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RESUMO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA


João Ricardo de S. Galheno1
OSBORNE Grant R. A ESPIRAL HERMENÊUTICA: UMA NOVA ABORDAGEM À
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA. Trad. Daniel de Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva
Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2009.p.330-407. Pagina final 300 olhar e confirmar

RESUMO
Foi essencial que Jesus Cristo o eterno Mediador também fosse verdadeiro homem, Jesus
assim passou a ter duas naturezas cem por cento homem e cem por cento Deus. O pecado criou um
abismo separando a humanidade da presença de Deus Pai e assim criando um afastamento do seu
reino. Se por um lado o homem teve o papel de rebelar-se contra seu Criador, partiu de Deus olhar
com misericórdia para sua criatura e resgatá-lo. e . Nos dias atuais, a profecia tem-se configurado
como um modismo, tornando-se assunto de inúmeros sermões, livros e até mesmo ministérios
inteiros. Infelizmente há um erro sobre a natureza e o propósito da profecia bíblica que tem sido
difundido. Meu objetivo não é apenas corrigir essas visões errôneas, mas destacar o valor e o poder
da profecia bíblica para os nossos dias. Antes de interpretarmos as passagens proféticas, devemos
compreender como e por que os profetas agiram desse modo. Cada mensagem profética se
desenvolveu a partir do chamado e do papel do profeta na sociedade de sua época. O chamado do
profeta. O chamado do profeta pode ocorrer por meio de uma experiência de revelação sobrenatural,
como nos casos de Isaías ou Jeremias; mas também pode ocorrer por meios naturais, por exemplo,
quando Elias lançou o seu manto sobre Eliseu, significando a transferência de autoridade e poder, e
isso pode envolver também a unção. Ao contrário do sacerdote ou do rei, o profeta jamais assumiu
seu ofício de forma indireta, por herança, mas sempre de forma direta como resultado da vontade
divina. O papel do profeta era complexo e multifacetado. Ele era principalmente um mensageiro de
Deus enviado para trazer o povo de volta à sua relação de aliança com Javé. Receber e comunicar a
revelação de Deus era o principal propósito dos profetas. Reforma em vez de inovação define o
propósito básico dos profetas. A preservação da tradição era, portanto, um fator concomitante e
importante no ministério profético. Os profetas não reagiam contra o sistema judaico, mas antes
rejeitavam a apostasia e as falsas práticas religiosas de Israel e Judá. Os profetas eram os profetas da
Torá e do culto e condenavam a adoração de Israel, porque era impura.

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João Ricardo de Souza Galheno é membro da Igreja Aliança Cristã Missionaria do Gama, e atua como
plantador de igrejas no ministério Foco missional, e aluno em curso do Seminário Presbiteriano de Brasília, 2016.
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Muito do que foi dito na seção anterior também se aplica à mensagem dos profetas, visto
que não podemos separar o papel profético da proclamação profética. No entanto, muitas questões
que se relacionam diretamente com a própria mensagem ainda precisam ser discutidas. O equívoco
básico em relação à literatura profética do A.T., é dizer que ela tem relação com o futuro. Interação
entre presente e futuro. Embora a mensagem não se concentre no futuro, as profecias de eventos
futuros ocorrem com frequencia. Em resumo, o profeta era principalmente aquele que antevia, e a
mensagem que ele transmitia era dirigida ao povo e à situação de seu tempo, e prever era, na realidade,
parte do propósito maior. Várias questões devem ser discutidas a esse respeito. A distância histórica
torna a interpretação difícil, pois os livros proféticos usam analogias e linguagem derivadas de
períodos que lhes eram contemporâneos. Devemos recriar o pano de fundo histórico por trás das
profecias individuais. A questão do cumprimento também é bastante difícil. Aqui podemos nos deter
na discussão sobre o cumprimento duplo ou cumprimento múltiplo. Prefiro usar o termo cumprimento
análogo ou tipológico para descrever o cumprimento da promessa. Um aspecto condicional é visto
com frequência, e algumas profecias dependem do cumprimento dessa condição.
