Você está na página 1de 6

AO JUÍZO DA ...

VARA DO TRABALHO DE TAGUATINGA/DF

LETÍCIA, brasileira, solteira, atendente de loja, portadora do CPF n°


xxx, sob RG n° xxx, residente e domiciliada em xx,

CEP xx, por intermédio do NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA – NPJ/UCB, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 840,
§1°, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e artigo 319 do Código de
Processo Civil – CPC, propor

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
(Rito Ordinário)

Em desfavor de xxx, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n° xxx,


com sede na xxx, CEP xxx, pelos motivos que passa a expor:
DA JUSTIÇA GRATUITA

A parte autora não possui condições de arcar com os custos


financeiros do processo e os honorários advocatícios, estando atualmente com
insuficiência de recursos, de modo que, para os devidos fins legais, quanto às
despesas que a presente demanda possa causar, declarando, portanto, ser
pessoa hipossuficiente. Diante disso, pede a concessão dos benefícios da
gratuidade judiciária, nos moldes preconizados pelo artigo 790, §4°, da CLT.

I – DOS FATOS

Narra-se a Reclamante que foi admitida pela Reclamada em


05/11/2020 para exercer a função de atendente de loja, laborando em horário
diurno das 8h às 17h, com 1h de almoço, de segunda a sábado, aos domingos
por escala, com uma folga por semana.
Contudo, a Reclamante, que exerce suas atividades laborais para a Reclamada
há mais de 2 (dois) anos, relatou que, após o período de experiência, passou a
exercer funções diversas da qual foi contratada, atuando nas demais
atribuições da loja, inclusive como operadora de caixa. Em virtude das
atividades alheias à serviço da Reclamada, especialmente, a movimentação
repetitiva e a sobrecarga dos membros superiores, a Reclamante foi acometida
por uma doença ocupacional, que se desenvolveu nos ombros, denominada de
tendinopatia do supraespinhal. Tal lesão constatou a impossibilidade de fazer
qualquer tipo de esforço, inclusive, exercer suas funções na empresa, com
risco de ter um agravamento em seu quadro clínico.
Relatou que, em uma das crises de dor, procurou emergência médica,
momento em que foram realizados consultas e exames que constataram a
lesão. Além disso, a assistência médica indicou a necessidade da fisioterapia,
porém, não possui condições financeiras de arcar com o tratamento.

Ressalta-se que a lesão ocorreu durante o labor da Reclamante, uma


vez que, não há nos laudos provas de que as patologias que acometem a
Reclamante sejam preexistentes ou degenerativas, não restando uma
alternativa a não ser o ajuizamento da presente ação.
II – DO DIREITO

II.I – DO DESVIO DE FUNÇÕES

Conforme supramencionado, a Reclamante foi contratada para a


função de atendente de loja, situação em que, poderia auxiliar nas demais
funções condizentes a de atendente. Contudo, relatou que as funções
exercidas não são relacionadas com a do cargo ocupado e que, inclusive, fazia
todo tipo de trabalho que a empresa necessitasse. Ademais, não recebeu
promoção e nem valor referente para exercer tais funções. Salientando que a
parte percebe remuneração de R$ xxxx das atividades laborais que exerce.

De acordo com o que dispõe o artigo 468 da CLT:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é


lícita a alteração das respectivas condições por mútuo
consentimento, e ainda assim desde que não resultem,
direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob
pena de nulidade da cláusula infringente desta
garantia.

Desse modo, resta claro a responsabilidade da Reclamada, visto que,


não houve consentimento da Reclamante acerca da alteração do contrato
referente as diversas funções a serem exercidas.

Ademais, a diferença salarial é um direito da parte autora, visto que,


não percebe salário da forma prevista em CCT. Desse modo, nos moldes do
artigo 29, da CLT:

Art. 29. O empregador terá o prazo de 5


(cinco) dias úteis para anotar na CTPS, em relação aos
trabalhadores que admitir, a data de admissão, a
remuneração e as condições especiais, se houver,
facultada a adoção de sistema manual, mecânico ou
eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo
Ministério da Economia. 
Isto é, há a presença cristalina de elementos seguros ao deferimento
da retificação da CTPS referente a diferença salarial devido ao desvio de
funções exercidas pela Reclamante.

