EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ª VARA DO
TRABALHO BELO HORIZONTE/MG
URGENTE
MARILENE NASCIMENTO, brasileira, idosa, inscrita no CPF sob o n° 931.889.945-
91, portadora do RG de nº SP. 52.656.077, residente e domiciliada na Rua Bitenil M. Carmona, n° 48, Bairro Posto da Mata, Henrique Brito, Nova Viçosa/BA, CEP 45.928- 000;
MARILDA NASCIMENTO, brasileira, inscrita no CPF sob o n° 914.529.885-87,
portadora do RG de nº BA - 08.024.627-31, residente e domiciliada na Rua Nova, n° 56, Nova Viçosa/BA, CEP 45.290-000;
MARLETE NASCIMENTO RODRIGUES, brasileira, inscrita no CPF sob o n°
012.328.995-50, portadora do RG de nº BA 12.748.064-10, residente e domiciliada na Rua Bom Jesus, n° 96, Bairro Centro, Sooretama/ES, CEP 29.927-000;
MERIVALDO NASCIMENTO, brasileiro, inscrito no CPF sob o n° 017.103.147-45,
portador do RG de nº BA 21.693.306-40, residente e domiciliado na Alameda Augusto Wernek, n° 88, Bairro Helvécia, Nova Viçosa/BA, CEP 45.923-000;
MARINALDO NASCIMENTO, brasileiro, inscrito no CPF sob o n° 457.895.505-25,
portador do RG de nº BA 05.630.135-91, residente e domiciliado na Rua Imperatriz, n° 75, Bairro Itaban, Muruci /BA, CEP 45.936-000;
08.190.650-13, brasileiro, inscrito no CPF sob o n° 946.610.305-91, portador do RG de
nº BA 08.190.650-13, residente e domiciliado na Rua Nova, n° 56, Nova Viçosa/BA, CEP 45.290-000; vem através de seu procurador, abaixo-assinado, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ajuizar apresente: RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em face de 99 TECNOLOGIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n° 18.033.552/0001-61, com sede na Rua Sansão Alves dos Santos, n° 400, Andares 3,4,5,6 e 7, Bairro Cidade Monções, São Paulo/SP, CEP 04.571-090, pelos motivos fáticos e de direito a seguir expostos.
DOS FATOS E DO DIREITO
A requerente era irmã da Sra. MARGARETE NASCIMENTO, falecida durante horário de trabalho em benefício da reclamada. A “de cujus” havia perdido o trabalho de cozinheira há cerca de três meses e, desde então, passou a alugar um automóvel, FIAT Uno, ano 2012, para trabalhar como motorista de aplicativo da plataforma digital da requerida, vez que, sozinha, ela era a provedora da família, composta por duas filhas e três netas. Sra. Margarete costumava sair para o labor às 08:00 horas, voltava em casa para almoçar às 13:00 e encerrava o dia às 22:00 horas, auferindo, em média, uma renda de R$3.000,00 (três mil reais) a R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). Ocorre que, no dia 10/10/2021, a “de cujus”, após almoçar com toda família, saiu para trabalhar e não retornou mais. Dessa forma, diante desse cenário incomum, no dia seguinte, a requerente e a filha da Sra. Margarete tentaram entrar em contato com ela por telefone, mas não conseguiram. Ato contínuo, Jaciara, a outra filha da “de cujus”, entrou em contato com a proprietária do veículo para tentar localizá-lo. O GPS do automóvel indicou que ele estava parado no bairro Vale do Jatobá, região do Barreiro em Belo Horizonte, mas a trabalhadora não foi encontrada nele. Havia sangue no carro e a carteira estava sem dinheiro e sem um cartão. Assim, em nova consulta realizada pelo GPS verificou-se que o veículo ficou parado por cerca de vinte minutos na Serra do Rola Moça, em Ibirité, e, em buscas pelo local, o corpo foi encontrado sem vida com uma lesão na cabeça. A notícia da morte de Margarete fez com que a autora ficasse desesperada, muito triste, com profundo sentimento de vazio e perda, pois a autora perdeu sua IRMÃ, sua parceira de vida, sua melhor amiga, aquela com quem poderia contar em todos os momentos da vida, fossem eles bons ou ruins. Perdeu uma mulher bondosa, amorosa, responsável, e que não tinha desavenças com ninguém. A autora ainda sofre, ao ver o sofrimento de suas sobrinhas, e sobrinhas-netas, pela perda da Sra. Margarete. Foi verificado que o desaparecimento e consequente morte da “de cujus” ocorreu após ela aceitar o primeiro passageiro pelo aplicativo da requerida no Via Shopping, na região do Barreiro. Ora, Excelência! A autora, em razão do ato ilícito da reclamada, teve o laço afetivo com sua irmã rompido de forma abrupta e prematura, pelo que perdeu a chance de conviver e de compartilhar de mais momentos em família com a Sra. Margarete, o que representa imensurável e irreparável prejuízo. Após a tragédia, a requerente vive um verdadeiro sentimento de desespero e sofrimento, chora muito e sente um vazio no coração, vez que perdeu uma pessoa insubstituível e que desde a tragédia, sobrou apenas sentimento de dor, tristeza, vazio, revolta e indignação em razão da conduta da requerida, não tendo restado à autora alternativa senão tentar dar continuidade a sua própria vida sem o amor, o carinho e a companhia de sua irmã. Assim, resta inequivocamente demonstrado o dano experimentado pela requerente, em decorrência da conduta ilícita da reclamada.
