● As condições geo-políticas da Europa tenderam, ao longo dos séculos, a potenciar as
divisões de território, a diferenciação de culturas e de povos - até à segunda metade do século XX foi um território de tensões, um espaço cortado por múltiplas fronteiras, um mosaico de afirmações nacionais, uma babel de culturas. ● Construção geográfica politicamente ambígua: um imaginário algo volúvel sobre um espaço definido por fronteiras tão naturais quanto politicamente convenientes - uma ideia de construir cultura comum num território caracterizado pela grande diversidade da paisagem e por uma multiplicidade de tradições e culturas muito distintas. ● Essa tendência de homogeneização cultural, só emerge a partir da segunda metade do século XX e só se torna mais evidente já na última década de novecentos - Influência da cultura escolar. Todavia, a Europa foi e continua a ser um pequeno continente onde se concentra uma enorme variedade de línguas, culturas, povos, nações, cultos, tradições que configuram um mosaico de difícil padronização. ● Construção desta ideia de Europa: A Europa não existe sem um passado que se implica na construção do presente-futuro. ● Motivos agregadores: A matriz cultural que vem dos grandes pensadores da Antiguidade, da força do direito romano, da moral cristã, da disseminação da língua latina, do racionalismo e do desenvolvimento científico, da cultura escolar propiciou entendimentos entre povos muito diferentes. ● Igreja cristã se apropriou e geriu o saber legado pela Antiguidade - ela acabou por ser a herdeira dessa cultura e desse modelo organizacional, o que lhe conferiu um ascendente sobre os poderes políticos que se foram formando sobre o desmoronar do Império. ● Baixa Idade Média: A instrução encontrava-se praticamente confinada aos clérigos, já que o resto da população, dedicando-se fundamentalmente às actividades militares e agrícolas não precisava dela. Ao povo bastava a formação religiosa. ● O ensino dos clérigos visa dotá-los de uma cultura instrumental baseada no latim e num reportório escrito definido pela hierarquia da Igreja - Os clérigos tornaram-se praticamente os únicos a dominar a gramática e a escrita e, por isso, a ter condições para apoiar a burocracia laica quando esta precisou de rigor administrativo. ● Na generalidade da Europa as escolas estavam nas mãos dos clérigos e localizavam-se em mosteiros, catedrais e em igrejas paroquiais - No início do século XIII, a criação de escolas laicas, por vezes pagas pelos municípios, são um testemunho dessa vontade de mudança pedagógica - Começa a ensinar-se o francês, mas o latim continua a ter prioridade ● A emergência das universidades medievais (Maioria tinha origem em escolas catedrais) - Embora as universidades fossem consideradas instituições ao serviço da cristandade e tivessem sido bastante influentes na sua organização, foram-se gradualmente secularizando - Ao longo dos séculos seguintes foram-se espalhando estas escolas pela Europa à medida que a burguesia se afirmava. Estamos, pois, perante um fenómeno urbano e burguês. ● A emergência e a generalização da escola secular na generalidade do espaço europeu está relacionada com o crescimento comercial, com o desenvolvimento das cidades, com o aumento da burguesia e com a sua capacidade de se impor como força social e política. ● Invenções como o papel e a imprensa disseminaram o ensino - Muitos dos textos impressos serviram para a formação religiosa, social, política e do latim. ● Generalização da escola: aceitação das línguas vernáculas - Durante a Idade Média o homem culto tinha de dominar o latim para acompanhar a vida cultural e religiosa e de falar vernáculo nos assuntos do dia-a-dia. Nos finais da Idade Média o uso do vernáculo começou a suscitar interesse por parte dos homens da Igreja e dos poderes seculares. ● Tudo isto acontece numa época de optimismo e de confiança na capacidade humana. Estamos a falar do que se convencionou designar por Renascimento mas que é mais que o resgatar do saber da Antiguidade - Embora o Renascimento constitua um movimento intelectual e estético elitista, ele propiciará as sementes do processo civilizacional que norteará a Europa nos séculos seguintes. ● A Reforma, influenciada pelo Humanismo, parece prometer um caminho de liberdade e de esclarecimento depressa caiu num escolasticismo que emergiu do confessionalismo imposto por Lutero e Calvino. De facto, esses primeiros grandes líderes tinham defendido o direito da pessoa seguir as suas próprias opiniões religiosas a partir das interpretações que cada um fazia das Escrituras, mas, o interesse da regularidade, a repulsa à heresia, a aliança entre Igreja e Estado acabaram por determinar um caminho bem diferente. ● A instrução socialmente valorizada estava nas escolas latinas - Os jovens que frequentavam as escolas latinas deviam aprender as suas palavras e as suas expressões, deviam aprender a falar latim com a fluência e a elegância do grande escritor clássico (Cícero). ● Modelo Jesuíta (lado católico): investiram seriamente no ensino, criando uma rede de colégios e uma organização pedagógica devidamente adaptada às novas exigências da sociedade. ● Latim: é a língua do rigor e do