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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.22.

047929-9/001

<CABBCAADDAABCCBACBBCAACBDADACBADADAAADDADAAAD>
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -
ERRO MÉDICO – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – IMPOSSIBILIDADE.
- A inversão do ônus da prova deve ser deferida somente quando comprovada
pelo consumidor a sua hipossuficiência técnica ou financeira, bem como a
verossimilhança das suas alegações.
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.22.047929-9/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - AGRAVANTE(S):
AMAURY BARA, LUIZ HENRIQUE SALOMANI ABAD, VALDECI MANUEL DE OLIVEIRA - AGRAVADO(A)(S): CARLA
MALATESTA TORETTI

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. VALDEZ LEITE MACHADO


RELATOR

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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.22.047929-9/001

DES. VALDEZ LEITE MACHADO (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de recurso de agravo de instrumento interposto por


Amaury Bara, Luiz Henrique Salomani Abad e Valdeci Manuel de Oliveira,
contra a decisão de ordem 179, proferida pelo MM. Juiz da 3ª Vara Cível
da Comarca de Be5ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora, que, nos
autos da ação de indenização por danos morais e materiais, ajuizada por
Carla Malatesta Toretti, determinou a inversão do ônus da prova e nomeou
perito.
Os agravantes alegam, em síntese, a ausência de hipossuficiência
técnica da parte autora a justificar a inversão do ônus probandi, que não
deve ser aplicada de forma automática pela simples razão de haver uma
relação de consumo.
Sustentam que o mais importante é que a prova pericial foi
requerida pelos agravantes e será produzida por um expert, médico
neurocirurgião, nomeado pelo Magistrado de primeiro grau, o que afasta o
desequilíbrio na relação processual e da capacidade técnica na produção
das provas.
Entendendo presentes os requisitos legais, requereram a atribuição
do efeito suspensivo ao recurso, e ao final, o seu provimento, com o
afastamento da inversão do ônus da prova.
O recurso foi admitido (ordem 181), oportunidade em que foi
concedido o efeito suspensivo.
O MM. Juiz de origem prestou informações (ordem 183), noticiando
a manutenção da decisão agravada.
Intimado, o agravado apresentou contraminuta (doc. ordem 189),
pugnando pelo não acolhimento do recurso.
É o relatório, em resumo.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

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Observo que a parte agravada ajuizou a ação indenizatória que


tramita na origem alegando que, em virtude de procedimento cirúrgico
de hérnia discal realizado pelo médico Luiz Henrique Salomani Abad,
em 24-03-2015, nas dependências do primeiro réu, Hospital Monte
Sinai – “Instituto de Clinicas e Cirurgia de Juiz de Fora Ltda.”, resultou
no comprometimento da “região da articulação Sacroíliaca da Autora”,
ficando com deficiência de movimentos de forma permanente e
sequelas irreparáveis, e que passou a conviver com fortes dores desde
então, em virtude de suposta imperícia médica. Aduziu, ainda, que os
médicos Amaury Bara e Valdeci Manuel de Oliveira participaram
efetivamente do procedimento cirúrgico.
Pretende, assim, a condenação dos réus no pagamento de todas
as despesas necessárias ao tratamento médico, psicológico e
psiquiátrico, como medicamentos, fisioterapias, exames, custeio de
locomoção, dentre outras despesas relacionadas ao seu estado de
doença atual, enquanto este perdurar. Postulou, também, pela
condenação dos réus ao pagamento da indenização pelos danos
morais suportados em face dos transtornos e deficiência que o
procedimento cirúrgico lhe acarretou.
Diante do cenário da lide, a meu ver, o recurso merece prosperar,
pois, embora considere aplicável o Código de Defesa do Consumidor à
hipótese dos autos, tenho que os requisitos do artigo 6º, VIII, do Código de
Defesa do Consumidor não restaram atendidos, uma vez que não há nos
autos prova da hipossuficiência técnica ou financeira da agravada, que lhe
impeça de coletar provas dos fatos constitutivos de seu direito, de forma
irrestrita.
É certo que, conforme as circunstâncias recomendem, o julgador
pode redistribuir o ônus da prova, desde que seja impossível à parte
originalmente onerada produzi-la.
Contudo, a inversão do ônus da prova somente é possível quando
forem verossímeis as alegações do consumidor, ou seja, quando há

