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WELINTON JOSÉ ANTONIOLI

RESUMO

INTRODUÇÃO

COSMOVISÃO REFORMADA

Hermisten M. P. da Costa

Resumo parcial do livro: “Introdução à


Cosmovisão Reformada” – Hermisten M. P. da
Costa, atendendo às exigências parciais da
disciplina de Cosmovisão Calvinista, ministrada
pelo Prof. Rev. Hermisten M. P. da Costa.

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO

REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO

SÃO PAULO 2022


Sumário

INTRODUÇÃO À COSMOVISÃO REFORMADA: UM DESAFIO A SE VIVER


RESPONSAVELMENTE A FÉ PROFESSADA ...................................................................... 3
PRESSUPOSTOS E PERCEPÇÕES...................................................................................... 3
A MENTE CATIVA ............................................................................................................... 5
Conflito de Senhorio ........................................................................................................... 5
A Corrupção da Mente ........................................................................................................ 5
Armas Poderosas em Deus .................................................................................................. 5
A Mente Cativa e a Pregação do Evangelho ....................................................................... 6
DEFENDENDO A VERDADE EM UM MUNDO RELATIVISTA .................................... 7
Introdução............................................................................................................................ 7
Nada Podemos Contra a Verdade........................................................................................ 7
Alguns Valores Contemporâneos ........................................................................................ 7
A Verdade do Deus Verdadeiro num Mundo de Mentiras................................................ 11
A Verdade Objetiva de Deus ............................................................................................. 13
A Verdade como um Todo Unificado ............................................................................... 15
A Igreja como Templo de Deus no Mundo: A Historificação do Reino........................... 15
A Igreja e o Seu Testemunho Autoritativo........................................................................ 16
Os Fiéis Despenseiros de Deus e Algumas de suas Tentações (1co 3.1-4.21) ................. 17
CRISTO COMO CABEÇA DA IGREJA NO TEMPO E NA ETERNIDADE E A NOSSA
RESPONSABILIDADE ....................................................................................................... 18
Autonomia Secular e a Pregação Reformada .................................................................... 19
O Desafio e Consolo de ser Reformado ............................................................................ 20
Buscando uma Compreensão de Servo ............................................................................. 21
OBSERVAÇÕES PESSOAIS .............................................................................................. 22
INTRODUÇÃO À COSMOVISÃO REFORMADA: UM DESAFIO A SE VIVER
RESPONSAVELMENTE A FÉ PROFESSADA

Podemos definir operacionalmente a teologia como o estudo sistemático de uma


revelação particular de Deus registrada nas Escrituras, cujo objetivo final é glorificar a Deus
conhecendo e obedecendo à Sua Palavra. Abraham Kuyper nos ajuda aqui:

- A teologia nunca é “arquétipo”, mas “ectípica”, não é gerada pelo esforço de nossa
observação de Deus, mas o resultado da revelação soberana e pessoal de Deus. Uma teologia
arquetípica pertence somente a Deus, porque somente ele se conhece perfeitamente, mesmo
tendo a ciência seu conhecimento perfeito. A teologia nunca é a causa primeira, é sempre o
efeito da primeira ação de Deus ao se revelar. A teologia é sempre relativa à revelação de
Deus. Deus precede e o homem acompanha.

- A teologia não se esgota no conhecimento teórico e abstrato, mas se realiza no


conhecimento prático e existencial de Deus por meio de sua revelação nas Sagradas
Escrituras, mediante a iluminação do Espírito Santo. Conhecer a Deus é obedecer aos seus
mandamentos. Estudamos a dogmática como membros da igreja, com a consciência de que
temos uma comissão dada pela igreja a um serviço para prestá-la, devido a uma compulsão
que só pode se originar dentro dela.

Quando dizemos teologia reformada, estamos nos referindo à teologia da reforma


distinta da teologia luterana. A palavra que normalmente é traduzida por cosmovisão vem do
alemão Weltanschauung, usado pela primeira vez aparentemente por Kant. Podemos usá-lo no
sentido de “visão de mundo”.

De forma mais ou menos elaborada, está enraizada no coração, permitindo-nos ver o


mundo através dessas lentes, e privilégios aspectos da realidade dando-lhes significados que
direta ou indiretamente direcionam nossa percepção e comportamento. É possível que, sem
perceber, nosso pensamento revele uma série de inconsistências e até exclusões.

A epistemologia precede à lógica e esta, porém, coerente se partir de uma premissa


errada nos levará a conclusões erradas e, portanto, a uma ética com fundamentos dúbios e
inconsistentes.
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Algumas sugestões dos conjuntos de crenças:

- Deus: ainda que o nome de Deus nem sempre apareça em nossas discussões, a fé em
Deus envolvendo, obviamente, o conceito que temos dele é o ponto capital em qualquer
cosmovisão.

- Metafísica: a metafísica trata da existência e da natureza e a qualidade daquilo que


é conhecido. A nossa cosmovisão determinará um tipo de compreensão de questões tais
como: todos os homens têm a mesma essência? É um saber pessoal?

- Epistemologia: a epistemologia é o estudo das questões relacionadas aos problemas


filosóficos do conhecimento. O seu objetivo é conhecer, interpretar e descrever,
filosoficamente, os princípios essenciais que conduzem ao conhecimento científico ou, em
outras palavras, estudar a gênese e a estrutura dos conhecimentos científicos.

- Ética: Lalande interpretando determinada compreensão define ética como o


conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo social. A propriedade
de certas ações e estilos de vida virtuosa no seu valor último.

- Antropologia: o conceito que temos a respeito do homem revela aspectos de nossa


cosmovisão. O ser humano é apenas matéria? De que forma a morte determina o
fim de nossa existência?

- História: a filosofia da história é a reflexão critica acerta da ciência histórica e inclui


tanto elementos analíticos quanto especulativos. Ela parte do principio de que o homem é uma
síntese entre o passado e o presente, tendo as suas decisões atuais relação direta com as suas
experiências passadas.

PRESSUPOSTOS E PERCEPÇÕES

Qual é a matriz do nosso pensamento? Gostemos ou não, gostemos ou não, temos matrizes
que dão certo sentido à realidade porque é percebida como tal. A cosmovisão é algo inescapável para
os seres humanos. Todos nós temos. Por sua vez, toda visão de mundo possui uma matriz ontológica
que traz conseqüências epistemológicas decisivas para nossa vida e conduta.

Todo conhecimento parte de um pré-conhecimento que nos é fornecido por nossa condição
ontologicamente finita e pelas circunstâncias temporais, geográficas, intelectuais e sociais nas quais
construímos nossas estruturas de conhecimento. Em uma relação de conhecimento, o cérebro
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influencia o olho mais do que o olho influencia o cérebro. Por isso a visão que tenho, embora tenha
um forte referente, é a minha visão, com suas particularidades.

