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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DO


RIO DE JANEIRO

XXXXXXXXXXXXXXXXXX, brasileiro, casado, identidade nº XXXXX-5, CPF/MF


XXXXX, residente na XXXXXXXXXXXX s/n – Leblon – CEP.: XXXXXXXXXXX, vem,
respeitosamente, por suas advogadas regularmente constituídas, propor a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c RESSARCIMENTO DE DANOS MORAIS

contra XXXXXXXXXX., estabelecida na Rua Fonseca nº 240 – loja XXXXXXX, XXXXXX –


CEP.: 23.088-070, CNPJ nº 33.041.260/0866-11, pelas seguintes razões de fato e de direito:

Visando presentear sua filha para as festividades de Natal e Ano Novo, o autor adquiriu, em
12.11.2013 da empresa ré um CONJUNTO DE MESA DE JANTAR FERRARA COM 8
CADEIRAS, UM CONJUNTO ESTOFADO ATRATIVE E, UM PAINEL DEC 150 EDN
VERSÁTIL C/ SUP CARV TOQ/PTO, totalizando a importância de R$3.892,95, paga através de
cartão de crédito em 10 parcelas, consoante comprovam as notas em anexo.

Logo ao receber a mercadoria, em 21.11.2013, a filha do autor percebeu que a mesa estava
riscada, uma das cadeiras com defeito e o painel rachado, o que foi imediatamente informado aos
entregadores e ao autor.

Assim, o autor contatou a empresa ré, tendo sido informado que as peças seriam substituídas,
no prazo máximo de uma semana.

Inobstante a promessa de troca a ser realizada em no máximo uma semana, somente em


28.12.2013, ou seja, após o Natal, foi feita a troca da da cadeira e do painel. A cadeira, foi entregue
em perfeito estado, porém, o painel trocado veio em pior estado do que o anteriormente entregue, o
que fez com que a filha do autor não aceitasse a mercadoria.

Inobstante a não aceitação, os funcionários da empresa ré deixaram o painel embalado em


sua residência, informando que retornariam para uma nova troca.

Em 28.01.2014, uma nova visita foi realizada pelos prepostos da ré, agora para a entrega tão
somente da mesa, que, mais uma vez foi entregue com defeito.
Acerca do painel, foi a filha do autor informada que deveria entrar em contato direto com o
SAC.

Assim procedeu o autor. Contatou o SAC da empresa ré, que informou que no prazo máximo
de 7 dias os produtos seriam trocados.
Ocorre que, além do autor ver frustradas as comemorações de fim de ano na casa de sua
filha, com os novos móveis adquiridos para guarnecer sua residência, até a presente data, não houve
a troca dos produtos defeituosos.

Tendo exaurido os meios suasórios para a solução da questão narrada, não restou ao autor,
alternativa, senão a de ajuizar a presente demanda visando a tutela de seus direitos.

O Código de Defesa do Consumidor, é cristalino ao especificar em seu artigo 3° § 2° que:

“Art. 3º -....
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.”

E, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, é meridiano ao demonstrar a


responsabilidade de quem presta serviço:

"Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."

Outrossim, os artigos 18 e 20 do mesmo dispositivo, dispõe:


“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados
ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
        § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
        I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
        II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
        III - o abatimento proporcional do preço.”

"Art. 20 - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios
ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:...
II - a restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
§ 2º - São impróprios os serviços que se mostram inadequados para os fins que razoavelmente
deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade."

O artigo 186 do Código Civil Pátrio dispõe que:

“Art. 186 - Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

E, mais adiante, em seu artigo 927, preconiza que:

“Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único - HAVERÁ OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO, INDEPENDENTEMENTE
DE CULPA, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifo)

O dano é dos elementos necessários à configuração da responsabilidade civil, o que suscita


menos controvérsia já que NÃO PODE HAVER RESPONSABILIDADE SEM QUE EXISTA UM
DANO.
O artigo 5º, V da Carta Magna garante a indenização por dano moral.

