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NADERE REFORMATIE PUBLICAÇÕES

________________________________________

Os Salmos

Os Cânticos da Alma

Geerhardus Vos
Pregado em 15 de outubro de 1902,

na Capela do Seminário Teológico de Princeton,

Princeton, Nova Jersey

Editor e Tradutor: Christopher Vicente

 
VOS, Geerhardus. Os Salmos: os Cânticos da Alma. Natal: Nadere
Reformatie Publicações, 2022.

Todos os direitos desta tradução reservados à Nadere Reformatie


Publicações.
Os textos bíblicos citados são segundo a versão Almeida Revista e
Atualizada, salvo indicação contrária.
SUMÁRIO
 

 
SUMÁRIO
PREFÁCIO EDITORIAL – Rev. Christopher Vicente
Sobre a Série
Sobre o escrito de Geerhardus Vos neste e-book
OS SALMOS: OS CÂNTICOS DA ALMA
Introdução
Salmos do Coração
Salmos da Presença de Deus
Salmos de Saudade de Deus
A vida em comunhão com Deus
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PREFÁCIO EDITORIAL
 
Sobre a Série
 
Cristo é o Rei de Sua Igreja. E, como tal, a supre dando oficiais e dons para
[1]
o benefício dela. Ele fez isso durante toda a sua História. Em cada época,
sempre houve fiéis dispenseiros em Sua Casa levantados por Ele mesmo.
Geerhardus Vos (1862–1949), sem dúvida, foi um desses. Por isso, temos o
prazer de iniciar nossa série de publicações dos escritos de Geerhardus Vos.
[2]

Não me delongarei falando pormenorizadamente da vida e ministério de


Vos, pois, em sua versão final e compilada, nossas publicações de seus
[3]
escritos terão um prefácio dedicado a isso pelo Rev. Tiago Baia. Porém,
aqui, neste prefácio, quero justificar essa nossa linha editorial com a qual
esperamos servir à Igreja do Senhor no Brasil.

Geerhardus Vos é conhecido como o pai da Teologia Bíblia (reformada e


[4]
ortodoxa).   Ao lado de outros gigantes levantados por Deus, no mesmo
período, Vos lutou apologeticamente contra inimigos (externos e internos)
da Igreja e da Sã Doutrina; e serviu positivamente como instrumento para
um grande passo de desenvolvimento teológico na fé reformada
confessional. Apenas a sua produção teológica e os benefícios de
aprendermos com ela justifica essa série. Seu trabalho exegético foi singular
e, sem dúvida, é um instrumento de Deus para fortalecer a nossa fé. Porém,
há outro benefício que também a justifica: Geerhardus Vos é um paradigma
em muitos sentidos, e considerar sua vida e obra é um remédio contra e
para evitarmos alguns pensamentos equivocados. 
Em primeiro lugar, ele é um paradigma contra os acusadores de que a
Teologia desenvolvida pelos reformados do século XVI e XVII,
especialmente, os puritanos e a Teologia dos Padrões de Westminster, foi
fruto de mero dogmatismo infundado, eisegese forçosa e conglomerado de
textos-provas aleatórios. O resultado do trabalho de Vos mostra exatamente
o contrário: quão bíblica e precisa foram as conclusões desses homens,
especialmente, nos Padrões de Westminster. Geerhardus Vos fortalece ainda
mais as bases de nossa profissão de fé. Em um dos textos dessa série, o
próprio Vos evidencia que estava atento a refutar essa crítica. Ele disse:
A Teologia Bíblica também demonstrará que as doutrinas fundamentais de nossa fé não se
baseiam, como muitos gostariam de crer, em uma exposição arbitrária de alguns textos-prova
isolados. Não provará tanto essas doutrinas, mas fará o que é muito melhor do que provar:
[5]
fazê-las crescer organicamente diante de nossos olhos a partir do tronco da Revelação.

Em segundo lugar, ele é um paradigma contra o pensamento daqueles que,


subscrevendo os documentos confessionais do Século XVII (os quais Vos
também subscrevia integralmente), julgam que não é possível desenvolver o
que foi professado, dando ainda mais base e robusteza. Estes, implícita ou
explicitamente, quase que não reconhecem a operação do Espírito na Igreja
após os dias dos puritanos. Particularmente, creio que os séculos XVI e
XVII, depois dos séculos I e II, são sui generis na História da Igreja,
produzindo o maior (em volume, precisão e profundidade) avanço maduro
[6]
que a Igreja já teve. Eram, de fato, gigantes de Deus. Posso dizer,
juntamente com Joel Beeke: “a era puritana foi uma das mais notáveis eras
de piedade na História da Igreja, e o evangelicalismo contemporâneo ficou
muito mais pobre por não mergulhar nas riquezas teológicas desse período”.
[7]
Porém, isso não nega o magnífico fato de que Deus continuou operando.
E como perdem os que não reconhecem isso.