Portanto, a realidade se mostra para nós com seus próprios contornos delineados não apenas
pela barba que é, mas também por nossos olhos que a vêem e apanham fragmentos dela, dando-lhes
novas configurações com cores mais ou menos vivas, e atribuindo-lhes valores que muitas vezes são
bem diferentes dos reais.

Nossas ênfases revelam não apenas nossos pensamentos e valores, mas também aspectos da
realidade como os percebemos. É impossível ter todas as visões; a nossa, além de várias condições, é
feita a partir do nosso tempo, sob o encanto de nossos valores e concepções que, por si só, já
produzem um pré-conhecimento.

Nash diz: Ganhar maior consciência de nossa visão de mundo pessoal é uma das coisas mais
importantes que podemos fazer, e entender a visão de mundo dos outros é essencial para entender o
que os torna distintos.

Os pressupostos, com toda a sua complexidade inerente, constituem a janela através da qual
vejo a realidade. O difícil é identificar nossa janela, mesmo que não possamos ver nada sem ela.
Assim, falar sobre nossa cosmovisão, além de ser difícil de verbalizar, é paradoxalmente
desnecessário. Uma cosmovisão é composta por um conjunto de pressupostos básicos mais ou menos
consistentes entre si, mais ou menos verdadeiros.

Nossa cosmovisão não deve servir apenas para um suposto exibicionismo acadêmico,
jactância arrogante, ou mesmo como demarcação de terreno onde nada acontece, exceto a presunção
compartilhada e demarcada por outras cosmovisões. No entanto, a verdadeira fé não pode ser auto-
referencial, mas começa a partir da Palavra. À medida que buscamos a coerência entre acreditar e
viver há sérios compromissos entre o que acreditamos e como agimos. Somos o que acreditamos, pelo
menos deveria ser nossa vida diária: lutar para viver conforme aprendemos com as Escrituras.

A maneira de ser justo é buscar instrução nas Escrituras perfeitas do Senhor. Devemos buscar
o caminho da perfeição. A vida cristã envolve necessariamente e essencialmente a integridade que
significa a busca da verdade, a compreensão da vida. Nenhum de nós é absolutamente completo, mas é
impossível ser cristão sem essa busca sincera.

A questão é que todos construímos nossa vida com base em suposições, em crenças. A questão
é se eles resistirão às intempéries da existência. Nossa chave epistemológica é a Escritura, então nossa
visão de mundo de uma perspectiva naturalmente nos levará de volta a Deus.
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A MENTE CATIVA

Uma das prisões mais sutis com a qual nos deparamos e, com freqüência, sem
perceber nela estamos, é a prisão de nossa mente: uma forma direcionada de pensar, cativa de
determinados valores com os quais somos bombardeados diariamente e fortalecidos pelo
próprio meio em que vivemos, sem que tenhamos necessariamente um filtro adequado para
selecionar de modo crítico o que vemos e ouvimos. A maior tirania que temos que enfrentar
nesta vida é a perspectiva mundana. Ela se insinua em nosso pensamento em toda parte, e nós
a recebemos imediatamente após nascermos.

Conflito de Senhorio

Paulo escrevendo a segunda epístola aos Coríntios trabalha com um conflito evidente
de “senhorio”: quem é o Senhor de nossa mente e de nossa vida? Quais são os valores que
priorizamos? A maneira como encaramos a realidade, por si só já não nos diz a quem
servimos e o quadro teórico que nos circunda¿ Notemos que as “armas carnais não precisam
ser más, mas incluem as que consistem de poder humano, tais como eloqüência, organização,
propaganda e coisas semelhantes, que são, por si mesmas, neutras, mas que podem ser usadas
para o mal, por serem subservientes ao egoísmo, artimanhas e violência caracteristicamente
humanas.

A Corrupção da Mente

Paulo temia pela corrupção da mente dos coríntios uma vez que eles davam crédito aos
falsos apóstolos que, usados por Satanás, os afastavam da simplicidade do evangelho. Veith
diz que, normalmente, não são os argumentos específicos contra o Cristianismo que
perturbam a fé de uma pessoa, mas toda a atmosfera do pensamento contemporâneo. O
insensato nega a realidade transcendente, não existe Deus nem seres angelicais, o seu mundo
é puramente material. Ele solidifica isso em seu coração, não simplesmente, da boca pra fora,
daí dizer “no seu coração”, a sede de sua emoção, razão e vontade.

Armas Poderosas em Deus

Retornando à questão tratada por Paulo, perguntamos: as armas que temos são
poderosas em Deus para que?

a) “Para destruir fortalezas”; metaforicamente a expressão indica conceitos


especulativos que se erguem contra a cruz de Cristo; b) “Anulando sofismas”: toda a
sabedoria carnal em oposição ao saber espiritual; c) “E toda altivez que se levante contra o
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conhecimento de Deus”: as fortalezas eram construídas em lugares altos, sendo, portanto,


mais difícil combatê-las; d) “Levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co
10.5): esta imagem é a de uma fortaleza rompida; os que ali dentro se abrigavam, por detrás
das muralhas, estão sendo levados em cativeiro.

Portanto, podemos inferir que não há nada a temer diante da oposição levantada contra
o ensino da fé cristã. A sabedoria carnal se opõe à sabedoria espiritual, e a sabedoria espiritual
a supera. Portanto, devemos enfatizar que o evangelho não é irracional nem obscurantista, no
sentido de que nega o conhecimento, mas sim aponta na direção de uma mente submissa a
Cristo, que busca interpretar a realidade a partir da mente de Cristo, não da “mente” de
Satanás.

Paulo admite que anda na carne, no sentido de que participa de todas as limitações
humanas, mas seu ministério não se caracteriza pela ausência de recursos espirituais, mas é
realizado no poder de Deus. Nosso testemunho requer o uso sábio de nossa inteligência, a
experiência da nossa fé na história, nas circunstâncias em que vivemos.

A Mente Cativa e a Pregação do Evangelho

Mente Cativa: Obediência

Nos círculos evangélicos, um dos assuntos mais debatidos em nossos dias, é a questão
do crescimento de igreja. Fala-se com muita veemência sobre “métodos” evangelísticos,
“estratégias” de plantação de igreja, revitalização de igrejas etc. Notemos que estas questões
estão longe de ser irrelevantes, contudo, é necessário que não transfiramos a fonte do poder do
evangelho para o nosso método ou estratégia. Ainda que a natureza revele o seu Criador, não
havendo nenhum tipo de contradição nas formas revelacionais de Deus, as Escrituras se
constituem no meio eficaz estabelecido por Deus para nos comunicar o conhecimento de si
mesmo iluminando os nossos olhos para enxergá-lo de modo salvador. A sabedoria de Deus é
qualitativamente diferente da sabedoria mundana (2Co 2.6-8,13-14). A mente cativa se revela
no ensino do evangelho de modo simples e fiel aos ensinamentos bíblicos, não em
demonstração de erudição, mas, em fidelidade à Palavra, sob o poder do Espírito.

