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02/02/2024, 14:46 Course Status – AVA

  3 MESES, 4 SEMANAS TUTOR


NEAD1

HDT 2937 UN1

UNIDADE 1: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA TEOLOGIA


Estudo acerca do Deus trino empreendido por indivíduos
ou por comunidades que busca compreender seus
Conceito-chave 1:
atributos, sua natureza, seu relacionamento consigo
Teologia cristã
mesmo, com a criação e com o ser humano, sua revelação e
sua ação redentora.
Estudo acadêmico efetuado por historiadores e/ou
teólogos que busca conhecer e compreender a teologia
Conceito-chave 2: produzida por autores e/ou comunidades ao longo da
História da Teologia história, a fim de melhor refletir teologicamente no
presente, propondo novas leituras e interpretações com
base em documentos históricos.

O CAMINHO DA REFLEXÃO TEOLÓGICA

1.1 Introdução
Ao iniciarmos uma disciplina que tem como meta o estudo da “História da Teologia” formulada em 2.000 anos de história do Cristianismo, cabe, inicialmente,
um questionamento: Por que devemos estudar a história da teologia cristã em um curso que possui, claramente, uma finalidade pastoral e missiológica? Esta
pergunta é extremamente relevante. Por isso, serão elencadas cinco razões para este diálogo ser iniciado. A primeira razão é de cunho histórico-cultural. O
mundo ocidental, como o conhecemos atualmente, é fruto do desenvolvimento econômico, científico, tecnológico, moral, filosófico, ético e religioso, dentre
outros, advindo de uma inter-relação da cultura greco-romana – com sua ênfase na razão (logos) –, e da cultura judaico-cristã, principalmente por meio do
Cristianismo. O Cristianismo se aliou à filosofia greco-romana, no início do segundo século, e dela não se descolou mais. Durante a Idade Média, por exemplo, a
filosofia era considerada serva da teologia cristã. Portanto, toda reflexão teológica realizada no âmbito cristão foi impregnada de um pensar filosófico. A
segunda razão é que a teologia cristã requer necessariamente uma base racional. Toda teologia é, por isto, ao mesmo tempo reflexiva e autorreflexiva, pois ela
pensa algo a partir de um pensar que inclui a si mesmo. Aqueles que desprezam a reflexão teológica, devido, talvez, ao excessivo valor que se atribui ao pensar,
caem em uma aporia, em um beco sem saída, pois estão defendendo uma não-racionalidade a partir da própria razão. Frases do tipo: “pensar não é espiritual”
ou “o Cristianismo não dá ênfase à razão, mas sim ao amor” ou “o mais importante é o poder do Espírito Santo”, caem nesta mesma contradição, pois
pressupõem uma racionalidade no falar e no entender. A própria compreensão do argumento requer entendimento e uso da razão. A terceira razão é
estritamente histórica. Jesus foi um personagem histórico. Seu nascimento, vida, morte e ressurreição ocorreram em um lugar, tempo e espaço específico. Seus
seguidores reivindicaram, nestes dois milênios de história, contrariamente a diversas vozes discordantes, provenientes de pessoas cristãs e não-cristãs, que sua
fé não era apoiada em sonhos, visões, misticismos, experiências sensoriais místicas ou revelações de outro mundo, mas se baseava em um sujeito histórico que
esteve em carne e osso entre os seus contemporâneos, e que também ressuscitou corporalmente sendo visto por centenas de seus seguidores. Tudo isso
aconteceu na história. Os apóstolos de Jesus foram desafiados, nos primeiros anos após a sua ascensão, aproximadamente em meados dos anos 30 d.C., a
demonstrar a seus irmãos judeus que habitavam em Jerusalém que este Jesus, crucificado pelos romanos e ressuscitado por Deus, era o Messias prometido a
seus antepassados. Os filósofos e teólogos cristãos posteriores também refletiam tendo por base a Encarnação, a crença de que Deus se tornou uma pessoa
humana e habitou no mundo, tema que se tornou central nas discussões cristológicas e trinitárias dos primeiros cinco séculos. A quarta razão para nos
dedicarmos ao estudo da importância da reflexão teológica é o ambiente atual de crença na “falência da razão” que tem afetado toda a sociedade, inclusive a
igreja, em sua vertente evangélica e também em outras confissões. O tempo presente tem sido caracterizado por diversos autores com o termo “pós-
modernidade” (Lyotard, 1986) ou “modernidade líquida” (Bauman, 2001) ou “hipermodernidade” (Lipovetsky, 2011) que, basicamente, significa uma era que
veio substituir a modernidade, pois esta estaria agonizando diante do seu fim. Passando por cima desta discussão terminológica complexa, o que importa é
perceber que uma das características principais das últimas décadas do século 20 e destes anos iniciais do século 21, é a concepção do esgotamento da razão
iluminista. A racionalidade instrumental não conseguiu responder aos anseios da sociedade que, diante disto, tem buscado, em outras fontes, a solução para
seus dilemas e preocupações.