O modo como a mensagem era comunicada ao profeta diferia grandemente dependendo da
situação. Visões e sonhos eram com frequencia o meio pelo qual a mensagem vinha. Os sonhos
diferem das visões, visto que o profeta não estava consciente. Eles eram semelhantes à visão, uma
vez que também eram enviados por Deus. Revelações diretas constituíam a experiência profética mais
comum. Cada vez mais Javé fala de forma mais audível com os seus profetas. Várias formas de
proclamação profética. Isto é importante para o estudo hermenêutico, pois, assim como as formas de
literatura sapiencial, cada tipo deve ser interpretado de maneira diferente. O discurso de julgamento
é a forma mais básica da mensagem profética. A profecia de benção ou libertação, também conhecida
como oráculos de salvação tinha muito do aspecto formal do primeiro tipo, com a situação detalhada,
seguida pela bênção em si. A ênfase principal do oráculo da salvação está na misericórdia divina. O
oráculo da aflição é um tipo particular de profecia de julgamento que contém hôy seguido por uma
série de particípios detalhando o sujeito, a transgressão e o julgamento. Para o israelita, aflição
significava tragédia e tristeza iminente. Ações simbólicas também eram freqüentes no período
profético. Elas poderiam ser chamadas de parábolas produzidas, e serviam como lições práticas para
os observadores. Oráculos legais ou de julgamento contêm uma convocação para o tribunal de justiça
divino, um local de julgamento no qual as testemunhas são chamadas, enfatizando tanto a culpa de
Israel ou das nações quanto o julgamento ou a sentença justa. O discurso de controvérsia é usado
principalmente para citar as palavras das pessoas contra elas mesmas e usar suas próprias declarações
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para mostrar o erro que cometem. O canto profético acontece quando o profeta faz um lamento
fúnebre por Israel, como se a nação já fosse um cadáver preparado para o sepultamento. O antigo
Oriente Médio foi impregnado de expressão poética. A poesia sempre teve uma voz mais poderosa,
visto que era facilmente memorizada e apresentava o assunto de forma mais eloqüente. O pensamento
sapiencial tem estado há muito tempo aliado ao movimento profético. A apocalíptica é encontrada
nas obras proféticas posteriores.
Considerando a informação geral já discutida, como podemos abordar a literatura profética
de tal modo que passemos com precisão da espiral do texto ao contexto? Vejamos quatro formas de
não pregar profecia: 1) Na tipologia profética, a situação contemporânea acaba controlando o texto;
2) A pregação da atividade profética toma os indivíduos e episódios de uma narrativa e os usa como
símbolos para falar de acontecimentos da atualidade; 3) A pregação do mote profético seleciona uma
ou duas declarações fora de um contexto mais amplo, e constrói uma mensagem usando-a como um
mote; 4) A pregação da parábola profética constrói uma parábola moderna em analogia com o enredo
da história. O problema está mais uma vez nos paralelos superficiais que são dados como exemplo
sem uma interpretação profunda do verdadeiro contexto. Eu (autor) acresceria um quinto tipo, a
abordagem apocalíptica, usada por aqueles que são identificados, nos dias de hoje, como pregadores
de profecia. Precisamos de princípios exegéticos que possam de fato abrir o texto e permitir ao cristão
moderno ouvir novamente a Palavra profética de Deus. Os sete passos seguintes são úteis. 1)
Determine um provérbio específico; um bom comentário lhe ajudará nisso. 2) Determine o tipo de
oráculo empregado; cada subgênero tem suas próprias regras de linguagem, e é imperativo isolar cada
oráculo antes de interpretá-lo. 3) Estude o oráculo particular levando em conta toda a profecia e
usando técnicas macro e microexegéticas. Isso é também chamado de uma leitura histórica sincrônica,
essa leitura considera o livro como um todo canônico. 4) Estude o equilíbrio entre o histórico e o
profético. 5) Determine a presença do significado literal ou símbolo. 6) Descreva com cuidado as
ênfases cristológicas. 7) Não imponha seu sistema teológico ao texto. 8) Procure situações análogas
na igreja de hoje. De fato, uma leitura cuidadosa das características da profecia mostra a
aplicabilidade desses temas ao nosso próprio tempo. A necessidade de habitar dentro da nova aliança
de Deus, as advertências de julgamento e as promessas de salvação falam ao cristão moderno com a
mesma voz retumbante que soou para os israelitas. A condenação da injustiça social e da imoralidade
é tão necessária hoje como naquela época.