Uma Proclamação Poderosamente Submissa e Inteligente

Muitas vezes podemos ser levados a pensar que o incrédulo será levado a Cristo se
falarmos de forma erudita ou, quem sabe, lhe oferecermos algo semelhante ao que ele está
acostumado no mundo. Como vimos, Paulo diz que suas armas não são carnais, mas
poderosas em Deus para derrubar fortalezas, derrubar sofismas; isto é, raciocínios enganosos.
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O desafio de Deus para nós não é nos tornarmos irracionais ou ignorantes, mas submeter
nossa inteligência à Palavra.

A pregação é baseada no princípio de que a Palavra de Deus é infalível e que Deus


continua a falar através dela. A Bíblia apresenta o evangelho como uma mensagem que deve
ser anunciada a todos os homens para que possam compreendê-lo e crer nele. A proclamação
depende de nós. Sem a operação do Espírito da Graça (Hebreus 10:29), toda a nossa reflexão,
todo o nosso esforço, todos os nossos métodos, toda a nossa oratória e capacidade de
persuasão serão vãs. Deus utiliza-se de seus servos, mas o segredo da vida da Igreja está em
Deus.

DEFENDENDO A VERDADE EM UM MUNDO RELATIVISTA

Introdução

Toda afirmação envolve definições que, por sua vez, são delimitações, recortes da
realidade. Assim, toda afirmação envolve necessariamente negação, exclusão. Pearcey está
correta ao declarar: “Afirmar que o cristianismo é a verdade sobre a realidade significa dizer
que é uma cosmovisão que envolve tudo”.

Nada Podemos Contra a Verdade

A verdade por corresponder ao que é, é o que é “Ainda que o mundo inteiro fosse
incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável”.

Alguns Valores Contemporâneos

Com as descobertas de novas culturas e suas religiões (a partir do século XVII),


procurou-se fazer do cristianismo apenas mais uma religião, produto do gênio inventivo do
homem. A conclusão tirada desses estudos pelo Iluminismo é que nenhuma religião pode
reivindicar a verdade total na presença de outras religiões.

Assim, em matéria de religião, a tolerância é a virtude suprema, e o dogmatismo é a


atitude mais repreensível. A implicação dessas concepções nos leva ao ecumenismo de todas
as religiões, buscando o que há de bom em cada uma. Esse tipo de abordagem metodológica
implicou o fim de uma teologia vigorosa e forte, caracterizada por um desvio do estudo
bíblico e teológico para uma abordagem puramente histórica.
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Antidogmatismo: Os céticos denominavam de “dogmáticos”, os filósofos que sem o


estudo e exame criteriosos, partindo de seus princípios, se limitavam a afirmar suas teses ou
opiniões. Numa forma mais depreciativa, dogmatismo tomou a conotação de toda e qualquer
posição doutrinária que afirma, sem declarar com evidências seguras, suas posições, tentando
impô-las como algo verdadeiro e final. Nessa acepção, o dogmatismo assume um caráter
ideológico e político, mediante a imposição de uma idéia, que deve ser aceita sem maiores
investigações.

Desta forma, podemos observar que ninguém está livre do dogmatismo. Portanto,
pode-se falar do dogmatismo do Estado, da Religião, do grupo social etc., que pode se valer
do estabelecimento de um aparato ideológico para perpetuar seus dogmas e punir seus
infratores. Normalmente, quando definimos dogmatismo, nos referimos ao “dogmatismo
ingênuo” ou absoluto, que consiste em não duvidar do valor de seu conhecimento. Esta é
psicológica e historicamente a primeira posição do homem.

O primeiro momento do homem é a certeza, a dúvida só aparece quando ele começa a


questionar sua percepção dos fatos. Historicamente, foram os sofistas os primeiros a
identificar o problema do conhecimento. Desde então, a reflexão sobre essa questão tornou-se
uma constante no pensamento filosófico. Sem dúvida, o dogmatismo sofre com sua exagerada
confiança na razão.

Relativismo, Subjetivismo, Pragmatismo e Utilitarismo: “Tudo é relativo”, talvez


tenhamos falado de modo. Por trás dessas afirmações, via de regra, está um ou mais destes
quatro conceitos: o subjetivismo, o relativismo, o pragmatismo e o utilitarismo.

- Subjetivismo Ético Individual: Ainda que este nome (subjetivismo) seja moderno
(século XIX), a sua percepção é bem antiga, sendo encontrada já nos sofistas no 5º século a.C.
O certo e o errado não estão associados às coisas em si, mas como lidamos subjetivamente
com tais coisas. O subjetivismo privilegia o fato de que os seres humanos são diferentes e
com compreensões díspares Assim, toda a verdade encontra um âmbito limitado.

No subjetivismo há, de certa forma, a arbitrariedade do sujeito que julga, formulando


suas opiniões conforme os seus interesses pessoais, valendo-se de racionalizações para
justificar as suas escolhas. Deste modo, uma das conseqüências desta postura é a convicção de
que a pessoa que julga está sempre certa. Observe que por trás do subjetivismo há a certeza da
existência de algo: o sujeito que julga.
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- Relativismo Ético: Convencionalismo: Para o relativismo, os conceitos considerados


verdadeiros são produtos dos valores de uma época (relativismo histórico), de uma cultura, de
um povo (relativismo cultural). Á partir daí, qualquer julgamento que emitamos será uma
temeridade: Nero e Hitler, por exemplo, seriam compreendidos dentro de sua cultura e
escolhas. A questão, portanto, não é quanto à existência de um código moral, antes, a sua
validade universa. Desse modo, de uma forma ou de outra, o relativismo moral contribui para
um tipo de ambigüidade moral e para a justificativa de crimes hediondos.

A observação crítica de Lloyd-Jones (1899-1981) permanece de forma básica: “Se não


existe nenhum cânon moral universal, então, não há pecado”. Cremos que a Palavra de Deus
apresenta mandamentos que são supra culturais. Eles devem ser observados em qualquer
época ou cultura, constituindo-se em imperativos categóricos para todo o cristão em toda e
quaisquer circunstâncias. Conforme já citamos, o amor é o único candidato para exercer a
função de absoluto moral que não é contraproducente, ou seja, que não se anula a si mesmo.

Em sua ação, como vimos, a ética do amor reclama o nosso compromisso intelectual e
vivencial. A ética cristã é um desafio constante à sua aplicação às novas situações que o
homem se encontra.

