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Disciplina de Direito Fiscal

O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO Ano Letivo 2023/24

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•É um “conjunto de atos e formalidades, relativamente
autónomos, organizados sequencialmente, dirigidos à
produção de um determinado resultado (do qual são
instrumentais), praticados por órgãos de uma
administração tributária” (Rui Duarte Morais, Manual de
Procedimento e Processo Tributário, Almedina, 2016, p.
10)
•- art. 55.º LGT -

CONCEITO DE PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO

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AS FASES DO PROCEDIMENTO
TRIBUTÁRIO
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AS FASES DO PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO

Fase
Iniciativa Instrução Decisão Integrativa de
Eficácia

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FASE DA INICIATIVA
É a fase do impulso procedimental, conforme previsto nos arts. 69.º e 70.º da LGT
A iniciativa pode ser:

Não administrativa, quando o impulso é do SP Administrativa, quando o impulso é da AT


É o que acontece na generalidade dos Como exemplos, pode-se apontar a generalidade
procedimentos, que se iniciam com a entrega de dos procedimentos de inspeção tributária (RCPIT)
uma declaração de rendimentos pelos SP (art. 59.º ou o procedimento de avaliação indireta da
n.º 1 do CPPT) matéria coletável (art. 87.º da LGT)

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FASE DA INICIATIVA
Atenção!

Há procedimentos que, apesar de serem da iniciativa da AT, são provocados


pelo SP: são procedimentos administrativos não oficiosos

É o caso da revisão do ato tributário por iniciativa da AT mas a pedido do


contribuinte (cfr. art. 78.° da LGT)

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FASE DA INSTRUÇÃO
Consiste, em termos gerais, na fase de produção de prova

O órgão instrutor – que será, normalmente, o “O ónus da prova dos factos constitutivos dos “Presumem-se verdadeiras e de boa-fé as
órgão competente para a decisão pode direitos da AT ou dos contribuintes recai sobre declarações dos contribuintes e os dados e
utilizar todos os meios de prova admitidos em quem os invoque“ (n.° 1 do art. 74.° da LGT) apuramentos inscritos na sua contabilidade ou
direito (art. 71.º e 72.° da LGT) escrita, quando organizadas de acordo com a
legislação comercial e fiscal" (art. 75.° n.º 1
da LGT)

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FASE DA DECISÃO
Por regra, o procedimento está subordinado a um princípio geral de obrigatoriedade de
decisão (art. 56.° n.° 1 da LGT)

No entanto, o art. 56.º n.º 2 da LGT elenca as situações em que a AT não está obrigada a
decidir

Antes da tomada de decisão, o interessado deve ser ouvido, nomeadamente através


do mecanismo de audição prévia, que deve cumprir as regras previstas no art. 60.º
da LGT

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FASE DA DECISÃO
Decisão

Expressa Tácita

Deferimento Indeferimento Indeferimento Deferimento


Expresso Expresso Tácito Tácito

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FASE DA DECISÃO
Decisão expressa: Quando for feita por meio direto de manifestação da vontade (palavras,
escrito, etc.).

Decisão tácita: Quando se atribui ao “silêncio” da AT um valor declarativo tácito

Indeferimento tácito: manifestação de vontade negativa, que é a regra para efeitos de recurso
hierárquico ou impugnação judicia (art. 57.° n.°1 e 5 da LGT e art. 106.º do CPPT)

Deferimento tácito: manifestação de vontade positiva, que apenas acontece nos casos
expressamente previstos na lei
Ex.: Informação vinculativa (art. 68.º n.º 8 e 9 LGT), pedido de sancionamento do relatório final de
inspeção (art. 64.º n.º 3 RCPIT), ilisão de presunções (art. 64.° do CPPT, art. 73.° da LGT),
reclamação de pagamentos por conta (art. 133.° n.º 4 do CPPT)
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FASE INTEGRATIVA DE EFICÁCIA
Consiste na comunicação dos atos tributários aos respetivos interessados
Esta comunicação é fundamental para que os atos produzam os seus efeitos
- Art. 268º n.º 3 da CRP, art. 35.° e ss do CPPT e art. 77.° n.° 6 da LGT –

Comunicação individualizada
Comunicação não individualizada
Art. 36.º n.º 2 do CPPT: conteúdo
Exemplo: publicação de circulares no
das notificações
Quando a notificação é feita no
Notificação âmbito do procedimento de
âmbito do processo de execução Publicação orientações genéricas (art. 56.º do
CPPT)
fiscal designa-se citação (art.
35.° CPPT)

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PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO
PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
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PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Prevalência de Precedência de
lei lei

Impõe a conformidade da atuação Proíbe que a AT Impõe que a


administrativa ao que está previsto na lei pratique atos atuação da AT
(lei em sentido amplo), tal como decorre contrários à lei e seja fundada
implica a numa lei prévia,
do n.º 2 do art. 266.º da CRP invalidade dos que defina a sua
Encontra-se subdividido em 2 atos que a competência e a
contrariem respetiva forma
subprincípios: de atuação

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PRINCÍPIO DA CELERIDADE
O Um prazo máximo para a prática de atos procedimentais: 8 dias, salvo
procedimento disposição legal em sentido contrário (57.º n.º 2 da LGT)
tributário
deve ser
concluído em Proibição da prática de atos inúteis ou dilatórios (57.º n.º 1 da LGT), sendo o
procedimento da iniciativa do contribuinte obrigatoriamente arquivado se ficar
tempo útil parado mais de 90 dias por motivo a este imputável (53.º n.º 1 do CPPT)
(i.e., num
prazo
razoável). Prazo-regra de duração máxima do procedimento tributário: 4 meses (57.º n.º
1 da LGT)
Assim, é
Ex. de exceções: art. 66.º, n.º 5 CPPT, art. 92.º, n.º 2 LGT e art. 36º, n.º 2 e 3 do
imposto: RCPIT

Nota: Os prazos referidos "são contínuos e contam-se nos termos do Código Civil" (art. 57.º n.º 3 LGT) 14
PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL
Princípio da
colaboraçã
Princípio do o
inquisitório
Prevista no art. 55º da LGT, a verdade material em
matéria tributária implica o conhecimento e aceitação
total do princípio da igualdade na tributação, na sua Princípio da
imparcialid
dimensão estruturante de respeito pela efetiva ade
capacidade contributiva dos sujeitos

Para se alcançar a verdade material na tributação,


impõem-se diversos sub-princípios, a saber:

