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DIREITO FISCAL II

Aula teórica/prática 28/09/22


Continuação dos princípios que regem o exercício da AT.
Das diversas regras e princípios que visam garantir os contribuintes do exercício sem critério da
autoridade tributaria, tais como o princípio da igualdade na relação da AT e dos contribuintes, uma
igualdade no sentido da aplicação da norma, princípio da justiça material, princípio da imparcialidade, que
estabelecem limites ao exercício da AT e uma função de garantia ao contribuinte.
E agora vamos analisar o Princípio da boa-fé: decorre do art. 59º LGT o que pretende a lei é estabelecer um
clima de confiança entre a AT e o contribuinte: 1º na conclusão de que as declarações que o contribuinte
apresenta á AT são as que refletem a sua situação tributaria real; 2º aguarda-se que a AT tenha também uma
atitude de boa-fé, prestando-lhe as informações que sejam adequadas a que o contribuinte possa cumprir as
obrigações do sistema fiscal.
Qual é a consequência pratica do 59º, nº2: p.ex. A procura um serviço de finanças questionando da
necessidade de apresentar determinada declaração para efeitos de IRS, e dum funcionário diz que não é
necessário um anexo e assim mesmo eu não apresento, e posteriormente recebo uma contra ordenação por não
ter apresentado, e eu não tenho maneira de provar porque foi verbalmente, mas se eu conseguir provar que eu
não entreguei aquele anexo de boa fé, mas sim porque a informação foi mal passada, e nessa medida,
presumindo-se de boa fé, A pode invocar essa circunstância para reagir contra uma decisão da AT da qual
resulta uma coima, sendo que essa tem uma natureza sancionatória, e neste caso o contribuinte não cumpriu
porque lhe foi dada uma informação errada, isto porque o 59º, nº2 diz expressamente que se presume que a
AT está de boa fé quando presta esta informação, e por isso não pode aplicar uma coima quando o
contribuinte considerou essa mesma informação certa, porque existe uma relação de confiança entre o
contribuinte e a AT, e por isso o contribuinte não tem de desconfiar que essa informação não fosse verdadeira.
266º, nº2 CRP dá enfase a esta ideia de boa-fé que deve existir entre a AT e o contribuinte.
 Artigo 266.º
(Princípios fundamentais)

1. A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.
2. Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à Constituição e à lei e devem actuar, no exercício
das suas funções, com respeito pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da
imparcialidade e da boa-fé.

Princípio da decisão e da celeridade


Este é uma novidade que a LGT veio a introduzir, e resulta da regra do art. 56º da LGT, porque antes não
havia nenhuma regra que a AT se pronunciar-se sobre os pedidos do contribuinte, e havia uma espécie de
silencio o que colocava em causa a confiança o exercício da AT e os direitos garantisticos dos contribuintes, e
justamente por isto veio o art. 56º a definir a seguinte regra:
  Artigo 56.º
Princípio da decisão

1 - A administração tributária está obrigada a pronunciar-se sobre todos os assuntos da sua competência que
lhe sejam apresentados por meio de reclamações, recursos, representações, exposições, queixas ou quaisquer
outros meios previstos na lei pelos sujeitos passivos ou quem tiver interesse legítimo.
2 - Não existe dever de decisão quando:
a) A administração tributária se tiver pronunciado há menos de dois anos sobre pedido do mesmo autor com
idênticos objecto e fundamentos;

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b) Tiver sido ultrapassado o prazo legal de revisão do acto tributário.

