Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DO 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOSÉ

DE RIBAMAR/MA.

AMALIA CRISTINA TRINDADE SOUZA PEREIRA, brasileira,


solteira, técnica em laboratório, portadora do RG nº 032580752007-
0, devidamente inscrita no CPF sob o nº: 43228810330, residente e
domiciliada na TV TRINDADE, nº 28, CEP: MATINHA – SÃO JOSE DE
RIBAMAR MA, CEP. 65110-000, por seu Advogado ao final assinado
(instrumento de procuração em anexo), vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de MERCADO LIVRE S.A./EBAZAR, Pessoa Jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ: 03.007.331/0001-41, com endereço
na Avenida Marte, 489, Térreo, Parte A, Santana de Paraíba/SP,
CEP:06541-005, e V.B.M PINHEIRO, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ: 40.608.483/0001-26, com endereço a Rua
Donaria, 55 Casa 1 Parte, São Benedito, Nova Iguaçu RJ, CEP 26022-
290 pelos fatos e motivos abaixo expostos:

1
1. DOS FATOS:

No dia datado em 25/01/2023, a parte autora realizou a


compra de uma boneca realística Bebê Reborn Corpo de Silicone pela
internet, no valor de R$ 185,16 (cento e oitenta e cinco reais e
dezesseis centavos) pelo MERCADO LIVRE, nas lojas SHOPON.

Com a compra do produto tinha o intuito de presentear sua


neta que tem 11 anos de idade. Após receber o produto e então
entregar para sua neta tinha dentro de si, um sentimento enorme de
felicidade.

Porém, este sentimento não durou por muito tempo, quando


através de sua filha recebeu a notícia de que a boneca que ela
havia dado para sua filha tinha como órgão sexual um Pênis. Fato
este que foi observado primeiro pela criança quando tirou a roupa
da boneca para dar banho a mesma.

Quando a criança observou tal situação questionou para mãe


o porquê de a boneca ter o órgão diferente dos demais, fato este,
que ela nunca havia visto antes.

Alega ainda a autora que tal ato da empresa requerida foi


de extrema irresponsabilidade, gerando grande constrangimento,
danos psicológicos e Morais para toda a família da autora e
principalmente para a criança que foi presenteada com o produto, já
que foi a primeira a observar tal situação.

Diante de tais fatos narrados, e inquestionável que a


empresa requerida agiu de forma negligente com sua cliente e autora
da presente ação, por este motivo, não restou uma alternativa a
mesma, senão vir a este MM. Juízo requerer reparação no que lhe
seja de direito.

2
2. DA JUSTICA GRATUITA:

A Constituição Federal imputa ao Estado a prestação


jurisdicional de forma gratuita em sua integralidade àqueles que
não possuírem capacidade de arcar com as despesas. Vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e


gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Ainda, o Código de Processo Civil endossa o direito ao


benefício da justiça gratuita em seu art. 98:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios
têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Dito isto, cumpre esclarecer que a requerente faz jus à


concessão do benefício da assistência judiciária gratuita. À vista
disso, diante das fundamentações supra, bem como da incapacidade da
requerente e do ato declaratório, tem-se que se faz de extrema
necessidade a concessão do benefício da justiça gratuita. É pelo
que pugna, desde já, a requerente.

3. DO DIREITO:

3.1 DA APLICABILDADE DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:

É cediço que o Código de Defesa do Consumidor regula todas


as relações entre consumidores e fornecedores. No caso em apreço, a

3
parte autora se enquadra como consumidor final, conforme depreende-
se do artigo 2º do referido diploma legal:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que


adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Por outro lado, em observância ao artigo 3º do Código de


Defesa do Consumidor, o fornecedor é:

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública


ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Nesse sentido, no caso em apreço, a parte ré deve responder


objetivamente pelos danos que der causa, nos termos do art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor:

Art. 14 O fornecedor de serviços responde, independentemente,


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos. § 1º Produto é qualquer bem, móvel ou
imóvel, material ou imaterial.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Deste modo, não há dúvidas de que há uma evidente relação


de consumo entre as partes e, portanto, deve ser aplicado o Código
de Defesa do Consumidor.