- Pragmatismo: O termo pragmatismo foi introduzido pela primeira vez em filosofia


por Charles Peirce (1839-1914), em 1878, conforme nos informa W. James (1842-1910). No
entanto, William James é considerado o fundador do Pragmatismo. No pragmatismo, temos o
rompimento com o pensamento metafísico, o que importa é a funcionalidade.

- Utilitarismo e Consequencialismo: Consequencialismo: Grosso modo, o utilitarismo


ensina que uma ação é certa quando promove (ou pelo menos procura promover) a maior
felicidade do maior número possível de pessoas. A procura do bem para o maior número de
pessoas poderá justificar massacres e atos altamente discriminatórios. Quanto ao hedonismo,
observamos que esta é a atitude natural do homem entregue aos seus pecados. Finalizando
este tópico, observamos que, levados às últimas conseqüências, o relativismo, o pragmatismo,
o subjetivismo e o utilitarismo se confundem com o ceticismo, na negação, ainda que parcial,
da verdade ou na compreensão de que não existe verdade objetiva. Seguindo aquela linha de
pensamento, qualquer declaração da existência de uma verdade objetiva torna-se arrogante.

Não nos iludamos: a chamada tolerância, que tem um apelo tão simpático, tem, na
realidade, se tornado em instrumento para neutralizar o conceito de verdade e de mentira, ou
como disse Colson, hoje, a tolerância é usada para chamar o mal de bem e o bem de mal.
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Nada é mais importante do que Deus e a sua Palavra. Seja qual for o tipo de mudança que
precisemos efetuar em nossa vida, não deixemos de considerar atentamente os ensinamentos
de Deus. A conclusão de MacArthur é correta: Quando o pragmatismo (...) é utilizado para
formularmos juízos acerca do certo e do errado, ou quando se torna a filosofia norteadora da
vida, da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, colidindo com as Escrituras.

Pluralismo: No pluralismo, a verdade é a primeira vítima fatal. Como a verdade, caso


exista, é plural, todas as coisas são possíveis dentro da diversidade do real ou mesmo na falta
de seu sentido.

a) O Princípio de Identidade, que afirma que “o que é, é” ou “tudo que é idêntico ao


que já se pensou é necessariamente verdadeiro”; b) O Princípio da Contradição, formulado
por Aristóteles que dizia: “Nada pode simultaneamente ser e não ser”; c) O Princípio do
Terceiro Excluído, formulado por Aristóteles, mas que esteve por toda a Idade Média fundido
com o princípio de contradição, sendo dissociado apenas com Leibniz.

Uma sociedade sem absolutos caminha para o caos moral. Curiosamente, a falta de
absolutos é uma forma de acalmar a nossa consciência e dar rédeas soltas a todas as nossas
inclinações pecaminosas sem o inconveniente sentimento de culpa. Desta forma, passa a
vigorar o que diz uma antiga música popular (1978): “não existe pecado do lado de baixo do
Equador”. Assim, estamos em paz. No entanto, os Mandamentos de Deus permanecem
como norma absoluta de todo o nosso pensar, crer e viver.

O Marxismo: Para Karl Marx (1818-1883), toda a realidade (= história) deve ser
interpretada por meio do materialismo dialético (as leis superiores que regem toda a
realidade) e do materialismo histórico (leis particulares que governam as transformações
econômicas ao longo do curso da história: os fenômenos históricos e sociais têm a sua causa
determinante em fatos econômicos).

Para Marx, o fator fundamental na existência humana é o econômico. Aplicando esse


referencial à religião, Marx concluiu que a religião é um produto do homem, mas que tem
dominado o mesmo homem que a criou. E assim a religião deve ser suprimida.

O Positivismo: O Positivismo surgiu na França, tendo como elemento fomentador os


problemas econômicos e sociais que dominaram o século XIX. Comte entende que o espírito
humano emprega em suas investigações, sucessivamente, três métodos diferentes e opostos
entre si:
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1)Teológico; 2) Metafísico e 3) Positivo.) Esta teoria é conhecida como “lei dos três
estados”.

Em cada estado ou período, há características próprias. Segundo Colin Brown, o


próprio Comte propôs uma religião da humanidade, em que Deus era desentronizado e a
humanidade, “O grande ser”, colocado em seu lugar. Até mesmo adaptou o culto, os
sacramentos e os sacerdotes do catolicismo para seus propósitos seculares.

Foi produzido um calendário positivista em que os nomes de cientistas e estudiosos


seculares substituíam os dos santos. No Positivismo, a religião não é necessariamente
combatida, apenas, ela é olhada como um estágio atrasado, contudo necessário para o
amadurecimento do homem. Conforme já mencionamos, o Positivismo foi superado. O
sistema de Comte em menos de 100 anos tornou-se ultrapassado, no entanto, dois mil anos
depois, as palavras de Cristo continuam tão reais quanto antes, e com a mesma força:
“Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mt 24.35).

A Verdade do Deus Verdadeiro num Mundo de Mentiras

Paulo em sua doxologia (Ef 1.3-14) reconhece que o Deus bendito já nos abençoou em
Cristo na eternidade, no entanto, estas bênçãos são-nos aplicadas pelo Espírito ao longo da
história. A verdade revelada nas Escrituras é a realidade como Deus a percebe. A situação do
homem alienado de Deus é de tão intensa gravidade que não comporta paliativos, abstrações
e, muito menos, ficções.

O propósito eterno de Deus nos fala do amor concreto de Deus que se manifesta de
forma contundente na morte e ressurreição de Cristo. Sem a historicidade da morte e
ressurreição não há o que fazer. Permaneceríamos em nossos pecados, fadados à condenação
eterna. E por isso que a mensagem cristã é uma mensagem verdadeira e urgente. Dentro da
perspectiva “pós-moderna” há uma crise epistemológica forjada - este forjar é resultante da
verdadeira crise epistemológica ocorrida com a queda que gera a concepção de que a verdade,
se existe, é inacessível.

Com o vimos, quando a verdade é considerada, tem apenas um sentido local e


circunstancial: “minha verdade”, “sua verdade”, “verdade de cada um”, “verdade para aquela
época”, “verdade para aquele povo”, etc. Partindo dessa perspectiva, a verdade passou a ser
simplesmente construída. No entanto, as Escrituras nos falam de verdade absoluta, acessível
verificável e vivenciável.
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Jesus Cristo, A Fiel Testemunha: Na véspera da sua auto-entrega, Jesus se despede de


seus discípulos, falando do Consolador e das tribulações pelas quais passariam (Jo 13-16). O
nosso Senhor tinha diante de si a perfeita compreensão e domínio de sua Missão e do tempo
certo.