Imagem 1 – Pós-modernidade

Fonte: http://www.ideiademarketing.com.br/wp-content/uploads/2014/11/consumo-1024×768.jpg

A quinta razão é que vivemos em um mundo que se tornou muito rápido. E, neste mundo ágil, no qual “tudo que é sólido desmancha no ar” (Berman, 2007), as
mudanças são, às vezes, imprevisíveis, e o homem atual angustia-se diante desta imprevisibilidade. Alguns poucos exemplos poderão clarear melhor este
ponto. Em primeiro lugar, o renascimento da religiosidade ao redor do mundo: o crescimento evangélico e católico; o renascimento do fundamentalismo
islâmico; a proliferação de seitas esotéricas e místicas; o retorno do paganismo pré-cristão; o advento da sociedade pós-cristã nos países mais desenvolvidos do
mundo ocidental. Em segundo lugar, o desenvolvimento dos meios de telecomunicação com predomínio da imagem e da leitura rápida: televisão, telejornais,
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internet, cinema, videoclipes, WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter, dentre outros. Em terceiro lugar, a substituição da leitura pelo divertimento ou, em
outras palavras, a leitura sendo considerada por muitos como um trabalho enfadonho e não uma atividade de lazer. Em quarto lugar, a emergência de “best
sellers” nas áreas de esoterismo, autoajuda e psicologia do cotidiano. Em quinto lugar, o pragmatismo como filosofia de vida dominante no capitalismo atual,
com seus lemas “o importante é ser feliz” ou “você nasceu para ser feliz”. Finalmente, a permanência em grandes fatias da população do analfabetismo, e a
popularização do analfabetismo funcional, ou seja, da incapacidade de pessoas alfabetizadas compreenderem e interpretarem textos escritos, ainda que sejam
minimamente simples. A sexta razão acontece no próprio contexto evangélico brasileiro que, desde algum tempo, olha com certa desconfiança aqueles dentre
os seus que defendem o pensar ou que se dedicam a atividades de cunho intelectual. Além disso, considerável parcela dos evangélicos brasileiros considera a
reflexão uma atividade não-espiritual, expressão maior do homem caído e soberbo. Porém, o grande paradoxo é que tal separação entre fé e razão data de, no
máximo, duzentos anos. De certa forma, então, há uma influência secular e secularizada na atual rejeição de parte dos evangélicos à reflexão teológica, tendo
em vista que na maior parte da história do Cristianismo nunca houve uma disputa entre fé cristã e razão. Esta dualidade contemporânea pode ser sintetizada
por Bertrand Russel (2011, p. 72), um importante filósofo de meados do século XX: “A maior parte das pessoas preferem morrer a pensar; e é isto que elas
acabam fazendo, isto é, morrendo”. Esta acusação, decididamente, não poderia ser empregada nem para os primeiros discípulos de Jesus nem para seus
seguidores contemporâneos. Porém, às vezes, atualmente, nossa mentalidade e nossa religiosidade atual acabam tendo que “vestir a carapuça”, assumindo
seus erros e omissões em relação a um descrédito na razão.

VÍDEO: Pense – John Piper. Disponível em: www.youtube.com/watch?


