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Os Salmos
Os Cânticos da Alma
Geerhardus Vos
Pregado em 15 de outubro de 1902,
VOS, Geerhardus. Os Salmos: os Cânticos da Alma. Natal: Nadere
Reformatie Publicações, 2022.
SUMÁRIO
PREFÁCIO EDITORIAL – Rev. Christopher Vicente
Sobre a Série
Sobre o escrito de Geerhardus Vos neste e-book
OS SALMOS: OS CÂNTICOS DA ALMA
Introdução
Salmos do Coração
Salmos da Presença de Deus
Salmos de Saudade de Deus
A vida em comunhão com Deus
CONHEÇA OUTROS E-BOOKS
PREFÁCIO EDITORIAL
Sobre a Série
Cristo é o Rei de Sua Igreja. E, como tal, a supre dando oficiais e dons para
[1]
o benefício dela. Ele fez isso durante toda a sua História. Em cada época,
sempre houve fiéis dispenseiros em Sua Casa levantados por Ele mesmo.
Geerhardus Vos (1862–1949), sem dúvida, foi um desses. Por isso, temos o
prazer de iniciar nossa série de publicações dos escritos de Geerhardus Vos.
[2]
Com essa série de Geerhardus Vos (ao lado de nossa série de Herman
Bavinck), queremos passar à Igreja Brasileira, dentre outras mensagens,
esta: os bons, coerentes e sólidos desenvolvimentos e produções teológicas
(com suas aplicações filosóficas) vieram de homens firmes na
confessionalidade, que se lançaram a responder às questões de seus dias
sobre essas mesmas bases, sem “inventar a roda”. Eles são um modelo para
nós. Com essa série, queremos também servir Igreja, disponibilizando uma
produção em Teologia Bíblica sólida, robusta e consistente presente nesse
rico autor.
É por tudo isso que a equipe da Nadere Reformatie Publicações dedica seus
esforços para trazer mais de Vos à nossa língua. Infelizmente, temos pouco
[12]
dele em português. Ricas contribuições já foram feitas. E é com alegria
que testemunhamos o aumento de publicações, no Brasil, na área de
Teologia Bíblica. Entretanto, os clássicos, em sua maioria, ainda são
preteridos. Esperamos com essa série servir preenchendo um pouco mais
essa lacuna tanto para proveito direto quanto para entendermos e ser um
auxílio no julgamento do ponto em que chegamos.
Sobre o escrito de Geerhardus Vos neste e-book
Tendo dito isso sobre a série, passo a falar sobre este escrito em particular:
[13]
“Os Salmos: os Cânticos da Alma”. Esse foi um sermão pregado em 15
de outubro de 1902, na Capela do Seminário Teológico de Princeton, onde
Vos atuava como professor na cadeira de Teologia Bíblica.
Três elementos são dignos de destaque neste sermão. Primeiro, o espírito
puritano de suas conclusões. Fazendo uso da Teologia Bíblica, analisando
os salmos segundo o seu tipo orgânico de Revelação, Geerhardus Vos nos
conduz a comunhão com o Senhor. Em outras palavras, a própria forma
dessa Revelação, em comparação com outras, enfatiza nosso
relacionamento com o Senhor. A insistência nisso era a marca da piedade
puritana. Vos diz: “nesta relação privada com Deus, a função mais elevada
da religião — a única coisa que satisfará completamente o filho de Deus.
[...] esse apego ao próprio Deus [...] é o ato culminante de toda religião”,
pois “o homem é projetado para manter uma conversa com Deus e tornar-se
familiarizado com Ele na prática”.
