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EXMO. JUÍZO DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DA CAPITAL / RJ

GRERJ XXXX

RENATO, (estado civil), (profissão), portador


da cédula de identidade nº xxx, inscrito no CPF sob o nº xxx, usuário do e-
mail xxx, residente e domiciliado na Rua xxx, por seu advogado
regularmente constituído, com fundamento no art. 6º, I e VI, CDC, vem
propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA

pelo rito comum, em face de FORNECEDOR S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº xxx, com sede na Rua xxx, pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

Inicialmente, requer que as futuras publicações


e intimações sejam em nome de ADVOGADO – OAB XXX, com
escritório na RUA XXX, onde receberá toda e qualquer notificação.

DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Desde já, o Autor manifesta o desejo pela


designação da audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC.

DOS FATOS

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Em xx/xx/xxxx, o Autor adquiriu passagem de


metrô, serviço de transporte fornecido pela Ré, embarcando na estação xxx
com destino a estação xxx. Ocorre que no trajeto, houve alguma
intercorrência que fez com que o maquinista freasse bruscamente.

Com o evento, o Autor que viajava em pé, foi


arremessado para frente, batendo o rosto contra uma dos assentos,
causando-lhe um ferimento considerável na face direita.

Claramente ferido, o Autor teve que procurar


sozinho atendimento médico. Ao chegar no Hospital xxx, foi necessário
realizar sutura com 5 pontos, deixando cicatriz de aproximadamente 3
centímetros em local de grande visibilidade.

DOS FUNDAMENTOS

Da relação de consumo

De início, cumpre salientar que o Código de


Defesa do Consumidor consagrou a Teoria Finalista para caracterização da
condição de consumidor. Por tal teoria, todo aquele, pessoa física ou
jurídica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como usuário final fático
e econômico, deve ser considerado consumidor.

O Autor é o destinatário final, fática e


economicamente, eis que não há lucratividade para ele na utilização dos
serviços contratados. Assim, a relação jurídica travada entre Autor e Ré
tem natureza consumerista, na qual aquele figura como consumidor nos

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termos do art. 2º do CDC1, enquanto esta se apresenta como fornecedora


nos moldes do art. 3º do CDC2.

Desta forma, atrai-se para a presente lide todo


arcabouço protetivo ao consumidor, em especial a inversão do ônus da
prova ope legis (art. 14, § 3º, CDC)3 em razão dos danos oriundos de falhas
na prestação do serviço, sem prejuízo da inversão ope judicis (art. 6º, VIII,
CDC)4.

Do dever de segurança e do fato do serviço

O Código de Defesa do Consumidor elenca


como primeiro direito básico que assiste ao consumidor a proteção à vida e
à saúde, bem como à segurança contra serviço que o exponha a risco (art.
6º, I, CDC)5. Outro direito básico de extrema importância e complementar

1
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

2
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

3
Art. 14 O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

4
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências.

5
Art. 6º, I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

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ao mencionado é a efetiva prevenção e reparação de danos sofridos pelo


consumidor, inclusive os de ordem extrapatrimonial (art. 6º, VI, CDC)6.

O Diploma Consumerista cautelosamente


explicita ainda no art. 22 do CDC 7 que o dever de segurança se estende aos
órgãos públicos e seus concessionários, impondo a prestação de serviço
público com qualidade, eficiência e segurança.

Quando o caráter preventivo da lei fracassa,


mister se faz entrar em cena o viés reparatório. Assim, quando um serviço é
fornecido sem resguardar a segurança dele esperada, este é considerado
defeituoso e gera para o fornecedor o dever de indenizar o consumidor,
configurando-se o fato do serviço8.

Por sua vez, o art. 14 do CDC pormenoriza o


fato do serviço, em que o fornecedor, ao prestar seu serviço defeituoso,
causa danos ao consumidor, indicando que a responsabilidade é objetiva.
Destarte, como dispõe o parágrafo terceiro deste artigo, a responsabilidade
só pode ser afastada quando se prova a inexistência de defeito ou quando se
rompe o nexo de causalidade, ônus legalmente imposto ao fornecedor9.

Em disposição específica sobre contrato de


transportes de pessoas, o art. 734 do CC 10 estabelece de forma cristalina a

6
Art. 6º, VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;

7
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.

8
Art. 14, § 1º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

9
Vide nota 3.

10
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

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responsabilidade do transportador pelos danos causados aos seus


passageiros e suas bagagens.

É assente na doutrina e jurisprudência pátria


que a responsabilidade objetiva imputada aos fornecedores abarca a Teoria
do Risco do Empreendimento, pela qual quem colhe o bônus do
desenvolvimento da atividade, deve suportar o seu ônus. Com isso, os
eventos imprevisíveis e/ou inevitáveis ligados diretamente à atividade são
chamados de fortuito interno e não afastam a responsabilidade do
fornecedor.

Inegável a perfeita subsunção dos fatos


apresentados à norma vigente. Sendo de amplo conhecimento o acidente
sofrido pelo Autor dentro de estação de metrô administrada pela Ré, o
liame causal é cristalino e notório. O acidente sofrido pelo Autor configura
um risco inerente da atividade empresarial da Ré, devendo este suportar os
resultados adversos.

Em decorrência da falha na prestação do


serviço, o Autor sofreu flagrante dano moral, o qual pode ser descrito
sucintamente como a ofensa a qualquer direito da personalidade, dentre
eles, o direito à vida, à integridade física e psíquica, dispostos
exemplificativamente no art. 5º da CRFB/88 e também no art. 11 e
seguintes do CC11.

