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AO JUÍZO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE SÃO JOSÉ –

ESTADO DE SANTA CATARINA

PEDIDO TUTELA DE URGÊNCIA

PAULO HENRIQUE LEAL PANIFICADORA, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o n°. 03.356.343/0001-81, com sede na Rua Neusa Aurora
Diniz, 55 - Forquilhinhas, São José - SC, 88106-771, por intermédio de seu advogado que
esta subscreve, vem, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, com fulcro no
artigo 319 do Código de Processo Civil, ajuizar

AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO COM PEDIDO DE REPETIÇÃO


INDÉBITO E TUTELA ANTECIPADA

em face de BANCO VOTORANTIM S.A., pessoa jurídica de direito privado


inscrita no CNPJ sob nº 59.588.111/0001-03, com sede na Avenida das Nações Unidas,
14171 Torre A Andar 18, Vila Gertrudes, São Paulo – SP, CEP 04794-000, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos.
I. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A pessoa jurídica tem direito à concessão do benefício da assistência judiciária


gratuita, desde que comprove a incapacidade de arcar com as custas sem comprometer a
manutenção da mesma.

Infere-se da legislação que qualquer uma das partes no processo pode usufruir
do benefício da justiça gratuita. Logo, a Requerente, pessoa jurídica, também faz jus ao
benefício, haja vista não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo
de sua manutenção. Nesse sentido:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
O entendimento jurisprudencial pacificado pelos tribunais pátrios corrobora a
pretensão argumentada, conforme se vislumbra da análise do precedente declinado:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA


DE ARGUMENTOS CAPAZES DE INFIRMAR OS FUNDAMENTOS
DA DECISÃO AGRAVADA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
PESSOA JURÍDICA. HIPOSSUFICIÊNCIA. COMPROVAÇÃO.
NECESSIDADE. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7. Não merece
provimento recurso carente de argumentos capazes de desconstituir a decisão
agravada. As pessoas jurídicas tem direito à concessão do benefício da
assistência judiciária gratuita desde que comprovem a incapacidade de arcar
com as custas processuais em detrimento da manutenção da empresa". (...)
(AgRg no Ag 776376 / RJ; Agravo Regimental no Agravo de Instrumento,
2006/0117503-3, Relator, Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira
Turma, DJ 11.09.2006 p. 277.)
Pois bem, in casu, a jurisprudência supramencionada enquadra-se
perfeitamente, posto que ratifica o direito à concessão do benefício da justiça gratuita às
pessoas jurídicas desde que demonstrado a impossibilidade de custear as despesas
processuais em prejuízo da atividade empresarial.

Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o artigo 99, § 1º, do novo
Código de Processo Civil, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por
petição simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade de se
requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça gratuita, ante a
alteração do status econômico.
Corroborando com esse entendimento, o Novo Código de Processo
Civil incorporou a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o tema.
Especificamente, a Súmula nº 481, transcrita a seguir:

Súmula nº 481. Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com
ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais.
Nessa senda, conforme a inteligência do Superior Tribunal de Justiça, a título
de comprovação da alegação de insuficiência de recursos, traz-se, em anexo, toda a
documentação necessária para a demonstração da impossibilidade da Requerente em arcar
com os encargos processuais.

II. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Em atenção ao artigo 319, VII, do Código de Processo Civil, a Requerente


informa que opta pela NÃO realização de audiência de conciliação, tendo em vista que
em demandas análogas, a Requerida não apresentou proposta.

Ademais, caso haja interesse em composição, a Requerida também, em nome


da celeridade processual, pode apresentar proposta diretamente nos autos, e/ou por
contato direto com um dos procuradores do Requerente.

III. DA BREVE SÍNTESE DOS FATOS

A Requerente adquiriu junto à Requerida uma Cédula de Crédito Bancário no


valor de R$ 194.977,31 (cento e noventa e quatro mil novecentos e setenta e sete reais e
trinta e um centavos), com pagamento em 48 (quarenta e oito) parcelas mensais,
destinada ao financiamento do veículo DUCATO.

Conforme se observa do extrato analítico do financiamento, pela simples


observância do valor acima mencionado, não é demais saber que a Requerida inseriu no
contrato cláusulas abusivas e ilegais, praticando usura e anatocismo, onerando
excessivamente o consumidor.

Salientando que em momento algum a Requerente teve acesso ao contrato,


posto que fora informado que tal instrumento estaria disponível em momento oportuno,
mas ao requisitá-lo nada foi enviado.

