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A origem dos Batistas tem demonstrado uma certa complexidade, sendo geralmente
apresentadas quatro propostas básicas.[1] Segundo (THOMPSON, 2011), a primeira
proposta defende a existência de uma sucessão de igrejas Batistas desde o primeiro
século, iniciada com João Batista. É conhecida popularmente como JJJ (João Batista –
Jordão – Jerusalém). A segunda proposta ensina que os Batistas são descendentes do
grupo mais radical no período da reforma protestante: os Anabatistas. Mesmo não
formando uma linha de ligação clara entre igrejas Anabatistas e Batistas, defende-se a
existência de formas de fé e de práticas que podem ser traçadas até os Anabatistas. A
terceira visão defende que, mesmo os Batistas tendo emergido do movimento Separatista
inglês, eles foram fortemente influenciados pelos radicais Anabatistas. Finalmente, o
quarto ponto de vista defende que os Batistas descendem do movimento Puritano
Separatista inglês na primeira metade do século XVII. Nesta visão os Anabatistas teriam
influenciado minimamente os Batistas.
Os primeiros Batistas podem ser divididos em dois grupos. Alguns destes primeiros
crentes seguiram a uma tradição teológica diferenciada quanto ao entendimento do
batismo. Passaram a batizar somente indivíduos que professassem a fé, adultos,
abandonando a prática comum do batismo infantil. Também passaram a adotar a
imersão[6] como a maneira de batizar, excluindo o batismo por afusão[7] ou
aspersão.[8]Esse grupo ficou conhecido como Batistas Particulares, não tanto por essas
práticas, mas principalmente por entender que a morte de Jesus Cristo foi um ato
específico em favor dos eleitos, isto é, daqueles que foram predestinados para a
salvação. Cristo morreu “particularmente” pelos eleitos, daí o termo Batista Particular.
Este movimento dos Batistas Particulares nasceu por volta de 1630, através da
insatisfação de alguns separatistas ingleses, que já não suportavam mais conviver em
meio a crenças que eles não concordavam, em especial o pedobatismo.[9] Os
Particulares inicialmente foram liderados por Henry Jessey, William kiffin e John
Spilsbury, ambos ministros ordenados. De forma pacífica deixaram a comunhão da igreja
separatista que faziam parte e começaram a formar uma nova comunidade de crentes,
cujo entendimento bíblico se distanciava em alguns pontos dos demais separatistas. Em
1633, em Londres, foi formada a primeira Igreja Batista Particular, liderada pelo pastor
John Spilsbury (NETTLES, 2005; THOMPSON, 2011).
Um pouco antes dos Batistas Particulares, em 1609, surgiu na Holanda outro grupo, que
mais tarde foi denominado de Batistas Gerais, definidos dessa forma exatamente para
que os dois grupos não fossem confundidos. Assim como os Batistas Particulares, os
Batistas Gerais eram formados por separatistas ingleses. Estes, fugindo da perseguição
inglesa promovida pelo rei Tiago I, procuraram abrigo na Holanda. Ali, sob a liderança de
dois homens, John Smith e Thomas Helwys, fundaram aquela que ficou conhecida como
a primeira Igreja Batista. Conforme destaca (OLIVEIRA, 1997, p. 29):
Os Batistas Particulares também tiveram algum tipo de influência dos Anabatista, através
de um grupo chamado Colegiants.[11] Conforme menciona (McBETH, 1987, s/p) em sua
pesquisa
Os Batistas Gerais produziram, em 1609, sob a liderança de John Smith, sua primeira
confissão de fé, intitulada Uma Pequena Confissão. Esse documento refletia os padrões
de fé confessados pelos Batistas Gerais. Surgiram várias outras confissões de fé no
grupo dos Batistas Gerais: Uma Pequena Confissão de Fé, redigida pelo grupo de
Thomas Helwys em 1610; Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Permanecendo em
Amsterdã na Holanda, em 1611; Proposições e Conclusões, de 1612-1614; Fé e Prática
das 30 Congregações, de 1651; a Confissão Padrão, em 1660; e o Credo Ortodoxo,
escrito em 1678, que, nas palavras de (McBETH, 1987, s/p), “talvez a mais completa de
todas as confissões dos Batistas Gerais”.
