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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO __

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CAPITAL - XX

AUTOR E QUALIFICAÇÃO, neste ato representado por seus


procuradores legalmente constituídos, de acordo com o instrumento
procuratório em anexo (Doc. 01), vem respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, propor:

AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO CUMULADA COM


INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face da empresa RÉU E QUALIFICAÇÃO, através de seu


representante legal, com supedâneo nos fatos e fundamentos a seguir
alinhados e ao final vindicados:

2. DA SINOPSE FÁTICA:

01. Inicialmente, é de suma importância frisar que os Autores


compraram uma passagem aérea de Maceió para Salvador (voo direto),
ida e volta, com o intuito de ir a um casamento, onde a ida seria no dia
29.04.16 (sexta feira) e a volta no dia 02.05.16 (segunda feira), conforme
comprovante em anexo (Doc. 02).
02. Destaque-se que a passagem fora adquirida com bastante
antecedência, no dia 19.11.15, oportunidade em que os Autores se
programaram, reservaram o hotel e fizeram todo um planejamento no
trabalho.

03. Ocorreu que poucos dias antes do embarque a Ré informou


através de e-mail uma mudança de itinerário – de acordo com o e-mail
anexo (Doc. 03) - no voo do dia 02.05.16 que sairia de Salvador às 12:23h
e chegaria em Maceió às 13:35h (50min de voo) estava sendo alterado da
seguinte forma:

Saída Chegada
Salvador – 17:05h São Paulo – 19:40h
São Paulo – 22:05h Maceió – 00:55h

04. Vale relatar que um voo que duraria 50min fora alterado para
durar quase 8h, sem contar que os Autores se programaram para
trabalhar na segunda (dia 02.05.16) no expediente da tarde, inclusive o
Autor tinha uma reunião inadiável às 14:30h.

05. Deste modo os Autores informaram que não teriam como voltar
neste novo itinerário, ao tempo em que solicitaram que a Ré cancelasse
suas passagens e arcassem com o voo da Avianca, já que era um horário
semelhante ao voo inicial, sairia de Salvador no dia 01.05.16 (um dia
antes do programado, visto que o voo para o dia 02.05.16 estava com um
valor elevado) às 10:40h, chegando em Maceió às 11:44h, porém a Ré
informou que a única opção dos Autores era aceitar o novo itinerário.

06. Excelência, os Autores ainda solicitaram que a Ré comprasse a


passagem um dia antes, visto que era bem mais em conta do que comprar
a passagem para o dia inicialmente programado, e ainda assim a mesma
se negou.

07. Diante do ocorrido, os Autores se viram obrigados a comprar a


passagem da Avianca, pois, como dito, tinha uma reunião inadiável na
segunda feira a tarde, dia 02.05.16, de acordo com o comprovante em
anexo (Doc. 04).

08. Registre-se, ademais, que os Autores ainda perderam o valor pago


do hotel, visto que possuía uma regra de não reembolso em caso de
alteração, ou seja, tiveram que comprar um novo bilhete e antecipar a
volta por causa da alteração de itinerário realizada pela Ré e ainda
perderam o valor referente a uma diária no hotel que já havia sido paga,
conforme comprovante de pagamento on line em anexo (Doc. 05).

09. Ex positis, não restou alternativa para aos Demandantes, senão


recorrer ao judiciário, através da presente Ação de Repetição de Indébito
cumulada com indenizatória por danos materiais e morais, no intuído de
terem seus direitos resguardados, através da mais pura e lídima justiça.

.PRELIMINARMENTE:

DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

10. Em regra, responde pela Reparação Civil o causador do dano. No


presente caso, a empresa Ré foi causadora dos danos sofridos pelos
Autores, haja vista terem alterado o itinerário de um voo comprado com
bastante antecedência e não ter realizado esforços para reparar tal dano
substituindo a passagem comprada por outra no horário semelhante em
outra empresa de aviação. Reitere-se que os Autores NÃO deram causa
em NENHUM MOMENTO para qualquer das arbitrariedades propagadas
pelo Réu.

11. Isso posto, resta hialino que a empresa GOL LINHAS AÉREAS
INTELIGENTES S.A., é parte legítima para figurar no polo passivo da
presente demanda.