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1.2 Desconfiança no pensar


Quais as possíveis explicações para esta desconfiança no pensar entre os cristãos evangélicos? Em primeiro lugar, o liberalismo teológico e sua reação, o
fundamentalismo protestante. Enquanto um adere completamente ao método científico, não importando seus pressupostos agnósticos e algumas fragilidades
hipotéticas, o outro considera a ciência um mal, e os seus resultados, ainda que claramente benéficos, como inválidos. O cristão evangélico acaba optando por
um dos lados do debate, normalmente o fundamentalista, desconhecendo outros movimentos cristãos que lutaram e continuam por uma “postura de centro”,
tentando se equilibrar em um diálogo com a modernidade sem abrir mão da fé cristã. A tensão com outros é uma característica do Cristianismo histórico, assim
como uma postura dialogal com a cultura dominante ou circundante. Em segundo lugar, existe, no Brasil atual, uma predominância do movimento pentecostal
e carismático, com sua forte ênfase na experiência subjetiva em detrimento do estudo racional das Escrituras. A subjetividade e a experiência religiosa acabam
se tornando a “regra de fé e prática” de uma ala dos evangélicos contemporâneos. Se o sentimento se torna mais importante do que a explicação racional da fé,
a possibilidade de uma evangelização centrada na exposição da mensagem de Jesus e dos apóstolos se torna prejudicada. Em terceiro lugar, verifica-se a
predominância de uma interpretação bíblica equivocada da doutrina da queda do homem, que teria tornado pecaminoso o intelecto, sem dar a mesma ênfase
às emoções, à vontade e à consciência. Na verdade, a queda afeta todo o ser humano, inclusive sua racionalidade, mas também seus sentimentos e emoções.
Todo ser humano é caído e, portanto, todo homem, integralmente, necessita da redenção de Jesus. Em quarto lugar, há o vigoroso crescimento do movimento
neopentecostal e sua centralização em curas, sinais e milagres. Trata-se de uma fé de resultados que valoriza simplesmente o sucesso, o ser bem-sucedido em
tudo que faz, não abrindo espaço, por exemplo, para a mensagem cristã do sofrimento, da perseguição, da abnegação, “do negar-se a si mesmo e tomar a cruz
diariamente” como afirmava Jesus. Em quinto lugar, a existência de um messianismo e caciquismo de diversos líderes religiosos que inibem a reflexão das
pessoas de suas igrejas com medo de resistência e contraposição. Outra vez, verifica-se uma desconfiança no pensar, tido como prejudicial, e não como algo
que traz em si a possibilidade de superação, de cooperação, de valorização, e de crescimento. Em sexto lugar, uma valoração extremada da estética nos cultos
como sinais exteriores da presença de Deus: coreografias, shows, performances, belos templos, louvorzões, relegando a exposição das Escrituras para a
periferia da programação cúltica. Em sétimo lugar, a interiorização do falso dilema secular fé versus razão. A fé cristã nunca se contrapôs à razão, a não ser em
dado momento da história da humanidade, especificamente no Iluminismo a partir do século XVIII. Do advento do Cristianismo, no primeiro século, até o século
XVII, a fé cristã nunca esteve dissociada da razão. Pelo contrário, o Cristianismo contribuiu para a superação de muitos mitos pagãos, que atribuíam ao destino
o controle da vida humana e de suas incertezas. Finalmente, a predominância da Teologia da Prosperidade com sua concentração nos aspectos mágicos da
religião: confissão positiva, prosperidade e batalha espiritual. A confissão positiva entendida como uma crença no poder mágico das palavras que poderiam,
assim, trazer felicidade ou tristeza a quem fala correta ou incorretamente. A prosperidade vivenciada como sinônimo de um vida bem-sucedida em todas as
áreas: na economia, na saúde, na sexualidade, na família. E a batalha espiritual compreendida como uma visão de mundo pautada pelo combate a seres extra-
humanos que teriam o poder irrestrito de interferir no mundo material, cuja ação seria anulada por interferência dos “guerreiros de oração” na esfera celestial,
em um claro ressurgimento do dualismo bem versus mal tão característico das religiões pré-cristãs. Portanto, ser crítico do pensar teológico e aderir
acriticamente a uma outra teologia, que é fruto de uma cultura de bem-estar do final do século XX é, em resumo, um desprezar de dois milênios de reflexão
cristã séria sobre Deus, a humanidade e o mundo. Diante deste quadro em que estão envolvidas tanto nossa sociedade como a igreja cristã contemporânea,
qual seria o papel e a relevância da reflexão teológica como uma alternativa ao “andar da carruagem” da modernidade? Será que a teologia ainda permanece
uma disciplina que tem capacidade para questionar o “modus vivendi” atual e propor alternativas?

1.3 Argumentação bíblico-teológica


Em outros termos: Quais seriam os argumentos bíblicos e teológicos que nos levam à defesa do agir e do pensar a partir de uma cosmovisão cristã?

Imagem 2 – Imago Dei

Fonte: https://accord1.files.wordpress.com/2012/05/imago-dei_thumb56.jpg?w=640

Em primeiro lugar, a narrativa da criação. O primeiro homem e a primeira mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus (imago Dei): “Criou Deus o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gênesis 1:27) A partir desta extraordinária declaração, a narrativa não discute os
critérios ontológicos desta imagem e semelhança, perguntas tais como: A imagem se refere ao aspecto corporal e à semelhança ao lado imaterial ou espiritual?
Na verdade, o texto de Gênesis, imediatamente, descreve três ações necessárias que as criaturas passariam a demonstrar por serem semelhantes a Deus. A
primeira ação se refere ao governo da criação, à gerência de toda a natureza:

Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem


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Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a
terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente
ao chão”. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus
o criou; homem e mulher os criou (Gênesis 1:26-27).

Deus é necessariamente o autor da criação e o governante dela. Por extensão, homem e mulher, coletivamente, devem cuidar para Deus de sua criação, o que
normalmente é chamado de vocação para a mordomia cristã. A segunda ação, repetindo a primeira, acrescenta a ordem da fertilidade e da multiplicação: “Deus
os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se movem pela terra” (Gênesis 1:28). O mandato não é para permanecer estático ou imobilizado, em uma atitude de deslumbramento pelas
coisas criadas, mas para estender, por meio da expressão da sexualidade, o enchimento da terra. A bondade da criação deve ser motivo de gozo para um grande
número de pessoas, e não ficar limitada, unicamente, ao casal originário. A terceira ação se refere à graça de Deus manifestada na dádiva da alimentação. As
sementes e frutos produzidos por plantas e árvores não são para contemplação. Apesar de esteticamente belos, sua função é servir de alimento tanto para os
homens quanto para os animais.

Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e
produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas
servirão de alimento para vocês. E dou todos os vegetais como alimento a
tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a
todas as aves do céu e a todas as criaturas que se movem rente ao chão”
(Gênesis 1:29-30).

Uma quarta ação pode ser percebida no texto paralelo narrado no capítulo seguinte de Gênesis, no qual é descrita a atividade de atribuir nomes às criaturas. O
apelo à autonomia criativa é incentivado pelo próprio Criador. Uma das características marcantes da imago Dei é a própria possibilidade de criar, de ser criativo,
de ser artista e artífice:

Depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu,
o Senhor Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o
nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome. Assim o
homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos
os animais selvagens (Gênesis 2:19-20).

