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PODER JUDICIÁRIO

PROCESSO nº 0100072-02.2020.5.01.0079 (RORSum)

RECORRENTE: CASA DE SAUDE SANTA THEREZINHA S A

RECORRIDO: ANTONIO JORGE CAETANO DA SILVA

RELATOR: LEONARDO DIAS BORGES

EMENTA

PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO - PPP.


RETIFICAÇÃO. Provado nos autos que o PPP emitido pela
reclamada não traz informações corretas dos agentes nocivos à
saúde, aos quais estava submetido o reclamante durante o labor,
impõe-se a retificação do PPP pela reclamada.

RELATÓRIO

Vistos estes autos de Recurso Ordinário em que figuram, como


recorrente, CASA DE SAÚDE SANTA THEREZINHA S.A., e como recorrido, ANTÔNIO JORGE
CAETANO DA SILVA.

Recurso Ordinário interposto pela reclamada, inconformada com a r.


Sentença de ID 05abd8f, proferida pelo Exmo. Juiz Alexandre Armando Couce de Menezes, do
Juízo da 79ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente a pretensão.

A reclamada, mediante as razões de ID 15b085b, requer a


modificação da sentença em relação a: retificação do PPP e honorários advocatícios.

Sem contrarrazões do reclamante.

Os autos não foram remetidos à Procuradoria do Trabalho, por não


ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993 e Ofício PRT/1ª Região nº
88/2017).

Éo relatório.

FUNDAMENTAÇÃO
DO RECURSO DA RECLAMADA
1. Da retificação do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP)
O reclamante informou na inicial que foi admitido pela reclamada em
02/01/2010, para exercer a função de técnico de manutenção, tendo sido dispensado sem justa
causa em 13/06/2013, quando percebia remuneração de R$ 1.242,52, conforme TRCT de ID
fd1e578.

Alegou que percebia adicional de insalubridade no percentual de


30%.

Narrou que, em 23/05/2019, como pretendia requerer a sua


aposentadoria, procurou a reclamada a fim de obter o formulário PPP - Perfil Profissiográfico
Previdenciário, do qual constassem os períodos de exposição a fatores de risco, informação
indispensável para a contagem diferenciada do tempo de contribuição para o INSS; no entanto, o
documento fornecido pela ré não trouxe as informações necessárias para a concessão do
benefício, resultando em indeferimento do pedido; o fato causou dano, uma vez que não foi
possível acrescer, para o cálculo de sua aposentadoria, o tempo trabalhado em condições
especiais; após o acontecido, ainda procurou a reclamada para que a mesma emitisse novo PPP,
mas não foi atendido.

Requereu a condenação da reclamada a fornecer o documento PPP,


contendo todas as especificações quanto à atividade insalubre exercida durante o período de
vigência do contrato de trabalho.

Em contestação, a reclamada arguiu a prejudicial de prescrição


bienal, pugnando pela improcedência da pretensão autoral.

Destacou que os documentos colacionados pelo reclamante indicam


que este não faz jus à aposentadoria especial ou por tempo de contribuição proporcional, tendo
em vista que o seu histórico laboral não preenche os requisitos necessários para a concessão.

Aduziu que, durante o tempo em que o reclamante laborou em


condições perigosas/insalubres, recebeu o valor correspondente em seu contracheque, na forma
do ACT.

Pontuou ter fornecido adequadamente ao obreiro o seu PPP - Perfil


Profissiográfico Previdenciário, tendo sido este emitido com informações condizentes com a
realidade das condições de trabalho do reclamante.

Salientou que o laudo técnico, que dispõe sobre a avaliação da


exposição a agentes insalubres e perigosos nos ambientes de trabalho, estando fundamentado
nos dados colhidos em campo e, sobretudo, em conformidade com os princípios da higiene
ocupacional e obedecendo os critérios definidos na legislação específica do Ministério do
Trabalho, foi devidamente chancelado por profissional habilitado no órgão público responsável.