Verdade Material na Tributação


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PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO
Para se alcançar a verdade material na tributação, impõe-se:

O dever de colaboração do
SP para com a AT – previsto
no art. 48.° n.° 2 do CPPT e
O dever de colaboração da art. 59.° n.° 1 e 4 da LGT
AT para com o SP – previsto Mas atenção! Este dever de
no art. 48.° n.° 1 do CPPT e colaboração a cargo do SP
art. 59.° n.° 1 e 3 da LGT cessa sempre que se esteja
perante uma das situações
previstas no n.º 5 do art. 63.º
da LGT

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PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO
Não sendo legítima a recusa de colaboração, poderão ser aplicadas ao SP diversas consequências
negativas. A título de exemplo:

Aplicação de métodos indiretos, mediante a tributação através de indícios ou presunções (arts. 87.º a 89°-A da
LGT);

Perda de benefícios fiscais (art. 14.° n.° 2. da LGT e art. 14.° n.° 5 do EBF);

Aplicação de um agravamento à coleta (art. 77.° do CPPT ou art. 91.° n.° 9 da LGT);

Eventual responsabilidade contraordenacional (arts. 113.°, 116.° e ss. do RGIT) ou até criminal (por exemplo, art.
103.°. n.° 1, al. a) e b), do RGIT);

Suspensão dos prazos impositivos de celeridade processual e consequente não exigibilidade do seu respeito (art.
57.º n.º 4 da LGT).
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PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO
De acordo com este princípio:

A AT deve realizar as diligências de


investigação necessárias à satisfação do
interesse público e à descoberta da verdade
material (art. 58.º LGT)

A AT pode instaurar alguns procedimentos


tributários oficiosamente, como acontece com
o procedimento de fixação da matéria
tributável por métodos indiretos (arts. 87 e ss
da LGT)

Este princípio da investigação não exclui o dever de colaboração por parte do SP! 18
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE
Previsto no art. 55º da LGT, este princípio impõe à AT que proceda a uma ponderação
igualitária de interesses (sobretudo na fase de instrução e na fase decisória)

A AT não deve intervir no procedimento tributário como parte interessada na cobrança dos
impostos, mas como defensora do interesse público e da verdade material na tributação

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PRINCÍPIO DA CONFIDENCIALIDADE
A AT está obrigada a guardar sigilo sobre a situação tributária dos contribuintes e quaisquer elementos
de natureza pessoal obtidos no decurso do procedimento. Este dever comunica-se a todas as pessoas que
tenham acesso a informação protegida por este segredo fiscal (art. 64.º n.º 1 e 3 da LGT)

Mas atenção:

O dever de sigilo não compreende as O dever de sigilo cessa nos termos do n.º 2 do
informações previstas no n.º 5 do art. 64.º da art. 64.º da LGT
LGT

A violação do dever de sigilo é uma conduta que pode ser punida a título de crime (art. 91.º do RGIT) ou
de contraordenação tributária (art. 115.º do RGIT)
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PRINCÍPIO DA FUNDAMENTAÇÃO DOS ATOS
Previsto no art. 77.º n.º 1 LGT, este princípio determina que todas as decisões (favoráveis
ou desfavoráveis) devem ser fundamentadas, o que significa que devem incluir:
- a motivação da decisão, i.e., a exposição dos seus motivos e razões; e
- a justificação da decisão, i.e., os pressupostos de facto e de direito que a suportam

A fundamentação deve ser feita de uma forma oficiosa, completa, clara, atual e
expressa.
A falta destes requisitos (fundamentações incompletas, obscuras, abstratamente
remissivas) e a falta da própria fundamentação, constitui uma ilegalidade, suscetível de
conduzir à anulação do ato em causa, mediante meios graciosos ou contenciosos (Cfr. art.
99.° alínea c) do CPPT)

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PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS
Como vimos já, o ato de publicidade pode consistir quer num ato geral (publicação), quer num
ato individual (notificação)
No que diz respeito às notificações, importa analisar o art. 19º da LGT e os artigos 35.º e 36.º
do CPPT

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PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS
Requisitos formais das notificações postais

• Notificação de decisões suscetíveis de alterar a situação tributária dos contribuintes ou a sua convocação para
assistirem a atos ou diligências: carta registada com AR (art. 38.º n.º 1 CPPT). A notificação considera-se
efetuada na data em que o aviso é assinado (art. 39.º n.º 3 CPPT)
• Notificação da liquidação de impostos periódicos: via postal simples (art. 38.º n.º 4 CPPT)
• Restantes atos: carta registada (art. 38.° n.° 3 CPPT). A notificação considera-se efetuada no 3.° dia posterior
ao do registo, ou no 1º dia útil seguinte a este (art. 39.° n.° 1 do CPPT)
• As notificações podem ser feitas por transmissão eletrónica de dados nos casos em que o SP tenha morada única
digital ou caixa postal eletrónica (art. 38.° n.° 9 e seguintes do CPPT)

Requisitos substanciais das notificações postais

• As notificações devem conter os elementos previstos no art. 36.° n.° 2 CPPT


Na falta destes requisitos, o interessado pode solicitar a notificação dos elementos omitidos nos termos do art.
37.º n.º 1 do CPPT
• Em todo o caso, a ausência de notificação ou a notificação juridicamente mal efetuada terá como consequência a
ineficácia do ato em causa e não a sua invalidade

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PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE DECISÃO

Uma mesma pretensão do contribuinte não pode ser apreciada


por mais de dois órgãos integrando a mesma cadeia
hierárquica (art. 47.º do CPPT), o que significa que:

1) Só se pode recorrer administrativamente uma vez,


devendo o pedido de reapreciação da decisão ser
dirigido, por princípio, ao dirigente máximo do serviço
2) Após uma segunda decisão administrativa
desfavorável, o ato tributário considera-se
verticalmente definitivo

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OS PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS,
EM ESPECIAL
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PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS EM ESPECIAL
Procedimentos Pré-Liquidatórios Procedimentos Impugnatórios
✓ Procedimentos de natureza informativa ✓ Procedimento de revisão da matéria
coletável
✓ Procedimento de reconhecimento de BF
✓ Procedimento de revisão dos atos
✓ Procedimento de ilisão de presunções tributários
✓ Procedimentos de avaliação ✓ Procedimento de reclamação graciosa
✓ Procedimento de recurso hierárquico
Procedimentos Liquidatórios ✓ Procedimento de correcção dos erros da
✓ Procedimento de liquidação AT

