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INTRODUÇÃO
O que é “Teologia”?
1
Antes de pertencer ao domínio específico do religioso, o termo religio está presente, de uma maneira
geral, no cotidiano romano. Empregado tanto no âmbito dos cultos da religião romana antiga quanto
designando a nova religião cristã, o termo religio apresenta-se dividido entre duas etimologias possíveis:
uma de origem cristã e outra de origem dita pagã. O primeiro, ao tratar dos cultos romanos antigos,
propõe o termo relegere como origem etimológica de religio; o segundo, Lactâncio, para designar as
práticas cristãs, aproxima religio de religare. AZEVEDO, C. A. A PROCURA DO CONCEITO DE RELIGIO:
ENTRE O RELEGERE E O RELIGARE. Religare 7 (1), 90-96, Março de 2010.
2
SPROUL, R.C. SOMOS TODOS TEÓLOGOS – Uma Introdução à Teologia Sistemática. São José dos Campos:
Fiel, 2017. p. 12.
3
MCGRATH, A. E. TEOLOGIA – Os Fundamentos. Edições Loyola: São Paulo, 2009. p. 13.
4
GOLDINGAY, J. TEOLOGIA BÍBLICA – O Deus das escrituras cristãs. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil,
2020. p. 13
5
HAMILTON, James B. O QUE É TEOLOGIA BÍBLICA? – Um guia para a história, o simbolismo e os modelos
da Bíblia. São José dos Campos: Fiel, 2016. ePUB.
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Geerhardus Vos, sugere um outro nome para a Teologia Bíblica: “História da
Revelação Especial”.6 Isso, reforça, o fato de que tudo aquilo que esta disciplina trata,
tem sempre como base, conteúdo e pano de fundo a revelação bíblica. “Toda teologia
verdadeiramente cristã deve ser teologia bíblica – porque, com exceção da revelação geral,
as Escrituras constituem o único material com o qual a ciência da teologia pode lidar.”7
Embora pareça uma afirmação ou uma conclusão óbvia, isso não é um fato. Vamos
encontrar na estrutura dos estudos acadêmicos encontramos diferentes formas de se “fazer”
teologia. Além da Teologia Bíblica encontramos a Teologia Dogmática, Teologia
Histórica, isto sem contar com a infinidade de teologias contemporâneas que apareceram
no século passado como as teologias conhecidas como teologia de genitivo, teologia de
gueto ou teologia de minorias (Negra, Feminista, da Libertação, do Pobre etc).
A maioria das teologias mencionadas acima difere uma das outras em dois aspectos
de sua essência: pressupostos e métodos. Em alguns casos os pressupostos são puramente
filosóficos e terminam até mesmo por desprezar completamente a Bíblia afirmando que
para se fazer boa teologia devemos nos livrar do jugo de um livro antigo, que foi escrito
há muitos anos atrás e portanto, não fala ao homem deste século e, talvez, possamos
aproveitar alguns conceitos morais que ela nos ensina. Em outros casos a Bíblia serve
apenas como um acessório ou como um pretexto, mas não como a fonte de conhecimento
teológico. Nosso pressuposto confessional neste curso é de que toda a boa teologia bíblica,
para ser verdadeira teologia, tem que tomar a Bíblia sob a égide da INSPIRAÇÃO,
INERRÂNCIA e INFALÍBILIDADE.
6
VOS, Geerhardus. TEOLOGIA BÍBLICA – Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 5.
7
Ibidem.
8
VOS, Geerhardus. op. cit. p. 5.
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Ciente de que o campo da teologia bíblico é um verdadeiro universo, seguiremos o
método sintético adotando um tema básico que está presente no Antigo e Novo
Testamento e que se descortina de forma progressiva através da Escritura, o que, também,
nos afasta do perigo de tratarmos os Testamentos de forma independente. Deste modo
caminharemos pelo texto bíblico, percebendo na história revelada os “atos redentores e
poderosos de Deus registrados progressivamente na narrativa bíblica.”9
(3) A teologia bíblica estuda a revelação na sequência progressiva em que ela foi
dada e por isso, reconhece que a revelação não foi completada por Deus de uma só vez,
mas foi apresentada aos poucos, numa série de estágios sucessivos e utilizando diversos
grupos de pessoas. A Bíblia é um registro do progresso dessa revelação, e a teologia
bíblica concentra-se nela, diferente da teologia sistemática que considera a revelação
como algo completo e fechado.
(4) A teologia bíblica tem na Bíblia a sua fonte. Na verdade, as teologias sistemáticas
ortodoxas fazem o mesmo. Isso não quer dizer que a teologia bíblica ou a sistemática não
possam ou não retirem material de outras fontes, mas a teologia ou a doutrina, por si só,
não provem de outra fonte que não seja a Bíblia.
9
FERREIRA, F. Prefácio. IN GOLDSWORTHY, Graeme. INTRODUÇÃO À TEOLOGIA BÍBLICA – O
Desenvolvimento do Evangelho em Toda a Escritura. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 7.
10
Ibidem.
11
RYRIE, Charles C. TEOLOGIA BÁSICA. São Paulo: Mundo Cristão, 2004. pp. 16, 17.
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I. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO
Historicamente, a igreja confessa que Deus revela sua natureza e seus planos,
inspirando homens para apresenta-los na Escritura infalível (2 Pedro 1.21) e também que
12
WALTKE, Bruce K. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO – Uma abordagem exegética, canônica e
temática. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 33.
13
Ibidem.
14
Ibidem, p. 34.
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Ibidem, p. 35
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seu Espírito esclarece por meio da iluminação o significado dessa Escritura para os
crentes.
