Você está na página 1de 9

TEOLOGIA DAS RELIGIÕES

Prof. Hélio Alves


UNIDADE 1: RELIGIÃO & RELIGIOSIDADE

Conceitos chave: Sagrado, cultura religiosa, religião, religiosidade.

Introdução:

Prezado estudante, seja bem-vindo a esta nova etapa em seu curso de


Teologia da Faculdade Batista de Minas Gerais e em especial de nossa
disciplina “Teologia das Religiões”.

A disciplina “Teologia das Religiões” trata-se de um estudo teológico-cristão


sobre a importância e o lugar das ideias e práticas das diferentes religiões
mundiais, identificando suas convergências e refletindo sobre suas
especificidades.

Sendo assim, vamos estudar a natureza, origem e desenvolvimento das


religiões de um modo geral. Vamos descobrir os principais aspectos das
grandes religiões mundiais como: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo; o
Budismo, Hinduísmo e outras religiões de origem oriental. Também faremos
um estudo sobre a religiosidade Brasileira. No final do curso veremos sobre o
ecumenismo e diálogo inter-religioso e também a discussão atual sobre
exclusivismo, inclusivismo e pluralismo religioso.

1. A RELIGIÃO COMO ELEMENTO DA CULTURA

O curso de Teologia das Religiões partirá da premissa de que o homem é um


ser religioso e que ao longo de sua existência cria para si símbolos e formas de
representação da divindade e da própria religião.

O estudo da religião como elemento cultural é de extrema importância, pois é


por meio da cultura que é passada de pai para filho, que a religião se sustenta
e se mantém viva.
1
Ao se abordar as diversas manifestações religiosas buscar-se-á um diálogo
permanente e desafiador no sentido de reconhecer e respeitar diferenças e
similaridades propostas em cada segmento religioso.

Teixeira (2016) afirma que não se sabe com exatidão quando o pensamento
religioso surgiu na espécie humana, mas aponta que “funerais em que os
mortos eram sepultados com flores ou amuletos são indícios claros de
manifestações religiosas, talvez as mais antigas na história da humanidade”.

Estudos arqueológicos demonstram que há descobertas que dão conta de que


pode se encontrar vestígios de rituais religiosos em sepultamentos há mais de
60 mil anos.

Citando Walter Burkert, da Universidade de Zurique (Suíça), Faustino Teixeira


(2016) afirma que “Encontram-se no passado, e se encontram até hoje,
sociedades que não possuem ciência, nem artes, nem filosofia. Mas nunca
existiu sociedade sem religião”.

O desenvolvimento da religião e o desenvolvimento da cultura estão intrincados


na medida em que o ser humano se adapta a novos costumes, sua
religiosidade também se reestrutura em torno desses novos hábitos e assim, se
reelabora e se reestrutura. No entanto, essa reestruturação da religiosidade
não transforma a tradição religiosa em sua essencia, mas apenas a atualiza.

O estudo da teologia das religiões promove a comparação entre as religiões,


proporcionando ao estudante compreender elementos comuns presentes nas
estruturas religiosas numa perspectiva teológica e histórica. Isso possibilitará
ao aluno dialogar e conviver com as diferentes manifestações religiosas
encontradas, sobretudo em nosso país.

2
Aprofunde- Visite o site do Iser - Instituto de Estudos da Religião.
se: http://www.iser.org.br/site/

2. A RELIGIÃO COMO UM FENÔMENO

O que é um fenômeno? É o aquilo que se mostra. Neste caso, a religião é um


fenômeno humano e, como tal, vem sendo estudada por variados compos do
saber como a Teologia, a Filosofia, a História, a Psicologia, Sociologia e por
outras tantas ciências humanas.

Podemos perceber nestes variados estudos, que o ser humano desde sempre
busca a compreensão de fenômenos naturais como a chuva, trovões, furacões
e seus conhecimentos não conseguiam explicar tais fenômenos. Nesse caso,
atribuía a divindades a realização de tais fenômenos.

Como o ser humano é um ser de sentido, ele foi atribuindo significados


“religiosos” a tais fenômenos. Aquilo que escapava à sua compreensão, ele foi
qualificando como extraordinário.

Buscando pelo sentido de sua existência o ser humano desde a Antiguidade


tem se empenhado em compreender os fenômenos que acontecem à sua volta
e neste afã, o discurso religioso surge como meio capaz de atribuir sentido à
sua existência.

