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Ciência da religião

SUMÁRIO

CIÊNCIA ...................................................................................................................... 2
Definições e conceitos de religião ................................................................................ 3
O QUE É RELIGIÃO? .................................................................................................. 4
Religião e Filosofia ....................................................................................................... 6
Um breve panorâmico histórico .................................................................................... 8
Uma nova metafísica!................................................................................................... 9
Religião e Ciência ...................................................................................................... 10
O PRIMEIRO PERÍODO ............................................................................................ 11
O SEGUNDO PERÍODO ............................................................................................ 12
O TERCEIRO PERÍODO ........................................................................................... 12
O QUARTO PERÍODO............................................................................................... 13
O QUINTO PERÍODO ................................................................................................ 14
As relações entre as disciplinas ................................................................................. 16
A CIÊNCIA CRISTÃ ................................................................................................... 18
O SAGRADO, O MITO E O PROFANO ..................................................................... 19
RITOS DE PASSAGEM ............................................................................................. 21
A religião é um fenômeno humano ............................................................................. 22
DIVISÃO DAS RELIGIÕES ........................................................................................ 23
Monoteísmo ............................................................................................................... 26
Politeísmo .................................................................................................................. 26
Panteísmo .................................................................................................................. 27
Animismo e crença nos espíritos ................................................................................ 27
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 33

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CIÊNCIA

Em tempos de globalização, neoliberalismo, mundialização, modernidade e


pós-modernidade, as rotinas da vida cotidiana constituem um desafio para a religião.
Este novo momento histórico desafia as formas religiosas diversificadas.
A religião, como um dos elementos centrais do campo simbólico da sociedade,
não escapa a essa dinâmica cultural em que a sociedade está envolvida, na qual o
heterogêneo e o diverso contrapõem-se ao monolítico e ao homogêneo; o concreto,
específico e particular ao abstrato, geral e universal (CHIAVENATO, 2002).
Nessa nova sociedade, a religião também muda, ela se desterritorialização,
depende das forças mercantis da oferta e da procura; ela passa a ser orientada a
adaptar-se a situações inusitadas e a novas demandas. Reage às suas concorrentes
lançando mão da propaganda e dos meios eletrônicos de Comunicação, simplificando
sua linguagem em função de um limitado número de “produtos” religiosos.
Uma das coisas mais surpreendentes nessa nova dinâmica da religião é a
facilidade que qualquer um tem de mudar de uma para outra sem problemas de
consciência e de constrangimento. Estamos na era da religião do mercado sem
fronteiras; ela se espalha e se fragmenta, não se sabe mais de onde veio; refaz-se a
cada demanda; avança nos espaços e lança-se no mercado. A religião explode, se
pluraliza, e por isso se sujeita à lei da concorrência; como mercadoria, é vendida a um
conjunto de “clientes” que não se sentem mais obrigados a consumi-la (FONTES,
2007).
Somos um país onde novas religiões e filosofias de vida despontam,
transformando o Brasil num país mais tolerante e cada vez mais desenraizado em
matéria religiosa e em termos culturais. Nunca as religiões foram tão livres para se
instituírem, para concorrerem entre si e se multiplicarem. Vive-se uma livre
concorrência entre os mais diversos tipos de organização religiosa (igrejas, seitas,
cultos, centros, terreiros, ordens, denominações, comunidades, casas, redes,
movimentos), as quais dialogam criticamente com a religião católica, ainda
hegemônica no país.

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O pluralismo religioso possibilita que o mercado concorrencial seja abastecido


com uma variedade de ofertas religiosas (terapia corporal, mental e afetiva; cultos de
reposição de energia; crença no poder dos cristais e de tantas outras formas de
espiritualidades ou de manipulação de forças e energias), onde o melhor produto é
aquele que cada adepto elege e consome como tal (FONTES, 2007).
A pluralização é o rótulo de um tipo de sociedade que possibilitou os limites do
desejo de escolha e de liberdade de preferências. No Brasil, aproximadamente um
quarto da população adulta já teve a experiência do sentido da conversão e da adesão
a uma outra religião, diferente daquela que herdou de seus pais.
A religião passa a interessar somente no sentido de seu alcance individual; aos
poucos ela vai se reterritorializando na esfera do indivíduo e deste para a dinâmica
das relações de consumo, vendo-se obrigada, agora, a ser regulada pelas regras do
mercado.
A sociedade passa a recorrer à religião apenas festivamente, tendo em vista o
aparecimento de formas religiosas que se apresentam como espetáculo. Aquela
religião que era fonte de transcendência perdeu seu sentido; um outro tipo de religião
que está preocupada com causas localizadas, reparos específicos, portanto, adquire
expressão e relevância nos tempos atuais (FONTES, 2007).

Definições e conceitos de religião

Os romanos foram os primeiros a usar palavra religião. Chamavam Religião o


dever de fidelidade ao Estado. O cidadão romano devia comportar-se religiosamente
com lealdade ao Estado e às autoridades. Como no império romano, o Estado era
religioso, a relação entre Estado e Religião aconteceu- naturalmente. Cícero (106-46
a.C.) dizia que religião vem de relé gere, voltar a ler, recordar.
Segundo alguns teólogos, Cícero quis dizer que os homens diligentes
“voltavam a ler” o que se referia ao culto dos deuses.
Três séculos depois o escritor cristão Lactâncio (240-320) desenvolveu a ideia
de religião como a identificação sentimental entre o homem e Deus, já pensando no
deus cristão, criador do mundo e de tudo que nele havia. Religio, como os romanos

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entenderam originariamente ou na interpretação de Lactâncio, passou a exprimir tanto


a lealdade ao Estado – pelo acatamento das leis, códigos morais etc., - como a
identidade sentimental, a crença em um só deus; nesse caso, cristão.
Com mais frequência afirma-se que a palavra religião vem do latim religare, que
significa amarrar. Os cristãos geralmente preferem essa explicação. Lactâncio usou
religare para afirmar que o homem voltava a atar seus vínculos com Deus. Mas é
interessante observar que mesmo no contexto religioso, religare pode ter outro
significado: Religare religionibus bona alicujus, pode ser traduzido como "Consagrar
a alguma divindade os bens de outros" - o que é muito característico na luta entre o
cristianismo e o paganismo a partir dos séculos III e IV. No entanto Santo Agostinho
(354-430) preferia como origem da palavra religião o reeligere, reeleger - os homens,
depois da mensagem de Jesus Cristo, reelegeram o deus cristão.
A palavra religio-religião sofreu variações de significado à medida que o Estado
e a Igreja cresciam e enfrentavam os acontecimentos históricos (CHIAVENATO,
2002).

O QUE É RELIGIÃO?

