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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA CÍVEL DA

COMARCA Y DO ESTADO ...

Nº do processo: XXX

Soraia, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe,


representada por seu advogado que este subscreve, na Ação de Indenização por
Danos Morais e Estéticos, que move em face de eletrônicos S/A, inconformada com a
decisão, vem, tempestivamente, perante Vossa Excelência interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

Com fulcro no artigo 1.009 do Código Processual Civil, pelos fatos e


fundamentos a seguir expostos.

Termos em que,
Pede Deferimento.

LOCAL/DATA.

ADVOGADO
OAB/UF
Razões da Apelação

Colenda turma,

Processo origem: xxx

Vara: 1ª Vara Cível da Comarca Y do Estado...

Ad quem: Egrégio Tribunal de Justiça do Estado...

Apelante: Soraia

Apelado: Eletrônicos S/A

 DAS PRELIMINARES

 DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A Apelante requer que seja concedido o benefício da gratuidade de justiça, já que


não tem como arcar com as custas processuais sem que venha a comprometer o seu próprio
sustento e/ou de sua família, conforme dispõe o art.98 do Código de Processo Civil e art. 5º,
inciso LXXIV da Constituição Federal de 1988.

 DA TEMPESTIVIDADE

Porquanto, cabe ressaltar que o recurso é tempestivo, visto que está dentro do
prazo de 15 dias úteis, conforme previsto no art. 1003, § 5º do Código de Processo Civil.

1. Dos Fatos

A apelante quando tinha 13 anos de idade, em junho de 2009, sofreu a


perda da visão do lado direito, após explosão do aparelho de televisão fornecido pelo
apelado e adquirido por sua genitora.

Ocorre que em junho de 2016, a apelante propôs Ação de Indenização por


Danos Morais e Estéticos em face do apelado, em razão do acidente de consumo,
atraindo a responsabilidade pelo fato do produto, sendo dispensada a prova da culpa,
requerendo a condenação da ré ao pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais) a título de danos morais e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos
estéticos sofridos, tendo juntado todas as provas documentais e laudo pericial,
apontando o defeito do produto, assim, dispensando a dilação probatória.

Entretanto, o magistrado da vara de origem da presente ação, em


julgamento antecipado da lide, decretou a improcedência dos pedidos autorais, com
fundamento na inexistência da relação de consumo e na prescrição da pretensão
autoral.

No entanto, como será demonstrado a seguir, a sentença não merece


prosperar, devendo ser reformada em sua totalidade.

2- Dos Direitos

2.1- Aplicabilidade do CDC

O código de defesa do consumidor em seu artigo 2º, caput, estabelece o


conceito de consumidor, sendo o mesmo como: “pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final", o que afasta a alegação do juízo
sentenciante de que é improcedente o pedido autoral, pelo fato da apelante não ter
participado da relação contratual com o apelado.

De fato, segundo Maria Zanardo (1993), pode-se concluir que a tutela oferecida
pelo CDC ao consumidor não se restringe unicamente ao contrato. A defesa do
consumidor abrange a fase pré-contratual, quando vincula o fornecedor às condições
contratuais, bem como às informações por ele divulgadas à coletividade por meio de
mensagem publicitária, e a pós-contratual, como nos casos de responsabilidade pelo
vício ou fato do produto e do serviço.

Logo, não é imprescindível que a pessoa tenha adquirido, ou melhor, comprado


o produto ou pago pelo serviço, pois mesmo aqueles que apenas se utilizam deles, não
os tendo adquirido junto ao fornecedor, também são considerados consumidores. Isso
porque nem sempre a pessoa que se utiliza do produto ou do serviço foi quem
efetivamente os adquiriu.

Segundo Roberto Senise Lisboa (2001), esta finalidade é o cerne da questão


referente à aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, que teve inspiração na
Lei Geral Espanhola de Defesa dos Consumidores e Usuários.