DA COMPETÊNCIA DO 11º JECC – LOCAL ONDE ESTÁ SITUADA A


AGÊNCIA DO DEMANDANDO: ART. 4º, III, DA LEI Nº 9.099/95

12. Antes de se adentrar na parte meritória da demanda, cabe a


demonstração da competência desse juízo para julgar a ação em comento,
senão vejamos o que diz o art. 4º, III da Lei nº 9.099/95:

Art. 4º: É competente, para as causas previstas nesta


Lei, o Juizado do foro:
(...)
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato,
nas ações para reparação de dano de qualquer
natureza.
(Grifou-se)

13. Assim, como demonstrado na parte introdutória dessa petição, o


domicilio dos Autores está situado no bairro da Ponta da Terra, sendo
esse da competência territorial do 11º JECC, conforme Resolução vigente
do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas.

.DO DIREITO:

.Da Caracterização da Existência de Relação de Consumo.

14. No caso em comento, a relação do consumo é indiscutível. O


Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de
1990, define em seus artigos 2° e 3°, in verbis:

Art. 2º: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.”

Art. 3º: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

15. Estando evidenciado, portanto, a manifesta existência de relação


de consumo, deve-se incidir ao presente caso as premissas trazidas na
Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (CDC – Código de Defesa do
Consumidor) para tais situações.

.DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

16. Inicialmente, é de suma importância registrar que no caso do


fornecedor se recusar ao cumprimento do serviço, o consumidor poderá,
à sua livre escolha, exigir o cumprimento forçado da obrigação ou aceitar
outra prestação do serviço equivalente, nos ditames do art. 35 do CDC,
ipsis litteris:

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços


recusar cumprimento à oferta, apresentação ou
publicidade, o consumidor poderá, alternativamente
e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos
termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço
equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de
quantia eventualmente antecipada, monetariamente
atualizada, e a perdas e danos.

17. Destaque-se que a Ré se recusou a prestar o serviço inicialmente


acordado, bem como se negou a arcar com o valor de um serviço
semelhante, caracterizando, portanto, a repetição do indébito.

18. É possível observar, ademais, que de acordo com o manual do


passageiro estabelecido pela Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC,
em caso de cancelamento do voo o passageiro tem o direito de remarcar
o voo para data e horário de sua conveniência, sem custo, conforme
verifica-se na página 32 do referido manual em anexo (Doc. 06).

19. No entanto, diante da atitude da empresa Ré requerem os


Demandantes a resolução do contrato e a consequente devolução dos
valores pagos indevidamente, em dobro.

20. Corroborando com o exposto, veja-se o parágrafo único do art. 42


do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia


indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável.
(Grifou-se)
21. Destaque-se que a quantia paga pelos Autores foi indevida. A
cobrança indevida consubstancia violação ao dever de cuidado e,
portanto, destoa do parâmetro de conduta determinado pela incidência
do princípio da boa fé objetiva.

22. Em todas as relações privadas, de consumo ou não, deve ser


observado o princípio da boa fé objetiva. O Código de Defesa do
Consumidor assim estabelece que:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo


tem por objetivo o atendimento das necessidades dos
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos,
a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
[...]
III - harmonização dos interesses dos participantes
das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores;
(Grifou-se)

23. Ademais, a boa-fé está expressa no art. 51 do Código de Defesa


do Consumidor como cláusula geral:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:IV- estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis como a boa-fé ou a equidade.
(Grifou-se)
24. O Código Civil também traz em seu bojo, como cláusula geral, a
necessidade de observância do princípio citado. Portanto, nas relações de
consumo deve prevalecer o princípio da boa fé objetiva. As partes
contratantes têm de agir com lealdade para com o cumprimento do
contrato.

25. Vale lembrar que nas relações de consumo a responsabilidade do


fornecedor é objetiva, desta forma reza o art. 14 do CDC, veja-se:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

26. Só as situações de caso fortuito, força maior e o fato do príncipe


eximiria o Réu da responsabilidade. Não obstante, não se trata aqui do
ocorrido. Houve, sim, o flagrante descumprimento do contrato em
desrespeito à boa-fé objetiva.

27. Por fim, os Autores se viram onerado com o pagamento de um


serviço que jamais recebeu e não conseguiram a prestação de um serviço
semelhante.