Assim como a explicação para a origem da palavra religião muda de acordo


com certos interesses, o conceito de religião também se modifica pelos tempos. A
religião não pode ser entendida da mesma forma quando se trata das sociedades
tribais, dos gregos, dos romanos, etc. A pergunta o que é religião? Tem de ser
respondida levando-se em conta as características e as categorias religiosas de cada
época. Esta pergunta não permite resposta-genérica. Porque a religião não é a
mesma em diferentes épocas e sociedades.
Para os primeiros cristãos romanos, por exemplo, a religião era a da vida real;
O ópio que os livrava espiritualmente das coisas deste mundo.
O cristianismo primitivo não continha em si nenhum componente filosófico, mas
uma alienação específica, conformando o homem a sofrer resignadamente neste
mundo, sem vontade política de modificá-Io.

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Na Idade Média a religião adquiriu um conteúdo filosófico e teológico muito


forte. Nesse período de quase mil anos, a religião ocupou o espaço político: a vida se
fez em torno ou em relação aos conceitos religiosos.

Os reis eram consagrados pela Igreja; os papas ditavam a moral e os costumes


- quase sempre com exemplos nada dignificantes. A teologia
Condicionava a ciência, permitindo-lhe o progresso ou sufocando-a em dogma
se proibições absurdas.
O cristianismo do Império Romano e o da Idade Média pouco tinham em
comum. Se as características religiosas diferem em cada época, são diferentes
também as suas formas de relação com o poder político e econômico. Se recuarmos
à Palestina do tempo de Jesus, veremos que a religião, representava as tendências
políticas de cada classe; sem que isso implicasse participação ativa dentro do
organismo do Estado.

Nessas sociedades e nessas épocas, a religião é diferente em cada


circunstância e em cada momento – e para cada classe. É preciso observar as
diferenças para não incidir no erro de urna resposta genérica. Também é preciso
cuidado para não tornar a crítica da religião um simples reducionismo. Destacar as
condições socioeconômicas nas quais as religiões se desenvolveram - e o
cristianismo em particular - não significa explicar o fenômeno religioso apenas pela
estrutura econômica. A religião não é só um meio que os grupos de poder usam para
preservar seus políticos ou econômicos (CHIAVENATO, 2002).

Porém, a pergunta o que é religião? apesar de complexa, pode ser


respondida objetivamente em uma frase. Se cada momento exige uma
Interpretação e um entendimento específico, objetivamente pode-se chegar a
uma velha e tradicional resposta básica, que tem causado horror e satisfação há mais
de cem anos: “religião é ópio do povo”. Ao contrário do que parece a afirmação de
Marx não reduz a religião a nada: abre um leque espantoso de análise radical, em que

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a raiz é o próprio homem. Mas existem características radicalmente diversas de ser


esse ópio do povo.

Tomando como base o monoteísmo ocidental, podemos dizer que religião é o


conjunto de doutrinas e práticas institucionalizadas, cujo objeto e objetivo é fazer a
ponte de ligação entre o sagrado e o profano, o caminho de reaproximação entre
criatura e criador, o Homem e Deus. Não por acaso, os sumos sacerdotes da maioria
das igrejas, também são denominados Sumos Pontífices, os Supremos Construtores
da Ponte Sagrada.

Religião e Filosofia

A religião e a filosofia constituem dois importantes âmbitos do raciocínio


humano. Enquanto na religião o pensamento se desenvolve a partir da interpretação
de mitos, o raciocínio filosófico se ocupa com o estudo do próprio ato de pensar
(“Filosofia” = amor a sabedoria). Ambas, no entanto, têm em comum a busca pela
verdade. Para enfrentarmos a problemática do confronto entre essas duas fontes é
preciso observar, a partir do estudo da história, como a todo o tempo encontramos
estudos de grandes pensadores sobre filosofia e religião.

Em “O Discurso do Método”, Descartes faz reflexões críticas sobre Deus, a


relação entre fé e razão, e entre teologia e filosofia. “Os estudos devem ter por fim dar
ao espírito uma direção que lhe permita proferir juízos sólidos e verdadeiros sobre
tudo o que se apresenta”. Mas, enquanto Descartes separa a fé da razão, outros
pensadores entendem que a fé e a razão, na verdade, formam uma unidade, pois o
espírito humano não se constitui exclusivamente de lógica e razão.

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Pascal dizia que Deus é sensível ao coração, não à razão. Assim, entendia
Pascal que seria possível reconhecer Deus não pelo intelecto, e sim pelo coração. O
ateísmo que encontramos em Nietzsche e Sartre, por exemplo, nega a existência de
Deus. Para Sartre, filósofo existencialista francês, Deus não tinha existência real. Em
O ser e o Nada Sartre diz: “toda realidade humana é uma paixão... o homem se perde
enquanto homem para fazer nascer Deus... o homem é uma paixão inútil”. “O homem
nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do
existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade... o homem será
apenas o que ele projetou ser.… o homem é totalmente responsável por sua
existência... o homem só existe à medida que se realiza; não é nada além do conjunto
de seus atos, nada mais que sua vida... ainda que Deus existisse, nada mudaria; eis
nosso ponto de vista. ” (SALDANHA, 2009).
Para Nietzsche, o cristianismo gerou conformismo e mediocridade.
Apresenta uma nova ética para libertar o homem de sua alienação religiosa.
Nietzsche proclamou “Deus está morto”, propondo que fica a cargo do homem criar
suas próprias regras, ao invés de obedecer àquelas da igreja católica. O
conhecimento humano atual, no entanto, ainda não tem uma resposta definitiva
quanto à existência ou não de Deus.

O estudo sobre a influência atual do pensamento religioso sobre a nossa


sociedade deve ter como objeto seu lado benéfico e positivo, bem como seus perigos.
A transgressão dos valores fundamentais da religião é hoje um sério problema social.
O estudo da filosofia deve ser encarado não como uma esfera autônoma de
conhecimento, mas sim como instrumento para o estudo das demais áreas de atuação
do conhecimento. Assim, a difusão da filosofia por todas as classes sociais, seria um
meio de se proteger os valores verdadeiros da religião de falsos pastores, na medida
em que o estudo da filosofia auxilia na construção de uma visão crítica e interpretativa
(SALDANHA, 2009).
Filosofia, o pensar racional do mundo, nasceu do afastamento das academias
gregas da crença nos deuses mitológicos. A busca de entender o mundo pela razão
sem o recurso do misterioso e a possibilidade de designar o inexplicável à vontade

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dos deuses marcou o início de um diálogo, que por vezes transformou-se em guerra
acirrada, entre a fé e a razão! Desde a antiguidade o pêndulo do pensamento
filosófico, ora destaca a religiosidade (teísmo) ora o secularismo (ateísmo), em cada
era ele reflete a caminhada do homem na busca pelo conhecimento de si mesmo e
do mundo em que vive, e incluído nessa caminhada é a busca do homem para um
Deus, qualquer que seja seu nome.