CONFISSÃO DE FÉ ANO
O grupo dos Batistas Particulares, embora tenha iniciado alguns anos depois dos Gerais
e não tenha crescido tanto inicialmente, começou a ganhar destaque em meados de
1640 (McBETH, 1987; NETTLES, 2005). Enquanto os Gerais, depois de experimentarem
um rápido crescimento começaram a perder força, os Particulares, ao contrário, depois
de um começo mais tímido, ganharam força e cresceram, sobrepujando os Batistas
Gerais e se tornando o grupo Batista mais numeroso e influente em toda a Europa.
Em 1642 foi publicado um texto bastante suspeito, onde o povo da Inglaterra era
convocado a ficar em alerta. O texto de nove páginas relembrava todos os incidentes que
ocorreram na Alemanha, em Munster, onde os Anabatistas haviam provocado grande
tumulto. O texto, anônimo, trazia o seguinte título: “Um aviso para a Inglaterra,
especialmente para Londres, na famosa história dos Anabatistas, suas pregações e
práticas selvagens na Alemanha”.[16] O texto era um alerta para o povo inglês se
precaver contra os Batistas, pois acreditavam estar diante de mais um movimento de
Anabatistas. Havia um temor de que o motim que terminou em um grande tumulto
provocado pelos Anabatistas na Alemanha se repetisse na Inglaterra.
As sete igrejas Batistas de Londres começaram a perceber que os rumores sobre eles se
espalhavam e que a cidade já estava ficando alvoroçada com a ideia de que eles eram
Anabatistas. Havia deturpação e desentendimento em relação aos Batistas Particulares.
Eram muitas vezes confundidos com o outro grupo de Batistas, os Gerais. Os Batistas
Particulares, já por volta de 1641, praticavam a imersão completa no batismo, enquanto
os Anabatistas e os Batistas Gerais simplesmente derramavam um pouco de água sobre
a cabeça da pessoa batizada, a afusão. Quanto a essa “nova” forma de batismo, lemos:
Na década de 1640, vários membros desta
congregação chegaram à convicção de que o batismo
por afusão ou por aspersão, quer administrado a
adultos ou a crianças, não era a forma de batismo
praticada pelos apóstolos. Eles sustentavam o batismo
de crentes por imersão. (SANTOS, 2006. p. 5).
O que mais causava estranheza aos ingleses era exatamente a negação do
pedobatismo, amplamente praticado por todos até aquele momento. Qualquer grupo que
rejeitasse o batismo infantil era taxado rapidamente de herege ou Anabatista. Era
extremamente necessário para os Batistas Particulares tomar uma atitude.
Embora seu modo de batizar fosse diferente daquele praticado pela igreja da Inglaterra,
e, além disso, negarem o batismo a infantes e interpretarem a teologia do pacto de uma
forma diferente dos padrões de Westminster, suas diferenças doutrinárias eram
consideradas muito pequenas. A confissão a ser produzida seria um documento oficial
das igrejas Batistas que comprovaria a ortodoxia do grupo. Qualquer dúvida seria logo
dissipada, pois qualquer cidadão inglês que estivesse interessado poderia obter o
documento e examiná-lo.
Um dos colonos, Roger Williams, foi obrigado a deixar a colônia no intenso inverno
americano, e arriscou a vida na selva, em perigo constante de ser atacado por índios.
Outros Batistas sofreram violência nas colônias: John Clark e Obadiah Holmes são dois
grandes exemplos (McBETH, 1987).[22] Algumas colônias foram organizadas por
Batistas. Roger Williams, vítima da intolerância Congregacional no Novo Mundo, junto
com outros dissidentes fundou a colônia de RhodeIsland, em 1638, cuja característica
principal era a liberdade de consciência. Providence e Newport foram outras colônias
fundadas pelos Batistas. Mesmo com dificuldade, os Batistas conseguiram se estabilizar
na América. A maioria dos Batistas na América eram Particulares, mas os Batistas
Gerais, em menor número, também estavam presentes. Entre os dois grupos haviam
claras diferenças teológicas, o que acabava por distanciá-los.