O Deus Triúno é Verdadeiro: O próprio fato de dar testemunho, tão enfático,


especialmente nos escritos de João e em Atos, revela a relevância histórica do ocorrido:
nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Jesus Cristo é a verdade, e o
verdadeiro Deus a quem reconhecemos pela graça.

O Ensino Verdadeiro do Verdadeiro Deus: Jesus Cristo por ser verdadeiro ensina a
verdade, o reto ensino. O evangelho é verdadeiro, é a Palavra da verdade (G1 2.5,14; Ef 1.13;
Cl 1.5-6; 2Tm 2.15; Tg 1.18).

A Recepção e Apego à Verdade: O evangelho é para ser recebido como o ensino


autoritativo de Deus. Que de forma indireta podemos ver a nossa responsabilidade como
pregadores. A mensagem que transmitimos exige uma postura responsável, compatível com a
sua gravidade e suas implicações.

Essa Palavra produz frutos naqueles que creem. O acolhimento da Palavra faz parte
essencial do processo de santificação que se dá gradativamente conforme o evangelho for
preservado em nós. A verdade de Deus vai revelando a sua eficácia em nossa vida
gradativamente, conforme a formos praticando. Como evidência de nosso novo nascimento
espiritual, devemos falar a verdade.

Discernimento Necessário: As já na década de 60 do primeiro século encontramos em


Colossos vestígios de uma heresia que tentava fundir a simplicidade do evangelho com
especulações filosóficas - caracterizadas por práticas ascéticas - estando estes ensinamentos a
prejudicar a Igreja (Cl 2.8, 16,18,20,21). O falso mestre é aquele que ensina a mentira, o
engano: cria imagens que nada são para corromper seus ouvintes, conduzindo-os a negar o
próprio Senhor Jesus Cristo e, também, a viverem libertinamente, ou seja, de modo dissoluto
e lascivo.

Manipulação da Verdade: Uma tentação Sutil: Em determinadas ocasiões muitos se


recusarão a ouvir a verdade. O mundo prefere transformar a verdade de Deus em mentira,
recebendo o justo castigo por isso. Quando a Igreja abandona a sua fidelidade a Deus, seu
apego à Palavra e à verdade, ela, gradativamente, deixa de refletir a glória de Deus.
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A Igreja e a Preservação da Verdade: Em uma sociedade pragmática e imediatista


onde o verdadeiro é o que funciona, e me proporciona mais conforto e sucesso, já não existe
interesse pela verdade. Deus se dignou em preservar a verdade por meio da sua Igreja.
Quando ela falha, neste propósito, ainda que a verdade não seja abalada em sua essência, ela
se torna fragilizada em sua exposição e aceitação.

A igreja enfrenta aqui dois perigos evidentes:

a) A barganha com o mundo; b) A privatização da fé: a minha religião e nada mais; a


igreja basicamente preserva a verdade por meio do seu conhecimento, prática e ensino:
devemos conhecer a Palavra a fim de poder usá-la corretamente.

A Verdade Objetiva de Deus

Na sua oração Jesus declara a certeza da veracidade da palavra de Deus: “A Tua


Palavra é a verdade. Continua: E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles
também sejam santificados na verdade.

Verdade Real: Acontece que muitas vezes o crente vive como se a Palavra de Deus
fosse apenas uma aparente verdade, ou uma verdade distante. Às vezes, afirmamos crer na
Bíblia como verdade, mas a negamos com o nosso comportamento.

Verdade Autoritativa: A Confissão de Westminster declara a autoridade da Escritura


Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer
homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem,
portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

Verdade que Permanece: Como vimos, é comum em nosso tempo ouvir-se falar de
minha verdade, sua verdade e, verdade de cada um. A Palavra de Deus é a verdade que
permanece, cumpre-se cabalmente, não apenas no passado, nem simplesmente no futuro, mas
sempre. Um sinal de que a Palavra permanece está no fato de nos reunirmos para estudá-la
porque ela permanece como a Palavra eterna de Deus para a nossa vida, sobre qualquer
questão e em qualquer tempo e circunstâncias. Paulo, no final de sua vida, não deu um “salto
no escuro”, antes, declarou a sua inabalável confiança no Deus que conhecia e a quem
dedicou a sua vida.

Verdade Reveladora: A verdade proclamada por Cristo revela o Pai (Jo 17.1,3-
9,11,15,17,21-25) e aponta para o Filho (Jo 17.8,20). A tomada de consciência da grandeza e
da santidade de Deus deve nos conduzir ao desejo de sermos santos conforme ele é.
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Verdade Libertadora

A) O Conhecimento da Verdade: Destaque de alguns pontos na oração do Senhor e o


verbo conhecer:

1. A vida eterna está em conhecer o Pai e o Filho; 2. Por meio da Palavra os discípulos
conhecem a Cristo e a sua procedência; 3. O mundo – os que não creem – não conhece a
Deus; 4. O Filho conhecer perfeitamente o Pai.

O conhecimento nas Escrituras:

1) Negativamente considerando.

a) O Mundo não conhece o seu Criador; b) Usar o nome de Deus não significa
relacionar-se com Ele; c) Ignorância Espiritual de Israel

2) Positivamente Considerando

a) Conhecer a Deus é partilhar da intimidade de ser também conhecido; b) Conhecer


envolve discernimento e atitude de obediência; c) Conhecer o Filho é o mesmo que conhecer
o pai.

Somente Jesus torna conhecido a anjos e seres humanos a glória do Deus invisível:

1) O nosso conhecimento pode ser adequado, porém, limitado. Na glória


conheceremos perfeitamente; 2) O Genuíno conhecimento de Deus envolve necessariamente a
compreensão de sua Palavra; 3) Conhecer a Deus é essencial para o nosso relacionamento
com ele; 4) O nosso conhecimento de Deus manifesta-se em obediência; 5. O conhecimento
ode Cristo é preventivo contra o pecado; 6) Enquanto o oráculo na ilha de Delfos
recomendava como máxima conhece-te a ti mesmo, Jesus Cristo nos dá a sua Palavra para
que possamos conhecer o Pai e, a partir dai sim, possamos conhecer todas as coisas; 7)
Reconhecemos a Deus pelo entendimento que o Senhor Jesus Cristo nos dá.

Jesus Cristo, A Palavra Encarnada e o Seu Poder Libertador

A liberdade concedida por Cristo é recebida pelo conhecimento dele como nosso
Senhor e Salvador (Jo 8.32 / Jo 14.6); deve nos conduzir ao desejo de sermos santos conforme
ele é.