Um breve panorâmico histórico

A pesar da crítica dos deuses, o conceito de um Deus (um ser supremo e


transcendental) está presente na filosofia antiga, notavelmente no pensamento
aristotélico. Na obra Metafísica, o filósofo desenvolve o pensamento acerca do
primeiro motor, para ele “o motor imóvel, quer dizer, Deus, ou o ato puro que é a causa
de toda mudança e de todo devir no mundo, mas sem estar ele próprio sujeito à
mudança” (Metafísica III, 8) (LALANDE, 1999).
O pensamento da Idade Média é marcado pelo surgimento dos “monoteísmos
e encontro com a filosofia grega” (LALANDE, 1999). A Europa ocidental, onde o
cristianismo dominou desde os dias do império romano, foi o palco do diálogo entre a
teologia e a filosofia marcado pelo neoplatonismo, a filosofia sendo considerada pelos
Padres da Igreja como a serva da teologia. Esse encontro resultou numa verdadeira
fusão entre a filosofia e a teologia cristã, sacramentada nas obras das Escolásticas,
principalmente São Tomadas de Aquino, o Ser Supremo de Aristóteles tomou a
roupagem do Deus do cristianismo.

A modernidade foi marcada pela secularização e um novo distanciamento entre


pensamento filosófico e a teologia. A razão e a fé mais uma vez ocuparam espaços
distintos e o Deus da filosofia não é mais o Deus divino, objeto de adoração de culto
do cristianismo, judaísmo ou islamismo, “é a causa como causa sui. [...] A este Deus
não pode o homem nem rezar nem sacrificar. ” (HEIDEGGER, 1999, p.199).

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Uma nova metafísica!

Hegel faz uma afirmação sobre a relação entre a Filosofia e a Religião capaz
de fazer os filósofos modernos virarem em seus túmulos, ele chega a declarar que a
filosofia e a teologia são a mesma coisa, ele considera a filosofia como “teologia
racional” – “Deus é o princípio de todas as coisas e o fim de todas as coisas; (tudo)
inicia em Deus e retorna para Deus. Deus é um e o único objeto da filosofia [...] Assim,
filosofia e teologia”. O desenvolvimento do conceito da aproximação da filosofia e
teologia é encontrado no pensamento do Heidegger. De acordo com Heidegger
(1999), a filosofia e a religião em comum com as artes, buscam por caminhos
diferentes “as causas últimas”, ou seja, tem a mesma finalidade.
A filosofia, como a arte e a religião, é afazer humano-além humano de primeira
e última importância. [...] a filosofia situa-se necessariamente no esplendor da beleza
e no liminar do sagrado (HEIDEGGER, 1999).
Na primeira etapa de sua vida profissional, principalmente no livro “Ser e
Tempo” Heidegger aparenta ateísmo, no segundo período o conceito é outro.
(SANTOS, 2004).
Se a leitura de Ser e Tempo possibilitava uma interpretação de Heidegger como
um ateu, ou como indiferente à questão de Deus, neste segundo período as suas
obras possibilitam outra interpretação. Nesses textos, parece ser possível afirmar que
Heidegger não nega a existência de Deus, nem tampouco lhe é indiferente
(HEIDEGGER, 1999, p.2).

Heidegger de fato entende que o pensamento filosófico desde Platão nada mais
é de que uma onto-teo-logia a busca pelo Deus, o fundamento de todas as coisas,
seja esse Deus o primeiro motor imóvel de Aristóteles, a causa sui do Kant ou até os
humanistas em cujo pensamento o ser humano toma o lugar de Deus. O pensamento
heideggiano afasta da filosofia o Deus cristão que dominava a filosofia na Idade
Medieval e moral cristã que permeavam o pensamento filosófico da modernidade,

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mesmo nas obras de filósofos que negavam e propõe um retorno à busca pelo “ser”
(SANTOS, 2004).

Religião e Ciência

Não que Religião e Ciência tenham que ser inimigas naturais, mas todas as
Vezes que ambas tratam das mesmas coisas, os conflitos são inevitáveis. O
Criacionismo é um dos melhores exemplos (VALÉRIO, 2001).
Os Criacionistas alegam que a Teoria da Evolução é um embuste, uma fraude
com o objetivo de anular a Bíblia como fonte Única de Verdade Suprema. Dizem que
há uma conspiração secular que predomina no meio científico, com raízes
provavelmente no Iluminismo e Positivismo, se não uma manobra ardilosa do próprio
Satanás.
Muitos denunciam que a Evolução ao abalar a autoridade do Livro Sagrado,
abre caminho para uma sociedade sem “Deus”, que segundo eles só pode conduzir à
autodestruição e infelicidade, pois só a crença numa criatura onipotente, vigilante e
vingativa poderia manter uma sociedade em ordem (VALÉRIO, 2001).
Afirmam que a verdadeira Ciência é a que afirma a glória de Jeová e confirma
os ensinamentos da Bíblia. Alguns até acusam o Evolucionismo de Pseudo Ciência,
e de que não passa de uma Torre de Babel de falácias e mentiras com objetivo de
disseminar uma filosofia ou religião humanista e ateia.
Em síntese, acusam a Ciência de tudo o que eles próprios são também
apropriadamente acusados por alguns de seus adversários: Pseudo Cientistas sem
compromisso com a verdade e sim com crenças de uma religião ultrapassada e
danosa a toda a história da civilização (Uma crítica comum entre alguns Anti-
Criacionistas) (VALÉRIO, 2001).
Entretanto não cabe aqui esticar mais essa difusão de opiniões pessoais a
respeito. Cada um pode acusar ao outro das mesmas coisas. Afinal o que é pior?

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Acreditar ou não em Deus? Estado vinculado ou não a Religião? Democracia ou


Teocracia? Formação filosófica e humanista ou doutrinação religiosa?
E segundo os próprios Criacionistas acusam, o que contribuiria melhor para o
progresso da Ciência e da Sociedade? Uma postura Evolucionista e Naturalista ou
uma Criacionista e Religiosa?
Os questionamentos acima levam a acirradas e intermináveis discussões, mas
merecem ser lançadas para reflexão daqueles que irão mediar conhecimentos, pois a
vida não é uma via de mão única, não é exata, concreta, enfim, cada sujeito tem direito
a elaborar seus próprios pensamentos, mas deixaremos de lado por enquanto
aspectos morais e éticos da sociedade, e concentraremos no que se refere ao
verdadeiro conhecimento científico.
Os Criacionistas chegam a declarar que enquanto a Evolução não for
descartada e a Criação admitida, toda a Ciência estará envolta em erros e estagnação.
Vamos comparar então períodos históricos com relação ao desenvolvimento científico
e a disseminação das religiões
(VALÉRIO, 2001).

