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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DO TRABALHO DA ____ VARA DO


TRABALHO DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE PORTO ALEGRE

2306 7728 0717 6917-4

ALESSANDRA LEAL DOS SANTOS, brasileira,


solteira, Conferente, CPF 818.540.050/49,
RG/RS 7085857907, CTPS 007358019, série 001-
0/RS, PIS 13147186775, residente e
domiciliada na Av. Marechal Floriano, n°
525, casa, CEP 94853-400, Alvorada/RS, vem,
por seus procuradores signatários
(procuração, Docs. 1), ajuizar

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO

em face de TTS COMÉRCIO DE CONFECCÇÕES


LTDA., CNPJ 07.702.370/001-10, estabelecida
na Rua dos Andradas, n° 1752, Bairro Centro,
CEP 90020-012, Porto Alegre/RS, pelos fatos
e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

A autora, no início de agosto de 2011, com a


finalidade de laborar em um horário diurno, realizou o
protocolo de seu currículo junto à empresa ré, a fim de
obter a vaga de estoquista. Após alguns dias entraram em
contato para que a requerente fosse realizar uma entrevista
e posteriormente exames médicos.
Após entrevista foi solicitado que a autora
realizasse uma consulta com o médico do trabalho da empresa
ré, a qual determinou que a autora fosse encaminhada ao
Ortopedista para possível realização de Fisioterapia.

Contudo, merece ser ressaltado que a carteira de


trabalho da autora já estava em poder da reclamada, sendo
que inclusive já havia sido determinado a abertura de conta
em nome da autora, conforme documentos que requer a
juntada. Inclusive já estava estabelecido que o horário
seria o diurno, com salário pretendido de R$ 668,00, vale
alimentação no valor de R$ 268,00, vale transporte e plano
de saúde.

Merece ressaltar que a responsável pelo setor de


recursos humanos determinou que a autora pedisse demissão,
o que de fato ocorreu, conforme termo de rescisão do
contrato de trabalho.

No entanto, em que pese realizados todos os


procedimentos atinentes à contratação, inclusive com a
carteira de trabalho da autora em poder da reclamada, a
autora recebeu a notícia de que não seria contratada, sob a
alegação de que não tinha condições físicas, embora tenha
realizado todos os exames necessários para verificar se
estava acometida de alguma doença e todos deram negativo,
isto é, a autora estava apta para TODA e QUALQUER função.
Nesse sentido, evidencia-se a flagrante violação a uma
expectativa de contratação por parte da autora que, não
obstante realizados todos os procedimentos para sua
admissão, foi flagrantemente prejudicada neste sentido.

Desta forma, para a autora não restou outra


alternativa senão buscar o Poder Judiciário para que seja
indenizada pelo ilícito praticado pela ré, qual seja, a
quebra da confiança decorrente da realização de todos os
procedimentos para sua admissão como empregada, ocasionando
a responsabilidade pré-contratual.

II – DO DIREITO APLICÁVEL

2.1 Do amparo jurídico da pretensão da autora

De acordo com os fatos acima narrados, constata-se


claramente que se trata de ato ilícito configurado pelo
Código Civil. Este Diploma, em seu art. 186, prescreve que
“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Por sua vez, o artigo 927 do mesmo Diploma Civil


estabelece que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Com base nos argumentos expostos quanto à matéria


fática, e adequando-os à previsão legislativa, trata-se
claramente de ato ilícito provocado pela empresa, o que
gerou flagrante dano à autora, notadamente moral. Isto
porque, como mencionado anteriormente, a autora depositou
toda a sua confiança na futura relação de emprego que viria
a se concretizar, principalmente com a retenção de sua CTPS
e abertura de conta em seu nome para a percepção do
salário. Com efeito, neste caso a dispensa posterior quebra
a boa-fé na relação pré-contratual, em virtude da promessa
de emprego que subsistia.

Outro aspecto importante, além das previsões


normativas que amparam a pretensão da autora, é o estrito
cumprimento dos pressupostos que geram a responsabilidade
civil neste caso.

Neste aspecto, elenca-se a conduta humana, o nexo da


causalidade e o dano sofrido.
No que tange à conduta humana, trata-se, em linhas
gerais, da ação ou omissão praticada. No caso, diz respeito
à ação que gerou a quebra da expectativa de contratação,
qual seja, não obstante retida sua CTPS e determinada a
abertura da conta, a autora foi dispensada pela
empregadora.

Quanto ao nexo causal, o mesmo está presente,


porquanto o fato ocorrido foi responsável pelo dano moral
causado à autora. Assim, mostra-se existente o liame entre
o ato lesivo e o dano causado à requerente.

Por fim, o dano também resta configurado, na medida


em que houve o efetivo prejuízo psíquico à autora,
amplamente demonstrável. Nesse sentido, a demandante fora
profundamente prejudicada, pois necessitava do trabalho, o
qual lhe foi negado, causando-lhe falsa expectativa da
relação de emprego.

Para tanto, tanto legalmente quanto no que concerne


aos pressupostos da responsabilidade civil, é presente o
dever de indenizar no caso em comento.

No caso em tela, em razão do ato cometido, tal fato


gerou profundo dano moral à demandante, visto que
surpreendentemente se viu impossibilitada de trabalhar,
comprometendo ainda seu sustento e de sua família. Nesse
sentido, é notório que o dano ocorrido lhe causou profunda
dor íntima, pois a autora dependia da realização deste
trabalho para exercer suas atividades de prover seu
sustento.

Cabe salientar nesse sentido que a jurisprudência já


se manifestou em casos semelhantes, a favor da concessão de
indenização por dano moral decorrente de quebra de promessa
de emprego:
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PROMESSA DE
EMPREGO. Caso em que a reclamada submeteu o
reclamante ao processo de seleção, realizou
exames médicos, reteve sua CTPS e o convidou
para participar do evento de integração, atos
que indicam o ânimo de contratar o trabalhador.
Desse modo, a promessa de emprego, ainda que no
processo seletivo, fere o princípio da boa-fé,
impondo-se a condenação da reclamada ao
pagamento de indenização por danos morais.
Recurso provido. (RO 0000318-59.2010.5.04.0401,
9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª
Região, Rel. Marçal Henri Figueiredo, julgado
em 18 de novembro de 2010)

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.


RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL. A instituição
de critérios e de fases atinentes a processo
seletivo de candidato a emprego, está inserida
no poder de gestão do empreendedor. Caso dos
autos em que o conjunto probatório indica,
todavia, ter a reclamada adotado conduta
imprudente, conferindo à reclamante a certeza
da sua contratação, inclusive com retenção de
sua CTPS por vários meses, a qual, uma vez
frustrada por responsabilidade exclusiva da
empresa, resultou em inegáveis prejuízos de
ordem moral à trabalhadora. Sentença mantida.
(RO 0112100-78.2009.5.04.0022, 8ª Turma do
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região,
Rel. Wilson Carvalho Dias, julgado em 18 de
novembro de 2010)

RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. Viola
o princípio da boa-fé a negativa de contratar
trabalhador após dar causa a certeza da
contratação. Frustração que, no caso, autoriza
indenização por danos morais e materiais,
diante dos prejuízos de ambas as ordens
sofridos. Recurso da reclamada desprovido. (RO
0117100-41.2008.5.04.0007, 8ª Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região, Rel. Denis
Marcelo de Lima Molarinho, julgado em 2 de
dezembro de 2010)

PROMESSA DE CONTRATAÇÃO FRUSTRADA. FASE


PRÉ-CONTRATUAL. DANO MORAL. Tendo havido
entrevista, exame admissional, abertura de
conta para recebimento de salário e entrega da
documentação, há a formação de um pré-contrato,
fase em que também as partes devem respeitar o
princípio da boa-fé objetiva consagrado no art.
422 do Código Civil. A promessa de contratação
frustrada por parte da reclamada caracteriza a
afronta à boa-fé, gerando a obrigação de
indenizar o empregado pela falsa expectativa
criada. Recurso da reclamada a que se nega
provimento. (RO 0000305-60.2010.5.04.0304, 4ª
Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª
Região, Rel. Hugo Carlos Scheuermann, julgado
em 28 de outubro de 2010)