saber, portanto, língua distinta que dá acesso à retórica, ao direito, às funções públicas e aos cargos políticos. É também a língua dos que sabem, dos que categorizam e ordenam o mundo. É fundamentalmente em torno do latim que se desenvolverá a retórica e ambas as matérias, conjuntamente com o internato, promoverão um ambiente pedagógico que sistematicamente impõe regras, dita o que é certo e errado, disciplina a mente e o corpo. ● A busca de novas referências culturais acaba por desaguar num humanismo menos subserviente à Antiguidade e à retórica e mais favorável à análise de ideias - Os grandes progressos na física, na matemática, na astronomia, na medicina desde os finais do século XVI ao XVIII, suscitaram um clima de confiança na capacidade do Homem para explicar a realidade - O Iluminismo vai depositar toda a confiança e esperança na razão como forma de chegar ao verdadeiro conhecimento. ● O povo, em geral, não estava muito sintonizado com as ideias destes intelectuais mais vanguardistas. A religião cristã era ainda a origem e o fundamento do pensamento e da moral da população europeia. No entanto, a crença no valor da educação põe sectores da sociedade mais progressistas e militantes a investir na instrução popular - Embora mais forte na parte protestante da Europa, o interesse pela instrução popular também existiu em algumas regiões católicas: S. João de Baptista de La Salle - A ideia fundamental era instruir as crianças do povo na piedade, na obediência, nos princípios da doutrina cristã e de as preparar para uma vida social e profissional dentro da tradição familiar. ● As regiões protestantes da Europa apresentam uma instrução popular mais generalizada que as regiões católicas - Uso do Gymnasium, da Oberrealschulen e da Realgymnasium - Em geral, os povos Setentrionais avançaram mais cedo e com mais convicção para a educação popular e mostraram-se mais capazes de atender às necessidades educativas motivadas pelo progresso científico e tecnológico. ● Inglaterra: Enquanto se avançava muito lentamente para uma educação popular generalizada, o ensino secundário permanecia apegado ao ideal de um humanismo clássico promovido pelas public schools - a ideia é a de generalizar a todos uma cultura comum, uma cultura que aumente a coesão social. ● Em França, como na generalidade dos países católicos, o panorama educativo da segunda metade do século XVIII é bastante desolador - A tardia adesão da França à obrigatoriedade escolar e a forte ligação à Igreja do ensino elementar revela que a burguesia francesa queria o povo submetido à ordem da ortodoxia católica. ● Portugal: seguia ideias transnacionais vindas da Europa central, mas parecia incapaz de acompanhar o ritmo dos países mais desenvolvidos. Nos finais do século XVIII, as reformas do ensino do Marquês de Pombal seguiam claramente as orientações iluministas, ao criar um sistema público de ensino e ao introduzir o ensino experimental na Universidade de Coimbra - No início do século XX, apesar das medidas legislativas, a obrigatoriedade escolar continuava a ser uma miragem e o número de analfabetos permanecia muito elevado - O ensino secundário conhece também uma profunda reforma, em 1836, tendo-se criado os Liceus, instituições que deviam renovar a sociedade portuguesa - O ensino científico e tecnológico ainda não parecia abrir os horizontes da população privilegiada. A dimensão clássica dos estudos permanecia como mais prestigiante e a que dava maior consistência à formação global do indivíduo. ● Transição do século XIX para o século XX: as sociedades dos diferentes países da Europa Ocidental se organizam em função de uma racionalidade laica baseada numa ciência positivista, na liberdade de pensamento, na capacidade de realização, na ideia de progresso. ● A convergência é favorecida “[...] pela pressão de outros elementos do sistema social, nomeadamente pelo desenvolvimento da economia e pelo seu peso avassalador no espaço mundial e pelo poder disseminador da ‘opinião’ da elite internacional - A divergência é fomentada quer pelas “[...] diferenças no nível de desenvolvimento económico [...]” e/ou pelas características do tipo de sistema político, quer “[...] pela persistência de valores e de tradições históricas com expressão social coerente e formal [...]”, pelas diferenças das “[...] dinâmicas sócio-históricas que caracterizam cada sociedade ● No século XIX, a cidadania, definida pelos interesses duma burguesia em expansão, fundamentará a massificação escolar que deverá sustentar os Estado-Nação. Embora com intensidades diversas, a escolarização vai-se fazer em todos os países da Europa, contribuindo simultaneamente para a disseminação duma cultura comum e para o estabelecimento de culturas específicas. ● O Estado-Nação é já um conceito político-cultural transnacional que procurava simultaneamente libertar o indivíduo das dependências senhoriais e/ou locais para o tornar protagonista de um futuro inscrito numa comunidade mais vasta sob a regulação superior dum Estado - Não reflete uma total separação da igreja: A sua relevância pode ser avaliada quer pelo papel desempenhado pelas Igrejas na promoção e disseminação da escolarização como pela integração da religião