O PRIMEIRO PERÍODO

Vai desde o surgimento do homo sapiens até o surgimento da Filosofia Grega


e das Filosofias Orientais, que passaram a substituir os mitos pela razão ou intuição
investigativa.
Esse período se estende desde cerca de 200 mil anos atrás até cerca de 600
a.C. Sendo então o maior de todos os períodos. Embora muitos Criacionistas
acreditem na precisão bíblica de que o Ser Humano tem menos de 6000 anos na
Terra, o que por incrível que pareça, não afeta o raciocínio uma vez que tal período
continua sendo o maior.
Esse foi o período onde ocorreu a maior intensidade de crenças religiosas,
Panteístas ou Politeístas. Nunca se tomou conhecimento de que tenha havido algum

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grupamento humano que não tivesse sua religião. Esse foi também o período de
desenvolvimento científico mais lento da história, principalmente em relação ao tempo
que durou. Não acredito que alguém discorde disto sem apelar para lendas do tipo
Atlântida ou Lemúria (VALÉRIO, 2001).

O SEGUNDO PERÍODO

Vai desde o surgimento da filosofia até seu obscurecimento, tendo durado


pouco menos de Mil anos. Nesse período os Filósofos gregos fizeram progressos
notáveis na compreensão do mundo. Mapearam os movimentos celestes, deduziram
o átomo, alguns já propunham o Heliocentrismo e conclui-se que a Terra não era
plana. Foram criados avançados recursos matemáticos, linguísticos e lógicos. Foi
desenvolvida a Metafísica, a Ética, a Política, a Astronomia. Muitos de seus avanços
são sentidos até a atualidade.
No oriente os Hindus calcularam movimentos astronômicos com incrível
precisão, inclusive o movimento terrestre de Precessão, que dura 26 mil anos, através
de uma elaboração mística filosófica, deram uma idade para o Universo não muito
distante da idade atualmente dada pela Ciência e criaram a mais avançada
matemática, que até ela chegou na forma do sistema decimal. A China não ficou atrás
em termos de desenvolvimento econômico, filosófico e artístico.

Nesse período, principalmente no ocidente, houve uma considerável retração


do pensamento religioso, e as primeiras “Faculdades” foram criadas, a Academia de
Platão, o Liceu de Aristóteles, e a Biblioteca de Alexandria, onde já se dizia, “A Ciência
nos Liberta do Terror dos Deuses”.

O TERCEIRO PERÍODO

Vai da ascensão da Igreja de Roma no ocidente, abrangendo toda a Idade


Média, cerca de Mil anos, ou seja, equivalente ao período anterior, porém

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incrivelmente mais lenta em termos de progresso do conhecimento. Na verdade,


ocorreu o contrário, o Heliocentrismo que já fora proposto em Alexandria foi
esquecido, técnicas médicas que remontam a Hipócrates, o Pai da Medicina, foram
substituídas novamente por exorcismos e feitiçarias.
A Idade das Sombras de fato justifica esse apelido, pois embora tenha sim,
havido progresso, ele com certeza foi mais lento. Mas apenas no Ocidente.
Enquanto com base na Bíblia a Igreja reprimia qualquer forma de Filosofia não
Cristã, e travava o progresso com seus Dogmas, no oriente médio que a partir da
metade da Idade Média seria dominado pelos Muçulmanos, a Ciência se manteve em
pleno ritmo (VALÉRIO, 2001).
O resultado foi um enorme atraso da Europa em relação ao Oriente, que
descobria a Pólvora, inventava a Bússola, usava especiarias para conservar
alimentos, criava telescópios e aperfeiçoava a navegação. Foi o domínio do
Cristianismo na Europa, uma autêntica Teocracia.

O QUARTO PERÍODO

Começa a partir do renascimento, que resgatou na Europa o conhecimento


antigo grego e se prontificou a tirar o atraso em relação ao oriente. A imprensa
aniquilou o controle de informações por parte da Igreja e surgiu o Iluminismo. Os
filósofos romperam com a Teologia católica e o Heliocentrismo foi trazido de volta
(VALÉRIO, 2001).
Passou a haver uma reação em relação à Igreja a ao Cristianismo tradicional e
assim a Ciência avançou novamente acabando por superar o oriente. Por que isso
aconteceu?
Provavelmente por que enquanto o Ocidente rompeu de forma bem mais
radical com a religião, o Oriente ainda se manteve preso a ela, apesar do Islamismo
e Hinduísmo serem bem menos problemáticos com relação a Ciência.

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Em menos de 400 anos, o ocidente progrediu muito mais do que nos 1000 anos
de Idade Média, em parte resgatando o conhecimento antigo do SEGUNDO
PERÍODO.

O QUINTO PERÍODO

Entretanto no quarto período os cientistas em sua maioria ainda eram crentes,


tendo suas limitações religiosa, somente a partir do final do século XIX no Ocidente
rompeu-se definitivamente com o poder do Cristianismo, os Estados passaram a não
mais orientar suas constituições através de códigos religiosos e a Ciência ficou
definitivamente livre, apesar de ainda enfrentar repressões (VALÉRIO, 2001).
Nesse âmbito a Teoria da Evolução teve um efeito devastador, ela consolidou
a Biologia como uma Ciência Plena e estabeleceu sua comunicação com a
Geologia e a Física.
Agora não se aceita mais religião, crença e nem mesmo Metafísica no cerne
de desenvolvimento científico, foi a vitória do Ceticismo e pôr fim a Ciência Disparou
resultando no mundo que temos hoje em dia.

Esquematizando:

Períodos OCIDENTE ORIENTE

(datas RELIGIÃO CIÊNCIA RELIGIÃO CIÊNCIA


aproximadas)

PRIMEIRO Religiões primitivas, O mínimo Religiões primitivas, O mínimo

PERÍODO influência máxima desenvolvimento influência máxima da desenvolvimento


da Religião Religião

“200mil”aC -
600 aC

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SEGUNDO Surgimento da Maior Surgimento da Maior


PERÍODO Filosofia desenvolvimento Filosofia Hindu, desenvolvimento
Grega, menor Budista, Taoísta e
600 aC - 400 d.C. influência da Confuciana. Menor
Religião interferência
religiosa no
pensamento
TERCEIRO Apogeu do Baixo Surgimento do Desenvolvimento
PERÍODO Cristianismo, desenvolvimento Islamismo, baixa estável assim como
estado Teocrático, interferência religiosa no período anterior
400 dC - Altíssima no pensamento
1500 dC influência da
religião
QUARTO Renascimento e Mais alto Baixa interferência Desenvolvimento
PERÍODO enfraquecimento desenvolvimento, o Sem grandes estável assim como
da Religião Ocidente ultrapassa o alterações, boa parte no período anterior
1500 dC - Oriente do oriente começa a
1900 dC ser dominado pelo
ocidente
QUINTO Baixíssima Máximo Baixa influência da Alto, mas menor
PERÍODO influência da desenvolvimento Religião no que no Ocidente.
Religião no pensamento, embora
1900 dC - Agora pensamento maior que no
Ocidente