Um questionamento salutar poderia ser apontado neste momento. Nos textos acima, somente foram descritas ações e atividades humanas e, em nenhum
momento, é dada ênfase ao pensamento e à reflexão. Como defender, portanto, a necessidade de um pensar e um refletir cristãos a partir de narrativas que
enfatizam o fazer? Na antropologia hebraica, o homem nunca é visto como uma criatura dividida, como, por exemplo, no pensamento grego clássico (o corpo é
mau e o espírito/alma é bom). O ser humano é integral e único e, consequentemente, seu agir caminha com seu pensar, seu fazer está aliado a seu refletir. A
imagem e semelhança de Deus apontam para uma ação refletida e reflexionada. Não é dada ênfase nem ao agir sem pensar, nem ao pensar sem agir. São dois
lados de uma única moeda. Porém, é necessário caminharmos para a história da queda da humanidade e da rejeição do próprio Deus pelo homem, aplicando
sua relativa autonomia de uma forma indevida. A tragédia da queda, com suas consequências funestas para o próprio homem e para toda a natureza, porém,
não destrói a imagem de Deus no homem (5:1,3; 9:6), antes, desfigura-a. É como um desenho borrado, manchado e desmanchado.

Este é o registro da descendência de Adão: Quando Deus criou o homem, à


semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou. Quando foram criados,
ele os abençoou e os chamou Homem. Aos 130 anos, Adão gerou um filho à
sua semelhança, conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete (Gênesis
5:1-3).

Após a queda, a narrativa do Gênesis registra a descendência de Adão, aplicando o critério da imagem e da semelhança de Deus doada ao primeiro casal e
transferida para seus filhos. A proibição subsequente do assassinato do homem pelo homem também segue a mesma lógica anterior: “Quem derramar sangue
do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado” (Gênesis 9:6). Em segundo lugar, o próprio Jesus incita
àqueles que querem segui-lo a refletirem acerca da dimensão que este ato impõe:

Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula
o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o
alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’. Ou,
qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se
assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem
contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o
outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz. Da mesma forma, qualquer
de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo
(Lucas 14:28-33).

Alguns cristãos evangélicos afirmam: “Creia com o coração e não com a mente“. Não existe no pensamento de Jesus, em continuidade à antropologia judaica,
esta divisão entre mente e coração, entre emoção e razão. Portanto, reflexão e ação andam juntam no ensino de Jesus. Em terceiro lugar, os apóstolos de
Jesus fazem diferenciação entre cristãos maduros e cristãos infantis, utilizando, como critérios, a incapacidade de diferenciar o bem do mal (Hebreus 5:14-6:3),
a divisão da igreja em partidos (1 Coríntios 2), a crença no ensino dos judaizantes (Gálatas 3; Colossenses 2:6-8, 16-23) e de outros falsos ensinos (Efésios 4:11-
16). O bom ensino é aquele proveniente de Jesus. Existe plena possibilidade de a mentalidade dos cristãos diferenciarem o certo do errado, julgarem se
determinado ensino guarda ou não similaridade com o que Jesus e seus discípulos mais próximos ensinavam ou não. Na mente de muitos cristãos
contemporâneos, é impossível conjugar racionalidade e espiritualidade, como se as duas fossem mutuamente excludentes. Nas Escrituras, ocorre o contrário:
razão e espiritualidade andam de braços dados. Não é possível crescer no conhecimento de Cristo sem sermos inteiramente racionais à semelhança de um Deus
que também é racional. Divorciar algo que o próprio Deus criou é mundanismo e secularização, é andar de acordo com o “príncipe da potestade do ar”, segundo
palavras de Paulo, apóstolo de Jesus:

Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que
está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para
que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus
(2 Coríntios 4:3,4).

Como afirma Piper (2011, p. 23), refletindo sobre o pensar:

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Este livro é um apelo a adotarmos o pensar sério como um meio de amar a
Deus e as pessoas. É um apelo a rejeitar o pensar do tipo “ou-ou” no que diz
respeito à mente e ao coração, a pensar e a sentir, à razão e à fé, à teologia e à
doxologia, ao esforço mental e ao ministério de amor. É um apelo a que
vejamos o pensar como um meio que Deus ordenou para o conhecermos.
Pensar é um dos meios mais importantes de colocarmos o combustível do
conhecimento no fogo da adoração a Deus e do serviço ao mundo.

Finalmente, este convite de uma caminhada na compreensão da História da Teologia, refletida, elaborada, pensada, nutrida e vivida pelos cristãos de todas as
épocas, em todos os lugares, em situações favoráveis e adversas, em momentos de bonança e de tormenta, é tanto individual quanto comunitária. O cristão
deve se esforçar por compreender sua rica herança teológica, aplicando-a aos problemas contemporâneos. Porém, as comunidades cristãs espalhadas pelo
mundo também devem se engajar na missão cristã de proclamar e ensinar todo o conselho de Deus para todos os povos e etnias.

