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Ocupa a
posição de Edward Said Professor em Estudos Árabes da Universidade de
Columbia e é editor do Journal of Palestine Studies. Escreveu mais de 80 artigos
sobre história e política do Médio Oriente, incluindo peças no The New York Times,
Boston Globe, LA Times, Chicago Tribune e em inúmeras revistas. Recebeu bolsas
e subsídios da Fundação John D. e Catherine T. MacArthur, da Fundação Ford, do
Woodrow Wilson International Center for Scholars, do American Research Center
no Egito e da Fundação Rockefeller; foi também galardoado com um prémio de
investigação Fulbright. É convidado frequente de programas de rádio e televisão de
grande audiência para comentar assuntos do Médio Oriente, em particular os
relativos à questão israelo-palestiniana.
Palestina – Uma Biografia
Cem anos de guerra e resistência
Rashid Khalidi
Título original:
The hundred years’ war on Palestine.
A History of Settler Colonialism and Resistance, 1917-2017.
© 2020, by Rashid Khalidi
ISBN 978-989-740-159-6
Dedico este livro aos meus netos, Tariq, Idris e Nur, todos nascidos no
século XXI, que, com sorte, verão o fim desta guerra de cem anos.
“Somos uma nação ameaçada com o desaparecimento.”
– ‘Isa e Yusuf al-‘Isa, Filastin, 7 de maio de 1914
Prefácio do autor para a edição portuguesa
Rashid Khalidi
Nova Iorque, 18 de fevereiro de 2022
Introdução
Devemos expropriar delicadamente a propriedade privada nos territórios que nos forem
atribuídos. Tentaremos transportar a população sem recursos para lá da fronteira,
conseguindo-lhes empregos nos países de trânsito e negando-lhes simultaneamente
emprego no nosso próprio país. Os proprietários passar-se-ão para o nosso lado. Tanto o
processo de expropriação como a remoção dos pobres devem ser realizados de forma
discreta e circunspecta.9
Yusuf Diya teria estado mais consciente do que a maioria dos seus
compatriotas na Palestina das ambições do emergente movimento sionista,
bem como da sua força, recursos e atratividade. Sabia perfeitamente que
era impossível conciliar as pretensões do sionismo quanto à Palestina e o
seu objetivo explícito de um Estado e de uma soberania judaicos nesse
território com os direitos e o bem-estar dos habitantes nativos do país. Foi
provavelmente por estas razões que, no dia 1 de março de 1899, Yusuf
Diya enviou uma presciente carta de sete páginas ao grande rabino
francês, Zadoc Khan, com a intenção de que esta fosse passada ao
fundador do sionismo moderno.
A carta começava com uma expressão da admiração de Yusuf Diya por
Herzl, a quem estimava «como homem, como escritor de talento e como
um verdadeiro patriota judeu», e do seu respeito pelo judaísmo e os
judeus, que dizia serem «nossos primos», referindo-se ao Patriarca
Abraão, venerado como ancestral comum tanto pelos judeus como pelos
muçulmanos.10 Entendia as motivações do sionismo, tal como lamentava
a perseguição a que os judeus estavam sujeitos na Europa. Face a isto,
escreveu: o sionismo era, em princípio, «natural, belo e justo», e «quem
podia contestar os direitos dos judeus na Palestina? Meu Deus,
historicamente é o vosso país!»
Esta frase é, por vezes, citada, isoladamente do resto da carta, como
representação da entusiástica aceitação por parte de Yusuf Diya de todo o
programa sionista na Palestina. O antigo autarca e deputado de Jerusalém
prosseguia, porém, alertando para os perigos que previa como
consequência da implementação do projeto sionista de um Estado judaico
soberano na Palestina. A ideia sionista semearia a discórdia entre os
cristãos, muçulmanos e judeus de lá. Colocaria em perigo o estatuto e a
segurança de que os judeus sempre tinham gozado em todos os domínios
otomanos. Chegado ao seu principal objetivo, Yussuf Diya disse
sobriamente que, quaisquer que fossem os méritos do sionismo, «era
preciso ter em conta a força brutal das circunstâncias». As mais
importantes eram que «a Palestina é parte integrante do Império Otomano
e, mais grave ainda, está habitada por outros». A Palestina tinha já uma
população nativa que jamais aceitaria ser substituída. Yusuf Diya falava
«com pleno conhecimento dos factos», afirmando que era uma
«verdadeira loucura» que o sionismo planeasse apoderar-se da Palestina.
«Nada poderia ser mais justo e equitativo» do que «a infeliz nação
judaica» encontrar refúgio noutro local. Mas, concluía ele com um apelo
sentido, «em nome de Deus, deixem a Palestina em paz».
A resposta de Herzl a Yusuf Diya chegou rapidamente, no dia 19 de
março. A sua carta foi provavelmente a primeira resposta de um dos
fundadores do movimento sionista a uma persuasiva objeção palestiniana
aos seus planos embrionários para a Palestina. Nela, Herzl estabeleceu o
que viria a tornar-se um padrão de descartar, por serem insignificantes, os
interesses, e às vezes a própria existência, da população local. O líder
sionista ignorou simplesmente a tese básica da carta, de que a Palestina
era já habitada por uma população que não aceitaria ser suplantada.
Apesar de ter visitado o território uma vez, Herzl, tal como a maioria dos
primeiros sionistas europeus, não tinha grandes conhecimentos ou
contactos com os seus habitantes locais. Deixou também por abordar as
fundamentadas preocupações de al-Khalidi sobre o perigo que o programa
sionista representaria para as grandes e bem estabelecidas comunidades
judaicas em todo o Médio Oriente.
Desvalorizando o facto de que o sionismo se destinava, em última
instância, a conduzir ao domínio judeu da Palestina, Herzl utilizou uma
justificação que tem sido uma pedra angular para os colonialistas de todas
as épocas e em todos os lugares, e que viria a tornar-se num dos principais
argumentos do movimento sionista: a imigração judaica beneficiaria o
povo indígena da Palestina. «O seu bem-estar e a sua riqueza individual
serão aumentados ao levarmos a nossa.» Fazendo eco da linguagem que
tinha utilizado em O Estado Judeu, Herzl acrescentou: «Ao permitir a
imigração de um número de judeus, levando consigo para o país a sua
inteligência, a sua sagacidade financeira e os seus métodos de
empreendimento, ninguém pode duvidar de que o bem-estar de todo o país
seria o feliz resultado.»11
Yusuf Diya para Theodor Herzl: a Palestina «está habitada por outros»
que não aceitarão facilmente o seu próprio desalojamento.
A carta de Yusuf Diya e a resposta dada por Herzl são bem conhecidas
dos historiadores da época, mas a maioria não parece ter refletido
cuidadosamente no que foi, talvez, a primeira discussão significativa entre
uma importante figura palestiniana e um dos fundadores do movimento
sionista. Não levaram totalmente em conta as racionalizações de Herzl,
que expunham de forma bem clara a natureza essencialmente colonial do
conflito secular na Palestina. Nem reconheceram os argumentos de al-
Khalidi, que foram integralmente comprovados desde 1899.
Iniciado após a Primeira Guerra Mundial, o desmantelamento da
sociedade palestiniana nativa foi posto em marcha através da imigração
em grande escala de colonos judeus europeus apoiados pelas autoridades
do recém-estabelecido Mandato Britânico, que os ajudaram a construir a
estrutura autónoma de um para-Estado sionista. Além disso, foi criado um
setor separado da economia sob o controlo dos judeus, através da exclusão
do trabalho árabe das empresas por eles detidas, sob o lema «Avoda ivrit»,
trabalho hebreu, e com a injeção de quantidades verdadeiramente
massivas de capital estrangeiro.16 Em meados dos anos 1930, ainda que os
judeus continuassem a ser uma minoria da população, este setor
maioritariamente autónomo era já maior do que a parte da economia
detida pelos árabes.
A população nativa foi ainda mais reduzida pela esmagadora repressão
da Grande Revolta Árabe de 1936-39 contra o domínio britânico, durante
a qual entre 14 e 17 por cento da população masculina adulta foi morta,
ferida, encarcerada ou exilada,17 uma vez que os britânicos utilizaram cem
mil soldados e o poder aéreo para vencer a resistência palestiniana.
Entretanto, uma enorme vaga de imigração judaica resultante da
perseguição por parte do regime nazi na Alemanha aumentou a população
judaica na Palestina de apenas 18 por cento do total, em 1932, para mais
de 31 por cento, em 1939. Isto proporcionou a massa crítica demográfica e
os efetivos militares necessários para a limpeza étnica da Palestina em
1948. A expulsão, nessa data, de mais de metade da população árabe do
país, primeiro pelas milícias sionistas e depois pelo exército israelita,
completou o triunfo político e militar do sionismo.
Esta engenharia social radical às custas da população local é o método
de todos os movimentos coloniais de povoamento. Na Palestina, foi uma
condição prévia essencial para transformar a maior parte de um país
avassaladoramente árabe num Estado predominantemente judaico. Tal
como este livro demonstrará, a melhor forma de compreender a história
moderna da Palestina é nestes termos: como uma guerra colonial travada
contra a população nativa, por uma multiplicidade de grupos, para a
obrigar a entregar a sua terra a outro povo contra a sua vontade.
Ainda que esta guerra partilhe de inúmeras das características típicas
de outras campanhas coloniais, possui também características muito
específicas, uma vez que foi travada por e em nome do movimento
sionista, que era e é em si mesmo um projeto colonial muito peculiar. A
complicar ainda mais este entendimento está o facto de este conflito
colonial, conduzido com um enorme apoio de forças externas, se ter
transformado com o tempo num confronto nacional entre duas novas
entidades nacionais, dois povos. Subjacente a este facto, e a amplificá-lo,
estava a profunda ressonância para os judeus, e também para muitos
cristãos, da sua ligação bíblica à histórica terra de Israel. Habilmente
entrelaçada no sionismo político moderno, esta ressonância tornou-se
parte integrante dele. Um movimento nacionalista colonial de finais do
século XIX revestiu-se assim de uma camada bíblica, fortemente atrativa
para os protestantes leitores da Bíblia da Grã-Bretanha e dos Estados
Unidos, cegando-os para a modernidade do sionismo e para a sua natureza
colonial: como podiam os judeus estar a «colonizar» a terra onde a sua
religião teve origem?
Dada esta cegueira, o conflito é retratado, na melhor das hipóteses,
como um simples, ainda que trágico, choque nacional entre dois povos
com direitos à mesma terra. Na pior, é descrito como o resultado do ódio
fanático e inveterado de árabes e muçulmanos contra o povo judeu no
momento em que este faz valer o seu direito inalienável à sua pátria eterna
concedida por Deus. Na verdade, não existe qualquer motivo para que o
que aconteceu na Palestina durante mais de um século não possa ser
entendido como um conflito colonial e também nacional. Mas a nossa
preocupação aqui é a sua natureza colonial, uma vez que este aspeto tem
sido tão subvalorizado quanto a sua importância, apesar de as
características típicas de outras campanhas coloniais estarem em evidência
por toda a parte na história moderna da Palestina.
Geralmente, os colonizadores europeus que procuram suplantar ou
dominar povos locais, quer seja nas Américas, na África, na Ásia ou na
Australásia (ou na Irlanda), descrevem-nos sempre em termos pejorativos.
Também afirmam sempre que a população nativa ficará melhor em
resultado do seu domínio; a natureza «civilizadora» e «progressista» dos
seus projetos coloniais serve para justificar qualquer crueldade que seja
cometida contra os povos indígenas no sentido de cumprirem os seus
objetivos. Basta referir a retórica dos administradores franceses no Norte
de África ou dos vice-reis britânicos na Índia. Lorde Curzon disse o
seguinte sobre o Raj britânico: «Sentir que, algures entre estes milhões,
deixámos um pouco de justiça, felicidade ou prosperidade, um sentido de
força ou dignidade moral, um manancial de patriotismo, uma aurora de
iluminação intelectual ou uma mobilização do dever onde antes não
existiam – basta isso, é essa a justificação para os ingleses na Índia.»18 As
palavras «onde antes não existiam» devem ser salientadas. Para Curzon e
outros da sua classe colonial, os nativos não sabiam o que era melhor para
eles e não podiam alcançar estas coisas sozinhos: «Não podem viver sem
nós», disse Curzon noutro discurso.19
Durante mais de um século, os palestinianos foram descritos pelos
seus colonizadores precisamente com a mesma linguagem que outros
povos indígenas. A retórica condescendente de Theodor Herzl e de outros
líderes sionistas não era diferente da dos seus pares europeus. O Estado
judaico, escreveu Herzl, «faria parte de uma muralha de defesa para a
Europa na Ásia, um posto avançado de civilização contra a barbárie».20
Esta linguagem era semelhante à utilizada na conquista da fronteira norte-
americana, que culminou, no século XIX, na erradicação ou subjugação de
toda a população nativa do continente. Tal como na América do Norte, a
colonização da Palestina – assim como as da África do Sul, da Austrália,
da Argélia e de partes da África Oriental – destinava-se a gerar uma
colónia de europeus brancos. O mesmo tom para com os palestinianos que
caracteriza tanto a retórica de Curzon como a carta de Herzl é replicado
ainda hoje em muitos discursos sobre a Palestina nos Estados Unidos, na
Europa e em Israel.
Em linha com esta lógica colonialista, existe um vasto conjunto de
literatura dedicada a demonstrar que, antes do advento da colonização
sionista europeia, a Palestina era estéril, vazia e retrógrada. A Palestina
histórica tem sido tema de inúmeros tropos depreciativos na cultura
popular ocidental, bem como de escritos academicamente sem valor que
alegam ser científicos e eruditos, mas estão pejados de erros históricos,
deturpações e, às vezes, de um fanatismo descarado. Quando muito,
afirma esta literatura, o território era habitado por uma pequena população
de beduínos nómadas e sem raízes, que não tinham identidade fixa nem
qualquer apego à terra por onde passavam, sendo essencialmente
passageiros.
Como corolário desta disputa, foram apenas o trabalho e a motivação
dos novos imigrantes judaicos que transformaram o país no radiante
jardim que supostamente é hoje, e que só eles tinham uma identificação e
um amor pela terra, bem como um direito (divino) a ela. Esta atitude
encontra-se resumida no mote «Uma terra sem povo para um povo sem
terra», utilizado pelos apoiantes cristãos de uma Palestina judaica e
também pelos primeiros sionistas, como Israel Zangwill.21 A Palestina era
terra nullius para os que lá se iam instalar, sendo os que lá viviam
anónimos e amorfos. Assim, a carta de Herzl para Yusuf Diya referia-se
aos árabes palestinianos, que eram então cerca de 95 por cento dos
habitantes do país, como a sua «população não judaica».
Essencialmente, a ideia apresentada era a de que os palestinianos não
existiam, ou não tinham importância, ou não mereciam habitar no país que
tão tristemente negligenciavam. Se não existissem, então até as fundadas
objeções palestinianas aos planos do movimento sionista podiam
simplesmente ser ignoradas. Tal como Herzl descartou a carta de Yusuf
Diya al-Khalidi, também a maioria dos esquemas posteriores para a
disposição da Palestina foram igualmente desdenhosos. A Declaração
Balfour de 1917, emitida por um conselho de ministros britânico e que
comprometia a Grã-Bretanha com a criação de uma pátria nacional
judaica, não fazia qualquer referência aos palestinianos, a grande maioria
da população do país na altura, nem mesmo ao definir o curso da Palestina
para o século seguinte.
A ideia de que os palestinianos simplesmente não existem, ou pior
ainda, são uma invenção maliciosa dos que desejam mal a Israel, é
sustentada por livros fraudulentos como From Time Immemorial, de Joan
Peters, hoje universalmente considerado pelos eruditos como totalmente
desprovido de mérito. (Porém, aquando da sua publicação, em 1984, foi
recebido de forma extática, continuando disponível e a vender
desanimadoramente bem.)22 Este tipo de literatura, tanto pseudo-
académica como popular, baseia-se sobretudo nos relatos de viajantes
europeus, nos dos novos imigrantes sionistas ou em fontes do Mandato
Britânico. É frequentemente produzida por pessoas que nada sabem sobre
a sociedade local e a sua história e sentem desprezo por ela, ou, pior ainda,
têm uma agenda que depende da sua invisibilidade ou desaparecimento.
Recorrendo raramente a fontes produzidas no seio da sociedade
palestiniana, estas representações repetem essencialmente a perspetiva, a
ignorância e os preconceitos, eivados de arrogância europeia, dos
estrangeiros.23
A mensagem encontra-se também amplamente representada na cultura
popular de Israel e dos Estados Unidos, bem como na vida pública e
política.24 Foi amplificada através de livros comerciais como o romance
de Leon Uris, Exodus, e o filme vencedor de um prémio da Academia que
este gerou, obras que tiveram um grande impacto numa geração inteira e
que servem para confirmar e aprofundar preconceitos preexistentes.25
Figuras políticas negaram explicitamente a existência dos palestinianos,
como, por exemplo, o antigo Presidente da Câmara dos Representantes
Newt Gingrich: «Acho que estamos perante um povo palestiniano
inventado, que é, na verdade, de árabes.» Ao regressar de uma viagem à
Palestina em março de 2015, o governador do Arkansas, Mike Huckabee,
disse o seguinte: «Não existe realmente tal coisa como os
palestinianos.»26 Até certo ponto, todas as administrações dos Estados
Unidos, desde a de Harry Truman, têm sido constituídas por pessoas a
fazer política na Palestina cujas opiniões indicam que acreditam que os
palestinianos, quer existam ou não, são seres inferiores aos israelitas.
Significativamente, muitos dos primeiros apóstolos do sionismo
orgulhavam-se de abraçar a natureza colonial do seu projeto. O eminente
líder sionista revisionista Ze’ev Jabotinsky, padrinho da tendência política
que tem dominado Israel desde 1977, defendida pelos primeiros-ministros
Menachem Begin, Yitzhak Shamir, Ariel Sharon, Ehud Olmert e
Benjamin Netanyahu, foi bastante claro a este respeito. Em 1923,
Jabotinsky escreveu o seguinte: «Todas as populações nativas do mundo
resistem aos colonizadores enquanto tiverem a mínima esperança de se
conseguirem livrar do perigo de serem colonizadas. É isso que os árabes
estão a fazer na Palestina, e o que continuarão a fazer enquanto lhes restar
uma única centelha de esperança de que conseguirão impedir a
transformação da “Palestina” na “Terra de Israel”.» Esta honestidade era
rara entre outros sionistas influentes, que, tal como Herzl, professavam a
inocente pureza dos seus objetivos e enganavam os seus ouvintes
ocidentais, e talvez também a si mesmos, com contos de fadas sobre as
suas intenções benignas para com os habitantes árabes da Palestina.
Jabotinsky e os seus seguidores foram dos poucos a serem
suficientemente francos para admitir pública e diretamente as duras
realidades que inevitavelmente acompanhariam a implantação de uma
sociedade colonial de povoamento no seio de uma população já existente.
Nomeadamente, admitiu que a constante ameaça do uso de força massiva
contra a maioria árabe seria necessária à implementação do programa
sionista: aquilo a que chamou uma «muralha de ferro» de baionetas era
um imperativo para o seu sucesso. Tal como Jabotinsky afirmou: «A
colonização sionista… só pode prosseguir e desenvolver-se sob a proteção
de um poder que seja independente da população nativa – atrás de uma
muralha de ferro que a população nativa não possa romper.»27 Estava-se
ainda no auge do colonialismo, em que tais atos contra as sociedades
nativas por parte dos ocidentais eram normalizados e descritos como
«progressos».
As instituições sociais e económicas fundadas pelos primeiros
sionistas, que foram fundamentais para o sucesso do projeto sionista, eram
também inquestionavelmente compreendidas por todos e descritas como
coloniais. A mais importante destas instituições foi a Associação de
Colonização Judaica (ACJ) (rebatizada em 1924 como Associação de
Colonização Judaica na Palestina). Esta instituição foi originalmente
criada pelo filantropo judeu alemão Barão Maurice de Hirsch e
posteriormente combinada com uma organização similar fundada pelo
financista, e par do reino britânico, Lorde Edmond de Rothschild. A ACJ
disponibilizou o enorme apoio financeiro que tornou possível as extensas
compras de terras e os subsídios que permitiram à maioria das primeiras
colónias sionistas na Palestina sobreviver e prosperar antes e durante o
período do Mandato.
Naturalmente, assim que o colonialismo começou a ser mal visto na
era da descolonização no pós-Segunda Guerra Mundial, as origens e
práticas coloniais do sionismo e de Israel foram branqueadas e
convenientemente esquecidas em Israel e no Ocidente. Na verdade, o
sionismo – enteado mimado do colonialismo britânico durante duas
décadas – reinventou-se como movimento anticolonialista. O motivo para
esta drástica transformação foi uma campanha de sabotagem e terrorismo
lançada contra a Grã-Bretanha após esta ter limitado drasticamente o seu
apoio à imigração judaica com o Livro Branco de 1939, em vésperas da
Segunda Guerra Mundial. Este desentendimento entre antigos aliados
(para os ajudar a combater os palestinianos em finais da década de 1930, a
Grã-Bretanha tinha armado e treinado os colonos judeus que deixava
entrar no país) incentivou a bizarra ideia de que o movimento sionista era
ele próprio anticolonialista.
Não havia como fugir ao facto de que o sionismo começara por se
colar ao Império Britânico em busca de apoio, e só conseguira implantar-
se na Palestina graças aos incessantes esforços do imperialismo britânico.
Não podia ser de outro modo, pois, tal como Jabotinsky salientou, só os
britânicos tinham os recursos necessários para travar a guerra colonial de
que precisavam para suprimir a resistência palestiniana à ocupação do seu
país. Esta guerra tem-se mantido desde então, travada por vezes de forma
aberta e outras de forma encoberta, mas sempre com a aprovação tácita ou
manifesta, e muitas vezes com o envolvimento direto, dos principais
poderes da época e o apoio das instituições internacionais por eles
dominadas, a Sociedade das Nações e as Nações Unidas.
Hoje, o conflito gerado por este clássico empreendimento colonial
europeu do século XIX em território não europeu, apoiado desde 1917
pela maior potência imperial ocidental da sua era, raramente é descrito em
termos tão duros. Na verdade, aqueles que analisam não só os esforços
israelitas de colonização em Jerusalém, na Margem Ocidental e nos
ocupados Montes Golã da Síria, mas todo o empreendimento sionista da
perspetiva das suas origens e natureza coloniais são muitas vezes
vilipendiados. Muitos são incapazes de aceitar a contradição inerente à
ideia de que, embora o sionismo tenha sido inquestionavelmente bem-
sucedido na criação de uma entidade nacional próspera em Israel, as suas
raízes são as de um projeto colonial de povoamento (tal como o são as de
outros países modernos: Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova
Zelândia). Nem podem aceitar que não teria tido êxito se não fosse pelo
apoio das grandes potências imperiais, Grã-Bretanha e, posteriormente,
Estados Unidos. O sionismo podia, pois, ser, e foi, um movimento
simultaneamente nacional e colonialista.
Em vez de escrever um estudo abrangente sobre a história palestiniana,
optei por me concentrar em seis pontos de viragem na luta pela Palestina.
Estes seis acontecimentos, desde a emissão da Declaração Balfour em
1917, que decidiu o destino da Palestina, ao cerco de Israel à Faixa de
Gaza, e às suas guerras intermitentes contra a sua população no início dos
anos 2000, realçam a natureza colonial da guerra dos cem anos na
Palestina, e também o papel indispensável das potências externas na sua
condução.28 Contei esta história, em parte, através das experiências de
palestinianos que viveram durante a guerra, muitos deles membros da
minha família, que estiveram presentes em alguns dos episódios descritos.
Incluí as minhas próprias memórias dos acontecimentos a que assisti, bem
como materiais pertencentes à minha própria família e a outras, além de
vários relatos na primeira pessoa. O meu objetivo foi sempre mostrar que
este conflito deve ser visto de forma muito diferente da maioria das
opiniões dominantes sobre ele.
Escrevi vários livros e numerosos artigos sobre diferentes aspetos da
história palestiniana num registo puramente académico.29 Também os
alicerces deste livro são académicos e baseados na investigação, mas este
contém ainda uma dimensão pessoal que é geralmente excluída da história
académica. Ainda que membros da minha família tenham estado
envolvidos durante anos nos acontecimentos da Palestina, tal como eu
estive, enquanto testemunha ou participante, as nossas experiências não
são únicas, apesar das vantagens de que gozámos devido à nossa classe
social e estatuto. Poder-se-iam utilizar muitos relatos semelhantes, ainda
que grande parte da história popular e de outros setores da sociedade
palestiniana continue por contar. Ainda assim, apesar das tensões inerentes
à abordagem escolhida, acredito que ajuda a esclarecer uma perspetiva
que está ausente da forma como a história da Palestina tem sido relatada
na maioria da literatura.
Devo acrescentar que este livro não corresponde a uma «conceção
lacrimosa» dos últimos cem anos da história palestiniana, para recuperar a
crítica brilhante do grande historiador Salo Baron a uma tendência dos
escritos históricos judaicos do século XIX.30 Os palestinianos têm sido
acusados, por aqueles que simpatizam com os seus opressores, de se
espojarem na sua própria vitimização. É, ainda assim, um facto que, tal
como todos os povos nativos confrontados com guerras coloniais, os
palestinianos enfrentaram adversidades assustadoras e, por vezes,
impossíveis. É igualmente verdade que sofreram repetidas derrotas e
foram frequentemente divididos e mal liderados, o que não significa que
os palestinianos não pudessem, por vezes, desafiar com sucesso essas
probabilidades, ou que noutras vezes não pudessem ter feito melhores
escolhas.31 Mas não podemos ignorar as formidáveis forças internacionais
e imperiais dispostas contra eles, cuja escala tem sido frequentemente
desvalorizada, e apesar das quais demonstraram uma resiliência notável. A
minha esperança é que este livro reflita essa resiliência e ajude a recuperar
um pouco do que até agora tem sido apagado da história por aqueles que
controlam toda a Palestina histórica e a narrativa que a rodeia.
* Note-se que os nomes árabes foram transcritos segundo o sistema IJMES simplificado
(International Journal of Middle East Studies), exceto nos casos em que os próprios indivíduos
preferiram outra ortografia.
1
A Primeira Declaração
de Guerra, 1917-1939
A contradição entre a letra da Aliança e a política dos Aliados é ainda mais flagrante no
caso da «nação independente» da Palestina do que no da «nação independente» da Síria.
Pois, na Palestina, não nos propomos sequer a passar pela formalidade de consultar os
desejos dos atuais habitantes do território… As quatro Grandes Potências estão
comprometidas com o sionismo. E o sionismo, esteja certo ou errado, seja bom ou mau,
baseia-se em tradições ancestrais, em necessidades presentes e em esperanças futuras cuja
importância é muito mais profunda do que os desejos e preconceitos dos 700 000 árabes
que hoje habitam nessa terra antiga.
Na minha opinião, isso está certo. O que nunca fui capaz de entender é como pode ser
harmonizado com a declaração, a Aliança ou as instruções à Comissão de Inquérito.
Não penso que o sionismo vá prejudicar os árabes; mas jamais dirão que o querem.
Seja qual for o futuro da Palestina, não é atualmente uma «nação independente», nem está
ainda a caminho de se tornar uma. Seja qual for a consideração que deva ser prestada às
opiniões dos que ali vivem, as Potências, na sua escolha de um mandatário, não pretendem,
tanto quanto eu entendo do assunto, consultá-los. Em suma, no que à Palestina diz respeito,
as Potências não fizeram qualquer declaração de factos que não fosse manifestamente
errada, nem qualquer declaração política que, pelo menos à letra, não tivessem sempre
planeado violar.
A Segunda Declaração
de Guerra, 1947-1948
Alguns meses antes de morrer, em 1968, o meu pai, sentindo que lhe
restava pouco tempo, sentou-se comigo na nossa sala de jantar e falou-me
de uma mensagem que lhe tinham pedido para entregar duas décadas
antes. Eu era então um estudante universitário de dezanove anos; ele
mandou-me ouvir com atenção.
