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AO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ________

________ , ________ , ________ , inscrito no CPF sob nº


________ , ________ , residente e domiciliado na ________ ,
________ , ________ , na Cidade de ________ , ________ ,
________ , vem à presença de Vossa Excelência, por meio do
seu Advogado, infra assinado, ajuizar

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face de ________ , ________ , ________ , inscrito no CPF


sob nº ________ , ________ , residente e domiciliado na
________ , ________ , ________ , na Cidade de ________ ,
________ , ________ , pelos motivos e fatos que passa a expor.

DOS FATOS

O Autor firmou em ________ um contrato para a aquisição de


passagens aéreas de ida e volta partindo de ________ para ________ , com data de ida
em ________ e volta prevista para ________ .

Ocorre que em 11 de março de 2020 houve a declaração de Pandemia,


declarada pela Organização Mundial da Saúde, obrigando as autoridades a tomarem
inúmeras medidas preventivas.
Com isso, em ________ , o voo de retorno foi cancelado, sem qualquer
remanejamento para outra data ou mesmo outra companhia, deixando o consumidor
sem qualquer suporte local.

Por tal motivo, o Autor foi obrigado a comprar outra passagem no valor
de R$ ________ , com custo muito superior pela urgência para fins de regressar ao
país, além de um custo de mais de ________ gastos pelo período em que ficou em
________ , gerando inúmeros transtornos e despesas imprevistas.

Assim, diante do notório risco de manter o bilhete comprado, houve o


pedido de cancelamento.

Mas, contrariando as orientações claras das autoridades públicas


nacionais e internacionais, objetivando impedir a disseminação do vírus, a companhia
aérea se negou a realizar o cancelamento sem custo, cobrando a multa de R$
________ .

Portanto, sem ter outra alternativa, o Autor busca com a presente ação
a rescisão do contrato firmado com a devida indenização por danos materiais e morais.

DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 trouxe o conceito de


Consumidor nos seguintes termos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Assim, uma vez reconhecido o Autor como destinatário final dos


serviços contratados, e demonstrada hipossuficiência técnica do Autor, tem-se
configurada uma relação de consumo, conforme entendimento doutrinário sobre o
tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor deve ser


interpretado a partir de dois elementos: a) a aplicação do
princípio da vulnerabilidade e b) a destinação econômica não
profissional do produto ou do serviço. Ou seja, em linha de
princípio e tendo em vista a teleologia da legislação protetiva
deve-se identificar o consumidor como o destinatário final
fático e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM, Bruno.
Curso de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT, 2016. Versão
ebook. pg. 16)

Consequentemente devem ser concedidos os benefícios processuais


promovidos pelo Código de Defesa do Consumidor, em especial a inversão do ônus da
prova, trazida ao art. 6º do inc. VIII:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

O fato de tratar-se de PESSOA JURÍDICA não retira o per se a qualidade


de consumidor, uma vez que enquadrada como destinatária final dos serviços
prestados pela Ré, apresentando-se, na relação jurídica estabelecida, condição de
hipossuficiência técnica.

A VULNERABILIDADE se caracteriza na medida em que, mesmo sendo


pessoa jurídica, não dispõe de condições técnicas para fazer oposição aos argumentos
da parte contrária quanto às impropriedades do produto comprometedores de seu
desempenho.

Afinal o produto adquirido não faz parte da cadeia de produção do


objeto da empresa Autora, tratando-se de verdadeira DESTINATÁRIA FINAL do
produto, conforme pacificado na jurisprudência específica:

APELAÇÃO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E


MORAL. CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA DE PRODUTO
REALIZADA PELA INTERNET. PESSOA JURÍDICA DESTINATÁRIA
FINAL DO PRODUTO. RELAÇÃO DE CONSUMO RECONHECIDA.
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC). POSSIBILIDADE. POSIÇÃO
PERFILHADA PELO C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ).
ARREPENDIMENTO DO CONTRATO PELA CONSUMIDORA NO
PRAZO DO ART. 49 DO CDC. DIREITO DE ARREPENDIMENTO
ABSOLUTO. RECURSO NESSA PARTE IMPROVIDO. 1.- Aplica-se
ao caso a legislação consumerista, pois a empresa adquiriu o
produto como destinatária final e não como insumo. Ademais,
verifica-se a situação de vulnerabilidade da empresa-autora
com relação à fornecedora-ré, que lhe vendeu o produto por
sua página na internet, buscando, assim, restaurar o equilíbrio
entre as partes. 2.- (...). (TJ-SP 10069654120178260564 SP
1006965-41.2017.8.26.0564, Relator: Adilson de Araujo, Data
de Julgamento: 14/10/2017, 31ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 14/10/2017)

Dito isto, passa a dispor sobre as condições que culminaram na


necessária resolução do contrato.

DA APLICAÇÃO DO CDC ÀS COMPANHIAS ESTRANGEIRAS

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor define, de


forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das
condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do referido
Código.