28. Após todo o exposto, requerem os Demandantes,


respeitosamente, que Vossa Excelência condene a empresa Ré a
restituir em dobro a quantia indevidamente paga, acrescida de juros
e correção monetária, conforme preceitua o parágrafo único do art.
42 do Código de Defesa do Consumidor.

DO DANO MATERIAL

29. Diante dos fatos acima narrados, pode-se constatar que a Empresa
Requerida praticou verdadeiros atos ilícitos, haja vista não ter cumprido
a prestação do serviço inicialmente acordada e tampouco ter arcado com
o valor do serviço semelhante, causando prejuízos de diversas ordens,
inclusive financeiros.
30. Dessa forma, pode-se dizer que a Requerida não cumpriu a sua
obrigação contratual, remetendo esta conduta ao enquadramento em
uma previsão legal, qual seja, o artigo 186 do Código Civil de 2002:

Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

31. Desta feita, restando plenamente configurado o ato ilícito e sendo


inconteste a responsabilidade da empresa Requerida, revela-se de suma
importância anotar-se as disposições do Código Civil, no que respeita à
obrigação de indenizar:

Art. 927: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a


outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o


dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.

32. A comprovação do efetivo dano material sofrido pode ser feita pela
análise do comprovante de pagamento da nova passagem (Doc. 04), bem
como com o comprovante do pagamento da diária do hotel que não pode
ser reembolsada (Doc. 05).

33. Diante disso, deve este Juízo determinar que a Demandada pague
a título de dano material o valor total dos prejuízos comprovados, quais
sejam o valor relativo a compra da nova passagem, assim como o valor
referente a diária do hotel, já que os Autores tiveram que voltar um dia
antes do planejado.

34. Deste modo, restou verificado que os Autores tiveram o prejuízo no


valor de R$ 194,33 (cento e noventa e quatro e trinta e três), cada
Demandante, relativo a nova passagem, bem como o valor de R$ 112,24
(cento e doze reais e vinte e quatro centavos), referente a uma diária do
Hotel, totalizando o valor de R$ 250,45 (duzentos e cinquenta reais e
quarenta e cinco centavos), para cada Requerente.

35. Ex positis, requer os Demandantes, respeitosamente, que Vossa


Excelência condene a Ré ao pagamento da indenização por danos
materiais no valor de R$ 250,45 (duzentos e cinquenta reais e quarenta
e cinco centavos) para cada Demandante, devidamente atualizado.

.DO DANO MORAL

36. A Constituição Federal, em seu artigo 5°, dispõe que a proteção à


intimidade, vida privada, honra e imagem são direitos fundamentais, e
sua violação pode ensejar a reparação por dano moral.

Art. 5º

(...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;

(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;

37. Na atual ordem jurídica constitucional, dano moral não é mais


entendido como apenas aquele que atinge o âmbito psíquico da pessoa,
causando-lhe "grande abalo psicológico", mas sim como aquele que
atinge os direitos da personalidade do indivíduo, bem como a sua
dignidade.
38. Ora, a dor, o sofrimento, vexame, o abalo emocional, etc., são
consequências do dano moral, e não sua causa, de modo que "pode
ofensa à dignidade da pessoa humana sem dor, vexame, sofrimento,
assim como pode haver dor, vexame e sofrimento sem violação da
dignidade" (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade
Civil. 6ª edição. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 101)

39. Na presente divergência, além do evidente desrespeito com os


Requerentes e os aborrecimentos e abalos psicológicos sofridos pelos
mesmos, a Ré causou prejuízos efetivos aos Autores, haja vista que os
Demandantes sofreram o constrangimento de ter de antecipar a sua
viagem em razão do cancelamento do itinerário anteriormente acordado,
além do aborrecimento em não ter sido fornecido outro serviço
semelhante, visto que a priori os Demandantes irias passar 50min
(cinquenta minutos) no voo e lhes foi dada apenas a alternativa de passar
quase 8h (oito horas) para chegar ao destino 00:55h, sendo que já havia
uma reunião inadiável marcada às 14:30h.