2 DO ACIDENTE DE TRABALHO
A legislação brasileira considera acidente de trabalho os eventos ocorridos pelo
exercício do labor, que causem lesão corporal ou perturbação funcional, morte e perda ou redução da capacidade para o trabalho. Também, são identificados como acidentes do trabalho as doenças profissionais, os acidentes ocorridos no local de trabalho decorrentes de atos intencionais ou não de terceiros ou de companheiros do trabalho, os casos fortuitos ou decorrentes de força maior, os acidentes ocorridos no percurso residência/local de trabalho/residência e nos horários das refeições (Lei n° 8.213/1991), entre outros. “In casu”, uma vez que a trabalhadora autônoma faleceu durante o expediente, enquanto prestava serviço à reclamada, configurado está o acidente de trabalho nos termos do art. 19 da Lei 8.213/1991. Além disso, em observância ao Princípio da Eventualidade, caso não seja considerado como acidente de trabalho no entendimento deste D. Juízo, mesmo que considerado como ato ilícito ocorrido no curso da prestação de serviço, tal condição não isenta a reclamada de pagar a indenização pretendida, já que ela assumiu o risco da atividade econômica e, com isso, atrai a aplicação dos arts. 927 e 186 do Código Civil. Nesse diapasão, a recente modificação introduzida no novo Código Civil, foi adotada a teoria da responsabilidade civil objetiva nos casos de acidente de trabalho ou doenças que a ele se equiparem, e com isso, se tornou despicienda a necessidade de comprovação da culpa do causador do dano, já que para que haja a reparação de dano, é suficiente a simples comprovação de que o dano esteja diretamente relacionado ao acidente sofrido pela vítima. Nesse sentido, transcrevemos o disposto no art. 927, do Código Civil: "Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo." Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza e risco para os direitos de outrem.
A atividade de transporte é eminentemente de risco, logo, aplicável a teoria da
responsabilidade objetiva, devendo a requerente ser indenizada conforme a seguir será requerido, com fulcro no dispositivo legal retro transcrito. Outrossim, corroborando os argumentos supracitados, constata-se, conforme determina o art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988, que a reclamada presta serviço de utilidade pública e, portanto, deve reparar os danos que causou. Desta forma, como ficou comprovado o dano e o nexo causal, é devida a indenização pretendida. “Ad argumentandum tantum", ainda que não fosse considerada a teoria da responsabilidade objetiva, e fosse necessária a comprovação da culpa do causador do dano, está também ficou claramente caracterizada no caso em epígrafe, conforme veremos nas razões historiadas abaixo. Nesse sentido, a CULPA da reclamada está evidenciada através das inúmeras atitudes negligentes e imprudentes da mesma. Isto porque a empresa é a beneficiária do serviço prestado pela “de cujus” e não realizou a fiscalização devida para a segurança de seus condutores ("culpa in vigilando"), como por exemplo com a utilização de câmeras no interior do veículo, acionador de segurança, “botão de pânico”, ou gravações das viagens a fim de resguardar a integridade física de seus motoristas. Vale destacar que a reclamada fora totalmente negligente e imprudente, motivo pelo qual deve ser responsabilizada pelo ocorrido, tendo agido com culpa. É preceito legal que compete ao tomador dos serviços garantir a execução do trabalho, sem que tal fato gere dano à integridade física de seus prestadores, daí porque a inexecução das medidas de segurança do trabalho acarreta a responsabilidade do contratante. Quando a empresa não cumpre obrigação explícita no contrato de prestação de serviços concernente à segurança de seus trabalhadores e da incolumidade durante a prestação de serviços, tem o dever de indenizar o dano. Nesse sentido, determina o art. 157 da CLT: Cabe às empresas: I- Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho. Importante, ainda, transcrever trecho da obra do Mestre Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, Direito das Obrigações, 5º volume, Editora Saraiva: "Todo ato ilícito gera para seu autor a obrigação de ressarcir o prejuízo causado. É de preceito que ninguém deve causar lesão a outrem. A menor falta, a mínima desatenção, desde que danosa, obriga o agente a indenizar os prejuízos consequentes de seu ato".
No mesmo sentido, é o recentíssimo entendimento da jurisprudência. Vejamos:
Importa destacar também que, estando a Uber inserida na dinâmica da prestação de serviços do de cujus, a imputação de responsabilidade à referida empresa é questão que se impõe, haja vista que cabe àquele que se beneficia da atividade, ainda que não se trate de relação de natureza empregatícia, responder pelos danos sofridos pelos responsáveis pela realização dos serviços. (RO n° 0000078-31.2020.5.07.0015 – Desembargador relator: Clóvis Valença Alves Filho – Data de publicação 15/09/2021).
Desta forma, demonstrado e provado à saciedade, o nexo causal, a culpa da reclamada
e o dano experimentado pela autora, subsiste a obrigação de indenizar os danos morais.