A AT não pode ignorar um pedido ou uma reclamação que lhe seja dirigida, independentemente da forma
como o pedido é dirigido. A AT não pode refugiar-se numa potencial infração de regras de ordem formal,
tem que responder na mesma, porquê? Porque a relação que se estabelece entre o Estado e o contribuinte, não
exige determinada formulação, porque exigiria que previamente se pedisse ajuda a um advogado para efetuar
esse pedido, e a lei quis tornar fluida a relação entre a AT e o contribuinte, por isso mesmo que este não tenha
formação, conhecimento ou técnica de redação, desde que seja apresentado ao balcão da AT (pode ser virtual,
não precisa de ser necessariamente ao físico), esta tem que responder. Isto porque antes invocavam estas
razoes de ordem formal para não responder.
Qual é a consequência pratica da violação deste princípio? P.ex. A apresenta um requerimento á AT, pedindo
que se certifique que A tem domicílio em Portugal porque tinha alterado a sua morada no CC, e a AT não
responde, ou seja, tem consequências como:
1º. A vai ao tribunal apresentar um pedido de intimação porque a AT violou o princípio da decisão, e
este vai intimar a AT para que tome determinada decisão, se mesmo assim não o fizer, incorre num
crime de desobediência; Mas não chega dizer que a AT tem que se pronunciar, tem que o fazer em
tempo útil:
2º. Este princípio não vive isoladamente – art. 57º a AT tem que responder em determinados prazos:
quando esta em causa o procedimento tributário este deve estar concluído no prazo de 4 meses (nº1)
por consequência do princípio da celeridade, e cumpre este princípio se cumprir este prazo; Os atos do
procedimento tributário devem ser praticados no prazo de oito dias; Estes prazos contam-se nos
termos do art. 279º CC, e o não cumprimento do prazo tem uma consequência – 57º,nº5: formação do
indeferimento tácito, p.ex. A apresenta apresente uma reclamação graciosa dia 28/09, a AT tem que
apreciar o pedido de reclamação, o prazo é de 4 meses, por isso a 28/01/23 a reclamação tem que estar
decidida, se não tiver dentro do prazo uma decisão o que acontece é que se presume tacitamente
indeferida, e assim o contribuinte não tem que aguardar indefinidamente pela pronuncia da AT e
assim pode recorrer para o tribunal administrativo e fiscal do indeferimento da reclamação, ou seja,
pode recorrer com base no indeferimento tácito. Isto para que o contribuinte não fique amarrado ao
silencio da AT.
Ou seja, são princípios que se interligam entre si e têm uma finalidade comum, mas têm consequências
diferentes, como vimos anteriormente.
Ainda no P. da celeridade e na obrigação de tomada de decisões, criou-se uma espécie de período de
suspensão dos prazos em agosto por motivos de ferias sem terem a preocupação de terem de cumprir obrações
de ordem fiscal, de forma que o art. 57º A veio a expressar isto:

  Artigo 57.º-A
Diferimento e suspensão extraordinários de prazos
1 - Sem prejuízo das regras gerais e especiais de caducidade e prescrição, as obrigações tributárias cujo prazo termine no decurso do
mês de agosto podem ser cumpridas até ao último dia desse mês, independentemente de ser útil, sem quaisquer acréscimos ou
penalidades.
2 - Os prazos do procedimento tributário relativos aos atos praticados pelos contribuintes nos procedimentos constantes das alíneas
a), c), d), e), f) e g) do n.º 1 e do n.º 2 do artigo 54.º, bem como os relativos ao exercício do direito de audição ou de defesa em
quaisquer procedimentos, ao exercício do direito à redução de coimas, ao pagamento antecipado de coimas, ou aos esclarecimentos
solicitados pela administração tributária, que terminem no decurso do mês de agosto são transferidos para o primeiro dia útil do mês
seguinte.
3 - São suspensos os prazos relativos ao procedimento de inspeção tributária durante o mês de agosto, para efeitos do artigo 36.º do
Regime Complementar do Procedimento de Inspeção Tributária e Aduaneira.

Daqui retiramos 2 regras:


2
1. Se houver uma obrigação cujo prazo termine no mês de agosto ela é transferida imediatamente para o
último dia desse mês
2. Os prazos do procedimento tributário relativo a atos dos contribuintes em certos procedimentos, bem
como o direito de audição que termine durante o mês de agosto, são transferidos para o primeiro dia
útil do mês seguinte.

