Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Proc. 0725346-10.2018.8.07.0001
RECURSO ESPECIAL
contra o acórdão em apelação prolatado nestes autos, com base na alínea “a”
do inciso III do art. 105 da Constituição Federal e arts. 1.029 e seguintes do
CPC, haja vista razões de fato e direito expostas, requerendo que o mesmo
seja admitido, na forma da Lei.
Autos nº 0725346-10.2018.8.07.0001
Recorrente: PLÁSTICA PRIME CLÍNICA MÉDICA LTDA
Recorrido: LUCIANA CAIXETA DE MELO BORGES
(...)
Esta Corte já se pronunciou com relação à matéria, de modo
a admitir a excludente de caso fortuito. Veja-se, a propósito,
o posicionamento da 3ª Turma:
O fato de o art. 14, § 3º do Código de Defesa do Consumidor
não se referir ao caso fortuito e à força maior, ao arrolar as
causas de isenção de responsabilidade do fornecedor de
serviços, não significa que, no sistema por ele instituído, não
possam ser invocadas. Aplicação do art. 1.058 do Código
Civil. (REsp 120.647/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Eduardo
Ribeiro, DJ de 15/5/2000)
Na espécie dos autos, tem-se que o aparecimento das
cicatrizes salientes e escaras no local do corpo da
recorrente no qual foi realizado o corte cirúrgico não está
relacionado com a atividade do profissional recorrido. O
acórdão recorrido, com fundamento no laudo pericial, foi
inequívoco ao afastar o nexo de causalidade entre a
conduta do recorrido e ao dano sofrido pela recorrida, já
que o profissional na saúde não poderia prever ou evitar
as intercorrências registradas no processo de
cicatrização da recorrente. Assim, conquanto seja
perfeitamente compreensível a contrariedade da recorrente,
não é possível pretender imputar ao recorrido a
responsabilidade pelo surgimento de um evento
absolutamente casual, para o qual não contribuiu. Após
análise do conjunto probatório dos autos, o TJ/MG concluiu
pela ausência de culpa do recorrido no que concerne aos
danos estéticos da recorrente, afirmando que “analisando o
caderno processual, não se nega que o primeiro apelante
tenha observado todos os procedimentos e técnicas cabíveis
na realização da cirurgia da autora e segunda apelante” (e-
STJ fl. 457). A formação do chamado “quelóide”, portanto,
decorreu de característica pessoal da recorrente, e não da
má-atuação do recorrido. Ausente o nexo causal – mesmo
considerada a obrigação de resultado do cirurgião plástico e
a responsabilidade objetiva dela porventura decorrente – a
única alternativa é isentar o recorrido do dever de indenizar,
em que pese toda a frustração da recorrente e as
consequências psicológicas que possam ser causadas por seu
suposto defeito estético. Nesse sentido, o acórdão recorrido
externou posicionamento que não destoa da doutrina:
Se o insucesso parcial ou total da intervenção ocorrer em
razão de peculiar característica inerente ao próprio
paciente e se essa circunstância não for possível de ser
detectada antes da operação, estar-se-á diante de
verdadeira escusa absolutória ou causa excludente de
responsabilidade. (Stoco, Rui. Responsabilidade Civil e sua
interpretação jurisprudencial. 1ª Ed. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 1994, p. 162) Logo, para a configuração da
responsabilidade civil extracontratual do recorrido, seria
necessário que de seus atos omissivos ou comissivos
decorressem o dano experimentado pela recorrente.
Conforme registra o acórdão recorrido, “há excludentes de
responsabilidade civil, o que afasta o dever de indenizar,
diante da situação de imprevisibilidade dos resultados de
cicatrização e outros fatores genéticos” (e-STJ fl. 449). Da
análise dos fatos, como considerados pelo acórdão recorrido,
tem-se que inexiste essa relação de causalidade, pois ocorreu
um caso fortuito – a irregular cicatrização dos cortes
cirúrgicos realizados na recorrente.
Mais recentemente, o STJ reafirmou tal entendimento nos autos do
Recurso Especial nº 1.269.832 – RS, o que se destaca:
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a. o conhecimento do presente recurso em razão da violação direta da
Lei Federal, hipótese prevista na alínea “a” do inciso III do art. 105 da
Constituição Federal, e seu provimento para declarar a violação dos
seguintes dispositivos de lei federal: art. 17 do CPC e art. 14, §3º, I, do
CDC.;
b. Em se declarando a incidência da aplicação supra, que se reforme o
acórdão de origem a fim de que seja afastada a condenação do
recorrente ao custeio de procedimento de reparação;
c. A condenação da ré em custas e horários recursais, nos termos do
art. 85 do Código Civil.
Nesses Termos, Pede Deferimento.
Brasília, 07 de outubro de 2021
PAULO HENRIQUE FRANCO PALHARES
OAB/DF 19.336.