Em terceiro lugar, Geerhardus Vos também é um paradigma de


desenvolvimento teológico maduro firmado sobre uma confessionalidade
integral. Sem negar as firmes bases anteriores, antes, partindo delas (como
era a marca de Princeton), Vos desenvolveu ainda mais belamente a fé que
foi entregue aos santos. Ele é o exemplo de que o legítimo desenvolvimento
teológico histórico finca os pés na confessionalidade e avança de forma
[8]
coerente. Alguns defendem um progressismo teológico quase que, a todo
instante, querendo “inventar a roda”. Se lançam em desenvolvimento
sempre com uma crítica autônoma (e, por vezes, mesquinha) ao que foi
professado pela Igreja. Vos nos ajuda a fugirmos desse tipo de visão
arrogante e fada a erros.

Em quarto e último lugar, Vos também é um paradigma contra o


pensamento daqueles que amam contrapor a Teologia Calvinista Britânica
(especialmente, a escocesa) e a Teologia Calvinista Holandesa-Continental
como concorrentes e excludentes. Elas, de fato, possuem suas nuanças e
distinções. Isso não pode ser negado. A questão, aqui, porém, é outra. Há
em alguns o ímpeto de depreciar o calvinismo britânico como sendo um
subcalvinismo ou um tipo de fundamentalismo; uma caricatura malfeita
desse sistema teológico. Estes arrogam para si um desenvolvimento
legítimo do Calvinismo para os tempos modernos. Porém, esse alegado
desenvolvimento é construído mais sobre uma filosofia crítica da
[9]
confessionalidade, do que em unidade e avanço orgânico e confessional.
Entretanto, a existência e a produção de teólogos como Herman Bavinck,
Geerhardus Vos e Cornelius Van Til (com ênfase especial nesses dois
últimos, de tradição holandesa, que se tornaram presbiterianos subscritores
dos Padrões de Westminster, uma tradição britânica) é constrangedora para
este tipo de posição. Em Geerhardus Vos e Cornelius Van Til, vemos essas
duas tradições teológicas evidenciando toda a sua afinidade e o bom
[10]
produto que advém da lida devida e respeitosa com ambas.

Essa é a constatação que temos se analisarmos a produção e as questões


recentes. Porém, se remontamos ao século XVI e XVII: que grande troca e
afluência teológica essas duas tradições mantiveram; que grande influência
mútua entre a Nadere Reformatie e os Covenanters. Dentre todos os pontos
que poderiam ser tomados, consideremos a Teologia do Pacto. Que grande
“escocês” foi Herman Witsius em seu federalismo; que grande “holandês”
[11]
foi Thomas Boston, o grande teólogo federalista escocês. Além disso,
se Vos e Van Til são símbolos contemporâneos dessa boa relação (que
alguns intentam perturbar), então, William Ames é o símbolo dela na Era
Moderna, um puritano britânico-holandês em todos os aspectos.

Com essa série de Geerhardus Vos (ao lado de nossa série de Herman
Bavinck), queremos passar à Igreja Brasileira, dentre outras mensagens,
esta: os bons, coerentes e sólidos desenvolvimentos e produções teológicas
(com suas aplicações filosóficas) vieram de homens firmes na
confessionalidade, que se lançaram a responder às questões de seus dias
sobre essas mesmas bases, sem “inventar a roda”. Eles são um modelo para
nós. Com essa série, queremos também servir Igreja, disponibilizando uma
produção em Teologia Bíblica sólida, robusta e consistente presente nesse
rico autor.
É por tudo isso que a equipe da Nadere Reformatie Publicações dedica seus
esforços para trazer mais de Vos à nossa língua. Infelizmente, temos pouco
[12]
dele em português. Ricas contribuições já foram feitas. E é com alegria
que testemunhamos o aumento de publicações, no Brasil, na área de
Teologia Bíblica. Entretanto, os clássicos, em sua maioria, ainda são
preteridos. Esperamos com essa série servir preenchendo um pouco mais
essa lacuna tanto para proveito direto quanto para entendermos e ser um
auxílio no julgamento do ponto em que chegamos.
Sobre o escrito de Geerhardus Vos neste e-book
Tendo dito isso sobre a série, passo a falar sobre este escrito em particular:
[13]
“Os Salmos: os Cânticos da Alma”. Esse foi um sermão pregado em 15
de outubro de 1902, na Capela do Seminário Teológico de Princeton, onde
Vos atuava como professor na cadeira de Teologia Bíblica.
Três elementos são dignos de destaque neste sermão. Primeiro, o espírito
puritano de suas conclusões. Fazendo uso da Teologia Bíblica, analisando
os salmos segundo o seu tipo orgânico de Revelação, Geerhardus Vos nos
conduz a comunhão com o Senhor. Em outras palavras, a própria forma
dessa Revelação, em comparação com outras, enfatiza nosso
relacionamento com o Senhor. A insistência nisso era a marca da piedade
puritana. Vos diz: “nesta relação privada com Deus, a função mais elevada
da religião — a única coisa que satisfará completamente o filho de Deus.
[...] esse apego ao próprio Deus [...] é o ato culminante de toda religião”,
pois “o homem é projetado para manter uma conversa com Deus e tornar-se
familiarizado com Ele na prática”.

