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CIENTÍFICA
22 DE SETEMBRO DE 2018
Faculdade Teológica Batista de São Paulo
Sumário
MESAS REDONADAS................................................................................................... 2
TEOLOGIA BÍBLICA: DA REFORMA AOS DIAS ATUAIS. PROBLEMAS E PERSPECTIVAS.. 3
CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA E DA TEOLOGIA PRÉ-REFORMA PRIMAZIA DA FÉ
SOBRE A RAZÃO NA TRADIÇÃO CRISTÃ ...................................................................... 22
APONTAMENTOS SOBRE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA: UMA REAÇÃO AO TEXTO
“TEOLOGIA BÍBLICA: DA REFORMA AOS DIAS ATUAIS. PROBLEMAS E PERSPECTIVAS”,
APRESENTADO PELO PROF. DR. MARCOS PAULO BAILÃO. ........................................ 36
COMUNICAÇÕES ORAIS........................................................................................... 44
A REFORMA PROTESTANTE COMO BERÇO DAS TEORIAS POLÍTICAS ......................... 45
PERSEVERANÇA NA DOUTRINA BÍBLICA, FRENTE AO NOVO CENÁRIO RELIGIOSO
BRASILEIRO. ................................................................................................................ 52
A LÍNGUA DOS ANJOS EM 1CORÍNTIOS 13:1 .............................................................. 61
PÔSTERES..................................................................................................................... 75
A RAIZ ZNH NO LIVRO DO PROFETA OSÉIAS: UM ESTUDO INTRODUTÓRIO .............. 76
O ESTUDO DO MITO PARA COMPREENDER A LITERATURA DO ANTIGO ORIENTE .... 86
OS JARDINS REAIS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO: ESTUDO HISTÓRICO E
IMAGÉTICO................................................................................................................ 100
CRISE REVELADORA: A CRISE DA JUERP E A SAÚDE ORGANIZACIONAL DOS BATISTAS
BRASILEIROS NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1990 .......................................................... 115
AS NUANCES RELIGIOSAS NA IDEOLOGIA NAZISTA – COMO OS ESCRITOS LUTERANOS
INFLUENCIARAM O NAZISMO ................................................................................... 125
DESCONVERSÃO NO PROTESTANTISMO .................................................................. 138
A INFLUÊNCIA DA COSMOVISÃO NA EDUCAÇÃO: O QUE ESTÁ POR DE TRÁS DA
EDUCAÇÃO? .............................................................................................................. 147
OS IMPACTOS DAS VERDADES BÍBLICAS SOB A PERSPECTIVA DA VISÃO MISSIONAL
DOS EDUCADORES CRISTÃOS QUE ALMEJAM A TRANSFORMAÇÃO DE VIDAS ....... 162
1
MESAS REDONADAS
2
TEOLOGIA BÍBLICA: DA REFORMA AOS DIAS ATUAIS. PROBLEMAS E
PERSPECTIVAS.
INTRODUÇÃO
3
humano. Apresentamos também, ainda que brevemente, um pouco da
pesquisa bíblica em solo brasileiro. Terminamos pontuando algumas
preocupações que nos ocupam acerca da continuidade desses estudos.
A REFORMA
Calvino foi formado nas bases do humanismo de seu tempo. Seguia a tradição
retórica que buscava tornar a verdade teológica mais persuasiva do que
conceitual.
“A teologia não era scientia (ciência), como na idade média, mas sapientia
(sabedoria) que vinha diretamente das páginas da Escritura”1
Para ele, a Bíblia é a ajuda dada por Deus para que possamos conhecê-lo
corretamente. O conhecimento advindo da Escritura é prático e conduz à
reverência, ao culto e à vida de correção. A sua finalidade é encaminhar as
pessoas a Cristo, em quem há salvação. Cristo é o centro das Escrituras, tanto
do Novo quanto do Antigo Testamento. O propósito da Escritura é a salvação
e seu conteúdo é salvífico, e este tem origem divina, embora acomodado nas
limitações humanas dos pregadores.
1
Jack B. ROGERS. Autoridade e Interpretação da Bíblia na Tradição Reformada p.38
5
campos do saber. Eles analisam a Bíblia com liberdade. Calvino afirma que 1 e
2 Pedro não poderiam ter sido escritas pelo mesmo autor, dadas as diferenças
de estilo. E Lutero sente-se tão à vontade diante do texto bíblico que chega a
questionar a canonicidade de alguns.
BIBLICISMO DOGMÁTICO
Alguns dos teólogos desse tempo defenderam a inspiração total (tudo que está
na Bíblia foi inspirado, seja de que natureza for) ou verbal (cada palavra foi
expressamente ditada pelo Espírito Santo) das escrituras sagradas. Alguns
deles chegaram ao ponto de afirmar que até a vocalização do texto hebraico e
as cópias manuscritas eram inspiradas por Deus.
Em 1650, é publicado Critica sacra, de Louis Cappel que afirmava que o texto
massorético não era idêntico aos manuscritos originais e que a Bíblia tinha uma
história literária como qualquer outro livro.
7
passaram a ser vistas como uma narrativa histórica, registro da redentora ação
divina na história. A segunda metade deste século testemunhou os primeiros
passos daquilo que posteriormente veio a ser chamado de crítica bíblica.
Em 1629, W.J. Christmann publica Teutsche Bibliche Theologie que, até onde
sabemos, aparece pela primeira vez o termo Teologia Bíblica. Outros trabalhos
que se seguem passam a utilizar esta terminologia.
8
Nesse mesmo tempo, desde o séc. XVII, a igreja é chamada a lidar com novas
propostas científicas que poderiam abalar a fé. Os trabalhos de filósofos como
Bacon, Descartes e Kant, entre outros, abriram as portas para o pensamento
segundo o qual o ser humano pode alcançar o verdadeiro conhecimento pela
investigação racional e objetiva do mundo concreto, sem a tutela de quem quer
que seja, inclusive da Igreja. A própria Bíblia deveria ser lida nessa linha. Tal
postura tira as Escrituras do posto de autoridade arbitrária para a condição de,
ela mesma, ser objeto de análise e crítica.
Um caso concreto que exemplifica esse conflito foram as disputas em torno das
descobertas astronômicas de cientistas como Copernico e Galileu. Como era
de se esperar, a ortodoxia, inicialmente, reagiu com ênfase na recusa dessas
afirmações que poderiam abalar a fé cristã e a credibilidade das Escrituras. Em
meio a esse debate, Galileu escreve uma carta a Christina de Lorraine
negando que a descoberta de que a Terra não era o centro do universo fosse
contrária à fé cristã ou às escrituras.
2
Citado por Werner E. LEMKE em: Theology (OT), p.450
9
Universidade de Altdorf na qual procurou estabelecer a diferença entre as
Teologias Bíblica e Dogmática e, neste intento, afirmou que a primeira tem
caráter histórico, ou seja, apresenta o que os escritores sagrados pensavam
acerca das questões divinas. Ela tem duas tarefas: primeiramente apresentar o
que os diversos autores bíblicos afirmaram a respeito das questões relativas a
Deus em seu respectivo contexto; a segunda tarefa é separar quais dessas
afirmações e conceitos bíblicos têm valor permanente e universal, fornecendo
uma base bíblica sobre a qual se poderia construir uma Teologia Dogmática.
Para Gabler, a Teologia Bíblica possui duas dimensões: uma puramente
histórica ou descritiva e outra construtiva ou normativa. A autoridade normativa
não tem base na Igreja e sua interpretação, mas em fundamentos históricos e
racionais. Dependendo da aplicação de certos valores, esta dupla dimensão
permanece até hoje no horizonte teológico de alguns estudiosos da Bíblia.
3
GONZÁLEZ, Justo. How the Bible has been interpreted in Christian Tradition. p.104.
11
arqueológicos. Todas essas novidades trouxeram novas luzes sobre os textos
bíblicos e sobre a sociedade e religião de Israel e Judá, inserindo-os no mesmo
universo histórico, social e religioso de todo o Oriente Próximo antigo que
agora se tornava mais conhecido.
12
Alemanha. Ele defendeu, na sua audaciosa interpretação da Epístola
aos Romanos, que a verdade do evangelho é outra em relação às
hipóteses intelectuais convencionais do progressismo cultural que
4
dominava a cultura, a academia e muito da Igreja .
O período entre guerras viu uma mudança nos rumos dos estudos bíblicos.
Talvez por conta da decepção com as ideias positivistas causadas pelo
impacto da 1ª. Grande Guerra, o conceito de uma história da religião sob a
perspectiva evolucionista desenvolvimentista passou a ser substituída por
estudos que retomavam a ideia de Teologia do Antigo e do Novo Testamento.
Em 1933, Walter Eichrodt publica sua Theologie des Alten Testaments. Essa
publicação, uma metodologia precisa e clara, e incorporando os conhecimentos
até ali conquistados, abre uma nova fase nessa história. Ele define a tarefa da
Teologia do Antigo Testamento como construir um quadro completo da crença
do AT na sua unidade estrutural. Ele busca se distanciar também da
Sistemática ao propor ler o AT em suas próprias categorias, e não em
categorias externas artificialmente lançadas sobre ele. Eichrodt estabelece o
conceito de aliança como o arco que cobre toda a unidade do Antigo
Testamento. Outros autores seguem essa mesma linha, embora proponham
outros conceitos como linha unificadora do Antigo Testamento.
Um outro caminho foi proposto por Gerhard von Rad em sua Theologie des
Alten Testaments, publicada na década de 1950. Von Rad viveu a experiência
4
BRUEGGEMANN, Walter. Teologia do Antigo Testamento. p.41
13
do nazismo participando da Igreja Confessante, por isso a ideia de kerigma lhe
é tão cara. Ele afirma que a tarefa da Teologia do AT não é o mundo espiritual
e religioso de Israel, nem o seu sistema de crenças, mas as afirmações que
Israel fez a respeito de Yahweh como elas se refletem nas principais linhas de
tradição do AT. A Bíblia narra os atos salvadores de Deus na história, mas o
que é narrado nas Escrituras não é história, mas pregação, ou melhor, kerigma.
5
Digno de ainda maior admiração é o fato de que na origem desta ciência estavam estudos sobre religião e a Bíblia,
como os promovidos por Max Weber.
14
Também nessa época, o patriarcado da interpretação bíblica foi questionado,
surgindo um novo olhar, um olhar feminino sobre o texto das Escrituras.
Teólogas como Elizabeth Schussler-Fiorenza, Phillys Trible e Athalya Brenner
chamaram a atenção para uma diferente forma de ler a Bíblia, através de olhos
das mulheres.
A partir dos anos 1950, a América Latina começou a produzir a sua própria
Teologia Bíblica. Ela veio na corrente dos primórdios da Teologia da Libertação
da qual a Bíblia é parte integrante e relevante. Certos trechos se tornaram
particularmente importantes, como os cânticos de Ana e de Maria. Desde essa
época, a temática do êxodo se sobressai como um eixo fundamental,
especialmente nos estudos do Antigo Testamento.