Em 1947, o meu pai, Ismail Raghib al-Khalidi, regressou à Palestina
pela primeira vez em oito anos. Tinha partido no outono de 1939 para
estudar na Universidade do Michigan e depois na Universidade de
Columbia em Nova Iorque, e permanecera nos Estados Unidos durante a
Segunda Guerra Mundial, a trabalhar no Gabinete de Informação de
Guerra como radialista em língua árabe para o Médio Oriente. Durante a
guerra, a minha avó, em Jafa, ficava acordada até depois da meia-noite a
ouvir rádio para poder escutar o seu filho mais novo, que não via há anos.2
Aquando da sua visita à Palestina, trabalhava como secretário para o
recém-formado Instituto Árabe-Americano (a minha mãe, de
nacionalidade libanesa, também trabalhava lá – foi aí que os meus pais se
conheceram).3 O instituto tinha sido criado por um grupo de notáveis
árabes-americanos sob a direção do professor Philip Hitti, de Princeton,
para consciencializar os americanos quanto à situação na Palestina,4 e uma
digressão pelo Médio Oriente para apresentar o seu trabalho aos líderes
dos novos Estados árabes independentes levara o meu pai a Jerusalém.5
O seu irmão, Dr. Husayn Fakhri al-Khalidi, antigo autarca de
Jerusalém, era vinte anos mais velho. Tendo em conta a idade avançada do
seu pai e o prestígio de Dr. Husayn, Ismail e três outros irmãos mais
novos, Ghalib, Fatima e Ya’coub, tinham sido entregues ao seu cuidado,
sendo Dr. Husayn quem controlava a disciplina, o dinheiro e outras
questões.6 Outro irmão mais velho, Ahmad, que era um educador e
escritor amplamente reconhecido, além de diretor do Colégio Árabe em
Jerusalém, estava encarregado da sua educação. Apesar da diferença de
vinte anos e da reputação de severidade de Dr. Husayn, ele e o meu pai
eram próximos, tal como é evidenciado pela sua correspondência durante
o período em que Husayn esteve prisioneiro dos britânicos nas Ilhas
Seicheles. Em diários escritos enquanto estava no exílio, Dr. Husayn
queixa-se, a determinada altura, do execrável inglês de uma carta que
recebera do meu pai («a sua escrita é terrível») e espera que estudar na
Universidade Americana de Beirute ajude a melhorá-lo. Melhorou.7
Fotografias mostram que Dr. Husayn era um homem digno e de aspeto
formidável, mas, em finais da década de 1940, estava desgastado, e muito
mais magro do que era antes dos seus quase sete anos de encarceramento e
exílio (perdeu onze quilos durante a sua estadia nas Seicheles). Sendo um
dos poucos líderes árabes ainda em Jerusalém em finais de 1947, um
período de grande crise para os palestinianos, estava intensamente
ocupado. Ainda assim, chamou o seu irmão mais novo, e o meu pai
respondeu com celeridade.
Dr. Husayn sabia que Ismail ia viajar para Amã a pedido do Instituto
Árabe-Americano para ver o rei ‘Abdullah da Transjordânia, e queria
enviar-lhe uma mensagem pessoal, mas oficial. Ao ouvir o seu conteúdo,
o meu pai empalideceu. Em nome de Dr. Husayn e da Alta Comissão
Árabe, da qual era secretário, Ismail devia dizer ao rei que, embora
agradecessem a sua oferta de «proteção» (o termo utilizado fora o árabe
wisaya, literalmente «tutela» ou «tutoria»), os palestinianos não podiam
aceitar. O sentido implícito da mensagem era que, se os palestinianos
conseguissem escapar ao jugo britânico, não queriam submeter-se ao da
Jordânia (o que, dada a profunda influência britânica em Amã, ia
basicamente dar ao mesmo). Aspiravam a controlar o seu próprio destino.
O meu pai protestou debilmente, dizendo que transmitir essa tão
desagradável notícia arruinaria a sua visita, que se destinava a obter o
apoio do rei perante o trabalho do Instituto Árabe-Americano. Dr. Husayn
interrompeu-o. Outros emissários tinham levado repetidamente a mesma
mensagem ao rei ‘Abdullah, mas ele recusara-se a ouvir. Dada a
importância dos laços familiares, ver-se-ia obrigado a acreditar nela se
viesse do próprio irmão do Dr. Husayn. Secamente, disse a Ismail para
fazer o que lhe fora pedido e acompanhou-o ao exterior do seu escritório.
O meu pai partiu de coração pesado. O respeito pelo seu irmão mais velho
obrigava-o a transmitir a mensagem, mas sabia que a sua visita a Amã não
ia acabar bem.
O rei ‘Abdullah recebeu o seu convidado e ouviu educadamente, ainda
que sem grande interesse, a entusiástica descrição de Ismail de como o
Instituto Árabe-Americano estava a trabalhar no sentido de alterar a
opinião americana sobre a Palestina, que, mesmo nessa altura, era
esmagadoramente pró-sionista e essencialmente desconhecedora da causa
palestiniana. Durante décadas, o rei tinha associado a sua sorte à da Grã-
Bretanha, que subsidiava o seu trono, pagava e equipava as suas tropas e
fornecia oficiais à sua Legião Árabe. Em contraste, os Estados Unidos
pareciam distantes e insignificantes, e o rei parecia manifestamente pouco
impressionado. Tal como a maioria dos governantes árabes da época, não
soube apreciar o papel dos Estados Unidos nos assuntos mundiais do pós-
guerra.
Tendo cumprido a parte principal da sua missão, o meu pai transmitiu
então, de forma hesitante, a mensagem que Dr. Husayn lhe tinha confiado.
No rosto do rei, viram-se raiva e surpresa, e, bruscamente, levantou-se,
obrigando todos os presentes na sala a levantarem-se também. A audiência
terminara. Nesse exato momento, entrou um criado, anunciando que a
BBC tinha acabado de transmitir a notícia da decisão da Assembleia Geral
da ONU a favor da divisão da Palestina. Acontece que o encontro do meu
pai com o rei coincidira com a histórica votação da assembleia, no dia 29
de novembro de 1947, sobre a Resolução 181, que previa a divisão. Antes
de sair da sala, o rei virou-se para o meu pai e disse friamente: «Os
palestinianos recusaram a minha oferta. Merecem o que lhes acontecer.»
A Alta Comissão Árabe entendeu então que não tinha as capacidades intelectuais entre
os seus membros. Na verdade, não tinha qualquer estrutura. Quando Jamal Husseini saía
do escritório à tarde, trancava a porta e guardava a chave no bolso. Não havia secretariado
absolutamente nenhum. Uma ou duas pessoas para fazer café. Nem sequer um secretário
para tirar apontamentos ou escrever à máquina. Era assim tão vazio, tudo aquilo.23
coragem, da sua sagacidade política, do seu ativismo militante no seio da Fatah e das suas repetidas
detenções por parte de Israel. Faysal, com quem trabalhei de perto durante as negociações israelo-
palestinianas de Madrid e de Washington em 1991-93, enfrentou colonos armados, e as forças de
segurança israelitas que os protegiam, quando estes se apoderaram de casas palestinianas em
Jerusalém. A sua importância em Jerusalém devia-se a estas qualidades e não a ligações familiares,
apesar de ser filho do amado líder militar ‘Abd al-Qadir al-Husayni, que foi morto em combate em
abril de 1948. Era também da família do mufti e de Jamal al-Husayni, e neto de Musa Kazim Pasha
al-Husayni, um autarca de Jerusalém afastado do seu cargo pelos britânicos. O seu avô liderara o
movimento nacional palestiniano até à sua morte, com oitenta e quatro anos, em 1934, meses após
a polícia britânica o ter agredido com bastões durante uma manifestação em Jafa.
3
A Terceira Declaração
de Guerra, 1967
O caminho para estas modificações radicais não foi fácil para a OLP.
Só após alguns dos mais duros golpes infligidos ao movimento nacional
palestiniano desde a Nakba é que a OLP acabou por aceitar uma
abordagem de dois Estados baseada na SC 242. Estes golpes surgiram em
rápida sucessão durante a guerra civil libanesa, que começou formalmente
em abril de 1975. Para os palestinianos, porém, a guerra começou dois
anos mais cedo, no dia 10 de abril de 1973, com o assassinato de três
líderes da OLP, nas suas casas em Beirute Ocidental, por comandos
israelitas liderados por Ehud Barak (posteriormente primeiro-ministro de
Israel).40 As multidões de palestinianos e libaneses que assistiram aos
funerais do poeta e porta-voz da OLP Kamal Nasser e dos líderes da Fatah
Kamal ‘Adwan e Abu Yusuf Najjar eram enormes. Enquanto caminhava
com as multidões de enlutados, não me surpreendeu ver que eram ainda
maiores do que as de Ghassan Kanafani.
Estes quatro homens contam-se entre as dezenas de líderes e quadros
palestinianos que caíram às mãos dos esquadrões de assassinos da
Mossad. É verdade que grupos nominalmente palestinianos assassinaram
outras figuras palestinianas, incluindo três membros do Comité Central da
Fatah e os embaixadores da OLP em Londres e da Internacional
Socialista. Estes grupos serviam como agentes dos três regimes ditatoriais
árabes – o de Hafez al-Asad na Síria, o de Saddam Hussein no Iraque e o
de Mu’ammar al-Qaddhafi na Líbia –, que eram ruidosos na proclamação
do seu apoio à causa palestiniana, mas duros no tratamento da OLP. Estes
regimes foram patrocinadores, em diferentes períodos, dos atiradores da
organização Abu Nidal, que realizou a maior parte destes assassinatos, e
de outros pequenos grupos dissidentes.
Ainda que o impacto destes assassinatos por Israel e pelas potências
árabes hostis seja um sinal do caminho extraordinariamente difícil
percorrido pelo movimento nacional palestiniano, existe uma importante
diferença entre eles. Os Estados árabes que utilizavam esses métodos
queriam vergar a OLP à sua vontade, nem que fosse com recurso à força
bruta, como quando o regime de Asad enviou tropas para enfrentar a OLP
no Líbano, em 1976. Atuavam, porém, com base numa fria e calculista
raison d’état. Não queriam destruir a OLP nem extinguir a causa
palestiniana. O caso de Israel era muito diferente, uma vez que sempre
fora esse o objetivo. A sua velha política de liquidar líderes palestinianos,
herdada do movimento sionista durante o final do período do Mandato,
visava eliminar a realidade palestiniana, demografica, concecional e
politicamente. Os assassinatos eram, pois, um elemento central na
ambição israelita de transformar o país inteiro, do rio ao mar, de árabe em
judaico. Utilizando novamente o termo de Baruch Kimmerling, tratava-se
de um exemplo de “politicídio” na sua forma mais literal.
Como prova da extensão da campanha de liquidações, temos dois
novos relatos, um deles baseado em material confidencial dos serviços
militares e de informação israelitas. Entre muitas outras coisas novas,
contém revelações sensacionais sobre as repetidas tentativas de assassinar
Yasser ‘Arafat.41 O pretexto de que esses assassinatos eram um golpe
contra o «terrorismo» simplesmente não convence quando o alvo é o líder
de um movimento nacional, a não ser que o objetivo seja destruir esse
movimento. Os líderes de outros movimentos anticolonialistas foram
invariavelmente vilipendiados pelos seus senhores coloniais em termos
semelhantes – terroristas, bandidos e assassinos – quer fossem irlandeses,
indianos, quenianos ou argelinos. De igual modo, a diabolização da OLP
como «terrorista» por parte de Israel servia de justificação para a sua
erradicação. As declarações privadas do Ministro da Defesa israelita Ariel
Sharon, em 1982, sobre os «terroristas» palestinianos em Beirute não
podiam ser mais claras a esse respeito.42
A justificação dos assassinatos como uma proteção necessária contra
terroristas, que matariam a não ser que fossem mortos primeiro, soa
também a falso quando muitos dos assassinados – como Ghassan
Kanafani e Kamal Nasser, por exemplo, ou representantes da OLP no
estrangeiro, como Mahmoud Hamshari e Wael Zu’aytir – eram
intelectuais e defensores da causa palestiniana, e não pessoal militar. As
suas iniciativas artísticas eram complementares e estavam ligadas às suas
atividades políticas: Kanafani era um talentoso romancista e pintor, Nasser
era poeta, Zu’aytir era um escritor e tradutor em ascensão. Não eram
«terroristas», mas sim as mais eminentes vozes de um movimento
nacional, vozes que Israel estava decidido a silenciar.
No Líbano, os assassinatos de Nasser, ‘Adwan e Najjar em abril de
1973 foram seguidos um mês depois por um confronto armado contra o
exército libanês, durante o qual a força aérea bombardeou os campos de
refugiados palestinianos de Sabra e Shatila, nos subúrbios do sul de
Beirute. Durante todo o resto da guerra civil libanesa, que se arrastou até
1990, os campos de refugiados e centros populacionais palestinianos
foram alvos frequentes: cercados, devastados, cenário de massacres e
expulsões forçadas. Tal al-Za’tar, Karantina, Dbaye, Jisr al-Basha, ‘Ain al-
Hilwa, Sabra e Shatila – em todos estes locais, os palestinianos sofreram
grandes atrocidades. A guerra trouxe também horríveis massacres de
cristãos libaneses por fações da OLP e pelos seus aliados libaneses,
nomeadamente em Damour, em janeiro de 1976, onde centenas de cristãos
foram mortos e a cidade foi pilhada e saqueada.
Tal al-Za’tar era o maior, o mais pobre e o mais isolado dos campos de
refugiados na região de Beirute, com uma população de cerca de vinte mil
palestinianos e talvez dez mil libaneses empobrecidos, principalmente
xiitas do Sul. Situava-se no subúrbio de Dikwaneh, em Beirute Oriental,
que era habitado maioritariamente por maronitas libaneses simpatizantes
do Partido Falangista, antipalestiniano e de direita. Eu vivia em Beirute
com a minha esposa, Mona, nos anos anteriores à guerra civil, primeiro a
trabalhar na minha tese de doutoramento e depois a dar aulas na
Universidade Libanesa e na Universidade Americana de Beirute. Com um
grupo de amigos – estudantes palestinianos e residentes de Tal al-Za’tar –
tínhamos aberto o primeiro infantário no campo, apoiado pela Jamiyat
In’ash al-Mukhayam, uma instituição de caridade líbano-palestiniana.
As relações entre o campo e a sua envolvente foram-se tornando cada
vez mais tensas à medida que a situação no Líbano se deteriorava, e, em
maio de 1973, era já evidente que Tal al-Za’tar e os campos de refugiados
vizinhos de Dbaye e Jir al-Basha, bem como a comunidade palestiniana da
zona de Karantina, estavam em território decididamente hostil. Os seus
vizinhos ressentiam-se profundamente da presença de milícias
palestinianas fortemente armadas nos campos. Nestas perigosas
circunstâncias, estávamos todos preocupados com a segurança das
crianças no infantário, pelo que escavámos um abrigo debaixo do centro.
Vários outros grupos, e eventualmente a OLP, construíram também
abrigos, que salvaram muitas vidas quando a guerra eclodiu
verdadeiramente em 1975.
Num domingo, em abril desse ano, Mona e eu estávamos a almoçar
em Tal al-Za’tar, em casa dos pais do nosso amigo Qasim, quando
soubemos que tinha havido um incidente na estrada que conduzia ao
campo, que atravessava o subúrbio maioritariamente maronita de ‘Ain al-
Rummaneh. Fomos aconselhados a partir de imediato. Na viagem de
regresso a Beirute Ocidental, no nosso velho Volkswagen Beetle,
avistámos um pequeno autocarro parado num ângulo estranho no meio da
estrada. Tinha acabado de ser emboscado na viagem de regresso a Tal al-
Za’tar por milicianos falangistas, que mataram os seus vinte e sete
passageiros. Soube-se que os falangistas pretendiam vingar-se de um
tiroteio numa igreja maronita ali perto, onde o seu líder, Pierre Gemayel,
tinha estado presente.43 Assim começou a guerra civil libanesa, que viria a
durar quinze anos.
Nunca conseguimos regressar a Tal al-Za’tar. Sitiado por aquelas que
viriam a ser chamadas de Forças Libanesas (FL), lideradas pelo filho de
Pierre Gemayel, Bashir, o campo foi invadido em agosto de 1976 e toda a
sua população foi expulsa. Cerca de duas mil pessoas foram mortas
naquele que foi provavelmente o maior massacre de toda a guerra.
Algumas morreram durante o cerco, outras ao fugir do campo, e outras em
postos de controlo das FL, onde os palestinianos eram capturados e
levados para serem assassinados. Dois dos professores do nosso infantário
foram mortos desta forma, tal como Jihad, a sobrinha de onze anos de
Qasim, que foi raptada e assassinada numa barricada juntamente com a
sua mãe.
As FL realizaram o massacre de Tal al-Za’tar com o apoio secreto de
Israel. Anos depois, em 1982, confrontado com ataques parlamentares dos
líderes do Partido Trabalhista, Ariel Sharon defendeu a sua conduta
durante os famigerados massacres de Sabra e Shatila em setembro desse
ano (em que mais de mil civis foram mortos) apontando para o apoio do
governo israelita aos falangistas aquando dos homicídios de 1976 em Tal
al-Za’tar.44 Numa reunião secreta da Comissão de Defesa e Relações
Exteriores do Knesset, Sharon revelou que os oficiais dos serviços de
informação militar israelitas, que estavam no local aquando do massacre
de Tal al-Za’tar, comunicaram que os falangistas estavam a matar pessoas
«com as armas que fornecemos e as forças que os ajudámos a
desenvolver».45 Prosseguiu dizendo o seguinte a Shimon Peres, líder da
oposição e do Partido Trabalhista, que estava no poder em 1976:
* Kanafani foi perseguido mesmo na morte. Uma encenação em inglês de Return to Haifa foi
contratada pelo Teatro Público de Nova Iorque, mas nunca chegou a ser produzida. Membros do
seu conselho de administração opuseram-se a encenar obras de Kanafani, que tinha sido apelidado
de terrorista.
4
A Quarta Declaração
de Guerra, 1982
Têm medo de dizer aos nossos leitores e àqueles que se possam queixar
a vós que os israelitas são capazes de bombardear indiscriminadamente uma
cidade inteira.
– Thomas Friedman, chefe do departamento do New York Times
em Beirute, aos seus editores2
Esta guerra suja continuou até que a OLP se viu obrigada a aceitar
evacuar Beirute, sob intensa pressão de Israel, dos Estados Unidos e dos
aliados libaneses, e na ausência de apoio significativo de qualquer
governo árabe.26 As negociações de saída foram feitas sobretudo através
das conversas do embaixador Habib com intermediários libaneses, mas
também envolveram França e alguns governos árabes, nomeadamente a
Arábia Saudita e a Síria. Até ao fim, e apesar de algumas mudanças no
elenco americano e na sua atitude para com Israel, os Estados Unidos
mantiveram o empenho em alcançar o principal objetivo de guerra de
Israel: a derrota da OLP e a sua expulsão de Beirute.
Israel exigia a retirada total e praticamente incondicional da OLP da
cidade, objetivo esse que os Estados Unidos apoiavam plenamente.
Empregando tropos da Guerra Fria com que sabiam que Washington se
identificaria, desde cedo que Begin e Sharon tinham convencido o
presidente Reagan e a sua administração de que a OLP era um grupo
terrorista alinhado com o maléfico império soviético e de que a sua
eliminação seria um serviço tanto para os Estados Unidos como para
Israel. Toda a diplomacia americana durante a guerra decorreu dessa
convicção partilhada. A OLP enfrentava, pois, não só a feroz pressão
militar de Israel, mas também uma incessante coerção diplomática por
parte do seu aliado norte-americano. Essa coerção era intensa e constante,
e acompanhada por campanhas israelitas e americanas de desinformação e
mentira sobre o curso das negociações, projetadas para enfraquecer o
moral palestiniano e libanês e precipitar uma rápida rendição.
Entretanto, os Estados Unidos proporcionaram também um
indispensável apoio material ao seu aliado, no valor de 1,4 mil milhões de
dólares em ajuda militar anual em 1981 e 1982. Isto serviu para pagar a
miríade de sistemas de armamento e munições dos EUA utilizada no
Líbano por Israel, desde caças-bombardeiros F-16 a blindados M-113 para
transporte de pessoal, obuses de 155mm e 175mm, mísseis ar-terra e
bombas de fragmentação.
Além dos papéis interligados de Israel e dos Estados Unidos, um dos
mais mesquinhos e vergonhosos aspetos secundários da guerra foi a
rendição dos principais regimes árabes à pressão americana. Os seus
governos proclamavam ruidosamente o seu apoio à causa palestiniana,
mas nada fizeram para apoiar a OLP enquanto esta enfrentava sozinha,
exceto pelos seus aliados libaneses, a ofensiva militar israelita, e enquanto
uma capital árabe era cercada, bombardeada e ocupada. Não fizeram nada
mais além de emitirem protestos pró-forma enquanto os Estados Unidos
apoiavam as exigências israelitas de expulsar a OLP de Beirute. Os
Ministros dos Negócios Estrangeiros da Liga Árabe, reunidos no dia 13 de
julho em preparação para a cimeira árabe que se realizaria no final desse
ano, não propuseram qualquer ação em resposta à guerra, que por essa
altura já estava em curso há mais de cinco semanas. Em vez disso, os
Estados árabes cederam de forma submissa.
Isto foi particularmente verdade nos casos da Síria e da Arábia
Saudita, que tinham sido escolhidas pela Liga Árabe para representar a
sua posição numa missão a Washington durante o verão de 1982. A pouca
oposição governamental árabe à guerra foi facilmente comprada com
frouxas promessas americanas de criar uma nova iniciativa diplomática
entre os EUA e o Médio Oriente, que acabou por ser revelada no dia 1 de
setembro e posteriormente designada de Plano Reagan. A iniciativa teria
imposto um limite aos colonatos israelitas e criado uma autoridade
palestiniana autónoma na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza, mas
rejeitava um Estado palestiniano soberano nesses territórios. O Plano
Reagan, que os Estados Unidos nunca promoveram vigorosamente e que
foi facilmente torpedeado pelo governo de Begin, acabou por não dar em
nada.
Entre a opinião pública árabe, contudo, a invasão do Líbano e o cerco
de Beirute, cujas impressionantes imagens televisivas eram amplamente
difundidas, provocaram grande choque e raiva. Ainda assim, não havia em
nenhum dos repressivos e antidemocráticos governos árabes pressão
popular suficiente para forçar o fim do cerco israelita a uma capital árabe
ou garantir melhores termos para a retirada da OLP. Havia poucas
manifestações de multidões e pouca agitação pública na maioria das
fortemente policiadas cidades árabes. Ironicamente, talvez a maior
manifestação no Médio Oriente provocada pela guerra tenha ocorrido em
Telavive, em protesto contra os massacres de Sabra e Shatila.
Os israelitas podem ter lutado na guerra e sofrido baixas, mas, mais
uma vez, os palestinianos descobriram que o inimigo no campo de batalha
era apoiado desde o início por uma grande potência. A decisão de invadir
o Líbano foi tomada pelo governo israelita, mas não poderia ter sido
implementada sem o consentimento explícito dado pelo Secretário de
Estado Alexander Haig ou sem o apoio diplomático e militar norte-
americano, combinados com a absoluta passividade dos governos árabes.
A luz verde que Haig deu a Israel, para o que era supostamente «uma
operação limitada», não podia ser mais clara. No dia 25 de maio, dez dias
antes do início da ofensiva, Sharon encontrou-se com Haig em
Washington e expôs-lhe o seu ambicioso plano de guerra ao máximo
pormenor. Na verdade, Sharon apresentou a Haig uma imagem muito mais
completa do que a que posteriormente apresentou ao conselho de
ministros israelita. A única resposta de Haig foi que «tinha de haver uma
provocação reconhecível», que fosse «entendida a nível internacional».27
Pouco depois, a tentativa de assassinato do embaixador israelita em
Londres, Shlomo Argov (pelo grupo anti-OLP Abu Nidal), assumiria
precisamente esse papel.28
Sharon explicou a Haig que as forças israelitas erradicariam a presença
da OLP no Líbano, incluindo todas as «organizações terroristas»,
estruturas militares e sedes políticas que se situavam em Beirute. (Bastava
este elemento do plano para desmentir a descrição de Sharon de uma
«operação limitada».) «Como consequência», Israel expulsaria também a
Síria do Líbano – ainda que Sharon insistisse piamente em como «não
queria uma guerra com a Síria» – e instalaria um governo fantoche
libanês. A explicação era clara, tal como o foi também a «luz verde de
Haig para uma operação limitada», assinalada pelo diplomata americano
que registou isto como o resultado da reunião.29
Embora a OLP soubesse que não podia esperar grande apoio dos
regimes árabes no poder em 1982, a organização contava com uma
resposta solidária da parte do povo libanês. No entanto, a atitude
prepotente e muitas vezes arrogante da OLP na anterior década e meia
desgastara seriamente o apoio popular à causa palestiniana, em geral, e à
presença palestiniana no Líbano, em particular. Num típico incidente, que
ocorreu perto do Instituto de Estudos Palestinianos, situado no elegante
bairro de Verdun, em Beirute, os guardas de um líder superior da OLP, o
coronel Abu Za’im, que também não era propriamente um modelo de
perfeição, alvejaram mortalmente um jovem casal libanês no seu carro
quando, no final de determinada noite, estes não pararam num posto de
controlo erigido à pressa junto ao seu apartamento.30 Dada a indisciplina
na OLP, ninguém foi punido por estas mortes. Estes atos injustificáveis
eram demasiado comuns.
As operações palestinianas no Líbano estavam supostamente restritas a
um enquadramento formal – o Acordo do Cairo, adotado em 1969 – que
dera à OLP o controlo dos campos de refugiados palestinianos e liberdade
de ação em grande parte do sul do Líbano. Mas a fortemente armada OLP
tornara-se uma força cada vez mais dominante e autoritária em muitas
partes do país. Os cidadãos libaneses comuns estavam descontentes com o
facto de esta opressiva presença palestiniana só se ter intensificado à
medida que a longa guerra civil se arrastava. A criação do equivalente a
um mini-Estado da OLP no seu país era, em última instância,
insustentável, e também intolerável, para muitos libaneses. Havia ainda
um profundo ressentimento face aos devastadores ataques israelitas contra
civis libaneses provocados pelas ações militares palestinianas. Os ataques
da OLP em Israel eram frequentemente direcionados para alvos civis e
faziam nitidamente pouco para promover a causa nacional palestiniana, se
é que não a prejudicavam. Inevitavelmente, todos estes fatores viraram
importantes setores da população libanesa contra a OLP. A incapacidade
de ver o grau de hostilidade provocado pelo seu próprio mau
comportamento e pela sua estratégia errada foi uma das falhas mais graves
da OLP durante este período.
Assim, quando o momento da verdade chegou, em 1982, a OLP viu-se
subitamente desprovida do apoio de muitos dos seus aliados tradicionais,
incluindo três grupos-chave. Eram estes o Movimento Amal, alinhado
com a Síria e liderado por Nabih Berri, e o seu grande círculo xiita no sul
do Líbano e no Vale do Bekaa (embora os jovens milicianos do Amal
tenham, ainda assim, lutado corajosamente ao lado da OLP em muitas
áreas); o estrategicamente situado feudo druso de Walid Jumblatt, nos
Montes Shouf, a sudeste de Beirute; e as populações sunitas urbanas de
Beirute, Trípoli e Sídon. O apoio dos líderes políticos sunitas tinha sido
essencial para a defesa da presença política e militar palestiniana no
Líbano desde a década de 1960.31
Não é difícil entender o raciocínio destes líderes e das comunidades
que representavam. As gentes do Sul, na sua maioria xiitas, tinham sofrido
mais do que quaisquer outros libaneses com as ações da OLP. Além das
suas próprias violações e transgressões contra a população do Sul, a
própria presença da OLP tinha-os deixado expostos a ataques israelitas,
obrigando muitos a fugir repetidamente das suas aldeias e cidades. Era
entendido por todos que Israel estava intencionalmente a castigar civis
para os afastar dos palestinianos, mas havia, ainda assim, muita amargura
contra a OLP em consequência disso.