O ser humano a partir de sua experiência com o Sagrado, repete o processo


com o objetivo de ter uma nova experiencia. Dessa repetição, nasce o que
podemos chamar de rito que passa a ser o ponto de contato com o Sagrado.
Nessa medida, surgem também os sacerdotes ou líderes religiosos que vão se
encarregar de conduzir os rituais da determinada religião e que assume o papel
de guia ou guru da comunidade que se instaura a partir desse rito.

3
A partir daí o que era uma experiencia única e pessoal, passa a ser
experimentado numa comunidade de crentes que revive aquela primeira
eperiencia seguindo os mesmos princípios.

Glossário: Fenomenologia. Significa estudo dos fenômenos, daquilo que aparece à


consciência, daquilo que é dado, buscando explorá-lo. A própria coisa
que se percebe, em que se pensa, de que se fala, tanto sobre o laço que
une o fenômeno com o ser de que é fenômeno, como sobre o laço que o
une com o Eu para quem é

http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n2/a18v61n2.pdf

3. RELIGIÃO: ETIMOLOGIA

Quando buscamos a origem da palavra religião, não encontramos consenso


entre os estudiosos deste tema. As possibilidades mais aceitas, são de que a
palavra porguesa para religião teria essas influencias:

 re-legere (reler): a palavra “Religião” vem de re-legere (re-ler) ou


considerar atentamente o que pertence ao culto divino, ler de novo, ou
então reunir. Temos aqui o aspecto comunidade. Pode significar
também reler ou interpretar ao pé da letra”. Esta é, provavelmente, uma
das razões pelas quais os cristãos latinos eram identificados como
aqueles que liam os seus escritos e neles retornavam pela busca do
sagrado.

 re-ligare (religar): nesse caso, a função da religião é ligar o homem de


novo ao Sagrado: "tornar a ligar; amarrar de novo”. O homem vai a Deus
e Deus vem ao homem, ou seja, "um religamento das relações entre o
homem e Deus".

 re-eligere: Outros sugeriram que procedia de re-eligere ou seja, "voltar


a escolher", como se o homem voltasse a escolher em definitivo a vida
em direção ao sagrado. ostintornar a escolher Deus, perdido pelo
4
pecado. A história da palavra religião parece fortalecer o significado da
posição de Cícero. (Teixeira, 2016)

Portanto, o que podemos concluir é que religião é um conjunto de crenças,


acomapanhadas de ritos e normas que visam conectar-se com uma divindade
suprema, da qual o ser humano como dependente, visa pode entrar em
relação pessoal e obter favores ou graças.

Video: Assista o vídeo: O Sagrado - Todas as Crenças


https://www.youtube.com/watch?v=l5PcWRcmIy4

4. RELIGIÃO: DEFINIÇÕES

Se é difícil estabelecer a origem da palavra Religião, não é mais fácil tentar


encontrar consenso entre os estudiosos do tema quanto às prováveis
definições.

Para Tácito Leite Filho, uma primeira distinção a ser feita é entre os termos
“religião” e “religiões”:

“O termo religião pode referir-se à natureza religiosa do homem, e


seu estudo é mais psicológico, para ser feito em conexão com a
apologética (discurso em defesa de determinado ponto de vista) e
com a filosofia da religião (reflexão em torno da experiência do
sagrado). O termo religiões diz respeito aos sistemas religiosos,
com seus princípios de interpretação, seus cultos, ritos e locais
sagrados.” (Leite Filho, 1993, pg. 13).

Para o professor Battista Mondin, religião é:

5
“um conjunto de conhecimentos, de ações e de estruturas com
que o homem exprime reconhecimento, dependência, veneração
em relação ao Sagrado” (Battista Mondin)

Para Jorge (1998), “esta definição de Mondim comporta dois elementos: o


primeiro diz respeito ao suheito, e o segundo, ao objeto. Quanto ao sujeiro ela
indica a postura do homem quando se exprime religiosamente”. E ainda: “o
objetivo se constitui da estrutura e ações, isto é, do conjunto de dogmas e
mitos, cultos e ritos, oferendas e preces, por meio dos quais o homem entra em
contato com o Sagrado”. (p. 26)

Leite Filho (1993) concorda com esta definição e reforça as duas formas de
manifestação do fenomeno religioso:

“Subjetivamente, a religião é conhecimento e sentimentode dependência


de um ou vários poderes sobrenaturais, com quem o homem entra em
mútua relação. bjetivamente, a religião é o conjunto de atos exteriores
através dos quais a religião subjetiva se expressa e manifesta: oração,
sacrifício, sacramentos, liturgia, preceitos morais etc.”.