✓ Procedimento de cobrança
Procedimentos Cautelares
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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA

Procedimento Procedimento
de de
orientações informações
genéricas vinculativas

Procedimento Procedimento
de inspeção de acesso a
tributária informações
bancárias

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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA
Procedimento de orientações genéricas
• Previsto nos artigos 55.º e 56.º do CPPT e no artigo 68.º-A da LGT
• Visa a uniformização da interpretação e integração das normas tributárias
• Culmina na emanação, por parte do dirigente máximo do serviço, de um ato tributário de conteúdo
geral e abstrato: uma circular administrativa
✓ Esta circular vincula a administração tributária e não pode ter natureza retroativa
✓ A circular é publicada numa "base de dados permanentemente atualizada" de acesso gratuito,
livre e directo, ou seja, sem a prévia exigência de palavras-chave ou códigos secretos:
https://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/legislacao/instrucoes_administrativas/
Pages/default.aspx
• A AT deve rever as suas orientações genéricas em todas as situações previstas no n.º 4 do art. 68.º-A da
LGT

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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA
Procedimento de informações vinculativas
• Previsto nos arts. 57º do CPPT e 68º da LGT
• Objetivo: facilitar o cumprimento das obrigações fiscais por cada contribuinte individualmente
considerado. Assim, os contribuintes podem solicitar à AT a prestação de informações sobre a sua concreta
situação tributária (incluindo os pressupostos de benefícios fiscais)
• Os Pedidos de Informação Vinculativa (PIV) podem ter:

Caráter normal
Caráter urgente

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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA
Requisitos Requeridos ao Dirigente Máximo do Serviço e nos termos do n.º 4 do art. 68.º da
LGT
comuns dos
PIV Devem ser acompanhados da descrição dos factos cuja qualificação se pretende

Não podem ser referentes a factos investigados em sede de inspeção tributária

Por princípio, os PIV caducam no prazo de 4 anos. Podem caducar antes em caso de
alteração superveniente dos pressupostos de facto ou de direito em que assentaram

É possível recorrer nos termos do n.º 20 do artigo 68.º da LGT

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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA

Requisitos dos PIV com caráter normal Requisitos dos PIV com caráter urgente

• A informação vinculativa é prestada no prazo • Devem ser acompanhados da proposta de


máximo de 150 dias enquadramento jurídico-tributário
• Dependem do pagamento de uma taxa por parte do
contribuinte
• A informação vinculativa é prestada no prazo
máximo de 75 dias
• Caso a AT não responda em 75 dias, a proposta de
enquadramento jurídico-tributário considera-se
tacitamente deferida

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PROCEDIMENTOS DE NATUREZA INFORMATIVA
Em princípio, o direito ao
sigilo bancário só pode ser Procedimento de acesso a informações bancárias
derrogado:

• Existem, contudo, casos em que a AT pode aceder aos dados


cobertos pelo sigilo bancário sem necessidade de consentimento nem
de autorização judicial: são os casos previstos no 63.º-B n.º 1 e 2 da
Mediante LGT
consentimento do
titular dos dados (art. • Por regra, as decisões da AT devem ser decididas pelo Diretor-
63.º-B n.º 1 da LGT) Geral da AT, devidamente fundamentadas e notificadas ao
interessado (art. 63.°-B n.° 4 da LGT)
• O interessado pode reagir interpondo um recurso jurisdicional
adequado (art. 63.º-B n.º 5 da LGT e arts. 146.°-A e 146º-B do
Mediante CPPT)
autorização judicial
(art. 63.° n.° 2 da
LGT)
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INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA Art.º 2.º do RCPIT

O procedimento de inspeção tributária visa, em termos gerais:


❖ A observação das realidades tributárias;
❖ A verificação do cumprimento das obrigações tributárias;
❖ A prevenção das infrações tributárias.

Art. 2.º n.º 3 e 4 do RCPIT Art. 2.º n.º 5 do RCPIT


Âmbito alargado das entidades que podem ser Âmbito alargado do conceito de obrigação
inspecionadas tributária

A seleção destas entidades acontece nos termos do art. 27.º


do RCPIT

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CLASSIFICAÇÃO DA INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA Art.º 12.º do RCPIT

Classificação quanto aos fins

Especificamente, o procedimento de inspeção pode classificar-se como:


➢ Procedimento de comprovação e verificação do cumprimento das obrigações tributárias (é o
procedimento-regra)
➢ Procedimento de informação, com o objetivo de informar e melhor acompanhar os contribuintes no
cumprimento das suas obrigações tributárias

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CLASSIFICAÇÃO DA INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA Art.º 13.º do RCPIT

Classificação quanto ao lugar

A inspeção pode qualificar-se como:


✓ Inspeção interna: realizada exclusivamente nos serviços da AT nos termos do art. 13.º al. a) do
RCPIT
✓ Inspeção externa: realizada total ou parcialmente fora dos serviços da AT (v.g., nas instalações do
sujeito passivo, de terceiros com quem este mantenha relações económicas ou noutros locais a que a
AT tenha acesso)

Sendo a inspeção externa:


❖ Qual o local onde podem ser realizados os atos de inspeção? Art. 34.º do RCPIT
❖ Qual o horário em que podem ser realizados os atos de inspeção? Art. 35.º do RCPIT

Atenção: a classificação do procedimento quanto ao lugar é fundamental e terá outras consequências, que analisaremos posteriormente
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CLASSIFICAÇÃO DA INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA Art.º 14.º do RCPIT

Classificação quanto ao âmbito:

A inspeção pode qualificar-se como:


➢ Geral/polivalente, quando a inspeção se dirija a analisar a situação tributária global ou o conjunto
dos deveres tributários dos sujeitos passivos
➢ Parcial/univalente, quando a inspeção:

Quanto à extensão:
O procedimento tributário pode englobar 1 ou mais do que 1 período de tributação
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A NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DO SP Art.º 49.º e 50.º do RCPITA

Por regra:
• O SP deve ser devidamente avisado de que será sujeito a uma ação de inspeção tributária externa,
como decorrência dos princípios da colaboração e da proporcionalidade
• Este aviso deve ser feito com uma antecedência mínima de 5 dias antes da data da primeira diligência
de inspeção
• O aviso deve ser notificado ao SP por carta registada (ou através de meios eletrónicos, nos termos do
art. 38.º n.º 1 do RCPIT)
• Com a notificação, deve ser enviado ao SP um anexo com os seus direitos e deveres ao longo do
procedimento inspetivo

