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EXMO. SR. DR.

JUIZ (A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DE CONSUMO DO SISTEMA DE


JUIZADOS ESPECIAIS DA COMARCA DE SALVADOR – BAHIA.

BRUNA DE PAIVA SANTOS, brasileira, casada, engenheira civil, RG n.º 14.386.106-


96, CPF n.º 029.598.255-19, residente e domiciliada à Rua Nossa Senhora do Resgate, 405,
Bloco 06, Ap 101, bairro Resgate, Salvador/Ba, CEP 41152-000 e GABRIELA SANTOS VILAS
BOAS, brasileira, solteira, advogada, RG nº 14.516.289-35, CPF nº 052.921.795-31, domiciliada
na Avenida Tancredo Neves, 2915, bairro Caminho das Árvores, Edf. CEO Salvador Shopping,
16º andar, Salvador/Bahia, CEP 41.820-020, ambas, por sua advogada que esta subscreve, vêm
à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 319 do CPC e na Lei 9.099/95,
propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de AREMBEPE BEACH HOTEL, pessoa jurídica de direito privado,


devidamente inscrita no CNPJ sob número 11.119.694/0001-05, com sede na Praia do Piruí,
Loteamento 10, Rua Arembepe – CEP 42.829-742 - Arembepe, Camaçari-BA, com endereço
eletrônico hotelarembepe@gmail.com, e telefone para contato: (71) 3125-1481, pelas razões de
fato e de direito a seguir expostas.

A autora Gabriela Santos Vilas Boas está atuando em causa própria, nos termos do
art. 103, parágrafo único do CPC, razão pela qual dispensa-se a apresentação de procuração.

1. PRELIMINARMENTE

Da Gratuidade da Justiça

Por cautela, pede, desde já, lhes sejam deferidas a gratuidade da justiça, com fulcro no
art. 4º da Lei 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, com a redação que lhe foi inserida pela Lei
7.115, de 29/8/83, tendo em vista que não se acham em condições de pagar as custas
processuais e os honorários advocatícios, sem prejuízo próprios e o de suas famílias.

2. DOS FATOS

As Autoras, acompanhadas da menor, Islaila Melo, atraídas pelas belas fotos de


divulgação no site da Ré, em 27/01/2022 se hospedaram no referido estabelecimento, afim de
comemorar o aniversário da Autora Gabriela (28/01), com saída prevista para o dia 30/01/2022.
Pagaram o valor de R$890,00 (oitocentos e noventa reais), comprovante anexo.
Ao adentrarem no quarto, primeiramente foram surpreendidas com o vaso sanitário
sujo com uma substância de cor preta, aparentando ser fezes de inseto. Logo após isso, se
assustaram com a infeliz presença de duas baratas no chão. Como estavam ávidas e animadas
para iniciarem a comemoração do aniversário de Gabriela, mataram àqueles dois insetos com
chinelo e desceram para a piscina e restaurante, acreditando que aquele seria um problema
casual e não interferiria na estadia das Autoras.

Com efeito, após algumas horas fora do quarto, quando regressam para descansar, as
Autoras foram novamente surpreendidas com MAIS BARATAS! Desta vez, em cima da cama,
entrando na mala da segunda autora, atrás da porta do banheiro e outras saindo de trás
do espelho do banheiro! Uma verdadeira cena de horror! Prova-se com as fotos a seguir:
Diante da infestação de insetos, as Autoras dirigiram-se a recepção do hotel afim de
pedir providências. Ao passo em que foram atendidas pelo funcionário de nome DIEGO que as
alocaram em um novo quarto no mesmo andar.
Entretanto, o pesadelo não tinha terminado. Quando as Autoras já estavam
acomodadas em suas camas, foram surpreendidas com MAIS BARATAS! Desta vez,
passeando pela poltrona do segundo quarto que tinham acabado de se acomodar. Senão
vejamos:
E o infortúnio não parou por aí. Ao romperem o lacre das mantas oferecidas pelo hotel,
estas estavam exalando um cheiro fétido, como se tivesse sido acondicionada sujas, usadas!
O banheiro estava imundo, colecionando limo na parte do banho, além de fluidos nas
paredes, conforme prova a seguir:

A higiene do quarto era precária. A àquela hora, em todo canto poderia se perceber
fezes de inseto espalhadas pela suíte:
O chuveiro não dispunha de água aquecida pois o mesmo encontrava-se quebrado. As
autoras foram obrigadas a tomar banho frio. O ar condicionado fazia barulho e pingava água
diuturnamente, sendo o problema “resolvível” com um balde na sacada da varanda afim de
recolher a água que caía:

A iluminação era decadente, fazendo com que as Autoras fossem obrigadas a


utilizarem as lanternas dos seus celulares para enxergarem melhor alguns de seus pertences.

Além disso, os móveis de madeira que guarneciam as suítes eram velhos e infestados
de cupins, o que justificava tantas fezes (bolinhas marrons) espalhadas pelo roupeiro e chão do
quarto.
Importante salientar que todo esse imbróglio se passou durante a madrugada de 27
para 28 de janeiro, já sendo então o aniversário da segunda Autora, Gabriela.
Já se passava das 1:30 da madrugada quando as Autoras novamente reclamaram com
DIOGO sobre a situação caótica que se encontrava o segundo quarto, ao passo em que foi
oferecido o terceiro quarto. Dessa vez, em andar superior ao que as Autoras se encontravam.
Entretanto, seria impossível se alocar na terceira suíte. Isso porque as paredes
estavam TOMADAS DE MOFO, sendo inconcebível que as Autoras se acomodassem naquele
ambiente que exalava um péssimo mau cheiro.
Indignadas com a situação que estavam sendo expostas naquele
estabelecimento, as três mulheres saíram pelas ruas de Arembepe, às 01:40 da
madrugada em busca de um lugar digno para repousar.
Até tentaram contato com a pousada vizinha, mas foram muito maltratadas pelo dono
que se recusou a recebê-las alegando que “aquilo não era horário de procurar pousada” e que
ele “estava dormindo” – vídeo anexo.

Desapontadas, regressaram para o estabelecimento da Ré e decidiram passar o resto


de noite ali por questão de segurança. Foram no carro da segunda Autora, pegaram lençóis
limpos que a mesma havia levado por precaução, e retornaram ao quarto infestado de baratas.
Entretanto, a madrugada foi de insônia e desespero.

Importante salientar que tudo foi registrado e está disponibilizado anexo (vídeos e
fotos), como prova do alegado.
As autoras não conheciam a localidade e toda a programação do aniversário de
Gabriela teria que ser desfeita, haja vista que as Autoras deveriam dedicar a manhã do dia 28 de
janeiro para procurar um novo local para se hospedar, tomar café da manhã, etc. E assim foi
feito.
Na manhã do dia 28, as Autoras dirigiram-se a recepção do hotel e solicitaram o
estorno do valor pago pelas diárias. Entretanto, foram informadas que o estorno imediato não
seria possível pois não tinha sido realizado no mesmo dia do pagamento.
Após a contestação de que não teriam limite suficiente no cartão de crédito para uma
hospedagem de 3 diárias em outro local e que possivelmente teriam que regressar para casa
caso o estorno não fosse realizado, o gerente do estabelecimento de nome ALMIR efetuou a
devolução do valor pago R$890,00 (oitocentos e noventa reais) em forma de pix para a segunda
Autora.
Entretanto, a simples devolução do valor não apaga da memória todo o transtorno e
sofrimento que as Autoras suportaram.
Por tudo isso, pedem auxílio a este M.M. juízo.

3. DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define, de forma cristalina,
que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das condutas abusivas de todo e
qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do referido Código. No presente caso, tem-se de
forma nítida a relação consumerista caracterizada, conforme redação do Código de defesa do
Consumidor:
Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Assim, uma vez reconhecido as Autoras como destinatárias final dos serviços
contratados, e demonstrada sua hipossuficiência técnica, tem-se configurada uma relação de
consumo, conforme entendimento doutrinário sobre o tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor deve ser


interpretado a partir de dois elementos: a) a aplicação do
princípio da vulnerabilidade e b) a destinação econômica não
profissional do produto ou do serviço. Ou seja, em linha de
princípio e tendo em vista a teleologia da legislação protetiva
deve-se identificar o consumidor como o destinatário final fático
e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM, Bruno. Curso
de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT, 2016. Versão
ebook. pg. 16)

Com esse postulado, a Ré não pode eximir-se das responsabilidades inerentes à sua
atividade, visto que se trata de um fornecedor de serviços que, independentemente de culpa,
causou danos efetivos a três de seus consumidores.

4. DO DIREITO

O Código de Defesa do Consumidor prevê expressamente a responsabilidade do


fornecedor pela falha do serviço independentemente de culpa, in verbis:

“Art.14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.”

Ao escolher uma hospedagem para uma viagem, o consumidor busca acima de tudo
tranquilidade e descanso para o período fora de sua casa, diferente do que foi ofertado,
causando sérios transtornos que desbordam do mero aborrecimento.
Portanto, diante do nexo entre uma falha no serviço e o dano evidenciado, não há que
se falar em isenção de responsabilidade por parte da ré, considerando a teoria do risco do
empreendimento.
5. DA FALHA DO SERVIÇO

Ao expor as consumidoras ao vexame de dormirem entre baratas e cupins, além de


uma higiene decadente, tem-se configurada a falha do serviço. No presente caso, o fato do Réu
deixar de disponibilizar minimamente um ambiente limpo, dedetizado e confortável para as
consumidoras, corresponde a conduta abusiva, causando grave constrangimento e humilhação
desmedida. Evidentemente que as várias trocas de quarto, o transtorno de ter que lidar com
baratas em cima da cama, dos pertences e em toda a suíte, a podridão do banheiro, a noite que
passaram em claro preocupadas com o aparecimento de mais baratas, roupas de cama sujas,
além, é claro, da tristeza de não poder iniciar o aniversário de uma das Autoras de forma feliz e
despreocupada como seria o planejado, causaram grave abalo emocional. Portanto, tratando-se
de nítida falha do serviço, a indenização é devida, conforme precedentes sobre o tema:

AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E


MORAIS AUTOR QUE CONTRATA PACOTE DE VIAGEM COM
A TAM, PARA SE HOSPEDAR EM HOTEL EM FORTALEZA
HOTEL QUE SE APRESENTA SUJO E SEM CONDIÇÕES DE
HABITABILIDADE AUTOR QUE É ACUSADO, PELO HOTEL,
DE FURTAR ALGUNS OBJETOS AUSÊNCIA DE PROVA,
PELO HOTEL, A ESSE RESPEITO CABIMENTO DA
DEVOLUÇÃO DO VALOR PAGO DANOS MORAIS QUE
DEVEM SER INDENIZADOS, MAS NO VALOR DE R$
15.000,00 SENTENÇA ALTERADA EM PARTE. Recurso
parcialmente provido. (Classe: Apelação, Número do Processo:
1010382-66.2016.8.26.0554, Relator: Jayme Queiroz Lopes.