Somente alguns anos mais tarde outras igrejas na Inglaterra e nos Estados Unidos
passaram a seguir novamente os padrões de 1689, momento em que os Batistas
Particulares começam lentamente a ressurgir, sendo designados em meados do século
XX de Batistas Reformados.
O Brasil prova das doutrinas da graça, do doce e forte calvinismo dos primeiros dias, de
um vigor teológico que tem começado a alavancar novamente os Batistas brasileiros.
Hoje existe um grupo de igrejas espalhadas no Brasil, explicitamente autodenominadas
de Batistas Reformados, que pregam a doutrina dos primeiros batistas calvinistas por
todos os estados da federação. Também há um forte crescimento do calvinismo por parte
de igrejas pertencentes à Convenção Batista Brasileira, especialmente por parte de
pastores e membros das igrejas que tem sido influenciado pelo estudo das doutrinas, dos
documentos confessionais, e da forte literatura evangélica reformada.
A Convenção Batista Brasileira, que em sua origem fundacional adotara uma confissão
de fé calvinista (Confissão de Fé de New Hampshire), após a primeira metade do século
XX, começou a apresentar uma postura mais fechado para o calvinismo histórico de sua
origem. Isso provocou uma crise crescente no meio Batista brasileiro, muitas vezes
silenciosa, outras vezes escandalosa e dolorosa em algumas igrejas locais filiadas à CBB
e até em convenções estaduais. Ministros eram impedidos de ser ordenados se
confessassem ser calvinistas, havendo, por algum tempo, em alguns pontos do Brasil,
um tipo de “caça às bruxas” aos Batistas calvinistas. Hoje a CBB parece ter adotado uma
postura mais conciliatória com relação ao assunto. Estados como Pernembuco, São
Paulo, Piauí, o Distrito Federal, Pará, Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, já contam com uma
presença mais forte das doutrinas reformadas entre os Batistas.
Vale ressaltar também que a Convenção Batista Brasileira adota atualmente uma
confissão de fé de teor moderadamente calvinista. O documento foi produzido em 1986 e
tem como base a Confissão de Fé de New Hampshire. O atual documento é designado
Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, traz em suas linhas os artigos da
antiga confissão de New Hampshire, mas com leves alterações em seu teor, além do
acréscimo de alguns artigos de fé.
Esse mover do Espírito de Cristo que tem impulsionado os Batistas do Brasil parece estar
apenas começando. Os Batistas Reformados tem crescido rapidamente e entre os
Batistas da CBB parece haver um retorno às doutrinas dos primeiros dias. Quanto mais a
fé calvinista tem sido anunciada (as doutrinas peculiares do Pacto de Deus para a
redenção do homem e a poderosa doutrina da Soberania de Deus, que novamente está
sendo anunciada pelos que tem retrocedido ao antigo padrão de fé dos Batistas
Particulares), mais pessoas tem sido conduzidas ao louvor e à gloria de Deus.
O estudo da História dos Batistas também tem revelado que a origem doutrinária dos
Batistas Brasileiros está indubitavelmente ligada aos Batistas Particulares, e isso tem
fortalecido a convicção para muitos regressarem ao calvinismo. Entendem, a luz da
história, que não estão apresentando uma nova proposta, apenas retornando ao princípio
doutrinário original. O estudo das primeiras missões evangelizadoras dos Batistas no
Brasil, os primeiros missionários e suas teologias (seus professores e os seminários em
que estudaram), as confissões por eles subscritas, as Convenções e Juntas Missionárias
que os enviaram ao campo brasileiro, tudo isso se apresenta como prova inconteste de
que, no Brasil, nos primeiros dias, os Batistas eram calvinistas. Atualmente alguns
pastores e igrejas tem entendido que, na verdade, estão regressando a um velho padrão
doutrinário que havia sido abandonado.