Walid Jumblatt, cujo raciocínio era similar, afirmou posteriormente
que não teve alternativa a não ser vergar-se perante a força avassaladora
do avanço de Israel para a região drusa dos Shouf. Pode ter sentido que as
garantias dadas por oficiais drusos do exército israelita assegurariam
alguma proteção à sua comunidade. Veio a arrepender-se da sua decisão,
quando, a partir de finais de junho de 1982, as forças militares israelitas e
os seus serviços de segurança apoiaram a penetração de indisciplinadas e
vingativas milícias maronitas em regiões dominadas pelos drusos como
‘Aley e Beit al-Din, onde cometeram mais das atrocidades pelas quais
eram célebres.32
Para os sunitas, principalmente os de Beirute Ocidental, o
bombardeamento e o cerco da capital libanesa puseram fim ao seu firme
apoio à OLP, que antes viam como uma aliada vital contra o domínio do
Estado libanês pelos maronitas e o poder armado das suas milícias.
Alguns podem ter-se sentido incitados pelos apelos palestinianos à
transformação de Beirute noutra Estalinegrado ou Verdun, mas a maioria
estava horrorizada com a perspetiva da cidade ser devastada pela artilharia
e pelos ataques aéreos israelitas. Desafiar Israel era uma ideia muito
bonita, mas não à custa da destruição evitável das suas casas e
propriedades. Foi uma mudança crucial: sem o apoio da população
maioritariamente sunita de Beirute, juntamente com os seus muitos
residentes xiitas, a resistência prolongada da OLP à ofensiva israelita
acabou por ser inútil.
Estes cálculos levaram a uma grave erosão do já cada vez mais fraco
apoio à OLP, que diminuiu ainda mais durante os primeiros dias dos
combates, quando o Sul e os Montes Shouf foram invadidos, Beirute foi
bombardeada e cercada, a Síria se retirou da guerra e Philip Habib
transmitiu as duras exigências de Israel, que exigiam uma retirada
imediata e incondicional da OLP. Após mais algumas semanas de guerra,
contudo, os líderes das três comunidades muçulmanas libanesas alteraram
significativamente a sua posição e aumentaram o seu apoio à OLP. Esta
mudança surgiu após a OLP ter aceitado retirar-se de Beirute em troca de
rigorosas garantias para a proteção dos civis que seriam deixados para
trás.
No dia 8 de julho, a OLP apresentou o seu Plano de Onze Pontos para
a retirada das suas forças de Beirute. Este plano apelava à criação de uma
zona de segurança entre as forças israelitas e Beirute Ocidental, associada
a uma retirada limitada do exército israelita, ao destacamento prolongado
de forças internacionais e a garantias internacionais para as populações
palestinianas (e libanesas) que seriam deixadas para trás praticamente sem
defesas quando os combatentes da OLP tivessem partido.33 Dada a força
deste plano, os líderes muçulmanos libaneses ficaram convencidos de que
a OLP estava a ser sincera na sua disponibilidade para partir como forma
de salvar a cidade. Além disso, estavam profundamente desconcertados
com os crescentes indícios do apoio secreto de Israel maioritariamente às
Maronitas FL, pois isso salientava a vulnerabilidade das suas
comunidades num Líbano pós-OLP dominado por Israel e pelos seus
combativos aliados.
Estas preocupações tinham sido reforçadas pela chegada das milícias
das FL a Shouf, em finais de junho, e pelos massacres, raptos e
homicídios generalizados que aí tinham realizado, bem como nas áreas do
Sul sob controlo israelita.34 Nesta fase, após sete anos de guerra civil, esse
tipo de massacres sectários era comum, e as forças da OLP tinham servido
de principal defensor aos muçulmanos e esquerdistas do país. Os líderes
sunitas, xiitas e drusos redobraram, pois, o seu apoio às exigências da
OLP no seu Plano de Onze Pontos.
Há uma linha vital de responsabilidade norte-americana que tem de ser
seguida para entender o que aconteceu a seguir. As consequências não
resultaram apenas das decisões de Sharon, Begin e outros líderes
israelitas, nem das ações das milícias libanesas que eram aliadas de Israel.
Foram também da responsabilidade direta da administração Reagan, que,
sob pressão israelita, se recusou, com obstinação, a aceitar a necessidade
de quaisquer salvaguardas formais para os civis, rejeitou a estipulação de
garantias internacionais e bloqueou o destacamento a longo prazo de
forças internacionais, que talvez pudessem ter protegido os não-
combatentes. Em vez disso, para garantir a retirada da OLP, Philip Habib,
atuando através de intermediários libaneses, forneceu aos palestinianos
solenes e categóricos compromissos escritos de proteção dos civis nos
campos de refugiados e nos bairros de Beirute Ocidental. Escritos em
papel simples, sem timbre, assinaturas ou identificação, estes memorandos
foram transmitidos à OLP pelo primeiro-ministro libanês Shafiq al-
Wazzan e posteriormente consagrados nos registos do governo libanês. O
primeiro desses memorandos, datado de 4 de agosto, citava «garantias
americanas sobre a segurança dos… campos». O segundo, dois dias
depois, dizia o seguinte: «Reafirmamos também as garantias dos Estados
Unidos no que respeita à proteção e segurança… dos campos em
Beirute.»35 Uma nota americana de dia 18 de agosto para o Ministro dos
Negócios Estrangeiros libanês, consagrando estes compromissos, dizia
assim:
* Diálogo da imagem:
– O que foi agora, sargento?
– Acabámos de receber a contagem final dos terroristas retirados, senhor.
– Isso inclui os terroristas feridos dos hospitais terroristas?
– Sim, senhor. Juntamente com os terroristas médicos e as terroristas enfermeiras.
– Esperem lá um minuto, que história é essa de «terroristas»? O Begin não foi também terrorista
em tempos?
– O Sr. Begin não foi terrorista. Foi combatente pela liberdade.
– Oh.
– Quantos familiares terroristas?
– 3 000 esposas terroristas e 7 000 terroristas bebés.
[N. da T.]
5
A Quinta Declaração
de Guerra, 1987-1995
A Sexta Declaração
de Guerra, 2000-2014
Um Século de Guerra
aos Palestinianos
Introdução
1. Ambos os edifícios datam de finais do século VII, ainda que a Cúpula tenha mantido
essencialmente a sua forma original, enquanto a Mesquita al-Aqsa foi repetidamente reconstruída e
expandida.
2. O edifício principal da biblioteca, conhecido como Turbat Baraka Khan, é descrito em
Michael Hamilton Burgoyne, Mamluk Jerusalem: An Architectural Study (Londres: Escola
Britânica de Arqueologia de Jerusalém e World of Islam Festival Trust, 1987), 109-16. A estrutura
contém os túmulos de Baraka Khan e dos seus dois filhos. O primeiro foi um líder militar do século
XIII cuja filha foi esposa do grande sultão mameluco al-Zahir Baybars. O seu filho Sa’id sucedeu a
Baybars como sultão.
3. Com estes fundos da minha bisavó, o meu avô renovou o edifício. Os manuscritos e livros
reunidos na biblioteca foram coligidos pelo meu avô a partir do património de vários dos nossos
antepassados, incluindo coleções que tinham sido reunidas originalmente no século XVIII e
anteriores. O site da biblioteca contém informações básicas sobre ela, incluindo acesso ao catálogo
de manuscritos: http://www.khalidilibrary.org/indexe.html.
4. As bibliotecas privadas palestinianas eram sistematicamente saqueadas por equipas
especializadas, que atuavam na esteira do avanço das forças sionistas à medida que estas ocupavam
aldeias e cidades habitadas por árabes, nomeadamente Jafa, Haifa e os bairros árabes de Jerusalém
Ocidental na primavera de 1948. Os livros e manuscritos roubados eram depositados na Biblioteca
da Universidade Hebraica, hoje Biblioteca Nacional de Israel, sob a epígrafe «PA», de
«propriedade abandonada», uma descrição tipicamente orwelliana de um processo de apropriação
cultural logo após a conquista e a espoliação: Gish Amit, «Salvage or Plunder? Israel’s
“Collection” of Private Palestinian Libraries in West Jerusalem», Journal of Palestine Studies 40,
n.º 4 (2010-11): 6-25.
5. A fonte mais importante sobre Yusuf Diya é a secção sobre ele de Alexander Schölch,
Palestine in Transformation, 1856-1882: Studies in Social, Economic, and Political Development
(Washington, DC: Instituto de Estudos Palestinianos, 1993), 241-52. Essa secção foi republicada
em Jerusalem Quarterly 24 (verão de 2005): 65-76. Ver também Malek Sharif, «A Portrait of
Syrian Deputies in the Ottoman Parliament», em The First Ottoman Experiment in Democracy, ed.
Christoph Herzog e Malek Sharif (Wurtzburgo: Nomos, 2010); e R. Khalidi, Palestinian Identity:
The Construction of Modern National Consciousness, ed. rev. (Nova Iorque: Columbia University
Press, 2010), 67-76.
6. O seu papel como defensor dos direitos constitucionais contra o absolutismo do sultão é
descrito em R. E. Devereux, The First Ottoman Constitutional Period: A Study of the Midhat
Constitution and Parliament (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1963).
7. Tirando partido do seu serviço como governador da província de Bitlis, no Curdistão, no
sudeste do que é atualmente a Turquia, criou o primeiro dicionário árabe-curdo, al-Hadiyya al-
Hamidiyya fil-Lugha al-Kurdiyya. Encontrei exemplares deste livro e de várias outras publicações
suas entre material da Biblioteca Khalidi. O livro foi publicado em 1310AH/1893, em Istambul,
pelo Ministério da Educação otomano, tendo sido reeditado várias vezes desde então. Além do
título, que faz referência ao nome do sultão ‘Abd al-Abdul Hamid II, a sua introdução inclui uma
efusiva dedicatória ao sultão, que era praticamente obrigatória para garantir que as obras passavam
na censura, sobretudo as de um autor considerado pelas autoridades como potencialmente
subversivo.
8. Der Judenstaat: Versuch einer modernen Lösung der Judenfrage (Leipzig e Viena: M.
Breitenstein, 1896). Este panfleto tem oitenta e seis páginas.
9. Theodor Herzl, Complete Diaries, ed. Raphael Patai (Nova Iorque: Herzl Press, 1960), 88-
89.
10. Carta de Yusuf Diya Pasha al-Khalidi, Pera, Istambul, para o grande rabino Zadok Khan, 1
de março de 1899, Arquivos Centrais Sionistas, H1/197 [Documentos Herzl]. Recebi uma cópia
digitalizada deste documento por cortesia de Barnett Rubin. A carta foi escrita do hotel Khedivial,
no bairro de Pera, em Istambul. Todas as traduções do original em francês são minhas.
11. Carta de Theodor Herzl a Yusuf Diya Pasha al-Khalidi, 19 de março de 1899, reproduzida
em Walid Khalidi, ed., From Haven to Conquest: Readings in Zionism and the Palestine Problem
(Beirute: Instituto de Estudos Palestinianos, 1971), 91-93.
12. Ibid.
13. A atitude de Herzl para com os árabes é um tema controverso, ainda que não devesse ser.
Entre as melhores e mais equilibradas análises, contam-se as de Walid Khalidi, «The Jewish-
Ottoman Land Company: Herzl’s Blueprint for the Colonization of Palestine», Journal of Palestine
Studies 22, n.º 2 (inverno de 1993): 30-47; Derek Penslar, «Herzl and the Palestinian Arabs: Myth
and Counter-Myth», Journal of Israeli History 24, n.º 1 (2005), 65-77; e Muhammad Ali Khalidi,
«Utopian Zionism or Zionist Proselytism: A Reading of Herzl’s Altneuland», Journal of Palestine
Studies 30, n.º 4 (verão de 2001): 55-67.
14. O texto do alvará pode ser encontrado em Walid Khalidi, «The Jewish-Ottoman Land
Company».
15. O quase utópico romance de Herzl de 1902, Altneuland («Velha Terra Nova»), descrevia
uma Palestina do futuro que tinha todas estas atraentes características. Ver Muhammad Ali Khalidi,
«Utopian Zionism or Zionist Proselytism».
16. Segundo o estudioso israelita Zeev Sternhell, durante toda a década de 1920, «a entrada
anual de capital judaico foi em média 41,5 por cento superior ao produto interno líquido (PIL)
judaico… a sua proporção do PIL não desceu abaixo dos 33 por cento em nenhum dos anos
anteriores à Segunda Guerra Mundial…»: The Founding Myths of Israel: Nationalism, Socialism,
and the Making of the Jewish State (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1998), 217. A
consequência desta extraordinária entrada de capital foi uma taxa de crescimento anual de 13,2 por
cento para a economia judaica da Palestina entre 1922 e 1947: para mais pormenores, ver R.
Khalidi, The Iron Cage: The Story of the Palestinian Struggle for Statehood (Boston: Beacon
Press, 2007), 13-14.
17. Os números relativos às perdas palestinianas durante a revolta foram extrapolados a partir
de estatísticas proporcionadas por Walid Khalidi, ed., From Haven to Conquest, apêndice 4, 846-
49; e Matthew Hughes, Britain’s Pacification of Palestine: The British Army, the Colonial State
and the Arab Revolt, 1936-39 (Cambridge: Cambridge University Press, 2019), 377-84.
18. Lord Curzon in India: Being a Selection from His Speeches as Viceroy & Governor-General
of India, 1898-1905 (Londres: Macmillan, 1906), 589-90.
19. Ibid., 489.
20. Der Judenstaat, traduzido e citado em The Zionist Idea: A Historical Analysis and Reader,
ed. Arthur Hertzberg (Nova Iorque: Atheneum, 1970), 222.
21. Zangwill, em «The Return to Palestine», New Liberal Review (dezembro de 1901), 615,
escreveu que «a Palestina é um país sem povo; os judeus são um povo sem país». Para um exemplo
recente da tendenciosa e interminável reutilização deste chavão, ver Diana Muir, «A Land Without
a People for a People Without a Land», Middle East Quarterly (primavera de 2008), 55-62.
22. Joan Peters, From Time Immemorial: The Origins of the Arab-Jewish Conflict over
Palestine (Nova Iorque: HarperCollins, 1984). O livro foi implacavelmente esventrado em críticas
por Norman Finkelstein, Yehoshua Porath e muitos outros estudiosos, que praticamente lhe
chamaram uma fraude. O rabino Arthur Hertzberg, que foi temporariamente meu colega na
Universidade de Columbia, disse-me que o livro tinha sido produzido por Peters, que não era
especialista em assuntos sobre o Médio Oriente, a pedido e com os recursos de uma instituição
israelita de direita. Essencialmente, disse-me ele, deram-lhe os ficheiros que «provavam» que os
palestinianos não existiam e ela escreveu-os. Não tenho forma de verificar esta alegação. Hertzberg
morreu em 2006 e Peters em 2015.
23. Essas obras são numerosas. Ver, por exemplo, Arnold Brumberg, Zion Before Zionism,
1838-1880 (Syracuse, Nova Iorque: Syracuse University Press, 1985); ou, numa forma
aparentemente mais sofisticada, o caracteristicamente polémico e tendencioso livro de Ephraim
Karsh, Palestine Betrayed (New Haven, CT: Yale University Press, 2011). Este livro faz parte de
um novo género de «saber» neoconservador, financiado, entre outros, pelo multimilionário, de
extrema-direita, da área financeira Roger Hertog, que recebe generosos agradecimentos no prefácio
ao livro de Karsh. Outra estrela neste firmamento neoconservador, Michael Doran, do Instituto
Hudson, de cujo conselho de administração Hertog é membro, é igualmente generoso nos seus
agradecimentos a Hertog no prefácio ao seu livro Ike’s Gamble: America’s Rise to Dominance in
the Middle East (Nova Iorque: Simon and Schuster, 2016).
24. As atitudes públicas americanas para com a Palestina têm sido moldadas pelo desdém
generalizado por árabes e muçulmanos espalhado por Hollywood e pelos meios de comunicação,
tal como é demonstrado por Jack Shaheen em livros como Reel Bad Arabs: How Hollywood
Vilifies a People (Nova Iorque: Olive Branch Press, 2001), e por tropos similares específicos da
Palestina e dos palestinianos. Noga Kadman, Erased from Space and Consciousness: Israel and the
Depopulated Palestinian Villages of 1948 (Bloomington: Indiana University Press, 2015) mostra a
partir de extensas entrevistas e de outras fontes que atitudes similares criaram raízes profundas nas
mentes de muitos israelitas.
25. M. M. Silver, Our Exodus: Leon Uris and the Americanization of Israel’s Founding Story
(Detroit: Wayne State University Press, 2010), analisa o impacto do livro e do filme na cultura
popular Americana. Amy Kaplan argumenta que o romance e o filme desempenharam um papel
fundamental na americanização do sionismo. Ver o seu artigo «Zionism as Anticolonialism: The
Case of Exodus», American Literary History 25, n.º 4 (1 de dezembro de 2013): 870-95, e, mais
importante, o capítulo 2 do seu livro Our American Israel: The Story of an Entangled Alliance
(Cambridge, MA: Harvard University Press, 2018), 58-93.
26. Ver Zachary J. Foster, «What’s a Palestinian: Uncovering Cultural Complexities», Foreign
Affairs, 12 de março de 2015, http://www.foreignaffairs.com/articles/143249/zachary-j-
foster/whats-a-palestinian. Perspetivas similares são fortemente defendidas por importantes
financiadores políticos, como o multimilionário Sheldon Adelson, magnata dos casinos, e o maior
financiador individual do Partido Republicano há vários anos consecutivos, que afirmou que «os
palestinianos são um povo inventado». Durante todas as «primárias do dinheiro» anteriores às
eleições presidenciais, orquestrou sempre o espetáculo indecoroso de pôr possíveis candidatos
republicanos a fazerem tudo o que ele dizia. Ver Jason Horowitz, «Republican Contenders Reach
Out to Sheldon Adelson, Palms Up», New York Times, 27 de abril de 2015,
http://www.nytimes.com/2015/04/27/us/politics/republican-contenders-reach-out-to-sheldon-
adelson-palms-up.html; e Jonathan Cook, «The Battle Between American-Jewish Political Donors
Heats Up», Al-Araby, 4 de maio de 2015,
https://mail.google.com/mail/u/0/#label/Articles/14d22f412e42dbf1. Um dos maiores financiadores
de Trump, Adelson obteve a sua recompensa quando, em dezembro de 2017, os Estados Unidos
reconheceram Jerusalém como capital de Israel, transferindo depois a embaixada dos EUA para lá.
27. Vladimir (posteriormente Ze’ev) Jabotinsky, «The Iron Wall: We and the Arabs»,
inicialmente publicado em russo com o título «O Zheleznoi Stene» em Rassvyet, 4 de novembro de
1923.
28. A Guerra dos Cem Anos original, entre a casa dos Plantagenetas em Inglaterra e a dinastia
dos Valois em França, durou na verdade 116 anos, entre 1337 e 1453.
29. Entre estes, incluem-se Palestinian Identity; The Iron Cage; Under Siege: PLO
Decisionmaking During the 1982 War, ed. rev. (Nova Iorque: Columbia University Press, 2014); e
Brokers of Deceit: How the US Has Undermined Peace in the Middle East (Boston: Beacon Press),
2013.
30. Baron, que foi o Professor Nathan L. Miller de História Judaica, Literatura e Instituições na
Universidade de Columbia entre 1929 e 1963, e é visto como o maior historiador judeu do século
XX, ensinou o meu pai, Ismail Khalidi, que aí foi estudante de pós-graduação em finais da década
de 1940 e inícios da década de 1950. Quatro décadas depois, Baron disse-me que se lembrava do
meu pai, e que tinha sido um bom aluno, ainda que, dada a sua infalível cortesia e o seu bom
caráter, ele possa ter estado simplesmente a tentar ser amável.
31. Explorei as más decisões tomadas pelos líderes do movimento nacional palestiniano e as
fortes dificuldades que enfrentavam no meu livro The Iron Cage.
Capítulo 1
1. Esta citação é geralmente atribuída a Arthur James Balfour, e parece realmente dele.
2. Para mais pormenores, ver Roger Owen, ed., Studies in the Economic and Social History of
Palestine in the 19th and 20th Centuries (Londres: Macmillan, 1982).
3. Ver Ben Fortna, Imperial Classroom: Islam, the State, and Education in the Late Ottoman
Empire (Oxford: Oxford University Press, 2002); e Selçuk Somel, The Modernization of Public
Education in the Ottoman Empire, 1839-1908: Islamization, Autocracy, and Discipline (Leiden:
Brill, 2001); assim, em 1947, quase 45 por cento da população árabe em idade escolar e a grande
maioria dos rapazes e raparigas urbanos frequentavam a escola, numa comparação favorável
relativamente à situação nos países árabes vizinhos: A. L. Tibawi, Arab Education in Mandatory
Palestine: A Study of Three Decades of British Administration (Londres: Luzac, 1956), tabelas,
270-71. As bases para estes progressos na educação foram lançadas na era otomana. Ver também
R. Khalidi, The Iron Cage, 14-16; e Ami Ayalon, Reading Palestine: Printing and Literacy, 1900-
1948 (Austin: University of Texas Press, 2004).
4. Os contrastes entre as terras altas e a costa são um dos temas em Salim Tamari, Mountain
Against the Sea: Essays on Palestinian Society and Culture (Oakland: University of California
Press, 2008). Tamari atribui esta visão a Albert Hourani: ver palestra de Hourani de 1985 «Political
Society in Lebanon: A Historical Introduction», http://lebanesestudies.com/wp-
content/uploads/2012/04/c449fe11.-A-political-society-in-Lebanon-Albert-Hourani-1985.pdf. Ver
também Sherene Seikaly, Men of Capital: Scarcity and Economy in Mandate Palestine (Stanford,
CA: Stanford University Press, 2016); Abigal Jacobson, From Empire to Empire: Jerusalem
Between Ottoman and British Rule (Syracuse, Nova Iorque: Syracuse University Press, 2011);
Mahmoud Yazbak, Haifa in the Late Ottoman Period, 1864-1914: A Muslim Town in Transition
(Leiden: Brill, 1998); e May Seikaly, Haifa: Transformation of an Arab Society, 1918-1939
(Londres: I. B. Tauris, 1995).
5. Estes desenvolvimentos são explorados ao pormenor em R. Khalidi, Palestinian Identity. Ver
também Muhammad Muslih, The Origins of Palestinian Nationalism (Nova Iorque: Columbia
University Press, 1988); e Ami Ayalon, Reading Palestine.
6. Uma abundância de estudos mostra atualmente o alto nível de integração das comunidades
mizrahi e sefarditas no seio da sociedade palestiniana, apesar dos ocasionais atritos e do
antissemitismo muitas vezes propagado pelos missionários cristãos europeus. Ver Menachem
Klein, Lives in Common: Arabs and Jews in Jerusalem, Jaffa, and Hebron (Londres: Hurst, 2015);
Gershon Shafir, Land, Labor, and the Origins of the Israeli-Palestinian Conflict 1882-1914
(Cambridge: Cambridge University Press, 1989); Zachary Lockman, Comrades and Enemies: Arab
and Jewish Workers in Palestine, 1906-1948 (Oakland: Universidade da Califórnia, 1996); Abigail
Jacobson, From Empire to Empire. Ver também Gabriel Piterberg, «Israeli Sociology’s Young
Hegelian: Gershon Shafir and the Settler-Colonial Framework», Journal of Palestine Studies 44,
n.º 3 (primavera de 2015): 17-38.
7. A melhor breve refutação do que foi em tempos um paradigma generalizado do «declínio»
das sociedades do Médio Oriente é Roger Owen, «The Middle East in the Eighteenth Century – An
“Islamic” Society in Decline? A Critique of Gibb and Bowen’s Islamic Society and the West»,
Bulletin (British Society for Middle Eastern Studies) 3, n.º 2 (1976): 110-17.
8. Citando apenas o domínio da demografia, a obra de Justin McCarthy, The Population of
Palestine: Population Statistics of the Late Ottoman Period and the Mandate (Nova Iorque:
Columbia University Press, 1990), é um exemplo de um trabalho baseado sobretudo em fontes
arquivísticas otomanas para o período anterior a 1918, e que põe termo aos mitos do vazio e da
esterilidade da Palestina antes de os «milagrosos» efeitos da colonização sionista se terem
começado a fazer sentir.
9. Entre as obras mais importantes sobre estas transformações na Palestina, contam-se
Alexander Schölch, Palestine in Transformation, 1856-1882: Studies in Social, Economic, and
Political Development, trad. William C. Young e Michael C. Gerrity (Washington, DC: Instituto de
Estudos Palestinianos, 1993); Beshara Doumani, Rediscovering Palestine: Merchants and Peasants
in Jabal Nablus, 1700-1900 (Oakland: University of California Press, 1995); e Owen, Studies in
the Economic and Social History of Palestine in the 19th and 20th Centuries.
10. Linda Schatkowski Schilcher, «The Famine of 1915-1918 in Greater Syria», em Problems
of the Modern Middle East in Historical Perspective, ed. John Spagnolo (Reading, Reino Unido:
Ithaca Press, 1912), 234-54. Para o impacto traumático duradouro do horrível sofrimento que a
população suportou durante a guerra, ver Samuel Dolbee, «Seferberlik and Bare Feet: Rural
Hardship, Citied Dreams, and Social Belonging in 1920s Syria», Jerusalem Quarterly, n.º 51
(outono de 2012), 21-35.
11. Cerca de 1,5 milhões de arménios pereceram no genocídio que começou em abril de 1915.
Mesmo sem incluir essas vítimas, os outros 1,5 milhões de mortes otomanas durante a guerra
foram, em proporção ao total da população, quase o dobro dos outros números mais altos, os de
França e Alemanha, com 4,4 e 4,3 por cento da população total, respetivamente. Outros números
põem o total de mortes otomanas durante a guerra a chegar aos cinco milhões, ou cerca de 25 por
cento da população.
12. Estes números são de Edward Erikson, Ordered to Die: A History of the Ottoman Army in
World War I (Westport, CT: Greenwood Press, 2001), 211. Ver também Hikmet Ozdemir, The
Ottoman Army, 1914-1918: Disease and Death on the Battlefield (Salt Lake City: University of
Utah Press, 2008); Kristian Coates Ulrichsen, The First World War in the Middle East (Londres:
Hurst, 2014); e Yigit Akin, When the War Came Home: The Ottomans’ Great War and the
Devastation of an Empire (Stanford, CA: Stanford University Press, 2018).
13. McCarthy, The Population of Palestine, 25-27. Em jeito de contraste, McCarthy salienta
que, apesar das suas graves baixas de guerra, só 1 por cento da população francesa se perdeu
durante a Primeira Guerra Mundial, durante a qual Inglaterra e Alemanha «não sofreram qualquer
perda de população total».
14. ‘Anbara Salam Khalidi, Memoirs of an Early Arab Feminist: The Life and Activism of
Anbara Salam Khalidi (Londres: Pluto Press, 2013), 68-69.
15. Husayn Fakhri al-Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat: Mudhakkirat Husayn Fakhri al-
Khalidi [A era da hipocrisia (literalmente: das subtilezas) acabou: Memórias de Husayn Fakhri al-
Khalidi] (Amã: Dar al-Shuruq, 2014), 1:75.
16. O impacto que a execução do seu noivo teve na minha tia é descrito em Memoirs of an
Early Arab Feminist, 63-67. ‘Abd al-Ghani al-‘Uraysi era coeditor do influente jornal de Beirute
al-Mufid e um eminente intelectual arabista. As reminiscências de ‘Anbara Salam Khalidi e o seu
livro de memórias foram algumas das principais fontes para um artigo que escrevi sobre ele e o seu
jornal: «‘Abd al-Ghani al-‘Uraisi and al-Mufid: The Press and Arab Nationalism Before 1914», em
Intellectual Life in the Arab East, 1890-1939, ed. Marwan Buheiri (Beirute: American University
of Beirut Press, 1981), 38-61.
17. Entrevistas, Walid Khalidi, Cambridge, MA, 12 de outubro de 2014 e 19 de novembro de
2016. Quando era novo, o meu primo direito Walid, nascido em 1925, ouviu a história do
deslocamento da família durante a guerra contada pelo nosso avô. Alguns pormenores são
confirmados pelas memórias do nosso tio, Husayn Fakhri al-Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat,
1:75.
