O documento resume o Livro X de A República de Platão, no qual Sócrates critica a arte da imitação e os poetas. Ele argumenta que a arte está três níveis abaixo da realidade e afasta os homens da virtude, mantendo-os presos ao mundo sensível. A arte é guiada pelas aparências em vez da verdade e estimula o pior da natureza humana. No entanto, a visão contemporânea é que a arte pode ser transformadora e uma forma de intervenção política.
Descrição original:
Ensaio (ou resenha) sobre o capítulo 10 do livro A República, de Platão, um dos mais famosos da obra, cujo filósofo Sócrates discorre seus pensamentos sobre a arte, a poesia e os poetas. Trabalho final realizado para final de semestre do 3° termo em Ciências Sociais, matéria Filosofia Geral. 2021
O documento resume o Livro X de A República de Platão, no qual Sócrates critica a arte da imitação e os poetas. Ele argumenta que a arte está três níveis abaixo da realidade e afasta os homens da virtude, mantendo-os presos ao mundo sensível. A arte é guiada pelas aparências em vez da verdade e estimula o pior da natureza humana. No entanto, a visão contemporânea é que a arte pode ser transformadora e uma forma de intervenção política.
O documento resume o Livro X de A República de Platão, no qual Sócrates critica a arte da imitação e os poetas. Ele argumenta que a arte está três níveis abaixo da realidade e afasta os homens da virtude, mantendo-os presos ao mundo sensível. A arte é guiada pelas aparências em vez da verdade e estimula o pior da natureza humana. No entanto, a visão contemporânea é que a arte pode ser transformadora e uma forma de intervenção política.
UNIFESP – ABI Ciências Sociais - UC Filosofia Geral B – 2022 - Profª Cristiane
Aluna: Ana Flora Ferreira de Freitas – 157.024 - Noturno
“A República”, de Platão, é considerado uma das obras mais importantes da
Antiguidade Clássica -- não apenas pela sua densidade conceitual, mas por tratar de temas muito pertinentes a filosofia, como política; educação; arte; justiça; virtude; a imortalidade da alma; etc. Sendo assim, o objetivo principal da obra como um todo é refletir e conceituar um ideal de uma cidade plena, com cidadãos e governantes íntegros, que buscam alcançar o verdadeiro intento de suas almas através do conhecimento e da razão. O livro X é o último livro d’A República. Nele, Sócrates, principal personagem da narrativa, num diálogo com Glauco, tece duras críticas à arte da imitação e também aos poetas. Nesse diálogo platônico, o filósofo define a poesia como mimética, isto é, imitadora, pois não reflete a realidade de maneira legítima ou racional, como é de fato, e por isso está a três níveis abaixo do real, apartando os homens de suas virtudes. Sócrates vai exemplificar sua hipótese da seguinte maneira: para ele, a primeira espécie seria aquela criada pelos deuses, isto é, a origem das coisas, aquilo que faz brotar tudo o que vêm da terra, modela os seres vivos e a si próprio, os astros, as estrelas e a natureza. Já a segunda espécie, a cópia da obra original produzida por um profissional. Para esta espécie, Sócrates utiliza o exemplo de um artesão que faz uma cópia de uma cama a partir de uma original, que o serviu de “molde” ou inspiração (primeira espécie). Por fim, a terceira espécie, a qual é criada pelo artista, faz uma reprodução da cópia do original, ou então a “cópia da cópia”, representando elementos que já existem. No entanto, de acordo com o filósofo, a aparência de um determinado objeto pode variar totalmente de acordo com o ponto de vista, o que torna possível ter diversos resultados diferentes na representação de um mesmo objeto. Dessa forma, um pintor, por exemplo, ao imitar a aparência de um certo objeto a partir da subjetividade de sua perspectiva, está absolutamente longe da verdade. Dessa maneira, para Sócrates, a arte existe não à serviço da consagração da verdade, pois é guiada e redigida unicamente a partir das aparências, mas sim para confundir o indivíduo e aprisioná-lo ainda mais no mundo sensorial, o que o afasta da essência verdadeira da espécie. Segundo ele, a arte, por aproximar o indivíduo do mundo sensível (habitado pelas sombras, pela ignorância e pela sensibilidade, ou “a caverna” na metáfora de Platão) e recriar o mundo inteligível de maneira ilusória, estaria então fazendo um desserviço a filosofia, pois, ao contrário desta, que aproxima o indivíduo da sabedoria transcendental através da lógica; razão e racionalidade, a arte mantém o indivíduo preso à materialidade, o afastando das formas, da clareza e das ideias. Assim é também quanto às tragédias encenadas nas peças de teatro. Segundo o filósofo, ao interpretar situações onde o homem não exprime suas maiores virtudes, como coragem; virilidade e inteligência, por exemplo, mas ao contrário, expressa situações de total vulnerabilidade, fracasso ou tristeza, posturas não prestigiadas num homem, a imitação estaria, dessa forma, estimulando o pior de um homem, causando ruína à alma daqueles que assistem. Podemos, com razão, censurá-lo e considerá-lo o par do pintor. Assemelha-se a ele por só produzir obras sem valor, do ponto de vista da verdade, e assemelha-se também por estar relacionado com o elemento inferior da alma, e não com o melhor dela. Estamos, então, bem fundamentados para não o recebermos num Estado que deve ser regido por leis sábias, visto que esse indivíduo desperta, alimenta e fortalece o elemento mau da alma e assim arruina o elemento racional, como ocorre num Estado que se entrega aos maus, deixando-os tomar-se fortes e destruindo os homens mais nobres. Diremos o mesmo do poeta imitador que introduz um mau governo na alma de cada indivíduo, lisonjeando o que nela há de irracional, o que é incapaz de distinguir o maior do menor, que, pelo contrário, considera os mesmos objetos ora grandes, ora pequenos, que só produz fantasias e se encontra a uma distância enorme da verdade. (PLATÃO, 2000, p. 442)
A arte, portanto, potencializa a experiência sensível, e não a racional, o que
prejudicaria a formação do cidadão nessa cidade estruturada dentro de moldes racionais, uma vez que a arte não teria uma contribuição educativa fundamental para esse projeto político. Por essa maneira, Sócrates -- assim como Platão -- vai defender não apenas que, para um Estado pleno e ideal, os pintores, atores, poetas e todos os artistas devem ser banidos da República, como também que as obras artísticas em geral deveriam ser totalmente moldadas pelo Estado, afim de influenciar e moldar o indivíduo desde a infância com ideais de virtude, força, inteligência e justiça, em prol do governo e do coletivo. No entanto, a visão desses filósofos contrasta gravemente com a nossa visão contemporânea de arte. O que Platão e Sócrates não levavam em consideração, é que além de podermos sim encontrar na arte uma grande força transformadora; aliada à desconstrução de antigos padrões e pensamentos, a mesma pode ser um meio de intervenção política, onde atua como um dos mecanismos para a transgressão de paradigmas. Hoje, entendemos a arte não apenas como meio de expressão, mas também como linguagem, que nos possibilita expurgar o mais íntimo de nossas almas e encontrar força nisso. Através dela, encontramos um caminho que também nos leva a nossas almas e percebemos na mesma uma grande companheira na jornada do conhecimento. Ao contrário do que os filósofos gregos acreditavam, a arte atua como potência libertadora.