No transcorrer dos anos, novas questões têm sido levantadas e novos sujeitos
hermenêuticos têm emergido nesse diálogo. A pobreza é uma realidade que
extrapola o campo econômico, ela contamina as relações de gênero, o trato da
criação, a construção de identidades, a formação de utopias e o
estabelecimento das relações de poder em geral. Além da preocupação com o
texto bíblico em si, ocupa-se também em entender como esse texto foi
interpretado pelos seus leitores e como ele foi representado nas diversas
expressões de arte. As antigas preocupações não foram abandonadas, mas
outras novas foram a elas acrescentadas.
ALGUNS DESAFIOS
17
rejeitadas, principalmente por Lutero. Nesse caso, questões políticas
determinaram a leitura. O desenvolvimento das leituras através de métodos
ditos como científicos também restringiu a interpretação dos textos sagrados a
um pequeno grupo de especialistas.
A Bíblia precisa ser lida pelo povo e com o povo. Não se trata de desprezar as
descobertas científicas ou abandonar os estudos críticos, mas sim de coloca-
los como ferramentas na mão das pessoas para que elas possam interpretar o
texto bíblico. Nessa direção, pastores e outros líderes têm a grande
responsabilidade de não usar o seu conhecimento como poder para dominar,
mas como instrumento a serviço da sua comunidade.
18
Essa separação tem uma dupla origem. Por um lado, no senso comum existe a
preservação em certa intensidade do preconceituoso evolucionismo dos séc.
XVIII e XIX. Vê-se o Novo Testamento como a expressão da sublime graça
divina, enquanto o Antigo é apenas um depósito de leis velhas e inúteis.
19
principalmente, tem sido utilizada para justificar e legitimar a violência contra
outros povos, outras expressões de fé, pessoas de outras regiões do país, que
defendem outra ideologia política ou de cor de pele diferente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GONZÁLEZ, Justo. How the Bible has been interpreted in Christian Tradition.
Em: The New Interpreter’s Bible: v.I: General and Old Testament articles,
Genesis, Exodus, Leviticus. Nashiville, Abingdon Press, 1994. p.83 – 106.
LEMKE, Werner. Theology (OT). Em: FREEDMAN, David Noel (ed.) The
Anchor Bible Dictionary. V. 6. New York, Doubleday, 1992. p. 449 – 473.
MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. 5ª. ed., Petrópolis, Vozes, 1984.
_______________ Flor sem defesa. 2ª. ed., Petrópolis, Vozes, 1984.
RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2ª. ed. São Paulo, Aste/
Targumim, 2006.
21
CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA E DA TEOLOGIA PRÉ-REFORMA
PRIMAZIA DA FÉ SOBRE A RAZÃO NA TRADIÇÃO CRISTÃ
RESUMO
A proposta dessa reflexão é trazer a discussão às críticas feitas por Lutero,
através de 97 teses apresentadas em setembro de 1517, anterior a publicação
daquelas teses que ganharam o caráter de marco da Reforma Protestante, as
95 teses publicadas em 31 de outubro do mesmo ano. Nas teses expostas em
setembro o então monge agostiniano alemão fez severas críticas a Escolástica,
quando propôs mudanças consideráveis na formação teológica de sua época.
Nesse processo, o religioso destacou a supremacia dada a fé diante da razão,
algo que contrariava a tradição escolástica, por compreender que para se crer
primeiro tinha que entender. Será abordado ainda que esta posição de Lutero
se alinhava com alguns personagens da Patrística, principalmente a
agostiniana. Sendo assim, é correto pensar que não foi uma “invenção” de
Lutero, mas o que se vê é um retorno a tradição Patrística, pelo menos parte
dela.
6
Doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP. Professor de História do Cristianismo Primitivo
e Medieval da Faculdade Teológica Batista de São Paulo.
22
INTRODUÇÃO
No ano passado (2017) o mundo relembrou um dos acontecimentos que marcaram
não apenas o cristianismo, mas a história do Ocidente como um todo, a dita Reforma
Protestante. Aqui no Brasil não foi diferente, muitos cultos alusivos a este
acontecimento, palestras, debates, em Igrejas, Universidades e em diversas outras
esferas da nossa sociedade ocorreram aos montes.
Nos eventos dos quais participei, procurei sempre expressar, antes de mais nada, o
meu temor de que, assim como passamos 499 anos sem dar a devida importância a
este relevante acontecimento histórico, no ano dos 501 voltássemos ao ostracismo
desta inesgotável temática que até hoje apresenta dobramentos, não apenas no
mundo religioso, mas social, político, econômico e afins.
Assim sendo, este foi um dos motivos de trazer novamente à baila a Reforma
Protestante para o debate, a partir daquilo que entendo ter sido o princípio das
ideias protestantes de Lutero, algo pouco considerado, que a meu ver, fora ofuscado
pela emblemática publicação das 95 teses.
Com o surgimento das Universidades, a partir do século XII, Bolonha, Paris e outras,
a teologia eclesial passou por mudanças significativas. O aparecimento na Europa
da filosofia de Aristóteles, não mais restrita a alguns trechos oriundos das traduções
e comentários de Boécio, mas agora com o aparecimento das fontes judaicas e
árabes, das traduções de Averróes, Avicena, grandes filósofos árabes, introduzidas
na Europa através da escola de Tradutores de Toledo, na Espanha, fora
fundamental para o surgimento e consolidação do método escolástico de se pensar
e fazer teologia no medievo tardio.
A dita teologia escolástica tem, portanto, em Aristóteles, o seu grande filósofo antigo
que influenciará toda uma perspectiva teológica, chegando-se a afirmar que sem
Aristóteles ninguém poderia ser teólogo, o que Lutero (2016, p.17) discordará com
veemência na tese 43, das 97 por ele expostas. A influência de Aristóteles a partir
de então será tão considerável que surgirão correntes diversas através das “escolas”
dos tomistas (dominicano Tomás de Aquino – 1225-1274), dos escotistas
23
(franciscano João Duns Escoto – 1270-1308) e occamista (franciscano Guilherme de
Occam – (1285-1349), sendo esta última também conhecida por “via moderna”.
7
PLATÃO. Livro VIII – mito da caverna. In: A República [ou sobre a justiça, diálogo político].
Tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado. 2° edição. SP. Martins Fontes, 2014.
24
leitura das Escrituras e de Agostinho, basicamente, Lutero começa a discordar da
forma de se fazer teologia em sua época, acreditando que a escolástica não
abordava devidamente as questões da fé e da graça. Nesse processo de
discordância, o monge agostiniano alemão via na lógica aristotélica, cuja construção
da teologia valia-se de argumentos paradoxais para se chegar à verdade, um
caminho errôneo, até mesmo nocivo, na busca pelas verdades espirituais.
25
No fim da exposição dessas teses, Günther foi aprovado. Lutero mandou essas
teses para as universidades de Erfurt e Nürnberg, procurando libertar a teologia da
influência aristotélica-escolástica, marcando assim o seu rompimento com toda uma
tradição de formação, da qual ele mesmo havia passado. É fato que ele critica a
forma de se fazer teologia sem ainda propor uma alternativa que a suplante, mas
creio ser esse o verdadeiro marco daquilo que virá a ser a Reforma Protestante
alemã.
Sobre o conhecimento público dessas teses, nos informa Joachim Fischer (in
LUTERO, 2016, p.14):
Lutero não para nessas teses as suas críticas, mas fato é, que a partir delas
desdobra-se de tal forma que surgem outras tais que proporcionarão a formação do
pensamento teológico protestante do padre alemão. Após as 97 teses, mais
precisamente em outubro de 1517, vem a público outras inquietações, a saber, o
fato de as indulgências estarem relacionadas ao Sacramento da Penitência como
meio de perdão dos pecados ditos capitais, sendo estas capazes de absorverem
além dos castigos temporais impostos pela Igreja até os delitos mais graves. Os
ditos pecados capitais, segundo o religioso alemão, cabia apenas a Deus perdoar,
inclusive daqueles que já estavam mortos. Essa abrangência das indulgências
incomodou Lutero, levando-o a publicar novas teses no mês seguinte.
É fato que inicialmente ele não fora contra as indulgências, mas, segundo Lutero,
elas estavam ganhando proporções doutrinárias além do que cabia, como também,
estava fora dos limites o comércio que se formara em torno delas, promovendo uma
falsa segurança àqueles que as adquiriam, pois às indulgências só cabiam as penas
temporais impostas pela Igreja e os sacerdotes só poderiam perdoar a culpa já
perdoada por Deus. Lutero entrou numa discussão que ainda não estava fechada no
seio da Igreja de então, e destas 95 teses, outras questões foram sendo levantadas
26
e desenvolvidas, como a supremacia da fé, através da crença na justificação
exclusivamente pela fé e não mais por obras, ou pelas observâncias de ritos da
Igreja, até o ponto de ele romper definitivamente com a Igreja romana
posteriormente.
Como observou Timothy George (1993, p.64): “o protestantismo nasceu da luta pela
doutrina da justificação pela fé somente. Para Lutero, essa não era simplesmente
uma doutrina entre outras, mas ‘o resumo de toda a doutrina cristã’”. Portanto, o que
se percebe ao ler Lutero, é que ele considerava fundamental a primazia da fé ante a
razão humana, contrário absolutamente a subserviência a lógica filosófica que tinha
ganhado a teologia na tradição escolástica, pois para ele “a fé não é ciência nem
atividade, nem metafísica, tampouco moral, nem vita activa tampouco vita
contemplativa, mas vita passiva”, como observou Oswald Bayer (2007, p.32).
A partir disso, a seguir, procurar-se-á mostrar que havia uma importância da fé numa
tradição cristã antes da Reforma e que a escolástica reduziu sua importância por
causa da investigação teológica. Embora tentar-se-á fazer esse destaque, a
intenção não é diminuir a relevância do pensamento de Lutero sobre a fé, mas dizer,
que ele necessariamente se voltou para aquilo que importante parte da tradição
cristã antiga concebia, que a fé vem antes da razão.
28
também no cristianismo primitivo, como se vê na Segunda Carta aos Filipenses
enviada por Policarpo, bispo da Igreja de Esmirna no século II ao dizer:
E vós sabeis que é pela graça que fostes salvos, não pelas obras, mas
pela vontade de Deus, por meio de Jesus Cristo [...] pois ele nos
prometeu ressuscitar-nos dentre os mortos, e, se a nossa conduta for
digna dele, também reinaremos com ele, se tivermos fé. (1.3; 5.2).
A intenção não é defender que havia uma crença uníssona numa salvação graciosa,
ao se crer numa justificação exclusivamente pela fé em toda a tradição antiga da
Igreja, o que não ocorreu, pois se vê outros artifícios para a obtenção da salvação,
por assim dizer, como a questão na penitência apresentada pelo Pastor de Hermas,
na sua primeira visão, quando diz: “Eu sei que, se eles (os filhos) fizerem penitência
do fundo do coração, serão inscritos no livro da vida com os santos” (3.2). E
segundo se vê na tradução latina8, aparece de fato a palavra penitência, o que se
tornou basilar na doutrina cristã romana posteriormente, tendo um olhar já no texto
de Hermas, que além da penitência, via a necessidade do cumprimento dos
mandamentos divinos para se obter o favor divino, mas fato é, que o uso da
penitência como um meio de graça se consolidará mais adiante na tradição cristã.