18. Entrevista a Fatima al-Khalidi Salam, Beirute, 20 de março de 1981.
19. ‘Arif Shehadeh (mais conhecido como ‘Arif al-‘Arif) é um dos três soldados da Palestina
cujas lancinantes memórias da Primeira Guerra Mundial são evocadas por Salim Tamari em Year of
the Locust: A Soldier’s Diary and the Erasure of Palestine’s Ottoman Past (Oakland: University of
California Press, 2011).
20. Ver o imaginativo relato de Raja Shehadeh sobre a odisseia do seu tio-bisavô, Najib Nassar:
A Rift in Time: Travels with my Ottoman Uncle (Nova Iorque: OR Books, 2011). Ver também o
romance de Nassar, que relata as suas aventuras de forma semificcional e semiautobiográfica:
Riwayat Muflih al-Ghassani [A história de Muflih al-Ghassani] (Nazaré: Dar al-Sawt, 1981).
21. Ver Noha Tadros Khalaf, Les Mémoires de ‘Issa al-‘Issa: Journaliste et intellectuel
palestinien (1878-1950) (Paris: Karthala, 2009), 159-75.
22. Para as motivações dos britânicos, ver Jonathan Schneer, The Balfour Declaration: The
Origins of the Arab-Israeli Conflict (Londres: Bloomsbury, 2010); Henry Laurens, La question de
Palestine, vol. 1, 1799-1922: L’invention de la Terre sainte (Paris: Fayard, 1999); e James Renton,
The Zionist Masquerade: The Birth of the Anglo-Zionist Alliance, 1914-1918 (Londres: Palgrave-
Macmillan, 2007). Ver também A. L. Tibawi, Anglo-Arab Relations and the Question of Palestine,
1914-1921 (Londres: Luzac, 1977), 196-239; Leonard Stein, The Balfour Declaration (Londres:
Valentine, Mitchell, 1961); e Mayir Vereté, «The Balfour Declaration and Its Makers», Middle
Eastern Studies 6 (1970): 416-42.
23. Este é um dos argumentos centrais do meu livro British Policy Towards Syria and Palestine,
1906-1914: A Study of the Antecedents of the Husayn-McMahon Correspondence, the Sykes-Picot
Aggreement, and the Balfour Declaration, Monografias do St. Antony’s College sobre o Médio
Oriente (Reading, Reino Unido: Ithaca Press, 1980).
24. A afirmação de Leon Trotsky, comissário bolchevique para os Negócios Estrangeiros, após
ter aberto os arquivos diplomáticos czaristas e revelado estes secretos acordos de guerra anglo-
franco-russos nesta ocasião, é reproduzida em Soviet Documents on Foreign Policy, 1917-1924, ed.
Jane Degras, vol. 1 (Oxford: Oxford University Press, 1951).
25. Relatado na monumental biografia de Yehuda Reinharz, Chaim Weizmann: The Making of a
Statesman (Oxford: Oxford University Press, 1993), 356-57.
26. Ronald Storrs, Orientations (Londres: Ivor Nicholson and Watson, 1937). As memórias de
Ronald Storrs, primeiro governador militar britânico de Jerusalém, referem o estrito controlo que
os britânicos exerciam sobre a imprensa e sobre todas as formas de atividade política árabe na
Palestina: 327ff. Storrs tinha servido como censor da imprensa local no seu cargo anterior como
secretário oriental do alto comissário britânico no Egito.
27. ‘Abd al-Wahhab al-Kayyali, Watha’iq al-muqawama al-filistiniyya al-‘arabiyya did al-
ihtilal al-britani wal-sihyuniyya 1918-1939 [Documentos da resistência palestiniana árabe à
ocupação britânica e ao sionismo, 1918-1939] (Beirute: Instituto de Estudos Palestinianos, 1968),
1-3.
28. Edição especial do Filastin, 19 de maio de 1914, 1.
29. Para mais pormenores sobre estas compras de terras e os conflitos armados daí resultantes,
ver R. Khalidi, Palestinian Identity, 89-117. Ver também Shafir, Land, Labor, and the Origins of
Israeli-Palestinian Conflict.
30. Para mais pormenores sobre esta evolução, ver R. Khalidi, Palestinian Identity,
principalmente o capítulo 7, 145-76.
31. Isto foi demonstrado de forma impressionante por Margaret Macmillan, Paris, 1919: Six
Months That Changed the World (Nova Iorque: Random House, 2002).
32. Ver Erez Manela, The Wilsonian Moment: Self-Determination and the International Origins
of Anticolonial Nationalism (Nova Iorque: Oxford University Press, 2007). Manela atribui
corretamente a Wilson um importante papel no desencadear (involuntário) do espírito de rebelião
nacionalista contra os poderes coloniais no rescaldo imediato da Primeira Guerra Mundial, mas não
reconhece suficientemente a dimensão do contributo bolchevique para este processo.
33. «Ghuraba’ fi biladina: Ghaflatuna wa yaqthatuhum» [Estrangeiros na nossa própria terra: a
nossa sonolência e a vigilância deles], Filastin, 5 de março de 1929, 1.
34. Ao todo, nove diários e livros autobiográficos de memórias foram publicados em árabe só
pelo Instituto de Estudos Palestinianos desde 2005: Muhammad ‘Abd al-Hadi Sharruf, 2017;
Mahmud al-Atrash, 2016; al-Maghribi, 2015; Gabby Baramki, 2015; Hanna Naqqara, 2011;
Turjuman e Fasih, 2008; Khalil Sakakini, 8 vols., 2005-2010; Rashid Hajj Ibrahim, 2005; Wasif
Jawhariyya, 2005. O instituto publicou também as memórias de Reja-i Busailah, em inglês, em
2017. Entre estas obras, as de Sharruf, que era polícia; al-Maghribi, trabalhador e organizador
comunista; e Turjuman e Fasih, homens que se alistaram no exército otomano na Primeira Guerra
Mundial, representam pontos de vista exteriores às elites. Ver também as importantes memórias de
uma figura política central do período do Mandato, Muhammad ‘Izzat Darwaza, Mudhakkirat,
1887-1984 (Beirute: Dar al-Gharb al-Islami, 1993).
35. Uma das poucas obras a basear-se nas histórias orais da revolta de 1936-39 é a de Ted
Swedenburg, Memories of Revolt: The 1936-1939 Rebellion and the Palestinian National Past
(Mineápolis: University of Minnesota Press, 1995).
36. R. Khalidi, Palestinian Identity, 225, n.º 32; e Noha Khalaf, Les Mémoires de ‘Issa al-‘Issa,
58. O livro de Khalaf faz referência a artigos do meu avô e a muitos artigos e poemas de al-‘Issa
que refletem a evolução do sentido de identidade palestiniano.
37. Ouvi versões quase idênticas desta e de outras histórias da minha tia Fatima (entrevista,
Beirute, 20 de março de 1981) e do tio da minha mulher, Raja al-‘Isa, filho de ‘Isa al-‘Isa, que foi
também editor de um jornal (entrevista, Amã, 7 de julho de 1996).
38. R. Khalidi, Palestinian Identity, capítulo 6, 119-44, aborda o tratamento do sionismo na
imprensa árabe.
39. Storrs, Orientations, 341. O discurso, num jantar que deu em honra de Weizmann e dos
membros da Comissão Sionista, foi relatado por Storrs. Entre os presentes, incluíam-se tanto o
autarca como o mufti de Jerusalém, bem como várias outras importantes figuras políticas e
religiosas palestinianas.
40. Tom Segev, One Palestine, Complete (Nova Iorque: Metropolitan Books, 2000), 404.
41. Uma das grandes ironias desta e de muitas outras conquistas coloniais é que, dos cinco
regimentos de infantaria da 24.ª Divisão francesa que venceram as forças árabes na Batalha de
Maysalun a 23 de julho de 1920, e no dia seguinte ocuparam Damasco, apenas um era etnicamente
francês: dois eram senegaleses, um era argelino e outro era marroquino. Utilizar desta forma os
seus súbditos coloniais foi um elemento crucial na expansão imperial europeia. Esta tática de
dividir para reinar foi igualmente importante em projetos coloniais na Irlanda, na América do
Norte, na Índia, no Norte e Sul de África, e também na Palestina e no restante Médio Oriente.
42. Dois excelentes artigos recentes em Journal of Palestine Studies 46, n.º 2 (inverno de 2017)
abordam este tema: Lauren Banko, «Claiming Identities in Palestine: Migration and Nationality
Under the Mandate», 26-43; e Nadim Bawalsa, «Legislating Exclusion: Palestinian Migrants and
Interwar Citizenship», 44-59.
43. George Antonius, em The Arab Awakening (Londres: Hamish Hamilton, 1938), foi o
primeiro a revelar os pormenores das promessas britânicas aos árabes durante a guerra, e a publicar
os documentos em que estas estavam inscritas. Isto obrigou um embaraçado governo britânico a
publicar toda a correspondência: Grã-Bretanha, Documentos Parlamentares, Cmd. 5974, Report of
a Committee Set Up to Consider Certain Correspondence Between Sir Henry McMahon [His
Majesty’s High Commissioner in Egypt] and the Sharif of Mecca em 1915 and 1916 (Londres: His
Majesty’s Stationery Office, 1939).
44. A obtenção por Balfour do alto cargo de secretário-geral para a Irlanda, inferior apenas ao
de tenente-mor, era geralmente atribuída à sua relação familiar com o primeiro-ministro Robert
Cecil, Lorde Salisbury, daí a expressão popular «o Bob é teu tio».
45. E. L. Woodward e R. Butler, eds., Documents on British Foreign Policy, 1919-1939,
primeira série, 1919-1929 (Londres: Her Majesty’s Stationery Office, 1952), 340-48.
46. O caso de George Antonius foi um de muitos exemplos flagrantes neste aspeto. Formado
em Cambridge, e claramente muito qualificado, era constantemente esquecido para os altos cargos
na administração do Mandato em favor de oficiais britânicos medíocres. Ver Susan Boyle, Betrayal
of Palestine: The Story of George Antonius (Boulder, CO: Westview, 2001); e Sahar Huneidi, A
Broken Trust: Sir Herbert Samuel, Zionism, and the Palestinians (Londres: I.B. Tauris, 2001), 2.
47. Stein, The Land Question in Palestine, 210-11.
48. Zeev Sternhell, The Founding Myths of Israel, 217. Segundo Sternhell, a proporção entre a
entrada de capital e o PIL «não desceu abaixo dos 33 por cento em nenhum dos anos anteriores à
Segunda Guerra Mundial».
49. Os dados demográficos podem ser encontrados em W. Khalidi, ed., From Haven to
Conquest, apêndice 1, 842-43.
50. Discurso à Federação Sionista Inglesa, 19 de setembro de 1919, citado em Nur Masalha,
Expulsion of the Palestinians: The Concept of «Transfer» in Zionist Political Thought, 1882-1948
(Washington, DC: Instituto de Estudos Palestinianos, 1992), 41.
51. Edwin Black, The Transfer Agreement: The Untold Story of the Secret Agreement Between
the Third Reich and Jewish Palestine (Nova Iorque: Macmillan, 1984).
52. Isto faz parte de uma passagem dos seus reveladores diários, citada em Shabtai Teveth, Ben
Gurion and the Palestine Arabs: From Peace to War (Nova Iorque: Oxford University Press,
1985), 166-68.
53. Para mais pormenores, ver R. Khalidi, The Iron Cage, 54-62. A «entrevista de emprego» é
descrita nas pp. 59-60.
54. Como os britânicos fizeram isto é o tema principal do capítulo 2 de The Iron Cage, 31-64.
55. Este número baseia-se em estatísticas fornecidas por W. Khalidi, From Haven to Conquest,
apêndice 4, 846-49; e Matthew Hughes, Britain’s Pacification of Palestine: The British Army, the
Colonial State and the Arab Revolt, 1936-39 (Cambridge: Cambridge University Press, 2019), 377-
84.
56. Para mais pormenores sobre esta repressão, ver Matthew Hughes, «The Banality of
Brutality: British Armed Forces and the Repression of the Arab Revolt in Palestine, 1936-39»,
English Historical Review 124, n.º 507 (abril de 2009), 313-54.
57. Baruch Kimmerling e Joel S. Migdal, The Palestinian People: A History (Cambridge, MA:
Harvard University Press, 2003), 119.
58. Para uma arrepiante descrição das arbitrárias execuções sumárias de palestinianos por
unidades mistas de soldados britânicos e milicianos sionistas sob o comando de Orde Wingate, ver
Segev, One Palestine, Complete, 429-32. Wingate surge como um psicopata sanguinário na
descrição de Segev, que acrescenta que alguns dos seus homens o consideravam secretamente
louco. O Ministro da Defesa israelita disse, posteriormente, o seguinte sobre ele: «Os ensinamentos
de Orde Charles Wingate, o seu carácter e liderança, foram uma pedra angular para muitos dos
comandantes do Haganah, e a sua influência é visível na doutrina de combate das Forças de Defesa
de Israel.»
59. Segev, One Palestine, Complete, 425-26. Muitos veteranos da campanha irlandesa,
incluindo antigos membros dos famosos Black and Tans, foram recrutados para as forças de
segurança britânicas na Palestina. Ver Richard Cahill, «“Going Berserk”: “Black and Tans” in
Palestine», Jerusalem Quarterly 38 (verão de 2009), 59-68.
60. As memórias de Ernie O’Malley, um alto comandante do IRA durante a Guerra da
Independência da Irlanda, On Another Man’s Wound (Cork: Mercier Press, 2013), apresentam um
retrato detalhado dos métodos brutais utilizados pelos britânicos entre 1919 e 1921 na sua vã
tentativa de dominar a insurreição irlandesa, incluindo queimar casas, edifícios públicos, leitarias e
outros recursos económicos vitais em retaliação pelos ataques contra soldados, polícias e auxiliares
armados britânicos.
61. H. Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1. A secção relativa ao seu exílio nas Seicheles
está em 247ff.
62. Ibid., vol. 1, 247.
63. A extensão do controlo exercido pelos rebeldes sobre grande parte da Palestina é avaliada
num excelente artigo de Charles Anderson, «State Formation from Below and the Great Revolt in
Palestine», Journal of Palestine Studies 47, n.º 1 (outono de 2017): 39-55.
64. Relatório do general Sir Robert Haining, 30 de agosto de 1938, citado em Anne Lesch,
Arab Politics in Palestine, 1917-1939: The Frustration of a National Movement (Ithaca, Nova
Iorque: Cornell University Press, 1979), 223.
65. Arquivos Nacionais Britânicos, Documentos do Conselho de Ministros, CAB 24/282/5,
Palestina, 1938, «Allegations against British Troops: Memorandum by the Secretary of State for
War», 16 de janeiro de 1939, 2.
66. O seu exílio e a queima da sua casa são descritos em Khalaf, Les Mémoires de ‘Issa
al-‘Issa, 227-32.
67. Ibid., 230.
68. Para mais pormenores sobre a amplitude da colaboração entre os britânicos e os sionistas
durante a revolta, ver Segev, One Palestine, Complete, 381, 426-32.
69. Arquivos Nacionais Britânicos, Documentos do Conselho de Ministros, CAB 24/283,
«Committee on Palestine: Report», 30 de janeiro de 1939, 24.
70. Ibid., 27.
71. Foi esta a amarga conclusão do Dr. Husayn após os factos, ao rever o historial de promessas
britânicas quebradas no seu livro de memórias, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 280.
72. A reunião do conselho de ministros em que a posição britânica na Conferência do Palácio
de St. James foi decidida é discutida em Boyle, Betrayal of Palestine, 13.
73. Para mais pormenores sobre as formas como os compromissos cruciais feitos pelos
britânicos no Livro Branco foram subvertidos, ver R. Khalidi, The Iron Cage, 35-36, 114-15.
74. H. Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 350-51.
75. Ibid., 300-305. Na sua criteriosa abordagem a este tema, ver a magistral obra de Bayan al-
Hout al-Qiyadat wal-mu’assassat al-siyasiyya fi Filastin 1917-1948 [Lideranças e instituições
políticas na Palestina, 1917-1948] (Beirute: Instituto de Estudos Palestinianos, 1981), 397, que
chega à mesma conclusão.
76. Ibid., 352-56.
77. Ibid., vol. 1, 230ff. Esta secção das memórias, que relata interações com a Comissão Peel,
inclui um dos muitos exemplos dados pelo Dr. Husayn do viés britânico em favor dos sionistas.
78. Escreveu também um volume de memórias em inglês sobre o seu exílio nas Seicheles,
repleto de observações críticas sobre os britânicos, intitulado Exiled from Jerusalem: The Diaries
of Hussein Fakhri al-Khalidi. Este livro será publicado em breve pela Bloomsbury Press.
79. H. Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 110-14.
80. Ibid., vol. 1, 230.
81. Citado em Masalha, Expulsion of the Palestinians, 45.
82. «The King-Crane Commission Report, August 28, 1919», http://www.hri.org/docs/king-
crane/syria-recomm.html.
83. George Orwell, «In Front of Your Nose», Tribune, 22 de março de 1946, reproduzido em
The Collected Essays, Journalism, and Letters of George Orwell, vol. 4, In Front of Your Nose,
1945-50, ed. Sonia Orwell e Ian Angus (Nova Iorque: Harcourt Brace, 1968), 124.
84. O oficial foi E. Mills, durante o seu testemunho secreto perante a Comissão Peel, citado em
Leila Parson, «The Secret Testimony to the Peel Commission: A Preliminary Analysis», Journal of
Palestine Studies 49, n.º 1 (outono de 2019).
85. O melhor estudo de como a Comissão de Mandatos Permanentes da Sociedade das Nações
supervisionava o Mandato da Palestina está em Susan Pedersen, The Guardians: The League of
Nations and the Crisis of Empire (Nova Iorque: Oxford University Press, 2015).
86. O mito de que os britânicos foram pró-árabes durante todo o período do Mandato,
acalentado pela historiografia sionista, é destruído por Segev em One Palestine, Complete.
87. Abordei esta questão de forma mais detalhada em The Iron Cage, 118-23.
Capítulo 2
1. https://unispal.un.org/DPA/DPR/unispal.nsf/0/07175DE9FA2DE563852568D3006E10F3.
2. A minha prima Leila, que nasceu em meados da década de 1920, contou-me isto num e-mail
pessoal no dia 18 de março de 2018, recordando que tinha de ficar acordada com a nossa avó para
lhe ligar o rádio.
3. O meu pai tornou-se posteriormente tesoureiro do instituto. A determinada altura, Habib
Katibah foi também secretário: Hani Bawardi, The Making of Arab-Americans: From Syrian
Nationalism to U.S. Citizenship (Austin: University of Texas Press, 2014), 239-95.
4. Para mais pormenores sobre o instituto, ver ibid.
5. Um artigo sobre a conclusão da viagem do meu pai pode ser encontrado em Filastin, 24 de
janeiro de 1948, «Tasrih li-Isma’il al-Khalidi ba’d awdatihi li-Amirka», [Declaração de Ismail al-
Khalidi após o seu regresso à América].
6. O meu avô teve ao todo nove filhos: sete rapazes e duas raparigas. O meu pai, nascido em
1915, era o mais novo.
7. Encontrei algumas cartas do Dr. Husayn entre os papéis do meu pai. O meu primo Walid
Khalidi conta, em «On Albert Hourani, the Arab Office and the Anglo-American Committee of
1946», Journal of Palestine Studies 35, n.º 1 (2005-6), 75, que também trocou correspondência
com o nosso tio durante o seu exílio, e que o mantinha abastecido de livros, algo que Dr. Husayn
refere com gratidão nos diários a publicar em língua inglesa sobre o seu exílio nas Seicheles,
Exiled from Jerusalem.
8. Mustafa Abbasi, «Palestinians Fighting Against Nazis: The Story of Palestinian Volunteers in
the Second World War», War in History (novembro de 2017): 1-23,
https://www.researchgate.net/publication/321371251_Palestinians_fighting_against_Nazis_The_
story_of_Palestinian_volunteers_in_the_Second_World_War.
9. Para o texto da declaração Biltmore, ver http://www.jewishvirtuallibrary.org/the-biltmore-
conference-1942.
10. Denis Charbit, em Retour à Altneuland: La traversée des utopias sionistes (Paris: Editions
de l’Eclat, 2018), 17-18, observa que a criação de um Estado judaico teve sempre uma presença
destacada nos escritos sionistas, desde os primeiros projetos utópicos sionistas de finais do século
XIX até ao estabelecido por Herzl no seu livro Altneuland.
11. Amy Kaplan, Our American Israel, apresenta a mais persuasiva e profunda análise do como
e do porquê de este esforço ter sido coroado de sucesso. Ver também a brilhante obra de Peter
Novick The Holocaust in American Life (Nova Iorque: Houghton Mifflin, 1999).
12. H. Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 434-36.
13. «The Alexandria Protocol», 7 de outubro de 1944, Department of State Bulletin, XVI, 411,
maio de 1947, http://avalon.law.yale.edu/20th_century/alex.asp. A Arábia Saudita e o Iémen
juntaram-se à Liga em 1945.
14. W. Khalidi, «On Albert Hourani», 60-79.
15. «The Case Against a Jewish State in Palestine: Albert Hourani’s Statement to the Anglo-
American Committee of Enquiry of 1946», Journal of Palestine Studies 35, n.º 1 (2005-6), 80-90.
16. Ibid., 86.
17. Ibid., 81.
18. R. Khalidi, The Iron Cage, 41-42, dá exemplos desse tratamento para com as delegações de
líderes palestinianos por parte de Sir Herbert Samuel em 1920, e também do primeiro-ministro
Ramsay MacDonald e do secretário colonial, Lorde Passfield, em 1930. Samuel disse ao grupo
anterior: «Reúno-me convosco apenas a título privado.»
19. O’Malley, On Another Man’s Wound, ilustra amplamente a complexidade da organização
centralizada que os nacionalistas irlandeses desenvolveram entre 1919 e 1921, durante a sua luta
com os britânicos.
20. Este organismo é também designado por Sayigh de Tesouro Nacional Árabe. O seu relato,
em que esta secção foi essencialmente baseada, foi publicado em duas partes: ver parte 1,
«Desperately Nationalist, Yusif Sayigh, 1944 to 1948», tal como foi contada e editada por
Rosemary Sayigh, Jerusalem Quarterly 28 (2006), 82; Yusif Sayigh, Sira ghayr muktamala
[Autobiografia incompleta] (Beirute: Riyad El-Rayyes, 2009), 227-60. Um livro de memórias
completo baseado nestes materiais, mas sem incluir alguns dos acontecimentos relatados nesta
seleção em duas partes, foi posteriormente editado e publicado pela sua esposa, a célebre
antropóloga Rosemary Sayigh: Yusif Sayigh: Arab Economist and Palestinian Patriot: A Fractured
Life Story (Cairo: American University of Cairo Press, 2015).
21. Metade dessa quantia destinava-se à aquisição de terras na Palestina: «100 Colonies
Founded: Established in Palestine by the Jewish National Fund», New York Times, 17 de abril de
1936, https://www.nytimes.com/1936/04/17/archives/100-colonies-founded-established-in-
palestine-by-jewish-national.html. Na década de 1990, o FNJ angariava cerca de 30 milhões de
dólares por ano nos Estados Unidos. No entanto, de acordo com uma investigação interna em 1996,
só cerca de 20 por cento desse dinheiro ia efetivamente para Israel; o restante era aparentemente
gasto na administração e em projetos de «programação israelita» e de «educação sionista» nos
Estados Unidos: Cynthia Mann, «JNF: Seeds of Doubt – Report Says Only Fifth of Donations Go
to Israel, but No Fraud Is Found», 26 de outubro de 1996, Jewish Telegraphic Agency, J.,
http://www.jweekly.com/article/full/4318/jnf-seeds-of-doubt-report-says-only-fifth-of-donations-
go-to-israel-but-no-/.
22. O meu tio foi exilado primeiro para as Seicheles e depois para Beirute. H. al-Khalidi, Mada
‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 418. Os britânicos permitiram que al-‘Alami regressasse à Palestina
quando o meu tio o fez em 1943, mas só em 1946 permitiram que Jamal al-Husayni, outro
importante líder, regressasse do exílio na Rodésia. Jamal al-Husayni conseguira evitar ser
capturado pelos britânicos em Jerusalém, em 1937, e acabou por chegar a Bagdade. Após a
reocupação do Iraque pelos britânicos em 1941, de acordo com as memórias da sua filha Serene,
ele e os seus camaradas que (ao contrário do mufti) tinham «rejeitado a possibilidade de ir para a
Alemanha… decidiram entregar-se aos britânicos» e foram detidos e encarcerados no Irão, sendo
depois transferidos para a Rodésia: Serene Husseini Shahid, Jerusalem Memories (Beirute: Naufal
Group, 2000), 126-27.
23. Sayigh, «Desperately Nationalist», 69-70.
24. Isto é evidente a partir do seu relato na primeira pessoa: «On Albert Hourani, the Arab
Office and the Anglo-American Committee of 1946».
25. H. al-Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1, 432-34. Os pormenores da sua viagem
foram relatados ao Dr. Husayn pelo próprio al-‘Alami.
26. H. al-Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 2, 33-35. Tratou-se do coronel Ernest
Altounyan, um cirurgião anglo-sírio-arménio, veterano condecorado da Primeira Guerra Mundial e
membro do Royal College of Surgeons, cuja entrada em Plarr’s Lives of the Fellows of the Royal
College of Surgeons, http://livesonline.rcseng.ac.uk/biogs/E004837b.htm, observa que, durante a
Segunda Guerra Mundial, «o seu papel oficial como médico foi um disfarce eficaz para as suas
atividades de conselheiro especializado em questões do Médio Oriente». Disse ao Dr. Husayn que
trabalhava nos serviços de informação militar. Curiosamente, eram ambos médicos de formação, e
agiam ambos na altura a título muito diferente. O Dr. Husayn nada diz sobre o historial do coronel,
nem sobre em que língua falaram um com o outro; H. al-Khalidi, Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 1,
431.
27. Sayigh, «Desperately Nationalist», 69-70.
28. Albert Hourani, «Ottoman Reform and the Politics of the Notables», em Beginnings of
Modernization in the Middle East: The Nineteenth Century, ed. William Polk e Richard Chambers
(Chicago: University of Chicago Press, 1968), 41-68. Ao escrever sobre os «notáveis», Hourani
sabia do que falava, uma vez que as suas aulas em Beirute, o seu trabalho de guerra para a Grã-
Bretanha no Cairo e os seus esforços em relação ao Departamento Árabe em Jerusalém o tinham
colocado em estreito contacto com muitos exemplares desse grupo ao longo de quase uma década.
29. Em ‘Ibrat Filastin [A lição da Palestina] (Beirute: Dar al-Kashaf, 1949), Musa al-‘Alami
sugere realmente que a implementação do esquema do Crescente Fértil seria uma resposta
adequada à perda da Palestina, o que o Dr. Husayni entende como uma explicação para o apoio do
governo iraquiano a al-‘Alami: Mada ‘ahd al-mujamalat, vol. 2, 30.
30. Avi Shlaim, Collusion Across the Jordan: King Abdullah, the Zionist Movement and the
Partition of Palestine (Nova Iorque: Columbia University Press, 1988), analisa estas negociações
ao pormenor.
31. Walid Khalidi contou-me como descobriu a «porta dos fundos» deste palácio numa visita a
Amã em inícios da década de 1950: comunicação pessoal com o autor, 16 de janeiro de 2016. Às
vezes, os «conselhos» britânicos eram transmitidos através de intermediários, como membros da
família real.
32. Para a carta de Roosevelt a confirmar estes compromissos, datada de 5 de abril de 1945, ver
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Foreign Relations of the United States: Diplomatic
Papers [doravante FRUS], 1945. The Near East and Africa, vol. 8 (1945),
http://avalon.law.yale.edu/20th_century/decad161.asp. Reafirmava o compromisso do governo dos
Estados Unidos relativamente à Palestina «de não tomar qualquer decisão acerca da situação básica
nesse país sem consultar amplamente tanto os árabes como os judeus», acrescentando ainda que o
presidente «não tomaria qualquer ação, na minha qualidade de chefe do ramo executivo deste
governo, que pudesse revelar-se hostil para com o povo árabe». Para mais pormenores, ver R.