II.II – DA DOENÇA OCUPACIONAL

II.III – DA CULPA

No presente caso tem-se a declinar que a Reclamada não cumpriu com


suas obrigações básicas ao oferecer ambiente adequado para o labor, não
dispondo medidas necessárias para a prevenção de acidentes/doenças de
seus empregados. Outrossim, se omitiu ao deixar de prestar a devida
assistência à Reclamante, sendo que, era, ao tempo, possível fazê-la.

O entendimento dos Tribunais superiores no que concerne à culpa da


empresa, é pacífico. Vejamos:

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. DOENÇA


OCUPACIONAL. CONCAUSA. CULPA PRESUMIDA DA
EMPREGADORA. DOENÇA OCUPACIONAL. Segundo o
quadro fático delineado na decisão regional, a perícia
constatou o nexo de causalidade entre as atividades
exercidas e a moléstia adquirida. Verifica-se também que o
exercício da função desempenhada pelo reclamante
contribuiu para o agravamento da doença profissional e
considerando que o empregador tem o controle sobre toda a
estrutura, direção e dinâmica do estabelecimento empresarial,
tem-se por aplicável a culpa presumida. Entender de forma
contrária demandaria o revolvimento de fatos e provas, o que
encontra óbice na Súmula 126 desta Corte. Não prospera o
agravo da parte, dadas as questões jurídicas solucionadas na
decisão agravada. Em verdade a parte só demonstra o seu
descontentamento com o que foi decidido. Não merece
reparos a decisão. Agravo não provido. 1

Portanto, a atitude omissiva da Reclamada se adequa ao Julgado


mencionado, pois, deixou de se posicionar quanto ao dano quando tinha

1
(TST - Ag: XXXXX20075150095, Relator: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 19/05/2021, 2ª Turma,
Data de Publicação: 21/05/2021)
obrigação de fazê-lo. Não bastasse isso, a indiferença da Reclamante quanto
ao bem-estar da Reclamante foi o que deu causa a moléstia da parte, na qual a
impossibilitou de se manter em suas funções, de ser admitida em outras
empresas e, inclusive, de realizar atividades domésticas e de lazer.

Ora, se a empresa não dispõe condições mínimas de trabalho para


seus empregados, tem-se o reconhecimento da culpa presumida da
Reclamada ante a omissão das cautelas necessárias para a prevenção de
doenças laborais por parte de seus empregados, contrariando os dispositivos
legais que dispõe acerca do ambiente laboral. In casu, a cumulação da má
condição de trabalho com a sobrecarga excessiva das funções exercidas,
contribuiu para a patologia que acomete a Reclamante.

II.IV – DA INDENIZAÇÃO

É sabido que situação da Reclamante demonstra o dever da


Reclamada em indenizá-la pela referida lesão. Nos exames e laudos acostados
aos autos, evidencia que a lesão é resultado da omissão da empresa em não
prevenir tais sofrimentos contra a integridade física da Reclamante. A patologia
que acomete a Reclamante trouxe prejuízo não apenas à sua atividade laboral,
como também para sua vida pessoal, a restringindo de exercer qualquer
atividade básica do cotidiano. Tal sofrimento se estende as atividades laborais
que a Reclamada irá realizar no futuro, uma vez que, pela lesão, não poderá
exercer a mesma função que exerce atualmente.

Assim, resta demonstrado a culpa e a obrigação da Reclamada em


arcar com as custas da indenização.

III – DOS PEDIDOS

Por todo exposto, requer:

a) concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, pois a parte autora


não possui condições de arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios, sem prejuízo de seu sustento próprio e familiar, em caso
de sucumbência;
b) a citação da Reclamada, na pessoa de seu representante legal, para, se
julgar conveniente, apresentar defesa, sob pena de revelia e confissão
ficta dos fatos narrados na inicial, inclusive com a realização de
diligência em horário especial;
c) a procedência do pedido, de maneira a condenar a Reclamada a:
c.1) arcar com as diferenças salariais, em virtude do desvio de função
exercido pela Reclamante, além da retificação da CTPS;
c.2) indenizar a Reclamante ao pagamento de 20 salários-mínimos;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos por direito,
em especial a prova documental e testemunhal, ademais declara-se a
autenticidade dos documentos acostados na presente petição.

Dá-se a causa o valor de R$ XXXXXX

Termos em que,
P. deferimento.

Brasília, 28 de março de 2023.

__________________
Advogado(a) – NPJ/UCB
OAB n° XXXXX/XX

Você também pode gostar