Segunda, a visão elevadíssima sobre os Salmos como expressão da


piedade cristã e da devoção para com o Senhor. Essa visão está presente
naqueles que defendem o canto dos Salmos. Vos nos dá ainda mais base
para insistirmos na necessidade de a Igreja atentar para essa esquecida
prática bíblica. Terceira, temos aqui um dos mais eruditos escritores do
século XX incitando e exortando à devoção e à comunhão privada com o
Senhor. Essa é a marca da verdadeira piedade reformada. A erudição nunca
foi, por si só, contrária à piedade — embora possa ser indevidamente usada
em antagonismo. Geerhardus Vos, na prática e pelas suas palavras, nos
mostra que a piedade e a comunhão com o Senhor deve estar presente até
no mais erudito dentre nós.
Este sermão é de grande utilidade para todo crente e, em especial, aos
ministros e seminaristas, os quais foram o público original dele. Que seja
um instrumento de benção do Senhor na Sua Igreja.

Rev. Christopher Vicente, Editor.


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Manancial do Natal,

24 de janeiro de 2022, Natal-RN.


 

OS SALMOS
OS CÂNTICOS DA ALMA

Salmo 25:14

“A intimidade do SENHOR é para os que O temem,

os quais Ele dará a conhecer a Sua aliança”

Introdução
O Saltério é, de todos os livros da Bíblia, aquele livro que dá expressão ao
lado experimental da religião. Na Lei e nos Escritos Proféticos, é Deus
quem fala ao Seu povo; no Saltério, ouvimos os santos falando a Deus. Por
isso, o Saltério tem sido, em todos os tempos, a parte da Escritura à qual os
crentes mais prontamente se voltaram e da qual dependiam principalmente
para o alimento da vida religiosa interior do coração. Digo “a parte da
Escritura”, e não apenas “aquela parte do Antigo Testamento”, pois, mesmo
tomando o Antigo e o Novo Testamento juntos, a experiência comum do
povo de Deus confirmará o que estou dizendo, ao afirmar que não há nada
na Sagrada Escritura que, na maioria de nossos momentos espirituais —
quando nos sentimos mais próximos de Deus — expressa tão fiel e
naturalmente o que pensamos e sentimos, em nosso coração, como essas
canções dos israelitas piedosos. Nosso próprio Senhor, que teve uma
experiência religiosa perfeita e viveu e andou com Deus em absoluto ajuste
de Seus pensamentos e desejos à mente e vontade do Pai; nosso próprio
Senhor encontrou a sua vida interior retratada no Saltério e, em alguns dos
momentos mais elevados do Seu ministério, lhe tomou emprestada a
linguagem em que a Sua alma falava com Deus, reconhecendo assim que
não se pode enquadrar uma linguagem mais perfeita para a comunhão com
Deus [do que a dos Salmos].

Sem dúvida, é no Saltério que a obra específica de inspiração que o Espírito


Santo realiza, ao redigir as Escrituras, e a tarefa mais geral que Ele realiza
ao sustentar, dirigir, estimular e guiar os pensamentos e aspirações
religiosas dos crentes estão mais intimamente unidos. A inspiração para a
Revelação da Verdade nem sempre é acompanhada pela apropriação
subjetiva da Verdade em uma experiência santa (Balaão e Caifás estavam
entre os profetas). No entanto, continua sendo o procedimento mais natural
e comum de Deus que o instrumento através do qual Sua Verdade é trazida
ao homem seja uma mente em contato íntimo com a Sua; uma mente
responsiva àquela Revelação pessoal do próprio Deus que vive e palpita na
verdade. E, consequentemente, vemos que os grandes profetas (como
Moisés, Isaías ou Jeremias) aparecem, ao mesmo tempo, como os exemplos
notáveis de uma relação religiosa maravilhosamente rica e terna com Deus.
Porém, nos Salmos, podemos observar (mais claramente do que em
qualquer outro lugar) a interação dessas duas coisas: recepção sobrenatural
da Verdade e proximidade espiritual com Deus. Possivelmente o fato de
que, no caso de Davi, as revelações proféticas da Verdade que ele recebeu
estavam tão vitalmente conectadas com sua própria vida e o destino dela
que pode ter algo a ver com a presença desse aspecto nos Salmos. Enquanto
os outros profetas, às vezes, ficavam mais ou menos separados do
desenvolvimento das coisas às quais suas palavras se aplicavam. Então, os
profetas, é claro, em muitos casos, falaram para e pela nação
coletivamente; enquanto, no Saltério, é a alma individual que fica face a
face com Deus.
Portanto, as lições e encorajamentos que extraímos de outras partes do
Antigo Testamento, frequentemente, devem ser extraídos indiretamente por
um processo de inferência para o qual, nem sempre, estamos no estado de
espírito correto e disposição espiritual adequada. Porém, nos Salmos,
qualquer que seja nosso humor, quer exultante quer abatido, quer vigoroso
quer cansado, quer penitente quer crente... nos Salmos, sempre podemos
nos encontrar diretamente de volta. Não é necessário nenhum processo de
raciocínio para tornar nossos os sentimentos deles. Aqui, a linguagem da
Bíblia vem ao encontro dos próprios pensamentos de nosso coração, antes
que estes possam se revestir de linguagem; e reconhecemos que não
poderíamos tê-los expressado melhor do que o Espírito os expressou aqui
para nós.