Khalidi, Brokers of Deceit: How the US Has Undermined Peace in the Middle East (Boston:
Beacon Press, 2013), 20-25.
33. Mais uma vez, a referência básica é a extensa obra sobre este tema de Walid Khalidi,
nomeadamente o seu artigo inovador «Plan Dalet: Master Plan for the Conquest of Palestine»,
reproduzido em Journal of Palestine Studies 18, n.º 1 (outono de 1988): 4-33. O artigo foi
originalmente publicado em Middle East Forum em 1961. Outros historiadores confirmaram,
entretanto, a maioria das suas descobertas básicas, mesmo aqueles que discordam dele em alguns
pontos, como Benny Morris, The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited, 2.ª ed.
(Cambridge: Cambridge University Press, 2004). Ver também Simha Flapan, The Birth of Israel:
Myth and Reality (Nova Iorque: Pantheon, 1987); Tom Segev, 1949: The First Israelis, 2.ª ed.
(Nova Iorque: Henry Holt, 1998); e Ilan Pappe, The Ethnic Cleansing of Palestine, 2.ª ed.
(Londres: Oneworld, 2007).
34. «Desperately Nationalist», 82. As memórias de Sayigh incluem um relato muito mais
completo das suas experiências neste período. Ver Yusif Sayigh, Sira ghayr muktamala, 227-60.
35. Walid Khalidi, Dayr Yasin: al-Jum’a, 9/4/1948 [Dayr Yasin: Sexta-feira, 9/4/1948]
(Beirute: Instituto de Estudos Palestinianos, 1999), tabela, 127.
36. Nir Hasson, «A Fight to the Death and Betrayal by the Arab World», Haaretz, 5 de janeiro
de 2018, https://www.haaretz.com/middle-east-news/palestinians/.premium.MAGAZINE-the-most-
disastrous-24-hours-in-palestinian-history-1.5729436.
37. A melhor descrição da decisão dos Estados árabes de entrar na Palestina encontra-se em
Walid Khalidi, «The Arab Perspective», em The End of the Palestine Mandate, ed. W. R. Louis e
Robert Stookey (Austin: University of Texas Press, 1986), 104-36.
38. O destino destas aldeias é descrito ao pormenor em Walid Khalidi, ed., All That Remains:
The Palestinian Villages Occupied and Depopulated by Israel in 1948 (Washington, DC: Instituto
de Estudos Palestinianos, 1992).
39. A casa em ruínas é tema de um artigo de sessenta e duas páginas sobre arquitetura, escrito
em hebraico, que mostra as fases da sua evolução ao longo do tempo e apresenta imagens do seu
estado atual. A casa não foi destruída, como aconteceu com a maioria das outras casas árabes na
área que se tornou Israel em 1948, devido ao seu lugar venerável na história sionista. Antes de o
meu avô a comprar, um grupo dos primeiros imigrantes sionistas, sob a liderança de Israel Belkind
e do seu irmão Shimshon, um grupo conhecido como Bilu’im, arrendou quartos na casa durante
alguns meses em 1882, partindo depois para fundar Rishon LeZion, a segunda colónia agrícola
sionista na Palestina. O edifício é hoje conhecido como Casa Bilu’im. Estou grato à Dra. Nili
Belkind, sobrinha-neta de Israel Belkind, por esta informação, e por me ter indicado o ensaio de
Lihi Davidovich e Tamir Lavi, intitulado «Tik Ti’ud: Bet Antun Ayub-Bet Ha-Bilu’im» [Ficheiro
Documental: A Casa de Anton Ayyub – Casa dos Bilu’im], 2005/2006, que se encontra no site da
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Telavive: http://www.batei-beer.com/aboutus.html.
40. Uma das melhores descrições desta transformação encontra-se em Tom Segev, 1949: The
First Israelis (Nova Iorque: The Free Press, 1986). Ver também Ibrahim Abu-Lughod, The
Transformation of Palestine (Evanston, IL: Northwestern University Press, 1971).
41. É o título de um dos capítulos em Avi Shlaim, The Politics of Partition: King Abdullah, the
Zionists and Palestine, 1921-1951 (Londres: Oxford University Press), 18, que é uma edição
abreviada e de capa mole de Collusion Across the Jordan.
42. Mary Wilson explica com precisão de que forma os britânicos e ‘Abdullah planeavam fazer
isto: King Abdullah, Britain and the Making of Jordan (Cambridge: Cambridge University Press,
1987), 166-67ff.
43. Shlaim, Collusion Across the Jordan, 139. Shlaim explica ao pormenor os elementos desta
complexa conspiração contra os palestinianos.
44. Os primeiros a destruirem este mito foram autores israelitas, incluindo Flapan, The Birth of
Israel; Tom Segev, 1949: The First Israelis; e Avi Shlaim, The Iron Wall: Israel and the Arab
World, que foram descritos como «historiadores revisionistas» ou «novos» porque desafiavam a
incrustada versão aceite sobre a fundação do Estado judaico.
45. Avi Shlaim, Collusion Across the Jordan é indispensável para entender como isto
aconteceu. Ver também Mary Wilson, King Abdullah, Britain and the Making of Jordan.
46. Eli Barnavi, «Jewish Immigration from Eastern Europe», em Eli Barnavi, ed., A Historical
Atlas of the Jewish People from the Time of the Patriarchs to the Present (Nova Iorque: Schocken
Books, 1994), http://www.myjewishlearning.com/article/jewish-immigration-from-eastern-europe/.
47. Existe uma abundante literatura sobre o tema da administração Truman e da Palestina. Um
relato recente e bastante abrangente é o de John Judis, Genesis: Truman, American Jews, and the
Origins of the Arab/Israeli Conflict (Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 2014). Ver também a
biografia oficial: David McCullough, Truman (Nova Iorque: Simon and Schuster, 1992).
48. Coronel William Eddy, FDR Meets Ibn Saud (Washington, DC: America-Mideast
Educational and Training Services, 1954; reeditado por Vista, CA: Selwa Press, 2005), 31.
49. Irene L. Gendzier, Dying to Forget: Oil, Power, Palestine, and the Foundations of U.S.
Power in the Middle East (Nova Iorque: Columbia University Press, 2015).
50. Secretário de Estado para Legação, Jeddah, 17 de agosto de 1948, FRUS 1948, vol. 2, parte
2, 1318.
51. Para mais informações sobre a relação entre sauditas e americanos nesta altura, ver R.
Khalidi, Brokers of Deceit, 20-25.
52. Entre 1949 e 1971, a ajuda económica e militar total dos EUA a Israel só ultrapassou os 100
milhões de dólares por quatro vezes. Desde 1974, tem rondado os mil milhões anualmente.
53. Entre 1953 e 1974, o Conselho de Segurança aprovou pelo menos vinte e três resoluções a
«condenar», «lamentar» ou «censurar» as ações israelitas na Faixa de Gaza, na Síria, na Jordânia,
no Líbano, em Jerusalém e nos Territórios Ocupados.
54. Um típico e precoce exemplo das críticas ao desempenho árabe foi o livro de 1948 de
Constantin Zureiq, The Meaning of the Catastrophe. Para mais pormenores, ver p. 113.
55. O poema encontra-se reproduzido em Ya’qub ‘Awadat, Min a’lam al-fikr wal-adab fi
Filastin [Principais figuras literárias e intelectuais da Palestina], 2.ª edição (Jerusalém: Dar al-
Isra’, 1992). A expressão «pequenos reis», além da sua implicação depreciativa geral, é
provavelmente uma referência, em particular, à baixa estatura do rei ‘Abdullah.
56. Nas palavras do site do FNJ, «as terras que tivessem sido compradas para povoamento
judaico pertenciam ao povo judeu como um todo», https://www.jnf.org/menu-3/our-history#.
57. Leena Dallasheh, «Persevering Through Colonial Transition: Nazareth’s Palestinian
Residents After 1948», Journal of Palestine Studies 45, n.º 2 (inverno de 2016): 8-23.
58. As memórias de um dos mais graduados oficiais árabes da Legião Árabe, o coronel
Abdullah al-Tal, publicadas em 1959, revelaram pormenores destas relações secretas,
posteriormente analisadas ao pormenor por Avi Shlaim em Collusion Across the Jordan: ‘Abdullah
al-Tal, Karithat Filastin: Mudhakkirat ‘Abdullah al-Tal, qa’id ma’rakat al-Quds [O desastre da
Palestina: Memórias de ‘Abdullah al-Tal, comandante na batalha por Jerusalém] (Cairo: Dar al-
Qalam, 1959).
59. Um relato contemporâneo e detalhado do incidente e do seu rescaldo pode ser encontrado
em «Assassination of King Abdullah», The Manchester Guardian, 21 de julho de 1951,
http://www.theguardian.com/theguardian/1951/jul/21/fromthearchive.
60. O romance de Kanafani de 1962 foi traduzido por Hilary Kirkpatrick: Men in the Sun and
Other Palestinian Stories (Boulder, CO: Lynne Rienner, 1999).
61. Gamal Abdel Nasser, Philosophy of the Revolution (Nova Iorque: Smith, Keynes and
Marshall, 1959), 28.
62. Benny Morris, Israel’s Border Wars: 1949-1956: Arab Infiltration, Israeli Retaliation, and
the Countdown to the Suez War (Oxford: Clarendon Press, 1993).
63. Entre 1953 e 1968, quando o meu pai trabalhava na divisão de Assuntos Políticos e do
Conselho de Segurança (atualmente Departamento de Assuntos Políticos), Israel foi condenado ou
censurado nove vezes pelo conselho devido às suas ações.
64. Isto é confirmado pelas memórias de oficiais militares que serviram como observadores da
ONU dos acordos do armistício, incluindo E. H. Hutchinson, Violent Truce: Arab-Israeli Conflict
1951-1955 (Nova Iorque: Devin-Adair, 1956); o tenente-general E. L. M. Burns, Between Arab and
Israeli (Londres: Harrap, 1962); e o major-general Carl Von Horn, Soldiering for Peace (Nova
Iorque: D. McKay, 1967).
65. Sobre este episódio, ver Muhammad Khalid Az’ar, Hukumat ‘Umum Filastin fi dhikraha al-
khamsin [O governo de toda a Palestina no seu 50.º aniversário] (Cairo: s.n., 1998).
66. Para a visão condescendente e quase desdenhosa que os diplomatas britânicos adotaram
relativamente ao único episódio até hoje de democracia jordana, ver R. Khalidi, «Perceptions and
Reality: The Arab World and the West», em A Revolutionary Year: The Middle East in 1958, ed.
Wm. Roger Louis (Londres: I. B. Tauris, 2002), 197-99. Quando o governo do meu tio foi demitido
pelo jovem rei Husayn, em maio de 1957, a formidável rainha-mãe, Zayn, ajudou o embaixador
britânico a obrigar os políticos jordanos a aceitarem a formação de um governo «civil» que serviria
de cobertura para o regime militar que a Grã-Bretanha e os haxemitas desejavam, e que acabou por
ser instaurado. A descrição do embaixador dessa reunião no palácio real é digna de Evelyn Waugh:
«Os ministros estavam relutantes em assumir as responsabilidades do cargo, e tinham perguntado
ao rei porque não podia ser formado um governo militar… A rainha-mãe… salientou
vigorosamente que um governo militar tornaria desnecessária qualquer outra forma de governo.
Finalmente, Sua Majestade disse ao representante dos ministros que não lhes seria permitido sair
do palácio até terem realizado o juramento de posse, e foi a partir desta base não muito
encorajadora que o novo governo acabou por ser formado»: Gabinete de Registos Públicos do
Reino Unido, Embaixador Charles Johnston para o Ministro dos Negócios Estrangeiros Selwyn
Lloyd, n.º 31, 29 de maio de 1957, F.O. 371/127880.
67. A melhor obra sobre este tema é Salim Yaqub, Containing Arab Nationalism: The
Eisenhower Doctrine and the Middle East (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2004).
68. Isto foi demonstrado pela primeira vez por Avi Shlaim num artigo inovador, «Conflicting
Approaches to Israel’s Relations with the Arabs: Ben Gurion and Sharett, 1953-1956», Middle East
Journal 37, n.º 2 (primavera de 1983): 180-201.
69. Estes relatos podem ser encontrados em Abu Iyad com Eric Rouleau, My Home, My Land:
A Narrative of the Palestinian Struggle (Nova Iorque: Times Books, 1981); e Alan Hart, Arafat: A
Political Biography (Bloomington: Indiana University Press, 1989).
70. Veja-se o testemunho ocular do rescaldo imediato do ataque emitido pelo oficial naval
americano responsável pela Comissão Mista do Armistício (MAC) das Nações Unidas que o
investigou: E. H. Hutchinson, Violent Truce.
71. Resolução 101 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de 24 de novembro de 1953.
72. O meu primo Munzer Thabit Khalidi, que foi recrutado para o exército jordano e serviu
como oficial numa área fronteiriça da Margem Ocidental durante a década de 1950, contou-me em
1960 que eram estas as ordens que lhe eram dadas para as tropas sob o seu comando. Para mais
pormenores sobre os esforços da Legião Árabe jordana para travar a infiltração palestiniana neste
período, ver as memórias do seu comandante, John Bagot Glubb, Soldier with the Arabs (Londres:
Hodder and Stoughton, 1957). A extensão destes esforços é confirmada pelo relato do presidente
da Comissão Mista do Armistício da ONU, o comandante E. H. Hutchinson, Violent Truce.
73. Isto fica claro a partir dos excertos dos diários de Sharett em Livia Rokach, Israel’s Sacred
Terrorism: A Study Based on Moshe Sharett’s Personal Diary and Other Documents (Belmont,
MA: Arab American University Graduates, 1985).
74. Isto é confirmado por Mordechai Bar On, que fazia parte do Estado-Maior israelita na
altura: The Gates of Gaza: Israel’s Road to Suez and Back, 1955-57 (Nova Iorque: St. Martin’s
Press, 1994), 72-75. Ver também Benny Morris, Israel’s Border Wars.
75. Avi Shlaim, «Conflicting Approaches».
76. Um relato fidedigno destes acontecimentos é o das memórias do tenente-general Burns, o
oficial canadiano que comandou a Organização de Supervisão de Tréguas da ONU na linha do
armistício israelo-egípcio entre 1954 e 1956: Between Arab and Israeli. Ver também Shlaim,
«Conflicting Approaches».
77. Matthew Connelly, A Diplomatic Revolution: Algeria’s Fight for Independence and the
Origin of the Post-Cold War Era (Nova Iorque: Oxford University Press, 2002).
78. Há uma vasta literatura sobre a guerra do Suez de 1956. Para uma boa coleção de ensaios
sobre o tema, ver Suez 1956: The Crisis and Its Consequences, ed. Roger Louis e Roger Owen
(Oxford: Clarendon Press, 1989). Ver também Benny Morris, Israel’s Border Wars.
79. «Special Report of the Director of the United Nations Relief And Works Agency for
Palestine Refugees in the Near East», A/3212/Add.1 de 15 de dezembro de 1956,
https://unispal.un.org/DPA/DPR/unispal.nsf/0/6558F61D3DB6BD4505256593006B06BE.
80. Estes massacres foram tema de um debate no Knesset em novembro de 1956, em que a
expressão «assassínio em massa» foi utilizada. Para um relato detalhado de um soldado israelita
que assistiu ao massacre, ver Marek Gefen, «The Strip is Taken», Al-Hamishmar, 27 de abril de
1982. Estes massacres são o principal foco de Joe Sacco, Footnotes in Gaza: A Graphic Novel
(Nova Iorque: Metropolitan Books, 2010).
81. El-Farra falou posteriormente sobre isto numa história oral das Nações Unidas:
http://www.unmultimedia.org/oralhistory/2013/01/el-farra-muhammad/.
82. Na segunda edição do seu livro, The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited,
Benny Morris enumera vinte desses massacres.
83. Jean-Pierre Filiu, Gaza: A History (Oxford: Oxford University Press, 2014).
Capítulo 3
1. Le dimanche de Bouvines: 27 juillet 1214 (Paris: Gallimard, 1973), 10. A frase original em
francés é assim: «Je tachai de voir comment un événement se fait et se défait puisque, en fin de
compte, il n’existe que par ce qu’on en dit, puisqu’il est à proprement parler fabriqué par ceux que
en répandent la renommée.»
2. Lyndon Johnson, The Vantage Point: Perspectives of the Presidency (Nova Iorque: Holt,
Rinehart and Winston, 1971), 293.
3. As forças militares dos Estados Unidos e a CIA calculavam que Israel venceria facilmente
todos os exércitos árabes combinados, mesmo que estes atacassem primeiro. Ver Departamento de
Estado dos EUA, Foreign Relations, 1964-1968, Volume XIX, Arab-Israeli Crisis and War, 1967
[doravante Foreign Relations, 1967], https://2001-
2009.state.gov/r/pa/ho/frus/johnsonlb/xix/28054.htm. Numa reunião com o presidente Johnson e os
seus principais assessores a 26 de maio de 1967, o general Earl Wheeler, presidente do Estado-
Maior Conjunto, declarou o seguinte: «As disposições da RAU são defensivas, e não parecem estar
a preparar-se para uma invasão a Israel… Concluiu, porém, que Israel deveria ser capaz de resistir
ou de realizar [sic] agressões, e que a longo prazo Israel triunfaria… Acreditava que os israelitas
conquistariam a superioridade aérea. A RAU perderia muitas aeronaves. A filosofia militar de
Israel é obter surpresa tática atacando os aeródromos primeiro» («Memorandum for the Record»,
Documento 72). A CIA era da mesma opinião: «Intelligence Memorandum prepared by the Central
Intelligence Agency» declarava o seguinte: «Israel podia quase de certeza conseguir a
superioridade aérea sobre a Península do Sinai em 24 horas após ter tomado a iniciativa, ou em
dois ou três dias se a RAU atacasse primeiro… Calculamos que as forças blindadas de ataque
conseguiriam romper a dupla linha de defesa da RAU no Sinai em vários dias» (Documento 76).
As ideias de que Israel era mais fraco do que os árabes e de que estava à beira da aniquilação
tornaram-se, ainda assim, nalgumas das mais duras falsidades sobre o conflito.
4. Os generais – quatro deles majores-generais em 1967 – foram Ezer Weizman (comandante da
força aérea em 1967 e posteriormente presidente de Israel, além de sobrinho de Chaim Weizmann),
Chaim Herzog (chefe dos serviços de informação militar em 1962 e também posteriormente
presidente de Israel), Haim Bar Lev (chefe do Estado-Maior adjunto em 1967 e posteriormente
chefe do Estado-Maior), Matitiyahu Peled (membro do Estado-Maior em 1967) e Yeshiyahu
Gavish (chefe do Comando Sul em 1967): Amnon Kapeliouk, «Israël était-il réellement menacé
d’extermination?», Le Monde, 3 de junho de 1972. Ver também Joseph Ryan, «The Myth of
Annihilation and the Six-Day War», Worldview, setembro de 1973, 38-42, que resume a «guerra
dos generais» contra esta mentira específica: https://carnegiecouncil-
media.storage.googleapis.com/files/v16_i009_a009.pdf.
5. Tem sido falsamente alegado que o Egito esteve prestes a lançar um ataque aéreo surpresa
contra bases aéreas israelitas no dia 27 de maio de 1967, e só foi dissuadido pelos esforços dos
Estados Unidos e da URSS: ver William Quandt, Peace Process (Washington, DC: Brookings
Institution, 1993), 512n38. As forças militares israelitas parecem ter acreditado nesta possibilidade,
mas embora tenha existido um tal plano de contingência egípcio, com o nome de código Fajr
(Amanhecer), nunca foi seriamente considerado pelos líderes egípcios, que foram intensamente
desencorajados de atacar tanto pelos Estados Unidos como pela URSS: ver Avi Shlaim, «Israel:
Poor Little Samson», em The 1967 Arab-Israeli War, ed. Roger Louis e Avi Shlaim (Nova Iorque:
Cambridge University Press, 2012), 30. Uma alta delegação egípcia encontrava-se em Moscovo
nesta altura, e os seus interlocutores soviéticos, incluindo o primeiro-ministro soviético Alexei
Kosygin, o Ministro da Defesa Andrei Grechko e o Ministro dos Negócios Estrangeiros Andrei
Gromyko, aconselharam fortemente contenção aos egípcios: para mais pormenores baseados numa
entrevista ao Ministro da Defesa egípcio, Shams Badran, nos relatos de vários outros participantes
e nas minutas das reuniões, ver Hassan Elbahtimy, «Did the Soviet Union Deliberately Instigate the
1967 War?», blogue do Centro Wilson de História e Política Pública (a sua conclusão em resposta à
pergunta do título é não), https://www.wilsoncenter.org/blog-post/did-the-soviet-union-
deliberately-instigate-the-1967-war-the-middle-east.
Para uma exposição mais completa das fontes e das suas conclusões, ver Hassan Elbahtimy,
«Allies at Arm’s Length: Redefining Soviet Egyptian Relations in the 1967 Arab-Israeli War»,
Journal of Strategic Studies (fevereiro de 2018), https://doi.org/10.1080/01402390.2018.1438893.
Ver também Hassan Elbahtimy, «Missing the Mark: Dimona and Egypt’s Slide into the 1967 Arab-
Israeli War», Nonproliferation Review 25, n.os 5-6 (2018): 385-97,
http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10736700.2018.1559482.
6. Um dos primeiros, e talvez o mais influente, a espalhar originalmente este mito foi o
Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita Abba Eban. Num dos seus célebres bon mots, disse ao
Conselho de Segurança no dia 8 de junho de 1967 que, ainda que muitos duvidassem das
perspetivas israelitas «de segurança e sobrevivência… A verdade é que acabámos por nos revelar
menos cooperantes do que alguns teriam esperado com o plano para a nossa extinção». Registos
Oficiais do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Reunião 1351, 8 de junho de 1967,
S/PV.1351. Para mais pormenores sobre a refutação deste mito e a sua persistência, ver Joseph
Ryan, «The Myth of Annihilation and the Six-Day War», 38-42.
7. O Secretário de Estado Mike Pompeo referiu que o mito de Israel estaria à beira do
extermínio em 1967 para justificar o reconhecimento por parte da administração Trump da
soberania israelita sobre os Montes Golã, dizendo: «Trata-se de uma situação incrível e única.
Israel estava a travar uma batalha defensiva para salvar a sua nação, e não pode dar-se o caso de
uma resolução das Nações Unidas ser um pacto suicida.» David Halbfinger e Isabel Kershner,
«Netanyahu Says Golan Heights Move “Proves You Can” Keep Occupied Territory», New York
Times, 26 de março de 2019, https://www.nytimes.com/2019/03/26/world/middleeast/golan-
heights-israel-netanyahu.html.
8. Para uma síntese destas questões, ver Elbahtimy «Allies at Arm’s Length», e Eugene Rogan
e Tewfik Aclimandos, «The Yemen War and Egypt’s War Preparedness», em The 1967 Arab-
Israeli War: Origins and Consequences, ed. W. Roger Louis e Avi Shlaim (Cambridge: Cambridge
University Press, 2012). Ver também Jesse Ferris, Nasser’s Gamble: How Intervention in Yemen
Caused the Six-Day War and the Decline of Egyptian Power (Princeton, NJ: Princeton University
Press, 2012).
9. Michael Oren, Six Days of War: June 1967 and the Making of the Modern Middle East
(Oxford: Oxford University Press, 2002), refere que os ataques aéreos surpresa estavam «planeados
há muito» (p. 202) e que havia uma série de planos de contingência de longa data para atacar e
ocupar os Montes Golã da Síria (p. 154), a Margem Ocidental e Jerusalém Oriental (p. 155) e a
Península do Sinai (p. 153).
10. Os tempos mudaram na ONU: esta divisão chama-se atualmente Assuntos Políticos e é
geralmente chefiada por um americano.
11. É possível ver o meu pai a levantar-se por breves instantes na última fila, em torno da mesa
do conselho, no exato momento em que a resolução é aprovada (provavelmente para confirmar a
contagem dos votos) num vídeo da Universal Newsreel sobre a votação para o cessar-fogo de dia 9
de junho, que está incorporado no artigo da Wikipédia sobre a guerra de junho:
http://en.wikipedia.org/wiki/Six-Day_War.
12. Registos Oficiais do Conselho de Segurança das Nações Unidas, 1352.ª Reunião, 9 de junho
de 1967, S/PV.1352.
13. Ver Itamar Rabinovich, The Road Not Taken: Early Arab-Israeli Negotiations (Nova
Iorque: Oxford University Press, 1991); e Shlaim, The Iron Wall.
14. França tinha fornecido secretamente a tecnologia necessária para as armas nucleares de
Israel, enquanto o governo israelita enganava sistematicamente os americanos sobre a natureza do
seu programa nuclear. Para um relatório do Departamento de Defesa de 1987, cuja
confidencialidade foi levantada por ordem judicial em 2015, relativo ao nível técnico do
desenvolvimento das armas nucleares de Israel, ver:
http://www.courthousenews.com/2015/02/12/nuc%20report.pdf. Para melhor descrição do engano
de Israel para com os Estados Unidos relativamente ao seu programa nuclear, ver Avner Cohen,
Israel and the Bomb (Nova Iorque: Columbia University Press, 1999). Ver também o trabalho de
Cohen sobre as armas nucleares israelitas no Projeto Internacional de História da Proliferação
Nuclear do Centro Internacional para Académicos Woodrow Wilson.
15. Biblioteca e Arquivo Presidencial John F. Kennedy, http://www.jfklibrary.org/Asset-
Viewer/Archives/JFKPOF-135-001.aspx. Na sua carta, o futuro presidente previa nove anos antes
do acontecimento que a divisão da Palestina acabaria por ser o resultado do conflito.
16. A biógrafa de Fortas, Laura Kalman, descreveu-o como um «judeu que se importava mais
com Israel do que com o judaísmo» em Abe Fortas: a Biography (New Haven: Yale University
Press, 1990).
17. Referências a Bundy et al. podem ser encontradas em
https://moderate.wordpress.com/2007/06/22/lyndon-johnson-was-first-to-align-us-policy-with-
israel%E2%80%99s-policies/.
18. Feinberg era presidente do American Bank and Trust Company e um grande financiador do
Partido Democrata. Krim era presidente da United Artists e também da Comissão Financeira
Nacional do Partido Democrata.
19. Sobre Mathilde Krim, ver Deirdre Carmody, «Painful Political Lessons for AIDS
Crusader», New York Times, 30 de janeiro de 1991,
http://www.nytimes.com/1990/01/30/nyregion/painful-political-lesson-for-aids-crusader.html;
Philip Weiss, «The Not-so-Secret Life of Mathilde Krim», Mondoweiss, 26 de janeiro de 2018,
http://mondoweiss.net/2018/01/secret-life-mathilde; e o relato de Grace Halsell, que trabalhou na
Casa Branca em 1967, tendo pertencido à equipa de redação do presidente, «How LBJ’s Vietnam
War Paralyzed His Mideast Policymakers», Washington Report on Middle East Affairs, 20 de junho
de 1993, http://www.wrmea.org/1993-june/how-lbj-s-vietnam-war-paralyzed-his-mideast-
policymakers.html.
20. O registo oficial do encontro feito pelos EUA está em Foreign Relations, 1967, Documento
124, «Memorandum for the Record, June 1, 1967, Conversation between Major General Meir Amit
and Secretary McNamara», https://2001-2009.state.gov/r/pa/ho/frus/johnsonlb/xix/28055.htm. Para
a versão de Amit, ver Richard Parker, ed., The Six-Day War: A Retrospective (Gainesville:
University Press of Florida, 1996), 139. A versão dos EUA é mais vaga do que a de Amit,
observando apenas que o general disse que «sente que são necessárias medidas extremas e
depressa», e que McNamara «perguntou ao general Amit quantas baixas julgava que ia sofrer num
ataque ao Sinai» e prometeu-lhe que iria «transmitir as opiniões de Amit ao presidente». Ainda que
os documentos oficiais dos EUA e as descrições deste encontro feitas por Amit e por outros
estejam disponíveis há muito, persiste a opinião manifestamente falsa de que os Estados Unidos
não deram luz verde a Israel para atacar. Veja-se, por exemplo, a obra detalhada, mas com falhas,
de Michael Oren, Six Days of War, 146-47. Muito melhores neste aspeto (e em quase todos os
outros) da guerra de 1967 são Tom Segev, 1967: Israel, the War, and the Year that Transformed the
Middle East (Nova Iorque: Metropolitan, 2007), 329-34; e Guy Laron, The Six-Day War: The
Breaking of the Middle East (New Haven: Yale University Press, 2017), 278-80, 283-84.
