Perante o universo dos poemas Homéricos, mais concretamente na Ilíada, um dos
principais poemas épicos da Grécia Antiga, encontramos uma personagem
definitivamente diferente das restantes, sendo esta chamada de Térsides, filho de Ágrio. Térsides é caracterizado como o oposto total ao símbolo de herói presente nos poemas Homéricos, um símbolo de valentia, força e beleza, que por norma representava os heróis cultuados pelos Gregos. Ao contrário dos demais, Térsides é visto como o mais feio dos guerreiros, o mais fraco e o mais estúpido, um verdadeiro anti-herói. Durante a Guerra de Troia, evento no qual a Ilíada se baseia, é possível constatar-se um conflito de classes sociais antagónicas, dividido entre o representante do povo, Térsides, e os representantes da elite guerreira formada pelos aristoi, Ulisses, Aquiles e Agamémnon, reis dos reis. Esta critica social envolve-se com o facto presente no decorrer do século oitavo de Homero, onde o antagonismo social advém do agravamento das desigualdades sociais e da reemergência das classes sociais. Os feitos de Térsides na Iliada relacionaram se mais com o interesse comum, e não tanto com a própria guerra. Aliás, após ser humilhado pelos seus iguais enquanto chorava a morte de Pentesiléia, a mulher pela qual estava apaixonado, ainda é morto por Aquiles num ataque de pura raiva e agressividade. Térsides nunca conseguiu nem encontrar o momento, nem as palavras certas para se expressar, o que originou numa morte trágica. Muitas vezes, quando a palavra é de prata, o silencio vale ouro.