Moisés Fortes entrou com uma ação de indenização por danos morais e materiais contra uma clínica após um exame toxicológico falso-positivo. O parecer jurídico discute se a clínica é responsável considerando que Moisés fez outro exame em outra empresa com resultado negativo, e analisa jurisprudências conflitantes sobre o tema.
Moisés Fortes entrou com uma ação de indenização por danos morais e materiais contra uma clínica após um exame toxicológico falso-positivo. O parecer jurídico discute se a clínica é responsável considerando que Moisés fez outro exame em outra empresa com resultado negativo, e analisa jurisprudências conflitantes sobre o tema.
Moisés Fortes entrou com uma ação de indenização por danos morais e materiais contra uma clínica após um exame toxicológico falso-positivo. O parecer jurídico discute se a clínica é responsável considerando que Moisés fez outro exame em outra empresa com resultado negativo, e analisa jurisprudências conflitantes sobre o tema.
No dia 14 de setembro de 2021, compareceu ao NPJ o Sr. Moises Fortes para
atendimento, com objetivo de ingressar com ação de indenização por danos morais materiais e lucros cessantes em virtude de exame toxicológico falso-positivo. Moisés alega nunca ter sido usuário de drogas, além de ter feito exame toxicológico de outra empresa na mesma janela de 180 dias que comprova que não ingeriu substâncias ilícitas. Alega ter ficado sem trabalho pois dependia com CNH para fazer fretes com o caminhão, renda que complementa sua aposentadoria. Além disso, Moisés é transplantado renal utilizando de várias medicações extremamente fortes e necessitando fazer hemodiálise, fatores conhecidos pela clínica que fez o exame toxicológico. A consolidação das leis do trabalho, traz no artigo 168, a obrigatoriedade de exames médicos, a saber, admissional, periódico, retorno ao trabalho e demissional, sendo o custo destes por conta do empregador. O exame pré-admissional é de inegável importância visto que avalia o estado de saúde física e psíquica do pretenso funcionário e se está apto a desenvolver a função para qual concorre. Para algumas profissões além do exame admissional, outros exames complementares são exigidos, como por exemplo para a classe dos motoristas profissionais, sendo que a Lei 13.130 de 2015, estabelece que o exame toxicológico é obrigatório para esta classe. Dentre as discussões apontadas existe divergência na jurisprudências do tribunal:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO
MATERIAL E MORAL. EXAME TOXICOLÓGICO POSITIVO ALEGADAMENTE EQUIVOCADO, QUE PREJUDICOU O AUTOR NA RENOVAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO - CNH. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DO AUTOR. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA ANTE O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. NÃO OCORRÊNCIA. CONTEXTO FÁTICO- PROBATÓRIO SUFICIENTE PARA O DESLINDE DA QUESTÃO. AUTOR QUE PROCEDEU AO REQUERIMENTO GENÉRICO DE PRODUÇÃO DE PROVAS SOMENTE NA INICIAL. PREJUDICIAL AFASTADA. MÉRITO. PRETENSA REFORMA DA SENTENÇA. ALMEJADO O RECONHECIMENTO DO DEVER DE INDENIZAR. INSUBSISTÊNCIA. AUTOR QUE NÃO COMPROVOU A FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PELAS RÉS. CONTRAPROVA REALIZADA COM O RESULTADO POSITIVO PARA O ENTORPECENTE. NOVO EXAME EFETUADO EM OUTRO LABORATÓRIO QUE OCORREU APÓS 38 (TRINTA E OITO) DIAS DO EXAME REALIZADO COM AS RÉS. RESULTADO NEGATIVO NO SEGUNDO EXAME QUE NÃO POSSUI O CONDÃO, POR SI SÓ, DE INVALIDAR O RESULTADO DO PRIMEIRO EXAME, POIS ABRANGE AMOSTRA E PERÍODO DE ANÁLISE DISTINTO. ATO ILÍCITO NÃO EVIDENCIADO. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR NÃO DEMONSTRADO, NOS TERMOS DO ART. 373, I, DO CPC. SENTENÇA MANTIDA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS EM DESFAVOR DO AUTOR. SUSPENSA A EXIGIBILIDADE, CONTUDO, DIANTE DO DEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA AO AUTOR. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.- "INEXISTE ATO ILÍCITO INDENIZÁVEL POR FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EXAME TOXICOLÓGICO QUANDO HÁ CONTRAPROVA INDICANDO O ACERTO NO RESPECTIVO DIAGNÓSTICO PARA USO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE (COCAÍNA)" (TJSC, APELAÇÃO N. 0310270-13.2016.8.24.0064, REL. DES. MONTEIRO ROCHA). (TJSC, Apelação n. 5003146-84.2020.8.24.0012, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Rubens Schulz, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 13-05- 2021).