21. Oren, Six Days of War, 153-55, 202.
22. Estive presente nessa reunião, a que o meu pai me tinha levado. El-Farra falou
posteriormente de forma oficial sobre este conluio americano com Israel numa história oral:
http://www.unmultimedia.org/oralhistory/2013/01/el-farra-muhammad/.
23. Registos Oficiais do Conselho de Segurança das Nações Unidas, 1382.ª Reunião, 22 de
novembro de 1967, S/PV.1382,
https://unispal.un.org/DPA/DPR/unispal.nsf/db942872b9eae454852860f6005a76fb/9f5f09a80bb68
78b0525672300565063?OpenDocument.
24. Sunday Times, 15 de junho de 1969.
25. Isto foi durante uma fase volátil da guerra civil libanesa. Adam Howard, ed., FRUS 1969-
1976, XXVI, Arab-Israeli Dispute, «Memorandum of Conversation», 24 de março de 1976
(Washington, DC: US Government Printing Office, 2012), 967.
26. De acordo com uma sondagem de 2018 do Centro Árabe de Investigação e Estudos
Políticos, em todos os anos desde 2011, mais de 84 por cento dos inquiridos em onze países árabes
eram contra o reconhecimento de Israel, sendo a principal razão apresentada para esta oposição a
sua ocupação de terras palestinianas. Entre 2017 e 2018, 87 por cento eram contra o
reconhecimento, com apenas 8 por cento a favor. Três quartos dos inquiridos nesse ano
consideravam a Palestina uma causa árabe, enquanto 82 por cento consideravam Israel a principal
ameaça estrangeira à região. As atitudes negativas em relação à política dos EUA passaram de 49
por cento em 2014 para 79 por cento entre 2017 e 2018: «Arab Opinion Index, 2017-2018: Main
Results in Brief» (Washington, DC: Centro Árabe, 2018),
file:///C:/Users/rik2101/Downloads/Arab%20Opinion%20Index-2017-2018.pdf.
27. Logo em 1977, os Estados Unidos fizeram tentativas de convencer a OLP a aceitar a SC
242 através de contactos indiretos com a organização. Ver Adam Howard, ed., FRUS, 1977-1980,
vol. VIII, Arab-Israeli Dispute, janeiro de 1977 – agosto de 1978, «Telegram from the Department
of State to the Embassy in Lebanon», Washington, DC, 17 de agosto de 1977, 477,
http://history.state.gov/historicaldocuments/frus1977-80v08/d93.
28. Ahmad Samih Khalidi, «Ripples of the 1967 War», Cairo Review of Global Affairs 20
(2017), 8.
29. O título em árabe é al-Waqa’i’ al-ghariba fi ikhtifa’ Sa’id abi Nahs, al-mutasha’il. O livro
foi publicado pela primeira vez em Haifa em 1974, foi imediatamente reeditado em Beirute, tem
estado amplamente disponível desde então e foi posteriormente adaptado para os palcos como um
popular espetáculo de um só artista protagonizado pelo conhecido ator palestiniano Muhammad
Bakri, a cuja representação assisti no teatro al-Qasaba em Jerusalém na década de 1990.
30. Para a melhor análise aos escritos de Kanafani, ver as secções sobre ele em Bashir Abu
Manneh, The Palestinian Novel: From 1948 to the Present (Cambridge: Cambridge University
Press, 2016), 71-95; e Barbara Harlow, After Lives: Legacies of Revolutionary Writing (Chicago:
Haymarket, 1996). A obra de Kanafani foi traduzida para inglês por Barbara Harlow, Hilary
Kilpatrick e May Jayyusi, entre outros.
31. Nomeadamente al-Adab al-filastini al-muqawim tahta al-ihtilal, 1948-1968 [Literatura
palestiniana de resistência sob ocupação, 1948-1968], 3.ª ed. (Beirute: Instituto de Estudos
Palestinianos, 2012).
32. Normalmente, os serviços de segurança israelitas não reivindicam esses assassinatos. No
entanto, de acordo com um livro de setecentas páginas, baseado em entrevistas a centenas de
oficiais superiores dos serviços de informação e em ampla documentação, da autoria de Ronen
Bergman, Rise and Kill First: The Secret History of Israel’s Targeted Assassinations (Nova Iorque:
Random House, 2018), 656fn, Kanafani foi assassinado pela Mossad. Cheio de pormenores, o livro
de Bergman é um relato fidedigno de alguém intimamente ligado ao meio dos serviços de
informação da liquidação por Israel de centenas de líderes e militantes palestinianos ao longo de
várias gerações. É gravemente prejudicado pelo seu tom de ansiosa admiração por aqueles que
planearam e realizaram estes assassinatos, e também pela sua aceitação da irrefletida lógica de
eliminação soma zero, que transparece do título, extraído da injunção talmúdica: «Se alguém vier
para te matar, ergue-te e mata-o primeiro.» O título é revelador: sugere que os assassinatos de
líderes palestinianos por parte de Israel são justificados, pois eles teriam matado israelitas se não
fosse por esses «assassinatos seletivos». Para uma avaliação crítica, mas apreciativa do livro, veja-
se a recensão de Paul Aaron, «How Israel Assassinates Its “Enemies”: Ronen Bergman Counts the
Ways», Journal of Palestine Studies 47, n.º 3 (primavera de 2018), 103-5.
33. O melhor estudo sobre o MNA é Walid Kazziha, Revolutionary Transformation in the Arab
World: Habash and His Comrades from Nationalism to Marxism (Londres: Charles Knight, 1975).
34. Para mais pormenores, ver as memórias de Amjad Ghanma, Jam’iyat al-‘Urwa al-Wuthqa:
Nash’atuha wa-nashatatuha [A Sociedade ‘Urwa al-Wuthqa: Suas origens e atividades] (Beirute:
Riad El-Rayyes, 2002). Na página 124, reproduz uma fotografia do «Comité Administrativo» do
grupo em 1937-38, incluindo o meu pai, sentado com Zureiq e o presidente da UAB, Bayard
Dodge, na fila da frente. O nome do grupo evoca o da célebre publicação nacionalista pan-islâmica
produzida em Paris por Jamal al-Din al-Afghani e Muhammad ‘Abdu no início da década de 1880,
que tomou o seu nome de um versículo do Corão, 2:256.
35. Ma’na al-nakba [O significado da catástrofe] (Beirute: Dar al-‘Ilm lil-Milayin, 1948). Esta
pequena obra tem sido repetidamente reeditada, mais recentemente em 2009 pelo Instituto de
Estudos Palestinianos, juntamente com outros escritos anteriores, baseados nas lições da derrota de
1948, de Musa al-‘Alami (‘Ibrat Filastin [A lição da Palestina]), Qadri Touqan (Ba’d al-nakba
[Depois da catástrofe]) e George Hanna (Tariq al-khalas [O caminho da salvação]).
36. Veja-se o meu artigo, «The 1967 War and the Demise of Arab Nationalism: Chronicle of a
Death Foretold», em The 1967 Arab-Israeli War, ed. Louis e Shlaim, 264-84, para uma discussão
de como a derrota em 1967 afetou o nacionalismo árabe e o renovado movimento nacional
palestiniano.
37. A obra de referência sobre o movimento de resistência palestiniano é Yezid Sayigh, Armed
Struggle and the Search for State: The Palestinian National Movement, 1949-1993 (Oxford:
Oxford University Press, 1997). Duas excelentes histórias gerais do conflito são Charles D. Smith,
Palestine and the Arab-Israeli Conflict: A History with Documents, 9.ª ed. (Nova Iorque:
Bedford/St. Martin’s, 2016); e James Gelvin, The Israel-Palestine Conflict: One Hundred Years of
War, 3.ª ed. (Cambridge: Cambridge University Press, 2014). Ver também Baruch Kimmerling e
Joel Migdal, Palestinians: The Making of a People (Nova Iorque: The Free Press, 1993); e William
Quandt, Fuad Jabber e Ann Lesch, The Politics of Palestinian Nationalism (Oakland: University of
California Press, 1973).
38. Um excelente estudo sobre este tema é Paul Chamberlin, The Global Offensive: The United
States, the Palestine Liberation Organization, and the Making of the Post-Cold War Order
(Oxford: Oxford University Press, 2012).
39. Para a mais sofisticada análise de como Israel conseguiu estabelecer a sua hegemonia
discursiva nos Estados Unidos, ver Kaplan, Our American Israel, e Novick, The Holocaust in
American Life.
40. Bergman, Rise and Kill First, 162-74, faz uma descrição detalhada desta operação, em que
Barak se vestiu de mulher.
41. Bergman, Rise and Kill First, 117-18, 248-61, inclui muitos exemplos dessas tentativas de
assassinar ‘Arafat. Para uma análise desta estratégia de assassinato e um antídoto para a abordagem
ilibatória de Bergman, veja-se a recensão de Paul Aaron ao livro, «How Israel Assassinates Its
“Enemies”», e também o seu artigo em duas partes, «The Idolatry of Force: How Israel Embraced
Targeted Killing» e «The Idolatry of Force (Part II): Militarism in Israel’s Garrison State», Journal
of Palestine Studies 46, n.º 4 (verão de 2017), 75-99, e 48, n.º 2 (inverno de 2019), 58-77.
42. Muito do material deste capítulo e do seguinte é baseado em traduções para inglês de
documentos dos apêndices secretos da Comissão Kahan de investigação aos massacres de Sabra e
Shatila em 1982. No texto que se segue, cito-os como Documentos Kahan [DK] I a VI. Os
documentos estão disponíveis no site do Instituto de Estudos Palestinianos:
https://palestinesquare.com/2018/09/25/the-sabra-and-shatila-massacre-new-evidence/. William
Quandt, professor emérito na Universidade da Virgínia e alto funcionário do Conselho de
Segurança Nacional durante a administração do presidente Jimmy Carter, forneceu ao IEP cópias
digitalizadas destes documentos. No decorrer de um processo por difamação movido contra a
revista Time por Ariel Sharon, Quandt serviu de consultor aos advogados de defesa da Time. A
firma de advogados da revista entregou-lhe estes documentos como seleções traduzidas do original
em hebraico. Especialistas familiarizados com esses documentos confirmaram que constituem o
grosso dos apêndices não publicados do relatório Kahan.
Em DK IV, Encontro entre Sharon e Bashir Gemayel, Beirute, 8 de julho de 1982, Doc. 5,
229ff, onde Gemayel pergunta se Israel teria alguma objeção a que ele arrasasse os campos de
refugiados palestinianos no Sul do Líbano para que os refugiados não permanecessem no Sul,
Sharon respondeu: «Isso não é assunto nosso: não queremos envolver-nos nos assuntos internos do
Líbano.» Durante um encontro entre Sharon e Pierre e Bashir Gemayel, a 21 de agosto de 1982
(DK V, 2-9), Sharon disse-lhes assim: «Foi antes colocada uma questão, o que aconteceria aos
palestinianos depois de os terroristas retirarem… Têm de agir… para que não haja terroristas, têm
de limpar os campos.» Para mais informações sobre a lógica de eliminação partilhada por Sharon,
Gemayel e seus tenentes, ver capítulo 5, mais adiante.
43. Pierre Gemayel tinha fundado o partido após ter visitado a Alemanha nazi durante os Jogos
Olímpicos de 1936, em que participou como guarda-redes da equipa de futebol libanesa.
44. Jerusalem Post, 15 de outubro de 1982. Ze’ev Schiff e Ehud Ya’ari, em Israel’s Lebanon
War (Nova Iorque, Simon and Schuster, 1983), 20, indicam que o coronel Binyamin Ben-Eliezer,
oficial superior israelita de ligação às FL e posteriormente Ministro da Defesa israelita e vice-
primeiro-ministro, esteve presente no posto de comando de onde as FL dirigiam o cerco a Tal al-
Za’tar em julho, semanas antes de o campo cair. Schiff e Ya’ari descrevem a extensa colaboração
entre as forças militares e os serviços de informação israelitas e as FL neste e noutros períodos
posteriores, tal como Bergman em Rise and Kill First.
45. DK III, minutas da reunião da Comissão de Defesa e Relações Exteriores do Knesset, 24 de
setembro de 1982, 224-25.
46. Ibid., 225-26.
47. A WAFA, no 13 de agosto de 1976, identificou o oficial superior dos serviços de
informação militar sírios no Líbano, o coronel Ali Madani, como estando presente no posto de
comando das FL a fim de «supervisionar» a operação contra o campo: ver al-Nahar e al-Safir, 13
de agosto de 1976, para reportagens sobre a conferência de imprensa de Hassan Sabri al-Kholi no
dia 12 de agosto de 1976. Helena Cobban, que acompanhou a guerra como repórter para o
Christian Science Monitor e assistiu à queda do campo, afirma que o coronel Madani foi visto no
posto de comando das FL por outros jornalistas ocidentais: The Palestinian Liberation
Organization (Cambridge: Cambridge University Press, 1984), 281n35. Outros relatos identificam
o seu subordinado, o coronel Muhammad Kholi, como estando também presente.
48. Adam Howard, ed., FRUS 1969-1976, XXVI, Arab-Israeli Dispute, «Minutes of
Washington Special Actions Group Meeting», Washington, DC, 24 de março de 1976, 963.
49. Kissinger fez esta afirmação relativamente ao abandono americano dos curdos do Iraque à
Comissão Permanente de Inteligência da Câmara dos Representantes, chefiada pelo deputado Otis
Pike em 1975.
50. DK I, 18. Trata-se de um documento aparentemente preparado para a Comissão Kahan pelo
Ministro da Defesa em resposta às acusações contra Sharon. Sharon é citado na página 48 desde
documento como tendo dito que «cerca de 130 membros da Falange» receberam treino em Israel,
mas apresenta o mesmo número para a quantidade de auxílio militar.
51. Bergman, Rise and Kill First, 225-61.
52. Adam Howard, ed., FRUS 1969-1976, XXVI, Arab-Israeli Dispute, «Minutes of
Washington Special Actions Group Meeting», Washington, DC, 24 de março de 1976, 963.
53. Ibid.
54. Henry Kissinger, Years of Renewal (Nova Iorque: Touchstone, 1999), 351.
55. Este memorando só estava inicialmente disponível em Meron Medzini, ed., Israel’s Foreign
Relations: Selected Documents, 1974-1977, vol. 3 (Jerusalém: Ministério dos Negócios
Estrangeiros, 1982), 281-90. O governo dos EUA publicou-o vinte anos depois em Adam Howard,
ed., FRUS, 1969-1976, XXVI, Arab-Israeli Dispute, «Memorandum of Agreement between the
Governments of Israel and the United States». Uma carta secreta da mesma data do presidente Ford
para o primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin consagrava outro compromisso crucial, através do
qual os Estados Unidos prometiam que, durante quaisquer negociações de paz, «fariam todos os
esforços para coordenar com Israel as suas propostas a fim de evitarem apresentar propostas que
Israel considerasse insatisfatórias», 838-40.
56. Adam Howard, ed., FRUS, 1969-1976, XXVI, Arab-Israeli Dispute, «Minutes of National
Security Council Meeting», Washington, DC, 7 de abril de 1976, 1017.
57. Ibid., 831-32. Ver também Patrick Seale, Asad: The Struggle for the Middle East (Oakland:
University of California Press, 1989), 278-84.
58. A descrição desta operação por Bergman, Rise and Kill First, 214-24, inclui erros, como a
menção de que, em 1978, um agente infiltrado israelita usou como cobertura o trabalho numa ONG
«num abrigo no campo de refugiados de Tel al-Zaatar». O campo tinha sido destruído dois anos
antes. Esta ONG pode ter sido um orfanato para crianças que tinham sobrevivido ao massacre no
campo, Bayt Atfal al-Sumud.
59. Bergman, Rise and Kill First, 242-43ff. Sobre a «Frente para a Libertação do Líbano dos
Estrangeiros», que sabemos agora não ter passado de uma fachada para os serviços de segurança
israelitas, ver Remi Brulin, «The Remarkable Disappearing Act of Israel’s Car-Bombing Campaign
in Lebanon», Mondoweiss, 7 de maio de 2018, https://mondoweiss.net/2018/05/remarkable-
disappearing-terrorism.
60. Para mais informações sobre as acusações de Dean, ver Philip Weiss, «New Book Gives
Credence to US Ambassador’s Claim That Israel Tried to Assassinate Him», Mondoweiss, 23 de
agosto de 2018, https://mondoweiss.net/2018/08/credence-ambassadors-assassinate/.
61. O falecido embaixador Dean forneceu-me generosamente documentos que abrangem todo o
período da sua presença como embaixador em Beirute, de finais de 1978 a 1981. Os que dizem
respeito à OLP são maioritariamente de 1979. Há também pelo menos meia dúzia de telegramas
confidenciais relativos aos contactos realizados por Parker e Dean com um destes intermediários, o
meu primo Walid Khalidi, na Wikileaks: ver, por exemplo, https://search.wikileaks.org/?
s=1&q=khalidi&sort=0.
62. O embaixador Dean forneceu cópias destes documentos ao Instituto de Estudos
Palestinianos, onde estão disponíveis para consulta pelos investigadores.
63. «Telegram from Secretary of State Vance’s Delegation to Certain Diplomatic Posts», 1 de
outubro de 1977, FRUS, 1977-80, Arab-Israeli Dispute, vol. 8, 634-36.
64. O estudo definitivo sobre este tema é Seth Anziska, Preventing Palestine: A Political
History from Camp David to Oslo (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2018).
65. O relato mais rigoroso de como Begin fez isto, baseado num estudo exaustivo de
documentos israelitas e americanos anteriormente não revelados, e de como assim lançou as bases
para as negociações posteriores, incluindo as de Madrid, Washington e Oslo a década de 1990, está
em Anziska, Preventing Palestine.
Capítulo 4
1. http://avalon.law.yale.edu/19th_century/hague02.asp#art25.
2. Citado em Alexander Cockburn, «A Word Not Fit to Print», Village Voice, 22 de setembro de
1982.
3. DK III, 196. Gur estava a dirigir-se a Sharon durante uma reunião da Comissão de Defesa e
Relações Exteriores do Knesset no dia 10 de junho de 1982.
4. Chaim Herzog, The Arab-Israeli Wars: War and Peace in the Middle East from the War of
Independence Through Lebanon, ed. rev. (Nova Iorque: Random House, 1985), 344, indica o
número de oito divisões. Herzog era um major-general reformado, antigo chefe dos serviços de
informação militar, e foi posteriormente presidente de Israel. Outras fontes fidedignas israelitas
sugeriram que até nove divisões acabaram por estar envolvidas na força de invasão.
5. Isto segundo o relatório oficial dos Serviços de Segurança Geral libaneses (Da’irat al-Amn
al-‘Am), que afirmava que 84 por cento das baixas em Beirute eram civis: Washington Post, 2 de
dezembro de 1982. Compreensivelmente, estes números não eram necessariamente de uma
exatidão absoluta, dadas as circunstâncias do período de guerra.
6. A Agência Palestiniana de Notícias, WAFA, no dia 14 de agosto de 1982, informou que os
obituários na imprensa israelita dos soldados mortos no Líbano durante as dez semanas de combate
somavam um total de 453. Esta discrepância pode ter resultado do facto de as forças militares
israelitas só divulgarem os números dos que morriam em ação, não dos que morriam
posteriormente dos seus ferimentos ou eram mortos de outra forma num teatro de combate: citado
em Under Siege, 199-200n4.
7. The Jerusalem Post, 10 de outubro de 1983. O próprio Sharon referiu 2 500 baixas israelitas
a Pierre e Bashir Gemayel no dia 21 de agosto de 1982: DK IV, 5. As baixas militares israelitas
entre junho de 1982 e a retirada parcial em junho de 1985 foram mais de 4 500. Mais de 500
soldados israelitas adicionais foram mortos entre 1985 e o fim da ocupação do Sul do Líbano em
maio de 2000, para um total de bem mais de 800 mortos entre 1982 e 2000. A guerra e a ocupação
do Líbano causaram, portanto, a Israel o terceiro maior número global de baixas militares, abaixo
das guerras de 1948 e 1973, e acima das guerras de 1956 e 1967 e da Guerra de Desgaste de 1968-
70 ao longo do Canal do Suez.
8. Provavelmente devido ao meu anterior papel na WAFA, onde tinha ajudado Mona a montar o
novo serviço em inglês, alguns jornalistas que não estavam cientes das regras básicas segundo as
quais falei com eles durante a guerra descreveram-me erradamente como «Diretor da WAFA» ou
«porta-voz da OLP», não sendo eu nenhuma dessas coisas (Thomas Friedman, «Palestinians Say
Invaders Are Seeking to Destroy P.L.O. and Idea of a State», New York Times, 9 de junho de 1982).
O título anterior teria surpreendido o verdadeiro diretor da WAFA, Ziyad ‘Abd al-Fattah, e também
Ahmad ‘Abd al-Rahman e Mahmud al-Labadi, que eram os porta-vozes oficiais da OLP, o primeiro
para os meios de comunicação árabes e o segundo para a imprensa estrangeira. Enquanto diretor da
secção de Informação Externa da OLP, al-Labadi era o único responsável por lidar com os
jornalistas estrangeiros. Estes três funcionários tinham o dever de apresentar a oposição da OLP,
algo que eu não estava obrigado a fazer. Quando falava com os jornalistas ocidentais, não era a
qualquer título oficial, mas antes anonimamente, como «fonte palestiniana informada». Quase
todos os jornalistas respeitavam esta convenção.
9. David Shipler, «Cease-Fire in Border Fighting Declared by Israel and PLO», New York
Times, 25 de julho de 1981, https://www.nytimes.com/1981/07/25/world/cease-fire-border-
fighting-declared-israel-plo-us-sees-hope-for-wider-peace.html.
10. Conheci fugazmente Habib quando era um adolescente em Seul a acompanhar o meu pai,
que, entre 1962 e 1965, ocupou o mais alto cargo civil das Nações Unidas na Coreia do Sul, onde
Habib era um alto diplomata na embaixada dos Estados Unidos. Ele e a esposa tinham socializado
com os meus pais, e a minha mãe jogava frequentemente bridge com a Sra. Habib em nossa casa.
Beneficiei desta relação quando Habib aceitou ser entrevistado para o meu livro sobre a OLP
durante a Guerra do Líbano: Under Siege: PLO Decisionmaking During the 1982 War.
11. Não era a primeira vez que me encontrava com Primakov, e como sempre, fiquei
impressionado com o seu conhecimento sobre a política do Médio Oriente, a sua inteligência e a
sua franqueza. Após a dissolução da URSS, tornou-se o primeiro diretor dos serviços de
informação da Rússia, depois Ministro dos Negócios Estrangeiros e finalmente primeiro-ministro.
Quando era primeiro-ministro, ajudou-nos, a mim e a um colega austríaco, a chegar a um acordo
com os arquivos estatais russos para a publicação de documentos diplomáticos soviéticos sobre o
Médio Oriente de entre as décadas de 1940 e 1980. O projeto foi abortado quando Primakov foi
destituído do cargo pelo presidente Boris Yeltsin em 1999. A sua descrição da guerra de 1982
encontra-se em Russia and the Arabs: Behind the Scenes in the Middle East from the Cold War to
the Present (Nova Iorque: Basic Books, 2009), 199-205.
12. Em entrevistas dadas posteriormente em Tunes, tanto Abu Iyad como Abu Jihad me
confirmaram que a liderança da OLP sabia há muito que a guerra estava próxima, tendo-se
preparado em conformidade: Under Siege, 198n21.
13. Aparentemente, ‘Arafat não ficou surpreendido. Num discurso de março de 1982, previra
que a OLP e os seus aliados teriam de lutar em Khaldeh: Under Siege, 198n20. O comandante da
OLP nesse setor, o coronel Abdullah Siyam, foi morto nessa batalha no dia 12 de junho, sendo o
oficial mais graduado da OLP a morrer durante a guerra. Dois dias antes, o oficial israelita mais
graduado a morrer em combate, o major-general Yukutiel Adam, antigo chefe do Estado-Maior
adjunto e diretor nomeado da Mossad, tinha sido morto por combatentes palestinianos junto à
costa, em Damour, uma zona que julgavam estar pacificada: Under Siege, 80-81.
14. Isto foi revelado por Alexander Cockburn, «A Word Not Fit to Print», Village Voice, 22 de
setembro de 1982.
15. A maioria dos jornalistas ocidentais tinha-se mudado para o Hotel Commodore do lendário
St. George Hotel junto ao mar no passeio de Corniche, que tinha sido saqueado e queimado em
1975. O St. George servira durante muito tempo como quartel-general para jornalistas estrangeiros,
diplomatas, espiões, traficantes de armas e outros tipos menos respeitáveis. Apesar de mais
modesto do que o luxuoso St. George, e sem a sua espetacular vista para o mar, o Commodore
tinha a virtude inestimável de ficar relativamente longe da maior parte das frentes de batalha da
guerra civil. Said Abu Rish, The St. George Hotel Bar (Londres: Bloomsbury, 1989), narra algumas
das intrigas que aí ocorreram, observando que célebres agentes dos serviços de inteligência como
Kim Philby e Miles Copeland eram clientes habituais.
16. Ze’ev Schiff e Ehud Ya’ari, Israel’s Lebanon War (Nova Iorque: Simon and Schuster,
1983), mostram com algum detalhe a extensão da rede de espionagem israelita no Líbano, tal como
Bergman, Rise and Kill First.
17. Bergman, Rise and Kill First, diz que os esforços concertados para matar toda a liderança
da OLP remontavam pelo menos a 1981: 244-47.
18. «123 Reported Dead, 550 Injured as Israelis Bomb PLO Targets», New York Times, 18 de
julho de 1981, https://www.nytimes.com/1981/07/18/world/123-reported-dead-550-injured-israelis-
bomb-plo-targets-un-council-meets-beirut.html.
19. «Begin Compares Arafat to Hitler», UPI, 5 de agosto de 1982,
http://www.upi.com/Archives/1982/08/05/Begin-compares-Arafat-to-Hitler/2671397368000/.
20. Bergman, Rise and Kill First, indica que as tentativas israelitas de assassinar ‘Arafat
começaram em 1967, 117-18. Em 248-61, inclui relatos de múltiplas tentativas de o matar durante
a guerra de 1982.
21. Entrevista, Dra. Lamya Khalidi, Nice, 1 de junho de 2018. Há uma fotografia em Bergman,
Rise and Kill First, entre as páginas 264-265, do comandante de um esquadrão de assassinos
israelita «vestido de mendigo», sentado numa rua de uma cidade árabe não identificada,
provavelmente Beirute.
22. Este agente duplo tinha sido infiltrado pelos serviços de Abu Iyad na fação Abu Nidal anti-
OLP sediada na Líbia a fim de enfraquecer esse grupo, uma operação que foi altamente bem-
sucedida. Posteriormente, foi contratado como motorista por um dos principais tenentes de Abu
Iyad, Abu al-Hol [Ha’il Abd al-Hamid]. Veio a descobrir-se que este agente tinha também sido
subornado (provavelmente pelo regime iraquiano, que apoiava o grupo Abu Nidal e que estava
furioso por Abu Iyad se ter oposto abertamente à sua invasão do Kuwait). Assassinou Abu Iyad,
Abu al-Hol e um assessor no dia 14 de janeiro de 1991, dois dias antes da ofensiva dos Estados
Unidos para expulsar as forças iraquianas do Kuwait.
23. Pode ser este o bombardeamento descrito em Bergman, Rise and Kill First, 256: «Uma vez,
eles [o esquadrão de assassinos] até ouviram o próprio ‘Arafat ao telefone e enviaram um par de
caças-bombardeiros que arrasaram o edifício, mas ‘Arafat tinha saído “menos de trinta segundos
antes”, segundo Dayan [comandante da unidade].» Pode ser o mesmo ataque referido nas páginas
258-59, erradamente datado de dia 5 de agosto e incorretamente descrito como direcionado contra
o «edifício Sana’i em Beirute Ocidental, onde se supunha que Arafat estaria a assistir a uma
reunião». Segundo Bergman, o Chefe do Estado-Maior Rafael Eitan participou pessoalmente neste
bombardeamento.
