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UC - FISCALIDADE II | 61053

RESOLUÇÃO

PARTE 1

Questão I

1. Uma vez que a tributação visa satisfazer as necessidades


financeiras do Estado e de outras entidades públicas e promover a
justiça social, bem como a internacionalização e a competitividade da
economia portuguesa, poder-se-á dizer que através do sistema fiscal
se pretende obter recursos financeiros. E, assim, sendo:

a) Os tributos só podem ser pagos no prazo de pagamento


voluntário.
b) O não pagamento dos tributos no prazo de pagamento voluntário
sujeita o sujeito passivo ao pagamento de juros indemnizatórios.
c) Se o sujeito passivo não puder efetuar de forma integral e de uma
só vez o pagamento da dívida tributária, pode requerer, nos termos
das leis tributárias, o seu pagamento em prestações.
d) A falta de pagamento do tributo no prazo de pagamento voluntário
não implica para o sujeito passivo qualquer acréscimo legal, desde
que fundamente em razões reais e objetivas a falta de pagamento.

Resposta certa C).

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Fundamentação: O pagamento é uma forma de extinção da relação
jurídica tributária. A cobrança das dívidas tributárias pode ocorrer sob
a modalidade do pagamento voluntário ou da cobrança coerciva
(artigo 78.º do CPPT). De acordo com o n.º 1 do artigo 42.º da LGT
"[o] devedor que não possa cumprir integralmente e de uma só vez a
dívida tributária pode requerer o pagamento em prestações, nos
termos que a lei fixar". Existem situações em que o pagamento em
prestações pode ser antes da execução fiscal, mas, na maioria dos
casos, o pagamento em prestações é realizado ao abrigo do artigo
196.º do CPPT, o qual carece de prestação de garantia (artigo 42.º da
LGT, artigos 169.º e 199.º do CPPT), ou de dispensa de garantia (n.º
4 do artigo 52.º da LGT), para que o contribuinte possa obter a
suspensão da execução fiscal e a situação tributária regularizada
(alínea b), do n.º 1, do artigo 177.º-A do CPPT). O pagamento em
prestações, nos termos já referidos, suspende o processo de
execução fiscal (alínea a) do n.º 4 do artigo 49.º da LGT).

Questão 2

2. Considerando que o princípio da participação está consagrado na


LGT e que representa a concretização de normas constitucionais,
poder-se-á mesmo dizer que o princípio da participação é um
imperativo constitucional. Assim sendo, se um sujeito passivo não
apresentar a sua declaração de rendimentos como deve a Autoridade
Tributária e Aduaneira proceder:

a) Fazer a liquidação oficiosa de imposto e proceder validamente à


notificação do sujeito passivo.

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b) Notificar o contribuinte para o convidar a apresentar a declaração
de rendimentos em falta, não lhe fixando qualquer prazo.

c) Notificar o contribuinte para apresentar a declaração fiscal,


fixando-se na notificado um prazo concreto e, se contribuinte não
apresentar a declaração de rendimentos em tal prazo, realizar a
liquidação oficiosa sem prévia notificação do contribuinte para
efeitos de exercício do direto de audição.

d) Não dar início a qualquer procedimento tributário.

Resposta certa C).

Fundamentação: O princípio da participação é uma garantia


constitucionalmente consagrada no n.º 5 do artigo 267.º da CRP.
Este princípio constitucional tem concretização e desenvolvimento no
ordenamento tributário no artigo 60.º da LGT e artigo 45.º do CPPT.

Só há lugar a liquidação oficiosa quando o contribuinte não proceder


à apresentação da declaração fiscal a que está obrigado nos termos
da lei.

Há que ter em consideração o normativo do n.º 7 do artigo 59.º do


CPPT que dispõe que "[s]empre que a entidade competente tome
conhecimento de factos tributários não declarados pelo sujeito
passivo e do suporte probatório necessário, o procedimento de
liquidação é instaurado oficiosamente pelos competentes serviços”.
Todavia, importa não olvidar que os códigos de tributação,
nomeadamente o CIRS, o CIRC e o CIVA, têm normas específicas
sobre a realização da liquidação oficiosa. Há, ainda, que sublinhar a

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norma da alínea b) do n.º 2 do artigo 60.º da LGT que estabelece que
"[n]o caso de a liquidação se efetuar oficiosamente, com base em
valores objetivos previstos na lei, desde que o contribuinte tenha sido
notificado para apresentação da declaração em falta, sem que o
tenha feito". Daqui resulta que caso o contribuinte, na sequência da
notificação feita pela AT, não apresente a declaração fiscal em falta,
será realizada a liquidação oficiosa e, neste caso, a AT está
dispensada de notificar o contribuinte para efeitos de exercício de
direito de audição.

PARTE II

Questão 1

1. Tendo por base as figuras jurídicas da caducidade do direito à


liquidação dos tributos e da prescrição das dívidas tributárias,
proceda à análise e explanei sobre as questões seguintes:

1.1 Atentos os requisitos legais daqueles dois institutos jurídicos


tributários, diga se existe alguma coincidência entre o termo inicial
(início do prazo) da caducidade e da prescrição?

1.2 Diga se para ambos os institutos (prazos de caducidade e de


prescrição) existem causas de suspensão? Qual a sua finalidade ou
efeito?

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1.3 O prazo de prescrição das dívidas tributárias tem início após o
sujeito passivo ser validamente notificado do ato de liquidação ou
tem início noutro momento?