Exceção (os casos de inspeções-surpresa):


• Não haverá lugar à notificação prévia do SP em todos os casos especifica e expressamente previstos
no art. 50.º n.º 1 do RCPIT (o qual deve ser articulado com o art. 69.º n.º 2 da LGT)

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DILIGÊNCIAS INSPETIVAS
Para a realização dos Neste contexto, podem ser adotadas
Os atos atos inspetivos, a AT medidas cautelares, que são diligências
inspetivos podem conta com diversos de natureza preventiva ou antecipatória
ser de natureza direitos e que podem ser de dois tipos:
diversa prerrogativas
(art. 2.º n.º 2 e 6 (art. 28.º n.º 2 e 29.º
do RCPITA) do RCPITA e art. 63.º
n.º 1 da LGT)
Medidas Providências
cautelares em cautelares
sentido estrito - Natureza
- Natureza judicial -
administrativa -
Art. 31.º do
Art. 28.º n.º 2 al. RCPIT (e art. 51.º
A eventual recolha g) do RCPIT e da LGT e
de elementos de art. 30.º do 135.º e seguintes
prova deve cumprir as RCPIT do CPPT)
regras previstas nos
arts. 55.º e 56.º do
RCPITA
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DILIGÊNCIAS INSPETIVAS Art.º 30.º do RCPITA

Medidas cautelares de natureza administrativa

Objetivo: Adquirir e conservar a prova da situação tributária, de uma das seguintes formas:

a) Apreender os elementos de b) Selar quaisquer instalações, c) Visar, quando conveniente, os


escrituração ou quaisquer outros apreender bens, valores ou livros e demais documentos.
elementos, incluindo suportes mercadorias, sempre que se mostre
informáticos, comprovativos da necessário à demonstração da
situação tributária do sujeito existência de um ilícito tributário;
passivo ou de terceiros;

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DILIGÊNCIAS INSPETIVAS Art.º 30.º do RCPITA

Medidas cautelares de natureza administrativa (cont.)

De notar que:
➢ Estas medidas devem respeitar o princípio da proporcionalidade e devem ser fundamentadas com a
justificação da sua adequação ao fim a que se destinam (als. a) e b))
➢ Da apreensão de elementos deve ser lavrado um termo, sendo autenticadas as fotocópias ou
duplicados dos elementos apreendidos
➢ Quando sejam selados bens ou instalações, deve dar-se cumprimento ao disposto nos n.º 4 e 5 do
art. 30.º do RCPIT

Da parte do Sujeito Passivo, estas medidas podem ser alvo de impugnação autónoma urgente (art.
11.º do RCPIT e art. 143.º do CPPT)

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A CELERIDADE DA INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA Art.º 36.º do RCPIT
e 57.º da LGT

Atenção!

Por regra, o procedimento de inspeção tributária deve Os prazos de caducidade e de prescrição podem
ser suspensos ou interrompidos.
iniciar-se até ao termo do prazo de caducidade de
liquidação dos tributos O início do procedimento de inspeção tributária
pode determinar a suspensão do prazo de
caducidade, nos termos do n.º 1 do art. 46.º da
LGT

Exemplo:
O procedimento de inspeção deve ser contínuo e
- Prazo de caducidade que começa a contar em
tanto a AT como o contribuinte devem abster-se de 31 de Dez. de 2018
praticar atos inúteis ou dilatórios
- Por princípio, o direito a liquidar IRC terminaria
a 31 de Dez. de 2022

- Contudo, o SP foi alvo de uma inspeção


externa entre 1 de abril e 31 de agosto de
2022. Neste período, a contagem da
Por regra, o procedimento de inspeção tributária deve caducidade fica suspensa
ter a duração de 6 meses
- O direito a liquidar tributos apenas terminará,
então, a 31 de maio de 2023

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A CELERIDADE DA INSPEÇÃO TRIBUTÁRIA
Por regra (art. 36.º e 53.º do RCPIT), o procedimento de inspeção deve ser concluído no prazo máximo de 6 meses

Este prazo pode, contudo, ser ampliado por mais 2 períodos de 3 meses, desde que cumpridos os
critérios previstos no art. 36.º n.º 3 e 4 do RCPIT

Este prazo pode também ser suspenso nas situações especificamente referidas no art. 36.º n.º 5 e
6 do RCPIT

Quando o prazo é ultrapassado:


i) Não devem ser praticadas mais diligências externas de inspeção (36.º n.º 7 RCPIT)
ii) O direito à liquidação dos tributos não é prejudicado (36.º n.º 7 RCPIT)
iii) Cai a suspensão do prazo de caducidade da inspeção previsto no artigo 46.º n.º 1 da LGT
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A CONCLUSÃO DA INSPEÇÃO Art.º 60.º e ss do RCPITA

O SP pode
O Projeto é
Elaboração do exercer o direito
Se os inspetores notificado ao
Projeto de de audição de
propuserem SP, com a Emissão da nota
Relatório, com a forma escrita ou
correções / atos fixação do prazo de diligência
identificação oral, podendo
desfavoráveis para audição (art. 61.º n.º 1 e
desses atos e inclusivamente
ao Sujeito prévia (por 3 do RCPIT)
da sua decidir não
Passivo regra, entre 15 e
Depois da fundamentação exercer esse
25 dias)
realização das direito
diligências
inspetivas…
Se os inspetores
não propuserem Emissão da nota
correções / atos de diligência
desfavoráveis (art. 61.º n.º 1
ao Sujeito do RCPIT)
Passivo

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A CONCLUSÃO DA INSPEÇÃO: O RIT Art.º 62.º do RCPITA

Nos 10 dias subsequentes à notificação da nota de diligência, o contribuinte deve ser notificado do
Relatório Final de Inspeção Tributária (RIT)
O procedimento de inspeção considera-se concluído precisamente na data de notificação desse RIT

Note bem!
Depois de concluída uma inspeção externa, o art. 63.º n.º 4 da LGT determina que a
mesma é irrepetível, a não ser que:
• Seja proferida decisão, fundamentada com base em factos novos, do dirigente máximo
do serviço;
• O procedimento vise apenas a consulta, recolha de documentos ou elementos ou a
confirmação dos pressupostos de direitos que o contribuinte invoque perante a
administração tributária;
• A situação fiscal do SP esteja a ser analisada por meio de inspeção ou inspeções
dirigidas a terceiros com quem mantenha relações económicas.
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A CONCLUSÃO DA INSPEÇÃO: O RIT
O conteúdo normal do RIT
Tendo em atenção a dimensão e complexidade da entidade inspecionada, o RIT deve
conter todos os elementos previstos no art.º 62.º n.º 3, 4 e 6 do RCPITA