6. DA PROPAGANDA ENGANOSA

Como visto, a comemoração das autoras pelo aniversário de uma delas, com a viagem
entre amigas, foi absolutamente frustrada de forma absolutamente indevida, haja vista
hospedagem em Hotel inadequado para tanto. Conforme documento extraído do website
“hotéis.com” (https://www.hoteis.com/ho1441818528/?q-rooms=1&q-room-0-adults=2&q-room-0-
children=0 – acessado em 02/02/2022, às 23:40), documentos anexo, este afirma que
“...medidas reforçadas de limpeza e segurança estão sendo aplicadas. O estabelecimento é
higienizado com desinfetante. O estabelecimento confirma que tem medidas aprimoradas de
limpeza em vigor. Os hóspedes recebem desinfetante para as mãos grátis.” No entanto, nada
disso ocorreu, sendo a mais absoluta e inegável PROPAGANDA ENGANOSA.

Cumpre salientar, Excelência, que após todo esse desastroso episódio, as Autoras
visitaram sites de intermediação de compra de hospedagem, à título de curiosidade, e ficaram
estarrecidas com as avaliações dos hóspedes sobre o OYO AREMBEPE BEACH HOTEL.
Muitos relataram a mesma insatisfação: quartos imundos e infestados de insetos! Senão,
vejamos:
Disponível em https://www.tripadvisor.com.br/Hotel_Review-g1949173-d1758116-
Reviews-OYO_Arembepe_Beach_Hotel-Arembepe_State_of_Bahia.html#REVIEWS - acessado
em 03/02/2022 às 11:20.

O CDC em seu artigo 6º elenca os direitos básicos do consumidor, rol este


exemplificativo e não taxativo, a saber: proteção da vida, saúde e segurança; educação para o
consumo; liberdade de escolha de produtos e serviços; informação; proteção contra publicidade
enganosa e abusiva; proteção contratual; indenização; acesso à justiça; facilitação de defesa de
seus direitos e prestação adequada e eficaz dos serviços públicos.
Várias pessoas conceituam a publicidade.
Para Armando Sant’Anna: "Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa
a qualidade do que é público"; já para o Aurélio: "Publicidade é a arte de exercer uma ação
psicológica sobre o público com fins comerciais ou políticos";
No entender de José Siqueira: "A publicidade é definida como a arte de despertar no
consumidor o desejo de compra, levando-o à ação. A Publicidade é um conjunto de técnicas de
ação coletiva, utilizadas no sentido de promover o lucro de uma atividade comercial,
conquistando, aumentando ou mantendo clientes".
Antônio Hermande Vasconcelos e Benjamin anota:
"A publicidade tem um objetivo comercial (...) enquanto que a
propaganda visa a um fim ideológico, religioso, filosófico,
político, econômico ou social (...). A diferença essencial entre a
publicidade e a propaganda baseia-se no fato de que a primeira
faz-se com a intenção de alcançar lucro, enquanto que a
segunda exclui quase sempre a idéia de benefício econômico".

Adalberto Pasqualotto leciona: "Toda comunicação de entidades públicas ou privadas,


inclusive as não personalizadas, feita através de qualquer meio, destinada a influenciar o público
em favor, direta ou indiretamente, de produtos ou serviços, com ou sem finalidade lucrativa".

No parágrafo 1º do artigo 37 do CDC o legislador deu o conceito de publicidade


enganosa. É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitária, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão,
capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
O parágrafo primeiro do artigo 37, o CDC reconhece o direito do consumidor de não
ser enganado por qualquer informação inteira ou parcialmente falsa ou fraudulenta, capaz de,
por ação ou omissão, induzi-lo em erro a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
Este dispositivo exige a veracidade da informação, de modo a que o consumidor possa
fazer a sua escolha livre e consciente. A publicidade será enganosa não só pela fraude ou
falsidade nela contida, mas também por qualquer meio que seja potencialmente capaz de levar o
consumidor a erro. Significa que não é forçoso que ele tenha sido enganado. A “enganosidade” é
aferida em abstrato, não se exigindo o prejuízo individual. O que se busca é a capacidade de
indução ao erro. A simples utilização da publicidade enganosa presume, "juri et de jure", o
prejuízo difuso.
O erro real consumado é um mero exaurimento que é irrelevante para a caracterização
da “enganosidade”. Assim, a publicidade que desrespeita a imposição legal de correção e for
enganosa, fere o interesse de toda a coletividade de pessoas a ela expostas, determináveis ou
não, e que são equiparadas ao conceito de consumidor nos termos do Art. 29 do CDC. Nesses
termos, requer a condenação da parte requerida numa indenização por danos morais tendo em
vista a fraude à legislação consumerista advinda da propaganda enganosa a ser arbitrada
judicialmente.