Ressaltou que sempre tomou os cuidados necessários para preservar


a saúde dos empregados, notadamente no que diz respeito ao uso obrigatório da proteção
individual.

O Juízo de origem se pronunciou nos seguintes termos:


"PRESCRIÇÃO. ENTREGA/ RETIFICAÇÃO DE PPP

Como se infere da petição inicial, o reclamante ajuizou a presente


demanda postulando tão somente a condenação da reclamada a entregar as guias PPP
corretamente preenchidas, com a informação de que laborou submetido a agente insalubre, para
efeitos de aquisição da aposentadoria especial.

A CLT, em seu art. 11, § 1º, dispõe que:

Art. 11 - O direito de ação quanto a créditos resultantes das relações


de trabalho prescreve:

(...) § 1º O disposto neste artigo não se aplica às ações que tenham


por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência Social.

A teor do disposto na legislação trabalhista, portanto, as ações


declaratórias de relação de emprego, destinadas à prova junto ao órgão da Previdência Social,
não se sujeitam à prescrição.

A prescrição prevista no art. 7º, XXIX, da CF/88 diz respeito às ações


de natureza condenatória, não se aplicando às ações de natureza declaratória, como no caso dos
autos, as quais são imprescritíveis.

Frise-se que, em sintonia com a jurisprudência do C. TST, a


imprescritibilidade a que se refere o § 1º, art. 11, da CLT, não se restringe às ações meramente
declaratórias, mas abarca as ações que tenham por objeto anotações ou registros destinados à
prova junto a órgão da Previdência Social.

Nesse sentido, são os arestos do C. TST:

"RECURSO DE REVISTA. ANOTAÇÃO DA CTPS. ART. 11, § 1.º,


DA CLT. PRESCRIÇÃO. PEDIDO DE ENTREGA DE PERFIL PROFISSIOGRÁFICO
PREVIDENCIÁRIO-PPP. A ação declaratória é imprescritível, conforme cediço e sedimentado na
doutrina e jurisprudência, uma vez que sua finalidade é definir a existência ou não de relação
jurídica, sem produzir efeitos constitutivos. Ademais, a imprescritibilidade a que se refere o § 1.º
do art. 11 da CLT não se circunscreve às ações meramente declaratórias, mas abrange qualquer
modalidade de ação que tenha como finalidade a certificação de situações fáticas necessárias à
comprovação de algum direito junto à Previdência Social. Recurso de Revista conhecido e
provido. (RR - 1283- 43.2010.5.01.0038 , Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data de
Julgamento: 06/02/2013, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/02/2013)".

Da análise dos comprovantes de pagamento juntados, verifica-se que


o autor recebia adicional de insalubridade, Id. fd1e578. Portanto, incontroverso que o autor
mantinha contato com agente insalubre.

Cabe à ré fornecer o perfil profissiográfico abrangendo todas as


atividades exercidas pelo autor, indicando o contato com agentes nocivos ou prejudiciais à saúde
ou à integridade física do trabalhador. Estando sujeito à insalubridade, tal informação deve
constar do documento respectivo.

O fato de que, eventualmente, o autor não faça jus à aposentadoria


especial, não autoriza a ré a negar o fato e excluí-lo das informações a serem prestadas ao órgão
previdenciário, único responsável pela análise e concessão do benefício, desde que preenchidos
os requisitos legais.

Portanto, determino que a ré proceda à retificação do PPP para


constar que o autor estava sujeito à insalubridade por contato a agente insalubre, observados os
períodos em que o adicional foi pago sob tal fundamento. A ré deverá fornecer os citados
documentos ao autor no prazo de 30 dias do trânsito em julgado, sob pena de multa diária a ser
arbitrada pelo juízo e reversível em favor do empregado, nos termos da lei."

Inconformada, recorre a reclamada, sustentando que realizou a


correta emissão do PPP do obreiro, não havendo nenhum erro a ser retificado.