no currículo escolar, mesmo quando este é controlado pelos poderes públicos centrais ou locais. ● XVIII - A disseminação da escolarização na Europa forma a ideia de um património e cultura comum - Imaginário Europeu - É certo que as escolas estão agora mais expostas a uma gestão curricular orientada por interesses de afirmação da cultura nacional e isso perturba a formação duma visão unitária da cultura europeia. Mas o forte incremento da escolarização e sobrevalorização de conteúdos “universais”, muito definidos em função da relevância dada a determinadas tradições culturais e ao acentuado desenvolvimento tecnológico, possibilitam a disseminação de conhecimentos susceptíveis de conferir conectividade e, até, identidade à formação escolar dos europeus - É sobretudo visível após a II GM - Forte expansão escolar ● A partir dos anos setenta, inicia-se um período que rompe com a confiança na continuidade do crescimento económico e, principalmente, na segurança da relação do investimento educacional com a alteração do estatuto social - fomentaram vias de ensino técnico ou tecnológico, valorizando-se inclusivamente a alternância escola-trabalho - o ensino geral foi alvo de alterações que trouxeram diversificação de vias, numa tentativa de responder às rápidas transformações da economia. ● O que mais se evidencia desta breve caracterização da evolução da escolarização europeia é que ela se faz de forma sustentada e em grande medida associada ao desenvolvimento económico e à consequente alteração da composição social. ● A escola tende a disseminar um conhecimento que valida uma perspectiva de cultura comum, mesmo que esta não seja exclusiva do universo europeu e, na sua globalidade, se inscreva no património da cultura ocidental.
Organização, Reflexão e Cultura de Escola
● A organização da escola é algo simultaneamente relevante para uma educação de qualidade e dependente da dinâmica que os seus actores lhe emprestam. ● Entre os actores que intervêm na escola, devemos contar, como especialmente relevantes para a dinâmica institucional, com os alunos e os professores. ● Desde logo, devemos ter em consideração que uns e outros não se encontram nas mesmas condições, com o mesmo estatuto, as mesmas funções, a mesma forma de pensar e agir, a mesma compreensão de mundo, ... ● Isso implica olhar para fora e para dentro da escola; implica conhecer o que condiciona e determina o clima e a cultura escolar. ● É necessário conhecer a identidade das organizações educativas, a singularidade das suas estruturas, de seu funcionamento, da cultura que geram. ● "Es necesario comprender las organizaciones sociales a partir de la naturaleza de sus elementos constitutivos, la trama de relaciones invariantes que perduran en el tiempo y los procesos internos de regulación que mantienen dichas relaciones dentro de los límites fijados por los rasgos de identidad organizacional" (Etkin, 1991). ● Assim, torna-se necessário a compreensão interna da instituição em conexão com o mundo exterior local e global. ● “No se puede abordar el análisis de las organizaciones educativas perdiendo de vista su inclusión en la sociedad y su pertenencia al sistema educativo” (Guerra). ● A explicação das organizações escolares fora do contexto do sistema educativo e do sistema social e político em que se inserem impede a compreensão do que se está realmente a passar nas instituições. ● Para compreender o que se passa na escola não basta prestar atenção à realidade mas também ter em consideração teorias que dêem consistência à compreensão formulada. Há questões que devem estar sempre presentes: ● Qué está pasando hoy en las escuelas? Qué papel están desempeñando en la sociedad? Cómo se desenvuelve la escuela entre la utopía y la realidad (Carbonen, 1996)? Qué les sucede a los profesores que trabajan en ellas'? Cómo evolucionan en el ejercicio de su profesión? Qué aprenden los profesores a través de la organización del espacio, del tiempo, de los alumnos, de los materiales...? Qué aprenden los profesores a través de su propia organización? Se piensa (y se escribe) sobre las características que han de tener las organizaciones que enseñan, pero se piensa (y se escribe) menos sobre las organizaciones que aprenden. Los cambios se estudian como si se dieran dentro de la escuela sin que ésta cambiase también (Díez Gutiérrez, 1999). ● As organizações que aprendem, têm de possuir adaptabilidade ao meio, flexibilidade para a mudança, racionalidade no seu funcionamento, democraticidade e transparência nas suas actuações, auto-crítica e reflexibilidade sobre a sua acção. ● Os professores tenderão a ser mais eficientes do ponto de vista da cultura escolar, quanto façam suas estas características institucionais. ● Tudo isto pode não passar de retórica se as instituições não criarem condições para o seu desenvolvimento (é preciso, por exemplo, espaços e tempos para a reflexão sobre a acção). ● A prática tem sido um sem fim de rotinas e um invocar em vão de experiência mas esta só é real quando se torna fonte de aprendizagem. ● O estudo da acção educativa deve permitir-nos compreender como as tradições e os costumes em vigor limitam a busca de novas possibilidades (Popkewitz 1990).