7. DO DANO MORAL

Como visto, a comemoração das autoras pelo aniversário de uma delas, com a viagem
entre amigas, foi absolutamente frustrada de forma absolutamente indevida, haja vista
hospedagem em Hotel inadequado para tanto. A olhos vistos, a parte demandada faltou com
vários deveres contratuais previstos na legislação vigente, regras essas que vão muito além dos
deveres de lealdade, boa-fé e respeitabilidade, na linguagem dos artigos 421, 422 e seguintes do
Código Civil, gerando consequências desastrosas às autoras, vedadas pelo artigo 186 e 927 do
Código Civil, que preceituam:

“ART. 186, CC: AQUELE QUE, POR AÇÃO OU OMISSÃO


VOLUNTÁRIA, NEGLIGÊNCIA OU IMPRUDÊNCIA, VIOLAR
DIREITO E CAUSAR DANO A OUTREM, AINDA QUE
EXCLUSIVAMENTE MORAL, COMETE ATO ILÍCITO”.

Art. 927, CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causa
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais
e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em
razão dele;

Art. 933. “AS PESSOAS INDICADAS NOS INCISOS I A V DO


ARTIGO ANTECEDENTE, AINDA QUE NÃO HAJA CULPA DE
SUA PARTE, RESPONDERÃO PELOS ATOS PRATICADOS
PELOS TERCEIROS ALI REFERIDOS”.

Nesse sentido é a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves, para quem:

“Dano emergente é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial


sofrida pela vítima. É, por exemplo, o que o dono do veículo
danificado por outrem desembolsa para consertá-lo.
Representa, pois, a diferença entre o patrimônio que a vítima
tinha antes do ato ilícito e o que passou a ter depois. Lucro
cessante é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de
um ganho esperado. Assim, se um ônibus é abalroado
culposamente, deve o causador do dano pagar todos os
prejuízos efetivamente sofridos, incluindo-se as despesas com
os reparos do veículo (dano emergente), bem como o que a
empresa deixou de ganhar no período em que o veículo ficou na
oficina. Apura-se, pericialmente, o lucro que a empresa
normalmente auferia por dia e chega-se ao quantum que ela
deixou de lucrar. Se se trata, por exemplo, de vítima que foi
atropelada, ou acidentada de alguma outra forma, a indenização
deve abranger as despesas médicas e hospitalares, bem como
os dias de serviço perdidos. Em casos de inabilidade
profissional, de imperícia (cabeleireiros, cirurgiões plásticos,
médicos), a indenização deve cobrir os prejuízos efetivamente
sofridos e as despesas de tratamento com outro profissional,
para reparação do erro cometido”. (Responsabilidade Civil. São
Paulo: Saraiva, 2003, pp. 629-630)
E adiciona:
“O dano moral não é a dor, a angústia, o desgosto, a aflição
espiritual, a humilhação, o complexo que sofre a vítima do
evento danoso, pois esses estados de espírito constituem o
conteúdo, ou melhor, a consequência do dano. A dor que
experimentam os pais pela morte violenta do filho, o
padecimento ou complexo de quem suporta um dano estético, a
humilhação de quem foi publicamente injuriado são estados de
espírito contingentes e variáveis em cada caso, pois cada
pessoa sente a seu modo. O direito não repara qualquer
padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que forem
decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a
vítima teria interesse reconhecido juridicamente”. (Ob. cit., p.
373).