Eficácia vinculativa
O RIT pode ter eficácia vinculativa nos termos previstos no art. 64.º do do RCPITA

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PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS EM ESPECIAL
Procedimentos Pré-Liquidatórios Procedimentos Impugnatórios
✓ Procedimentos de natureza informativa ✓ Procedimento de revisão da matéria
coletável
✓ Procedimento de reconhecimento de BF
✓ Procedimento de revisão dos atos
✓ Procedimento de ilisão de presunções tributários
✓ Procedimentos de avaliação ✓ Procedimento de reclamação graciosa
✓ Procedimento de recurso hierárquico
Procedimentos Liquidatórios ✓ Procedimento de correcção dos erros da
✓ Procedimento de liquidação AT

✓ Procedimento de cobrança
Procedimentos Cautelares
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PROCEDIMENTO DE RECONHECIMENTO DE BF
Os benefícios fiscais podem ser (art. 5º EBF):
• Automáticos, quando resultam direta e imediatamente da lei
• Dependentes de reconhecimento, quando pressupõem um ato posterior de reconhecimento por parte da
AT. Para tal, o SP deve apresentar um requerimento nos termos do art. 65º do CPPT

Mas atenção! O reconhecimento não poderá ser concedido quando o sujeito passivo
tenha deixado de efetuar o pagamento de qualquer imposto ou contribuições
relativas ao sistema da segurança social e desde que a dívida em causa não tenha
sido objeto de reclamação, impugnação ou oposição e prestada garantia idónea,
quando devida (art. 13.º do EBF)

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PROCEDIMENTO DE ILISÃO DE PRESUNÇÕES
Uma das formas adotadas pelo
legislador para combater as Colocando em causa o ato tributário
condutas elisivas dos contribuintes foi que se basear nessa presunção
(mediante a reclamação graciosa
recorrer a presunções. Contudo, as ou a impugnação judicial do mesmo)
presunções consagradas nas normas
de incidência tributária admitem
sempre prova em contrário (art. 73.°
da LGT)

Recorrendo ao “procedimento
De acordo com o disposto no art. 64º contraditório próprio” que é o
procedimento de ilisão de
do CPPT, o contribuinte tem ao seu presunções, instaurado nos termos
dispor dois meios para ilidir a do art. 64º n.º 2 do CPPT
presunção em causa:

48
PROCEDIMENTO DE ILISÃO DE PRESUNÇÕES
A petição considera-se tacitamente deferida se não lhe for dada qualquer resposta no prazo de 6 meses,
salvo quando a falta de resposta for imputável ao contribuinte (art. 64º, n.º 3, do CPPT)

Se o interessado
conseguir ilidir a Afasta a tributação;
presunção prevista na
norma

Se os prazos de reclamação e impugnação


Consequências do ato tributário ainda não tiverem
decorrido → a decisão produz efeitos
retroativos, podendo abranger os atos
Se o interessado não tributários pendentes
conseguir ilidir essa
presunção, e:
Se os prazos de reclamação e impugnação
do ato tributário já tiverem decorrido → a
decisão produz efeitos apenas prospetivos
49
PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS EM ESPECIAL
Procedimentos Pré-Liquidatórios Procedimentos Impugnatórios
✓ Procedimentos de natureza informativa ✓ Procedimento de revisão da matéria
coletável
✓ Procedimento de reconhecimento de BF
✓ Procedimento de revisão dos atos
✓ Procedimento de ilisão de presunções tributários
✓ Procedimentos de avaliação ✓ Procedimento de reclamação graciosa
✓ Procedimento de recurso hierárquico
Procedimentos Liquidatórios ✓ Procedimento de correcção dos erros da
✓ Procedimento de liquidação AT

✓ Procedimento de cobrança
Procedimentos Cautelares
50
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
Prévia

Prevista no art. 58.º do CPPT


Objetivo: permitir que os contribuintes que Avaliação
provem ter um interesse legítimo solicitem a
avaliação de bens e de direitos que poderão
vir a ser sujeitos a tributação
Principal efeito do procedimento: efeitos Indireta Direta
vinculativos por um período de 3 anos, salvo
reclamação ou impugnação da avaliação

51
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
• É muitas vezes realizada a partir dos dados
constantes das declarações apresentadas pelo
contribuinte ou da sua contabilidade (os quais
se presumem verdadeiros e de boa-fé nos
termos do art. 75.° n.° 1, da LGT)
O art.
83.º da • Ao contrário da avaliação prévia, tem em vista
LGT! uma avaliação concreta e não abstrata (ex.: um
concreto ato de liquidação)

• Ex.: avaliação do volume de negócios de um


estabelecimento comercial, de uma carteira de
títulos, dos rendimentos resultantes da alienação
de um bem imóvel, do valor de um terreno, etc.

• Possível impugnar uma avaliação direta? V. art.


54º do CPPT – Impugnação Unitária

52
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
E a avaliação indireta?

Tem um carácter excecional e A competência para a prática de


subsidiário face à avaliação direta atos de avaliação indireta cabe à
(art. 85.º n.º 1 da LGT) AT (art. 77.º n.º 4 da LGT)

Sobre a AT recai o ónus da prova


da verificação dos pressupostos de O recurso à avaliação indireta
aplicação desta avaliação, pode decorrer da verificação dos
cabendo ao sujeito passivo o ónus diferentes pressupostos elencados
da prova do excesso na respetiva no art. 87.º da LGT e abordados
quantificação (art. 74.º n.º 3 da seguidamente:
LGT)

53
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
❖ Aplicação do regime simplificado de tributação
✓ Artigo 87º, n.º 1, al. a) da LGT– situação não patológica
✓ O regime simplificado de tributação consiste num conjunto especial de regras de determinação dos
rendimentos sujeitos a imposto, baseadas numa estimativa ou presunção legal (vide o art. 58.º do
CIRS e o art. 31.º do CIRS)

