da CLT diz que cabem embargos de
declaração acerca do manifesto equívoco no exame dos pressupostos
extrínsecos do recurso está se referindo aos pressupostos
subjetivos e objetivos.

17. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Os embargos de declaração estão regulados pelo art. 897-A da


CLT.
Determina o art. 897- A da CLT:
Art. 897-A. Caberão embargos de declaração da sentença ou
acórdão, no prazo de 5 (cinco) dias, devendo seu julgamento
ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente à sua
apresentação, registrado na certidão, admitido efeito
modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no
julgamento e manifesto equívoco no exame dos pressupostos
extrínsecos do recurso.

Em que pese o art. 897-A da CLT faça referência à sentença ou


acórdão, Mallet entende que: “Também as decisões interlocutórias
admitem semelhante impugnação, segundo assentado na jurisprudência
e doutrina, na linha, aliás, do que se encontra em outros sistemas
jurídicos, podendo ainda estender-se a conclusão aos despachos de
mero expediente e mesmo aos atos de servidor, referidos no art.
162, parágrafo 4o, do CPC. O cabimento de outro recurso ou a

24
Recursos Trabalhistas: estudos em homenagem ao ministro .São coordenação de Armando Cassimiro
Costa e Irany Ferrari. São Paulo: LTr. 2003. p. 83-84.
Professor Carlos Alberto Begalles 50
Direito Processual do Trabalho
possibilidade de revisão do ato pelo juiz não afasta a pertinência
dos embargos. Daí porque decisão denegatória de recurso de
revista, ainda que suscetível de impugnação por meio de agravo de
instrumento, na forma do art. 897, b, da CLT, se apresentar
omissão, obscuridade ou contradição ou, ainda, se contiver erro
material, poderá ser atacada por meio de embargos de declaração”.25
A partir da data da publicação da sentença ou acórdão ou,
dependo do caso, da intimação da decisão, a parte tem cinco dias
para interpor os embargos de declaração (art. 879-A da CLT). Sendo
pessoa jurídica de Direito Público, o prazo é contado em dobro,
conforme Decreto-lei nº 779-69 e OJ nº 192 da SDI-1 do TST.
Dispõe o art. 538 do CPC que: “Os embargos de declaração
interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por
qualquer das partes.”
Isso significa dizer que, se a parte interessada protocolar os
embargos de declaração dentro do prazo de cinco dias após a
publicação da sentença ou acórdão, com a publicação da decisão dos
embargos de declaração começa novamente a correr o prazo para o
recurso adequado, na sua totalidade (Recurso Ordinário, Recurso de
Revista, Embargos para o TST, Recurso Extraordinário, Agravo de
Instrumento etc.).
Todavia, se os embargos forem intempestivos, como, por
exemplo, embargos protocolados no sexto dia, não há que se falar
em interrupção do prazo para qualquer outro recurso.
No caso dos embargos de declaração, a analise da omissão pode
modificar a sentença ou o acórdão (art. 897-A da CLT c/c súmula
278 do C. TST). A Orientação Jurisprudencial nº 142 da SDI do TST
demonstra que, se o juiz verificar que os embargos terão efeito
modificativo, haverá necessidade de abrir vista à parte contrária,
sob pena de cerceamento de defesa.
O art. 538, parágrafo único, do CPC condena a interposição de
embargos protelatórios, preceituando que: Art. 538. [...]
Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos,
o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante
a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento)
sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a
multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a
interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor
respectivo.
A interposição dos embargos de declaração deve ser feita por
petição, dirigida ao juiz ou Tribunal que prolatou a decisão
embargada. Interpostos os embargos de declaração, o seu julgamento
deve ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente à sua
apresentação. Assim, não há a intimação da parte contrária para
impugná-lo (salvo para os embargos que possuem efeito modificativo
- OJ n. 142 da SDI do TST), pois nesse caso a parte contraria terá
que ser intimada para manifestar-se sobre os embargos.
Além disso, se uma parte interpõe o recurso cabível, por
exemplo, recurso ordinário (pois não vislumbrou omissão,

25
Op. cit. p. 39-40.
Professor Carlos Alberto Begalles 51
Direito Processual do Trabalho
contradição ou obscuridade na decisão), e a outra parte interpõe
embargos de declaração (pois vislumbrou omissão, contradição ou
obscuridade na decisão), e sendo a decisão dos embargos
prejudicial àquela que já interpôs o recurso ordinário, ela terá
que ser intimada da decisão dos embargos de declaração e poderá
complementar o seu recurso na parte que lhe trouxer prejuízo a
decisão dos embargos de declaração.

18. RECURSO ORDINÁRIO

Segundo o art. 895 da CLT, cabe recurso ordinário para a


instância superior:
a) das decisões definitivas das Varas do Trabalho e Juízes de
Direito (quando no exercício da jurisdição trabalhista) no prazo
de oito dias;
b) das decisões definitivas dos Tribunais Regionais, em processos
de sua competência originária, no prazo de oito dias, quer nos
dissídios individuais, quer nos dissídios coletivos.
De acordo com o art. 799, parágrafo 2o, da CLT, a decisão que
acata a incompetência absoluta da Justiça do Trabalho é recorrível
por meio de recurso ordinário.
Segundo a súmula 201 do TST, da decisão de Tribunal Regional
do Trabalho em mandado de segurança cabe recurso ordinário para o
Tribunal Superior do Trabalho, no prazo de oito dias,
correspondendo igual dilação para o recorrido apresentar
contrarrazões.
Conforme súmula 158 do TST, da decisão do Tribunal Regional
do Trabalho, em ação rescisória, cabível é o recurso ordinário
para o Tribunal Superior do Trabalho, em face da organização
judiciária trabalhista.
O prazo para recurso ordinário, segundo o art. 895 da CLT, é
de oito dias. A União, os Estados, os Municípios, o Distrito
Federal, as autarquias ou as fundações de direito público terão o
prazo em dobro para recurso, conforme art. 1o, III, do Decreto-Lei
n. 779/69.
Segundo o art. 899 da CLT, o recurso ordinário terá efeito
meramente devolutivo, o que significa dizer que o autor poderá
iniciar a execução provisória.
Com relação às custas, dispõe o art. 789 da CLT que havendo
condenação, a parte sucumbente há que efetuar o pagamento das
custas para recorrer. Incumbe à parte comprovar o pagamento das
custas no prazo recursal, sob pena de deserção (art. 789,
parágrafo 1° da CLT).
Todavia, sendo o reclamante sucumbente (pedidos julgados
improcedentes) deve recolher as custas se quiser recorrer, exceto
se lhe for concedido os benefícios da justiça gratuita.
Com relação ao depósito recursal, sendo a sentença
condenatória, dispõe o art. 899 da CLT, que haverá necessidade de
depósito recursal. O depósito recursal deve ser comprovado dentro
do prazo do recurso, conforme súmula 245 do TST.

Professor Carlos Alberto Begalles 52


Direito Processual do Trabalho
A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e
respectivas autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou
municipais que não explorem atividade econômica, bem como o
Ministério Público do Trabalho estão isentos do pagamento de
custas, conforme art. 790-A, I e II, da CLT.

19. RECURSO DE REVISTA

O recurso de revista está regulado pelo art. 896 da CLT.

Art. 896 - Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior


do Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário,
em dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho,
quando:

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa


da que lhe houver dado outro Tribunal Regional, no seu Pleno ou
Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do
Trabalho, ou a Súmula de Jurisprudência Uniforme dessa Corte;

b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva


de Trabalho, Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento
empresarial de observância obrigatória em área territorial que
exceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão
recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea a;

c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou


afronta direta e literal à Constituição Federal.

§ 1o O Recurso de Revista, dotado de efeito apenas devolutivo, será


apresentado ao Presidente do Tribunal recorrido, que poderá recebê-
lo ou denegá-lo, fundamentando, em qualquer caso, a decisão.

2o Das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho ou


por suas Turmas, em execução de sentença, inclusive em processo
incidente de embargos de terceiro, não caberá Recurso de Revista,
salvo na hipótese de ofensa direta e literal de norma da
Constituição Federal.

§ 3o Os Tribunais Regionais do Trabalho procederão,


obrigatoriamente, à uniformização de sua jurisprudência, nos termos
do Livro I, Título IX, Capítulo I do CPC, não servindo a súmula
respectiva para ensejar a admissibilidade do Recurso de Revista
quando contrariar Súmula da Jurisprudência Uniforme do Tribunal
Superior do Trabalho.

§ 4º A divergência apta a ensejar o Recurso de Revista deve ser


atual, não se considerando como tal a ultrapassada por súmula, ou
superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal
Superior do Trabalho.

§ 5º - Estando a decisão recorrida em consonância com enunciado da


Súmula da Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, poderá o
Ministro Relator, indicando-o, negar seguimento ao Recurso de

Professor Carlos Alberto Begalles 53


Direito Processual do Trabalho
Revista, aos Embargos, ou ao Agravo de Instrumento. Será denegado
seguimento ao Recurso nas hipóteses de intempestividade, deserção,
falta de alçada e ilegitimidade de representação, cabendo a
interposição de Agravo.

§ 6º Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, somente será


admitido recurso de revista por contrariedade a súmula de
jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho e violação
direta da Constituição da República.

O prazo para recurso de revista, segundo o art. 896 da CLT, é


de oito dias. A União, os Estados, os Municípios, o Distrito
Federal, as autarquias ou fundações de direito público terão o
prazo em dobro para recurso, conforme art. 1o, III, do Decreto-Lei
n. 779/69, de 21 de agosto de 1969.
Segundo o art. 896, parágrafo 1o, da CLT, o recurso de revista
terá efeito somente devolutivo. Isso significa que o recorrido
poderá promover a execução provisória (CPC, artigos 589 e 590).

20. EMBARGOS PARA O TST

Os embargos para o TST estão regulados pelo art. 894 da CLT e


Lei n. 7.701/88, art. 2°, III, c:

Art. 894. No Tribunal Superior do Trabalho cabem embargos, no


prazo de 8 (oito) dias:

I - de decisão não unânime de julgamento que:

a) conciliar, julgar ou homologar conciliação em dissídios


coletivos que excedam a competência territorial dos Tribunais
Regionais do Trabalho e estender ou rever as sentenças normativas
do Tribunal Superior do Trabalho, nos casos previstos em lei; e

b) (VETADO)

II - das decisões das Turmas que divergirem entre si, ou das


decisões proferidas pela Seção de Dissídios Individuais, salvo se a
decisão recorrida estiver em consonância com súmula ou orientação
jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo
Tribunal Federal.

Art. 2º - Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou


seção normativa:

II - em última instância julgar:

c) os embargos infringentes interpostos contra decisão não unânime


proferida em processo de dissídio coletivo de sua competência
originária, salvo se a decisão atacada estiver em consonância com
Professor Carlos Alberto Begalles 54
Direito Processual do Trabalho
procedente jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou da
Súmula de sua jurisprudência predominante;

Segundo o art. 894 da CLT, o prazo para embargos será de oito


dias. A União, os Estados, o Municípios, o Distrito Federal, as
autarquias ou fundações de direito público terão o prazo em dobro
para recurso, conforme art. 1o, III, do Decreto-Lei n. 779/69, de
21 de agosto de 1969.
Segundo o art. 899 da CLT, todos os recursos na Justiça do
Trabalho terão efeito meramente devolutivo, o que significa que o
autor poderá iniciar a execução provisória até a penhora, conforme
arts. 589 e 590 do CPC.

21. RECURSO EXTRAORDINÁRIO

O recurso extraordinário está previsto pelo art. 102, III, da


CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente,


a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas


decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei
federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em
face desta Constituição.

Além disso, a Emenda Constitucional n. 45/2004 acrescentou o


parágrafo 3o ao art. 102 da CF/88, exigindo que “No recurso
extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da
lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros”.
Segundo o art. 26 da Lei n. 8.038/90, o prazo para recurso
extraordinário será de 15 dias. A União, os Estados, os
Municípios, o Distrito Federal, as autarquias ou fundações de
direito público terão o prazo em dobro para recurso, conforme art.
1o, III, do Decreto-Lei n. 779/69.
O recurso extraordinário será recebido com efeito meramente
devolutivo, conforme art. 893, parágrafo 2o, da CLT, o que permite
a execução provisória do julgado.

22. AGRAVO DE INSTRUMENTO

O agravo de instrumento está regulado pelo art. 897, alínea


“b”, e parágrafos da CLT.

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:

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Direito Processual do Trabalho
b) de instrumento, dos despachos que denegarem a interposição de
recursos.

§ 2º - O agravo de instrumento interposto contra o despacho que


não receber agravo de petição não suspende a execução da
sentença.

§ 3o Na hipótese da alínea a deste artigo, o agravo será julgado


pelo próprio tribunal, presidido pela autoridade recorrida,
salvo se se tratar de decisão de Juiz do Trabalho de 1ª
Instância ou de Juiz de Direito, quando o julgamento competirá a
uma das Turmas do Tribunal Regional a que estiver subordinado o
prolator da sentença, observado o disposto no art. 679, a quem
este remeterá as peças necessárias para o exame da matéria
controvertida, em autos apartados, ou nos próprios autos, se
tiver sido determinada a extração de carta de sentença.

§ 4º - Na hipótese da alínea b deste artigo, o agravo será


julgado pelo Tribunal que seria competente para conhecer o
recurso cuja interposição foi denegada.

§ 5o Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a


formação do instrumento do agravo de modo a possibilitar, caso
provido, o imediato julgamento do recurso denegado, instruindo a
petição de interposição:

I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da


certidão da respectiva intimação, das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado, da petição inicial, da
contestação, da decisão originária, do depósito recursal
referente ao recurso que se pretende destrancar, da comprovação
do recolhimento das custas e do depósito recursal a que se
refere o § 7o do art. 899 desta Consolidação;

II - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar


úteis ao deslinde da matéria de mérito controvertida.

§ 6o O agravado será intimado para oferecer resposta ao agravo e


ao recurso principal, instruindo-a com as peças que considerar
necessárias ao julgamento de ambos os recursos.

§ 7o Provido o agravo, a Turma deliberará sobre o julgamento do


recurso principal, observando-se, se for o caso, daí em diante,
o procedimento relativo a esse recurso.