Podemos destacar ainda a Carta a Diogneto, texto escrito por Quadrato tendo como
destinatário o imperador Adriano, já que Diogneto se trataria de um título honorífico,
(QUASTEN, 1968, p.246), hipóteses aceitas por alguns pesquisadores. Se proceder
essa tese, este texto teria sido redigido por volta do ano 120. Esta obra sugere que
antes de se ter fé é necessário conhecer o ser supremo, isto é, Deus, como se vê:
8
MIGNE, Jacques Paul (org). Patrologiae Cursus Completus. Série Latina. Vol 2. Paris,
Imprimerie Catholique, 1844. p.896: “Ne desinas ergo commonere natos tuos; scit enim
dominus quod poenitentiam agent ex toto corde suo; et scribet te in libro vitae”.
29
Essa passagem poderia ser confundida como uma citação escolástica, que cria na
precedência da razão sobre a fé. Assim, como se vê, é possível encontrar indícios
de discussões que foram bem posteriores na antiguidade cristã. Portanto, o foco
desta reflexão é apresentar que certas temáticas, aqui está sendo destacada a fé e
a graça antecedendo a razão e as obras humanas, não foram temas que surgiram
apenas na tradição protestante.
No texto do tido último grande apologista do século II, Teófilo, o único apologista
elevado ao episcopado, o de Antioquia, observa-se uma primazia da fé quando este
escreve à Autólico em seu primeiro livro:
Embora possa parecer que havia uma crença clara na supremacia da fé ante a
razão e ações humanas neste texto descrito acima, adiante na mesma obra chega a
inverter esta percepção, colocando as boas obras humanas como fundamentais
para a obtenção da vida eterna:
De fato, ele que nos deu a boca para falar, que formou o ouvido para
ouvir e fez os olhos para ver, examinará tudo e julgará com justiça,
dando a cada um segundo os próprios méritos. Para aqueles que,
segundo suas forças, buscam a incorruptibilidade através das boas
obras, ele dará a vida eterna, a alegria, a paz, o descanso e uma
multidão de bens [...] Desta forma, ele deve praticar a justiça, para
escapar dos castigos eternos e se tornar digno da vida eterna que vem
de Deus (I, 14; II, 34).
30
Assim, percebe-se que havia uma falta de clareza no início do cristianismo primitivo
entre fé e graça e a razão e ação humana. Embora, em algumas passagens, se
sobressaia a fé como base fundamental e inicial para se chegar a compreensão das
verdades cristãs, como se vê em Clemente de Roma, como também no Clemente de
Alexandria.
31
No capítulo seguinte, Agostinho expressa sua busca pela verdade que surge desde
a sua juventude. Nesse processo, crer é basilar no seu pensamento, chegando a
solicitar a Deus que o façam chegar a ela, ele e Evódio, com quem dialoga nesta
obra,
Nos seus Escritos sobre a fé, mais precisamente quando trata da fé e das obras,
Agostinho fala da importância de o convertido viver com condutas morais de acordo
com o que se espera de um cristão, contudo, “Se, porém, na maioria das vezes
trataram primeiro da fé e depois do que pertence à boa vida, fizeram-no porque o
homem não pode seguir a vida boa se a fé não a precede (p.242).
No capítulo 7 Agostinho critica a busca por Deus a partir dos sentidos, por ser algo
acima de todas as coisas, deve-se antes crer em sua existência e a partir daí ser
movido, por uma inteligência espiritual, purificada em seu espírito e só assim será
capaz de compreender, contemplar, naquilo que for possível, aquele que criou todas
as coisas soberanamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há vida antes da Reforma Protestante, frase comumente utilizada por mim quando
começo minhas aulas de Cristianismo Primitivo. Se queremos ter um conhecimento
mais lato desse importante acontecimento da cristandade ocidental, que influenciou
e ainda repercute na atualidade, precisamos conhecer a Patrística, como também o
período medieval da Igreja, pois só assim, muitas das questões debatidas no século
XVI farão mais sentido, nos ajudando a atender melhor os debates e escritos dessa
época.
É fato que a teologia cristã é fruto de uma construção, que no momento que as luzes
do entendimento teológico vinham nos tempos antigos, iam sendo estabelecidas as
crenças cristãs que hoje classificamos por ortodoxas. O objetivo com essa reflexão
não é colocar a tradição patrística num patamar de autoridade que a blinde de
qualquer crítica, pois cabem muitas críticas a diversas passagens sob as lentes da
33
tradição cristã protestante, mas a questão é considerar a sua importância e
participação na construção da teologia, inclusive a oriunda da Reforma Protestante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____. O Sermão da Montanha e Escritos sobre a fé. São Paulo. Paulus, 2017.
MIGNE, Jacques Paul (org). Patrologiae Cursus Completus. Série Latina. Vol 2.
Paris, Imprimerie Catholique, 1844.
MORESCHINI, Cláudio. História da filosofia patrística. Tradução: Orlando
Soares Moreira. 2° edição. SP: Edições Loyola, 2013.
PLATÃO. Livro VIII – mito da caverna. In: A República [ou sobre a justiça,
diálogo político]. Tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado. 2° edição. SP.
Martins Fontes, 2014.
35
APONTAMENTOS SOBRE HISTÓRIA DA TEOLOGIA BÍBLICA: UMA
REAÇÃO AO TEXTO “TEOLOGIA BÍBLICA: DA REFORMA AOS DIAS
ATUAIS. PROBLEMAS E PERSPECTIVAS”, APRESENTADO PELO PROF.
DR. MARCOS PAULO BAILÃO.
INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, proponho uma discussão sobre os três “Solas” (para ficar só
em três) da Reforma: Sola Scriptura, Sola Fide e Sola Gratia. Por um lado, não
36
podemos minimizar o impacto que a doutrina da justificação pela graça através
da fé causou naquele momento histórico. Embora esta doutrina não fosse
absolutamente nova, a questão é que o momento peculiar, com a venda das
indulgências, culto às relíquias, etc, por um lado, em meio às características do
Renascimento, por outro lado, tornou bombástica e atual a proclamação do
evangelho nestes termos.
A questão, todavia, foi que “dar a Bíblia ao povo” produziu uma infinidade de
interpretações contraditórias e contrastantes,11 além das mais descabidas
quando vistas pela perspectiva dos monges especialistas, visto que o povo
geralmente não acompanha os critérios de reflexão destes. A questão aqui é
como lidar com uma situação que coloca a Bíblia como autoridade máxima
para as questões da fé, mas parece que ao mesmo tempo pulveriza esta
mesma autoridade com as diversas possibilidades de leitura dos textos
9
Em 1545, já no final de sua vida, Lutero afirmou que quando ele percebeu que a expressão
“justiça de Deus” de Romanos 1.17 que ele odiava porque entendia se tratar de uma justiça
ativa, que Deus exige do pecador, significava, na verdade a justiça passiva de Deus, que é
atribuída ao pecador que crê, uma face totalmente outra da Escritura foi mostrada a ele. In:
DILLENBERGER, J. (ed.). Martin Luther: Selections from his writings, p.11.
10
Calvino, no seu comentário da carta aos Romanos, afirmou que a justificação pela fé é o
tema da carta, e que a compreensão desta, por sua vez, dá acesso aos mais profundos
tesouros da Escritura. CALVINO, J. Romanos, p.26-27.
11
A chamada “Reforma Radical”, por exemplo, com a qual os Batistas têm certa relação,
enfatizaram mais a obediência da fé do que a justificação pela fé. DRIVER, Juan. Convivencia
radical, p.42.
37
sagrados? Esta situação fica ainda mais aguda posteriormente com o fracasso
do positivismo do método histórico crítico, e a multiplicação de linhas teológicas
que alcançou o século XXI. Não há respostas fáceis aqui.
No começo do século XX, Schweitzer pôs uma pedra em cima de uma era ao
demonstrar que as buscas do Jesus Histórico, até então, nada mais eram do
que uma construção de Jesus conforme a imagem da modernidade. Schweitzer
inaugurou uma nova era que durou meio século pelo menos. Neste período, os
estudiosos dos evangelhos de modo geral se contentaram em afirmar que não
temos outra coisa senão o Cristo da fé, e a igreja precisava se contentar com
ele.
38
judaica do período das origens, em contraste com a tradicional tese do
judaísmo comum do século I.
Jesus era, de fato, judeu. Isto não está em questão. Mas a pergunta
subsequente é que tipo de judeu foi Jesus em meio à mencionada diversidade
judaica. Hoje, nas universidades, inclusive brasileiras, há um interesse em
pesquisas sobre o Jesus Histórico por esta perspectiva.
39
A Teologia Paulina é cara à tradição protestante. Basta lembrar que foi a carta
aos Romanos e o tema da justificação pela fé que estavam no estopim da
Reforma promovida por Lutero. Este tema sempre tem estado presente na
Teologia Bíblica no campo paulino.
Foi em 1977 que E. P. Sanders publicou pela primeira vez seu Paul and
Palestinian Judaism que marcou época. Depois da Segunda Guerra Mundial e
do trauma do holocausto, que tem relação com uma nova reflexão sobre a
relação entre judaísmo e cristianismo, Sanders publica seu livro num momento
importante do florescimento desta indagação. Sua monumental e muito bem
documentada obra afirma que o judaísmo das origens não estava firmado na
doutrina da salvação pelas obras, como a tradição luterana e protestante
tradicionalmente afirmavam. Visto que Sanders afirma em seu livro que seu
maior interesse é pesquisar o judaísmo, não deu tanto espaço a análise de
Paulo, apesar do título do livro.
Quem pretendeu responder esta pergunta foi James Dunn, inicialmente em seu
artigo “A Nova Perspectiva sobre Paulo” e em diversas publicações posteriores.
O título de seu primeiro artigo acabou se consolidando como referência a uma
nova escola de interpretação sobre Paulo.
Esta nova escola destacou que Paulo era judeu e nunca deixou de sê-lo.
Colocou corretamente, penso eu, a discussão de Paulo em um contexto interno
dos seguidores de Jesus que, por sua vez, naquele tempo não passava de
uma seita judaica dos que criam que Jesus de Nazaré é o Messias.
12
MELANCHTHON, Philip. Common places: Loci Communes 1521. FITZMYER, Joseph A.
Romans, p.74.
40
Conquanto avaliações críticas sejam necessárias e bem vindas, esta Nova
Perspectiva nos ensina que não é mais possível apenas repetir os anteriores
discursos protestantes sobre a justificação pela fé.
A leitura narrativa da Bíblia junto com o povo pode ser um bom instrumento
para investir na cultura bíblica popular e contrastar com as leituras
exageradamente fragmentadas da Bíblia, que frequentemente não levam em
conta os contextos, ao fazer uma leitura que dá a impressão de que cada
versículo da Bíblia é uma verdade proposicional independente. Isto não resolve
tudo, mas ajuda muito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
GRENZ, S. J. e OLSON, R. E. A Teologia do Século 20, p.77.