NOTA: Não podemos confundir o calendário judicial com uma regra do calendário administrativo/tributário.
Princípio do inquisitório
A AT deve realizar todas as diligencias necessárias á satisfação do interesse publico e á descoberta da
verdade material, não estando subordinada á iniciativa do autor do pedido.
Art. 58º LGT
Art. 6º RCPIT – é uma norma que coincide com este principio, também aqui está vigente
Princípio da verdade material
“O procedimento de inspecção visa a descoberta da verdade material, devendo a administração
tributária adoptar oficiosamente as iniciativas adequadas a esse objectivo.”
Quem é o investigador? A AT, tem autoridade para inspecionar os contribuintes, devendo praticar todos os
atos materiais necessários á descoberta da verdade e no final se entender que aquele contribuinte declarou
determinado facto que não e verdadeiro, corrige, se não, arquiva o processo (situação regular), o que deve é
durante todo o processo praticar todos os atos necessários, para verificar se o contribuinte cometeu ou não
uma infração.
Artigo 72.º
Meios de prova

O órgão instrutor pode utilizar para o conhecimento dos factos necessários à decisão do procedimento todos
os meios de prova admitidos em direito.

Ou seja, pode utilizar todos os meios de prova admitidos em direito.


Exemplo: A AT inspeciona o contribuinte que esta na área da restauração, e a AT recebeu uma denuncia
anonima que naquele restaurante o dono não registava todas as refeições, e inspeciona o contribuinte e verifica
se o valor que constava em cada registo de caixa era coincidente com as compras que o contribuinte tinha
efetuado, e concluiu que aquele contribuinte omitia rendimentos a contabilidade, no âmbito da investigação a
AT deveria pedir os extratos da conta bancaria da sociedade bem como a dos sócios e gerentes, e a AT não fez
isto porque tinha o receio de que coincidissem e por isso havia uma diligencia que a AT deveria de ter feito e
não fez houve aqui uma violação do principio do inquisitório e portanto o resultado do procedimento é um
resultado ilegal, pois essa diligencia se relevava relevante e decisiva da descoberta da verdade material.
Princípio da colaboração
Colaboração do contribuinte para com a AT: 59º, nº4 “A colaboração dos contribuintes com a
administração tributária compreende o cumprimento das obrigações acessórias previstas na lei e a prestação
dos esclarecimentos que esta lhes solicitar sobre a sua situação tributária, bem como sobre as relações
económicas que mantenham com terceiros.” – prazo para prescrever é o prazo para guardar documentos 4
anos (particulares) e da empresa 10 anos. Ao abrigo do dever de colaboração estou obrigado a prestar as
informações á AT, quer seja para efeito de terceiros com quem mantive certa relação ou eu própria.
Qual é a consequência desde dever? A AT aplica uma coima pelo não cumprimento do dever de
colaboração (diploma Regime jurídico das infrações tributarias), gera responsabilidade
contraordenacional.

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Este dever de colaboração do contribuinte é um dever ilimitado? Não, porque pode não se
lembrar, porque o dever de colaboração exige as informações desde que seja dentro do limite do
razoável – isto é um 1º limite.
2º limite – p.ex. advogados elaboraram um CP CV de um imóvel, e a AT desconfia que o valor da
escritura é diferente do valor real, enviam uma notificação aos advogados para estes apresentarem o
CP – são obrigados a entregar? Não, porque há informação sujeita a sigilo profissional, e assim
podemos recusar essa colaboração.
Colaboração da AT com o contribuinte: esta desmultiplica-se num conjunto de obrigações que estão
previstas no art. 59º, nº2 (só vamos falar dos mais importantes):
Se tenho duvidas sobre o cumprimento de certas informações, tenho o direito de pedir á AT; obrigações
vinculativas – são obrigações feitas por escrito que vinculam a AT; se eu quiser ter acesso ao meu processo
estando a ser fiscalizado a AT tem que me fornecer; um funcionário da AT tem que se identificar; tem que ser
comunicado previamente que vai ser iniciada a ação inspetiva; e deve ser notificado ao contribuinte que ele
pode aproveitar do regime da redução de coima; orientações genéricas: são as chamada jurisprudência que
permitem ao contribuinte desmaterializar a lei e como é que esta deve ser aplicada, todavia estas orientações
não são vinculativas nem para o contribuinte nem para a AT.

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