OS SALMOS
OS CÂNTICOS DA ALMA
Salmo 25:14
Introdução
O Saltério é, de todos os livros da Bíblia, aquele livro que dá expressão ao
lado experimental da religião. Na Lei e nos Escritos Proféticos, é Deus
quem fala ao Seu povo; no Saltério, ouvimos os santos falando a Deus. Por
isso, o Saltério tem sido, em todos os tempos, a parte da Escritura à qual os
crentes mais prontamente se voltaram e da qual dependiam principalmente
para o alimento da vida religiosa interior do coração. Digo “a parte da
Escritura”, e não apenas “aquela parte do Antigo Testamento”, pois, mesmo
tomando o Antigo e o Novo Testamento juntos, a experiência comum do
povo de Deus confirmará o que estou dizendo, ao afirmar que não há nada
na Sagrada Escritura que, na maioria de nossos momentos espirituais —
quando nos sentimos mais próximos de Deus — expressa tão fiel e
naturalmente o que pensamos e sentimos, em nosso coração, como essas
canções dos israelitas piedosos. Nosso próprio Senhor, que teve uma
experiência religiosa perfeita e viveu e andou com Deus em absoluto ajuste
de Seus pensamentos e desejos à mente e vontade do Pai; nosso próprio
Senhor encontrou a sua vida interior retratada no Saltério e, em alguns dos
momentos mais elevados do Seu ministério, lhe tomou emprestada a
linguagem em que a Sua alma falava com Deus, reconhecendo assim que
não se pode enquadrar uma linguagem mais perfeita para a comunhão com
Deus [do que a dos Salmos].
Outras vezes ainda, não é o exercício real nem o desejo por isso, mas a
lembrança do que foi desfrutado no passado ou a reflexão sobre o que ainda
pode ser desfrutado no futuro que move o escritor: “Lembro-me destas
coisas — e dentro de mim se me derrama a alma —, de como passava eu
com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre
gritos de alegria e louvor, multidão em festa” (Salmo 42:4). Este é o caso na
passagem diante de nós: “A intimidade do SENHOR é para os que O
temem, os quais Ele dará a conhecer a Sua aliança”. A “intimidade”
significa o “conselho secreto”, a “homilia”, como uma das antigas
traduções a traduziu apropriadamente. É a conversa íntima entre dois
amigo, como se conhece da vida humana, onde não há reserva, mas os
pensamentos e sentimentos do coração são livremente trocados. E a noção
de aliança, aqui, expressa a mesma ideia: a aliança sendo concebida não
como um contrato formal para um propósito específico, mas como uma
comunhão na qual a vida toca a vida; e vida se entrelaça com a vida de
modo que as duas se assimilam mutuamente. Evidentemente, os salmistas
reconhecem, nesta relação privada com Deus, a função mais elevada da
religião — a única coisa que satisfará completamente o filho de Deus. E
isso se torna ainda mais tocante se lembrarmos o quanto havia na Antiga
Aliança, com seu complexo sistema de cerimônias, que exigia uma espécie
de serviço indireto a Deus; e lembre-se ainda: mesmo onde uma
aproximação mais direta a Deus era permitida, isso tinha que permanecer
parcial e ser exercido sob restrições, porque um novo e vivo caminho para o
Santo dos Santos ainda não havia sido aberto.
Podemos muito bem acreditar que foi com algo disso (isto é, dessa
consciência) em mente que, quando os santos seguiram duramente a Deus e
procuraram penetrar sua vida espiritual interior naquela presença imediata,
a partir daquele serviço público a Deus no tabernáculo ou no templo, as
restrições da Antiga Aliança os excluíam. Pode-se observar com frequência,
nos assuntos sagrados, bem como nos naturais, que onde uma coisa é
parcialmente possuída e ainda parcialmente perdida, há a mais aguda
apreciação de seu valor e o mais intenso anseio por sua plena realização.