Destaca que o referido documento foi expedido com informações


condizentes com a realidade das condições de trabalho do reclamante ao longo do pacto laboral.

Assevera que, embora o recorrido recebesse adicional de


insalubridade, não foi exposto a nenhuma agente nocivo durante o período de trabalho que
justifique a aposentadoria especial.

Reitera que inexiste irregularidade no preenchimento do PPP, uma


vez que este encontra-se em conformidade com todas as Instruções Normativas do INSS, não
havendo que se falar em fornecimento de novo documento.

Ao exame.

O documento denominado Perfil Profissional Profissiográfico - PPP é


emitido pelo empregador para comprovar, diante da Previdência Social, o trabalho insalubre ou
perigoso, segundo as regras do INSS.

A IN INSS/PRES nº 45/2010 dispõe que:

"Art. 271. O PPP constitui-se em um documento histórico-laboral do


trabalhador que reúne, entre outras informações, dados administrativos, registros ambientais e
resultados de monitoração biológica, durante todo o período em que este exerceu suas atividades
e tem como finalidade:

I - comprovar as condições para habilitação de benefícios e serviços


previdenciários, em especial, o benefício de auxílio-doença;

II - prover o trabalhador de meios de prova produzidos pelo


empregador perante a Previdência Social, a outros órgãos públicos e aos sindicatos, de forma a
garantir todo direito decorrente da relação de trabalho, seja ele individual, ou difuso e coletivo;

III - prover a empresa de meios de prova produzidos em tempo real,


de modo a organizar e a individualizar as informações contidas em seus diversos setores ao
longo dos anos, possibilitando que a empresa evite ações judiciais indevidas relativas a seus
trabalhadores; e

IV - possibilitar aos administradores públicos e privados acessos a


bases de informações fidedignas, como fonte primária de informação estatística, para
desenvolvimento de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como definição de políticas em
saúde coletiva.

(...)

Art. 272. A partir de 1º de janeiro de 2004, conforme estabelecido


pela Instrução Normativa nº 99, de 2003, a empresa ou equiparada à empresa deverá preencher
o formulário PPP, conforme Anexo XV, de forma individualizada para seus empregados,
trabalhadores avulsos e cooperados, que laborem expostos a agentes nocivos químicos, físicos,
biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados
para fins de concessão de aposentadoria especial, ainda que não presentes os requisitos para a
concessão desse benefício, seja pela eficácia dos equipamentos de proteção, coletivos ou
individuais, seja por não se caracterizar a permanência.

§1º O PPP substitui o formulário para comprovação da efetiva


exposição dos segurados aos agentes nocivos para fins de requerimento da aposentadoria
especial, a partir de 1º de janeiro de 2004, conforme inciso IV do art. 256.

§2º Quando o PPP contemplar períodos laborados até 31 de


dezembro de 2003, serão dispensados os demais documentos referidos no art. 256.

§3º Quando o enquadramento dos períodos laborados for devido


apenas por categoria profissional, na forma do Anexo II do RBPS, aprovado pelo Decreto nº
83.080, de 1979 e a partir do código 2.0.0 do quadro anexo ao Decreto nº 53.831, de 1964, e não
se optando pela apresentação dos formulários previstos para reconhecimento de períodos
laborados em condições especiais vigentes à época, o PPP deverá ser emitido, preenchendo-se
todos os campos pertinentes, excetuados os referentes à exposição a agentes nocivos.

(...)"

No caso em tela, restou incontroverso que o reclamante recebia


adicional de insalubridade. Assim, não resta dúvida de que o obreiro, em seu ambiente de
trabalho, tinha contato com agente insalubre.

Desse modo, tem-se que o PPP - Perfil Profissiográfico


Previdenciário do autor, emitido pela reclamada, deveria conter as informações relativas à tal
condição, ou seja, a exposição do trabalhador a agentes nocivos à saúde deveria constar do
documento, o que não ocorreu na hipótese.

De fato.