A jurisprudência é enfática no que se refere a relação de consumo:


APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONSUMIDOR.
FATO DO PRODUTO. ACIDENTE COM CILINDRO
LAMINADOR. FATO DO PRODUTO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 12 DO CDC.
DEVER DE INDENIZAR. A responsabilidade pelo fato do
produto é objetiva, sendo afastada somente quando
comprovada a inexistência do defeito ou a culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiros, conforme § 3º do art. 12 do
CDC. Caso em que restou suficientemente evidenciada a
ocorrência do acidente de consumo, consistente no
esmagamento da mão direita do autor em cilindro laminador
que não estava funcionando adequadamente. Fornecedoras
que não comprovaram quaisquer das excludentes do nexo
causal. Sentença mantida. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
MAJORAÇÃO. Em atenção aos parâmetros estabelecidos
pela doutrina e jurisprudência pátrias para a fixação do
montante indenizatório, atento às particularidades do caso
concreto, o quantum de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a
título de danos morais, acrescido de correção monetária e
juros moratórios legais, se mostra razoável e proporcional.
APELAÇÃO DA RÉ METALURGICA VENÂNCIO
DESPROVIDA. APELAÇÃO DO AUTOR PROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70078003217, Décima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa
Franz, Julgado em 26/07/2018).

O CDC institui ainda, no artigo 17, e reforça a existência desta relação de


consumo ao estabelecer que se equiparam aos consumidores todas as vítimas do
evento. No caso em questão, ao fato do produto, que teve como consequência o
acidente sofrido pela autora do processo.

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO


(ART. 17 DO CDC). INSERÇÃO INDEVIDA DE GRAVAME
EM VEÍCULO. FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO.
ACIDENTE DE CONSUMO. DANO MATERIAL E MORAL.
O art. 17 do Código de Defesa do Consumidor prevê a
figura do consumidor por equiparação: aquele que é vítima
de acidente de consumo. Embora não haja relação
contratual entre o autor e a instituição financeira ré, o autor
é considerado consumidor equiparado (art. 17, CDC) na
medida em que seu patrimônio foi atingido pela inserção
indevida de gravame em veículo de sua propriedade, em
virtude da concessão de crédito garantido por alienação
fiduciária pela ré a terceira pessoa, sem que a parte autora
tivesse qualquer liame jurídico com esse contrato. Se o
proprietário ficou impossibilitado de negociar o bem através
de venda, permuta, compensação, etc., em momento mais
remoto, quando o veículo era mais valorizado, mostra-se
cabível a indenização pelo prejuízo sofrido por conta da
desvalorização do bem, conforme tabela de valores
referenciada de mercado (Tabela FIPE). Há ocorrência de
violação aos direitos da personalidade do consumidor, bem
como aos direitos fundamentais da honra e privacidade, pois
o apelado experimentou constrangimentos, transtornos e
aborrecimentos, em razão da inclusão indevida de gravame
em bem pertencente ao seu patrimônio, à sua total revelia
(R$5.000,00). Apelação não provida. (TJ-DF - APC:
20140310033164, Relator: ANA MARIA DUARTE
AMARANTE BRITO, Data de Julgamento: 27/01/2016, 6ª
Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE :
02/02/2016 . Pág.: 340)

Insta salientar que o artigo 12 do CDC, trata da responsabilidade do fornecedor


pelo fato do produto, independente de culpa, pelo dano causado em razão do defeito
do produto, conforme constatado pelo laudo pericial acostado aos autos da ação
principal.

Fato do produto é o mesmo que acidente de consumo. Haverá fato do produto


ou do serviço sempre que o defeito, além de atingir a incolumidade econômica do
consumidor, atinge sua incolumidade física ou psíquica. Nesse caso, houve danos à
saúde física e psicológica do consumidor, que sofreu grave consequência em razão do
defeito do aparelho eletrônico, vindo a perder a visão do lado direito, o impossibilitando
de seguir a sua vida naturalmente.

