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JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA

CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

MARCELO PIMENTA, brasileiro, casado, aposentado, identidade nº ...,


inscrito no CPF sob o nº ..., domiciliado na ..., endereço eletrônico ..., vem por seu
advogado devidamente constituído (procuração anexa), pelo procedimento sumaríssimo,
com base no artigo 6º e 18 da lei 8078/1990 e lei 9.099/1995 ao juízo propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E TUTELA DE URGÊNCIA

Em face de REFRESCO S/A, com sede em São Paulo, inscrito no CPNJ sob o nº
22222, endereço eletrônico ..., com base nos fatos e fundamentos a seguir:

PRIORIDADE ESPECIAL
Conforme determina o artigo 71 da lei 10.741/2002, maiores de 60 (sessenta)
anos de idade e pessoas portadoras de doença graves, tem o direito à prioridade na
tramitação do feito.
Contudo, em alteração por meio da Lei 14.423/2022, o Estatuto do Idoso passou
a dispor, em seu artigo 1º, § 2º, que dentre os idosos é assegurada prioridade especial
aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente
em relação aos demais idosos.
Nesse passo, o Autor conta atualmente com 85 (oitenta e cinco) anos de idade.
Portanto, a prioridade especial na tramitação do feito é medida que se impõem, tendo
em vista que o Autor preenche os requisitos consignados na lei.

TUTELA DE URGÊNCIA
O Código de Processo Civil autoriza o juiz conceder a tutela de urgência quando
presentes a "probabilidade do direito" e o "perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo", conforme art. 300 da Lei 13.105/2015.

No presente caso, estão presentes os requisitos e pressupostos para a concessão


da tutela requerida, através da negativa em substituir o produto. E o periculum in mora,
pela exposição fática a seguir apresentada, que dão conta, notadamente, da
essencialidade do produto na residência do Autor, uma vez que poderá causar ao mesmo
grandes prejuízos, visto que o aparelho de ar condicionado, objeto da lide, não teve seu
uso adequado desde a compra e que a sua utilização em pleno verão se faz uma medida
urgente, posto que as temperaturas atingem níveis cada vez mais alarmantes, além de a
compra ter sido realizada justamente para este fim.

Desta forma, requer a autor, a substituição imediata do produto, sob pena de multa
diária arbitrada por Vossa Excelência, em caso de descumprimento desta medida.

Artigo 84 da lei 8078 de 1990

I. DOS FATOS
O Autor, visando seu conforto e bem-estar, no dia 15/01/2019, efetuou a compra
de um aparelho de ar condicionado com a Ré. Ocorre que o referido produto, apesar de
devidamente entregue, desde o momento de sua instalação, passou a apresentar diversos
problemas, desarmando e não refrigerando o ambiente.
Em virtude dos problemas apresentados, o Autor, no dia 25/01/2019, entrou em
contato com o fornecedor, que prestou devidamente o serviço de assistência técnica,
sendo, nessa oportunidade, trocado o termostato do aparelho.
Todavia, o problema persistiu, razão pela qual o Autor, por diversas outras vezes,
entrou em contato com a Ré a fim de tentar resolver a questão amigavelmente, sem
êxito.
Após transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias sem a resolução do problema pelo
fornecedor, o Autor requereu a substituição do produto, solicitação esta que lhe foi
negada pelo na justificativa de que enviariam um novo técnico a sua residência para
analisar novamente o produto e trocar novamente a peça. Contudo, a assistência
somente poderia ser realizada após novo prazo de 30 dias, tendo em vista que a peça
para conserto estaria em falta, devido a grande quantidade de demandas no período de
verão.
Sendo assim, não restou alternativa ao Autor a não ser propor a presente ação de
obrigação de fazer c/c indenização por danos morais e tutela de urgência, visto que já se
passaram mais de 40 (quarenta) dias e o problema não foi solucionado,
impossibilitando que o Autor usufrua de seu bem que foi adquirido justamente em
função da chegada do verão.

II. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

2.1. Da Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor


Trata-se de litígio envolvendo relação de consumo, por força do que dispõem os
artigos 2º, caput, e 3º, § 2º do Código de Defesa do Consumidor, transcritos abaixo:
“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”

Diante disto, contata-se que o relacionamento entre o Autor e a Ré caracteriza-se


com evidente relação de consumo e, consequentemente, ação judicial que nela se baseia
deverá ser regida pelo Código de Defesa do Consumidor.