Creio que esteja evidente a relação inversa entre Religião e Ciência, pelo
menos entre as religiões tradicionais. Os períodos de maior influência religiosa são os
de menor desenvolvimento científico.
De fato, pode haver convivência harmônica entre religião e ciência, mas com
toda a certeza o Cristianismo foi a que mais travou o desenvolvimento científico,
diferente do Budismo e do Hinduísmo, e mais ainda que o Islamismo.
Espiritismo Kardecista, Taoísmo, Neo Panteísmo e diversos outros tipos de
religiões novas ou antigas renovadas praticamente não entram em choque com a
Ciência. É quase unicamente o Fundamentalismo Cristão que briga contra a

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Evolução, e em bem menor grau o Judaico e o Islâmico. Religiões intimamente


relacionadas.
Mesmo hoje em dia essa relação continua direta, os países menos
desenvolvidos do mundo são os mais influenciados por Religiões, alguns são
inclusive Teocráticos (VALÉRIO, 2001).

As relações entre as disciplinas

As religiões têm necessidade de explicar o universo. Em quase todas, o


primeiro relato é o da criação/do mundo. Algumas dizem que o mundo tem milhões de
anos, outras acham que só uns poucos milhares. Na Índia certas religiões afirmam
que o mundo nunca foi criado, sempre existiu e não tem princípio nem fim. “Não há
princípio nem fim para a semente e para a morte”. Quando, no fim de um ciclo, o
universo se dissolve, passa à fase da potencialidade ou estado-semente, aguardando
a nova criação. A fase da criação ou expressão é chamada “dia de Brama” é a fase
de dissolução ou potencialidade chama-se noite de Brama: Cada- dia e noite de
Brama são um período de 4.320 milhões de anos humanos exatos - diz um texto
indiano (CHIAVENATO, 2002).
Para os judeus o mundo não é tão velho assim: foi criado no dia 7 de outubro
de 3.761 a.C. Esta data foi estabelecida no século VI por um rabino estudando a
idade dos patriarcas judeus. Os cristãos também consideram que o mundo foi criado
mais ou menos nessa época. Lutero achava que a criação aconteceu em 3.960 a.C.
Os Judeus e cristãos concordam que o mundo foi criado do nada, aceitando a tradição
bíblica de II Macabeus; que também o gênero humano surgiu da mesma forma. Isso
quer dizer, o mundo e o homem foram criados do nada. O que é esse mundo criado
do nada, em 7 de outubro de 3.761, ou como quer Lutero, tem 3.960 aC?
A concepção judaica do mundo - o que vale dizer, a visão bíblica aceita pelos
cristãos é semelhante à de algumas religiões orientais. Há uma abóbada celeste, que
tem em baixo o céu contendo um oceano celeste. Quando Deus abre as janelas do

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céu, cai chuva do lindo oceano celeste e molha a Terra que está abaixo, A Terra flutua
sobre o oceano terrestre como se fosse um barco. No interior da Terra está o inferno,
quente, que engole os pecadores quando o solo se abre. Essa é a explicação
que está em Números, 16,30-35 (CHAVENATO, 2002).
Na maioria das religiões as explicações para a criação do mundo são
parecidas. Há um consenso de que o mundo surgiu do nada e depois Deus ou os
deuses fizeram o homem. Para a criação do homem existem basicamente quatro
mitos:
1- os homens brotaram da terra, como as plantas;
2- o homem foi modelado com argila pelos deuses e em seguida recebeu o
sopro da vida;
3- uma deusa teria feito os homens;
4- o homem foi formado com o sangue de dois deuses, imolados para essa
finalidade (CHIAVENATO, 2002).

A criação do homem com o barro - versão adotada pelos judeus e cristãos - é


de origem sumeriana. A partir dela mitos análogos surgiram no Egito antigo e na
Grécia. A tradição bíblica deve ser uma extensão desse mito que sempre repete a
ideia básica: o homem formou-se a partir de uma matéria prima (barro, osso,
madeira) e foi animado pelo sopro do criador, tendo a sua forma na maioria dos casos.
O mito implica a ideia de que o homem foi feito à imagem e semelhança do seu criador,
mas só o corpo lhe pertence, porque é matéria: a alma (à "sopro da vida" para os
judeus, ruah em hebraico) é do criador-Deus (CHAVENATO, 2002).

Basicamente a partir destes mitos as religiões explicaram o mundo.

O processo de explicar o mundo politizou-se dentro das religiões à medida que


elas monopolizaram o saber e impuseram dogmas. Donas de um saber doado por
Deus ou deuses, as religiões afirmaram-se incontestáveis e subordinaram às suas
ideias as demais atividades culturais. A ciência foi deformada, amordaçada e durante

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séculos forneceu mais vítimas – queimadas pelo fogo da Inquisição, relegadas


ao ostracismo, destemidas etc. do que conceitos científicos (CHIAVENATO, 2002).

A CIÊNCIA CRISTÃ

A maioria dos grandes pensadores e cientistas até o século XIX e pode-se


incluir artistas, literatos etc., foram considerados potenciais agressores da moral e da
civilização, ameaçando os conceitos (con)sagrados. No entanto, não atacavam a
sociedade nem representavam perigo.
As academias de ciências não diferiam da Igreja quanto à intolerância.
No século XVII não se podia contestar o que a medicina oficial ensinava. A Faculdade
de Paris determinou que ninguém poderia afastar-se dos ensinamentos dos médicos
gregos Hipócrates (460-377 a.C.) e Galeno (130-200) sob pena de excomunhão. Era,
proibido equiparar a cirurgia à medicina, ou receitar novos medicamentos, como
o quinino, a ipecacuanha, o antimônio e alguns outros. O quinino foi desprezado pela
Faculdade de Paris porque Galeno não o conhecia.
Séculos afora várias descobertas medicinais foram negadas pelas academias
ligadas à Igreja, por não estarem de acordo com os velhos mestres. O médico inglês
William Harvey (1578-1657) confirmou e teorizou o processo da circulação
sanguínea, que foi desautorizada. O erre de Galeno, de que existia um orifício entre
os ventrículos, só foi corrigido em 1453 pelo anatomista pioneiro da dissecação de
cadáveres, Andreas Vesalius (1514-1564).
Enquanto isso, era comum usar como medicamentos sangue e excrementos
ou excreções de morcego, gordura de enguia, carne de cobra, piolhos, saliva, fezes,
urina, ossos do crânio de criminosos enforcados, etc. Embora a persistência da Igreja
em condenar novos medicamentos e rejeitar as descobertas da medicina, Paracelso
(1493-1541) - que tinha muitas superstições - queimou simbolicamente os livros de
Galeno de Avicena (980-1037), por considerá-los ultrapassados, mas foi atacado
pelos médicos contemporâneos.

