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Capítulos relativos ao Teatro em “Estudos de História da Cultura

Clássica (Vol. 1 – Cultura Grega)

Objetivos (sumários):
1. A etimologia dos termos ‘tragédia’ e ‘comédia’ e o sentido destes vocábulos na
atualidade.
2. O teatro grego da Antiguidade: a associação entre tragédia, comédia e culto
dionisíaco; o papel do teatro na Atenas do século V a.C.; principais tragediógrafos
gregos; aspetos da evolução da tragédia, com particular destaque para o confronto
entre a produção dramática dos três grandes poetas trágicos da época clássica
(Ésquilo, Sófocles, Eurípides); principais cultores da comédia grega (cf. Aristófanes,
Menandro) e diferentes fases da mesma (cf. Comédia Antiga, Comédia de Transição,
Comédia Nova).
3. estrutura formal da tragédia. Principais temas abordados pela produção trágica e pela
produção cómica da Grécia antiga. A construção dos espetáculos dramáticos durante
os festivais dionisíacos.

1. Cultos Dionisíacos (p.320-323; 355 – 368)


 Opor-se á pratica de cultos dionisíacos era punível;
 Os cultos a Dioniso datam de desde XV a.C.;
 Dionisio é o deus da vitalidade e é representado pela videira e a hera;
 Os devotos a Dioniso prestavam-lhe um culto selvagem e frenético:
o De 2 em 2 anos, especialmente em Parnaso, no inverno, um grupo de
mulheres descalças e pouco vestidas, ao som de tamboris corriam e dançavam
na neve, nas montanhas. No auge do deliria apanhavam um animal ou
humano e comiam-no cru, para adquirir vitalidade do deus e entrar em êxtase
divino;
o Mais tarde, este culto foi obviamente “domado”, nalgumas regiões da Grécia
– já que sabiam que este tinha demasiado poder e não podia ser extinto –
incorporando-o no culto oficial.
 Passaram a existir 4 grandes festivais em honra de Dioniso:
o Antestérias (beber vinho, casamentos com dionísio e culto aos mortos);
o Leneias (começaram a incluir concursos de tragédias em 442 a.c. e de comedia
desde 432 a.c., em imitação ás Grandes Dionísias)
o Dionísias Rurais (cortejo de phallos, para a fertilidade e algumas
manifestações dramáticas)
o Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias:
 Várias cerimónias e vários dias com grande relação com o Drama;
 Desde 534 a.c., quando Téspis (época arcaica) venceu a primeira
competição de poetas trágicos, que o drama nos aparece como uma
manifestação do culto dionisíaco;
 Estas cerimónias realizaram-se até á época imperial;
 Começava por se trazer a estatua de Dionisio para dentro do recinto
do teatro (cortejo);
 Depois, sacrificava-se um touro e dançava-se diante dos altares dos 12
Deuses;
 Á noite, um cortejo mais livre;
 O primeiro grande dia começava com várias cerimonias de fusão de
elementos religiosos e cívicos;
 Mais tarde, começavam as representações dramáticas, durante 5
dias:
 1 comédia por dia, todas de poetas diferentes. Mais tarde
este numero foi-se alterando, porém, este género era mais
importante nas Leneias do que aqui;
 3 dias de tragédias, de 3 poetas, sendo que cada 1 compunha
3 tragedias (mais tarde chamadas de trilogias, e que podiam
não ter o mesmo tema) e um drama satírico (a trilogia +
drama satírico = tetralogia);
 2 dias de ditirambos (cantos em honra de dionísio);
 No último dia eram selecionadas 10 pessoas á sorte (através de urnas)
para avaliar os méritos das representações (por ordem) e, depois, era
ainda também sorteada a avaliação que iria dar prémio ao poeta;
 Avaliava-se ainda a conduta dos responsáveis pela edição do festival;
o O arconte escolhia, entre os cidadãos mais ricos (que podiam recusar), quem
iam ser os responsáveis por pagar as despesas de treinar o coro e o seu
mestre;
 Escolhia também, em cada cidade, quem iria ser responsável por
fornecer um coro de homens e um de rapazes;
 Quem era responsável por escolher um poeta.

1.1. Componentes do teatro:


o O espaço do Drama era construído numa encosta, em forma de anfiteatro,
dividido em setores (em baixo e ao centro ficava a “orquestra” – sitio onde se
dançava e representava - de forma circular, e sem elevação);
o Já desde Ésquilo que eram usados cenários, embora muito rudimentares;
o Sobre a dança e a música pouco há documentado. Sobre a musica sabe-se que
existiria um flautista a frente do coro e esta era composta pelo poeta.
o 3 atores na tragédia (protagonista, deuteragonista e tritagonista) e cada um
deles podia representar varias papeis, masculinos e femininos. 4 atores na
comédia, na época clássica: com máscara, túnica até aos pés e uma espécie de
botas flexíveis ate aos joelhos. Na época antiga, apenas traje curto e calçado
de uso diário.
o Elocução composta por 3 processos diferentes: fala, recitativo e canto.

2. A Tragédia (p. 392-445)


 Os temas abordados nos Dramas são: as relações dos homens com os deuses e dos
homens com os homens, nomeadamente, sobre a piedade, a insolência para com a
divindade e a justiça (na altura das Grandes Dionisías);
 Ésquilo (combateu em Salamina), Sófocles (celebrou a vitoria) e Eurípedes (nasceu
nesse dia e nesse local) delimitando, assim, perfeitamente, 3 gerações de trágicos;
 Tragédia é composta, geralmente, por prólogo, párodo (entrada do coro), episódios,
estásimos (odes corais) e êxodo;
o Os episódios e os estásimos alternam-se e repetem-se várias vezes;
 Toda a polis assiste aos Dramas, mesmo os mais pobres e até os tribunais fechavam
durante estes dias;
 O teatro era o único evento não diretamente político que juntava toda a polis a ouvir
uma mesma coisa, talvez por isto muitos poetas consideravam parte da sua tarefa
reafirmar/rever os padroes morais, sociais e religiosos;
 A Tragédia exercia grande influência nos espectadores;
 O primeiro esboço de definição de “Tragédia” é dado por Platao, porém, a definição
mais estudada e aceite é a de Aristóteles, na “Poética” – uma obra considerada
resposta a condenação das representações dramáticas;
o Termos técnicos mais importantes (sobre definição de Tragédia):
 Mimesis (imitação do real, mas não cópia);
 Eleos kai phobos (comiseração e temor – as principais emoções
suscitadas pela tragédia);
 Katharsis (purificaçao, purgação…);
 Hamartano (errar) ≠ atychema (falta involuntária, motivada por
razoes externas) ≠ adikema (injustiça);
 Agnoian (desconhecimento);
 Akrasia (ignorância);
 Miktai praxeis (atos errados conscientes para um bem maior);
o A melhor tragédia tem, portanto, como herói, alguém muito famoso e
prospero que, por efeito da hamartia, passa da felicidade á desventura;
o Elementos que constituem uma tragédia: fábula, carateres, elocução, reflexão,
espetáculo e música;

2.1. Ésquilo
 A mais antiga tragédia conservada é de Ésquilo, “Os Persas”, sobre a história
contemporânea, a coragem dos Helenos e a moleza Persa;
o Aqui, o inimigo aparece dignificado;
o Kommos: lamentação em comum do coro e da cena;
 A sua tragédia mais rica de problemas é “Prometeu Agrilhoado” (a qual faltam
também muitos dados que permitam estuda-la);
o Drama de ação episódica, de tensão entre dois polos opostos: O protagonista
Prometeu (o saber sem poder) e Zeus (o poder sem o saber).
o Prometeu é castigado pela sua filantropia, o que lhe valeu ser visto como
símbolo da humanidade, cultura, liberdade, rebelião, sonho, etc. que, durante
várias gerações, inspirou vários poetas;
 Sequencia da trilogia de ofensa-castigo-reconciliação é comum;
 Em 485 a.c. o primeiro prémio das Grandes Dionísias é da última tetralogia de Ésquilo,
a Oresteia.
o É aqui introduzida uma nova forma de solucionar certos problemas (da
narrativa) das Tragédias: Ésquilo criou uma nova ordem social, o Tribunal do
Aréopago (Tribunal dos deuses) e, por isso, doravante os casos desta natureza
serão decididos não pelo interessado, mas por este tribunal – Isto dá a
entender um certo progresso do direito, pois a vingança de sangue é
substituída por um processo jurídico regular;
o Aqui, o hino a Zeus toca um dos pontos vitais do pensamento que enforma
toda a tragédia: Aprende-se sofrendo;
o Esta patente que, quando um deus deseja destruir uma família, cria uma falta
(erro, pecado…) no Homem, que depois desencadeará uma serie de castigos
fatais (comum em várias Tragédias);
o Opõem-se, aqui, 2 formas de pensar:
 A tradicional, de que o excesso de ventura atrai a desgraça;
 A refletida, pessoal do autor, de que esta desgraça é castigo da
impiedade (insolência do homem que quer superar os deuses).
o A grande lição é de que o caminho para a paz deve alcançar-se pela persuasão,
e não pela força, opondo-se a civilização barbárie.

2.2. Sófocles
 Ao contrário de Ésquilo (foco em situações trágicas), Sófocles foca-se em carateres,
com figuras nitidamente delineadas;
 Certas passagens parecem censurar a educação sofistica, quando ela atua sobre o
pensamento político;
 “Rei Édipo” é a mais bem construída e das poucas que aplica escrupulosamente a
suposta lei das 3 unidades (da “Poética” de Aristóteles);
o É de notar a interpretação que o próprio autor deu a esta obra: Édipo não era
culpado, os deuses é que estavam irados com a sua raça;

2.3. Eurípedes
 Uma das mais antigas peças de Eurípedes é a “Medeia”, estreada em 431 a.c. o ano de
início da Guerra de Peloponeso;
o Medeia é uma princesa bárbara e feiticeira, embora a parte da magia ocupe
uma parte muito mínima, e a bárbara tenha repercussões dramáticas
importantes (sobre habitar na Grécia mas não discutir pela razão, mas antes
pelos factos e/ou usar as leis e a justiça em vez da força).
o Esta tragédia é um conflito legal;
 Teatro de feição predominantemente psicológica;
 Em “Hipólito”, mais do que em qualquer outra Tragédia, a divindade é retratada como
cega, inamovível e inflexível;
o Análise psicológica refinada;
o Perfeita ordenação dos episódios;
o É, talvez, o primeiro grande drama sobre o amor trágico/infeliz (que, muito
mais tarde, vem a ser bastante frutuoso, na época moderna);
 Gosto pelo romanesco, peripécia e inesperado;
 “Orestes” é dos mais difíceis de interpretar, principalmente a parte final;
o O êxodo é constituído por uma série de movimentados atos de violência;
o Para o leitor moderno este fim parece demasiado convencional;
o Muitas passagens da lucidez á loucura nem sempre são claras;
o O movimento da peça é imprevisível e frenético;
o O inesperado aparece intercalado com o quase burlesco e/ou horrível;
o Aparecem novos movimentos do coro;
o Uma partitura musical também cheia de novidades.

3. A Comédia

Comédia Antiga
 Demorou muito mais tempo a começar a ser representada nos festivais dionisíacos e
menos tempo a deixar de ser;
 Primeiro concurso de poetas trágicos: 534 a.c., enquanto o equivalente cómico foi só
em 486 a.c.;
 Como na tragédia, tem um prólogo, párodo, episódios, odes corais e êxodo, porem,
difere pela presença de mais uma parte: a parábese, no centro da peça, e que derruba,
temporariamente, a ilusão dramática – o coro tira as máscaras e vem á frente, dirigir-
se ao auditório;
 As formas métricas e o tema são bem definidos;
 Critica a atualidade política;
 Frequentes alusões a factos e figuras de relevo;
 As únicas comédias que nos chegaram completas são as de Aristófanes;
o “As Rãs” ganhou o primeiro prémio nas Leneias de 405 (Poesia sobre
discussão entre Ésquilo e Eurípedes, sobre qual deles é melhor), em que
Aristófanes expressa o seu descontentamento com os poetas da atualidade;
o Outras comédias do mesmo autor representam muitas vezes esforços para
impor um ideal de paz.
 Assim, a crescente debilidade económica de Atenas foi uma das razões que fez este
género evoluir bastante e rapidamente, nesta época (porque havia mais motivos para
criticar a atualidade política).

Comédia de Transição
 Já quase sem coros nem parábases.

Comédia Nova
 O grande autor deste período é Menandro, que se interessou especialmente pelo
desenho de carateres e problemas éticos;
 Comédia nova sobre temáticas relacionadas com os duros destinos dos homens,
loucura e equilíbrio mental, diversidade de carateres, modo de guiar e/ou transviar
as almas…;
 Noçao de “carater” como mais importante que “acçao”, sendo que a última é uma
consequência da primeira;
 Limitaram-se, portanto, a um ciclo temático mais estreito, mais dentro da esfera
familiar;
 É a arte que reflete uma nova sociedade, mais limitada, fina, burguesa, inteligente…;
 Passamos da comédia política para a comédia de costumes e psicológica, esta última
vai ser imitada pelos latinos e tornar-se arquétipo da comédia europeia;

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