Restando claro que desconhecia as taxas de juros, não compactuando com o


que estava sendo cobrada, haja vista necessitava do bem e esse era o único meio de
adquiri-lo a curto prazo, porém não significa que está conivente com a situação a que foi
imposta pela Requerida, que possui uma tabela de juros aquém das outras financiadoras.

Neste cenário, e por dois fundamentos diversos, a saber, a redução de sua


capacidade financeira e a abusividade dos valores cobrados, pretende a revisão contratual,
através da presente ação.

Os juros praticados nos contratos são exorbitantes. Nesse sentido, pergunta-se:


quem tendo o mínimo de conhecimento de juros de mercado, ou ao menos, que tais
informações lhe fossem prestadas de forma correta à cerca dos riscos desse contrato, iria
consentir, contratar?

A Requerida exorbitou o bom senso e todos os parâmetros legais para


composição do débito, utilizando taxas de juros abusivas.

Desse modo, cansado com o que vem sofrendo por essas atitudes abusivas,
tentando resolver a situação na esfera administrativa, mas sem êxito, requer proteção,
dada a sua condição de vulnerabilidade e hipossuficiência para ter suas pretensões
atendidas mediante os danos que lhe vem sendo causados.

Assim, pelos motivos expostos e ancorado na tutela jurisdicional para seu


litígio afim de ser reparada por práticas e condutas que ferem o Código de Defesa do
Consumidor, não encontrou a Requerente alternativa, a não ser o ajuizamento da presente
ação.

IV. DO MÉRITO

a) DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DA


INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Convém destacar que emerge entre as partes uma inegável relação de


consumo, aplicando-se à presente demanda o Código de Defesa do Consumidor.

Isto porque, a Requerente se enquadra perfeitamente no conceito de


consumidor e, de igual forma, a Requerida se amolda ao conceito de fornecedor, ambos
descritos nos artigos 2.º e 3.º do Código de Defesa do Consumidor.

Logo, é de rigor a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor a


demanda em tela.

Superada a aplicabilidade de tal códex à presente demanda, cumpre salientar


ainda a necessidade de inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6.º, inciso VIII,
do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

Do referido artigo, depreende-se possível a inversão do ônus de prova, ainda


mais porque a Requerente é parte hipossuficiente da relação de consumo, sendo incabível
lhe ser exigida a produção de provas negativas das quais não possui acesso.

Por oportuno, salienta-se que a necessidade da inversão do onus probandi


também encontra amparo na distribuição dinâmica do ônus da prova, disposta no artigo
373, parágrafo 1.º, do Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

[...]

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Daí que, tendo em vista a hipossuficiência probatória da Requerente, a


inversão do ônus da prova traduz-se na aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o
qual todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua
desigualdade.

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência da Requerente, vez


que disputa a lide com empresas de grande porte, é de rigor a inversão do ônus da prova,
o que se requer.

b) DA REVISÃO DO CONTRATO

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor em 1991, todas as


relações envolvendo mutuários e instituições financeiras passaram a ser passíveis de
revisão contratual. Tal possibilidade ressume-se no simples fato de haver entre as partes
uma relação de desequilíbrio, facilmente verificada no caso em tela se levarmos em
consideração o Princípio da Vulnerabilidade.

É exatamente amparada no Código de Defesa do Consumidor vigente e


aplicável aos contratos bancários que a Requerente ampara seus pedidos. Eventualmente,
apesar de ter efetuado pagamentos de juros e parcelas periodicamente, conforme lhe
exigia a instituição financeira outra opção não lhe restava, pois necessitava gozar de
crédito, aliás, crédito que na atual conjuntura social e econômica significa condição de
cidadania.

Diante da cobrança abusiva de juros, superando significativamente a Taxa


Média de Mercado, causando assim excesso de onerosidade e evidente prejuízo à
Requerente, sendo necessária a intervenção judicial para conter tais abusos, limitando os
juros a Taxa Média de mercado estipulado pelo BACEN, mantendo assim o equilíbrio
contratual e evitando o enriquecimento ilícito da Requerida.