40. Nossos Tribunais já se pronunciaram pela caracterização dos


danos morais em situações similares a da presente divergência. Seguem
algumas Jurisprudências que tratam de casos similares ao presente e
que mostram o entendimento pacificado em nossos Tribunais acerca da
incidência do Dano Moral em casos similares:

INDENIZAÇÃO. ALTERAÇÃO DE VÔO. DANOS


MORAIS. VALOR. MAJORAÇÃO. O arbitramento
econômico do dano moral deve ser realizado nos
termos do art. 944 do CPC. Comprovado nos autos
o dano moral experimentado pelo consumidor,
porquanto enfrentou situação desalentadora e
desrespeitosa em razão do descaso da ré frente
alteração do vôo contratado, deve ser majorado o
valor dos danos morais, eis que o fixado ficou aquém
dos parâmetros utilizados por esta Câmara.

(TJ-MG - AC: 10024112264650001 MG, Relator:


Amorim Siqueira, Data de Julgamento: 08/04/2014,
Câmaras Cíveis / 9ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 14/04/2014)
(Grifou-se)

Reparação civil. Alteração de voo. Danos Morais.


Configuração. Valor. O cancelamento de voo, com
alteração da programação da viagem do
passageiro, é suficiente para causar dano moral.
[...]

(TJ-RO - APL: 00064228220128220001 RO 0006422-


82.2012.822.0001, Relator: Desembargador Raduan
Miguel Filho, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação:
Processo publicado no Diário Oficial em
01/12/2015.)
(Grifou-se)

41. Os arrestos colacionados relatam que a alteração do voo, com


alteração da programação da viagem dos é suficiente para ensejar
dano moral.

.Da função Reparatória, Punitiva e Pedagógica do Dano Moral:

42. Além da função reparatória - a indenização tem por finalidade


reparar o dano sofrido pelas vítimas, - há quem sustente que a
indenização por dano moral tem também função punitiva e pedagógica.
Punitiva, porque serviria para punir o causador do dano e pedagógica,
porque visaria a reprimir e evitar práticas danosas reiteradas.

43. Enunciado 379, IV Jornada de Direito Civil: "O art. 944, caput, do
Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva
ou pedagógica da responsabilidade civil."

REsp 860705. ADMINISTRATIVO -


RESPONSABILIDADE CIVIL - PENSIONAMENTO POR
MORTE DE FILHO NO INTERIOR DE ESCOLA
MANTIDA PELO PODER PÚBLICO - DEVER DE
VIGILÂNCIA - DANO MATERIAL - SÚMULA 282/STF
- DANO MORAL - AUMENTO DE VALOR DE
INDENIZAÇÃO.
1. Aplica-se a Súmula 282/STF em relação à tese em
torno do dano material, pois o Tribunal de origem não
emitiu juízo de valor sobre ela.
2. O valor do dano moral tem sido enfrentado no
STJ com o escopo de atender a sua dupla função:
reparar o dano buscando minimizar a dor da
vítima e punir o ofensor para que não volte a
reincidir.
3. Fixação de valor que não observa regra fixa,
oscilando de acordo com os contornos fáticos e
circunstanciais.
4. Aumento do valor da indenização para 300 salários
mínimos.
5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa
parte, parcialmente provido.

(Grifo Nosso)

44. Para que essas finalidades sejam alcançadas, o valor da


indenização não deve ser tão alto a ponto de causar enriquecimento ilícito
da vítima, nem tão ínfimo sob o ponto de vista do ofensor.

45. Cabe analisar no caso concreto o que seria razoável e o que seria
ínfimo, principalmente quando se trata de uma situação tão esdrúxula,
qual seja a Ré se negou a prestar o serviço inicialmente acordado,
bem como se recusou a arcar com o valor de um serviço semelhante.

46. MARIA HELENA DINIZ (Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º vol.,


9ª ed., Saraiva), ao tratar do dano moral, ressalva que a reparação tem
sua dupla função, a penal "constituindo uma sanção imposta ao ofensor,
visando à diminuição de seu patrimônio, pela indenização paga ao
ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa (integridade física, moral e
intelectual) não poderá ser violado impunemente", e a função satisfatória
ou compensatória, pois "como o dano moral constitui um menoscabo a
interesses jurídicos extrapatrimoniais, provocando sentimentos que não
têm preço, a reparação pecuniária visa a proporcionar ao prejudicado uma
satisfação que atenue a ofensa causada." Daí, a necessidade de observar-
se as condições de ambas as partes.