No presente caso, mesmo com regulamentação da matéria pela


Convenção de Varsóvia, o CDC não é afastado totalmente, uma vez que referida
Convenção se limita apenas a indenização material, sendo aplicável o CDC a todos os
demais pontos, tais como danos morais e inversão do ônus da prova.
Assim, além do dano material efetivamente demonstrado, deve ser
considerado o grave constrangimento com ________ , sendo necessária a adequada
mensuração do quantum indenizatório, à luz das prerrogativas do direito do
consumidor.

Nesse sentido, são os precedentes sobre o tema:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL


E MATERIAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. TRANSPORTE
AÉREO INTERNACIONAL. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA
DOS PEDIDOS. IRRESIGNAÇÃO DE AMBAS AS PARTES.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA AGÊNCIA DE VIAGENS E DA
COMPANHIA AÉREA PELA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
FIXAÇÃO DE TESE PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUANDO
DA APRECIAÇÃO DO TEMA 210 DA REPERCUSSÃO GERAL.
JULGAMENTO CONJUNTO DO RE 636.331 E DO ARE 766.618.
PREVALÊNCIA DAS CONVENÇÕES DE VARSÓVIA E MONTREAL
EM RELAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NO
QUE SE REFERE AOS DANOS MATERIAIS, NÃO SE APLICANDO,
CONTUDO, À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DANO
EXTRAPATRIMONIAL CARACTERIZADO. SITUAÇÃO QUE
EXTRAPOLOU A ÓRBITA DO MERO ABORRECIMENTO NÃO
INDENIZÁVEL. VALOR INDENIZATÓRIO FIXADO QUE ATENDE
AOS PARÂMETROS DO MÉTODO BIFÁSICO. PRECEDENTES. (...)
Consoante consignado na sentença, ocorreram "sucessivas
mudanças no horário da viagem de ida; a perda da conexão em
Roma; a demora em se resolver o problema; o extravio de
bagagem e a exigência de que a autora fosse resgatá-la no
aeroporto, comprometendo o primeiro dia da sua estadia; o
cancelamento da conexão na volta, obrigando a autora a
comprar outra passagem e voar mais cedo para Roma,
perdendo mais um dia em (...); a incerteza no embarque Roma-
Rio de Janeiro e o atraso de duas horas no embarque de volta",
acontecimentos que, todos juntos e alinhados, constituem
falha na prestação do serviço;(...) ;4.Dano moral configurado.
Diversos percalços suportados pela demandante que, por certo,
suplantam os meros aborrecimentos do cotidiano. Verba
reparatória razoavelmente fixada em R$ 15.000,00 (quinze mil
reais), valor que atende aos parâmetros do método bifásico.
Precedentes;5.(...) . (TJ-RJ, APELAÇÃO 0330787-
38.2017.8.19.0001, Relator(a): DES. LUIZ FERNANDO PINTO ,
Publicado em: 06/03/2020)

*RESPONSABILIDADE CIVIL - Transporte aéreo internacional -


Extravio temporário de bagagem - Convenção de Varsóvia e
Montreal - Dano Moral - Configurado - Em se tratando de pleito
de indenização por dano moral, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor e o Código Civil de 2002 em detrimento da
Convenção, já que esta última trata apenas do dano material -
Falha na prestação de serviços evidente - Situação dos autos
que extrapola os meros aborrecimentos - Indenização que cabe
ser fixada em R$10.000,00 valor que atende os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, desestimulando a prática de
condutas análogas por parte das companhias aéreas - Sentença
reformada - Apelo provido.* (TJSP; Apelação Cível 1058148-
51.2018.8.26.0100; Relator (a): Jacob Valente; Órgão Julgador:
12ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 9ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 12/02/2020; Data de Registro:
19/02/2020)