Em consulta ao banco de dados do Banco Central do Brasil – BACEN,


podemos detectar que a taxa de juros média de mercado, vigente no mesmo período e
para a mesma forma de financiamento, do caso em análise, foi de 1,17% ao mês ou
14,96% ao ano.
Desta forma, a entidade financeira apurou o valor da parcela inicial de R$
6.101,80 (quarenta e três mil setecentos e sete reais e sessenta e uma centavos). Nesta
revisional aplicou-se o sistema de amortização das parcelas pelo método MEJS, utilizou-
se a taxa de juros média de mercado, expurgando as taxas não contratadas, apurando
assim o valor da parcela inicial de R$ 5.262,02 (cinco mil duzentos e sessenta e dois reais
e dois centavos).

Direito básico do consumidor previsto no artigo 6º, inc. III da Lei Protetiva, o
direito à informação é derivação do próprio princípio da boa-fé, princípio geral de direito
que permeia não apenas as relações de consumo, mas todo o ordenamento jurídico,
mormente depois da promulgação da Carta de Outubro bem como do vigente Diploma
Civil.

Sobre o tema leciona, com o brilhantismo que lhe é peculiar, Claudia Lima
Marques:

"Interessa destacar que o dever de informação do fornecedor rompe o


tradicional dever de informar-se (" caveat emptor ") atribuído ao
consumidor. Agora, é o fornecedor que tem a obrigação de acautelar-se ao
colocar seu produto ou serviço no mercado de consumo". (Manual de Direito
do Consumidor - 10ª Edição. por Antonio Herman V. Benjamin, Claudia
Lima Marques, e outros.

Tais práticas são consideradas abusivas perante a lei consumerista, conforme


descreve o artigo 39, I, III e IV, do Código de Defesa do Consumidor, verbis :
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos e serviços, dentre outras
práticas abusivas:

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de


outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer


produto, ou fornecer qualquer serviço;

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista


sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus
produtos ou serviços;

Além disso, é condição indispensável para a efetividade do contrato, a prévia


análise e entendimento do consumidor a respeito de seu conteúdo, sendo dever do
fornecedor o cumprimento deste preceito, a Requerente não teve contato com nenhum
instrumento contratual prévio à alegação de acordo para prestação do serviço de seguro,
por parte da Requerida.

Ainda, é absurda, abusiva e ilegal a cobrança de taxas e tarifas. Ora, as


resoluções 3518/2007 e 3919/2010 do Conselho Monetário Nacional-CMN dão conta de
que cobrar tarifa do consumidor é irregular, pois caracteriza repasse de custos
operacionais. Percebe-se do contrato que a Requerida embutiu tarifas, tais como: tarifa de
cadastro e tarifa de avaliação de veículo.

Nessa esteira, DE FORMA DEFINITIVA, O SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA - STJ, ao analisar o REsp afetado pelo artigo 543-C do Código de Processo
Civil de 1973 (recurso repetitivo) decidiu pela ILEGALIDADE DAS TARIFAS NOS
CONTRATOS CELEBRADOS APÓS 30/04/2008 (REsp n° 1.251.331/RS.

Assim ficou decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, de forma unânime:

"Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da


Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura
de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o
mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso
concreto. - 2a Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em
30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas
ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora
expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo
legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato
gerador " (grifo nosso).
Observa-se não haver nenhuma cláusula contratual que pudesse justificar seu
superfaturamento, onerando a parte autora, que hoje se encontra com dificuldades de
adimplir as parcelas extremamente abusivas, como demonstraremos ao longo do
processo.

Tal pedido funda-se no código do consumidor, que assegura em seu artigo 39,
incisos V e X, que o fornecedor o não eleve o preço de seu produto sem justa causa.

Desta forma, impõe se o reajuste do valor do bem, nos termos propostos, uma
vez que a instituição financeira não logrou êxito em demonstrar as especificidades que
levaram ao valor superfaturado do bem.

Ocorre que esses encargos e juros se mostraram abusivos, incidindo desta


maneira em uma onerosidade excessiva ao Requerente, como assim preceitua o artigo 51,
inciso IV do Código de Defesa do Consumidor que segue:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos que: (...)

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o


consumidor em desvantagem exagerada ou que sejam incompatíveis com a
boa-fé e a equidade.

Os contratos em questão são tidos como de adesão, cujas cláusulas contratuais


uniformes acontecem em razões de ordem econômica e prática, haja vista a necessidade
do emissor manter a equivalência nas relações em que é parte; como também unilaterais,
pois não podem ser discutidas.

Nesse sentido é o que dispõem os artigos 46 e 54, §4°, do Código de Defesa


do Consumidor:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os


consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de
modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.