[2] Quanto à influência dos Anabatistas, ressaltamos que os Batistas Gerais sofreram
uma forte influência daquele grupo (Anabatistas Menonitas) enquanto estavam na
Holanda. Por outro lado, os Batistas Particulares foram pouco influenciados pelos
Anabatistas (Colegiants). Assim, uma combinação dos pontos 3 e 4 parece estar mais
coerente com os fatos históricos que conhecemos até o presente momento.
[3] Puritano foi um termo cunhado especialmente para designar os cristãos que primavam
por uma vida mais espiritual e pura diante de Deus. Originalmente o termo tinha
conotações pejorativas.
[4] Os Separatistas eram aqueles que haviam deixado a Igreja da Inglaterra (Anglicana),
por não aceitarem as formas litúrgicas (culto) e por não aceitarem algumas doutrinas. Por
não serem atendidos quando exigiram mudanças na igreja, resolveram se separar,
surgindo daí a designação “Separatistas”.
[5] Anabatistas formavam um grupo religioso que foi considerado uma seita herética
pelos grupos evangélicos da Europa oriundos da reforma.
[7]Afusão é o modo de batizar derramando água sobre a cabeça do fiel. Essa era a
prática comum de católicos e protestantes naquele período.
[8] Aspersão consiste em batizar com o ato de respingar ou aspergir água sobre o fiel.
Essa prática foi mais utilizada pela Igreja Católica Romana.
[10] Embora houvesse uma ligação mais forte entre os Batistas Gerais e os Anabatistas,
é necessário ressaltar suas diferenças. Os Gerais, em correspondência aos Anabatistas,
demonstravam discordância com a posição pacifista deste grupo; repudiavam também a
visão do grupo quanto aos magistrados. Cf. McBETH, 1987, s/p.
[11] A influência que os Anabatistas exerceram sobre os Batistas Particulares foi sobre a
prática do batismo por imersão, visto que os Colegiants já utilizavam a imersão para
batizar os fiéis. Em contraste com os Batistas Gerais, que foram fortemente influenciados
pelos Anabatistas, os Particulares foram pouco influenciados.
[14] James RENIHAN, Confessing The Faith in 1644 and 1689, s/n. Cf. .
[17] Nesta nota inicial da confissão Batista de 1644 lemos uma declaração que
desqualifica qualquer pessoa a insinuar uma ligação dos batistas com os Anabatistas.
Era exatamente assim que os ingleses, em sua maioria, entendiam. Eles fizeram questão
de esclarecer com esta nota sua total desarmonia com este grupo. A ideia de que a
origem dos Batistas remonta aos Anabatistas ainda é defendida por um grupo reduzido
de historiadores.
[20]Em 1660 foi estabelecido o Código de Claredon, cuja finalidade era esmagar àqueles
que eram contrários à Igreja Anglicana, o que elevou a perseguição contra os Batistas e
outros grupos. Somente em 1689, com a proclamação do Ato de Tolerância, a
perseguição chegou ao fim. Neste ano a Confissão Batista, que foi escrita em 1677, foi
publicada. Hoje essa confissão é amplamente chamada de Confissão de Fé Batistas de
1689.
[22]Obadiah Holmes e John Clark foram açoitados publicamente e presos por vários
meses por não se submeterem ao padrão religioso que eliminava a liberdade de
consciência e a liberdade de religião.
[23] O primeiro artigo acrescentado traz uma exposição doutrinária sobre o Espírito
Santo; o segundo artigo acrescenta uma defesa da autoridade da igreja na imposição de
mãos. Este último artigo nunca foi muito bem recebido pelo maior parte das igrejas
Batistas Particulares. Cf. Gilson SANTOS. A Confissão de Fé da Filadélfia, pp. 7-9.
[24] Os Batistas do Livre Arbítrio eram ligados doutrinariamente aos Batistas Gerais.