No processo do trabalho, diferente do processo civil (onde o


agravo de instrumento é apresentado diretamente no Tribunal – art.
524 do CPC), o agravo de instrumento, é dirigido a autoridade
judiciária prolatora do despacho agravado.
23. RECURSO ADESIVO

O recurso adesivo está disciplinado pelo art. 500 do CPC:

Professor Carlos Alberto Begalles 56


Direito Processual do Trabalho
Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente,
no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém,
vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer
deles poderá aderir à outra parte. O recurso adesivo fica
subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições
seguintes:
I - será interposto perante a autoridade competente para
admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe
para responder;
II - será admissível na apelação, nos embargos infringentes,
no recurso extraordinário e no recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso
principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto.
Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas
regras do recurso independente, quanto às condições de
admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior.

A súmula 283 do TST, por sua vez, admite o recurso adesivo no


processo do trabalho:

O recurso adesivo é compatível com o processo do trabalho e


cabe, no prazo de 8 (oito) dias, nas hipóteses de
interposição de recurso ordinário, de agravo de petição, de
revista e de embargos, sendo desnecessário que a matéria nele
veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela
parte contrária.

24. AGRAVO DE PETIÇÃO

Conforme art. 897, alínea, a, da CLT é cabível agravo de


petição das decisões proferidas na execução.

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:

a) de petição, das decisões do Juiz ou Presidente, nas execuções;

§ 1º - O agravo de petição só será recebido quando o agravante


delimitar, justificadamente, as matérias e os valores impugnados,
permitida a execução imediata da parte remanescente até o final,
nos próprios autos ou por carta de sentença.

§ 3o Na hipótese da alínea a deste artigo, o agravo será julgado


pelo próprio tribunal, presidido pela autoridade recorrida, salvo
se se tratar de decisão de Juiz do Trabalho de 1ª Instância ou de
Juiz de Direito, quando o julgamento competirá a uma das Turmas do
Tribunal Regional a que estiver subordinado o prolator da sentença,
observado o disposto no art. 679, a quem este remeterá as peças
necessárias para o exame da matéria controvertida, em autos
apartados, ou nos próprios autos, se tiver sido determinada a
extração de carta de sentença.

II - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar


úteis ao deslinde da

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Direito Processual do Trabalho
§ 8o Quando o agravo de petição versar apenas sobre as
contribuições sociais, o juiz da execução determinará a extração de
cópias das peças necessárias, que serão autuadas em apartado,
conforme dispõe o § 3o, parte final, e remetidas à instância
superior para apreciação, após contraminuta.

25. EXECUÇÃO TRABALHISTA

25.1. Princípios regentes do processo de execução.

Dentre os diversos princípios da execução mencionados na


doutrina, destacamos os seguintes:

25.1.1. Princípio da patrimonialidade ou da natureza real.

A execução recai sobre o patrimônio do devedor, e não sobre a


sua pessoa, de modo que seus bens serão expropriados até a
completa satisfação do crédito exequendo. Deste modo, o devedor
responde para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus
bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei
(CPC, art. 591). O objeto da execução por quantia certa será
expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do
credor (CPC, art. 646). Tal princípio fundamenta a garantia
fundamental do cidadão não ser preso por dívida civil, ressalvados
os casos de depósito infiel e inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentar (CF, art. 5º, inciso LXVII). O
princípio em comento não é absoluto, pois a legislação prevê bens
que não são passíveis de expropriação, ou sequer de penhora, como
seria o caso do bem de família e da remuneração necessária ao
sustento do devedor e de sua família. Devemos, portanto,
considerar que, há muito, a execução foi humanizada, pelo que
recai apenas sobre o patrimônio do devedor. Todavia, mesmo diante
do princípio da natureza real da execução o sistema jurídico
permite que o juiz imponha atos coercitivos para o cumprimento da
obrigação (ver artigos 287, 644, 645 do CPC), sem que isso importe
em execução sobre a pessoa do devedor, o que é conhecido como
execução indireta.

25.1.2. Princípio da limitação expropriatória.

A execução não poderá alcançar o patrimônio do devedor além


das obrigações expressas no título. Deste modo, a penhora será
limitada aos bens que bastem para o pagamento do principal, juros,
custas (CLT, art. 883). Todavia, esse princípio não significa que
a penhora tenha que recair sobre bens com valor exatamente igual
ao da dívida, pois há casos em que isso não será possível.
Imagine-se o devedor que esta sendo executado pela quantia de R$
5.000,00 e possui como bem um único imóvel indivisível não
residencial no valor de R$ 300.000,00. A penhora terá que recair
sobre a totalidade do imóvel. Além disso, tem-se que considerar
que entre a penhora e a alienação judicial pode decorrer tempo
Professor Carlos Alberto Begalles 58
Direito Processual do Trabalho
razoável e o bem sofrer deterioração ou o bem penhorado não
alcançar valor suficiente para quitar a dívida na venda, pois não
é de fácil comercialização e isso pode levar a que a penhora seja
realizada em bens de valor maior que a dívida. Entretanto, se
necessária à expropriação dos bens do devedor, a arrematação será
suspensa logo que o produto da alienação dos bens bastar para o
pagamento do credor (CPC, art. 692)

25.1.3. Princípio do interesse ao credor ou da relativização da


isonomia entre os litigantes.

Considerando-se que a execução processa-se no interesse do


credor (art. 612 do CPC) tem-se a relativização do princípio da
igualdade entre os litigantes. A posição do credor é de
superioridade, pois o Estado-Juiz deve garantir a ele o
recebimento do seu crédito. Isso não significa dizer que não
haverá contraditório e ampla defesa na fase ou processo de
execução, mas será mitigada em termos legais.

25.1.4. Princípio da dignidade do devedor.

Trata-se de preceito da modernidade do processo, a indicar que


a execução deve buscar o meio menos gravoso para o devedor (CPC,
art. 620). Por conta de tal princípio, o legislador previu no art.
649, do CPC, a existência de bens que são impenhoráveis,
justamente para guardar a dignidade do devedor. Alguns tribunais,
no entanto, vem admitindo penhora parcial de salários em
percentual que não inviabilize a regular manutenção do devedor e
de sua família. Por outro lado, a Lei n. 8.009/1990 prevê a
impenhorabilidade do bem de família, que não pode também ser
enxergada de modo absoluto sob pena de abrir porta larga para o
abuso do direito.

25.1.5. Princípio da utilidade.

Com referido princípio serão evitadas medidas inúteis, como a


penhora de bens de valor insignificante para satisfazer o crédito
(CPC, art. 659, § 2º). Entretanto, se os bens cobrem parte da
dívida pode sim ser penhorados. O que a lei quer evitar são
medidas inúteis, que não terão utilidade para o credor. Da mesma
forma pode ocorrer com relação à execução previdenciária, já que
às vezes o valor a ser executado não quita os custos da execução.

25.1.6. Princípio da disponibilidade.

O credor tem liberdade para desistir da execução,


independentemente de anuência do devedor (CPC, art. 569, caput).

Professor Carlos Alberto Begalles 59


Direito Processual do Trabalho
Será visto com reservas no processo do trabalho, dado o princípio
da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas.

25.1.7. Princípio da especificação.

Com relação às obrigações de entrega de coisa ou de fazer ou


não-fazer, situações em que o credor tem direito a receber a
obrigação do modo correto, sendo a conversão em indenização por
perdas e danos a solução última. Tal princípio terá extrema
relevância no processo do trabalho, em especial em ações que
envolvam, por exemplo, registro de CTPS, reintegração no emprego
etc.

25.1.8. Princípio da norma processual mais eficaz.

Em razão do princípio constitucional da duração razoável do


processo, pensamos ser necessário um diálogo das fontes, de modo
que as normas celetistas devam ser aplicadas conforme a
Constituição, para o alcance de mais efetividade na tutela dos
direitos trabalhistas. Nesta perspectiva, o critério da omissão,
para efeito de autorização da incidência da norma processual comum
deve ser relativizado, de modo a permitir aplicação da regra
processual, que no caso concreto, for mais adequada para a
satisfação do crédito.

26. Liquidação da sentença

26.1 Introdução

Quando a sentença não fixa a quantia devida é necessário


promover a liquidação da obrigação, ou seja, estabelecer o quantum
debeatur.
Nos casos de obrigações de fazer, não fazer ou de entregar
coisa que não foram cumpridas de forma específica há necessidade
de liquidação para encontrar o valor devido, isso, é claro, se o
próprio título executivo já não fixou o valor para o caso de não
cumprimento.
No processo do trabalho, considerando que a execução pode ser
iniciada de ofício (art. 878 da CLT), a liquidação da sentença
pode ser iniciada pelo juízo ou pela parte. Os juízes procedem de
três maneiras quanto ao cálculo: há aqueles que iniciam a
liquidação de ofício sendo o cálculo feito pelo contador do juízo
(contador da unidade judiciária ou mediante uma central de
cálculo); há aqueles que nomeiam um perito “contador” que não faz
parte dos quadros da justiça do trabalho e, por fim, há aqueles
que intimam o credor para apresentar os cálculos. Essa escolha
está autorizada pelos parágrafos 2° e 3° do art. 879 da CLT. A
vantagem de o cálculo ser feito pelo contador do juízo é que há
uma padronização, facilitando o trabalho dos advogados e do juiz
no momento da decisão. Além disso, não há, nesses casos,
necessidade de indicar um perito onerando a execução.

Professor Carlos Alberto Begalles 60


Direito Processual do Trabalho
Se os cálculos forem elaborados pelo contador do juízo serão
cobradas custas (art. 789-A, IX, da CLT). Se os cálculos forem
feitos por perito ou pela própria parte e houver gastos com
referido cálculo a parte deve ser ressarcida dos valores (art. 882
da CLT).
A liquidação não precisa ocorrer necessariamente após o
trânsito em julgado, pois pode ocorrer na execução provisória
(art. 899 da CLT) e até mesmo nos casos de tutela antecipada em
que se defere o pagamento em dinheiro.

26.2 A falta de elementos para liquidação

A sentença, quando não define todos os elementos da obrigação,


torna a liquidação mais demorada. Isso ocorre pela natureza da
obrigação ou por negligência das partes. Para entender essa
questão pode-se ilustrar com o seguinte exemplo: a sentença
condena o réu a pagar horas extras, tomando-se por base a evolução
salarial do autor. Todavia, no momento da liquidação, o contador
do juízo ou o credor notam que não há nos autos os recibos de
pagamentos. Nesse caso, para liquidar a sentença o juiz deverá
intimar a executada para apresentar os recibos de pagamentos (é a
chamada liquidação por artigos). Nesses casos é que normalmente
acontecem os problemas, pois às vezes há várias rubricas no recibo
de pagamento (salário, adicional noturno, prêmio, auxílio-
alimentação, ajuda de custo etc.) e novamente o juízo terá que
definir qual vai ser o parâmetro da liquidação, ou seja, qual o
valor a ser utilizado no cálculo a título de evolução salarial.
Pode acontecer, ainda, de o devedor não apresentar os recibos de
pagamentos e o juiz ter que arbitrar um valor com base nos arts.
359 e 475-B, § 2°, do CPC.

26.3 O princípio da fidelidade ao título

Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença,


nem discutir matéria pertinente à causa principal (art. 879, § 1°
da CLT). Essa determinação legal precisa ser entendida de forma
adequada, pois há casos em que pelo fato de nos autos não haver
elementos suficientes para a liquidação, na fase de liquidação é
que a questão será resolvida, ou seja, pode haver necessidade de
cognição na fase de liquidação da sentença. A norma citada refere-
se à impossibilidade de discutir novamente as questões já
resolvidas na sentença, sob pena de ofensa a coisa julgada. Por
exemplo: se a sentença condenou o executado a pagar honorários
advocatícios, mas não fixou o percentual (quantum), permite-se na
liquidação a fixação. Por outro lado, se a sentença disse que cabe
compensação de horas extras mês a mês, não cabe na fase de
liquidação discussão quanto ao assunto.

26.4 Espécies de liquidação e procedimento

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Direito Processual do Trabalho
Existem três espécies de liquidação: por cálculo, por
arbitramento e por artigos. A súmula 344 do STJ diz que “a
liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não
ofende a coisa julgada”. Assim, se a sentença determinou que a
liquidação deveria ser feita por cálculo e no momento adequando o
juiz entendeu que deveria ser por artigos não há qualquer
ilegalidade em conversão da liquidação, pois a forma de liquidação
não se sujeita a coisa julgada. Aliás, sempre que houver
liquidação por artigos ou por arbitramento ter-se-á uma liquidação
mista, haja vista que após julgados os artigos ou realizada a
perícia o juiz irá fazer a liquidação por cálculos. Apesar de a
CLT prever as formas de liquidação (art. 879) não estabelece o
procedimento, o que importa em utilização de artigos que regulam a
matéria no âmbito do CPC.
Na liquidação por cálculo deve-se simplesmente encontrar o
valor devido por meio aritmético (com todos os elementos
necessários na sentença, calcula-se o valor, correção monetária e
os juros). Diz a lei que quando a elaboração da memória do cálculo
depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o
juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los, fixando
prazo de até trinta dias para o cumprimento da diligência (art.
475-B, § 1° da CLT). Se os dados não forem, injustificadamente,
apresentados pelo devedor, reputar-se-ão corretos os cálculos
apresentados pelo credor, e, se não o forem pelo terceiro,
configurar-se-á a situação prevista no art. 362 do CPC (art. 475-
B, § 2° da CLT). Assim, se o dados necessários para o cálculo
estiverem em mãos do devedor (por exemplo: recibos de pagamentos)
deverá o juiz intimar o executado para que traga aos autos os
documentos, sob pena de ser feita a liquidação pelo critério
estabelecido pelo juízo. É preciso esclarecer que se o devedor ou
terceiro não entregarem o documento ou não houver referidos
documentos, instaurar-se-á liquidação por artigos, pois o juiz
precisa primeiro provar um fato novo, não existente nos autos,
para posteriormente, ocorrer a liquidação por cálculos.
Quando a liquidação é feita por cálculos o juiz poderá adotar
dois procedimentos: a) do art. 879, § 2° da CLT, ou seja,
apresentados os cálculos, abrir vistas às partes e a União (se for
o caso) ou b) do art. 884, § 3° da CLT, ou seja, apresentados os
cálculos, o juiz os homologa e determina a citação do executado
para pagar ou oferecer bens, onde, garantido o juízo poderá
discutir os cálculos, além de intimar o exequente e a União (se
for o caso) para se manifestar. Se o juízo utilizar o art. 879, §
2° e não houver manifestação, ocorrerá preclusão, não cabendo a
impugnação mediante embargos à execução no caso do devedor ou
impugnação do credor/União após a penhora. Ressaltando que a
preclusão, nesse caso, refere-se somente aos cálculos, pois nos
embargos à execução poderá o devedor discutir outros temas, a teor
do art. 884 da CLT. A decisão tomada pelo juiz quando adota o
procedimento do art. 879, § 2° da CLT é irrecorrível de imediato
(art. 884, § 3° da CLT). Deverá a parte que impugnou a conta e
teve o requerimento rejeitado que aguardar o momento adequado