§ 4º As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor


deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão.

Tratando-se, pois, de contrato de adesão pode o aderente questionar cláusulas


que sejam nulas ou abusivas. A revisão do contrato não fere o princípio da intangibilidade
do contrato, tendo em vista a aplicação do princípio rebus sic stantibus reservada a casos
especialíssimos, em que se procura a revisão do contrato por encargos não contratados ou
excessivos, que levem à onerosidade excessiva.

Não se pode negar que os Contratos sub judice submetem-se à disciplina do


Código de Defesa do Consumidor, na medida em que os bancos são considerados
fornecedores de serviços, nos exatos termos do artigo 3°, § 2°, da legislação
consumerista, segundo o qual: "Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito
e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista".

Aqui faz-se necessário ressaltar que a relação estabelecida entre as partes


trata-se de relação de consumo, corroborando do artigo que segue:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;

Além do mais, não é somente o Código de Defesa do Consumidor que serve


como embasamento jurídico para estes requerimentos. O Código Civil, em seus artigos
478, 479 e 480, permitem recorrer à Justiça para a redução da prestação devida ou ainda,
a resolução dos contratos, veja-se:

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação


de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem
para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis,
poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a
decretar retroagirão à data da citação.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar


eqüitativamente as condições do contrato.

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes,


poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de
executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Nota-se, portanto, que a legislação em comento previne a ocorrência de
desequilíbrios nas relações contratuais, tais como o que ocorre no caso em voga. Nesse
sentido, as Cortes Estaduais vêm se posicionando:

APELAÇÃO CÍVEL– AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – PEDIDO


REVISIONAL FORMULADO EM CONTESTAÇÃO – POSSIBILIDADE
– CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – FINANCIAMENTO DE
VEÍCULO – ABUSIVIDADE DA TAXA MÉDIA DE JUROS
REMUNERATÓRIOS – É ABUSIVA A TAXA DE JUROS
REMUNERATÓRIOS QUE ULTRAPASSE 1,5 (UMA VEZ E MEIA) DA
MÉDIA DE MERCADO, O QUE OCORRE NO CASO –
ENTENDIMENTO SEDIMENTADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – DESCONSTITUIÇÃO DA MORA – CORRETA A
IMPROCEDÊNCIA DA BUSCA E APREENSÃO – APRECIAÇÃO DO
PEDIDO DE CONVERSÃO DA CONDENAÇÃO EM PERDAS E DANOS
DEVE SER PROCEDIDA PRIMEIRAMENTE PELO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU, SOB PENA DE SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIAAPELAÇÃO DESPROVIDA (TJ-PR - APL:
00084087120178160160 Sarandi 0008408-71.2017.8.16.0160 (Acórdão),
Relator: José Augusto Gomes Aniceto, Data de Julgamento: 27/08/2021, 7ª
Câmara Cível, Data de Publicação: 01/09/2021) (grifo nosso).

As instituições financeiras não estão sob vigilância contra a prática de


percentuais de juros e cobrança de encargos que possam ser caracterizados como
abusivos, quer pela ótica do Código de Defesa do Consumidor ou do Código Civil,
diploma que, muito embora parta do pressuposto de que as relações contratuais por ele
regidas caracterizam-se, em princípio, como paritárias, nem por isso descuida de
situações atípicas que possam comprometer o equilíbrio contratual.

Portanto, considerando que o Requerente demonstrou que as taxas de juros


remuneratórios cobradas pela Requerida estão bem acima das taxas médias de mercado,
além da capitalização mensal sem a devida pactuação, o contrato firmado entre as partes
deve ser revisto.

A boa-fé objetiva é princípio geral do direito, o que caracteriza o


comportamento de confiança e lealdade entre os contratantes, bem como gerando deveres
secundários de conduta, os quais impõem às partes comportamentos necessários, ainda
que não previstos expressamente nos contratos, que devem ser obedecidos a fim de
permitir a realização das justas expectativas surgidas em razão da celebração e da
execução da avença.

Assim, existe no sistema contratual da legislação consumerista a


obrigatoriedade da adoção pelas partes de uma cláusula geral de boa-fé, que se reputa
existente em todo e qualquer contrato que verse sobre relação de consumo, mesmo que
não inserida expressamente nos instrumentos contratuais respectivos.