É inegável o sentimento de impotência e de


angústia experimentados pelo Autor. A Ré frustrou sua justa expectativa de
utilizar com segurança e tranquilidade transporte coletivo, colocando em
risco sua incolumidade física e até mesmo sua própria vida.

11
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

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Este E. Tribunal já se debruçou sobre caso


semelhante, decidindo exatamente no sentido da tese ora esposada,
firmando entendimento uníssono de que atropelamentos derivados de
relação de consumo geram dano moral in re ipsa12.

Com relação ao quantum a ser fixado, não se


pode deixar de observar o caráter punitivo-pedagógico da compensação.
Considerando a gravidade do caso, o valor de R$xxxx se revela razoável e
proporcional.

Ressalte-se que o Autor confiou na


credibilidade e competência da Ré, estabelecendo relação jurídica calcada
no princípio da confiança, o qual foi exterminado pela atitude desta. Ao
se portar da maneira relatada, a conduta da Ré ofende diretamente o
princípio da boa-fé objetiva13, faltando com o dever anexo de lealdade
para com o Autor, não lhe garantindo transporte com segurança e lhe
causando considerável dano.

12
APELAÇÃO CÍVEL. Ação Indenizatória. Sentença de parcial procedência. Acidente em composição da
Supervia. Consumidor. Autor que sofreu queda e lesões em razão de curva de transporte público em alta
velocidade que se encontrava lotado e com as portas abertas. Laudo pericial conclusivo sobre a
incapacidade laboral parcial e temporária do autor de trinta dias. Pensão mensal fixada durante o
período da incapacidade em 100% do salário mínimo vigente à data do efetivo pagamento.
Responsabilidade objetiva. Condição de passageiro demonstrada. Contrato de transporte em que se
encontra ínsita a cláusula de incolumidade. Concessionária ré que não se desincumbiu da prova de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Falha na prestação de serviço. Dano moral e
dano estético configurados. Quantum indenizatório fixados no patamar de R$ 5.000,00 a título de danos
morais que atende aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade. Indenização a título de dano
estético, porém, arbitrada em valor excessivo, devendo ser reduzida para R$5.000,00, considerando o
seu grau mínimo e a ausência de incapacidade permanente, concluído em perícia. Precedentes.
DESPROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR E PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO RÉU. (TJRJ –
APELAÇÃO 0010684-34.2009.8.19.0205 – Des(a). PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS - Julgamento:
14/10/2020 - DÉCIMA CÂMARA CÍVEL)
13
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações
de consumo, atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

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Não se pode deixar de observar também que


milita em favor do Autor, consumidor, o princípio vulnerabilidade14,
perante a Ré, empresa sólida e com anos de mercado. A vantagem
econômica, técnica, informacional e operacional da Ré é muito superior às
forças do Autor.

Por estas e outras razões, andou bem o


constituinte de consagrar a proteção do consumidor como um direito
fundamental (art. 5º, XXXII, CRFB/88)15, ganhando status de norma de
eficácia supralegal, conferindo assim maior efetividade a um dos
fundamentos primordiais da República, a dignidade da pessoa humana (art.
1º, III, CFRB/88)16, visto que todos são consumidores!

Do dano estético

A doutrina explica que o dano estético é aquele


que causa afeamento da pessoa, impactando a sua imagem física,
ofendendo direito constitucional fundamental também previsto no art. 5º,
V, CRFB17. Tal espécie de dano é independente e cumulável com o dano
moral, matéria há muito sedimentada na jurisprudência pátria 18.
14
Art. 4º, I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

15
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

16
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana

17
Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;

18
RESPONSABILIDADE CIVIL. Médico. Cirurgia estética. Lipoaspiração. Dano extrapatrimonial. Dano
moral. Dano estético. Dote. - Para a indenização do dano extrapatrimonial que resulta do insucesso de

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O Autor inegavelmente merece reparação pelo


dano estético sofrido, eis que ostenta cicatriz de tamanho considerável e em
local aparente (fotos anexas). A repercussão vai muito além de mero
impacto na autoestima, o que per se, já é grave suficiente. A cicatriz fica
naturalmente exposta, o que atrai olhares curiosos e muitas vezes
discriminatórios.

Diante de inegável dano e de sua extensão,


resultante de falha na prestação do serviço, é a devida reparação pelo dano
estético sofrido, que se tem por razoável o importe de R$xxxx.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, pede e requer a V. Exa.:

a) A citação da Ré para comparecer à audiência


de conciliação a ser designada pelo juízo;

b) A condenação da Ré ao pagamento de
R$xxx a título de dano moral;

c) A condenação da Ré ao pagamento de R$xxx


a título de dano estético;

d) A condenação da Ré ao pagamento das


custas processuais e dos honorários de sucumbência.

lipoaspiração, é possível cumular as parcelas indenizatórias correspondentes ao dano moral em sentido


estrito e ao dano estético. - Exclusão do dote (art. 1538, § 2º do CCivil) e da multa (art. 538 do CPC).
Recurso conhecido em parte e provido. (REsp 457.312/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR,
QUARTA TURMA, julgado em 19/11/2002, DJ 16/12/2002, p. 347)

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DAS PROVAS

Para provar o alegado, requer a utilização de


todos os meios admitidos em direito, na amplitude do art. 369 do CPC,
especialmente por testemunhal, pericial e documental superveniente, sem
prejuízo da inversão do ônus da prova aplicável ao caso.

DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à presente o valor de R$ xxxx.

E. deferimento.

Local, data.

ADVOGADO
OAB

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