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AO JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA

DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

MARCELO PIMENTA, brasileiro, casado, aposentado, portador do


documento de identidade nº ..., inscrito no CPF sob o nº..., domiciliado à..., Rio
de Janeiro, tendo como endereço eletrônico ..., vem por seu advogado
devidamente constituído (procuração anexa), pelo procedimento sumaríssimo,
com base na lei nº 8.078 de 1990 e na lei nº 9.099 de 1995, ao juízo propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E TUTELA DE URGÊNCIA

em face de REFRESCO S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita


no CNPJ/MF sob o nº 22222, com sede à ..., São Paulo, tendo como endereço
eletrônico ..., pelos motivos que passa a expor:

I – PRELIMINARMENTE

I.1- Da Prioridade

Primeiramente cumpre ressaltar que a parte Autora possui 85 anos de


idade, sendo assim possui prioridade na tramitação na presente ação,
conforme dispõe o art. 3º, §1º, inciso I e §2º da lei nº 10.741 de 2003, no qual
estabelece que é assegurado aos idosos atendimento preferencial imediato e
individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à
população.

I.2 – Da Tutela de Urgência

É notório que o verão do Rio de Janeiro possui altas temperaturas,


sendo necessário a utilização de aparelho de ar condicionado para a
amenização de ambientes durante esta estação do tempo.

À face do exposto, pugna-se pelo deferimento da tutela de urgência,


conforme dispõe os art. 300º e ss do CPC e o art. 84º da lei nº 8.078, visto
que, torna-se evidente a urgência na troca do aparelho de ar condicionado para
que a parte Autora, no qual é pessoa idosa, não sofra com as altas
temperaturas que são comuns no verão carioca.

II – DOS FATOS

A parte Autora efetuou a compra de um aparelho de ar condicionado


fabricado pela parte Ré, em 15 de janeiro de 2019. Ocorre que o referido
produto, apesar de devidamente entregue, desde o momento de sua
instalação, passou a apresentar problemas técnicos, no qual desarmava e não
refrigerava o ambiente. Em virtude dos problemas apresentados, a parte
Autora, em 25 de janeiro de 2019, entrou em contato com o fornecedor, que
prestou devidamente o serviço de assistência técnica. Nesta ocasião, foi
trocado o termostato do aparelho.

Todavia, apesar da troca do termostato do aparelho, o problema


persistiu, razão pela qual a parte Autora, por inúmeras vezes, entrou em
contato com a parte Ré, a fim de tentar solucionar a questão amigavelmente.
No entanto, tendo transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias sem a resolução do
problema pelo fornecedor, a parte Autora requereu a substituição do produto.

Ocorre Vossa Excelência, que a parte Ré negou a substituição do


aparelho, pois afirmou que enviaria um novo técnico a residência da parte
Autora para analisar novamente o produto, e trocar novamente a peça.
Ademais, a assistência somente poderia ser realizada após novo prazo de 30
dias, visto que a peça para conserto está em falta, devido a grande quantidade
de demandas no período de verão.

É imperioso mencionar que em pleno verão, a troca do aparelho de ar


condicionado se faz uma medida urgente, posto que as temperaturas atingem
níveis cada vez mais alarmantes. Tal urgência comprova o motivo da peça do
conserto estar em falta.

Perante o exposto, tendo em conta o esforço da parte Autora para


solucionar o problema inúmeras vezes de forma amigável e com as negativas
da parte Ré em substituir o aparelho de ar condicionado e não enviar
assistente técnico em tempo ágil, não há outra alternativa à parte Autora senão
clamar a justiça com o intuito de ver satisfeito o seu direito.

São os fatos.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

III.1 – Da Relação de Consumo

De acordo com o art. 3º da lei nº 8.078/90, o fornecedor é toda pessoa


física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Nesse sentido, a parte Ré, Refresco S.A. pode ser considerado como
fornecedor, e em contrapartida, a parte Autora, Marcelo Pimenta, pode ser
caracterizado como consumidor, de acordo com o art. 2º do referido diploma
legal.

Sendo assim, é evidente a relação de consumo entre as partes e por


essa razão deve ser aplicado a lei nº 8.078/90 ao caso.

