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Sob a influência da ética estoica, a autora tece breves comentários sobre a fortuna,
a pluralidade de bens e sua importância ética, a natureza das emoções e da amizade. Na
segunda seção do prefácio, trata da relevância de se refletir sobre as emoções em uma
percepção que vá além da sua função cognitiva, indicando a necessidade de modificação
do entendimento sobre o pensamento estoico em alguns pontos: quanto à necessidade de
explicar as emoções entre os adultos e as crianças e animais, pois os estoicos negavam
que estes dois últimos possuíssem emoções; quanto à necessidade de explicar a variedade
cultural da emoção; e quanto à necessidade do desenvolvimento de uma história genética
de como emoções adultas se desenvolvem para além das emoções arcaicas da infância e
da puberdade.
Já na quinta seção, a autora reflete sobre a relação que o ser humano possui com
a desgraça, indicando que a ética também se debruça sobre tal tema. Nussbaum aponta
uma relação entre a vulnerabilidade e os bens humanos e os trata como se fossem
intimamente ligados, a exemplo do amor às crianças, que é genuíno justamente pela
vulnerabilidade que acomete as crianças. Essa relação também pode ser observada nos
vínculos de amizade. Citando a filosofia de Hegel, a autora também aponta que o
reconhecimento da pluralidade de bens genuínos pode levá-los ao conflito, como o
embate, ainda existente para a mulher – embora com menor predominância –, entre a vida
familiar e a profissional.
Ao tratar das boas e das más notícias e indicar como os filósofos trabalham a
figura da desgraça, a autora informa sua aproximação com o estoicismo. Quando não há
mais nada o que se fazer, nem a quem culpar, haveria aí uma boa notícia, pois não seria
possível ocorrer nenhuma transformação capaz de alterar esse quadro. Também seriam
boas notícias aquelas que trazem fatos ruins, pois possibilitam um sentimento de
esperança a modificar tal panorama.
Chegando ao fim de sua obra, a autora trabalha as divergências que observa entre
as visões dos poetas trágicos, as de Platão e as de Aristóteles sobre tragédias humanas.
Relata, nesse contexto, uma tentativa de Platão para imunizar o ser humano das
influências da fortuna por meio do diálogo e a perspectiva de Aristóteles nas situações
atravessadas por acontecimentos trágicos, em que predomina o exercício da razão prática.
Nussbaum ainda faz uma análise acerca das visões desses autores em relação à conduta
humana, vislumbrando uma oposição dialética entre elas, e cita autores da filosofia
moderna, bem como os contemporâneos, para tratar das suas pesquisas sobre o diálogo
do homem com a fortuna com base na concepção de fragilidade.