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. RENOVAÇÃO CNH. EXAME TOXICOLÓGICO POSITIVO. RÉ QUE NÃO OBSERVOU OS CRITÉRIOS PREVISTOS NA RESOLUÇÃO Nº 691/2017 DO CONTRAN. AUSÊNCIA DE TESTEMUNHA. DANO MORAL. PREQUESTIONAMENTO. INVIABILIDADE. APLICAÇÃO DO ENUNCIADO Nº 125 DO FONAJE. OCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU DÚVIDA. MERO INCONFORMISMO. DECLARATÓRIOS NÃO SÃO A VIA ADEQUADA PARA MODIFICAR O DECISUM. EMBARGOS NÃO ACOLHIDOS.4. 0005339- 81.2018.8.16.0035 (Acórdão) Relator: Bruna Greggio, Juíza de Direito Substituto.
Vistos, etc. Cuida-se de ação de conhecimento entre as partes em epígrafe.
A requerente sustenta, em resumo, que realizou exame de sangue na empresa requerida, para verificar o antígeno do fator de Von Willebrand, e o resultado deu positivo. No entanto, nos dois outros resultados dos exames feitos posteriormente, o resultado deu negativo. Assim, devido ao erro realizado no primeiro exame, que lhe causou sofrimento e angústia, requer a indenização por dano material e moral. réu apresentou contestação, suscitando preliminares de incompetência do juízo, por ser necessária a realização de perícia, e ilegitimidade passiva, uma vez que o réu não fez nenhum diagnóstico. No mérito, o réu alega que não houve erro e ato ilícito, e que não faz diagnósticos, bem como que não houve dano. Impugna os pedidos de indenização por dano material, uma vez que não houve prova, e dano moral, por não ter havido lesão a direito da personalidade da autora. Realizada audiência una de Conciliação, Instrução e Julgamento, não houve acordo, e foi realizada a oitiva da autora e da testemunha do réu. É o breve relatório. Decido. Cuida-se de Ação Indenizatória em que a parte autora pleiteia o recebimento de indenização por danos materiais no importe de R$ 1.600,00, e morais no importe de R$ 20.000,00, Rejeito as preliminares arguidas pelo réu. Primeiramente, o Juizado Cível é competente, uma vez que não há necessidade de realização de perícia. O réu, por sua vez, é parte legítima para figurar no polo passivo, tendo em vista que realizou o exame em questão, e o fato de ter ou não havido erro será analisado quando do julgamento do mérito. Na hipótese vertente, se aplicam as disposições do Código de Defesa do Consumidor, a teor do disposto nos arts. 2º e 3º da Lei n 8.078/90. O referido diploma estabelece: "Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos." Neste caso, para a configuração da responsabilidade, basta a demonstração dos seguintes requisitos: a) defeito no serviço; b) evento danoso; e c) relação de causalidade entre o defeito do serviço e o dano. A responsabilidade, neste caso, também decorre do próprio risco oriundo da atividade empresarial desenvolvida, cabendo à empresa prestadora do serviço cumprir as obrigações contratuais, nos termos do art. 927, parágrafo único, do Código Civil Brasileiro. No caso em tela, a autora conta que realizou exame de sangue na empresa requerida, para verificar o antígeno do fator de Von Willebrand, e o resultado deu positivo. No entanto, nos dois outros resultados dos exames feitos posteriormente, o resultado deu negativo. Assim, devido ao erro realizado no primeiro exame, que lhe causou sofrimento e angústia, requer a indenização por dano material e moral. O réu alega que não houve erro e ato ilícito, e que não faz diagnósticos, bem como que não houve dano à autora. Saliente-se que realmente não há como se afirmar que houve erro técnico na feitura dos exames ou na elaboração do resultado, mas falta de informação. Esta deveria ter sido prestada de forma clara e precisa. A falha na prestação de serviço fica mais evidente quando em comparação ao atendimento prestado em outro laboratório, que informou o seguinte à autora: "O resultado de fator de von Willebrand em indivíduos com fator reumatóide deve ser interpretado com cautela". "A interpretação do resultado deste(s) exame(s) e a conclusão diagnóstica são atos médicos; dependem da análise conjunta dos dados clínicos e demais exames do(a) paciente" (fl. 35). Nesse contexto, tenho que a falha do serviço está demonstrada, se mostrando cabível o acolhimento da pretensão reparatória. A Constituição Federal de 1988 garante a indenização por dano moral em seu art. 5º, inciso X. Por outro lado, o CDC é expresso ao assegurar não apenas a reparação do dano patrimonial, mas também do dano moral. Este consiste nas lesões sofridas pelas pessoas em certos aspectos da sua personalidade, em razão de condutas injustas de outrem. Causam constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e sensações negativas de natureza não patrimonial. Não visa a reparação do prejuízo sofrido. Não objetiva um ressarcimento, mas sim uma compensação pelo sofrimento experimentado, satisfação da vítima e "penalidade" ao causador. Acerca da definição dos danos de natureza moral, cumpre