APOCALÍPTICA
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Para a maioria das pessoas a literatura apocalíptica representa uma das partes mais
fascinantes e, ao mesmo tempo, mais intrigantes das Escrituras. Enquanto narrativa, a literatura
apocalíptica atravessa os Testamentos. Em geral se reconhece que o apocaliptismo teve, na sua
origem, tanto influência profética quanto sapiencial, visto que a profecia oferecia uma visão de
mundo, e a sabedoria uma orientação prática, bem como uma sabedoria mântica que trata da
interpretação dos sonhos/visões. O termo apocalipse passou a ser aplicado a esse corpo da literatura
somente com Apocalipse 1:1. Apenas no século II, o termo passou a designar de forma regular o
gênero. A palavra significava, a princípio, revelar ou descobrir um conhecimento até então oculto,
sendo, portanto, um termo empregado naturalmente. O gênero apocalíptico tem dois aspectos: é tanto
um gênero e um tipo de literatura quanto um conjunto de conceitos encontrados em textos que
pertencem ao gênero. Desse modo selecionei os elementos formais específicos relacionados ao estilo
e conteúdo dos textos, e as características mais gerais que descrevem a intenção por trás da produção
desses textos.
Os estudiosos têm debatido vigorosamente sobre os elementos formais do gênero
apocalíptico. E.P.Sanders resume o debate: 1) Muitos dos elementos também podem ser encontrados
em obras não apocalípticas; 2) Muitos dos chamados apocalipses não contém a maioria absoluta
desses traços; 3) Muitas listas de elementos não contêm alguns traços que em geral são encontrados
nas obras apocalípticas. Pesquisadores modernos têm superado tal dificuldade de dois modos.
Primeiro separando o gênero (que considera a obra como um todo) e forma (que trata de pequenas
unidades discursivas dentro de uma obra); e segundo, distinguindo apocaliptismo (a situação
sociológica por trás do movimento) de escatologia apocalíptica (o tema principal do movimento) e
de apocalipse (o gênero literário). A distinção mais importante está entre forma e gênero. É possível
demonstrar com facilidade que existem quase tantas variações no estilo apocalíptico quanto são a
sobras apocalípticas. Desse modo, vou concentrar-me mais na forma e demonstrar que o gênero
apocalíptico depende da acumulação de categorias formais, encontradas em unidades menores, dentro
de um todo maior. Não existe algo como um gênero puro, e a tentativa de demonstrar isso está
condenada ao fracasso. 1) Talvez o traço mais comum seja uma comunicação reveladora. 2) A
mediação angelical faz parte do meio usado na revelação. 3) Os ciclos demonstram a forma literária
estilizada do apocalíptico. 4) O discurso ético muitas vezes esclarece para os leitores os objetivos das
visões. 5) O simbolismo esotérico é a qualidade mais visível da literatura apocalíptica. 6) O relato
histórico é uma característica de muitas obras apocalíticas. 7) A pseudonímia é a primeira
característica mencionada por muitos, algo que é, com certeza, um exagero.
