Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

Processo originário: xxxxxxx


3ª Vara Cível da Comarca de Florianópolis/SC

BELA MUSA, já devidamente qualificada nos autos da ação em epígrafe, vem a presença de
Vossa Excelência, por intermédio de sua advogada que esta subscreve, interpor o presente:

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Com base no art. 1.015 do CPC, contra decisão saneadora que determinou a inversão do ônus
da prova, impondo-se à ora Agravante o ônus de demonstrar que prestou os serviços
adequadamente e que a consumidora desrespeitou as orientações, bem como demonstrar que a
consumidora não sofreu os danos extrapatrimoniais alegados na exordial, nos autos da ação
distribuída sob o nº xxxxxx.

DADOS DOS ADVOGADOS DAS PARTES

a) Advogada da Agravante: xxx


b) Advogado do Agravado: xxx

PEÇAS PARA A FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO

a) Cópia da procuração outorgada à advogada do agravante;


b) Cópia da r. decisão agravada de fls. Xx/xx;
c) Cópia da respectiva intimação de fl. Xx

Nestes termos,

Pede deferimento.

Florianópolis, 06/04/2021.

XXX

ADVOGADA

OAB Nº XXX

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA


RAZÕES DA AGRAVANTE

Colenda Turma,
Ínclitos Julgadores,

I – TEMPESTIVIDADE

O recurso deve ser considerado tempestivo. A patrona da parte Agravante fora intimada da
decisão atacada na data de xx de xxxx de xxxx, consoante se vê na certidão acostada.
Destarte, fora intimada em xx de xxxx de xxxx, por meio do Diário da Justiça nº xxxx
(CPC, art. 231, inciso VII). Igualmente, visto que o lapso de tempo do recurso em espécie é
quinzenal, conforme art. 1.003, § 5º, do CPC, atesta-se que o prazo processual fora
devidamente obedecido.

II - SÍNTESE DO PROCESSADO

Trata-se de ação de indenização por danos materiais e estéticos proposta pela Agravada
Gabriela contra a Agravante Bela Musa.
A autora alega falha em procedimento estético realizado pela empresa ré e pleiteia
reparação de danos estéticos e morais a fim de se ver ressarcida pelos prejuízos causados.
Em sede de contestação, a agravante narrou que a autora foi expressamente orientada acerca
dos cuidados necessários antes e após o procedimento e, por meio de documentos acostados
aos autos, demonstrou que a autora não seguiu as recomendações, causando prejuízo por sua
própria culpa. Ademais, a ré relatou ainda que, no tocante a alegação de erro no aplicação
na perna esquerda, o fez única e exclusivamente porque a autora solicitou que fosse retirada
uma “pinta” de sua perna.
Em decisão saneadora, o ilustre magistrado decidiu pela inversão do ônus da prova, com
base nos artigos 373, § 1º do CPC, e 6º, inciso VIII, do CDC, atribuindo à Agravante a
demonstração acerca da prestação adequada dos serviços e que houve, por parte da
Agravada, o desrespeito às orientações. Por fim, impôs ainda à agravante o dever de provar
que a autora não sofreu os danos extrapatrimoniais alegados na inicial.
Considerando que a decisão proferida pelo nobre julgador impõe à ré ônus impossível ou
excessivamente difícil, não restou à Agravante outro caminho a não ser lançar mão do
presente recurso.
Eis a síntese do necessário.

III – DAS RAZÕES

Imperioso destacar, primeiramente, que a presente demanda objetiva a reparação de danos


morais e estéticos alegados pela autora contra a empresa ré.
Cumpre destacar ainda que o ônus da prova, nos termos do artigo 373 do CPC, incumbe:
I – ao autor, quando ao fato constitutivo de seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.
A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou excessiva dificuldade
na obtenção de prova, conforme previsto no CPC, art. 373, §1º, o qual diz que “nos casos
previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à
excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de
obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade
de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.”
Ocorre que no presente caso, NÃO FICA DEMONSTRADA a hipossuficiência probatória,
uma vez que caberia à Autora demonstrar a sua impossibilidade na obtenção dos meios
indispensáveis a provar o seu direito, sendo indevida a inversão do ônus da prova, conforme
precedentes sobre o tema:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
PROVA PERICIAL. PARTE BENEFICIÁRIA DA GRATUIDADE
DE JUSTIÇA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REQUISITOS
NÃO DEMONSTRADOS. HIPOSSUFICÊNCIA TÉCNICO-
CIENTÍFICA E HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. 1. Ainda que
se trate de relação de consumo, a inversão do ônus da prova não tem
aplicação automática, pois depende de circunstâncias concretas a
serem apuradas pelo juiz no contexto da facilitação da defesa dos
direitos do consumidor. 2. A hipossuficiência mencionada no artigo
6º, inciso VIII, do CIC, que justifica a inversão do ônus da prova em
favor do consumidor, não se confunde com a hipossuficiência
financeira deferida àqueles que não tem condições de pagar as
despesas do processo sem prejuízo da subsistência própria ou da
família. 3. A hipossuficiência que justifica a inversão do ônus da
prova em favor do consumidor é a técnico-científica, que impede o
autor de produzir a prova necessária à satisfação da sua pretensão em
juízo por não possuir o conhecimento técnico específico sobre o
produto ou serviço adquirido. (TJDFT, Acórdão n.1104692,
07050341620188070000, Relator(a): FÁTIMA RAFAEL, 3ª Turma
Cível, Julgado em: 21/06/2018, Publicado em: 06/07/2018)
Ou seja, deve ficar clara a demonstração de inacessibilidade à prova, e que a inversão do
ônus não seja danosa a ponto de inviabilizar a ampla defesa.
Ademais, à Agravante foi imposto o ônus de provar que a autora não sofreu os danos
extrapatrimoniais que alega, ou seja, ônus de comprovar fato negativo. Conhece-se tal
hipótese por “prova diabólica”, aquela de impossível realização.
Observa-se que o art. 373, § 2º, do CPC, diz que não poderá a inversão do ônus da prova
realizada pelo Juízo resultar em imposição que seja de impossível ou excessivamente difícil
cumprimento.
O dano extrapatrimonial, ou moral, é aquele resultante da constatação de dor, sofrimento,
angústia ou tristeza profunda, da violação à dignidade humana ou da afronta a direitos da
personalidade. Seja qual for, certo é que sua demonstração significa tarefa complexa à parte
que a alega. Ora, imagine-se então como seria à parte contrária provar que a outra não
sofreu o dano extrapatrimonial alegado. Tal hipótese se amolda ao previsto no § 2º, do art.
373, sendo de impossível cumprimento pela parte contrária.
Assim, não ficando demonstrada a hipossuficiência probatória da parte agravada, e, ainda,
comprovado o ônus impossível imposto à Agravante, não há motivos suficientes para
flexibilizar a letra da lei, devendo ser negada a inversão do ônus da prova.

IV – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se o conhecimento e o consequente provimento do presente recurso


para reformar a decisão atacada a fim de determinar o ônus da prova à parte Autora, nos
termos do art. 373, caput, do CPC.

Termos em que,
pede e espera deferimento.
Florianópolis, 06/04/2021.

XXX

ADVOGADA

OAB Nº XXX

Você também pode gostar