24. Under Siege, 97. O jornalista Tony Clifton, da Newsweek, estava no local, bem como John
Bulloch, do Daily Telegraph. Clifton faz uma descrição devastadora do rescaldo, e diz que o
número de baixas pode ter chegado às 260: Tony Clifton e Catherine Leroy, God Cried (Londres:
Quartet Books, 1983), 45-46. Ver também John Bulloch, Final Conflict: The War in Lebanon
(Londres: Century, 1983), 132-33.
25. Para mais pormenores, ver Under Siege 88 e 202n39. Ver também Bergman, Rise and Kill
First, 242-43, que dá pormenores sobre a utilização de carros-bomba no Líbano pelos serviços de
informação israelitas.
26. Em Under Siege, descrevo como a OLP chegou à sua decisão de abandonar Beirute. Escrevi
esse livro com base no acesso aos arquivos da OLP que então se encontravam em Tunes (esses
arquivos, juntamente com outras instalações da OLP, foram bombardeados por Israel no dia 1 de
outubro de 1985, matando um dos arquivistas que me tinham ajudado), e também em entrevistas
aos principais participantes americanos, franceses e palestinianos envolvidos nas negociações.
27. Anziska, Preventing Palestine, 201.
28. Os palestinianos sempre suspeitaram que o grupo Abu Nidal, que serviu, em diferentes
períodos, de fachada para os serviços de inteligência líbios, iraquianos e sírios, também estava
infiltrado pela Mossad israelita. Bergman, Rise and Kill First, diz que, segundo as suas fontes
israelitas, «os serviços de inteligência britânicos tinham um agente duplo na célula Abu Nidal» que
realizou o ataque a Argov (249). Embora Bergman descreva os agentes duplos israelitas como
estando presentes em praticamente todos os grupos considerados hostis a Israel, e apesar dos
espetaculares ataques do grupo Abu Nidal a alvos israelitas e judeus, o seu livro não faz qualquer
referência à sua infiltração por agentes duplos israelitas, nem tem qualquer entrada específica sobre
o grupo no seu índice.
29. Anziska, Preventing Palestine, 201-2.
30. A minha mãe foi alvejada, e teve a sorte de ter sofrido apenas ferimentos ligeiros, ao passar
por outro desses postos de controlo, este gerido por tropas sírias, em fevereiro de 1977.
31. Entre estes, incluíam-se políticos como Rashid Karami, Sa’eb Salam e Salim al-Hoss, que
tinham servido como primeiros-ministros do Líbano sob uma fórmula que remontava à
independência do país em 1943 e que estavam tradicionalmente alinhados com a maioritariamente
sunita presença política e militar palestiniana no Líbano.
32. Under Siege, 65, 88 e 201n16. Múltiplos documentos dos apêndices secretos dos papéis da
investigação da Comissão Kahan aos massacres de Sabra e Shatila fazem referência aos massacres
de drusos por parte das FL nos Shouf: DK I, 5; DK II, 107-8; DK III; 192; DK IV, 254, 265, 296;
DK V, 56, 58; DK VI, 78. Estes documentos podem ser consultados em
https://palestinesquare.com/2018/09/25/the-sabra-and-shatila-massacre-new-evidence/.
33. O texto do Plano de Onze Pontos pode ser encontrado em Under Siege, 183-84.
34. Além dos massacres nos Shouf em finais de junho e inícios de julho, documentos nos
apêndices secretos do relatório da Comissão Khan relatam outras atrocidades: o desaparecimento e
provável homicídio de 1 200 pessoas em Beirute às mãos das forças controladas por Elie Hobeika,
chefe dos serviços de informação das FL (DK II, 1, e DK V, 58), e um relatório da Mossad sobre
500 pessoas «liquidadas» em barricadas das FL até ao dia 23 de junho: DK II, 3, e DK VI, 56. Ver
https://palestinesquare.com/2018/09/25/the-sabra-and-shatila-massacre-new-evidence/.
35. Under Siege, 171, citando os documentos originais nos arquivos da OLP.
36. Toda a correspondência entre os EUA e o Líbano pode ser consultada em Department of
State Bulletin, setembro de 1982, vol. 82, n.º 2066, 2-5.
37. Relatórios da polícia libanesa referiam «pelo menos 128 mortos» e mais de 400 feridos
nesse dia: Under Siege, 204n67, citando uma reportagem da AP publicada no New York Times, 13
de agosto de 1982.
38. Entrada do dia 12 de agosto de 1982, em Ronald Reagan, The Reagan Diaries, ed. Douglas
Brinkley (Nova Iorque: HarperCollins, 2007), 98.
39. Durante algum tempo depois do ocorrido, também ficavam assustadas sempre que ouviam
um avião ou um helicóptero a voar sobre as suas cabeças.
40. O próprio Malcolm Kerr foi assassinado mesmo à porta do seu gabinete apenas dezasseis
meses depois, tal como vários dos meus colegas da UAB.
41. Jenkins partilhou posteriormente um Prémio Pulitzer com Thomas Friedman do New York
Times pela sua reportagem sobre o massacre de Sabra e Shatila.
42. A análise mais completa ao número de vítimas do massacre, baseada em extensas
entrevistas e numa meticulosa investigação, é a da ilustre historiadora palestiniana Bayan
Nuwayhid al-Hout, que, em Sabra and Shatila: September 1982 (Ann Arbor: Pluto, 2004),
estabeleceu um mínimo de cerca de 1 400 mortos. Observa, no entanto, que, uma vez que muitas
vítimas foram raptadas e nunca foram descobertas, o verdadeiro número foi inquestionavelmente
maior, e é impossível de saber.
43. A novela gráfica é de Ari Folman e David Polonsky (Nova Iorque: Metropolitan Books,
2009). De acordo com o relato de Folman em Valsa com Bashir, a sua unidade disparou os foguetes
de sinalização, criando «um céu brilhantemente iluminado que ajudava os outros a matar» (107).
Ainda que o livro e o filme sejam implacáveis no seu retrato da atrocidade que está no âmago de
toda a história, o seu foco central é na subsequente angústia psicológica dos israelitas que ajudaram
os assassinos a fazer o seu trabalho, e não no sofrimento das vítimas sem nome, que é retratado no
fim. Neste aspeto, tem mais do que uma semelhança passageira com o bem conhecido género
israelita de «disparar e chorar».
44. No fim, o amigo de Folman absolve-o com um pouco de psicologia popular. Diz-lhe que só
«na tua perceção», enquanto filho de dezanove anos de sobreviventes do Holocausto, é que não
havia qualquer diferença entre os que realizavam o massacre e os israelitas nos círculos que os
rodeavam, e que «Sentiste-te culpado… Contra a tua vontade, foste colocado no papel de nazi…
Disparaste os foguetes. Mas não realizaste o massacre.»
45. O texto do relatório da Comissão Kahan pode ser consultado em
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/History/kahan.html. Uma crítica mordaz às muitas
falhas e omissões do relatório pode ser encontrada em Noam Chomsky, Fateful Triangle: The
United States, Israel, and the Palestinians, 2.ª ed. (Cambridge, MA: South End Press, 1999), 397-
410.
46. Os documentos divulgados pelos Arquivos do Estado de Israel em 2012 foram
disponibilizados online pelo New York Times no trigésimo aniversário do massacre de Sabra e
Shatila, juntamente com um artigo sobre o tema da autoria de Seth Anziska, que descobriu estes
documentos nos arquivos: «A Preventable Massacre», New York Times, 16 de setembro de 2012:
http://www.nytimes.com/2012/09/17/opinion/a-preventable-massacre.html/?ref=opinion. Os
documentos podem ser consultados online: «Declassified Documents Shed Light on a 1982
Massacre», New York Times, 16 de setembro de 2012,
http://www.nytimes.com/interactive/2012/09/16/opinion/20120916_lebanondoc.html?ref=opinion.
47. Tal como foi referido anteriormente, as traduções para inglês dos apêndices secretos do
relatório estão disponíveis no site do Instituto de Estudos Palestinianos:
https://palestinesquare.com/2018/09/25/the-sabra-and-shatila-massacre-new-evidence/. Tenho-os
citado como Documentos Kahan [DK] I a VI.
48. Logo no dia 19 de julho, Sharon disse a Habib que os relatórios dos serviços de informação
israelitas indicavam que a OLP planeava deixar para trás «núcleos de infraestruturas terroristas» e
que «é essa a ideia escondida por trás da exigência de que a FML [Força Multilateral] proteja os
campos de refugiados». DK III, 163. Uma vez que isto não era verdade, ou Sharon estava
gritantemente mal informado, ou estava já a preparar um pretexto para um avanço planeado contra
a restante presença palestiniana no Líbano após a partida da OLP.
49. «Declassified Documents Shed Light on a 1982 Massacre», New York Times, 16 de
setembro de 2012.
50. DK IV, 273. Sharon também comunicou a esta reunião do conselho de ministros que as FL
tinham sido enviadas a Sabra.
51. «Declassified Documents Shed Light on a 1982 Massacre». Ver também Anziska,
Preventing Palestine, 217-18.
52. «Declassified Documents Shed Light on a 1982 Massacre». Ao falar ao conselho de
ministros israelita no dia 16 de setembro de 1982, Sharon relatou uma conversa anterior com
Draper, a quem acusou de «extraordinário descaramento» por o contradizer: DK IV, 274.
53. DK III, 222-26. Tal como é observado no capítulo 3, Sharon falou pormenorizadamente
sobre Tal al-Za’tar numa reunião fechada da Comissão de Defesa e Relações Exteriores do
Knesset, no dia 24 de setembro de 1982, e no Knesset em outubro de 1982. Segundo um relatório
da Mossad datado de 23 de junho de 1982, Bashir Gemayel afirmou aos representantes da Mossad,
numa reunião em que participaram seis dos seus principais conselheiros, que, para lidar com os
xiitas, «é possível que venham a precisar de várias Deir Yassins». Para o conhecimento israelita
sobre anteriores massacres das FL durante a invasão israelita de 1982, ver notas 32 e 34 acima.
54. No dia 8 de julho de 1982, Bashir Gemayel perguntou a Sharon se objetaria a que as FL
utilizassem buldózeres para remover os campos palestinianos no sul. Sharon respondeu assim:
«Isso não é assunto nosso: não queremos envolver-nos nos assuntos externos do Líbano», DK IV,
230. Numa reunião com o major-general Saguy a 23 de julho de 1982, Bashir Gemayel afirmou
que era necessário lidar com o «problema demográfico» palestiniano, e que, se os campos de
refugiados palestinianos no Sul fossem destruídos, a maioria dos libaneses não se importaria, DK
VI, 244. Numa reunião de 1 de agosto de 1982, o general Saguy afirmou que «chegou a altura de
os homens de Bashir prepararem um plano para lidar com os palestinianos». DK VI, 243. No dia
21 de agosto, em resposta a uma pergunta de Sharon sobre o que as FL planeavam fazer com os
campos de refugiados palestinianos, Bashir Gemayel afirmou: «Planeamos um verdadeiro jardim
zoológico», DK V, 8. Uma testemunha ouvida pela Comissão Kahan, o tenente-coronel Harnof,
afirmou que os líderes das FL tinham dito que «Sabra se tornaria um jardim zoológico e Shatila o
parque de estacionamento de Beirute», observando que tinham já realizado massacres de
palestinianos no Sul, DK VI, 78. O diretor da Mossad (a partir de setembro de 1982), Nahum
Admoni, disse à comissão que Bashir Gemayel «estava preocupado com o equilíbrio demográfico
do Líbano… Quando falava em termos de mudança demográfica, era sempre em termos de morte e
eliminação», DK VI, 80. O diretor da Mossad até setembro de 1982, Yitzhak Hofi, disse que os
líderes das FL «falam em resolver o problema palestiniano com um gesto de mão cujo significado é
a eliminação física», DK VI, 81.
55. O livro de dois cultos e respeitados jornalistas israelitas, Ze’ev Schiff e Ehud Ya’ari, Israel’s
Lebanon War, está repleto de relatos de exemplos cruciais da tomada de decisão por Israel e do
papel de apoio da diplomacia americana, muitos dos quais foram confirmados por novos
documentos oficiais divulgados por ambas as partes. Ver também o artigo de Schiff, «The Green
Light», Foreign Policy 50 (primavera de 1983), 73-85.
56. Anziska, Preventing Palestine, 200-201, citando Morris Draper, «Marines in Lebanon, A
Ten Year Retrospective: Lessons Learned» (Quantico: VA, 1992), cortesia de Jon Randal.
57. Ao longo de uma distinta carreira diplomática, Ryan Crocker serviu como embaixador em
seis países, muitos dos quais em postos extremamente difíceis, como Bagdade e Cabul.
58. Não foi o meu último contacto com os serviços de inteligência sírios. Uma tradução para o
árabe de Under Siege, que incluía uma descrição crítica do papel do regime de Asad na guerra de
1982, foi travada alguns anos depois, por receio da editora libanesa dos ameaçadores serviços de
inteligência sírios, que dominavam Beirute naqueles dias. Consegui publicá-lo em árabe, de forma
seriada, na imprensa do Kuwait. Finalmente, o Instituto de Estudos Palestinianos publicou uma
tradução para o árabe em 2018. Embora não tenha sido possível publicá-lo em árabe em Beirute
nessa altura, a Marachot, editora do Ministério da Defesa israelita, publicou o livro em hebraico em
1988, ainda que acrescentando ocasionalmente uma cínica nota marginal crítica.
59. Foram precisos quase oito meses para a UAB lhe conseguir obter um visto de residência,
algo que deveria ter demorado apenas um par de semanas: era a Sureté Génerale do novo regime
instalado por Sharon em ação. A natureza da eleição de Amin Gemayel por ser vista em Bergman,
Rise and Kill First, 673n262, que descreve em pormenor como as forças militares e de segurança
israelitas «acompanharam» os deputados libaneses às eleições, ajudando também, por vezes, a
«persuadi-los».
60. Antes de partir de Beirute, visitei o veterano estadista libanês Sa’eb Salam, que era nosso
parente por múltiplos casamentos, a fim de o entrevistar acerca do seu papel na guerra de 1982. Ele
respondeu às minhas perguntas, mas pediu para ficar de fora do livro. Mesmo antes de o deixar,
falou-me sobre a sua muito especulada visita a Bashir Gemayel dias antes do seu assassinato. Este
encontro particular seguiu-se a um azedo encontro secreto entre Gemayel e Begin, em que o
primeiro recusou a exigência de Begin de assinar imediatamente um tratado de paz com Israel. Os
pormenores podem ser consultados em Schiff e Ya’ari, Israel’s Lebanon War, sendo que alguns
deles me foram confirmados por Schiff numa entrevista (Washington, DC, 30 de janeiro de 1984).
O agora morto jovem presidente-eleito tinha-lhe dito o seguinte: «Sabe, Sa’eb Bey [um título
honorífico otomano adquirido pelo seu pai], muitos dos meus principais tenentes foram treinados
em Israel. Não tenho de todo a certeza de quais deles são leais a Israel e quais o são a mim.» Ainda
que as suas relações com Begin tivessem azedado antes da sua morte, Gemayel tinha muitos
inimigos. A pessoa que plantou os explosivos que o mataram era supostamente um esquerdista
libanês a trabalhar com os serviços de inteligência sírios. As transcrições do interrogatório a um
dos supostos assassinos, Habib al-Shartouni, encontram-se no jornal falangista al-‘Amal: Parte 1:
https://www.lebanese-forces.com/2019/09/04/bachir-gemayel-chartouni/; Parte 2:
https://www.lebanese-forces.com/2019/09/02/bachir-gemayel-36/; Parte 3: https://www.lebanese-
forces.com/2019/09/04/bachir-gemayel-37/.
61. Esta é uma das conclusões a que Amy Kaplan chega na sua análise ao apoio dos EUA a
Israel em Our American Israel, 136-77, num capítulo intitulado «Um Israel Diferente do que
Vimos no Passado», embora conclua que, com o tempo, os apoiantes de Israel conseguiram
recuperar a sua imagem.
62. Entrevistas a Morris Draper, Robert Dillon e Philip Habib, Washington DC, 14 de
dezembro, 6 de dezembro e 3 de dezembro de 1984. Estas entrevistas foram feitas para Under
Siege, cuja ideia surgiu inicialmente durante a guerra, quando estava a ler o relato de Ibn Khaldun
de um encontro com Timur [Tamerlão] durante o seu cerco a Damasco em 1400 e calhou
encontrar-me com um amigo, o Dr. Sami Musallam. Tal como eu, Sami trabalhava a tempo parcial
no IEP, e estava também encarregado dos arquivos do gabinete do presidente da OLP. Contei-lhe
que depois da guerra, embora não fosse certamente nenhum Ibn Khaldun, gostaria de aceder a esses
arquivos para escrever um relato documental daquilo a que tínhamos assistido durante o cerco.
Sami disse que, se sobrevivêssemos, e se conseguisse tirar os arquivos de Beirute, o que conseguiu,
obteria a autorização de ‘Arafat, o que também fez.
63. Entrevistei ‘Arafat, Abu Iyad, Abu Jihad, Mahmud ‘Abbas [Abu Mazin], Khalid e Hani al-
Hasan, e Faruq Qaddumi [Abu Lutf], bem como outros oficiais da OLP em Tunes, em março,
agosto e dezembro de 1984.
64. O bombardeamento por parte deste enorme navio da Segunda Guerra Mundial contra as
milícias drusas nos Shouf levou alguns espirituosos libaneses a dar-lhe a alcunha de «New Derzi»,
um trocadilho com a palavra árabe para druso.
65. Bergman, Rise and Kill First, 560-63, sugere tímida e longamente que ‘Arafat foi
envenenado por agentes israelitas.
Capítulo 5
1. Caio Cornélio Tácito, Agricola and Germania, tr. K. B. Townsend (Londres: Methuen,
1893), 33.
2. Este capítulo refere-se sobretudo à Primeira Intifada, a insurreição desarmada e
maioritariamente pacífica que durou em plena força desde 1987 a 1993, em distinção da segunda,
que começou em 2000 e acabou por se tornar numa revolta armada, incluindo o uso de bombistas
suicidas pelos palestinianos e a utilização de tanques, helicópteros e outro armamento pesado pelas
forças de ocupação israelitas.
3. Francis X. Clines, «Talk with Rabin: Roots of the Conflict», New York Times, 5 de fevereiro
de 1988, http://www.nytimes.com/1988/02/05/world/talk-with-rabin-roots-of-the-conflict.html.
4. Para uma excelente análise do impacto da intifada na opinião dos EUA acerca de Israel, ver
Kaplan, Our American Israel, capítulo 4.
5. Francis X. Clines, «Talk with Rabin: Roots of the Conflict».
6. David McDowall, Palestine and Israel: The Uprising and Beyond (Londres: I.B. Tauris,
1989), 84.
7. Para um retrato mordaz de Milson e do seu papel, ver Flora Lewis, «Foreign Affairs: How to
Grow Horns», New York Times, 29 de abril de 1982,
http://www.nytimes.com/1982/04/29/opinion/foreign-affairs-how-to-grow-horns.html.
8. Para uma análise deste exemplo específico do velho fenómeno orientalista de peritos a
estudarem o povo que oprimiam, ver Gil Eyal, The Disenchantment of the Orient (Stanford, CA:
Stanford University Press, 2006).
9. «Colonel Says Rabin Ordered Breaking of Palestinians’ Bones», Reuters, citado em LA
Times, 22 de junho de 1990, http://articles.latimes.com/1990-06-22/news/mn-431_1_rabin-ordered.
Na sua biografia, Yitzhak Rabin: Soldier, Leader, Statesman (New Haven, CT: Yale University
Press, 2017), 156-57, Itamar Rabinovich nega a precisão dessa citação, admitindo, no entanto, que
Rabin «foi nitidamente o autor de uma política que procurou vencer a intifada através do uso da
força».
10. Numa viagem dois anos depois, com uma bolsa Fullbright, foi-me recusada a entrada em
Israel. Após muitas horas de detenção, foi-me permitido entrar devido à intercessão do cônsul-geral
dos EUA em Telavive, que tinha sido avisado da minha chegada pelo Departamento de Estado.
11. Estes números, recolhidos pela ONG de direitos humanos israelita B’Tselem, incluem tanto
os palestinianos e israelitas mortos nos Territórios Ocupados como dentro de Israel:
http://www.btselem.org/statistics/first_intifada_tables.
12. Rabinovich, Yitzhak Rabin, 157-58.
13. «Iron-fist Policy Splits Israelis», Jonathan Broder, Chicago Tribune, 26 de janeiro de 1988,
http://articles.chicagotribune.com/1988-01-27/news/8803270825_1_beatings-anti-arab-anti-israeli-
violence.
14. O premiado documentário de 2017 de Julia Bacha, Naila e o Levante, traça um retrato
abrangente do papel fundamental das mulheres na intifada:
https://www.justvision.org/nailaandtheuprising. Ver também o filme de 2014 de Amer Shomali, As
18 Fugitivas: https://www.youtube.com/watch?v=ekhTuZpMw54.
15. Tal como vimos, apesar das divisões que gerou, a revolta provocou extensas transformações
sociais e políticas antes de ser esmagada por 100 000 soldados britânicos, apoiados pelos seus
auxiliares sionistas, bem como pelo uso intensivo da força aérea. Ver o notável artigo de Charles
Anderson, «State Formation from Below».
16. Bergman, Rise and Kill First, 311-33, diz que o papel de Abu Jihad na intifada foi a
principal razão para ele ter sido morto, observando (323) que alguns oficiais superiores israelitas
admitiram posteriormente que «o assassinato não conseguiu atingir o seu objetivo» de fragilizar a
intifada, e que, por estas e por outras razões, acabaram por sentir que a sua morte tinha sido um
erro.
17. Ibid., 316-17, conta que os organizadores da operação para matar Abu Jihad decidiram
deliberadamente não assassinar Mahmud ‘Abbas [Abu Mazin], cuja casa era ali perto. Muitos
palestinianos já suspeitavam há muito que só os que eram vistos pelos serviços de segurança
israelitas como defensores notáveis da causa palestiniana eram alvo de liquidação, implicando que
os outros não valiam o esforço de os matar.
18. A virulência da rivalidade entre a Síria e a OLP é discernível a partir da alegação de
Bergman, ibid., 304, de que agentes infiltrados dos serviços de informação israelitas que se faziam
passar por palestinianos dissidentes passavam secretamente informações sobre operacionais da
OLP ao posto dos serviços de inteligência sírios em Chipre. Os serviços de segurança sírios
«livraram-se então de cerca de 150 pessoas da OLP», que foram liquidadas ao chegar ao Líbano.
19. Para mais pormenores, ver Richard Sale, «Israel Gave Major Aid to Hamas», UPI, 24 de
fevereiro de 2001, e Shaul Mishal e Avraham Sela, The Palestinian Hamas: Vision, Violence, and
Coexistence (Nova Iorque: Columbia University Press, 2000). Estes bem relacionados autores
israelitas deixam claro que dividir as fileiras palestinianas era o objetivo do dispositivo de
segurança israelita ao promover a ascensão de um rival islamita da OLP.
20. Após a guerra de 1982, Shoufani juntou-se aos rebeldes da Fatah apoiados pela Síria que se
opunham à liderança de ‘Arafat.
21. «Statement by Yasser Arafat – 14 December 1988», Ministério dos Negócios Estrangeiros
de Israel, Documentos Históricos, 1984-88,
http://mfa.gov.il/MFA/ForeignPolicy/MFADocuments/Yearbook7/Pages/419%20Statement%20by
%20Yasser%20Arafat-%2014%20December%201988.aspx.
22. FRUS, XXVI, Arab-Israeli Dispute, 1974-76, Washington, DC: US Government Printing
Office, 2012, 838-40, 831-32, https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1969-76v26.
23. Ainda que, tal como vimos no capítulo 4, a carta de Ford a Rabin tenha sido publicada pelo
Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita na sua série Israel’s Foreign Relations: Selected
Documents em 1982, ficando a partir daí disponível online no site do ministério, nunca é referida
nas volumosas memórias de Kissinger, e o governo dos EUA só a publicou na série Foreign
Relations of the United States em 2012, trinta anos depois.
24. Bergman, Rise and Kill First, 311.
25. Soube deste conselho, incorporado num memorando cujo texto fui incapaz de encontrar,
pelo próprio Ahmad, e também por outros. Alguns destes temas podem ser encontrados em
seleções em Carollee Bengelsford, Margaret Cerullo e Yogesh Chandrani, eds., The Selected
Writings of Eqbal Ahmad (Nova Iorque: Columbia University Press, 2006), 77-78, 296-97.
26. Numa carta a um «camarada» (o nome do destinatário está tapado) no dia 17 de setembro
de 1982, Ahmad deu posteriormente o mesmo conselho à OLP: embora apelasse à «resistência
clandestina armada» contra as forças de ocupação israelitas no Líbano, na Palestina ocupada,
defendia uma «organização militante e criativa de luta política não violenta» [ênfase do autor].
Cópia da carta em minha posse, cortesia de Nubar Hovsepian. Ver também a análise de Ahmad
neste sentido em «Pioneering in the Nuclear Age: An Essay on Israel and the Palestinians», em The
Selected Writings of Eqbal Ahmad, 298-317.
27. Isto era verdade, ainda que em 1947 Moscovo tivesse sido uma das parteiras da divisão e da
resultante criação de Israel, cuja existência apoiou consistentemente a partir de então, e tivesse
apoiado a UNSC 242, que consagrava as vitórias de Israel em 1948 e 1967. Inicialmente, os
soviéticos desconfiavam do «aventureirismo» da OLP e do seu potencial para arrastar a URSS e os
seus clientes egípcios e sírios para um conflito que não desejavam.
28. Para a descrição de Primakov dos seus esforços para evitar uma guerra (e poupar um dos
últimos clientes soviéticos que restavam à loucura do seu líder), ver Missions à Bagdade: Histoire
d’une négociation secrète (Paris: Seuil, 1991). Imediatamente a seguir, Primakov tornou-se chefe
da direção de operações externas do KGB, e após a dissolução da URSS foi chefe dos serviços de
informação externos, Ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro da Rússia.
29. Elizabeth Thompson, Justice Interrupted: The Struggle for Constitutional Government in
the Middle East (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013), 249.
30. O texto de «U.S.-Soviet Invitation to the Mideast Peace Conference in Madrid, October 18,
1991» pode ser consultado em William Quandt, Peace Process: American Diplomacy and the
Arab-Israeli Conflict Since 1967, 3.ª ed. (Washington, DC: Brookings Institution Press, 2005),
apêndice N, https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/07/Appendix-N.pdf. Para a carta
de garantias aos palestinianos, ver ibid., apêndice M: https://www.brookings.edu/wp-
content/uploads/2016/07/Appendix-M.pdf.
31. Ibid., apêndice N.
32. A carta de garantias aos palestinianos estava datada de 18 de outubro de 1991. Ver ibid.,
apêndice M.
33. Tal como foi referido no capítulo 4 e acima, esta carta só foi revelada pelo governo dos
EUA aquando da sua publicação na série Foreign Relations of the United States em 2012. No
entanto, tinha sido publicada por Israel na sua série de documentos do Ministério dos Negócios
Estrangeiros vinte anos antes, em 1982, muito antes de Madrid.
34. Aaron David Miller, «Israel’s Lawyer», Washington Post, 23 de maio de 2005,
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2005/05/22/AR2005052200883.html.
35. Aaron David Miller, The Much Too Promised Land (Nova Iorque: Bantam, 2008), 80.
36. «When You’re Serious, Call Us», Newsweek, 24 de junho de 1990,
http://www.newsweek.com/when-youre-serious-call-us-206208.
37. John Goshko, «Baker Bars Israeli Loan Aid Unless Settlements Are Halted», Washington
Post, 25 de fevereiro de 1992, https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1992/02/25/baker-
bars-israeli-loan-aid-unless-settlements-are-halted/e7311eea-e6d3-493b-8880-a3b98e0830a1/.