RESPONSABILIDADE CIVIL - Demanda que, apesar de versar


sobre transporte aéreo internacional, tem por pedido recursal
somente a questão de indenização por danos morais, de
maneira que o CDC deve prevalecer sobre as Convenções de
Varsóvia e Montreal - Atraso de aproximadas 14 horas na
viagem entre Cancun/MEX e São Paulo/BRA, com conexão em
Miami/EUA - Problemas mecânicos que se tratam de fortuito
interno, que não afasta a responsabilidade da companhia aérea
pelos danos causados ao autor - Prestação de assistência para
diminuir os desconfortos do atraso que embora louvável não
elide a frustação do cancelamento do voo e a justa expectativa
de iniciar sua viagem com tranquilidade, além da demora
excessiva (14 horas) até a chegada ao destino final - Dano
moral in re ipsa - Indenização minorada de R$ 15.000,00 para
R$ 8.000,00, em atenção aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, não desvalendo o auxílio material fornecido
pela ré, com hospedagem em hotel e vouchers de alimentação
- Sentença reformada em parte - Recurso parcialmente provido
para condenar a ré a indenização por danos morais no valor de
R$ 8.000,00, com juros desde a citação e correção a partir deste
acórdão, mantida a verba honorária fixada em primeiro grau.
(TJSP; Apelação Cível 1009184-27.2018.8.26.0100; Relator (a):
Mendes Pereira; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 23ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 11/02/2020; Data de Registro: 11/02/2020)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS. AVARIA EM CARGA TRANSPORTADA POR
COMPANHIA AÉREA. VIAGEM INTERNACIONAL. DANOS
MATERIAIS. LIMITAÇÃO. CONVENÇÃO DE MONTREAL. DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. CDC. APLICABILIDADE. 1. No tocante
aos danos materiais, o E. STF firmou o entendimento no sentido
de que ?Nos termos do art. 178 da Constituição da República,
as normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros,
especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm
prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor?
(RE 636.331/RJ - Tema 210 da Repercussão Geral). 2. No
mesmo julgamento o E. STF entendeu que ?a limitação imposta
pelos acordos internacionais alcança tão somente a
indenização por dano material, e não a reparação por dano
moral? (RE 636331/RJ - Tema 210 da repercussão geral). 3. Na
ausência de declaração especial do valor da bagagem, prevista
no art. 22 item 2 da Convenção de Montreal, a indenização por
danos materiais limita-se ao valor estabelecido na própria
Convenção. 4. Com relação aos danos morais, a presença do
dano e do nexo causal é o que basta para a caracterização da
responsabilidade objetiva da ré/apelante (CDC 14), sendo que o
valor de R$ 20.000,00 atende aos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade, diante das circunstâncias do caso
concreto. 5. Negou-se provimento a ambos os apelos. (TJDFT,
Acórdão n.1224043, 07329034820188070001, Relator(a):
SÉRGIO ROCHA, 4ª Turma Cível, Julgado em: 18/12/2019,
Publicado em: 03/02/2020)

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das responsabilidades


inerentes à sua atividade, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus consumidores.

DA RESCISÃO CONTRATUAL E DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS

Apesar da existência da obrigatoriedade do passageiro em se submeter


às normas estabelecidas pela Companhia Aérea, nos termos do art. 738 do Código
Civil, estas só podem ser impositivas quando se mostrarem adequadas e não
atentatórias ao sistema de proteção do consumidor.

No presente caso, o serviço foi devidamente pago e não usufruído, não


sendo admissível aceitar que a empresa receba por um serviço não prestado, mesmo
que por força contratual, uma vez que configura inequívoca nulidade por ser leonina.

É indiscutível que houve grave inadimplemento contratual ao deixar de


manter o vôo de retorno em meio à uma pandemia mundial sem qualquer suporte, em
claro descumprimento às regas da ANAC:

Resolução nº 400/2016:

Art. 21. O transportador deverá oferecer as alternativas de


reacomodação, reembolso e execução do serviço por outra
modalidade de transporte, devendo a escolha ser do
passageiro, nos seguintes casos:

I - atraso de voo por mais de quatro horas em relação ao


horário originalmente contratado;

II - cancelamento de voo ou interrupção do serviço;

III - preterição de passageiro; e

IV - perda de voo subsequente pelo passageiro, nos voos com


conexão, inclusive nos casos de troca de aeroportos, quando a
causa da perda for do transportador.

Parágrafo único. As alternativas previstas no caput deste artigo


deverão ser imediatamente oferecidas aos passageiros quando
o transportador dispuser antecipadamente da informação de
que o voo atrasará mais de 4 (quatro) horas em relação ao
horário originalmente contratado.

Tem-se, no presente caso, grave descumprimento do contrato, sem


qualquer suporte ou possibilidade de reembolso ou acomdação como manda a norma.

Neste mesmo sentido, o Código Civil Brasileiro, previu em seu artigo 475
a possibilidade de indenização por perdas e danos nos casos de descumprimento
contratual:

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a


resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização
por perdas e danos.

Nesse sentido, cabível a indenização dos valores gastos na íntegra,


conforme precedentes sobre o tema:
Transporte aéreo. Cancelamento de voo por problema técnico.
Reparação da despesa para aquisição de bilhetes adquiridos
para outro voo, com partida em horário anterior ao voo
disponibilizado pela ré em substituição ao voo cancelado.
Indeferimento do ressarcimento referente ao bilhete adquirido
pelo acompanhante da autora, com base na crença de que a
autora já foi ressarcida pelo acompanhante. Motivação que não
se sustenta, diante da prova documental de que os dois
bilhetes foram adquiridos, junto à companhia, pela autora, não
se justificando simplesmente presumir que o acompanhante
ressarciu a autora. Pretensão de majoração da indenização de
dano moral vazada em termos genéricos, que não
proporcionam elementos para a reforma do arbitramento feito
em primeiro grau. Recurso parcialmente provido, apenas para
incluir na indenização do dano material o ressarcimento do
bilhete adquirido em nome do acompanhante da autora. (TJSP;
Recurso Inominado Cível 1011525-50.2019.8.26.0016; Relator
(a): Luis Fernando Cirillo; Órgão Julgador: Primeira Turma Cível;
Foro Central Juizados Especiais Cíveis - 1ª Vara do Juizado
Especial Cível - Vergueiro; Data do Julgamento: 13/03/2020;
Data de Registro: 13/03/2020)

RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO CONTRA R. SENTENÇA


PELA QUAL FOI JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE AÇÃO
INDENIZATÓRIA - ALEGAÇÃO DE INCORREÇÃO, COM PEDIDO DE
REFORMA - ATRASO/CANCELAMENTO DE VOO - RELAÇÃO DE
CONSUMO - ATRASO/CANCELAMENTO NO VOO QUE
RESULTOU INCONTROVERSO NOS AUTOS - INEFICIÊNCIA DO
SERVIÇO PRESTADO - INDENIZAÇÃO DEVIDA - DANO MORAL
CONFIGURADO - IMPUGNAÇÃO DO "QUANTUM" FIXADO -
COMPENSAÇÃO POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS FIXADA EM
R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) - MONTANTE QUE NÃO SE
MOSTROU IRRISÓRIO OU EXCESSIVO - CONDENAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS QUE SE MOSTROU PLENAMENTE
ADEQUADA AO CONJUNTO COLIGIDO AO FEITO - ACERTO DA R.
SENTENÇA - RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1053203-84.2019.8.26.0100; Relator (a): Simões de Vergueiro;
Órgão Julgador: 16ª Câmara de Direito Privado; Foro Central
Cível - 22ª Vara Cível; Data do Julgamento: 11/03/2020; Data de
Registro: 11/03/2020)

INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. TRANSPORTE


AÉREO. Cancelamento de voo internacional que ocasionou
atraso de vinte e quatro horas para a chegada dos autores ao
destino. Alegação de reestruturação da malha aérea. Fato
previsível que não exclui a responsabilidade da transportadora.
Má prestação do serviço caracterizada. Convenção de Montreal
que não exclui a possibilidade de indenizar os passageiros por
dano moral. Indenização por dano moral devida. Apelados que
em razão do cancelamento do voo original, perderam o voo da
conexão, diária de hotel e de locação de veículo. "Quantum"
indenizatório originalmente fixado em R$10.000,00 para cada
autor, que não comporta a redução pretendida. Dano material
comprovado (R$2.059,68). Indenização por dano material
fixada em valor inferior ao limite previsto no art. 22 da
Convenção de Montreal. Sentença mantida. RECURSO
DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1014788-
32.2019.8.26.0003; Relator (a): Afonso Bráz; Órgão Julgador:
17ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 2ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 12/02/2020; Data de Registro:
19/02/2020)

Assim, devida a indenização pelos danos sofridos, em especial todas as


despesas geradas e danos morais sofridos pelo descaso e transtorno gerado em meio a
uma pandemia mundial.

Evidentemente que após declaração de PANDEMIA MUNDIAL e


orientação da OMS de que viagens fossem feitas somente em casos urgentes, seria
impossível a manutenção da viagem comprada.

Em sintonia com tais orientações, foi promulgada Medida Provisória nº


925/2020, prevendo TOTAL ISENÇÃO de penalidades contratuais para estes casos, in
verbis:

Art. 3º O prazo para o reembolso do valor relativo à compra de


passagens aéreas será de doze meses, observadas as regras do
serviço contratado e mantida a assistência material, nos termos
da regulamentação vigente.

§ 1º Os consumidores ficarão isentos das penalidades


contratuais, por meio da aceitação de crédito para utilização no
prazo de doze meses, contado da data do voo contratado.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se aos contratos de


transporte aéreo firmados até 31 de dezembro de 2020.

Ao reforçar este direito, a MP 948/2020 previu igualmente a


possibilidade de remanejamento do serviço sem qualquer custo ao consumidor:

Art. 2º Na hipótese de cancelamento de serviços, de reservas e


de eventos, incluídos shows e espetáculos, o prestador de
serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que
assegurem:

I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos


cancelados;

II - a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na


compra de outros serviços, reservas e eventos, disponíveis nas
respectivas empresas; ou

III - outro acordo a ser formalizado com o consumidor.


§ 1º As operações de que trata o caput ocorrerão sem custo
adicional, taxa ou multa ao consumidor, desde que a
solicitação seja efetuada no prazo de noventa dias, contado da
data de entrada em vigor desta Medida Provisória.

Razões pelas quais, a multa aplicada é manifestamente ilegal,


motivando a presente ação.

O simples fato de ser comprada passagens por milhas não pode impedir
o consumidor ao reembolso, pois possuem o mesmo valor na hora da compra da
passagem.

Nesse sentido, corrobora a jurisprudência sobre o tema:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES.


