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AO DOUTO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAGUATINS-TO.

MARIA LUCIA, brasileira, feirante, 69 (sessenta e nove) anos de idade, inscrita sob o
nº de CPF (...) e sob o nº de RG (..), residente na cidade de Araguatins-TO, rua xxx, nº (...) ,
bairro (...), cep (..), vem, por meio de seus advogados constituído, respeitosamente
promover:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS

Em desfavor da empresa VIAÇÃO BICO DO PAPAGAIO LTDA, inscrita sob o n°


de CNPJ xxx, localizada na (...) , nº (...) , bairro (...) , cidade (...), CEP (...) , número de
telefone: (...) , pelas razões de fato e de direito a seguir expostos:

I- PRELIMINARMENTE

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

A Requerente não possui condições de pagar as custas e despesas do processo sem


prejuízo próprio ou de sua família, conforme declaração de hipossuficiência anexa, com
fundamento no Artigo 5°, LXXIV da Constituição Federal e Art. 98 do Código de Processo
Civil. Desse modo, a autora faz jus à concessão da gratuidade de Justiça, documento anexo.

2. DESINTERESSE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO


A requerida informa, tempestivamente, não ter interesse na realização de audiência de
conciliação/mediação, nos termos do § 5º, do art. 334, do CPC/15.
3. PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO
De acordo com o Artigo 1.048, inciso I, primeira parte, do Código de Processo Civil,
será concedida prioridade para a prática de todos os atos processuais relativos à partes ou
interessados com 60 (sessenta) anos ou mais. Assim, a requerente tem 69 (sessenta e nove)
anos de idade, fazendo jus à prioridade na tramitação.

II- SÍNTESE FÁTICA

Maria ao fazer uso do serviço prestado por uma das linhas de transporte de
propriedade da empresa VIAÇÃO BICO DO PAPAGAIO LTDA, sofreu graves lesões no
braço direito.
A requerente ao descer da van pertencente a empresa ficou com seu membro superior
direito preso na porta do veículo e, quando da abertura da porta, tal procedimento a projetou
ao chão, intensificando as lesões já sofridas, conforme BAM n° 548821, confeccionado pelo
Hospital Regional de Augustinópolis.
Ademais, isso se deu, segundo alegado pela requerente, pela imperícia do motorista
que não esperou a mesma desembarcar devidamente. Assim, foi estabelecido um período de
incapacidade total temporária de dois meses, período mínimo necessário para consolidação da
Fratura. A partir deste período, apresenta uma Incapacidade Permanente de 27% dado pela
perda da força e da capacidade funcional do MSD, a partir do Terço Proximal do Antebraço
Direito, em grau médio”, conforme laudo em anexo.
Devido a isso, a requerente teve despesas equivalentes a R$ 50,00 (cinquenta reais),
referentes à medicação que precisou usar. Somando-se a isso, trabalhava como feirante
vendendo frutas e legumes 3x na semana, o que lhe garantia renda aproximada de 2 salários
mínimos mensais, sendo que, agora, não tem mais força no braço direito para carregar os
produtos e, portanto, parou de montar a barraca
III - DO DIREITO
DA RELAÇÃO DE CONSUMO E INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Dispõem os artigos 2° e 3° do Código de Defesa do Consumidor que é consumidor a


pessoa física que utilize produto ou serviço como destinatário final, e fornecedor, pessoa
jurídica, nacional ou estrangeira, que desenvolva, entre outras, atividade de comercialização
de produtos e prestação de serviços.
E, de fato, in casu, dúvida há de que sejam devidamente caracterizados o consumidor
e o fornecedor, bem como a relação consumerista, fundada na vulnerabilidade, que atrai o
microssistema protetivo.
Assim, porque a requerente, na condição de pessoa física e de consumidor final,
contratou o serviço de transporte, prestado pela empresa supracitada, no intuito de deslocar-se
para outra cidade. Por outro lado, a requerida é pessoa jurídica que explora
profissionalmente, justamente, o setor de transportes, provendo vans diariamente para seus
consumidores. Desse modo, é de rigor o reconhecimento da relação de consumo.
Além disso, em atenção à regra do art. 6°, VIII, do CDC, forçoso o reconhecimento
da hipossuficiência do requerente e da verossimilhança de suas alegações para efeito de
inversão do ônus da prova.
Afinal, não bastasse a vulnerabilidade que caracteriza a própria relação, certo é que a
distribuição estática do ônus da prova acarretaria grave prejuízo à defesa dos direitos da
requerente.
E, como cediço, não é outra a mens legis do art. 6, VIII, do CDC: garantir a defesa
dos direitos do consumidor, reequilibrando a relação processual por meio da inversão do ônus
da prova, se, no caso concreto, não houver condições de produzir as provas constitutivas
deles.
A esses respeito, de se convir que a empresa detém, em seus sistemas, todos os
registros e dados, inclusive da requerente, para subsidiar sua defesa, sendo muito mais fácil a
ela provar fatos que possam infirmar a pretensão, do que à autora provar os fatos
constitutivos do seu direito.
No ponto, diz-se que também à luz das regras de distribuição do ônus probatório do
CPC, é a inversão medida de rigor, com fundamento no art. 373, §1°, sob pena de imputar à
autora verdadeira prova diabólica.
Por fim, requer-se o reconhecimento da relação de consumo e a aplicação da regra da
inversão do ônus da prova, forte no art. 6°, VIII, do CDC e 373, §1°, do CPC.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Preceitua o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor que: “Art. 14. O
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”.
A regra do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor impõe a responsabilidade
objetiva do fornecedor de serviços. Assim como, o fato de que VIAÇÃO BICO DO
PAPAGAIO LTDA se enquadra perfeitamente no conceito de fornecedora de serviços.
Conforme estatui o artigo 3° do CDC, “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
Assim sendo, responsável objetivamente pelos danos causados à requerida.
IV - DO DANO