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Até mesmo sábios como Linneu (I707 -1778) sofriam de certa miopia
religiosa. Linneu achava que as espécies eram fixas e não poderiam ser diferentes
hoje do que foram antes do dilúvio. Por isso, ao classificar as plantas, ele acreditou
ter descoberto o plano de Deus para a criação. Só muito mais tarde - quando teve de
revisar parte da sua obra - percebeu o erro e mudou de ideia
(CHIAVENATO,
2002).
As relações entre a medicina e a religião sempre foram tensas. Não há muita
diferença entre o reverendo Edward Masseys do século XVIII, e os Testemunhas de
Jeová atuais. O reverendo Massey, em 1772, fez campanha contra a vacina
antivariólica. Em um sermão que ele mandou imprimir – A prática, perigosa e
pecaminosa da vacina - afirmava que a doença de Jó era a varíola, e que tinha sido
transmitida pelo demônio. Segundo o reverendo Massey, as doenças são enviadas
pela Providência, Divina para castigar e testar os homens, é a tentativa de impedi- Ias
é uma operação diabólica.
Em 1798 sacerdotes protestantes criaram uma Sociedade contra a, Vacinação,
em Boston. Eles denunciaram a vacina contra a varíola como um “desafio aos
céus, até à vontade de Deus”, Afirmaram que á lei de Deus proíbe sua pratica. Hoje
são conhecidos os casos em que as Testemunhas de Jeová impedem a transfusão
de sangue, mesmo quando a vida de crianças está em jogo (CHIAVENATO,
2002).

O SAGRADO, O MITO E O PROFANO

O termo sagrado tem a ver com santo, pois originariamente representam a


mesma palavra, a raiz indo-europeia sag.
Para entendermos melhor a noção do sagrado faz-se necessário entendêlo
como uma relação: O sagrado é essencialmente uma relação entre o sujeito (o ser
humano) e um termo (Deus), relação que se visualiza ou se mostra em um âmbito (a

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natureza, a história, as pessoas) ou em objetos, gestos, palavras etc. Sem essa


relação nada é sagrado (CROATTO, 2004).
O sagrado é sempre parte do profano, porém o homem o reveste de
sacralidade na sua relação com o Divino.
Sagrado se tornou uma palavra-chave para os pesquisadores da religião no
século XX: descreve a natureza da religião e o que ela tem de especial. Esse termo
ganhou realce numa obra sobre psicologia da religião, A ideia do sagrado, de Rudolf
Otto, publicada em 1917. O sagrado é das ganz Andere, o “inteiramente outro”, ou
seja, aquilo que é totalmente diferente de tudo o mais e que, portanto, não pode ser
descrito em termos comuns. Otto fala de uma dimensão especial da existência, a que
chama de misterium tremendum a fascinosum (em latim, “mistério tremendo e
fascinante”). É uma força que por um lado engendra um sentimento de grande
espanto, quase de temor, mas por outro lado tem um poder de atração ao qual é difícil
resistir.
Todo ser humano é um “animal simbólico”, por isso constrói símbolos
continuamente. O símbolo é a linguagem originária e fundante de toda experiência
religiosa (CROATTO, 2004).
Etimologicamente vem do grego sum-ballo ou sym-ballo, que significa a união
de duas coisas. No símbolo dois elementos se fazem presentes e se inter-
relacionam, existem dois sentidos: um primeiro que seria o próprio sentido, a própria
identidade e um segundo que seria ver as coisas com uma visão diferente, ou seja, a
partir da experiência fenomênica de cada ser humano. Mais uma vez citando Croatto
(2004): “o símbolo é, então, um elemento desse mundo fenomênico (desde uma coisa
até uma pessoa ou um acontecimento) que foi „transignificado‟, enquanto significa
algo além de seu próprio sentido primário”.
O símbolo vem a ser a representação de uma ausência.

Com relação à palavra mito (muthos ou mythos), sua etimologia é incerta, na


sua origem está talvez o indo-europeu mendh-/mudh-, que quer dizer lembrar,
pensamento, solicitação.

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Sendo assim, Croatto (2004, P. 209) afirma que “o mito é o relato de um


acontecimento originário, no qual os Deuses agem e cuja finalidade é dar sentido a
uma realidade significativa”. O mito recita, é um discurso.

Um mito é uma história que geralmente acompanha um rito.


O rito com frequência reitera um ato em que o mito se baseia.

Assim, o mito religioso tem um significado mais profundo do que a lenda e os


contos folclóricos. O mito procura explicar alguma coisa. É uma resposta metafórica
para as questões fundamentais: de onde viemos e para onde vamos? Por que
estamos vivos e por que morremos? Como foi que a humanidade e o mundo
passaram a existir? Quais são as forças que controlam o desenvolvimento do
mundo?
Muitas vezes os mitos elucidam algo que aconteceu no princípio dos tempos,
quando o mundo ainda era jovem. Por exemplo, a maioria das religiões tem seus mitos
de criação, que explicam como o mundo surgiu. O objetivo principal deles não é
revelar fatos históricos. A essência do mito é oferecer às pessoas uma explicação
geral da existência.
Os conceitos religiosos, que também encontram sua expressão em mitos,
podem ser divididos, de modo geral, em três tipos: conceitos sobre um deus ou vários
deuses, conceitos sobre o mundo e conceitos sobre o homem.
Já o rito é ação, converte em cena o que o mito fala. Vem da palavra latina ritus,
que se aproxima da palavra sânscrito-védica rta, que quer dizer a força da ordem
cósmica. Isso nos leva a concluir que o rito não é uma ação puramente humana, é
de alguma forma uma ação divina: “o rito é uma ação que sintoniza com a ação dos
Deuses: é necessário lembrar que no mito é relato um acontecimento, em que os
atores essenciais são os Deuses. Então, no rito, os seres humanos fazem o que no
mito fazem os Deuses” (CROATTO, 2004, p.333).

RITOS DE PASSAGEM

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Os ritos de passagem se associam às grandes mudanças na condição do


indivíduo. As principais transições marcadas por esses ritos são o nascimento, a
entrada na idade adulta, o casamento e a morte.
Tais ritos costumam simbolizar uma iniciação. O nascimento é a iniciação na
vida, enquanto a morte é a iniciação numa nova condição no reino dos mortos, ou na
vida eterna.
De uma forma ou de outra, todas as sociedades têm ritos de passagem, mesmo
aquelas em que a religião não desempenha nenhum papel na vida pública. Em geral,
é grande a importância deles nas culturas ágrafas, nas religiões primais. Nestas, os
ritos de passagem estão claramente ligados às noções de tabu. Tabu é uma palavra
polinésia adotada pelos historiadores da religião para indicar uma severa
proibição, restrição ou exclusão, e se aplica a algo que é considerado perigoso
ou impuro (CHIAVENATO, 2002).

