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Visando presentear sua filha para as festividades de Natal e Ano Novo, o autor adquiriu, em
12.11.2013 da empresa ré um CONJUNTO DE MESA DE JANTAR FERRARA COM 8
CADEIRAS, UM CONJUNTO ESTOFADO ATRATIVE E, UM PAINEL DEC 150 EDN
VERSÁTIL C/ SUP CARV TOQ/PTO, totalizando a importância de R$3.892,95, paga através de
cartão de crédito em 10 parcelas, consoante comprovam as notas em anexo.
Logo ao receber a mercadoria, em 21.11.2013, a filha do autor percebeu que a mesa estava
riscada, uma das cadeiras com defeito e o painel rachado, o que foi imediatamente informado aos
entregadores e ao autor.
Assim, o autor contatou a empresa ré, tendo sido informado que as peças seriam substituídas,
no prazo máximo de uma semana.
Em 28.01.2014, uma nova visita foi realizada pelos prepostos da ré, agora para a entrega tão
somente da mesa, que, mais uma vez foi entregue com defeito.
Acerca do painel, foi a filha do autor informada que deveria entrar em contato direto com o
SAC.
Assim procedeu o autor. Contatou o SAC da empresa ré, que informou que no prazo máximo
de 7 dias os produtos seriam trocados.
Ocorre que, além do autor ver frustradas as comemorações de fim de ano na casa de sua
filha, com os novos móveis adquiridos para guarnecer sua residência, até a presente data, não houve
a troca dos produtos defeituosos.
Tendo exaurido os meios suasórios para a solução da questão narrada, não restou ao autor,
alternativa, senão a de ajuizar a presente demanda visando a tutela de seus direitos.
“Art. 3º -....
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.”
"Art. 20 - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios
ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:...
II - a restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
§ 2º - São impróprios os serviços que se mostram inadequados para os fins que razoavelmente
deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade."
“Art. 186 - Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único - HAVERÁ OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO, INDEPENDENTEMENTE
DE CULPA, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifo)
"...Óbvio que a ofensa sofrida pela pessoa lesada, como no caso de alguém que passa por uma
humilhação pública, varia em grau de intensidade, pois cada um sente a seu modo a dor moral
que lhe foi endereçada. Mas isso não basta para admitirmos que o direito não repara qualquer
padecimento, dor ou aflição. Ao contrário, o dano moral, como toda e qualquer lesão a direitos,
constituiu prioridade suscetível de reparação pela ordem jurídica. Basta que existam atos lesivos,
atentado contra interesse extrapatrimoniais de pessoa física ou jurídica, através de ação ou
omissão de terceiros, para vermos seu aparecimento. Assim, o dano moral é detectado pela dor,
mágoa, todas as espécies de sentimentos negativos, que maltratam e depreciam a pessoa física.
Exterioriza-se através de lesões extrapatrimoniais que atingem aspectos da personalidade da
pessoa, ensejando-lhe constrangimento, vexame de toda espécie." (grifo)
Para tanto, mister transcrever ensinamento do Dr. Sérgio Cavalieri Filho sobre a Teoria do
Risco do Empreendimento:
"...todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever
de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente
de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem
como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os
destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a
realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar
determinados serviços.
O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado de
consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos. O consumidor não pode assumir
os riscos da relação de consumo, não pode arcar sozinho com os prejuízos decorrentes dos
acidentes de consumo, ou ficar sem indenização."
"O dano moral não é estimável por critérios de dinheiro. Sua indenização é esteio para a oferta de
conforto ao ofendido, que não tem a honra paga, mas sim uma reparabilidade ao seu desalento."
(TJSP - 5ª C. - Ap. - Rel. Silveira Neto, j.29/10/92 - JTL - LEX 142/104)
Destarte, o indivíduo ou firma, que pratique qualquer ato, omisso ou comissivo, de que
resulte prejuízo, deve suportar as consequências do seu procedimento. É regra elementar de
equilíbrio social, consistindo na justa reparação e obrigação que a lei impõe a quem causa dano
injustamente a outrem.
Havendo dano, há prejuízo, e consequentemente o dever de indenizar, por parte daquele que
produziu o dano.
José de Aguiar Dias, em “Da Responsabilidade Civil”, p. 718, ensina:
“O dano se estabelece mediante o confronto entre o patrimônio realmente existente após o dano e
o que possivelmente existiria se o dano não se tivesse produzido: o dano é expresso pela diferença
negativa encontrada nesta operação.” (grifo)
No caso em tela, a ré agiu com culpa manifesta, seja por ação ou por omissão, não se
podendo questionar que efetivamente foi negligente na condução das suas atividades usuais, não
havendo qualquer argumento concreto que justifique uma conduta capaz de excluir a sua
responsabilidade.
O dano moral deve ser reputado quando existir a dor, vexame, sofrimento que fugindo a
normalidade, interfira no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem estar, conduzindo a lesões em interesses alheios, juridicamente protegidos,
atingindo, apenas, a reserva psíquica do ofendido, prejudicando sua imagem perante a sociedade.
O DANO MORAL é “todo sofrimento humano, moral ou físico, resultante de lesão de direito não
patrimonial, que não implique em perda pecuniária direta, embora possa, em certos casos, produzir reflexos
econômicos.” (“Novo Dicionário Jurídico Brasileiro”, pag. 415, José Naufel)
Pode o dano moral ser entendido como aquele que de uma forma direta ou indireta atinge as
pessoas fora do espectro econômico de seu patrimônio.