Cultura Escolar: Revisando Conceitos
● Pág. 292 - Visão antropológica: a cultura é um sistema de significados, aceitos como conteúdos implícitos e explícitos, aprendidos e participados por membros de um grupo social; Cultura agrupada por normas e mudanças e acréscimos que ainda não se institucionalizaram - Cultura = meio ativo - Entender a cultura da organização escolar - Pérez Gómez - Racionalidade político-cultural, acima de técnica e organizacional - Rui Gomes = na escola o pensamento é separado da ação como forma de ultrapassar a incapacidade de pensar o trabalho - Teixeira = conhecer a cultura de uma organização para conseguir manipulá-la em direção a uma maior produtividade - A cultura organizacional conduz os negócios. ● Pág. 293 - A função básica da cultura da organização é resolver os problemas fundamentais do grupo - Tecida nas relações internas e externas - Somente modelos compatíveis são incorporados - Complexidade de mudar a cultura escolar ou de inovar a prática pedagógica - Limites do uso de estratégias empresariais na área escolar. ● Pág. 294 - Deve-se tratar das questões políticas do fenômeno educacional - Necessidade de politizar o conceito de cultura organizacional - Paula e Silva = concepções diferentes criam culturas diferenciadas em termos de organização - Legitimação da autoridade consoante o diploma e o cargo ocupado - Centralização das decisões formais - Candau = Não podem ser negadas as inter-relações entre cultura, política, ideologia e economia - Cultura Escolar = conhecimentos definidos como objetos de estudo - ● Pág. 295 - Apple = As colocações globais são um pano de fundo que tem implicações imediatas e diretas na cultura escolar; restauração conservadora, um verdadeiro guarda-chuva ideológico - Retração dos recursos do Estado não é desinteresse, mas antes estratégia A introdução gradual desta política cultural resultou na criação de uma ideologia escolar A ideologia neoliberal, assente numa visão capitalista de produção, inovação e globalização da economia, impactou a cultura escolar com a introdução de uma agenda ideológica intitulada “restauração conservadora”. A base liberal desta ideologia reflete-se no incentivo generalizado à privatização das escolas, filtração do controlo burocrático exercido pelo Estado e pela flexibilização dos processos de trabalho. ● Pág. 296 - Ainda no autor, quatro tendências têm reforçado a restauração conservadora: a privatização, a centralização, a profissionalização e a diferenciação - Hierarquia de classes e hierarquia de conhecimento - Modernização conservadora = fortalecer um tipo de escola para crianças com maior nível económico - “A escola tem de ser discriminatória” - A política é estruturada e participante da cultura organizacional escolar. ● Pág. 297 - Pérez Gómez - Questão sociocultural - Ampliar a interpretação culturalista - Relações de interdependência entre a cultura e a política social - Caracteriza a cultura como flexível - Escola como espaço de cruzamento de culturas, assim como mediadora das influências destas mesmas culturas - A Cultura Crítica é a racionalidade que se modifica continuamente; ● Pág. 298 - Aliança entre a razão e a ética - Pluralidade de caminhos - Falta de fundamentos teóricos dos docentes - No seu pensamento, os docentes e outros profissionais das escolas devem procurar um novo marco, que permita a integração de valores, tradições e costumes - Cultura Social: ideologia quotidiana; diferentemente da cultura crítica, não sofre de um tratamento sistemático, crítico e reflexivo - A cultura omnipresente e complexa descrita pelo autor penetra os costumes e interesses que integram a escola. ● Pág. 299 - Cultura Institucional: As avaliações devem ser entendidas como elementos parciais e provisórios - Deve caminhar de uma racionalidade instrumental para um desenvolvimento socio-cultural - A escola deve apoiar os professores nos seus contributos - Enriquecer as experiências escolares - Intercâmbio cultural e reflexivo, para isso deve ter uma estrutura apta a receber e incorporar culturas ● Pág. 300 - Deve existir uma margem de liberdade - Provocar a reconstrução do pensamento pedagógico - A profissão do docente deixar de ser vista como uma índole de posse individual de uma determinada área, para situar-se numa prática profissional onde marca-se a ação, pelas dúvidas, pelas reflexões e discussões - Cultura Experiencial: Plataforma cognitiva e mental de onde partem os alunos para assentar conhecimentos - Captar a formação da cultura dos individuos ● Pág. 301 - Cultura Académica: Seleção de conteúdos trabalhados na escola - Funções complementares: socializadora, instrutiva e educativa - Diferentes contextos da produção, aplicação e reprodução de conhecimentos - A atividade académica tem uma finalidade compensatória em relação às diferenças de origem social - Para a escola manter-se como um espaço democrático deve ter dois sistemas: a estrutura de tarefas académicas e a estrutura social de participação