A religião é um fenômeno humano

O homem não nasceu religioso. Os primeiros homens deviam ignorar o


sobrenatural: ocupavam-se basicamente com a alimentação e os seus cérebros não
estavam desenvolvidos. Antes da crença primitiva gerada pelo medo dos fenômenos
naturais ou pelos sonhos, o homem era ateu. Não se encontraram monumentos
funerários da primeira etapa do paleolítico (cerca de 2,5 milhões de anos atrás)
sugerindo qualquer crença religiosa. A religião surgiu quando as relações sociais
tornaram-se mais complexas, capazes de produzir uma superestrutura aprimorada. A
religião começou a nascer em decorrência da necessidade de trabalhar. O trabalho
obrigou o homem a evoluir biológica e culturalmente.
A religião não nasceu da divagação sobre a existência, mas porque para
trabalhar, o homem tinha, de pensar. Como seu conhecimento era mínimo e sua
experiência de pensar precária, ele percebeu erradamente sua relação com a
natureza. Então passou a divinizar as coisas, concedendo-lhes poderes e virtudes.
A descoberta de cadáveres em tumbas com objetos arrumados como se os
mortos fossem usá-los, demonstra que desde o Homem de Neanderthal (125 a 4,0

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mil anos a.C.) se acreditava na vida depois da morte. As descobertas arqueológicas


comprovam a existência de muitas crenças há milhares de anos. O culto da
fecundidade, por exemplo, devia existir há mais de 40 mil anos, como indicam
imagens pintadas ou esculpidas.
No mesolítico (de 0 a 5 mil anos a.C.) existiu um canibalismo cultual, como se
deduz do estudo dos crânios daquela época, abertos para a extração do cérebro e
pintados ritualmente.
Pelo menos em um período de seis mil anos pode-se estudar as religiões com
relativa segurança. Observando-se esse longo período percebe-se que não surgem
religiões novas. As novas religiões evoluem das antigas.
Uma religião sai de outra, muda a forma, aperfeiçoa-se, mas substancialmente
não se cria uma religião. A grande divisão aconteceu há muito tempo, entre religiões
tribais, nacionais e universais. A religião nasceu antes de Deus. Depois que o homem
teve a experiência do sagrado, quando codificou um comportamento religioso para
enfrentar os acontecimentos diferentes do cotidiano, então começou a elaborar a
imagem de Deus. No início desse processo tudo o que o homem não entendia era
Deus. Ao compreender a natureza, evoluindo cultural e intelectualmente, o seu
conceito de Deus modificou-se: Com o tempo o Deus terrível e punidor, que despeja
raios e provoca catástrofes transformou-se em protetor e pai (CHIAVENATO, 2002).

DIVISÃO DAS RELIGIÕES

Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos


utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que
aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.
Uma divisão é de acordo com o tipo de sociedade, ou três categorias que
coincidem, de certa forma, com três tipos distintos de sociedade.
São as religiões primais ou primitivas, as religiões nacionais e as religiões
mundiais.

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1º. Religiões Primais - São aquelas que os estudiosos costumavam chamar


de “religiões primitivas” e que se encontram, ou se encontravam, em culturas ágrafas,
entre os povos tribais da África, Ásia, América do Norte e do Sul e Polinésia. A marca
mais característica dessas religiões é a crença numa miríade de forças, deuses e
espíritos que controlam a vida cotidiana. O culto aos antepassados e os ritos de
passagem desempenham um papel importante. A comunidade religiosa não se
separa da vida social, e o sacerdócio normalmente é sinônimo de liderança política
da tribo.
2º. Religiões Nacionais - Estas incluem grande número de religiões históricas
que não são mais praticadas: germânica, grega, egípcia e assírio-babilônica. Hoje
podemos encontrar vestígios delas, por exemplo, no xintoísmo japonês. É típico das
religiões nacionais adotar o politeísmo, uma série de deuses organizados num
sistema de hierarquia e funções especializadas. Elas têm também um sacerdócio
permanente, encarregado dos deveres rituais em templos construídos para esse
fim. Há sempre uma mitologia bem desenvolvida, o culto sacrificial é básico, e os
deuses é que escolhem o líder da nação (monarquia sacra).

3º. Religiões Mundiais - As religiões mundiais pretendem ter uma validade


mundial, ou, em outras palavras, uma validade para todas as pessoas. São para todos.
São conhecidas também como religiões universais. A principal característica das
religiões universais surgidas no Oriente Médio é o monoteísmo: elas têm um só
Deus. Dá-se grande peso à relação do indivíduo com Deus e à sua salvação. O papel
do sacrifício é bem menos proeminente nelas do que nas religiões nacionais, ao
passo que o da oração e da meditação é mais importante. As religiões universais
foram criadas por profetas fundadores cujos nomes são conhecidos: Moisés, Buda,
Lao-Tse, Jesus, Maomé. Por último, devemos ressaltar que os limites entre esses três
tipos de religião são fluidos. As religiões nacionais muitas vezes constituem evoluções
que acompanharam o desenvolvimento geral da sociedade (ao passar de uma
sociedade tribal para um Estado nacional). Assim também, certas religiões mundiais
emergiram de religiões nacionais, como um protesto contra determinados aspectos
de seu culto e de suas concepções religiosas. Religiões orientais e ocidentais Já

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houve muitas tentativas de classificar as religiões mundiais em orientais e


ocidentais. Consideram-se ocidentais o judaísmo, o islã e o cristianismo, enquanto
as principais religiões orientais são o hinduísmo, o budismo e o taoismo.
Outra característica para classificar as religiões seria cronológica, pois as
formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos
estágios culturais de qualquer sociedade.
Ainda outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e
sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros
Sagrados.
Como um estudioso do assunto, Valério (2004) prefere uma classificação que
leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4
grandes grupos distintos: Monoteístas, Panteistas, Politeístas, Ateístas.
Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as
mais antigas, dominando em sociedades menores e mais “primitivas”. Tanto nos
primórdios da civilização mesopotâmica, europeia e asiática, quanto nas culturas das
Américas, África e Oceania.
As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas
surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a
sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.
Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas,
o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.
E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a
existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de
entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como uma reação
a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se
confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.
Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas
religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou
qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o
renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes
possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas nenhuma possui

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uma revelação propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. Todas as


grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro
Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem
num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas
em geral como tratados filosóficos (INSD, 2010).

Monoteísmo

A crença que prevalece na maioria das grandes religiões ocidentais é o


monoteísmo, isto é, a convicção de que existe um só deus. Há exemplos em muitas
religiões de que o monoteísmo nasceu como reação à adoração de vários deuses
(politeísmo). O islã tem suas raízes numa renovação ou reforma da antiga religião dos
nômades árabes, a qual possuía numerosos deuses tribais.