Segundo Maria Helena Diniz a responsabilidade objetiva é aquela “fundada no


risco, sendo irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma
vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e
a ação do agente para que surja o dever de indenizar. ”

Nesse sentido, Rizzatto Nunes acrescenta que “o estabelecimento da


responsabilidade de indenizar nasce do nexo de causalidade existente entre o
consumidor (lesado), o produto ou serviço e o dano efetivamente ocorrente. ”

2.2 - Prescrição

Quanto ao segundo fundamento da r. sentença, pretende-se a


reconsideração e o afastamento da hipótese de prescrição, tendo em vista que não
corre prazo prescricional em face do absolutamente incapaz, independentemente de
estar ou não representado em juízo, conforme delineia o art. 198, inciso I, do Código
Civil.

De fato, o prazo prescricional passou a contar da data que a apelante


completou 16 anos de idade, sendo considerada, à luz do artigo 4º, inciso I, C.C, como
relativamente capaz, podendo exercer em juízo sua pretensão.

Desta forma, a prescrição iniciaria no ano de 2012 e teria seu prazo final no
ano de 2017, tendo em vista o artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor, que
institui o prazo quinquenal para pretensão a reparação por danos causados por defeito
do produto, isto é, no que se refere ao acidente de consumo.

Nesse mesmo sentido, assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul e de Minas Gerais:

“Com efeito, a orientação jurisprudencial pacífica desta Corte


Superior é no sentido de que a inscrição indevida em órgão de
restrição ao crédito é decorrente de um vício de adequação do
serviço realizado pelo banco, aplicável a regra o disposto no art.
206, § 3º, do CC/02, POIS NÃO SE TRATA DE REPARAÇÃO DE
DANOS CAUSADOS POR FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO,
requisitos essenciais para a aplicação do prazo prescricional
descrito no art.27 do CDC.” (AgRg nº 1.418.421 – RS
[2011/0135410-3])

DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS E ESTÉTICOS E
REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS. ACIDENTE NO
INTERIOR DE ÔNIBUS. TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO.
FATO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL.
ART. 27 DO CDC. 1. Ação ajuizada em 16/05/2006. Recurso
especial interposto em 04/01/2013 e atribuído a esta Relatora em
25/08/2016. Julgamento: Aplicação do CPC/73. 2. O acidente
ocorrido no interior de ônibus afeto ao transporte público coletivo,
que venha a causar danos aos usuários, caracteriza defeito do
serviço, nos termos do art. 14 do CDC, a atrair o prazo de
prescrição quinquenal previsto no art. 27 do mesmo diploma legal.
3. Hipótese em que não houve o implemento da prescrição, na
medida em que o acidente ocorreu em 04/09/2002 e a ação
indenizatória foi ajuizada pela usuária na data de 16/05/2006. 4.
Recurso especial conhecido e não provido.
(STJ - REsp: 1461535 MG 2014/0130149-2, Relator: Ministra
NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 20/02/2018, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/02/2018)

Desta forma, resta clara e objetiva a reparação requerida pela autora em


face da empresa Ré, visto que sua responsabilidade é objetiva, devendo ser
condenada ao pagamento das verbas indenizatórias pleiteadas.

3. Dos Pedidos

Em face de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

3.1) Que seja deferida a gratuidade de justiça;

3.2) O conhecimento do presente recurso, visando a reforma da sentença em sua


totalidade, para que seja julgada procedente a ação, condenando o apelado a pagar ao
apelante, os danos morais e estéticos nos termos da inicial;

3.3) A intimação do apelado para, querendo apresentar contrarrazões, no devido


prazo legal;

3.4) Que seja dado provimento ao recurso;

3.5) Que seja condenado o apelado ao pagamento dos honorários advocatícios e


custas processuais, nos termos do art. 85, CPC.

Termos em que,
Pede Deferimento.

LOCAL/DATA.

ADVOGADO.
OAB/UF

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