Analisando o PPP de ID 7f0b025 verifica-se que na parte "II- SEÇÃO


DE REGISTROS AMBIENTAIS" - "EXPOSIÇÃO A FATORES DE RISCOS", nos itens "15.2 Tipo",
"15.3 Fator de Risco", "15.4 Itens/Conc" e "15.5 Técnica Utilizada", a reclamada fez constar que
tais questionamentos não se aplicariam (N/A) ao período de prestação de serviços do obreiro em
seu favor. Além disso, tendo a opção de responder S/N (sim ou não), indicou que as seguintes
medidas foram adotadas: 1) "Foi tentada a implementação de medidas de proteção coletiva, de
caráter administrativo ou de organização do trabalho, optando-se pelo EPI por inviabilidade
técnica, insuficiência ou interinidade, ou ainda em caráter complementar ou emergencial."; 2)
"Foram observadas as condições de funcionamento e do uso ininterrupto do EPI ao logo do
tempo, conforme especificação técnica do fabricante, ajustada às condições de campo."; 3) "Foi
observado o prazo de validade, conforme Certificado de Aprovação CA do MTE." e; 4- "Foi
observada a higienização.".

Importante ressaltar que o correto preenchimento do PPP é dever da


empregadora, devendo esta fazer constar ali todas as informações relativas às condições laborais
do obreiro; não afastando esta obrigação o fato de o trabalhador, eventualmente, não ter direito à
concessão da aposentadoria especial, até porque a análise do deferimento do benefício cabe
unicamente à autarquia previdenciária.

Ante o exposto, correta a decisão de origem que determinou que a ré


procedesse à retificação do PPP para fazer constar que o reclamante laborava em contato com
agente insalubre, observados o período em que o adicional foi pago sob tal fundamento.

Nada a modificar.

Nego provimento.

2. Dos honorários advocatícios

O Juízo de origem condenou a reclamada ao pagamento de


honorários advocatícios, nos seguintes termos:

"DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Uma vez que a ação trabalhista foi distribuída a partir da vigência da


Lei n. 13.467/17, a fase postulatória já era regida pela nova legislação, tornando plenamente
aplicável a sistemática dos honorários advocatícios, inclusive o critério de sucumbência recíproca,
previsto no art. 791- A, 3º, CLT.

Assim, considerando os critérios previstos no art. 791-A, 2º, CLT,


arbitro os honorários advocatícios em 10% sobre o valor de liquidação da sentença (honorários
advocatícios da parte Reclamante).

Apenas para evitar ulterior alegação de omissão, registro que, em


momento processual próprio, em execução, será analisada a aplicação do art. 791-A, §4º, CLT."

Em suas razões recursais, a reclamada requer que, sendo modificada


a sentença, seja excluída a sua condenação ao pagamento de honorários advocatícios e
condenada a parte autora ao pagamento de tal verba.

Passo a analisar.
O artigo 791-A da CLT prevê o pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais, nos seguintes termos:

"Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão


devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo
de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. (Incluído
pela Lei nº 13.467, de 2017)"

Caberá ao magistrado fixar os honorários advocatícios levando em


conta os critérios estabelecidos no § 2º, do art. 791-A, da CLT, in verbis:

"Ao fixar os honorários, o juízo observará:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu


serviço."

Na hipótese, tendo sido mantida integralmente a sentença, não


havendo sucumbência da parte autora, é indevida sua condenação ao pagamento de honorários
advocatícios, assim como a exclusão da condenação da reclamada ao pagamento de tal verba.

Assim, irretocável a decisão de origem.

Nego provimento.

Pelo exposto, conheço do Recurso Ordinário interposto pela


reclamada, e, no mérito, nego-lhe provimento.

Relatados e discutidos,

ACORDAM os Desembargadores Federais que compõem a 10ª


Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do Recurso
Ordinário interposto pela reclamada, e, no mérito, negar-lhe provimento.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2021

LEONARDO DIAS BORGES


Relator

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