invocar a lição de José Raffaelli Santini, no livro Dano Moral - Doutrina, Jurisprudência e Prática, Ed. LED, 1997, p.103. Escreve o autor: "Danos morais, na definição de Wilson Mello da Silva, citado por Sílvio Rodrigues,"são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico". "O dano moral, portanto, pressupõe dor física ou moral, e se configura sempre que alguém aflige outrem injustamente, sem com isso causar prejuízo patrimonial." (Cf. Direito Civil, Saraiva, v. 4/196). No caso, do cotejo das provas produzidas pelas partes, verifica-se que a situação abalou psicologicamente a autora, mormente em face da incerteza causada pela falta de informação. É certo que o diagnóstico é feito apenas por um profissional médico, porém cabia ao requerido informar detalhadamente acerca dos procedimentos, medida esta que traria segurança e acalmaria a requerente. Por outro lado, o infortúnio se deu em um curto espaço de tempo, eis que a requerente levou o exame à sua médica logo após o recebimento do resultado, e realizou outros exames em laboratórios diversos. Evidenciados os requisitos atinentes à responsabilidade civil, cabe, então, delinear a reparação. No que tange à liquidação do dano moral, inexistindo qualquer parâmetro determinado por lei, não há como fugir do princípio geral emanado do art. 944 do Novo Estatuto Substantivo Civil, fixando-se o "quantum" mediante prudente arbítrio do juiz, e que levará em consideração os seguintes aspectos: as circunstâncias do caso concreto; as repercussões pessoais e sociais do fato; a malícia ou dolo ou o grau de culpa da vítima; a concorrência do autor para que o fato se verifique; as condições pessoais e econômicas das partes, entre inúmeras outras expostas pela doutrina e jurisprudência. Sabe-se que a fixação do dano moral deve ser balizada pelos critérios da compensação ao lesado e de desestímulo ao lesante. Sendo assim, deve-se atentar, na fixação dos danos enfocados, para critérios de ordem subjetiva (posição social do ofendido e intensidade da lesão produzida) e de ordem objetiva (situação econômica do ofensor, risco criado, gravidade e repercussão da ofensa). Segue daí que esse arbitramento deve ser moderado e equitativo, atendendo às circunstâncias de cada caso e evitando "que se converta a dor em instrumento de captação de vantagem, merecendo reprimenda a chamada indústria da indenização por dano moral" (Rel. Des. Mário Machado, inteiro teor do acórdão nº 109610, fls. 08). Como dito, os elementos colacionados indicam que os fatos causaram transtornos à requerente. Impende considerar ainda o potencial econômico das partes. Registre-se que indenizações em patamares irrisórios têm servido de estímulo a novas práticas. É sabido que na fixação do "quantum" reparatório deve o magistrado atuar com muita cautela para não prestar a indevida homenagem ao enriquecimento sem causa. Destarte, considerando os aspectos referidos, de natureza objetiva e subjetiva, admito como suficiente, para indenizar a parte autora, pelo dano moral, a quantia de R$ 2.000,00, importância está plenamente suportável pelo réu e suficiente para trazer algum conforto e compensação à requerente, uma vez que o objetivo desta indenização não é traduzir-se em aquisição de vantagens e sim ser capaz, também, de representar uma pena ao agente. Por fim, quanto ao pedido de indenização pelo dano material, apenas está comprovado nos autos o gasto da quantia de R$ 967,00 (fl. 34), com a realização de novos exames em outro laboratório. As demais despesas alegadas com medicamentos, sessões de terapia e lucros cessantes não foram demonstradas. Portanto, o pedido de indenização por dano material deve ser acolhido apenas em parte. Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL para condenar o réu a pagar à autora a importância de R$ 2.000,00, referente aos danos morais, acrescida de correção monetária e juros legais, a contar da data da publicação da presente sentença, e R$ 967,00, referente aos danos materiais, acrescida de correção monetária a partir do ajuizamento da ação, e juros legais a contar da citação. Declaro extinto o processo, com resolução de mérito, pautado no art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil. Fica a parte ré advertida de que, na hipótese do não cumprimento voluntário da sentença incidirá, automaticamente, a multa legal de 10% (dez por cento) prevista no artigo 475-J, do CPC, inserido pela Lei 11.232/05. Após o trânsito em julgado, defiro o desentranhamento de documentos mediante traslado a cargo da própria parte. Publique-se. Registre-se. Partes intimadas a tomar ciência da sentença em cartório, na presente data, a partir das 18h00. Ceilândia - DF, terça-feira, 26/06/2012 às 18h16.Circunscrição :3 - CEILANDIA, Processo :2012.03.1.013925-5, Vara : 1402 - SEGUNDO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CEILÂNDIA