De modo que, as cláusulas são consideradas abusivas quando afrontam a boa-


fé objetiva, princípio que permeia todas as relações de consumo e prima pelo
comportamento leal e de confiança recíproca entre as partes contratantes.

Nesse sentido, é o que dispõe o artigo 4° do Código de Defesa do


Consumidor:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo
e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição
Federal ), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores;

Com efeito, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, além de estipular


normas para serem impostas nas relações de consumo, estabelece condições essenciais
para a sua consumação, trazendo como direito básico do consumidor, de acordo com o
artigo 6°, inciso IV, do referido Código, a proteção contra cláusulas abusivas ou impostas
no fornecimento de produtos e serviços.

Sendo assim, as cláusulas abusivas são as que caracterizam lesão enorme ou


violação ao princípio da boa-fé objetiva, funcionando estes dois princípios como
cláusulas gerais do Direito, a atingir situações não reguladas expressamente na lei ou no
contrato.

c) DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO

As taxas cobradas pela Requerida não estão em conformidades, se tornando


onerosas quanto às prestações dos juros, cabendo assim provimento a repetição de
indébito (compensação) pago a maior.
É sabido que os danos emergentes são aqueles valores que a vítima,
efetivamente e imediatamente, teve diminuído em seu patrimônio em razão do ato
cometido por outrem, alheio a sua vontade.

Segundo a lição do Jurista J.M. Carvalho Santos:

“... quer o código que o devedor inadimplente indenize o prejuízo, ou seja, a


perda certa e não eventual, ou melhor ainda, a verdadeira diminuição ou
desfalque que no seu patrimônio sofreu efetivamente o credor com o
inadimplemento da obrigação”

Importante registrar que as ilegalidades praticadas pela Requerida, somente


constatadas através do trabalho pericial acostado à presente peça, decorre do exercício
arbitrário das razões da instituição financeira que, para satisfação do seu crédito, prática
anatocismo, em prejuízo aos consumidores, com o que o Poder Judiciário não pode
concordar.

Ora, a sistemática utilizada pela instituição financeira


para amortizar o saldo devedor ao invés de diminuir o valor acaba por aumentá-lo em
patamares insustentáveis.

Constata-se, pois, da prova pré-constituída se mantido o contrato tal como


firmado, evidente será o pagamento excessivo pelo Requerente, enriquecimento indevido
da instituição financeira, em evidente afronta aos princípios da legalidade, razoabilidade,
afastando-se do almejado equilíbrio contratual.

Ou seja, verificada a cobrança de valores ilegais e/ou abusivos, faz-se


necessária a compensação dos valores pagos indevidamente. No caso em tela, o
Requerente pagou o valor de R$ 1.198,77 (um mil cento e noventa e oito reais e setenta e
sete centavos) equivalentes ao total de taxas e tarifas cobradas indevidamente, além de R$
26.245,22 (vinte e seis mil duzentos e quarenta e cinco reais e vinte e dois centavos)
relativos ao excesso em cada parcela paga.

Destarte, uma vez declarada a abusividade do contrato celebrado entre as


partes, bem como os valores pagos a maior, necessário se faz que a Requerida pague ou
compense a diferença apurada.
Tal montante DEVERÁ SER RESTIRUÍDO /COMPENSADO EM
DOBRO, na forma do artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor, e atualizados
segundo índices de correção monetária e juros legais desde a sua cobrança até o efetivo
pagamento, por se tratar de cobrança indevida.

Desse modo, tudo o que exija prestação pecuniária abusiva deve ser
combatida, para pôr termo a desproporcionalidade entre os elementos que compõe a
relação de consumo. É neste sentido que cabe amparo ao consumidor nos contratos em
que não exista informação prévia sobre o conteúdo dos cálculos dos valores cobrados
pelos créditos concedidos.

V. DA TUTELA DE URGÊNCIA

No caso em tela, a taxa de juros praticada pela Instituição Financeira no


contrato é superior à taxa média de mercado, como demonstrado na inicial, o que
evidencia a irregularidade e desproporção da relação contratual, sendo imperiosa a
alteração das cláusulas, taxas e encargos do contrato.

O artigo 300 do Código de Processo Civil de assegura que a tutela de urgência


será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No caso presente, chega a ser óbvio que está muito bem tipificada tal situação,
na medida em que se trata de cobrança abusiva contra uma pessoa que possui poucos
recursos. Assim, a prova inequívoca e a verossimilhança da alegação estão presentes nos
autos através dos documentos ora anexados, os quais demonstram claramente a cobrança
da capitalização composta de juros e dos encargos ilegais e abusivos.