Estilos de liderança e escola democrática
● Pág. 77 - Dimensões da gestão e da liderança escolares. - A liderança é uma solução óptima para a resolução dos problemas da indisciplina, do abandono e do insucesso - Significados de “boa liderança” e “boa organização e administração escolar”. ● Pág. 78 - Entre medidas e programas reformadores, gestão e da liderança sobressaem, por uma representar os valores da cidadania e da participação democrática e, por outro lado, os valores do gerencialismo e da eficácia técnica - Proliferam estudos sobre os processos de liderança escolar, diversificam-se as perspectivas teóricas de análise, accionam-se diferentes metodologias de investigação. ● Pág. 79 - Está em curso a implementação do modelo de gestão que substitui os Conselhos Executivos pela figura do Director - Debate sobre as implicações no processo democrático - A cultura e a liderança como técnicas de gestão escolar - Pressupondo que a escola falhou, será necessário assumir-se a reorganização das instituições educativas à luz das necessidades de uma sociedade cada vez mais global e competitiva - “novo paradigma de governo educacional” - S. Ball: os três elementos-chave responsáveis pelas recentes mutações nesse campo: a forma do mercado, a gestão e a perfomatividade. ● Pág. 80 - Tendência generalizada = com a sua progressiva mercadorização, associada às políticas de livre escolha, à privatização dos seus serviços, ao apelo da excelência escolar como valor supremo e, uma recentralização da educação com a expansão dos currículos nacionais, a imposição de exames nacionais e a implementação de esquemas de avaliação interna e externa das escolas - O libelo político-ideológico transformou a instituição escolar num terreno favorável à eclosão de reformas várias - A passagem do cerne das políticas educativas para preocupações mais centradas nos resultados produz conflitualidade - O quadro político-axiológico emergente encetou o deslocamento dos interesses investigativos para as dimensões mais instrumentais, tecnicistas e pragmáticas da administração da educação - Infiltrar no mundo escolar as mesmas lógicas que no mundo económico. ● Pág. 81 - A produtividade calcula a qualidade do estabelecimento de ensino, a sua capacidade competitiva e funcional face aos ditames de uma economia de mercado globalizada - multiplicam-se nos contextos escolares estudos sobre a cultura organizacional que visam ensaiar fórmulas de gestão da cultura - A cultura, neste sentido meramente integrador, representa tão-somente os padrões simbólicos efectivamente partilhados pelos actores escolares - Culturas fortes e integradores são sinónimo de sucesso escolar - Liderança unipessoal do diretor - o líder assumirá também funções de gestão e manipulação da cultura, no sentido de garantir a mobilização colectiva convergente com a missão e visão instituída centralmente para a escola. ● Pág. 82 - é possível encontrar no seio das organizações escolares pelo menos três tipos de cultura, consoante o grau e a especificidade das suas manifestações: a cultura integradora, quando o grau de partilha e de identificação colectiva com os objectivos e valores da organização escolar é elevado; a cultura diferenciadora, quando o grau de partilha cultural apenas se restringe ao grupo de referência, sendo provável a coexistência de distintas subculturas no mesmo contexto organizacional; por fim, a cultura fragmentadora, quando se constata o grau mínimo de partilha cultural, frequentemente adstrita à mera esfera individual - Investigação dos Relatórios da Avaliação Externa das Escolas 2006-2008 ● Pág. 84 - Maior percentagem das escolas avaliadas são da região de Lisboa e de Vale do Tejo - A grande maioria das escolas apresenta a configuração de escola secundária com 3.o ciclo ou de escola básica do 3.o ciclo com secundário - Como se pode observar nos gráficos 3 e 4, 90 escolas (aproximadamente 60 %) apresentam um rácio aluno/professor maior ou igual a 8 alunos, enquanto que em 79 escolas (cerca de 52%) existem 23 alunos ou mais por cada funcionário - as escolas avaliadas reflectem a heterogeneidade e complexidade da sociedade portuguesa, desde casos em que a escola se encontra implantada em meios sociais e económicos desfavorecidos, com taxas elevadas de desemprego e de analfabetismo, até à sua implantação em zonas económica e culturalmente favorecidas, com níveis elevados de escolarização e de inserção profissional das famílias. ● Pág. 86 - Se após o crivo dos avaliadores transparece um diagnóstico globalmente positivo sobre o funcionamento das escolas, então a nossa perplexidade sociológica só poderá encontrar respostas, numa démarche futura, ou no debate sobre as estratégias metodológicas e os instrumentos de pesquisa empírica por aqueles adoptados, ou na compreensão dos sentidos inerentes às transformações desejadas para a instituição escolar. ● Pág. 87 - As escolas avaliadas com Muito Bom