4
3.2 DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E DA RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA.

A proteção do consumidor é direito fundamental e princípio


da ordem econômica ( CF/88 arts. 5º XXXII, e art. 170, V), sendo o
Código de Proteção e Defesa do Consumidor norma de ordem pública (
CDC, art. 1º).

Dessa forma, havendo violação de direitos do consumidor,


deve o CDC ser aplicado de ofício pelo magistrado de 1º grau, bem
como, por força do efeito translativo dos recursos, em 2º grau de
jurisdição.

O direito consumerista brasileiro tem por base a Teoria


Geral do Direito do Consumidor - a qual trata da sua natureza
jurídica, princípios, relação de consumo, princípios específicos e
regras de interpretação – e visa efetivar a teoria da qualidade ou
confiança positivada nos artigos 8 a 10.

Sabe-se, doutra banda, que a boa-fé é um princípio


normativo que exige uma conduta das partes com honestidade,
correção e lealdade. O princípio da boa-fé, assim, diz que todos
devem guardar fidelidade à palavra dada e não frustrar ou abusar da
confiança que deve imperar entre as partes.

Nas palavras de Tereza Negreiros:

“O princípio da boa-fé, como resultante necessária de uma


ordenação solidária das relações intersubjetivas, patrimoniais
ou não, projetada pela Constituição, configura-se muito mais
do que como fator de compreensão da autonomia provada, como um
parâmetro para a sua funcionalização à dignidade da pessoa
humana, em todas as suas dimensões.” (Fundamentos para uma
Interpretação Constitucional do Princípio da Boa-Fé, Ed.
Renovar, Rio de Janeiro, 1998, pág. 222-223).

5
No caso sub judice, a atitude promovida pelo requerido
vetoriza- se em um ato ilícito que, na lição do inolvidável Orlando
Gomes é:

“Ação ou omissão culposa com a qual se infringe direta e


imediatamente um preceito jurídico do direito privado,
causando-se dano a outrem” (GOMES, Orlando. Introdução ao
direito civil. Rio de Janeiro, Forense, 1987, pág. 314).

O dano causado pelo ato ilícito praticado pela requerida


rompeu o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente.

Assim, busca-se restabelecer o equilíbrio, recolocando o


prejudicado no status quo ante. Aplica-se, nesse caso, o princípio
restiutio in integrum. Indenizar pela metade seria fazer a vítima
suportar o dano, os prejuízos.

Por isso mesmo – e diferentemente do Código Civil de 1916 –


o novo Código, no artigo 944, caput, positivou o princípio da
reparação integral, segundo o qual o valor da indenização mede-se
pela extensão do dano.

Assim, quando alguém comete um ato ilícito, há infração de


um dever e a imputação de um resultado. E a consequência do ato
ilícito é a obrigação de indenizar, de reparar o dano, nos termos
da parte final do artigo 927 do CCB.

Na linha do CDC, como se sabe, a responsabilidade é


denominada OBJETIVA, ou seja:

“(...) aquela fundada no risco, sendo irrelevante a conduta


culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a
existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima
e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.”
(Maria Helena Diniz, Dicionário Jurídico, São Paulo, Saraiva,
1998, vol. IV, pág. 181).

6
Ficou evidente, que, através de atos de seus prepostos, a
requerida não prestou o serviço nos moldes do contrato que ela
disponibilizou, configurando-se VÍCIO DE QUALIDADE DO SERVIÇO,
sendo totalmente responsável pelos danos morais e materiais
advindos da má prestação do serviço, nos termos do artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor.

Trata-se, portanto, de responsabilidade objetiva do


fornecedor pelos danos causados ao consumidor pelo serviço
defeituoso, sejam estes de ordem material ou moral. Essa falha na
prestação do serviço ocorre devido a não observância do dever de
cuidado.