Assim podemos falar de dois aspectos da liberdade concedida por Jesus:

1) Liberdade “do”
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a) Pecado; a Escritura nos fala que todos pecaram. Isso indica a necessidade de
convertido adquirir novos hábitos pela prática da verdade em amor (Ef 4.15). A graça de Deus
é educadora (Tt 2.11-15), agindo por intermédio das Escrituras, nos corrigindo e educando na
justiça para o nosso aperfeiçoamento (2Tm 3.16,17); b) Morte Espiritual e Eterna: Deus nos
deu vida; c) Poder de Satanás: Deus nos libertou definitivamente do poder de Satanás, o deus
do secularismo; d) Mundo: Cristo morreu e ressuscitou para nos libertar definitivamente das
garras de um mundo perverso, ou seja, dos valores deste mundo de uma ética egoísta e
terrena; e) Da Superstição: Nesta libertação do pecado, a Escritura nos mostra que
fomos salvos da superstição; f) Da Maldição: Cristo nos resgatou da maldição da lei.

2) Liberdade “para”:

a) Para Cristo. Cristo nos libertou da condenação eterna do pecado e do domínio de


Satanás para si mesmo; b) Para o serviço de Deus: Aqui está algo que atinge de forma
decisória o cerne do pensamento anomista; c) Para servirmos ao nosso próximo: servimos ao
nosso próximo com a liberdade que Cristo nos deu, no amor de Cristo e do seu evangelho; d)
Para a prática da Justiça: a graça não pode nem deve ser banalizada. Fomos libertos para uma
vida de justiça; e) Para a santificação e vida eterna: Paulo escreve aos romanos falando da
nossa situação atual e do alvo proposto por Deus para nós.

A Verdade como um Todo Unificado

A mente secular do século XX vacila entre dois extremos, sendo que os dois resultam
da rejeição do Criador e da negação da criação. Calvino compreendeu bem esse fato ao dizer
que: Visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não
devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Devemos estar atentos ao fato de
que ser reformado envolve uma cosmovisão unificada que se reflete em nossa maneira de ver
e atuar no mundo.

A Igreja como Templo de Deus no Mundo: A Historificação do Reino

No Antigo Testamento, o santuário era o penhor ou emblema do pacto de Deus; era o


sinal concreto e visível da presença de Deus que, obviamente, ultrapassava em muito os
limites do templo. Nesse sentido, a Igreja também assume uma função Escatológica. Ela
anuncia a presença de Cristo e, ao mesmo tempo, vive de forma embrionária as delícias do
Reino. O Espírito, em nós, é a garantia presente e maravilhosamente real, de que
participaremos da plenitude da sua herança reservada para os seus. Por intermédio da Igreja o
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mundo pode ter uma noção do que significa a salvação eterna (Rm 8.17; Ef 1.15-18; 2.6; Its
2.12; Cl 1.13).

A Igreja e o Seu Testemunho Autoritativo

1) Definição de Igreja: A igreja é a comunidade de pecadores regenerados;

2) O Significado da Evangelização: Podemos definir, operacionalmente, a


evangelização, como sendo a proclamação essencial;

3) Evangelização por Conteúdo: Se evangelizar significa ensinar pessoas a irem a


Cristo e a se sentirem melhor, podemos recorrer a qualquer método que seja eficaz.
Evangelização deve ser definida dentro de uma perspectiva da sua mensagem, não do seu
resultado. Nem toda proclamação que “surte efeito” é evangelização e, nem toda a pregação
que “não alcança os resultados esperados”, deixou de ser evangelização;

4) A igreja como Testemunha Comissionada por Deus: A existência da igreja


determina a missão. Calvino comentando Gálatas 4.26 diz: ... A Igreja enche o mundo todo e
é peregrina sobre a terra. (...) Ela tem sua origem na graça celestial.

Pois os filhos de Deus nascem, não da carne e do sangue, mas pelo poder do Espírito.
Nós somos o meio ordinário estabelecido por Deus para que o mundo ouça a mensagem do
evangelho. A Igreja de Deus é identificada e caracterizada pela genuína pregação da Palavra.
Igreja é uma testemunha comissionada pelo próprio Deus, para narrar os seus atos Gloriosos e
Salvadores.

A igreja é o meio ordinário de Deus para esta tarefa. Assim, a sua mensagem não foi
recebida de terceiros, mas diretamente de Deus, por meio da Palavra do Espírito, registrada
nas Sagradas Escrituras. Por isso, a Igreja como testemunha, não tem o direito, nem realmente
deseja, optar se deve ou não dar o seu testemunho, nem a quem deve testemunhar. O Espírito
dirige a Igreja na glorificação de Cristo, ensinando-lhe a obediência proveniente da fé.
Quando a evangelização transforma-se apenas em questão de estatística - número de
membros, tamanho do edifício, arrecadação, relevância social das pessoas que frequentam os
cultos, etc. - há muito deixamos de compreender o genuíno significado do evangelho bíblico.
O objetivo final da evangelização também é a glória de Deus.
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Os Fiéis Despenseiros de Deus e Algumas de suas Tentações (1co 3.1-4.21)

Se atender à nossa vocação pode nos parecer difícil, em algumas circunstâncias, pode
parecer dificílimo permanecer nela. No texto que lemos, Paulo fala sobre a infantilidade dos
coríntios em suas facções, e revela o seu não crescimento espiritual.

A lavoura de Deus

- Deus utiliza-se de seus servos: Os homens são instrumentos de Deus no seu serviço.
O valor daquele que serve só lhe é conferido realmente quando reconhecemos a proporção do
seu trabalho: nem mais, nem menos. “A fé não admite glorificação senão exclusivamente em
Cristo. Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens, os privam de sua
genuína grandeza. Pois a coisa mais importante de todas é que eles são ministros da fé, ou
seja: conquistam seguidores, sim, mas não para eles mesmos, e, sim, para Cristo.

- O Crescimento provém de Deus: É fato, como já vimos, que Deus utiliza-se de seus
servos, mas o segredo da vida da Igreja está em Deus.

- Todas as coisas pertencem a Deus: Aqui há uma mensagem de grande conforto: se


todos pertencemos a Cristo, tudo é nosso. Cristo compartilha conosco de seus bens: “Ora, se
somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com
ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).

Nosso trabalho vão será...

A graça de Deus é responsabilizadora. Paulo trabalha com esse princípio para


demonstrar a loucura da arrogância de determinados mestres coríntios.

- Tem Consciência de que tudo pertence a Deus: Paulo insiste no combate à arrogância
daqueles que querem se nomear na Igreja como tendo grandes dons e competência. Paulo tem
clareza a respeito de sua vocação e do senhorio de Cristo: ele é despenseiro de Deus, não de si
mesmo ou dos bens alheios, mas, de Deus.