41
Bíblica, queiramos ou não. Quanto mais conhecermos esta história, tanto mais
teremos melhor consciência e conhecimento desta realidade, e estaremos mais
bem preparados para contribuir para nosso tempo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
43
COMUNICAÇÕES ORAIS
44
A REFORMA PROTESTANTE COMO BERÇO DAS TEORIAS POLÍTICAS
RESUMO
O objetivo deste trabalho consiste em analisar as ações políticas do reformador
alemão Martinho Lutero. Selecionados alguns dos principais autores luteranos
que abordaram este aspecto, assim como autores católicos que também
pesquisaram as ações de Lutero. O tratabalho será escrito entremeado de
alguns instrumentos da ciência política, como o objetivo demonstrar a real
necessidade de um estudo apronfundado das ideias e ações de Lutero.
INTRODUÇÃO
Discorrer-se-á a respeito de alguns teóricos importantes para se compreender
a Reforma como berço das ideologias políticas da modernidade.
14
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana
Mackenzie
45
Outro referencial teórico a ser utilizado neste trabalho é o professor Nelson
Lehmann da Silva. Autor da primeira tese defendida no Brasil sobre Eric
Voegelin.
Assim, o objetivo é destacar as ações Lutero como berço das teorias políticas
da modernidade. Para o grande orador católico Bossuet, que escreveu uma
“História das Variações das Igrejas Protestantes”, “Lutero tinha força no gênio,
veemência em seus discursos, uma eloqüência viva e impetuosa que arrastava
e arrebatava os povos; uma habilidade extraordinária quando apoiado e
aplaudido, unido a tal forma de autoridade que seus discípulos tremeram diante
dele; de modo que eles não ousaram contradizê-lo em nada”.
Lutero propunha que entre Deus e os homens não existe mediação. Portanto
não deve existir um clero que seja o mediador. Tudo se decide entre Deus e a
intimidade de cada pessoa sem nenhum mediador humano.
46
Assim, o Estado se torna a única versão da vontade de Deus e, portanto o
governante se torna o portador da vontade divina sem ser o mediador. Os reis
que antes da Reforma eram coroados pela Igreja, ou seja, recebiam uma parte
da autoridade divina, com o advento da Reforma, eles recebem essa
autoridade diretamente de Deus. É o Direito Divino dos Reis.
Esta ideia se espelha por toda Europa. Os reis começam a não dar satisfações
a mais ninguém. Eles mesmos, sendo portadores do mandato divino, tomavam
as suas decisões sem que fossem fiscalizados por nenhuma autoridade desde
fora. Aqui, vale dizer, que os reis não tinham nenhum treinamento para isso. A
verdade é que a maioria deles não tinham sequer alguma reserva moral. Não
eram poucos os que tinham várias amantes. É claro que, até onde se sabe, o
máximo que eles tinham de responder era diante dos pregadores. Sabe-se que
um dos pregadores católicos mais conhecidos, o francês Jacques-Bnigne
Bossuet (que fez elogios ao gênio de Lutero) nos seus sermões, pregava
duramente contra as imoralidades dos reis.
Sendo assim, depois da Reforma, pode-se falar em: Estado católico, Estado
protestante, Estados cristãos, Estado neutro, Estado Anti-clerical e finalmente
Estados não-cristãos.
47
satisfação individual diretamente a Deus. É aqui que nasce a democracia
moderna.
Nelson Lehmann da Silva afirma que: “A Reforma, então, mais do que qualquer
outro acontecimento, contribuiu para a fragmentação da consciência europeia”
(SILVA, 16, p. 33). Assim, impulsionado pela vontade de separar a Igreja do
poder político, Lutero acabou por comprometer-se ainda mais com o Estado.
Lutero realmente entendia as questões políticas nas quais deu o seu parecer?
Ou qual a compreensão de Lutero em questões políticas?
48
A Reforma é, sem nenhuma dúvida, um dos acontecimentos marcanta da
história geral. Não é preciso argumentar muito sobre a importância desses
estudos para a academia. Seja crítico ou admirador, todos os estudiosos desse
período dão conta da importância da Reforma nas varias áreas da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o estudioso luterano Eric Voegelin, em sua obra História das Ideias
Políticas, no Volume IV, a Reforma revela as raízes das ideologias políticas de
hoje. Voegelin oferece uma visão controversa da Reforma assim como da
situação política e religiosa que a precedeu diretamente. Segundo ele, a força
propulsora por trás da Reforma provém exclusivamente da personalidade
poderosa de Lutero.
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARPEAUX, Otto Maria. O Renascimento e a Reforma. São Paulo, Leya,
2012.
CIERVA, Ricardo. Las Puertas del Infierno, Espanha, Fenix, 3ª ed, 2016.
HUIZINGA, Johan. O Outono da Idade Média. São Paulo, Casac Naify, 2013.
JOUVENEL, Bertrand de. O Poder, história natural e seu crescimento. São
Paulo, Peixoto Neto.
50
SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São
Paulo, Companhia das Letras, 1996.
51
PERSEVERANÇA NA DOUTRINA BÍBLICA, FRENTE AO NOVO CENÁRIO
RELIGIOSO BRASILEIRO.
prmarciopureza@gmail.com
RESUMO
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, talvez pela primeira vez na história, o planeta todo está
se tornando pluralista no tocante a religião (HIEBERT, 1999, p.295). As
15
Mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Master of
theological Studies by Southeastern Baptist Theological Seminary. Licenciado em Letras pela
Universidade da Cidade de São Paulo. MBA Planejamento e Gerenciamento Estratégico pelo
Centro Universitário Internacional. Bacharel em Teologia pela Faculdade Batista Paulistana.
Bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Ibirapuera.
52
diversas religiões já estiveram de maneira geral, confinadas a áreas
geográficas específicas. O hinduísmo se sentia em casa na Índia, o budismo,
no leste e sudeste asiático, e o islamismo, no oriente médio, norte da África e
Indonésia. Agora, há muçulmanos, budistas e hinduístas em todos os
continentes.
53
cristãos. Apesar de se identificar como uma religião evangélica, não é em sua
essência. O grande problema esta na ênfase que aplicam em determinados
textos bíblicos, que desfigura a mensagem do evangelho. Por isso junto com as
demais seitas acarretam um grande prejuízo à evangelização. Bledsoe afirmou:
Outra implicação é que devido à ampla influência que este grupo tem
alcançado, outras igrejas têm seguido o seu exemplo e assim se desviado da
mensagem evangélica (BLEDSOE, 2012, p.166). Estão recorrendo a meios
propagandistas, que muitas vezes não condizem com o evangelho, para
ganharem seguidores. Esquecem que uma das tentações rejeitadas por Jesus
Cristo foi transformar as pedras em pães (Mt 4,4). De fato não duvidam em
oferecer benefícios materiais ao povo para conquistar adeptos. Já não se trata
da pregação do evangelho, mas de uma tentativa de forçar, uma “conversão”.
Isto não é evangelização e sim proselitismo (SANTA ANA, 1991, p.94).
Portanto, o aumento do grupo de neopentecostais, não representa um aumento
necessariamente da Igreja de Cristo, pois seus membros muitas vezes apenas
migraram de uma igreja cristã para outra.
57
foram abandonadas. A igreja não deve se apressar no processo de
evangelização e discipulado, a fim de suprir uma expectativa apenas numérica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O evangelho não tem o objetivo de ser atraente; pois sua mensagem é uma
“pedra de tropeço, uma rocha de escândalo” (Rm 9,33; 1Pd 2,8). Alimentar a
ganancia e o apetite das pessoas por entretenimento apenas agrava o
problema das emoções insensatas, da apatia e do materialismo
(MACARTHUR, 1997, p.79). Portanto, para evitar o engano das seitas e das
heresias é importante que os discípulos sejam perseverantes na doutrina
Bíblica.
58
A pregação é o principal instrumento usado por Deus para levar a igreja ao
crescimento. Não há salvação sem a pregação, pois “a fé vem da pregação e a
pregação é pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). É mediante a Palavra que os
crentes são regenerados (1Pd 1,23), alimentam-se da Palavra (1Pd 2,2) e são
santificados pela Palavra (Jo 17,17). Uma igreja cresce de forma saudável
perseverando na doutrina Bíblica sendo fiel a exposição das Escrituras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
A LÍNGUA DOS ANJOS EM 1CORÍNTIOS 13:1
RESUMO
INTRODUÇÃO
16
Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Graduando em
Letras pela (USP), Mestre em Ciências da Religião pela (UMESP), Doutorando em Ciências da
Religião pela (UMESP), bolsista Capes Integral, formicki@hotmail.com.
61
Segundo Lewis17, no centro de toda religião, está a tomada do homem pela
divindade. Esses encontros são encorajados em todas as religiões em alguma
fase de suas histórias, entretanto com diferentes ênfases. Experiências
místicas (de encontro do sagrado com o profano), tipicamente concebidas
como estados de possessão conferem aos místicos a reivindicação única de
conhecimento experimental com o divino.
17
LEWIS, Ioan. Êxtase Religioso: Um Estudo Antropológico da Possessão por Espírito e do
Xamantismo, 1977, p.17-18.
62
Em nossa pesquisa, seguiremos a hipótese de que a glossolalia cristã primitiva
encontra paralelo fenomenológico, conceitual ou terminológico na tradição do
misticismo apocalíptico judaico.
18
SCHNELMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha, Vol.2: Writings Relating to the
Apostles Apocalypses and Related Subjects. Louisville & Kentucky: Westminster John Knox
Press, 2003 p. 713.
19
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Crítica Social no Cristianismo
Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 69.
63
considerado orgulhoso e indigno se ele ou ela não abençoar o Senhor
20
Deus seu criador.”
Neste relato fica explicito uma mistificação da língua hebraica como língua
divina, mas segundo Nogueira21 esse é um testemunho raro de descrição da
língua divina e angelical como sendo uma espécie de “hebraico celestial”. A
frase que descreve o significado da “Aleluia” está escrita em “hebraico divino”,
ou seja, uma língua ininteligível para os humanos, mas uma língua mística de
adoração a Deus. O autor não sabe falar essa língua, mas tem de imitá-la, ou
melhor, recriá-la como um hebraico celestial22. Este testemunho retrata um
hebraico inarticulado ou ininteligível, que de fato pode não ser a mesma fala
ininteligível pronunciada pelos coríntios, mas está no mesmo contexto que
envolvia práticas litúrgicas, no qual, envolviam “línguas” de algum modo.
20
Gardner. E, St. Paul’s Apocalypse in: Visions of heaven e hell before Dante, Italica Press,
New York, 1989. pgs. 13-46.
21
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Crítica Social no Cristianismo
Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 69.
22
Ibid. p.69.
23
CHARLESWORTH, James H. The Old Testament Pseudepigrapha, Vol.1,. New Jersey:
Hendrickson Publishers, 2010, p.401-402.
24
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Crítica Social no Cristianismo
Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 68.
25
CHARLESWORTH, James H. The Old Testament Pseudepigrapha, Vol.1,. New Jersey:
Hendrickson Publishers, 2010, p.408.