Professor Carlos Alberto Begalles 62


Direito Processual do Trabalho
(embargos à execução, impugnação a sentença de liquidação) para
impugnar novamente a conta, que será julgada pelo mesmo juízo,
cabendo agravo de petição posteriormente.
Todavia, há exceções a irrecorribilidade, pois, por exemplo,
nos casos de falência, não há penhora e as partes são intimadas
para se manifestarem sobre o cálculo. Da decisão, cabe agravo de
petição.
Na liquidação por arbitramento há necessidade de prova
pericial. O perito irá informar os elementos técnicos que possam
auxiliar o juiz no momento do arbitramento do valor devido. No
processo do trabalho não é comum ter-se a liquidação por
arbitramento, pois normalmente a perícia ocorre antes da sentença
(por exemplo: perda da capacidade laboral, adicional de
insalubridade etc.). No caso de danos morais o arbitramento é
feito pelo juiz na sentença. Entretanto, havendo necessidade de
perícia adota-se o procedimento estabelecido pelos arts. 475-C e
475-B do CPC.
Na liquidação por artigos tem-se a necessidade de apuração do
valor da dívida, mas para isso é necessário de prova de fato novo,
mesmo que seja por perícia, ou seja, trata-se de incidente
cognitivo inserido no procedimento executivo, em momento anterior
ao da expedição do mandado de citação, penhora e avaliação. O fato
novo é novo no processo. Ele é necessário para a fixação do valor
da condenação, ou seja, a sentença fixou a existência da
obrigação, mas há necessidade de se precisar o montante. Por
exemplo: em uma ação de indenização por perda da capacidade
laborativa a sentença condena o réu a pagar uma cirurgia ao autor
para a erradicação da doença ou para que os efeitos da doença
sejam minorados. Nesse caso, se a sentença não estabeleceu o
hospital, os materiais a serem utilizados (prótese), etc.,
provavelmente, se o devedor não concordar com o hospital e
materiais indicados pelo credor haverá necessidade de prova de
fato para individualização do valor devido. Quanto ao
procedimento, adota-se o disposto no art. 475-F do CPC.

26.5 Liquidação com “dano zero”

Na liquidação por “dano zero” significa que nenhum valor foi


encontrado, ou seja, não há o quantum debeatur. Isso se dá pelo
fato de que não foi observado de forma correta na sentença de
cognição os fatos e o direito aplicado as afirmações do autor.
Nesses casos deve-se julgar improcedente a liquidação.

27. Impugnação ao cálculo

A CLT prevê duas formas de impugnação ao cálculo, conforme a


via eleita pelo magistrado. Na primeira, após o cálculo, o
magistrado concede prazo para impugnação, cujas matérias serão
retomadas após a garantia do Juízo, conforme disposto no art. 879,
§ 2º da CLT: ”elaborada a conta e tomada líquida, o Juiz poderá abrir
às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada

Professor Carlos Alberto Begalles 63


Direito Processual do Trabalho
com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de
preclusão”.
Neste caso, as matérias suscitadas pelas partes podem de
pronto ser acolhidas pelo magistrado quando da homologação do
cálculo ou poderá o magistrado homologar a conta como se encontra
nos autos. Tal decisão é interlocutória e, portanto, não comporta
qualquer tipo de recurso. Caso não o sejam, a futura impugnação,
após regular garantia do Juízo, ficará restrita às matérias pré-
questionadas na oportunidade. A utilização deste procedimento
constitui faculdade do juiz. Obviamente, se o cálculo for
apresentado por apenas uma das partes, a oportunidade de
manifestação antes da homologação da conta, caso eleito tal
procedimento, será restrita ao adversário do litigante que tenha
praticado o referido ato.
Se as partes permanecerem silentes diante da oportunidade
conferida pelo magistrado, haverá preclusão, desde que homologada
a conta na forma apresentada nos autos.
O outro procedimento está previsto no art. 884, § 3º da CLT:
”somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de
liquidação, cabendo ao exequente igual direito e no mesmo prazo”.
Esta oportunidade, então, será aberta, mesmo que utilizado o
procedimento anteriormente analisado, e tem por pressuposto a
garantia do Juízo. Neste caso, após o decurso do prazo para
embargos à execução, abre-se oportunidade para o exequente também
discuta o cálculo.
Com relação ao INSS, aplica-se o disposto no art. 879, §§ 3º e
5º da CLT, abrindo-se, também, oportunidade de discussão do
cálculo.
CLT, art. 879 (...) § 3º Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos
auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para
manifestação, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de preclusão. (Redação dada
pela Lei nº 11.457, de 2007) (...)
§ 5º O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado,
dispensar a manifestação da União quando o valor total das verbas que integram o
salário-de-contribuição, na forma do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de
1991, ocasionar perda de escala decorrente da atuação do órgão jurídico.

28. Títulos executivos

28.1 Introdução

O credor, para executar em juízo um crédito, precisa de um


documento, reconhecido por lei, como apto a desencadear a demanda
executiva. Isso pode ocorrer por meio de um processo autônomo (no
caso de título executivo extrajudicial) ou como uma fase do
processo (no caso de título executivo judicial). Além disso, nesse
último caso – título executivo judicial - não há necessidade de

Professor Carlos Alberto Begalles 64


Direito Processual do Trabalho
sentença, pois o título pode ser uma antecipação dos efeitos da
tutela (art. 273 do CPC).
A legislação estabelece os casos em que haverá título
executivo. Portanto, não é a natureza da obrigação que determina
se o título será ou não executivo, mas a lei. Tal fato é conhecido
como princípio da taxatividade. É por isso que um documento
assinado pelo empregador em que reconhece valores em favor do
empregado (por exemplo: um termo de rescisão do contrato de
trabalho – TRCT) não é título executivo extrajudicial, pois não se
enquadra no rol do art. 876 da CLT. O título somente será
executivo se enquadrar-se em uma das hipóteses desse artigo ou de
leis especiais.
Está claro, portanto, que para que a execução se inicie é
necessário o título executivo, judicial ou extrajudicial. Mas não
basta somente o título, mas que ele contenha obrigação certa,
líquida e exigível (art. 586 do CPC). A certeza dá-se quando no
título existe uma obrigação (sabe-se quem é o credor, quem é o
devedor e quando deve ser cumprida). A liquidez está presente
quando se tem o valor determinado ou o objeto determinado. Por
fim, a exigibilidade diz respeito ao fato de a obrigação não estar
sujeita a termo ou condição suspensiva, ou seja, está vencida e
não foi cumprida.

28.2 Títulos executivos judiciais

Nos termos do art. 876 da CLT são títulos executivos judiciais


a sentença com trânsito em julgado ou da qual não tenha havido
recurso com efeito suspensivo e o acordo quando não cumprido. No
âmbito do CPC tem-se, ainda, os seguintes títulos executivos
judiciais: a antecipação dos efeitos a tutela (art. 273 do CPC); a
sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, que declara
a responsabilidade penal do empregador (art. 475, N, II, do CPC);
a conciliação extrajudicial homologada judicialmente pelo Juiz do
Trabalho (art. 475, N, V, do CPC).

28.3 Títulos executivos extrajudiciais

Os títulos executivos extrajudiciais previstos no processo do


trabalho são: a) o termo de ajuste de conduta firmado perante o
Ministério Público do Trabalho (art. 876 da CLT); b) o termo de
conciliação firmado perante a comissão de conciliação prévia (art.
876 da CLT) e c) a certidão de dívida ativa decorrente de
penalidade administrativa imposta ao empregador pelos órgãos de
fiscalização da Justiça do Trabalho (art. 114, VII, da CF/88).

29. Competência

29.1 Título executivo judicial

Segundo o art. 877 da CLT é competente para a execução das


decisões o juiz ou presidente do tribunal que tiver conciliado ou

Professor Carlos Alberto Begalles 65


Direito Processual do Trabalho
julgado originalmente o dissídio. Por esse artigo tem-se a regra
de que execução deve ocorrer perante o juízo que processou a causa
em primeiro grau de jurisdição ou o Tribunal que julgou
originalmente a demanda. É a chamada competência funcional. Por
ser norma posterior e haver omissão na CLT entende-se ser
aplicável ao processo do trabalho o disposto no art. 475-P,
parágrafo único, do CPC que dispõe sobre a possibilidade de o
credor escolher o juízo para a execução: a) o juízo do local onde
se encontram os bens sujeitos à expropriação ou b) atual domicílio
do executado. Nesses dois casos deverá o exequente requerer ao
juízo de origem (onde tramita o processo) a remessa dos autos ao
outro juízo. Com referido artigo o legislador visa dar efetividade
a execução, facilitando o cumprimento da sentença e a satisfação
do credor (art. 612 do CPC), além, é claro, de diminuir o valor
das custas e dar efetividade ao princípio da celeridade
processual. Tem-se, assim, uma competência concorrente. Todavia,
tratando-se de obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa não
se aplica o disposto no art. 475-P, parágrafo único, do CPC, que
está inserido na execução de pagar quantia em dinheiro.
Tratando-se de execução de sentença penal condenatória
transitada em julgado em que foi condenado o empregador e havendo
ação do empregado (vítima) ou seus herdeiros a competência segue a
regra do art. 651 da CLT. Todavia, nesse caso, haverá a liquidação
dos prejuízos sofridos pela vítima ou seus herdeiros.

29.2 Título executivo extrajudicial

O art. 877-A da CLT dispõe que é competente para a execução de


título extrajudicial o juiz que teria competência para o processo
de conhecimento relativo à matéria.

30. Execução provisória

30.1 Introdução

A execução provisória tem esse nome pelo fato de que se baseia


em uma decisão (interlocutória, sentença ou acórdão) que ainda não
transitou em julgado, podendo ser reformada ou anulada. Todavia,
para que a execução provisória possa ser iniciada é preciso que o
recurso contra a decisão não seja recebido com efeito suspensivo,
pois nesse caso, impossível juridicamente a execução provisória da
decisão. Nesse sentido dispõe o art. 475-I, § 1° do CPC “§ 1o É
definitiva a execução da sentença transitada em julgado e
provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso
ao qual não foi atribuído efeito suspensivo”. A finalidade da
execução provisória é dar efetividade ao direito do credor, pois
já há uma decisão judicial reconhecendo tal direito. Tratando-se
de título executivo extrajudicial a execução é definitiva, a teor
do art. 587 do CPC.

Professor Carlos Alberto Begalles 66


Direito Processual do Trabalho
30.2 Procedimento

A CLT não estabelece o procedimento da execução provisória,


limitando-se a dizer que se estende “até a penhora” (art. 899 da
CLT). Em razão da omissão, é necessária a aplicação subsidiária do
CPC, nos termos do art. 889 da CLT c/c art. 1° da Lei n. 6.830/80.

30.3 Requerimento do credor

Ao contrário da execução definitiva que pode ser iniciada de


ofício pelo juízo (art. 878 da CLT), a execução provisória deve
ser requerida pelo exequente (art. 475-O-I do CPC), pois corre por
sua iniciativa, conta e responsabilidade, que se obriga, se a
decisão for reformada, a reparar os danos que o executado haja
sofrido. Assim, a escolha da execução e as possibilidades de êxito
do recurso do executado devem ser avaliadas pelo exequente, que
responderá de forma objetiva caso ocorra à extinção da execução
provisória, devendo responder por eventuais prejuízos nos mesmos
autos, por arbitramento (art. 475-O, II, do CPC). Deste modo, em
razão da possibilidade da responsabilidade pela execução
provisória, ou seja, ressarcir eventuais danos ao executado, o
art. 878 da CLT deve ser lido no sentido de que somente é possível
a execução de ofício se for definitiva.
O credor deve formular o pedido de execução provisória
mediante petição instruindo o pedido com cópias autenticadas das
seguintes peças do processo, podendo o advogado declarar a
autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: a) sentença ou
acórdão exequendo; b) certidão de interposição do recurso não
dotado de efeito suspensivo; c) procurações outorgadas pelas
partes; d) decisão de habilitação, se for o caso; e)
facultativamente, outras peças processuais que o exequente
considere necessárias (art. 475-O, § 3° do CPC).

30.2 Autuação apartada

A execução provisória, em regra, é feita em autos apartados.


Isso por uma questão de lógica, pois se há recurso pendente no
processo de conhecimento a tramitação simultânea da execução
provisória não seria possível, exceto se aguardasse o julgamento
do recurso, o que faria perder a sua finalidade. Deste modo, por
interpretação lógica do art. 475, § 3° do CPC a execução
provisória far-se—á, em regra, em autos apartados. Disse em regra,
pois há casos de tramitação da execução provisória nos próprios
autos principais: a) execução de antecipação de tutela (art. 273,
§ 3° do CPC); b) execução provisória no caso de interposição de
recurso não recebido e apresentado o agravo de instrumento para
destrancá-lo. É possível também que haja uma execução definitiva
em autos apartados, como, por exemplo, sentença que possui vários
capítulos, sendo que o devedor condenado em todos, recorre de
alguns. Nesse caso, tem-se, com a interposição de recurso, a

Professor Carlos Alberto Begalles 67


Direito Processual do Trabalho
subida dos autos ao TRT e a possibilidade de execução definitiva
dos capítulos não recorridos em autos apartados.

30.3 Até onde vai à execução provisória

A CLT é clara em afirmar que a execução provisória vai até a


penhora (art. 899 da CLT). Todavia, como a CLT é de 1943 e as
normas do CPC mais recentes há divergência na doutrina e na
jurisprudência quanto ao limite da execução provisória. Parte da
doutrina e da jurisprudência faz uma interpretação literal do art.
899 da CLT e não admite apresentação de embargos à execução e
eventuais recursos após a penhora (alguns até admitem a
interposição de embargos à execução, mas a análise dependeria do
julgamento do recurso no processo/fase de conhecimento). Essa
corrente admite, porém, interposição de simples petição ou
embargos à penhora, justamente para discutir exclusivamente a
constrição. A argumentação básica para não se admitir a análise
dos embargos à execução é pelo fato de a CLT ser expressa acerca
do assunto e, ainda, para se evitar atividade jurisdicional
inútil, pois a sentença pode ser reformada ou anulada. A outra
corrente doutrinária e jurisprudencial caminha no sentido de que
em razão da omissão da CLT deve-se aplicar as normas do CPC,
podendo a execução provisória ir aos últimos atos, ou seja,
liberação de dinheiro e atos de alienação de bens, ou seja, entre
o risco de reforma/anulação da decisão e a entrega da prestação
jurisdicional já reconhecida em título executivo opta-se por essa
última. Além disso, o CPC traz a possibilidade de na execução
provisória se liberar dinheiro ao credor sem caução, nos seguintes
casos: I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou
decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor
do salário-mínimo, o exequente demonstrar situação de necessidade;
II - nos casos de execução provisória em que penda agravo perante
o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (art.
544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco
de grave dano, de difícil ou incerta reparação. Entende-se que o
caso de inciso I do art. 475, O, I, do CPC é perfeitamente
aplicável ao processo do trabalho, haja vista que o crédito
trabalhista se encaixa no referido inciso, ou seja, é possível, em
prol da efetividade do processo a liberação de dinheiro ao credor
no processo do trabalho nos termos do art. 475, § 2°, I, do CPC.