RAMOS, Robson. A mente cristã. Uma reflexão. Boletim Teológico. Porto Alegre: FTL-B, Ano 5, nº 15, junho
Aprofunde seus conhecimentos:
em: http://www.ftl.org.br/new/downloads/bt015.pdf>. Acesso em 09 mar. 2018.

A HISTÓRIA DA TEOLOGIA: UMA INTRODUÇÃO

2.1 Definição
O que é História da Teologia? Qual seu conteúdo? Como ela foi tematizada pelos cristãos ao longo da história? Veremos, a seguir, cinco definições que almejam
compreender esta disciplina ou disciplinas afins.

Imagem 3 – Evangelhos de Reichenau

Fonte: https://content.wdl.org/13013/thumbnail/1430180511/616×510.jpg

Primeira definição, proveniente do historiador norte-americano Roger Olson, acerca da História da Teologia:

A história da teologia cristã, portanto, é a história da reflexão cristã sobre a salvação.


Inevitavelmente, também envolve reflexão sobre a natureza de Deus e da revelação que
ele fez de si mesmo, na pessoa de Jesus Cristo, e sobre muitas outras crenças ligadas à
salvação. Na realidade, porém, tudo se resume na salvação: o que é, como acontece e
quais os papéis a ser desempenhados por Deus e pelo homem para que ela se
concretize (2001, p. 13).

Nesta primeira definição, Olson considera que a soteriologia, ou seja, o estudo sobre a salvação do homem por Deus seria o principal campo da história da
teologia. Todo o conteúdo da história da teologia convergiria para esta finalidade única, a salvação do indivíduo. Segunda definição, vinda do historiador
cubano Justo Gonzáles, radicado nos Estados Unidos, acerca da História do Pensamento Cristão:

A história do pensamento cristão deve, inevitavelmente, ser um empreendimento


teológico. A tarefa do historiador não consiste em mera repetição do que aconteceu –
ou, neste caso, do que foi pensado. Ao contrário, o historiador deve começar
selecionando o material a ser usado, e as regras que dirigem esta seleção dependem de
uma decisão que é, em um grau considerável, subjetiva […] o que significa que toda
história do pensamento cristão, é inevitavelmente, também um reflexo das
pressuposições teológicas do escritor (2004, p. 23).

Nesta segunda definição, Gonzáles, contrariamente ao autor anterior, não considera que a história da teologia teria uma única finalidade. Ao contrário, ela se
caracterizaria pela diversidade, tanto daquele que primeiro refletiu sobre algo acontecido, quanto do historiador que reelabora aquilo que foi anteriormente
pensado a partir de seus próprios problemas. Nesse sentido, toda teologia antiga é também uma teologia do homem atual que pensa seus próprios dilemas
atuais, buscando, em outras fontes modernas e antigas, um caminho para solucioná-los, ou, no mínimo, compreendê-los da melhor forma. Terceira definição,
esta do historiador inglês Roland Bainton, também sobre a História do Pensamento Cristão:

O Cristianismo, enraizado na história, assevera uma revelação dada de uma vez por
todas. Mas esta revelação ainda tem de ser explicada. E, afinal de contas, ela não foi
dada no Sinai em um conjunto de mandamentos ou rascunhada na forma de um
conjunto de proposições Ela foi dada em uma vida e até mesmo na primeira geração a
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conjunto de proposições. Ela foi dada em uma vida, e até mesmo na primeira geração a
importância desta vida foi avaliada diferentemente, apesar da surpreendente
unanimidade dos documentos cristãos primitivos. A história do pensamento cristão é o
registro da luta do homem com as implicações da auto-revelação de Deus no homem
Cristo Jesus. (Apud González, 2004, p. 15).

Nesta definição, ganha importância a pessoa de Jesus, revelação de Deus, ou melhor auto-revelação de Deus. Mais do que uma série de proposições acerca do
divino e dos atributos metafísicos de Deus, essa proposta radicaliza-se no entendimento de que a história do pensamento deve-se concentrar na vida de um
homem. Então a teologia cristã somente é cristã por falar, refletir, pensar, indagar, duvidar e questionar sobre Jesus. Portanto, a teologia cristã, nesta vertente,
torna-se uma cristologia. Quarta definição, esta do historiador inglês Alister McGrath, acerca da Teologia Histórica: “A Teologia Histórica é o ramo da
investigação teológica que visa explorar o desenvolvimento de doutrinas cristãs e identificar os fatores que influenciaram sua formulação”. (2007, p. 23). Nessa
definição, este autor aponta para o fato de que a teologia não nasce isoladamente do seu contexto, e, ao ser formulada, diversos fatores, tanto subjetivos
quanto coletivos, contribuem para sua conceituação final. Então, ao olhar determinado assunto do ponto de vista teológico, o historiador está lidando tanto
com a ideia teológica quanto com seu contexto de produção. Quinta definição, do historiador brasileiro Alderi Matos, novamente sobre a História da Teologia:
“A história da teologia documenta as respostas às grandes questões do pensamento cristão e, ao mesmo tempo, procura explicar os fatores que contribuíram
para a elaboração dessas respostas” (2008, p. 17). Nesta definição, muito próxima da anterior, acrescenta-se a possibilidade de serem alcançadas respostas às
grandes questões formuladas. Sexta definição, do historiador norte-americano Jaroslav Pelikan, acerca da História da doutrina:

O que a igreja de Jesus Cristo acredita, ensina e confessa com base na palavra de Deus:
essa é a doutrina cristã (…) A história da doutrina, desde seu surgimento como um
campo distinto de investigação ocorrida no século XVIII, concentra-se no que é
confessado, ou seja, nos dogmas como declaração normativas da crença cristã adotados
pelas várias autoridades eclesiásticas e aplicados como o ensinamento oficial da igreja
(…) Sem estabelecer limites rígidos, identificaremos o que é “crido” como a forma de
doutrina cristã presente nas modalidades de devoção, espiritualidade e adoração, o que
“ensinado” como o conteúdo da palavra de Deus extraído pela exegese dos
testemunhos da Bíblia e transmitido às pessoas da igreja por meio da proclamação, da
instrução e da teologia desenvolvida na igreja; e o que é “confessado” como o
testemunho da igreja, tanto contra o falso ensinamento na igreja quanto contra os
ataques de fora dela articulados em polêmicas e em apologéticas, em credo e em
dogma. (2014, p. 25)

Por fim, nesta última definição, enfatiza-se o papel importante da igreja cristã na definição daquilo que deve ser crido, ensinado e confessado pelos seguidores
de Jesus. Mais do que uma elaboração individualista de um sujeito iluminado, a teologia é entendida em sua dimensão comunitária, pois a igreja é o elemento
primordial daquilo que se afirma em relação a Deus, a Jesus e ao Espírito. Portanto, a doutrina tem a ver com a vida e pensamento da igreja de Cristo ao longo
de sua caminhada histórica. O título da disciplina é variável. Pode ser História da Teologia, História do Pensamento Cristão, Teologia Histórica ou História da
doutrina. As definições também variam. Porém, existe uma proposição inicial comum a todos estes historiadores: toda teologia é histórica. O que quer dizer
esta afirmação? Quer dizer que qualquer reflexão teológica, elaborada, em qualquer época, por cristãos, agnósticos ou não cristãos, sempre é condicionada
pelo espaço, tempo e pelo sujeito. A teologia sempre está condicionada ao seu contexto e a sua relevância deve-se ao fato de responder a perguntas e
questões que outros fazem. Por detrás de uma dada teologia, há uma pessoa, um sujeito que, questionado por si mesmo e/ou por outros, e pelas circunstâncias
sociais, intenta elaborar uma resposta definidora que, minimamente, atende aos anseios e às preocupações correntes. Por isso é que as teologias podem se
tornar passageiras, pois, se ninguém mais pergunta, por que buscar as respostas? Se toda teologia é histórica, a nossa época também tem suas questões. Mas
nenhuma época é tão singular e ímpar que não necessite buscar, em outras eras, tanto indagações quanto soluções outras. Existe um mito moderno de que
vivemos no melhor dos mundos e que o antigo é irrelevante. O que importa seria o novo, a novidade. Isso nos tem levado a uma rejeição do conhecimento
histórico. Por outro lado, é importante diferenciar aquilo que é essencial daquilo que é contingente. É conhecida a metáfora da mãe que dá banho no bebê e,
ao invés de jogar fora a água suja, descarta o bebê. Na história da teologia, o que é essencial? Quais discussões são importantes atualmente? Quais discussões
foram importantes no passado e hoje não detém a mesma relevância? Inversamente: quais discussões não foram importantes no passado e hoje são
relevantes? Por outro, para nós cristãos, esta é uma possibilidade extraordinária devido à Encarnação. O Cristianismo é histórico e não meta-histórico ou supra-
histórico. A fé cristã não é para anjos, e sim para seres humanos concretos. Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou na história, como um ser histórico. A
teologia, portanto, tem que dar conta das interseções entre este Cristo histórico e o ser humano, individual ou comunitariamente. Finalmente, quando se trata
de História da Teologia, três considerações são importantes. Em primeiro lugar, toda teologia é formulada na história. Teologia, portanto, é diferente de
revelação. Revelação pressupõe uma ação de Deus em aclarar o conhecimento de si mesmo ao ser humano, desvelando sua vontade e amor em direção ao ser
humano. Teologia significa uma atividade humana com a intenção de compreender a Deus e o mundo de Deus a partir da história humana. A história é o útero
que se formula e se prenha a teologia. Em segundo lugar, toda teologia depende da cultura. Cultura não quer significar expressamente erudição. Cultura quer
dizer o ambiente secundário, diferente do natural, que o homem produz, que exerce influência sobre o homem, mas que ao mesmo tempo é transformado por
ele. Portanto, a teologia expressa elementos culturais, ainda que a teologia se torne um contraponto à cultura. Em terceiro lugar, a teologia dedica importância
ao pensar, ainda que não dissociado do fazer. Como seres humanos que pensam, mas também amam, agem, sofrem, são iludidos e iludem, a teologia não é uma
torre de marfim isolada nas nuvens, mas mantém o pé no chão ainda que muitas discussões teológicas não sejam exatamente sobre o chão que se pisa. Refletir
e fazer são duas faces da mesma moeda no Cristianismo, pois como afirma Tiago (1:22-25), o irmão de Jesus:

Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele


que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua
face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.
Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita que traz a liberdade, e persevera
na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu, mas praticando-o, será feliz naquilo
que fizer.