III.2 – Da Obrigação de Fazer


Ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor tem a legítima
expectativa de receber adequado ao uso de acordo com as expectativas
geradas na compra, ou seja, sem a necessidade de qualquer adaptação ou
algum vício que lhe diminua o valor ou que o impossibilite de utilizá-lo
normalmente.

Nesse sentido, a parte Autora ao adquirir o aparelho de ar condicionado,


tinha como expectativa o seu perfeito funcionamento, e que iria suprir a sua
necessidade amenizar as fortes temperaturas que são frequentes no verão
carioca.

Contudo, o aparelho de ar condicionado apresentou problemas, sendo


necessário o atendimento da assistência técnica para soluciona-lo, entretanto o
problema não fora solucionado e passados mais de 30 dias (trinta) a parte
Autora ainda contínua sem poder utilizar o aparelho, sendo obrigado a ter que
enfrentar o forte verão carioca.

Conforme expõe o art. 18º da lei nº 8.078/90, o fornecedor de produtos


de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente por vício do
produto e do serviço. Além disso, o §1º do referido artigo, dispõe que não
sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias (trinta), pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha, a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso, ou a restituição imediata da
quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e
danos ou ainda assim, o abatimento proporcional do preço.

A parte Autora requereu a substituição do produto por outro da mesma


espécie, todavia, a parte Ré negou a sua substituição. Dessa forma, conforme
expõe o art. 18, §1º, inciso I da lei nº 8;078/90, é obrigação da parte Ré, ora
fornecedora em substituir o produto conforme requerido pelo consumidor.

Nesse mesmo diapasão caminha o entendimento do Egrégio Tribunal de


Justiça do Rio de Janeiro:

0220407-45.2017.8.19.0001 - APELAÇÃO

Des(a). MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento:


02/04/2020 - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
DIREITO DO CONSUMIDOR - AÇÃO
INDENIZATÓRIA MORAL E MATERIAL - COMPRA DE
NOTEBOOK - PRODUTO COM VÍCIO - MANUTENÇÃO DO
VÍCIO MESMO APÓS O REPARO EFETIVADO PELA
ASSISTÊNCIA TÉCNICA - SENTENÇA QUE RECONHECEU
A DECADÊNCIA - IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR - RELAÇÃO
DE CONSUMO, À QUAL SE APLICA O DISPOSTO NO § 1º,
DO ART. 18, DA LEI Nº 8.078, DE 1990, O QUAL DISPÕE
QUE O FORNECEDOR DE SERVIÇOS POSSUI O DIREITO
DE SANAR O VÍCIO CAPAZ DE AFETAR A QUALIDADE DO
PRODUTO NO PRAZO MÁXIMO DE 30 (TRINTA) DIAS.
APÓS ESTE PRAZO, NÃO SENDO REPARADO O VÍCIO,
PODE O CONSUMIDOR EXIGIR, ALTERNATIVAMENTE E À
SUA ESCOLHA, AS TRÊS ALTERNATIVAS CONSTANTES
NOS INCISOS I, II E II, DO ALUDIDO DISPOSITIVO LEGAL-
DEFEITO QUE PERSISTIU MESMO APÓS ENVIO À
ASSISTÊNCIA TÉCNICA - REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA
DA RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO - OPORTUNIDADE
CONSTANTE NO §1º DO ART.18, DO CDC JÁ HAVIA SE
ESVAÍDO QUANDO DA DEVOLUÇÃO DO PRODUTO AINDA
COM O MESMO VÍCIO - NÃO HÁ O QUE SE FALAR EM
DECADÊNCIA -ALÉM DISSO, DA LEITURA DA ORDEM DE
SERVIÇO, CONSTATA-SE QUE O PRODUTO, ADQUIRIDO
EM 21/05/2016, TINHA 1 ANO DE GARANTIA - LEGÍTIMO O
PLEITO DE RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO PELO BEM
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS RÉS, AS QUAIS
FAZEM PARTE DA CADEIA DE CONSUMO PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA FUNDADA NA RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA - FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - VÍCIO
DO PRODUTO - DEVER DE INDENIZAR - DANO MORAL
INEGÁVEL - CONSUMIDORA QUE NÃO PÔDE DESFRUTAR
DO NOTEBOOK POR MAIS DE QUATRO ANOS, NÃO
TENDO A QUESTÃO SE RESOLVIDO ATÉ O MOMENTO -
SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSA A FIGURA DO MERO
ABORRECIMENTO PERDA DO TEMPO ÚTIL -
NECESSIDADE DE RECORRER AO JUDICIÁRIO PARA VER
SEU DIREITO GARANTIDO - QUANTUM QUE DEVE SER
FIXADO EM R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS), OBSERVANDO-
SE OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE - DÁ-SE PROVIMENTO AO
RECURSO.