30.4 Caução
No âmbito do processo do trabalho o entendimento da doutrina e
da jurisprudência é de não exigência de caução para a execução
provisória, pois sendo, em regra, o exequente empregado, talvez

Professor Carlos Alberto Begalles 68


Direito Processual do Trabalho
até mesmo desempregado, não tem condições de prestar caução. Há
uma presunção de hipossuficiência. Todavia, não sendo a execução
entre trabalhador pessoa física e empregador/tomador dos serviços,
com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho (EC 45/2004)
é possível ter-se a exigência de caução (por exemplo: litígio
entre dois sindicatos).

30.5 Penhora de dinheiro

Adotando-se o entendimento de que é aplicável ao processo do


trabalho a norma do processo civil que permite a liberação de
dinheiro ao exequente nos casos de crédito de natureza alimentar
ou decorrente de ato ilícito e o exequente demonstrar situação de
necessidade (art. 475, O, I, do CPC) não há nenhum amparo legal
para que na execução provisória não seja possível a penhora de
dinheiro como entende o TST (súmula 417). A execução tem que
tramitar de forma menos gravosa ao executado (art. 620 do CPC),
mas se faz no interesse do exequente (art. 612 do CPC). Além
disso, na ordem de gradação legal o dinheiro vem em primeiro lugar
(art. 655 do CPC). Ademais, tanto na CLT (art. 899) quanto do CPC
(art. 475-O) não há referência a proibição de penhora em dinheiro.
Além disso, há norma legal dizendo que a execução provisória será
feita da mesma forma que a definitiva (art. 475-O, do CPC).

30.6 Execução provisória e obrigação de fazer

Não há proibição de a execução provisória ser feita nos casos


de obrigação de fazer (o exemplo clássico é o de reintegração ao
emprego). O fato de o empregado voltar a trabalhar não trará
nenhum prejuízo ao empregador que irá se beneficiar do trabalho do
empregado e pagar o salário normalmente.

31. Legitimidade

31.1 Legitimidade ativa

Nos termos do art. 878 da CLT a execução poderá ser promovida


por qualquer interessado, ou ex officio, pelo próprio juiz ou
presidente ou tribunal competente. Além disso, nos termos do
parágrafo único do art. 878 da CLT, quando se tratar de decisão
dos Tribunais Regionais, a execução poderá ser promovida pela
Procuradoria da Justiça do Trabalho. Por fim, conforme art. 568 do
CPC, podem também promover a execução, ou nela prosseguir: I - o
espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por
motivo de morte deste, lhes for transmitido o direito resultante
do título executivo; II – o cessionário, quando o direito
resultante do título executivo lhe foi transferido por ato entre
vivos; III – o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou
convencional.
Como se vê na Justiça do Trabalho a execução poderá ser
promovida pelo próprio juiz de ofício ou pela parte legitimada,

Professor Carlos Alberto Begalles 69


Direito Processual do Trabalho
nos termos da lei. Passa-se a análise dos casos legais e suas
peculiaridades.

31.1.2 Qualquer interessado

Quando a legislação (art. 878 da CLT) refere-se a qualquer


interessado está legitimando, em primeira mão, o credor que consta
no título executivo. Mas o interessado pode ser outra pessoa que
não tem seu nome no título executivo, mas tornou-se credor por
outros motivos, como, por exemplo, o advogado que tem honorários
advocatícios deferidos na sentença (art. 23 da Lei n. 8.906/94), o
substituído, na ação promovida pelo substituto processual
(sindicato e Ministério Público, nos termos do art. 97 do CDC), a
vítima do crime no caso de condenação criminal e ajuizamento de
ação na Justiça do Trabalho (art. 63 do CPP); sucessor etc.

31.1.3 Ex officio

Visando dar guarida aos princípios da celeridade e efetividade


as decisões judiciais o legislador estabeleceu a possibilidade de
a execução se iniciar de ofício (art. 878 da CLT), exceto quando
tratar-se de execução provisória que depende de requerimento do
interessado.

31.1.5 Espólio, herdeiros ou sucessores

No caso de falecimento do credor o espólio, herdeiros ou


sucessores são partes legítimas para iniciar ou prosseguir na fase
de execução. A morte não extingue o direito do credor (arts. 943 e
1784 do CC). No âmbito do processo do trabalho, havendo o
falecimento do credor, a lei determina que recebam o crédito os
dependentes declarados perante a Previdência Social (art. 1° da
Lei n. 6.858/1980). Não havendo dependentes habilitados perante a
Previdência Social, por força do art. 1° da Lei n. 6.858/1980
deve-se obedecer, quanto à partilha dos créditos do falecido, os
termos da lei civil. Portanto, cabe ao interessado apresentar ao
juízo a certidão de óbito e a declaração da Previdência Social e,
não havendo esta, deve o interessado apresentar o termo de
inventariante nos moldes do art. 12, V, do CPC.
Cumpre esclarecer que a Lei n. 6.858/80 determina que os
valores não recebidos pelo falecido são pagos em cotas iguais
entre os dependentes habilitados perante a Previdência Social.
Assim, se o falecido tem crédito de R$ 3.000,00 para receber e têm
viúva e dois filhos, cada um deles receberá R$ 1.000,00. Nesse
caso não há sobre o valor meação da viúva. Todavia, se não houver
dependentes habilitados perante a Previdência Social a regra para
a distribuição dos valores passa a ser a do Código. Diferente,
portanto.
No caso de haver dependentes habilitados perante a Previdência
Social e sendo algum deles menor o seu valor ficará depositado em

Professor Carlos Alberto Begalles 70


Direito Processual do Trabalho
caderneta de poupança (art. 1°, § 1° da Lei n. 6.858/1980), salvo
se houver autorização judicial do Juiz para que o valor seja
liberado ao representante do menor em caso de aquisição de imóvel
destinado à residência do menor e de sua família ou para dispêndio
necessário à subsistência e educação do menor. Entende-se que o
mesmo procedimento deve ser adotado no caso de não haver
dependentes habilitados perante a Previdência Social, mas ter
menores herdeiros.

31.1.6 Cessionário ou sub-rogado

Nos termos do art. 100 da Consolidação dos Provimentos da


Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho a cessão de crédito
regulada pela lei civil (art. 286 do CC) não é aplicável na
Justiça do Trabalho. A justificativa é que diante da falta de
dinheiro o exequente (empregado) poderia ceder o seu crédito por
um valor muito menor do que o total da execução e, além disso,
haveria no polo ativo da ação não mais um empregado, mas um
terceiro.
O mesmo entendimento pode ser aplicado a sub-rogação.

31.1.7 Legitimidade extraordinária

Há casos em que a lei permite que um terceiro, que não é o


titular do direito, seja parte legitima para promover a execução.
São os casos de legitimidade extraordinária (no âmbito do processo
do trabalho: sindicato e Ministério Público do Trabalho). Isso
ocorre nos casos de tutela de direitos individuais homogêneos
(art. 81, parágrafo único, III, do CDC), por haver condenação
genérica o próprio lesado (empregado) pode propor a execução bem
como os legitimados do art. 5° da Lei de Ação Civil Pública e art.
97 do CDC.

31.2 Legitimidade passiva

Constitui-se nos casos mais comuns de legitimidade passiva no


processo do trabalho: a) o devedor, reconhecido como tal no título
executivo (sentença, acordo não cumprido, termo de ajuste de
conduta firmado perante o Ministério Público do Trabalho e o termo
de conciliação entabulado na Comissão de Conciliação Prévia – art.
876 da CLT); b) o sucessor no caso de alienação de estabelecimento
comercial (arts. 10 e 448 da CLT); c) espólio, herdeiros ou
sucessores (art. 568, II, do CPC) d) o fiador judicial (art. 568,
IV, do CPC); f) g) do sócio, nos termos da lei (art. 592, II, do
CPC); e h) do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios,
reservados ou de sua meação respondem pela dívida; i) do
responsável subsidiário;

31.2.1 Devedor

Professor Carlos Alberto Begalles 71


Direito Processual do Trabalho
A responsabilidade pelo cumprimento da obrigação representada
no título é do devedor. A doutrina costuma denominar tal fenômeno
jurídico de responsabilidade primária em contraponto a chamada
responsabilidade secundária que recai sobre os bens de terceiros
(responsável subsidiário, fiador etc.).

31.2.2 Sucessor no caso de alienação de estabelecimento comercial

Dispõe o art. 10 da CLT que: “Qualquer alteração na estrutura


jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus
empregados”. Já o art. 448 da CLT determina que: “A mudança na
propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os
contratos de trabalho dos respectivos empregados”. Esses artigos
disciplinam a sucessão de empresas no âmbito do Direito do
Trabalho. O que referidos artigos querem ressaltar é que para o
empregado, no momento da execução, o que importa é o
estabelecimento empresarial (conjunto de bens), pois ele
responderá pelo crédito inicialmente.
Na forma preconizada no art. 60, parágrafo único, e art. 141,
II da Lei n° 11.101/05, na recuperação judicial e na falência o
objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá
sucessão do arrematante nas obrigações do devedor.

31.2.3 Espólio, herdeiros ou sucessores

Conforme art. 568, II, do CPC são sujeitos passivos da


execução o “espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor”. No presente
caso trata-se de legitimidade de pessoas físicas estarem no polo
passivo da execução, pois se forem pessoas jurídicas aplicam-se os
arts. 10 e 448 do CPC.
Falecendo o devedor o seu espólio responderá pela dívida (art.
597 do CPC). Quem responde pela dívida deste modo é o conjunto de
bens do falecido (se houver, é claro) na figura do espólio, a quem
a lei atribui legitimidade processual mediante a representação
pelo inventariante (art. 12, V, do CPC). A responsabilidade do
espólio perdura até a partilha. A partir daí, cada herdeiro ou
sucessor responde pela dívida na proporção da parte que na herança
lhe coube (art. 597, parte final), ou seja, os herdeiros respondem
de acordo com as forças da herança. É preciso esclarecer,
entretanto, que a responsabilidade dos herdeiros e sucessores não
é somente sobre os bens herdados, mas sobre o valor herdado (na
proporção do que foi herdado), o que significa que seus bens
pessoais podem ser penhorados.

31.2.4 O fiador

No processo do trabalho, nos termos do art. 9°, II, da Lei n.


6.830/1980 o executado poderá, para garantir a dívida, oferecer
fiança bancária. Inclusive, a OJ n. 59 da SDI-II do TST diz que a
carta de fiança bancária equivale a dinheiro para efeito da
gradação dos bens penhoráveis, estabelecida no art. 655 do CPC.

Professor Carlos Alberto Begalles 72


Direito Processual do Trabalho
Assim, por lei, não há possibilidade de recusa do exequente no
caso de oferecimento de garantia de fiança bancária (art. 15, I,
da Lei n. 6.830/1980). Evidentemente, é necessário verificar os
requisitos de validade da carta de fiança bancária, sob pena de se
tornar sem efeito a medida de oferecimento de garantia por esse
meio. Ademais, para dar efetividade ao cumprimento da obrigação,
entende-se que o fiador deve renunciar ao benefício de ordem,
tornando-se devedor solidário (art. 828 do CC).

31.2.6 Do sócio

Dispõe o art. 592, II, do CPC que ficam sujeitos à execução os


“bens do sócio, nos termos da lei”. Por sua vez, o art. 596 do CPC aduz
que “os bens particulares dos sócios não respondem pela dívida da sociedade
senão nos casos previstos em lei...”. Assim sendo, quem define a
responsabilidade do sócio é a legislação. É certo que a sociedade
tem personalidade jurídica própria, não se confundindo com a de
seus sócios. Todavia, a legislação abre possibilidades de
responsabilidade dos sócios pela dívida da sociedade, podendo,
portanto, ter seus bens penhorados.
O primeiro caso é o da sociedade em comum (art. 986 do CC),
também conhecida como sociedade de fato, irregular, sem registro
ou não-personalizada. Nesse caso, todos os “sócios respondem solidária
e ilimitadamente pelas obrigações sociais” (art. 990 do CC), não havendo
o benefício de ordem (art. 596, parte final, do CPC e art. 1024 do
CC).
O segundo caso é o das sociedades que são utilizadas de forma
fraudulenta por seus sócios, com abuso da personalidade jurídica
ou desvio de finalidade (art. 50 do CC). É a chamada teoria da
desconsideração da personalidade jurídica. No âmbito do processo
de execução trabalhista o entendimento da jurisprudência é que
estará caracterizado o abuso da personalidade jurídica ou desvio
de finalidade quando a sociedade empresária não quitar os débitos
trabalhistas, não havendo necessidade de se perquirir dolo ou
culpa dos sócios nos termos de legislação específica (por exemplo:
sociedade simples, art. 1023 do CC; sociedade limitada, art. 1052
do CC e sociedade anônima, art. 1088 do CC c/c arts. 117 e 158, I
e II, da Lei n. 6.404/1976). Inclusive, parte da doutrina entende
que não há falar em desconsideração da personalidade jurídica
nesses casos, pois nos exemplos citados a lei já responsabiliza o
sócio de forma subsidiária, mas direta. A questão é que nesses
casos há necessidade de verificar os pressupostos específicos
destas leis para responsabilizar o sócio, normalmente dolo ou
culpa, o que, no entendimento da jurisprudência trabalhista não é
necessário nos casos do art. 50 do CC.
Em respeito ao contraditório, quando se responsabiliza o sócio
há necessidade de incluí-lo no polo passivo e citá-lo para pagar
ou oferecer bens em penhora (isso pode ser feito de ofício – art.
878 da CLT). Quando isso ocorre, o sócio, se quiser, pode
apresentar embargos à execução. Todavia, se ainda não foi citado,
deverá apresentar embargos de terceiro (art. 1046 do CPC), pois

Professor Carlos Alberto Begalles 73


Direito Processual do Trabalho
não faz parte formalmente do processo. É importante ressaltar que
o sócio, para se eximir da responsabilidade patrimonial deve, no
momento de sua defesa, apresentar bens da sociedade (art. 596 do
CPC e 1024 do CC), sob pena de ocorrer a preclusão.