estão localizadas na sua grande maioria na região Norte e área metropolitana de Lisboa e Vale do Tejo, são organizações mais antigas, de grande dimensão, com rácios mais elevados (alunos/professores e alunos/funcionários) e aonde predomina a oferta de ensino básico e de secundário. ● Pág. 88 - A liderança, com a excepção da antiguidade da escola, que agora aparece numa ordem inversa: as escolas mais recentes tendem na óptica dos avaliadores, a desenvolver uma melhor liderança - Pelo contrário, os estudos internacionais apontam que as escolas mais antigas e de pequena dimensão são aquelas que melhores condições sócio-organizacionais apresentam para desenvolver uma gestão e liderança escolar mais sustentável. ● Pág. 89 - Se numa primeira leitura transparece o domínio da “liderança” como aquele cuja avaliação de Muito Bom mais parece explicar as classificações equivalentes aos demais domínios, porém, um olhar mais incisivo sobre os dados revela-nos também que aquele domínio foi o que mais classificações de Muito Bom obteve, o que não se traduziu, consequentemente, em mais avaliações deste nível nos outros dois domínios em análise - No fundo, devemos procurar outros sentidos para a compreensão da realidade escolar. ● Pág. 90 - Melhores pontuações: uma população discente proveniente de estratos sociais, económicos e culturais elevados, cujos indicadores mais relevantes são: acção social e escolar diminuta, nível de escolaridade dos progenitores elevado, estatuto sócio-profissinal dos pais médio-alto, condições favoráveis de apoio ao estudo, como é o caso da elevada percentagem de alunos possuidores de computador pessoal e de ligação à internet. ● Pág. 92 - valorizou-se o desenvolvimento de uma cultura de sucesso, rigor e exigência, assente em práticas de reflexão sobre os resultados e em estratégias de comparação com outras realidades escolares - foi valorizada a diversificação da oferta educativa e a sua estreita conexão com as estratégias de desenvolvimento local e regional, numa clara tentativa de aproximação da escola à comunidade. ● Pág. 93 - A título ilustrativo, uma escola que se destaque pelas vertentes culturais mas que ao nível da avaliação e da oferta não apresente resultados acima da média nacional, dificilmente obterá a classificação máxima no domínio “resultados”. Por sua vez, o contrário teria implicações imediatas na classificação Muito Bom. ● Pág. 94 - A imagem dominante de escola bem organizada e bem gerida presente na tabela 05 remete-nos novamente para as dimensões mensuráveis da educação, inspiradas nos valores típicos da “cultura do novo capitalismo”, sugestivamente enunciados por Sennett (2006): a eficácia, a eficiência, a racionalização, a flexibilidade, a rotatividade. em alguns relatórios, parece desenhar-se uma conciliação entre os valores mais instrumentais da gestão empresarial e os princípios mais substantivos de natureza político-educativa, na maioria dos documentos analisados sobressai uma imagem de escola de feição tecno-burocrática, que subordina os valores da participação democrática aos imperativos do controlo e da medição de resultados. ● Pág. 95 - centrada na regulação dos resultados, a escola precisa de um “líder forte”, de um “rosto” que se responsabilize pela implementação eficiente de um projecto educativo que se pretende partilhado - as organizações escolares, situadas abaixo e fora dos centros de decisão são conceptualizadas como “escolas-reflexo” (Lima, 2008: 85) das orientações emanadas do aparelho central, cuja missão primordial é maximizar a produção de resultados. ● Pág. 96 - Transparece um perfil de liderança de tipo gestionário, reverencial e receptivo, orientado mais por uma lógica de prestação de contas (ao estado e ao mercado) do que por princípios de desenvolvimento da cidadania democrática - reforçando-se a crença culturalista de que o empenhamento, o comprometimento, as tradições culturais promovem a eficácia e a excelência escolar - O processo de individualização da liderança, marcado por um perfil simultaneamente “forte” e “democrático”, parece, numa primeira leitura, sugerir uma conciliação entre os valores da competitividade e eficácia, que exigem uma gestão de tipo “cerebral e sinóptica” e os valores da cidadania democrática mais voltados para uma gestão “cultural e retroactiva” ● Pág. 97 - Encruzilhada dos líderes: por um lado, cabe-lhes preservar os princípios democratizadores inerentes à sua condição de gestores democraticamente eleitos; por outro lado, são coagidos externamente a incorporar um perfil de gestão progressivamente mais tecnocrático ao serviço dos valores da competitividade, da performance, dos resultados - Entre a adopção de um perfil de liderança mais democrático e emancipatório e o recurso a um perfil de natureza mais tecnocrática e gestionária, interpõe-se o património cultural e identitário da escola, funcionando como uma matriz simbólica reguladora dos processos de gestão e liderança.