❖ Impossibilidade de comprovação e de quantificação direta e exata dos elementos indispensáveis à


correta determinação da matéria tributável de qualquer imposto
✓ Art. 87º, n.º 1, al. b) e art. 88º da LGT – situação patológica
✓ A sua aplicação resulta da verificação das anomalias e incorreções especificamente previstas no art.
88º da LGT, quando estas inviabilizem o apuramento da matéria tributável (exige-se assim um nexo
de causalidade, ou seja, uma relação causa-efeito entre as anomalias e a impossibilidade de
apuramento da matéria tributável)
✓ Neste caso, a avaliação indireta pode ter em conta os elementos enunciados no art. 90.° n.°
54
1 da
LGT
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
❖ A matéria tributável do sujeito passivo se afastar da que resultaria da aplicação de determinados
indicadores objetivos da atividade de base técnico-científica
✓ Art. 87º, n.º 1, al. c) da LGT e art. 89º da LGT – Situação patológica
✓ No caso de a matéria tributável se afastar significativamente, sem razão justificada, mais de 30%
para menos ou, durante 3 anos seguidos, mais de 15% para menos, dos indicadores objetivos de
base técnico-científica, a determinação [da matéria tributável] efetua-se de acordo com esses
indicadores – art. 89º, n.º 2 da LGT
✓ A aplicação dos métodos indiretos com base neste fundamento só pode ser efetuada se cumpridos
os requisitos cumulativos previstos no art. 89º, n.º 1 da LGT

Até ao momento, estes indicadores nunca foram publicados,


pelo que este pressuposto não é aplicado na prática!

55
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
❖ Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente, para menos, de
determinados padrões de rendimento

56
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
❖ Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente, para menos, de
determinados padrões de rendimento (cont.)
✓ Art. 87º, n.º 1, al. d) da LGT e art. 89º-A da LGT – Situação patológica
✓ As manifestações de fortuna e os respetivos rendimentos-padrão constam da tabela prevista no art.
89.°-A n.° 4 da LGT
Para aplicação desta tabela, devem tomar-se em consideração os valores e bens referidos no n.º 2
do art. 89.º-A da LGT
✓ É possível recorrer a métodos indiretos de avaliação, desde que (art. 89.°-A, n.° 1 da LGT):
➢ Falte a declaração de rendimentos ou
➢ Existindo declaração, se verifique uma desproporção do rendimento declarado superior a 30%, para menos, em relação
ao rendimento padrão referido na tabela.

✓ V. ainda art. 89º-A n.º 3 (o SP deve fazer a prova dos rendimentos declarados) e n.º 6 e 10
(decisão da avaliação indireta cabe ao Diretor de Finanças da área do domicílio do SP, devendo
essa decisão ser comunicada ao MP) da LGT.

57
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
❖ Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente, para menos, de
determinados padrões de rendimento (cont.)
✓ A situação prevista no art. 87.º n.º 1 al. f) da LGT (acréscimo de património ou despesa efetuada,
incluindo liberalidades, de valor superior a EUR 100.000, verificados simultaneamente com a falta
de declaração de rendimentos ou com a existência, no mesmo período de tributação, de uma
divergência não justificada com os rendimentos declarados) apresenta muitas semelhanças com a
situação acabada de descrever

❖ Os sujeitos passivos apresentarem, sem motivo justificativo, resultados tributáveis nulos ou


prejuízos fiscais durante vários exercícios consecutivos
✓ Art. 87º, n.º 1, al. e) da LGT – situação patológica
✓ Nesta situação, os sujeitos passivos apresentam, sem razão justificada, resultados tributáveis nulos ou
prejuízos fiscais durante 3 anos consecutivos ou em 3 anos, mesmo que alternados, durante um
período de 5
✓ Atenção ao exercício de início de atividade (e exercícios imediatamente subsequentes)
58
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
O SP pode participar no ato
de avaliação indireta,
exercendo o seu direito de
audição [arts. 60.º, n.º 1, al.
d) e 82.°, n.° 3 da LGT] Graciosamente, através do
Como é feito o controlo da pedido de revisão da matéria
aplicação dos métodos tributável fixada por métodos
indiretos? indiretos, previsto nos arts.
82º, n.º 4 e 91.° e ss da LGT
O procedimento de avaliação
indireta pode ser impugnado
pelo SP: Contenciosamente, sendo
necessário que o acto seja
horizontal e verticalmente
definitivo (v. arts. 86.°, n.° 5 e
91.° e ss., ambos da LGT, e
art. 117.° do CPPT)

59
PROCEDIMENTOS TRIBUTÁRIOS EM ESPECIAL
Procedimentos Pré-Liquidatórios Procedimentos Impugnatórios
✓ Procedimentos de natureza informativa ✓ Procedimento de revisão da matéria
coletável
✓ Procedimento de reconhecimento de BF
✓ Procedimento de revisão dos atos
✓ Procedimento de ilisão de presunções tributários
✓ Procedimentos de avaliação ✓ Procedimento de reclamação graciosa
✓ Procedimento de recurso hierárquico
Procedimentos Liquidatórios ✓ Procedimento de correcção dos erros da
✓ Procedimento de liquidação AT

✓ Procedimento de cobrança
Procedimentos Cautelares
60
PROCEDIMENTOS LIQUIDATÓRIOS
Procedimento de liquidação

Do ponto Liquidação provisória: efetuada com base nos elementos declarados pelo SP,
encontrando-se sujeita a um controlo posterior (ex., pagamento por conta ou
de vista retenção na fonte com a natureza de pagamento por conta)
temporal, a
liquidação Liquidação definitiva: ato da AT de natureza definitiva, unilateral e positiva e
pode ser: que é um pressuposto do procedimento de cobrança

Liquidação adicional: surge na sequência de uma revisão do acto tributário de


liquidação definitiva (cfr. art. 78º da LGT). A liquidação adicional encontra-se
prevista, por ex., no art. 89.° do CIRS e no art. 99.° do CIRC

61
PROCEDIMENTOS LIQUIDATÓRIOS
Procedimento de liquidação (cont.)
Note-se ainda que:
❖ Em regra, o procedimento de liquidação instaura-se com a apresentação das declarações dos
contribuintes ou com base nos elementos que disponha ou venha a dispor(art. 59º, n.º 1 CPPT).
❖ Se os contribuintes não apresentarem declarações, ou estas estiverem viciadas, o procedimento de
liquidação é instaurado pela AT (art. 59º, n.º 7 CPPT).