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Mais difícil de delinear são as características que definem os propósitos dos autores
apocalípticos. Apesar disso, podemos ver com clareza vários aspectos na maioria das obras. 1)
Pessimismo quanto a era presente parece ser a característica dominante. 2) A promessa da salvação
ou restauração é o outro lado da mesma moeda. 3) Uma visão da realidade transcendente centrada na
presença e no controle de Deus é outro tema importante. 4) É possível perceber um determinismo, no
qual Deus controla completamente toda a história. 5) Observa-se um dualismo modificado na doutrina
das duas eras: esta era e a era por vir. 6) A recriação do cosmos é esperada. 7) Há uma importante
perspectiva escatológica, ou até mesmo uma visão de mundo em ação. O simbolismo bíblico é de fato
um tipo especial de metáfora e, por conseguinte, parte dos sentidos múltiplos da esfera semântica. A
tarefa do intérprete é determinar qual sentido figurado o símbolo possui no contexto maior. Isso
significa que o verdadeiro significado não será encontrado em nossa situação presente, mas sim no
uso desse símbolo em seu antigo contexto. Dificilmente se poderia exagerar sobre a importância desse
ponto, em razão do uso indevido dos símbolos bíblicos em muitos círculos nos dias de hoje. Isso não
significa que as literaturas proféticas não devam ser aplicadas à situação atual, nem que não se deva
buscar o cumprimento de seu conteúdo. Existem dois elementos em um símbolo: a ideia mental e
conceitual, e a imagem que a representa. Existem seis tipos de símbolos: 1) Símbolos milagrosos
externos; 2) As visões; 3) Símbolos materiais; 4) Os números emblemáticos, as cores, os metais e as
jóias; 5) As ações emblemáticas; e 6) Os rituais emblemáticos, festas judaicas celebrando a colheita
ou o Êxodo ET.; a circuncisão como um sinal da aliança, a Eucaristia como celebração da morte
sacrificial de Jesus. Ao fazer a passagem do símbolo para a realidade nele conceituada, o leitor deve
buscar primeiramente os panos de fundo bíblico por trás desses símbolos e, então, usá-los para
interpretar as alusões posteriores. Há três fontes principais, o A.T., a literatura intertestamentária e o
mundo Greco-romano. Por fim, deve-se observar toda a estrutura da superfície e, com base na
semiotáxis, decidir qual dos possíveis significados sugeridos pela análise diacrônica e sincrônica do
símbolo melhor se ajusta ao contexto imediato. Nesse sentido a chave é a ideia teológica central de
toda a passagem.
Precisamos buscar o sentido literal que vê os textos apocalípticos como uma literatura
simbolicamente rica, inspirada, que revigora a imaginação e oferece aos leitores uma nova orientação
e resolução sobre a vida de fé. Em vez de forçar as diferentes teorias sobre o texto, deixe-o falar por
si mesmo e desafiar o mundo confortável do leitor. A chave é adotar uma abordagem canônica isto é,
compreender em termos do próprio mundo interior da Bíblia a realidade narrativa intertextual das
Escrituras. Para compreender o texto, deve-se interpretar as alusões e o texto juntos, à medida que o
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significado dos símbolos arquétipos surge, em vez de decodificá-los à luz de uma realidade
transcendente por trás deles. Observe o tipo de literatura. Observe a perspectiva da passagem. Observe
a estrutura da passagem ou do livro. Observe a função e o significado dos símbolos. Enfatize e
observe com humildade a predição. Muitos consideram que o gênero apocalíptico se desenvolveu
principalmente durante o período macabeu como um protesto hassídico contra as políticas religiosas
e a perseguição dos selêucidas e, em particular, de Antíoco Epifânio. A literatura apocalíptica estava
presente no antigo Oriente Médio antes do período profético.
PARÁBOLA
Poucas partes das Escrituras são tão empolgantes e relevantes à pregação como as parábolas.
Junto aos textos apocalípticos, elas estão entre as partes mais explanadas das Escrituras, apesar de
serem mal empregadas em termos hermenêuticos. A importância das parábolas torna-se evidente
quando percebemos que ao menos um terço do ensino de Jesus nos Evangelhos sinóticos se apresenta
em forma de parábolas. Em termos modernos, pensamos numa parábola como uma narrativa terrena
com um significado divino. Entretanto, o que ela significava no mundo antigo? O termo hebraico
masal, que também é usado para designar provérbio ou enigma. Seu significado básico é comparação.