.Do Dano Moral Puro Indenizável


45. Dano moral presumido é aquele que decorre "in re ipsa", ou seja,
da própria conduta do ofensor. Em regra, para a configuração do dano
moral, é necessário provar a conduta, o dano e o nexo causal.
Excepcionalmente, o dano moral independe da comprovação do grande
abalo psicológico sofrido pela vítima, pois o ato cometido pelo ofensor
presumidamente afeta a personalidade e dignidade da pessoa humana.

46. No caso em comento, por ter o dano decorrido da inobservância


do dever legal do Réu por ter se negado a prestar o serviço inicialmente
acordado, bem como se recusado a arcar com o valor de um serviço
semelhante, entende-se que o dano moral é puro indenizável, pois a
atitude por si só já é suficiente para causar aborrecimentos e
instabilidade.

47. A atitude perpetrada pela empresa Ré atingiria os direitos da


personalidade de qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo,
grau de escolaridade, etc. Outrossim, as dificuldades, aborrecimentos
e frustrações com os quais os Autores se depararam em razão da falta
estrutura administrativa e funcional das empresas, além do desrespeito
perpetrado, agravam ainda mais a situação, não restando dúvidas de que
fica configurado o dano moral nestes casos.

48. Em decorrência dos incidentes vivenciados, os Requerentes


experimentaram situação constrangedora, angustiante, tendo sua moral
abalada, pelo fato de ter que antecipar a sua viagem em razão do
cancelamento do itinerário anteriormente acordado, além do
aborrecimento em não ter sido fornecido outro serviço semelhante,
visto que a priori os Demandantes iriam passar 50min (cinquenta
minutos) no voo e lhes foi dada apenas a alternativa de passar quase
8h (oito horas) para chegar ao destino 00:55h, sendo que já havia
uma reunião inadiável marcada às 14:30h, tendo os Autores se
prejudicado de maneira significativa em seu cotidiano de vida, sendo fato
suficiente a ensejar danos morais.

49. Caio Mário da Silva PEREIRA ensina que "o indivíduo é titular de
direitos integrantes de sua personalidade, o bom conceito que desfruta na
sociedade, os sentimentos que estornam a sua consciência, os valores
afetivos, merecedores todos de igual proteção da ordem jurídica"
(PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Forense. 1998. p. 59).

50. Dessa forma, claro é que a empresa Requerida, ao cometer


imprudente e negligente ato, afrontou confessada e conscientemente o
texto constitucional, devendo, por isso, ser condenada à respectiva
indenização pelo dano moral causado aos Requerentes.

.Dos Elementos Do Dano Moral

51. Rui Stoco, em sua obra Responsabilidade Civil e sua Interpretação


Judicial, 4 ed. Ver. Atual. E ampl.. Editora RT, p.59, nos traz que: “a
noção de responsabilidade é a necessidade que existe de
responsabilizar alguém por seus atos danosos”.

52. A única conclusão a que se pode chegar é a de que a


reparabilidade do dano moral puro não mais se questiona no direito
brasileiro, porquanto, uma série de dispositivos, constitucionais e
infraconstitucionais, garantem sua tutela legal.

53. À luz do artigo 186 do Código Civil, aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

54. Para que se caracterize o dano moral, é imprescindível que haja:

a) ato ilícito, causado pelo agente, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência;
b) ocorrência de um dano, seja ele de ordem
patrimonial ou moral;
c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento
do agente.

55. A manifesta existência do ato ilícito praticado e a efetiva


ocorrência do dano já foram exaustivamente abordados no presente
instrumento. Com relação à presença do nexo de causalidade entre os
litigantes, este também se encontra caracterizado, sendo indiscutível o
liame jurídico existente, pois houve a prestação de um serviço entre
as partes, quando, mesmo os Requerentes cumprindo com as suas
obrigações legais de pagamento, a empresa requerida realizou o
cancelamento do itinerário contratado e disponibilizou outro que estava
fora do que fora prometido.