Nesse sentido é bom ressaltar que nesse caso o dano moral é presumido, pois decorre
simplesmente do ato ilícito perpetrado pela ré. Segundo a doutrina e a jurisprudência, pode-se
dizer que o mesmo ocorre in re ipsa, ou seja, independente da demonstração da existência do
abalo moral ou à personalidade do ofendido.
Com efeito, os princípios socializantes traçados pelo Direito Contratual moderno, a
exemplo da função social, da equivalência material e da boa-fé objetiva, são, com efeito,
inerentes a todo e qualquer contrato, porquanto concebidos por lei como norteadores axiológicos
da liberdade de contratar.
Assim é inquestionável que a violação de direitos individuais ligados à honra e
imagem da pessoa enseja a indenização por dano moral com amparo no artigo 5º, incisos
V e X, da Constituição Federal, pelo que requer a condenação da ré em, no mínimo 20
(vinte salários mínimos vigentes no país, que hoje equivalem à R$ 24.240,00 (vinte e
quatro mil duzentos e quarenta reais) ,a título de danos morais, considerando o caráter
pedagógico e dissuasório da medida, a gravidade da conduta, a capacidade econômica da
empresa e as condições pessoais das autoras.
Mas não é só.
Certo é que as férias entre amigas deveriam ser perfeitas, sendo que foram opostas à
isso. É certo dizer que, todo o acontecido não pode ser considerado mero dissabor, haja vista
que são verdadeiros os sofrimentos e constrangimentos ocasionados, pois, a comemoração do
aniversário de uma das autoras acabou sendo frustrada por atos da requerida. Assim, pela
posição que as três consumidoras foram colocadas pela requerida, e pelo fato das autoras terem
passado por todos os problemas, tendo permanecido expostas à todos os atos vexatórios
praticados pela requerida, requer a condenação da ré em, no mínimo 20 (vinte salários mínimos
vigentes no país, que hoje equivalem à R$ 24.240,00 (vinte e quatro mil duzentos e quarenta
reais), a título de danos morais.

8. TEORIA DO DESVIO DOS RECURSOS PRODUTIVOS DO CONSUMIDOR

A teoria do desvio dos recursos produtivos do consumidor deixa claro que as


consumidoras, por ficarem absolutamente vulneráveis e tendo em vista as práticas abusivas por
parte da ré, sofreu com a PERDA DE SEU TEMPO PRODUTIVO, ou seja, o tempo que as
mesmas teriam para outras atividades – como anteriormente planejado: tomar café da manhã e
iniciar os festejos de aniversário da segunda autora - não foi utilizado para o seu devido fim, por
um problema ocasionado NÃO por sua culpa, mas por culpa da acionada.

A responsabilidade é objetiva nas relações de consumo, sendo assim, não é


necessário a demonstração de culpa.

A doutrina e jurisprudência já entende pela aplicação da teoria, uma vez que o tempo
produtivo do consumidor não pode ser retirado por um problema causado pela empresa ré. A
empresa deve ser punida por este fato. Mesmo entendendo que não há, no Brasil o dano
punitivo (punitive damage), o entendimento é que o dano moral, através da aplicação do desvio
produtivo – referente, também ao dano existencial – seja aplicado.

“Neste sentido, o advogado Marcos Dessaune desenvolveu a tese do desvio produtivo


do consumidor, que se evidencia quando o consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento (lato sensu), precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências - de
uma atividade necessária ou por ele preferida - para tentar resolver um problema criado pelo
fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável. Em outra
perspectiva, o desvio produtivo evidencia-se quando o fornecedor, ao descumprir sua missão e
praticar ato ilícito, independentemente de culpa, impõe ao consumidor um relevante ônus
produtivo indesejado pelo último ou, em outras palavras, onera indevidamente os recursos
produtivos dele (consumidor). (...) Considerando não ter havido abalos maiores nos direitos de
personalidade da autora, fixo a indenização por dano moral em R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
quantia que atende aos princípios norteadores da reparação por dano moral, com juros de mora
a partir da citação e correção monetária a partir do arbitramento, conforme Súmula 362 do
Superior Tribunal de Justiça. Condeno a ré ainda, ao pagamento de custas e honorários, que fixo
em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação.” (2216384-69.2011.8.19.0021)