MATOS, Alderi Souza de. Introdução. In: Fundamentos da teologia histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. D
Aprofunde seus conhecimentos: <https://books.google.com.br/books/about/Fundamentos_da_teologia_hist%C3%B3rica.html?id=G6h-
DwAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false >. Acesso em

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2.2 Conteúdo
Qual é o conteúdo desta disciplina afinal? Em vinte séculos de teologia cristã, o que foi produzido e escrito, em partes diversas do mundo, excede a qualquer
possibilidade de ser esgotado em um semestre letivo. Portanto, o tema central será uma pequena introdução aos principais temas da teologia histórica e aos
principais teólogos dos séculos passados. Seria como visitar Ouro Preto em um dia e conhecer seus principais monumentos. Depois dessa viagem, pode-se
afirmar que se conhece a cidade. Porém, um morador de Ouro Preto que, diariamente, trafega por suas ruas de pedra, sobe as ladeiras, visita as igrejas, faz
compras no mercado e na padaria, e se envolve com os problemas diários de uma cidade universitária, tem um conhecimento mais acentuado do que um turista
fugaz. Nossa proposta, portanto, é turística, convidando cada um para se tornar, em algum momento, um morador da teologia histórica.

Imagem 4 – Arquitetura colonial em Ouro Preto

Assim, para atingir tal finalidade, propomos que a presente História da Teologia seja dividida em quatro grandes blocos: Primeiro bloco: A Teologia Antiga (final
do século I ao V)

Os pais apostólicos
Os apologistas cristãos
Irineu de Lião
Tertuliano de Cartago
Clemente de Alexandria
Orígenes de Alexandria
A controvérsia ariana e o Concílio de Niceia
As controvérsias cristológicas

Segundo bloco: A Teologia Medieval (séculos V ao XV)

Agostinho de Hipona
Anselmo de Cantuária
Tomás de Aquino
Nominalismo
John Wycliffe
Jan Hus
Humanismo

Terceiro bloco: A Teologia dos Reformadores (século XVI)

Martinho Lutero
Ulrico Zuínglio
João Calvino
Balthasar Hubmaier

Quarto bloco: A Teologia Moderna (séculos XVII e XVIII)

Jacob Armínio
Philip Jacob Spener
Jonathan Edwards
John Wesley

Inicialmente, esses nomes podem significar muito pouco para a maioria de nós. Nomes estranhos e desconhecidos, de outras épocas e nacionalidades. Porém,
os temas e os problemas que cada um deles discutiu em sua época tem muito a ver com a fé de muitos cristãos contemporâneos. Rapidamente serão
apontados alguns assuntos teológicos discutidos por eles: governo da igreja após o falecimento dos apóstolos de Jesus; martírio e perseguição das autoridades
do Império Romano; relacionamento dos cristãos com outras religiões e filosofias hostis ao Cristianismo; diálogo entre fé cristã e cultura; compreensões
diferentes dos próprios cristãos em relação a Deus e ao Cristo, ao mundo criado e à Encarnação; diálogo com a filosofia platônica; Deus e o Ser; exegese bíblica;
interpretação e alegorização; divinização e imortalidade da alma; divindade e humanidade de Cristo; relacionamento entre as duas naturezas de Jesus: a
humana e a divina; origem do mal; natureza da igreja; sacramentos; livre-arbítrio e graça de Deus; escatologia e Reino de Deus; expiação; razão e fé;
conhecimento de Deus; predestinação; relação com o Estado; questão dos universais; Escrituras e o papel da tradição e do magistério da igreja; justificação
pelos méritos e justificação pela fé; centralidade de Cristo; soberania de Deus; dupla predestinação; batismo de adultos; batismo e ceia como ordenação ou
sacramentos; espiritualidade; importância da crença e da devoção; missão junto aos pobres; fé versus razão, dentre outros. A enormidade desta lista pode
causar sentimentos contraditórios. Por um lado, pode-se desenvolver um sentimento de perplexidade e medo ao pensar que o caminho é por demais difícil e
impossível de ser trilhado. Por outro lado, pode-se desenvolver um sentimento de curiosidade e fascinação, pois o caminho é muito excitante.
Independentemente da emoção despertada, tudo será realizado passo a passo, de forma que a subida na escada seja lenta e agradável. A divisão por períodos
históricos também pressupõe a importância da compreensão do próprio tempo e espaço na produção da reflexão teológica. A teologia que foi formulada, por
exemplo, nas cidades greco-romanas do segundo século da era cristã é diferente da teologia produzida em uma pequena vila medieval do século XII ou de uma
grande cidade europeia do século XVIII. Por quê? Em primeiro lugar, as cidades são diferentes, seus problemas são diferentes, suas religiões predominantes
não são as mesmas. Algumas são grandes e outras são pequenas. Algumas somente são habitadas por familiares e pessoas próximas, enquanto outras
recebem, constantemente, estrangeiros ou peregrinos. Em segundo lugar, as condições de vida de seus habitantes são diversas: épocas de fome, de pestes, de
guerras, de conflitos étnicos, de sujeira, de fartura, de beleza, de alegrias, de regozijos. Em terceiro lugar, os próprios habitantes são diferentes uns dos outros.
Uns são ricos, outros pobres. Alguns expansivos e outros tímidos. Heróis e covardes. Pessoas bem-educadas e outras grosseiras. Uns tratando bem esposas e
filhos. Outros espancando ambos. Portanto, a teologia que se formula hoje e que foi formulada ontem depende do ambiente maior, por exemplo, a rua, o
bairro, a cidade e a nação; do contexto em que se vive, épocas de “vacas magras” ou de prosperidade; e também das próprias pessoas, da sua biologia, da sua
genética, do jeito que cada um relaciona-se consigo mesmo, com os outros e com Deus. Por isso é que a teologia não é única, mas plural, fantasticamente e
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maravilhosamente diversa, e deve ser apreendida por pessoas também totalmente heterogêneas. Finalmente, um grande bem-vindo a todos que querem
trilhar este caminho e a participar individualmente e coletivamente desta fantástica tarefa da reflexão teológica.