Viagem Internacional. Programa de milhagens. Cancelamento
de passagem área internacional pelo consumidor. Negativa de
devolução do valor das passagens (consistente na soma de R$
1.181,96 e 102.000 pontos em milhas), com fundamento de
aquisição de bilhetes com tarifa promocional. Sentença de
parcial procedência, que condenou a parte ré à restituição de
102.000 milhas à parte autora, com prazo de validade até
24.04.2019, mantendo-se a taxa de cancelamento no valor de
R$ 1.181,96. Cláusula contratual vedando o reembolso do valor
da passagem, sob o fundamento de se tratar de tarifa
promocional, que se revela abusiva e excessiva. Pedido de
cancelamento realizado em tempo hábil para renegociação dos
bilhetes. Penalidade que deve ser reduzida, nos termos do
artigo 413 do Código Civil, para o valor de R$ 300,00 por trecho,
totalizando R$ 600,00, correspondente a tarifa reembolsável.
Restituição do valor de R$ 581,96 à parte autora que se mostra
de rigor. Validade dos planos de milhagem que deverá
corresponder ao prazo acordado entre as partes, conforme
regras do programa e categoria a que pertence a parte autora,
somado ao tempo de duração do processo, se acaso o seu
vencimento se dê durante o seu curso. Recurso parcialmente
provido. (TJSP; Recurso Inominado Cível 0024068-
84.2018.8.26.0001; Relator (a): Simone Candida Lucas
Marcondes; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível; Foro de São
Sebastião - 2ª. Vara Judicial; Data do Julgamento: 17/05/2019;
Data de Registro: 17/05/2019)

Ademais, tem por demonstrado o ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA do


réu, uma vez que o Autor pagou os valores devidos e não usufruiu de qualquer serviço,
devendo ser ressarcido, nos termos do Código Civil:

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa


de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente
auferido, feita a atualização dos valores monetários.

Ampla doutrina reforça a importância da censura ao enriquecimento


sem causa, para fins da efetiva preservação da boa fé nas relações jurídicas:

"O repúdio ao enriquecimento indevido estriba-se no princípio


maior da equidade, que não permite o ganho de um, em
detrimento de outro, sem uma causa que o justifique. (...) A
tese, hoje, preferida pela doutrina brasileira é a da admissão do
princípio genérico de repulsa ao enriquecimento sem causa
indevido. Essa a opinião de que participo." (RODRIGUES, Silvio.
Direito civil: parte geral das obrigações. 24 ed. São Paulo:
Saraiva, p. 159.)

Assim, considerando-se a tentativa infrutífera de recebimento dos


valores devidos, bem como os prejuízos causados, requer-se desde logo o
ressarcimento dos valores pagos pela passagem no valor de R$ ________ , bem como
pelos danos materiais no valor de R$ ________ .
DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no


presente processo, a empresa ré deixou de cumprir com sua obrigação primária de
cautela e prudência na atividade, causando constrangimentos indevidos ao Autor.

Não obstante ao constrangimento ilegítimo, as reiteradas tentativas de


resolver a necessidade do Autor ultrapassa a esfera dos aborrecimentos aceitáveis do
cotidiano, uma vez que foi obrigado a buscar informações e ferramentas para
resolver um problema causado pela empresa contratada para lhe dar uma solução.

Assim, no presente caso não se pode analisar isoladamente o


constrangimento sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram o Consumidor a
buscar a via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande desgaste do Autor nas
reiteradas tentativas de solucionar o ocorrido sem êxito, gerando o dever de indenizar,
conforme precedentes sobre o tema:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DIREITO PROCESSUAL CIVIL (2015). RESPONSABILIDADE CIVIL.
CANCELAMENTO DE VIAGEM. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
EMPRESA DE VIAGENS. DANOS MORAIS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REVOLVIMENTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 07/STJ.
RECURSO DESPROVIDO. (STJ - AgInt no AREsp: 1050687 DF
2017/0022731-0, Relator: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 27/02/2018, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 02/03/2018)

Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela perda do


tempo útil (desvio produtivo) do consumidor.

DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do problema,
obrigando o ingresso da presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio de ________ .

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de DANO


PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do consumidor gerando
um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre o


tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do consumidor,
para solucionar problema de vício do produto ou serviço. (...)
O fornecedor, desta forma, desvia o consumidor de suas
atividades para "resolver um problema criado" exclusivamente
por aquele. Essa circunstância, por si só, configura dano
indenizável no campo do dano moral, na medida em que
ofende a dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva e a
função social: (...) É de se convir que o tempo configura bem
jurídico valioso, reconhecido e protegido pelo ordenamento
jurídico, razão pela qual, "a conduta que irrazoavelmente o
viole produzirá uma nova espécie de dano existencial, qual seja,
dano temporal" justificando a indenização. Esse tempo perdido,
destarte, quando viole um "padrão de razoabilidade
suficientemente assentado na sociedade", não pode ser
enquadrado noção de mero aborrecimento ou dissabor."
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed.
Editora Forense, 2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a partir de


provocação doutrinária, a concessão de indenização pelo dano
decorrente do sacrifício do tempo do consumidor em razão de
determinado descumprimento contratual, como ocorre em
relação à necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com
o serviço de atendimento do fornecedor, e outras providências
necessárias à reclamação de vícios no produto ou na prestação
de serviços." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do
Consumidor - Editora RT, 2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do


consumidor provocada por desídia, despreparo, desatenção
ou má-fé (abuso de direito) do fornecedor de produtos ou
serviços deve ser entendida como dano temporal (modalidade
de dano moral) e a conduta que o provoca classificada como
ato ilícito. Cumpre reiterar que o ato ilícito deve ser colmatado
pela usurpação do tempo livre, enquanto violação a direito da
personalidade, pelo afastamento do dever de segurança que
deve permear as relações de consumo, pela inobservância da
boa-fé objetiva e seus deveres anexos, pelo abuso da função
social do contrato (seja na fase pré-contratual, contratual ou
pós-contratual) e, em último grau, pelo desrespeito ao princípio
da dignidade da pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil do
consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual Civil, n.
104, nov-dez/2016, p. 62)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de que o


desvio produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser indenizada,
conforme predomina a jurisprudência:

RELAÇÃO DE CONSUMO - DIVERGÊNCIA DO PRODUTO


ENTREGUE - OBRIGAÇÃO DE FAZER CONSISTENTE NA ENTREGA
DO PRODUTO EFETIVAMENTE ANUNCIADO PELA RÉ E
ADQUIRIDO PELO CONSUMIDOR - INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL - RECONHECIMENTO. (...) Caracterizados restaram os
danos morais alegados pelo Recorrido diante do "desvio
produtivo do consumidor", que se configura quando este,
diante de uma situação de mau atendimento, é obrigado a
desperdiçar o seu tempo útil e desviar-se de seus afazeres à
resolução do problema, e que gera o direito à reparação civil.
E o quantum arbitrado (R$ 3.000,00), em razão disso, longe
está de afrontar o princípio da razoabilidade, mormente pelo
completo descaso da Ré, a qual insiste em protrair a solução do
problema gerado ao consumidor. 3. Recurso conhecido e não
provido. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, ex
vi do art. 46 da Lei nº 9.099/95. Sucumbente, arcará a parte
recorrente com os honorários advocatícios da parte contrária,
que são fixados em 20% do valor da condenação a título de
indenização por danos morais. (TJSP; Recurso Inominado
0003780-72.2017.8.26.0156; Relator (a): Renato Siqueira De
Pretto; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal; Foro de
Jundiaí - 4ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 12/03/2018; Data
de Registro: 12/03/2018)

APELAÇÃO - AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C.C.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONSUMIDOR
DEMANDANTE INDEVIDAMENTE COBRADO, POR DÉBITO
REGULARMENTE SATISFEITO - Completo descaso para com as
reclamações do autor - Situação em que há de se considerar
as angústias e aflições experimentadas pelo autor, a perda de
tempo e o desgaste com as inúmeras idas e vindas para
solucionar a questão - Hipótese em que tem aplicabilidade a
chamada teoria do desvio produtivo do consumidor -
Inequívoco, com efeito, o sofrimento íntimo experimentado
pelo autor, que foge aos padrões da normalidade e que
apresenta dimensão tal a justificar proteção jurídica -
Indenização que se arbitra na quantia de R$ 5.000,00, à luz da
técnica do desestímulo. (...) (TJSP; Apelação 1027480-
84.2016.8.26.0224; Relator (a): Ricardo Pessoa de Mello Belli;
Órgão Julgador: 19ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 05/03/2018;
Data de Registro: 13/03/2018)

RELAÇÃO DE CONSUMO - VÍCIO OCULTO NO PRODUTO(SOFÁ) -


OBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO DA VIDA ÚTIL DO BEM DURÁVEL -
DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMO - INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS - RECONHECIMENTO. 1. (...)
Caracterizados restaram, ainda, os danos morais asseverados
pelo Recorrido diante do "desvio produtivo do consumidor",
que se configura quando este, diante de uma situação de mau
atendimento, é obrigado a desperdiçar o seu tempo útil e
desviar-se de seus afazeres, e que gera o direito à reparação
civil. E o quantum arbitrado (R$ 2.000,00), em razão disso,
longe está de afrontar o princípio da razoabilidade, mormente
pelo completo descaso da Ré, loja de envergadura nacional,
para com o seu cliente. 3. Recurso conhecido e não provido.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos, ex vi do art.
46 da Lei nº 9.099/95. Sucumbente, arcará a parte Recorrente
com os honorários advocatícios da parte contrária, que são
fixados em 20% do valor total da condenação. (TJSP; Recurso
Inominado 1000711-15.2017.8.26.0156; Relator (a): Renato
Siqueira De Pretto; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal;
Foro de Ribeirão Preto - 2ª. Vara Cível; Data do Julgamento:
05/02/2018; Data de Registro: 05/02/2018)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do tempo


que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo destinado na
solução de problemas de causas alheias à sua responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro
impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só garantir à


parte que o postula a recomposição do dano em face da lesão experimentada, mas
igualmente deve, servir de reprimenda àquele que efetuou a conduta ilícita, como
assevera a doutrina:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função


diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam
para a recomposição do patrimônio ofendido, por meio da
aplicação da fórmula "danos emergentes e lucros cessantes"
(CC, art. 402), aqueles procuram oferecer compensação ao
lesado, para atenuação do sofrimento havido. De outra parte,
quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe sanção,
a fim de que não volte a praticar atos lesivos à personalidade
de outrem." (BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos
Morais. 4ª ed. Editora Saraiva, 2015. Versão Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de


Figueiredo e Silva, ao disciplinar o tema:

"Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve


arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta
ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado
pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as
condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais
que se fizerem presentes" (Programa de responsabilidade civil.
6. ed., São Paulo: Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido
aponta a lição de Humberto Theodoro Júnior: [...] "os
parâmetros para a estimativa da indenização devem levar em
conta os recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto que
nada represente para o agente, e não exagerá-la, para que não
se transforme em especulação e enriquecimento injustificável
para a vítima. O bom senso é a regra máxima a observar por
parte dos juízes" (Dano moral. 6. ed., São Paulo: Editora Juarez
de Oliveira, 2009. p. 61). Complementando tal entendimento,
Carlos Alberto Bittar, elucida que"a indenização por danos
morais deve traduzir-se em montante que represente
advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o
comportamento assumido, ou o evento lesivo
advindo.Consubstancia-se, portanto, em importância
compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-
se, de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que
sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do
resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia
economicamente significativa, em razão das potencialidades do
patrimônio do lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT,
1993, p. 220). Tutela-se, assim, o direito violado. (TJSC, Recurso
Inominado n. 0302581-94.2017.8.24.0091, da Capital - Eduardo
Luz, rel. Des. Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva,
Primeira Turma de Recursos - Capital, j. 15-03-2018)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que


sirvam igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas, situações
como estas seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, E nesse sentido, a


indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de
amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta
para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos
transtornos causados.
DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do Art. 300 do CPC/15, "a tutela de urgência será concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo."

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados,


vejamos:

A PROBABILIDADE DO DIREITO resta caracterizada diante da


demonstração inequívoca de que ________ .

Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para aguardar


o desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em


obrigar o autor a esperar o tempo necessário à produção da
provas dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos, uma
vez que o autor já se desincumbiu do ônus da prova e a demora
inerente à prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu
certamente o beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de
Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)

Já o RISCO DA DEMORA, fica caracterizado pela ________ , ou seja, tal


circunstância confere grave risco de perecimento do resultado útil do processo,
conforme leciona Humberto Theodoro Júnior:

"um risco que corre o processo principal de não ser útil ao


interesse demonstrado pela parte", em razão do "periculum in
mora", risco esse que deve ser objetivamente apurável, sendo
que e a plausibilidade do direito substancial consubstancia-se
no direito "invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o
"fumus boni iuris" (in Curso de Direito Processual Civil, 2016. I.
p. 366).
Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza conduta
irreversível, não conferindo nenhum dano ao réu .

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado receio


de dano irreparável, sendo imprescindível a ________ , nos termos do Art. 300 do CPC.

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente atualmente é ________ , tendo sob sua responsabilidade


a manutenção de sua família, razão pela qual não poderia arcar com as despesas
processuais.

Ademais, em razão da pandemia, após a política de distanciamento


social imposta pelo Decreto ________ nº ________ (em anexo), o requerente teve o
seu contrato de trabalho reduzido, com redução do seu salário em ________ ,
agravando drasticamente sua situação econômica.

Desta forma, mesmo que seus rendimentos sejam superiores ao que


motiva o deferimento da gratuidade de justiça, neste momento excepcional de
reduçào da sua remuneração, o autor se encontra em completo descontrole de suas
contas, em evidente endividamento.

Como prova, junta em anexo ao presente pedido ________ .

Para tal benefício o autor junta declaração de hipossuficiência e


comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas
judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do Art. 99 Código
de Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado


na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples,
nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos


autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos
legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de
indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus o
Requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA -


JUSTIÇA GRATUITA - Assistência Judiciária indeferida -
Inexistência de elementos nos autos a indicar que o
impetrante tem condições de suportar o pagamento das
custas e despesas processuais sem comprometer o sustento
próprio e familiar, presumindo-se como verdadeira a
afirmação de hipossuficiência formulada nos autos principais -
Decisão reformada - Recurso provido. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2083920-71.2019.8.26.0000; Relator (a): Maria
Laura Tavares; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público;
Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de Registro:
23/05/2019

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a
doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade,


nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento
máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com bom
renda mensal, seja merecedora do benefício, e que também o
seja aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos
mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que
comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se
desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e
custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora
JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário que a


parte seja pobre ou necessitada para que possa beneficiar-se
da gratuidade da justiça. Basta que não tenha recursos
suficientes para pagar as custas, as despesas e os honorários
do processo. Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente,
se estes bens não têm liquidez para adimplir com essas
despesas, há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de
Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais, 2017.
Vers. ebook. Art. 98)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e
pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente.