O doutrinador Uadi Lammêgo Bulos, em usa obra "Constituição Federal Anotada", 3ª


Edição, pág.95, é meridiano ao retratar o caso em tela:

"...Óbvio que a ofensa sofrida pela pessoa lesada, como no caso de alguém que passa por uma
humilhação pública, varia em grau de intensidade, pois cada um sente a seu modo a dor moral
que lhe foi endereçada. Mas isso não basta para admitirmos que o direito não repara qualquer
padecimento, dor ou aflição. Ao contrário, o dano moral, como toda e qualquer lesão a direitos,
constituiu prioridade suscetível de reparação pela ordem jurídica. Basta que existam atos lesivos,
atentado contra interesse extrapatrimoniais de pessoa física ou jurídica, através de ação ou
omissão de terceiros, para vermos seu aparecimento. Assim, o dano moral é detectado pela dor,
mágoa, todas as espécies de sentimentos negativos, que maltratam e depreciam a pessoa física.
Exterioriza-se através de lesões extrapatrimoniais que atingem aspectos da personalidade da
pessoa, ensejando-lhe constrangimento, vexame de toda espécie." (grifo)

O dano moral é caracterizado pelo constrangimento, a vergonha, o sofrimento de alguém, em


decorrência de um ato danoso. É a dor física ou psicológica sentida pelo indivíduo, no caso em tela,
os móveis adquiridos que simplesmente não podem ser usufruídos pela filha do autor. E pior, não
puderam ser utilizados para as festividades de fim de ano.

Vale ressaltar, sobre a responsabilidade do réu pelo serviço que oferece.

Para tanto, mister transcrever ensinamento do Dr. Sérgio Cavalieri Filho sobre a Teoria do
Risco do Empreendimento:
"...todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever
de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente
de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem
como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os
destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a
realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar
determinados serviços.
O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado de
consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos. O consumidor não pode assumir
os riscos da relação de consumo, não pode arcar sozinho com os prejuízos decorrentes dos
acidentes de consumo, ou ficar sem indenização."

Este posicionamento doutrinário é ratificado pela jurisprudência em grande número de


decisões, como esta:

"O dano moral não é estimável por critérios de dinheiro. Sua indenização é esteio para a oferta de
conforto ao ofendido, que não tem a honra paga, mas sim uma reparabilidade ao seu desalento."
(TJSP - 5ª C. - Ap. - Rel. Silveira Neto, j.29/10/92 - JTL - LEX 142/104)

Destarte, o indivíduo ou firma, que pratique qualquer ato, omisso ou comissivo, de que
resulte prejuízo, deve suportar as consequências do seu procedimento. É regra elementar de
equilíbrio social, consistindo na justa reparação e obrigação que a lei impõe a quem causa dano
injustamente a outrem.
Havendo dano, há prejuízo, e consequentemente o dever de indenizar, por parte daquele que
produziu o dano.
José de Aguiar Dias, em “Da Responsabilidade Civil”, p. 718, ensina:
“O dano se estabelece mediante o confronto entre o patrimônio realmente existente após o dano e
o que possivelmente existiria se o dano não se tivesse produzido: o dano é expresso pela diferença
negativa encontrada nesta operação.” (grifo)

No caso em tela, a ré agiu com culpa manifesta, seja por ação ou por omissão, não se
podendo questionar que efetivamente foi negligente na condução das suas atividades usuais, não
havendo qualquer argumento concreto que justifique uma conduta capaz de excluir a sua
responsabilidade.

O dano moral deve ser reputado quando existir a dor, vexame, sofrimento que fugindo a
normalidade, interfira no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem estar, conduzindo a lesões em interesses alheios, juridicamente protegidos,
atingindo, apenas, a reserva psíquica do ofendido, prejudicando sua imagem perante a sociedade.