À primeira vista, isso pode facilmente nos parecer estranho quando


lembramos que os salmistas viviam nas condições de uma dispensação
típica [isto é, cheia de tipos] e preparatória; que, em muitos pontos, eles
viam através de um espelho obscuramente, enquanto nós, que vivemos em
plena luz do evangelho completo, vemos face a face. Porém, pela própria
razão de que os Salmos refletem essa religião experimental do coração, que
é invariável em todos os momentos e em todas as circunstâncias, não
precisamos nos admirar muito com isso. O influxo da luz divina, mais ou
menos forte, deve sempre produzir o efeito idêntico de alegria, esperança e
paz em cada alma a que chega. O poço em que bebemos pode fluir mais
abundantemente do que aquele em que os salmistas bebiam. Mas a
experiência da sede, da bebida e da satisfação ainda deve ser a mesma do
tempo de Davi.
Salmos do Coração
Agora, considerando os Salmos deste ponto de vista, como um registro
inspirado do que se passa no coração do homem — onde a consciência
religiosa está sob a influência do Espírito de Deus, seus pensamentos são
purificados e direcionados para seus canais normais —, devemos ser
imediatamente atingidos, penso eu, por uma característica da experiência
(espiritual) aqui retratada. Esta é a predominância do elemento de
comunhão pessoal com Deus. De várias maneiras, isso encontra expressão.
Às vezes, observamos isso em exercício real, como naqueles casos em que
o Salmo é uma oração formal, ou ainda mais impressionante do que isso,
onde se desenvolve em algo como um diálogo entre Deus e a alma.
Compare, por exemplo, o tocante episódio que Davi registra no Salmo 27:
“Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois,
SENHOR, a Tua presença” [v. 8]. Outras vezes, não é o exercício efetivo
desse privilégio, mas o forte desejo elementar por ele, que encontra
expressão. Os exemplos disso se apresentarão imediatamente a todos nós. É
desnecessário citar mais do que os versículos iniciais do Salmo 42: “Como
suspira a corça pelas correntes das águas; assim por ti, ó Deus, suspira a
minha alma. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando virei e
me verei perante a face de Deus?” [v. 1].

Outras vezes ainda, não é o exercício real nem o desejo por isso, mas a
lembrança do que foi desfrutado no passado ou a reflexão sobre o que ainda
pode ser desfrutado no futuro que move o escritor: “Lembro-me destas
coisas — e dentro de mim se me derrama a alma —, de como passava eu
com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre
gritos de alegria e louvor, multidão em festa” (Salmo 42:4). Este é o caso na
passagem diante de nós: “A intimidade do SENHOR é para os que O
temem, os quais Ele dará a conhecer a Sua aliança”. A “intimidade”
significa o “conselho secreto”, a “homilia”, como uma das antigas
traduções a traduziu apropriadamente. É a conversa íntima entre dois
amigo, como se conhece da vida humana, onde não há reserva, mas os
pensamentos e sentimentos do coração são livremente trocados. E a noção
de aliança, aqui, expressa a mesma ideia: a aliança sendo concebida não
como um contrato formal para um propósito específico, mas como uma
comunhão na qual a vida toca a vida; e vida se entrelaça com a vida de
modo que as duas se assimilam mutuamente. Evidentemente, os salmistas
reconhecem, nesta relação privada com Deus, a função mais elevada da
religião — a única coisa que satisfará completamente o filho de Deus. E
isso se torna ainda mais tocante se lembrarmos o quanto havia na Antiga
Aliança, com seu complexo sistema de cerimônias, que exigia uma espécie
de serviço indireto a Deus; e lembre-se ainda: mesmo onde uma
aproximação mais direta a Deus era permitida, isso tinha que permanecer
parcial e ser exercido sob restrições, porque um novo e vivo caminho para o
Santo dos Santos ainda não havia sido aberto.