Certamente, é impressionante que essas expressões de desejo apaixonado de
entrar em comunhão viva com Deus sejam encontradas no Antigo
Testamento e não no Novo. Não é possível, irmãos, que nós, por termos o
privilégio de nos aproximarmos de Deus em todos os momentos, sem
restrições, às vezes, corramos o risco de subestimar seu valor ou mesmo
negligenciar seu exercício? Não deve Davi nos envergonhar quando clama
no Salmo 63: “Ó Deus, Tu és o meu Deus forte, eu Te busco ansiosamente;
minha alma tem sede de Ti, meu corpo de almeja, como terra árida, exausta
e sem água. Assim eu te contemplo no santuário, para ver a Tua força e a
Tua glória. Porque a Tua graça é melhor do que a vida, os meus lábios te
louvam” [v. 1-3]. Se ele ansiava assim, pelo menos, quanto mais seriamente
devemos cultivar um anseio maior?
Está ganhando voga, hoje em dia, a opinião de que uma parte considerável
do Saltério foi composta durante o período do judaísmo posterior. Seria
uma questão interessante investigar se essa atmosfera de proximidade
religiosa com Deus na qual os salmistas tão naturalmente respiram era
realmente a atmosfera predominante daquele período tardio que costumava
reclamar que Deus havia se retirado de Seu povo, que não havia voz de
profecia ouvida por mais tempo e que quase se estabeleceu em servir a
Deus indiretamente por meio da obediência meticulosa de Sua Lei.
Certamente, é difícil de acreditar que duas atitudes espirituais tão
completamente opostas tenham pertencido a uma mesma época.
Não preciso dizer que há uma tendência, nos dias atuais, de fazer a vida
religiosa buscar a superfície, a periferia; para separá-lo mais ou menos do
seu centro, que está na comunhão face a face direta da alma com Deus. A
devoção não está tão em evidência como esteve em outros períodos da
História da Igreja. Existem duas causas para esse defeito. O primeiro deles,
talvez, pouco nos preocupe. Encontra-se na relutância moderna em dar
ênfase a qualquer prática religiosa que envolva a ideia de um conhecimento
e uma experiência pessoal claros com Deus. Essa relutância, em outras
palavras, é uma tendência agnóstica. Sua palavra de ordem é que podemos
saber pouco sobre Deus, mas podemos saber quais são nossos deveres
religiosos para com nossos semelhantes. Com isso, digo, você e eu
podemos ter pouco a fazer, embora até certo ponto disso possamos sentir a
influência do reflexo.
CONHEÇA NOSSAS PRÓXIMAS PUBLICAÇÕES
[1]
CMW 45. Veja: https://minhabibliotecawestminster.com.br/cfw/capitulo_cm.asp
[2]
Aqui, apenas destacamos que Geerhardus Vos é holandês, mas estudou e atuou no
presbiterianismo norte-americano até o final de sua vida. O Seminário onde lecionou fora o Antigo
Seminário de Princeton.
[3]
Rev. Tiago Baia é um dos mestres da Teologia Bíblica que Deus levantou e, talvez, um dos
maiores conhecedores de Vos em nosso país. Foi também um grande encorajador a essas publicações.
Por anos, foi professor do Seminário Teológico [Presbiteriano] do Nordeste. E, atualmente, faz seu
doutorado, em Teologia Bíblica, no Puritan Reformed Theological Seminary.
[4]
Sabe-se que Johann Philipp Gabler (1753–1826) é reputado como o pai da Teologia Bíblica, em
um sentido mais geral e histórico. Ele propôs, em 1787, uma separação entre o que era chamada de
Teologia Dogmática (atual e comumente, chamada de Teologia Sistemática) e uma Teologia Bíblica.
Por isso, ele tem sido identificado como o pai da Teologia Bíblica. Nossa defesa, porém, é que Vos é
o pai da Teologia Bíblica Reformada e Ortodoxa; ou a Teologia Bíblica Bíblica (mesmo). Conforme
Norval da Silva diz: “Embora J. P. Gabler tenha sido o primeiro a defender que a teologia bíblica se
diferenciava das outras teologias por seu princípio histórico de abordagem, este autor é criticado por
Vos por ele não se descolar da escola racionalista para a qual a única e suficiente fonte de
conhecimento era a razão” (DA SILVA, Norval Oliveira. Geerhardus Vos, o pai da Teologia
Bíblica. Disponível em: <
https://www.academia.edu/43575431/GEERHARDUS_VOS_O_PAI_DA_TEOLOGIA_B%C3%8D
BLICA>. Acesso: 10 de janeiro de 2022). Veja também: OLIVER, Danny. BUCEY, Camden.