56. Dano moral, frise-se, é o dano causado injustamente a outrem,


que não atinja ou diminua o seu patrimônio; é a dor, a mágoa, a tristeza
infligida injustamente a outrem com reflexo perante a sociedade.

57. Neste sentido, pronunciou-se o E. Tribunal de Justiça do Paraná:

“O dano simplesmente moral, sem repercussão no


patrimônio, não há como ser provado. Ele existe tão-
somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo
bastante para justificar a indenização” (TJPR - Rel.
Wilson Reback – RT 681/163).

58. A respeito, o doutrinador Yussef Said Cahali aduz: “O dano moral


é presumido e, desde que verificado ou pressuposto da culpabilidade,
impõe-se a reparação em favor do ofendido” (Yussef Said Cahali, in Dano
e sua indenização, p. 90).

59. Em sentido similar, reitere-se, preconiza o Art. 927 do Código


Civil:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a


outrem, fica obrigado a repará-lo”.

60. Não se pode deixar de favorecer compensações psicológicas ao


ofendido moral que, obtendo a legítima reparação satisfatória, poderá,
porventura, ter os meios ao seu alcance de encontrar substitutivos, ou
alívios, ainda que incompletos, para o sofrimento. Já que, dentro da
natureza das coisas, não pode o que sofreu lesão moral recompor o
"status quo ante" restaurando o bem jurídico imaterial da honra, da
moral, da auto estima agredidos, por que o deixar desprotegido, enquanto
o agressor se quedaria na imunidade, na sanção?

61. Harmonizando os dispositivos legais feridos é de inferir-se que a


reparação satisfatória por dano moral é abrangente a toda e qualquer
agressão às emanações personalíssimas do ser humano, tais como a
honra, dignidade, reputação, liberdade individual, vida privada, recato,
abuso de direito, enfim, o patrimônio moral que resguarda a
personalidade no mais lato sentido.

.Do “QUANTUM” indenizatório

62. Em que pese o grau de subjetivismo que envolve o tema da fixação


da reparação, vez que não existem critérios determinados e fixos para a
quantificação do dano moral, a reparação do dano há de ser fixada em
montante que desestimule o ofensor a repetir o cometimento do
ilícito.

63. Na aferição do quantum indenizatório, CLAYTON REIS (Avaliação


do Dano Moral, 1998, Forense), em suas conclusões, assevera que deve
ser levado em conta o grau de compreensão das pessoas sobre os seus
direitos e obrigações, pois "quanto maior, maior será a sua
responsabilidade no cometimento de atos ilícitos e, por dedução lógica,
maior será o grau de apenamento quando ele romper com o equilíbrio
necessário na condução de sua vida social". Continua, dizendo que "dentro
do preceito do 'in dubio pro creditori' consubstanciada na norma do art.
948 do Código Civil Brasileiro, o importante é que o lesado, a principal
parte do processo indenizatório seja integralmente satisfeito, de forma que
a compensação corresponda ao seu direito maculado pela ação lesiva."

64. Bem se vê, à saciedade, ser indiscutível a prática de ato ilícito por
parte do Requerido, configuradores da responsabilidade de reparação dos
danos morais suportados pelos Autores, deve, a empresa Demandada,
ressarcir aos Demandantee por toda a falta de sossego, paz de espírito e
frustrações sofridas, decorrente do que foi aduzido anteriormente.

.DA HIPOSSUFICIÊNCIA AUTORAL - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA


PROVA.

65. Em se tratando de relação de consumo, devidamente positivada


no CDC, convém assinalar a posição inferiorizada do consumidor,
reconhecida pela doutrina, jurisprudência e pela lei, no que tange às
relações com fornecedores.
66. Faz-se menção, de extrema pertinência, ao princípio da igualdade
(artigo 5º, caput da Constituição Federal), que tem o maior escopo, não
de tratar todos de idêntica forma, mas de equilibrar as partes em relação
em que há patente desequilíbrio.