62
PROCEDIMENTOS LIQUIDATÓRIOS
Procedimento de cobrança

Cobrança: Pagamento:
✓ Voluntária: ato voluntário e espontâneo ✓ Integral
do SP (v. art. 85º e 86º do CPPT) ✓ Em prestações (art. 42.°, n.° 1 e 2 da LGT e
art. 86º, n.º 2 do CPPT)
✓ Coerciva: efetuada através da execução ✓ Dação em pagamento (arts. 87.° e 201.° do
do património do devedor, mediante a CPPT)
instauração de um processo de execução ✓ Compensação de créditos tributários (arts.
fiscal (art. 78.º do CPPT) 89.° e 90.° do CPPT)

63
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão da matéria colectável

• Objectivo: Questionar o acto de fixação da matéria colectável com o recurso


a métodos indirectos e estabelecer um acordo quanto ao valor da matéria
tributável para efeitos de liquidação (art. 91.° da LGT)

• V. art. 91º, n.º 1 e 2 da LGT

• Não pode ser utilizado nas seguintes situações:


✓ Regime simplificado de tributação (art. 91, n.º1 LGT)
✓ Avaliação da matéria colectável baseada em manifestações de fortuna (art. 89.°-A
n.º 7 da LGT)
✓ Correcções aritméticas resultantes de imposição legal, ou questões de Direito
alheias aos pressupostos de determinação indirecta da matéria tributável
(art.91,n.º14 LGT)

64
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão da matéria colectável (cont.)

• Quando os fundamentos do pedido de revisão sejam os seguintes (art.


117º, n.º 1 do CPPT):

✓ Errónea quantificação da matéria colectável

✓ Não verificação dos pressupostos de determinação indirecta da matéria colectável

O pedido de revisão é necessário para efeitos de impugnação judicial

65
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão da matéria colectável (cont.)

• Tramitação do procedimento de revisão

✓ Designação dos peritos que representam o SP e a AT, seguida do


agendamento de uma reunião entre os peritos – art. 91º, n.º 1, 3 e 4 LGT

✓ Realização da reunião (debate contraditório) e tomada de decisão – art.


92º, n.º 1 da LGT

➢ Se houver acordo, o tributo será liquidado com base na matéria colectável


acordada (art. 92.°, n.° 3, da LGT)

➢ Caso não haja acordo, o órgão competente decidirá tendo em conta as


posições dos peritos (92º, n.º 6 da LGT)
Se houver um perito independente, a decisão deverá obrigatoriamente
fundamentar a adesão ou rejeição do seu parecer (art. 92.°, n.° 7, da LGT)
Caso a AT rejeite o parecer do perito independente (e este parecer seja
conforme ao do perito do contribuinte), a reclamação graciosa ou impugnação
judicial que venham a ser apresentadas terão efeito suspensivo
independentemente da prestação de garantia, nos termos previstos no art.
66
92.°, n.º 8 LGT
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão dos actos tributários

• Este procedimento diz respeito às situações em que o acto tributário vai ser
reapreciado pelo próprio órgão que o praticou (art. 78º, n.º 1 da LGT)

• A revisão de acto tributário pode ser feita oficiosamente (por impulso da


própria Administração tributária) ou a pedido do sujeito passivo (art. 78º, n.º
1, 4 e 6 da LGT)

67
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão dos actos tributários (cont.)

Fundamento Prazo Previsão Legal

Revisão a
Art. 78, 1 LGT (e
pedido do Ilegalidade 120 dias art. 70 CPPT)
SP

Erro imputável à AT (tributo já


4 anos Art. 78º, 1 da LGT
pago)

Erro imputável à AT (tributo não


Revisão Todo o Tempo Art. 78º, 1 da LGT
pago)
Oficiosa
Injustiça grave ou notória (desde
que não se deva a comportamento negligente 3 anos Art. 78º, 4 da LGT
do contribuinte)

Duplicação da colecta 4 anos Art. 78º, 6 da LGT


68
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de revisão dos actos tributários (cont.)

• O indeferimento do pedido de revisão conduz, em regra, a uma liquidação


adicional (ex.: art. 89.° do CIRS e art. 99.° do CIRC), sendo susceptível de
impugnação judicial.

• O deferimento do pedido de revisão configura-se como um verdadeiro


instrumento impugnatório para os contribuintes (v. art. 93.° do CIRS e arts.
61º e 62º do CIRC).

✓ Com o deferimento do pedido de revisão, o acto tributário poderá ser


anulado (com eficácia ex tunc, com a restituição do tributo já pago),
revogado (com eficácia ex nunc), reformado (expurga-se a parte viciada)
ou convertido (substituído por outro).

✓ Com o deferimento do pedido de revisão, poderão ser devidos juros


indemnizatórios nas hipóteses previstas no art. 43º, n.º 3, al. b) e c) da
LGT
69
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa

• Previsto nos artigos 68º e ss do CPPT

• Objectivo: anulação total ou parcial dos actos tributários com fundamento


na ilegalidade dos mesmos

• Este procedimento não tem, em princípio, efeito suspensivo da liquidação


que se está a reclamar (cfr. art. 69.°, al. f), do CPPT), salvo se for prestada
garantia adequada (art. 199º do CPPT)

• A instauração da reclamação faz interromper o prazo de prescrição da


obrigação tributária (art. 49.°, n.° 1, da LGT)

70
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

• Regras respeitantes à apresentação do pedido de reclamação graciosa – v.


art. 68º, n.º 1, art. 70º, n.º 6 e 7, art. 73.°, n.° 1, e art. 75º do CPPT

• Fundamentos da reclamação: arts. 70º e 99º do CPPT


✓ Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros, valores patrimoniais
e outros factos tributários [art. 99.°, alínea a) do CPPT]

✓ A incompetência [art. 99.°, alínea b) do CPPT]

✓ A ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida [art. 99.°, al. c) do


CPPT]

✓ A preterição de outras formalidades legais [art. 99.°, alínea d) do CPPT]

✓ E, como se trata de uma enumeração não exaustiva, acrescem como fundamentos,


designadamente a duplicação da colecta e a inexistência do facto tributário.

71
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

•Tempestividade
✓O prazo para a interposição da reclamação graciosa é de 120 dias a contar do termo do
prazo para pagamento voluntário (art. 70.°, n.° 1, e art. 102.°, n.° 1, al. a), ambos do CPPT,
salvo prazos especiais fixados em alguma outra norma (ex: art. 131.°, n.º 1, art. 132.°, n.º 3 e
art. 133.°, n.° 2, todos do CPPT)

✓A interposição da reclamação graciosa interrompe o prazo para a interposição da


impugnação judicial, uma vez que é possível usar este meio processual após o indeferimento
da primeira

•Tramitação do procedimento
✓A reclamação é apresentada no órgão periférico local, que procederá à instrução do
procedimento (art. 73.°, n.° 2, do CPPT), em prazo não superior a 90 dias, com os elementos
de prova documental [art. 69.°, al. e) do CPPT]

72
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

• Tramitação do procedimento (cont.)