Assim, pode-se pautar na doutrina e no legislador pátrio,


que inferem a responsabilização objetiva nas relações de consumo,
eis que, na maioria das vezes, como no caso em questão, a relação é
de hipossuficiência do consumidor em comparação ao fornecedor.

É inequívoca, portanto, a responsabilidade civil da empresa


promovida. Os danos morais sofridos pela promovente são notórios.
Por tudo isto está clara e fartamente demonstrada a
responsabilidade de indenizar o Requerente por todos os danos
sofridos, advindos da prestação de serviços oferecidas pela parte
Ré.

3.3 DO DANO MORAL:

Reputa-se salutar tecer algumas considerações preliminares


acerca do dano moral, com o escopo de conceituá-lo à luz do nosso
ordenamento jurídico.

Ensina a boa doutrina que a expressão dano moral


tecnicamente qualifica o prejuízo extrapatrimonial, possuindo um

7
sentido mais amplo e genérico, pois representa a lesão aos valores
morais e bens

não patrimoniais, reconhecidos pela sociedade, tutelados pelo


Estado e protegido pelo ordenamento jurídico.

Maria Cristina da Silva Carmignani, em trabalho publicado


na Revista do Advogado nº 49, editada pela conceituada "Associação
dos Advogados de São Paulo", ensina que:

"(...) a concepção atual da doutrina orienta-se no sentido de


que a responsabilidade de indenização do agente opera-se por
força do simples fato das violações (danun in re ipsa).
Verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação,
não havendo que se cogitar de prova do dano moral, se
presentes os pressupostos legais para que haja a
responsabilidade civil (nexo de causalidade e culpa)".

A Ré descumpriu o contrato de consumo acordado, consistindo


tal comportamento, diante do inadimplemento da obrigação pactuada,
em prática abusiva ao direito do consumidor, passível, eis a
entrega de produto divergente, portanto, há de se falar em
reparação pelos danos morais sofridos, haja vista a interrupção da
obra causada pela imperícia da empresa requerida.

Ora, a situação apresentada na presente ação transcendeu a


barreira do mero aborrecimento, razão pela qual a parte autora
busca uma devida reparação por todos os danos, aborrecimentos,
transtornos causados pela Ré, que age com absurda falta de atenção
para com seus clientes.

Concorre também que, o Artigo 186 e o Artigo 927 do Código


Civil de 2002, assim estabelecem:

8
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. ”
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. ”

No que tange à proteção e defesa do consumidor, a reparação


dos danos se baliza na responsabilização do ofensor com vistas à
satisfação pessoal ou econômica do consumidor, consistindo seu
objetivo maior, na verdade, servir de desestímulo a práticas
lesivas nas relações de consumo, a exemplo da que ocorreu ´´in casu
´´.

Isso porque, afiguram-se como direitos básicos do


consumidor, em matéria de dano e sua reparação, a teor do disposto
do art. 6º, incisos VI e VII, do Código de Defesa do Consumidor.

Manifesta abusividade por parte da Ré, pela não entrega do


produto correto e pelo descumprimento da oferta, se devem ao fato
da impunidade das empresas atuantes no mercado. Assim, a Ré deve
ser responsabilizada e condenada aos danos morais sofridos pelo
Autora, para que assim, cessem tais abusividades e desestimulem
tais práticas no mercado de consumo brasileiro.

Imagine a seguinte situação, vossa excelência: uma avó


compra pela internet uma boneca, com o intuito de presentear sua
neta, uma menina cuja idade e de 11 anos. Essa senhora recebe a
encomenda e então entrega tal presente para sua neta, até então
acreditando que de fato se tratava de uma boneca.

Só que algumas horas após entregar o presente recebe para


sua surpresa um telefonema de sua filha explicando que a boneca que
ela havia entregado, tinha um pênis e essa situação foi
primeiramente observada pela criança que ganhou o presente.