Salmos da Presença de Deus

Podemos muito bem acreditar que foi com algo disso (isto é, dessa
consciência) em mente que, quando os santos seguiram duramente a Deus e
procuraram penetrar sua vida espiritual interior naquela presença imediata,
a partir daquele serviço público a Deus no tabernáculo ou no templo, as
restrições da Antiga Aliança os excluíam. Pode-se observar com frequência,
nos assuntos sagrados, bem como nos naturais, que onde uma coisa é
parcialmente possuída e ainda parcialmente perdida, há a mais aguda
apreciação de seu valor e o mais intenso anseio por sua plena realização.
Certamente, é impressionante que essas expressões de desejo apaixonado de
entrar em comunhão viva com Deus sejam encontradas no Antigo
Testamento e não no Novo. Não é possível, irmãos, que nós, por termos o
privilégio de nos aproximarmos de Deus em todos os momentos, sem
restrições, às vezes, corramos o risco de subestimar seu valor ou mesmo
negligenciar seu exercício? Não deve Davi nos envergonhar quando clama
no Salmo 63: “Ó Deus, Tu és o meu Deus forte, eu Te busco ansiosamente;
minha alma tem sede de Ti, meu corpo de almeja, como terra árida, exausta
e sem água. Assim eu te contemplo no santuário, para ver a Tua força e a
Tua glória. Porque a Tua graça é melhor do que a vida, os meus lábios te
louvam” [v. 1-3]. Se ele ansiava assim, pelo menos, quanto mais seriamente
devemos cultivar um anseio maior?

E outro ponto a ser notado, no mesmo sentido, é este: quão concretas e


familiares (pode-se quase dizer, quão realistas) são algumas das figuras em
que essa relação pessoal com Deus é descrita no Saltério. A esse respeito, a
passagem diante de nós, por mais expressiva que seja, pode ser chamada de
sóbria e contida em comparação com outras declarações extraídas da
mesma fonte. As figuras são emprestadas das intimidades da vida humana,
não da vida animal; figuras que, em termos pitorescos e de força, vão muito
além de uma aliança ou de um conselho secreto, aqui, empregado pelo
salmista. Tal é a figura da casa comum na qual o crente deseja habitar com
Jeová, para que haja entre Deus e ele algo da mesma proximidade e
intimidade de comunhão que une os membros de uma família. É claro que
isso se liga à expressão típica que Deus deu ao pensamento de comunhão
religiosa consigo mesmo na estrutura do tabernáculo ou do templo. Porém,
apesar de tudo, continua sendo interessante que, precisamente nos Salmos,
esse pensamento divino incorporado no santuário seja mais claramente
apreendido e respondido com mais avidez. “Pois um dia nos Teus átrios
vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer
nas tendas da perversidade” (Salmo 84:10). “Uma coisa peço ao SENHOR,
e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da
minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu
templo.  Pois, no dia da adversidade, ele me ocultará no seu pavilhão; no
recôndito do seu tabernáculo, me acolherá; elevar-me-á sobre uma rocha”
(Salmo 27:4-5). E mesmo isso é superado em várias outras passagens, nas
quais o salmista escolhe figuras baseadas no contato físico e corporal, a fim
de se satisfazer ao descrever sua experiência vívida de estar em comunhão
pessoal real com Deus. Os dois modos de declaração estão unidos no Salmo
61, onde Davi primeiro diz: “Assista eu no teu tabernáculo, para sempre” e
depois acrescenta como clímax: “no esconderijo das tuas asas, eu me
abrigo”; como em outros lugares, lemos a petição: “Esconde-me à sombra
das Tuas asas” (Salmo 17:8) e três vezes a confissão: “Por isso, os filhos
dos homens se acolhem à sombra das Tuas asas” (Salmo 36:7).

Agora, deve-se notar que, apesar do caráter concreto e realista de tais


expressões, o sentimento expresso permanece dentro dos limites da
comunhão consciente e inteligente com Deus. Não há nenhum lapso em
falso misticismo aqui; nenhum desejo de se perder em Deus. O que o
salmista busca é nada mais nada menos do que essa revelação mútua de
pessoa para pessoa, esse apego ao próprio Deus, nas várias formas de sua
abordagem a nós, que é o ato culminante de toda religião. É seguro dizer
que tanto na guarda dessa ideia de todo tipo de excesso e perversão mística,
por um lado, quanto na meticulosidade de sua aplicação dentro dos próprios
limites impostos pela personalidade de Deus, por outro lado, a religião
bíblica é única entre as religiões do mundo. Você pode encontrar o
suficiente em outros lugares de absorção na divindade, como você pode
encontrar em outras áreas de coordenação entre os deuses e os homens,
como se os dois tivessem esferas de vida separadas. Entretanto, você não
encontrará, em nenhum lugar, uma compreensão tão clara do princípio de
que, pela própria natureza da religião, o homem é projetado para manter
uma conversa com Deus e tornar-se familiarizado com Ele na prática.
Tampouco é meramente uma aspiração subjetiva do homem que
fundamenta essa ideia de religião. Na base disso, está a convicção de que
existe, no próprio Deus, a possibilidade, ou melhor, o desejo disso. Observe
como nossa passagem expressa isso. A relação secreta do Senhor é com os
que O temem e Ele lhes ensinará Sua aliança.