RESPOSTAS:

1.1 – Sim, existe coincidência quanto ao início do prazo. O facto que


determina o início do prazo de caducidade e o início do prazo de
prescrição é o facto tributário - n.º 4 do artigo 45.º e n.º 1 do artigo
48.º da LGT. Importa verificar que os momentos para termo inicial
destes prazos são absolutamente coincidentes, até no tocante à
exceção que nelas está prevista.

1.2 Sim, existem causas de suspensão para ambos os prazos. As


causas de suspensão do prazo de caducidade estão previstas nos n.ºs
1 e 2 do artigo 46.º da LGT. As causas de suspensão do prazo de
prescrição estão previstas nos n.ºs 4 e 5 do artigo 49.º da LGT.

1.3 Não. A prescrição, isto é, o prazo de prescrição tem início com a


data de ocorrência do facto tributário (n.º 1 do art.º 48.º da LGT). A
notificação da liquidação é sempre posterior à ocorrência do facto
tributário. Importa não olvidar que, nos termos do n.º 1 do artigo
36.º da LGT, [a] relação jurídica tributária constitui-se com o facto
tributário. Importa, porém, ter em consideração que o prazo de
prescrição se interrompe com as causas previstas no n.º 1 do artigo
49.º da LGT e se suspende com as causas previstas nos n.ºs 4 e 5 do
artigo 49.º da LGT. Para que possamos compreender no que consiste
a interrupção temos de ter em consideração o artigo 326.º do Código
Civil. O procedimento de liquidação, em regra, é instaurado com base
na declaração apresentada pelo contribuinte – n.º 1 do art.º 59.º do
CPPT.

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Questão 2

2. Em relação ao procedimento tributário, a que se refere o artigo


54.º da LGT e o artigo 44.º do CPPT, descreva sobre os aspetos
seguintes:

2.1 Defina em que consiste o procedimento tributário. E diga se o


mesmo é sempre da iniciativa da Administração Tributária.

2.2 Que prazo a lei estabelece para a conclusão do procedimento


tributário? A partir de que momento se conta o início do
procedimento?

2.3 A Administração Tributária tem sempre dever de decisão ou pode


agir por omissão? Como pode o contribuinte reagir contra a falta de
decisão ou contra a conclusão do procedimento tributário no prazo
legal?

RESPOSTAS:

2.1 - O procedimento tributário consiste em toda a sucessão de atos


dirigida à declaração de direitos tributários (n.º 1 do art.º 54.º da
LGT e art.º 44.º do CPPT). Dito de outro modo, o procedimento
tributário consiste na sucessão de atos e diligências tendentes à
formação da vontade da AT, da sua manifestação (n.º 6 do art.º 77.º
da LGT) e subsequente execução (art.ºs 100.º e 102.º da LGT). Nos
termos do n.º 1 do art.º 69.º da LGT, o procedimento tributário
inicia-se nos prazos e com os fundamentos previstos na lei, por

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iniciativa dos interessados ou da Administração Tributária. Poder-se-á
dizer que, em regra, o procedimento tributário se inicia por impulso
da AT, mas existem procedimentos que, atenta a sua finalidade, a
sua iniciativa pertence aos contribuintes, como por exemplo, a
reclamação graciosa, o recurso hierárquico, o pedido de
reconhecimento de benefícios fiscais, o pedido de revisão do ato
tributário ou o pedido de revisão da matéria tributável.

2.2 - Para conclusão do procedimento tributário a lei (n.º 1 do art.º


57.º da LGT) estabelece o prazo de quatro meses, a contar da
entrada da petição do contribuinte no serviço competente da
Administração Tributária (n.º 5 do art.º 57.º da LGT). Há que
sublinhar que o artigo 44.º do CPPT, à semelhança do artigo 54.º da
LGT, enuncia as diversas formas que o procedimento tributário pode
assumir. Contudo, a lei pode fixar outro prazo para a conclusão do
procedimento tributário (6 meses) – procedimento de inspeção
tributária (n.º 1 do art.º 36.º do RCPITA) ou procedimento
contraditório próprio (art.º 64.º do CPPT).

2.3 - Há que ter em consideração que a AT, nos termos do artigo


56.º da LGT, está obrigada a pronunciar-se sobre todos os assuntos
da sua competência que lhe sejam apresentados por meio de
reclamações, recursos, representações, exposições, queixas ou
quaisquer outros meios previstos na lei pelos sujeitos passivos ou
quem tiver interesse legítimo. Quando o procedimento tributário não
estiver concluído no prazo de quatro meses, a contar da entrada da
petição do contribuinte no serviço competente da Administração
Tributária, o contribuinte pode presumir que a sua pretensão foi
indeferida (indeferimento tácito), e, nesta conformidade, para defesa
dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos pode lançar

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mão ao recurso hierárquico, impugnação judicial ou recurso
contencioso (ação administrativa). Há ainda que referir que, nos
termos do n.º 2 do artigo 9.º da LGT, "[t]odos os atos em matéria
tributária que lesem direitos ou interesses legalmente protegidos são
impugnáveis ou recorríveis nos termos da lei".
No âmbito do direito à informação o contribuinte também pode
questionar a AT sobre a fase em que se encontra o seu procedimento
e do tempo previsível para a sua conclusão (al. a) do n.º 1 do art.º
67.º da LGT).

Bom trabalho!

Jesuíno Alcântara Martins

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