64
Segundo Nogueira, P26 na forma da kedushá são feitas variações com o nome
tetragrama, e com outros nomes hebraicos de Deus por um autor que, muito
provavelmente, não sabia hebraico. Para o autor, A Escada de Jacó trata-se,
na melhor das hipóteses, de um péssimo hebraico. Entretanto, é evidente que
havia certa mistificação das línguas orientais, nas quais, as mesmas eram
consideradas línguas celestiais que serviam para adorar a Deus. Este texto,
também está no mesmo contexto de práticas litúrgicas que envolvia “línguas
ininteligíveis”, mas aqui um hebraico ininteligível movido pelo êxtase de Jacó.
26
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Crítica Social no Cristianismo
Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 68-69.
27
CHARLESWORTH, James H. The Old Testament Pseudepigrapha, Vol.1,. New Jersey:
Hendrickson Publishers, 2010, p.833.
28
Ibid. p.865-866.
65
Segundo Forbes29, autores como Spittler, Engelsen, Dautzenberg vêem aqui
um claro paralelo com a glossolalia cristã primitiva. Entretanto, para Spittler 30 a
data do Testamento de Jó é um indicio forte que o mesmo foi reformulado
pelos Montanistas no segundo século d.C.31, e que as filhas de Jó falando em
êxtase pode ter sido uma jogada para fornecer o precedente da profecia
extática no período bíblico.
29
FORBES, Christopher. Prophecy and Inspired Speech In Early Christianity and its Hellenistic
Environment. Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1997, p.184.
30
Citado por: Ibid. p.184.
31
Spittler 1983: 834. Turner (1998a: 236) escrevem que os capítulos. 48-50 "parecem fazer
parte de uma adição à obra judaica, e é provável que sejam de uma mão cristã ou gnóstica
"(ver Turner 1998b: 247 n. 35). Van der Horst 1989:184-5 objeta a sugestão de Spittler, no
entanto, afirmando que tal como uma tática não teria produzido o tipo de autoridade bíblica
para a prática Montanista que seus caluniadores teriam exigido. Mas a suposição de van der
Horst de que a autoria Montanista do texto teria sido motivada pela necessidade de tal garantia
é pelo menos questionável. Estudos recentes enfatizaram a unidade literária do Testamento de
Jó, mas esses estudos podem ser facilmente dependentes da tendência atual dos eruditos em
presumir a unidade da obra - uma presunção que está facilmente sobrecarregada. Veja
Schaller 1989; JJ Collins 1974: 48-9; Sullivan 2004: 129-30. Sobre a mudança da narrativa de
primeira para a terceira pessoa em 46.1, veja Bauckham 1991. Citado por: POIRIER, John C.
The Tongues of Angels: The Concept of Angelic Languages in Classical Jewish and Christian
Texts. Tubingen: Mohr Siebeck, 2010, p. 65.
32
Ibid. p.69.
66
Poirier afirmou acima que é mais provável que o Testamento de Jó seja de
origem Judaica, mas ele opta por uma origem cristã, então, por isso ele afirma
que:
33
Tibbs 2007:221 n. 23. Citado por: Ibid. p. 77.
34
Ibid. p. 76, 77.
67
mesma referência que 1 Coríntios 13:1, mas, pelo contrário, ambos os textos
compartilham de uma tradição mística-apocalíptica judaica comum.
Por fim, todas estas evidências analisadas mostram ser um paralelo para a
glossolalia cristã primitiva. A maior semelhança está no fato de que aparece em
(1Coríntios 13:1) a citação das “línguas dos anjos” que realmente era
compreendida na literatura apocalíptica como uma forma de linguagem para
louvar/orar a Deus (c.f. Testamento de Jó 48-51 com 1Coríntios 13:1;
14:2,14,15,16). Mas, essa “língua dos anjos” é uma fala ininteligível? Ao que
parece, ela pode ser considerada uma fala ininteligível. Em primeiro lugar, na
Escada de Jacó aparece um hebraico ininteligível movido pelo êxtase de Jacó.
Ele fala com Deus por meio de uma língua celestial “angélica” (o hebraico
inarticulado). Em segundo lugar, em (1Coríntios 13:1) a referência a “língua dos
anjos” está dentro do bloco a respeito dos dons espirituais (1Coríntios 12-14),
ou mais precisamente do dom de falar em línguas ininteligíveis (1Coríntios
12:10,28,30; 14:2,4,5,6,9,10,13,14,18,19,23,26,27,28, 39). Isso é uma
evidência que o Apóstolo Paulo entendia o “dom de línguas” como sendo uma
“linguagem angélica” que servia para se comunicar com Deus. Essa
comunicação envolvia tanto adoração a Deus por parte do falante como
revelação de mistérios por parte de Deus, ou seja, era uma conversa no âmbito
celestial (1Coríntios 14:2,4,5,6,9,10,12,13,14,18,19,23,26,27,28, 39).
Texto Grego
1 Ἐὰν ταῖς γλώσσαις τῶν ἀνθρώπων λαλῶ καὶ τῶν ἀγγέλων, ἀγάπην δὲ
μὴ ἔχω, γέγονα χαλκὸς ἠχῶν ἢ κύμβαλον ἀλαλάζον35.
35
Nestle-Aland, Novum Testamentum Graece. 28° Edição (Bible Works 10).
68
Tradução
1 Toda vez que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, mas que eu
não tenha amor, eu me torno bronze que ressoa ou címbalo que retine.
36
Concordance to the New Testament Graece of Nestle Aland 26 Edition and to the Greek NT.
Third Edition. Berlin/New York, 1987, p. 15-19.
37
Ibid, p. 17.
38
BEEKES, Robert. Etymological Dictionary of Greek. Leiden: Brill, 2010, p. 9. E CHANTRAINE,
Pierre. Dictionnaire Étymologique De La Langue Grecque. Paris: Klincksieck, 1999, p, 8.
39
LIDDEL, H. G.; SCOTT, F., A Greek-English Lexicon. Oxford, The Clarendon Press, 1996, p.
7; BEEKES, Robert. Etymological Dictionary of Greek. Leiden: Brill, 2010, p. 9. E
CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire Étymologique De La Langue Grecque. Paris: Klincksieck,
1999, p, 8.
69
aquele que é enviado; um poder transcendente que realiza várias missões ou
tarefas, mensageiro, anjo; geralmente, aquele que anuncia ou diz” 40.
Segundo Fitzmyer:
40
BAUER, W; ARNDT, W; GINGRICH, F.W., A Greek-English Lexicon of the New Testament
and Christian Literature. Chicago Press, 2001, p. 8; LIDDEL, H. G.; SCOTT, F., A Greek-
English Lexicon. Oxford, The Clarendon Press, 1996, p. 7.
41
FITZMYER, Joseph A. First Corinthians: The Anchor Yale Bible. Yale University Press, 2008,
p. 492.
42
(Strack, HL e P. Billerbeck. Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch.
Vol. III. Munique: Beck, 1926, p. 449. Citado por: ORR, William F.; WALTHER, James Arthur. I
Corinthians: A New Translation, Introduction, With a Study of the Life of Paul, Notes, and
Commentary. New Haven; London: Yale University Press, 2008, S. 291.
43
Sigountos 1994. Citado por: POIRIER, John C. The Tongues of Angels: The Concept of
Angelic Languages in Classical Jewish and Christian Texts. Tubingen: Mohr Siebeck, 2010, p.
51.
70
parece um floreio retórico”: "Ou mesmo os dos anjos" pode muito bem
ser o sentido que Paulo pretendia aqui: claramente, ele não está
realmente reivindicando "todos os mistérios e todo conhecimento", ou
ter vendido tudo o que tem. Não está claro, contudo, que a
compreensão de "todos os mistérios e conhecimento" deva ser
hipérbole, e há outras formas de entender o emparelhamento de
44
"línguas de homens" com "línguas de anjos" .
44
FORBES, Christopher. Prophecy and Inspired Speech In Early Christianity and its Hellenistic
Environment. Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1997, p. 61, 62.
45
Pace I. J Martin. Citado por: FITZMYER, Joseph A. First Corinthians: The Anchor Yale Bible.
Yale University Press, 2008, p. 491.
46
FEE, Gordon D. The First Epistle to the Corinthians. Grand Rapids: Eerdamns, 1987, p.630.
71
humana/celestial/angelical. Isso explicaria a “noção da visão dos coríntios da
“espiritualidade”, ou seja, para eles, a evidência de ter “chegado” a um estado
“espiritual” seria a de que falavam as “línguas dos anjos”. Daí o alto valor
colocado neste dom”47.
47
Ibid, p. 630.
48
FORBES, Christopher. Prophecy and Inspired Speech In Early Christianity and its Hellenistic
Environment. Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1997, p. 61, 62.
49
ἐπιτομή (em grego): "corte na superfície, incisão, epítome, abreviação". LIDDEL, H. G.;
SCOTT, F., A Greek-English Lexicon. Oxford, The Clarendon Press, 1996, p. 667.
Epítome (em português): O que serve como modelo exemplar ou paradigma de algo: Portinari
é o epítome do modernismo na pintura brasileira.
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/ep%C3%ADtome/
Epitome (em inglês): Um exemplo representativo ou perfeito de uma classe ou tipo: "Ele é visto
... como o epítome do intelectual de centro-direita, hawkish" (Paul Kennedy).
https://www.thefreedictionary.com/epitome
Epitome (em inglês): O exemplo típico ou mais alto de uma qualidade declarada, como
mostrado por uma pessoa ou coisa em particular: Mesmo agora em seus sessenta anos, ela é
o epítome da elegância francesa.
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/epitome
72
excepcionais do espírito50. Em suma, concordamos com Balz e Schneider que
“a língua dos anjos” é um exemplo representativo, um modelo exemplar do
“falar em línguas” em 1 Co 12-1451. Com isso, Paulo afirma que: toda vez que
ele ou alguém na igreja de Corinto52 falar tanto as línguas dos homens quanto
as línguas dos anjos (inintelígiveis), mas não for motivado pelo amor para com
as pessoas, edificando-as, eles se mostrarão vazios. Portanto, Paulo usa a
expressão “língua dos anjos” porque seu imaginário foi influênciado pela
cosmovisão mística-apocalíptica. Por isso, ele acreditava que a glossolalia era
um dom supra-humano, celestial, angelical, ou seja, uma “fala ininteligível”
superior porque servia para que o falante se comunicasse com o Divino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
50
BALZ, Horst Robert; SCHNEIDER, Gerhard: Exegetical Dictionary of the New Testament.
Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1990-c1993, S. 1:14.
51
Poirier expõe os diferentes tipos de interpretação das “línguas dos homens e línguas dos
anjos”: a) “línguas dos homens” são usadas para se referir à fala inteligível e “línguas dos
anjos” para se referir à fala glossolálica (inintelígivel); b) “línguas dos homens” são usadas para
se referir à fala glossolálica (inintelígivel) e “línguas dos anjos” para se referir a uma altura
impossível de realização espiritual; c) “línguas dos homens” e “línguas dos anjos” podem ser
vistas para representar as duas metades complementares da comunidade terrestre-celestial
dos “santos”, expressa em termos do sinal linguístico-pneumático que o novo crente recebe
como um símbolo de sua cidadania recém-descoberta naquela comunidade. POIRIER, John C.
The Tongues of Angels: The Concept of Angelic Languages in Classical Jewish and Christian
Texts. Tubingen: Mohr Siebeck, 2010, p. 57.