Ressalte-se que o dano moral, por se tratar de algo imaterial, não é comprovado pelos
mesmos meios utilizados para a demonstração do dano material, pois jamais poderia a vítima
comprovar sua dor, tristeza, ou humilhação através de documentos, perícia ou depoimentos, estando
inserido na própria ofensa, de tal modo que provado o fato danoso ipso facto está demonstrado o
dano moral à guisa de uma presunção natural, vez que:
“O DANO SIMPLESMENTE MORAL SEM REPERCUSSÃO NO PATRIMÔNIO, NÃO HÁ
COMO SER PROVADO. ELE EXISTE... SOMENTE PELA OFENSA E DELA É PRESUMIDO,
SENDO BASTANTE PARA JUSTIFICAR A INDENIZAÇÃO...” (RT 681/163)
A indenização mede-se pela extensão do dano. E, o ato ilícito constituiu-se pela ingerência,
irresponsabilidade e negligência da ré, causando inúmeros prejuízos de ordem moral ao autor que,
repita-se, presenteou sua filha para as festividades de Natal, onde a mesma receberia toda a família e
viu suas expectativas frustradas.
O nexo de causalidade existe, nascendo daí o dever de indenizar os danos resultantes do ato
ilícito praticado, consoante disposto no artigo 186 do Código Civil.
De acordo com sábio comentário de Nelson Nery Junior, acerca do artigo 51, in, “Código de
Defesa do Consumidor”, p. 416:
“Os artigos 12, § 3, e 14, § 3, do CDC, determinam que, para haver exclusão da
responsabilidade de o fornecedor indenizar o dano decorrente do fato do produto ou do serviço
(acidentes de consumo), é preciso que ele comprove a existência e verificação das causas
excludentes adotadas pela lei.” (grifo)
A reparação pelos danos morais sofridos pelo autor tem cabimento, pois nada fez a ré no
sentido de sanar os problemas causados, sendo inarredável a sua culpa.
Saliente-se ainda que a parte autora tem direito a inversão do ônus da prova em seu favor, eis
que é hipossuficiente face a ré e suas alegações são verossímeis pois, de acordo com o art. 6º do
Código de Defesa do Consumidor:
O ilustre professor Helio Gama, em sua obra Curso de Direito do Consumidor, ensina que:
"A defesa dos direitos do consumidor deve ser facilitada, porque ele sempre figura em condições
de inferioridade nas relações jurídicas que envolvam as aquisições de bens e serviços ou seus
consumos. Isto porque o fornecedor é uma pessoa sempre treinada ou tem equipes de pessoas
treinadas para lidar com o consumidor, enquanto este raramente está conhecendo todas as tramas
dos negócios ou todas as formas de consumir um produto."
Desta forma, urge a reparação dos danos causados ao autor, consubstanciados como
largamente demonstrado nos autos, posto que o que se busca, in casu, com a tutela ressarcitória é o
restabelecimento do equilíbrio de uma situação patrimonial destruída pelo ato ilícito.
Na verdade, a atenção maior do direito, conforme variadas circunstâncias, pode recair sobre
o causador do dano ou sobre a vítima.
O objetivo principal da norma jurídica parece ser de censura ao causador do dano. Já quando
a preocupação maior é com a vítima do dano (a reconstituição de seu patrimônio), o fim maior,
naturalmente não é a censura (reprovação da conduta humana), devendo a reparação ocorrer
independentemente da valoração da conduta daquele que terá obrigação de indenizar.
Como bem ensinado pelo Ministro José de Jesus Filho no cenário da Corte Federal: “SE A
DOR NÃO TEM PREÇO A SUA ATENUAÇÃO O TEM”.
“Sobrevindo, em razão de ato ilícito, perturbação nas relações psíquicas, na tranquilidade, nos
sentimentos e nos afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de indenização.”
“Dano moral. Quantificação. Critérios observáveis. O dano moral deve ser arbitrado de acordo
com o grau de reprovabilidade da conduta ilícita, com a capacidade econômica do causador do
dano, com as condições sociais do ofendido, em quantitativo consentâneo com a natureza e
intensidade da humilhação, da tristeza e do constrangimento sofridos pelo ofendido, com o ato
ilícito praticado pelo ofensor.
A indenização deve representar uma punição para o infrator, capaz de desestimulá-lo a
reincidir na prática do ato ilícito, e deve ser capaz de proporcionar ao ofendido um bem estar
psíquico compensatório do amargor da ofensa”. (Des. Pestana de Aguiar, Presidente e Des.
Wilson Marques, Relator)
De acordo com conhecida lição do insigne mestre Caio Mário da Silva, in “Direito Civil,
Volume II, n° 176, na fixação do quantum debeatur, deve o juiz:
“1) Punir pecuniariamente o infrator pelo fato de haver ofendido um bem jurídico da vítima,
posto que imaterial; 2) Por nas mãos do ofendido uma soma que não é pretium doloris, porém
meio de lhe oferecer oportunidade de conseguir uma satisfação... ou seja um bem estar psíquico
compensatório do mal sofrido, numa espécie de substituição da tristeza por alegria...”
a) determinar a citação do réu para, querendo, contestar a presente, sob pena de confissão e revelia;
d) julgar procedente a presente demanda, para condenar o réu ao pagamento de indenização pelos
danos morais em valor a ser fixado por V. Exª;
Protestando por todo o gênero de provas em direito admitidas dá-se à causa o valor de
R$10.000,00 (dez mil reais) para efeitos de alçada, declarando as signatárias ter escritório na Praça
Panamericana n° 31/A-B.
Outrossim, esclarece que deixa de requerer a realização de prova pericial, bem como a
testemunhal, em virtude da vasta documentação comprobatória dos defeitos apresentados.
Nestes termos,
P. deferimento.
ADVOGADO
OAB/RJ