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Individualização e

desinstitucionalização
A RELIGIÃO COMO MODO DE
HABITAR E TRANSFORMAR O
MUNDO

Ana Maria Fernandes Filipe


Nº22, 10ºA4
3.2. Individualização e desinstitucionalização
do religioso
• Os diversos fenómenos de contestação das instituições e da autoridade que, de forma emblemática, são
associados aos acontecimentos parisienses do chamado «Maio de 68» são um ponto de chegada de
uma tendência cultural nas sociedades do Atlântico Norte: a afirmação generalizada dos valores da
liberdade individual em detrimento dos valores ligados à autoridade e à tradição. É esta tendência que
permite compreender o progressivo distanciamento dos indivíduos face às instituições que geriam a vida
coletiva - tanto as instituições religiosas, como as coletivas. O crédito dado a uma narrativa ou a uma
prática religiosa pode não depender já da autoridade da instituição que a veicula, mas da possibilidade
de o indivíduo tornar «suas» tais narrativas e práticas, ou seja, a possibilidade de as adequar à sua
vida.

• A mudança social que se conheceu no final do século XX, nas nossas sociedades, não se reduz à
alteração do lugar do religioso no espaço público. A centralidade das escolhas individuais e as múltiplas
possibilidades de bricolage religioso dão conta de uma ampla reconfiguração do fenómeno religioso. A
partir dos anos 70 do século passado, as Ciências Sociais foram conhecendo um vocabulário novo, para
além dos conceitos de secularização e laicização, na procura de um melhor conhecimento de uma
realidade em mudança. Podemos mesmo fazer o inventário desse léxico.
3.2. Individualização e desinstitucionalização
do religioso
• Privatização - O termo procura pôr em evidência que, nas sociedades modernas ocidentais, o religioso
se tinha deslocado da cena pública, da esfera coletiva, para o domínio privado dos indivíduos.

• Desinstitucionalização - O termo identifica o fenómeno da perda de influência das instituições religiosas


sobre a sociedade - no contexto mais amplo de erosão de outras instituições na sociedade. O termo
descreve também o distanciamento dos próprios indivíduos relativamente às instituições religiosas,
mesmo quando não abandonam uma determinada pertença crente.

• Regresso do religioso - Muitos dos que continuaram a estudar a criatividade religiosa das múltiplas
modernidades perceberam que era possível identificar fenómenos de reafirmação da religião na cena
pública, por vezes fortalecendo comunitarismos ou nacionalismos.
3.2. Individualização e desinstitucionalização
do religioso
• Recomposição - Enquanto nos anos 60, o vocabulário que descrevia as transformações no campo religioso
privilegiava a semântica da perda, da decadência, o léxico socio antropológico dos anos 90 dava muito mais
atenção a expressões como «recomposição da religião». Tratava-se de uma mudança de perspetiva.

• Individualização - A partir dos anos 80, a tese da individualização do religioso ganhou cada vez mais atenção.
Observava-se que à diminuição da importância social da religião não correspondia necessariamente uma
quebra da sua importância subjetiva

• Pluralização - A partir dos anos 70, as sociedades europeias ocidentais conheceram um amplo fenómeno de
diversificação religiosa. Por via do aparecimento de novas «ofertas» religiosas e em consequência dos fluxos
migratórios, estas sociedades, antes muito homogéneas na sua identidade religiosa, fazem a experiência de
um pluralismo religioso com uma evidência inédita.

• «Des-secularização» - O termo foi cunhado por Peter Berger. Ao rever a sua própria teoria da secularização,
já no final da década de 90, ele observa que o fenómeno mais característico desta fase da modernidade é a
reafirmação pública da religião.
3.3. Identidades religiosas no mundo: novas geografias

• Quando nos referimos à identidade de alguém estamos a falar do


conjunto de recursos que lhe permitem reconhecer as suas pertenças e
referências, dizer quem é e onde está. A metáfora da geografia pode
aqui ser eficaz. Perder a identidade é estar à deriva sem os meridianos
e paralelos que nos permitem a todo o momento dizer onde estamos, e
especificamente, onde estamos em relação a todos os outros.

• Os problemas relativos à tradição e à mudança são particularmente


relevantes no caso das identidades religiosas. A identidade cultural é,
por natureza, «criação». Os sistemas simbólicos, como por exemplo as
religiões, vivem de uma dupla força: a memória que transportam e a
capacidade de responder às novas inquietações das sociedades.
3.3. Identidades religiosas no mundo: novas geografias
• Os novos encontros entre religiões e culturas, não resultam apenas
das deslocações que conduzem a novas geografias. Derivam
também das novas possibilidades comunicativas. Hoje, damo-nos
conta de que muitas mensagens circulam à escala global, rompendo
com as fronteiras que delimitavam os sistemas culturais.
Percebemos, assim, porque é que o tema da perda de identidade e
do desenraizamento cultural se tornou tão recorrente.

• Grande parte destes acontecimentos relaciona-se com os processos


de globalização contemporâneos. Num plano objetivo, o conceito de
globalização pode designar o crescendo de interdependências que as
sociedades humanas têm vindo a conhecer; numa ordem subjetiva, o
conceito tende a cobrir aqueles factos que apontam para a presença,
no quotidiano dos indivíduos e das comunidades, de uma consciência
planetária. O antropólogo Appadurai propõe o conceito de
«etnopaisagem» para interpretar esta nova realidade.

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