O DANO MORAL é “todo sofrimento humano, moral ou físico, resultante de lesão de direito não
patrimonial, que não implique em perda pecuniária direta, embora possa, em certos casos, produzir reflexos
econômicos.” (“Novo Dicionário Jurídico Brasileiro”, pag. 415, José Naufel)

Pode o dano moral ser entendido como aquele que de uma forma direta ou indireta atinge as
pessoas fora do espectro econômico de seu patrimônio.

Ressalte-se que o dano moral, por se tratar de algo imaterial, não é comprovado pelos
mesmos meios utilizados para a demonstração do dano material, pois jamais poderia a vítima
comprovar sua dor, tristeza, ou humilhação através de documentos, perícia ou depoimentos, estando
inserido na própria ofensa, de tal modo que provado o fato danoso ipso facto está demonstrado o
dano moral à guisa de uma presunção natural, vez que:
“O DANO SIMPLESMENTE MORAL SEM REPERCUSSÃO NO PATRIMÔNIO, NÃO HÁ
COMO SER PROVADO. ELE EXISTE... SOMENTE PELA OFENSA E DELA É PRESUMIDO,
SENDO BASTANTE PARA JUSTIFICAR A INDENIZAÇÃO...” (RT 681/163)

A indenização mede-se pela extensão do dano. E, o ato ilícito constituiu-se pela ingerência,
irresponsabilidade e negligência da ré, causando inúmeros prejuízos de ordem moral ao autor que,
repita-se, presenteou sua filha para as festividades de Natal, onde a mesma receberia toda a família e
viu suas expectativas frustradas.

O nexo de causalidade existe, nascendo daí o dever de indenizar os danos resultantes do ato
ilícito praticado, consoante disposto no artigo 186 do Código Civil.

De acordo com sábio comentário de Nelson Nery Junior, acerca do artigo 51, in, “Código de
Defesa do Consumidor”, p. 416:

“Os artigos 12, § 3, e 14, § 3, do CDC, determinam que, para haver exclusão da
responsabilidade de o fornecedor indenizar o dano decorrente do fato do produto ou do serviço
(acidentes de consumo), é preciso que ele comprove a existência e verificação das causas
excludentes adotadas pela lei.” (grifo)

A reparação pelos danos morais sofridos pelo autor tem cabimento, pois nada fez a ré no
sentido de sanar os problemas causados, sendo inarredável a sua culpa.

Saliente-se ainda que a parte autora tem direito a inversão do ônus da prova em seu favor, eis
que é hipossuficiente face a ré e suas alegações são verossímeis pois, de acordo com o art. 6º do
Código de Defesa do Consumidor:

"São direitos básicos do consumidor: ...


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando a critério do juiz for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; "

O ilustre professor Helio Gama, em sua obra Curso de Direito do Consumidor, ensina que:
"A defesa dos direitos do consumidor deve ser facilitada, porque ele sempre figura em condições
de inferioridade nas relações jurídicas que envolvam as aquisições de bens e serviços ou seus
consumos. Isto porque o fornecedor é uma pessoa sempre treinada ou tem equipes de pessoas
treinadas para lidar com o consumidor, enquanto este raramente está conhecendo todas as tramas
dos negócios ou todas as formas de consumir um produto."

Desta forma, urge a reparação dos danos causados ao autor, consubstanciados como
largamente demonstrado nos autos, posto que o que se busca, in casu, com a tutela ressarcitória é o
restabelecimento do equilíbrio de uma situação patrimonial destruída pelo ato ilícito.

Ademais tem-se que, em sendo relação de consumo, a responsabilidade é objetiva, devendo


desta forma responder a ré, pelos danos causados, como medida de Justiça.

A ideia da responsabilidade civil, presente em qualquer comunidade social está vinculada ao


preceito moral de não prejudicar o outro e a noção de reparação do dano a terceiro.