✓ Competência para decidir:


➢ Se o valor da causa não exceder a alçada do TT de 1.ª instância e a questão a
resolver seja de manifesta simplicidade, o órgão periférico local decidirá de
imediato após o fim da instrução (art. 73.°, n.° 4, do CPPT)

➢ Nos restantes casos, o órgão periférico local elabora uma proposta


fundamentada de decisão (art. 73.°, n.° 2 do CPPT) e remete a reclamação para
o dirigente do órgão periférico regional (art. 73.°, n.° 5 do CPPT), que é a
entidade competente para a decisão nos termos do art. 75.°, n.° 1 do CPPT

✓ Se a decisão for desfavorável, o sujeito é notificado do projecto de


decisão para exercer o seu direito de audição, oralmente ou por escrito
[art. 60, 1, al. b) LGT], num prazo de 15 dias ou 25 dias em função da
complexidade da matéria (id., n.° 6)
73
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

74
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

75
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

•Impugnação da decisão

✓Prazos para impugnar judicialmente:

➢3 meses, nos casos de indeferimento expresso da reclamação graciosa


(art. 102.°, n.° 1, al. e) do CPPT)

➢3 meses nos casos de indeferimento tácito da reclamação graciosa (art.


102.°, n.º1, d) do CPPT)

➢2 anos nos casos de reclamação graciosa prévia necessária:


oImpugnação por erro na retenção na fonte (art. 132.°, n.º 3, do CPPT)
> 30 dias nos casos de reclamação graciosa prévia necessária:
oImpugnação por erro nos pagamentos por conta (art. 133.°, n.os 2 e 3, do CPPT). 76
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

• Impugnação da decisão (cont.)

✓ No caso de indeferimento da reclamação graciosa, o interessado pode


ainda recorrer hierarquicamente, no prazo de 30 dias (art. 66.º do
CPPT).

O indeferimento do recurso hierárquico pode ser objecto de recurso contencioso,


salvo se de tal decisão já tiver sido deduzida impugnação judicial com o mesmo
objecto (art. 76.°, n.os 1 e 2, do CPPT)

• No caso de indeferimento expresso do recurso hierárquico, pode ser deduzida uma


impugnação judicial no prazo de 3 meses a contar da notificação (art. 102.°, n.º 1, al. e),
do CPPT)

• No caso de indeferimento tácito, pode ser deduzida uma impugnação judicial no prazo de
3 meses a contar do momento em que o recurso se considera tacitamente indeferido (art. 77
102.°, n.º 1, d), do CPPT)
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de reclamação graciosa (cont.)

• As reclamações graciosas necessárias

Antes de recorrer à via judicial, o sujeito passivo deve primeiro esgotar a via
administrativa nos seguintes casos (arts. 131º a 133º do CPPT):

✓ Autoliquidação

✓ Retenções na fonte

✓ Pagamentos por conta

78
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de recurso hierárquico

• O recurso hierárquico deve ser dirigido ao mais elevado superior hierárquico


do autor do acto de que se recorre (arts. 66º, n.º 2 do CPPT e 80º da LGT)
(embora deva ser entregue junto do órgão recorrido)

• O recurso hierárquico deve ser interposto no prazo de 30 dias a contar da


notificação do acto de que se recorre (art. 66º, n.º 2 do CPPT)

• Tal como acontece com a reclamação graciosa, a interposição do recurso


hierárquico faz interromper o prazo de prescrição das obrigações tributárias
(art. 49.°, n.° 1, da LGT)

• Natureza do recurso hierárquico:


✓ Necessário quando seja indispensável para atingir a via contenciosa;
✓ Facultativo quando não seja indispensável para atingir a via contenciosa, podendo
o SP recorrer a tribunal mesmo que não recorra hierarquicamente.
79
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de recurso hierárquico (cont.)

• Efeitos do recurso hierárquico:


✓ O recurso terá efeito meramente devolutivo se a sua interposição não impede o
acto recorrido de continuar a produzir os seus efeitos
✓ O recurso terá efeito suspensivo se a sua interposição impede, até à decisão, que
o acto recorrido produza efeitos

• O facto de os recursos hierárquicos terem natureza meramente facultativa e


efeito devolutivo (art. 67.°, n.° 1, do CPPT), evita o recurso imediato a
tribunal e dá ao superior hierárquico a possibilidade de revogar o acto do
inferior hierárquico.

80
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos impugnatórios

Procedimento de recurso hierárquico (cont.)

• As decisões sujeitas a recurso hierárquico são:


✓ Todas aquelas que estão previstas na lei, como os casos de reclamação graciosa
indeferida (art. 76, n.º 1 do CPPT) e de não reconhecimento de benefícios fiscais
(art. 65, n.º4 CPPT)
✓ Aquelas em que a lei não prevê qualquer outra possibilidade de controlo
administrativo, como acontece com as correcções meramente aritméticas da
matéria tributável (art. 91, n.° 14 LGT)

• Quanto à decisão, se houver um deferimento do recurso, o acto recorrido,


em princípio, será revogado, mas se o recurso for indeferido, o acto
recorrido mantém-se, abrindo-se a via contenciosa.

81
Os procedimentos tributários em especial
Procedimentos cautelares

• Objectivo: salvaguardar a posição da AT e garantir os créditos tributários,


naquelas situações em que existe um fundado receio de frustração da sua
cobrança ou destruição ou extravio de documentos ou outros elementos
necessários ao apuramento da situação tributária

• Os procedimentos cautelares são, por regra, urgentes

• Os procedimentos cautelares (art. 51.°, n.º 3 da LGT) que podem ser


adoptados pela AT são:
✓ Apreensão de bens, direitos ou documentos
✓ Retenção de prestações tributárias a que o contribuinte tenha direito

Em ambos os casos deve ser respeitado o princípio da proporcionalidade (n.° 2 do


art. 51º da LGT) e a decisão administrativa é susceptível de controlo jurisdicional,
mediante impugnação com fundamento em qualquer ilegalidade (art. 144.º do
CPPT)
82

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