É uma condescendência de Deus, não uma aspiração de nós mesmos, que


torna real esse ato culminante da religião. Os salmistas estão convencidos
de que o próprio Deus deseja entrar em íntima comunhão com o homem;
que se Ele institui uma aliança para seus servos, é porque Ele é, em Sua
própria natureza, um Deus de aliança. Nos santos da terra está todo o Seu
deleite. Não temos o direito de dizer que havia alguma falta ou deficiência
em Deus a ser suplementada pela criação do homem à Sua imagem e pela
comunhão com Ele, pois isso seria inconsistente com Seu caráter como
Deus. As Escrituras ensinam que Ele é todo-suficiente para Si mesmo e
para sempre bendito em Si mesmo. Não obstante, tendo criado o homem, é
natural, em Deus, receber o homem como morador de Sua casa e
companheiro de Sua própria vida abençoada. O próprio Deus tem prazer na
comunhão pessoal imediata conosco para a qual Ele nos convida. NEle, há
aquilo que corresponde ao mais elevado em nossa religião. A oração de Seu
povo vem como incenso diante dEle; o levantar de suas mãos como
sacrifício vespertino. E porque os salmistas percebem isso é que seu próprio
desejo de se encontrar com Deus e falar com Deus obtém aquele caráter
intensamente apaixonado ao qual foi feita referência.

Está ganhando voga, hoje em dia, a opinião de que uma parte considerável
do Saltério foi composta durante o período do judaísmo posterior. Seria
uma questão interessante investigar se essa atmosfera de proximidade
religiosa com Deus na qual os salmistas tão naturalmente respiram era
realmente a atmosfera predominante daquele período tardio que costumava
reclamar que Deus havia se retirado de Seu povo, que não havia voz de
profecia ouvida por mais tempo e que quase se estabeleceu em servir a
Deus indiretamente por meio da obediência meticulosa de Sua Lei.
Certamente, é difícil de acreditar que duas atitudes espirituais tão
completamente opostas tenham pertencido a uma mesma época.

Salmos de Saudade de Deus


Um último ponto para o qual gostaria brevemente de chamar sua atenção
em relação a esse assunto é o alto desinteresse a que ocasionalmente os
salmistas se elevam em seu desejo de comunhão com Deus. Claro que não
é, de forma alguma, para o descrédito de nossa religião se buscarmos o
contato com Deus por motivos de interesse próprio e autopreservação.
Nossa própria posição como criaturas dependentes e o próprio caráter de
Deus como a fonte de todas as bênçãos tornam absolutamente essencial a
toda abordagem religiosa a Ele que ela seja acompanhada e colorida pela
consciência de nossa necessidade. Entretanto, disso não se segue, de modo
algum, que o desejo de obter de Deus algo distinto de Si mesmo possa ser
justamente o único ou supremo motivo que nos impele a buscar Sua face.
Tal é a atitude do homem não-regenerado; é a forma que o verdadeiro
instinto religioso toma sob a influência de seu isolamento egoísta de Deus.
Mas, quando o Espírito de Deus move o centro de nossa vida, transferindo-
o de nós mesmos para Deus, imediatamente, desperta um desejo de entrar
em contato com Deus, possui-lO e desfrutá-lO por Si mesmo. Podemos
ilustrar melhor isso a partir da relação de uma criança com seus pais. Não
culpamos a criança porque, muitas vezes, ela se volta para o pai ou a mãe
pela simples razão de querer algo que, de outra maneira, não pode obter.
Porém, o que você pensaria de uma criança que não busca os braços de seu
pai nem sobe no colo de sua mãe a menos que haja algum desejo externo a
ser suprido. A verdadeira criança se voltará, espontânea e instintivamente,
para a presença e o sorriso de seus pais como uma flor buscará a face do
sol. E da mesma forma o verdadeiro filho de Deus terá momentos em que
ele se volta [para] seu Pai no céu inconsciente de qualquer outro desejo que
não seja o desejo de estar perto de Deus. E é, neste ponto, que os Salmos
expressam de maneira mais tocante e eloquente o espírito filial, pois
superou as barreiras da forma de religião do Antigo Testamento e abriu
caminho direto para o Coração de Deus. “Quem mais tenho eu no céu? Não
há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o
meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha
herança para sempre” (Salmo 73:25-26). Isso e nada mais do que isso está
subjacente a todas as passagens em que os salmistas falam de seu amor pela
Casa de Deus ou deploram sua ausência forçada dela. Seu apego à Casa de
Deus é, no fundo, um apego à própria Pessoa de Deus, assim como o amor
que nutrimos por nossa casa, quando analisado, parece ser um amor
alimentado, não tanto pela associação com a estrutura material, mas pelo
contato íntimo com o espírito de nossos parentes e amigos do qual a casa é
como se fosse a encarnação externa.