Geerhardus Vos: Reformed Biblical Theologian, Confessional Presbyterian. Disponível em:
<https://www.amazon.com.br/Geerhardus-Vos-Theologian-Confessional-Presbyterian-
ebook/dp/B07KYWCR2B/>.
[5]
VOS, Geerhardus. A Ideia de Teologia Bíblica como disciplina e ciência teológica. Natal:
Nadere Reformatie Publicações, 2022. (Formato Kindle). Disponível pela Amazon.
[6]
E, por tudo isso, a maior parte de nossa energia, como editora, é dedicada a trazer mais dos
puritanos e sobre os puritanos para nossa língua.
[7]
Mencionado pelo amigo de Joel Beeke, Michael Haykin, em obra escrita em homenagem a
Beeke. Veja: HAYKIN, Michael A. G. Prefácio. In: Piedade Puritana. HAYKIN, Michael A. G.
SMALLEY, Paul. (Orgs). Natal: Nadere Reformatie Publicações, 2022. Breve pela Nadere
Reformatie Publicações. Nossa próxima publicação.
[8]
E, ao falar isso, penso, especificamente, na Doutrina do Pacto. Diversas doutrinas receberam
ainda mais luz com Vos. Todavia, de todas, aquela que é a medula da Teologia Reformado-
Presbiteriana ganhou ainda mais.
[9]
Essa postura tem sido notória de forma mais nítida por parte de alguns que abraçaram os
desdobramentos do neocalvinismo holandês; mais precisamente, alguns dos teólogos-filósofos
posteriores e os seus discípulos. Esse comentário não é uma reprovação de tudo o que foi produzido
pelo neocalvinismo; nem uma generalização. Apenas a constatação de uma postura comum.
[10]
É precisamente por esse fato, que há uma bela unidade entre esses três mencionados e um
descontinuidade em pontos importante com alguns desdobramentos do neocalvinismo holandês.
Como, por exemplo, a gritante diferença entre o conceito de Teologia neles e em Herman
Dooyeweerd; e consequentemente, por causa disso, uma diferença quanto à visão de Filosofia
Calvinista e sua relação com essa Teologia. Ainda que eu um modesto admirador das muitas e sui
generis contribuições filosóficas de Dooyeweerd, que tanto enriqueceram a Igreja (o que jamais
poderia ser negado); ainda assim, sou da posição de que, nesses (Bavinck, Vos e Van Til),
encontramos uma reflexão filosófica mais embasada nas Escrituras e mais ligada à Teologia
Reformada Confessional. Aliás, é digno de nota que Abraham Kuyper e Herman Bavinck, os pais do
neocalvinismo holandês, por assim dizer, possuíam uma íntima relação com Geerhardus Vos.
[11]
É dito que Boston dominava o holandês e que, talvez, sua contribuição mais significativa à
Teologia tenha sido sua exposição da Teologia do Pacto conforme os Padrões de Westminster.
“Boston se sentiu motivo a pregar sobre a Aliança da Graça depois de ler a obra de Herman Witsius
intitulada Economy of the Covenants” (BEEKE, Joel. PEDERSON, Randall. Paixão pela Pureza.
São Paulo: PES, 2010. p. 778; 789-790).
[12]
São estas: Teologia Bíblica do Antigo e do Novo Testamento, pela Ed. Cultura Cristã; e “O
Reino de Deus e a Igreja de Cristo” pela Ed. Logos (edição esgotada).
[13]
Originalmente, o título deste sermão era, apenas, “os cânticos da alma”.