9
Imaginemos o constrangimento que a autora passou ao receber
tal notícia, pois de fato na hora da compra não especificava na
descrição do produto que a boneca tinha um pênis. Tal situação se
deu origem pelo erro da empresa que vendeu o produto, acarretando
com isso problemas psicológicos para a criança que recebeu a tal
´´boneca´´.

Portanto, sem mais delongas, entende-se que no caso em tela


houve sim inúmeros fatos para determinar a aplicação de uma
indenização referente ao dano moral sofrido pela Autora, por tudo
isso deve à mesma ser indenizada em valor a ser arbitrado por esse
juízo de maneira justa, seguindo-se a orientação dada pelos nossos
Tribunais superiores.

4. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A questão da inversão do ônus da prova é de suma


importância, uma vez que se esquecida pode acarretar lesão para os
que a ela se sujeitam.

O art. 6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor,


garante que sejam facilitados os direitos do consumidor, inclusive
com a inversão do ônus da prova a seu favor, quando a critério do
magistrado, a alegação for verossímil ou quando for ele,
hipossuficiente.

Em se tratando de verossimilhança, sendo esta mais um


indício de prova, pode-se inferir que decorre daquilo que tem uma
probabilidade de verdade, e esta fica mais do que demonstrada no
caso em questão por meio dos documentos em anexo.

Em contrapartida a hipossuficiência é a vulnerabilidade,


impotência, a diminuição da capacidade do consumidor em relação à
vantagem econômica da empresa fornecedora, a ser constatada em cada

10
relação jurídica, que deixa o consumidor debilitado em relação ao
fornecedor, necessitando de maior proteção e defesa.

Portanto, comprovada a verossimilhança e a hipossuficiência


alegadas pela parte autora, torna-se relevante a inversão do ônus
da prova, pois faz com que o consumidor de boa–fé seja consciente
de seus direitos e o fornecedor de sua responsabilidade.

Diante disso, convém assinalar a posição inferiorizada do


consumidor, reconhecida pela doutrina, jurisprudência e pela lei,
no que tange às relações com fornecedores.

Faz-se menção, de extrema pertinência, ao princípio da


igualdade (artigo 5º, caput da Constituição Federal) em consonância
com a interpretação das relações entre consumidor e fornecedor.

Ocorre que, sabidamente, interpreta-se tal dispositivo com


a finalidade de equilibrar partes em relação em que há patente
desequilíbrio, sendo a escolha do legislador quando da positivação
do artigo 4º do CDC caput e inciso I, como se verá adiante.

É pacífica, a existência no mundo jurídico dos princípios


contratuais de boa-fé subjetiva e objetiva, além de todos os ideais
de respeito aos interesses individuais e coletivos. Assim,
aplaudimos a opção do legislador no que diz respeito à confecção do
caput do artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, nos termos do art. 6º, VIII da Lei 8.078/90, requer-


se a inversão do ônus da prova em favor da parte autora.

5. DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, requer a procedência do pedido para:

11
I. O deferimento do benefício da justiça gratuita, nos
termos do art. 5º, LXXIV, da Constituição e Código de
Processo Civil, artigos 98 e 99;
II. A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, na forma do art. 6º, VIII
da Lei 8.078/90 ( Código de Defesa do Consumidor);
III. A devolução da quantia paga monetariamente atualizada
no montante de R$ 185,16 (cento e oitenta e cinco
reais e dezesseis centavos.
IV. A condenação solidária das requeridas nos termos do
artigo 18 do CDC a pagarem indenização por DANOS
MORAIS à requerente no valor de R$ 12.000,00 (doze mil
reais) por enviar uma boneca transexual.
V. A condenação em honorários advocatícios de sucumbência
a serem arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o
valor total da condenação.

Dá-se à causa o valor de R$ 12.185,16 (doze mil cento e


oitenta e cinco reais e dezesseis centavos).

Termos em que pede Deferimento.


São Luís/MA, 05 de maio de 2023.

Júlio César Primeiro Oliveira Teixeira


Advogado OAB/MA 13.719

12

Você também pode gostar