A existência de ilegalidades na vigência do contrato que originou o débito da


Requerente é lastro suficiente para a descaracterização da mora debendi até julgamento
final da lide revisional, pelo que postula o afastamento da mesma.

Nesse sentido, a Requerente pretende a manutenção do contrato, nos termos


da lei, para fins de adequá-la às normas do Código de Defesa do Consumidor, lei que rege
a relação jurídica em apreço. Para tanto, pretende em caráter antecipatório, proceder ao
depósito judicial das parcelas vencidas e vincendas, calculadas na forma da lei e
conforme a planilha de cálculos apresentada na inicial.

A recusa ao pagamento dos valores exigidos contratualmente, na espécie, é


justa e urgente. Ora, as circunstâncias particularizadas do caso em apreço (cobrança
indevida de valores não contratados, além da ilegalidade e abusividade explícitas das
condições–conforme detalhado acima) evidenciam a probabilidade do direito invocado.

Ademais, não se pode negar que a cobrança das prestações na forma


promovida pela Requerida revela valores impagáveis que obstam a continuidade do
negócio jurídico e enseja absoluto desequilíbrio contratual e excessiva onerosidade para o
Requerente.

A Requerente não pleiteia pela inadimplência, apenas requer que os juros


remuneratórios sejam adequados à média do mercado financeiro, de forma que os valores
já pagos sejam descontados e o saldo devedor redistribuído dentro do número de parcelas
previstas originalmente no contrato.

Na ótica da processualística contemporânea, juízo de verossimilhança nada


mais é do que um juízo de probabilidade, pouco mais do que o óbvio, sendo que,
verossimilhança vem a ser um grau de convencimento superior à possibilidade e inferior à
probabilidade.

O fato de ter a lei vinculado o convencimento da verossimilhança da alegação


à prova inequívoca, é sinal de que a probabilidade identificada na verossimilhança não
significa, de forma alguma, um grau mínimo da provável realidade da alegação. Ao
contrário. Tem-se que na liminar, o grau de probabilidade que decorre da prova
inequívoca se não é, está muito próximo do máximo.

Dispõe o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer


ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

Estando fortemente caracterizado, não apenas o perigo de dano ao Requerente,


mas verdadeiramente o dano que está sofrendo pela privação indevida, presentes estão os
requisitos autorizadores da concessão de tutela de urgência, inaudita altera pars, para que
possa realizar o depósito das parcelas incontroversas, no valor de R$ 5.670,21 (cinco mil
seiscentos e setenta reais e vinte e um centavos).

VI. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante de todo o exposto, requer-se:

a) A concessão do benefício da Justiça Gratuita, nos termos dos artigos 5.º,


inciso LXXIV, da Constituição Federal e 98 do Código de Processo Civil;

b) Seja citada a Requerida para se manifestar na presente demanda no prazo


legal, sob pena de revelia e confissão, sem interesse em conciliação;

c) A concessão de tutela antecipada para que se autorize o depósito das


parcelas incontroversas, a partir da 24ª, no montante total de R$ 5.670,21 (cinco mil
seiscentos e setenta reais e vinte e um centavos), afastando-se a mora;

d) A inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º, inciso VIII, do


Código de Defesa do Consumidor;

e) Sejam julgados PROCEDENTES os pedidos para: A) declarar a nulidade


das cláusulas abusivas, afastando-se a cobrança de tarifas e encargos ilegais; B) condenar
a Requerida, objetivamente, a pagar/compensar ao Requerente a quantia dos valores
pagos indevidamente, a título de repetição do indébito e em dobro.

f) Condenar a Requerida ao pagamento das custas e honorários advocatícios,


nos termos do artigo 85, parágrafos 1.º e 2.º, do Código de Processo Civil.

g) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas


e cabíveis à espécie, especialmente pelos documentos acostados, com inversão do ônus da
prova, assim como prova documental suplementar, testemunhal, pericial, bem como as
demais que se fizerem necessárias, nos termos do artigo 369 do Código de Processo Civil.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 194.977,31 (cento e noventa e quatro mil


novecentos e setenta e sete reais e trinta e um centavos).

Termos em que pede deferimento.

São José/SC, 28 de março de 2024.

Renan Curcio
OAB/SC 42.497

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