III.3 – Do Dano Moral

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2019, p.948) 1, conceituam o dano


moral sendo uma lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem
comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, os doutrinadores
afirmam que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da
pessoa, seus direitos da personalidade, violando, por exemplo, sua intimidade,
vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente.

Seguindo o conceito exposto pelos doutrinadores, a Magna Carta em


seu artigo 5º consagra a tutela do direito à indenização por dano material ou
moral decorrente da violação de direitos fundamentais, tais como intimidade, a
vida privada e a honra das pessoas.

O Código de Defesa do Consumidor tutela a prevenção de danos, mas,


na hipótese de prejuízo, garante a integral indenização, de forma a ressarcir ou
compensar o consumidor, conforme expressa o art. 6º, inciso VI do diploma
legal.

E de acordo com o art. 4º do mesmo diploma legal, a Política Nacional


das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção
de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo.

Ao analisar o caso em questão, é evidente que o Autor cumpriu com a


sua obrigação, qual seja, efetuar o pagamento pelo produto e até o presente
momento, o produto não fora utilizado pelo Autor, visto que não foi consertado
pelo Réu.

Não se pode aceitar que a má prestação dos serviços de forma contínua


seja um mero aborrecimento. A realidade é que a situação apresentada na
presente ação já transcendeu esta barreira, razão pela qual a parte Autora

1
GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de direito civil: volume único / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
busca uma devida reparação por todos os danos, aborrecimentos, transtornos
causados pelo Réu, que age com total descaso com seu cliente.

Diante dos fatos acimas relatados, mostra-se patente a configuração dos


danos morais sofridos pelo Autor, no qual está sendo privado de usufruir do
produto adquirido perante o Réu, apesar de completamente pago.

III.4 – Da Inversão do Ônus da Prova

Entre os direitos básicos do consumidor, consagrados no art. 6º da Lei


nº 8.078/90, consta o direito à inversão do ônus da prova em seu favor,
permitindo-se ao julgador que desconsidere as regras gerais sobre distribuição
do ônus da prova contidas no art. 373º do CPC, de forma que fique a cargo do
consumidor apresentar as razões de sua pretensão, cabendo ao fornecedor o
encargo de comprovar a não veracidade daquela, sob pena de procedência do
pedido.

Sendo assim, a parte Autora vem exercer seu direito à inversão do ônus
da prova, o que de logo se requer.

III.5 – Do Procedimento

É cabível o procedimento sumaríssimo na presente demanda, visto que


conforme dispõe o art. 3º, inciso I da lei nº 9.099/95, o Juizado Especial Cível
tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de
menor complexidade as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o
salário mínimo. Nesse sentido, à vista que o pedido da parte Autora é de trinta
salários mínimo, o procedimento sumaríssimo é cabível.

Diante do exposto, restou demonstrado o cabimento da presente ação,


tendo em vista o interesse da parte Autora em usufruir o aparelho de ar
condicionado que até a presente data não fora consertado ou substituído
convencionado e a recusa da parte Ré em substituir o aparelho ou solucionar o
problema.

IV – DOS PEDIDOS

Pelo exposto:
a) Requer a citação do réu para apresentar contestação;

b) Requer que seja deferido a prioridade na tramitação;

c) Requer que seja deferido a tutela de urgência para determinar a


substituição do aparelho de ar condicionado e que se torne definitiva
ao final;

d) Requer que seja determinada a substituição do aparelho de ar


condicionado;

e) Requer que seja determinado o pagamento indenizatório no valor


correspondente a 30 (trinta) salários mínimos e

f) Requer que seja determinado a inversão do ônus da prova.

V – DAS PROVAS

A parte Autora protesta-se apenas pela produção de prova documental.

VI – VALOR DA CAUSA

Dá-se a causa o valor de 30 (trinta) salários mínimos, nos termos dos


artigos 291º e 292º do Código de Processo Civil.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, ... Data...

Advogado
OAB ...

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