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DA BAHIA Quarta Câmara Cível Processo: APELAÇÃO
(CÍVEL) n. 8000204-31.2020.8.05.0182 Órgão Julgador: Quarta
Câmara Cível APELANTE: POLIMPORT - COMERCIO E
EXPORTACAO LTDA Advogado(s): MARCELO NEUMANN
MOREIRAS PESSOA, PATRICIA SHIMA APELADO:
FERNANDA HASTENREITER MENDES Advogado(s):LUCIANA
HASTENREITER MENDES ROCHA ACORDÃO APELAÇÃO
CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
PRETENSÃO AUTORAL. CONDENAÇÃO EM INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS NO VALOR DE R$12.000,00 (DOZE
MIL REAIS). PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE INTERESSE DE
AGIR REJEITADA. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA
JURISDIÇÃO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA.
PROVA DA RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS PARTES. VÍCIO
DO PRODUTO. MAU FUNCIONAMENTO DE ESCOVA DE
CABELO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. ÔNUS DO
FORNECEDOR A COMPROVAÇÃO DA AUSÊNCIA DE
COMPARECIMENTO DO CONSUMIDOR AO SEU
ESTABELECIMENTO E DA INEXISTÊNCIA DO VÍCIO. NÃO
COMPROVAÇÃO. COLETA DO PRODUTO PELO
FORNECEDOR. OPORTUNIZAÇÃO DE MANIFESTAÇÃO
SOBRE INTERESSE DE PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS.
PEDIDO DO RECORRENTE DE JULGAMENTO ANTECIPADO
DA LIDE. VÍCIO QUE NÃO FOI AFASTADO. DANO MORAL.
OCORRÊNCIA. TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO DO
CONSUMIDOR. TEMPO GASTO PARA SOLUCIONAR
PROBLEMA QUE NÃO DEU CAUSA. EXPECTATIVA
FRUSTRADA. GRAVE PERTURBAÇÃO ANÍMICA. NATUREZA
DÚPLICE DA CONDENAÇÃO. TERATOLOGIA. OCORRÊNCIA.
REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. EXCESSIVIDADE DO VALOR
ARBITRADO. ATENDIMENTO AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. MINORAÇÃO
PARA R$8.000,00 (OITO MIL REAIS). PRECEDENTES DO
STJ. PERCENTUAL DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.
REDUÇÃO PARA 15% (QUINZE POR CENTO). BAIXA
COMPLEXIDADE DA CAUSA. JULGAMENTO ANTECIPADO
DA LIDE. PRELIMINARES REJEITADAS. RECURSO PROVIDO
PARCIALMENTE. Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação Cível nº 8000204-31.2020.8.05.0182, em que é
apelante a POLIMPORT - COMERCIO E EXPORTACAO LTDA
e apelada FERNANDA HASTENREITER MENDES, ACORDAM
os Desembargadores integrantes da Turma Julgadora da Quarta
Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia, à unanimidade,
nos termos do voto da Eminente Desembargadora Relatora, em
REJEITAR as preliminares de ausência de interesse de agir e
de ilegitimidade passiva e, no mérito, DAR PROVIMENTO
PARCIAL AO APELO. Sala das Sessões, de 2021. Desa.
Presidente Desa. Cynthia Maria Pina Resende Relatora
Procurador(a) de Justiça

(Classe: Apelação, Número do Processo: 8000204-


31.2020.8.05.0182, Relator(a): CYNTHIA MARIA PINA
RESENDE, Publicado em: 24/02/2021 )