A existência de patrimônio imobilizado, no qual vive a sua família não


pode ser parâmetro ao indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E/OU


DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL OU CONCUBINATO.
REVOGAÇÃO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA. (...) Argumento da
titularidade do Agravante sobre imóvel, que não autoriza o
indeferimento do benefício da gratuidade de justiça, pois se
trata de patrimônio imobilizado, não podendo ser indicativo
de possibilidade e suficiência financeira para arcar com as
despesas do processo, sobretudo, quando refere-se a pessoa
idosa a indicar os pressupostos à isenção do pagamento de
custas nos termos do art. 17, inciso X da Lei n.º 3.350/1999.
Direito à isenção para o pagamento das custas bem como a
gratuidade de justiça no que se refere a taxa judiciária. Decisão
merece reforma, restabelecendo-se a gratuidade de justiça ao
réu agravante. CONHECIMENTO DO RECURSO E PROVIMENTO
DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (TJRJ, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 0059253-21.2017.8.19.0000, Relator(a):
CONCEIÇÃO APARECIDA MOUSNIER TEIXEIRA DE GUIMARÃES
PENA, VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL, Julgado em: 28/02/2018,
Publicado em: 02/03/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO


DE USUCAPIÃO. BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA.
COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE. DEFERIMENTO DO
BENEFÍCIO. - Defere-se o benefício da gratuidade da justiça sem
outras perquirições, se o requerente, pessoa natural,
comprovar renda mensal bruta abaixo de Cinco Salários
Mínimos Nacionais, conforme novo entendimento firmado pelo
Centro de Estudos do Tribunal de Justiçado Rio Grande do Sul,
que passo a adotar (enunciado nº 49). - A condição do
agravante possuir estabelecimento comercial não
impossibilita que seja agraciado com a gratuidade de justiça,
especialmente diante da demonstração da baixa
movimentação financeira da microempresa de sua
propriedade. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de
Instrumento Nº 70076365923, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker,
Julgado em 10/01/2018).

Afinal, o Requerente possui inúmeros compromissos financeiros que


inviabilizam o pagamento das custas sem comprometer sua subsistência, veja:

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ...

Ou seja, apesar do patrimônio e renda elevada, todo valor auferido


mensalmente esta comprometido, inviabilizando suprir a custas processuais.

DA GRATUIDADE DOS EMOLUMENTOS

O artigo 5º, incs. XXXIV e XXXV da Constituição Federal assegura a todos


o direito de acesso à justiça em defesa de seus direitos, independente do pagamento
de taxas, e prevê expressamente ainda que a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Ao regulamentar tal dispositivo constitucional, o Código de Processo


Civil prevê:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,


com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.

§ 1º A gratuidade da justiça compreende:


(...)

IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em


decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer
outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial
ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício
tenha sido concedido.
Portanto, devida a gratuidade em relação aos emolumentos
extrajudiciais exigidos pelo Cartório. Nesse sentido são os precedentes sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. BENEFICIÁRIO DA AJG.


EXECUÇÃO DE SENTENÇA. REMESSA À CONTADORIA JUDICIAL
PARA CONFECÇÃO DE CÁLCULOS. DIREITO DO BENEFICIÁRIO
INDEPENDENTEMENTE DA COMPLEXIDADE. 1. Esta Corte
consolidou jurisprudência no sentido de que o beneficiário da
assistência judiciária gratuita tem direito à elaboração de
cálculos pela Contadoria Judicial, independentemente de sua
complexidade. Precedentes. 2. Recurso especial a que se dá
provimento. (STJ - REsp 1725731/RS, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe
07/11/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


EMOLUMENTOS DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL. ABRANGÊNCIA.
Ação de usucapião. Decisão que indeferiu o pedido de isenção
dos emolumentos, taxas e impostos devidos para concretização
da transferência de propriedade do imóvel objeto da ação à
autora, que é beneficiária da gratuidade da justiça. Benefício
que se estende aos emolumentos devidos em razão de
registro ou averbação de ato notarial necessário à efetivação
de decisão judicial (art. 98, § 1º, IX, do CPC). (...). Decisão
reformada em parte. AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP;
Agravo de Instrumento 2037762-55.2019.8.26.0000; Relator
(a): Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 3ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Santos - 10ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 14/08/2014; Data de Registro: 22/03/2019)

Assim, por simples petição, uma vez que inexistente prova da condição
econômica do Requerente, requer o deferimento da gratuidade dos emolumentos
necessários para o deslinde do processo.
DOS PEDIDOS

Isso posto, requer a Vossa Excelência:

1. O deferimento da Gratuidade de Justiça;

2. O deferimento da Tutela de Urgência, para fins de indicar pedido;

3. A citação dos réus para, querendo, responder a presente ação;

4. A total procedência da presente demanda com a declaração da


resolução do contrato, com a devolução imediata dos valores pagos
devidamente atualizados, no valor de R$ ________ , cumulado com
danos materiais no valor de R$ ________ e danos morais em valor
não inferior a R$ ________ ;

5. A produção de todas as provas admitidas em direito;

6. Manifesta o interesse na realização de audiência conciliatória nos


termos do art. 319, VII, do CPC.

7. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios nos


parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC.

Dá-se à causa o valor R$ ________ .

Termos em que pede e espera deferimento.

________ , ________ .

________

ANEXOS:
Comprovante de renda
Declaração de hipossuficiência
Cópia do RG e CPF do Autor
Comprovante de residência do Autor
Procuração
Custas Judiciais
Passagens compradas
Comprovante do pagamento
Provas dos contatos e protocolos
Provas dos prejuízos

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