Este aspecto ubjetivo é também assinado pelo teólogo e filósofo alemão


Friedrich Schleiermacher:

“A essencia da religião é o sentimento de absoluta dependencia de


Deus.” (Schleiermacher)

Willian James (1842-1910) foi um filósofo e psicólogo americano e é conhecido


como um dos fundadores do pragmatismo. Ele consagrou uma obra inteira ao
estudo da religião intitulada “As variedades da experiência religiosa”. Nesta
obra, James deixa de lado a religião institucional para dedicar-se à
compreensão da experiência religiosa individual. Para ele:

“A religião, por conseguinte, como agora lhes peço arbitrariamente


que a aceitem, significará para nós os sentimentos, atos e
experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se

6
sintam relacionados com o que quer que possam considerar o
divino” (James, 1995, p. 31).

Neste caso, a busca do indivíduo pela religião é uma tentativa de harmonizar-


se consigo mesmo e com a suposta divindade.

Diferentemente de James, para o sociólogo Emile Durkheim (1989), religião é


um fato eminentemente social, uma vez que as representações religiosas são
representações coletivas que exprimem realidades coletivas.

"um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas


sagradas, isto é, a coisas separadas e proibidas - crenças e
práticas que unem numa comunidade moral chamada igreja, a
todos aqueles que a elas aderem." (Durkheim, 1989, pg. 79)

Neste caso, podemos dizer que na religião existe também uma tentativa
coletiva de busca de sentido através de uma comunidade de fiéis. Dentro desta
perspectiva, a religião é também um fato eminentemente social, uma vez que
as representações religiosas são representações coletivas que exprimem
realidades coletivas. Ela é capaz de dar sentido e ordenar também a própria
sociedade.

“Religião é um mysterium tremendum et fascinosum” (Rudolf Otto apud


Jorge, 1998)

7
Na concepção de Otto o Sagrado é o “mistério tremendo e fascinante”. Ou seja,
apresenta características de mistério, aquilo que não consigo explicar, algo que
vai além das realidades do mundo. Mas é também da ordem do tremendo,
aquilo que causa medo, temor, reverencia e respeito. É também fascinante,
aquilo que nos atrais para a divindade.

Otto cria um neologismo para se referir a essa categoria: o “numinoso” (numen


= sagrado), que apresenta características especiais que o distinguem de todas
as outras realidades humanas.

Aprofunde seus https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/farmacia/a-


conhecimentos: raiz-do-fenomeno-religioso/16963

Conclusão

Historicamente, a religião é a crença em forças, poderes, deuses sobre-


humanos; impotência perante esses poderes; desejo de salvação.

Fenomenologicamente, a religião está ligada ao sagrado: objeto, lugar,


tempo, ritual, palavra etc.

8
REFERENCIAS:

BELLO, A.A. Culturas e Religiões - uma leitura fenomenológica. Bauru,


EDUSC, 1998.

CROATTO, J.S. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à


fenomenologia da religião. São Paulo, Paulinas, 2001.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa. São Paulo:


Paulinas, 1989.

FILORAMO, G. & PRANDI, C. As Ciências da Religião. São Paulo, Paulus,


1999.

JAMES, W. As variedades da experiência religiosa: um estudo sobre a


natureza humana. São Paulo: Cultrix, 1995.

JORGE, J. Simões. Cultura Religiosa. São Paulo: Loyola,1998.

LEITE FILHO, Tácito da Gama. Origem e desenvolvimento da religião: a


religiosidade primitiva. Rio de Janeiro: JUERP,1993

TEIXEIRA, Faustino. Religião: objeto de cultura. In: http://principo.org/religies-


da-humanidade-religio-objeto-de-cultura.html. Acesso em 12/03/2019. 2016.

WERNER, Camila et ali. O livro das religiões. São Paulo: Globo Livros. 2016

Você também pode gostar