5ª Decisão encontrada na pesquisa de um total de 81. 0040906-


62.2012.8.19.0210 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des (a). DENISE
LEVY TREDLER - Julgamento: 30/10/2018 - VIGÉSIMA
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS Controvérsia recursal relativa a ter restado
caracterizado o dano moral e o correspondente direito do autor à
indenização compensatória. Caracterizados os requisitos
necessários à configuração da responsabilidade civil da ré, vez
que inegável o abalo psicológico ocasionado ao autor, haja vista
que possuía produtos artesanais anunciados na internet e
quando os interessados de várias localidades do país ligavam
para fazer pedidos, recebiam a informação de que a linha não
mais existia, o que lhe causava constrangimentos. Assim, deve
a ré ser condenada a compensar-lhe o desgaste físico
decorrente dos transtornos ocasionados, haja vista que o
consumidor ficou sem o seu número de telefone fixo, após
adesão ao plano de telefonia, em razão de falha na prestação
do serviço, causando angústia, frustração e mal-estar ao
demandante, um senhor de 70 anos de idade, que em muito
extrapolam o simples aborrecimento cotidiano. Teoria do desvio
produtivo do consumidor, segundo a qual o fato de o consumidor
ser exposto a perda de tempo na tentativa de solucionar
amigavelmente um problema causado pelo fornecedor do
serviço, e apenas posteriormente descobrir que só obterá uma
solução pela via judicial, é gerador da obrigação de indenizar.
Esta independe de prova relativa ao prejuízo material, vez que
se trata de dano in re ipsa, consoante o disposto nos artigos 186
e 927, do Código Civil, c/c o inciso X, do artigo 5º, da
Constituição Federal. Verba compensatória dos danos morais
arbitrada em R$ 10.000,00 (dez mil reais). Fixação dos
honorários recursais. Inteligência do § 11, do art. 85, do CPC.
Recurso a que se dá provimento. Ementário: 00/0 - N. 0 -
31/12/0

Conforme exposto acima, a teoria do desvio produtivo vem sendo aplicada de forma
ampla no judiciário. O entendimento encontra-se base no fato, como salientado na explicação
anterior a jurisprudência, na perda do tempo útil do consumidor para dirimir problemas causados
pela fornecedora de produto ou serviço.

9. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Nos termos do artigo 334 do CPC, requerem as autoras que seja determinada
audiência de conciliação.

“Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais


e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz
designará audiência de conciliação ou de mediação com
antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o
réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência”

10. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requerem:

a - Citação da ré no endereço acima informado, sob pena de revelia (art. 344, do


NCPC);

b - Gratuidade de justiça, com fulcro no art. 98, do CPC;

c - Reconhecimento da relação de consumo, com base nos arts. 2º, 3º, e 14º, da lei
8.078 de 1990 e sendo aplicado a responsabilidade objetiva da ré;

d – Condenação da ré em danos morais em razão de toda humilhação, dissabor e


constrangimentos sofridos pelas consumidoras, além da propaganda enganosa e da teoria do
desvio produtivo do consumidor, no valor mínimo de 20 (vinte) salários mínimos, hoje
equivalente à R$ 24.240,00, na forma da causa de pedir;

e - Condenar a parte requerida em juros, correção monetária desde o fato gerador


entabulado pela lei, custas, honorários de sucumbência e demais despesas processuais, na
forma da Lei.
Utilizar-se-ão como provas, testemunhal, documentos, e-mails, vídeos e fotos, bem
como outras que por ventura venham a ser produzidas posteriormente, conforme preconiza o art.
32, da lei 9.099/95.

Atribui à causa o valor de R$ 24.240,00.

Termos em que, muito respeitosamente, aguarda deferimento.

Salvador – Bahia, 03 de fevereiro de 2022.

Gabriela Santos Vilas Boas


OAB/BA 62.526
(assinado eletronicamente)

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