Ao se considerar o desenvolvimento da forma da parábola em Jesus, o conhecimento do pano de
fundo da parábola na literatura sapiencial e na profecia é importante. Nos Evangelhos, uma das seções
de parábolas mais difíceis de compreender é justamente a única que delineia de modo claro o seu
objetivo, e ainda oferece uma perspectiva muito negativa. Os intérpretes modernos se deparam com
uma grande dificuldade em aceitar uma declaração que sugeria que Jesus usava parábolas para
esconder as verdades do reino aos incrédulos. Parece claro que Jesus tinha, de fato, um objetivo maior
ao usar a parábola. As parábolas são um mecanismo de confrontação e funcionam de modos diferentes
dependendo do público. As parábolas encontram, interpretam e convidam o ouvinte/leitor a participar
da nova visão de mundo do reino de Jesus.
O ponto da parábola pode ser perdido a menos que compreendamos os detalhes por trás da
imagem na parábola. Por exemplo, conhecer a topografia da Palestina é de grande ajuda para se
entender e aplicar a parábola do semeador. As parábolas registradas nos Evangelhos são simples e
descomplicadas. Raramente há mais de dois ou três personagens, e o enredo contêm poucos
subenredos. A contínua tendência de muitos em alegorizar de modo subjetivo as parábolas deve fazer
com que o intérprete seja muito cauteloso. Ao mesmo tempo, entendo que cada parábola deve ser
interpretada individualmente, e o intérprete deve estar aberto à possibilidade de pontos secundários,
de acordo com o que o texto determinar. A repetição é algumas vezes usada para enfatizar o clímax
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ou o ponto principal da parábola, como na dupla confissão do filho pródigo. Não raro Jesus usa um
dictum conciso para concluir uma parábola. Outras vezes ele pode induzir a lição para seus ouvintes
por meio de uma questão; em outras ocasiões, o próprio Jesus interpreta a parábola. Claro que esta é
uma regra geral e não uma lei de ferro. A relação com o ouvinte nos leva ao cerne da forma da
parábola. Jesus, antes de tudo, pretendia provocar uma resposta do ouvinte, positiva ou negativa. O
principal modo pelo qual Jesus, em suas parábolas, impelia à decisão era pela quebra com a
linearidade convencional. Repetidas vezes, os ouvintes eram surpreendidos por uma virada
totalmente inesperada nos acontecimentos, que os obrigava a considerar as implicações mais
profundas da parábola. O encaminhamento normal das coisas era quebrado pela reversão das normas
da parábola, e o ouvinte era obrigado a considerar a realidade do reino subjacente à imagem, pois as
verdades do reino também se contrapõem aos caminhos do mundo. O tema singular que repercute ao
longo das parábolas é a presença do reino. No entanto, elas abordam mais do que o reino: as parábolas
são no fundo cristológicas, convergindo para Jesus como o arauto e como o conteúdo do reino, o qual
definiremos como reino de Deus. A presença do reino de Deus em Jesus exige uma posição ética mais
elevada por parte de seus seguidores. Uma exigência que é desenvolvida de forma especial no Sermão
da Montanha e em suas parábolas. O discípulo é visto como um indivíduo que conduz, ao mesmo
tempo, sua vida pelo mundo e diante de Deus. Deus aparece de vários modos nas parábolas: como
rei, pai, proprietário de terras, empregador e juiz. Do começo ao fim, o retrato é de alguém que de
forma graciosa e misericordiosa oferece perdão, mas ao mesmo tempo exige decisão. A salvação está
presente e, de modo insistente, exige uma resposta. O reino de Deus é caracterizado pela graça, mas
tal graça desafia o ouvinte a reconhecer a necessidade do arrependimento.