E o mais tocante de tudo isso, eu penso, é a forma que esse sentimento


assume na mente dos santos do Antigo Testamento, em vista dos mistérios
do estado após a morte — muito maiores para eles do que para nós. Você já
observou qual é o pensamento que parece ter mais agudamente angustiado e
deixado perplexos os escritores de alguns dos Salmos, quando eles
tentaram, em vão, perfurar este véu de mistério que os envolve no mundo
futuro? Era o medo de que, nessas regiões estranhas, não houvesse
lembrança de Deus, nem conhecimento de Sua bondade, nem louvor de Sua
glória. Podemos ter certeza de que, quando uma necessidade religiosa é
projetada dessa maneira, no mundo vindouro, de modo que o medo [da
alma de] não ser satisfeita se mostre mais forte do que o medo da morte em
si mesma, podemos ter certeza de que ali ela foi reconhecida como
suprema, o essencial na religião.

A vida em comunhão com Deus


E, agora, finalmente, qual é a lição que devemos tirar da proeminência
desse aspecto na experiência espiritual retratada pelo Saltério? Temos
certeza de que sentimos com a frequência e intensidade que nossos maiores
privilégios exigem o desejo de encontrar Deus? Ou estamos satisfeitos com
aquela relação indireta com Ele que nosso serviço a Ele em Seu reino e
nosso estudo diário de Sua palavra nos leva a manter [comunhão com Ele]?

Não preciso dizer que há uma tendência, nos dias atuais, de fazer a vida
religiosa buscar a superfície, a periferia; para separá-lo mais ou menos do
seu centro, que está na comunhão face a face direta da alma com Deus. A
devoção não está tão em evidência como esteve em outros períodos da
História da Igreja. Existem duas causas para esse defeito. O primeiro deles,
talvez, pouco nos preocupe. Encontra-se na relutância moderna em dar
ênfase a qualquer prática religiosa que envolva a ideia de um conhecimento
e uma experiência pessoal claros com Deus. Essa relutância, em outras
palavras, é uma tendência agnóstica. Sua palavra de ordem é que podemos
saber pouco sobre Deus, mas podemos saber quais são nossos deveres
religiosos para com nossos semelhantes. Com isso, digo, você e eu
podemos ter pouco a fazer, embora até certo ponto disso possamos sentir a
influência do reflexo.

Entretanto, a outra causa nos diz respeito diretamente. Encontra-se na


estupenda multiplicação das atividades que a presente era prática torna
incumbência de cada ministro do evangelho perseguir. Com todas essas
forças centrífugas atuando sobre nós, não é surpreendente, às vezes, que a
única força centrípeta que deveria nos conduzir ao coração de Deus para o
cultivo de nossa própria vida devocional, é menos sentida em nossa
experiência. No entanto, é absolutamente essencial para nós que, não
apenas tenhamos nossos momentos de comunhão com Deus, mas também
que todo o tempo, em algum grau, levemos conosco, para o trabalho
externo e público, um senso vivo de nossa proximidade com Deus e de Sua
proximidade conosco. Porque, só assim, podemos tornar verdadeiramente
frutífero e espiritual o nosso serviço no Reino do Senhor.

Se o sabor disso está faltando em nosso trabalho, se não trazemos ao


mundo, quando chegamos a ele, a unção e a paz adquiridas na oração, não
podemos esperar conceder nenhuma bênção permanente ou obter resultados
duradouros. Esforcemo-nos por cultivar diligentemente o espírito
devocional dos salmistas. Ou, melhor ainda, tomemos como exemplo o
espírito do próprio Jesus, para quem, apesar das movimentadas cenas de
uma carreira mui pública, não existiam distrações, para quem cada chamado
à Sua força tornava-se uma ocasião de encontro com Deus, um contato real
com Deus; porque as fontes de Sua força estavam escondidas nas
profundezas de Sua vida interior, onde Ele e o Pai sempre contemplavam o
rosto um do outro.
 