Politeísmo

Em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem funções


distintas, bem como esferas definidas de responsabilidades. A criação de animais e a
pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra, podem ter seus próprios
deuses. O mundo dos deuses com frequência é organizado da mesma maneira que
o dos homens, numa família ou num Estado.
Alguns pesquisadores acreditam que as divindades indo-europeias (isto é,
indianas, gregas, romanas e germânicas) se estruturam em três classes baseadas na
sociedade da época:

* o monarca (que muitas vezes era também sacerdote);

* a aristocracia (os guerreiros), e,

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* os artesãos, agricultores e comerciantes.

Era comum as pessoas venerarem o deus que ocupava o mesmo lugar que
elas na escala social.
Geralmente o deus supremo é o deus do céu. Isso não implica que ele habite
o céu, mas que se revele no firmamento e nos fenômenos associados à abóbada
celeste.
Em muitas religiões o deus do céu faz par com uma divindade feminina. A
imagem do casal Céu e Mãe Terra é de fácil compreensão para uma sociedade
agrária. A terra é fértil e dá o alimento ao homem, mas só depois de receber sol e
chuva do céu.

Além dos “deuses-reis”, familiares para nós porque se encontram na mitologia


clássica e na germânica, há uma grande quantidade de deuses menores e espíritos
em volta de nós que são patronos de determinadas doenças ou de certas profissões.

Panteísmo

O panteísmo é uma crença que difere tanto do monoteísmo como do


politeísmo. Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está presente no
mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser
experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do
mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual o objetivo do
mortal é alcançar a união com o divino.

Animismo e crença nos espíritos

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Em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de


espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina animus, que significa “alma”,
“espírito”. Em certa época os historiadores da religião pensavam que o animismo
havia sido a base de toda a religião e que mais tarde ele se transformou, via
politeísmo, em monoteísmo. Mas essa é apenas uma teoria. O que é certo é que o
animismo impera em várias sociedades.
Em nossa própria cultura a noção de espírito está presente em muitas
criaturas relacionadas com as forças naturais: espíritos das águas, duendes,
fantasmas e sereias.
Os espíritos dos mortos também continuam a desempenhar um importante
papel na África, na América Latina, na China e no Japão.
Normalmente as características dos deuses são mais individualizantes e
definidas com mais clareza que as dos espíritos. E as divindades em geral têm nome.
Mas em inúmeros casos é difícil distinguir de imediato entre deuses,
antepassados e espíritos. Todos são expressões da força sobrenatural que banha a
existência. A ideia de uma força ou um poder que regula todos os relacionamentos na
vida humana e na natureza predomina, sobretudo, nas religiões primais. Os
historiadores da religião costumam usar o vocábulo „polinésio mana‟ para descrever
essa força, que precisa ser controlada ou aplacada.

Abaixo temos alguns quadros comparativos das religiões faladas acima.

ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.


PANTEÍSMO: As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância
absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e
Oceania.
POLITEÍSMO: Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido
predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações
mais avançadas das Américas pré-colombianas.

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MONOTEÍSMO: Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando


da Idade Média até a atualidade.
ATEÍSMO: Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no
Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais
filosófica que religiosa.
Neo PANTEÍSMO: Embora possuam representantes em todos os períodos históricos,
popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII.
BASE LITERÁRIA
PANTEÍSMO: Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de
base escrita, sendo transmitidas por tradição oral.
POLITEÍSMO: Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários
sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas.
MONOTEÍSMO: Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de
crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos
como detentores de verdades absolutas.
ATEÍSMO: Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não
possuindo, entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados
por sábios ou seres iluminados.
Neo PANTEÍSMO: Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força
doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários.
MITOLOGIA
PANTEÍSMO: Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio
ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é
comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a
natureza, e o mundo comummente é tido como eterno.
POLITEÍSMO: Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam
de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se
assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.
ATEÍSMO: O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-
Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-

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se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em


reencarnação.
Neo PANTEÍSMO: Acredita-se em geral no Monismo, uma substância única que
permeia todo o Universo num Ser único.
São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser
supremo por vezes as confunde com o Ateísmo.
SÍMBOLOS
PANTEÍSMO: Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de
vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.
POLITEÍSMO: Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e
esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos
resultando em formas de escrita ideográfica.
MONOTEÍSMO: O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas
os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos.
O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres
iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo.
Neo Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e
reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo, mas pode
haver de outros seres elevados.
RITUAIS
PANTEÍSMO: Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É
comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias a ar livre.
POLITEÍSMO: Passam a surgir os templos, embora em geral não abandone
totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos,
oráculos e as feitiçarias de controle ambiental.
MONOTEÍSMO: Geralmente restritas aos templos, as hierarquias ritualistas são mais
rígidas, não há oráculos pessoais, mas sim profecias generalizadas com base no livro
sagrado. Não há rituais de controle ambiental.

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ATEÍSMO: Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes.
Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas,
baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções.
NeoPANTEÍSMO:
Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos
processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e
extrafísicas.
EXEMPLOS

PANTEÍSMO: Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo,


amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.
POLITEÍSMO: Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião
Azteca, Maia etc.
MONOTEÍSMO: Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo,
Sikhismo.
ATEÍSMO: Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.
Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)
Neo Espiritismo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo- PANTEÍSMO: Gnosticismo,
Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.

O quadro abaixo nos apresenta de modo simplificado a visão da história,


conceito de Deus, noção de humanidade e salvação, a ética e o culto nas religiões
consideradas ocidental e oriental.

OCIDENTAL ORIENTAL

Visão da história Visão linear da história, isto é, a Visão cíclica da história, isto é, a
história tem um começo e um fim; o história se repete num ciclo eterno e
mundo foi criado num certo ponto e o mundo dura
um dia irá terminar. de eternidade em eternidade.

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Conceito de deus Deus é o criador; Ele é todo O divino está presente em tudo. Ele
poderoso e é único. O monoteísmo é se manifesta em
tipicamente ocidental. muitas divindades (politeísmo), ou
como uma força impessoal que
permeia tudo e a todos (panteísmo).

Noção de humanidade Há um abismo entre Deus e o ser O homem pode alcançar a união
humano, entre o criador e a criatura. com o divino mediante a iluminação
O grande pecado é o homem desejar súbita e o conhecimento.
se transformar em Deus em vez de
se sujeitar à vontade de Deus.

Salvação Deus redime o ser humano do A salvação é se libertar do


pecado, julga e dá a punição. Existe eterno ciclo da
a noção de vida após a morte, no céu reencarnação da alma e do curso
ou no inferno. da ação. A graça vem
por meio de atos de sacrifício ou do
conhecimento místico.

Ética O fiel é um instrumento da ação Os ideais são a passividade e a fuga


divina e deve obedecer à vontade do mundo.
de Deus, abandonando o pecado
e a passividade diante do mal.

Culto Orar, pregar, louvar. Meditação, sacrifício.

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REFERÊNCIAS

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