A. A Base Teológica
1. Revelação
Quando tratamos de “revelação” é necessário distinguirmos a “Revelação Geral”,
que é aquela “que Deus faz de si mesmo na criação, a qual é dada conhecer a toda
humanidade” 19 (Rm 1.19, 20) e a “Revelação Especial”, que é exposta no cânon da
Escritura e que não pode ser compreendida por meio da razão natural, nem pode ser
descoberta por métodos científicos, uma vez que só pode ser apreendida por meio da fé.
18
CHILDS, 2002, Biblical Theology: a proposal, p.12 apud WALTKE, p.35.
19
Ibidem, p. 36.
20
Ibidem.
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“No Antigo Testamento, a revelação sempre conduz ao um relacionamento pessoal
entre Deus e seu povo. Para que a comunhão seja possível, temos de conhecer o caráter
de Deus por meio da revelação que ele faz de si mesmo.”21
2. Inspiração
A Bíblia em si mesmo, testifica abundantemente da sua inspiração e as provas
internas são de tal monta, que deixam aqueles que procuram negar a doutrina da
inspiração, em sérias dificuldades. Em diversas partes, os autores sacros do Antigo
Testamento receberam ordem para registrar o que o Senhor lhes ordenou (Êx 17.14; 34.27;
Nm 33.2; Is 8.1; Jr 25.13; 30.2; Ez 24.1ss; Dn 12.4; Hb 2.2).
Deus, por meio do Espírito Santo, escolheu e inspirou homens para produzirem os
textos bíblicos. Desta forma, falar de inspiração, significa dizer “que Deus falou usando
profetas e apóstolos por meios que envolveram o coração, a mente e as emoções deles,
embora sem se limitar a isso. As operações divina e humana complementam-se.”24
3. Iluminação
A iluminação consiste na obra do Espírito Santo que completa o processo da
revelação. “O Espírito que é a causa primeira na nossa regeneração para a fé, ilumina as
21
DYRNESS, William. Themes in Old Testament theology, 1979, p. 26 apud WALTKES, p. 36.
22
BERKHOF, Louis. MANUEL DE DOUTRINA CRISTÃ. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p. 35
23
WALTKE, Bruce K. Op. Cit. p. 38.
24
Ibidem.
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palavras de Deus a fim de que seu povo entenda a revelação, mas não sem pesquisa e a
razão humanas.”25
Deus não somente revela, mas também, concede ao seu povo a capacidade de
entender de forma proposicional e objetiva o conteúdo revelado. Deus está envolvido em
todos os aspectos desse processo de comunicação. “O Espírito Santo cria condições para
um relacionamento dinâmico entre o texto inspirado por Deus e o seu povo. Essa
identidade dinâmica envolve a capacitação do Espírito para entender e interpretar os
textos e apossar-se deles para a vida contínua de fé.
João Calvino faz uma afirmação esclarecedora sobre a autenticação pela ação do
Espírito:
4. Cânon restrito
A teologia sobre a qual temos nos debruçado pressupõe o cânon protestante que é
restrito a lista de 66 livros, tanto do AT quanto do NT, que é aceito e partilhado pela
comunidade cristã histórica. Thomas Watson, pregador puritano nos diz que “os dois
testamentos sãos os dois lábios pelos quais Deus tem falado a nós.”27
O cânon não se trata de uma imposição, seja de líderes, seja de instituições. A igreja
instituição não formulou o cânon, mas é criada por ele. A igreja apenas reconheceu o
cânon que havia sido criado. “Uma vez que Deus inspirou esses livros, eles têm a função
25
Ibidem, p.40.
26
CALVINO, João. AS INSTITUTAS OU TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ. – Edição Clássica (Latim). Vol1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 85.
27
WATSON, Thomas. A body of divinity contained in sermons upon the Westminster Assembly’s Catechism,
1958, p. 18. apud WALTKE, p. 41.
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única de ser oficiais e normativos para a fé e a vida da igreja, em contraposição com
outros livros e confissões e com a experiência cristã.”28
B. Implicações
1. A teologia bíblica é um ramo da teologia e não da história
Ao utilizarmos a expressão “teologia”, referimo-nos a formulação e concepções a
cerca de Deus, sua natureza e seu relacionamento com a humanidade. Contudo, em nossas
abordagens quanto a expressão “teologia”, necessitamos tecer criteriosa distinção entre
palavras inspiradas de Deus a respeito de si mesmo e as formulações e concepções não
inspiradas a cerca de Deus feitas por seres humanos. Sem a orientação de Deus
(iluminação), pensamentos não inspirados não tem acesso ao âmbito divino. Os limites
da razão humana ficam acentuados quando distanciados da iluminação concedida pelo
Espírito Santo no que concerne os registros inspirados.
“Os teólogos bíblicos que se lançam a explicar com clareza a mensagem da Bíblia
realizam uma tarefa teológica quando produzem para sua própria geração, formulação e
concepções humanas acerca do Deus eterno e imutável.”30
28
Ibidem, p. 40, 41.
29
RICE, Howard L. Reformed spirituality: an introduction for believers, 1991, p. 284 (numa citação das
Institutas de Calvino, 2.2.25) apud WALTKE, p. 46.
30
WALTKE, Bruce K. Op. Cit. p. 47.
31
Ibidem, pp. 47, 48.
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3. A Bíblia é uma unidade
“O AT e o NT estão unidos pelo Autor que têm em comum, pelo público alvo em
comum, pelo tema comum e pelo fato de as profecias do AT se cumprirem em Jesus
Cristo.”32 (2Tm 3.16; Jo 16.13; 2Pe 1.21; 3.15, 16)
32
Ibidem, p. 52.
33
Ibidem, p. 53.