Sermão pregado em 15 de outubro de 1902, na Capela do Seminário


Teológico de Princeton, Princeton, Nova Jersey.
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[1]
CMW 45. Veja: https://minhabibliotecawestminster.com.br/cfw/capitulo_cm.asp
[2]
Aqui, apenas destacamos que Geerhardus Vos é holandês, mas estudou e atuou no
presbiterianismo norte-americano até o final de sua vida. O Seminário onde lecionou fora o Antigo
Seminário de Princeton.
[3]
Rev. Tiago Baia é um dos mestres da Teologia Bíblica que Deus levantou e, talvez, um dos
maiores conhecedores de Vos em nosso país. Foi também um grande encorajador a essas publicações.
Por anos, foi professor do Seminário Teológico [Presbiteriano] do Nordeste. E, atualmente, faz seu
doutorado, em Teologia Bíblica, no Puritan Reformed Theological Seminary.
[4]
Sabe-se que Johann Philipp Gabler (1753–1826) é reputado como o pai da Teologia Bíblica, em
um sentido mais geral e histórico. Ele propôs, em 1787, uma separação entre o que era chamada de
Teologia Dogmática (atual e comumente, chamada de Teologia Sistemática) e uma Teologia Bíblica.
Por isso, ele tem sido identificado como o pai da Teologia Bíblica. Nossa defesa, porém, é que Vos é
o pai da Teologia Bíblica Reformada e Ortodoxa; ou a Teologia Bíblica Bíblica (mesmo). Conforme
Norval da Silva diz: “Embora J. P. Gabler tenha sido o primeiro a defender que a teologia bíblica se
diferenciava das outras teologias por seu princípio histórico de abordagem, este autor é criticado por
Vos por ele não se descolar da escola racionalista para a qual a única e suficiente fonte de
conhecimento era a razão” (DA SILVA, Norval Oliveira. Geerhardus Vos, o pai da Teologia
Bíblica. Disponível em: <
https://www.academia.edu/43575431/GEERHARDUS_VOS_O_PAI_DA_TEOLOGIA_B%C3%8D
BLICA>. Acesso: 10 de janeiro de 2022). Veja também: OLIVER, Danny. BUCEY, Camden.
Geerhardus Vos: Reformed Biblical Theologian, Confessional Presbyterian. Disponível em:
<https://www.amazon.com.br/Geerhardus-Vos-Theologian-Confessional-Presbyterian-
ebook/dp/B07KYWCR2B/>.
[5]
VOS, Geerhardus. A Ideia de Teologia Bíblica como disciplina e ciência teológica. Natal:
Nadere Reformatie Publicações, 2022. (Formato Kindle). Disponível pela Amazon.
[6]
E, por tudo isso, a maior parte de nossa energia, como editora, é dedicada a trazer mais dos
puritanos e sobre os puritanos para nossa língua.
[7]
Mencionado pelo amigo de Joel Beeke, Michael Haykin, em obra escrita em homenagem a
Beeke. Veja: HAYKIN, Michael A. G. Prefácio. In: Piedade Puritana. HAYKIN, Michael A. G.
SMALLEY, Paul. (Orgs). Natal: Nadere Reformatie Publicações, 2022. Breve pela Nadere
Reformatie Publicações. Nossa próxima publicação.
[8]
E, ao falar isso, penso, especificamente, na Doutrina do Pacto. Diversas doutrinas receberam
ainda mais luz com Vos. Todavia, de todas, aquela que é a medula da Teologia Reformado-
Presbiteriana ganhou ainda mais.
[9]
Essa postura tem sido notória de forma mais nítida por parte de alguns que abraçaram os
desdobramentos do neocalvinismo holandês; mais precisamente, alguns dos teólogos-filósofos
posteriores e os seus discípulos. Esse comentário não é uma reprovação de tudo o que foi produzido
pelo neocalvinismo; nem uma generalização. Apenas a constatação de uma postura comum.
[10]
É precisamente por esse fato, que há uma bela unidade entre esses três mencionados e um
descontinuidade em pontos importante com alguns desdobramentos do neocalvinismo holandês.
Como, por exemplo, a gritante diferença entre o conceito de Teologia neles e em Herman
Dooyeweerd; e consequentemente, por causa disso, uma diferença quanto à visão de Filosofia
Calvinista e sua relação com essa Teologia. Ainda que eu um modesto admirador das muitas e sui
generis contribuições filosóficas de Dooyeweerd, que tanto enriqueceram a Igreja (o que jamais
poderia ser negado); ainda assim, sou da posição de que, nesses (Bavinck, Vos e Van Til),
encontramos uma reflexão filosófica mais embasada nas Escrituras e mais ligada à Teologia
Reformada Confessional. Aliás, é digno de nota que Abraham Kuyper e Herman Bavinck, os pais do
neocalvinismo holandês, por assim dizer, possuíam uma íntima relação com Geerhardus Vos.
[11]
É dito que Boston dominava o holandês e que, talvez, sua contribuição mais significativa à
Teologia tenha sido sua exposição da Teologia do Pacto conforme os Padrões de Westminster.
“Boston se sentiu motivo a pregar sobre a Aliança da Graça depois de ler a obra de Herman Witsius
intitulada Economy of the Covenants” (BEEKE, Joel. PEDERSON, Randall. Paixão pela Pureza.
São Paulo: PES, 2010. p. 778; 789-790).
[12]
São estas: Teologia Bíblica do Antigo e do Novo Testamento, pela Ed. Cultura Cristã; e “O
Reino de Deus e a Igreja de Cristo” pela Ed. Logos (edição esgotada).
[13]
Originalmente, o título deste sermão era, apenas, “os cânticos da alma”.

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