GLOSSÁRIO

Indivíduo que considera impossível conhecer ou compreender


Agnóstico
problemas relacionados à metafísica ou à teologia.
Estudo acerca do homem e sua relação com a comunidade
Antropologia
humana.
Apologia Defesa de algo ou de alguém.
Aporia Determinada situação considerada sem saída ou sem solução.
Autorreflexivo Que reflete ou pensa sobre si mesmo.
Caciquismo Poder desempenhado por um cacique, um sujeito autoritário.
Ramo da teologia que estuda a pessoa de Cristo, bem como
Cristologia
sua história e ensino.
Dialogal Referente a diálogo.
Aquilo que somente é acessível aos iniciados, um círculo
Esotérico
fechado de ouvintes e praticantes,
Estático Imóvel, parado, sem movimento.
Fugaz Efêmero, que desaparece rapidamente.
Movimento religioso que defende o retorno às origens de sua
Fundamentalismoreligião e tem uma postura agressiva contra interpretações
diferentes de sua religião.
Movimento intelectual desenvolvido no século XVIII que elege
a razão como único tribunal legítimo para julgar todas as
Iluminismo
coisas, inclusive a própria razão, e que se opõe aos
dogmatismos.
Imago dei Imagem de Deus
Corrente intelectual desenvolvida entre os protestantes do
Liberalismo
século XIX que tenta conciliar as descobertas científicas e as
teológico
crenças cristãs.
Logos Razão
Referente às manifestações do pensamento, podendo ser
Mentalidade
tanto coletiva quanto individual.
Crença ligada à emergência de um salvador, tanto no campo
Messianismo
da religião quanto da política.
Na religião de Israel, crença ligada ao sucessor do rei Davi, que
Messias
estabeleceria um reinado de paz, justiça e liberdade.
Meta-histórico Além ou acima da história.
Misticismo Fanatismo religioso.
Modus vivendi Modo de viver.
Mordomia Administração dos bens de outro.
Ontológico Investigação teórica do Ser.
Paganismo Nome dado pelos cristãos à religião de Roma.
Crença que valoriza o resultado ou o fruto de determinada
Pragmatismo
compreensão ou ideia.
Similaridade Semelhança
Soteriologia Ramo da teologia que trata da salvação do homem.

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
FERREIRA, Franklin, MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. OLSON,
Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2000. ______. História das controvérsias da teologia cristã. São Paulo: Vida, 2005.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
GONZÁLES, Justo L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. HAGGLUND, Bengt. História da teologia. Porto Alegre: Encomendas,
1981. MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da teologia histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. PIERRARD, Pierre. História da igreja. São Paulo: Paulus,
1997. RAUSCH, Thomas P. Introdução à teologia. São Paulo: Paulus, 2004.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. BÍBLIA. Português. BIBLIA SAGRADA: Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2000. KELLY, John N. D.
Patrística. Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 1994. LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos
hipermodernos. Lisboa: Edições 70, 2011. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. São Paulo: José Olympio, 1986. LIBÂNIO, João Batista; MURAD,
Afonso. Introdução à teologia: perfil, enfoques, tarefas. São Paulo: Loyola, 1996. MCGRATH, Alister E. Teologia histórica. Uma introdução à história do
pensamento cristão. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2007. PIPER, John. Pense. A vida da mente e o amor de Deus. São José dos Campos: Fiel, 2011.
PELIKAN, Jaroslav. A tradição cristã. Uma história do desenvolvimento da doutrina. São Paulo: Sheed Publicações, 2014. RUSSELL, Bertrand. Por que não sou
cristão. São Paulo: L&PM, 2011. STOTT, John. Crer é também pensar. São Paulo: ABU, 2012.

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Anexos "1 7/8
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 HISTÓRIA DA TEOLOGIA UNIDADE 1

MARCAR ESTA AULA COMO CONCLUÍDA

PRÓXIMO QUESTIONÁRIO

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