67. O art. 4° do Código de Defesa do Consumidor trata da Política


Nacional das Relações de Consumo, fazendo figurar, dentre os princípios
que a norteiam, o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo" (inciso I). Mais adiante, o artigo 6º do diploma sob
comento, estabelece a possibilidade de inversão do “onus probandi”, como
uma das formas de se alcançar o princípio mencionado. Reza o art. 6°,
inciso VIII:

“Art. 6.º São direitos básicos do consumidor:

(...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiência;” (grifo nosso)

68. Ante o exposto, percebe-se que a inversão do ônus da prova,


providência essencial à defesa do consumidor, é possível em duas
hipóteses, quais sejam, quando for verossímil a alegação autoral ou no
caso da hipossuficiência do consumidor. Tais hipóteses são alternativas,
e não cumulativas, bastando para o deferimento da inversão a existência
de apenas uma delas.

69. Observe-se que no caso em tela restam configuradas ambas as


situações: tanto a verossimilhança dos fatos alegados, vez que resta
demonstrada através dos documentos acostados à presente, que
comprovam cabalmente que existiram aos danos morais sofridos, como
a hipossuficiência dos Autores, tanto técnica como financeira, pois como
bastante debatido na presente ação, o Demandado trata-se de grande
empresa, pelo que se torna estritamente necessária a inversão do ônus
da prova.
70. Em continuidade ao presente raciocínio, faz-se pertinente
transcrever o seguinte Enunciado das Turmas Recursais dos Juizados
Especiais, no que diz respeito à inversão do ônus da prova:

Enunciado 17:
“É cabível a inversão do ônus da prova, com base no
princípio da equidade e nas regras de experiência
comum, a critério do Magistrado, convencido este a
respeito da verossimilhança da alegação ou
dificuldade da produção da prova pelo reclamante".

71. Saliente-se, ademais, que, sob a égide do Código de Defesa do


Consumidor, vigora a teoria da responsabilidade objetiva do
fornecedor de serviços, presente no artigo 14 do diploma legal em tela.
Depreende-se de seu texto, a imputação direta, independentemente de
culpa, da reparação do dano causado ao consumidor oriundo de "defeito"
relativo à prestação do serviço.

72. Acertada aqui é a exegese no sentido de que o Réu, efetivamente,


realizou condutas lesivas para com os Autores. Sendo assim,
independentemente de culpa, impõe a lei, de forma objetiva e cristalina,
a reparação dos danos oriundos desta conduta.

73. Portanto, requer a inversão do ônus da prova incumbindo a


Demandada de comprovar o valor referente a passagem de volta (dia
02.05.16), visto que no comprovante anexado consta o valor geral (ida e
volta), para fins de comprovação da repetição do indébito.

DOS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto, vem os Autores, respeitosamente, à presença


de V. Exa., REQUERER:

a) O julgamento TOTALMENTE PROCEDENTE da presente ação, com


a condenação da empresa Ré a restituição em dobro da quantia
indevidamente paga, acrescida de juros e correção monetária,
conforme preceitua o parágrafo único do art. 42 do Código de
Defesa do Consumidor;
b) A condenação da Demandada ao pagamento da indenização por
danos materiais no valor de R$ 250,45 (duzentos e cinquenta reais
e quarenta e cinco centavos) para cada Demandante, devidamente
atualizado.

c) Condenar ainda a Requerida ao pagamento da indenização pelos


danos morais, tendo em vista a ansiedade, desconforto psicológico
atípico, angústia, estresses, além da revolta suportada pelos
Demandantes, no importe não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil
reais) para cada Demandante, isto porque, o Demandado é
empresa de grande porte, em âmbito nacional, possuindo
patrimônio superior em muitas vezes o valor postulado pelos
Demandantes, ou em montante a ser arbitrado por esse Juízo,
observadas os fatos narrados nessa peça, bem como o caráter
punitivo dos mesmos;

d) Que seja julgado procedente o pedido de Inversão do ônus da Prova,


incumbindo a Demandada de evidenciar o valor referente a
passagem de volta (dia 02.05.16), visto que no comprovante
anexado consta o valor geral (ida e volta), para fins de comprovação
da repetição do indébito.

e) A citação da Requerida no endereço mencionado no preâmbulo


para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de confissão
e revelia;

Provar o alegado por todos os meios em Direito admitidos,


especialmente testemunhais, documentais e periciais, bem como o
depoimento pessoal do representante legal da empresa requerida.

Dá-se à causa o valor de R$ XX (XX), para efeitos meramente


fiscais.

Termos em que,
Pede deferimento

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