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aparência da verdade dos fatos narrados, ou quando for clara a sua


dificuldade de acesso a determinado meio probatório.
Saliento que a hipossuficiência que autoriza a inversão do ônus
probatório se refere à impossibilidade técnica de produção das provas, não
se relacionando, necessariamente, com a hipossuficiência financeira, o
que não restou comprovado no caso em julgamento.
Ressalto que a parte agravada pode demostrar o fato constitutivo do
seu direito através de relatórios e exames médicos, histórico de
atendimento hospitalar, prova oral, e, inclusive a prova pericial.
Aliás, a respeito da prova pericial, como bem defendem os
agravantes, estes já a requereram oportunamente nos autos de origem,
estando o processo, pelo que se confere destes autos, na fase de oferta de
quesitos e proposta de honorários, porém, suspensos, em face do efeito
suspensivo concedido por ocasião do recebimento do recurso.
Neste contexto, não vislumbro dos autos elementos consistentes
para reconhecer a insuficiência técnica que dificulte a produção da prova
pela autora.
Ademais, a mera dificuldade na produção de provas, in casu, não
implica em necessidade de inversão do ônus da prova.
Assim, entendo que a distribuição do ônus da prova deverá
obedecer à regra geral, incumbindo à autora a prova do fato constitutivo do
seu direito, e às rés a demonstração de eventual fato impeditivo,
modificativo ou extintivo da pretensão autoral, nos exatos termos do art.
373 do CPC.
A propósito:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA -
RELAÇÃO DE CONSUMO - HIPOSSUFICIÊNCIA
TÉCNICA OU VEROSSIMILHANÇA DAS
ALEGAÇÕES - NÃO VERIFICAÇÃO -
INDEFERIMENTO.
- Nos termos do art. 6º, VII do CDC, a inversão do
ônus da prova não é automática, devendo ser
deferida, quando o juiz verificar a presença dos

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requisitos específicos, isto é, a verossimilhança das


alegações daquele que a requer ou a hipossuficiência
técnica da parte para produzir a prova pleiteada.
- Não restando demonstrada a verossimilhança das
alegações ou a hipossuficiência técnica da agravante,
impõe-se o indeferimento da inversão do ônus da
prova. (TJMG, AI n. 1.0000.20.067300-2/001, Rel.
Des. Sérgio André da Fonseca Xavier, 18ª Câmara
Cível, J. 11-08-2020, DJe 11-08-2020).

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. ERRO EM DIAGNÓSTICO. TESTE
TOXICOLÓGICO. INVERSÃO DO ÔNUS
PROBATÓRIO. AUSÊNCIA DE HIPOSSUFICIÊNCIA
DO CONSUMIDOR PARA PRODUÇÃO DE PROVA.
INDEFERIMENTO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO
AGRAVADA.
1. Ainda que a relação seja regida pelo Código de
Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova
não ocorre automaticamente, sendo necessária a
verificação, no caso concreto, da presença de dois
requisitos: a verossimilhança das alegações e a
hipossuficiência técnica do consumidor.
2. Não restando comprovada incapacidade do autor
de produzir a prova demonstrativa de seu direito,
impõe-se a manutenção da decisão que indeferiu o
pleito de inversão do ônus da prova. (TJMG, AI n.
1.0000.20.015461-5/001, Rel. Des. Otávio de Abreu
Portes, 16ª Câmara Cível, J. 22-07-2020, DJe 23-07-
2020).

No mesmo sentido, é o precedente deste Relator, ao ser julgada a


apelação cível n. 1.0313.06.188121-2/002.
Diante do exposto, dou provimento ao recurso para, reformando a
decisão agravada, revogar a decisão que determinou inversão do ônus da
prova.
Custas recursais pela parte agravada, a serem recolhidas ao
final, na instância de origem, ressalvando-se o disposto no art. 98, § 3º
do CPC (ordem 81).

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE - De acordo com o(a)


Relator(a).

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DESA. CLÁUDIA MAIA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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