2.2. Da Inversão do Ônus Probatório


Inicialmente verificamos que o presente caso trata-se de relação de consumo,
sendo amparada pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que
fornecedores e consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que
concerne a matéria probatória.
Tal legislação faculta ao magistrado determinar a inversão do ônus da prova em
favor do consumidor conforme seu artigo 06º, VIII:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências.”

Assim, presentes a verossimilhança do direito alegado e a hipossuficiência da


parte autora para o deferimento da inversão do ônus da prova no presente caso, dá-se
como certo seu deferimento.
2.3. Da Obrigação de Fazer

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 18, dispõe:


“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o


consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas


condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem


prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.”

Nesse sentido, apesar de o autor ter solicitado ao fornecedor inúmeras vezes


que se resolvesse de forma amigável a questão do vício do produto, o mesmo não o
fez. Dessa forma, se faz imperioso a tutela do estado para que obrigue a parte ré a
realizar a troca do produto já que, passados longos 40 (quarenta) dias não cumpriu o
que foi prometido.

2.4. Do Dano Moral

CDC - Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,


coletivos e difusos;

E artigo 5 CF

A demora excessiva na manutenção do veículo impossibilitou o autor de


utilizar um bem que é seu por mais de 40 dias, sendo certo que tal fato não pode ser
enquadrado no que a doutrina classifica como mero aborrecimento, uma vez que
ocasionou danos ao Autor que devem ser reparados.
Lamentavelmente o autor da ação sofreu grande desgosto, humilhação, sentiu-
se desamparado, foi extremamente prejudicado, conforme já demonstrado.
Assim, é inegável a responsabilidade do fornecedor, pois os danos morais são
também aplicados como forma coercitiva, ou melhor, de modo a reprimir a
conduta praticada pela parte ré, que de fato prejudicou o autor da ação.
A posição dos Tribunais é pacífica no sentido de aceitar a obrigação de fazer
c/c indenização por danos morais em virtude do vício do produto e a incapacidade do
fornecedor em solucionar o problema no prazo legal, vejamos:
“RECURSO DE APELAÇÃO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – VÍCIO DO PRODUTO –
COMPRA DE AR CONDICIONADO COM DEFEITO – INSUCESSO DO
REPARO NO PRAZO LEGAL – RECUSA EM PROMOVER A TROCA
DO EQUIPAMENTO – DEVER DE SUBSTITUIÇÃO POR OUTRO –
DANOS MORAIS CONFIGURADOS – QUANTUM INDENIZATÓRIO
A TÍTULO DE DANO MORAL MAJORADO PARA R$ 10.000,00 –
SENTENÇA REFORMADA – RECURSO PROVIDO. Ficando
comprovado o vício do produto e a incapacidade das requeridas em
solucionar o problema no prazo legal, pode o consumidor requerer a
substituição do aparelho por outro da mesma espécie, marca ou modelo,
livre de quaisquer vícios (artigo 18, § 1º, I, do Código de Defesa do
Consumidor). Considerando as peculiaridades do caso trazido à analise,
observando a extensão do prejuízo, a capacidade econômica das partes, mas
sem ocasionar o enriquecimento sem causa da ofendida e para que sirva de
alerta a requerida para não mais incorrer no mesmo erro, o valor arbitrado
na sentença a título de danos morais, deve ser majorado, mostrando-se
proporcional e razoável a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

(TJ-MS - AC: 08000859320218120005 MS 0800085-93.2021.8.12.0005,


Relator: Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, Data de Julgamento:
26/11/2021, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 01/12/2021)”

DO PROCEDIMENTO
LEI 9099 DE 1995
III. DOS PEDIDOS
Com base no exposto, requer:
a) A citação da Ré para que apresente contestação;
b) Deferimento do pedido de tutela de urgência, PARA DETERMINAR A
TROCA IMEDIATA DO PRODUTO, E AO FINAL SE TORNE
DEFINITIVA
c) Deferimento do pedido de prioridade especial;
d) Reconhecimento da relação de consumo e a inversão do ônus da prova;
e) Que seja decretado a troca do produto, sob pena de multa diária arbitrada
por Vossa Excelência, em caso de descumprimento desta medida.
f) O pagamento de indenização por danos morais no valor de 30 salários
mínimos.

IV. DAS PROVAS


Protesta-se pela produção de prova documental. (identidade, CPF, comprovante
de residência, nota fiscal, laudo da assistência técnica e conserto).
V. VALOR DA CAUSA
Dá-se a causa o valor de 30 salários mínimos. (artigo 292 CPC e artigo 3º da lei
9.099 de 1995)

Nestes termos,
Pede deferimento.

LOCAL, DATA
Advogado
OAB

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