Na verdade, a atenção maior do direito, conforme variadas circunstâncias, pode recair sobre
o causador do dano ou sobre a vítima.
O objetivo principal da norma jurídica parece ser de censura ao causador do dano. Já quando
a preocupação maior é com a vítima do dano (a reconstituição de seu patrimônio), o fim maior,
naturalmente não é a censura (reprovação da conduta humana), devendo a reparação ocorrer
independentemente da valoração da conduta daquele que terá obrigação de indenizar.

Como regra geral, a Lei n° 8.078/90 estabeleceu a responsabilidade objetiva do prestador de


serviços, desconsiderando o elemento culpa, sejam os danos decorrentes de acidente de consumo,
sejam decorrentes de vícios de qualidades dos produtos.

O CODECON acolheu o pressuposto de responsabilidade objetiva, independente de culpa,


seja para o produto, como para o serviços (arts. 12 e 18), restando apenas para o dever de indenizar a
materialização do dano.

Como bem ensinado pelo Ministro José de Jesus Filho no cenário da Corte Federal: “SE A
DOR NÃO TEM PREÇO A SUA ATENUAÇÃO O TEM”.

Assim também entendeu o Min. Barros Monteiro no RE 8.768-SP, 4ª T., publicado no DJ de


06.04.92, n° 122:

“Sobrevindo, em razão de ato ilícito, perturbação nas relações psíquicas, na tranquilidade, nos
sentimentos e nos afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de indenização.”

Desta forma, impõe-se, obrigatoriamente, ser a ré responsabilizada pelos danos efetivamente


causados. E, na quantificação do dano moral, há de ser levada em consideração da capacidade
econômica do agressor, bem como o grau de reprovabilidade da conduta ilícita. Neste sentido:

“Dano moral. Quantificação. Critérios observáveis. O dano moral deve ser arbitrado de acordo
com o grau de reprovabilidade da conduta ilícita, com a capacidade econômica do causador do
dano, com as condições sociais do ofendido, em quantitativo consentâneo com a natureza e
intensidade da humilhação, da tristeza e do constrangimento sofridos pelo ofendido, com o ato
ilícito praticado pelo ofensor.
A indenização deve representar uma punição para o infrator, capaz de desestimulá-lo a
reincidir na prática do ato ilícito, e deve ser capaz de proporcionar ao ofendido um bem estar
psíquico compensatório do amargor da ofensa”. (Des. Pestana de Aguiar, Presidente e Des.
Wilson Marques, Relator)

De acordo com conhecida lição do insigne mestre Caio Mário da Silva, in “Direito Civil,
Volume II, n° 176, na fixação do quantum debeatur, deve o juiz:
“1) Punir pecuniariamente o infrator pelo fato de haver ofendido um bem jurídico da vítima,
posto que imaterial; 2) Por nas mãos do ofendido uma soma que não é pretium doloris, porém
meio de lhe oferecer oportunidade de conseguir uma satisfação... ou seja um bem estar psíquico
compensatório do mal sofrido, numa espécie de substituição da tristeza por alegria...”

Pelo exposto, requer a autora se digne V. Exª de:

a) determinar a citação do réu para, querendo, contestar a presente, sob pena de confissão e revelia;

b) deferir a inversão do ônus da prova;

c) julgar procedente a presente demanda, condenando a ré a efetivar a troca do painel e mesa


defeituosos por produtos em perfeito estado de utilização, ou a escolha do autor;

d) julgar procedente a presente demanda, para condenar o réu ao pagamento de indenização pelos
danos morais em valor a ser fixado por V. Exª;

Protestando por todo o gênero de provas em direito admitidas dá-se à causa o valor de
R$10.000,00 (dez mil reais) para efeitos de alçada, declarando as signatárias ter escritório na Praça
Panamericana n° 31/A-B.

Outrossim, esclarece que deixa de requerer a realização de prova pericial, bem como a
testemunhal, em virtude da vasta documentação comprobatória dos defeitos apresentados.

Nestes termos,
P. deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2014

ADVOGADO
OAB/RJ

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