38. Um texto fundamental na campanha contra eles foi Robert Kaplan, Arabists: Romance of an
American Elite (Nova Iorque: Free Press, 1995), baseado numa série de artigos mordazes
publicados na Atlantic. Outra crítica feroz à diplomacia americana e ao saber do Médio Oriente
está em Martin Kramer, Ivory Towers on Sand: The Failure of Middle Eastern Studies in America
(Washington, DC: Instituto Washington para a Política do Próximo Oriente, 2001). Aluno de
Bernard Lewis, Kramer faz parte de uma longa linha de detratores de extrema direita que veem as
políticas ocidentais no Médio Oriente como sendo insuficientemente pró-Israel e antiárabes, linha
essa que remonta ao académico britânico nascido em Bagdade Elie Kedourie.
39. Os primeiros dois doutoraram-se em relações internacionais (não sendo, por isso, de modo
algum especialistas no Médio Oriente), e Kurtzer e Miller em estudos do Médio Oriente.
40. Roger Cohen, «The Making of an Iran Policy», New York Times Magazine, 30 de julho de
2009, https://www.nytimes.com/2009/08/02/magazine/02Iran-t.html.
41. Peter Beinart, «Obama Betrayed Ideals on Israel», Newsweek, 12 de março de 2012,
http://www.newsweek.com/peter-beinart -obama-betrayed-ideals-israel-63673.
42. Indyk foi posteriormente embaixador dos Estados Unidos em Telavive, onde este veterano
defensor dos interesses de Israel em Washington foi vilipendiado como demasiado brando, tal
como o seu colega Dan Kurtzer ao ocupar o mesmo cargo. Nenhum deles foi poupado aos
constantes insultos vulgares por parte da extrema-direita israelita, apesar do facto de serem ambos
judeus.
43. R. Khalidi, Brokers of Deceit, 56.
44. Clyde Haberman, «Shamir Is Said to Admit Plan to Stall Talks “For 10 Years”», New York
Times, 27 de junho de 1992, https://www.nytimes.com/1992/06/27/world/shamir-is-said-to-admit-
plan-to-stall-talks-for-10-years.html.
45. Isto é confirmado pelo biógrafo e colega próximo de Rabin, Itamar Rabinovich, que foi o
principal negociador israelita com a Síria: Yitzhak Rabin, 177-85, 193-99.
46. Ibid., 165.
47. Ibid., 212-14.
48. «Outline of the Palestinian Interim Self-Governing Authority (PISGA)», apresentado a 14
de janeiro de 1992, http://www.palestine-
studies.org/sites/default/files/uploads/images/PISGA%20Jan%2014%2C%201992%20%20p%201
%2C2.pdf. Uma versão mais detalhada do plano foi entregue ao lado israelita no dia 2 de março de
1992: «Palestinian Interim Selfgovernment Arrangements: Expanded Outline of Model of
Palestinian Interim Selfgovernment Authority: Preliminary Measures and Modalities for
Elections», 2 de março de 1993, http://www.palestine-
studies.org/sites/default/files/uploads/files/Final%20outline%20PISGA%20elections%202%20Mar
_%2092.pdf.
49. Rabinovich, Yitzhak Rabin, 183.
50. Ibid., 189-91, cita dois outros «canais alternativos a Oslo» e a Washington que Rabin
mandou abrir, mas não faz referência a este.
51. Não sendo nenhum deles particularmente modesto, tanto Peres como Abu al-‘Ala
escreveram longamente, e este último exaustivamente, sobre os seus papéis em Oslo: Abu al-‘Ala
[Ahmad Quray’], al-Riwaya al-filistinyya al-kamila lil-mufawadat: Min Oslo ila kharitat al-tariq
[Relato completo das negociações palestinianas: De Oslo ao Mapa das Estradas], vols. 1-4
(Beirute: Instituto de Estudos Palestinianos, 2005-2014); Shimon Peres, Battling for Peace: A
Memoir (Nova Iorque: Random House, 1995).
52. Nas palavras de Rabinovich, Yitzhak Rabin, 187, «Rabin confiava nos antigos oficiais das
FDI», entre os quais se contava.
53. Podemos procurar em vão nas biografias destes dois homens (e, no caso de ‘Ammar, que
morreu em 2010, no seu obituário) por qualquer referência aos seus papéis na obtenção de um
acordo de segurança israelo-palestiniano.
54. «Draft Minutes: Meeting with the Americans», 23 de junho de 1993, http://www.palestine-
studies.org/sites/default/files/uploads/files/Minutes%20Kurtzer%2C%20Miller%20meeting%2023
%20June%2093.pdf.
55. São muitas as análises detalhadas às razões para os fracassos dos Acordos de Oslo e das
suas sequelas feitas por participantes nas negociações entre palestinianos, israelitas e americanos,
incluindo Abu al-‘Ala, Shimon Peres, Yossi Beilin, Dennis Ross, Daniel Kurtzer, Aaron David
Miller, Camille Mansour, Hanan ‘Ashrawi, Ghassan al-Khatib, e o meu Brokers of Deceit.
56. «The Morning After», London Review of Books 15, n.º 20, 21 de outubro de 1993,
https://www.lrb.co.uk/v15/n20/edward-said/the-morning-after. Este artigo profundamente cético foi
escrito numa altura de euforia quase universal com a cerimónia de assinatura dos Acordos de Oslo
no relvado da Casa Branca em 1993. Said foi presciente em muitos aspetos, perguntando: «Quer
isto dizer, ominosamente, que a fase transitória pode ser a final?» No momento em que estas linhas
são escritas, estamos prestes a entrar no vigésimo sétimo ano desta fase de transição.
57. Rabinovich, Yitzhak Rabin, 193.
58. Alguns dos documentos aí apreendidos, incluindo material remontando à década de 1930
dos arquivos históricos da Sociedade de Estudos Árabes, como os documentos de Musa al-‘Alami,
que aí examinei no início da década de 1990, encontram-se agora nos Arquivos Nacionais de
Israel, sob a epígrafe AP, de Propriedade Abandonada. Jazem junto a material roubado do Centro
de Investigação da OLP em Beirute em 1982 e a livros que foram confiscados de casas árabes
numa vaga anterior de saques organizados em 1948. Este constante processo de roubo de recursos
culturais e intelectuais palestinianos constitui uma forma de «memoricídio», parte integrante da
campanha israelita de «politicídio» contra os palestinianos, para usar novamente o termo acertado
de Baruch Kimmerling.
59. Eu estava presente e ouvi Gazit dizer isto em resposta a uma pergunta da plateia durante um
painel de discussão na Universidade de Amherst no dia 4 de março de 1994.
Capítulo 6
1. David Barsamian, The Pen and the Sword: Conversations with Edward Said (Monroe, ME:
Common Courage Press, 1994).
2. O PIB palestiniano per capita manteve-se nos cerca de 1 380 dólares entre 1995 e 2000.
Desceu mais de 340 dólares entre 2000 e 2004, e mais ainda nos anos seguintes. Estatísticas da
UNCTAD, «Report on UNCTAD’s Assistance to the Palestinian People», TD/B/52/2, 21 de julho
de 2005, tabelas 1, 6.
3. Ben White observa que o isolamento da Faixa de Gaza começou, na verdade, com restrições
à entrada dos residentes de Gaza em Israel através de novos cartões magnéticos em 1989, dezassete
anos antes de o Hamas ter assumido o controlo: «Gaza: Isolation and Control», Al Jazeera News,
10 de junho de 2019, https://www.aljazeera.com/news/2019/06/gaza-isolation-control-
190608081601522.html.
4. Há uma infinidade de estudos sobre a situação em Gaza, nomeadamente a obra de Sara Roy,
incluindo The Gaza Strip: The Political Economy of De-Development (Washington, DC: Instituto
de Estudos Palestinianos, 1994); e Hamas and Civil Society in Gaza: Engaging the Islamist Social
Sector (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2011); bem como Jean-Pierre Filiu, Gaza: A
History (Oxford: Oxford University Press, 2014).
5. Piotr Smolar, «Jerusalem: Les diplomates de l’EU durcissent le ton», Le Monde, 2 de
fevereiro de 2018, 3, http://www.lemonde.fr/proche-orient/article/2018/01/31/a-rebours-des-etats-
unis-les-diplomates-europeens-soulignent-la-degradation-de-la-situation-a-
jerusalem_5250032_3218.html.
6. Provas disto podem ser encontradas na receção extasiada em Nova Iorque ao medíocre
melodrama Oslo, com as suas caricaturas dos negociadores palestinianos e israelitas a roçarem o
racista e a sua representação hagiográfica de Peres, que venceu um Tony Award para melhor peça
em 2017 e em breve estaria a desfrutar de uma bem-sucedida passagem pelo West End em Londres.
7. A literatura sobre o Hamas é extensa. Inclui Tareq Baconi, Hamas Contained: The Rise and
Pacification of Palestinian Resistance (Stanford, CA: Stanford University Press, 2018); Roy,
Hamas and Civil Society in Gaza; Ziad Abu-Amr, Islamic Fundamentalism in the West Bank and
Gaza: Muslim Brotherhood and Islamic Jihad (Indianápolis: Indiana University Press, 1994);
Khaled Hroub, Hamas: Political Thought and Practice (Washington, DC: Instituto de Estudos
Palestinianos, 2002); Mishal e Sela, The Palestinian Hamas; e Azzam Tamimi, Hamas: A History
from Within (Northampton, MA: Olive Branch Press, 2007).
8. Um bom resumo de como Israel apoiou o Hamas encontra-se em Mehdi Hassan, «Blowback:
How Israel Went from Helping Create Hamas to Bombing It», Intercept, 19 de fevereiro de 2018,
https://theintercept.com/2018/02/19/hamas-israel-palestine-conflict/. Ver também as fontes citadas
na nota 19 do capítulo anterior.
9. Há uma vasta literatura sobre a cimeira de Camp David, grande parte dela oportunista ou
enganadora, nomeadamente a obra de um dos seus principais arquitetos, Dennis Ross, The Missing
Peace: The Inside Story of the Fight for Middle East Peace (Nova Iorque: Farrar, Straus and
Giroux, 2004). O melhor relato é o de Clayton Swisher, The Truth About Camp David: The Untold
Story About the Collapse of the Middle East Peace Process (Nova Iorque: Nation Books, 2004).
10. Para mais pormenores, ver Rana Barakat, «The Jerusalem Fellah: Popular Politics in
Mandate-Era Palestine», Journal of Palestine Studies 46, n.º 1 (outono de 2016): 7-19; e
«Criminals or Martyrs? British Colonial Legacy in Palestine and the Criminalization of
Resistance», Omran 6, novembro de 2013,
https://omran.dohainstitute.org/en/issue006/Pages/art03.aspx. Ver também Hillel Cohen, 1929:
Year Zero of the Arab-Israeli Conflict (Boston: Brandeis University Press, 2015).
11. Para uma lista das mesquitas e templos religiosos muçulmanos destruídos como parte da
criação da praça do Muro Ocidental, ver R. Khalidi, «The Future of Arab Jerusalem», British
Journal of Middle East Studies 19, n.º 2 (outono de 1993): 139-40. A análise mais detalhada da
criação, história e destruição de Haret al-Maghariba está em Vincent Lemire, «Au pied du mur:
Histoire du quartier mahgrébin de Jérusalem (1187-1967)», a publicar. Informação arquitetónica e
arqueológica, e também ilustrações de muitos destes locais destruídos, podem ser encontradas em
Michael Hamilton Burgoyne, Mamluk Jerusalem: An Architectural Study (Londres: World of Islam
Festival Trust, 1987).
12. A Zawiya, uma antiga loja sufi contígua ao Haram, tinha-se tornado na residência da
família Abu al-Sa’ud, sendo estes tradicionalmente os seus administradores: Yitzhak Reiter,
Islamic Endowments in Jerusalem Under British Mandate (Londres: Cass, 1996), 136. Foi aí que
Yasser ‘Arafat, cuja mãe era uma Abu Sa’ud, nasceu em 1929, segundo a minha prima Raqiyya
Khalidi, Um Kamil, que disse ter ido visitar os seus vizinhos, a família Abu Sa’ud, juntamente com
a sua mãe, para os felicitar pelo nascimento do rapaz recém-nascido: entrevista, Jerusalém, 26 de
julho de 1993.
13. Suzanne Goldenberg, «Rioting as Sharon Visits Islam Holy Site», Guardian, 29 de
setembro de 2000, https://www.theguardian.com/world/2000/sep/29/israel.
14. Todos os números são de tabelas publicadas pela indispensável B’Tselem, o Centro de
Informações Israelita para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados:
https://www.btselem.org/statistics.
15. Reuven Pedatzur, «One Million Bullets», Haaretz, 29 de junho de 2004,
https://www.haaretz.com/1.4744778.
16. Ibid. De acordo com a análise de Pedatzur, o alto comando israelita tinha optado com
antecedência por este uso esmagador da força a fim de que a derradeira derrota dos palestinianos
ficasse «gravada a fogo nas suas consciências».
17. Efraim Benmelech e Claude Berrebi, «Human Capital and the Productivity of Suicide
Bombers», Journal of Economic Perspectives 21, n.º 3 (verão de 2007): 223-38.
18. A minha impressão é de que o seu declínio mental começou mais cedo, podendo remontar a
1992 e à aterragem de emergência de um avião que o transportava no deserto da Líbia, que matou
vários dos que iam a bordo e o deixou ferido: Youssef Ibrahim, «Arafat is Found Safe in Libyan
Desert After Crash», New York Times, 9 de abril de 1992,
http://www.nytimes.com/1992/04/09/world/arafat-is-found-safe-in-libyan-desert-after-crash.html.
19. Esta doutrina é poderosamente analisada por Pedatzur «One Million Bullets».
20. As mais credíveis e consistentes sondagens ao longo das últimas décadas têm sido feitas
pelo Centro de Meios e Comunicação de Jerusalém. De acordo com a sua Sondagem N.º 52,
divulgada em dezembro de 2004: «A maioria dos palestinianos opõe-se às operações militares
contra alvos israelitas como resposta adequada face às atuais condições políticas»,
http://www.jmcc.org/documentsandmaps.aspx?id=448.
21. Nicholas Pelham e Max Rodenbeck, «Which Way for Hamas?», New York Review of Books,
5 de novembro de 2009, https://www.nybooks.com/articles/2009/11/05/which-way-for-hamas/.
22. Isto foi claramente demonstrado por sondagens realizadas após as eleições pelo conceituado
Centro Palestiniano de Política e de Pesquisas, http://www.pcpsr.org/en/node/478; e por uma
empresa privada, a Near East Consulting, http://www.neareastconsulting.com/plc2006/blmain.html.
23. A versão final revista, aceite por todas as fações palestinianas, datada de 28 de junho de
2006, pode ser consultada aqui:
https://web.archive.org/web/20060720162701/http://www.jmcc.org/documents/prisoners2.htm.
24. Este número é de junho de 2018: https://www.ochaopt.org/content/53-cent-palestinians-
gaza-live-poverty-despite-humanitarian-assistance.
25. Este número é da ONG israelita Gisha: https://gisha.org/updates/9840. As estimativas do
CIA World Fact Book para 2016 e 2017 são mais baixas:
https://www.cia.gov/library/publications/resources/the-world-factbook/geos/gz.html.
26. Dois excelentes livros sobre as guerras em Gaza são Norman Finkelstein, Gaza: An Inquest
into Its Martyrdom (Oakland: University of California Press, 2018); e Noam Chomsky e Ilan
Pappe, Gaza in Crisis: Reflections on the US-Israeli War on the Palestinians (Chicago: Haymarket
Books, 2013).
27. Estes números são retirados do site da B’Tselem, o Centro de Informações Israelita para os
Direitos Humanos nos Territórios Ocupados, https://www.btselem.org/statistics/fatalities/during-
cast-lead/by-date-of-event; e https://btselem.org/statistics/fatalities/after-cast-lead/by-date-of-event.
28. «50 Days: More Than 500 Children: Facts and Figures on Fatalities in Gaza, Summer
2014», B’Tselem, https://www.btselem.org/2014_gaza_conflict/en/il/.
29. Barbara Opall-Rome, «Gaza War Leaned Heavily on F-16 Close-Air Support», Defense
News, 15 de setembro de 2014,
http://www.defensenews.com/article/20140915/DEFREG04/309150012/Gaza-War-Leaned-
Heavily-F-16-Close-Air-Support, também disponível via: http://www.imra.org.il/story.php3?
id=64924.
30. Jodi Rudoren e Fares Akram, «Lost Homes and Dreams at Tower Israel Leveled», New York
Times, 15 de setembro de 2014.
31. «Protective Edge, in Numbers», Ynet, 14 de agosto de 2014,
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-4558916,00.html.
32. Mark Perry, «Why Israel’s Bombardment of Gaza Neighborhood Left US Officers
“Stunned”», Al Jazeera America, 27 de agosto de 2014,
http://america.aljazeera.com/articles/2014/8/26/israel-bombing-stunsusofficers.html.
33. Em «Why It’s Hard to Believe Israel’s Claim That It Did Its Best to Minimize Civilian
Casualties», The World Post, 21 de agosto de 2014, Idan Barir, antigo comandante do corpo de
artilharia israelita, observa que «A verdade é que as granadas de artilharia não podem ser apontadas
com precisão e não se destinam a atingir alvos específicos. Um obus padrão de 40 quilogramas não
passa de uma grande granada de fragmentação. Quando explode, destina-se a matar toda a gente
num raio de 50 metros e a ferir todos aqueles que estiverem dentro dos 100 metros seguintes», e
que o uso por Israel «de fogo de artilharia é um mortífero jogo de roleta russa. As estatísticas, em
que esse poder de fogo se baseia, significam que, em áreas densamente povoadas como Gaza, serão
inevitavelmente atingidos também civis», http://www.huffingtonpost.com/idan-barir/israel-gaza-
civilian-deaths_b_5673023.html.
34. «Israel Warns Hizballah War Would Invite Destruction», Ynetnews.com (Yedioth Ahranoth),
3 de outubro de 2008, http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3604893,00.html. Ver também
Yaron London, «The Dahiya Strategy», Ynetnews.com (Yedioth Ahranoth), 6 de outubro de 2008,
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3605863,00.html.
35. Por exemplo, Amos Harel, «A Real War Is Under Way in Gaza», Haaretz, 26 de julho de
2014, http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defense/.premium-1.607279.
36. 22 USC 2754: Fins para os quais as vendas ou concessões militares dos Estados Unidos são
autorizadas; relatório ao Congresso: https://uscode.house.gov/view.xhtml?req=
(title:22%20section:2754%20edition:prelim).
37. Shibley Telhami, «American Attitudes on the Israeli-Palestinian Conflict», Brookings, 2 de
dezembro de 2016, https://www.brookings.edu/research/american-attitudes-on-the-israeli-
palestinian-conflict/.
38. «Views of Israel and Palestinians», Pew Research Center, 5 de maio de 2016,
http://www.people-press.org/2016/05/05/5-views-of-israel-and-palestinians/.
39. «Republicans and Democrats Grow Even Further Apart in Views of Israel, Palestinians»,
Pew Research Center, 23 de janeiro de 2018, http://www.people-press.org/2018/01/23/republicans-
and-democrats-grow-even-further-apart-in-views-of-israel-palestinians/.
40. Carroll Doherty, «A New Perspective on Americans’ Views of Israelis and Palestinians»,
Pew Research Center, 24 de abril de 2019, https://www.pewresearch.org/fact-tank/2019/04/24/a-
new-perspective-on-americans-views-of-israelis-and-palestinians/.
41. A principal promotora da lei foi a deputada Betty McCollum (DFL-MN):
https://mccollum.house.gov/media/press-releases/mccollum-introduces-legislation-promote-
human-rights-palestinian-children. Ver também https://mccollum.house.gov/media/press-
releases/mccollum-introduces-legislation-promote-human-rights-palestinian-children.
42. Estas são as situações apuradamente descritas por John Mearsheimer e Steven Walt em The
Israel Lobby and U.S. Foreign Policy (Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 2007).
43. Isto resulta claramente da sondagem anteriormente citada, de mais de 18 000 inquiridos em
onze países árabes, feita em 2017-18 pelo Centro Árabe de Investigação e Estudos Políticos:
https://www.dohainstitute.org/en/News/Pages/ACRPS-Releases-Arab-Index-2017-2018.aspx.
44. Secretário de Estado para Legação, Jeddah, 17 de agosto de 1948, FRUS 1948, vol. 2, parte
2, 1318. Para mais pormenores sobre como o regime saudita serviu os interesses de Washington
relativamente à Palestina, ver R. Khalidi, Brokers of Deceit, xxiv-xxvii.
45. Isto estava contido numa carta de Bush a Sharon entregue no dia 14 de abril de 2004,
durante uma reunião em Washington:
https://mfa.gov.il/mfa/foreignpolicy/peace/mfadocuments/pages/exchange%20of%20letters%20sha
ron-bush%2014-apr-2004.aspx.
46. Entrevistas com dois oficiais superiores diretamente envolvidos nestes assuntos que
preferiram manter o anonimato: 1 de fevereiro de 2010 e 11 de janeiro de 2011.
Conclusão
1. «Memorandum by Mr. Balfour (Paris) respecting Syria, Palestine, and Mesopotamia», 11 de
agosto de 1919, em Documents of British Foreign Policy, 1919-1939, ed. E. L. Woodward e Rohan
Butler (Londres: HM Stationery Office, 1952), 340-48,
http://www.yorku.ca/dwileman/2930Bal.htm.
2. «Remarks by President Trump and Prime Minister Netanyahu of Israel before Bilateral
Meeting Davos, Switzerland», 25 de janeiro de 2018, https://www.whitehouse.gov/briefings-
statements/remarks-president-trump-prime-minister-netanyahu-israel-bilateral-meeting-davos-
switzerland/.
3. C. Bengelsdorf et al., eds., The Selected Writings of Eqbal Ahmad, 301.
4. O artigo de Judt, «Israel: The Alternative», The New York Review of Books, 23 de outubro de
2003, controverso na altura, causaria provavelmente menos ondas hoje em dia, ainda que, na
atmosfera atual, a sua crítica ao sionismo pudesse atrair absurdas acusações de antissemitismo.
5. «Introduction», Blaming the Victims: Spurious Scholarship and the Palestinian Question, ed.
Edward Said e Christopher Hitchens (Nova Iorque: Verso, 1988), 1.
6. Estes esforços internacionais, cuidadosamente coordenados pelo Ministério de Assuntos
Estratégicos israelita, concentram-se particularmente em rotular o movimento Boicote,
Desinvestimento e Sanções (BDS) como «antissemita». O Journal of Palestine Studies publicou
uma série de artigos sobre estes esforços: Shir Hever, «BDS Suppression Attempts in Germany
Backfire», 48, n.º 3 (primavera de 2019): 86-96; Barry Trachtenberg e Kyle Stanton, «Shifting
Sands: Zionism and US Jewry», 48, n.º 2 (inverno de 2019): 79-87; Dominique Vidal, «Conflating
Anti-Zionism with Anti-Semitism: France in the Crosshairs», 48, n.º 1 (outono de 2018): 119-30;
Moshe Machover, «An Immoral Dilemma: The Trap of Zionist Propaganda», 47, n.º 4 (verão de
2018): 69-78.
7. «The Declaration of the Establishment of the State of Israel», 14 de maio de 1948,
http://www.mfa.gov.il/mfa/foreignpolicy/peace/guide/pages/declaration%20of%20establishment%
20of%20state%20of%20israel.aspx.
8. Zeev Sternhell, «En Israël pousse un racisme proche du nazisme à ses débuts», Le Monde, 20
de fevereiro de 2018, 22, tradução minha.
9. Para uma análise lúcida da lei, ver Hassan Jabareen e Suhad Bishara, «The Jewish Nation-
State Law: Antecedents and Constitutional Implications», Journal of Palestine Studies, 48, n.º 2
(inverno de 2019): 46-55. Para o seu texto, ver páginas 44-45, e para uma petição ao Supremo
Tribunal israelita sobre a matéria da lei feita pelo Adalah, o Centro Legal para os Direitos das
Minorias Árabes em Israel, ver 56-57.
10. Revital Hovel, «Justice Minister: Israel Must Keep Jewish Majority Even at the Expense of
Human Rights», Haaretz, 13 de fevereiro de 2018, https://www.haaretz.com/israel-news/justice-
minister-israel-s-jewish-majority-trumps-than-human-rights-1.5811106.
11. Ibid. Ver também Ravit Hecht, «The Lawmaker Who Thinks Israel is Deceiving the
Palestinians: No One Is Going to Give Them a State», Haaretz Weekend, 28 de outubro de 2017,
http://www.haaretz.com/israel-news/.premium.MAGAZINE-the-lawmaker-who-thinks-israel-is-
deceiving-the-palestinians-1.5460676.
12. Sternhell, «En Israël pousse un racisme proche du nazisme à ses debuts».
13. Em diferentes alturas, aviões israelitas bombardearam as cidades de Tunes, Cairo, Cartum,
Amã, Beirute, Damasco e Bagdade, várias delas repetidamente e várias recentemente.
14. Este é um dos argumentos centrais do meu livro, Palestinian Identity, em linha com as teses
apresentadas por vários dos mais respeitados autores sobre o nacionalismo, incluindo Benedict
Anderson, Eric Hobsbawm e Ernest Gellner.
15. Ernest Gellner, Nations and Nationalism (Ithaca, Nova Iorque: Cornell University Press,
1983), 48-49.
16. Peter Beaumont, «Trump’s Ambassador to Israel Refers to “Alleged Occupation” of
Palestinian Territories», Guardian, 1 de setembro de 2017, https://www.theguardian.com/us-
news/2017/sep/01/trump-ambassador-israel-david-friedman-alleged-occupation-palestinian-
territories; Nathan Guttman, «US Ambassador to Israel Asked State Department to Stop Using the
Word “Occupation”», The Forward, 26 de dezembro de 2017, https://forward.com/fast-
forward/390857/us-ambassador-to-israel-asked-state-dept-to-stop-using-the-word-
occupation/;David Halbfinger, «US Ambassador Says Israel Has Right to Annex Parts of West
Bank», New York Times, 8 de junho de 2019,
https://nytimes.com/2019/06/08/world/middleeast/israel-west-bank-david-friedman.html.
17. Ruth Eglash, «Top Trump Adviser Says Settlements Are Not an Obstacle to Peace»,
Washington Post, 10 de novembro de 2017,
https://www.washingtonpost.com/world/middle_east/top-trump-adviser-says-israeli-settlements-
are-not-an-obstacle-to-peace/2016/11/10/8837b472-5c81-49a3-947c-ba6a47c4bc2f_story.html;
Piotr Smolar, «Washington ouvrira son ambassade à Jerusalem en mai», Le Monde, 25-26 de
fevereiro de 2018, 4.
18. Jonathan Swan, «Kushner, For First Time, Claims He Never Discussed Security Clearance
with Trump», Axios, 3 de junho de 2019, https://www.axios.com/jared-kushner-security-clearance-
donald-trump-f7706db1-a978-42ec-90db-c2787f19cef3.html.
19. «Palestine Chief Negotiator Reveals Details of Trump Peace Plan», Middle East Monitor,
22 de janeiro de 2018, https://www.middleeastmonitor.com/20180122-palestine-chief-negotiator-
reveals-details-of-trump-peace-plan/.
20. Jonathan Ferziger e Peter Waldman, «How Do Israel’s Tech Firms Do Business in Saudi
Arabia? Very Quietly», Bloomberg Businessweek, 2 de fevereiro de 2017,
https://www.bloomberg.com/news/features/2017-02-02/how-do-israel-s-tech-firms-do-business-in-
saudi-arabia-very-quietly.
21. Julien Boissou, «Analyse: L’Inde s’implante au Moyen-Orient», Le Monde, 27 de fevereiro
de 2018, 21.
22. «2016 Arab Opinion Index: Executive Summary», Centro Árabe, Washington, DC, 12 de
abril de 2017, http://arabcenterdc.org/survey/arab-opinion-index-2016.
23. Esta é a tese central do meu livro Brokers of Deceit.
Agradecimentos