52
O Apóstolo Paulo se utiliza como exemplo para mostrar que tanto ele como os membros da
igreja de Corinto não devem utilizar o dom de línguas para seu benefício próprio e sim para
edificação das outras pessoas.
73
CHARLESWORTH, James H. The Old Testament Pseudepigrapha, Vol.1,. New
Jersey: Hendrickson Publishers, 2010.
Concordance to the New Testament Graece of Nestle Aland 26 Edition and to
the Greek NT. Third Edition. Berlin/New York, 1987.
FEE, Gordon D. The First Epistle to the Corinthians. Grand Rapids: Eerdamns,
1987.
FITZMYER, Joseph A. First Corinthians: The Anchor Yale Bible. Yale University
Press, 2008.
FORBES, Christopher. Prophecy and Inspired Speech In Early Christianity and
its Hellenistic Environment. Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1997.
GARDNER. E, St. Paul’s Apocalypse in: Visions of heaven e hell before Dante,
Italica Press, New York, 1989.
LEWIS, Ioan. Êxtase Religioso: Um Estudo Antropológico da Possessão por
Espírito e do Xamantismo, 1977.
LIDDEL, H. G.; SCOTT, F., A Greek-English Lexicon. Oxford, The Clarendon
Press, 1996.
Nestle-Aland, Novum Testamentum Graece. 28° Edição (Bible Works 10).
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Crítica Social
no Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003.
ORR, William F.; WALTHER, James Arthur. I Corinthians: A New Translation,
Introduction, With a Study of the Life of Paul, Notes, and Commentary. New
Haven; London: Yale University Press, 2008.
POIRIER, John C. The Tongues of Angels: The Concept of Angelic Languages
in Classical Jewish and Christian Texts. Tubingen: Mohr Siebeck, 2010.
SCHNELMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha, Vol.2: Writings
Relating to the Apostles Apocalypses and Related Subjects. Louisville &
Kentucky: Westminster John Knox Press, 2003.
74
PÔSTERES
75
A RAIZ ZNH NO LIVRO DO PROFETA OSÉIAS: UM ESTUDO
INTRODUTÓRIO
Categoria: Poster
Introdução
53
Coordenado pelo Prof. Me. Lucas Merlo Nascimento. Formado por alunos e ex-alunos do
curso de bacharel em Teologia da Faculdade Teológica Batista de São Paulo: André Felipe
Barbosa, Ákilla Vicente Braga Nascimento, Rebeca Mendes da Fonseca da Silva, Rafael
Cardoso Pereira, Rafael da Silva França, Heitor Pessoa Magno e Laellington Fernandes Lopes.
76
1. As ocorrências de znh em Oséias
A raíz znh ocorre 22 vezes no livro de Oséias. Em sua forma verbal, ocorre
em54 1,2 (2x); 2,7; 3,3; 4,10.12.13.14.15.18 (2x); 5,3 e 9,1, sendo 9 vezes no
qal (1 infinitivo, 1 particípio, 5 imperfeito e 2 perfeito) e 4 no hifil (3 perfeitos, 1
infinitivo)55. Na forma substantivada, ocorre em 1,2 (2x); 2,4.6; 4,11.12.14; 5,4;
6,10, sendo 6 vezes no masculino plural, 2 vezes no feminino singular e 1 vez
no feminino plural. Para a discussão das interpretações, é importante notar que
não ocorre a forma substantivada zonah (prostituta).
2,7 zantah prostituiu agir como prostituiu prostituiu prostituiu prostituiu Foi infiel
prostituta
3,3 tizni prostituires sendo adúltera prostituirás prostituir fornicarás prostituirás será
54
Seguimos a notação de versículos da Bíblia Hebraica.
55
O infinitivo qal em 1,2 e hifil em 4,18 são formas enfáticas, articuladas com o mesmo verbo
conjugado.
77
prostituta
“hazneh hiznu”
3. As possibilidades de interpretação
A partir das traduções e comentários, a raiz znh pode ser compreendida como:
prostituição (envolvendo ato sexual), prostituição ritual (envolvendo ato sexual),
prostituição religiosa (idolatria, infidelidade - sem ato sexual), adultério (ato
sexual fora dos limites do casamento). A depender da referência,
principalmente quando usada em relação a Israel, fica clara a conotação de
quebra da aliança do povo com Yahweh, em sentido religioso. A ambiguidade
ocorre em contextos nos quais a expressão refere-se à mulher do profeta,
Gomer, se a mesma era prostituta, prostituta cultual, adúltera ou uma
representante da infidelidade a Yahweh (Os 1-3) e em contextos nos quais é
possível que, à quebra da aliança, aliem-se ritos sexuais de cultos canaanitas.
Nesse sentido notamos como os comentaristas compreendem a raiz znh.
79
adultérios. Porém, também pode ter um teor espiritual, referindo-se ao povo de
Israel e sua idolatria. Em todas as expressões ele sugere a interpretação do
ponto de vista físico e sexual, como também do ponto de vista espiritual, como
uma mensagem para Israel.
Stuart (2002) entende que o termo ’eshet zenunim não significa “uma
prostituta” ou “uma prostituta como esposa”. Isto porque o termo “prostituta” em
hebraico seria zonah conforme Josué 2.1 ou Juízes 11.1, de modo que o plural
abstrato (zenunim) se refere mais a uma característica do que a uma profissão.
Além disso, ele afirma que os capítulos 1-3 nada demonstram ou apontam para
o fato de Gomer ser uma prostituta praticante ou uma esposa adúltera.
O autor afirma que apesar de tais defesas, há fortes objeções contra tais
interpretações, isso porque as mesmas se apresentam contra interpretações
literais que exageram o literalismo de determinadas frases e pormenores na
narrativa, ou seja, não há nada na narrativa que indique ser uma visão ou
alegoria. Por último, os que entendem a narrativa como uma história verídica
apresentam uma variedade de interpretação. Alguns partem da ideia de que
Gomer já era uma meretriz e já tinha filhos ilegítimos quando Oséias casou-se
com ela. Outros entendem que Gomer era jovem casta quando se casou,
porém, sua inclinação à promiscuidade de Baal a tornou uma prostituta.
Considerações finais
83
diferentes usos verbais e substantivos no livro, para compreender se alterações
verbais e substantivas carregam alguma alteração semântica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOROVITS, David; FRIDLIN, Jairo. Bíblia Hebraica. São Paulo: Sêfer, 2006.
84
HARPER, W. R. A critical and exegetical commentary on Amos and Hosea.
Edinburgh: T&TClark, 1979. (International Critical Commentary)
85
O ESTUDO DO MITO PARA COMPREENDER A LITERATURA DO ANTIGO
ORIENTE
Pesquisadores: André Felipe Barbosa e Davi Lins do Nascimento
E-mail: andrefelipe_barbosa@outlook.com
davilins07@hotmail.com
Faculdade Teológica Batista de São Paulo
(SP) Departamento de Graduação em
Teologia
Graduandos em Teologia
Teologia Eixo Temático: Bíblia
Categoria: Pôster
Projeto de Iniciação Científica
Resumo
INTRODUÇÃO
86
O mito traz em si um caráter imaginativo, dramático, sedutor, poético e
poderosamente aceito mediante as repetições às gerações posteriores. Não
obstante o vínculo com o passado, ainda consiste no mito uma profunda
ligação com a realidade humana e mesmo a nossa sociedade cientificista não
conseguiu destruir os mitos, apenas a negar intelectualmente (BASTIDE, 2006,
p. 98).
87
Oriente, bem como para a compreensão da religião e do povo relacionado
aquela crença.
Afirmar uma única definição de mito seria uma tarefa equivocada, pois o
mesmo funciona de modo amplo, observado em diferentes perspectivas,
campos de atuação e equivalente em cada período de espaço histórico-
geográfico. A opção em observar o mito visando a fenomenologia da religião e
a filosofia partiu de um questionamento de como o mesmo funcionava na
Antiguidade. Isso, devido a forma com que os povos do Antigo Oriente
estabeleciam sua noção de política, cultura, economia, noção de si, religião e
sociedade.
88
A busca desenfreada de referenciais teóricos provoca no pesquisador um
aparato meramente repetitivo, por isso, a centralização do tema proporciona
um melhor aproveitamento do assunto e uma compreensão mais coesa de
como o mito revigorou historicamente e culturalmente a humanidade. Abrir mão
de tais levantamentos implicaria em uma redução significativa para uma
definição apropriada, apesar do mesmo ser interpretado e definido por
diferentes linhas e em algumas delas contraditórias entre si, é de extremo valor
que tal pesquisa seja realizada seguindo tais caminhos, a fim de que o capítulo
seguinte possa ser bem mais situado e definido.
Gerard Van Der Leeuw denomina o mito como a própria palavra. Não se trata
apenas de uma narrativa, poema, uma explicação primitiva dos fenômenos do
mundo, ou até mesmo um princípio filosófico inicial de determinado povo, mas
uma melhor definição seria: A palavra falada e que tem poder decisivo quando
89
é repetida. O mito não apenas fala a respeito de um evento poderoso em um
determinado período cosmológico, mas de como tal evento se desencadeou. A
metáfora é empregada de maneira muito comum na narrativa. Como a
repetição faz parte da essência religiosa, o mito é encarado com a mesma
frequência. (1975, p.399)
Como Leeuw, Mircea Eliade caminha em uma linha semelhante. Para ele, o
mito está também relacionado com o culto que inspira e justifica uma conduta
religiosa (1971, p.26). Eliade afirma que o mito pertence a uma das realidades
culturais mais complexas do campo do pensamento. O mesmo é abordado e
interpretado através de múltiplas e complementares perspectivas, ou seja, o
esforço de tentar defini-lo torna-se exaustivo e com inúmeros denominadores.
(ELIADE, 1971, pg. 11)
Platão também observa o mito como “uma via humana mais curta” para a
persuasão; e que também o seu domínio é representado por uma esfera que
se localiza além do pensamento racional, permitindo que apenas seja lícito
aventurar-se com suposições verossímeis. No que diz respeito a Aristóteles, o
mesmo assume colocações semelhantes. Ele afirma que o mito, em
determinados casos, é o oposto da verdade, mas pode também ser a forma
91
aproximativa e imperfeita que a verdade assume, é o caso de explicar “a razão
de uma coisa em forma de mito” (ABBAGNANO, 1998, p.673).
No que diz respeito ao mito ser encarado como uma forma autônoma de
pensamento e de vida, Abbagnano justifica pela validade e função do mesmo
não sendo secundária ou subordinada ao pensamento racional, porém
originária e primária. O mesmo está em um plano diferente do intelecto, mas
tão digno quanto. A verdade do mito de modo algum é uma verdade intelectual
corrompida, mas autêntica, manifestando-se de forma fantástica ou poética
(1998, p.674).
Partindo desse ponto de vista, o mito não seria definido como uma determinada
forma de espírito, semelhantemente no caso do intelecto e o sentimento, porém
na relação à função que desempenha nas sociedades humanas, como a que
desempenha um papel de esclarecimento e descrição baseando-se em
acontecimentos concretos e observáveis.
