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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO


ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA – FORO REGIONAL DA TRISTEZA

ELISA PEREIRA PAULO, brasileira,


solteira, doméstica, portadora do RG nº
8040217492, e do CPF nº 498.875.130/91,
residente e domiciliada na Rua São Leopoldo,
nº 167, apto. 01, Bairro Vila Jardim, CEP
91330-690, na cidade de Porto Alegre/RS,
vem, por seus procuradores
signatários(procuração e substabelecimento
em anexo, Docs. 1 e 2), ajuizar

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO

em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL,


Pessoa Jurídica de Direito Público, inscrita
no CNPJ nº 87.958.641/0001-31, com sede
situada na Av. Borges de Medeiros, nº 1501,
3º andar, CEP 90119-900, na cidade de Porto
Alegre/RS, pelos fatos e fundamentos
jurídicos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

No dia 17/04/2010, a autora dirigiu-se ao Instituto


Psiquiátrico Forense para visitar seu filho, que está
internado neste instituto para realização de perícia,
conforme atestado fornecido pela instituição (Doc. 3).

1
Neste dia, a autora não conseguiu visitar seu filho,
sendo que permaneceu do lado de fora do portão de entrada,
a fim de obter informações sobre o procedimento de visitas.

Repentinamente, enquanto a autora conversava com o


guarda a fim de obter informações sobre a visita, uma
funcionária do instituto acionou o portão de entrada
automático para abrí-lo e, neste ato, o portão bateu
fortemente no braço da demandante, vindo a causar-lhe
fratura.

No momento do ocorrido, o guarda lhe prestou auxílio,


levando a autora ao Hospital de Pronto Socorro de
ambulância, consoante demonstra o boletim de atendimento do
Hospital (Doc. 4).

Com efeito, em razão da conduta negligente da


funcionária, causou-se uma fratura no pulso da requerente,
precisamente no osso do rádio, fazendo com que a autora,
que trabalha como doméstica, ficasse impedida de exercer
suas atividades laborativas habituais por três meses, além
de necessitar de remédio (Ibuprofeno, um anti-
inflamatório).

II – DO DIREITO APLICÁVEL

2.1 Do amparo jurídico da pretensão da autora

De acordo com os fatos acima narrados, constata-se


claramente que se trata de ato ilícito configurado pelo
Código Civil. Este Diploma, em seu art. 186, prescreve que
“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

2
Por sua vez, o artigo 927 do mesmo Diploma Civil
estabelece que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Com base nos argumentos expostos quanto à matéria


fática, e adequando-os à previsão legislativa, trata-se
claramente de ato ilícito provocado pela Instituição citada
(no caso, o IPF), o que gerou flagrante dano à autora,
notadamente físico.

Nesse sentido, guarda ainda amparo constitucional a


pretensão da requerente, em razão da especial previsão do
art. 37, § 6º da Constituição da República, quando prevê a
responsabilidade civil do Estado:

“as pessoas jurídicas de direito público e


as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa”. (grifo
nosso)

Com efeito, mostra-se adequado o manejamento da ação


de indenização contra o Estado do Rio Grande do Sul, eis
que este responde pelos atos cometidos pelo Instituto
Psiquiátrico Forense, bem como pela conduta praticada pelos
seus funcionários desta instituição.

Outro aspecto importante, além das previsões


normativas que amparam a pretensão da autora, é o estrito
cumprimento dos pressupostos que geram a responsabilidade
civil neste caso.

Neste aspecto, elenca-se a conduta humana, o nexo da


causalidade e o dano sofrido.

3
No que tange à conduta humana, trata-se, em linhas
gerais, da ação ou omissão praticada. No caso, diz respeito
à ação que gerou a fratura da autora, qual seja, o
acionamento do portão de entrada do IPF sem as devidas
precauções.

Quanto ao nexo causal, o mesmo está presente,


porquanto o fato ocorrido foi responsável pela fratura e os
danos causados à autora. Assim, mostra-se existente o liame
entre o ato lesivo e o dano causado à requerente.

Por fim, o dano também resta configurado, na medida


em que houve o efetivo prejuízo físico e psíquico à autora,
amplamente demonstrável.

Para tanto, tanto legalmente quanto no que concerne


aos pressupostos da responsabilidade civil, é presente o
dever de indenizar no caso em comento.

2.2 Do dano moral

No caso em tela, em razão do ato cometido que gerou


fratura grave na autora, tal fato gerou profundo dano moral
à mesma, visto que se viu impossibilitada de trabalhar,
comprometendo ainda seu sustento e de sua família. Nesse
sentido, é notório que o dano ocorrido lhe causou profunda
dor íntima, pois a autora dependia de sua condição física
plena para exercer suas atividades de prover seu sustento.

Assim, o dano causou à requerente atingiu a


integridade físico-corporal, o que comprometeu de
sobremaneira seu sustento, gerando, por conseguinte, o dano
moral.

4
Nesse sentido, a jurisprudência já se manifestou em
casos semelhantes:

APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MUNICÍPIO DE
FREDERICO WESTPHALEN. VÍTIMA ATINGIDA POR
OBJETO QUE SE DESPRENDEU DE TRATOR. LESÃO NO
BRAÇO DIREITO. DANO MORAL CARACTERIZADO.
REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA. DANO
MATERIAL. LUCRO CESSANTE PROPORCIONAL. Hipótese
em que o autor foi atingido no braço por um
objeto que se desprendeu de um trator,
reduzindo sua capacidade laborativa e causando-
lhe danos morais. Pensão mensal fixada
proporcionalmente à perda laborativa e
estabelecido o limite temporal até a época que
a vítima completar 70 anos de idade, consoante
o pedido inicial. Dano moral caracterizado
porque o acidente atingiu a integridade físico-
corporal do autor, que passou a exteriorizar
vergonha com as seqüelas resultantes do evento.
Quantum arbitrado na origem mantido,
desvinculado do salário mínimo e acrescido de
juros legais e correção monetária desde a
publicação da sentença. DERAM PARCIAL
PROVIMENTO AO APELO E REFORMARAM PARCIALMENTE A
SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO. UNÂNIME.
(Apelação Cível Nº 70021989694, Nona Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em
04/06/2008)

ACIDENTE DO TRABALHO. SERVIDORA PUBLICA.


TROPEÇO, QUEDA E LESÃO COM FRATURA NOS DEDOS DO
PE ESQUERDO. CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS PARA A
CIRCULAÇÃO DE SERVIDORES NO AMBIENTE DE
TRABALHO. FIAÇÃO DE COMPUTADORES MAL INSTALADA.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO. OMISSÃO.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. DANO MORAL. Dano
moral que se reconhece pelo sofrimento
enfrentado pela autora, como decorrência do
acidente que sofreu. Quebra da tranqüilidade,
dor física, dor psíquica, angústia e
transtorno. Elementos que colorem a figura do
dano moral. VALOR DA COMPENSAÇÃO POR DANOS
MORAIS. Valor fixado na sentença a título de
compensação por danos morais que vai mantido,
por se apresentar de acordo com as
circunstâncias do caso concreto. Vai, contudo,
convertido, em moeda nacional o montante
fixado, ante a impossibilidade de sua
vinculação com o salário mínimo, nos termos do
5
art. 3º da Lei nº 7.789, de 03 de julho de
1989, bem como do artigo 7º, IV, da CF. DANO
PATRIMONIAL. Verificada a diferença a maior, de
R$ 10,00, apontada pelo apelante a título de
danos emergentes, referente à soma dos valores
constantes nos documentos de fls. 18/24, devida
a redução. Ausente qualquer insurgência no
tocante ao montante arbitrado a título de
lucros cessantes. Assim, o montante da
condenação relativa aos danos patrimoniais vai
fixado em R$ 2.893,70. CUSTAS. ISENÇÃO.
Tramitando o feito em cartório estatizado, não
são devidas custas processuais em sendo vencida
a Fazenda Pública, conforme previsão do
parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.121/85.
APELO DO ESTADO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação
Cível Nº 70029093226, Décima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo
Antônio Kretzmann, Julgado em 30/07/2009)

Com efeito, presente o dano moral caracterizado, em


razão da lesão gerada, o que impediu a autora de exercer
sua atividade laborativa, o que garantia seu sustento.

Com relação ao quantum devido, tendo em vista o


prejuízo sofrido, acredita a autora que o valor de R$
7.000,00 (sete mil reais) seja adequado ao caso em tela,
considerando a dor físico-psíquica sofrida pela
impossibilidade de prover seu sustento e de sua família.

2.3 Do lucro cessante

Questão que igualmente merece relevo é o fato de que


a autora deixou de receber sua remuneração pelos serviços
que prestava como doméstica, pois a autora dependia deste
trabalho para sobreviver.

Neste caso, configura-se o denominado lucro cessante,


ou seja, o que a autora efetivamente deixou de ganhar se
estivesse trabalhando.

6
No caso, a autora permaneceu por três meses sem
exercer suas atividades em razão da lesão sofrida, o que
configura o dever de indenizar igualmente neste aspecto.

O art. 950 do Código Civil estabelece que

“se da ofensa resultar defeito pelo qual o


ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de
trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou,
ou da depreciação que ele sofreu”.

Conforme documentos acostados aos autos (Docs 5, 6 e


7), a autora trabalhava em três residências, percebendo no
total o valor de R$ 320,00 (trezentos e vinte reais),
somando-se os valores das três residências, acrescido do
valor da passagem de ônibus. Destarte, considerando que a
autora permaneceu por três meses sem seu trabalho, chega-se
ao valor de R$ 960,00 (novecentos e sessenta reais) a
título de lucros cessantes.

Por fim, ressalte-se que a autora teve despesas de


tratamento médico, sendo que teve de utilizar o medicamento
chamados “Ibuprofeno 600mg” por três meses, conforme
exposto no boletim de atendimento do Hospital Pronto
Socorro.

Para tanto, cabível que a autora seja indenizada,


tanto pelo lucro cessante quanto pelas despesas médicas que
foi obrigada a contrair.

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III – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A autora, pela remuneração mensal que percebe e


somando todos os seus trabalhos, é carente no seu sentido
sócio-econômico.

Tal situação pessoal da autora atesta que a


demandante não possui capacidade sócio-econômica para
custear as despesas do processo sem prejuízo de seu
sustento e de sua família.

Tendo em vista tal situação, a lei assegura à parte a


possibilidade da concessão da assistência judiciária
gratuita, o que desde já se postula, conforme declaração de
carência sócio-econômica em anexo (Doc. 8). Gize-se que
para a concessão do benefício em tela, é suficiente a
simples declaração do postulante sobre a impossibilidade de
arcar com as custas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo de seu próprio sustento, a teor
do disposto no art. 4º da Lei nº 1.060/501.

IV – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O recebimento da petição inicial, com os


documentos que a instruem;

b) A citação do requerido, para responder aos termos


desta ação, sob pena de revelia;
1
Nesse sentido: Agravo de Instrumento Nº 70040557944, Décima
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ergio
Roque Menine, Julgado em 28/12/2010; Agravo de Instrumento Nº
70040558694, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 22/12/2010;
Agravo de Instrumento Nº 70040560799, Nona Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary,
Julgado em 21/12/2010.
8
c) A procedência dos pedidos, para o fim de:

c.1) Condenar o Estado do Rio Grande do Sul ao


pagamento do valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais) a título
de dano moral, em razão dos fundamentos expostos na
inicial, corrigidos pelo IGP-M e acrescidos de juros de
mora de 1%, a contar do evento danoso (Súmula 54 do STJ).

c.2) Condenar o réu ao pagamento do valor de R$ 1.020


(hum mil e vinte reais) a título de lucro cessante e
despesas com remédios.

d) A produção de todas as provas em direito


admitidas, em especial documental e testemunhal;

f) A condenação da parte adversa ao pagamento das


custas, despesas processuais e honorários advocatícios,
estes não inferiores ao percentual de 20%;

g) A concessão do benefício da gratuidade judiciária,


nos termos da lei 1.060/50, conforme documentação em anexo.

Termos em que pede e espera total deferimento.

Valor da causa: R$ 8.020,00 (oito ml e vinte reais).

Gustavo José Correia Vieira Fernanda Cardoso


OAB/RS 76.094 OAB/RS 78.243

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