- Perseveram em obedecer a Deus, ainda que não consigam entender perfeitamente


todas as circunstâncias: Os fiéis despenseiros sabem que têm uma tarefa a cumprir – esta é a
sua vocação - e, assim procedem, ainda que não tenham uma dimensão completa de suas lutas
e provações

- Trabalham para prestar contas a Deus, o reto Juiz: O despenseiro fiel tem em vista
sempre que prestará contas a Deus do uso que fez do que lhe foi confiado. Algumas
ponderações:
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1) Mesmo sendo verdade que o crescimento da Igreja provém de Deus, não devemos
nos esquecer de nossa responsabilidade: somos cooperadores de Deus; 2) Paciência: Não há
lugar para precipitação. Deus sempre age no tempo certo; 3) Lembremo-nos sempre: a Igreja
é de Deus, devemos trabalhar, orar e zelar por ela; 4) É da inveja que nascem as disputas, as
quais, uma vez inflamadas, se prorrompem em seitas perigosas; 5) Toda Glória ao Senhor; 6)
Não há diferença qualitativa entre serviços que prestamos a Deus; 7) Todas as coisas
pertencem a Deus. Nós somos de Cristo, herdeiros com ele de todas as coisas; 8) Todos
somos servos; 9) Os talentos que Deus graciosamente nos concedeu devem ser usados para a
sua glória, não a nosso bel-prazer; 10) Não sejamos precipitados em nossos juízos, somente
Deus pode julgar com justiça de fato; 11) Ainda que sejamos injustiçados devemos
permanecer perseverantes em nossa obediência a Deus; 12) Hoje é tempo de glorificar a Deus.

CRISTO COMO CABEÇA DA IGREJA NO TEMPO E NA ETERNIDADE E A


NOSSA RESPONSABILIDADE

Algumas coisas a se destacar sobre Ef 1.22-23:

1. É-nos dito que Cristo é o Senhor de todas as coisas. Tudo está debaixo de seus pés.

2. Ele é Senhor do universo, e cuida particularmente de sua igreja, que é o seu corpo.

3. A glória de Cristo se tornará plena e completa por meio da Igreja, quando ele
mesmo consumar a obra enchendo a igreja e sendo cheio por ela em alegria e amor. A igreja é
comandada por Cristo como o cabeça e ao mesmo tempo tem a sua vitalidade em Cristo como
o cabeça.

Com o pecado, a condição de Cabeça da Criação assume aspecto redentivo. O Senhor


comprou a Igreja com seu próprio sangue, nos conduz de volta a Deus. A visão correta a
respeito da Igreja passa, necessariamente, pela correta compreensão de quem é o Cristo, o
Filho de Deus.

Ao longo da história, a igreja tem enfrentado os mais variados ataques, perseguições,


heresias, tentações, esfriamento de sua fé, mas devemos lembrar também que o Senhor não
abandona sua igreja a despeito dos mais violentos e sutis ataques de satanás. Os momentos de
maior fortalecimento da igreja na história sempre estiveram associados à compreensão da
natureza gloriosa de Jesus Cristo. A pregação expositiva exalta o senhorio de Cristo sobre a
igreja dele, como diz, John MacArthur. A cosmovisão cristã obviamente não se aplica apenas
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a esta vida, antes, tem um sentido escatológico, aponta para o fim, quando Cristo será
plenamente glorificado, consumando a sua obra na criação. Assim, o alvo final de todas as
coisas é a glória de Deus. Nada mais é elevado ou importante do que o próprio Deus.

Autonomia Secular e a Pregação Reformada

Desde o Iluminismo, prevalece o entendimento de que o homem, por sua razão, é a lei
para si mesmo. O secularismo consiste na reivindicação humana de ser autônomo, reduzindo a
realidade à nossa percepção limitada do concreto: o real é o concreto, ou o que pode ser
percebido do concreto. O homem compartilha duas identidades: uma divina e outra animal de
uma forma que aponta para nossa proveniência de Deus fomos criados. No entanto, o homem
tem seus limites físicos, intelectuais, morais e espirituais. Devemos também notar que em
uma sociedade onde a “realidade” é socialmente construída através da “linguagem cultural”
não há lugar para absolutos. Tudo se torna relativo. Desta forma tudo é possível dentro dos
significados dados pelas pessoas individualmente.

Sem a sabedoria dada por Deus, o conhecimento humano torna-se uma razão para
pretensão frívola ou um fardo que nos permite ver com mais clareza aspectos da realidade
sem, no entanto, ter a solução definitiva. Assim, a esperança para o mundo, em última análise,
não está na ciência, mas em homens fiéis a Deus que usam os recursos fornecidos por ele para
sua glória. Desta forma, a reflexão teológica deve ser sempre um prefácio à ação sob a
influência modeladora do Espírito que nos instruiu através do evangelho. Uma igreja que só
reflete e não age é semelhante ao exército que passa o tempo manobrando dentro do quartel.
Talvez aqui esteja uma das armadilhas mais sutis para nós Reformados. Valorizamos a
doutrina, entendemos que ela é fundamental para a vida cristã, porém, nessa ênfase e
compreensão tão corretas, podemos esquecer a importância vital da piedade. O interesse
puramente acadêmico pela teologia é incapaz de contribuir por si só para a solidificação da
teologia e da fé da igreja. Toda a teologia é portanto, apaixonada. Como falar de Deus e de
sua Palavra de forma objetiva e distante do seu objeto? A teologia é elaborada pelos crentes.

Calvino está convencido de que ninguém pode “provar sequer o mais leve gosto da
reta e sã doutrina a não ser aquele que se haja feito discípulo da Escritura”. É muito
importante que estejamos atentos às circunstancias de nossos ouvintes, consideremos os fatos
cotidianos, os ensinamentos que vigoram e as inquietações próprias de nossa geração. É
extremamente estimulante ao pregador saber que os nossos sermões atendem às necessidades
concretas de nossos ouvintes.
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A Palavra de Deus deve ser nossa lente de escrutínio para que possamos ler a realidade
e aplicar os ensinamentos bíblicos aos nossos ouvintes. Nós, como pastores, não devemos
reter a verdade por medo de desagradar alguém, ou por medo das consequências de ensinar a
verdade. O pregador não compartilha experiências, não dá simplesmente suas “opiniões”
sobre o texto bíblico, nem parafraseia irreverentemente o texto, mas prega a Palavra. É uma
tentação muito sutil, nem sempre perceptível, de “suavizar”, de torcer a Palavra de Deus, para
nos tornarmos agradáveis aos nossos ouvintes.

O pregador proclama a Palavra de Deus. Para que isto seja feito com fidelidade, é
necessária uma interpretação cuidadosa do texto Bíblico, considerando contexto, exegese bem
feita a fim de que ensinemos com fidelidade o que o texto diz. Schaeffer diz que “O lado
positivo da apologética é a comunicação do evangelho à geração presente de modo que
possam entender.” O grande propósito da Escritura é nos conduzir a Cristo, o nosso Senhor.
Somente pela Palavra podemos ter conhecimento adequado de todas as coisas. O Sábio
manejo da Escritura significa estudá-la, vivenciá-la e proclamá-la conforme o seu propósito.