É direito básico do consumidor (artigo 6°, inciso VI, CDC) a efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. Deve, portanto, a
empresa de transportes arcar com os danos materiais, morais e estéticos, além de toda a
assistência médica que a vítima precisou em razão do acidente.
Dano material corresponde ao efetivo prejuízo experimentado pelo lesado, incluído o
que efetivamente se perdeu (dano emergente) e o que razoavelmente deixou de ganhar (lucro
cessante). Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a
intimidade, a imagem, o bom nome, etc.

DANO MATERIAL

O dano material, também chamado de dano patrimonial, é o prejuízo que ocorre no


patrimônio da pessoa, ou seja, perda de bens ou coisas que tenham valor econômico. Estão
inseridos nos danos materiais os prejuízos efetivamente sofridos (danos emergentes), bem
como valores que a pessoa deixou de receber (lucros cessantes).
Assim, Maria Lucia, teve despesas de R$ 50,00 (cinquenta reais), referentes à
medicação que precisou usar (danos emergentes).
Ademais, a requerida trabalhava com feirante vendendo frutas e legumes três vezes na
semana, tendo como renda nesse serviço de 2 salários mínimos mensais, todavia, teve que se
ausentar de seu labor devido ao acidentes sofrido, pois não possui mais força no braço direito
para carregar os produtos e, portanto, parou de montar a barraca.
Evidencia-se, assim, que pelas lesões irreversíveis, aferidas pelo exame de corpo de
delito, o Autor faz jus à pensão mensal vitalícia. A mesma deverá ser proporcional à sua
incapacidade. E, no caso, a sequela do acidente implicou em redução de sua capacidade
laborativa, ocorrendo depreciação para o exercício da profissão.
Com efeito, aquele que sofre lesão em sua integridade física capaz de reduzir o valor
de seu trabalho, faz jus ao recebimento de indenização. A vítima de evento danoso que sofre
redução da capacidade laboral tem direito ao pensionamento previsto no art. 950 do Código
Civil, ainda que não exerça atividade remunerada à época do acidente (c. STJ, EDCL no
AGRG no RESP 1299614/ES).

Assim, solicita a fixação da pensão vitalícia no valor de 2 salários mínimos,


ressarcimento do valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), referentes à medicação que precisou
usar (danos emergentes) e os lucros cessantes a serem fixados na fase de liquidação de
sentença..

DANO MORAL

Segundo a doutrina, o dano moral configura-se quando ocorre lesão à um bem que
esteja na esfera extrapatrimonial, e a reparação do mesmo tem o objetivo de possibilitar ao
lesado uma satisfação compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em parte, as
consequências da lesão.
O dano estético configura-se por lesão à saúde ou integridade física de alguém, que
resulte em constrangimento.
O Código de Defesa do Consumidor ampara o consumidor que foi vitimado em sua
relação de consumo, com a justa reparação dos danos morais e patrimoniais causados pela má
prestação de serviço, conforme seu artigo 6º, que no inciso VI do CDC.
Na lide posta, é verificada a existência concomitante de ambos os danos, visto que,
pela capacidade perdida do braço, ficam configurados os danos estéticos, pois o dano físico
permanecerá para sempre, sendo cumulado com o dano moral, pelo constrangimento.
Por fim, é medida cabível a fixação dos danos morais e estéticos na monta de
10.000,00 (dez mil) reais.

4. PEDIDOS

a) Seja concedida as benesses da Justiça Gratuita;


b)  Inversão do ônus da prova;
c) A citação do Réu pelos meios necessários;
d) O deferimento da pensão vitalícia no valor de dois salários mínimos mensais;
e)   A procedência do pedido para condenar o Requerido ao pagamento de danos
matérias de 50.00 (cinquenta reais) e os lucros cessantes a serem fixados na
liquidação da sentença;
f) A procedência do pedido para condenar o Requerido ao pagamento de danos
morais e estético no valor de 10.000,00 (dez mil reais).

Dar-se á valor a causa no importe de 14.322,00 (quatorze mil trezentos e vinte e dois reais).

Araguatins-TO, data do protocolo eletrônico.

CLAIRTON ALVES ALENCAR

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