93
A compreensão da estrutura e a função dos mitos em sociedades tradicionais
não é vista apenas como uma compreensão de uma etapa histórica do
pensamento humano, porém alia-se a uma categoria para os contemporâneos,
partindo do fato de que todos esses elementos fazem parte do fenômeno
humano e cultural. Sendo assim, Eliade dirá que, apenas quando encarado por
uma perspectiva histórico-religioso, o mito forma condutas similares que
poderão se apresentar como fenômenos de cultura, perdendo uma
característica aberrante ou um ato visto apenas como instintivo (1963, p.10).
Em uma tentativa de querer definir o que de fato é o mito, Eliade afirma que é
uma realidade cultural extremamente complexa, porém, partindo de um caráter
pessoal. O mito conta uma história sagrada em que se relata um
acontecimento ocorrido em tempos primordiais. Em outras palavras, é a
narrativa de como os ‘Entes Sobrenaturais’ formam toda a realidade, de como
algo foi produzido e passou a existir. Apesar de sua linguagem e forma de
escrita, Eliade afirma que o mito por se tratar de uma “história sagrada”, será
em síntese uma “história verdadeira”, pois sempre fará referência à realidade
(1963, p.12).
94
totalidade e, ao mesmo tempo, na escala de valores que essa mitologia
sustenta, seja implícita ou explicitamente (ELIADE,1971, p.28, tradução nossa).
A partir daí o autor enumera duas formas erradas de observar uma narrativa
mítica: Uma leitura que nega a veracidade da obra, limitando-a a uma história
falsa; A segunda, encará-la como peça literal, como um acontecimento ocorrido
no passado.
Este dado deve ser analisado com cuidado, posto que tem duas
faces. De um lado, ao apresentar o mito como “história” e ao narrar
um fato como instaurador de alguma realidade, este fato é captado na
imediatez da experiência religiosa como algo realmente acontecido.
Essa é a leitura e escuta que se faz do mito no âmbito sagrado, no
seu lugar de manifestação (CROATTO, 2010 p.211).
Apesar disso, Croatto afirma que o estudioso deve ter noção de que o
acontecimento narrado no mito é, em síntese, imaginário construído pelo homo
religiosus. Porém, engana-se que nivelar o mesmo ao nível factual é uma
alternativa, pois situá-lo no simples é matar sua riqueza simbólica como um
relato imaginário (2010, p. 212).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Responder o que é mito, de maneira geral, passa a ser uma das implicações
mais desgastantes até aqui. Há uma concordância entre os autores e as linhas
teóricas apresentadas em destacar o mito como uma narrativa pertencente a
uma ordem literária e o mesmo não perde sua característica cultural, religiosa e
política. De maneira mais fragmentada e especifica, o mito deve ser
interpretado como um discurso, já frisou bem Croatto (CROATTO, 2010,
p.210). Por parte da filosofia, apresentada por Abbagnano, Strauss define o
mito como uma “Filosofia Nativa”, ou seja, cada povo tem uma linguagem de
expressão, prezando a característica literária dentro de uma tradição, tanto em
aspectos sociais quanto existências (ABBAGNANO, 1998 p. 675).
Leeuw (1975 p. 399) afirmou que a palavra falada tem poder decisivo quando é
repetida, a tradição é memorizada. Algo muito semelhante quando encarado na
perspectiva de Eliade (1963 p.12) que define o mito como uma linguagem e
uma escrita que assume a posição de “história sagrada”, que em outras
palavras é vista como uma “história verdadeira”. Separar a intenção da escrita
em comparação à realidade é uma tarefa impossível, pois o significado é
sempre atribuído a realidade, não há narrativa sem uma construção intencional.
Além disso, os mitos narram muito além de apenas uma origem de mundo e de
todos os seres viventes. Todavia acontecimentos de extremo impacto
queresultaram em um modo de ser humano e de como este humano interage
consigo tanto em esferas psíquicas quanto emocionais e sensoriais, com seu
meio social, religioso e existencial (1963, p. 16-17).
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
98
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. 6ª Edição, 1ª Reimpressão – São Paulo:
Editora Perspectiva S. A. 2006
99
OS JARDINS REAIS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO: ESTUDO
HISTÓRICO E IMAGÉTICO
Email: rebecamendesfs@gmail.com
Categoria: Pôster
RESUMO
INTRODUÇÃO
A pesquisa se propõe a compreender mais claramente como eram e qual era o
papel dos jardins no contexto cultural do Antigo Oriente. O objetivo é estudar o
jardim e seus simbolismos no Antigo Oriente Próximo. O tema é relevante pois
possibilita entender a construção do imaginário em relação ao jardim na época,
levando em conta que a visão dos autores bíblicos também é afetada por esses
símbolos ao utilizar a figura dos jardins nos textos.
100
Próximo. Para a melhor compreensão destes jardins, seus símbolos e
formatos, estão destacados alguns deles: o jardim de Assurnasirpal II, de
Sargão II, de Senaqueribe, de Assurbanípal e de Nabucodonosor.
101
área de 25 km². “Quarenta e um diferentes tipos de árvores plantadas e
diversos tipos de animais selvagens eram mantidos dentro para o espanto do
povo assírio56” (NOVAK, 2002, p. 446). Por meio do que os arqueólogos foram
capazes de encontrar nas escavações e dos escritos da época, o autor afirma
que o jardim estendia-se pelo sul e oeste da cidade.
Assurbanípal, o último grande rei da Assíria (668 - 627 a.C.), ficou conhecido
por fazer uma grande festa para celebrar suas vitórias contra os inimigos.
Segundo Barnett (1985), tais festas aconteciam no jardim de seu palácio, onde
56
Forty-one different kinds of trees were planted and several kinds o f wild animals were kept inside for
the astonishment of the Assyrian people. (NOVAK, 2002, p. 446, tradução nossa).
102
o rei ficava em uma cama e havia diversos elementos naturalistas em torno
dele. A cabeça de Teumann, o rei elamita, ficou pendurada em seu jardim.
Essa celebração poderia ser entendida como um ritual feito ao ar livre no jardim
real.
57
Simbolically, these zoos and botanical gardens served as microcosmos of the outside world, bringing
the chaos and mystery of the periphery into the ordered realm of the center under the auspices of the
king. (COHEN e KANGAS, 2010, p. 210, tradução nossa).
58
It has been a great embarrassment to Assyriologists, whether they are archaeologists, historians or
philologists, that they have been unable to point conclusively to a location, a construction or a
contemporary written source for this World Wonder, despite a mass of material from excavations and
inscriptions that ought to support the testimony of the Classical texts. (DALLEY, 1994, p. 45, tradução
nossa)
103
O reinado de Nabucodonosor II foi de grande expansão e conquistas materiais
e regionais para a Babilônia. A construção dos jardins verticais teria como
motivação a esposa do rei, que crescera em um ambiente rodeado de árvores
e campos e sentia falta de sua terra natal. Portanto, Nabucodonosor teria
mandado construir esses jardins no palácio como um agrado para sua esposa
(SÁ, 2016).
A partir do sexto milênio a.C., quando são adotados sistemas de irrigação para
a agricultura nas partes áridas da Mesopotâmia, os jardins passam a ser um
símbolo da fertilidade do lugar, como uma amostra da abundância local. Além
disso, o jardim era visto como extraordinária fonte de prazer e deleite.
Stronach (1990) entende que, entre 900 e 500 a.C., alguns monarcas passam
a construir parques e jardins com a intenção de ressaltar as conquistas de seu
reinado. Um desses monarcas foi Assurnasirpal II, que fez dos jardins uma
forma de demonstrar as realizações de seu reino. Em suas batalhas eram
colhidas plantas exóticas e sementes que seriam plantadas no jardim do rei.
Assurnasirpal II caçava animais grandes como leões e elefantes, os prendia em
gaiolas e expunha em Nimrud. O próprio rei fala sobre o seu jardim:
104
A água do canal jorra de cima para os jardins; fragrância
permeia as passagens, riachos de água tão numerosos quanto
as estrelas do céu fluem no jardim de prazer ... Como um
esquilo, eu colho frutas no jardim das delícias59 (DALLEY,
1993, p. 4).
Na época do reinado de Sargão II, os jardins tinham muito valor. Ele tinha
grandes planos de cultivo nos estepes e projetos de jardinagem. Sargão era
considerado um habilidoso jardineiro e era conhecido por trabalhar em seus
jardins mesmo sendo rei. “À direita do lago e da construção, há uma colina
coberta de árvores frequentada por pássaros, e no cume deste monte está um
altar localizado na posição tradicional em um ‘lugar alto’60” (FARRAR, 2016, p.
52). Um de seus governantes enviou um relatório que dizia:
59
I dug out a canal from the Upper Zab, cutting through a mountain peak, and called it Abundance
Canal. I watered the meadows of the Tigris and planted orchards with all kinds of fruit trees in the
vicinity. I planted seeds and plants that I had found in the countries through which I had marched and in
the highlands which I had crossed: pines of different kinds, cypresses and junipers of different kinds,
almonds, dates, ebony, rosewood, olive, oak, tamarisk, walnut, terebinth and ash, fir, pomegranate,
pear, quince, fig, grapevine… The canal-water gushes from above into the gardens; fragrance pervades
the walkways, streams of water as numerous as the stars of heaven flow in the pleasure garden... Like a
squirrel I pick fruit in the garden of delights. (DALLEY, 1993, p. 4, tradução nossa)
60
To the right of the lake and building, there is a tree covered hill frequented by birds, and on the
summit of this hillock stands an altar located in the traditional position on a ‘high place’. (FARRAR, 2016,
p. 52, tradução nossa).
61
I have levied upon the people of Nemad-Istar the supply of 2.350 loads of apple trees, and 450 loads
of medlar trees. [The people of Suhu province] are collecting saplings of almond, quince and plum trees,
and they are transporting them to Dur-Sharrukin. The people of Suhu are also bringing saplings from the
land of Laqe: 1.000 loads of apple trees. Their vanguard has arrived and I have seen it, but their
rearguard has not yet arrived. (DALLEY, 1993, p. 4, tradução nossa).
105
“Senaqueribe em Nínive alega ter criado um kirimāhu tamšil šad hamānim,
geralmente traduzido como ‘um grande parque como o Monte Amanus’, ao lado
de seu grande palácio62” (WISEMAN, 2013, p. 138). O jardim real tinha todos
os tipos de ervas, árvores aromáticas e árvores frutíferas, era descrito pelo
próprio Senaqueribe como um jardim luxuoso. A construção fora feita de tal
forma que:
A cidade onde se encontrava o palácio e seus jardins era Nínive, cercada por
seus muros duplos e a muralha de proteção da cidadela.
62
Sennacherib at Nineveh claims to have created a kirimāhu tamšil šad hamānim, usually translated "a
great park like unto Mt. Amanus", beside his great palace. (WISEMAN, 2013, p. 138, tradução nossa)
63
From the palace in the southwestern part of the citadel the gardens in the river valley were visible.
The southwestern flank of the building was probably constructed as a series of small column halls that
gave access from the inner palace to a panorama platform , which was situated at the very edge o f the
citadel high above the river and the gardens. (NOVAK, 2002, p. 449, tradução nossa)
64
Termo original: “Garden house”. Cobertura com colunas que ficava no jardim, como se vê nas imagens
dos jardins.
