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Mulher
Fidelidade e Submissão
Hécuba e Andrómaca eram apontadas como esposas exemplares;
A imagem dramática que se cria em torno de Hécuba é suscetível de mobilizar
solidariedade geral;
Em contrapartida Andrómaca centra, nas Troianas de Eurípedes um episódio de
grande ambiguidade: de pé sobre o carro, como alguém capaz ainda de alguma atitude
de resistência ela é, mesmo assim, cativa de um senhor de guerra e a ser conduzida
para um futuro pouco risonho:
o Sobra-lhe o dever de proteger o filho que traz nos braços – a sua única
esperança num revigoramento de Troia;
o O escudo de Heitor aos seus pés é sinal de uma força protetora que já não
existe.
o Para Eurípedes, olhando a situação numa perspetiva feminina, é o momento
de avaliar a relação entre a concubina e o seu novo senhor:
A cativa sente-se dividida entre a sua fidelidade á memória do ex-
marido e a exigência da submissão ao seu novo marido (embora se
diga que a relação sexual poderá facilitar a aproximação ao seu novo
marido);
o Por outro lado, a sua situação de serva de um senhor tao poderoso dá-lhe
esperança que possa, através de um entendimento afetivo com este, garantir
a salvação do filho que, por sua vez, poderá salvar Troia, no futuro – mesmo
Hécuba aconselha isto, subvertendo totalmente os valores e comportamentos
que a guerra implica;
o Acaba por ter de entregar o seu filho á morte, assumindo um comportamento
“elevado”, que lhe é exigido pela sua condição real, é pura subversão de todos
os valores;
o A tortura feita a esta mãe merece dois monólogos: um de Andrómaca e outro
de Hécuba.
Para uma sociedade que experimentava um século de guerra, a visão das suas
consequências sobre a fragilidade da sociedade provocava dor e suscetibilizava os
espetadores como cidadãos e homens – Assim a tragédia cumpria a sua natureza de
género didático, sensibilizador de consciências.