As inspeções/avaliações externas de escolas: efeitos nas instituições escolares descritos
em artigos publicados desde 2016 ● Investigação sobre a melhoria da escola e sobre a eficácia da mesma; Passam a convergir na focagem dos resultados dos alunos; ● Identifica um número de fatores-chave que passam a constar nas inspeções escolares e nas avaliações externas - Ênfase no desempenho dos alunos e na qualidade de ensino ● A eficácia das inspeções escolares relaciona-se com o cumprimento dos objetivos de prestar contas, verificar a aplicação de políticas e melhorar a escola - As escolas com piores desempenhos passaram a contar com programas de apoio específicos. ● A inspeção escolar/avaliação externa de escola (IE/AEE), para além dos resultados cognitivos, passou também a considerar a avaliação dos resultados sociais - a eficácia de um sistema de avaliação de escolas ou de IE tem de considerar como da maior importância a validade, pois julgamentos errados irão provavelmente causar um impacto negativo nas escolas e nos professores - o rigor das inspeções escolares depende, entre outros, das formas e da frequência das visitas inspetivas e do nível de realce da autoavaliação da escola e do planeamento de ações para a melhoria. ● As duas estratégias utilizadas pelos inspetores para aumentar a aceitação do feedback pelos representantes das escolas são a realização de menos julgamentos e de mais descrições sobre o observado e a consideração das opiniões dos representantes acerca das suas expetativas em relação às escolas. ● A AEE tem produzido impacto e efeitos: na apropriação pela escola dos referentes da AEE, na monitorização dos resultados dos alunos, na melhoria da escola a nível organizacional, no fortalecimento da autoavaliação da escola, na realização dos planos de melhoria e no incremento da participação da comunidade na vida social da escola ● Efeitos negativos: o stresse, a ansiedade e o aumento da carga de trabalho na preparação para a inspeção ● Mudanças organizacionais (MO) – A IE/AEE: é um processo desenvolvido com o conhecimento da maioria dos professores da escola; proporciona aos docentes um conhecimento dos pontos fortes e fracos da escola; influencia a articulação entre as lideranças da escola. ● Mudanças no currículo (MC) – A IE/AEE: contribui para melhorar as práticas curriculares dos docentes (planificação, metodologia, avaliação...); contribui para a aplicação dos normativos sobre a flexibilidade curricular. ● Mudanças na sala de aula (MSA) – A IE/AEE: contribui para que os docentes colaborem entre si na preparação de aulas; contribui para um maior envolvimento dos professores nos processos de ensino e aprendizagem inovadores em contexto de sala de aula. ● Mudanças nos resultados dos alunos (MRA) – A IE/AEE: contribui para a melhoria dos resultados internos das aprendizagens; contribui para a melhoria dos resultados académicos externos das aprendizagens. ● Mudanças na autoavaliação da escola (MAA) – A IE/AEE: contribui para a existência da autoavaliação da escola; realiza-se em paralelo com a autoavaliação da escola. ● Mudanças nos processos de melhoria (MProcM) – A IE/AEE: contribui para o diagnóstico dos problemas a resolver; contribui para a definição de objetivos detalhados a partir do diagnóstico dos problemas a resolver. ● Mudanças na comunidade (MCom) – A IE/AEE: revela a existência de uma prática de colaboração entre a escola e a comunidade educativa; contribui para que a escola siga uma estratégia de marketing na valorização da escola perante a comunidade educativa. ● Mudanças na cultura de melhoria (MCultM) – A IE/AEE: leva à aceitação do feedback dado pela equipa inspetiva/avaliativa; tem influência na liderança para o envolvimento das pessoas na melhoria; influencia a visão partilhada, clarificadora dos objetivos a alcançar e estratégias a seguir. ● Mudanças não desejadas ou efeitos não desejados (MND/END) – A IE/AEE: leva a uma concentração excessiva nos procedimentos de registo; causa stresse nos envolvidos; retira tempo aos professores necessário para a preparação das suas aulas; ● Nos 14 artigos desta revisão, foram encontradas 114 evidências de ocorrências de efeitos da IE/AEE na escola. As evidências de ocorrências de efeitos positivos (desejados) representam 58% e as dos negativos (não desejados) 42% do total. ● O maior número de evidências de ocorrências ocorreu em relação aos efeitos não desejados (48), seguindo-se as mudanças na cultura de melhoria (33) e as mudanças organizacionais (12). Com seis ou menos, ficaram as mudanças no currículo (6), nos processos de melhoria (6), na sala de aula (5), na autoavaliação da escola (3), na comunidade (1) e nos resultados dos alunos. ● Foram também encontradas evidências de que as IE/AEE nas escolas levam a que o foco passe a ser as disciplinas com exames externos, provocando o estreitamento do currículo lecionado e das estratégias de ensino ● Ocorreram melhorias na eficácia da escola em escolas com mais baixa classificação na avaliação efetuada pelos inspetores/equipa inspetiva ● O diretor, como veículo da influência da IE/AEE no processo de construção da coerência curricular, exerce pressão sobre os docentes no sentido de se envolverem nesses projetos = reflete-se na pressão sentida pelos professores - O impacto emocional das inspeções nos professores tem sido acentuado ● A influência das IE/AEE nos processos de melhoria manifesta-se ao nível da planificação e implementação de atividades de melhoria. ● Em relação a mudanças na sala de aula, destacam-se as evidências de ocorrências de efeitos das IE/AEE na adequação das práticas que ocorrem na sala de aula, incluindo a elaboração de testes em conjunto para a avaliação das aprendizagens dos alunos. ● Em Portugal, Sampaio e Leite (2021) apresentaram evidências de que a IE/AEE contribuiu para a elaboração de planos de melhoria.
Dimensões Ideológicas em discursos politico educativos
● O processo político revolucionário de 1974 conferiu especificidades ao modo como se organizou a educação no país. ● As escolas sentiram, tal como as outras instituições, o ambiente de radicalismo ideológico - Neste período muitos estabelecimentos escolares funcionaram em clima de grande instabilidade - Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 - 1989 foram criadas as escolas profissionais - No final do século XX, Portugal tinha universidades de Norte a Sul ● O discurso politico-educativo vive do comprometimento conjuntural - Evolução económico contribui para a evolução da política educativa portuguesa - Duas fases (1976-1985) e (1986-...) ● A estabilidade governativa, o processo de integração na comunidade europeia, a revisão constitucional de 1989 = desenvolvimento do estado heterogêneo em 1986 - Diminuir as discrepâncias existentes no quadro institucional - Preocupação reformista de adaptar o ensino ao desenvolvimento da comunidade europeia - Valorização da educação associada ao discurso de modernização - Portugal preparava-se para seguir os países mais desenvolvidos da Europa - Presente numa ideologia tecnocrática, legitimada pela meritocracia ● Programas europeus - necessidade de expandir, descentralizar e modernizar o sistema educativo - Valorização de um sistema de ensino que alimente o mercado de trabalho - Adequar a educação a um contexto social, económico e político - Como tal, desenvolve-se com prioridade o ensino profissional - Adaptar as medidas europeias às necessidades individuais e caracteristicas do país ● Novos governos - Acentuar a importância da educação para a modernização e desenvolvimento do país - Reforma do sistema educativo ● Ideologia da modernização articulada com uma ideologia neo-liberal - Apostar na livre iniciativa dos portugueses - Concorrência e mecanismos de mercado ● O programa educativo do governo social-democrata assentava em três eixos estratégicos: a liberdade, a identidade nacional e a solidariedade - Cinco setores fundamentais de ação: democratização do ensino, qualidade de ensino, força de educação para o sucesso, educação para a vida ativa, valorização da pátria - As mesmas preocupações, numa linguagem mais assertiva - Aumentar a autonomia dos estabelecimentos escolares ● Estado regulador e uma autonomia da iniciativa social legítima ● Posição do governo favorável com a participação privada na educação: liberdade e justiça social - ● Formação de recursos humanos qualificados através da promoção de uma política de educação tecnológica e profissional - O papel económico da educação, assente na teoria do capital humano, prevalece sobre o discurso humanista que acentua a formação integral do individuo e da escola de valores - Ênfase nos conceitos de eficiência, eficácia, qualidade, avaliação, racionalização e responsabilização ● A educação é considerado um bem comum - Por isso, enfatiza-se uma gestão racional do sistema - Previsto um reforço da extensão do apoio social escolar, bem como assegurar a qualidade de ensino