Propósitos da tarefa interpretativa das parábolas: significado divino, a intenção humana e
ressonância para os ouvintes. Para interpretar as parábolas é preciso: observar o cenário na qual a
parábola se situa. Estudar a estrutura da parábola. Descubra o contexto dos detalhes materiais. É
preciso descobrir o contexto histórico para que a parábola faça sentido. Determine os pontos
principais da parábola. Frequentemente a pista vem do próprio contexto. Relacione os pontos ao
ensino do reino por Jesus e à mensagem básica de cada Evangelho. Não fundamente doutrinas com
base em parábolas sem conferir detalhes comprobatórios em outro lugar. Aplique as ideias centrais
a situações semelhantes na vida moderna. Pregue a parábola de forma holística. A tendência a
fragmentar e contextualizar cada elemento de acordo com a sua aparição conduz à destruição do
caráter histórico da parábola e da potencialidade de atrair o ouvinte ao mundo narrativo. Venho
tentando demonstra ao longo deste livro que a história oferece o contexto, seja positivo ou negativo,
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pelo qual devemos abordar as Escrituras. À medida que nos aprofundamos nos exemplos de técnicas
exegéticas e abordagens interpretativas, vamos aprendendo com os sucessos e fracassos do passado.
No caso da interpretação da parábola, isso é realmente útil, ainda que não possamos fazer mais do
que um resumo.
EPÍSTOLA
Esta é a mais básica das categorias de gênero. Apesar disso, até onde eu sei, poucas obras
sobre hermenêutica trazem uma seção para discussão de uma hermenêutica específica sobre as
epístolas. Num período mais remoto, as mensagens eram memorizadas e enviadas por mensageiros.
Estratégia que tinha suas limitações naturais. Antes do terceiro milênio a.C., as mensagens passaram
a ser enviadas em tábuas de madeira ou de barro, conchas, superfícies encerradas sobre madeira ou
metal e por fim, em folhas de papiros. No antigo Oriente Médio, muitas das convenções epistolares
tiveram origem no período oral e, em muitos casos, o mensageiro, além das tábuas, entregava a carta
oralmente. Toda correspondência antiga consistia de três seções: a abertura, o corpo da carta e o
encerramento. As epístolas de Paulo se caracterizam por uma dialética entre a sua poderosa
profundidade espiritual e os problemas das situações individuais para que ele escrevia. As epístolas
do N.T. configuram entre a carta privada e o tratado, tendo elementos de ambos unidos às
características retóricas tiradas de formas helenísticas e judaicas. A abertura e as formas finais nas
epístolas seguem convenções antigas e precisam ser compreendidas de forma correta. Dois tópicos
são importantes aqui: a presença de um escriba ou amanuense na redação de várias epístolas, e a
questão da pseudonímia. Paulo e Pedro mencionam a ajuda de um secretário. As obras pseudônímicas
judaicas não foram incluídas no cânon hebraico, e duvida-se que alguém acreditasse que elas,
realmente, tenham sido escritas por aqueles sob cujo nome foram publicadas.
Poderíamos simplesmente recapitular o processo hermenêutico tratado nos capítulos de um
a cinco, isto é, contextos históricos, estruturais, gramaticais, semânticos e sintáticos. Entretanto, há
assuntos especiais que dizem respeito particularmente às epístolas, e vou explorá-las enfatizando que
o leitor deve situá-los dentro dos passos mais amplos, previamente explicados neste livro. Estude o
desenvolvimento lógico do argumento. Embora isso não muito difícil em algumas epístolas, em outras
isto é muito complicado. Estude a situação por trás das declarações. Tal procedimento é mais
importante do que parece à primeira vista, pois pode determinar não somente o contexto para o
argumento de um livro, mas também até que ponto a passagem se aplica a situações além das
circunstâncias históricas dos leitores originais. Verifique os diferentes subgêneros empregados nas
epístolas. Quase todos os tipos de literatura discutidos nesses capítulos sobre gêneros encontram-se
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nas epístolas, como hinos e credos, apocalípticos e provérbios. O leitor deve observá-los
cuidadosamente e aplicar os princípios específicos do gênero correspondente ao interpretar a epístola.

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