31.2.7 Do cônjuge

Dispõe o art. 592, IV, do CPC que ficam sujeitos à execução os


bens “do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua
meação respondem pela dívida”. Deste modo, quem define se os bens do
cônjuge se sujeitam ou não a execução é a legislação. É preciso,
ainda, analisar os bens particulares e da meação.

31.2.7.1 Bens particulares (próprios)

Os bens particulares são aqueles que pertencem a um dos


cônjuges. Em tese, não deveriam respondem pela dívida do outro
cônjuge, mas a lei abre exceções, como se verá a seguir.
No regime de separação de bens (art. 1687 do CC) os bens
“permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges”, o que
significa dizer que o patrimônio de um dos cônjuges não responde
pela dívida do outro.
No regime de comunhão parcial de bens são incomunicáveis os
“bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento” (art.
1661 do CC).
No regime de comunhão universal existe “comunicação de todos os
bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas” (art. 1667 do
CC), exceto os casos do art. 1668 do CC.
Deste modo, se os bens particulares pertencem a um dos
cônjuges, quando é que respondem pela dívida do outro? Somente nos
casos em que a lei determinar a responsabilidade solidária do
casal (art. 1643 c/c art. 1644 do CC que vale para qualquer regime
de bem; art. 1663, § 1° do CC no caso de regime de comunhão
parcial as dívidas contraídas no exercício da administração
obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os
administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido
etc.). Na verdade, nesse caso, o casal é o devedor não importando
qual dos cônjuges a contraiu a dívida.

31.2.7.2 Meação

A meação (metade do patrimônio comum) responde pelo pagamento


da dívida contraída pelo outro cônjuge em proveito da família. O
art. 1644 c/c arts. 1659, IV, e 1664, todos do CC, estabelecem a
possibilidade de a meação responder pela dívida contraída pelo
outro cônjuge. A doutrina e a jurisprudência estabelecem uma
presunção relativa de que a dívida contraída por um cônjuge foi em
benefício do casal. Assim, caberia ao prejudicado provar o
contrário.
No regime de separação de bens onde não haveria bens comuns
(meação), por força da lei (art. 1641 c/c art. 1687 do CC), pois

Professor Carlos Alberto Begalles 74


Direito Processual do Trabalho
cada um dos cônjuges possui seu patrimônio de forma exclusiva, o
STF, por meio da súmula 377 dispôs que “no regime de separação legal de
bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”. Desde modo, a
jurisprudência abrandou o regime de separação de bens quando os
bens foram adquiridos por “esforço comum” na constância do
casamento. O argumento é que mesmo casados sob o regime de
separação de bens, o casal pode unir forças para estabelecer um
empreendimento, criando uma sociedade de fato.
No regime de comunhão parcial de bens comunicam-se todos os
bens adquiridos posteriormente ao casamento (art. 1658 do CC),
exceto os casos do art. 1659 do CC. Nesse caso, os “bens da comunhão
respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender
aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de
imposição legal” (art. 1664). Além disso, “as dívidas contraídas no
exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que
os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido” (art.
1663, § 1° do CC).
Por fim, no regime de comunhão universal comunicam-se todos os
bens (art. 1667 do CC) e pelas dívidas respondem também o
patrimônio comum.

31.2.7.3 Defesa do cônjuge

Dispõe a lei que sempre que o bem do cônjuge for penhorado ele
deve ser intimado (art. 655, § 2° do CPC). Nesse caso, não sendo
parte, poderá o cônjuge apresentar embargos de terceiro (art. 1046
e seguintes do CPC). Todavia, se por qualquer motivo, foi incluído
no polo passivo da execução, passou a ser parte e, portanto, pode
apresentar embargos à execução, onde poderá, inclusive, questionar
a própria dívida.

31.2.7.4 Responsável subsidiário

No caso de responsabilidade subsidiária (terceirização) o


entendimento do TST (súmula 331) é que o responsável subsidiário
deve fazer parte do polo passivo do processo de conhecimento para
ser tido como responsável na fase de execução. O entendimento
jurisprudencial é que o responsável subsidiário somente será
intimado a pagar se o responsável principal não pagar ou garantir
o juízo.

31.2.7.5 Empresa em liquidação extrajudicial.

O ato declaratório de liquidação extrajudicial, à míngua de


previsão legal em sentido diverso, não obsta o prosseguimento da
execução ou da ação trabalhista em curso. Neste caso, a
competência será da Justiça do Trabalho, conforme expressa a OJ
143 da SDI-I do TST:
EMPRESA EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. EXECUÇÃO. CRÉDITOS TRABALHISTAS. LEI Nº
6.024/74. Inserida em 27.11.98. A execução trabalhista deve prosseguir
diretamente na Justiça do Trabalho mesmo após a decretação da liquidação
Professor Carlos Alberto Begalles 75
Direito Processual do Trabalho
extrajudicial. Lei nº 6.830/80, arts. 5º e 29, aplicados supletivamente (CLT,
art. 889 e CF/1988, art. 114).

31.2.7.6. Execução contra a massa falida.

Compete à Justiça do Trabalho executar seus julgados,


inclusive quando decretada a falência do executado (art. 76 da Lei
n. 11.101/2005).
Caso a falência seja decretada no curso do processo de
execução, aproveitam-se os atos, inclusive constritivos e
expropriatórios já realizados. No entanto, o produto da
expropriação deve que ser revertido à massa falida.
Caso não haja sequer garantia do juízo quando da falência, o
juízo trabalhista processará a execução até a fixação do quanto
devido. Resolvida a conta, será expedida certidão de crédito, para
habilitação do credor no juízo universal da falência.
Segundo o art. 14, da Lei n. 11.101/2005, não importará em
sucessão trabalhista a aquisição do empreendimento feita em hasta
judicial, durante o procedimento falimentar.
Na lei de falência (Lei n. 11.101/05/2005) encontramos
dispositivos que deverão ser observados no processo do trabalho:

Art. 6° A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e
execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do
sócio solidário. (...)
§ 2° É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação,
exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as
ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art.
8° desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração
do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor
determinado em sentença.

Art. 76 O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as


ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas
trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido regular
como autor ou litisconsorte ativo.

Art. 83 A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:


I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e
cinquenta) salários mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de
trabalho; (...)
VI - créditos quirografários, a saber: (...) c) os saldos dos créditos derivados
da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do
caput deste artigo;
§ 4° Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados
quirografários.

Art. 84 Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com


precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os
relativos à:
I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
relativos a serviços prestados após a decretação da falência.

Serão super-privilegiados, não se submetendo ao concurso, os


créditos decorrentes da prestação de serviço à própria falência,

Professor Carlos Alberto Begalles 76


Direito Processual do Trabalho
bem como os decorrentes de acidente de trabalho ocorrido na
prestação de serviços havida após a decretação da falência.
A lei trouxe como uma de suas inovações a restrição ao
privilégio do crédito trabalhista a 150 salários mínimos. O que
exceder tal limite será tido por crédito quirografário, o mesmo se
dando com a cessão de crédito trabalhista a terceiros.
Utilizando-se da técnica da interpretação literal, lógica e
protetiva ao trabalhador, podemos concluir que os créditos
derivados de acidente do trabalho não estão sujeitos ao limite de
150 salários mínimos, contando, portanto, com proteção integral.

32. Penhora

32.1 Noções gerais

A penhora é o ato de constrição de bem do devedor para que a


obrigação de pagar constante no título seja satisfeita. Com a
penhora ocorre à individualização do bem, dependendo do caso é
feita a remoção do bem, além disso, é necessário nomear um
depositário e isso vale tanto para bem móvel como imóvel. Por fim,
com a penhora cria-se um direito de preferência. Segundo o art.
664 do CPC a penhora se aperfeiçoa com a apreensão e o depósito
dos bens, mas a apreensão não precisa ser necessariamente física,
como, por exemplo, na penhora de crédito do devedor em mãos de
terceiro (art. 651 do CPC).
A individualização do bem no auto de penhora é importante para
que no futuro seja entregue ao adjudicante ou ao arrematante o bem
que consta no auto de penhora.
A remoção de bens móveis às vezes é necessária para evitar que
o executado desapareça com o bem ou que o bem não venha a sofrer
deterioração. Ademais, com a impossibilidade de prisão do depósito
judicial, conforme entendimento do STF é prudente remover o bem o
colocar nas mãos do credor ou de um depositário particular.
A preferência que se estabelece com a penhora é entre os
credores quirografários, mas se houver penhora trabalhista de
credor empregado, está penhora tem preferência sobre os créditos
cíveis, tributários, inclusive, havendo hipoteca.

32.2 Efeitos

Com a efetivação da penhora alguns efeitos materiais ocorrem.


O primeiro efeito é que o executado pode perder a posse direta
do bem e isso ocorre se o bem for entregue a um depositário
judicial ou depositário particular (art. 666, II e III do CPC).
O segundo efeito é que em havendo alienação do bem penhorado a
venda é válida entre executado e comprador, mas é ineficaz com
relação à execução. Isso se dá pelo fato de que mesmo o bem
estando penhorado o domínio continua com o executado. Mas a
alienação não tira do Estado-Juiz do poder de buscar o bem
penhorado nas mãos de quem quer que o possua.

Professor Carlos Alberto Begalles 77


Direito Processual do Trabalho
O terceiro efeito é que o art. 179 do CP determina que a
subtração, supressão, destruição, dispersão e deterioração da
coisa penhorada constituem ilícito penal.

32.3 Objeto da penhora

A penhora pode recair sobre qualquer bem do devedor (art. 591


do CPC) ou responsável (art. 592 do CPC), nos termos do art. 655
do CPC, desde que tenha expressão econômica, não pague somente as
custas (art. 659, § 2° da CLT) e não se enquadre em nenhuma
hipótese de impenhorabilidade.

32.4 Impenhorabilidade

O Estado, por opção política, não permite a penhora e certos


bens e isso tem como fundamento a dignidade do executado, o
direito ao patrimônio mínimo e a função social da empresa.
Todavia, há casos em que e penhora de bens impenhoráveis será
possível, pois se trata de impenhorabilidade relativa (por
exemplo: o salário é impenhorável, mas se o empregado for devedor
de pensão alimentícia poderá ter seu salário penhorado). Há casos,
ainda, em que a possibilidade de penhora deve ser analisada no
caso concreto, pois o legislador utiliza termos abertos como
“médio padrão de vida” (art. 649, II, do CPC) e “elevado valor”
(art. 649, III, do CPC).
Cumpre esclarecer que nada impede o devedor de renunciar ao
direito a impenhorabilidade se o bem for disponível. Pode o
executado, que é pessoa física e representante comercial autônomo,
oferecer em penhora um instrumento de trabalho que em princípio é
impenhorável (art. 649, V, do CPC).
Conforme art. 659 do CPC são absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não


sujeitos à execução;

Bens inalienáveis são os bens das pessoas jurídicas de direito


público (que dependem e autorização da serem alienados) e os bens
constituídos como capital para garantia de indenização de ato
ilícito (art. 475-Q, § 1° do CPC). Bens declarados como
inalienáveis, por ato voluntário, são os que a lei permite: por
exemplo: bem de família, conforme art. 5°, parágrafo único da Lei
n. 8.009/1990.

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a


residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as
necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

Os termos de “elevado valor” ou que “ultrapassem as


necessidades comuns correspondentes a um “médio padrão de vida”
deverão ser analisados em cada caso concreto.

Professor Carlos Alberto Begalles 78


Direito Processual do Trabalho
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor;

A regra visa preservar a dignidade do executado e impedir a


penhora de bens sem nenhum valor. Todavia, a legislação permite a
penhora se for um bem “de elevado valor”.

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos


de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo;

Esse inciso visa proteger os valores recebidos pelo executado


em razão da prestação de serviços ou aposentadoria/pensão e
garantir a subsistência dele e de sua família. A regra não se
aplica no caso de execução de alimentos (art. 649, § 2° do CPC).
Segundo parte da doutrina e da jurisprudência a impenhorabilidade
não deve ser aplicada em casos em que o valor recebido é
considerável e a penhora de parte do salário não compromete a
manutenção do executado.
A impenhorabilidade a que se refere o inciso é do salário e
não de investimentos. Se em uma pesquisa on line for encontrado
dinheiro do executado em aplicação financeira, mesmo que oriundo
de salário torna-se penhorável, pois perdeu a característica
alimentar.
O inciso faz referência ao parágrafo 3° que foi vetado pelo
Presidente da República. Referido inciso dizia que seria possível
a penhora de até 40% do total recebido acima de 20 salários
mínimos.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os


instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de
qualquer profissão;

A impenhorabilidade recai somente sobre os bens móveis e visa


possibilitar a pessoa física que tem determinada profissão manter
os bens necessários ao desenvolvimento desta profissão. A regra
não se aplica as pessoas jurídicas.

VI - o seguro de vida;

O que a lei visa evitar é a penhora de um direito onde há mera


expectativa, ou seja, de um crédito futuro. Todavia, se já ocorreu
o fato gerador do seguro de vida (a morte do segurado) e o
dinheiro já foi recebido pelo beneficiário (executado) pode ser
penhorado, pois faz parte do seu patrimônio e não há lei proibindo
a penhora.

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas


forem penhoradas;

Professor Carlos Alberto Begalles 79


Direito Processual do Trabalho
Os edifícios em construção podem ser penhorados (art. 677 do
CPC) e, em razão disso, também podem ser penhorados os materiais.

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que


trabalhada pela família;

O dispositivo é uma consequência do art. 5°, XXVI, da CF/88.


Para não ser penhorada deve ser “trabalhada pela família”. A CF/88
determina que será impenhorável em razão de “débitos decorrentes
de sua atividade produtiva”, mas o inciso VIII do art. 649 do CPC
é mais amplo.

IX – os recursos públicos recebidos por instituições privadas para


aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

Em sendo pública a origem do dinheiro e de aplicação


obrigatória a legislação considerado os valores impenhoráveis.

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada


em caderneta de poupança.

Segundo a doutrina a regra somente vale para a “caderneta de


poupança” e não para outro tipo de aplicação financeira. Se houver
várias aplicações em “cadernetas de poupança” a impenhorabilidade
vale somente para uma delas. Parte da doutrina entende que
referida impenhorabilidade não tem razão de ser, pois se o
executado deve, não seria possível deixar de pagar a dívida tendo
valores aplicados em caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da


lei, por partido político.

Os recursos recebidos pelo partido político (CF/88, art. 17, §


3°) são impenhoráveis.

32.57 Bem de família

A Lei n. 8.009/1990 instituiu a impenhorabilidade do imóvel


residencial do casal ou entidade familiar, com as exceções do
arts. 3° e 4°. A lei, a doutrina e a jurisprudência ampliaram os
casos de impenhorabilidade para a “família monoparental” (art.
227, § 4° da CF/88), “união estável”, “união homossexual”,
“solteiro”, “viúvo” etc.
Se houver vários imóveis a penhora recairá sobre o de menor
valor (art. 5°, parágrafo único, da Lei n. 8.009/90).
Se houver imóveis não-residenciais, terrenos ou o bem
pertencer a pessoa jurídica não há se falar em impenhorabilidade.
Segundo o art. 649, § 1° do CPC “a impenhorabilidade não é
oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do
próprio bem”.
Os arts. 3° e 4° da Lei n. 8.009/90 trazem os casos de
possibilidade do bem de família:
Professor Carlos Alberto Begalles 80
Direito Processual do Trabalho
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e
das respectivas contribuições previdenciárias;
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos
constituídos em função do respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuições devidas em função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia
real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de
locação.
Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-
se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a
residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga.
§ 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor,
transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou
anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução ou concurso,
conforme a hipótese.
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a
impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos
bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à
área limitada como pequena propriedade rural.

32.6 Bem dado em garantia real

Não há na legislação proibição, por parte de outros credores,


para que sejam penhorados bens dados em penhor ou hipoteca. Nesse
caso, a legislação exige a intimação do credor para tomar ciência
da penhora (arts. 615, II e 619 do CPC), sob pena de ser ineficaz
a alienação em face do credor pignoratício ou hipotecário.

32.7 Penhora de imóvel

Nos termos do art. 659, § 4° do CPC, “A penhora de bens


imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, cabendo
ao exequente, sem prejuízo da imediata intimação do executado
(art. 652, § 4o), providenciar, para presunção absoluta de
conhecimento por terceiros, a respectiva averbação no ofício
imobiliário, mediante a apresentação de certidão de inteiro teor
do ato, independentemente de mandado judicial” (grifei).
Portanto, para ter eficácia perante terceiros a penhora deve
ser averbada no cartório de registro de imóveis. Nesse caso há
presunção absoluta de fraude no caso de alienação do imóvel. Em
caso contrário, ou seja, não havendo a averbação ter-se-á a
presunção relativa de boa-fé do terceiro, que poderá ser afastada
por provas por parte do credor.

Professor Carlos Alberto Begalles 81


Direito Processual do Trabalho
Deve ser intimado o cônjuge (art. 655, § 2° do CPC) e o credor
hipotecário, se houver (art., 615, II, do CPC). Mesmo havendo
direito de meação a penhora recairá sobre a totalidade do imóvel
(art. 655-B, do CPC).

32.8 Avaliação

No processo do trabalho, por lei, o Oficial de Justiça é


também avaliador (art. 721 da CLT) e assim, no momento em que
realizada a penhora já atribui valor ao bem. Da mesma forma ocorre
no processo civil (art. 475-J, § 1°, 652, § 1° e 680).
A impugnação ao valor atribuído ao bem penhorado deve ser
feita nos embargos à execução, sob pena de preclusão.
Segundo o art. 681 do CPC o laudo da avaliação integrará o
auto de penhora ou, em caso de perícia (art. 680), será
apresentado no prazo fixado pelo juiz, devendo conter: I - a
descrição dos bens, com os seus característicos, e a indicação do
estado em que se encontram; II - o valor dos bens.
Quando o imóvel for suscetível de cômoda divisão, o avaliador,
tendo em conta o crédito reclamado, o avaliará em partes,
sugerindo os possíveis desmembramentos (art. 681, parágrafo único
do CPC).
O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades
e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa será o da cotação
oficial do dia, provada por certidão ou publicação no órgão
oficial (art. 682 do CPC).
Conforme art. 683 do CPC e admitida nova avaliação quando: I -
qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de
erro na avaliação ou dolo do avaliador; II - se verificar,
posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no
valor do bem; ou III - houver fundada dúvida sobre o valor
atribuído ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V).
De acordo com o art. 684 do CPC não se procederá à avaliação
se: I - o exequente aceitar a estimativa feita pelo executado
(art. 668, parágrafo único, inciso V); II - se tratar de títulos
ou de mercadorias, que tenham cotação em bolsa, comprovada por
certidão ou publicação oficial.
Conforme art. 685 do CPC após a avaliação poderá mandar o juiz
a requerimento do interessado e ouvida a parte contrária: I -
reduzir a penhora aos bens suficientes, ou transferi-la para
outros, que bastem à execução, se o valor dos penhorados for
consideravelmente superior ao crédito do exequente e acessórios;
Il - ampliar a penhora, ou transferi-la para outros bens mais
valiosos, se o valor dos penhorados for inferior ao referido
crédito.

32.8 Depositário

Segundo o art. 666 do CPC os bens devem penhorados devem ter


um depositário que não seja o credor e o devedor. O devedor poderá

Professor Carlos Alberto Begalles 82


Direito Processual do Trabalho
ficar como depositário em três situações: a) quando o credor
expressamente concordar (art. 666, § 1° do CPC); quando os bens
foram de difícil remoção (art. 666, § 1° do CPC) e, por fim, c)
tratando-se de bem imóvel (art. 659, § 5°, do CPC) e o devedor não
demonstrar expressamente a impossibilidade de sê-lo.
O depositário é um auxiliar da Justiça (art. 148 do CPC) e
será remunerado pelo ato (art. 149 do CPC). O STF entende que não
é possível a prisão do depositário, mas ele pode responder pelo
crime de apropriação indébita (art. 168 do CPC) e sendo o próprio
devedor incorrer em fraude (art. 179 do CP). Em nível civil o
depositário pode responder pelos prejuízos que causou (art. 150 do
CPC).

32.9 Intimação da penhora

O devedor será intimado da penhora no ato da constrição. Se


não for possível a intimação no ato, ocorrerá posteriormente,
pessoalmente ou por meio de seu advogado, conforme art. 884 da CLT
c/c art. 475-J, § 1° e 652, § 4° do CPC, para embargar a execução
no prazo legal.

33. Embargos à execução.

Os embargos à execução constituem a principal medida de defesa


do executado. Observe-se, porém, que a doutrina majoritária
enxerga em tal ato a natureza jurídica de ação incidental na
execução, tendente a anular o procedimento, desfazer a eficácia do
título executivo ou apontar excesso no montante executado. A
matéria encontra regulamentação no art. 884 da CLT:
Art. 884 - Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o executado 5
(cinco) dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao exequente para
impugnação.
§ 1º - A matéria de defesa será restrita às alegações de cumprimento da decisão
ou do acordo, quitação ou prescrição da divida.
§ 2º - Se na defesa tiverem sido arroladas testemunhas, poderá o Juiz ou o
Presidente do Tribunal, caso julgue necessários seus depoimentos, marcar
audiência para a produção das provas, a qual deverá realizar-se dentro de 5
(cinco) dias.
§ 3º - Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de
liquidação, cabendo ao exequente igual direito e no mesmo prazo.
§ 4º Julgar-se-ão na mesma sentença os embargos e as impugnações à liquidação
apresentadas pelos credores trabalhista e previdenciário.
§ 5º Considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou
interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal.

Como visto (caput), os embargos à execução só poderão ser


opostos após a garantia do juízo, no prazo de 5 dias, a partir da
garantia do juízo. Para a Fazenda Pública este prazo será de 30
dias (art. 1º-B, da lei 9.494/97), sem necessidade de garantia do
juízo.
Tratando-se de vem penhorado fora da sede do juízo onde
tramita a execução, os embargos do executado serão oferecidos no
juízo deprecado ou no juízo deprecante e no primeiro caso os

Professor Carlos Alberto Begalles 83


Direito Processual do Trabalho
remeterá ao juízo deprecante para instrução e julgamento (Lei n.
6.830/80, art. 20). Entretanto, quando os embargos tiverem por
objeto vícios ou irregularidades de atos do próprio juízo
deprecado, caber-lhe-á unicamente o julgamento desta matéria
(parágrafo único do referido dispositivo).
Caso o executado pretenda impugnar tanto atos praticados pelo
juízo deprecado como pelo juízo deprecante, pensamos ser
necessária a oposição de uma impugnação por embargos a ser julgada
por cada um dos juízos. A matéria, no entanto, é objeto de
polêmica doutrinária e jurisprudencial.
Lembramos que a decisão que homologa a conta é irrecorrível,
não sendo passível de qualquer impugnação. Deste modo, os embargos
e a impugnação do credor só são possíveis após a garantia da
execução.
Quanto as matérias a serem alegas encontram-se no art. 884 da
CLT (cumprimento da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição
da dívida), admitindo-se, em especial a observância, neste
aspecto, do disposto no art. 475-L do CPC. Assim, a impugnação do
devedor poderá abranger as seguintes matérias: falta ou nulidade
da citação, se o processo correu à revelia; inexigibilidade do
título; penhora incorreta ou avaliação errônea; ilegitimidade das
partes; excesso de execução; qualquer causa impeditiva,
modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à
sentença.
Nas estreitas hipóteses de admissibilidade de execução de
títulos extrajudiciais (art. 876 da CLT), aplica-se o disposto no
art. 745 do CPC: “quando a execução se fundar em título extrajudicial, o
devedor poderá alegar, em embargos, além das matérias previstas no art. 741,
qualquer outra que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de
conhecimento”.
Os embargos são processados nos mesmos autos originais da
execução. Segundo o art. 475-M do CPC, a impugnação não terá
efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde
que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução
seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano
de difícil ou incerta reparação.
Independentemente dos embargos à execução, conforme expressa o
§ 3º do art. 884 da CLT, o executado poderá, ainda, opor embargos
à penhora, para impugnar atos relativos à constrição judicial.
Conforme o art. 739 do CPC, aplicável subsidiariamente ao
processo do trabalho, os embargos podem ser indeferidos
liminarmente, caso apresentados fora do prazo legal, quando a
petição inicial for inepta ou quando forem manifestamente
protelatórios.

34. Prescrição intercorrente.

Prescrição intercorrente é a perda da exigibilidade do


crédito, pela inércia do credor em promover algum ato necessário à
realização do processo executivo. Discute-se a incidência do

Professor Carlos Alberto Begalles 84


Direito Processual do Trabalho
instituto no processo do trabalho, havendo divergência, inclusive,
entre os tribunais, na análise da matéria.
Para o STF (súmula 327), o direito trabalhista admite a
prescrição intercorrente. Tal entendimento baseia-se na previsão
do art. 884, § 1º, da CLT, no sentido de que a prescrição pode ser
alegada nos embargos do devedor. Neste caso, como estaria preclusa
a oportunidade de arguição de prescrição quanto às pretensões de
direito material, a referência do legislador seria à prescrição
aplicável no curso da execução. Não bastasse, sustenta-se a
aplicabilidade do art. 40 da lei 6.830/80, neste aspecto, a
indicar:
Art. 40 - O juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o
devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora e, nesses
casos, não correrá o prazo da prescrição.
§ 1° - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao
representante judicial da Fazenda Pública;
§ 2° - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor
ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos;
§ 3° - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, serão
desarquivados os autos para prosseguimento da execução;
§ 4° - Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo
prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de oficio,
reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

No entanto, a lógica do processo trabalhista, ao determinar


que o juiz promova de ofício os atos executivos, repele a
incidência da prescrição intercorrente. Neste sentido, o TST, por
meio da súmula 114, indica que a prescrição intercorrente é
inaplicável ao processo do trabalho.
É preciso buscar um meio termo entre tais teses. Embora seja
certo que a execução trabalhista processa-se de ofício, há que se
considerar que alguns atos imprescindíveis ao início ou
desenvolvimento da execução dependem diretamente de ação do
credor. Nestes casos, como, por exemplo, apresentar-se para ser
reintegrado na forma definida pelo julgado, tornar-se-á impossível
que a execução tenha tramitação por ato de ofício do magistrado.
Para tais situações, a prescrição intercorrente é aplicável,
diante da incúria do credor em promover os atos necessários para o
cumprimento da sentença.
O prazo da prescrição intercorrente será o mesmo do direito
material discutido na causa – neste sentido, inclusive, é o teor
da súmula 150 do STF.

35. Particularidades da execução de contribuições previdenciárias.

A contribuição previdenciária incidirá sobre as parcelas


salariais e não sobre as verbas de caráter indenizatório, devendo
o Juiz indicar, na sentença ou no acordo homologado, a natureza
jurídica das parcelas, conforme art. 832, § 3° da CLT. Vale dizer
que as atualizações cabíveis seguem a legislação previdenciária
especial, conforme expressa o § 4º do art. 879 da CLT.

Professor Carlos Alberto Begalles 85


Direito Processual do Trabalho
Nas conciliações, o termo que for lavrado valerá como decisão
irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às
contribuições que lhe forem devidas (art. 831, parágrafo único, da
CLT). Deste modo, a União Federal, atual representante do INSS,
sempre será intimada, via postal, das decisões homologatórias de
acordos que contenham parcela indenizatória, sendo-lhe facultado
interpor recurso (na espécie, recurso ordinário, com prazo em
dobro, em função do Decreto 779/69) relativo às contribuições que
lhe forem devidas (art. 832, § 4° da CLT).
Faculta-se ao devedor o pagamento imediato da parte que
entender devida à Previdência Social, sem prejuízo da cobrança de
eventuais diferenças encontradas na execução de ofício (CLT, art.
878-A). Neste caso, com o recolhimento espontâneo, não serão
devidos acréscimos legais, como multa, juros e correção monetária
sobre o valor adiantado pelo executado.
Elaborados os cálculos, é obrigatória a notificação da União
Federal para manifestar-se sobre as parcelas previdenciárias
apuradas, no prazo de dez dias, sob pena de preclusão (art. 879, §
3° da CLT). O cálculo previdenciário será apurado junto com o
crédito trabalhista, se houver (CLT, art. 879, § 1º-A).
Havendo impugnação da conta pelo credor previdenciário, o
incidente será resolvido na mesma decisão que julgar os embargos à
execução e a impugnação do credor trabalhista (CLT, art. 884, §
4º).
O INSS poderá conceder parcelamento do débito ao executado,
situação que será informada aos autos e suspenderá o processo,
conforme previsão do art. 889-A da CLT.
Caso o agravo de petição interposto pelo INSS ou qualquer um
dos litigantes verse apenas sobre as contribuições sociais, o juiz
da execução determinará a extração de cópias das peças
necessárias, que serão autuadas em apartado, e remetidas à
instância superior para apreciação, após oportunidade de
contrarrazões (CLT, art. 897, § 8º). Deste modo, o incidente
acerca das contribuições previdenciárias não impede o curso da
execução do crédito trabalhista.
O recolhimento previdenciário decorrente de sentença
trabalhista é feito em nome da empresa, registrando na guia
próprio o número de cadastro no CNPJ. Com relação aos domésticos,
porém, o recolhimento é feito com base na inscrição do empregado
perante a Previdência Social (NIT). Tais regras estão expressas
nos §§ 6º e 8º, do art. 276, do Decreto 3.048/9926.

36. Exceção de pré-executividade.

A exceção permite que o executado possa discutir o


procedimento sem que haja garantia do Juízo. Por tal
circunstância, sua admissibilidade deve ser entendida como medida
26
Decreto nº 3.048/99, art. 276: “(...) § 6º: O recolhimento das contribuições do empregado reclamante deverá ser
feito na mesma inscrição em que são recolhidas as contribuições devidas pela empresa. (...) § 8º: Havendo
reconhecimento de vínculo empregatício para empregado doméstico, tanto as contribuições do segurado empregado
como as do empregador deverão ser recolhidas na inscrição do trabalhador”.
Professor Carlos Alberto Begalles 86
Direito Processual do Trabalho
excepcional, admitida apenas nos casos de nulidade ou
inexigibilidade do título executivo que prejudique por completo o
prosseguimento da execução (como ausência de citação no processo
de conhecimento) ou por ocorrência de hipótese de extinção da
obrigação (como pagamento, novação, transação e prescrição),
sempre dependendo de prova apresentada junto com a petição da
objeção. Caberá, ainda, quando nítido o excesso de execução ou
houver incompetência absoluta do juízo.
Como a Fazenda Pública poderá discutir a execução sem promover
a garantia do juízo, o instrumento da exceção de pré-executividade
não se presta à defesa dos entes públicos que a integrarem.
O procedimento de exceção de pré-executividade não admite
dilação probatória, devendo o interessado apresentar, junto com a
impugnação, a prova pré-constituída que for necessária para provar
a nulidade ou irregularidade existente.
A decisão que rejeita a exceção será de natureza
indenizatória, não admitindo recurso imediato, o que não impede a
rediscussão das matérias quando da apresentação dos embargos à
execução, após a correspondente garantia do juízo. Acolhida a
exceção, com extinção total ou parcial da execução, abrindo a
oportunidade de impugnação da decisão por meio de agravo de
petição por parte do interessado.

37. Da fraude de execução trabalhista.

Aplica-se o art. 593 do CPC no processo trabalhista, daí


porque será ineficaz, perante o credor, o ato jurídico
consubstanciado na transferência de propriedade de bens do devedor
que fica, então, sem patrimônio suficiente para satisfazer a
dívida. A jurisprudência divide-se, neste caso, no que diz
respeito à preservação do interesse do terceiro de boa-fé, que, a
rigor, não seria observado no ato fraudulento.
A fraude contra credores é uma das práticas objetivamente
mencionadas no art. 600 do CPC como sendo ato atentatório da
dignidade da justiça. Na mesma situação, incorrerá o devedor que:
se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios
artificiosos; resiste injustificadamente às ordens judiciais; e,
intimado, não indica quais são e onde estão os bens que serão
penhorados. Como forma de coibir tais abusos, prevê a lei (CPC,
art. 601), dentre outras medidas, o arbitramento de multa em favor
do credor, fixada em até 20% do montante da execução.

38. Expropriação de bens

O art. 888 da CLT estabelece o procedimento a ser observado


para arrematação:
Art. 888 - Concluída a avaliação, dentro de dez dias, contados da data da
nomeação do avaliador, seguir-se-á a arrematação, que será anunciada por edital
afixado na sede do juízo ou tribunal e publicado no jornal local, se houver, com
a antecedência de vinte (20) dias.

Professor Carlos Alberto Begalles 87


Direito Processual do Trabalho
§ 1º A arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados e os bens serão
vendidos pelo maior lance, tendo o exequente preferência para a adjudicação.
§ 2º O arrematante deverá garantir o lance com o sinal correspondente a 20%
(vinte por cento) do seu valor.
§ 3º Não havendo licitante, e não requerendo o exequente a adjudicação dos bens
penhorados, poderão os mesmos ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo Juiz ou
Presidente.
§ 4º Se o arrematante, ou seu fiador, não pagar dentro de 24 (vinte e quatro)
horas o preço da arrematação, perderá, em benefício da execução, o sinal de que
trata o § 2º deste artigo, voltando à praça os bens executados.
Como se observa pela redação do art. 888 da CLT tem-se no
processo do trabalho duas espécies de expropriação: hasta pública
(praça ou leilão) e a adjudicação. No processo civil,
atualmente, são três as possibilidades de expropriação, na
seguinte ordem: adjudicação, alienação por iniciativa particular e
alienação em hasta pública. Veja que há, inclusive, uma inversão
em termos expropriatórios, pois o processo civil trouxe a
adjudicação para antes da venda judicial.
De qualquer forma, havendo no processo do trabalho regra
própria inicialmente tem-se que efetivar a hasta pública dos bens,
havendo a possibilidade de adjudicação, nos termos do art. 888, §
1° da CLT.

38.1 Arrematação

A arrematação é o ato pelo qual o Estado transfere ao


licitante o domínio da coisa penhorada, mediante o pagamento do
preço.
Todavia, para que a arrematação se considere completa deve
passar pelos seguintes estágios: edital, hasta pública/leilão,
auto de arrematação e carta de arrematação. Passa-se ao estudo de
tais requisitos, com os seus desdobramentos.

38.1 Edital

A CLT, no art. 888, dispõe que a hasta pública “será anunciada


por edital afixado na sede do juízo ou tribunal e publicado no jornal local, se
houver, com a antecedência de vinte (20) dias”. O edital tem, portanto, a
finalidade de fazer uma oferta pública do bem penhorado.

Como a CLT não traz os requisitos que devem constar no edital


faz-se necessária à aplicação do art. 686 do CPC: I - a descrição do
bem penhorado, com suas características e, tratando-se de imóvel, a situação e
divisas, com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor do bem; III - o
lugar onde estiverem os móveis, veículos e semoventes; e, sendo direito e ação,
os autos do processo, em que foram penhorados; IV - o dia e a hora de realização
da praça, se bem imóvel, ou o local, dia e hora de realização do leilão, se bem
móvel; V - menção da existência de ônus, recurso ou causa pendente sobre os bens
a serem arrematados; VI - a comunicação de que, se o bem não alcançar lanço
superior à importância da avaliação, seguir-se-á, em dia e hora que forem desde
logo designados entre os dez e os vinte dias seguintes, a sua alienação pelo
maior lanço (art. 692). § 1o No caso do art. 684, II, constará do edital o valor
da última cotação anterior à expedição deste. § 2o A praça realizar-se-á no
átrio do edifício do Fórum; o leilão, onde estiverem os bens, ou no lugar
designado pelo juiz.

Professor Carlos Alberto Begalles 88


Direito Processual do Trabalho
Essa distinção entre praça e leilão não tem nenhuma importância
prática. No processo do trabalho, inclusive, tanto os bens imóveis
quanto os bens móveis são vendidos em hasta pública no átrio do
Fórum. Todavia, se os bens móveis ou imóveis não forem vendidos na
hasta pública realizada pela Justiça do Trabalho diretamente serão
vendidos por leiloeiro.
Veja que no processo do trabalho (art. 888, § 1° da CLT) não há
necessidade de duas praças, pois “os bens serão vendidos pelo maior
lance, tendo o exequente preferência para a adjudicação”. Assim, nada impede
que haja uma única hasta pública e que o bem seja vendido pelo
maio lanço sem necessidade de ser pelo valor da avaliação.
Todavia, se o edital adotar o critério do CPC de duas praças, o
que, data vênia, é inútil, pois o licitante vai preferir aguardar
a segunda praça para adquirir o bem por valor menor do que o da
avaliação, isso deve ser respeitado.
No processo do trabalho o edital deve ser publicado com 20 dias
de antecedência (art. 888, caput, da CLT). A CLT determina que a
hasta pública “será anunciada por edital afixado na sede do juízo ou tribunal
e publicado no jornal local, se houver” (art. 888, caput, da CLT), mas
atualmente tem-se utilizado do edital eletrônico (art. 689-A da
CLT), ou seja, que a convocação dos interessados seja feita pela
rede mundial de computadores.

38.2 Hasta pública propriamente dita

Quanto à legitimidade, na hasta pública, conforme art. 690-A. É


admitido a lançar todo aquele que estiver na livre administração de seus bens,
com exceção: I - dos tutores, curadores, testamenteiros, administradores,
síndicos ou liquidantes, quanto aos bens confiados a sua guarda e
responsabilidade; II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou
alienação estejam encarregados; III - do juiz, membro do Ministério Público e da
Defensoria Pública, escrivão e demais servidores e auxiliares da Justiça.
Parágrafo único. O exequente, se vier a arrematar os bens, não estará obrigado a
exibir o preço; mas, se o valor dos bens exceder o seu crédito, depositará,
dentro de 3 (três) dias, a diferença, sob pena de ser tornada sem efeito a
arrematação e, neste caso, os bens serão levados a nova praça ou leilão à custa
do exequente. Regula o assunto, ainda, o disposto no art. 497 do
CC/2002.
Quanto ao preço vil em que pese haja divergência doutrinária
quanto a sua aplicação no processo do trabalho, pois alguns
entendem que não seria cabível pelo fato de a CLT dizer que a
arrematação será feita pelo maior lance (art. 888, § 1° da CLT) e
outros dizem que o preço deve ser razoável, sob pena de diminuição
desnecessária do patrimônio do devedor a jurisprudência, com base
no art. 692 do CPC aceita o instituto no processo do trabalho.
Entretanto, não há um conceito jurídico de preço vil na lei,
sendo, portanto, um termo indeterminado e caberá ao órgão
jurisdicional, em cada caso concreto e valendo-se das regras da
experiência, definir o que venha a ser preço vil. A
jurisprudência, em regra, tem adotado como parâmetro o valor
equivalente a 50% (cinquenta por cento) da avaliação do bem,
devendo ser consideradas, sempre, as peculiaridades do processo
para a definição no caso concreto.

Professor Carlos Alberto Begalles 89


Direito Processual do Trabalho
O lance vil pode ser conhecido até mesmo de ofício pelo juiz,
tendo, inclusive, a possibilidade de ser invalidada a arrematação
por esse motivo (art. 694, § 1°, V, do CPC).
Quanto à forma de pagamento o licitante deve garantir pagamento
imediato de 20% e o restante em 24h, sob pena de perder, em
benefício da execução, o sinal, voltando à praça os bens
executados (art. 888, § 2° e 4° da CLT). É possível, ainda, em
razão de situações peculiares, a aplicação ao processo do
trabalho, do disposto nos parágrafos do art. 690 do CPC, ou seja,
tratando-se de bem imóvel, quem estiver interessado em adquiri-lo em prestações
poderá apresentar por escrito sua proposta, nunca inferior à avaliação, com
oferta de pelo menos 30% (trinta por cento) à vista, sendo o restante garantido
por hipoteca sobre o próprio imóvel.

38.3 Auto de arrematação


A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato,
nele mencionadas as condições pelas quais foi alienado o bem (art.
693 do CPC) e assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo
serventuário da justiça ou leiloeiro, a arrematação considerar-se-
á perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser
julgados procedentes os embargos do executado (art. 694 do CPC).
Como se vê, sem o auto a arrematação ainda não se consumou, ou
seja, não existe. O auto de arrematação, portanto, é da substância
o ato, sem ele inexiste arrematação.
Além disso, a redação do art. 694 do CPC é que mesmo que venham
a ser julgados procedentes os pedidos dos embargos à arrematação
feitos pelo executado a arrematação não se desfaz para o terceiro
arrematante, ou seja, o legislador tem como finalidade prestigiar
a segurança jurídica para quem “compra” o bem oferecido pela
Justiça e, com isso, visa estimular a aquisição do bem penhorado e
a alienação em hasta pública.

38.3 Carta de arrematação

Finda a hasta publica, assinado o auto de arrematação e


realizado o depósito ou prestadas as garantias pelo arrematante
será expedida “ordem de entrega do bem móvel” e “carta de arrematação do bem
imóvel” (art. 693, parágrafo único, do CPC). A ordem de entrega dos
bens móveis ou a carta de arrematação de bens imóveis constituem-
se nos títulos formais de aquisição do bem. Com referidos
documentos o licitante vencedor pode entrar na posse dos bens e,
segundo a jurisprudência, a competência para solucionar qualquer
lide relacionada a posse dos bens será da Justiça do Trabalho, ou
seja, se houver resistência no momento da posse dos bens
penhorados e alienados em hasta pública a Justiça do Trabalho é a
competente para solucionar a questão.

38.4 Efeitos da arrematação

Segundo a doutrina a arrematação produz efeitos no plano


material e no plano processual.

Professor Carlos Alberto Begalles 90


Direito Processual do Trabalho
No plano material a arrematação estabelece os seguintes
efeitos:

- o domínio do arrematante sobre o bem que se dá por meio da


tradição (bens móveis) ou com o registro do título no órgão
competente (bens imóveis). Essa aquisição sobre o bem se dá em
caráter derivativo, o que significa dizer que permanecer os
direitos reais de gozo que por ventura constem (servidão, por
exemplo).

- o arrematante não tem responsabilidade tributária pelas dívidas


anteriores (art. 130, parágrafo único, do CPC). As exceções são os
tributos referentes ao fato gerador da transmissão do domínio em
razão da arrematação (art. 703, III, do CPC) e despesas
condominiais, por tratar-se de obrigação propter rem (art. 1345 do
CC/2002).

- a arrematação confere ao arrematante o direito de investir-se na


posse do bem, mediante ordem judicial, se for o caso (art. 693,
parágrafo único, do CPC).

- no caso de locação do imóvel objeto de arrematação aplica-se ao


caso o disposto no art. 576 do CPC e art. 8° da Lei n. 8.245/1991;
- a arrematação extingue os direitos reais de garantia (art. 1499,
V, do CC/2022) e a garantia passa a ser sobre o preço da coisa
alienada, observando-se o direito de preferência de acordo com a
legislação.

No plano processual a arrematação estabelece os seguintes


efeitos:

- a arrematação converte a penhora em dinheiro e é sobre esse bem


que ser exercerá o direito de preferência;

- a arrematação impõe ao arrematante o dever de pagar o preço, sob


pena de perder o sinal adiantado (art. 888, § 4° da CLT).

- a jurisprudência do STJ é no sentido de que “arrematado o bem


penhorado, impossível a invocação do benefício da Lei nº
8.009/1990. II. Recurso Especial não conhecido. (STJ - RESP
200201076826 - (468176) - PB - 4ª T. - Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior - DJU 14.08.2006 - p. 282).

38.4 Desfazimento da arrematação

Segundo o art. 694, § 1° do CPC, a arrematação poderá ser


tornada sem efeito:

I - por vício de nulidade;

Professor Carlos Alberto Begalles 91


Direito Processual do Trabalho
II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;

III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a


existência de ônus real ou de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no
edital;

IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação


(art. 746, §§ 1o e 2o);

V - quando realizada por preço vil (art. 692);

VI - nos casos previstos neste Código (art. 698).

§ 2o No caso de procedência dos embargos, o executado terá direito a haver


do exequente o valor por este recebido como produto da arrematação; caso
inferior ao valor do bem, haverá do exequente também a diferença.

No caso de ação anulatória autônoma ou embargos à arrematação


o arrematante e o exequente devem constar no polo passivo da ação,
pois se trata de litisconsórcio passivo necessário e unitário.

39. Adjudicação

A adjudicação é o ato processual pelo qual o credor, após


manifestação de sua vontade, resolve incorporar ao seu patrimônio
os bens penhorados e que foram levados à hasta pública, como forma
de solver a dívida. Tal ato prefere à arrematação, conforme dispõe
o art. 888, § 1º, da CLT, desde que a manifestação do credor seja
feita antes da assinatura do auto de arrematação. Para a
adjudicação, o bem será recebido pelo credor pelo valor da
avaliação ou, havendo lanço oferecido na praça, pelo valor deste.
Após a adjudicação, havendo saldo em favor do credor a execução
prosseguirá em relação a este, inclusive com nova penhora se
necessário for. Caso o valor do crédito seja inferior a estes
patamares, a adjudicação somente poderá ser feita se o credor
depositar, em favor do devedor, a diferença encontrada.

40. Remição

No processo o instituto da remissão está regulado pelo art. 13


da Lei n. 5.584/1970: Art. 13. Em qualquer hipótese, a remição só será
deferível ao executado se este oferecer preço igual ao valor da condenação.
Como o instituto da remissão foi extinto no processo civil
entende-se que a remição deverá ocorrer até o momento anterior ao
da assinatura do auto de arrematação, sob pena de preclusão.

41. Suspensão e extinção da execução.

Na forma do art. 791 do CPC é possível a suspensão: no todo ou


em parte, quando recebidos os embargos à execução com efeito
suspensivo (CPC, art. 739-A); nas hipóteses previstas no art. 265,
Professor Carlos Alberto Begalles 92
Direito Processual do Trabalho
I a III, do CPC (pela morte ou perda da capacidade processual de
qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu
procurador; pela convenção das partes; quando for oposta exceção
de incompetência do juízo, da câmara ou do tribunal, bem como de
suspeição ou impedimento do juiz); quando o devedor não possuir
bens penhoráveis.
Caso a suspensão decorra de ausência de bens, decorrido o
prazo máximo de um ano da suspensão do curso da execução, sem que
seja localizado o devedor ou sejam encontrados bens penhoráveis, o
juiz ordenará o arquivamento dos autos, os quais poderão ser
desarquivados, a qualquer tempo, para prosseguimento da execução,
caso sejam encontrados o devedor ou os bens (art. 40, §§2° e 3°,
da Lei 6.830/80).
Por fim, pelo art. 794 do CPC, a execução é extinta quando: o
devedor satisfaz a obrigação; o devedor obtém, por transação ou
por qualquer outro meio; houver a remissão (perdão) total da
dívida; o credor renunciar ao crédito. Nestes casos, a extinção só
produz efeito quando declarada por sentença.

42. Embargos de terceiro

A ação para defender interesse de terceiro injustamente


molestado na execução está regulamentada no Código de Processo
Civil. A norma, diante do silêncio da CLT, aplica-se
subsidiariamente ao processo do trabalho. A legitimidade, como
terceiro, e as hipóteses de cabimento desta ação estão
disciplinadas nos arts. 1.046 e 1.047 do CPC.
Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na
posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora,
depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento,
inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos por
meio de embargos.
§ 1º Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor.
§ 2º Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende bens
que, pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem
ser atingidos pela apreensão judicial.
§ 3º Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de bens
dotais, próprios, reservados ou de sua meação.

Art. 1.047. Admitem-se ainda embargos de terceiro:


I - para a defesa da posse, quando, nas ações de divisão ou de demarcação, for o
imóvel sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos, da partilha ou da
fixação de rumos;
II - para o credor com garantia real obstar alienação judicial do objeto da
hipoteca, penhor ou anticrese.

O prazo para apresentação da medida é estabelecido pelo art.


1.048 do CPC. Assim, os embargos podem ser opostos a qualquer
tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em
julgado a sentença, e, no processo de execução, até 5 dias depois
da arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da
assinatura da respectiva carta.

Professor Carlos Alberto Begalles 93


Direito Processual do Trabalho
A competência foi fixada no art. 1.049 do CPC, pelo qual os
embargos serão distribuídos por dependência e correrão em autos
distintos perante o mesmo juiz que ordenou a apreensão.
Deste modo, cabe a medida tida por violadora de direito de
terceiro tenha ocorrido em cumprimento de carta precatória, duas
situações podem surgir: na primeira, a carta já foi expedida com
declinação específica do bem que seria objeto de constrição, caso
em que os embargos de terceiro devem ser apresentados perante o
juízo deprecante; na segunda hipótese, a carta precatória, de modo
genérico, requer penhora de bens do executado, situação em que
será de responsabilidade do juízo deprecado o julgamento de
qualquer questionamento acerca da validade da constrição.
Os requisitos da petição inicial dos embargos de terceiro
estão especificados no art. 1.050 do CPC, daí porque o embargante,
em petição elaborada com observância do disposto no art. 282, fará
a prova sumária de sua posse e a qualidade de terceiro, oferecendo
documentos e rol de testemunhas. A posse pode ser provada em
audiência preliminar, designada pelo juiz. Deste modo, havendo
procedimento especial estabelecido em lei, não se aplica aos
embargos de terceiros os ritos procedimentais trabalhistas.
Consideram-se documentos indispensáveis à apresentação dos
embargos de terceiro, o ato constritivo – como forma de provar a
condição de terceiro -, e a prova da posse. Quanto à prova da
posse, porém, admite-se, além da prova documental, a justificação
em audiência.
Na forma do art. 1.051 do CPC, admite-se a antecipação dos
efeitos da tutela, de modo liminar.
Art. 1.051. Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá
liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou de
restituição em favor do embargante, que só receberá os bens depois de prestar
caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam afinal declarados
improcedentes.

Caso os embargos versem sobre todos os bens até então


excutidos, a execução será suspensa.

Art. 1.052. Quando os embargos versarem sobre todos os bens, determinará o juiz
a suspensão do curso do processo principal; versando sobre alguns deles,
prosseguirá o processo principal somente quanto aos bens não embargados.

O prazo de defesa nos embargos será de 10 dias (CPC, art.


1.053), contados na forma da CLT, ou seja, a partir da intimação
do embargado.
Por expressa aplicação do art. 803, se não houver contestação,
presumem-se aceitos, pelo embargado, como verdadeiras as alegações
do embargante, devendo o incidente ser julgado no prazo de 5 dias.
Por outro lado, havendo contestação, o juiz designará audiência de
instrução e julgamento caso haja prova a ser produzida.

43. Execução em face da Fazenda Pública

Professor Carlos Alberto Begalles 94


Direito Processual do Trabalho

A Fazenda Pública, segundo a doutrina, abrange a União,


Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações públicas. Incluem, ainda, as agências
executivas e reguladoras.
A execução por quantia certa em face da Fazenda Pública não
permite a constrição de bens, haja vista que estes são
impenhoráveis e inalienáveis. O pagamento do débito pela Fazenda
Pública deve ser feito mediante precatório ou requisição de
pequeno valor (RPV).
As normas que disciplinam a execução por quantia certa em face
da Fazenda Pública estão no art. 100 da CF, nas regras do ADCT
(atos das disposições constitucionais transitórias) e nos arts.
730, 731 e 741 do CPC. O CNJ também publicou resolução no sentido
de sistematizar o assunto em âmbito nacional (Resolução n. 115, de
29 de junho de 2010).
Quanto ao procedimento, elaborado o cálculo pelo contador do
juízo, abre-se vista as partes (ao exequente para impugnação, ao
executado para opor embargos à execução e a União para se
manifestar sobre a questão previdenciária, se for o caso). Ato
contínuo passa-se a decisão, podendo haver recurso. Pode
acontecer, ainda, de qualquer dos intimados não se manifestar,
ocorrendo, deste modo, a preclusão.
Com o trânsito em julgado deve-se verificar se é o caso de
expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, que
dispensa o precatório (art. 100, § 3° da CF/88).
A execução de pequeno valor no âmbito na União está regulada
na Lei n. 10.259/2001, art. 17 e é de 60 salários mínimos. Nos
Estados, DF e Municípios depende da lei de cada pessoa jurídica de
direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas
(art. 100, § 4° da CF/88). Nesses casos, a pessoa jurídica de
direito público é intimada a pagar o valor no prazo de 60 dias,
sob pena de sequestro da quantia devida.
A CF/88 (art. 100, § 8°) proíbe o fracionamento, repartição ou
quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela
do total a requisição de pequeno valor. Assim, se o credor da
União tem 100 salários mínimos para receber, deverá ser expedido o
ofício precatório, não podendo ocorrer o fracionamento do crédito
(por exemplo: fracionamento do crédito em duas parcelas de 50
salários mínimos para “burlar” o regime de precatório). O que se
permite é que o credor renuncie a parte de seu crédito para evitar
a expedição de precatório (art. 87, § 3° do ADCT). No exemplo
acima, o credor poderia renunciar ao crédito que excede 60
salários mínimos para receber mediante requisição de pequeno
valor.
A ordem cronológica do pagamento do precatório passou a ser a
seguinte: créditos alimentares de que sejam titulares idosos ou
portadores de doenças graves até o triplo do limite fixado em lei
para as aquisições de pequeno valor (art. 100, § 2°, da CF/88),
créditos de natureza alimentar geral (art. 100, § 1°, da CF/88) e

Professor Carlos Alberto Begalles 95


Direito Processual do Trabalho
créditos não alimentares. O STF entende que os honorários
advocatícios possuem natureza salarial (RE 470.407/DF).
Na execução em face da Fazenda Pública o juiz de 1° grau se
limita a expedir o precatório e, a partir daí, os demais atos
passam a ser de responsabilidade do Presidente do Tribunal. Deve-
se, ponderar, contudo, que nos termos da súmula 311 do STJ “os
atos do presidente do tribunal sobre processamento e pagamento de
precatório não têm caráter jurisdicional”, o que importa dizer que
eventuais incidentes devem ser resolvidos pelo juízo de 1° grau
(sucessão, divisão de honorários etc.).
Segundo entendimento pacificado do STF (súmula vinculante n.
17) não se computa juros de mora no período entre a inscrição do
precatório e a data do efetivo pagamento. Isso se o pagamento
ocorrer no prazo do § 5° do art. 100 da CF/88.
Quanto à possibilidade de sequestro na execução por quantia
certa quando expedido o precatório a CF/88 permite o sequestro no
caso de “preterição no direito de precedência” e “não alocação
orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito” (art.
100, § 6°).
Nas ações plúrimas deve-se considerar o montante total da
execução ou o valor do crédito de cada exequente para efeito de
expedição de precatório/requisição de pequeno valor? Tem-se nesse
caso o litisconsórcio simples e cada um poderia propor uma
demanda. Todavia, por economia processual ajuizaram uma única
demanda. Por óbvio, cada litisconsorte deve ter o seu crédito
individualizado e para cada um deve ser expedida requisição de
pequeno valor ou precatório, dependendo do valor do crédito
individual. Inclusive, há decisão do STF nesse sentido (STF, 2ª T,
AC-AG n. 653/SP, rel. Ministro Joaquim Barbosa, j. em 7.3.2006,
publicado no DJ de 12.5.2006, p. 17). A EC n. 62/2009, no art. 97,
§ 11 do ADCT vedou esse procedimento (fracionamento do crédito nas
ações em litisconsórcio), o que é inconstitucional, pois fere o
princípio da duração razoável do processo (art. 5°, LXXVIII, da
CF/88). Além disso, não há qualquer razoabilidade na norma, pois
se o crédito pertence a cada litisconsorte o precatório/requisição
de pequeno valor deve ser individualizado. Ademais, isso também
fará com que uma questão que poderia ser resolvida em um único
processo (em litisconsórcio), gerará inúmeras ações individuais,
justamente para evitar o regime do precatório.
Quanto à execução provisória por quantia certa em face da
Fazenda Pública entende-se que é possível apenas para o
processamento da demanda (cálculo, impugnação, embargos etc.), mas
para a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, por
imperativo constitucional, exige-se o trânsito em julgado da
decisão (art. 100, § 1°). Quanto às demais formas de execução (de
fazer, não fazer e dar) admite-se a execução provisória.
A emenda constitucional n. 62/2009 criou a possibilidade de
abatimento (a título de compensação) de créditos que a pessoa
jurídica de direito público tiver em face do credor. Assim, antes
da expedição do precatório/requisição de pequeno valor, o Tribunal
solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30

Professor Carlos Alberto Begalles 96


Direito Processual do Trabalho
dias, sob pena do direito de abatimento, informação sobre os
débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública
devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,
ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de
contestação administrativa ou judicial (art. 100, § 9° e 10 da
CF/88).
O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em
precatórios a terceiros, independente da concordância do devedor,
não se aplicando ao cessionário o disposto nos parágrafos 2° e 3°
do art. 100 da CF/88, ou seja, o precatório perde a natureza
alimentar. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após
comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de
origem e à entidade devedora (art. 100, § 14° da CF/88).
A EC n. 62/2009 criou, por fim, um regime especial de
pagamento por parte dos Estados, conforme regulamentação do art.
97 do ADCT, unificando os precatórios dos Tribunais.

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