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. FASE PRÉ-


CONTRATUAL. Comprovado que a reclamante foi
chamada e compareceu para realizar treinamento
e entregar a documentação necessária para
assinatura do contrato, o qual não se
perfectibilizou, sob alegação não comprovada de
cancelamento da promoção, resta configurado o
dano moral passível de indenização. Aplica-se o
artigo 427 do CC, segundo o qual "a proposta de
contrato obriga o proponente, se o contrário
não resultar dos termos dela, da natureza do
negócio, ou das circunstâncias do caso", e, em
especial, o princípio da boa-fé objetiva, nos
termos do artigo 422 do CC, o qual impõe aos
contratantes um padrão de conduta ético,
orientado pelos valores da probidade,
honestidade e lealdade. (RO 0000538-
60.2010.5.04.0012, 4ª Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região, Rel. Fabiano
de Castilhos Bertolucci, julgado em 13 de
setembro de 2011)

Com efeito, presente o dano moral, em razão do ato


ilícito ocasionado, o que impediu a autora de exercer sua
atividade laborativa, em virtude da quebra da promessa de
emprego.

Com relação ao quantum devido, tendo em vista o


prejuízo sofrido, acredita a autora que o valor de
R$12.000,00 (doze mil reais) seja adequado ao caso em tela,
considerando o abalo psíquico sofrido, decorrente da
impossibilidade de prover seu sustento e de sua família.
III – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A autora, pela sua condição financeira, é carente no


seu sentido sócio-econômico.

Tal situação pessoal da autora atesta que a mesma


não possui capacidade sócio-econômica para custear as
despesas do processo sem prejuízo de seu sustento e de sua
família.

Tendo em vista tal situação, a lei assegura à parte a


possibilidade da concessão da assistência judiciária
gratuita, o que desde já se postula, conforme declaração de
carência sócio-econômica em anexo. Gize-se que para a
concessão do benefício em tela, é suficiente a simples
declaração do postulante sobre a impossibilidade de arcar
com as custas processuais e os honorários advocatícios sem
prejuízo de seu próprio sustento, a teor do disposto no
art. 4º da Lei nº 1.060/50.

IV – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O recebimento da petição inicial, com os


documentos que a instruem;

b) A citação do requerido, para responder aos termos


desta ação, sob pena de revelia;

c) A procedência do pedido, para o fim de:

c.1) Condenar a ré ao pagamento do valor de R$


12.000,00 (doze mil reais) a título de dano moral, em razão
dos fundamentos expostos na inicial, acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês, a contar do ajuizamento da reclamatória
trabalhista (art. 39, § 1.º, da Lei n.º 8.177/1991 e art.
883 da CLT), bem a incidência de correção monetária
corrigidos pelo IGP-M a partir da decisão condenatória que
constituir em mora o devedor1;

d) A produção de todas as provas em direito


admitidas, em especial documental e testemunhal;

f) A condenação da parte adversa ao pagamento das


custas, despesas processuais e honorários advocatícios,
estes não inferiores ao percentual de 20%;

g) A concessão do benefício da gratuidade judiciária,


nos termos da lei 1.060/50, conforme documentação em anexo.

Termos em que pede e espera total deferimento.

Valor da causa: R$ 12.000,00 (doze mil reais).

Gustavo José Correia Vieira Fernanda Cardoso


OAB/RS 76.094 OAB/RS 78.243

1
E-ED-RR-9951600-20.2005.5.09.0004, Relatora Ministra Maria de Assis
Calsing, SBDI-1, DEJT 23/4/2010; TST-RR-1524500-22.2005.5.09.0029,
Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3.ª Turma, DEJT
5/2/2010; TST-RR-30100-04.2008.5.09.0091, Rel. Min. Emmanoel Pereira,
5.ª Turma, DEJT 5/2/2010; TST-RR-28700- 37.2007.5.12.0048, Rel. Min.
Aloysio Corrêa da Veiga, 6.ª Turma, DEJT 13/11/2009.

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