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E AFRODITE FOI À GUERRA

A MULHER E A GUERRA SEGUNDO A


ILÍADA
"A Guerra na Antiguidade"
Antônio Ramos dos Santos e José Varandas
Texto de autoria de Nuno Simões
Rodrigues, extraído do livro A Guerra Na
Antiguidade, cujos coordenadores são
Antônio Ramos dos Santos e José Varandas.
Nuno Simões Rodrigues

 Professor auxiliar do Departamento de História da Faculdade


de Letras da Universidade de Lisboa em Portugal.
 Doutor em História Antiga pela mesma universidade e suas
áreas de pesquisa incluem a História da Grécia Antiga, a
Literatura Grega Antiga e a História da Mulher na Antiguidade.
 Autor de vários Artigos Acadêmicos e Livros sobre esses
tópicos, incluindo o texto ora estudado
Resumo

 O texto discute o papel das mulheres na Guerra de Tróia, conforme retratado na


Ilíada, uma das obras mais importantes da literatura ocidental, atribuída à
Homero.
 A referida Epopeia, segundo o autor, fornece elementos para uma análise
historicamente válida, na medida em que aborda “a organização do exército do
período grego, anterior ao século VIII a. C.”, e detalha “as maneiras de fazer a
guerra, a estratégia, a táctica, armamento, formas de combate e ordenação dos
indivíduos relativamente à guerra”.  
Pontuações do autor
■ O combate (a guerra) pertence única e exclusivamente ao universo masculino, vez que o
gênero feminino está ausente das grandes cenas do poema;
■ As mulheres não são essenciais, são mais um elemento para que se defina o herói
homérico;
■ O gênero feminino é entendido pelo poeta como algo débil e frágil, algo que necessita
de proteção constante e, nesse viés, sugere que a guerra existe para proteger as
mulheres, fazendo delas o objetivo último da guerra, onde destaca a ideia de que Helena
é a causa do conflito entre Aqueus e Troianos;
■ A mulher do guerreiro é a sua própria honra, pois a maior humilhação é deixar que as
suas mulheres sejam tomadas pelo seu inimigo; aqui, o autor explicita que “as mulheres
são escravizadas por causa da guerra”, vez que os vencedores levavam as mulheres e
crianças para as mais variadas funções;
■ As mulheres que iam à guerra, que eram levadas para as batalhas, para suprirem as
necessidades dos combatentes/guerreiros, eram as concubinas, sendo que as “mulheres
legítimas” ficavam em casa, a espera dos seus heróis;
■ Na entrega que Afrodite faz à Páris há um aspecto herótico na essência da recompensa
de Páris (desejo por Helena);
■ O poeta da Ilíada reconhece “o amor como a grande fraqueza masculina” em, ao
mesmo tempo, “é a grande arma feminina, inclusive na guerra”;
■ A outra função das mulheres na guerra é a de “intermediação com os deuses”, são elas
que oram constantemente, são as que zelam e trabalham pelo equilíbrio religioso da
comunidade, ajudadas pelos velhos;
■ A mulher exerce papel importante para evitar ou anular as guerras, pois os tratados de
paz, frequentemente, são selados pelo casamento de figuras proeminentes das
comunidades envolvidas.
Comparativo entre Afrodite na Guerra de Tróia
(visão Ocidental) e Istar na Epopéia de Gilgamesh
(visão Oriental).
■ Ilíada – Poema épico escrito no século VIII a.C. pelo poeta grego Homero e gira
em torno da Guerra de Tróia quatro séculos antes.
■ Epopéia de Gilgamesh, antigo poema mesopotâmico, escrito pelos sumérios em
algum momento em torno de 2000 a.C. (Considerada a obra de literatura mais
antiga da humanidade).
■ Tanto Afrodite na Guerra de Troia quanto Istar na Epopéia de Gilgamesh
desempenham um papel importante na trama, influenciando as ações dos
personagens principais.
■ Existem diferenças significativas no papel e na representação dessas divindades
femininas nas duas obras.
■ Afrodite é apresentada como uma personagem complexa na Ilíada, que causa a
Guerra de Troia ao seduzir Páris e provocar a inveja de Hera e Atena. 
■ É retratada como uma mulher bela, sedutora e apaixonada, mas também
manipuladora e egoísta;
■ Durante a guerra, ela ajuda os troianos a lutar contra os gregos, mas é ferida por
Diomedes, o que mostra sua vulnerabilidade e fragilidade.
■ Istar é retratada como uma divindade poderosa e imponente na Epopéia de
Gilgamesh;
■ Ela é a deusa do amor e da fertilidade, mas também da guerra e da violência.
■ Istar é retratada como uma figura tempestuosa e temperamental, que pode ser
benevolente e generosa com seus adoradores, mas também vingativa e cruel
quando provocada.
■ Na Epopéia de Gilgamesh, Istar desce ao mundo dos mortos para confrontar seu
irmão Gilgamesh, mas acaba sendo humilhada e ferida por ele.
 Enquanto Afrodite é uma personagem
complexa e multifacetada, que tem um papel
importante na trama da Guerra de Troia,
Istar é uma divindade imponente e
poderosa, que representa a força e a
fertilidade, mas também a violência e a
vingança.
Conclusão
■ O autor argumenta que a figura feminina é fundamental para o desenvolvimento da
trama, mesmo que em segundo plano.
■ O texto destaca a participação das mulheres como personagens ativas, influenciando as
ações dos homens, mesmo sem participar diretamente da batalha, como por exemplo, a
causa da Guerra de Troia é a personagem Helena, enquanto Hera e Atena interferem
diretamente nas ações dos heróis.
■ Ao mesmo tempo, o autor analisa a perspectiva masculina presente na obra, em que as
mulheres são vistas como objetos de posse e como forma de mostrar a superioridade dos
homens. Aponta, também, a existência de uma divisão sexual do trabalho e da guerra na
sociedade grega antiga, na qual as mulheres eram relegadas a um papel secundário,
subordinado aos homens.
■ Ao final, conclui que a Ilíada oferece uma visão complexa e contraditória sobre o papel
das mulheres na guerra, mostrando que elas têm uma presença fundamental na narrativa,
desafiando as noções tradicionais de gênero mesmo que subjugadas pela perspectiva
masculina da sociedade e a cultura grega antiga.
Referências

■ Rodrigues, N.S. ‘E Afrodite vai à guerra: as mulheres e a guerra segundo a Iliada, in:
Santos, A. R. e Varandas, J. (orgs) A Guerra na Antiguidade, Lisboa: Caleidoscópio, pp.
103-124, 2006.

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