É observável historicamente que os momentos de maior fortalecimento da igreja


sempre estiveram associados à compreensão da natureza gloriosa de Jesus Cristo. Stott afirma
que “o segredo essencial não é dominar certas técnicas, mas ser dominados por determinadas
convicções. A teologia é mais importante do que a metodologia”. A pregação, juntamente
com a adoração congregacional é um termômetro espiritual da igreja. A Reforma espiritual da
igreja começa pelo púlpito, por aquilo que é pregado e ensinado em nossas igrejas,
acompanhada de oração, suplicando a misericórdia de Deus que ilumine as nossas mentes e
aqueça os nossos corações nos conduzindo ao arrependimento e à obediência sincera ao
Senhor.

O Desafio e Consolo de ser Reformado

O Espírito Santo é quem nos conduz à compreensão das Escrituras. A Teologia não
termina em conhecimento teórico e abstrato, antes, se plenifica no conhecimento prático e
existencial de Deus por meio da revelação nas Escrituras. A autoridade não se baseia no
testemunho de nenhum homem ou instituição, antes, baseia-se na autoridade divina. O
Espírito e a Palavra são inseparáveis. O Calvinismo com sua ênfase na centralidade das
Escrituras são mais do que um sistema teológico, é, sobretudo uma maneira teocêntrica de
ver, interpretar e atuar na história tendo os olhos direcionados para a glória de Deus.
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A vida que o Calvinismo tem pleiteado e tem selado, não com lápis e pincel no
estúdio, mas com seu melhor sangue na estaca e no campo de batalha. Assim podemos dizer
que o Calvinismo prima não simplesmente, pela preocupação teológica – o que sem dúvida é
fundamental – mas pela obediência incondicional ao Deus da Palavra. Assim, nossa
cosmovisão reformada enfatiza os seguintes pontos:

1) A Salvação pela Graça unicamente em Jesus Cristo, o Deus encarnado: Verdadeiro


Homem, Verdadeiro Deus; 2) A suficiência do sacrifício de Cristo para salvar completa e
totalmente o povo de Deus; 3) A fé como a obra do Espírito em nós que nos capacita a
responder positivamente ao chamado de Deus; 4) A Palavra de Deus e somente ela, é
fundamental autoridade de todo nosso pensar, crer, agir e sentir; 5) A Inerrãncia e
infalibilidade das Escrituras como princípios teóricos e práticos que norteiam a nossa
perspectiva da realidade em todas as suas dimensões: religiosa, social, política, econômica,
ética, profissional, familiar, etc. Portanto, uma ética comprometida com as Escrituras; 6) O
Culto a Deus como meta e razão de ser da Igreja, que se manifesta em consonância com a
Palavra em santo temor e sincera gratidão para com Deus; 7) Um compromisso com o real a
partir da fé em Cristo, gerada em nós pelo Espírito; 8) A aceitação incondicional da Majestade
de Deus e do Senhorio de Cristo em todas as coisas a começar de nossa salvação definitiva; 9)
A compreensão de que a Igreja de Deus não é um conjunto de pessoas individuais, mas é o
corpo de Cristo, o povo constituído por Deus por intermédio do seu Espírito, para cultuá-lo;
10) O zelo da pregação fiel da Palavra, administração correta dos sacramentos e
exercício fiel da disciplina; 11) Oração sincera e submissa. De forma figurada Calvino diz que
“o coração de Deus é um Santo dos Santos, inacessível a todos os homens” sendo o Espírito
quem nos conduz a ele; 12) A glória de Deus como alvo supremo de todas as coisas.

Buscando uma Compreensão de Servo

Um dos perigos para nós cristãos é simplesmente não usar a nossa mente. O nosso
testemunho exige o uso abalizado de nossa inteligência. Pensar, pensar sobre o pensar é algo
salutar e muito desafiante e abençoador. Por vezes pensamos que o pensar com intensidade é
uma tarefa exclusiva para profissionais, mas o cristianismo nos apresenta um Deus que
planeja, executa e avalia a sua obra e nos fez à sua imagem. Reflexão e oração caminham
juntas.

Devemos pensar e pedir a Deus que nos ajude com sua iluminação. Pensar, orar e
discernir sobre todas as coisas.
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OBSERVAÇÕES PESSOAIS

O autor demonstra um trabalho cuidadoso e detalhado a respeito do que trata como


“introdução à cosmovisão”, de forma que explica como esta é formada em cada uma das
pessoas de forma consciente ou não e como tudo isso tem formado as culturas e os desafios
do nosso tempo.

Depois de estabelecer os princípios, apresenta como a Reforma Protestante teve


atuação direta e intencional sobre a educação, trazendo a importância desta arte pelas culturas,
como foi vista e tratada pelos reformados à medida que ligavam a educação ao ensino das
Escrituras. O papel de Lutero e de Calvino é destacado para mostrar como não apenas
pensavam sobre a importância do tema, mas como isso era fruto do próprio evangelho que
transforma ao atingir todas as áreas da vida. Estes homens estabeleceram linguagem, escrita e
até hoje são admirados e reconhecidos como homens importantes para seus países na
formação da cultura dos povos e de suas línguas.

De forma dedicada traz esclarecimento sobre o conceito de ciência e como


reformados, como Calvino, enxergavam o tratamento, benefícios e perigos ao tratar dela, o
perigo da neutralidade que até os nossos dias apresenta seus argumentos contrários a Deus. O
Iluminismo era independência do homem e isso atingia todas as esferas culturais que os
cristãos precisam lidar. É um desafio não entregar a mente, porque há uma luta pelo controle
da mente, mas o autor apresenta as armas que a própria Escritura nos dá para convivermos
cuidadosamente com os desafios culturais sem desprezar avanços, benefícios, sem entregar o
coração. Assim, o valor da verdade é destacado como verdade de Deus e como é importante o
estabelecimento, defesa e luta por esta verdade, de forma que a Igreja ganha destaque como
guardiã e resposta às confusões vividas nestes dias. Os crentes são chamados a serem fiéis
hospedeiros de Deus num mundo cheio de relatividades.

A pregação fiel das Escrituras é a arma pela qual a igreja se mantém firme e segue
como esperança e resposta às angustias da alma humana que não se satisfaz com as relativas e
desesperadas respostas do nosso tempo. A obra constitui-se numa bela e acessível leitura para
aqueles que pretendem entender o valor e a intencionalidade das cosmovisões, bem como a
ação responsável da igreja, abraçando o Calvinismo de maneira fiel e dedicada, exaltando a
Cristo pelo evangelho em todas as esferas da vida de forma que Deus seja glorificado. Este é
um papel que não podemos abrir mão como crentes.

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