106
Os jardins do templo eram utilizados para rituais ao ar livre e serviam como um
ambiente agradável para o caso de um deus querer caminhar do lado de fora
do templo. Novak (2002) diz que, baseado em diversos textos, é possível saber
que todos os grandes deuses da Babilônia tinham seu próprio jardim sagrado,
onde eram feitas as celebrações a eles.
Com o passar dos anos, foram feitos jardins maiores e mais suntuosos, entre
eles estavam os Jardins Suspensos da Babilônia, testemunhando a grandeza
do império de Nabucodonosor.
65
Circa 546 BC Cyrus the Great founded a number of palatial buildings in an idyllic garden setting at
Pasargadae (in south-western Iran) from which he ruled his vast Empire. (FARRAR, 2016. p. 60, tradução
nossa).
107
arqueólogos encontraram nos jardins canais de água feitos de pedra. A partir
das conquistas de Ciro, os jardins podiam ser vistos como um microcosmo do
império.
Além de todo simbolismo por trás da figura dos jardins, Caramelo (2003) afirma
ainda que o jardim representa a domesticação e controle humano da natureza.
O fato de adaptar diferentes espécies de plantas a novos ambientes e,
principalmente, de controlar as águas, por meio de aquedutos e canais, podem
ser entendidas como a capacidade de renovar a criação.
108
A representação do jardim de Sargão II mostra diversos detalhes que foram
descritos acima com base no livro de Farrar (2016). A imagem mostra as
árvores plantadas na colina, em cujo cume se encontra o altar. No centro da
imagem encontra-se o lago e, entre as árvores, os pássaros que frequentavam
as árvores. A fundo está o “quiosque”, também chamado bitanu.
109
A Figura 2, exposta acima, é foto de um relevo encontrado no palácio de
Assurbanípal, mas que era uma representação do jardim construído por
Senaqueribe. A Figura 3 é a ilustração desse painel encontrado, a ilustração
permite discernir com mais clareza o que havia sido desenhado no palácio. O
relevo representa um amplo jardim elevado com sistema de irrigação e uma
construção, provavelmente um templo, um palácio ou ainda a bitanu.
111
semelhantes e mostram, como na imagem acima, um jardim feito em níveis,
algo que se assemelha a uma colina construída artificialmente e preenchida de
árvores e plantas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo foi possível compreender que os jardins eram parte dos palácios
reais. Eram utilizados para o deleite do rei, mas também para mostrar seu
poder de conquista sobre nações, trazendo também uma carga política à
construção do jardim.
112
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Nineveh, Babylon and the Hanging Gardens: Cuneiform and Classical
Sources Reconciled. Iraq. Vol. LVI, 1994, pp. 45-58
ELAYI, Josette. Sargon II, King of Assyria. Atlanta: SBL Press, 2017.
SÁ, António Pedro Pacheco de. Jardins Verticais como Elemento Artístico e
Ambiental no Espaço Urbano. Tese (Mestrado Arquitetura Paisagista).
Instituto Superior de Agronomia Universidade de Lisboa. Lisboa, 2016.
114
CRISE REVELADORA: A CRISE DA JUERP E A SAÚDE
ORGANIZACIONAL DOS BATISTAS BRASILEIROS NO INÍCIO DA DÉCADA
DE 1990
RESUMO
A crise da Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP) da Convenção
Batista Brasileira (CBB) na década de 1990, estudada na abordagem da
história oral temática híbrida, por meio de entrevistas com pastores batistas e
pesquisa bibliográfica em documentos oficiais, revela fragilidades
organizacionais dos batistas brasileiros no período – trata-se de um estudo em
Teologia Histórica com profunda atualidade e relevância.
INTRODUÇÃO
116
híbrida, uma vez que desejamos promover o diálogo das entrevistas com
outros documentos (MEIHY; HOLANDA, 2013, p. 129).
A partir desses fundamentos, podemos caracterizar, metodologicamente,
nosso trabalho como uma pesquisa qualitativa, com entrevistas
semiestruturadas articuladas com pesquisa bibliográfica.
1. Desenvolvimento
117
Rosa, assumiram interinamente a Direção Geral da JUERP Dr.
Samuel Justino dos Santos e Dr. Jorge de Carvalho, até a posse do
Dr. Almir Gonçalves dos Santos Júnior, em outubro (CONVENÇÃO
BATISTA BRASILEIRA, 1996, p. 225).
118
do Jornal Batista: de 12/11/1995 a 21/01/1996, publica-se uma série de artigos
de sua autoria intitulada “A Juerp e a denominação”, nos quais ele discute as
causas da crise e indica seus planos e expectativas para a JUERP.
Rega (2017) afirma que a gestão da JUERP não era profissional e traz à tona,
então, um princípio significativo sobre a gestão dos órgãos denominacionais:
esses órgãos são prestadores de serviço às igrejas e como tais, a seleção de
seus diretores deve funcionar por competência e alta performance, e não por
amizades.
Como um segundo item entre as causas da crise, Ferreira (2018) afirma que a
JUERP errou ao escolher, para assumir sua Direção Geral, um pastor, e não
um administrador. Ferreira (2018) afirma que o pastor escolhido para assumir a
Direção Geral da JUERP, o Pastor Joaquim de Paula Rosa – sucedendo o
missionário norte-americano Edgar Hallock – era um bom administrador de
igreja e de Convenção – praticava uma administração honesta e sem dolo –
mas não era um bom administrador de empresa, não tinha o traquejo para
administração empresarial. Ferreira (2018) destaca ainda que, em meio às
dificuldades financeiras da JUERP, o Diretor Geral foi precipitado em recorrer a
empréstimos bancários para cobrir despesas.
120
preso à tradição americana, ao modo de administrar americano, aos esquemas
funcionais americanos.
121
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUERP tem novo superintendente geral. O Jornal Batista. Rio de Janeiro, ano
94, n. 44, 29 out. 1995.
MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer,
como pensar. São Paulo: Contexto, 2013.
QUESTÃO grave: salvar para reorganizar. O Jornal Batista, ano 94, n. 20, 14
mai. 1995.
123
REGA, Lourenço Stelio. Entrevista concedida a Heitor Pessoa Magno. São
Paulo, 16 nov. 2017.
124
AS NUANCES RELIGIOSAS NA IDEOLOGIA NAZISTA – COMO OS
ESCRITOS LUTERANOS INFLUENCIARAM O NAZISMO
RESUMO
INTRODUÇÃO
125
Este estudo se baseará em pesquisa bibliográfica, considerando especialmente
textos que trabalham com a formação de ideologias do século XX e
bibliografias de personagens importantes do período.
1. O Conceito de Ideologia
Para Koyzis (2014, p. 21), a ideologia abrange praticamente tudo o que existe
na consciência das pessoas, tentando fornecer uma explicação total do mundo
e de sua história. Para Arendt (1973, p. 470) toda ideologia contém elementos
totalitários, pois incentiva que as interpretações sejam feitas a partir de um fator
central, buscando um alinhamento completo na sociedade.
Após um discurso intenso realizado em outubro de 1919, Adolf Hitler entra para
o partido e gradativamente conquista influência, tornando-se em pouco tempo
um dos membros mais proeminentes (GEARY, 2010, p. 12). Em 1920, o
partido altera seu nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
Alemães (NSDAP). O partido estava intencionado a unir elementos
nacionalistas e socialistas, reivindicando as determinações do Tratado de
Versalhes, a unificação dos estados alemães étnicos e uma nova política de
tratamento aos judeus.
66
Putsch da Cervejaria, também conhecido como Putsch de Munique foi uma tentativa de golpe
de Estado contra o governo de Baviera encabeçada por Adolf Hitler e o partido NSDAP em 9
de novembro de 1923. Vide artigo < https://jornalggn.com.br/noticia/o-putsch-de-munique-a-
tentativa-de-golpe-de-hitler-em-1923> Visitado em 25 Abr 2018
128
Após sua soltura, Hitler encontra o partido Nazista totalmente enfraquecido,
sem liderança e proibido pela lei de atuar. A respeito disso, Dick (2010, p. 22)
diz que “o fracasso dramático do Putsch da Cervejaria convenceu Hitler de que
o caminho para o poder passava pelo processo democrático, mesmo que o seu
último objetivo permanecesse sendo a destruição da democracia parlamentar”.
O movimento nazista investia em uma nova estrutura, onde não era tolerada
nenhuma forma de oposição. Qualquer sinal de resistência era solucionado
com ações punitivas, seja por meio de espancamento, prisão ou isolamento no
campo de concentração. E desta forma, Hitler pôde colocar em práticas seus
planos para a retomada do orgulho germânico. As medidas para isso envolviam
a expulsão de grupos sociais não desejáveis, com destaque para
129
homossexuais, testemunhas de Jeová, maçons, doentes mentais, judeus,
ciganos, assim como qualquer outro indivíduo que atrapalhasse o plano da
criação de uma hegemonia alemã.
67
No dia 29 de Setembro de 1938, Chamberlain, Daladier, Hitler e Mussolini, representantes de
Inglaterra, França, Alemanha e Itália respectivamente, reuniram-se na cidade de Munique para
discutirem sobre o interesse alemão em parte dos territórios da Tchecoslováquia.
130
(HOBSBAWN, apud MILWARD, 1995, p. 50), um total de aproximadamente 66
milhões (WHITE, 2013, p. 482).
68
Termo relacionado ao significado do termo “católico” derivado da transliteração grega
Katholikos que significa “universal”.
69
Conforme trechos de discurso apresentado em METAXAS, 2011, p. 129
70
Penna descreve que culto ideológico promovido pelos movimentos nacionalistas, fornece à
sociedade uma nova teologia, carregada de novas devoções, novos rituais e novos sacrifícios,
oferecendo uma nova religião, visto que a religião tradicional foi inutilizada pelo ceticismo e
pelo ateísmo.
132
Para Metaxas (2011, p. 149), Hitler cria que no tempo devido, as igrejas não
apenas se adaptariam ao modo nacional-socialista de pensar, mas se
tornariam transmissoras da ideologia do nazismo. Caso esta adaptação não
ocorresse, a bandeira nacionalista seria utilizada para liquidar a Igreja de
maneira que la Patrie ganharia apoio absoluto na alma dos cidadãos (PENNA,
2017, p. 57).
Eles habitam entre nós, sob nossa proteção, usam nossa terra, nossas
ruas, nossas feiras, e nossos becos. E, muitas de nossas nobres
autoridades, roncam impassíveis, de boca aberta, deixando os judeus
esvaziar seus cofres, deixando-se explorar pelos juros até o próprio
empobrecimento, tornando-se mendigos. Os judeus pelo certo, nada
deviam ter, porque tudo é nosso. Como não trabalham, a nada tem
direito, muito menos que os paguemos com nosso dinheiro (LUTHER,
1993, p. 18).
133
ocorre o Kristallnacht - levante conhecido como “Noite dos Cristais” que
consistiu em uma série de atos de vandalismo contra os comércios e
propriedades dos judeus. Lutero descreve algumas dessas ações no livreto: